Na construção de um texto é preciso que haja a ligação de vários
fatores relacionados tanto aos aspectos formais como as relações sintático- semânticas, quanto às relações entre o texto e os elementos que o circundam: falante, ouvinte, situação (pragmática). Um texto bem construído e, fluentemente, bem interpretado, vai apresentar textualidade, isto é, um conjunto de características que converte uma ou várias sequencias lingüísticas em texto, pois um texto só é um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global. Fazem parte desse conjunto de características responsáveis pela construção de um texto, a coesão e a coerência. Mas como definir ou explicar a funcionalidade desses elementos? Na concepção de Ingedore Koch a coerência está diretamente ligada à possibilidade de estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como princípio de interpretabilidade, ligada a inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade de que o receptor tem para calcular o sentido deste texto. E esse sentido, deve ser do todo, pois a coerência é global, portanto, para haver coerência é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade relação entre seus elementos. Quanto à coesão Koch explicita que esta é a ligação, a relação, os nexos que estabelecem entre os elementos que constitui a superfície textual. Ou seja, percebemos que ao contrário da coerência que é subjacente, a coesão é explicitamente revelada através de marcas lingüísticas, índices formais na estrutura da sequência linguística o que lhe dá um caráter linear, pois se manifesta na organização seqüencial do texto. Em decorrência, dessas considerações é relevante enfatizarmos que a relação existente entre a coesão e a coerência se dá devido ao fato de que a coerência é estabelecida a partir da sequência lingüística que constitui o texto, ou seja, os elementos da superfície lingüística é que servem de pistas, de ponto de partida para a concretização da coerência, em outras palavras, a coesão ajuda a estabelecer a coerência na interpretação dos textos, uma vez que surge como uma manifestação superficial da coerência no processo de produção desses mesmos textos. Sendo assim, a coesão procede do modo como as relações lógico-semânticas do texto são expressas na superfície textual. Portanto, a coesão de um texto é constatada mediante a análise de seus mecanismos lexicais e gramaticais de construção. Além disso, os elementos de coesão também proporcionam ao texto a progressão informacional, para levar adiante o discurso. Entretanto, apesar da coesão auxiliar no estabelecimento da coerência, ela não é garantia de se obter um texto coerente, pois segundo Michel Charolles (1989), os elementos lingüísticos da coesão não são nem necessários, nem suficientes para que a coerência aconteça, porque haverá sempre a necessidade de se recorrer a conhecimentos exteriores ao texto, como conhecimento de mundo, dos interlocutores, a situação, de normas sociais, enfim. Por isso, é possível haver sequências lingüísticas com pouco ou nenhum elemento coesivo, mas que constituem um texto porque são coerentes e por isso possui a textualidade. Dessa forma, a existência de sequências lingüísticas coesas, mas sem coerência não podem ser consideradas texto, uma vez que dificilmente o receptor conseguirá estabelecer um sentido global que as faça coerentes, ou seja, não haverá textualidade, aquele conjunto de características que converte uma ou várias sequencias lingüísticas em texto, ou seja, unidade significativa global. Diante dessas colocações, é pertinente salientarmos que ao tentarmos explicitar o que é coerência textual, ou ao tentarmos determiná-la em um texto, não é suficiente apontar somente as relações que devem existir ou existem entre os elementos que representam superficialmente o texto, mas é imprescindível considerar o processo total, isto é, desde a intenção comunicativa do produtor falante ou escritor do texto até as estruturas lingüísticas em que finalmente essa intenção será manifestada.
A Construção Da Coerência em Textos Literários: Breves Considerações Sobre As Relações de Implicitude e Explicitude No Conto "A Fuga" de Lygia Fagundes Telles