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Texto vs Discurso [Texto + Texto vs Discurso [Texto + Contexto]


Contexto] Textura ou Tessitura (Halliday & Hasan)
Factores da textualidade Coesão
Coesão e coerência (organização linear+organização reticulada)
Coesão e coerência

2. A coesão e a coerência de textos


- Os mecanismos de coesão
- A referência, a correferência e a anáfora
- Referenciação e suas funções no universo textual

NOÇÃO DE TEXTO
Em Linguística Textual, define-se o texto como um acto de comunicação unificado num
complexo universo de acções humanas. Para se ter textos, que são frases interligadas e
não um monte de palavras soltas, é necessário haver uma produção linguística, pois o
texto é uma criação falada ou escrita que forma um todo significativo.
Kock (2010): … um texto não é simplesmente uma sequência de frases isoladas, mas
uma unidade linguística com propriedades estruturais específicas.

Na definição do texto, destacam-se duas obras de referência:


1. Halliday e Hasan, Cohesion in English, London-New York, longman, 1976.
No âmbito desta obra, a coesão, entendida como uma relação semântica que se verifica
em qualquer texto, corresponde a uma componente essencial da textura. Nesse
contexto, o texto define-se pela presença de mecanismos que configuram a textura.
2. Beaugrande e Dressler, introduction to texto linguistics. London, longman, 1981.
Os autores estabelecem os conhecidos sete parâmetros ou factores da textualidade: por
um lado, um conjunto de parâmetros associados a circunstâncias de produção e de
recepção de textos (intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade e
intertextualidade); por outro, coesão e coerência, entendidas como propriedades
centradas no próprio texto.
Numa das acepções possíveis, texto corresponde a uma estrutura linguística independente dos
contextos de uso em que ocorre – dando-se continuidade, assim, à descontextualização que
caracteriza a linguística do sistema. (Coutinho, 2019)

CONTEXTO
DISCURSO TEXTO
(concdições de prod/rec)

O que é coesão textual?

Halliday e Hasan (1976) afirmam que a coesão é a relação semântica entre os


elementos do texto que são decisivos para sua interpretação; e ainda que a coesão é a
relação entre os componentes superficiais do texto e a maneira pela qual eles se
interligam e se combinam para resultar num desenvolvimento desejado. Essa visão
semântica da coesão diz respeito às relações de dependência que transformam
enunciados interligados em um texto. Coesão é a relação de significado entre dois
componentes do texto, sendo um dependente do outro.

Para Beaugrande e Dressler (1981) 1 , a coesão é o modo como os elementos


superficiais do texto se interligam numa sucessão linear através de sinais linguísticos.

Para Marcuschi (1983) 3 , a coesão diz respeito à estruturação sucessiva da superfície


do texto e a sua conformidade linear sob o aspecto lingüístico.

Koch, I. 2010 A coesão textual inicia a definição de coesão textual nos seguintes termos:
Pode-se comprovar, observando o texto acima, que um texto não é apenas uma soma ou
sequência de frases isoladas. (p.13)

Em suma, coesão textual é um factor importante do texto que se refere à conexão de


palavras, expressões ou frases dentro de uma sequência. O texto coeso constrói-se com
elementos de ligação que podem ser pronomes, verbos, advérbios, conectores coesivos
(termos e expressões); e sem sequenciadores, sendo o lugar do conector marcado por
sinais de pontuação (vírgula, ponto, dois-pontos, ponto-e-vírgula).

Relação entre coesão e coerência

Os estudiosos do texto estão são unânimes em considerar que coesão e coerência


estão intimamente relacionadas no processo de produção e compreensão do texto”
(Koch & Travaglia 1989:23). Para Tannen (1984) 6, a coesão favorece o estabelecimento
da coerência, porém não garante a sua aquisição. Marcuschi (1983), por sua vez,
sublinha que há textos sem coesão mas cuja textualidade ocorre a nível de coerência. (cf.
Koch, 2010)

Por outro lado, um texto coeso pode parecer incoerente, por dificuldades particulares do
leitor, como o desconhecimento do assunto ou a não-inserção na situação (Koch e
Travaglia, 1989:24)

Em suma, a coesão ajuda a estabelecer a coerência, mas não a garante, pois ela depende
muito dos leitores do texto (do seu conhecimento de mundo) e da situação.

