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A Letra Escarlate de Nathaniel Hawthone

A obra “A letra escarlate” 1850 retrata a história de Hester Prynne, uma mulher
condenada a carregar no peito a letra "A", após ter sido acusada de adultério. Ao se recusar
a revelar a identidade de quem a corrompeu, Hester toma para si toda a culpa pelo pecado.
E nesse espaço de tempo em que a mesma se vê obrigada a usar o símbolo, esta passa por
muitas provações, a começar pelo fato de que teria que viver isolada da sociedade
suportando todos os preconceitos possíveis, além de ter que criar sozinha o fruto do pecado,
sua filha Pearl.
Diante desse simples enredo, podemos dizer que Nathaniel Hawthone em “A letra
Escarlate” retrata questões que estão fortemente ligadas, como o papel da mulher do século
XVII e os preceitos da sociedade puritana, pois a narrativa é ambientada na Nova Inglaterra
em meados do século XVII, auge da administração dos puritanos. Hester (protagonista) vive
exatamente nesse contexto, ou seja, em uma cidade regida pela administração puritana, a
qual possuía muitos dogmas religiosos, políticos, sociais, culturais que deveriam ser
respeitados, isto é, nessa época o individuo, mais precisamente a mulher tinham uma vida
controlada de forma autoritária e cruel.
Hester ao cometer adultério se insere nesse contexto como aquela que deve servir
de exemplo para toda a sociedade, em outras palavras, ao carregar no peito o símbolo do
seu pecado, a mesma representa a manutenção da ordem religiosa, uma vez que desta
forma Hester é totalmente submetida à vergonha, fato que para essa sociedade é pior que a
própria morte, pois jamais ela seria digna de conviver entre os “não pecadores”, então a
personagem é completamente excluída e humilhada episódio que podemos perceber na
pagina 79 quando o narrador diz: “Daí por diante ela se tornaria o símbolo para o qual os
pregadores e os moralistas apontariam, e com o qual dariam vida e corpo às representações
da leviandade feminina e da paixão pecaminosa”. Notamos com isso que a mulher para essa
sociedade não possui identidade própria, tanto é, que como vimos Hester se transforma na
estranha adultera, a letra “A” ambulante.
Nesse sentido, podemos dizer que “A letra escarlate” é um romance cuja história
está voltada para a relação que há entre seus personagens e a representação da letra
escarlate, tendo em vista, que o símbolo está muito além de um trabalho artesanal e do seu
significado original de Adultera, pois este nos faz enxergar que a mulher do século XVII tinha
sua vida delimitada de tal forma, que a sua “função” na sociedade era tão somente manter-se
dentro de um casamento e procriar com boa qualidade, ou seja, esta não tinha liberdade
alguma dentro da sociedade.
Diante disso, salientamos que o adultério cometido por Hester foi na verdade uma
forma de se expressar, dentro dessa sociedade tão controladora, foi com esforço e coragem
que Hester tenta se livrar de um casamento, indesejado e imposto, com um homem muito
mais velho, ela concorda em sair da Inglaterra sozinha e se instalar numa terra distante e
desconhecida. Sua trajetória se inicia no momento da concordância com a idéia de “sair do
lugar indesejado”, de aventurar-se no desconhecido para alcançar a “liberdade”. Entretanto
para alcançar este fim Hester deveria ainda submeter-se a severas provações, até que
conseguisse “sobreviver” e atingir um total “desprendimento” das circunstâncias que a
cercavam.
Tal desprendimento é percebido quando Hester tem um momento de “rebeldia” e
tenta escapar de Salem, aqui há uma segunda “quebra de padrões” em seu comportamento:
a primeira ocorreu quando ela se envolveu sexualmente fora do casamento. A característica
principal de sua trajetória está no fato de que depois da morte do Pastor Dimmesdale, Hester
“livra-se de sua condenação”, sai de Salem, vive em outras terras com sua filha Pearl, e
depois de algum tempo, retorna para Salem, para sua casa, para a roupa com a letra
escarlate e se integra à sociedade como uma pessoa que presta ajuda e conselho aos que
precisam.
Neste retorno vemos dois movimentos contrários: primeiro, Hester “volta” por livre e
espontânea vontade, é claro, para o lugar onde só encontrou preconceito e sofrimento;
segundo, Hester “assume e veste novamente” a identidade da letra escarlate, do papel da
estranha adúltera e vive em conformidade com isto até morrer e ser enterrada ao lado de
Dimmesdale. Assim o que apreendemos desta atitude da personagem é que, por um lado,
ela atinge um estado de realização e liberdade e que, por outro, aceita a sua diferença e, ao
mesmo tempo, sua definitiva integração na sociedade de Salem.
Em virtude disso salientamos que Natahaniel Hawthorne, ao traçar as atitudes da
personagem com tamanha agudeza ao mesmo tempo em que faz uma crítica à moral
puritana, aos extremos que o radicalismo religioso pode conduzir, o mesmo nos mostra como
uma mulher, mesmo naquela época, poderia usar de seu livre arbítrio e tomar a decisão que
melhor considerasse para a sua vida, mesmo que esta fosse uma simples aceitação de seu
“destino” ou a devoção a um amor.

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