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f Satay DIREITO RENOY 1a ‘O Liha ) tf EVISTA dE IREITO ENOVAR REVISTA DE DIREITO RENOVAR \olune 22 — jane 2002 Pubiicagso quadimestral, de crculagdo nacional da Eto Renova Lida Repositio autizado de jursprucéncla — Superior Inbuna de sasiga ~ Poranain® 3, do 12 do agosto. de 196 EXPEDIENTE Dirotores:Catlos Alberio Menezes Diroto Luz Fernando Palhares Editora Renovar Lida. ‘Direior: Osmundo Lita Aradjo ‘Consetho Eattoriat ‘Arnaldo Lopes Sssekind — Prosidanto Gatos Alario Menezes Dict. Galo Tee Taiz emygiio F, da Rosa J Goleo da Albuauerque Malo Ficardo Perea ira Ficardo Lobo Tores Vicente de Paulo Baretio Bovis: Sonia Benesito ‘Jose Grito Capa: io Cesar Gomes Os artigos agsinados :80 de rosponsablldade exclusiva ‘dos auleres. € permiida a reprodueao total ou parcial dos Sigos desta revista, desde que sea ctada a fone Correspondéncia comercial Eaitora Renova Lida, ‘Malia: Rua da ASSembisio, 10 - gala 2.421 ~ Cento — Rio Ge danoko = A) CEP 20.011-000 ~ Tal: (21) 2583-2208 Shane (21) 2531-2195 Flat ua’ Antunes Maciel, 177 - CEP 20,940,010 ~ Sao Ciistovao ~ Alo We Janeiro ~ Fd - "Tel (21) 2580-1865, 5680-8506, 3080-6100" Fax: (21) 2580-1062 (trai Fula da Aseembiia, 10 —oja E~ Fi do Jando - Fs “Tela: (21) 2581-1316, 2631-1200 — Fax: (21) 2501-2195 ivrania panemar Rua Visoonde de Pra 272 ~ ja A Ipanema ~ Flo da Janno ~ AU ~ CEP: 29410001 Fil 0 Paulo: Rua Sanio Amaro, 257-4 ~ CEP-01315.001 "Bola isla — Sao Paulo = Sh Tels: (11) 9104.9951, 3104-6840, 3101-2046, 9101-5885 ~ Fax (11) 3105-0089 \wwnwedlorarenovar-combr renovar@ edtorarenovar.com.br Serviga de Atondmento no Clone: 0800-221063, Edltoragio eletrnica: TopTextos Edigdes Graces Lida Roo 9s. (CP Bras, Catalogn0-n-fonte Sinan Nacional dos Eaves de ios, Revit de Dito Renovar.— 1 (eembvaldezemvo 1995) eo de ani: Renova, 1995 Cros Alberto Menezes Dito Qundeiestt Lic Fenando Pate | Dito — Periics bases cou — 34005) Sumario Doutrina Execugao contra a Fazenda Publica — ANTONIO DE PADUA RIBEIRO 1 Inconstitucionalidade e llegalidade da Taxa Selic para fins Uuibutérios — DOMINGOS FRANCIULL! NETTO. 15 ‘Aqueles dois advogados — FONTES DE ALENCAR 53 Breves anotagdes sobre 0 novel Cédigo Civil — ROBERTO "ANTONIO VALLIM BELLOCCH 59 Concurso particular de credores: preferéncia, prelacdo & privilégio — HENRIQUE FAGUNDES | 63 Marcas © nomes empresariais — Decadéncia e prescrigao & luz {do nove Cédigo Civil — JOSE CARLOS TINOCO SOARES......05 Emigrgos ingens — Dito ltrtemporal— FERNANDO ‘SETEMBRINO, 105 A possibilidade de mudanga do carter da posse precéria e ‘sua utiidade para fins de usucapiao — MARCIO MANOEL MAIDAME, ott Jurisprudéncia Supremo Tribunal Federal Racionamento de energia — Indenizagao requerida pelo Estado {do Rio de Janeiro — Antecipagao de tutela, 139 Comissao Parlamentar de Inquérito — Busca e apreenstio — Prova ilicita, 148 A possibilidade de mudanga do carater da posse precéria e sua utilidade para fins de usucapiéo Marcio Manoel Maidame* Introdupdo— 1, Posse no direito brasiioio; 1.1 Dos vicios da posse — 2. Interpretago contorme Constituedo: 2.1 Fungo social da propriedale, 2.2 Direito & moradia como direito fundamental: 2.3 Da colisdo entre direitos fundamentals 3. A possibiidade de muidanga do carder da posse precaria — Conclusao Introduce Por intermédio da Emenda Consttucional ni? 26, cujo fim foi acres- Cconiar ao art. 6? da CF88 o dieito a moradia," 0 Poder Constituinte Relormador buscou relorgar 0 cardter fundamental que possui tal Gireito em nosso ordenamento juridico, Assim, entencemos que deve Ser teinterpretados a luz do novo texto constitucional lodos os instru ‘menios juridicos que tenham influéncia sobre este direto (social) fun. damental? * avogad em $0 Paulo, 1. Note-se que o dello & mracia ja possuia status consttuciona ants de ta fmenda (at. 7% WV, da CFBS).E palonle que a aitude do Poder Coneiuie eiormador fl uso mais ro sentido de retorear a wisia de quo a morate on ‘osso ordenamenio jai, detondamental, do que na real clr eno reo, § (..) mesmo quand o legiladorerdnario permangce inerte deve o Juz © 0 durisia proceder a Inadivel rabaho de adequacso ca lgilaeso cil, aawts (8 iterrelagoes dotadas de. partcuar‘sensibildade conslitacona”[etardo ei) due, em dina andise, o sempre, veriquem o teore 0 espirta Ga (Gonstiticso." TEPEDINO, Maria Celina 8. M.°A Camino de um Dito Ch constitute a eo, Maria Celina B. M 2. ROR wf 22 — Jan Abr. 2002 Esta tarefa 6 exercioio que 0 operador do diteto deve se impor, ja que € de sua responsablidade que tal preceito fundamental se oncretize de fato, © que tal comando constitucional soja obedecida, Para melhor ilustrar essa idéia, socorremo-nos da verve de Rui B bbosa: “a interpretagao 6 0 ato inicial de toda obediéncia,”* Por este motivo, inlerimos ser pertinente tratar do tera da possi bilidade da mudanga do carster da posse precéria, e seus efeitos, tencelando alargar 6 alcance do usucapiao, posto que este tipo de quisigdo da propriedade imobildra, indubilavelmente, concorre para 2 efetivagdo do direito A moradia e alende ao propésito maior do direta e propriedade, que 6 0 de atingir seu fim social.