Você está na página 1de 82

E sta coletânea de escritos, embora com objetivos diversos, retoma u

tica comum de grande repercussão nos meios profissionais, ou sej


çâo existente entre o saber profissional e o poder político. Algumas das per-
guntas que surgem a respeito são: Que poder exercerri os profissionais através do
saber? Seu saber é autônomo? Há uma metodologia própria da profissão? As insti-
tituiçôes condicionam, toda atuação profissional? Que relaç.ão estabelece o profissio-
nal com o público que atende?
Na perspectiva de análise aqui presente considera-se que saber profissional e poder
institucional são formas históricas da relação entre classes e forças sociais e da re-
lação entre o Estado e s0ciedade. A produção e a organização do saber profissional
são processos de domínío e de legitimação de classe, de controle e de direcionamen-
to da dinâmicá social. O saber é uma forma de enfrentar desafios da natureza como
de contornar ou esti:mular conflitos, de justificar ou criticar a ordem social, de ar-
ticular a continuidade ou transformação da sociedade e se coloca no processo da lu-
ta de classes e da correlação.de forças sociais. O saber é práxis, concepção de mundo
., em conflito, relativo às relações de classes e forças sociais.

\
~

f
Fl
ISBN 85-249-0049-5 1
'• 19
5 ed.
003

1ªC.ORTEZ
9 7 88524 900495 \Si EDITORA t. ~,

\@1f1·l~\.
J\..._ _._&~~ ;. 1[-. .· . ,.
SABER
PROFISSIONAL
e PODER
INSTITUCIONAL
t \ .A\( , - ' )
( •/ /

1111111 11111 111111111111111 IIIII IIII IIII


*003433*
Registro: 003433
Vice nte de Pau la Fale iros

,1(/
Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional .1
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

F 177s
Falciros, Viccnlc de Paula, I 941-
Saber prolissional e poder inslilucional - Viccrllc de Paula Falciros.-
5. cd. - São Paulo: Corle;,., 1997.
SABER
Bibliografia.
ISBN 85-249-004\1- 5
PROFISSIONAL
e PODER
l. Purticipaçfü> soe.ia! 2. P,,ucr (CiJncias sociais) 3. Serviço social
4. Serviço social como profissão I. Título.

I" CDD-361.001

INSTITUCIONAL
-361 .155
-30 I .34
8.'i-2043 -361.0023

Índices para catálogo sistemático:

1. Parlicipaçiío social : Sociolngia 30 I .34


2. Poder : Psicologia social 301.1.55
3. Serviço social como prolissiio 361.0023
4. Scrvi~o social e política 361.001

• ' 5~ edição
1

@C.OR TEZ
\::; EDITORA
SABER PROFISSIONAL E PODER {NSTITUCIONAL
Vicente de Paula Falciros
Sumário
Capa: Carlos Clémen, sobre foto de Renaud Trousselle
Reviscio: Suely l3astos INTRODUÇÃO ...................... ............... . 7
PARTE I
A instituição: poder e saber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
CAPÍTULO 1
Política Social e Serviço Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1. Retrospectiva histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2. A redescoberta das mediações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3. As mediações globais no estado capitalista . . . . . . . . . . . . . 21
4. A gestão da vida cotidiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5. Os movimentos sociais e as hovas mediações . . . . . . . . . . . 25
CAPÍTULO 2
Espaço Institucional e Espaço Profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1. Espaço político das instituições sociais . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2. A dialética das mudanças institucionais e suas formas pré-
capitalistas e capitalistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3. As formas públicas e privadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4. Possíveis alternativas de ação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
CAPÍTULO 3
Serviço Social nas Instituições - Hegemonia e Prática . . . . . . 45
CAPÍTULO 4
Instituições de Desenvolvimento, Burocracia e Trabalho Profis-
sional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
PARTE II
Participação e poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
CAPÍTULO 5
Formas Ideológicas da Participação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
1. Planejamento e consulta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada 2. A representação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
sem autorização expressa do autor e do editor. 3. Participação e combate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4. Participação, autonomia e interesses . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
© 1985 by Vicente de Paula Faleiros 5. Participação disfarçada e grupos espontâneos . . . . . . . . . . 79
CAPÍTULO 6
Direitos para esta edição Q1
Alguns Comentários Sobre Estratégia e Tática . . . . . . . . . . . . . . 81
CORTEZ EDITORA
1. Estratégia e tática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Rua Bartira, 387 - Tel.: (011) 864-01 I J 2. Estratégia de grupos populares e o movimento operário . . . 81
05009-000 - São Paulo - SP 3. Os grupos populares e o Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

Impresso no Brasil - março de 1997


4. Movimento e pos1çao ... , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5. O ritmo e a surpresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
6. As concessões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7. As ações táticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
8. A estratégia do Estado . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
9. Mobilização e relação de forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
PARTE 111
Saber. .e poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
CAPÍTULO 'J
Dialética e Trabalho Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . 87
1. Perspectiva histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
2. Dialética e metodologia . . . . .1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Introdução
3. Transformação e dialética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4. Reprodução e dialética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
5. Complexidade e mediação do trabalho social . . . . . . . . . . . 98
CAPÍTULO 8
Regulação e Articulação: Dois Paradigmas Metodológicos do
Trabalho Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
1. Metodologia da regulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 A presente publicação reúne textos ela~or~dos_ entre 1979 e
2. Metodologia da articulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 1984 e cujo tema central é a análise do poder mst1tu~10nal e d~ saber
CAPÍTULO 9
profissional. Foram originalmente publicados nas revistas Serviço So-
cial & Sociedade (Capítulos 2, 3, S e 10), Acció~ Crítica ,<Capítulo
Duas Tendências do Serviço Social Norte-americano . . . . . . . . . 117 1 ) , e Revue Jnternationale d' Action c_omn:unautmre (Ca~~tulo 11 ~
·1. O modelo e a ideologia da prática liberal filantrópica . . . . 118 ou divulgados internamente pelas Universidades de B~as1ha (Cap1-
2. O modelo da prática liberal tecnocrática . . . . . . . . . . . . . . 122 1ulo 8), da Paraíba ( Capítulo 7), de Monterrey ( Capitulo 9) e de
PARTE IV Honduras (Capítulo 4).
Experiências
Os textos em língua estrangeira foram traduzidos por Zélia Lo-
CAPÍTULO 10
bato, a quem manifesto meu sincero agradecimento.
Trabalho Social com Hansenianos - Eda Gomes de Barros
Esta coletânea de escritos, embora com objetivos diversos, reto-
Lima e Vicente de Paula Faleiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
rna uma temática comum de grande repercussão nos meios profissio-
O itinerário institucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
nais, ou seja, a relação existente entre o saber profissional e o poder
1. Relações de poder e o relacionamento assistente social/
político. Algumas das perguntas que surgem a respeito são: Que poder
cliente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
exercem os profissionais através do saber? Seu saber é autónomo?
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
ANEXO Há uma metodologia própria da profissão? As instituições condicio-
nam toda. atuação profissional? Que relação estabelece o profissional
Leprosos querem o fim do preconceito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 com o público que atende?
CAPÍTULO 11
Os Centros Sociais Urbanos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 n Na perspectiva de análise aqui presente considera-se que saber
1. Os anos 70: expansão capitalista e integração social . . . . . 145 profissional e poder institucional são formas históricas d_a relação entre
2. Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 classes e forças sociais e da relação entre Estado e sociedade. A pro-
3. Os anos 80: recessão e crise legitimada . . . . . . . . . . . . . . . . 149 dução e a organização do saber profissional são processos de domí-
4. Quais as estratégias para o futuro : . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 nio e de legitimação de classe, de controle e de direcionamento da
BIBLIOGRAFIA ..................................... 155
7
dinâmica social. O saber é uma forma de enfrentar desafios da natureza A construção de uma força social implica a descoberta de inte-
como de contornar ou estimular conflitos, de justificar ou criticar a •esses comuns, o estabelecimen to de relações entre os atores, a for-
ordem social, de articular a continuidade ou transformação da socie- 1nulação de estratégias e táticas, e a mobilização de recursos na
dade e se coloca no processo da luta de classes e da correlação de rnnjuntura. Uma força se constitui na dialética da identidade e da
forças sociais. O saber é práxis, concepção de mundo em conflito oposição, na descoberta de interesses próprios em conflito com o
relativo 'às relações de classes e forças sociais. ' 11dversário, no enfrentamento por defender ou conquistar posições.
Pura se ganhar posições é preciso a consciência da posição que se
As classes sociais, chamadas por Gramsci de classes fundamen-
do capitalismo (burguesia e proletariado), organizam suas visões tem, da força do adversário e do processo global das condições de
tais
111anobra, isto é, de avanços e recuos imediatos e de longo alcance
de mundo de for~a sistemática na defesa dos seus interesses políticos
e das mediações necessárias para isto, articulando-se organização, mo-
e econômicos. A burguesia, aliada a outras classes dominantes (blocos
l>i lização e saber.
no poder), obtém recursos e poder para impulsionar seu controle
sobre a socied~de e o desenvolvimen to de seus interesses, por ex~m- Uma força, assim, pode traduzir m:na articulação uniclassista ou
plo, no processo de aumentar os lucros, manter a ordem e se ver pluriclassista, dêsde que estejam em jogo interesses comuns. Os profis-
aceita socialmente. Para isto articula a produção de conhecimento s ~ionais das classes médias, assalariados ou não (por exemplo, advo-
administrativo s, políticos e técnicos sob o ângulo que lhe convém e l'ados, médicos, consultores que trabalhem por conta própria) têm
na confrontação com os desafios que lhe impõem o proletariado e interesses comnns com os demais trabalhadores nas lutas específicas
outras classes subalternas. O proletariado, por sua vez, na luta cons- por moradia, transporte, água e outras condições de vida, e nas lutas
tante contra a burguesia, na construção de alternativas históricas pela cidadania, pelo fim da exploração.
elabora a crític,1 à ordem burguesa na busca de seus fundamentos'
A b~se do processo de aliança do profissional com as classes
para conter a exploração de que é objeto a força de trabalho e cons~
truir_ uma sociedade alternativa. A luta pelo poder exige, pois, infor- subalternas ou movimentos e setores populares se amplia na dinâmica
~açao, dados, análises, propostas, planos, controles, técnicas, expe- capitalista de expansão da gestão do capital sobre a vida cotidiana.
r~m~ntos. Estas ~ormas são elaboradas pelos profissionais e pelos As instituições representam, contraditoriam ente, a expansão dessa
tecmcos que se situam na divisão do trabalho capitalista como tra-. gestão do capital sobre a vida cotidiana e das formas organizativas
balhadores intelectuais e cada vez mais na condição de assalariados e de mobilização de recursos das classes dominantes em relação aos
mas numa. hierarquia de poder extremamente complexa. As lutas pel~ conflitos e ameaças à ordem social e à expansão das conquistas po-
poder realizam-se de forma complexa com divisões e alianças das pulares, de formas de organização das categorias atendidas pelas
classes e suas frações e em cuja dinâmica os profissionais podem
instituições e de mobilização por reivindicações que se tornam ex-
inclusive constituir-se como uma força de apoio às classes dominan-
pressas justamente pela feição institucional que assumem. As lutas
tes ou às classes subalternas. Não se trata de opção pessoal, mas de
em torno das políticas habitacionais, de saúde, de assistência e outras
uma articulação organizada e complexa que implica concepções teóri-
se tornaram possíveis neste confronto de interesses que são cada vez
cas e políticas e processos mobilizadores de energias e recursos. 1
mais regulados pelo Estado. A gestão estatal é uma gestão capitalista
que articula os conflitos e ameaças ao processo geral de acumulação
1. Di~go Palma B.ssinala: "A institucionalizaç ão democrática não repre-
se~!~ ~m Jogo com cart~s marcadas, onde as classes subordinadas estão, desde de capital. Esta articulação, no entanto, não é mecânica e automática.
o 1mc10, fatalmente destinadas a perder. Pelo contrário, tratei de mostrar que Ela se processa na dinâmica dos enfrentamento s de forças que divi-
se trat.a .d_e uma arena contr~~it_ór!a, dinâmica, onde se abrem e fecham espaços
e po~s1b1hdades segundo as m1ciat1vas, sempre relacionais e opostas dos sujeitos dem o próprio bloco de poder e as propostas internas das instituições.
coletivos que n~ssa arena_ se referem e se enfrentam. Jogar esse jogo, ganhar Quando uma força se torna hegemônica na instituição, ela ganha
força~ para apoiar o proJeto próprio, debilitar a vigência do projeto contrário espaços, mas nem sempre leva tudo que deseja. E o espaço da nego-
ampliar e controlar espaços ( ... ) isto é fazer política". ln: La práctica polític~
de los profesiona/es. Lima, CELATS, 1985, p. 63 (Grifos 'íneus). ciação se abre de acordo com a correlação de forças em presença.

8 \J 9
Saber analisar estas forças em cada conjuntura para nelas inscre- , do empreguismo passam pela ideologia do profissionalismo, que
1 e>loca o ator institucional como mediador neutro no conflito de forças
ver estrategicamente a atuação (saber fazer) profissional são processos
dialéticos fundamentais para superar o tecnocratismo e o tecnicismo 1111 como "solucionador de problemas" do "ser em situação", "na
O primeiro se caracteriza pelo predomínio da ideologia da racionali~ h11sca da verdade" .6
dade arbitrária, que se coloca acima da sociedade com a lógica da A segunda crítica, ao contrário, provém de uma v1sao "esquer-
otimização de recursos e o segundo pelo pragmatismo em isolar e das instituições, pois no "Novo Mundo, no modo de produção
tl ista"
tratàr cad~ problema fora da correlação de forças. cio Homem Novo (sic!) ( ... ) não haverá muito 'espaço' para o
Nos textos aqui reunidos estas proposições são detalhadas e Serviço Social, profissão para este mundo de Capital-Trabalho". E a
analisadas, pois o saber resolver problemas é resultado da correlação tmída? E "uma aliança de subordinação necessária da profissão ao
2
de forças dos enfrentamentos e da luta pelo poder. Saber e poder 1wbalho, aos trabalhadores".'

são meio e fim que se articulam em cada conjuntura: saber para Nesta perspectiva de subordinação do profissional não há real-
poder e poder para saber. 111.cote espaço para uma aliança, ficando esdrúxula a expressão "alian-
Estas propostas, já defendidas por nós há muito tempo,3 não 1,·11 de subordinação". Como o autor não explicita esta subordinação,

são argumentações isoladas: mas formam um paradigma de análise L'abe-nos supor que quem se subordina perde o poder. e· o saber, dis-
institucionr.l e profiss-ional. As críticas a elas e em especial às minhas HOlvendo-se assim a própria situação objetiva das classes e das forças
formulações, podem ser agrupadas em três tipos: a crítica ao trabalho numa homogeneidade ·abstrata e a-histórica do "trabalho".
político, a crítica ao espaço institucional e a crítica à análise históri- Há que se considerar que os trabalhadores se inserem de forma
co-estrutural. diversificada no modo de produção capitalista e se constituem forças
A primeira crítica considera que a relação entre ação profissio- destas diferentes frações num processo histórico diversificado e que
nal e ação política "dogmatiza e radicaliza" o papel do. trabalhador se estampa nas próprias diferenças das revoluções russa, chinesa, cuba-
~ocial, esquecendo o trabalho institucional. 5 Quando· se propôs a aná- na e nicaragüense. A luta pelo socialismo implica a transformação
lise das práticas profissionais em termos de luta de classes, não se do cotidiano institucional, das relações de poder e saber nas áreas
excluíram as instituições. Pelo contrário, os atores institucionais é que da saúde, da habitação, da assistência, por exemplo, na conjuntura
rejeitaram o referencial da análise e a crítica à neutralidade de sua presente. Ficar esperando pela "grande aurora" do mundo novo é cair
ação. A acomodação, a defesa do sistema, da hegemonia burguesa na fantasia ou na idealização da história.
Em terceiro lugar vou referir-me à pos1çao que acha que é na
2. Ver, em especial, o Capítulo 8.
"relação vivencial de produção que vão ocorrendo explicações e, ao
. 3. Al~a Carvalho a~sinala que já em 1972 "Faleiros assume uma perspec- mesmo tempo, alterações no processo", pois "o concreto se constitui
t1va essencialmente política na sua análise, privilegiando as questões da luta de
classes, da opção político-ideológica". ln: A questão da transformação e o
trabalho social. São Paulo, Cortez, 1983, p. 272.
6. Ver Maria Carmésia Leite. A intrevenção em Serviço Social. São Paulo,
4. Basta lembrar os livros de Diego Palma, aqui citado, e o de Leila Lima Cortez, 1982, p. 106. Para uma crítica à visão conservadora ver José Paulo
S_antos. Textos de Serviço Social. São Paulo, Cortez, 1982. Na mesma linha Netto, A crítica conservadora à reconceptualização, in: Serviço Social & So-
s1tua_m-se cs_ trabalhos do Radical Social Work. Veja Mike Brake e Roy Bailey, ciedade, ano II, n. 0 5, março de 1981, p. 59-75.
Radical soczal work and practice. Londres, Edward Arnold, 1980.
5. Ver, por exemplo, Renée Dupont Oliveira E! movimiento de recon- 7. Ver Matsuel Martins Silva, Considerações a respeito da ideologia e
c!ptualizac~ó~ del ~ervicio Socia~ Lationamericano, 'in: N. Alayon et alii, Desa- espaço institucional, in: Serviço Social & Sociedade, ano IV, n. 0 13, deze!Ilbro
/to ai ~erv1cw Social, Buenos Atres, Humanitas, 1975 e também Helena Iracy de 1983, p. 69-70. O autor distorce completamente nossa proposta de luta de
Junqueira. Quase duas décadas de reconceituação: uma abordagem crítica in: classes e de correlação de forças nas instituições e fica numa proposta ininteli-
Serviço Social & Sociedade, ano II, n. 0 4, dezembro de 1980, p. 17 e 22.' gível de "Modo de Produção do Homem Novo".

10 11
do conhecimen to sobre o real, ou seja, a ação explica a idéia" lP• papéis importantes nesta articulação, mas justamente importantes por-
70), isto é, "as relações concretas vividas pelo assistente social no que articulados. Nesse sentido é que sintetizo minha proposta como
momento histórico em que elas predominar am" (p. 72) .8 Esta orien- ''metodolog ia da articulação" ( Capítulo 8), levando-se em conta as
tação recusa a perspectiva da totalidade por considerá-la um quadro forças, recursos e estratégias disponíveis em confronto.
pré-elabo~ado da realidade. Agrupei os textos em quatro grandes subtemas: a instituição,
A relação profissional -cliente não é uma "vivência" isolada e a participação , a questão do método e experiências. No primeiro
seria um absurdo afirmar que o vivido explica o pensado . .É através momento a ênfase é colocada nas relações do poder institucional com
o Estado e a sociedade, para em seguida visualizar-se a relação do
de mediações que o pensamento penetra na complexida de da reali-
movimento de baixo para cima com o Estado. Na terceira parte
dade histórica, pois a descoberta das relações sociais mais profundas
abordo mais especificamente a questão da articulação do saber nas
não se dá na imediatez do vivido, embora nele estejam presentes.9 relações de poder, para encerrar o trabalho com a apresentaçã o e
Nos textos aqui apresentado s enfatizo a articulação entre as con- análise de duas experiências.
dições políticas subjetivas, a formação da vontade coletiva no cotidia- Solicito ao leitor a análise crítica desses posicionam entos polê-
no, no vivido, com as conçiições da produção que se tornam cons- micos e que visam dar força àqueles que lutam por situar-se do lado
cientes e objeto de ação. A transformaç ão dessas condições em objeto da população de forma crítica e fundamenta da.
de ação, em ponto de partida de uma estratégia complexa de media-
ções teóricas e práticas, constitui o trabalho metodológic o do saber Brasília, 1985.
do trabalhador social. A manifestaçã o dessas relações sociais na cons-
ciência dos atores como revolta ou apatia, desafio ou fatalismo, insa-
tisfação ou aceitação, projeto de mudança ou de continuidad e, torna
a relação profissional um processo de abordagem multilateral que
implica a busca do "posicionam ento mais vantajoso'', diante da cor-
relação de forças em presença, para as classes populares.
Esta práxis da "política mais vantajosa" para as classes popu-
lares deriva da "troca de saberes" entre profissionais e população,
isto é, da análise dos pontos de vista em presença e de seus funda-
mentos na complexida de conjuntural /estrutural. Nesta complexida de
inscreve-se a própria instituição, atravessada por lutas e formas de
organização que mudam constantem ente com a formação de blocos
e alianças, divisões e fracionamen tos. Reduzir tudo isto a um rela-
cionamento vivencial é esvaziar e personalizar as rclaçôcs estrutu-
rais/conjun turais das forças sociais, embora os indivíduos joguem

8. Ver Luiz Antonio Gastardi, A conl"lrução da ll'orio tio S1·rl'iço Social.


Tese de mestrado PUC/RJ, 1984. O autor não expõe nenhum mC:•todo coerente
para a análise do texto que escrevemos em 1972, rcferindo.,;c ;1 ohra ~om as
expressões "percebemos" , "para nós", "vemos .. , ''nossa ~·1 íti\:a ... "vcrifkamos ..
(passim, da p. 44 em diante).
9. Ver Capítulo 7.

12 13
Parte I
A. instituição: poder e saber
1
\

Capítulo 1

Política social e Serviço Social*

Em primeiro lugar, quero ressaltar que este texto contém apenas


uma versão preliminar do tema para discussão com os colegas que
participaram do seminário de avaliação do CELATS-ALAES, em
Lima, de 1. 0 a 1O de novembro de 1982. São reflexões destinadas
a abrir o diálogo e o debate em torno desta questão.

1. RETROSPECTIVA HISTÓRICA

Se olhamos a lista de publicações significativas de Serviço Social


na última década, vemos um corte de orientação que aparece em
torno de 1975 com a estruturação do CELATS e a organização de
mestrados no Brasil. De 1970 até 1975 predominavam as publicações
da Editora Ecro, voltadas para a metodologia do trabalho social.
Exemplos destas publicações são o meu livro, o de Angélica Gallardo,
o de Benjamim Sun TurníJI e mesmo os Cuadernos CELATS-Contri-
buciones a la metodología del trabajo social.
Os primeiros Cuadernos CELATS já estão voltados para a análise
da política social no Peru com os trabalhos de Boris Lima e Walter

* Publicado em Acci6n Crítica, n. 0 12, dezembro de 1982.

15
Tesch, e a revista Acción Crítica retoma constantem ente esta temáti- apresentada s, visualizand o em cada situação os meios para levar o
ca, dedicando artigos ao tema de política social nos números 1 2 5 diente a uma melhor aceitação da problemátic a e da viabilidade das
7, 9 e 11, sendo que os números não citados o abordam indireta:Ue~te'. soluções propostas ou da ·desistência do pleito.
Os livros publicados pela Cortez Editora, no Brasil, retomam Esta atividade se foi modificand o frente ao próprio questiona-
algumas t~ses que. mostram preocupaçã o com as políticas de saúde, mento do profissional pelas classes dominadas e pela exigência de pro-
planejamen to e habitação, além do meu livro sobre política social dutividade do próprio capitalismo . Este necessitava ver eficiência na
em geré;tl. atuação profissiona l já que o voluntariad o fora descartado como
A voltà para o estudo das políticas sociais por parte dos assis- forma de aconselham ento.
tentes sociais latino-amer icanos reflete dois tipos de impasses na ela- O assistente social tornou-se então um solucionado r dos proble-
boração da teoria e na atuação prática: um referente à concepção de mas que se apresentass em diante dele. A questão do problem solving
que é através das relações imediatas que atua o assistente social e o tornou-se crucial para a profissão. Contudo, eram tantos os problemas
segundo referente à própria metodologi a como forma de generalizar apresentado s, que se alargou e se esvaziou a própria atividade profis-
a atuação profissional . :;ional. Os problemas eram identificado s pela própria instituição, pelos
Baseado numa tradição de relações interpessoai s, o Serviço Social próprios objetivos do contexto em que atuava o assistente social,
tomou o relacionam ento como a forma privilegiada de atuação profis- ol:,ngando-se - este à manipulaçã o de certos recursos e a partir deles
sional. E~te relacionam ento se baseava nos processos de casos, grupos pensar os problemas apresentado s.
e comumdade s, em que o profissional pensava ou julgava atuar atra- Por exemplo a atuação profissional que se situava num contexto
~és ~e fatores ~s~cossociais inerentes à sua própria personalida de para de distribuição de alimentos enfocava o problema a partir da falta de
mflmr nas dec1soes pessoais de sua clientela. alimentos. O profissional que atuava em área de distribuição de casas
Estas relações imediatas, fundadas no conhecimen to do meio em cnfocava o problema como falta de habitação. O profissi_onal que
que vivia a clientela e de suas relações de parentesco, de trabalho, atuava na área educaciona l enfocava o problema a partir da ótica ins-
de habitação, eram considerada s o próprio fundamento da vida social. titucional em que a falta de uniforme, livros, transporte escolar, rela-
ções entre pais e mestres se tornavam objeto da atuação profissional .
Esta concepção advinha de uma ideologia humanista que pre-
tendia "personaliz ar" as relações existentes no meio com uma presença Esta diversidade de problemas a partir da ótica instituciona l
calorosa e acolhedora de um profissional que soubesse, antes de mais levou a uma busca de unificação metodológi ca da atuação profissional .
nada, escutar as queixas da clientela. No entanto, a busca de um método comum a tantos problemas
. Sem preparação para um trabalho psicológico mais profundo, a eliminou a questão central da discussão, isto é, o contexto instituciona l
atitude de escuta tornou-se incômoda. Em primeiro lugar, não trazia e de poder da atuação profissional .
soluções concretas à problemátic a apresentada . Em segundo lugar, Esta eliminação se faz de duas formas: em primeiro lugar pela
não levava a uma avaliação mais crítica da situação e ficava-se num redução da metodologi a a uma série de etapas de conhecimen to e'
relacionam ento baseado nos valores sociais do próprio profissional . também pela volta a uma atuação antiinstituci onal, isto é, a partir de
O aconselham ento valorativo tornou-se característic a da ação do assis- movimento s sociais que combatesse m estas instituições.
tente social. Este teria soluções para as questões matrimoni::i.is, políti- A volta, ou a preocupaçã o com a teoria do conhecimen to, com
cas, econômicas que atingissem os in1ivíduos que o procurassem . o saber desvinculad o das questões do poder, traduziu-se num idealis-
Na verdade esta escuta humanizada servia como legitimação de J
mo e num metodologi smo que já foi duramente criticado. Veja-se o
um processo de exploração. A presença do assistente social parecia texto de Leila Lima e de Roberto Rodrigues sobre o metodologi smo
dar a estas condições um caráter bom, de bondade, de presença aco- ~ as reformulaçõ es que venho fazendo sobre o processo de atua-
lhedora. As classes dominantes viam o assistente social como a ção profissional . Por outro lado, o vanguardism o e o voluntarism o
pessoa capaz de acolher e escutar de forma benevolente as questões- daque1es que pensavam atuar fora das instituições , fora dos pro-

16 17
cessos e dos context os de poder instituc ionaliza do, para, como agentes Esta confusã o advém da própria realidad e instituc ional em que
externo s, constru ir um contrap oder popular , também vêm sendo :-:e situa o Serviço Social e da inconsi stência teórica da profissã o. Do
criticad os. • ponto de vista teórico, ainda faltam estudos e contrib uições que ve-
11 ham trazer um pouco mais de luz ao debate
Segund o esta perspec tiva, não haveria nenhum a distinçã o entre sobre o objeto e os
militânci;:t político -partidá ria e trabalh o social. O trabalh ador social objetivo s da profissã o.
seria um tipo dl! profissi onal da revoluç ão para levar à classe, ou às Estes impasse s levaram a uma reflexão teórica· sobre o trabalh o
classes oprimid as, a libertaç ão. Aliás o conceit o de libertaç ão permeo u social e a uma retoma da, em outros termos, da discuss ão de sua
os textos de Serviço Social nos anos 70, como o objetivo central da prática.
profissã o. Sendo um conceit o ou uma noção bastant e vaga, ele serviu
de cobertu ra a um humani smo individu alista, a visões partidá rias e 2. A REDES COBER TA DAS MEDIA ÇÕES
também a um process o de compre ensão da realida de de opressã o
na Améric a Latina. A forma de repensa r a prática profissi onal passou então para
uma análise das condiçõ es concret as em que ela se realiza.
O binômi o opressã o-libert ação era visto como uma dicotom ia,
como luta de classe contra classe, sem, no entanto , ter em conta a Essas condiçõ es levaram a situar a prática e o process o profissi o-
realidad e concret a da divisão social em classes e suas manifes tações 11 al num context o e em condiçõ es que os determi nam. Q S.erviÇS> ~cial
na realidad e latino-a merican a. 11ão é .~!!HLJ:2rofissão liberal. O pró2rio desenvo lviment o do capita-
lismo vem levando o assisten te social a incorp orar-~ ~ diversas ta-
O estudo oo indigen ismo por parte de um grupo de trabalh ado-
1 • refas como um assalari ado. A condiçã o de trabalh o do assisten te social
res sociais da área andina já reflete uma preocup ação com as reali-
é de assalari ado. Esta realidad e concret a levou-o a questio nar-se sobre
dades concret as. Os estudos sobre trabalh o social com campon eses,
a compra e venda de sua força de trabalh o, de sua utilidad e para o
operári os e movime ntos urbano s foram diferen ciando as formas de
capital, de sua produti vidade e improd utivida de (veja-se os trabalh os
compre ender as realidad es concret as e cotidian as do trabalh o social,
sem cair no maniqu eísmo de poder contra poder, burgues ia exclusi- de Maguifí.a e Parodi) .
vament e contra proleta riado exclusivamente, ditadur a contra demo- A questão do assalari amento parecia encobe rta pela própria visão
cracia, opressã o contra libertaç ão, capitali smo contra comuni smo .. humani sta que fazia o Serviço Social aparece r como um sacerdó cio,
uma atividad e benevo lente e sem o caráter específico determ inado
Estas dicotom ias permea ram a compre ensão da realidad e lati- pela sua inserçã o no process o técnico e social do trabalh o.
no-ame ricana substitu indo o velho dualism o entre tradicio nal e mo-
derno por outras formas de dualism o, sem ter em conta a comple xi- O trabalh o concret o do assisten te social encobri a seu caráter
dade da realidad e social. abstrato . Este trabalh o concre! ;--pru-ecia útil em si mesmo aos ip.di-
víduos, oferece ndo-lhe s pequen as compen sações na realidad e de ~xplo-
Os que viam na metodo logia apenas um meio de melhor ar sua ração, mas abstrata mente o assisten te social vende sua força de tra-
eficácia e sua eficiência no trabalh o instituc ional não soubera m dis- balho e, portant o, se encontr a nas mesmas condiçõ es de explora ção.
tinguir os objetivos profissi onais dos objetivos institucio11ais. Aliás,
esta é uma das questõe s mais difíceis de serem incorpo radas no d,e- Esta descob erta veio mostrar que o assalari amento , que a venda
bate concret o da prática profissional. Várias pesquisas, como as de de sua força de trabalh o, o faz particip ar das mesmas condiçõ es
Eunice Reymã o e Maria Luiza de Souza, mostram que os assistentes objetiva s em que se encontr a a popula ção com quem trabalha .
sociais, na prática, confun dem objetivos profissionais e objetivo s insti- Em segund o lugar, a reflexão sobre as condiçõ es institucionais
tucionais. Assim, os objetivo s profissionais são definido s como melho- vieram mostra r a realidad e do Serviço Social como subordi nado no
ria das condiçõ es de vida, promoç ão humana , admini stração de re- process o decisór io. Esta subordi nação é também compro vada por
cursos humano s, planeja mento, bem-es tar social, sem distingu ir a pro- vários •estudos, por exempl o, o de Eunice Reyrnã o, que mostra que
posta profissional da propost a institucional. os assisten tes sociais, em sua grande maioria , se encontr am nas fun-

