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© 1ª ed.

2018 – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que a fonte seja citada.
Os artigos desta coletânea são de responsabilidade de seus autores.

Produção e impressão:
Evangraf

Revisão de texto:
Felícia Volkweis

Conselho Editorial:
Clésio Gianello - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
Eligio Resta – Università degli Studi Roma Tre (Itália)
José Eduardo Zdanowicz - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
Lizandra Brasil Estabel - Instituto Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
Mauro Meirelles - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Brasil)
Ribas Antônio Vidal - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
Ronaldo Bordin - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
Silvia López Safi – Universidad Nacional de Asunción (Paraguai)
Tereza Picontó Novales – Universidad de Zaragoza (Espanha)
Valdir Pedde - Feevale (Brasil)
Vera Lucia Maciel Barroso - Faculdade Porto-Alegrense (Brasil)
Virginia Zambrano – Universidade Salerno (Itália)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

F723 A formação docente no PEFPD/PARFOR na UERGS em Porto


Alegre / Adriana Helena Lau ... [et al.], organizadores. – Porto
Alegre : Evangraf, 2018.
176 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-201-0056-1

1. Professores - Formação. 2. Educação básica. 3. Prática de


ensino. 4. Ensino profissional. 5. Tecnologia educacional. 6. Ensino
técnico. 7. Avaliação educacional. 8. Plano Nacional dos
Profissionais do Magistério da Educação Básica. I. Lau, Adriana
Helena.

CDU 371.13
CDD 370.71

(Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 8/10213)


SUMÁRIO

Tecnologias na educação e o uso de simuladores virtuais


dinâmicos no ensino de manufatura avançada
Marcos Eugênio Frozza e Rejane da Silveira Several ............................ 13

Gestão pessoal e interpessoal no ensino técnico


André Luis Mascarenhas Dornelles e Viviane Maciel Machado Maurente.......21

Estágio em cursos técnicos: uma proposta a partir de mídias digitais


José Cesar Simões Rodrigues e Viviane Maciel Machado Maurente........ 29

As mudanças nos planos de carreira no que tange à formação


de professores após o advento da LDB
Liamar Stela Bianchini e Viviane Maciel Machado Maurente.............. 45

Formação e atuação docente: o papel das crenças dos professores


Magali de Moraes Menti e Ana Maria Bueno Accorsi .......................... 67

Identificação do perfil das inteligências múltiplas em alunos


do curso técnico em Química integrado ao ensino médio
de uma escola pública em Montenegro/RS
Giórgia de Souza Marasca e Stella Gomes Bittencourt ......................... 87

Avaliação da aprendizagem: ultrapassando o modelo tradicional


Mirna Susana Vieira de Martinez....................................................... 97
Operação e programação de máquinas CNC:
estratégias de ensino-aprendizagem
Daniel de Souza Rocha e Rejane da Silva Several............................... 109

A prática docente e a definição do conteúdo


Marcos Torres Formoso e Mirna Susana Vieira de Martinez................ 119

O espaço físico da escola: possibilidades e limites à luz


da teoria vygotskyana
Giane Alves Mello e Mirna Susana Vieira de Martinez ..................... 131

Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial


de Formação de Docentes (PEFPD) da Universidade Estadual
do Rio Grande do Sul (UERGS) em Porto Alegre/RS
Adriana Helena Lau........................................................................ 143

Novas perspectivas no ensino dos conceitos de Física Cinemática


no 1º ano do ensino médio
Katiane Maria Homsi Pedott e Adriana Helena Lau.......................... 163

12 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

EXPERIÊNCIA COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA


NO PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO
DE DOCENTES (PEFPD) DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL (UERGS)
EM PORTO ALEGRE/RS

Adriana Helena Lau1

INTRODUÇÃO

A educação a distância (EAD), embora contemplada no artigo 80 da


Lei de Diretrizes e Bases da Educação (nº 9.394/96) (BRASIL, 2017), ain-
da não possui alcance pedagógico e cultural importante como modalidade
educacional na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).
Embora tenha havido investimentos na pesquisa e formação em EAD, es-
pecialmente no biênio 2006 e 2007, através do ambiente virtual de ensino
e aprendizagem (AVEA) TelEduc (SANTOS; FOOHS, 2006), o processo
se descontinuou.
A retomada da EAD na universidade se deu a partir de 2011, quando o
Núcleo de Educação a Distância (NEAD), ligado à Pró-Reitoria de Ensino
(Proens) passou a oferecer a possibilidade de disciplinas serem disponibiliza-
das na plataforma Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning En-
vironment) (BRANDÃO, 2014), como apoio ao ensino presencial (ALVES;
BRITO, 2005). Desde então, iniciativas individuais e institucionais de um

1 Licenciada em Ciências Biológicas. Mestre em Genética e Biologia Molecular. Doutora em Ciências – Genética
e Biologia Molecular. Professora adjunta na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Coorde-
nadora adjunta da UERGS junto ao sistema Universidade Aberta do Brasil/Capes.