* Neste texto de- monstraremos que a desatengdo dos civiistas & nova realidade de ‘Rossa ofcem juidica éfator que tem impedido o precarista a consumar 6 usucapido, lato que colide frontalmente com os prine‘plos constitu: cionais vigentes.® 1. Posse no direlto brasileiro Reza art, 485, do CC, que: "Considera:se possuidor todo aquele ‘que tem de fato 6 exercicio, pleno oy néo, de algum dos poderes ‘nerentes ao dominio, ou propriedade.” E cedigo na doutrina, malgrado haver se contaminado com a teoria subjetiva de Savigny,” que nosso CG adatou a teoria de tering — teoria objetiva da posse. 3 Apud TEKEIRA, José Horécio Meiles, “Inerpretagsoe Aplicaco da Cons: tiuigdo. RT 738/750 4 Trat-se de pensamento com fro legal (Estatulo da Cidade, lei 10.257, do 40 de juno do 2001), Um dos fins dessa cents Lei 6 ordonar 0 pleno dosenvh- \imenfo dee fungoee socials da propriedade urbana (a 2, ultzando insu Juleizose polis, dere os quai, o usueapio espacial de Imdvel urbano (a ‘ine. V laa §5” Eduardo Fortunato Bim, edvogado earls destacado, ncicow-nos aera a obra de Ruy Samuel Espindola (Cancelo de Prncipos Consitucenas. $80 Pauo: Ri, 1999), cu trecha eoguine seniu-nos deinepragdo:"(.) sabe so que fo Dire Tbutiio'e no Deo Adminstatv, prncipamente na doutina das Simas dcadas, 0 ciscurso principals tem ecupado uma fungéo de extoms felevincia, Porém, o quo dizer dessa questao perepectivada no Dito das Cok ‘sas? Em ouros tarmos: Qual lugar, leorico e motodotdgco, que ocupam os incpie canettucionas nes arliges, nos manuals @ nas monograis {Zadas sobre Dito das Cosas”, pp. 257-258, gifs, 6 Nonove CC, ant. 1.196: “Corsidera-se possuider todo aquele que om do flo © enuresio, plano ou no, de algum dos pederes inerents 8 propriodade.” 2. Denunciande a contamina das duasteras: "Todos adem quo opr {co art. 488, do CC} acateu ¢ exprime a delni¢z0 [de posse) oerecida por Ihering. Mas ao dispor sobre o usieapian, urda: se no animus tal come nele 8 Assan Savi (BESSONE, Dare. Da Posse Sao Paulo: Saraiva, 1906, p. 58). ‘> autor revela que tal Contaminagao surgia poe uma’ emenda prO- AOR 1 22 — Jan Abr. 2002 ‘is Jose Ndo ¢ poder fisico, e sim exteriorizagao da propriedade*,® como Peto claramente no art 485 do CG. 7 7 Propriedadt rome eee fsa cls ions ce rma etc on eo 4.4 Dos vielos da posse 0s vicios da posse esto elencados no art. 489 do CC®, Séo eles a violéncia, a clandestinidade e a precariedade, € violenta a posse ladquirida mediante esbulho, por ullizagao de forga fsica ou moral clandestina a posse exercida as escondidas, sem ciéncia do propric- {ério ou verdadeiro possuidor, de modo a ocultar-he a coisa. € prosaria '@ posse adquirida pelo abuso de confianga. Explica-se: alguem rece. be a posse numa relacdo de desdobro (posse justa e ditela) © no [razo de término desta relagao — ou devidamente notiicada para evolver a coisa — recusa-se a entregé-la, Surge, entdo, a precarie- dace, que “se caracteriza justamente ao tempo em que a resilgao dominante na doutrina ejuisprudéncia que, em face do instituldo 40 rj savaniano em norma 0 gosto de ein, no basta aera apenas fudenoncte ce rece po lea. xm ant o go cater roo 1 618° (ltd... No meso edo DINE Mara lena. Curso do Delo Chit Gaston, Sao Pa: Sara ate Ya. 4p 0, GOMES, Cando. Dots Rent 1, te de rah: Frence, 16, SLVA, Cao Maio Pre, Instungs de vo Gr ed Poe Janeiro: Forense, 1999, vol. 4, p. 14. a Cul Red Bog 4 INERING, Rudol Von. Teo Simaicade da Posse. Tad. Pio do Agua ‘Bauru: Edipro, 1999, p. 57. mo ce Aa 8 Oat 1.20 do novo CC epee Meramenteoceposo no or 489 do CC ta 1B AZEVEDO, Piladepho. Um Tiéno de ludeatre, Sto Pato Mos Coronas, 4 ROR nf 22 —Jan/Abr. 2002 ROR of 22 — Jan abe. 2002 tw 1 art 497, do 00," 6 possivel que a posse viciada comvalesa, Gopels de caseada ¢vilofai ou aciendestindade.€,coagotambgn oo posse preva, a que nao ha presto fog nuvea conver Gece sokao iprstavel pata ns de usucapiao “is cana 9 com muta propredade, que dos vicis elencados ro Gddigo Cn, ter sla precaredade 0 mais polemico, cet mente o que provoca as discussées mais acaloradas"."® Moreira Alves hina cub atcontaminacao de precotos da tera untana, tera bral quo scabou sendo adolada em nosso CC, pode ser Un dos motives de tantas controversias."' Lenine Nequete denuncia que a Soutina pata ainda interpreta‘ posse preeia sobre pra go ‘at rohisota, que ne resend da bose para gorar Gretos. ives hes ue nova feahdade, © Codigo Chl de 1940 prescn- ci da boa 1s bara o usucapit extaranane, permitino, eno, qua a posse precéria, desde que exercida com nimo de dono, seja ttl ages Pare STeomonio, em especial em alguns doutinadores do inicio do, sécuio 9k qus'o veo da precaresade nunca cessa, Enendomes ue tal posiges hoje prec ser revit, mormente apo a EC m2 2, Interpretagdo conforme a Constituigao Sabemos que a estrutura de Poder que chamamos Estado de Direito nasce © organiza-se juridicamente por intermédio de umn in trumento normative; a Consiituicao."