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Universidade Federal do Acre/Ufac

Centro de Educação, Letras e Artes/CELA

Curso: Letras-Inglês

Disciplina: Texto e Ensino: oralidade e escrita

Professor: Shelton Lima de Souza

Aluno: Paulo de Alencar Souza

De acordo com Irandé Antunes, o processo de ensino que envolve tanto a produção
quanto a compreensão de um determinado texto teria uma maior importância e adquiriria um
aspecto muito mais produtivo se o professor passasse a ultrapassar o que chama de uma
“abordagem puramente linguística”. Diante dessa perspectiva, a autora afirma que os textos
permeiam escrita e oralidade, intrinsecamente, de modo que não há possibilidade de se
comunicar, em um sentido mais amplo, sem que se utilize os mais diversos gêneros textuais.
Assim, não há como pensar um texto sem a presença de um determinado conjunto de
propriedades responsáveis pela regulação da textualidade, isto é, a capacidade do texto se
efetivar como texto. A autora propõe um estudo que ultrapasse regras de cunho gramatical
entendendo que esses elementos compreendem apenas parte dos fatores capazes de lhe
atribuir sentido.
A produção de um texto não se limita, necessariamente, à junção de palavras ou à
organização de frases bem construídas. Dessa forma, ao considerar o processo de produção
textual como a utilização de palavras organizadas em determinada sequência, fica bastante
evidente a relação existente entre coesão e coerência, que por sua vez, constituem
propriedades relevantes dentro um texto, desde que estejam em harmonia.
As palavras representam uma parcela fundamental na construção de um texto,
entretanto elas são incapazes de preencher os requisitos necessários para que este possa se
realizar. Para Antunes (ANO), o texto resulta da atividade desempenhada por dois ou mais
sujeitos que, em determinado contexto social, interagem entre si e produzem uma
comunicação. Quando se privilegia, então, determinadas dimensões dentro do texto, corre-se
o risco de distorcer o entendimento das condições que efetivamente constituem a atividade
comunicativa.
Nesse contexto, para ultrapassar o aspecto linguístico é necessário que se busque
apreender de outros fatores, também relevantes. Os interlocutores, compreendidos como
sujeitos capazes de participar dessa interação, conferindo-lhe sucesso, tendo em vista que
sempre há um objetivo claro de se fazer entender ao se falar ou produzir um texto escrito.
Partindo desse pressuposto, a autora propõe a consideração da inter-relação entre os aspectos
linguísticos e a participação dos chamados interlocutores.
Independentemente de quem seja o interlocutor, quando este está interagindo se
propõe a dizer apenas aquilo que faz algum sentido, ou seja, coisas que sejam apropriadas
para ser interpretadas e, de acordo com o contexto, coerentes e coesas. É através dessa
disponibilidade do interlocutor que se evidencia a relação existente entre textualidade e a
concepção de linguagem vinculada à comunicação. Baseando-se nesta perspectiva, produzir
um texto vai além da organização sistemática de palavras. Construir um texto é, portanto,
promover uma interação entre os aspectos linguísticos e socias.
Leitor e ouvinte, participantes e cooperadores desse processo comunicativo, também
se propõem a identificar um sentido para o aquilo que é produzido, isto é, o texto. É tão
subjetivo, que muitas vezes, ao nos mobilizarmos a buscar compreender o que é dito,
inconscientemente, essa mobilização acontece porque atribuímos e acreditamos que há um
sentido presente na produção.
Antunes acredita que se o receptor se empenha em encontrar o sentido de um texto é
porque se baseia na perspectiva de que há um sentido esperando para ser descoberto, assim os
“textos são aquilo que ouvintes e leitores tratam como textos” (p. 82). Ao negar essa busca
pela identificação de significados, personagens durante a interação, há uma declaração
indiferente ao interesse na fala do outro, ou seja, uma afirmação subjetiva de que a fala
daquele que produz não interessa.
Para a autora, o principal objetivo das pessoas em diferentes interações se
fundamenta na busca pelo sucesso da própria interação através do chamado “princípio da
cooperação”, isto é, emissores e receptores empenham-se contratualmente objetivando a troca
comunicativa, por esse motivo, “nós insistimos em interpretar qualquer passagem de um
texto, desde que haja a mais remota possibilidade de fazê-lo” (p. 83).
Assim, dentro do texto, os aspectos linguísticos representam as escolhas do autor/
emissor que procuram sinalizar, objetiva ou subjetivamente, sentidos e significados. Portanto,
configuram-se então como um jogo completamente interativo intermediado pelos sinais
linguísticos, necessários, porém não são suficientes. A interpretação de um determinado texto
se apoia em muitas outras sinalizações que indicam o caminho para a construção de sentidos.
Em suma, Antunes enfatiza a necessidade de se adotar uma perspectiva que
ultrapasse as fronteiras linguísticas do texto e que haja uma maior compreensão capaz de
romper com as barreiras gramaticais. Essa perspectiva se evidencia, por exemplo, no cuidado
em que o professor deve ter ao ensinar o aluno a dialogar com os interlocutores envolvidos no
contexto da produção, ou seja, quem fala, quem escreve e quem lê.

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