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 143


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

pequeno grupo interessado nas tecnologias educacionais buscam capacitar


colegas professores, alunos e funcionários no uso deste AVEA (DERIVI et al.,
2015; GONÇALVES; LINCK; LAU, 2017; LAU; SIPPERT, 2017), embora
venhamos enfrentando resistências, óbices e devires no caminho que insisti-
mos em trilhar.
A EAD tem mais de um século no seu formato convencional, mas foi re-
vigorada ao longo da última década com o uso das tecnologias de informação
e comunicação (TICs), incluindo o uso de hardware, como computadores e
impressoras, e software, como Word, Excel, Power Point, que passaram a ser
incorporadas às atividades pedagógicas (RIBEIRO; TIMM; ZARO, 2007).
O domínio e o uso planejado das TICs e a construção coletiva da política
institucional de EAD têm assumido caráter de urgência na organização mul-
ticampi da UERGS, como ferramentas de ensino e aprendizagem eficientes
e eficazes para a continuidade e modernização do ensino superior público e
de qualidade.
O Conselho Superior da UERGS (Consun) aprovou, em março de
2018, a Resolução n.º 9, que institui a Política de Educação a Distância na
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e dá outras providências (RIO
GRANDE DO SUL, 2018); no entanto, a formação da comunidade acadê-
mica em EAD, a estruturação e a organização dessa modalidade de ensino
ainda dependem de largos passos. De acordo com a análise de Barreto (2004,
p. 1192),
na base dessas cisões está um modo de objetivação das TIC que não
passa pela análise das condições da sua inserção nos processos pedagó-
gicos como um todo. Assim, por exemplo, em iniciativas que preten-
dem potencializar os processos presenciais pelo recurso às TIC, como
nos cursos chamados “semipresenciais”, não há um redimensionamen-
to da carga horária e da remuneração dos professores para incluir o
tempo despendido na leitura dos textos dos alunos nos fóruns ou em
listas de discussão, nas respostas a e-mails, etc. O que o recurso às
TIC, na perspectiva da substituição tecnológica, viabiliza é justamente
o oposto: processos de subcontratação, de trabalho em tempo parcial e
de terceirização. Em outras palavras, ficam de fora as condições neces-
sárias à apropriação educacional das TIC.

144 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

A modalidade de EAD aplicada a um curso de formação de professores


desafia e mobiliza a produção de uma pedagogia universitária identitária
da UERGS, na qual a reflexão, tanto individual quanto colaborativa, sobre
a práxis poderá apontar novas perspectivas, novas concepções de ensino
-aprendizagem. A prática na EAD nos impõe o estatuto da ampliação de
conhecimentos, mobilizando-nos em prol da intervenção na realidade. Pas-
samos a questionar como a “cibercultura”, assim cunhada por Lévy (1999),
pode contribuir para a melhoria da qualidade do processo de ensino-apren-
dizagem:
busca-se realmente a formação de sujeitos pensantes mediante a dispo-
sição dessa inovação cultural? Hoje é necessário saber como incorporar
essa nova condição do homem frente aos novos processos de conheci-
mento, mas como fazer isso sem a existência de uma política de edu-
cação que dê conta desse novo paradigma, fugindo desta atual postura
formalística de ensino? (LINO; BUENO, 2015, p. 171).

O poder das TICs é inquestionável no campo educacional, do ponto


de vista tanto pedagógico quanto social (TAJRA, 2002), e dados de pes-
quisas revelam que professores fazem uso pessoal intensivo de computador,
internet e celular com aplicativos, aos quais dedicaram tempo para apren-
der a manusear e o fazem constantemente (FREITAS et al., 2009). Os
recursos providos pelas TICs no cotidiano dos professores, em geral, não
são vinculados às suas práticas educativas, e “quando o fazem se apegam ao
uso estritamente instrucional e mecanicista das tecnologias”, não discutem
questões epistemológicas e desconsideram a análise crítica das implicações
e impactos das TICs no processo de ensino-aprendizagem (PIPITONE et
al., 2016. p. 40). Isso porque:
[...] as TICs não mudam necessariamente a relação pedagógica. Elas
tanto servem para reforçar uma visão conservadora, individualista, au-
toritária, como para dar suporte a uma visão emancipadora, aberta,
interativa, participativa. Nesse caso, transgredir a relação está mais na
mente das pessoas do que nos resultados tecnológicos, embora sejam
inegáveis suas potencialidades pedagógicas (OLIVEIRA, 2003, p. 43).