18 19
ções de execução e não de decisão. O assistente social é um trabalha- 3. AS MEDIAÇõES GLOBAIS NO ESTADO CAPITALISTA
~ de li~nas_ instituições e nãO d~ staff) comÜ- se diz hoje na
Sendo o Estado o maior empregador dos profissionais de servi-
moderna teoria organizacional.
c.;os, não só no âmbito aqui analisado, mas da saúde, da educação e da
- Sem poder ter decisão ao nível global, ele utiliZ<!_ l m ~ u l ~ previdência, a compreensã o do caráter do Estado capitalista levou a
de pe~e,nos recursos para reforçar seu 12róprio poder pessoal\ Assim, l'Cpensar a prática profissional.
o rel~c10namento ~ssoal _çom a clientela esêõnae uma relação de
- põêlet muito mais ampla em que o assistente social se insere_ fcente Mas a reflexão sobre o Estado capitalista ficou, por um lado,
~ uma pop'ulação dividida e carente dê poder sobre sua vida. voltada apenas para a lógica da acumulação. A vinculação estreita
entre acumulação de capital e intervenção estatal levou a uma consi-
A ?btenção de benefícios, de leite, de um par de óculos, de um deração do processo de acumulação ampliada, apenas de caráter ge-
empréstimo, pode significar a sobrevivência emergencial de pessoas em
nérico, sem ter-se em conta a história do Estado em cada país lati-
situações específicas. A figura do assistente social aparece então no-americano.
como a de um. &alvador, a tal ponto de eu mesmo ter ouvido frases
como estas, numa favela em São Paulo: "E Deus no céu e a senhora Por outro lado, algumas contribuições importantes sobre a his-
aqui na Terra". Esta frase, dita por um favelado a uma assistente tória do Serviço Social, promovidas pelo CELATS (veja-se a história
social, se referia ao trabalho de obtenção de moradia. do Serviço Social na Argentina, no Brasil, Uruguai e Peru), vêm mos-
trando a necessidade de situar historicamente. o processo de acumu-
Essas relações de poder legitimadas pelas relações pessoais leva- lação.
ram também a aparecer de maneira muito mais clara o caráter_ide.o.:: A lógica da acumulação e da dominação não são processos li-
lógico da atuação-prn fi-ssional:-
neares, rígidos, estandartiza dos, mas as próprias relações de classe e
Este ca_ráter lçleológico é uma.lorma. de ocultação, mas também de força são processos estruturais que condicionam o processo de
_<!_e inversão das relações de poder eI__ll relações pessoais. A própria acumulação .
prá0ca do relacionam@-ntG-pessÕ_al..l_az com que as relações de poder A reflexão sobre este processo de acumulação levou. a considerar
e exploração apareçam como relações pessoais. A ênfase do trabalho o Serviço Social como uma forma de reprodução do capital através
•do Serviço Social se fazia, então, no sentido de levar a clientela a da reprodução da força de trabalho. As condições sociais em que se
envidar mais esforços para sair de sua problemática. A figura do repõem as energias do trabalhador foram vistas como forma de manter
assistente social aparecia apenas como um apoio psico-emocional e e acelerar o processo de acumulação . A lógica da acumulação passou
financeiro para um "pequeno avanço" em uma situação de deficiência. a ser vista nos mínimos detalhes da vida cotidiana, e em realidade
ela aí está presente. A questão é vê-la como um processo contraditó-
A $ituação problemátic a aparecia então como excepcional e rio e não como um complô ou fruto de uma fusão íntima entre Estado
anormal, isto é, como patológica, como uma exceção. Este caráter e capital.
reparador da ação profissional trazia ao profissional uma certa satis-
O processo de acumulação na América Latina vem se modifi-
fação, compensand o as frustrações de não poder atuar numa perspec- cando qualitativam ente e reforçando a presença hegemónica do capi-
tiva globalizadora.
tal multinacion al. Este capital se apresenta principalme nte sob a forma
Esta reflexão a partir do trabalho concreto e abstrato do assis- tecnológica e financeira, sem mais preocupar-s e de maPeira tão es-
tente social foi levando a novos impasses. Assim, o empreguismo, a < treita com a propriedade das próprias empresas industriais.
burocracia e o paternalism o começaram a ser mais profundame nte As condições de valorização _do capital têm se modificado e a
questionados. Viu-se então a necessidade de repensar as mediações atuação das multinacionais se ampliou para formar grandes conglo-
da atuação profissional numa perspectiva mais global, a ponto de merados que implicam em sua presença simultânea em todos os seto-
situá-las no contexto do Estado capitalista. res de produção, circulação e financiamento do capital.

20 21
,J' A s
formas desenvolvidas
• pelo processo de acumulação nas áreas
chamadas do social vêm utilizando três formas de intervenção. l' rc.;petir seriam as formas de manter o próprio processo de domina-
~·:10 enquanto garantia de uma equivalência necessária à mercanti-
Em primeiro lugar, a lógica da ac.umulaçãQ se manifesta :Q.ela li ✓.ação.
mercantilização dos serviços sociais. A atribuição de benefícios, de
bens ou de serviços se desenvolveu no processo capitalista como uma A equivalência se opõe ao critério utilizado na prática profis-
forma de 'socialização de certos custos comuns aos próprios capitalis- 11ional. tradicional, que parte da noção de que cada caso é um caso,
tas. N_este sentido, ver a análise feita no meu livro sobre política escondendo estn situação abstrata da própria prática.
social. Esta, mercantilização implica a transformação de situações de Outra forma pela qual o Estado incorpora os serviços sociais é
perda de capacidade de trabalho em fontes de lucro. Isto se vê, por 1,1ravés da obrigato.i;.ies-aà©-Q.~1na...poupança compulsória/ Esta pou-
exemplo, na compra e venda de serviços de saúde, na compra e venda pançapermite o desenvolvimento do ca0.fuLflnan.ceir.o_e-0s_pLogra-
de seguros sociais, na compra e venda de educação, na compra e 111as chamados sociais servem de instrumento para aumentar o nível
venda de informações, e de forma bastante direta. Em relação aos d<.: poupança. Essa Mrec"'ãdaçãÕ Õbrigatória, através de contribuições
seguros, o beneficiário paga previamente sua aposentadoria ou servi- para a grande quantidade de fuQdos c2nti:9Iãdos pelo Estado,servem
ços médicos ou outros benefícios que venha a obter. ao mesmo tempo para finan..9amento de grandes projetos e oJfo_y_oltam.
Assim, a prestação de serviços pelo Estado se torna uma forma necessariamente. Lpop.ulação.._
de socialização de certos custos, eliminando-se a concorrência entre O profissional passa então a atuar na fiscalização destes fundos
empresários e diminuindo os custos de produção. A previdência social t: na fiscalização dos próprios bens adquiridos pelos usuários.
se torna uma forma de criação de um novo mercado, mas controlado Estas formas de acu1J1ulação se vinculam a formas de domina-
pelo próprio Estado, em que o segurado paga indireta ou diretamente ção que são autoritárias. Na América Latina, a tendência ao autori-
pelos serviços e benefícios que venha a usufruir. Nesta área atuam tarismo faz com que estes processos de mercantilização e de poupança
muitos assistentes sociais e numa lógica, ao mesmo tempo, de ficha- l1brigatória venham de cima para baixo.
mento dos usuários e de fiscalização.
O Estado absorve a própria sociedade civil e retira desta seus
Para usufruir desses direitos especiais é necessário que a lógica mecanismos de representação e seu poder de mobilização. As grandes
da equivalência penetre nas próprias relações de fichamento e fis- decisões políticas tornam-se cada vez mais centralizadas, tornam-se
calização da clientela.
c.:cntroladas pelo bloco do poder através de formas de dominação
Para que todos os indivíduos tenham acesso ao mesmo benefício autoritária.
ou serviço é preciso reduzí-los aos mesmos critérios. Assim, se define
Mas, na prática cotidiana, parece que a lógica da equivalência
o acesso à habitação, ao seguro, pela sua capacidade de pagar ou não
este serviço. O serviço ou o seguro se torna um meio de discriminar se desfaz, visto que certos benefícios e certos direitos são concedidos
e ao mesmo tempo de incorporar benefícios. Os programas habita- pelas relaç.ões.. pessoais e patern,Alist~s.
cionais são oferecidos por faixa salarial, os seguros são vendidos ~ O p a t ~ consiste na manutenção ou na distribuição de
segundo o nível de salário e a posição na produção. u~ dire'lto" ~ o ~: -~~~( um favor\ obtendo-s:. em troca a ~ealdade
Para comprar ou vender Ufll serviço é necessário que o trabalha- cto 1nêf1v1duo. Aa1stn6mçao de casas, âe benefic1os e de serviços q,ie
dor venda sua força de trabalho. são pagospêlo trabalhador são obtidas através de Üma red·e_QeSSÔal
Esta lógica das equivalências institucionais foi ressaltada por de relações que fazem com que a obtenção destes benefícios leve ao
Lourau em seu texto sobre análise institucional e sócio-análise, e agradecimento daquele que os obtém ~ uele_qu~....Qâ_outorgaJ --
também por Henri Lefebvre, em seu texto sobre o Estado. Lefebvre ssim, as relações pessoais parecem predominar sobre relações
chama a atenção para a própria lógica identitária que predomina nas mais gerais, o que faz com que se dilua a mobilização por estes mes-
instituições, seguindo indicações do próprio Castoriadis. Identificar mos direitos.
22
23
No entanto, é necessano considerar outras múltiplas formas de Aumentam-se constantemente os preços dos serviços públicos e
gastos improdutivos do Estado para atender às necessidades indis- as contribuições, e o indivíduo da América Latina trabalha ao mesmo
pensáveis à valorização do capital, mas que não são necessárias à Lcmpo para a empresa e para pagar os tributos do Estado. Seu orça-
produção de mais-valia. mento é cada vez mais absorvido pelas imposições compulsórias do
Uma série de programas temporários, específicos, regionaliza- Estado. Se a empresa produz ao mesmo tempo o objeto e o próprio
dos e mesmo controlados por caciques políticos, são ainda instru- Lrabalhador, a intervenção do Estado vem produzindo o pagador de
mentos da _intervenção do Estado e neles se empregam também assis- impostos.
tentes sociais': Estas novas relações do Estado com a população e sua interven-
A reflexão sobre essa multiplicidade de formas de atuação do ção na vida cotidiana exigem também um contingente amplo de fun-
Estado capitalista leva à reflexão sobre as políticas sociais e sobre cionários que devam controlar e fiscalizar estas contribuições. Mas
a intervenção. profissional num contexto muito mais globalizador. a fiscalização recai sobre o cidadão e não sobre as próprias condições
que geram o problema.
4. A GEST AO DA VIDA COTIDIANA
5. OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS NOVAS MEDIAÇõES
A ideologia distributivista sob à qual se apresentava o Serviço
Social vem desaparecendo nas novas relações que o Estado e os mo- As reações a esta intervenção do Estado na vida cotidiana vêm
nopólios vão estabelecendo com a população no seu conjunto. sendo desenvolvidas por novas e velhas organizações populares que
A tecnologia, a necessidade de mais-valia relativa vão produzindo tentam mediatizar uma ação política para intervir e modificar as con-
um duplo efeito: primeiro, o aumento da produtividade e, ao mesmo dições em que se relacionam com o próprio Estado. As organizações
tempo, a diminuição da absorção da mão-de-obra e formação de uma populares que vêm se desenvolvendo para reagir às políticas sociais
superpopulação relativa cada vez maior. colocam em questão não só estas políticas a curto prazo, mas seu
No momento desenvolvimentista e populista parecia que o pr6- processo de transformação a longo prazo.
prio crescimento iria absorver o grande contingente. populacional. Sem considerar estas mediações é impossível ver uma saída para
Hoje em dia a lógi~a 90 crescimento está em crise, principalmente a atuação profissional de acordo com o que apresentamos ante-
no capitalismo periférico. As grandes obras de infra-estrutura desen- riormente.
volvidas pelo Estado absorveram quantidades ciclópicas de recursos As próprias políticas sociais, ao classificar a clientela, ao mercan-
e o processo de concentração de renda e de poder levou a uma pau- tilizar os serviços, ao obrigar certos tipos de contratos e de critérios,
perização cada vez maior da população.
ao determinar a quantidade e a qualidade dos serviços, criam condi-
As camadas sociais do próprio proletariado estão ou foram dis- ções para uma mobilização, um questionamento, um agrupamento da
tinguidas segundo o processo de sua incorporação nos distintos seto- população.
res da economia. Para obter mais recursos o Estado está necessitando A intervenção leva a uma categorização, mas a categorização
transformar a popúlação toda num exército de contribuintes, por um determinaqa pela política social é ao mesmo tempo um fator de con-
lado, e de produtivos, por outro. Mas, para manter este processo, é flito e de reação à intervenção do Estado.
neces$rio não romper tampouco sua legitimação. As relações da política social com a população são relações _de
O cidadão se torna contribuinte mas, pelo autoritarismo, não força, são relações em que o processo de acumulação é questiona/do
tem o direito de controlar a própria aplicação de seus tributos e os direta ou indiretamente, de forma manifesta ou velada, através de
serviços prestados pelo Estado vão se tornando cada vez mais caros. movimentos implícitos ou de resistências cotidianas.

24 25
As reaçõe s explíci tas se manife stam através de organi zações mais Este é O dilema que vem enfren tando atualm ente grande núme
ros\
ou menos comba tivas que critica m, protes tam, reagem , comba ,k profiss ionais que sabem que traoalh am numa institu ição, num
tem con-
propõe m alterna tivas à interve nção do Estado . 1,·xlo institu cional capital ista e autorit ário, e ao mesmo tempo
' opta-
1 .111\ por dar uma contrib uição ao fortale
ciment o das organi zações po-

ª]
As resistê ncias cotidia nas se traduz em em formas de burlar
a p11lares.
aplicaç ão ,das norma s, em incluir pessoa s não previst as nos _
critério s
preest.abeleci.d~s, em barate ar as formas de acesso , em perme A articul ação entre o trabalh ador profiss ional contra tado para
ar os 111:1nipulação de recurso s imedia tos, o relacio namen to psico-s ocial
espaço s defm1dos previa mente com contra podere s que reartic e o
ulam lortale ciment o das organi zações popula res é o grande desafio
certos critério s. que hoje
1,l' coloca aos trabalh adores sociais .
A própri a interve nção do Estado não é monol ítica. O Estado •
é O saber profiss ional, a compe tência legitim ada pela institu ição
uma conden sação de forças e as mediaç ões realiza das por ele são
rela- •,nvc ou tem servido justam ente para desleg itimar e desmo bilizar
ções e não suport es (rappo rts e não suppo rts). as
, >rgan izacõ ~pula res. O proces so de conhec imento ' •
. . :"s interve nções do Estado e a própri a situaçã o objetiv 1açã o~ e-
a dos A preocu paçao e e que este conhec imento profiss io-
mdiv1duos não são apenas suport es rígidos de uma estrutu 1wl venha a servir à produç ão de conhec imento s por
ra inde- parte das orga-
penden te de sua vontad e. ~~õe s_ e~tatai§. são r_elaçõ ~ isto
é,_são 11 izaç~1 2op...u l~s.
pr?ces sos de enfre ~ento , de conflito~, não de indiv íduo~
a.dos , O povo sabe de forma diferen te do profiss ional. O povo produz
mas de forças que se estrutu ram, se organi zam e se mobili
zam de -;cu conhec imento em outros código s. E o código do profiss
fo!E!-ª--d1.M8f-S·i-fieada-:- ional é
., que é legitim ado. A própri a idéia de sistem atizar conhec imento
s e de-
Assim , a compr eensão da interve nção do Estado vem se modif volvê-los à popula ção é hoje questio nada, pois essa devolu ção
i-6 se faz
can_do ~~ prática cotidia na dos assiste ntes sociais. Um dos concei 110 código daquel e que .~evolv e e_não po
código daguel e
tos reduz.
mais utilizad os atualm ente é o de "espaç o'l. no trabalh o. A manip ulação de recurs os se colQca .como um critério de saber.
O e~paço de assalar iado, subord inado, legitim ador, atribuí do O desafio dâ atüaçã o profiss ional é,_desenvolver mediaç ões que
por l ~ (/ ~
uma teona e uma crítica à atuaçã o profiss ional, hoje é retoma ao contro le democ rático desses recurso s institu cionais pela
do tam- propua
bdém ~orno um ~sp_aç <:_~~. .!.. um espaço de conflit o, um popula ção.
espaço
e açao. A modifi cação da relação de forças, a criação do contra
poder é
Este espaço é entend ido coma relacãq :· Não há espaço homo- consid erada hoje um proces so comple xo e não mais uma forma
/ ma-
niqueís ta de lutas de classe contra classe, de maneir a rígida.
cada 7
gêneo e preexis tente, mas ele é criado e retoma do confor me A atua-
conjun tura. c,:ão ao nível do cotidia no implic a as relaçõe s de classe mediat
j izadas
por mecan ismos, proces sos, lugares e estraté gias extrem amente
A separa ção rígida entre estrutu ra e conjun tura levou a ver com-
a plexas.
atuaçã o profiss ional apenas como uma interve nção conj.un tural
nas O reforço e o fortale ciment o das organi zações popula res impli-
relaçõe s pessoa is e não como uma relação de força, que é ao
mesmo cam també m a recons ideraç ão dessas mediaç ões e daí a necess
tempo dinâm ica e contra ditória . idade
de uma análise dos proces sos específicos, das correla ções de força
A relação do profiss ional no proces so de interve nção do Estado em
, cada instituiçã'o, em cada local de trabalh o, para que se produz
na mediaç ão estatal , é vista de maneir a contra ditória , possib am
ilitand ~ efeitos da ação profiss ional tanto ao nível institi1cional como
ao mesmo tempo um reforço do proces so de acumu lação ~ ao das
dóinin a- organi zações popula res.
ç~o, :,orno um reforço e uma contrib uição ao fortale ciment o das
orga- A prática profiss ional se torna cada vez mais comple xa e não
mzaço es popula res. pode mais ingenu amente ser reduzi da a entrevi stas, reumo~ s
e :vi~i!as
26
27
~ nem a u:n militanti sm~artid ário ~etário. Ela ~ !orna Ull1__..§_aber
D ~st9tígii;__ci). Ela se torna um saber tático .. Um saber que necessita
- • "situar-se num COJ!texto político ~lobr1:-::e num contexto mstitucfon al
p~r~ic_;:!!_ar,._ vi~alizan do as relações de\ saber e pode} da e com a pró-
(?ria população . ...
Saber utilizar os recursos institucion ais Jm fun_ção dos interesses
da população vem se tornando um desafiq_c ada vez maior da atuação
profissional.. Exige-se hoje do profission al não ·mais uma competên cia Capít ulo 2
individ'-¾al, que_ marcou outrora como o bom profission al, mas uma
reflexão\ coletiv para saber o momEnto oportuno de avançar e de

--
recuar 'na sua estratégia institucion al e em relação aos grupos po-
pulares. ----
A s estratégia s da radicaliza ção a qualquer preço, como a estra-
tégia da acomodaç ão a qualquer pr,eço, já não servem mais nesta
perspectiv a de compreen são da intervençã o profission al como uma
relação de forças. O processo de radicaliza ção sem comprom issos ins-
Espaço institucional e espaço
profissional*

titucionai s é uma visão idealista que não leva em conta a relação de


forças em presença e que pode produzir alguns heróis mas não ne-
cessariam ente um fortalecim ento das organizaç ões populares .
Uma das críticas ao moviment o de reconceitu ação foi a de
As relaçõe~ da população com o Estado não podem ser elimi-
abandona r, de certa forma, a considera ção do trabalho institucio-
nadas por um passe de mágica e mesmo nas sociedade s não-capit a-
11 at do Serviço Social. Uma atenção especial foi outorgada ao processo
listas há uma maior relação da população com o Estado. É necessário
metodológ ico, esquecend o-se o contexto da prática da maioria cios
_repensá-las na prática cotidiana como relação de forças e numa pers-
trabalhad ores sociais latino-am ericanos. Preocupo u-se com o processo
pectiva teórica aberta e capaz de traduzir-s e metodolo gicamente .
metodológ ico do conhecim ento, sem uma análise da produção desse
Assim)m étodo e estrat~ se combinam e se articulam , forman- mesmo conhecim ento ..Nas escolas de Serviço Social voltou-se para
do uma unTOade teórica e prática indispensá vel à atuação profission al. a realização de práticas extra-inst itucionais . Este fat~ ~unh:a em con-
O desenvolv imento das organizaç ões profission ais vem contri- tradição os campos de prática com os campos prof1ss1ona1s.
buindo para esse posiciona mento, que não é estático, mas dialético e Essas contradiçõ es, entre outras, têm propiciad o uma série ~e
articulado em cada situação concreta de forma diversifica da. questões entre os trabalhad ores sociais: ~ r~conceit~ ação, afin_al, ~ª?
b Tanto o voluntaris mo que quer o Serviço Social atrelado às passa de um moviment o purament e academ1co desvincul ado da prati-
organizaç ões populares a qualquer preço como o ~ da bon- ca predomin antement e institucion al?
dade aparent.e vem sendo questiona do. O livro Desafío al trabajo social ( I 97 4) coloca essa questão. A
Tanto as visões do Serviço Social como ação benevolen te, quanto impressão causada por esse livro heterogên eo é que, para~ a _maioria
como contrapod er revolucio nário, estão sendo repensada s e revistas dos autores, a reconceitu ação não passa de uma etapa romantica con-
no contexto da complexid ade da intervençã o do Estado e da mobi- duzida por intelectua is acadêmico s.
lização popular. A c.Qn.trib.uição de-6r-am sci-tem sido· fundamen tal A reconceit uação é criticada nos seus próprios termos, acusada
para esta visão. Mas é ~ecessário não tornJ:!_o um autor da modª- de desvincul ar-se da prática reconceitu ada nas instituições. Essa crítica
como o foram Mao Tsé-Tung , Lenin e Al!Jrnsser em outros ..momen-
tos, mas utilizar também seu pensamen to de forma estratégic a e tática. * Publicado em Serviço Social & Sociedade, vol. 1, n. 0 1, setembro de 1979.

28 29
esquece que a prática reconceituada implica uma transformação das
relações profissionais nas instituições. Na perspectiva tradicional o currículo ~ definido em ~e~mos _de
11 ,õtodos de caso, grupo, comunidade, plane~am~nto e admm1~traçao.
Só a crítica, como sabemos, não pode mudar as instituições. São 1 1 s~rviço Social é visto como uma tecnologia, _ficando-~ teona rele-
necessárias uma nova correlação de forças e uma estrategia capazes l'llllu aos cursos básicos de sociologia, econom~a e ~ohtt~a-
de implementar a mudança. Mas nem todos estão dispostos a isto. Para a maioria dos profissionais a reconce1tuaçao nao_ ~assou de
A principal falha do movimento de reconceituação talvez tenha 11111 cpifenômeno. As rotinas e técnicas p~uco fora~. mod1f1ca~a~- A
sido a, de superestimar a forca da crítiç_~ sem ter em conta as resis- dd'crcnça é que as próprias instituições estao se mod1f1can_d?, e~1gmdo
tências ao .processo de mudança institucional.
----~------ ---
Assiste-se atualmente a uma preocupação com o problema da
du trabalho profissional uma readaptação a~s novos reqms1tos 1mpos-
ll lH pelo desenvolvimento das forças produtivas. . .
institucionalização e da ação profissional. Este fenômeno se observa Por paradoxal que pareça, não. sã~ os . traba_Iha?or~~ so_cia1s q~e
em áreas distintas: medicina, psicologia, serviço social ( Souza, 1979). 111 , ao provocando as mudanças instttuc10nais mais s~gm~cativas. S~o
Mas não é só isto. A preocupação com a prática institucional veio Hll novas políticas exigidas pelo process_o,Ade _mod~rmzaçao que estao
a ser uma nova· tônica, uma tendência que se opõe ao movimento de ) 111 pondo novos padrões de eficácia e ef1c1encia. Nao se deve entender

reconceituação. Aceita-se que os trabalhadores sociais estão confina- 11 mcternização como uma evolução autônoma, mas como resultante
dos, por definição, a este· tipo de prática. 1lo processo global das contradições sociais. . . _
O movimento reconceituador busca uma profunda vinculação As instituições "modernizadas" buscam a efic~ci_a pe}a ot1m1zaç~o
com os movimentos sociais e as lutas populares, criticando a inefi- c1 11 relação objetivos-meios e a eficiência pela_ max1m?açao da ~e_Iaçao
1, 11 stos-objetivos. As crises de recursos e as crises pohticas prop1c1aram
cácia e o caráter adaptativo da ação profissional frente aos proble-
mas sociais. o ambiente para estas modificações.
A preocupação com o trabalho institucional tem. um duplo as-
Segundo Diego Palma ( 1977) a reconceituação se desenvolveu
pccto: em primeiro lugar, reafirma a prática estabelecida, numa re~-
nos países de maior crescimento econômico e de maiores lutas sociais.
i;ao ao movimento de reconceituação e, em segundo, uma adaptaçao
Seu estudo se fez a partir dos trabalhos apresentados nos congressos
1\ prática de modernização.
do ISI e não mostra o conteúdo mesmo deste movimento.
Nessa conjuntura global e específica várias estratégias d:e ação se
As a.náiises das práticas "reconceituadas" salientam, antes de mais
Hbrem e se confrontam. Sua apresentação será objeto ~a última _parte
nada, a idéia do compromisso da ação profissional com os movimentos
deste ar.tigo. Antes, porém, cabe uma análise das funçoes globais das
e lutas das classes dominadas. Por exemplo, na Escola de Serviço
lnstituições no contexto das políticas sociais.
Social da Universidade Católica de Valparaíso os campos de prática
estavam definidos em função das forças sociais de transformação:
1. ESPAÇO POLITICO DAS INSTITUl,ÇõES SOCIAIS
operariado, campesinato e populações marginais urbanas.
Essa tendência vem sendo debatida e rejeitada no interior de As instituições sociais são organizações específicas de política
muitas escolas onde as práticas são institucionalmente organizadas: social, embora se apresentem como organis~os autónomos e estrutu-
menores, empresas, saúde etc. rados em torno de normas e objetivos manifestos. Elas ocupam ~m
espaço político nos meandros das relações entre o Estado e a socie-
1. Para Maria do Carmo Brandt de Carvalho Falcão ( 1979: 24), "o Ser- dade civil. Elas fazem parte da rede, do tecido socia~ lançado pelas
viço Social se coloca como instrumento institucional, constituído pelo aparato classes dominantes para amealhar o conjunto da sociedade.
estatal, para oferta de certos bens e serviços que visam garantir condições mínr:'.
mas de subsistência. Concretamente, presta ou indica serviços e propicia bens a Mesmo quando privadas, as instituições são _reconhecidas pelo
nível da satisfação ele necessidades de abrigo, alimentação, saúde, emprego etc." poder público, ou recusadas por ele. Elas se orgamzam como apare-
30
31
lhos das classes dominantes para desenvolver e consolidar O consenso A autoridade profissional pode impor ao cliente, "à pessoa que
s?~ía! necessário à s~a hegemonia e direção sobre os processos so- busca a atenção para um problema", a análise (diagnóstico) e a
c1a1s: As classes dommantes necessitam do consentimento das classes riolução que o profissional encontra no regulamento e no seu saber
dom1qadas para exercer sua hegemonia. técnico. O cliente é posto numa condição passiva. Se não aceita as
A capacidade de direção e hegemonia das classes dominantes se normas é excluído dos "benefícios" possíveis. Se se integra às normas
mantém por intermédio de uma série de trincheiras de casamatas na dn instituição é socialmente excluído, é institucionaliz ado cliente, mar-
sociedade c!vil. Por intermédio delas certos sacrifício~ imediatos podem rndo pelas etiquetas profissionais, e às vezes confinado pela mesma
ser co~s~n~dos pelas classes dominadas ( Anderson, 1978) sem 'que 11lstituição (Virilo, 1972; Broboff e Luccioni, 1972).
a dommaçao e a acumulação sejam afetadas no essencial.
A instituição se torna uma patrulha ideológica da vida pessoal
_ As i~stituições não são um simples fenómeno superestrutura l. e social do cliente. Este controle se realiza através de entrevistas, vi-
Sao or~amzações transversais a toda a sociedade. Elas aparecem como i;iLas, fichários, documentos, interrogatórios . Tudo é vasculhado, des-
mecamsrnos reguladores das crises do desenvolvimento capitalista em possuindo indivíduos e grupos de si mesrnos, colocando-os à mercê
todos ?,s níveis .. 1;1e~mo distantes de uma empresa, elas podem "com- ele quem controla a informação sobre eles e influencia preponderante -
pensar deseqml1bnos do processo produtivo. No interior de uma mente suas decisões.
empresa produtiva, a institucionalização dos serviços sociais está vin-
culada ao processo político global do desenvolvimento das condições A exclusão e a categorização institucionais se fazem em nome da
da acumulação do capital. uormalização. Essa é a teoria que predomina em algumas instituições
ele Quebec (Canadá) em relação a várias categorias de clientes: eles
Em contraposição, as instituições se mostram aparentemente devem viver como os demais. Aceita-se a sociedade e a ordem esta-
preocupadas com o bem-estar da população, com uma cara humanis- belecidas como normais. Para os que não podem viver, consumir,
ta: Esta face é uma das condições de sua aceitação pelas classes do- produzir segundo esta ordem, criam-se mecanismos especiais de in-
mtnadas.
tegração ao sistema de produção-con sumo existente, por intermédio
A fac~ humanista esconde também o uso da violência, pela busca da institucionaliz ação de certos serviços.
do consentimento , da aceitação, numa série de mediações organizadas
para convencer, moldar, educar a compreensão e a vontade das classes Esses mecanismos tornam os serviços e mercadorias acessíveis a
dominadas. uma clientela ~special. Essa mercantilizaçã o dá a idéia de uma nor-
malização do ~cesso a certos bens e serviços no mercado. Trata-se
. . Ne_ssa mediação predominam os mecanismos ideológicos e pro- de um mercado especial para os que são excluídos da produção e do
f1ss1onats para cooptar as insatisfações geradas pela vivência dos pro- consumo e por isso mesmo os exclui cada vez mais. São as casas
blemas cotidianos.
populares pequeninas, os bônus para transporte, os bónus de ali-
Isto não quer dizer que, no interior das instituições e em suas mentação, os asilos de velhos.
funções, não exista coerção. Esta se exerce de forma social moral
e_ psicoló?ic~, _utilizando as pressões decorrentes da situação de auto- As instituições são veículos dessa mercantilizaçã o de bens e ser-
ndade, d1sc1phna e conhecimento. 3 viços, transformando as relações sociais em relação de compra e venda
nos domínios da educação, da saúde, do albergue. A saúde é profis-
. . 2: ~stamos de acordo com Madel T. Luz (1979: 30), quando fala das sionalizada e comprada. O Estado "financia" então essa categoria
inshtU1çoes co_mo modos de poder de um modo de produção social, como mi- especial para que possa ter o acesso a esse mercado especial. O que
cro1;oderes, ~ucleos do poder central, como práticas de dominação, como "um
con1unto articulado d~ saberes (ideologias) e práticas (formas de intervenção realmente se torna "normal" para essa categoria é o processo de poder
normallzadora dos diferentes grupos e classes sociais)". Nossa ênfase é nos comprar e vender, do qual estão ou estavam praticamente excluídos.
aspectos fragmen_tadores das instituições sobre as classes dominadas. Para nós
os saberes e práticas são formas ideologizadas de ação. A ideologia não reside _,. Com o financiamento do Banco Nacional de Habitação algumas ca-
somente no saber. madas da população podem "comprar" suas casinhas, mas ficam con-
3. Cognoscere est dominari: conhecer é dominar. (Bacon) finados a elas. Vários guetos sociais são assim criados.
32
33
As institui~ões, como instrumento de políticas sociais, estrutu- As classificações técnicas e profissionais justificam e consolidam
ram-se em funçao de ca!eg_orias especiais de clientela, que variam se- 1nt11 fragmentação política. Tipifica-se a clientela ainda mais, seja por
gundo o contexto econom1co, social e político. §111111 características físicas, psicológicas ou sociais.

