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CONFLITOS NO SÉCULO XXI

Conflitos no Século XXI

• Século XXI: a Era do Terror

Se, para alguns autores, o século XX teve início efetivo em 1914, em razão da Primeira Guerra
Mundial; para outros, o século XXI começou, de fato, em 11 de setembro de 2001, com o ataque
terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e ao prédio do Pentágono (sede
do Departamento de Defesa dos estadunidenses), em Washington (capital dos Estados Unidos).

Esses ataques foram planejados e executados pela rede terrorista islâmica, de atuação
internacional, Al-Qaeda, que, à época, era comandada pelo saudita Osama Bin Laden. Esse
acontecimento revelou não apenas uma nova forma de ataque terrorista, maior e bem coordenado,
como também uma nova concepção de guerra.

• Medidas contra o Terror

O fato é que, após os ataques de 11 de setembro, a primeira medida decididamente bélica dos EUA
foi procurar e atacar os centros de treinamento da Al-Qaeda. Na época, a Al-Qaeda estava sediada
no Afeganistão e recebia apoio do Talibã, um grupo fundamentalista islâmico atuante no Paquistão e
no Afeganistão.

A procura por Bin Laden e outros membros da Al-Qaeda desencadeou a Guerra do Afeganistão, em
2002, cujo momento mais expressivo foi a Batalha de Tora Bora. Essas ações de retaliação aos
ataques de 11 de setembro de 2001 configuraram o que o governo do presidente dos EUA, George
W. Bush, chamou de Guerra ao Terror.

Bombardeio em Tora Bora, onde se esconderam membros do grupo terrorista Al-Qaeda

A “Guerra ao Terror” foi o modelo de guerra que mais ficou em evidência na primeira década do
século XXI. Isso aconteceu, especialmente, em razão da Guerra do Iraque (ou como nomeiam alguns
autores, “Segunda Guerra do Golfo”), que teve início em 2003 e só cessou em 2011. A Guerra do
Iraque constituiu uma extensão da política da “Guerra ao Terror” dos Estados Unidos, só que com
ênfase em regimes autoritários islâmicos que representavam um perigo internacional por conterem
armas de destruição em massa. Era o caso do Iraque, que possuía armas químicas que haviam sido
utilizadas, nos anos 1980, para dizimar milhares de pessoas da etnia curda. A questão da posse
desse tipo de arma foi a principal justificativa para a deflagração da guerra em solo iraquiano.

• Efeitos colaterais das medidas contra o Terror

O grande problema enfrentado no território iraquiano pelas tropas americanas não foi exatamente a
resistência das forças armadas ligadas a Saddan Hussein, mas as guerras internas entre grupos
jihadistas*, que também estavam interessados na derrubada de Saddan e no controle do território
iraquiano. Entre esses grupos, estava uma facção da Al-Qaeda. A administração do governo
de Barack Obama, eleito após o fim do mandato de Bush, decidiu por retirar as tropas americanas do
Iraque e confiar o controle do país a um governo provisório. A retirada completa das tropas ocorreu
em dezembro de 2011.

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Nesse mesmo ano, muitos dos focos de insurreição contra o governo provisório começaram a ganhar
mais força. Nos anos que se seguiram, o Iraque viu-se imerso em uma guerra civil generalizada, que
dura até os nossos dias. Um dos grupos jihadistas que mais se aproveitaram dessa situação foi
o Estado Islâmico, do qual falaremos mais adiante. Antes, precisamos falar um pouco da chamada
“Primavera Árabe”, um acontecimento que mudou a situação do mundo islâmico e que pode ser o
centro de inúmeras guerras futuras.

• Importância da Primavera Árabe

A “Primavera Árabe” foi uma sucessão de levantes insurrecionais ocorridos em países do norte da
África e do Oriente Médio nos anos de 2011 e 2012. Quando ocorreram os primeiros levantes em
2011, muitos jornalistas e especialistas no mundo islâmico diziam que a “Primavera Árabe” tinha
como objetivo derrubar as ditaduras dos países em questão e estabelecer um regime democrático.

Acontece que, com o tempo, foi verificada a presença maciça da ideologia radical islâmica nos
rebeldes, haja vista que boa parte deles é defensora da implementação da Sharia, a lei islâmica, e
da jihad. Essa ideologia penetrou nesses grupos de rebeldes por meio da Irmandade Muçulmana,
uma organização fundada na década de 1920, no Egito, que tem sido uma das maiores propagadoras
das ideias matrizes do terrorismo islâmico.