Os cursos de formação continuada podem contribuir no desenvolvi-


mento das linguagens múltiplas, necessárias para compreender as interfaces,

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 145


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

metáforas e códigos das TICs como objeto de investigação de docentes pes-


quisadores e extensionistas e meio de qualificação do processo educacional.
Tais experiências na UERGS, mesmo que ainda incipientes, contribuem para
dirimir as nossas dificuldades na EAD e ensejam a construção de uma cultura
institucional nessa modalidade de ensino (DERIVI et al., 2015; GONÇAL-
VES; LINCK; 2017; LAU; SIPPERT, 2017).
A unidade da UERGS em Porto Alegre abriga o Programa Especial de
Formação Continuada de Docentes (PEFPD) e o curso de Licenciatura em
Pedagogia, que fazem parte do Plano Nacional de Formação de Professores
da Educação Básica (Parfor), financiado pela Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Edu-
cação do governo ederal brasileiro. A ação de extensão “Capacitação para
produção científica: metodologia de pesquisa, produção textual, metodo-
logia científica” foi conduzida como curso, constituído de cinco módulos,
que visaram capacitar professores cursistas e formadores para a utilização da
plataforma Moodle, disponibilizada pela UERGS, na produção de traba-
lhos científicos. Portanto, este artigo tem como objetivo descrever e analisar
criticamente a experiência na promoção e veiculação das TICs durante o
processo de qualificação de recursos humanos e tecnológicos para o ensino
-aprendizagem através do Moodle conduzido no PEFPD/Parfor em Porto
Alegre.

METODOLOGIA

O curso foi ofertado em cinco módulos, sendo três disponibilizados no


segundo semestre de 2016 e dois no primeiro semestre de 2017, com aulas
presenciais (24h/a) e a distância (96h/a), totalizando 120 horas, conforme o
Quadro 1.

146 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

Quadro 1 – Carga horária, conteúdos, atividades e avaliações do curso

CH Título da atividade ou conteúdo


8 horas Módulo 1: Formação em Moodle para discentes e docentes
-aula pre- - O que é EAD? Impactos e abrangência.
senciais. - Primeiros acessos: acesso à rede UERGS, acesso à plataforma Moodle UER-
12 ho- GS 2.5.2
ras-aula a - Inscrição no Moodle 2.5.2 e 3.0.4 (Novo Moodle).
- Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle – características, interface com
distância.
o usuário.
Total: 20 - Seleção de perfil do usuário: tutor/professor/aluno/visitante
h/a. - Edição do perfil de usuário
- Participação em fóruns de discussão: formas de saber destacada e conectada
- Acesso aos conteúdos
- Envio de arquivos
- Moodle na EAD: ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas
- Moodle como ambiente de apoio a disciplinas
- Requisição de ambiente de apoio virtual para disciplinas
- Moodle como ferramenta de aprendizagem colaborativa
- Configurações do ambiente
- Inserção e configuração de atividades e tarefas
- Inserção de recursos – exercícios no Moodle 3.0.4
- Usos do MConf no Moodle 3.0.4
- Atribuição de nota – avaliação
- Relatórios
12 h/a Módulo 2: TICs e EAD – aspectos teóricos
presen- - TIC e EAD – conceitos e abrangência
ciais. - Aprendizagem colaborativa
18 h/a a - Alfabetização tecnológica
distância. - Habilidades e competências na EAD
Total: 30 - Objetos de aprendizagem e gameficação da educação
- O Moodle: histórico, conceito e aplicações
h/a.
- Sistemas de gestão de aprendizagem e ambientes virtuais de aprendizagem
- Moodle como ferramenta de aprendizagem colaborativa
- Avaliação
12 h/a Módulo 3: Metodologia científica – estrutura de trabalhos científicos
presen- - Metodologia de pesquisa
ciais. - Diferentes abordagens, pesquisas qualitativas e quantitativas, pesquisa com
18 h/a a dados primários e secundários
distância. - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
- Instrumentos investigativos
Total: 30
- Estrutura de artigo científico; relatório de estágio; monografia
h/a.

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 147


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

12 h/a pre- Módulo 4: Citações diretas e indiretas; busca/pesquisa bibliográfica na inter-


senciais. net
8 h/a a - Como fazer citações diretas e indiretas
distância. - Como fazer buscas e pesquisas na internet
Total: 20 - Estudo para trabalhos de conclusão e elaboração da fundamentação teórica
h/a.
20 h/a a Módulo 5: Produção de material EAD
distância. - Orientações para produção de material EAD
Total: 20 - Objetos de aprendizagem
h/a. - Avaliação: entrega do projeto do TCC e planos de aula do estágio
Fonte: A autora (2018)

As salas de aula virtuais foram elaboradas para cada um dos módulos do


curso no Moodle/UERGS. Foram usadas as duas versões da plataforma, 2.5.2
e 3.0.4, disponibilizadas pela universidade, conforme conveniência e neces-
sidade de recursos específicos. O MConf, por exemplo, é uma ferramenta de
webconferência oferecida apenas na versão 3.0.4. Os exercícios práticos de
configuração de atividades e disponibilização de recursos foram realizados
nesta mesma versão.
Os módulos 1 e 2 foram ministrados conforme a metodologia deno-
minada b-learning, ou blanched learning, um treinamento que combina
múltiplos métodos conduzidos em sala de aula e complementados com au-
toinstrução na plataforma via e-learning, ou seja, a distância (LEARNING
SOLUTIONS, 2018). Nas aulas houve participação de uma monitora
presencial, além da professora ministrante, que atuou como conteudista
e tutora presencial. A monitora e a tutora assessoraram os participantes
mediando a interrelação personalizada e contínua destes com a plataforma,
viabilizando a articulação necessária entre os elementos do processo e a
consecução dos objetivos de cada atividade (BARNI, 2011). Nos demais
módulos, 3, 4 e 5, o material didático foi disponibilizado no Moodle, como
repositório, e as atividades e avaliações foram realizadas a distância, com
avaliação dos resultados das atividades pelas professoras responsáveis, não
descritos neste artigo.
Os resultados da interação nos ambientes virtuais 1 e 2 do curso foram
obtidos através das ferramentas de produção de relatórios do Moodle, que