Essas clientelas se formam segundo o problema que apresentem A atuação profissional torna-se subsidiária da ação política. :e
p~ra as cl~sses dominantes num momento determinado: ora os men- 1111111 tática mais ou menos eficaz segundo as exigências impostas pelos
d~go_s ~pengo_ social, desestímulo ao trabalho), ora os menores (in- 11l1jrfivos a alcançar e pelo grau de insatisfação ou satisfação da
disq!p_lma socia~), ora os doentes (enfraquecimento da mão-de-obra), , 11111tcla.
e assim ,por diante-,_ Ao separar em categorias esses conjuntos ou· Uma categoria, um grupo ou uma classe 6ocial representam o
cam_a~as _da populaçao, es~onde-se sua realidade profunda, isto é, sua ,111t,n tipo de ameaça às classes dominantes, a que anteriormente nos
pertmencia às classes dommadas: operários, camponeses, marginais e 11 11•,·imos, quando perturbam a o·rdem social.
i vastos setores dos trabalhadores autônomos. A perturbação da ordem social, percebida pelas classes domi-
Quando. a indigência, a desnutrição, a velhice, a delinqüência ou 111111 tcs como ameaça, gera instituições para o controle, a circunscrição
1 ?utras formas de '~desvio" e. anomalias sociais aparecem como ameàça 1 11 diminuição do problema. Às vezes confunde-se o desaparecimento

a º!dem estabelec1d~, organizam-se instituições de assistência, de pro- d11•1 problemas com a exclusão das pessoas do seu meio social, As
teçao, de recupcraçao, de seguros sociais. 111 l:mcs e certos internamentos dão conta disto. •
1 A ameaça às classes dominantes pode ser caracterizada funda- As instituições, na sua função de controle social, realizam formas
mentalmente em duas ordens: ameaça à reprodução da força de tra- do recuperação e de distensão social por intermédio da divisão dos
ballio e ameaça à paz so.cial. . 1 lll•ntes e dos problemas, do adiamento das soluções, do· oferecimento

j A reproduç_ão da força de trabalho, sua manutenção durante 0 tlt• respostas simbólicas e parciais.
processo produtivo, sua procriação e manutenção fora do processo As pressões sociais são transformadas pela ordem institucional
de :rabalho depe~dem do salário. As condições precárias de remune- 1111111 problema específico, que deve ser tramitado hierarquicamente
r:çao e a ~xclusao do recebimento de um salário (marginalização), ( di.: chefe em chefe), num determinado prazo de tempo e de acordo
poem em nsco a subsistência mesma dessa força, de sua produtivi- 10111 a disciplina instituída. As sugestões e as consultas são às vezes
dade e, portanto, o processo de acumulação do capital. lt'itas aos elementos mais combativos, buscando-se esvaziar suas rei-
Esse processo de acumulação depende fundamentalmente da ex- vl11dicações pela colaboração oferecida.
ploração da força de. trabalho, produtora de mais-valia. Os procedimentos burocráticos estabelecem um roteiro rígido de
. A _disp_?nibilid~d~ de mão-de-obra, sua resistência física, sua 11tuação que possa ser bem controlado desde cima, de cima para baixo .
mot1vaçao_ sao cond1çoes da acumulação, que não podem ser satisfei- {) planejamento e a programação permitem e obrigam cada vez mais
tas exclusivamente com o pagamento de salários. 11 esse controle interno, transformando a disciplina em uma questão
de competência, de avaliação, de eficácia. O modelo industrial penetra
As instituições de creches, programas habitacionais, serviços para todas os setores institucionais.
velh_os, menores e outros assumem os custos sociais globais da repro-
duçao da força de trabalho não pagos diretamente aos assalariados Recentemente os sindicatos de enfermeiros de Quebec denuncia-
e não extraídos diretamente deles. ' 1·nm esse modelo a ser introduzido nos hospitais pelo controle de
tempos e movimentos. Cada ato de enfermagem é medido: o tempo
Os problemas que afetam o conjunto das classes dominadas são de assistir ao doente, o tempo de dar-lhe comida, o tempo de dar-lhe
parcializados, abstraídos, analisados, separados, classificados por ca- banho, o tempo de conversar com ele.
tegorias, que fragmentam estas classes em setores de velhos menores Esse controle interno e o controle sobre os problemas objetivam
acidentados etc. Aparentemente, nega-se ·a existência de cla;ses sociai~ ·' n diminuição da-; tensões e conflitos sociais. Talvez seja este também
para evitar uma possível consciência de classe. o objetivo do Serviço Social: pela escuta, pela paciência, pelo estudo,
34 35
pela comunicação pessoal, o problema é desaquecido e uma solução 1\ 1li danças nos sistemas políticos eleitorais, de escolha de candidatos,
dentro da ordem pode ser visualizada. A desagregação social é evita- ti, organização de partidas e nas leis de repressão servem ao controle
da, o elemento contagioso isolado, a espiral de pressões desarticulada. dll'i movimentos sociais e a sua repressão.
P,t. ordem social e a "paz social" propiciam as condições neces- No caso de fortes pressões políticas as classes dominadas se orga-
sárias· para que o processo de acumulação do capital não seja amea- como classe, recusando suas fragmentações. As instituições de
11 1:111111
çado. pela perturbação das relações sociais de produção, para que a l'"I, 1ica social são então incapazes de absorver essas pressões, que
p~opnedade dos meios de produção não seja ameaçada. 1111 0 transferidas à área da política de Estado.
Unja condição da possibilidade da estabilidade social ( tão de-
cantada pelos investidores) é a legitimação e a aceitação da ordem ;>. A DIAL~TICA DAS MUDAN·ÇAS INSTITUCIONAIS E SUAS
estabelecida. Essa legitimação se cimenta no discurso ideológico e nos FORMAS PR~-CAPlTALISTAS E CAPITALISTAS
aparelhos de integração social pela distensão e canalização das de-
mandas. As instituições de política social são limitadas a duas grandes
-~ua~do o sistema é incapaz de absorver as demandas, aspirações 1 ,dt.:gorias de clientela: os "inaptos" ao trabalho e os '.'i~aptos" so-
1 111is. A inaptidão ao 'frábalho resulta da falta de cond1çoes da pro-
e re1vmd1cações, as pressões sociais tornam-se mais ameaçadoras
podendo visar não uma parte a ser modificada, mas o sistema e~ d11tividade da mão-de-obra: saúde deteriorada, educação deficiente,
seu conjunto. 111ortalidade, idade avançada. A inaptidão social resulta das condições
pHicossociais da mão-de-obra: quando manifest~ insati_sfação e quando
As_ cla~ses ~i~ant!:s __necessitam de canais institucionais para 1111. pressões sociais ( o que é considerado desvio social).
dar v ~ m a n d a s das classes dominadas, apaziguá-las e con-
trolá-la~. _Toda a gama de carteiras e fichas para o exercício de qual- No processo institucionalizado de "readaptação social" diferentes
quer at1v1dade servem de controle e seguimento das atividades das profissionais, exercendo distintas funções, não formam um bloco ho-
classes trabalhadoras. lllogêneo. Divergências entre administrados e administradores, entre
As instituições desenvolvidas nos países democráticos apresentam ,•atcgorias profissionais, transformam esses lugares em campo de com-
canais mais sofisticados para absorver e amortecer os conflitos sociais, petição e luta. Os profissionais defendem sua autonomia . de ação
como as comissões de inquérito, as audiências das partes em litígio, 1·ontra os burocratas que querem aumentar os controles e as padro-
a confrontação de posições. Os funcionários aparecem como árbitros nizações. Os diferentes profissionais lutam entre si pelo controle do
de uma situação conflitiva. poder e dos recursos. Frente à clientela lutam pelo controle do aten-
dimento.
Já nos Estados autoritários impedem-se e negam-se os conflitos.
Situadas no "interior dos muros", essas lutas, às vezes ferozes,
Não há possibilidade da representação da~ pressões, resolvendo-se os
pouco transparecem e o poder interno passa a ser um objetivo estr~-
conflitos em base à autoridade e ao des1fogo dos problemas mais
imediatos, de forma paternalista. t6gico. Os problemas da conquista desse micropoder tornam-se mais
importantes que os problemas dos clientes.
:.E: em base ao processo de aceitaçãc, da autoridade legal e da
Essa confrontação e essa burocratização transformam as insti-
autoridade profissional que se realiza a legitimação capaz de esvaziar
1uições em "fins em si mesmas", com formas específicas de reprodu-
as pressões. Como os problemas são concorrentes e recorrentes, cres-
<,:iio de suas normas e funções. A clientela se transforma em "meio"
cem na medida em que há uma atenção institucional imediata.
para a realização profissional, a conquista do status e do poder. Estas
Quando, porém, as pressões se manifestam por intermédio de contradições colocam as instituições em choque com a sociedade em
organizações mais ou menos fortes das classes dominadas, o processo ., seu conjunto, com as classes dominadas, com o Estado, obrigando-as
de resposta e controle das mesmas pode assumir formas mais políticas. 11 mudar seus mecanismos de legitimação e controle.

36
37
Pel os rela tór ios anu ais pod e-s
e obs erv ar esse processo var - e o rec ebe dor deve col
autojustificação. As me tas for iável de i.:omo um ato de doa ça? , ·1' oca r-se na po-
am sem pre alcançadas, os pro 1 • 111
. que lhe vem do alto.
solvidos, as dificuldades sup ble ma s re- 1 pos sui um pnv
era das , a clientela satisfeita, h,ll o te que m t egt o
bem utilizados, os mé tod os os rec urs os " - ,, ·t a-se na política de .
os melhores possíveis. 1~m rea lida de, ess~ doaç~o incentivo ao
s1 u . fer iar ao sal ári o mínimo e
Est as lut as "in ter nas " e os
conflitos "ex ter nos " (sa ben 11w1 r:1do d e tra bal ho ' Já que . -
e sem pre m
uns e, out ros se int erp ene tra do- se que 111111 ofe rec e me lho
ue a dos assalariados. B o . , •
m) fazem das instituições pro res cond1ç_oes qb lh pnnc1p10
micos. Ela s não são res pos cessos din â- . ·b·t· *. os que nao devem ter condições inferio
tas mecânicas aos tipos de ,/11 l,•ss e1igi i ity • tra a am -
enu me rad os e ao pro ces so am eaç a aci ma t aba lha d ssir n a bus car em pre
de acu mu laç ão do capital. 11 •1 nos que r m
' for çan o-o s ª go.
pos tos por essa evo luç ão não Os pro ble ma s Ess a pol ític a apa rec e, ent reta doa ção legitim
tuições se sup erp õem e se
são lineares e distintas for ma
s de insti- , . d A inte rm edi açã o ent nt~ , c-~~~ão e a ~lientela ada pela
combinam. re envolve
Na Am éri ca Lat ina , assim com
, 111 id.1 e.
1111,cas de com um.caç ao - . re adaas mst 1 mç.
de ma mp ula çao -
o em Qu ebe c, ain da enc ont irnp gn .
.
instituições vol tad as ao pur o
assistencialismo, com o as soc
ram os Nas em pre sas f am1Ttare s o pat ern ahs mo pat ron al p ode apa rec er
. 1
Vic ent e de· Paula. São forma
s "ar cai cas " de política soc
iedades São i 111110 o d oa d or. de creches serviços, esco as. No ent ant o esses don s
'
falamos é par a facilitar a
com pre ens ão e não um a ade
ial. Se assim ,i[ln des con tad os dos salário e ass ado
s e/ ou r p " viços" 1· á ços
s nos pre (De an, s /d.•
dualista que sep ara o mo der são à raz ão d
1M>). Na s gra n es organizações esses ser faz em par te da
no do tradicional, o pré -ca t da pro dut ivi dad e ou con qm.
capitalista. pita list a do ,,dministração do pessoal par sta
a aum en o
Ess as instituições "pr é-c api tali d11 lea lda de dos trabalha?or_e
sta s" têm origem no sistema s. " " d ,,
de favores pessoais envolto
s pel a ideologia da car ida de, feu dal As instltm . . - " api tah sta
çoes c s mo ern as (co mb ina das às out ras
do vol unt a- , ' . . pres··taça- 0 de serviços pro -
riad o, da boa von tad e, veicul
ada pel a Igr eja católica. "11rcaicas" e "pr e-c
. api•ta 1·18 t as ") utt 112a • m a - d •<lidos em bas
11ssionahzados e u~o~ra r~ b . . f ado s Os cas os sao e aos
A aju da é pre sta da num a bas
e discricionária, pessoal, cas rnn hec ime r,to s prof1ss1onats ~s roblemas sãoec1assim pro . . .
caso, não rar o fun dad a num o por ~ flss1onah-
a apr eci açã o de bom com por 111dos. Os acidentes de trab _P edi cal izados a mortalidade, as
num julg am ent o moral. Os tam ent o e al o sao_ m . 1· d~s" culpando-se o
critérios de seleção de clie ~ . são "se rvi ços
ntes não são desavenças, as ~aren: socia tza
fixados em lei, não há direito
s constituídos, não há obriga ri icnte de sua s1tuaça-tas _ d as implicações ,globais da
belecidas. O arb itrá rio das ções est a- o e nao ven o pro -
decisões se reflete no ate ndi hlemática.
e na exclusão de out ro às me me nto de um . .
smas condições. Po r exemp A atu açã o profissional oc_upa aços dei xad os pelos vol unt á-
eco nôm ica em hospitais cla lo, a sel eçã o , . .º"" :sp .
ssifica os pacientes seg und o rios e prat1cos, mas pro fiss ion ais sao po1 sua v ez "de spr ofi ssio na-
pob rez a e sua s economias. seu gra u de \"· ado s" pel o regimeossalaria . ão submetidos, pelo con tro
le
,z l a que s -
No s regimes populistas, bas
ead os num a rela ção pessoa bur ocr átic o, pel a espec1•a riz açã o de funçoes.
che fe com as massas ( cria ndo l de um A rap ide z, a ef1cte • ·~ncia a especi.a 1·1za ç;o a ,
o ate ndi me nto qua nti -
1I -se um a situação difusa ent . ,
dom ina das ), na eliminação re as classes tativo da clientela e um a c ta me lho ra na sua qu alidade favorecem
e
e esvaziamento dos conflitos as nov as con diç ões do me rca~ d t bal ho· pro dut ivid ade , circulaçao -
r
gia da col abo raç ão e pel a dis pel a ideolo-
solução das organizações aut o e ra . •
classes, florescem estas for ôno ma s das ráp ida ada pta ção às mu dan
ma s de assistência, imp lan ' ças tecnológicas. . .
tad as de cima Ao me sm o tempo a nov a cam ada de proflss1ona1s . assalariados
par a baixo. Nas instituições
pre dom ina m as figuras dos 1
simbolizados pelas figuras
das esposas dos presidentes,
"do ado res ", vai ocu pan do cer to espaço de decisão e de con tro e.
e prefeitos. gov ern ado res Est as mst. ·t • oe~ "m ode rna s " cor res dem a um a eta pa de desen-
1 mç s pon
A atri bui ção de recursos é ale volvimento mais amp la• das. forças pro u iv e não rar o a um mode1o
• d t· as
atória, assim com o a cliente • . . mo der niz açã o por interme'd"to
dep end e do grupo a coo pta r
e con tro lar e os recursos apa
la. Est a des env o1v1m en fis ta. Est e visa incent.iva . r a"'g ual dad e de opo rtu m'd d ,,
rec em de sub ven çõe s públicas, par a es •
favores: num ano cobertores com o a per mit ir a l
, no out ro arroz, no out ro
nad a. Ap are - * Situ açã o mai s desfavoráve
l.
38
39
As ins titu içõ es se tor nam
de " pel a int egr açã o ao mo
veículos pa ra me dia tiz ar
ess a "ig ual da- A art icu laç ão das for ma " ré- ca italistas" e ''ca pit ali sta s" de-
s, . p
lações con sid era das ma rgi
do ind ust ria l-u rba no -co nsu
mi do r das po pu - 1w11dc do con tex to g1o bal e po hti co e popdem me sm o ass um ir um a for -
nal iza das , des int egr ada s, --
O tra bal ho pro fis sio nal de des fav ore cid as. 11111 cíc lic a fre nte
às crises e exp ans oes do pro ces so de acu mu l aça- o. i
pla nej am ent o, ani ma ção , inf orm açã o, enc am inh am ent o, ter api
des tin a-s e à rei nte gra ção a, 3. AS FO RM AS Pú BL
no vas exigências da acu mu da mã o-d e-o bra às IC AS E PR IVA DA S
laç ão do cap ita l, bas ead
·nológico. as no ava nço tec-
ições "ca pit a ristas ,, e "pr é-c a-
d com bin açã o de institu
À id~ologia tec no crá tic A forma_ e for
a acr edi ta no ava nço con pll ali sta s" art icu lam -se ma s pú bli ca e pri vad a.
gresso tec nol ógi co e na tín uo do pro - as . , . d cap ita lism o o
açã o rac ion ali zad ora do s Se ant eri orm ent e, is • t o é no s n11c1os o pen sam ent o
sob re as op era çõe s de pro pro ces sos decisórios . . ' .• 'tad
me nto s-p rog ram a, adm ini
du ção e as ações sociais
. O uso de orç a- llliçral insisti a pa ra qu e nao . - ho uv ess e mt erv enç . -ao do Es
.
o na or d em
str açã o po r objetivos, ela tro le
tos, con tro le de res ult ado bo raç ão de pro je- 1
11 iva da em rea lid
' ' ade já hav ia um co nl . da ord em soc ial po r par te
s, sub stit ui pau lat ina me nte , . ent o das for ças pro du tiv as,
ou int uit iva na· atr ibu içã a açã o arb itrá ria dn po der pu bli co. M as c om o desIenv o vim .
o de rec urs os. vxigindo um com an d o ma is com p exo . s ob ret ud o pa ra pre ven ir .
As no vas do cum ent açõ es . cns es
. - d. Es tad o se fez cad a vez ma ·s
cap aci dad e física e me nta
exigidas da mã o-d e-o bra ,
os exa me s de l'conôm1cas e s~c1·a·s i_ '
a mt erv enç ao 0
.:om as for ma s privadas. 1
l ( testes, ent rev ist as) , exi t on sta nte , em
s11nb1ose
ins titu cio nai s con hec im ent gem do s age nte s . 1·,zações for am abr ang end
os e est ud os ma is com ple xo - , bli
s e especializados. As sub ven çoe s pu cas as nac. 1on a
à a ão loc•ali , o
En tre tan to, as lut as sociai
s não se arr efe cer am . Op ns ati vid ade s ant eri orm ent , e zad a da Igr
.
eJa ou
pon ese s, do nas -de -ca sa, erá rio s, cam - e ent reg ues ç
par tid os po pu lar es for am dos mu nic ípi os.
ma s de com bat e ada pta des env olv end o for - • r ção e de con cen tra
do s às situ açõ es polític Assiste-se a um pro ces so ção das
aut ori tár ias . As ins titu içõ as dem ocr áti cas ou de cen tra iza '
es for am assim ob rig ada , - o cen tra l con tro lad or tor
delos ref orm ist as pa ra a
edu caç ão, agr icu ltu ra, hab
s a apr ese nta r mo - 111-;tituições, com um org
a e un ida des execu as
Po r ou tro lad o, o fra cas so ita ção etc. locais ou regionais. .
das .
lev ara m cer tos pro fis sio nai sol uçõ es vigentes e as lut as sociais Os org am.sm os pu'bl 'i cos e pri vad os se com ple rne nta m mu tua me n-
s a no vas posições de os não -lu cra tiv os, ten d o
lut as po pu lar es, con trib uin ali anç a com estas te. Os prn. ne1. ros, em ger al ass um em os ser v·ç i
do pa ra a des mi stif ica ção . , d ·s po bre s da po pu laç ao -
das soluções ins- l
titu cio nal iza das . como cat ego ria
. a veJ·ad a .as• cam a as ma1 .
e
As for ma s de assistência ass um md o os serv1~ • mais car os, com o os e qu ipa me nto s hosp1ta l ares
e pre sta ção de serviços for os . urna ver dad eir a soc ial -
Po de- se me sm o fal ar de am cri tic ada s. de alto cus to. Re ali za- se iza çao dos custos.
um a crise ins titu cio nal , ass im
fiscal do Es tad o, qu e viu agr ava da pel a cri se As org ani.zaç oes- ·va das po ssu em c 1·ien telas qu e po dem pag ar os ser-
seus rec urs os res trin gid os pn ~
pre ços do pet ról eo. pel o aum ent o do s viços pre sta do s, qu and o - fin anc iad as dir eta me nte
po r e l as,
nao sao
Es ta cri se nã o est á iso lad atrav,e, s d os po der es públicos.
no pro ces so de acu mu laç
a; ao con trá rio , é cau dat
ári a das crises Os ser viç os ha b ita • • ais d<> sau, d e d e edu caç ão com bin am os
ão, ma s não de for ma me cio n ' ~ '
tígio da edu caç ão pú bli ca, cân ica. O des pre s- fin anc iam ent os pu' bl.1cos, pag am ent os par't·icu lares , pro pri eda de públi-
das instituições de saú de, . . ., . . , do
bu squ em no vas alt ern ati vas faz com qu e se ca, pro pn ed ad e pn va d a e int erm edi ano s pn va s •
e con trib ui par a a con tes . . f nceiras des pac han
rec urs o ao Es tad o aut ori tár taç ão social. O Os int erm edi ári os (hosp1 tes , esc ola s)
sup res são das possibilidade
io vis a o res tab ele cim ent o
da "or de m" pel a qu e são fin anc iad os pel ta1s, ,m~ ~ ' m me rca do gar ant ido
s de pre ssã o. Ma s me sm o po der pub lic o tem u
res tab ele cer cer tas for ma o assim tem de
s assistenciais pa ra gar ant - -
com o é o cas o do s com edo ir a ord em social, -- 4. A tese de F. Pive . 197 3) é que as list as de
res po pu lar es no Chile, _n e Rd. Cl~wa1 dpa;a gar ass isti
org ani zaç ões pri vad as. fin anc iad os pel as ant ir a ord em soc ial for dos
soc iais aum ent am 11 os pen odo s e c11se, çan do
os pob res ao trab alh o nos 'od os de exp ans ão.
pen
40
41
por este, que recol he os fundos globais necessário , .
s a seu finan ciam ento . mode rniza ção é conse
de form a comp ulsór ia (fund os de garan tia por temp
o de serviço, con- 11hjetivo estrat~g1~0 ~ess~ l tegor ial-de sigua rvar e mant er o pr~-
1t·sso de atenç ao mst1tuc1ona ca l-con trolad or, mas eft-
tribu ições aos seguros sociais, impo stos e taxas
). , it·11tc, plane jado, eficaz.
Esta divisão social do traba lho impli ca não só ue se identificam os traba lhad ores so-
duplicidade, mas
uma divisão quali tativa . Os serviços públicos são, A esta estra tégia parec e q
de segun da quali dade, buroc ratiza dos, lentos.
em muito s países,
t·i11is, que, h OJe, • ropug nam por uma vo lta às instituições, uma volta
Os serviços priva dos P. . . t Em outra s profissões nota-se. 0
apare cem como eficazes e rápid os. Mas, em realid i1 práti ca recon hecid a h1sto
ade, há uma com- ncam en e. t os psiqu iatras institucionais,
plem entaç ão. Uns depe ndem dos outro s para certo n1csmo. Basta lemb rar as pug~ as ~n re
s serviços. A ten- . d setor e os contra-instituc1ona1s.
dênci a é 'a utilização dos setores priva dos como 'is e
canais do pode r pú- , . d tendê ncia de mode rniza ção conser-
blico, como já acont ece com os banc os para o A princ ipal carac tenst ica ~ . -
recol hime nto e paga - , d t a profissionahza5. a· ar-se politica-
ment o de impo stos e taxas. val.lora e a e ma~ er ao, __ sem_engª-J,.= ,..--=-=___,___ .
. eutra1id;de. Mas refor çand o e ace1-
Assim s~ mant ém um proce sso de repro duçã o 1ncnte, Yefretmdo a ideologia da _n t·t . -es na
das desigualdades - repro duçã o da ordem
sociais atrav és dos canai s institucionais estabelecid 11111do as funço-e~ h'is t'on·cas das .
ms l u1ço
- de classe pequ eno-b urgue sas.
os e de seus meca - t' da força de traba lho e as s1tuaçoes
nismos de funci onam ento. , ·meir a implica a
A burgu esia dispõe de mecanismos de alta quali Uma segun da estratégi~ polssív~l, doopossetaumª pp1~01
dade e eficiência • ft cesso' alternativo
I c1ona
para as questões de saúde , de educ ação, de finan
ciam ento, fican do a
negaç ão do traba lh o ms u ' cnan - . N Chile por exemplo,
pequ ena burgu esia depe nden te do setor público n partir das l utas e m ovim .
entos popu1ares. o
. '
domi nada s são relegadas às filas e aos serviços
e priva do, e as classes
duran te o gove r?o popu lar viram -se Profissionais traba lhand o. junto •
de segun da quali dade. - ' de tribu nais popu lares ( versus tnbuna1s
Aind a assim há distin ção entre o opera riado segur 110 proce sso de unpla ntaça o
ado e a popu lação . d·reta ment e contr olado s pela
marg inal. O prime iro pode dispo r de· certos serviç burgueses ) , e a um a série de organ tsmo i
. _ s acam pame ntos abastecimen-
os garan tidos por base: crech es, restaurante~,. urb~1~~za~t:~• Junto
direito e a segun da está sujei ta ainda ao arbitr às popu iaçõe s urban as
ário (Fale iros, 1979 ). lo, depa rtame ntos autog estio na
A mode rniza ção das instituições, no conte xto que . de teatro e educ ação popu lar.
acaba mos de traba lhava -se na criaç ão de altern ativa s
expo r, implica tamb ém a "mod erniz ação" de seus das
profissionais e téc-
nicos. Daí a adoç ão de inúm eras estratégias de Ness es casos a~ ?ecisões profjss~o:~:~s ~~~c ~la~:
admi nistra ção, plane - ~:;:~ _1:~r~ !\ão
jame nto e análise institucional. Os profissionais t:om as decisões poht1c~s, ~nd~ '. e~tvo est;at égico
devem ser capaz es de
orden ar os recursos, elabo rar meios eficazes,
propo stos pelas instituições.
alcan çar os objetivos
houver essa preoc upaç ao. oi
·\ção era a const ituiçã o de uma orça capaz de gerar alternativas par-
dessa alternativa de
. .
~iculares e globais de respostas reais aos probl
emas sociais. -
4. POSSJVEIS ALTE RNA TIVA S DE AÇÃO Ness e proce sso vária s tende~nc1as .
estavam •
em pugn a· autogestao,
partic ipaçã o, co-gestão, estati zação , sem que houv . • de sedi-
esse temp o
Não só as instituições são conte stada s. Os profission mentá-las face ao golpe de 1973 .
ais, princ ipais ' .
.
atores desses organismos, são colocados em quest
ão e busca m distin tas Uma terceira alt er.na tiva possível é a contra-instituc10nal (Lou -
vias para resolver a contr adiçã o entre sua situa
ção de autor idade ,
. 1977 . 29). Base ada na corre nte contr acu 1tura 1 ':1a pr opug na por
i au, • ' - . . . , l" Uma mani festa çao
pode r e conh ecim ento, posições e comp romis sos uma instit uição '. nao-mst1tu~1ona - • d ' fissio dessa corre nte
ideológicos. nalizados os clientes
A seguir enum eram os quatr o vias possíveis, a partir 6 a antip siqui atna. Os serv1?0~ sao - espro
de experiên- dos) os ;egul amen tos
cias já realizadas.
A primeira estratégia possível para esses profissiorn'
.is é de· inte-
deci~~m, e particip~m ( ~s .. ;sed: ~~:t~ :o ~: st :ções
modiflcave1s, os on?r an . - '
~C: 1 'abol idas. Enfim ,
. em uestão mas até que
grar- se no proce sso de mode rniza ção. Trata -se ordem , disci plina e h_1erar~mat_ts~çºo-~sos:~!im es~u
da mode rniza ção con- ponto pode m sobreviver ms 1 ui turad as? Serão to-
serva dora, para utilizar a expressão de Barri ngton •
Moo re ( 1966 ); o
leradas?
42
43
Fin alm ente , uma quarta alternativa
visa a tran sfor maç ão da cor-
rela ção de forç as inst ituc iona is pela
form açã o de uma aliança, de um
com pro mis so de luta entr e técnicos
e profissionais e as categorias e
gru pos das classes dom inad as visa
das pelos organismos. Tra ta-s e de
um a rup tura com a leal dad e irre stri
ta à violência institucional.
Es,sa alia nça se man ifes ta e se
con cret iza de formas vari ada s
seg und o as possibilidades con cret
as, por exemplo, util izan do os me-
can ism os inst ituc iona is par a ince ntiv Ca pí tu lo 3
ar e apo iar reivindicações pop u-
lares, pon do os recu rsos à disposiç
ão das cam ada s pop ular es das clas
ses dom inad as, con torn and o os con -
A inst itui ção pas sa a ser utilizad
trol es e regu lam ento s. Serviço· social nas ·instituições
ser util izad a par a os fins pro pos tos
a ao invés de utilizar. Pas sa a , . *
_ he ge m on ia e prati
Ma s esta açã o dep end e dos anéis
por cert os org anis mos pop ular es. ca
cria dos no inte rior mes mo das inst
tuições e da força das organizações i-
pop ular es, cap aze s de imp or, des de
fora, com pro mis sos aceitáveis. Ass
im se com plem enta m a açã o de
den tro com as pressões_ de fora.
O pro cess o de reco nce itua ção do
Serviço Social não consiste
son,cmte num a refl exã o abs trat a sob
re mét odo s, mas implica a bus ca
de nov as formas de atua ção a part . . uestão da prát ica institu-
ir de sua pró pria prát ica lim itad a. o desafio de enfr enta r teonca~nóc1~~e
\ \çã o Já se con hec em as
, -
,·ional e tao com p texo qua nto a pr p1 ,a a t
. _ •
, .· as -- •
,nalrizes e os ma t'ize s das. d1scussoes teou c •sobre a prát ica prot1ss1 0-
11al, mas os pr_ofissiona1s de cam estão ansiosos por vislum b rar
. , .- se pos sam via p? b·t· ..'a1· .É no enta nto necessário
1,llcrnat1vas de aça_o_ qu~ t tz . '
km bra r que viab1l1zaçao imp ica . r flitos e con fron tos ,de poderes
con
l' sabe res.
. . ,, l á que se ana lisa r o pro
Pal·a d brir estas altemat 1v«s 1 blem a
. . . esco - d Esta do das d teorias prof1ss1 . .
ona1 .s. 1 t
das rnst1tmçoes, o '
clas ses, as
. f d'd de . . ds o
em um esp aço J1111
l' imp ossí vel de se
fazer com pio u~ J ªte11demos esb 1ta o e
d disc ussq o oça r ape nas um
sem um pro cess o e .· <_ : Aqu i e preas recentes elab oraç ões teon , ·
bala nço de algu mas con tt ibmçoe s qu cas
. . . t a par a em segu . ·cta volt ar a que stio nar
vêm prop1c1ando sob re o e1:1 , i < . . _
a prát ica profissional e o obJeto mes dest a prát ica nas inst1tm çoes.
mo t:- que hoje colocam cente-
Visando esti mul ar º. deb ate sob re
. • · .. Q a qu~s ~~?t ·ça-o par a resp ond er aos
nas de prof1ss1 0nais. ue fazer num a m.-·o 1 ui "lev ar na cabeça ,, , e sem
interesses pop u 1~re~ sem ·perd er ot emp reg ,
cair no assistenc1ahsmo e no _c_o_n_ro_1 da pop ulaç ão?
.~ e__ ___
----. - N ·1on·1l d·\ ABE SS em
" Con fcrê ncrn pron unci. ada, na XX lll Con venç ao ac ' ' . '
. . . . t Serv iço Soci al & Soci edad e,
João Pess oa .. se tem b I o <le 1983 Pub licad o na i ev1s a
..ino VI . •
, n. o 17 , 30 de abnl de 1985 •
44
45
Parece que estamos diante d pocler, dos mecani smos de imposiç ão da ordem, da ·eliminação dos
c_essário, agora mais que nunca eª 2.uadra tura do círculo, mas é ne-
e formula r questões deste 1·onflitos, da exacerb ação da eficiência para a domina ção dos indiví-
t1po depois de termos ouvido . ', n entar a relação
b h as e as alternat ivas da mumera s vezes as p ergunta s: Quais as d11os. No entanto , não enfatiza as lutas sociais, as classes e
rec 't· ? da socieda de existent e.
. pra rca. Qual , . que
a pers Pe c t'1va teonca 1 lu forças, o process o de alianças e de negação
P oss1'b•1·
1 1ta visualizar a m d . .
/\ visão tutelar está associa da à prática do Serviço Social como assis-
instituições não fazem somue ~nça do cot1diano nas instituiç ões? As
n e o controle da clientela? ll-ncia. Não pode reduzir porém essa afirmaç ão à simples relação
. A perspec tiva do control e ue d f' . • 1111L:diata de prestaç ão de um auxílio, nem à redução da tarefa do
tela e assistên cia (Souza Serr; i 982 ~ ;: o
),
Serviço
gerou ao
Social
mesmo
como tu-
tempo 11ssistente social, no capitalismo, à perman ente função de compen sar
a "brecho logia", signific ando ~e nos. rnrências. A assistência social só pode ser entendi da no process o glo-
gum descuido das classes d omman q. mea ndr0 s da tutela haveria al-
tes aos qu • o pro f'rss10nal . h~il de produç ão capitalista, de produç ão de mercad orias pela explo-
estar atento, para aproveitá-los A b ~1s deve
como ração do trabalh o chamad o livre. É no sentido de situar mais ampla-
• d s ~echas s_ao apresen tadas
espaços estático s, como vazios mente a questão da tutela e da assistência que alinhav amos as reflexões
correlaç ão de .forças com o a seguir ~ p e~ e nao como -processos de
• . . ão reduzida ' excl . anahsar emo s. A v1sao .
tutelar da q11e seguem. No process o de produç ão capitalista e dado o nível de
mst1turç '
d . us1vam ente às norn a • desenvolvimento da tecnologia, da divisão do trabalh o e das lutas
omman tes, não considera os c fl' , 1_ s imposta s pelas classes
sociais que se produze m também as aptidões, as adequaç ões dos
dinâmica social global e contr~; .t :t~s ai existentes e muito menos a • indivíduos e grupos ao process o produti vo através da sua seleção e
inseridas.' O caráter disc·1 1·ma d orI ona _em que as instituições estão
p P da mstit • - f o1• destaca do por r1dcstramento.
oucault como para tornar os ind' , . urçao
adestra ndo (adestra mento) seus corpos iv1duos mstrum entos dóceis e úteis , A inclusão, o adestra mento, a seleção estão dialetic amente com-
onde vivem e por onde a d (
d • h
'. esqua nn ando os espaços binados· com a exclusão-, a separaç ão e a expulsão dos trabalha dores
séries de atos que deve; am e~quad .nnham ento)' estabele cendo as tias relações e condições de produçã o. Hoje os trabalh adores não só
compor tamento s (vígilâ . c)umpn r. (genese )' vigiando suas ações e niio dispõem dos meios de produç ão de sua subsistência como tam-
. nc1a e realizando as t - bém dos meios de acesso ao consum o e dos meios de acesso ao em-
trev1stas, fichários (exame) sobre eles e e ~no açoes, perícias, en-
( sanção normal izadora ) qua11d O nao - ' consequentemente, punindo -os prego. Para a garanti a do trabalh o hoje é necessária a garantia do
·d
1ec1 as (Foucau Jt, 1977: 1 25 e 173 )_
se adequa m as , normas estabe- çtnprego, de uma relação de emprego, de contrat o em que o traba-
lliador fica à disposição de outrem. A garantia desse contrat o em que
A instituição é vista como O d , . . . , o trabalh ador aparece como vended or livre de sua força de trabalho
adequa ção às exigências do d omuuo do md1v1duo para sua
que sobre ele se estabele ce ou ' em 6 o fundam ento do ordenam ento jurídico-econômico do capitalismo.
outros termos para "mant po ebr re ele uma coerçao - ' Os empreg os e trabalho s são mantido s tanto pelos organismos priva-
. ' er so sem folga em
f unc1onamento 'normal ' f
e como orça de trabalho a explora r" (B~len, dos como pelo Estado. A oferta desses empregos vem diminuindo
1983: 76).
pelas profund as transfor mações tecnológicas e de monopolização do
. Ap~esenta-se assim a instituição como o lugar da capitalismo e pelas crises fiscais do Estado, aument ando o número
pe1spect1va tem a vantage m d d estacar o peso es disciplina. Esta
T d dos excluídos elos chamad os meios "norma is" de subsistência. As
e pec1 rco a norma crises cíclicas do capitalismo só agravam esta situação (Faleiros, 1983).
no context o social oferece d
' n o uma compre ensão da tecnologia do Sem empreg os compro mete-se a própria sobrevivência. Os excluídos
.
não podem ganhar a vida ou a subsistência com os salários prove-
1. Ver nesse sentido O de • Serra nientes do contrat o de compra e venda da força de trabalho , única
(_~98~: 56). Assim se exprime ~~~~eentie coll11do por Rose Mary Sousa
ça~ _e ui~a reprodut ora de valores f nte num texto pesquisa do: "a
social e em ú'ti
institui- mercad oria de que dispõe o trabalha dor, mas que é empregada nas
anal1se, e a garantia da pró .·. '. . un~a. controla doravigente
. 'dp1 J,i elx1st_enc!a eldo sistema po' rque '1 m~ condiçõ es imposta s pelo capital na luta desigual das classes sociais.
basicam. ente valor , ela é co 1go, e a e lei , ,, , ea e
q
ue os
"S .
erv1ços Sociais não integram cl! a e norma . Paul Singer afirma O fluxo e refluxo da incorpo ração e expulsão dos trabalhadores
de produção
mas desempe nham nele funções •
crucia1·s cle1retamtenlte, o processo
, con ro e' (1978: 17). , no process o de produçã o e empregos não se dá somente de fonna
46 47
~ireta, imediata, abrupta, mas mediatizada or um
t~cas (_r~suitantes de lutas e enfrentamentos p co~junto de. p~Ií- Os trabalhadores incorporados ao processo produtivo podem vir,
cia mm1ma imediata do trabalhador ) que mant~m .ª subs1sten- 11 111porariamente ou não, a perder sua capacidade para o trabalho,
retorno ao trabalho U f e podem contnbmr para um d,•viuo a uma multiplicidade de fatores, entre os quais se destacam os
. • • ma arma de manutenção d b • A •