* Assim, “definimos Estado de Direito como 0 criado e regulado por uma Consiituigao (isto é, por norma jurdica superior as demais)’."” + 6, 150 san ce x nl Stee ot ae nee te oe a ihepeh ner nicer on terete eee nits a orion os Sa hl seers te te an ma so cot 7 oc ll ea ermatetrat Be Ee se 20, ran 2 stun araeaashcorg cas ocr eect fil Bi meena oe eer ah cra ore care cena ag Face rants hee en eh igiermer dice naga tote se nl a a. rae Po ot Pal TSU ene tre ee ea de pnt a ena Co Ste fea Mg Ol, sn Gv Me ot Sea \Notamos que as regras insculpidas na Carta Magna efetivam a {genese do Estado de Direito. Logo, so esta norma fundamental (que funda, dé vida) lem em seu substrato principios,"” toda e qualquer maniféstacao juridica (soja ela de interpretagao ‘elou aplicagao. do Girilo) que se observe no seio do Eslado deve ser harmonizar com tes," 01 se corrompe, por ilegtima” "pois todo processo de inter: elaggo gg mplemeniaa part da homalvdad jc do pacto fundador. ‘Comentando a atividade do operador do direito, enquanto intér- prete, em conironto com os diversos métodes hermenéuticos dispo- hives, bem frisou Tércio Sampaio Ferraz Junior quer "sendo @ deci Aibilidade a questo bésica que domina a atividade do jursta, a hhermenéutica juridica visa fundamentalmonte ctiar condigoes para ‘que eventuals conflos possamn ser resolvides com um minimo de perturbacao social” Se levarmos em conta um dos principios fundamentais do Estado brasileiro, qual seja, “assegurar o exercicio dos direitos sociais” (mo- 17 "A importincia dos pincpios esta em quo elas fundamentem a6 rogras. (STUN0%, Raquel Denize. Principio da Proporionaidade no Dreto Constiucina! Brasieo, oto Aloge: Liraria do Advopade, 1995, p. 41). Na seara do Direto (Gi, ¢ também consagraca a uiizara0 de principios (yer to tes) ait Tega’ a apticacso ea nterprotagdo do Del, Lombrese que oar 4 da ICC determina que na omisséo dali o juz devera abservaro& principoe gerale de {ite Como atesta Rubens LimangiFranea “a coneagragio dos Pncipios Geral {e Diet, na qualidade de forma eomplementar do Det Normative. consti lim fato universal, pos, mesmo em palsos cuos Coals silenelara a respoit, fa Doutina se encarregou de dara Bssee principio: fers de regra obigatta. (eos ¢ Praca dos Principio Gerais de Diet. S80 Patio: Hl, 1963, p. 97) Note-se que hana doutina patria pensamenio segundo 0 qual oe principoe Consitucionas estio relacionados com os princes goras de dao. Neste feniido:“Parece, assim, que os piincpos consttutionas outros nao 0 que of ‘eos conhecdos'pincipiosgeais de desi "(ROTHENGURG, Wale Claudius, Pncipis Constfuctanals PorioAlogre: SAFE, 1909, p19) Em set abona o autor Incica a obra de Romeu Felipe Bacelar Fhe, Pincpios Constitucionals do Pro ‘osso Administatva,p. 27. 10 “(..)08 principio constiucionai,além de desempenharem papel de normas com dforntes graus de concretizagao, ainda funcionam como enirio para a Interpretagdo de outs rormas, nao importando o rivet hietarquco normative Gessas."(ESPINDOLA, Ruy Samick. Op. el, p. 248), 49 "Hermenéutica constucional — Necessidad de interpretacso homogénea & Sisematca, A Constuicso, Célula Mater do ordenamentojurico da Napto, jamais podera ser interpretada a luz de um dlspositvo folado, sob pena de set Mrastormada em ncrumento aulclagien de seus prncipos ialidade (TFT. 7" egito, RO 0° 360219, ol. Juz Jose Ronald Cavalcante Soares, 208.1999, {CD-FOM suis Sinise Millenium, vo. 29, malo-uinho de 200", ifemos), 29 SCHIER, Palo Ricasdo. "A Hermenduiea Gonsttuciona:Insrumento para Inplemeniacso de una Nova Dogmtica digi,” AT 74142, 21 FERRAZ J, Tecio Sampaio. A Ciencia do Direilo, 2° ed, So Paulo: Alas, 6 ROR af 22 —~ Jan Abr. 2008 radia), 86 6 alcangado se a propriedade (clreito individual) buscar seu fim social 6 se observarmos que um dos instrumentos garantidores, este ensejo ¢ 0 usueapiso, concluimos que se uma situagéo fética perpetua-se por um consideravel espaco de tempo, e se ha naqueles fates elementos caracterizadores do usucapiso, a concessao desta benesse 6, evidentemente, a solugdo juridica que causa um minima de perturbagao social, ou ‘seja, dentro das possibiidades legals, ao ‘deterir ou pugnar pela concesso do usucapio, alinge o jurisia 0 ‘escopo fundamental de sua atividade, dentro dos cénones do pacto tundador. ‘Nesse sentido é de se aplaudi o ologdente aresto do TAMG, que ‘consignou: "A CF de 88, em sou aft. 183, ndo estabelece o limite mninimo para se invocar 6 usucapiéo, mas apenas 0 maximo, ndo se podendo, assim, através de uma pretensa interpretacao restiiva fun Gada em norma infraconstitucional anterior & Lei maior, reduzr inde Vidamente 0 alcance de urna regra constitucional de eficécia plena."® ‘Contraru sensu, qualquer interpretagao que vise restringlr 0 exer- cicio legtimo do diteilo fundamental de moradia é eivada de incons- fitucionalidade,® mesmo que seja baseada numa exegese consagra- 22 “Dove se obsnaiaa chara fr arti i. 04) come detent So ave cu propencade. 