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Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

mostram os acessos, os envios de documentos, a participação nas atividades


e downloads de materiais disponibilizados. Foi realizada análise quali-quan-
titativa da participação dos 12 professores cursistas e das duas professoras
formadoras que concluíram as etapas de capacitação no Moodle. Para apro-
vação foi necessário o cumprimento de 75% da carga horária e conclusão das
atividades e avaliações.
O planejamento dos módulos foi realizado em conjunto com toda a
equipe colaboradora do projeto de extensão, professoras formadoras do PE-
FPD/Parfor. As mesmas colegas atuaram na produção de material didático
para a EAD e avaliaram as atividades dos módulos dos quais participaram
como conteudistas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os módulos 1 e 2 (ver Quadro 1) reuniram, nas aulas presenciais, ini-


cialmente, sete professores formadores e 12 professores cursistas do Parfor
UERGS; quatro discentes de cursos de graduação e pós-graduação que se
interessaram pelo curso; uma aluna do Parfor de Licenciatura em Pedagogia;
e o presidente do NEAD como tutor a distância. Assim, totalizaram 25 par-
ticipantes em interação nas salas de aula virtuais.
No Módulo 1 os participantes passaram por um processo de ambien-
tação e realizaram os primeiros acessos ao ambiente virtual. Foram infor-
mados sobre a estrutura e o funcionamento do Moodle 2.5.2 na UERGS,
seus recursos didáticos e configurações do ambiente, aprenderam a modi-
ficar o seu perfil e quais são suas atribuições e permissões. Tiveram contato
com as ferramentas disponíveis no ambiente virtual, tais como envio de
mensagens, fóruns, downloads de arquivos e como entregar atividades pela
plataforma. Os conteúdos trabalhados constam no Quadro 1. Para fins de
geração de relatório, neste módulo foram considerados 19 pessoas, sendo:
12 professores cursistas (Curs), embora um não tenha participado dos en-
contros presenciais; cinco professores colaboradores (Cols); e duas alunas
(Alns). Três atividades foram desenvolvidas, cujos resultados constam no
Quadro 2.

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 149


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Quadro 2 – Atividades e participação no Módulo 1 do curso de extensão

Participantes
Atividades Curs (12) Cols (5) Alns (2)
(100%) (100%) (100%)
1) Download, preenchimento e entrega 11 5 2
da ficha de inscrição (91,7%) (100%) (100%)
2) Modificação do perfil do usuário e 8 3 1
inserção de foto (66,7%) (60%) (50%)
3) Fóruns: a) proposição de assuntos a
serem tratados no ambiente experimen- a) 1 ( 8,3%)
0% 0%
tal colaborativo no Moodle 3.0.4; b) b) 2 (16,7%)
dúvidas sobre o curso*
*Participação não obrigatória.
Fonte: A autora (2018)

O único cursista que não enviou sua ficha de inscrição não compareceu
a nenhum encontro presencial, portanto, infere-se que talvez não soubesse
como proceder.
A atividade de modificação do perfil permitiu que os participantes acres-
centassem informações sobre assuntos de interesse ao nome e e-mail. Foi solici-
tada a inserção de uma foto. Quatro professores cursistas (33,3%) e dois profes-
sores colaboradores (40%) não inseriram sua imagem no perfil. Apenas um dos
cursistas manifestou o motivo, explicando que não costumava tornar suas fotos
públicas, nem mesmo nas redes sociais. Foi explicado que a foto no perfil tem
acesso restrito aos demais colegas do curso e tem como objetivo a construção de
um sentimento de pertencimento a uma turma de participantes; de que quem
se expressa no ambiente tem um rosto, uma postura, uma posição a defender e
de que atrás dos bits e bytes há a essência humana. Todos somos sujeitos com
nossas experiências e histórias, que partilhamos momentos com o grupo de
estudo (COSTA, 2014). Outros motivos pelos quais alguns não inseriram a
foto no perfil não foram comentados; no entanto, percebeu-se que houve certa
dificuldade em buscar a imagem em outra mídia, como aplicativo de celular, ou
em e-mails e redes sociais, e por isso talvez tenham desistido da tarefa.