Para Beaugrande & Dressler (1981), a coerência diz respeito ao modo como os
componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjacentes ao texto
de superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa
configuração veiculadora de sentidos.

A coerência, responsável pela continuidade dos sentidos no texto, não se apresenta,


pois, como mero traço dos textos, mas como o resultado de uma complexa rede de
factores de ordem linguística, cognitiva e interacional.

Em discordância com Halliday & Hasan (1976), para quem a coesão é uma condição
necessária, embora não suficiente para a criação do texto, Marcuschi defende que a
coesão não é condição necessária, nem suficiente: existem textos destituídos de recursos
coesivos, mas em que a continuidade se dá ao nível do sentido e não ao nível das
relações entre os constituintes linguísticos. Por outro lado, há textos em que ocorre um
sequenciamento coesivo de factos isolados que permanecem isolados, e com isto não
têm condições de formar uma textura.

Exemplos:
1. A: Por que andas triste?
B: A vida é difícil.
 
2. O dia está bonito, pois ontem encontrei seu irmão no cinema. Não gosto de ir ao cinema. Lá
passam muitos filmes divertidos.
Se é verdade que a coesão não constitui condição necessária nem suficiente
para que um texto seja um texto, não é menos verdade, também, que o uso
de elementos coesivos dá ao texto maior legibilidade, explicitando os tipos
de relações estabelecidas entre os elementos linguísticos que o compõem.

Mecanismos de coesão
Halliday & Hasan (1976) distinguem cinco mecanismos de coesão:
• referência (pessoal, demonstrativa, comparativa);
A referência pode ser situacional (exofórica) e textual (endofórica).
• substituição (nominal, verbal, frasal);
• elipse (nominal, verbal, frasal);
• conjunção (aditiva, adversativa, causal, temporal, continuativa);
• coesão lexical (repetição, sinonímia, hiperonímia, uso de nomes genéricos,
colocação)
A colocação ou contiguidade, por sua vez, consiste no uso de termos pertencentes a um
mesmo campo significativo:

Problemas:
1. Entre os problemas que a classificação de Halliday & Hasan apresenta, está, em
primeiro lugar, a fluidez dos limites entre referência e substituição. Há, de um
lado, autores que consideram que toda retomada de referentes textuais
(correferência) ocorre por meio de substituição.
2. Quanto à elipse, ela consiste, para Halliday & Hasan, numa substituição por zero.
Portanto, dentro dessa visão, não deveria constituir um tipo à parte. É preciso
lembrar, também, que existem tipos diferentes de elipse.

3. Também a coesão lexical, a meu ver, não constitui um mecanismo


funcionalmente independente: o uso de sinônimos, hiperônimos, nomes
genéricos constitui uma das formas de remissão a elementos do mundo textual,
tendo, pois, a mesma função coesiva das pro-formas; a reiteração do mesmo item
lexical pode ter também essa mesma função (cf. Brown & Yule, acima) ou, ainda,
exercer função sequenciadora, como é também o caso da colocação,
enquadrando-se, assim, no que irei chamar adiante de coesão sequencial.

4. Em suma, a partir destas considerações, e tomando por base a função dos


mecanismos coesivos na construção da textualidade, proponho que se considere a
existência de duas grandes modalidades de coesão: a coesão remissiva ou
referencial (referenciação, remissão) e a coesão sequencial (sequenciação),
que serão examinadas nos próximos capítulos.

A partir dos problemas identificados na classificação de Halliday e Hasan (1976), surgem novas
propostas classificatórias:

Koch, I.V. A coesão textual, SP, Contexto, 201

1. Coesão remissiva ou referencial (formas remissivas gramaticais e

lexicais)