Países como Egito, Líbia e Tunísia tiveram a sua estrutura política, econômica e social
completamente transformada com a Primavera Árabe. O risco de guerras civis é iminente nesses
países, que também podem sofrer com ações de grupos terroristas, como é o caso da Síria, um dos
alvos da “Primavera Árabe”.

A Síria, comandada pelo ditador Bashar Al-Assad, enfrenta uma guerra civil desde 2011 contra vários
focos jihadistas que procuram derrubar Assad. Ao contrário do caso iraquiano, citado acima, a Síria
não sofreu interferência direta dos EUA, mas alguns dos grupos de rebeldes atuantes em seu
território receberam armas, treinamento e dinheiro americano. O problema é que muitos desses
rebeldes são mercenários e lutam para quem oferecer maior quantia. Um dos grupos terroristas mais
poderosos da atualidade, o Estado Islâmico, é quem mais se beneficia disso.

O ditador da Síria, Bashar Al-Assad, procura preservar-se no comando do país **

• A singularidade do Estado Islâmico

O Estado Islâmico originou-se de uma ruptura entre o grupo que representava a Al-Qaeda no Iraque
e o próprio comando central da Al-Qaeda. Esse grupo iraquiano decidiu atuar também na Síria por
volta de 2011. Na Síria, já havia outro grupo patrocinado pela Al-Qaeda, o Al-Nusra, o que levou a um
choque entre os dois projetos. O líder do grupo iraquiano, Abu Bakr Al-Bahgdadi, elevou a condição
do grupo jihadista à categoria de Estado, chamando-o de Estado Islâmico do Iraque e na Síria (ou
Levante, como também é conhecido o território sírio onde eles atuam), cuja sigla em inglês é ISIS.
Três anos depois, em agosto de 2014, esse mesmo líder autodeclarou-se califa do Estado Islâmico. A
partir daí o nome do grupo ficou conhecido apenas como Estado Islâmico. Muitos oficiais do exército
iraquiano, antes leais a Saddan, passaram a se aliar ao califa Abu Bahgdadi, como salienta o
investigador Patrick Cockburn:

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“Abu Bakr al-Baghdadi começou a surgir das sombras no verão de 2010, quando se tornou o líder da
Al-Qaeda no Iraque, depois que seus antecessores foram mortos num ataque conduzido por tropas
desse país e dos Estados Unidos. A Al-Qaeda no Iraque andava mal das pernas, já que a rebelião
sunita, em que havia antes desempenhado um papel de liderança, estava sucumbindo. Foi reavivado
pela revolta dos Sunitas na Síria, em 2011, e, nos três anos seguintes, por uma série de campanhas
cuidadosamente planejadas, tanto nesse país quanto no Iraque. Não se sabe até que ponto al-
Baghgdadi foi diretamente responsável pela estratégia militar e táticas da Al-Qaeda no Iraque e,
posteriormente, do ISIS. Ex-funcionários graduados do exército e inteligência iraquianos, à época de
Saddan Hussein, desempenharam um papel central, mas estão sob a liderança geral de al-
Bahgadadi.”

Além de ser um grupo abertamente terrorista (o caso mais emblemático de terrorismo assumido pelo
Estado Islâmico foi o dos atentados de 13 de novembro, em Paris) e jihadista, o Estado Islâmico tem
uma proposta de, efetivamente, construir um Estado, isto é, uma nação islâmica jihadista com base
na sharia***. Esse Estado não se limitaria à região do Iraque e da Síria, mas teria o objetivo de
conquistar todo o território que, entre a Idade Média e a Idade Moderna, pertenceu à civilização
islâmica.