150 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

A participação nos fóruns do Módulo 1 foi atividade opcional. Uma das


vantagens da ferramenta fórum é que permite ao usuário enviar e receber
cópias dos conteúdos publicados pelos colegas, via e-mail externo padrão
(LAWINSCKY; HAGUENAUER, 2011), mesmo não entrando no Moodle
para participar. Trata-se de uma ferramenta de comunicação, tanto de forma
síncrona quanto assíncrona. No fórum A, na sugestão de assuntos a serem de-
senvolvidos no ambiente experimental colaborativo, apenas uma professora
cursista compartilhou sua expectativa. Sua proposta foi: “acho que deveriam
ser abordadas as questões do desenvolvimento da aprendizagem, conteúdos,
espaço físico, pois estamos no século XXI, mas continuamos com o formato
do século XIX, mesmo sabendo que os jovens de hoje não conseguem se
manter mais nesse formato”. O assunto não foi desenvolvido durante o curso
de extensão, mas sim durante o estágio e o trabalho de conclusão de curso
dessa professora cursista no PEFPD/Parfor.
No fórum B, o anúncio foi:
Participantes, postem aqui as eventuais dúvidas que vocês tenham so-
bre o curso. Venho lembrar que qualquer membro da equipe poderá
responder à sua questão. Abram um novo tópico para cada dúvida. Os
colegas também poderão responder ou comentar sobre as postagens
uns dos outros. Ajudem-se! O fórum é público e tod@s podem se
ajudar!

Um participante fez pergunta sobre a reforma do ensino médio, segundo


a qual algumas disciplinas não seriam mais obrigatórias no currículo, e isso
poderia causar demissão de professores. Houve comentário de um colega,
que escreveu sobre a reforma estar sendo introduzida como medida provisó-
ria, às pressas, e chamou a atenção sobre a necessidade de que tais assuntos
fossem discutidos mais a fundo. No curso de extensão o assunto não pôde
ser desenvolvido, mas corrobora um dos princípios da andragogia, de que
adultos são mais interessados em aprender assuntos que possuem relevância e
impacto imediatos sobre seu trabalho ou vida pessoal (KNOWLES, 1973), já
que a maioria dos cursistas atua em escolas públicas de ensino médio técnico.
A atividade de livre participação no ambiente experimental Parfor propi-
ciou inserir recursos sobre qualquer assunto no Moodle 3.0.4, configurar fó-
runs e experimentar a ferramenta de webconferência MConf. Primeiramente,

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 151


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

os cursistas fizeram sua autoinscrição no ambiente e, depois, puderam mo-


dificar o perfil de seus colegas, de estudantes para professores. Participaram
disponibilizando documentos, textos, artigos, blogs, vídeos, links, realizaram
reunião on-line, interagiram em fórum elaborado por eles próprios, etc.
A heterogeneidade do grupo de professores se revelou nos conteúdos di-
versos, como, por exemplo: de um vídeo que trata sobre a vida de Sigmund
Freud até outro sobre a lenda da mandioca, com um toque de humor; da lin-
guagem não verbal em campanhas contra acidentes de trânsito até artigo sobre
o uso de TICs em sala de aula, elaborado por uma das professoras cursistas;
link para blog sobre o autor Cortella, que trata de EAD e TICs nas escolas,
e outros, bem diversificados. A atividade permitiu ambientar o estudante e
reduzir os níveis de ansiedade que se apresentaram ao início do curso, em
coerência com uma das competências necessárias ao tutor presencial, como
profissional forjado sob diferentes exigências, que atende a uma “linguagem
híbrida”, na interação entre sistema e sujeitos (LÉVY, 1999; BARNI, 2011).
Portanto, exige do profissional docente da EAD uma interação contínua de
saberes múltiplos, ou seja, ao mesmo tempo que informa, “se informa”; ao
mesmo tempo que ensina, aprende, exatamente pela dinâmica de situações e
informações presentes no sistema de EAD (BARNI, 2011).
No Módulo 2 foram trabalhados materiais teóricos, conceituais e me-
todológicos sobre a EAD e TICs. Na pesquisa inicial (Atividade 4), aplicada
em forma de questionário para os professores cursistas e formadores, através
da plataforma, os participantes responderam a questões sobre: sua atuação
profissional e/ou acadêmica; o tempo médio ocupado com celular e compu-
tador no dia; mídias, tecnologias e ferramentas de aprendizagem usadas nas
atividades acadêmicas; se já trabalhou como docente ou aluno no TelEduc ou
no Moodle; se já teve contato com o Moodle antes de entrar para a UERGS,
em qual(is) situação(ões); o que entendem por EAD e TICs e quais as dife-
renças e relações entre os conceitos; se a EAD pode ter a mesma qualidade
de um curso presencial e a opinião pessoal sobre a melhor modalidade; e suas
expectativas quanto ao uso do Moodle UERGS.
Os resultados do questionário mostraram que, entre os professores cur-
sistas, 75% responderam à pesquisa inicial (nove dos 12 participantes); ape-
nas 40% das professoras colaboradoras concluíram a tarefa (duas das cinco