2 posse omriaiado vaucopit ga meradi come prota Soc (ROSAS, aorta “CansiueSow Orato OM” RT TEES) Ee imgra da emont: “ohvevicatia — Usveapigo especial — Matéia de Gein Fecnasion At 189 a CF Prova, O usueapio especie proviso nam 185 da CF conana tumentoaomente eles do egUazaSo Reel ua ver ue obeva cone eimai a stuabes de Wo, coupe {oe desenvolvimento da tara nas cades, exclandd a6 conseqencis > frengpato da propedal © especlagso obits, de medo conte os propos enurcados nos ar, Of, 170, 182 da GF. Tendo em vata eubcepleabllde co ar. 162 da CF do 68, mosmo em se considerando ls dplumas legals provisos no at. 152, Holo @ ‘ninterpla © pactieamente, desde que a ulize para sum moradia ou de sua familia e que nao sea propietao de qualquer outo vel, sendo relevant o modo como se adgurit a posse do questonado bom A CFI88, em seu at. 183, ho estabeloce 0 lle mimo para se ivocar 0 usucapiso, mas apenas @ Inxina, no se podendo, assim, aravés do una pretensainerpretagdo resi Finca em ora itaconstucenalantror A Let mele, redurindoviarent ‘alcance de uma roa consliucional de eflescia plana, que visa a beneficia 0& habitanies das eidades” (TAM, 3" CC, AC 2460245, el. Juiza roms Brat Maris, | 06 05 1998, CD-ROM Juris Sintese Milenciurh, vol 2, mato-unho de 2001, gilamos), 24 “Gonaltucional — Chil — Processo civil — Penhora incidents sobre imoval Feeidencial de iador em corsa de locacto — Impossblidade —Provimento ‘Sorav. Coma promigagto da emenda cossituionalr® 26, do fevero¥o de 2000, ‘quo mediicoy a redagao doa. 6 da CFB, nclundo a meracia no rol do clos Socias,derogado fleou oie. Vil do ar. 3° da Ll 8.009790, niroduzido pelo a ‘Sociais, derrogado ficou 0 INC. VI Co a te ne aoa a en, ieee ee ee deal ROA n? 2 — lan abr. 2002 a7 da de normes de dieito pivado..porfetk coolrio do Eslado de Beto, reprosentad pelo prineipo™ da cignigade hunana.® © texts Constiocional eslabeleceu novos pardmoltos para protago da pro friodade © para 0 exercise do uaveapio, © corte erna, Celso Basis, rem sempre, conto, as regras do Coc Ci podem sor Spicadas ao ineulo conattucional (do usucaptof =” {Gametuti tinha ‘a mesma preacypagt. Aalsar um problema furidico que mantém conto com varios ramos do dreto 6 trea que Blige do hermoneui alguns coidads, verbs. “Ocore. que, para poor estier eos frmilvel mecanin, on cients do Deo © Fem de tazer por partes. Nao de ote modo se comporiam os nécloos fom o corpo human, os engenhetes com as méquinas Em sma, @ Diet por kagmenios nao Diet, e sim uma parts do Diao, 6 § feadado da pete excl a reaidage do toda Tss0 quer zor ue 8 decomposigto do Dito 6 um procedimonto neceesério de nossa Giencia: mas pode condizr a gravissimos eos, se nfo fr acompa hada do conhecimento de que o que née observanos émals cadaver do Drcto do que Delo vivo, poxue a vida, ou soja, realidade do Diet, no eld em nenhuma pate, senao n todo e em sua unidade, Pare ver o Ditto vivo ha que se sub 0 mais at possivel onde 6 hho possa abarcar, quanto caiba, sua inensa reahdad™ Shore o problema dese estuderos natu dec pabio,™ tied a reside do fador”(TJDF, 4" Turma Civ, Alo 200908572000, Rel Des. Eslovar Maia, OJU 07/02/2001. p. 32). 25 "Asnormas conttucionals —alincluides os pintpios — s80 nomas juicions como ta, pretendem produ determinados eles no mundo ds fos, cue flverdo ser Coatvamente unpostos caso no se produzam naturalmente” (BAR- (CELLOS, na Paula da. A Ehedcia Junchea dos Pincipios Conshlvcionai: Principio da cgnisade cla pessoa humana. Fie de Jano: Rerovar 2002p. 209) 25 "Ponhera de residencia — Embargos do trcato — Conio onke dries [undameniats ~ Pao x eto. Residencia 6 impenhoravel, ainda que haja contitos Sobre 3 propriedade. Até que se decida a blridade em foro proprio, nSo se Gesaljafaniia pare salistacto de déblo vabalista(.), No 80 sale, mas lambem a moracia so inereries a principio minos de dgnidade humana (ats All, 67, IV da CF}. Agravo de peeao Jo lrcoko embarganta a que #8 a rovinenio para restiuahe o bem imovel, wrnando sem ela a pertora” (TAT, ‘8 Rogiao, AP n 2905/2000, el. Julz Sergio Guimaraes Sampaio, DIPA 18.02 2007, CO-ROW Juris Shose Matenium vl. 31, 8 ou1200", rms). 2F BASTOS, Colo MARTINS, les Gandra. Comentios & Const de 1968, ‘to Pauio: Saraiva, 1890, vo. 7, . 234 28 CARNELUTT, Francesco, Metodologia do Dito, Wad, Frederico A. Paschosl Campinas: Bookseller 2000, pp. 5051, glares, 29 Dusde meados do século 2 auloes como Abert Trabuochs (itzzion of Dinto Civia. 7 od, Padova: Cedam, 1953, pp. 355-356), repstam 0 rao do opriedade (que na laa também fem sede constiuconal) nso de celto Public. E por sso mesmo sole dvoreas hmiagtes requlameniagies de ite esse do Estado, como, vg. 0 dicio de desapropriaga, requisgao da propre 116 ROR of 22 Jab 2002 ‘sob © prisma do direto privado, Geraldo Ataliba asseverou: "(..) a Tmaioria dos bacharéis atuantes v6 o mundo pela dlica do direto cil (¢¢ levada assim a modelar suas proprias fungoes e ver as dos demas, () Conseqdencia ¢ 0 desconhecimento, e decorrente desprestigi, ‘do direlto constitucional e demais setores publicisticos que, ou S86 ignorados, ou tratados com técnicas, principios, espinio e perspectiva privatisticas pelos aplicadores, inclusive judicals."