plica ação pessoal ou familiar ara •. a su s1stenc1a im- 111·1dcntes. Nesse caso, há formas de compensação da perda da capa-
radia, alimentação Esta p - se ~~nsegmr novo emprego, mo- , Idade por intermédio de um sistema financeiro que monetariza essa
fora) pelo capital ~ão tempit~~ª;~t~r~:i~~:ada _(de ejectare = jogar 111 ,·da, oferecendo ao trabalhador uma quantidade de dinheiro (sem-
das, cidades, morar em favela . senao ocupar as periferias 1" e inferior ao salário) pelo dano sofrido. Essa forma constitui um
marreteiros, avulsos, autônom;~ v1verd_como am~ul~ntes, biscateiros, 1111.:c.:anismo de pré-pagamento feito pelo trabalhador e repassado aos
de trabalhado ' men igos, constltumdo uma camada , tlllsumidores, caracterizando a previdência social como uma forma
res na reserva mas estrat •
o processo de acumulação.' A sit - eg1camente _contribuindo para ili· prestação de recursos do sistema geral de manutenção da força
articulada com a perda da ca acida:ª;ªº de exclusao estrutural está 1 ll· trabalho. Os seguros sociais garantem ao mesmo tempo a manu-

como nos casos de acidente l~ve d de trabalho mesmo temporária, 11•11ção do trabalhador improdutivo e uma série de serviços de perícia
lho, n_iuito bem reguladas por lei. i e ~ e de o~tras faltas_ ª,º. traba- ,. de controle do segurado. A perícia ,é o exame constante de sua
o. capital desde ct.U.LP-erca ou ct· -:--· alhado~se-tQt.:.f.l-a-mu-t1l-para 1·11pacidade e incapacidade através de critérios burocráticos e tecno-
balho Para o c a p i t a l ~ immua sua energia, sua força de tra- 1•1 :íticos. O seguro combina-se com a assistência, no mesmo sistema
. • o que esta em Jogo é a manut - d
cidade de trabalho que é a , . . ençao essa capa- 11,lobal de manutenção,2 sendo atribuído aos excluídos do mercado de
que "não , o '., .· propna vida do trabalhador. Marx afirma lrnbalho e privados de rendimentos para poder consumir. No Brasil
e operauo quem compra me· d b • A

de produção, mas os meios de sub . tA __ rns e su s1stencia e meios 11 distribuição de renda é tão perversa que os gastos com alimentação
incorporá-lo aos meios de pro<lu ~1s,,en(: compram o operário para t· habitação alcançam 80% da despesa das famílias que ganham até
1981: 43 e ss). çao arx, 197 9: 36; Napoleoni, dois salários mínimos,3 aumentando-se cada vez mais os gastos com
transportes, quase nada restando para saúde, lazer e educação.
O trabalhador depende do ca ital . .
subsis,tência fazem parte do capitai v . ~ara viver, pois seus meios de E a alimentação conseguida é quase sempre deficitária, não repon-
ção de trabalhar perde també anavel e, quando perde a condi- do as energias do trabalhador e da família. 38,8 % das crianças de
o trabalhador p~ssa a utilizarma;ua manut~nção. Nessa situação é que famílias que ganham de 1 a 5 salários mínimos são desnutridas e para
pelo Estado para a obtenção d gu~s serviços e recursos controlados sobreviver o trabalhador tem que dedicar cada vez mais horas ao
gência estrutural" se . e meios que possam contornar a "emer- lrabalho.4
< , assim podemos nos ex • • ·
exclusão e da perda da capacidade de pnm:r, pois ~ evento da Especificamente, assistência consiste na atribuição de um recurso
relações sociais As formas d . trabalho e determmado pelas e de uma justificativa ideológica legitimadora ( visão ideológica). A

d e recursos podem pre ommantemente pública d b
garantir a , . • s e o tenção atribuição não é doação, favor, pois implica um processo de cap-
como o seguro-desemprego ou 0;~~~:: a~anu:e~ção do trabalhador, tação desses mesmos recursos a partir da própria condição e da
de assistência, em alguns países capitalista;m;~:~es e cheq~es mensa!s exploração do trabalhador. Os benefícios sociais constituem um sis-
culado de seguros e assistência (Faleiros, '1981) ~ de um sistema arti- tema de manutenção mediatizada de trabalhadores improdutivos,
Nos países onde esta gara f d · A •
"direito social" as f n ia - a assistencia não se tornou um 2. Não é à toa que a LBA está articulada à Previ~ência Social. Estuda-se
tórias e t '., . ormas de prestaçao de recursos são também "alea- a passagem da 8juda supletiva do INPS pará a LBA, privando-se o trabalhador
emporanas, como se o desemprego h de um de seus direitos.
cias sociais fossem apenas transitórias ou e as ~ amadas e~ergên- 3. Dados do JBGE para 1974. Jn: Indicadores Sociais. Rio de Janeiro,
naturais como as enchentes e as secas".1 provoca as por fenomenos lBGE, 1979, p. 79.
4. Em 1970 um trabalhador deveria trabalhar 105 horas e 13 minutos para
ter a ração mínima. Em 1978 deveria trabalhar 137 horas e 37 minutos. Dados
1. A política- de ajuda ao nordestino denomina-se do DIEESE, citados por Equipe !BASE, Condições de vida, in: !BASE, Saúde
política de emergência. e trabalho no Brasil. Pctrópolis, Vozes, 1982, p. 18-34.
48
49
incapacitados ou excluídos da produção e por isso mesmo estrita- 1••,lao separadas das contradições econômicas, mas se juntam a elas
mente controlados para não ferir as normas do "livre contrato" de ,k forma diferente em cada conjuntura.
trabalho. O controle aparece como uma condição para quem " nao -
,, "l'b d d " de trabalhar. Esta camada do Serviço Social, por No caso brasileiro, a atribuição de recursos pelas instituições deve
quer a 1 er. a e
1,cr, pois, entendida de forma específica, no contexto de um capitalisma
sua ~ez, mane1a recursos desse processo de atribuição de benefícios
dependente, marcado pelo autoritarismo, pelo clientelismo e pela bu-
do_ s1stem? de manutenção das políticas públicas. Controle, assistência
1 ncracia ( Faleiros, 1983).
e 1deo~og1a do bem-estar ~on~tituem um processo complexo a ser
e~t~nd1d~ no context? cap1tahsta das relações sociais. A clientela, O clientelismo se caracteriza por uma forma de espoliação do
ass1m, nao entra no sistema de manutenção por um ato de boa von- próprio direito do trabalhador de ter um acesso igual aos benefícios
tade d_as class:!s dominantes. Ela constitui um meio e uma ameaça ·,ociais, pela intermediação de um distribuidor que se apossa dos re-
pote?cial ou real ao processo de produção e à manutenção do poder cursos ou dos processos de consegui-los, trocando-os por formas de
domrna1~te. Ela pode tor~~r-se mai~ ou menos uma força ameaçadora obrigações que se tornam débitos da popula<;ão. Elas são cobra-
na medida e°:1 _que mob1hze_ energias na direção de seus interesses, das, por exemp:o, em conjunturas eleitorais ou mesmo para serviços
p~d~n~o c~nd1c10nar certos tipos de ação, estabelecendo e canaUzando pessoais aos intermediários . Eliminando-se a igualdade de acesso, ca-
re1vmd~caçoes e lutas por intermédio de organizações que venham a 1 acterística do próprio direito burguês, o clientelismo gera a discrimi-
conduzi-las. 11ação, a incompetência , o afilhadismo.
cl Est~ ~ote~cial de luta dep~?de da articulação de interesses por O autoritarismo implica o fechamento de todo o processo de ela-
uma org,a~1zaç~o. capaz. ~e mob1hzá-los, o que é justamente impedido boração das políticas públicas à negociação, vindo impostas de cima
pel~ p_ohtica ?hcial e dificultado pelas próprias condições objetivas e para baixo e unilateralment e. O unilateralismo vem a ser a predomi-
s~bJet1vas de ~solamento e premência pela obtenção de algum meio de nância ou a exclusividade dos interesses das classes dominantes, que
vida.__Os serviços prestados pelas instituições são, por sua vez, des- não admitem qualquer perda de seu domínio, tornando rígidas as re-
rnob1h~adores e fragmentad?re s, utilizando mecanismos de informação, lações com as classes dominadas. O autoritarismo não aceita a con-
enca1_:1mhamento. e_ f~eench1mento de fichas que servem tanto para a testação, o questionament o, a divergência, utilizando a repressão como
t' meio privilegiado de rnantei: a ordem social. ;,--
~leç~o dos benefic1anos, controle da admniistração dos recursos, fisca-
hzaçao d~s bens ou propriedades implicados, como para a recuperação Por paradoxal que pareça, o clientelismo e o autoritarismo se
d~. ca.~acidade de trabalho. As exigências institucionais têm uma se- articulam com formas burocráticas de atribuição dos recursos, enquan-
guenc1~:. um fluxograma, ocupando o pessoal profissional no processo to estabelecimen to de uma panóplia administrativa regulamentado ra
de venflcação da elegibilidade para entrada ou saída do benefício e que implica uma tramitação enredada e complicada dos famosos "pro-
cessos" ou "prontuários". Os processos vão de mão em mão, engor-
ª:ompanh~m~ nto do ~ncapacitado, na verificação simultânea da apti-
dando suas páginas com pareceres e assinaturas e enchendo as gavetas
dao, do dll'e1to do cliente e da verossimilhança de seu discurso em
ele funcionários que nada mais fazem que o despacho para outro
relação a~ direito alegado. Discurso e aptidão são examinados para
funcionário. A burocracia brasileira é profundament e centralizadora ,
um p~stenor ~-rocesso de comprovação dos "desvios" que possam ser
concentrando em poucas mãos as decisões e boicotando a população
~on'.ct1~os, .ª fim de corrigí-los. Esta seqüência de atos dos agente~
quanto à informação sobre seus pedidos e demandas. Não raro os
i_nst1tuc10nais_ se estrutura numa dinâmica complexa de relações de
processos são perdidos e esquecidos, apesar da propalada da desbu-
!orça determinadas pela articulação das relações estruturais de cada
- rocratização. Al1.ís, ele tem contribuído para desburocratiza r as expor-
sociedade. Ao . . tempo
. mesmo . em que são controle e manutençao, os
. tações e os lucros da~ grandes empresas. O clientelismo e a burocracia
mecamsmos mstituc1onais •
são mediações de estratégias de sob rev1ven
A _ •;

· b' se compõem com a corrupção. sob múltiplas formas, desde os paga-


c~a, o Jeto ,d_e reivindicações sindicais, de movimentos sociais, de pres- ·~
mentos extra, até a extorsão da metade ou mais dos benefícios que
soes de vanos segmentos sociais. Estas contradições políticas não
1 venham a ser conseguidos por vários intermediários.

