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Paralelo a isso, no entanto, o autor logo esclarece que o objetivo de sua pesquisa não
se limita apenas em oferecer uma síntese das principais vertentes teóricas que discutem o
significado de letramento, mas também, colocar em evidência as mudanças significativas às
quais estas foram submetidas ao longo dos anos. O texto de Street estrutura-se em torno de
três seções, sendo respectivamente: Termos de Referência, ‘Significados de Letramento’ em
diferentes tradições e Letramento e Aprendizagem.
Inicialmente o primeiro eixo é utilizado pelo autor para situar seus leitores,
apresentando os argumentos que fundamentam e justificam os objetivos de seu trabalho
considerando o que os estudos mais recentes desenvolvidos em torno do letramento tem
revelado, como por exemplo, que o termo vem constantemente sofrendo ressignificações,
principalmente devido às transformações sociais que ocorreram nos últimos anos.
1
Originalmente
, Understanding and Definig Literacy
2
Education for All Global Monitoring Report
Nessa perspectiva, a professora Márcia Regina Terra, doutora em Linguística
Aplicada pela Unicamp, salienta: desde que as investigações sobre letramento se constituíram
como um campo de estudos, é possível observar que, ao mesmo tempo em que os debates e
discussões em torno do conceito de letramento se intensificam, pode-se firmar,
paralelamente, a inexistência ou impossibilidade de se estabelecer certa harmonia em relação
ao conceito. Para ela, o “letramento parece ter hoje em dia tantas definições quantas são as
pessoas que tentam definir a expressão” (TERRA, 2013, p.31).
O modelo autônomo pressupõe que o letramento em si, de forma autônoma, terá efeito
sobre outras práticas sociais e cognitivas enquanto o modelo ideológico oferece uma visão
culturalmente mais sensível, de modo que as práticas de letramento podem variar de um
contexto para outro. Nesse sentido, o letramento pode ser considerado uma prática social e
não apenas uma habilidade técnica ou neutra, sempre incorporado por elementos
epistemológicos construídos socialmente. Seus significados e suas práticas, portanto, são
ideológicos, sempre enraizados em uma determinada visão de mundo.
O professor conclui seu terceiro e último eixo afirmando que todos têm diferentes
necessidades de letramento. A falta de atenção aos conceitos e perspectivas de determinados
programas podem acabar ‘cegando’ seus idealizadores e usuários. É necessário explorar
novas abordagens para os programas de letramento, afinal parece mais provável que as novas
exigências do mercado de trabalho e do modo de vida contemporâneo se (re)direcionem para
a utilização das tecnologias digitais, levando os aprendizes a se mover através de diversos
gêneros e tarefas mais contextualizadas do que a sala de aula tradicional, com suas
tecnologias obsoletas e visões limitadas. Street argumenta que se queremos ter domínio sobre
nossas práticas é preciso inicialmente compreender os pressupostos teóricos nos quais elas se
baseiam e, principalmente, à luz da pesquisa científica, reconhecer suas implicações e
consequências quando promulgadas em diferentes contextos.
A pesquisa desenvolvida pela professora Márcia Regina dialoga veementemente com
algumas das observações realizadas por Street. Ela também considera que não há como
definir o fenômeno do letramento de forma abstrata, por esse motivo, vem sendo
compreendido, apropriadamente, como “um conjunto de práticas sociais” (TORRES, 2013, p.
33). A doutora em Linguística Aplicada destaca ainda que justamente por se constituir um
tema de natureza complexa, sujeito a variações históricas e espaciais, sobretudo por sua
relevância para algumas sociedades, as investigações que permitem ampliar e aprofundar as
diferentes abordagens em torno da compreensão desse fenômeno são mais do que
bem-vindas.
Referências
STREET, B. V. Literacy in theory and practice. Cambridge University Press, 1984. p. 1-65.
TERRA, Márcia Regina. Letramento & Letramentos: uma perspectiva sócio-cultural dos usos
da escrita. DELTA, São Paulo, v. 9, n.1, p. 29-58, 2013.