™ Por que colacionamos estas ligbes? Para 0 deslinde da questao ‘central do assunto objeto deste esiudo. O ponto fulcral da disoussao que se propoe é demonstrar que a interprelagdo que se faz tradicio- Nalmente da posse precaria (Salvo honrosas éxcegbes, que veremos, ladiante), atenta contra 0s principios da Constituigao ‘Brasileira. Tal interpretagao, em casos em que resta flagrante a mudanga do caréter da posse tom impedido o exercicio de uma garantia social fundamen, tal que ¢ 0 da moradia, e mais: impedido a propriedade de atender a ou fin social 2.1. Fungo social da propriedade Falamos sobre interpretagdio conforme a consituicdo, porque a. Carta Magna velo dar navos contornos ao direito de propriedade, que durante muito tempo foi interpretado como absoluto,® e ainda hoje arco, intervene do Estado no deo delocago, tc. Nest sentido, lambém ‘a doutina brasileira “Esse conjuto de normas consttuconass sobre @propte- ‘dade denola quo ela no pode ser mals considerada como umn dto nd nem como intiuigo de Dirato Prvado" (SILVA, Jose nso. Curso de Dieta Consitucional Posi. 17 ed, Sao Paulo: Malhers, 2000, p. 273). "E dal que 2 passa a0 dado posivo: 0 feconhocimenta da propiedad prada 6 asso {da Constiuigaa © & 4 par dole e de acerdo com sou eontoddo que qualquer ‘mecanisma de inorveneso se tana possivel no sista judo brasil" (MO: FIEIRA NETO. Diogo de igueired, Curso de Dito Administra. 17 ed, Rio e Janovo: Foxense, 1997, p. 274, gitaros) ‘20 "Por outa para, pueden sefalae ouos hechos que cean la necessidad de fstucier na relacién eno of Derecho Consituconal y las ramas dol Derecho Privac, partularmente ©! Derecho Civil Uno de oll es que ingresan a is ‘consiticiones malerias que —|o manos en algunos paises —hasta exomomento $e cansierabam propia del Derecho Prvado" (RIVERA, duo César. “El Derecho Privad Consitucsona™ FT 725/13) ‘31 Precio da bra de SUNDFELD, Carlos Ni. Op. ot, p14 2 "Todas as espécies de usteapiso, na supremacia dos interesses soca, ervem como insrumentos tendentos a dar seguranga aos deo, sendo quo 08 seus requioe em geral,polas novas tendencias da dona eda jursprudenca, reaquardadae pela propia Carta Consiuconal,impoem, na epoca contompots hea, uma adequagdo dos seus insite juridoos 2 sua signiicagao social, tendo fom vata ae pecullaidades de nosso Pas, o que inspira um abrandamerio das foumatdades tegaise uma posigdo interpreiativa menos igida" (CORDEIRO, Jost (Carlos. "Usueapiso™, RT 714/16). 5 FALCAO, Alcina Pinto. Comonttrios 4 Consuieae. Rilo de Jone: Foss ROR nt 22 — Jan abe. 2002 119 cencontramos em algumas definigdes © conceilos — principalmente fem alguns manuais de dreito civil —rangos dessa realidad uilrapas- sada. ‘Como ensina a melhor doutrina, a "lungo social da propriedade go Se confunde com os sisternas de limitago de propriedade. Estes dizem respeito a0 exercicio do direito a0 proprietério; aquela, & estru- {ura do direito mesmo, 4 propriedade’* ‘Sendo olemento interno e imanente propriedade, ¢ licta dizer que este direito 86 existe uma vez observado nele a fungi social Nao encontrando 0 operador do direito resquicios de alguma fungao socialmente relevante no exercicio do direlo de propriedade, na rea: lidade, néo encontrard propriedade, nem remédia jurdico que a pro- Ieja, como atesta-nos Ana Prata, verbis. “Se o proprietario nao cumpre e ndo se realiza a fungao soctal da propriedade, ele deixa de ser merecedor da tutela por parte do orde- rnamento juidico, desaparece o direlto de propriedade. Quer dizer isto ‘que 'a funeo social ndo pode ser consiruida como um dado externo, ‘como qualquer coisa que se encontra fora da estrutura da proprieda: de’, mas antes que a alribuiedo do direto é condicionada a realizacao {as fungdes fins que S40 aibuidos a cada um no émbito da coletivi- {dade. A uncao social em significade de uma expressao englobante @ sinetizadora Uos limites legis v intiinsecos a propriedade, const Iuindo estes ‘limites’ no como uma ‘compreensao exterior do direto de proprietirio, [uma] sangdo pelo incumprimento de umn dever, mas antes (um) elemento conatural do proprio direito a fim de que soja Iealtimo © seu exercicio. “= Espelho fiel a esta realidade encontra-se em magistral aresto do “TSP, que leve por Relator 0 Des, José Osorio, que transcrevemos: °O alual direto positvo brasileiro nao comporta o pretendide alcance do ppoder de reivindicar atribuido ao proprietario pelo artigo 524 do CC. Aleitura de todos 08 textos do CC 56 pode se fazer a luz dos preceitos Consttucionais vigentes. Nao se concebe um direlto de propriedade {ue tenha vida em confronto com a Constituigdo Federal, ou que se desenvolva paralelamente a ela. As regras legals, como $e sabe, se arrumam de forma piramidal. Ao mesmo tempo em que manteve a propriodade privada, a CF a submeteu ao principio da funcao social (ants. 5% XxIl © XXill; 170, Ile Il; 182, 2; 184; 186; etc.) Esse principio do significa apenas uma limitagao a mais ao direto de propriedade, ‘como, por exemplo, as restrigdes administrativas, que atuam por forca ‘externa aquele diteito, em decorréncia do poder de policia da Admi- tistracdo. O principio’ da fungo social atua no contetido do direito {ace Prvada no Dirilo Romano. Porto Alegie: SAFE, dieito roman, © sim na Grete Iberal do Codigo Naples, 84 SILVA, Jose Afonso. Op. ct, pp. 289-264, 8 PRATA, Ana. A Tutola Consinicional da Autonomia Priva, Coimbra: Amex De 4967 > 184 creme 120 _ ROR nt 22 — Jan Ab, 2002 Entre 0s poderes inerentes ao dominio, provisos no artigo 524 do CC (usar, frur, dispor e reivindicar), o prinefpio da fungao social introduz {um oulrointeresse (Social) que pode nao coincidir com os interesses do proprietaio." ‘Conlorme doutrina José Diniz de Moraes, a fungi social deve influirna exegese © no exercicio do diceilo de propriedade da mesma ‘maneira que 08 prineipios