152 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

participantes). As formações e atuações dos participantes são distintas e di-


versificadas: uma biomédica, um administrador, uma arquiteta, um enge-
nheiro civil, uma engenheira elétrica, uma química, um técnico em mecânica
industrial que é também tecnólogo em processos gerenciais e uma tradutora
e intérprete de libras; das colaboradoras, uma é psicóloga, ministra cursos
na área e trabalha no PEFPD/Parfor; a outra é historiadora, professora da
­UERGS e do PEFPD/Parfor. Entre os professores cursistas, 77,8% (sete dos
nove respondentes) são professores do ensino médio; duas atuam na educa-
ção infantil e em atividades administrativas em escolas públicas.
Todos os professores cursistas e colaboradoras utilizam celular e/ou com-
putador e internet durante 4 a 8 horas por dia, em média, e dizem fazer uso
de mídias, tecnologias e ferramentas de aprendizagem em sua vida acadêmi-
ca. Oito dos 11 (72,7%) utilizam mais o computador do que o celular. Por-
tanto, 27,3% utilizam preferencialmente o celular. Uma professora cursista
respondeu que utiliza o celular durante cerca de 15 horas diárias. Uma das
professoras colaboradoras comentou:
tento não usar muitos aplicativos de celular. Acho que tomam muito
tempo que posso dedicar a outras atividades mais importantes, como
estar com a minha família e amigos, mas atualmente é impossível evi-
tar utilização de celular e aplicativos. Basicamente utilizo no celular o
aplicativo WhatsApp.2

A análise desses dados de uso permite algumas inferências. De acordo


com Cortella (2014), em seu capítulo “Paradigmas da tecnologia e a distra-
ção”, as plataformas digitais usadas hoje em dia imprimem maior pressa ao
que fazemos. Muitos de nós, professores, criticamos nossos alunos pelo uso
excessivo do celular, inclusive em sala de aula presencial. No entanto, será que
prestamos atenção e controlamos os nossos usos? O autor afirma:
é preciso ponderar também que a tecnologia afeta o aprendizado tanto
positiva quanto negativamente. As novas gerações, aqueles que têm
menos de 18 anos, voltaram a escrever, como já refletimos. É uma
coisa inédita nos últimos 30 anos e bastante positiva. Por outro lado,
as novas tecnologias têm um aspecto perigoso: por permitir um acesso
veloz, elas dispersam a atenção (CORTELLA, 2014, p. 52).

2 WhatsApp é um software para smartphones utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, além
de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão à internet (SIGNIFICADOS, 2018).

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 153


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

Seis dos 11 (54,5%) relataram acessar redes sociais diariamente, quando


a pergunta era: “quais mídias, tecnologias e ferramentas de aprendizagem
você utiliza em suas atividades acadêmicas?” Percebemos algum grau de in-
coerência nas respostas; ou seria distração durante a leitura e interpretação da
pergunta? O autor nos exorta: “isso nos demanda cuidado para que a ativida-
de docente não tenha precarização quanto à nossa competência e habilidade”
(CORTELLA, 2014, p. 51).
Quanto à experiência, 27,3% de todos os respondentes, tomados em
conjunto, nunca trabalharam em AVEA como alunos ou professores, em ne-
nhuma instituição, e uma não tem certeza sobre qual plataforma usou. Quan-
to a terem seu primeiro contato com o Moodle, 27,3% responderam ter sido
na UERGS, dois durante o Parfor, na disciplina Políticas e Legislação da
Educação Básica, ministrada por mim, coordenadora do curso de extensão.
Um dos cursistas fez outra formação em Moodle, da UERGS, em convênio
com a escola onde trabalhava, em 2012, ministrada por uma colega profes-
sora, mas afirmou que desde então não teve mais contato com a plataforma,
pois a escola estadual técnica onde leciona não disponibiliza nenhum AVEA
aos docentes e discentes. É interessante notar que, apesar de 63,6% dos par-
ticipantes já conhecerem a plataforma, apenas duas pessoas (18,2%) tiveram
experiência como docentes e somente uma professora continua fazendo uso.
Sete respondentes dos 11 (63,6%) já tinham sido alunos no Moodle.
A pergunta sobre o conceito de EAD e TICs e suas relações foi respon-
dida de forma coerente, ou aproximadamente correta, por sete participantes
(77,8%). De acordo com Martins (2003), é importante que se identifiquem
as desigualdades nos conceitos apresentados pelos participantes para poder
planejar melhor a práxis, de modo a contemplar as fragilidades conceituais.
Um comentário pertinente é que a única aula teórica em Power Point2, dis-
ponibilizada no ambiente virtual e trabalhada presencialmente, traz vários
conceitos sobre EAD e TICs, com citações e referências bibliográficas.
A comparação entre o ensino presencial e a distância mostrou que 81,2%
dos participantes acreditam que ambas as modalidades podem ter a mesma
qualidade, embora 45,5% tenham manifestado sua preferência pelo ensino
presencial. Além disso, 63,3% responderam que o sucesso do curso depende
do empenho e envolvimento do aluno, independentemente da modalidade

154 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

de ensino. Portanto, concordam com Oliveira (2003), que manifesta que o


sucesso da educação com incorporação das TICs é mais criticamente depen-
dente das pessoas envolvidas do que dos recursos tecnológicos disponíveis.
As demais atividades do Módulo 2 foram avaliadas e o aproveitamento
dos participantes foram sumarizados no Quadro 3.