j
50 $1
Nes sas cond içõe s é que se situa a prát
ica insti tuci onal com as ,1A hege mon ia do bloc o dom inan te
tare fas de· real izar visitas, entr evis tas, através do clienteli~mo, ~o
reun iões , regi stros e rela tório s, utor itari smo e da buro crac ia envo lve uma
segu ndo dado s da pesq uisa naci onal real 11 cons tant e reart1culaçao
izad a pelo CEN EAS em outu - da corr elaç ão de forças sociais que
bro de 1982.$ Segu ndo esta pesq uisa , perp assa m as instituições com o
68% dos assistentes sociais se 1 ga•· de luta . Este bloc o hege môn
enco ntr~ ~ em tarefas de exec ução . 11 ico não é perm anen te, estável, m~s
No enta nto, se apen as 9, 1 % ,,,na coal izão reno vada em cada conj untu
achan:_ pt1~ as suas ~o~dições de trab ra em que as ame aças reais
alho , som ente 6,7% acha m que m1 perc ebid as das class
es dom inad as se torn em mais ou men
elas sao rum s ou pess1mas, send o que os ma-
46% acha m que são boas e nifestas nas corr elaç ões de forç a. Esta
38, 1 % , qu~ sã~ regulares. Os melh ores s relaç ões e corr elaç ões se con-
salá rios estã o nas emp resa s lorrnam em prát icas de resis tênc ia e
de e~~nomia mista ~ os pior.es no seto críticas, pres sões e cont rapr es-
r priv ado, o que pod e ter se :-.ocs, divisões e alianças, com avan ços
mod1f1cado com o siste ma de reaj uste e recuos. Segu ndo Port anti ero:
sem estra l para o seto r priv ado "açã o hege rnôn ica e socie dade civil
form a~,, junto c~m ~ estra tégia insti
e ª:°ua l para o público. Seg und o os dado da 'guer ra de posiç ões', tucio nal
s disponíveis, a met ade dos uma tram a conc eitua i que 1mph ca,
no plan o das cate-
assis tente s sociais ganh a de 3,3 a 6,7 ,Hias, o dese nvol vime nto de cada
ula a camb iante corre lação entre força ra ~º!11º um con_creto no qual se
vezes o mai or salá rio mín imo 11
.1rtic conj untu
vigente no país e apen as 14% estã o s socia is" (Por tantt ero, 1982 : 152)
num a faixa infe rior a 3 3 vezes •
o salá rio mínimo. As relaç ões de força não se conf und
' em com uma pola riza ção
Assim fica clar o que o assi sten te soci dico tom izad a mas se definem em conf
al é ante s de tudo um fun- litos e alian ças entr e classes,
grup os, frações, cate gori as e indi vídu
ci~n ário públ ico e aind a não devi dam os nas lutas conc reta s do coti-
ente clas sific ado na funç ão pú- diano. No âmb ito insti tucio nal, "a guen
blic a, ao lado de outr as profissões de a de posi ções " implica luta s
nível supe rior, emb ora atua l- pelo pod er de decis~10 e de man ipul ação
men te já haja uma luta da cate gori a de recu rsos e se manife~ta
para mel hora r sua classificação. clar ame nte no processo de esco lha dos
nom es para os carg os de chefia.
~ q~e_ pret ende mos dest acar Nessas lutas , em geral, fica excl uído
é que a auto nom ia desse prof issio nal o públ ico a quem se dirige a
na a~n~Uiçao d~ recu rsos e n~ pres taçã próp ria insti tuiç ão. Não são os doen tes
o de serv iços é limi tada pela s que eleg em os méd icos adm i-
cond1çoes ante norm ente anal isad as e nistr ador es dos hospitais.
pela conc orrê ncia com outr os
p~ofissionais que: disp utam o mes mo Esses conf ront os unem e sepa ram dife
cam po de ação . Sua rem uner a- rentes profissionais, tecn o-
ç~o, no entan_to, não é a de um "pob re-c crat as func ioná rios , chefias. A ocul taçã
oita do", apes ar de não have r o de info rma ções e utili zaçã o
amd a se equi para do, por exem plo, aos de m~n obra s fazem part e de surp resa
enge nhei ros. As insti tuiçõ es s (fato con sum ado ), casuísmos
ond e trab alha , no, e~ta nto, não são _bloc e outr as fazem part e do jogo de forças.
os esta nque s, mas espa ços de Vári as orga niza ções , apar en-
luta ond e a estra tegi a do bloc o dom man teme nte exte rnas às instituições, com o
te pass a pela inte graç ão soci al os part idos , os grup os econ ô-
e. pela tut~la, mas num a artic ulaç ão polí micos e religiosos, disp utam as posições
tica de orga niza ção, cons ciên - que venh am a lhes possibilitar
cia e_ teor ia, ~ue imp lica ação a longo, vant agen s a part ir dos carg os insti tucio
méd io e curt o praz os. A hege- nais .
~00 1~ se defm e pela junç
ão do econ ômi co e do político, pela O cont role é um proc esso que se forti
mza çao de um bloc o orgâ nico que se orga - fica e se enfr aque ce. A
torn a capa z de cond icio nar os assistência é um obje to que se mod ifica
grup os e indivíduos a seus interesses. na luta pelos recu rsos e pelos
Isto pres supõ e a tom ada de direitos sociais. O c)ientelismo, o auto
co?sc!ênc~a dos adve rsár ios, de suas estra ritar ismo e a buro crac ia são
tégia s e de si mes mo, de seus med iaçõ es com plex as dian te de rela ções
~rop no~ ~nteresses, para t~:d~zi-los em que vari am da subs ervi ênci a
mec anis mo de pod er na prá- à rebe lião . Não são fenômenos deco rren
~1c_a co_ttdiana. Esta consc1encia se amp tes de uma lógica implacável,
lia e apro fund a à med ida que mas de proc esso s históricos.
e 1lummada por um refe renc ial teórico
que fund ame nte as ativ idad es
e cana lize os prob lema s. A acum ulaç ão de forç as é um proc esso
político de form ação de
uma orga niza ção, de uma von tade cole
tiva no próp rio coti dian o, que
. ' 5. Dado s da pesq uisa reali zada se artic ula em proj etos conc reto s de
pela Com issão Exec utiva Naci onal ques tion ame nto do clientelismo,
tidades_ de Assis tente s Socia is em outu de En- da buro crac ia, do auto ritar ismo , do man
& Socie dade , ano IV, n. 0 10, deze
bro de 1982. Publ icada em Serv iço
Socia l obri smo , da cent raliz ação e do
mbro de 1982 p. 54-81 . apar elhi smo que visa tran sfor mar a
pop ulaç ão em tram poli m para
52
53
um grupo de contr ole. Esses proje tos concr etos de isform ar-se em meca nismo s de autoc onhec iment o
ação das classes 11111 da popul aç~o
domi nadas impli cam, como já assina lamos em nosso plll'a a elabo ração <le estrat égias co~se qüent es de ~~ão n_a
trabal ho sobre conse cuçao
Meto dolog ia do traba lho socia l (Fale iros, 1981: il,· seus intere sses imedi atos ou media tos? As
Cap. 8), a anális e das reum oes nao podem ser
força s em prese nça, dos meca nismo s de domin ação, it•ios de expre ssão dos intere sses popul ares e de
das forma s de 11 articu lação de es-
r~f~exão sobre . o proje to políti co globa l da socie dade, 1111tégias e tática s para ação?
distin guind o a
v1sao ~orporat1va da visão hegem ônica , analis ando-
se e quest ionan - O desaf io do profis siona l consi ste justam ente na reorie
do-se po~e~ e os poder es, as forma s de domi nação ntaçã o de ~.
institu ciona l que , cotid iano de acord o com a corre lação de força s existe
se maten ahzam nas relaçõ es entre os atores da 111 11 nte, para
vida cotidi ana. As 1 u·ilitar o acess o da popul ação ao saber sobre
relaçõ es ·estru turais entre as classes se manif estam 1 elas mesm as, aos recur-
nas relaçõ es entre 1,· dispo níveis e ao poder de decisã
os atores específicos. O mane jo de recur sos institu 11 o. A relaçã o de saber produ z um
ciona is se realiz a , kit o ideolócrico de desoc ultaçã o ( opost o à camu
nes!ª. r~laçã o, ao mesm o tempo de poder e saber , em flage m), enqua n-
que a forma de 11, que ace;s o aos recur sos facilita uma reapr opria ção do~
def1mçao da dema nda da popul ação, o seu encam O exced~~-
inham ento e a de- t,•s retira dos da popul ação e o acess o
ao poder produ z efeitos polt:1-
cisão t~ma da são estab elecid os para dividir, fragm os de auto- organ izaçã o. O conhe cimen to, os recur sos
entar, culpa biliza r e a orgam zaçao
os domm ados. As dema ndas são assi'U despo litizad 1
podem articu lar-se de forma mais ampla para um proces
as e a soluç ão dos
probl emas apare ce como uma soluç ão técnic a, profis so_ de acum u-
siona l, apolít ica. l11ção de força s capaz de se tradu zir em contra-heg~
!rar:s forma _r essas relaçõ es de força nas institu ições mom,a a~ bloco
de Servi ço Socia l ,10 poder . Esta articu lação pode media
1mphca, pois, capac itar-s e para a const rução de categ tizar-~e pelo mt_ercamb10 mte-
orias de anális e , organ izacio nal com difere ntes grupo s, partid os,
que perm itam dar conta da estrut ura e da conju ntura m?v1ment~s, con_s-
, das corre laçõe s 1ruindo-se alianç as tática s -e estrat égica s. A auton omia
de forç~ _para vincular, no cotidi ano, o probl ema e e a vmc~la_çao
a força, o técnic o tlc grupo s depen de justam ente da clarez a da discu
e o pohti co . .E: na corre lação de força s que se defin ssão dos ~b1et1v~s
em os probl emas ,. métod os de cada um, para, uma negoc iação consc
e també m é por ela que são resolvidos. iente e nao-m am-
pulad ora. Ness~ conte xto dé fortal ecime nto do ~oder
. A anális e de conju ntura , evide nteme nte comp reend
popul ar a luta
endo a con- pelos direit os sociai s não se reduz ao reconhcci_m
Juntu ra institu ciona l, visa o estab elecim ento de estrat ento legal de u~n
égias e tática s benefício mas se tradu z numa quest ão políti ca mais
ampla . A garan tia
para fortal~cer o p~Io popul ar, a muda nça da corre dos direi~os é um proce sso const ante de enfre ntame
lação de forças nto e impli ca a
que deter mma o obJet o de sua dema nda e suas altern luta pela garan tia da comu nicaç ão en~r~-os seres.
ativas de ação. ~~ma nos, da orga~
O fortal ecime nto do saber popu lar impli ca novos meios 11ização, da liberd ade de palav ra, de opm1a?, ~e rehg1a
de utili- o, (Lefo rt, 19~3 •
zação e const rução do proce sso de inform ação. 37-70 ). Um benef ício recon hecid o em le1 nao poder
Instit ucion almen te a ser ~efend~clo
este proce sso tende a se mode rniza r pela inform ática sem a possi bilida de de articu lação , de mobil ização
e a se centra lizar , de mamf estaça o.
pela análise dos dados . Os dados conhe cidos pelo
sobre a popul ação perten cem à própr ia popul ação
assist ente social
que deles deve
Os direit os pol'íticos impli cam os direit os civis e a
volve a defes a de outro s. O recon hecim ento de certas
defes a de uns :º-
comp ensaç oes
tomar conhe cimen to. As pesqu isas podem transf ormar sociais em lei é um proce sso histór ico cíclico que
-se em fonte de muda segun do as
autoc onhec iment o e veículo de ação e as preoc upaçõ crises econô micns e as forças políticas.
es da popul ação
nelas podem ser integr adas. 6 A luta pelo acesso aos direit os passa també m pelo,
As estatísticas, relató rios, exames, visitas e entrev istas profis siona l, pois ~s filas sil~nciosas, à tram~t~ção buroc
~otidíano ?º
recol hem rattc~ , ª? adia-
dados sobre o cotidi ano das cama das popul ares mento dos pedid os é preciso contr apor tat1cas de
que são atend idas . comm21caçao, de
pelas instituições. São forma s de sistem atizaç ão do conhe agrup amen to, de expre ss~o da insati sfação , de man~
cimen to sobre festaçao da pala-
a vida da popul ação, obtida s no relaci onam ento interi vra, de exigê ncias de respo stas claras , de prestaç_ao
ndivid ual. Estas . de conta s, de
tarefa s e exigências institu ciona is, em geral para contr explic ações plausíveis. O silênc io diante do auton
ole, não podem tans1 ;:o p~de ser
apena s um mom ento que fecun de um proce sso de
reflex ao-aç ao c~n-
6. Ver experi ência de pesquisa do Promo rar em scqüe nte, para poste riorm ente coloc á-lo em quest ão.
São Luís do Maran hão. O trabal ho social,
54 55
assim, se inscr eve num proc esso de traba lho
cons cient e e cons eqüe nte
para a obte nção dos efeit os ideológicos, polít
icos e econ ômic os favo-
rávei s aos inter esses da popu lação , com
o meno r desg aste possível
nas suas força s e a meno r perd a de seus
recur sos.
O forta lecim ento do pode r popu lar supõ e
o respe ito à criativi-
dade do povo , às suas iniciativas, às suas difer
enças. A elim inaçã o da
difer ença e das diver gênc ias significa total
' e o reco nhec imen to da diver gênc ia das força
itaris mo. O conh ecim ento Ca pít ulo 4
s se tradu zem em press ão,
mas tamb ém em nego ciaçã o, em discu ssão
de alter nativ as de curto ,
médi o e long o prazo s. A análi se da conj untu
possi bilid ades de cada tátic a em funç ão das
ra most ra os limites e
estra tégia s e polit icas em
Instituições de desenvolvim~nto, *
jogo. Esta trans form ação da atuaç ão profi ssion burocracia e trabalho profissional
al teórica e política se
mani festa na luta ideológica para levar o Serv
iço Socia l a desc ulpab i-
lizar a popu lação das situa ções -prob lema que
em seu imag inári o apre-
senta m as ques tões do cotid iano como resul
tante s de falha s indiv iduai s
ou falta de sorte . A hege mon ia e a contr a-heg
emon ia no Serv iço So-
cial se cons troem a parti r de uma vincu lação
práti ca entre a atuaç ão I C
do profi ssion al e a da próp ria popu lação -alvo
de seus serviços: pro-. ,
fissional e popu lação comp artilh am a cond
ição de traba lhado res, de
cidad ãos, porta nto, de explo rado s e domi
nado s. Mas há um pont o 0 tema das instit uiçõe s e O traba lho profiss1onal e basta nte co~-
comu m, que talvez, se melh or pens ado polit pk xo, pois se torna nece ssári o relac i?n~ -lo
icam ente, pode rá servi r ao co~te ~to de prod uçao
à práti ca profi ssion al: é a cond ição feminina. , repro duçã o das instit uiçõe
Se a gran de maio ria 1 s e profi ssoes no capit alism o. _ _
dos traba lhado res sociais são mulh eres, se
a cham ada clien tela tam- Nest e traba lho abor damo s a relaç ão entre
bém é cons tituíd a de mulh eres, não será a instit uição _e ~rofi ssao
cond ição femi nina, vivid a práti cas ~ociais de classe, no conte xto atual
em comu m no cotid iano de amba s, tamb ém 1 111110 do capit alism o la-
um elem ento dessa busc a 11 no-a meri cano .
de uma práxi s trans form ador a no cotid iano?
As práti cas de classe não estão limit adas às
O cotid iano é inesgotável. O desaf io está relaç ões patrõ es-em -
abert o para sacu dir a 111 cgad os, mas deve m ser enten didas
acom odaç ão, eleva r nosso nível teórico e comp ampl amen te em todo o conte xto
rome ter-n os de mane ira d11 socie dade .
difer encia da e aber ta com os interesses das
classes popu lares nos lu-
gares de traba lho, com nossa s cond ições no As práti cas de classe são relaç ões socia!s. inser
empr ego e no conte xto idas nas estru tura~
polít ico da corre lação de força s que se nos •,11ciais. Poul antza s faz a distin ção entre prati
apres enta. cas de classe e estru tu.
s, sepa rand o as relaç ões de class e das estru
111 ~uras ( Poul antza s, 1972 .
K7). As classes e suas práti cas não são aqui
~epa:ada~ d~ estru tur~
•aicial, pois as relaç ões de expl oraç ão e dom
maça o sa? m~rentes a
,·Nlru tura capitafü;ta. o proc esso de
acum ulaçã o de capit al e contr a-
ditór io e nas instit uiçõe s se prod uzem lutas
para man ter e trans form ar
11 expl oraç ão e a dom inaçã o.

* Este traba lho é uma versã o revist a de


uma confe rênci a pronu nciad a .ª
, de julho de !98 l em Tegu cigalp a (Hori
dura.s ). Mime ograf ado pela Maes tna
,., Traba jo Socia l, da Unive
1 rsidad e Autó noma de Hond uras.
56

l
Esta perspectiva de análise d á• . . A concepção de desenvolvimento é confundida com a diferen-
relações de exploração dominação ~sub; ~1_cas ~stitucionais enquanto 1 lnc,:ão, quer dizer, com uma espécie de modificação específica num
to relações contraditórias não , ' f r maçao e, portanto, enquan-

!:i::!i;~~:~
t1•111po .determinado.

~~ :i:~t~~r~:,t!:;~~~i:
diata 0u mediat ,
:. stfi:dli~õ~~~c~~n~~:~
orça e trabalho 1me-
Esta perspectiva coloca o desenvolvimento como uma seqüência
linear progressiva e a condição para a especialização e para o desen-
volvimento é que os peritos possam trabalhar na solução dos proble-
reprodução é q:e ~:r~n~crceavp1tal e sua! su~ordinação política. Essa
e numa re açao de expl . - , 111:is específicos.
::;~~~
1
9;;;~º
portanto contraditória e conflitiva (Falei:;s~ç1~s;; n~~:! Parte-se ó.o princípio de que, à medida que os problemas vão
•,11rgindo, pelo ritmo distinto em que instituições venham se desen-
Não é esse o conceito que d . - . volvendo, há necessidade de peritos que intervenham nesses proble-
institucionais. Na prática cotidi emerge a v1sao imediata das relações 111as. O processo de desenvolvimento passa a ser visto como problem
resultado de um program f ·t ana par~ce que_ o desenvolvimento é o ,\'0/ving ou como solução de questões que vão surgindo especifica-
ções se propõem como m:tt ;o::~:t1\~ª~ mstituições. A~ institui- mente. As instituições se colocam como soluções de problemas e as
na frática das organizações internaci~::i: : ~~c~o~:::n;~;~:tnto,d e mesmas seriam determinadas por eles. Os programas institucionais
mu ança e desenvolvimento aparecerá co . sso e aparecem como r,esposta a determinados problemas que seriam pro-
dessas instituições. Podemos desd 1 mo ponto d.a mtervenção vocados pela falta de ritmo, integração ou equilíbrio do desenvolvi-
e ogo co1ocar a e ,
o desenvolvimento O result d _ _qu~s ~o: sera então mento social.
desenvolvimento o fruto d a o da açao dessas 111st1tmções? Será o
o processo de uma dinâmi f . O processo do problem solving ou solução de problemas tem
e de uma intervenção de especialistas? ca pro ·1ss10nal como postulado que as soluções mais adequadas a esses problemas es-
A concepção da corrente d . . tão justamente nessas instituições e por isso mesmo esses problemas
o desenvolvimento como um . e pens~me~to fun_cio_:1-ahsta identifica são institucionalizados, porque as necessidades sociais são colocadas
lização que se daria pela mor;::i:~oã ed d1fere_ncrnçao e de especia- cm termos já determinados pelas mesmas instituições.
setor dinâmico ela economia seria o ~í~er : ~~~'.edade ~m que_ algum Na realidade, em primeiro lugar criaram-se os programas para
ao desenvolvimento ao qual O d . ia um ntmo diferente
cm seguida criarem-se as necessidades para esses programas. E estes
para reequilibrar o 'sistema. s ema1s setores teriam que se adaptar
são postos numa lógica tecnocrática que vai do estudo ao diagnóstico,
O processo de desenvolvimento é ent- . . ao planejamento, à avaliação e novamente a outro estudo. Contudo,
processo de reequilíbrio ou um e uilibra . ~o~ v1_suahzado como um esta lógica é determinada por uma relação de poder, de cima para
rentes especializações e por um ~ t 1 ~mam1c_o _através de dife- baixo, e por uma concepção da participação popular vista em termos
. . a m ervençao prof1ss1onal.
A especialização significa que a it _ . . simbólicos ou puramente consultivos.
distintas, criando serviços em fu - sd u~çao se_ diferencia em partes Não existe, em realidade, uma verdadeira participação decisória
relações entre as partes com nçad~d e etermmadas exigências das da população nas questões fundamentais nas quais essas instituições
d preen I as no todo e q t .
esenvolvendo de forma diferente ' p f . . ue es anam se intervêm, porque ao dividir, ao especializar a intervenção e ao esta-
bet, o processo de mudança e d • d ara os _unc1onahstas, como Nis- belecer o desenvolvimento como uma assistência ou como uma mo-
se nota no tempo. e esenvo1v1mento é a diferença que dernização, as instituições dividem a problemática social e a enqua-
dram num processo de profissionalização e normatização.
1. Ve_r, por exemplo, Germani (1972· 13) S " A "solução do problema" deve passar então pelas normas esta-
caractensticas da mudança resid • t. • ~gundo ele, um dos traços
belecidas para resolvê-lo e nós sabemos que as normas estabelecidas
desiguais dus diferentes setores e d:m s~e~ ~a~ate1~a-srncrônico", pelas velocidades
dança são um contír.uo mult1'd1'me . c1el a e. ara ele, a transição e a mu- criam problemas, produzindo-se um efeito contrário ao que se queria
l'd d . , .
ns1ona que se dcse nvo Ive pe Ia nova rac10na-
i a e instrumental da secularizaç-o f ' d resolver. Alguns sociólogos americanos chegam mesmo a dizer que
ciada se especialize (p. 63 ). °
ª • azen com que a instituição diferen- a burocracia não deveria chamar-se burocracia, mas sim "buropatia".
58 59

l_
As nor ma s institucionais são
for ma s de enq uad ram ent o dos - a· s da gestão de cre scim ent o,
ble ma s que elas me sm as det pro - 11ovo mo del o fala nao (m lt· ma s da gestão
erm ina m quais seja m e a atu de la déc roi ssa nce ).
fissional pas sa a ser um a for açã o pro - dn rccessao, - da cris e ges wn
ma de inte rve nçã o nesses pro .
titu cio nal iza dos num esq uem
a já det erm ina do pelas nor ma
As org ani zaç ões se apr ese nta
um coi jjun to de nor ma s est rut
ble ma s ins-
s.
m, no esq uem a funcionalista
, com o
Os ind ivíd uos que t~abalh_am
vistos em term os det erm ma
el~ess:~ ~r: anizações são tam bém

dos hf u:U : lit~ratura (W hyt e,


org ani zaç ão • - com o
ura das em função de objetiv 11i:1is ou_ me nos ada pta dos _1956) ~ue
. ficos. Am itai Etz ion i, 2 que trat os especí- ede ada pta ção do ind ivíd uo
a da sociologia das organizaç 1•-,tuda 3ustamente o pro ces so a org ani za-
ões, define . 1 ºf" das em mais ou me
a org ani zaç ão com o um a est 1.·:10. Sen am as per sa nal ida des c ass1 1ca nos rebel-
rut ura em fun ção de objetiv . - , . . u menos ada pta das a e1
lecidos. os esta be- da orga01zaçao ou ma is o as •
ilL's às nor ma s
As org ani zaç ões se bur ocr atiz . vai-se ace ntu and o o pro ces so
Assim, a ins titu içã o autojustif am e
ica-se, já que se define em
dos objetivos que ven ham a tor no 1 I(; nor ma tiza ção .
res pon der às necessidades soc
ma per ma nen te e a ma is ade iais de for- , . . a lógica do
qua da possível. O cum pri me nto das nor. ~a s burocrat1cas pas sa a ser
A par tir de urn a nec ess ida de • ·o al e o obJeto o pr d ofis sio nal pas sa a ser, não o
abs trat a (pa rcia l) do hom em t, aba lho pro f 1ss1 n
pró pri a definição de org ani zaç , est a b - o da ord em ins titu cio nal
ão estabelece sua din âm ica inte pro ble ma social, ma s a per tur .
term os de eficácia, em term rna em aça l dete 1·m ·1na por
os da rela ção custo-benefício. Po r exe mp lo, se a inst1tm • • - da esc oa sua s nor -
Os benefícios são def inid os ça? . e o fato de não ' usá -lo
pela pró pri a ins titu içã o e os n,as, que a cria nça deva us~r passa a
o são a par tir de critérios inte cus tos " un1f~11:t~ação profissional.
rno s a ela, de· mo do que mu itas :--cr um pro e bl ma " que exi ge umc1 A falt a de
din âm ica destas org ani zaç ões vezes a ~
nad a mais é do que um a mo uniforme é um a pe~turb~ç~o. d nor ma institucional que passa a •.ser
das for ma s pelas quais atu am
. Oc orr e, assim, um a inversão,
difi caç ão obj eto da inte rve nça o Pl:>fiss a ai A instituição det erm ina qne o in-
1on • ~.
os fins se tor nam meios e os
meios se con ver tem em fins
em que divíduo dev a ter cer tos upo s de car nes , d e doc um ent os, segundo um
org ani zaç ão, por que a ins titu da pró pri a
\ içã o pas sa a se con sid era r com trâmite. Se lhe f a lt a u m doc um ent o que e, det erm ina do pela. nor ma
em si mesma. o um fim -: segue a orei em est"b ele cid a há profission · ·
institucional e se nao u '
ais
Se ana lisa rmo s a teo ria das org que pod em inte rvir nestes c~so
anizações de Daniel Bell ( 198 s_. , ue está em jogo, pois se pod e
por exe mp lo, que as con sid 2), Nã o é u111 pro ble ma do md1v1d
era com o o fim das ideologia uo q
as organizações não teriam ma
is fina lida de ideológica ma s
s, qua ndo .
per feit am ent e viv doc um ent o mas e, u m pr~ ble ma de per tur -
tec nol ógi ca e tec noc ráti ca, pas pur am ent e er s~m . 'deve ser trat ado de for ma
sa- se a ver que é a ideologia baç ão da ord em ínst1tuc10nal pro -
niz açã o que com eça a dom ina da org a- que ,
r, tom and o ela sim um a for ma fissional.
tifi caç ão da tecnologia. de mis-
Pas sa- se a cre r que atra vés Pos so dar out ro ~xemplo, no cam po da saúde. Pel o f ato de que
de simples arra njo s tec noc ráti - fumar o fato de fumar
pod er- se- á resolver os pro ble cos Ulna nst·1·tuição incentive fum ar ou nao

1
,
ou
ma s sociais. Est a cre nça na não fum ar pas sa a ser obj eto inte rve nçã o, por que se esta be
um nov o tipo de ideologia. téc nic a é de um a -
Nã o é o fim da ideologia, ma . ou um
ideologia que está sur gin do com s sim um a Ieee um a nor ma , con trol e.
o pró pri o desenvolvimento das .
des organizações. gra n- _
A inte rve nça o pro f1ss1 .• 1 pas sa a
0na - - maser enqu adr ada não em função _
da problemátic:1 real da pop s em fun ção da pcr tur baç ao
É assim que se fala de nov ula çao ,
os tipos de gerência, de mo del
nistrativos, de adm inis traç ão os adm i- d dem ins titu cio nal .
por. objetivos, de "or çam ent a or
o zer o". O .
Par a ma nte r esta ord em , este ont role político institucional, de-
e f as presente$ o profissional
2. Tex tual men te diz Etzí oní
( 1980: 9), reto man do Par son term ina do e van·:av e1 ' con for me as orç ' .
nizações são unid ade s soci s, que "as org a- . ·t . ão ·
con stru ídas ou reco nstr uída s
ais (ou agru pam ento s hum
ano s) inte ncio nalm ente deve submeter-~e a, s nor ma s da mst1 uiç , criando-se um a hie rarq uia
com o fim de alca nça r obje de sub ord ina ção e de pod er num . d d ont rol e de cima par a aixo. b .
tivos espe cífi cos" . a ie e e c •
60 • 61
Est a sub ord ina ção , ent re out ras . .d por det erm ina das car.acte
form as, se dá ent re agentes pri- . . 1
vilegiados e agentes com ple me
nta res .' Os ato res ou agentes
11111 pro f 1ss1 0na não pod e , ser d ef m1 o
. •oso· •as car act erís tica s de f.mem
rísti-
gia dos de um a inst itui ção são privile- I t nos leva a um c1rcu1o v1c1 o
aqueles que por sua prá tica leg 'i,~ •.. s.o é definido pel as car acte nsti • , .
a exi stên cia da instituição. O itim am l'I llltss1onal e este cas .
médico, atra vés de sua prá tica . . ue as instituições apr ese nta m
leg itim ar a exi stên cia de um a , vai .Ê s_omente en;i, seus ~~s um a
inst itui ção de saú de. O pro fess c;;s osr !lem as" pela com pet ênc
tim a a prá tica das instituiçõe or legi- 111cionahclade de solu ça ia profis-
tuições ·jurídicas. O eng enh eiro
s edu cac ion ais. O adv oga do,
das insti- •11011al ou ~or seus " rog ram as .
,P O ct·s 1 curso é ger ado pelos mesmo!>
Est es agentes privilegiados, cuj
, as instituições de con stru ção
etc.
,f
p1 ol'issiona1s que ~e . oc~ pam
,, dos pro ble ma s. Par a tan to, se •
auto1us-
as prá tica s são cen trai s par a a i il'icam com o proflss1on t me smo discurso. Seu sab er
instituição, se aut ole giti mam pró pria a1s com es e apa re-
sem nec ess ida de de agentes · 1 d d s relações de pod er.
com ple me nta res, profissionais ou atores , r iso a o a.
que têm de se sub me ter às prá
agentes privilegiados. Est es difi tica s dos , • f zer um a ana'l'1se m a·1s pro fun da das instituições e
É nec ess ano
cilmente pod em ser ma nda dos a _ t ·e .
da instituição, por que isto imp
lica ria o seu fec ham ent o.
em bor a que stio nar nao - me
so nte a re1aça o en i os atores• den tro das institui-
.
1 - dessas 111s I ui ·t·t •ço- es com O con tex to global e d
A prá tica com ple me nta r car acte i,ll<.:S, ma s a re aça ? d 1 t de clas•ses Ao me smo
ferm age m e o trab alh o social,
riza cer tas profissões com o a
en- 11cumu1aça o o - d cap ital e e ua • tem po, locah-·
que não têm na Am éric a Lat . . sa tota lida de con cre ta. Ess e
ina um a ,ar o lug ar do pr.ofiss_1onal nes
inst itui ção específica par a eles
, por que as instituições par a ' q e pod e ser apr ese nta dolug ar verr:
de modc
são dirigidas por adv oga dos , cria nça s '.,c moclificand~ h1s ton
por políticos ou sim ple sme nte ca~ 1~: :\1~ bo~ ado s por Joh nso
par ent e de um político. por um •,umário atra ves dos mo e n.
pro ces . f. ·on aliz açã o é um proces
Nã o é a prá tica do assistente soc Sab em os que o . .- tem so de pro issi so
ial em si me sma que se enc ont histórico. Se cad a profissao_ sua especificidade ( os méd ico s
privilegiada nas instituições e ra d H'p fa~e ~1
por isso ele se col oca com o ato •
q_ue são 1 o'cr·ates) ' é necessúrio anahsa-
ple me nta r, atu and o na ma nut
enç ão da ord em inst ituc ion al
r com - que stão de d izer ' . filhos e term os globais . Pod ere mo s ident1- ·
nad a pelos agentes privilegiados. det erm i- la não de for ma iso lad a,f~ ~s
• del e111 :zaç ão de1 )end end o das rela
l'i<.:ar tres mo as- de pro ·1ss10na 1 ções de
A rela ção ent re esses ato res, a , ;- /
çõe s é um a rela ção com ple xa,
clientela e o púb lico nas institui
-
incerteza e aut on om ia de um a ocu paç ao, na rela ção pro dut o con -
que nós vam os a seg uir ana lisa ~11midor.
for ma mais específica. A inte r de
rve nçã o profissional ser ia aqu . .
No prim eiro !elo mam.fest a-se segun do Ter enc e Y. Jobnson,5
realizaria o bem comum. Est ela que moc .
a é a ideologia intr oje tad a por
mu itos u dom ínio da clientela sob re obp . f -'onal É o caso de alguns arqu1-
profissionais, cre nte s em) que, ~o iss_1 a qu.a nclo têm que con
vão esta r a serviço do pub lico
ao assumirem det erm ina da pro
fiss ão, tetos que t rab a lham par .
a a u1 gues1 stru ir a
.· um a el pre dom ina nte . Foi.
car acte riza ria por um a série de
no interesse público. O pro fiss
elementos, com o pelo fato de
ion al se º,
casa pelo cl~ente •. clle_n~e- te~'
das exigências ohg arq rnc as, .ª, gra !d~ s cor por açõ es e de algumas
o caso
com um salário par a ate nde r viver ,is
a um público e por ter um a com uni dad es.
específica.• Est a é um a visão isol for ma ção r· .
ada do con ceit o de pro fiss ão, teri a um critério de domina-
por que N o seg un do mo del o ' o pro ·1ss10na1 . .
,·ão sob re o cliente, com o no das cor por açõ es medieva is, que
3. José Aug usto Gui lhon de
Alb uqu erqu e ( 1979) dist ingu det erm ina vam as nor ma s de atu ca~ o do pro fiss ion al e às quais ele não
ções três tipo s de ator es: "os e nas inst itui- aça o
men te a ação inst ituc iona l), priv ileg iado s ( cuja prát ica con cret iza ime diat a- pod eria fugir•
os sub ordi nad os (não tota lme
e o pess oal de apo io. O man
dan te é aqu ele a que m se pres nte reco nhe cido s)
agen te priv ileg iado , que dete ta con tas e é um 5. Par a J ohn son ( 197 7), . ·ofis são não é uma ocu paç ão,
rmi
prop ried ade , func iona l ou inst na um man dato , em funç ão da rela ção de meio de con trol e de uma ocu ~•~•' p1 ;·ofissionalismo •é um tipo_ pec ulia r. de
mas um
4. Ver , neste sent ido, Talc
ituc iona l.
con trol e ocu paci onr. l (_p. 43)
paça o. º. ~- que "em toda s as soci edad es
d1fe-
cied ade mod erna se cara cter ott Pars ons ( 1954: 35-4 9). Par a Par son s a so- rcnc iada s a exnergêncla d_e
. ob.f~to~ s •~cu paci ona is espe
cial iwd as, que r ?e
iza por ser aqu isiti va, mas ~a './1 ~-~/: ·ões de dep end ênci a econ ómi ca ~ _soc
busc a seu interesse, mas a real o prof issio nal "nã o ben s prod utiv os ou de serv iços ial
, cd1 _< . . ç
da ciên cia" , na "rac iona liza izaç ão de um serv iço para clie ntes ou o ava nço e, para dox a 1men t e, ie• laçõ es de iHa ncw social • A dep end ênci a de hab ilida des
ção inst ituc iona l" que valo rize -.
tle outr os tem com o efei to a • ~ da exp eriê ncia '\h d
técn ica" . sua "com petê ncia ret1uça o com part i a a e. aum enta
" dist ânc ia soci al ( p. 4 l) •
62
63
. O terceiro é o modelo da media ã . .
a rntermediação entre a cl' t l ç o, em que o prof1ss10nal faria A questão do poder nos leva a considerar as instituições de uma
. . ren e a e as normas i t't . .
d efrnmdo as necessidades f ns , uc10na1s, ambas pc.:rspectiva política e ver as normas institucionais numa relação de
e as ormas como devem ser satisfeitas 1orças sociais. O saber se insere nessa correlação de forças para tra-
Esses modelos são formas h. t, . •
cesso de decisão do trabalho . is oncas que vão surgindo no pro- duzir na prática um conjunto de relações sociais de práticas de classe
imposto pela produção que poderíamos chamar de hegemonia. As instituições só podem ser
entr~ as dasses sociais e a d' . - d e pe 1as relações
lação do capital. rv1sao o trabalho no processo de acÚmu- l'ntendidas no processo da hegemonia. E o que é hegemonia?
A hegemonia só pode ser vista nas relações de exploração e do-
A divisão do trabalho no modo de r :- . .
pela separação entre trabalh d _P od_uçao cap1tahsta passa minação existentes numa determinada sociedade. E é o processo de
entre produtivos e improdut~o:re~ -?1ª~uai_s e mtelectuais. A divisão realização da dominação através, justamente, de sua aceitação pelas
O que é ciaro é qu b o;e e pi ofu nd amente questionada ,·lasses subalternas.
e os tra alhadores qu .b . •
para a produção da mais-vai' - . e contn uem diretamente A dominação "não-aceita" se converte em rebelião, desordem,
situação daqueles que são i Id~ .sat o produtivos. Mas fica em aberto a ameaça. A dominação "aceita" se torna legitimada. Maquiavel dizia
. • n ne amente produtivos .
pois o capital submete todos , 1' . d . . ou improdutivos, que o Príncipe tem que ser amado e temido, mas se ele não puder
. . _ ª ogica a produtividade. ser ao mesmo tempo amado e temido, teria de ser pelo menos temido
As d1v1soes de trabalho se d-
duçâo ou a produtividade ao como forma de aumentar a pro- t: não odiado (Maquiavel, 1979: 71). Esta é a conclusão de um dos
d os agentes produtivos. ' ou como formas de c on tro 1e e de poder capítulos do Príncipe. A hegemonia desse processo de "aceitação da
dominação" pela busca do consenso, do consentimento das classes
A complexidade da produ âo cond ,· . subalternas a uma dominação que se pretende mais adequada, "não-
consumo, retirando do consumi~or o uz a uma _c~mplexrdade do dominadora". As relações de poder nas instituições se inscrevem no
!ores-ele-uso. Isto implica uma no d_P?~er de dec1sao sobre os va- contexto dessas relações mais amplas do processo de dominação
profissionais implicados na prod ~a IVIsao de trabalho, que cria os política.
tico da população. Esta separa:i;º;, no_ consumo_ e no controle polí-
A ecnrca se articula politicamente A ''dominação legitimada" se traduz concretamente nas institui-
ameaça a esta ordem produtiv . . • 1:ões pela disciplina que elas impõem. A disciplina é fundamental para
fundamental que a simple a em seu conJunto é muito mais a manutenção do poder. Ela começa já na família, fortalece-se na
institucio1ial de forma parti:u1:me;ça a tm~ perturbação da ordem escola e é exigida em todas as instituições.
nesse contexto global nas p ,/" ~ pro issoes devem ser localizadas
minação. , ra tcas e classe de exploração e de do- A disciplina é uma estratégia de transformação da clientela em
sujeitos dóceis e úteis. As instituições, ao se apresentarem como pro-
A q~estão que se coloca agora é se . é , . . . - hlem solving, estariam realmente só mostrando uma face, para desen-
na subordinação se é po , l f poss1vel fazer mediaçao vol'Ler a disciplinação social, o controle social. Os profissionais, ao
, ss1ve azer uma relação de t · A •