consttucionais influem na ordem juridica (4 que a fungao social também ¢ principio constitucional). O universo juridico esta afelado a sempre perseguir, no direito de propriedade, {as seguinles manifestagdes da fungsio social: Inferpretativa, que pres: ‘reve 20 jurista resolver os conflios em favor da situagao em que a propriedacle melhor atenda & fungao social. inlegrativa, que incute 20 Jurista integrar a todo 0 sistema juridico afetado a propriedade, 0 prisma dirativo da fungdo social. Dirtiva, que vincula o legislador a produit leis que observem a fune#o social, Limitaiva, que prescreve {20 proprielério, ov possuidor, a absteneao de qualquer ato que viole (9s inleresses coletivos e socias, e prescritiva, que incute ao Estado ever de sempre respellar (@ fazer respettar) a fungo social da propriedade.*" ‘José “Afonso da Siva lembra também que outra maneira de se alert a lungao social de uma propriedade ¢ verficar se seu exercicio Imanifesta-se de inodu a "sssegurar a todos existéncia digna, conforme ditames da justiga social (art. 170, le ll)" ‘Sendo a fungae social, enlao, elemento sem 0 qual néo existe propriedade, entendemos ue, este diteto deve, ao menos, ser exer- Sido de modo que dé ao seu titular alguma vantagem econémica socialmente relevante efou cella (obviamente, vantagem destituida de cardler meramenle espectiativo)®, o que direla ou indirelamente pode ser entendido como fungao social 26 AT 7221207-208, Peo ineitismo da tose aventada, 0 voto supra mencionado ‘mereceu comenkévio do Pro. Aides Tomassel Jr, que assoverau: "A molivagdo ‘do ulgamento & conctudente eiciiva, quer se qa, ou nfo, acelar as razbes {0 docidr. Eslas raz0es talvaz possam sor concentradas, por antecipagso, no ‘oquinte modo ago em sentido materia) para que o tila de ie de domo sobre lols esidoncialsurbanes, posta havor (nose valava de reaver) a posse ‘da coisa, tom de se ulgada em adequacdo ao modelo constiucional de prope- ‘Jade, desacohendo'se a pelenso real A miso quando nao sea ustamente ‘eels conforme o pinctpio da fungo socie (TOMASSETI Jr, Ales. “Jui- prudencia Camentada” AT 714/209, gilos 90 cxigina). 537 MORAES, Jose Diniz do. A Funedo Socal da Propiedad © a Consttuicdo Federal de 1988 So Paulo: Malnees, 1999, pp. 65-66. Licia Valle quoted Colaciona algune deseos elementos em sou Curso de Diao Admiistatvo, fd, $80 Paula: Maeitos, 2000, pp. 289-200 {8 SILVA, José Afoneo. Op. cit, p. 285. 59 Neste genido camiaha a Legilagdo Basra, como nota-se no Esta da Cidade (Lei 10:257001), lel que busca ordenar 0 pleno desonvokimento das Se Te ee ee een tie tema nce asenenatheamaneteiell ROR wi? 22 — Jan Ab. 2002 son Note-se que o novo Cédigo Civil veda “os alos que nao trazem ao proprietério qualquer comodidade, ou utlidade™ (art. 1228, § 22 no ‘mesmo sentido, Lei 10.257/01, art. 2, inc. VI letra 'e). O novo Codigo impde a0 direito de “usar, gozar e dispor da coisa, © 0 direilo de reavé-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou dete~ ‘nha’ o dever de exercé:lo “em consondincia com as suas finaidades ‘econdmicas © sociais” (art. 1228, § 19 Mas se alguém é privado da posse de um bem e mantém-se inerte por um longo periodo de tempo, age de modo a deixar que a fungao focial daquela propriedade milite em prol de outrem, desfigurando ‘seu proprio direlto, que lalece, pois desttuide de um de seus elemen- tos essenciais. 2.2 Direlto & moradia como direito fundamental Como muito argutamente é se observou, vivemos em “uma socie- dade em que 0 regime familiar esta completamente submetido as felagdes de propriedade".®” E quase que intulivo que algum minima de propriedade deve ser garantido & pessoa (ou a familia), para sua ‘manutengao,** pois 0 “verbo morar est incissoluvelmonte ligado a0 fxr, 20 viv" 'S6 Um dos prineipios de nossa Constitigao ¢ 0 da dignidade da pessoa humana (art. 1, Il, da. CF{88), nao se concebe que, por Intermedio de uma “intorpretacao retrespectiva™® da poste procaria, rostinje-se 0 exercicio do direito de usucapiso, que é insuto que visa fomentar 0. acesso a um dos bens que compdem 0 “nicleo sindicdvel da dignidade da pessoa humana’. Isto porque "passar evel war ae reser su sutton teaio a 2 40 ENGELS, Fiedich, A Origem da Fama, da Propriedade Pivada edo Esta. Tad, Leandro Kender, "ed. lo de Janovor Viena, 1964, 9 41 Ha indmeras leis que protagem a mevadia da fama, como, vg, ar. 70.6 #8 0 CO (art 1.711 6 58. do novo CO); Dec. 8200/4, at 19s CPC, ar. 649, inc. | Loi do Falencias (Dec.toi 7661/41), art 4¥ @ principalmente a Lei §8009101, que ampliou o concato (e a proterao) do bem de fai, Tals medias revelam a imporlancia quo 0 Eslado dé manutangao da moreda do nicleo Tamia, revelando que 0 dreio A meradia, hd muito. é tsa coma fundamental ara desenvolvamento das pessoas © da sociedad 42 CENEVIVA Waller, "Aspectos do Direto de Morar, Revista do Advogado 67 43 ".) que ¢ interpretagdo retrospective, pola qual ce procira interpret o novo ‘de manta a que el nao inave nade, mas, ao feves, que to parecido Guano Bossivel com @ anigo” BARROSO, Luis Robert. Intrpretapao e Aplicapao da {Consituisao, Séo Pao: Saraiva fp. 67 apud MELLO, Cla Aa. “Os Diets Sociiso/aToora Dscursiva do Dito", RDA 224/241 BT BARCELLOS, Ana Panda de, Op ot. 0. 