2. A coesão sequencial (sequenciação parafrástica e frástica)

Mendes, A., “Organização textual e articulação de orações” in Raposo, et al. Gramática


do português, Lisboa, FCG, 2013.
Mendes, A, por sua vez, distingue três tipos de coesão textual:
1. Coesão referencial [garante a correcta identificação dos referentes ao longo do
texto]
- pronominal :
Ex. O PR fez uma comunicação à Nação. Ele reiterou a necessidade de envolvimento de
todos na luta contra o cv.
Eles estiveram todos na aula. O professor de LT e os estudantes realizam as suas aulas
de LT via Google meet.
- anáfora fiel (reiteração, a anáfora tem uma identidade plena com o seu antecedente)
Ex. Um rapaz vivia numa aldeia. O jovem vivia sozinho numa pequena caverna.
- anáfora infiel (paráfrase, a retoma consiste numa paráfrase, ou seja, com o mesmo
referente mas denotação diferente).
Ex. Joe Biden venceu as eleições de 3 de Novembro de 2020. O novo presidente dos
EUA tomou posse em janeiro de 2021.
- anáfora associativa (não existe identidade referencial entre as expressões, mas uma
dessas expressões depende da outra para estabelecer a sua referência, daí anáfora
associativa).
Ex.: O autocarro do Metrobus está avariado. As rodas ficaram presas.

- anáfora conceptual (consiste numa cadeia referencial feita por expressões que
referem uma situação, isto é, retoma o conteúdo proposicional anterior.)
Ex.: O governo decidiu manter as medidas de prevenção da covid-19. A medida visa
conter a propagação do coronavírus.

2. Coesão Temporal [estabelece-se por meio das relações temporais]


Ex. Todos acham que a equipa jogou muito bem.
3. Coesão Estrutural [situam-se ao nível das situações expressas pelas frases]
- Parataxe (“colocação ao lado de”)
- Hipotaxe (“colocação sob”)

CORREFERÊNCIA NÃO ANAFÓRICA (Jeandilou, Jean-François, 1997)

Duas ou mais expressões linguísticas podem identificar o mesmo referente, sem que
nenhuma delas seja referencialmente dependente da outra. Fala-se, então, de
correferência não anafórica […].

Exemplo;
O Rui foi trabalhar para África do Sul. Finalmente, o marido da Ana conseguiu
concretizar o seu sonho.

as expressões “O Rui” e “o marido da Ana” podem ser correferentes, ou seja, podem


identificar a mesma entidade. Sem que nenhuma delas funcione como termo anafórico.

Naturalmente, só informação de caráter extralinguístico permite afirmar se há ou não


correferência entre as duas expressões nominais.

Não se pode assumir que a anáfora e correferência sejam a mesma coisa. Estes dois
fenómenos caracterizam a propriedade que têm elementos linguísticos de remeter para
o mesmo referente, num contexto preciso. Mas a correferência assenta numa relação
simétrica presente entre termos que, sem depender um do outro, podem ser
interpretados de maneira autónoma: um nome próprio e uma expressão descritiva ou
duas expressões descritivas. A anáfora, por sua vez, instaura uma relação entre
elementos de estatuto diferente, em que um (o anafórico) depende do outro (o
antecedente).

“Duas ou mais expressões linguísticas podem identificar o mesmo referente, sem que
nenhuma delas seja referencialmente dependente da outra. Fala-se, então, de
correferência não anafórica […]. No texto “O Rui foi trabalhar para África do Sul.
Finalmente, o marido da Ana conseguiu concretizar o seu sonho”, as expressões “O Rui”
e “o marido da Ana” podem ser correferentes, ou seja, podem identificar a mesma
entidade. Sem que nenhuma delas funcione como termo anafórico. Naturalmente, só
informação de caráter extralinguístico permite afirmar se há ou não correferência entre
as duas expressões nominais.

KOCH, Ingedore & TRAVAGLIA, Luiz Carlos (1989). Texto e coerência. São Paulo,
Cortez

ó
Linguística Textual

Em suma, a Linguística Textual trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo
universo de ações humanas. Por um lado deve preservar a organização linear que é o tratamento
estritamente linguístico abordado no aspecto da coesão e, por outro, deve considerar a organização
reticulada ou tentacular, não linear portanto, dos níveis de sentido e intenções que realizam a
coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas.

Dois mecanismos: (i) retomar ou antecipar o objecto textual - catáfora e anáfora; (ii) assinalar
determinadas relações de sentido entre enunciados ou partes de enunciados (oposição,
finalidade, consequência, localização temporal, explicação, adição)
Na obra que se tornou clássica sobre o assunto, Halliday & Hasan (1976) apresentam o conceito de
coesão textual, como um conceito semântico que se refere às relações de sentido existentes no interior
do texto e que o definem como um texto.

Segundo eles, “a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente
da de outro. Um pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser efectivamente descodificado a não
ser por recurso ao outro”. (p.4)

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