O grande risco que o Estado islâmico e sua nova forma de guerra, que não é apenas convencional e
terrorista, mas também cultural e religiosa, representam para o século XXI é o fascínio que provocam
em jovens do mundo inteiro, que se voluntariam para lutar nas guerras do “califado” e para fazer
atentados terroristas em quaisquer partes do mundo. Outro perigo, maior, inclusive, é o de, se
alcançado o objetivo da fundação de um Estado (com sistema de saúde, educação etc.), o Estado
Islâmico passar a ser reconhecido como tal. É o que argumenta a especialista Loretta Napoleoni:

“Independentemente da forma pela qual os enfrentarmos, o nascimento do Califado serve para nos
advertir que aquilo que os políticos confundiram com uma nova espécie de terrorismo pode ser, na
verdade, um novo modelo de terrorismo. Em outras palavras, o Estado Islâmico pode romper com a
tradição e resolver o dilema do terrorismo sendo bem-sucedido na criação de uma nação,
conquistando para membros de uma organização armada o status de inimigos e, para as populações
civis, o status de cidadão. Mesmo sem reconhecimento diplomático, a simples existência do Califado
levaria a comunidade internacional a encarar o terrorismo com outro olhar.”

• Outros conflitos

Além desses conflitos no Oriente Médio e dos riscos que representa o Estado Islâmico, o século XXI
também tem apresentado outros focos de tensão. Na região subsaariana do continente africano, há a
guerra civil no Quênia e na Nigéria, onde também há a atuação de um grupo terrorista, o Boko
Haram. Na região do Cáucaso, houve uma insurgência da Chechênia contra a Rússia, que só foi
devidamente controlada em 2006. Houve também uma tensão entre Rússia e Ucrânia, em razão
da região estratégica da Crimeia, no início do ano de 2014. Aos poucos, muitas transformações
geopolíticas vão se acentuando nessas regiões do mundo, sobretudo na África, Oriente Médio e
Leste Europeu. Os focos de guerras atuais estão dispostos nessas regiões.

Guerras do século XXI

Uma das características dos conflitos do início do século XXI é a assimetria entre beligerantes. Veja-se, por
exemplo, o que está acontecendo na Síria: grupos insurgentes como o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra
lutam contra forças teoricamente muito superiores, como o próprio exército sírio e a intervenção de
potências estrangeiras, como os Estados Unidos e a Rússia.

Guerras assimétricas não são novidade. Em vários momentos da história elas ocorreram, como na guerra
do Vietnã, quando guerrilheiros e soldados do então Vietnã do Norte enfrentaram as poderosas forças
armadas norte-americanas. Enfrentaram e venceram, diga-se de passagem.

O mesmo ocorreu no Afeganistão, neste acaso em mais de uma oportunidade. Nesse país, guerrilheiros
enfrentaram em diferentes momentos dois dos exércitos mais poderosos do mundo: a ex-União Soviética e
os Estados Unidos! Embora não se possa afirmar que os afegãos tenham ganhado essas guerras, não se
pode dizer que tenham perdido.

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Hoje, quase não existem guerras entre Estados. Essa forma clássica de guerra, bem característica da
época moderna, cedeu lugar a outras formas de guerras, em que, ao invés de atores claramente definidos,
atuam atores de tipo não-governamental e suscetíveis a bruscas mudanças ao longo dos conflitos.

Esses novos atores se ajustam com muita flexibilidade à realidade do início do século XXI. Eles protestam
veementemente contra determinadas ordens existentes e utilizam-se de extrema violência na perseguição
de seus objetivos políticos.

Em muitos dos conflitos e guerras atuais é difícil identificar uma causa específica para a explosão da
violência. Em contraste com as guerras do século XX, nas quais ideologias, pressupostos econômicos e
conquista territorial geralmente eram causas prevalecentes, os novos e assimétricos conflitos do século XXI
apresentam motivações variadas e, por vezes, muito díspares.

Assim, questões religiosas, étnicas, nacionais ou mesmo tribais são as principais causas da maior parte
dos conflitos hodiernos. É claro que esses elementos não estão totalmente descolados de motivações
econômicas, que via de regra reforçam as causas elencadas mais acima.

Aliás, é preciso dinheiro para fazer a guerra e os grupos que se insurgem contra Estados estabelecidos
devem encontrar formas próprias de manter suas estruturas militares, daí a necessidade de acesso a
recursos que possibilitem sua manutenção.

Por último, é importante observar que as guerras assimétricas, entendidas como uma espécie de nova
modalidade de guerra, estão espalhadas por várias regiões e continentes. Elas não são, portanto,
exclusivas dessa ou daquela região. É verdade, entretanto, que em algumas áreas específicas elas
ocorrem com mais frequência, como na África, Oriente Médio, ex-repúblicas soviéticas, Bálcãs e partes da
Ásia.

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