Quadro 3 – Resultados das atividades avaliativas realizadas no Módulo


2 – TICs e EAD: aspectos teóricos

Atividades Participantes Avaliação Média geral


1) Questionário sobre legislação 14 10 questões obje- 7,6
na EAD (100%) tivas, V ou F (76%)

8 Saberes destaca-
2) Fórum de discussão sobre Saberes destacados
dos e conecta-
TICs e EAD (57,1%) e conectados
dos (75%)
13 4 questões disser- 3,4
3) Questionário final
(90,3%) tativas (85%)

Fonte: A autora (2018)

Conforme os resultados mostrados no Quadro 3, apenas 57,1% dos ins-


critos no Módulo 2 participaram do fórum de discussão sobre TICs e EAD,
a despeito do material de qualidade disponibilizado, com artigos científicos
curtos e icônicos, cuidadosamente selecionados, na área da tecnologia educa-
cional. A leitura e interpretação dos textos deveria ser expressa em forma de
saberes destacados e conectados no fórum, conforme é padrão de avaliação
no AVA Moodle e trabalhado conceitualmente no Módulo 1.
As mensagens individuais podem ser classificadas segundo uma escala
baseada na teoria do saber conectado e destacado. Esta teoria oferece
novas perspectivas de observação das interações humanas, descrevendo
dois modos diversos em que as pessoas avaliam e aprendem as coisas
que veem e ouvem. [...] Embora cada um de nós possa usar estes dois
métodos, em diversas proporções e momentos, pode ser útil imaginar
dois exemplos de pessoas: uma que demonstra sobretudo saber des-
tacado [...] e uma caracterizada principalmente pelo saber conectado
(SILVA, 2018, p. 2).

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 155


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

O saber destacado é característico de participantes cuja produção textual


é objetiva, evitando a expressão de sentimentos e emoções. Critica conteú-
dos e posturas que não tenham embasamento teórico de fontes fidedignas e
respeitáveis. Já o saber conectado caracteriza interlocutores que são sensíveis
às opiniões dos outros, compartilham experiências pessoais, fazem perguntas
e procuram compreender as diferentes posturas sobre um assunto (SILVA,
2018). Como tenho usado o Moodle como ferramenta para desenvolver a
produção textual e a capacidade de argumentação e análise crítica, com em-
basamento teórico, sempre oriento meus alunos para que usem, concomitan-
temente, os saberes destacados e conectados em suas participações em fóruns
de discussão.
O Módulo 2 foi bastante extenso, exigindo muitas horas de dedicação
individual a distância para consecução de todas as atividades previstas. Os
conteúdos teóricos foram pouco interessantes, ou, talvez, os participantes não
dispunham de tempo para se aprofundarem nas leituras exigidas para a com-
preensão da importância da EAD e das TICs na educação contemporânea. As
causas das resistências também podem ser culturais, pois a modalidade traz
novas experiências e insegurança, aliadas a preconceitos (LINO; BUENO,
2015), que impedem as condições necessárias à apropriação educacional das
TICs (BARRETO, 2004).
Durante o curso, 45,5% dos participantes registraram em questionário que
pretendem utilizar a plataforma Moodle em suas aulas. De acordo com Alex
Primo (1998), observou-se avanço em relação à interação reativa, que é linear,
limitada por relações determinísticas de estímulo e resposta. Os professores cur-
sistas e formadores acessaram as salas de aula virtuais e usaram as ferramentas
de comunicação, portanto se atingiu um certo grau de interação linear entre
homem e máquina. No entanto, conforme minha experiência, acumulando as
funções de professora conteudista, tutora presencial e a distância desde 2007,
em outras universidades e na UERGS, essa habilidade vai se perdendo rapida-
mente se o professor não acessa o Moodle e não interage com as ferramentas
disponíveis e com colegas que também usam a plataforma.
Quando o sujeito atua em EAD com regularidade, conforme explica
Morin (2000), vai produzindo uma série de interações, como uma rede en-
tremeada de articulações formadas por teorias, concepções e ideias em pro-