os interesses da clientela ou d· l· - • rans1gencia entre intervirem neste processo, não estariam exercitando o papel de po-
institucionais sendo qt1e o p .ª f~o~u açao que se atende e as normas liciais, mas de policiamento político, na dinâmica das relações -~stru-
' 1 o 1ss10nal , · b ·d .
normas institucionais e ao t e su me.ti o, subordmado às turais e conjunturais.
con exto global B po·s • d' ,
1 111 1spensavel
vantar o problema das rela .- •• Je-
. - çoes entre o saber e o pod r N 1· Sabemos bem que a política de saúde não se chamava inicial-
a v1sao tradicional do poder em rei - , . - e • a rea idade,
ração entre o saber e o pod. . açao a prof1ssao faz uma sepa- rncnte de política, mas sim polícia de saúde: para disciplinar a po-
. e1 como se ambos pude . pulação a viver em determinados quarteirões considerados saudáveis
e a mtermediação do saber d . ssem ser isolados
t d I • • pu esse ser apenas uma q t- d cm oposição a outros considerados insalubres; para disciplinar os
o o ogia, caindo-se então no mito d , ues ao e me-
nova metodologia pudesse resolver ~ mttodo. ,c_omo se_ buscar uma enfermos a guardarem quarentena para não contaminar a população~
estaria independente das rela - d p oblematica social: O saber ... para disciplinar a cidade a viver segundo certos comportamentos. Se
çoes o poder.
o indivíduo não os adota, é considerado culpado.
64
65
,
As instituições transformam as próprias v1'fimas em reus.
acont Isto A intermediação estatal nesse contexto se desenvolve em con-
ece, por exemplo, no caso de crianças que vão à Justiça quando p111t uras específicas, fazendo com que o povo seja destituído de seu
co;;etem furtos. São acusadas e responsabilizadas pelo furto mas poder e saber por intermediários, funcionários e profissionais que
::d:-se que elas furtam porque têm fome. Então são vítimas da 'socie- p11s:-.arn a exercer esse poder no cotidiano.
'f que as tran~forma em réus. Este processo de transformação de Essa busca da disciplina e essa implantação da culpabilidade e
;aur;:: em réu nao ~e faz somente nas políticas relativas à criança. tia culpabilização como resultado do próprio processo global de hege-
m em os economistas o fazem em relação ao salário cul 1111>nia não é tão rígida e mecânica. Existe disciplina porque existe
t:abalhadores_ pe_la inf~aç~o, dizendo que não podem au~enta~:~d~al~~ 1l·ação, confrontação e indisciplina. O processo de tomada de cons-
nos porque sao mflac1onarios e os trabalhadores passam 1 i~ncia é também um processo real que muda as relações entre os
sabilizados pela nova inflação. Produz-se um processo a sler resplon- profissionais e as normas da instituição e este conflito que existe nas
• t' • - pe o qua as
ms \tuiço~ culpam as vítimas dos próprios problemas que elas pensam Instituições nos mostra que elas são lugares de conflito, são lugares
reso ver. m vez de resolverem os problemas reais transformam-nos dt.: luta, são lugares em que as forças se enfrentam e é neste sentido
~m. P;oblem~s dos indivíduos que têm acesso a ess~s instituições •Os que nós podemos entender o processo de mediação.
rnd1v1duos sao responsabilizados pelos problemas so . . • Gramsci, a quem se deve o desenvolvimento do conceito de
mado d 't' cia1s e transfor-
s, e v1 imas desses problemas, em réus. lii.:gemonia, dizia em 1925, na Itália, guando se discutia o problema
da maçonaria: "Que significa a luta contra a maçonaria? Significa
e ?~ meca~isi:no_s que agora estamos analisando de maneira mais
d h . luta contra a burocracia que constitui, tal como é, um fator essencial
spec1f1ca, a dzsc1plma e a culpabilização como fo
institucional t . ' rmas e egemoma de equilíbrio alcançado pela burguesia na lenta construção do Estado
rei - d , se ornam, ao ~esmo tempo, tarefa profissional na cor- unitário. Mudar os critérios políticos e territoriais de recrutamento
açao e forças d: deterrnmada conjuntura. da burocracia, e a isso tende precisamente a lei antimaçônica, signi-
. Quando a disciplina é exercida, ou melhor, como é im osta? :e fica mudar profundamente as relações de forças sociais em equilíbrio"
Justamente _quando há possibilidade de insubordinação. Ser~ u~ o (Gramsci, apud Portantiero, 1977: 215-6).
~onsens,o na? t_e~ essa função catártica? E essa função catárti~ - As instituições são relações de forças. A burocracia, ao mesmo
e tambem d1sc1plma? nao
1cmpo que implica um processo de dominação, representa também
6
A luta pa~a im~or a disciplina e o controle cotidíano sobre as um processo de equilíbrio instável de compromisso entre as forças
e
p ssoas e as coisas visa preservar a propriedade a pro d uçao - . sociais.
divíd d · , e o 10-
. t' u? _pro utivo. A propriedade deve ser garantida por inúmeras A mediação se torna possível porque as forças sociais se enfren-
l~~ t~mç~es, por exemplo, o poder jurídico. A produção e a produti- tam no cotidiano e de forma muito complexa. f: um erro só conside-
rar o confronto de classes e forças a nível dos sindicatos e do partido.
~~ a e sao o fun~amento ~a ~xp_ansão capitalista e se mantêm através
· d'1v1'd uo produ- Estas são formas de organização que não excluem outros tipos de
, de mst1tu1ções articl1ladas · o m
nd
r gra e quantidade
. <.:nfrentamento e, portanto, de estratégias.
1vo e ~onsum1dor e formado e controlado por uma rede institucio-
, .
nal, po1 apara tos de hegemonia que o fazem útil . e d,oc1·1 , ou, no mm1- As próprias instituições, ao constituírem determinadas clientelas,
mo . , . criam condições de agrupamento e de manifestação de forças favo-
' menos mutil ( ao capital) e menos rebelde.
ráveis e opostas a seus programas e mecanismos de manipulação.
disciplinar articula o poder ao n1'vel do co t'd'
· relação
A . 1 iano com As clientelas, o pessoal, os profissionais, os tecnocratas, os man-
seu s1~tema de recompensas e punições e a inculca como
pelo sistema de culpabilização. ideologia datários se movimentam num campo e~pecífico de forças, utilizando
recursos e poder para impor, dispor e propor formas de prática. Estes
cnfrentamentos são mais ou menos manifestos ou latentes nas mano-
• 1·
6. O controle e a d'iscip ma não são estáticos, imutáveis e permanente~. bras cotidianas para obter recursos, favores, lugares e decisões.
66
67
A batalha inte~institucional pode ser ocasião favorável a certas
,IL- desenvolvimento da cidadania está vinculada às formas em que o
!utas populares a fim de obter vantagens imediatas segund
interesses. o seus l •.-.tado se manifesta na América Latina. Algumas burocracias consi-
1 kram suas instituições como verdadeiros feudos, em uma relação
Na A~é~i~a Latina, a burocracia formal e típica-ideal de Web /1//trimonial com a clientela e não em uma relação funcional. Elas se
tem u1:1a ~1g~1f!cação diferente da de outros países, pois está marca:: 1 • 1 0cm donas das instituições, donas dos favores. Os direitos à cida-
~ela d~st~1bu1çao de favores, pelo nepotismo, pelo paternalismo A dania são vistos como verdadeiros favores que se dão aos indivíduos
uro_cradcia Etem exercido um papel preponderante no processo de for •,ol icitantes dessas instituições.
maçao o stado. -
.Ê nas relações de poder que o saber tem condições e limites de
Tomando-se por exemplo o caso do B. ·1
, d C ras1, ve-se que desde a
A
A • ·1cr mediador. Os interesses da clientela e os interesses de lealdade
~poca a olonia a burocracia "Dei Rey" s . d . ., .
para a l t d . ervia e mtermediana 11s instituições entram em conflito não poucas vezes . .É aí que, mais
. d . coe a e imp~stos e distribuição de favores. Promove-se um do que nunca, se torna imprescindível a análise da situação concreta
~:l~~tn~l, u: co~e~ciante necessitado, para o exercício de seu tra- da correlação de forças.
. ' o neplac1to da burocracia. Esta burocracia foi adq .
nndo uma certa im O tA • lll- Apesar da subordinação do profissional, do fato de ser assala-
. p ~ ancia na própria formação do Estado lati-
no-am:1cano e bras1le1ro. Com a mudança das formas de Estado 1 iado pela instituição, de estar submetido às normas institucionais,

~;:an o-s~ a. Es·tado nacional independente, a burocracia teve tam~ l'ic também está vinculado ao cliente. Há quem busque nas institui-
d . a c~ntmu1d~de de manter estas formas de distribuição de favores 1;ões formas de relacionamento. B possível uma forma alternativa, é
e e co et~ de im~~stos que caracterizaram as relações do Estado possível desenvolver o modelo da mediação, é possível ocupar espaço
com a sociedade c1vd. político, é possíve.l tratar as pessoas não como súditos e clientela,
111as ;;orno cidadãos. São as lutas sociais que têm impulsionado novas
IA !~-plerr_:entação da dominação, a manutenção das disciplinas e
formas de relações entre a clientela e as instituições de desenvolvi-
a cu pa r i~açao, conforme analisamos, súo especificamente vivencia-
d as na conJuntura de cada país. 111ento social, exigindo destas a resposta a seus problemas e é justa-
mente através desta pressão que novas formas estão surgindo para
'f' A instituição que analisamos abstratamente assume formas espe buscar novos tipos de relações entre as instituições e a população.
CI 1cas de Estado em cad f . - , ' -
.. . . a or maçao socral. No contexto latino-ame-
~1c~no,, ~ subordi?a~ão ~rofissional, além de estar vinculada às formas Com esta pressão, vários profissionais estão mudando suas for-
u~ ocralttc~s, esta msenda nos tipos de relações específicas dos 111as de relação em aliança entre eles e a clientela. Buscam utilizar-se
paises atino-americanos p 0 . • das instituições, não para submeter a clientela, mas para poder vin-
n b . • l exemp 1o, para conseguir-se trabalho
a urocrac1a estatal, é necessário ter um parente um t1·0 l . t cular-se a .alguma problemática que as organizações populares se co-
med·' • · , , 1m 1n er-
iano que mterceda pela pessoa. locam. Esta utilização se faz segundo as possibilidades e as oportu-
A ate?ção à clientela, além de caracterizada por disciplinário 11iclades que existem em cada uma delas.
~ a c~lp~bihz_aç_ão pos~u~ ? caráter clientístico, que tem sua origem Faz-se necessário, com esta estratégia, saber avançar e saber
o pr?pno p10cesso h1stonco do surgimento das burocrac· !· · retroceder porque há momentos em que o conflito se torna tão grande
americanas El • ,tas atmo-
- , . • ~s serviam e servem de intermediários entre o oder que pode levar ao próprio fechamento da instituição. Na realidade,
polit1co e a sociedade civil para a distribuição de fa p
de lealdade. • vores em troca são poucas as instituições que fecham. O que mais se observa é a
ucomodação, os profissionais passam a acomodar-se às instituições,
A ~lientela não é considerada com os foros da cidadan·a . passam realmente a se identificar com os seus objetivos e assim perdem
~~mo cl1en~el~. Há um~ distinção entre O cidadão e O cliente.'o eci~: sua própria identidade: transformando-se em simples executores, sem
ª? tem d1_re1tos, o cliente, favores. Há quem diga que nos aíses nenhuma reação, acomodando-se totalmente às funções determinadas
latmo-amencanos não há cidadãos mas súditos O , . p
, . propno processo pelas normas institucionais.
68
69
Fic a o desafio, par a sup era r
novas for ma s de aliança e ver
a aco mo daç ão, o desafio par a
se rea lme nte essas instituiçõ
bus car Pa rt e II
dizem de des env olv ime nto pod
vol vim ent o de nov as for ma s
em se tran sfo rma r em meios
es que se
de desen-
Pa rt ic ip aç ão e po de r
de pod er pelas alianças que
feitas. Evi den tem ent e não há pod em ser
nen hum a fórmula par a isto.
de pro fiss ion ais deve fazer Cad a gru po
um a análise con cre ta da situ
for ças , pre ssõ es e enf ren tar açã o, das
o desafio de ser o inte rlo cut
de um blo co his tóri co da tran or orgânico
sfo rma ção .
Est e pro ces so de me dia ção
tem seus limites estr utu rais ma
C ap ítu lo 5
é por isso que se vai ado tar s não
o pos tula do de que tod as as
são me can ism os e ins tru me nto instituições
mir as classes sub alte rna s.
s do cap ital par a exclusivame
nte opr i- Po nn as id eo ló gi ca s de part1. c1• ~ *
Os limites estr utu rais imp ost
paçao
os pela acu mu laç ão do cap ital
tam bém modificáveis pelas são
crises da pró pri a acu mu laç ão
arti cul açõ es econômico-polític em suas
o-ideológicas.
Se é ver dad e que os profission
ais têm que cum pri r tarefás imp
tas por esse pro ces so de acu mu os-
laç ão, é preciso levar em con
que ele é con trad itór io e, por sid era ção
isso me sm o, din âm ico e pro
Um a visão dem asia do eco nom cessual.
icis ta do processo de acu mu , nce itos mais utilizados na prá
tem par alis ado um a tom ada laç ão Par tici paç ão e um do~ co tica
visão institucionalizada. A pri
de iniciativa profissional tan
to qua nto a t•, um dos me nos con sen
o car áte r ideológico que o envsocial
me ira refe re tud o a um ma qui suais, ~ad o , olve.
est rut ura l e, a seg und a, a um ave lism o /\ssim, tan to nos regime • fas cist os dem ocr átic os, fala-se de
as com
1 ·, o a "pa rtic ipa ção " da
11
vol unt aris mo dos atores. A . . s •
par alis a por neg ar esta iniciati
va e a segunda, por atri buí -la
prim eira - T 0 dos os gov ern
1rnrt1c1paçao. os a meJam pop u \ a-
. . - f
e ma nda nte s. aos chefes ç:"'lo em seus progra1nas ' em seus or os • As inst1tu1çoes al am de
, ·g-a
, .· . as grandes orgarn.zaçoes -
par tici paç ao . ?s e r2en dtes fun
- d e dos usuar ios, pro -
A vis ão institucionalista tem
lev ado a viver-se o imp act o, cio nár ios e em pre gad os.
gur anç a do emprego, esq uec end a inse- põem a part1c1paçao e
o-s e de que os chefes tam pou .
por sua vontade, ind epe nde nte co atu am • •
A pal avr a par tici - per me ia to dos. os me and ros da vid a da
me nte , e que se enc ont ram paç a 0
relação de forças. num a cor - • ·1 d s apa relh os do E s t ª do da vida cot idia na.
14ociedade c1v1 , o ,
d'f . nte s tipos e serve de de-
A pos tur a eco nom icis ta refere
tud o à est rut ura , esq uec end o A partic1. paç-ao e, c lass··fic
i ada 1 em 1 e1e .
as classes e forças sociais são
estruturais.
que l'inição a out ros con cei. tos com 0 0 de ma rgm • a, 1·ct
1
ade, concebida pe l0
As alternativas con cre tas de
din am iza ção da luta a nível
con jun tur al sup õem estratégia local e * Pub lica do em Ser viço. S ia/ & Soc ieda de, vo l . I II o
, n. 9 , ago sto de 1982.
s de enf ren tam ent o de um a oc •
posições ent re forças que se gue rra de 1
1. Alb ert Mei ster (19~ 2 : !.6 9) dist ingu e vo un ana
t . do de part icip ação . O
deslocam seg und o sua com bat
org ani zaç ão e mobilização. Foi ivid ade , J)rimeiro é livr e e não -t,b ng? .- e un..ia é mai s ou men os b. t' ·a
assim que os trab alh ado res gan No caso do volu ntar iado , ton o ~ a ~/ par ticip açã o volu o _nga on •
esp aço no inte rior da pró pri har am ha um tipo .· dos pelo grup ntár ia, cna d~ peào
a fábrica, o red uto inq ues tion . o. Um segu ndo t1p_o e
classes dom ina nte s. áve l das pró prio gru po, com co mpo rtam ento s cu1 ia nov o
1:.r ticip ação é a susc itad a
por um gr P Ontos dese exte rno, pocIen do .ser mai s ou
:1~enos vol unt ária e. e~ig i~do jado s pelo exte nor . Um ter-
l'Ciro tipo é a part 1c1p açao /ºT ~~ rt:: ::\r upo s trad icio nais preexiste_nteÁ ~º!
repe tiçã o de comportament_o ~ a d e·áv eis pelo
s Julg ado s a e~-~rticí~)ação gru po e seu mei o.
inst rnm enta l nas gran des
1icip ação vol unt ária
evo luiu par a um,
org aniz açõ es mod erna s.
70
71
DE SA L com o falta ou aus dn se o pov o de ser inc . de vot ar inc apa z de escolh
ência de par tici paç ão, no con
dua list a que opõ e soc ied ade tex to da teo ria apa z ~, . ,, em processoser glo e inc apa z
tra dic ion al e soc ied ade mo
der na. 2
ik decidir, jus tifi can d
o-se sua "ausenc1a bais de
A par tic ipa ção de um con .
1111tureza soc ial e po nc 1 1a
tingente det erm ina do de pop • _
vista de um pon to de vis ula ção é
ta de inc lus ão/ exc lus ão em Os pro gra ma s gov ern am ent • e pro poe m a mu dar essa inc apa -
específicos. cer tos setores ais s viver um pro ces so de "ap ren
, nlade, a 1eva r o Povo a tom ar par te e a . d ,, 3 • t é
-
Esses set ore s específicos d11.agem" que não ult rap ass "l'm ·te s da res pon sab ilid a
con stit uem os recursos e e os ~ l e ' 1s o '
con sid era dos mo der nos , esp
ecializados, em opo siç ão aos
instituições q11c não pon ha em 1•ogo ou que stio ne o pr ópr io gov ern o e a ord em
cionais, bas ead os no res pei set ore s tradi- .·. 1 v1·gente Par tici paç ão . . . t-o
to aos antepassados, nas rel •11) Cld • s1g01fica, en a ' "lib erd ade com respon-
na religião, no mo do de vid ações pessoais,
a constituído pela família •111bilidade" •
extensa. . .
A exclusão dessas novas ld
"pr ogr ess o" significa par tici
opo rtu nid ade s de vida pro
mo vid as pelo
A lib erd ade ou livr ll
e esco rn se con fun de com igu a a d e ide al de
opo rtu nid ade s, e res po~ sa.bT d de com acet aça ·t -o- da ord em estabele-
paç ão passiva, marginalida
ção de bar rei ras , tan to geo de. A elimina- t ,1 a ;o uso de "m éto do s"' -
gráficas com o raciais, sexuai ,·,da, cap aci tan do- se o m_d de inov~ç~es,
a um a igu ald ade de opo rtu s, legais, levaria p.1ra, na vid a cotidiana, mte 1v1 duo m set ore s esp ecíficos, nos hm1tes
nid ade s par a todos os indiví grar-se e
pois seu esf orç o individua duos, bas tan do
l par a con qui sta r o acesso l'-;tabelecidos.
"d1sponíveis". a esses recursos . . - . T . r
A gest ão social da part1c1paçao s1lgnt ica, pop pois cna os can a;••,r
Assim, a seg und a dim ens ão )ara din am iza r essa "in. - " par a evar a ul'a ção a "ut iliz ar"
perspectiva, refere-se à mo do conceito de par tic ipa ção teg raç ao '
, nessa ' '
mi naç ão da aco mo daç ão.
bilização dos esf orç os indivi
duais pel a eli- 'rc\.'.ursos par a sua mo der niz açã o e com sua ade são "vo lun tár ia" a esse
A par tic ipa ção tor na- se ati processo. O governo quer que . o que ele (go ver no ) que
de atit ude s e com por tam ent va pel a mu dan ça o pov o queira r.
os individuais e coletivos,
de indivíduos e gru pos em pel a pre sen ça 1. PLANEJ·AMENTO E
pro gra ma s e atividades. CO NS UL TA
O par tic ipa r significa, ent
ão, os com por tam ent os ind
pro cur a e de livre escolha ivi dua is de 0 can al privilegiado dessa . te raç ão é o processo de planeja-
daq uil o que é disponível na m g
mento, com o "at o rac_.1on, r dor " que per.m1·t a ao indivíduo e aos
sente e com por tam ent os col situ açã o pre -
etivos de associação e de a iza
recursos. Est a con cep ção opõ pro mo ção de · • mp ort am ent os sacudir a
e os apáticos aos participan grupos sociais mo de1•t11zar seus co opo rtu apatia e
lentes aos esforçados, os
preguiçosos aos denodados
tes, os ind o- obter rec urs os par a me lho nid ade s' de vida.
. rar sua s
A sociedade se fun dar ia . . . .
pre mi and o-s e aqueles que
num a me rito cra cia individua
l e coletiva, Ma s, com o a sociedade e, nce bid a em setores, d1v1d1
da em seg-
aos rec urs os disponíveis pel
são competentes e rea lm ent
e bus cam ace der mentos, a part1c • • ção e o placo .
neJamen
to são parcializados por fun-
o esforço e competência. 1pa. bl . . A par tici paç ão é . 1 da
ções por pro gra m as , por pro emas. enc am m rn
No int eri or das organizaç - tores específicos de sau, de, d
pam dos objetivos pro gra ma
ões "pr em iam -se " aqueles
que partici- para, a me
. 1 - de pop ula çoe
usa o . . - s nos se e u-
dos com postos, salários e cação, lazer, ind ust nal iza çao l' .- dividindo-se e segmentan d se
rec om pen sas . , re '.g1ao, O ent ão essa o-
. par tici paç ão é
Ess a mo ral ida de pre sen te
no conceito de par tic ipa ção vertica lmente as. e lasses subalternas. u
im ped im ent os ou empecilh é um dos seg me nta da horizontalmente b . por cid ade por " com um•ct
os ideológicos par a sua .pre lJc ~~ s a-
teóricos. cisão em ter mo s de" ' iso lan do- se os grupos ;~r :oclos outros. ,
A aus ênc ia de par tici paç ão
é, assim, con fun did a com
de em ass um ir "re spo nsa bil inc apa cid a- 3 Ald air Br;isil Bar thy . _ , tar O con trol e de
ida de da vid a social e pol diz q_u:, "Par_tic~ft:ç;~o~
ítica", acu san - • sob :e~ ,~e :lem ent os coleti~o.s
ca d a um • re sua ,
pró pria con diç ao, sua dest
. assi m, da ord em do '1no à ord ein da responsºab
det erm ina nte s, e p,1s 11191-
dade, da esc olh a". ln: 'r ... · ção social De bares Sociais, ano X,
2. Ver San dra A. Bar bos sa1,
dua s aut ora s disc utem a a Lim a (19 80) e Jan ice E. a1t1c1pa n.
con cep ção da DE SA L e Per lma n (19 77) . Essas ' ,
da mo der niz açã o. out ubr o de 1974, P· 56 •
72
73
Do ponto de vista técnico a inclu - / -
nos programas é bem dimension'ada para sao exclusao da população A base social é incluída só no 1mcw de um processo global e às
tada a um problema. que seja consultiva e Iimi- V('l.cs de forma indireta, sem mobilização. Nessa fase inicial atuam
11•, mecanismos de propaganda e manipulação, retirando da base social
. No processo de planejamento distin . . 11 lao propalada liberdade de escolha.
mformação e etapa de dec· .. A : ~ue-se multo bem etapa de
isao. pnme1ra obJ'et' Ih Como a representação teve sua consolidação no próprio processo
para , permitir a elaboração d . lt . . iva co er os daàos
planejamentos govºrnamenta1·se a. e1n1at1vas na etapa decisória. Nos dr democracia liberal, ela aparece idealmente como vontade dos indi-
- " - d
est1mu a-se a partic·i~açao l'irfuos. Mas, na realidade, trata-se de determinados indivíduos, se-
~ao no momento da informa - ' a popula-
msatisfações e de suas pre çao, _colhendo,ª manifestação de suas 1•,11ndo sua situação na estrutura social. Assim, o voto nas sociedades
enquetes, pesquisas, reuniõ;sc~p:; ~:~b ª,~r~ves de c~nsos, inquéritos, 111oclernas e contemporâne as foi paulatinament e estendido dos pro-
onde sao levantados os
problemas específicos (de sa 'd 1 b' Ie1~s, etc.). 11' ictários aos não-proprietár ios, dos homens às mulheres, dos alfa-
u e, 1a 1taçao lH.:Lizados aos analfabetos, ficando ainda inúmeras categorias excluídas
A população é consullada e incluída no . da!- eleições, de acordo com as conveniências, as possibilidades de
mas excluída do processo de d .. - proce~so de informação,
111formação e o acesso aos programas e locais de votação e ao con-
da problemática geral; os resu~~I~ao. i cons~lta ~ _re~trita e isolada
a os esses mquentos quase nunca 1role da sociedade civil pelos grupos dominantes.
são conhecidos publicamente.
A ideologia pré-liberal' rejeitava a divisão em classes, sendo a
Nas grandes organizações tenta- e . 1cpresentação uma forma de consenso social individual. Essa icleolo-
por objetivos" Na realizaça~ 0 d s , atualmente, a "participação
• < < • d
e certos obJ.etivos 1·1m1ta 1•.ia justifica muitas formas de organização de representação comuni-
certa autonomia dos escal oes~ . • :, . os haveria
111termed1anos n esco lh a dos meios 11,ria, onde os eleitos aparecem como os legítimos representantes da
d e realizá-los Os objetivos . , a
s . gerais e os recursos fundamentais são vontade geral, do bem comum, dos indivíduos em geral.
decididos pel~ escalão • upenor.
<
Esta concepção suprime o conceito de classe, de divisão da so-
As decisões de planejadores téc • . vicdade em classes dominantes e subalternas para partir dos indivíduos
ganizações nem sempre se to .' ;1cos e diretores de grandes or-
ou grupos locais.
necessidades manifestos na etamamd e acordo com os interesses e
. . < pa e consulta O que Nas sociedades em que as lutas sociais impuseram uma concep-
para esvaziar reivindicações e p.J o t e1ar so 1uções' A co somente serve
- lt d, . t;:ío do mundo dividido em classes ou categorias, as representações
pressao de que os problemas estã • nsu a a a im-
vidos, de que alguém está se oc:1º ~5:~do estudados ~~ra serem resol- jú não se fazem somente por indivíduos mas segundo a divisão em
que há soluções à vista A co s 1i ? da prnblemat1ca da base, de dasses ou categorias, levando-se à representação, em certos conselhos,
lação ( q - • . n u a ena assim expectativas na popu- patrões e empregados, professores e alunos, profissionais e clientes.
ue nao raramente fica "esperando Godot"). Neste tipo de representação, o objetivo perseguido ainda é o
2. A REPRESENTAÇÃO l'0nsenso em torno de certos objetivos específicos. O conflito é insti-
1ucionalizado e limitado a certas decisões. E o caso ela co-gestão em
. A representação tem sido tradicional certas empresas e órgãos governamentai s. Determinadas bases parti-
estimuladas de participaçã D mente_ uma das formas mais
º· que
e uma base social det . • d l'ipam da eleição de seus representantes em áreas ou postos previa-
cam-se certos representantes vão deb er mma a desta-. 111cnte definidos.
dessa base, certos assuntos por l ater e resolver, em nome
confunde com o parlamentarism o e/ pro~ostos. Esta participação se
representantes . ' imuan o-se ao voto, à eleição dos 4. Ver· C. B. Macpherson (1978: 29). O autor desenvolve os modelos (a)
de democracia protetor?. de Bentham, baseada na segurança das leis, ( b) de
. . - . democracia desenvolvimcntis ta, baseada no esforço de cada um e na participa-
- Os modos de representação são canaí.s de 1,•110 do voto para influenciar o governo, (c) de democracia de equilíbrio, em
soes parlamentares nos consell . part1c1paçao nas dec1-
e delibe.r a t·ivos, nos que esta é concebida como um mecanismo de escolher e autorizar governos
• -
orgaos
'
executivos nos sem.rnaIJos . consultivos
, .· 10s ú)m a competição entre dois ou mais grupos, e (d) de democracia participati-
' e congressos.
va, baseada na articulação de vontades dos estratos inferiores.
74
75
A part icip açã o é tida com o inte .
graç ão e con trol e de cim a par a A inte graç ão consiste_ emd luga res já dete rmi nad os pela
baix o, com bin and o-se eliti smo e
serv açã o do pod er das classes
auto rita rism o. O eliti smo visa con
- das se dom inan te; as rela çoe s ocu par e~:n tant es com os repr esen
os repr tado s
dom inan tes, util izan do-s e a ideo ..,ão dete rmi nad as pelo s luga res que
de que as clas ses sub alte rnas são logi a ocu pam .
inca paz es de dec idir seu pró prio
des tino e o des tino de toda a soc
ieda de, de form a autô nom a.
3. P AR TIC IPA ÇÃ O E CO MB ATE
O auto rita rism o con sist e no con trol
e por part e das classes dom i- d
nan tes dos espa ços, das exc lusõ
es/i nclu sõe s das clas ses sub alte rnas A prob lem at1c a em estu o -~1 o_sd colo ca face às fran quia s, às ga-
no pro cess o dec isór io. . . , aos es1J aços "l corr elaç ão de forç as da
detm1
rant1as, isto e, • . . d ostrab P~ a
alha dor es suas grev es, suas
soc ieda de civil. As luta s socbia1s
A exc lusã o 'das clas ses sub alte rnas . - . tôno º~a fora m amp li~n do e con quis tan-
é com bin ada com incl usõ es nrg aniz aço es au mas da urgues1
limi tada s pela coo ptaç ão, pela inte do esp aço s decisório~, reco nhe cun . .d,,ológico ben efíc ios e recu r-
graç ão lim itad a por assu nto ou por ento i .... '
com issã o e com o uso da forç a, sos eco nôm icos .
da rep;-~ssão.
• . . - , d f •da com
A co-g estã o, por exe mpl o, e a
repr esen taçã o lim itad a ace itam ..
Nes se sen tido a part1c1
- paça~ e e m1 < . l·o luta com bate , mo-
-o de forç as e de
a soc ieda de desi gua l e tent am - der ou
bil1zaçao, pres sao , po . ' . . seJa, com o arti cu aça
real izar um cert o equ ilíb rio inst
das forç as, mas man tend o a pró
pria des igua ldad e com o fun dam
ável cstr atég ias em torn o de mt~, esse d classes par a a con quis ta de po-
ento s e
da repr esen taçã o. Con selh os e parl dere s, recu rsos e reco nhe cim ento
ame ntos não elim inam por si mes .
mos a desi gua ldad e, mas a con sag - vão
5 - •

pod eros os, aos ricos, aos que disp


ram dan do repr esen taçã o aos mai
s São as forç as que < con q uist •
ar e mud ar os luga res. Sao elas
- ·gên cias das classes sub alte r-
õem de recu rsos con side ráve is. que vao artt.cu 1ar von tade s e torn ar as exi •
A soc ieda de de con sum o com o nas efet ivas e de form a auton_o;11_ª
A d baix o para cim a rom pen do- se
can al de part icip açã o só tem
aum enta do as desi gua ldad es, pois
a part icip açã o con sum ista con sist com o mod e 1o e r~tis_ . t a e aut ont ano' Ae 1·b" 1 - (
rtaç-ao da tut~la da bur gue -
no aces so ao pro dut o final seg und e form as •trad icio nais de repr esen taçã o é a
o a situ açã o de cad a um na estr sia e da tecn ocra c,~ _d~s •
tura pro duti va, sem que se pos sa u- .. . -o-f or a Par tici paç ão é a for-
infl uen ciar no tipo e no pro cess o con diçã o par a a def1mçao dda par
de ça soci al org aniz ada segu n o os t1~1 pt~~ :sses ~e- uma bas e soci al de-
pro duç ão. Os defe nso res cio con m d
sum ism o dizem que o con sum idor
sob eran o, pois as indú stri as vão é term inad a.
ada ptar -se a seu s dese jos e às sua
dem and as. Esta teor ia se esqu ece s trab alha dor es fora m obte nc1o a
de que são as pró pria s indú stria As luta s e as º'.gan ·- açõ es• dos
e prin cipa lme nte as mul tina cion ais, s tran sfor maç ão das form asizde dist . •. _ d
de info rma ção e de com unic açã o,
que detê m o mon opó lio dos mei os nbm ç~o dos recu rsos do pod er e dos
mol dan do os dese jos do con sum pro cess os de con hec ime nto e reco
dor à ima gem do pro duto que põe i- nhe cim ento do ~un ~-
.
físicos, sim bóli cos e sociais, os pro
m no mer cad o. Com seus estí mul
os Nes ta perspect1va a pait.1c1 . . .-
paçao p - .
assa a ser vist a nao com o uma
cria m uma part icip açã o mas sific ada
prie tári os dos mei os de pro duç ão . .
que stão ind1v1dual'. mas c_ m o o uma que stao de c 1asse, e o pro blem a
e tota lme nte alie nad a, cujo exe m- de mod ern izaç ão/r nteg raça o, com m rob lem a estr utur al.
plo é a mús ica disc otec a. o u p
- , . .
A part icip açã o nao e som ente uma ues tão de aces so e associa-
Por esses can ais de con sult a-pl ane as de com bate e con quis ta ele recu q .
jam ento , adm inis traç ão, repr e- ção , n1 rsos e de lugares.
sen taçã o, co-g estã o e con sum o,
a part icip açã o tem sign ific ado con . - . , - d • ta da bas e e um a 1
cen traç ão de pod er e man ipul açã
o.
- A linh a ana rqu ista pro poe ,t li( ao ire . to grau