247, 122 ROR 22 — Jane. 2002 {fome, dormir ao relento, néio conseguir, emprego so, por certo, situa- (9608 ofensivas & dignidade humana’. ‘Nessa perspectiva duas alicmiagdes podem ser feitas. A primeira elas 6 que @ moradia constitui um dello fundamental necessério para que.a pessoa humana deserwolva-se com um minimo de digi Bade, E a outra € que se a propriedade imobiliria servir de moracia ‘a uma familia” estaré cumprindo sua fungdo social.#® ‘Assim, 0 que propomos @ que a interprelag8o juridica razoavel ue vise proteger e/ou garanlir 0 diteito social de moradia (e 0 de Uusucapido constitucional), deve prevalecer em face de outras inter- pretagoes, mesmo que consagradas na tradicional doutrina. Somente ‘assim decide-se em consonancia com os principios consitucionais, informadores de todo 0 ordenamento jutiico. Isto porque a comunidade juridica é chamada a participar de um, movimento chamado de Viradia de Copémnico.*® Ha uma forte tendén- cla no mundo académico e doutrinario que ver tentando demonsirar ‘a necessidade de se harmonizar e inculir na doutrina tradicional do direto civil precetos e principios do direito constitucional, ou seja, escola doutrinaria que caminha no sentido de um direito civil const: 45 BARROSO, Luis Rabel, © Dieta Constuciona 0 a Eletvidade de suas ‘Names, p. 296, arfamos, apud BARCELLOS, Ana Paula de. Op. ci p. 255, futora laciona, na mesma nha deracecino,leoes de Canottho e Ficardo Lobo ‘owe 1 sia idsia 6 delendida, © de manoia bem fundamentada, na obra de Nuno te Saller Cis (A Potecgao da Casa de Movada da Familia no Dito Portuguts. ‘Coimbra: Aumecina, 1906), Com base em Garcia Cantar, o autor alvmsa que “0 Sell’ habltagao pode considerarse coma um dos dros undamentai do hhomem” (op, i, 9). Mais adinte, baseado na doubina de Grimald,sfrma, finda, que a habitagd “garante a electvidade dos mas importantes iets da Petsonalidade" (op ci, oc. [7 Note-se que la entondeenta tom amparo leg. 02 0 Estatuto da Cidade (Loi 10257101), em seu art 2% "A poltica urbana tem por objlvo ordnaro pleno Geservotinento das tangdes socials da cidade e da propriodade urbana, mo- ‘ante ab seguites dclnzes gorais: | garanta do dielto a cidades sustents ‘eis, enlencido como 0 dito (.) 4 mocadia,” Na doutina, enconta-s8 pensa- Inenio semelhante. 0 aqu defend, we7b “A funclonalzagso do dito de propredade ang todas as especies de propiedade, vaianda mosmo pol tipo Be funedo social A propria garantia de degerwatvinentg do ncloo fama a se ‘consi! uma langaa soctalmenteYlevante" (ALMEIDA, Elcio Cruz de @ SARDAG- NA. Grgstivan Qrummend. “0 Pareelamenta do Imovel Rural via Fracao Minima {8 Parcelamento rents a Fungo Social da Propriedade", FIL 146/211). 48 "Dento os dveteoe diiemas que 0s fats impoam perane o creo ness tl te stcuo,stun-ee a andlee sobre a fungdo socal da propriedade urbana, enessa Inna, 2 realzagio de elementares drains humane, como ode er uma morada,” FACHIN, Lue Edoon, “A Cidade Nuclear e 9 Dico Petco,” RT 723/107 19 Ver ola expcalva a obra Repensando Fundamentas do Dito Civil Cont a yanon Lads edleon Fachin (conrd.), Filo de Janeiro: Renover, 2000. ROR of 22 — JanAbr. 2002 ita tucional® Entendem os integrantes deste movimento," assim como ‘nds, que ¢ inconcebivel que os avangos do direito constitucional nao ‘se fagam relletir, como deveria se esperar, nas ligbes e restos de dillo iil, propondo entao uma global reinterpretagao deste ramo do direlto sob 9 norte das normas e principios da Carla Magna. E urgente, para que se observe uma efetiva justia, que os civilistas deitern os olhos nas novas perspectivas olerecidas por outros ramos. do dieito.* principalmente 0 dire constitucional™ e 0 direito inter- facional (pacios, tralados e convengoes).* Explica-se esla urgéncia por dois mativos. A um, porque a Cons. tiigdo ¢ documento no qual se encontram enfeixadas as aspiragoes poliicas e sociais de uma Nagao. A do's, porque & na Carta Const. fucional que se encontram regradios os diteitos econdmicos, em es. peecia, 0 direto de propriedade. Ensina Dallari que um dos “objetivos {da Constituigao ¢ 0 reconhecimento da necessidade de ullizéla para impor limites juridicos ao poder econémico, disciplinando a obtengao, ‘@acumulago eo uso da riqueza, em funcao dos interesses individuals, fe sociais’.® Se a Constituigao regra 0 poder econémico e a propre: 22 Jeo cunado palo fatan Peto Peng, onl ala Lue Edson Fachin no preféco da obra de Renn Aronte. Piopredace © Lami Rio se danoro: Renova, 1988 p. WV. fe “ 81 Ente ols, no Brasi: Gustavo Tepedino, Luz Edson Fachin, Rlcardo Anne, Renan Lotuo, Maria Gristina de Cicto, Mara Cena Bodin de Moraes Topedire, Na lida: Piero Peringior! © Michele Giorgian Na Franga: Frangos Lucha, Batiand Mathieu, Christian ia, Jean-Yves Cher, Mare Frangi Na Espants Joaquin Ace y Fore aes, Ne Ageia lo Ca Fiver {2 “Sequramente, nesta questo da proteogso passessoria oDieito Gail encon, ltase nos lines das suas possibildades” (SOARES, Femando Luso. “Ensaio sce Posse como Fenomane Soc e nto uica” I, AODAIUES, se; estos de Diaiio Cl poriguée. 