156 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

cesso contínuo de elaboração. O conhecimento não é algo pronto, acabado,


mas sim dinâmico, mutável e interdisciplinar, e deve permitir ao tutor asso-
ciar as tecnologias de informação com a reflexão sobre a práxis pedagógica
e com as teorias educacionais. Em uma autonomia guiada pela autocrítica,
podemos ampliar as potencialidades pedagógicas das TICs desenvolvendo as
habilidades relativas ao domínio dessas tecnologias (MORIN, 2000).
O treinamento inicial, conduzido por b-learning, promoveu a interação
entre sujeitos com diferentes formações, experiências e ritmos diferenciados
para o acesso aos recursos e uso das ferramentas de comunicação síncrona
e assíncrona do Moodle, para consecução das atividades planejadas (MAR-
TINS, 2003). Esse foi um diferencial do curso, concebido para atender às
diferentes necessidades e exigências dos participantes. “Assim, a formação de
professores em EAD propõe-se a observar os tempos de ensino presencial e
não presencial em conexão com a diversidade cultural dos sujeitos, de forma
interdisciplinar” (LAU; SIPPERT, 2017, p. 223), e necessita ser constituída
de modo a possibilitar a “curiosidade epistemológica” desses profissionais,
como diz Freire (1987). Para transpor o modelo convencional, é necessário
compreender que
a educação e formação de adultos é também parte integrante do currí-
culo de formação do professor tutor em todas as perspectivas de vida:
humana, social, política, laboral, tecnológica etc. sob uma visão axioló-
gica, ética e crítica da sociedade. As novas tecnologias devem fazer parte
integrante da formação do educador devido à necessidade de se transpor
as fronteiras do educar convencional. A questão que se põe atualmente
na formação do docente tutor é como utilizar as tecnologias da forma
mais proveitosa e educativa possível (MARTINS, 2003, p. 9).

Na experiência em tela, por tratar-se de um curso de extensão, em ge-


ral faltaram tempo e possibilidades de acompanhamento contínuo entre os
interagentes, inclusive dos professores orientadores com os cursistas, no pla-
nejamento de aulas que envolvessem TICs durante o estágio curricular do
PEFPD/Parfor. Uma das professoras cursistas, orientada por mim, trabalhou
com elaboração de relatório técnico-científico nas suas turmas de 1º ano do
ensino médio no laboratório de informática da escola pública República Ar-
gentina, em 2017. A professora, que é tradutora e intérprete de libras, tam-
bém usou vídeos como tecnologia assistiva em seu estágio curricular.

A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE 157


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

Um projeto conjunto foi planejado na UERGS e executado em uma


escola particular de ensino fundamental e médio em Viamão. Utilizamos a
plataforma Moodle em uma atividade prática realizada durante o projeto
de estágio do curso de Pós-Graduação em Teoria e Prática na Formação do
Leitor, denominada “Construção coletiva de ambiente virtual: experiência
com leitura colaborativa (Viamão 2016/2)”, que teve como objetivo estudar
o potencial das TICs no ensino e aprendizado de Língua Portuguesa e Lite-
ratura no 9º ano do ensino fundamental. A primeira experiência da aluna de
pós-graduação com a plataforma se deu neste curso de extensão e viabilizou
o trabalho, que terá continuidade como projeto de pesquisa-ação em duas
escolas públicas, iniciando no segundo semestre de 2018.
O curso de extensão “Capacitação para produção científica: metodologia
de pesquisa, produção textual, metodologia científica” se configurou como
importante experiência para a possibilidade de ofertar o PEFPD/Parfor na
modalidade a distância na UERGS. A revisão do projeto pedagógico do cur-
so já está iniciando e agrega colegas de vários campi com experiência na área
para a adaptação deste à EAD.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O curso de extensão “Capacitação para produção cientifica: metodologia


de pesquisa, produção textual, metodologia científica” envolveu 25 participan-
tes no total. Como oportunidade de formação continuada e 120 horas de ativi-
dade no Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes da UERGS,
oferecido em Porto Alegre/RS, contribuiu e qualificou a produção do relatório
de estágio e do trabalho de conclusão de curso dos professores, agora licencia-
dos. Resultou em nove artigos científicos, publicados neste livro.
Os 12 professores cursistas (100%) concluíram e foram aprovados. Os
professores formadores atuaram na produção de material didático para a EAD
e tiveram contato com a plataforma Moodle UERGS, o que os instrumentou
a utilizá-la em suas disciplinas nos diversos campi e áreas do conhecimento
nos quais atuam.
Os resultados mostram que os professores cursistas e formadores acessa-
ram a sala de aula virtual e usaram as ferramentas de comunicação de uma

158 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PEFPD/PARFOR NA UERGS EM PORTO ALEGRE


Experiência com mediação tecnológica no Programa Especial de Formação de Docentes (PEFPD)

forma interativa linear. No entanto, ainda há muito a avançar em relação ao


estabelecimento de uma interação mútua, o que reforça a necessidade de um
esforço conjunto para que o uso das TICs também reflita mudanças pedagó-
gicas.
A experiência de extensão universitária no curso de formação continuada
esclareceu as habilidades e competências necessárias ao sistema educacional a
distância, o que corrobora o objetivo de transformar o PEFPD/Parfor no pri-
meiro curso de graduação a distância ofertado pela UERGS. Os participantes
estão aptos a utilizar as experiências que lhes possibilitem mudanças positivas
em seus contextos de trabalho como docentes, estimulando a revisão e am-
pliação de pressupostos pedagógicos bem como o uso de recursos tecnológi-
cos comuns na sociedade em benefício do processo educacional.

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