. ~ . . d. ·dua l e cole li\.,: nara . -es e ade res.
de consc1encia m 1v 1 c.:onqu1star pos1ço p
No con ceit o trad icio nal de part icip •
açã o, mob iliza -se a pop ulaç ão
para obte r cert os recu rsos ou par
a a con sult a sob re cert as dec isõe 5. Ver Alai n Bad iou ( \975 : _9 6 p,,, ., este ·-1utor reso lver é rejei tar algo
e repr esen taçõ es, con tant o que s . ). • ~los t~rm os e não com posi ,
os luga res de dom inaç ão/d omi nad reso lver 1mp .
11ca ·t desa pare cime nto ção
1 ti-. um
seja m man tido s. os de um com outr o. 1110 _ e, '
E para ele a 1og1c
, . do· luga res• se subo rdin
.
a a, 1og1c
, •
a das
a s _,
forç as (p. 96).
76
77
rep resJá
entna
antCo
es mu
manas de Pa ris as b
ma nt·
pra zo se tiver com o sus
ten taç ão um a for ça rea l
. ase s po pu lar es não eli mi da po pu laç ão cap az
em bas e à rev, oca bil ida 1ve1 am um co t 1 • . nar am o de mo bil iza r-s e po r seu s
de d int ere sse s.
e à · n ro e sis tem áti
igu a ld ade de sal ári os ente seu s ma nd ato co sob re eless Mu ito s gru po s pre fer em
O re . s ent ão atu ar de for a do s
rep res ent ant es em qu alq uer mo me nto,
e bas es. ver nam ent ais e das ins titu
içõ es, uti liz and o a pre ssã
org ani sm os go-
pro ble ma da rep res ent aça da org ani zaç ão aut ôn om o soc ial a par tir
-o não se res olv e po r a de seu s int ere sse s.
ma s p e [o con tro le qu e sua eli mi naç ão A exp eri ênc ia de Sau l Ali
as bas es po ssa m efe t·iva nsk y, no s Es tad os Un ido
• seu s rep res ent ant es. me nte exe rce r sob re' s, ilu str a ess a
est rat égi a de par tic ipa ção
. Nã o se tra ta de inc lus
d d Me can ism os com o de int egr açã o de pes soa s, ão de int ere sse s ou
~ . e m~ nd ato s, igu ald ade _ s1s
pre sta çao • temát' d de qu e det erm ina do s int
ma s de pre ssã o pa ra um
a neg oci açã o, a fim
son as, dis cus são das dec de sal ári os ic·~- e con tas , rev oca bil ida
-
ere sse s sej am con qu ist ado
s, alc anç ado s.
isõ es d b : ' pubhc1d~d Pa ra Ali nsk y ( 19 76 : 11
de tor nar a rep res ent açã e das reu niõ es dec i- 1-2 ), "é im pos sív el con ceb
o ho ~e. a1xo p~ ra cim sem po der ( ... ) e não er um mu nd o
mo mm a aos int ere sseas po dem
da ba se.ser me ios tem os a esc olh a sen ão ent
niz ado e um po der sem re um po de r org a-
4. PARTICIPAÇÃO ' AU org ani zaç ão' '. Pa ra ele,
TONOMIA E INTERESS é fun dad a sob re o con um a soc ied ade abe rta
ES flit o per iod ica me nte int
err om pid o po r com -
Os gru
· po · pro mi sso s.
qu e se fun damsent • •
soc iai
em snaposua pu lar es tê b :Nessa lin ha, Ali nsk y pro
sua f a t m . usc ado for ma s põ e pri me iro o po der e
orç a enq uan to mo bil iza çãou on om ia enq uan de par tic ipa ção ma, ref orç and o as org ani dep ois o pro gra -
. to zaç ões da bas e e tem per
org ani•zaç ão, é na agi taç ão de seu s pro ble ma and o-a s na lut a, na
s
~ Ev ita nd o ser em "en rol ad A pre ssã o de for a supem. tor no de int ere sse s con cre
õe org ani zaç ões aut ôn om tos .
tem bu sca d~ , alg um as vezes em os" e , as, sem tut ela s
ou tro s can ais par a ma nif at; ~s po der es, pu_ blicos, esses gru po s e a po ssi bil ida de de neg
est are m s ç~ com tec mc oci açã o.º
eus mt ere sse s. os e pro fis sio nai s
. A con sci ênc ia de qu e ' 5. PA RT ICI PA ÇÃ O DIS
ins tru me nta liz o Jane· FA RÇ AD A E
ado po r int ere sse -
;d Jam ent o nao e neu , GR UPOS ESPONTANEOS
19 1-2 04 ) a pô r em p -'f
ra ica a exp ene e ?;·u~os, levou Pa ul Datro , de qu e é
vid off (19 77 ·
nci a da adv oca cia po Qu an do a soc ied ade est
Es ta ex ·· - p 1 • á (ecbaela par a a neg oci
d . pen enc aut ori tar ism o, da exc lus açã o na bas e do
e pla ~eJ am ent o. Um gru ia con sis te em tra bal b • d u ar. ão ou da inc lus ão lim ita
po de "té cni ter nas , não há lug ar par da das cla sse s sub al-
um a cli ent ela que não tem ~1 ent ro das org ani zaç a par tic ipa ção po r me ios
. cos se tor na o adv ões res ta à po pu laç ão sen ão de pre ssã o. Nã o
go ver nam ent ais . Ess es adv voz e mu ito me no og ado de um a par tic ipa ção dif usa
, par a um arr anj o
og ado b s vot o nes ses org ani sm os ma is ou me no s viá vel ,
det erm ina do s cli ent es atr ele sua sob rev ivê nci a no
avé s d s I u~ca~1 def end ela bo ra, ent ão, "je ito s colicliano. O po vo
A def , d e a tet nat iva s téc nicer os int ere sse s de par a se def end er' ', evi tan
. as • do o cat ive iro do s
um a cli ent ela esa esses int ere sse s su con cre tas .
1 · esp ecí fic a fa d po- e um con tra to ele 6. As for ças pop ula res
se arti cul am em org ani
p ane.1amcnto, bu sca nd o , zen o val er seu • def ens or corn tóri o ou pol ític o, des env zaç ões de car áte r reiv ind
. tra du zi. . s int ere olv end o vin cul açõ es e sol ica -
r ass im o plu ral ism o de sse s no int eri or do com as con jun tur as. as ida ried ade s ent re si, de
int ere sse s estr até gia s e a pro ble má aco rdo
d A adv oca pop ula res pod em , ass im, tiu: em que stão . Os mo
. cia
e plu ral ism o de int ere po pu 1ar, com o can al de que obe dec er a um a hie def inir sua aut ono mia e vin cul açã o, sem que
vim ent os
sen so com um a arg um ent
sse s e d 'b .. pai·frc1• paçao,
- •
sup õe a idé ia
rar
com o o can al con tro lad qui a rígi da que cul min e com um "pi rtid o ten ham
açã o t~ P?ss1 iltd ade de art or de tod as as ma nife pop ula r",
int ere sse s. me nto e a div isão das staç ões . Evi den tem ent e,
· ecr nca e com a def esaicu lar um con -
pol ític a des ses dom ina nte s, que só pod
for ças pop ula res são obj
etiv os estr até gic os das
o isol a-
clas ses
em ser com bat ido s com
am pla sol ida ried ade que o des env olv ime nto de
çõe s e apr ofu nde sua s raíz res reit e, ao me sm o tem po, a aut ono mia um a
cratiziEs
içata
~o for d·asma . de con d • reç ão e bas e, diri gen tes es na bas e soc ial que a sus ten ta. A sep ara ção
das org ani za-
ins tan cia suz1
A •
pla r nej
o pla
adonejrasarn
, maent o sup õe e diri gid os, esc lero sa ent re di-
s só ser áumefi a caz
cer taa dem o- e bur ocr atiz a a par tici
cur to -co mb ate . paç ão-
78
79
pad rõe s, com bin and o for ma
s de sob rev ivê nci a na mu Jtip
rela çõe s soc iais e ins titu cio nai lica çâo de
cusa de cum prj r ord ens aut orits, che gan do às vezes à baj ula ção , à re-
ária s (Du que , 198 0).
No me io rur al, com o foi ana
trat égi as cam pon esa s são açõ lisa do por Gh isla ine Du que
es de classe dis farç ada s. A , as es-
fec had a ,não per mit e que se soc ied ade
mu ito me nos um a pre ssã o de ma nife ste abe rtam ent e um a pre ssã o e
classe.
Cab e ent ão aos pro fiss ion ais
brir e trab alh ar essas for ma s
não são nad a difusas.
com pro me tido s com o pov o
pop ula res e dis farç ada s, que des co- C ap ítu lo 6
em rea lida de
As elites do pod er pen sam
que o pov o não pen sa. A lg un s con1entários
Os par tido s pol ític os são os
can ais trad icio nai s par a org
a par tici paç ão pol ític a, mas
esta , em geral, fica res trit a ani zar
às eleições e
sobre estratégia e tática*
favores, sem que se ten ham
plic açã o das bas es nos par tidoain da ela bor ado formas de dis
s trad icio nai s. cus são e im-
Gru pos ext rap arla me nta res ,
em ·várias par tes do mu ndo
ten tan do mo difi car essas for , estã o
ma s de luta com ações cha
gin ais" , não pro gra ma das , com ma das "m ar-
o rád ios -pir ata , ocu paç ões eco
ma nife staç ões feministas. Est lógicas,
as for ma s de luta não são
mo stra m dis tint os can ais que exc lusi vas e
pod em ser arti cul ado s pelas 1. ES TR AT ~G IA E TA TIC
ciais e sua s bases, dep end end for ças so- A
ritm o da pró pri a açã o. o da con jun tur a, dos obj etiv os
e do A estr até gia e a táti ca não são
o res ulta do de um a opç ão. A
não faz a gue rra con for me gen te
que r.
Ela s são o res ulta do de d.
, e1s
111v • e "mob·111·2áveis" ' e de forç as em presen?ª•. de r-ecur_sosir
inte ress es e obJet,vos a atm J~~~~
g
mo me nto dad o.
, d mais
( A estr~té_gi_a se ref~re aosl ºAJe b. • a atin gir num pen o 0
da lns ton a e mais ger a . tt~~1~: se refe re a obj etiv os par
ong
• l· o•'S num ' ti-
• per íod o mais • cur to e sub ord ina dos à estr , .
cu are ate g,a .

Um a estr até gia se def_1~e num a co,.ie . 1, ·"ío de forças e de rec urs
aç; a é forte ou frac a em os
dis pon íve is a ser em . º}~ b,li
zad ~:· Uo~= :ou \ã o am eaç
rela ção ~a um advc, s~:1~ se ar a pró pria
A ~- ão ou o esm aga me nto do
cxistênc1a des se adv e,s ar:º ·
ver sár io ou sua cap itul aça o anu_ª.? .
dem ons t1a a sup erio rida de das forças.
ad-

2 ES TR AT ÉG IA DE GR
UP OS PO PU LA RE S
' E o MO VIM EN TO OP ER
AR IO
A estr ate gta de gru pos po1
me lho ria de sua s con ~ulares
diç ões de vida cot1-~~ e. 1L,tam
e quepor
fazemobjetiv
paros de
te da
80 classe ope rár ia nao i~nc1 ., .
- pod e se isolar do mov11n 1
ento ope ran o em gera .

81
A forç a do mo vim ent o ope rári
o e dos mo vim ent os pop ula 5. O RIT MO E A SU RP RE
(co mo das classes dom ina nte res SA
s) det erm ina a estr atég ia dos
pop ula res. Se a con jun tura é gru pos . . .·
pan são das luta s, a estr atég ia
fav orá vel à mo bili zaç ão pop ula
r e ex- Ap esa r da mfe not ida de d os. rup os pop ula res, eles pod em pro -
pod e ser mai s ofensiva. Se o , : rio pel ag tenac1.d a d e e o ritm o imp osto à
vocar des gas tes ao a d \ier
se apr ese nta des fav orá vel e ma me nte sa , .
ma rca do por um a retr açã o lula e a sur pre sa pro voc ada
ao adv ers ano .
pop ula res, a estr atég ia é def das forças sei·am pe-
ensiva. Os gru pos po d em torn a r- sed des gas tan tes mes mo que
A aná lise da rela ção das forç • ond o ao a ver san , ·o um ritm o que o cor rói
aJ de classes fun dam ent ais que nos , ape nas imp e
soc ied ade é cru cial par a det erm da , • - b . spo nde r ime dia tam ent e com sua
ina r a estr atég ia e a táti ca dos -.urpresas as qua is ele· , .nao sa e L e
pop ula res. gru pos da má qui na burocrat1ca.
pesa . . , .,
Par a deh mr a estr ateg ia, ~lem , da análise de forç as em pre
_ sen ça
3. OS GR UP OS PO PU LA RE du mo vim ent o hist óric o, . açã o par a obr iga r o inimigo
S E O ES TA DO é pre ciso ima gin
:t faze r concessões.
Os gru pos pop ula res se afro l visa arra nca r
de um nível sup erio r. Não
nta m com um adv ersá rio pol
ític o O fim estr•
atég ico das lutas dos gru pos
pop u ares l .
se trat a de forças iguais, vist -
do Est ado cer tas con ces soe s ·to pra zo e cks env o ve1 as forças
Est ado disp õe do pod er de coe o que o a cu1
rçã o, da forç a política. A soc pop ula res a lon go pra zo.
pol ític a obr iga os gru pos pop ied ade
ula res a um a estr atég ia def ens
dizer, luta r no terr eno pre det iva , que r
erm ina do pel o pod er político. 6. AS CO NC ES Sõ ES
Os pleitos das luta s pop ula res , -,
suas leis. Nu ma rela ção de forç
são enq uad rad os pel o Est ado
e Qu ant o as con.cessoes. a a1l1 , .. nca r se elas reEerem a mai
a s pod er
as desiguais, os gru pos dev em , heg a-se a uma estr atég
bem sua s forç as ant es de com me dir e dec isão par a os grup os sub a tern os, c ia de
eça r a bat alh a. )Oder pop ula r par a estabelecei . . t le pop ula r sob re um terr
eno
1
o con ro .
O apo io de que disp õe o Est leito con trol ado pela classe dom
ado no seio dos gru pos pop ula ou um p ina nte . . .·
res -
pro vém da "fo rça " do con sen
so de que a classe diri gen te Se as con ces soe s se refe rem a van tág ens par ticu lare s e prc,p1 ias
é cap az. .. t
A classe dirigente esta bel ece
trin che iras e cas am ata s na soc do gru po, trat a:se . ele um a e stra tég ia corporat1v1s a ou refo rmi sta • ,
de
civil par a dividir, insuflar, imp ied ade um a luta econom1~a_- Nes te a estr atég ia é orie nta da por um
edi r e rec upe rar o·; mo vim ent cas o a
lares, sem pre util izan do os apa os pop u- .• ·nd ica ção especifica.
relh os do Est ado . , e1v1 . . . - . - são isol ada s estr ateg d
As re1v111d1caçoes que '.1a~ icam ent e
4. MO VIM EN TO E PO SIÇ 1utas do pod er torn am -se • des env olv er a forç a, a org am~s
ÃO meios par a -
- .
Os gru pos pop ula res ocu pam zaç ao ou a com b a fl\ti"dade dos gru pos popula1es.
um a pos ição na soc ied ade civi Qu and o se visa der ru~ ar o blo
. ode r a luta pol ític a torn a-
eles ocu pam um a trin che ira, l, co n1 o p
um a cas am ata, do pon to de
vist a estr -se o fim estrateg , • ··11c1pal ao qua se s ub; rdi nam os fins secun-
tégico. a- 1co . 1
s Na luta um fim sec un'd:ano
, • ·.
e1ano
!:11 .· ode torn ar-s e um fim princ1p
a
, p
O fim da estr atég ia de~ses gru e vice-versa.
pos é ma nte r esta trin che ira
def esa de sua s con diç õts de na
vida. Isto com pre end e a def
van tag ens obt ida s e a con qui sta
de nov as posições.
esa das 7 . AS AÇ õE S TA TIC AS
- , d
Sua estr atég ia se def ine assi
m por um a gue rra de "po siçã Par a arr~ nca r con ces s?~ s o. blo co no pod er os gru pos pop ula res
visto que eles têm a forç a o", pod em com bm ar de ma neu a u meno'.i dist inta a pre ssã o e
par a pro voc ar mo vim ent os, a
rec uar o inim igo ou anu lá-l o par a faz er mai s
negoc1. aça- o, sem pre alte rna ndo esses
º. mo men tos ou num a esca~ada
a cur to pra zo.
det erm ina da.
82
83
As ações têm mai•s possibilida do mo vim ent o, apr ese nta ndo -o
org âni ca no blo co do des de sucesso se h, com o res ulta do da açã o de agi
gen era liza da. pod er ( d' . _ ext ern os, com o des ord em e com tad ore s
1v1soes) e num a situ açã a um a crise o eco nom icam ent e insu sten táv
o de crise Est a estr atég ia util iza a táti el.
ca da ma nip ula ção dos mei os
Assim, é preciso ana lisa r a con info rma ção par a isol ar o mo vim de
sup ere stru tura ant es d jun tura eco • • ent o da pop ula ção em geral.
da neg dci açã o.
. b
e esta elecer os meios de pres nom1ca e soe1•al e a O gov ern o utiliza alte rna da ou
sa-o sim ulta nea me nte o "pr êm io e
e o mo men to o
cas tigo ".
Os gru pos que
ace itam des de o com eço pro cur am ne A ofe rta de cer tos benefícios,

um
con sen so, goc tar sem Obj•etivar as pressõ ou rec om pen sas pod em tran sfo
r-
e a "bo a von tad e" d • • • es mar e rec upe rar cer tos líde res
de gru pos pop ula res.
Os gru pos que fazem pre -
a rad ical izaç ão ou a i·nsufl . . A rep ress ão e a coe rçã o imp lica
:saod seml obJet1var a neg oci ação mtm1go. m a util izaç ão de meios de inti
-
, aça o a uta. o aceitam mid açã o, ind o até ao enc arc era
me nto dos dirigentes e ao emp
Est a pre ssã o não med iati zad reg o da
tân ea. Se ela é assim med· a
, t· d p or uma org ani•zaç ão força policial.
tam em esc lare cid a pela crítia' iza a, torn a-se enV é esp on- O Est ado , nes se mo me nto , fech
bA 1 a as por tas da neg oci açã o por
- ica, pe 1a teo na, . ao con tra ada
pela sist ema tiza ção, mas que as con ces sõe s soli cita das
não são aceitáveis ao esta do de
-
pre ssa o pod e tom ar form as laçã o de cap ital que ele visa acu mu -
(sit in, gre ve) às form as 111a d'fe • . Ess a estr atég ia pod e reti rar
· . I ren tes, md o da resi • ma ção ela clas se no pod er se a legiti-
orç ar o adv ersá rio a conces - 1s ativ as de ocu pa - (b • stência ela def end e (dis cur so) a dem
f soes. çao a par tici paç ão. O Est ado se ocr acia e
o1cote) par a vê ent ão col oca do num a situ
As man def esa clar a da acu mu laçã o do açã o de
são utilizadasifes tações públicas e a tT
com o meio cl f _ • cap ital ou de sua legitimidade.
u i izaç~o da info rma Às vezes cer tas resp osta s sim
pelas classes dom ina nte s e e rear a man ipu laçã d ção •
(mí dia ) bólicas ( comis:;ões de inq uér
itos ,
par .a d ese o as• . mfo por exe mp lo) serv em de táti ca
em luta jun to aos alia dos nvolver •1 heg <
d rma çõe s par a faz er o gov ern o sair do
. poss1ve , 1s
.. , <. em impasse.
P?~er, os gru pos pop ula res Fac e a e om a
• - d os gru pos
civil. O prim eiro caso aco tsão levad . r pte ssa ~ o blo~o no g: MO BIL IZA ÇÃ O E RE LA
ÇÃ O DE FO RÇ AS
. os ao rec uo ou a des obe diê nci
n ece qua ndo a
fracas, e o seg und o, quae ndo
massa. ~ IT ,·1
as fo. , d
• iças o mov11nento são
• Se os gru pos pop ula res se des
bém apr ove itar a con jun tura
mo bili zam , o gov ern o pod e tam
-
e e i ic1 ao Est ado rep rim ir um par a cor tar os benefícios ou
a gra nde as conces-
sões já out org ada s - o que dev
e levar os grupos pop ula res a
car em a que stão da mo bili zaç se colo-
8. A ES TR AT ~G IA DO ES ão permanente. e de um a luta
TA DO que pos sa levá-los à tom ada do política
pod er e lhes dar a gar ant ia de
con stru ir um a soc ied ade nov pod er
A sac . d ade política V a, pel a mu dan ça global da rela
din açã o dosie gru pos das ~laosse
E t d b forç as da soc ied ade .
ção de
t a ;• l usca ~str ateg icam ent e
a sub or-
a s~1u: ~:r~-~~ a ~rd em esta bel ecid
con diç ões mín ima s necessária::,.
e enq uan to classe:}~ a nas
P uça o enq uan to ind ivíd uos
Est a 'sub ord ina ção se efe tua
tan to por meios administrat1·vo
qua nto políticos e coercitivos.·t s
A inte rve nçã o administrat1·va
me nta da visa
• a bur ocr atiz aç~ •
. pro ble mát ica apr ese nta da pel
os gru pos pop ulaao e
res. o isol a-
lare s A mte
1 .rve1nçã o política bus ca ct·iv1.d. •
pe o iso ame nto dos dirigentes ir e rec upe rar os gru pos pop u-
da b ase e pelo "de neg rim ent o"
84
85
Parte III
Saber e poder

Capít ulo 7

Dialét ica e trabalho social *

O tema aqui exposto é amplo e complexo. Exigiria ao mesmo


tempo uma análise da dialética e do trabalho social. O estudo ela
dialética implicaria uma apresenta ção profunda da sua dimensão
filosófica e política. Mas nosso objetivo não é uma discussão tias
questões filosóficas isoladas da própria prática do trabalho social ria
América Latina, embora tanto na Europa corno nos Estados Unidos
já exista uma sistematiz ação sobre a aplicação do materialis mo histó-
rico ao Serviço Social.
Nos Estados Unidos chama-se de perspectiv a radical o intento
de buscar na teoria dialética os fundamen tos de uma nova prática
transform adora (Galper, 1980; Bailey e Brake, 1976).
Esta preocupaç ão vem se desenvolv endo há uma década na
América Latina. No entanto, ainda é muito recente. Poucos são os
estudos e as contribuiç ões à discussão profunda do trabalho social em
relação ao materialis mo histórico e dialético. Os bloqueios para uma
reflexão dialética sobre a prática advém das condições históricas
em que se desenvolv eu.

1 * Trabalho apresentado no ciclo de debates promovido pelo CRAS-SP,


realizado em São Paulo de 4 a 7 de agosto de 1982 e mimeografa do pelo
Mestrado em Serviço Social da Universidad e Federal da Paraíba.