4 ed, Coimbra: Almedina Havel AF portugues. ed, Coimbra: medina, 53 *.) © Delo, como revla sua prépria jusprudéncia, deve acompanhar a Sociedade para a qual so drige, como rsrumental nao s6 de seguanga, come também dutta, conteddo materi do Eslado,postvado na Constlga, Jo mado vineuante a0 opera do det" (ARONNE. Picardo. Por uma Nova Her Imendutica dos Dios Reais Lmados. Rio de Jaco: Renova, 2001, p20, 54 Uma das normas de Oeito itemacional que pode eniquacer a vvenea do Dicllo Civ & a Deciragdo Universal dos Diets dos Homnens, © 08 pasos ® latados © convengoes sobre Dios Humanos. Sobre este asaunto: "Or Dello Mumancs, eran, no 0 lita a esses dros donalureza cma, como 40 ve no Pacio Il [Pacto Iniemacional sobre Dirlos Econdmicos, Sociale © uta}, abrangem outros de natueza econémica, socal e cura, que so insorem iqualment na estera especiica do Direo Gavi (OLIVEIRA Alm, "Os Draiios Humanes @ 0 Dist Civil Brasiexa” x NOGUEIRA, Adalici e outros Estudos Jurcicos em Homenegem ao Proessor Orlando Gonies io Janet Foren, 1979, p19, gilamos), Nesle seni: IVER, sito Gésar “El Derecho Prvado Consiiciona 728/14 BS DALLARL Dolo Ge Afra crnetinean @ Cecetibsins, Oh nl Ga me, 124 ROR ni 22 — Jan be. 2002 dade, seus principios devem iradiar @ influenciar na interpretagao @ ‘0 ozo destes direitos, que se da, na maioria das vezes, pela exlerio. tizagao des poderes inerentes 20 dominio, ov seja, pela posse.** E pensamos como Mauro Cappellett*” que deposita nos princt- pplos e normas constitucionais modermos a esperanga de um mundo ‘melhor, um mundo no qual individuos, grupos e pessoas possam viver ‘em paz @ sem exploragéo. 2.3 Da colisio entre direitos fundamentais Se analisarmos 0 texto da Constituigao, veremos que uma das finalidades (principios) do Estado de Ditelo brasileio ¢ assegurar 0 texerolcio dos direitos socials, e @ harmonia social. Fica claro que um {dos escopos de nossa Nagao ¢ privlegiar os diretos sociais, quando fem conironto com direitos individuais. Por isso mesmo, no Preémbulo do texto constitucional, a mengao aos direitos socials antecede & engao aos direitos individuais. E ensina Meiteles Teixeira, com apoio 7 jurisia norte-americano Black: *O preambulo das Constituigées indica seu espinto, suas grandes finalidades, a filosofia poltica ado- tada pela Nagao,’ Enire duas interpretagbes, evidentemente, deve preferi-se a que esteja de acordo com esse espirito, com ess fnal- ade." Canatiho critica os que defendem que os preambulos das Cons- tituigées sa0 destituidos de cogéncia, alirmando que nesses textos é ‘que, geralmente, se observam alguns dos princfpios constitucionais, Verbis°(.) 08 prinefpios tundamentais de uma ‘ordem de dominio’ & cde uma ‘estrutura basica de justiga’ nao s8o de mera natureza ‘exist fencia’, ‘decisionista’ ou ‘valorativa’: S20 princfpios aceites e, intencio- ralmente, queridos (de forma implicta ou expiicita) como normas da Cconsiituigao (6, por ex., falta de inlencionalidade normativa que nos leva a por em dlividas er relagdo ao valor normativo dos predmbulos cconstitucionais) Em oulta obra, o Mestre portugues leciona que, se as normas programaticas (prinefpios) nao sio possiveis de serem garantidas, por limitagoes econémicas do Estado, devem, pelo menos, exercer uma ‘Saraiva, 1984, . 14, grilamos. No mesmo sentido, José Diniz de Moraes. Op ity p.2 15 "A medida que a posse 6 qualicada instaura nova stuago juice, obser ‘Yeze que a posse, porno, no ¢ somente 0 conteddo do tlio de propiedade, mas sim, © pncipaimente, sua causa e necessidade" (FACHIN, Liz Edson. A Fungo Social da Posse © a Propiedade Contempordnea. Porto Alegre: SAFE, 1988, p. 13), [57-0 Controle Judea! de Constitucinaliede das Leis no Dielo Comparade, “rd, Aldo Plo Goncalves. "ed, Porto Alegre: SAFE, 1999, p. 21 58 TEREIRA, Jose Hordclo Meili. Op. ct, p. 759. $2 TERESA, José Hordiclo Mewenen. Cyn GX AOR oi 22 — JanJAb. 2002 125 funcao interpretativa® que garanta um minimo de eficécia a esses principios. ‘A imudanga de fo00 interpretativo, que privilegia os direitos socials em detrimento de direitos individuals, j fol detectado ha muito, por ui Barbosa, que asseverou: “(..) a concepgao indlvidulista’ dos. dlrellos humanos term evoluldo rapidamente, com o8 tremendos su ‘9808 deste século, para uma nogdo incomensurdvel nas. nocbes juridicas do individualismo, restringidas agora por uma extenséo, cada ‘vez maior, dos diretos socials. Jando se vé mais na sociedade um mero agente agregado, uma justaposicao de unidades individuals, facasteladas cada qual no seu direlto intratavel, mas uma unidade lorganica, em que a esfera do individuo tem por lites inevitaveis, do todos 08 lados, a coletividade. O direito vai cedendo a moral, o Indviduo & associagao, 0 egolsmo a sociedade humana," Contudo, se observa claramente que, aos alhos dos civlistas, 0s principios prestigiados pelas Constituigoes muito pouco tem inflen lado na interpretagdo e aplicagao das normas de direto privado, especialmente no locante a0 dieito das coisas, como ja observou) Gusiavo Tepedino. Assim, parte da doutrina civista, principalmante na letra dos fenémenos possessérios, faz tabua rasa dos grandes lavangos juridicos consagrados pela conslituigéo, como, v.g. a inclu- slo dos Direltos Humanos a ordem juridica, adogae do principio da

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