87
1. PER SPE CTIV A HIST óRIC A Esta taref a parec ia impr escin dível aos
traba l~ad ores socia is
Jara aliviar o sofri ment o e melh orar a situa
Estru turad a e enqu adra da por orga nizaç ões çã?, de milh ares de seres
religiosas, em suas ll1umanos Ora tenta r reali zar esta taref a
orige ns, a práti ca do traba lho socia l se inspi • era Jª o resul tado de uma
logic amen te, nos valor es religiosos tradi ciona
rou e fund amen tou, ideo- . ,- ·ngên
v1sao 1 ua ' e mani queí sta da socie ·
dade . I ngen ua p orqu e press upu-
A

is da aceit ação do mun do ha a soluç ão dos prob lema s glo b ais . t· do de cada um deles
como um desíg nio imut ável da "Pro vidê ncia" par
. t:ola dame nte. Man ique ísta porq ue divid ia.º m .
Pode mos dizer que o traba lho socia l cons mun do entre bons e maus ,
istia no refor ço da abus ador es e não- abus ador es, rebel des e integ
mora lidad e e da subm issão das classes domi rado s.
nada s. Era, porta nto, o Na verd ade, conv inha aos do,n:iinantes atri~
cont role socia l da família oper ária para adeq uir ~s proble_mas a~
uar e ajust ar seu com- .
porta ment o às exigê ncias da orde m socia l impu tar suas caus as. às próp rias v1t11nas que os sofn am. Assi m, 's
estab eleci da. 't· as eram cons idera das culpá veis de seus
A orde m socia l supu nha a subm issão , o acata Vl llU fraca ssos.
ment o das relaç ões 'd, l . liberal perm itia às classes dom inan • • ••
soei.,:<: ril' Jomi naçã o artic ulada s a uma E sta i eo agia tes 1ust1l ica(
orde m divina. Mas estas .
uma a ·uda arbit rária e pater nalis ta as e asses, 1 .. d • , d· s e ao mesm o
relaç ões de dom inaçã o se estru turar am a omm a a - '
parti r das relaç ões de pro- tempo~ autojustiEicar-se frent e às exigê ncias
duçã o enqu anto form a de man ter a acum de sua relaç ao com estas
ulaçã o do capit al.
A mora lizaç ão das classes dom inad as era classes.
vista como um apos - O dese nvol vime nto do proc esso de_ acum ~laçã .
tolad o social, uma form a de salva ção, rejei o do _c~1~1tal, atra:
tando -se, ao mesm o temp o, vés das form as espec ífica s cio mod elo mdus
toda form a de visão das relaç ões sociais enqu tna~ pr~dut1v1sta -~ c~;1
anto relaç ões de classe:, . ,s
de expl oraç ão, de dom inaçã o, de luta, de
conflito.
centraclor, deter mmo u nov<1 fonn-1s ,
de orga rnzaç ao e mob1lt2c1ç,10
-
Os prob lema s socia is eram visto s apen as das class es dom inad as.
com o uma falta de . -
entro same nto, de harm onia nas relaç ões entre
grup os e indiv íduos . 1
A próp ria urba nizaç ao tam b'em foi prop ician do .
nova s form as
, ..
O dese ntros amen to prov inha dos abus os come . t e mobi lizaç ão da popu lação subm etida
tidos pelos grup os do- d e agru pamc n o ao capit al. A
mina ntes ou da rebel ião dos grup os dom exist ência do conf lito passo u a ser reconh_ec1. d ,• ncno s ela-
inado s. Corr igir os abus os a, mais ou , c1· r. ;-
ou abaf ar e atenu ar as rebel iões parec ia rame nte pelas class es dom inant es, mas ainda
uma form a de arran jo das , com ? uma t~l-tb1~?c1c100,
relaç ões sociais. um desa rranj o de elem entos em u rn todo c1ue deve na ser equ1 t ia •

Corr eção de abus os atrav és de uma preg No entan to, ficou recon hecid o que já não
ação às classes dom i- era possível cont rolar
, . ,'t
nant es e atenu ação das rebel iões pelo seu
conv encim ento ideol ógico .
a famí lia oper ana, uma u1na, nem pens ar nos prob lema s, um a um.
Era nece ssári o regu lar as relaç ões glob ais
Abus os de uns e rebel iões de outro s parec entre grup os, setor es e
iam apen as defei tos popu laçõe s.
das pesso as e não um prob lema das estru turas ,
. Assim, a taref a gigan - Este proc esso de regulação se f·az a t r,aves do próp rio Esta do,
tesca do traba lho socia l parec ia um verd adeir . 1· , ão de certo s custo s comu ns aos • . .
o castigo de Sísifo, ao pe l a socta 1zc1ç capit alista s e pel?
tenta r corri gir, um a um, os abus os e as rebel , . , • desenvolvi-
iões. cont role socia l extra -eco nôm ico nece ssan
o ao prop no
ment o da prod ução .
l. Aliás, ainda hoje há quem atribu a os
probl emas soc1a1s às quest ões A regu lação não e, cega , nem auto máti ca, nem maqu iavél ica.
mora is. "A mode rniza ção da socie dade
de boa vonta de, aos limpo s de coraç fio,
exige coope ração ( ... ) . Aos home ns proc esso de regu lação se faz pela press ão
cabe contr ibuir com seu traba lho, com 0 d~s próp rias cris;~~
seu despr endim ento, com sua persp icácia
crític ia, com sua partic ipaçã o lúcida e das lutas socia is e, nem semp re e n em auto mati came nte, 1eva a
e ativa na vida políti ca, para a felici dade
geral. " Pouc o antes , nesse discu rso, . - d regim e mas pode cont ribui r 'à sua trans -
havia -se respo nsabi lizado pela crise també perp etuaç ao od form açao , em
m a socie dade, cm raz,ão da explo são um mom ento e corre aça 1' -o de força s favo rávei s às classes suba ltern as.
demo gráfic a e da "inco ntinê ncia dos que,
quebr ando princ ípios morai s, não
refrei am sua fome de lucro ". Discu rso do
Presid ente da Repú blica em 1.º de O traba lho socia l pass ou a mco .
rpor ar a ideol ogia da tecno craci.a,
maio de 1982. ln: Folha de São Paulo , . .
2-5-1 982, p. 33. da plan ifica ção, com o uma f orma d e regu lação dos prob lema s socia is.
88
89
\

Acre ditav a-se na eficácia de uma raci agrá ria, pela habi taçã o, pelos serviços
onal idad e global que prop iciar ia , mob iliza ram gran de cont in-
uma melh or adeq uaçã o e distr ibui ção gente de massas cam pone sas e urba nas.
de recu rsos e uma reeq uilib ra-
ção dos conflitos. o cont ato dos trab alha dore s sociais com estes movimen
As_ ~olíticas sociais pass am a ser uma a discussão do mar xism o na univ ersid tos, com
form a de regu laçã o das ade, nos mov imen tos popu lare s,
cont~ad'.~oes _d~ ?rec esso de acum ulaç perm itiu que o mate riali smo ~istórico
tend enci as h1stoncas da acum ulaç ão
ão, exac erba das pelas próp rias ~ dia,létic,o_ se t_ornas_se. uma
e pela pres são das classes do- alter.~ativa teór ica capa z de abn r perspect
1vas a prat ica do profissional.
min adas . Alguns assu mira m a visão mate riali sta
com ~ uma_ ?çã~ mil!tante.
, No enta nto, a atua ção do Esta do, com Para eles já não mais era possível sepa
o assinalamos, não é au- rar a açao poht1ca 1med1ata, a
tomat1ca, pod endo situa r-se nessa rela luta pelo pode r, da atua ção prof issio
ção cont radi tória de form a tam- nal.
bém ?ont~adi_t~ria, inde pend ente da vont Outr os se recu sara m term inan teme nte
ade dos hom ens. Assim, pode a ver esta pers pect iva,
lamb em significar uma cert a exac erba fech ando -se na posi ção cons erva dora
ção das cont radi ções . (Loj kine e nega ndo mes mo a possibili-
198 1: 330 ).
' dade de uma disc ussã o teór ica a resp
eito.
"':1- c:ise da plan ifica ção com o Assim, a luta ideológica se desl anch ou
form a de regu laçã o e mais a no inter ior da prof issão ,
organiz~~ao e as lutas dos seto res dom faze ndo- se nessa últim a déca da, cada
inad os leva ram os trab alha do- vez mais clara.
res soc1?'.s a um~ ~rise. Cris e não só
em rela ção ao seu pape l dent ro A disc ussã o da relaç ão entr e a dialé
d_as pohticas_ soc1~1~, mas tamb ém de tica e o trab alho social se
seu com prom isso , de seu posi- torn ou pres ente entr e os trab alha dore
cion ame nto 1deolog1co frente aos conf s sociais, em prim~iro lu~ar,
litos de classes e grup os sociais. com rela ção ao méto do de trab alho .
Busc ava- se, com o vuno s, uma
, ~sta crise ~rovoc_o~
1 n~ Amé rica Lati na ao mes mo temp resp osta à crise profissional.
an 00 us_t1a frente as ex1gencias de tran o uma
sfor maç ão da estru tura e às
pres soes das classes dom inan tes por man 2. DIA LÉT ICA E MET ODO LOG IA
ter seu sistema de dom inaç ão.
~s t~·abalhadores s~ciais busc aram urna No mom ento mais agud o da crise cio
resp osta a este desafio, méto do de plan ifica ção
em pume1ro luga r ques tion ando a sua busc avam -se novas base s para a estru
meto dolo gia de ação. Que stio- tura ção meto doló gica cio trab a-
nam ento 9\le teve ~orno alvo P:incipa1 lho social. No proc esso ele plan ifica ção
a próp ria ideologia do ajus ta- supu nha- se uma séri~ de etap as
men to da mteg raça o e da utop ia da solu que iam desd e a info rma ção ao diag
ção ele caso a caso. nó?i co, ao. cs:abelec1mento de
. O referenci~l teór ico func iona lista da plan os-p rogr ama s-pr ojet os, à sua exec
reeq uilib raçã o se torn ou uçao e ava!Iaçao.
1mpo~ente para aJudar os trab alha dore O pens ame nto clialétíco cont ríbu iu,
s sociais mais cons cien tes na entã o, para d!t:a ~iza r as
so~uçao desta crise profissional, e mais relaç ões entr e esta s etap as e com o
aind a no enca min ham ento de críti ca à visão pos1t1v1sta, que
açoes qu_e pude ssem cont ribu ir ao desl redu zia o plan o a um etap ismo rígid
anch ame nto de nova s form as o e linear.
de atua çao.
Con tribu iu tamb ém para a crítica da
visão positivista da redu ção
Em algu , . ns_, país es da Amé rica Lati na, no ent'-•nto a da ciên cia ao obse rváv el e à desc rição
.
, na
prop • da orde m estabelecida.
class~- o~e rana !ª ,h~via ad~t ado form u ,
A dialé tica, com o form a de pens ar o
as de orga niza ção insp irad as no conc reto atrav és da cons-
ma~er 1a1Ismo lusto nco e tmh a com o truç ão de cate gori as abst ratas que trate
polí tica a tran sfor maç ão da m ele apro pria r o real pelo
so~1edade. Exe mpl os ~is~o são as orga pens ame nto, busc a com pree nder o
niza ções dos part idos pop u- mov imen to do real enqu anto
1~1 es, entr e eles os soci alist as proc esso dinâ mico e cont radi tório , e
e com unis tas. Outr os mov imen tos polí não com o uma série de etap as
ticos t~mbém surg iram na déca da de -
60, com o a revo luçã o cuba na rígid as pree stab elec idas .
e mov imen tos guerrilheiros. Em terce Do pon to de vista clialétic'1, a meto dolo
iro lugar, mov imen tos de mas - gia nã~ é ~1m ~onjunto
s~1 pelas refo rma s sociais desa broc hara de regr as mas uma cons ciên cia dos
m e se estru tura ram tant o nas proc ess? s globais h1st ?nca men te
cida des com o no cam po. No Chile, por dado s num a relaç ão cont radi tócia e
exemplo, as lutas pela refo rma glob altza dora . O meto do deve
90 91
;_i_de~uar-se ao º~tet~ e não o objeto ao método. A relação linear e conceito de liberação foi tomado num sentido subjetivo , enquant o
, d
c<1usdl entre vanave1s e setores é uma fot·r 11 'a '·ipc nc1s e controle liberação pessoal pela conquist a de um novo significa do histórico
· r
1mc( rato, enquant o que a dialética supõe a construç ão de categoiia s dado pela consciên cia individu al aos fenômen os e às situaçõe s vi-
que permitam uma articulaç ão global do particula r ao geral e do venciada s.
geral ao particula r. Esta visão humanis ta vincula-s e a uma v1sao idealista da própria
. Al-ém disso, a c:·ítica ao positivis mo levou a consider ar a crencia dialética enquanto a concebe como uma forma de transform ar a
corn_o un~a. _elabo~·açao social, in_stituciona[izacta, como resultado das realidad e pelo r~nsame nto, por novas maneiras de concebe r a rea-
lutas sociais e nao como .
um discurso isolado ' .
A ·• · nao
crcncia
-
pode lidade. As transform ações depende riam de novas concepç ões e não
. f d·
con un ir-se com o discurso da própria ciencia. o contrário , isto é, novas concepç ões nascem e surgem no próprio
... -~as a contribu ição da dialética , às vezes foi tomada de forma processo de transform ação.
idec1l1sta, como a passagem do conhecim ento de forma. ., ·
formas ... • , · E., . . . . .. ,s sens1ve1s a
• 1ac1onc11s. stc1 1ac1onal1 dade s1omfica va ordenar d 3. TRANSFORMA-ÇÃO E DIALÉT ICA
sensível s d •º < o mun o
, • ~:Paran o-se, portanto . diagnóst ico e observaç ão fatos e
.
e ação. Esta sepa1·aç:,;o t1··1clt1 ·, , , . A expressã o prática-t ransform adora aparecia , então, como uma
mterprct açao, pensame nto Zla a propna
d. . • , .- .
1çao feita, no modelo r{orninan
' " e
, - entre diag-
te da P!·arn·1:·ICdçao, · palavra de ordem çlo trabalho social. Estas práticas eram concebid as
esvinculc
nos
, t'
1co e p 1ano,
.
mformaç ão e
'
program a. de forma isolada das estrutura s. As práticas dos atores seriam formas
de ação dos sujeitos e não estrutura das pelo próprio processo de
Assim, pé:1rece que a ação profissio nal ordenari a racional mente acumula ção. Neste sentido a obra inicial de Poulantz as contribu iu
º.. rbnulndo sens1~el da populaçã o por uma inten·en ção progress iva do
!ta a haclor socrnl. 2
para criar esta dicotom ia entre práticas e estrutura s (Lojkine , 1968).

- Esta concepç ão da prática transform adora foi também tomada


, e nesta perspect iva. , ha via • uma p1eocup .
Nester momento . ,. açao pelos conserva dores como um romantis mo acadêmi co, como uma
com -o en ·oque c1entil·ico e metodoló gico do t1..<1balJ10 s• ocra .. · 1 com a
I·el·, • , . ' forma ele desvincu lação das realidad es institucio nais .
.1 «çao 1eona-pra t1ca (Ramalh o, 1982).
Na verdade esta concepç ão consiste numa visão do trabalho
A crítica ao pq_sitivismo levou tarnbe~in a' necessid ade de situar
- social numa perspect iva voluntar ista e idealista , ao concebe r a trans-
capitalis ta modo ele rod -
o trabalho social no contexto 110
- 1 p I u~ao formaçã o sem ter em conta a correlaç ão de forças permane ntes e
cap1tal1sta.. Isto significava uma re3'eiç10 d~ conce pçao e as re açoes
s · · < conjuntu rais.'
ocia,s apenas como relações interindi viduais.
A utilizaçã o do diálogo, da comunic ação do trabalha dor social
No entanto, outros tinham uma visão humanis ta da dialética.J com as classes oprimida s é a forma privilegi ada de ação dentro da
. ~ ênfase se co~oca então, no sujeito ator de sua história, na visão humanis ta. Mas é uma via que tem que ser explorad a e colo-
cr.cnça numa evoluçao progress iva e humaniz ante da sociedad e. O cada de forma complex a em cada sociedad e, pois o diálogo é uma
mediaçã o que se situa, por sua vez, numa relação complex a de forças
}· Maria Angélica Gallardo Clark ( 1974: 4'-72) ·it 1, . . e não depende só de uma opção pessoal.
vençao e do conhecim ento nas eta ·1s· senso;·1... , s la'? p1ocesso d,, inter-
111vestigação diagnóstic o progra . ,: p, • _ "·· p~rccptiva , abstrata e de As relações entre o profissio nal e a populaçã o, ou os usuários
também sep;,ra o conhe~im ent~ ~~:~~~o, tx,ecu?ª? t avaliação. Boris Lima ( 1974)
do trabalho social, situam-s e nas relações mais complex as do Estado
de planificaç iio. • ve e O 1<1cional, ele acordo com o processo
, .
com a sociedad e, da base com as superest ruturas, das organiza ções
_3. Ver sobretudo Ander-Eg g (1975· ZIO) 0 12 • . " .
de liberação se, constrói sobt·e •
doi·s pressupos • ele. P<1ra nos o conceito do proletar iado com as organiza ções das classes dominan tes.
• • tos:
. - que ha uma evolução da humanida d e pa1a . f· . . .
e ' ases que s1g111f1cam quali-
lattvamen te uma ;1sccnsão humana; 4. No projeto da Escola de Trabalho Social da Universid ade Católica de
de
. T
~ue o hot!1em é construto r, fazedor da história , o't' o que s1gm ica a que Valparaís o já havíamos colocado a questão da análise das forças sociais
me~mo e responsavcJ no conduzir ela evolução" . transform ação como elemento metodológ ico.

92 93
. O conceit o de transfo rmação passou então
visto e reduzid o a uma questão de - : para alguns, a ser 1r1versão de situaçõ es em que o oprimid o passa a ser o opresso r é
político em favor de uma revai _?PÇaod. ou nao, por um trabalho negar todas as mediaç ões pelas quais passa a própria domina ção. A
. uçao ra ical ' a curto prazo, numa 11t:gação da socieda de existent e não é a inversã o mecâni ca das situa-
-
perspect1va vangua rdista , levand o se ao extremo a se -
, .
praticas e estrutur as. paraçao entre çoes dadas, mas um process o de mediaç ões historic amente possíveis.
1 . Um dos conceit os que permite m compre ender a passage m e a
O :vanguardismo pensa levar o saber a de é o de hegemo -
pro etanado desde fora
desde o exterior da classe , ven d o o trabalhoador 1ransfor mação de uma socieda de em outra socieda
s • 1 f.undam ental-'
mente como um agente ideol, . ocia 11 ia e contra- hegemo nia. Hegem onia significa, em primeir o lugar a
proletá ria de seus próp . . og1coes capaz de conscie ntizar a classe l·apacid ade de direção , de fazer-se aceitar, de obter o acatam ento e o
nos interess de classe. consens o do conjunt o da socieda de a partir da organiz ação e da ação
.
Esta consciê ncia seria desenvo lvida
. .
1
pe o trabalho ideológ ico ' que tk um grupo em relação aos demais grupos de socieda de. Gramsc i
levaria o proletar1·ado a se. 01garnz ar e a bT
se mo J izar contra o Estado d~staca justame nte a -:fiação desta vontade coletiva, conscie nte, pela
opresso r e os capitali stas expio. d integraç ão do pensam ento à ação pelos intelect uais orgânic os. Esse
implica ria a destruiç ão das f ia o_res. A luta pela transfor mação
popular es. ormas imposta s pelo Estado às classes momen to do qual fala Gramsc i significa justame nte a compre ensão
do papel das superes truturas na transfo rmação e enquan to lugar em
Esta radicali zação levou muito. . b que se toma consciê ncia da própria estrutur a.
Iham nos aparelh os do Estad s tia aJhadon.:s sociais que traba-
o a recusar. toda fo rma d e compro misso A ação transfo rmador a das superes truturas e a função dos inte-
com a transfo rmação pois esta . r lectuais na sua organiz ação é um process o perman ente de mediaç ões,
empreg o. Como con~eb er a de1;p _1c~nad a destruiç ão do seu próprio de estabele cimento de estratég ias e práticas de lutas para avançar e
próprio aparelh o do Estado que ·t;.:~~~~a o E~ta~o sendo ~u~ é no de capacid ade de recuar, e não um process o linear de avanços sem
Esta forma de conceb er a transfor . - a ma1ona dos prof1ss10nais? recuo. A transfo rmação do autorita rismo e da explora ção supõe a
tar-se na dialética Esta se.· . maçao parece também fundam en-
• ua vista como um·a d.1cotom1. 2açao _
entre criaçao de práticas democr áticas, de crítica à explora ção exi<;tente
bj ocos domina ntes e clom· d
. . . ina os, como luta .
de I
c asse contra classe ' para ir-se criando um novo consens o no próprio cotidian o.
d iv1dmd o-se a socieda de numa opos1ça . -
o
s1s
t , •
ematica , que perpass aria E necessá rio criticar o senso comum não de forma desorde nada
todos os aparelh os e mesmo 0
. pensam ento individual. e espontâ nea, mas sistemá tica, coerent e, organiz ada, sem o volunta -
A d1cotomização em realidad e - rismo idealist a que parte das capacid ades individu ais ou de esquern as
n_ado corresp onde ao pensam ento
dialético. A visão dialétic a' st1po- e a 'urn de capacit ação trazidos de fora para dentro. A capacit ação política
ade dos• con • t ranos
, •
em movi-
mento perman ente e na~o e m opos1ça
.
. -
o rígid - da não é uma ilumina ção individua1, mas a criação de estrutur as orgâ-
a, e supoe a análise
totahda de através de med·iaçoes -
comple xas. s nicas de reflexão em que o process o da prática é relacion ado com as
, . As mediaçõ es são constru ções de cate~or ias que permite m a estrutur as, e os movime ntos ocasion ais e conjunt urais com os movi-
6
analis: comple xa de situaçõe s mentos perman entes.
concret as, e nao a sua simples inter-
pretaça o abstrata isolada. rutura:
6. Gramsci ( I 980: 46) diz, a respeito da estrutura e da superest
um 'bloco histórico ', o conjunto com-
A transfo rmação social e' um process o de d• - "a estrutura e as superest ruturas formam
do conjunto
- b . me iaçoes comple xas plexo, contradi tório e discorda nte das superest ruturas é o reflexo
e nao de oposiçõ es rígidas C utilizar-s e o
• once er a transfo rmação como uma das relações sociais de produção ". Ma.is adiante afirma: "pode
econômi co
tema 'catarse' para indicar a passagem do moment o meramen te
para o moment o ético-pol ítico, quer dizer, para o mo-
5. Consulta r, por exemplo Ko d . conheci-
( ou egoísta-p assional)
na consciên cia
mento avance e o nosso labori;so n ~1 ( 19~ l; 47): "para que nosso realidade mento da superior elaboraç ão da estrutura em superest rutura,
Ç~ l!lldermmav~l) descobri mento da o Subjetivo
se aprofund e - ql.'er dizer· para nos po ermos 1r . alé _m d as aparênci as e pene- cios homens. Isto significa também a passagem d0 Objetivo para
' s que
trar na , e• • • •
·ssenc1a dos fenômen os _ reci . e d::, 'necessid ade' i;ara a 'liberdad e'. A estrutura de forças exteriore
e de analise .que esclareça m - , ' p samos realizar operaçõe s de sín tese domina o homem, o assimila e o torna passivo transform a-se como meio de
bret d ' nao so a dimensã o une • d.. ítica, origem
u o, a dimensã o mediato delas''. tata como também, e so- liberdade , como instrume nto para criar uma nova forma ético-pol
de novas iniciativa s" (Gramsc i, 1978: 71-2).
94
95
O proce~so de mediação das categorias de conhecimento Nesta perspectiva, a população está determinada pela atividade
cu1a-se à prática pela mediação dos movimentos e or a . - vin-
econômicâ, e a reprodução das classes sociais permite a reprodução
s~ ,:-ervem das categorias para análises concretas das f~r~::a~oe~ que
ela acumulação do capital.
s1çao de alternativas estratégicas guestionand , . p opo-
tru t , . , o na pratica os ins- Em primeiro lugar, é necessário considerar o consumo como
men _os teoncos, que assim também se realimentam A ' t .
do teórico não , t • • • au onom1a uma esfera ao mesmo tempo vinculada e separada da produção. O
. . e eonc1smo mas a autonomia vinculada ,
d1~~ta ~u indir~ta~ente. As mediações supõem alianças,ª
ut11tzaçao do propno Estado ou recusa da utilização do E t d d ,
i:~~~:•
,, .
consumo individual é diferente do consumo coletivo de serviços. Este
se relaciona com a produção de uma forma global, como os meios
pendendo da correlação de forças em cada momento. s a o, e- de transporte, educação, habitação, saúde, recreação. Este consumo
coletivo não interfere diretamente na produção de um bem material.
4. REPRODUÇÃO E DIAL~TICA B diferente considerar a matéria-prima necessária à produção
<le um sapato e o transporte necessário ao trabalhador para produzir
- (. c;í.tica ao m~todologismo e ao cientificismo do Serviço Social
nao ~1 elta a partir do conceito de hegemonia e de med· - este sapato. A vinculação do consumo à produção não significa auto-
a partir do conceito de reprodução. taçao mas maticamente que o consumo por si mesmo produza mais-valia.
Pode acontecer mesmo que o desenvolvimento dos serviços ve-
Pode~:ª~:~~:m~:: rep:~dução e transformação são contraditórios.
. prax1s transformadora em instituições ue re- nha a acarretar gastos e dispêndio de mais-valia, e venha a ser até
~roduzem o capital, ou a prática transformadora deve ser s~arad contraprodutivo. Assim, por exemplo, a escola pode ter um efeito
a e~trutura da reprodução? A reprodu ão das rel - . . . ª de inadequar a mão-de-obra ao capital, os gastos de saúde podem
domma s~bre a transformaç~o? As transçformações ;~~:!v:~c1:~~ ~~:: significar a produção de mais doenças, os gastos com a justiça podem
ros arran1os para melhor realizar a reprodução? não diminuir o crime e, no entanto, são mantidos.
. , .É necessário_ aclarar o conceito de reproduça~o Na produção de um serviço é necessário distinguir a atividade
cio n á -1o em seguida com o de transformação. para poder rela- e o resultado, ou melhor, a eficácia desse serviço e o meio utilizado
- Para alguns autores, considerado do ponto d para prestá-lo. Assim, no Serviço Social realizam-se visitas, entrevis-
duça b lh e vista da repro- tas, reuniões, assembléias, manifestações, que são atividades cujos
o, o tra a o social é uma das condições
acumulação capitalista.7 da manutenção da resultados em termo ele eficácia, são dificilmente mensur;h·eis. Na
Realizar o trabalho social seria a . , . realidade, cursos e conferências podem ser considerado:, produtivos
sapatos, isto é, contribuir para a extraça~omedsemmc1 ':01sa1· que produzir sob a ótica do capital, mas diferentemenie sob a ótica dos traba-
t . a1s-va ia Assim, ao
~::~ir ase;;;~~\~ª~t:~:~~ iu d ivíd~o~, 0 trabalho social es.taria valori-
o, propiciando uma melhor tT - d
lhadores.ª
Sob a ótica do capital são produtivos os serviços que produzem
mesma na acumulação do capita! E . u I tzaçao a mais-valia, isto é, valorização do capital. Numa escola particular, as
sumo o trabalh . 1 . • , mesmo considerado como con-
, o soc1a sena uma condição da l - conferências, evidentemente pagas, podem valorizar o capital do
para alguns ( Maguiiia 1979 · 25) t d acumu açao, pois, dono dessa escola, mas devem ser consideradas a partir das relações
dutivo, porque leva ; uma. dem~ndºa o consumo proletário é pro-
acumulação. que, por sua vez, implica em que elas se produzem.
Já em outra esfera de relações, como aquelas estabelecidas e
7. A respeito consultar AI •. d • ._ controladas pelo Estado, produzem-se gastos e atividades que não
36); "é esta corr:preensã; da ~~ª~-o~:º- Maguma (_~9?7: 21-2); Parotli (1978: são diretamente vinculados à esfera produtiva. O Estado representa
de seus meios produtivos· o subst_P . 1 çao da sepat <1çao do trabalhador social
, , , ancia para entender de f
pro1etano (e portanto os serviços do trab lh . . que orma o consumo
duz uma condição de classe ex lor·1d~ a ador social integrados a ele) repr0-
de classes sociais, no interior d~ u~, ' e .Pdº:dtanto, uma determinada relação 8. A freqüência a um curso, a realização de uma entrevista podr-m ser
1a soc1e a e de natureza capitalista". uma fuga da produção.
96
97
f$ M

uma organização separada dos capitalistas individuais e, para enfrentar Numa instituição particular, sem fins lucrativos, o trabalho so-
o processo _de acumulação e crise, de desequilíbrios e perturbação da vial situa-se numa relação capitalista mas não está submetido à lógica
ordem social, realiza gastos que são considerados faux trais. São do lucro, pois nessas instituições não há produção direta de mais-
gastos indispensáveis mas não qiretamente ne-cessários, pois servem valia.
para enfrentar condições aleatórias sobrevenientes ao prncesso pro-
dutivo (Singer, 1981: 101-33). Os serviços sociais prestados dentro do aparelho estatal refe-
rem-se a serviços que não afetam de maneira específica e direta a
_ Em relação ªº. trabalho social a questão é bastante complexa e produção material, mas o próprio trabalhador. Nesse caso, sendo o
nao ~od~ ser reduzida exclusivamente a uma visão economicista. o trabalhador o objeto da ação do Estado, evidentemente há um efeito
reduc1omsmo do trabalho social à esfera exclusivamente econômica complexo e contraditório nessa ação. As próprias necessidades do
tem conseqüência na concepção cio próprio trabalhador social. Se 0 Lrabalhador são burocraticamente estabelecidas e não existe uma rela-
trabalho ou o Serviço Social é nade! mais que reprodução da força ção direta e específica entre estes serviços e necessidades diretamente
de trabalho, do _capita!, ~as relações capitalistas determinadas pelo vinculadas à produção de determinados bens. São serviços contradi-
modo ~t produçao cap1tal1sta, parece que não há lugar para a trans- Lórios e para compreendê-los é necessário ter em conta sua especifi-
forma7ao, P.ªra_ a mudança. Assim, nada mais restaria que o imobilis- cidade, as relações em que estão inseridos e sua posiç{\O histórica. B
mo, . 1mpotencia e a impossibilidade ele. através desse tipo de ação, impossível analisar os serviços sem considerá-los historicamente.
contribuir para o processo de transformação.
O próprio capital pode ser improdutivo na medida em que não
. Est~ conccpç,ã? leva , t~mbém à separação, de maneira rígida, GSteja diretamente afeto à produção de mais-valia, por exemplo, o
entre açao ou pratica pohtica e as estruturas capitalistas. Concen- capital comercial que realiza o valor. Nem por isso está separado da
tra-se exclusivamente em atividades políticas que estariam, então, produção capitalista, mas é necessário distinguir claramente as duas
desde fora das estruturas, para combater o capitalismo. Looicarnente esferas. Produzir e vender sapatos são momentos ao mesmo tempo
o trabalho social transformador não teria nenhum lugar d:ntro das articulados e separados.
instituições capitalistas. ~
Há que superar as concepções economicista da estrutura, instru-
_O. traball~o profissional existente em instituiç:ões como escolas. rnentalista do Estado e expressiva do partido, para situar o trabalho
hos~1ta1s e agenc1as de prestação de serviços seriam mecanismos ex- social numa concepção dialética.
clusivos da exploração. Alguns consideram que não há por que tra-
balhar neles e se estabelece um impasse concreto. O exercício de um A concepção econom1c1sta esquece que o econom1co é ·político,
trabalho t~·an~fo'.·112ador só seria possível quando não fosse mais pago que a reprodução do capital, da força de trabalho e das relações de
por uma 111st1tu1çao capitalista. exploração se faz de forma contraditória. As classes sociais não são
atores fora da estrutura, não têm uma prática separada ela estrutura.
5. COMPLEXIDADE E MEDIAÇÃO DO TRABALHO SOCIAL As classes são estruturalmente determinadas ê constitutivas ela estru-
tura. Não há estrutura capitalista sem classes, sem luta de classes.
No entanto, a prestação ou a realização do trabalho social é As classes tampouco são conjuntos homogêneos, permanente-
e_xtremamente complexa. O trabalho social se situa de forma diversi- mente estabelecidos, mas articulam-se na luta, no conflito.
ficada nu;n_a empresa, numa instituição particular e na estrutura do
Est_adoi. Evidentemente que numa empresa o trabalho social se refere As· práticas de classe são, por sua vez, diversificadas, mediati-
m~,s diretamente à programação e às exigências impostas pelo pa- zadas ele forma complexa por grande diversidade de mediações.
trao, _sem contud~ ser um trabalho diretamente produtivo/ Nesta As lutas de classes não são preestabelecidas por um esquema
s_11ua~ao, pode realizar programas de atribuição de empréstirhos, rea- rígido e estático, mas articulam-se hi~toricamente segundo as relações
lizaç~o. de cursos, capacitação, mas ainda assim seus resultados são de força e as conjunturas que se estabeleçam, com estratégias e táticas
aleatonos.
diversificadas.

ü
98
99
~ dEst~s classes dependem fundamentalmente do modo d •d
çao- ommante, isto é, são bur uesia e . e pro u- As relações entre superestrutura e estrutura são complexas. Cha-
mação social existem vários mo~os de -~role,:anado, ma~ numa for- 111amos atenção para a distinção que Bobbio (apud Pizzorno, 1980)
de Oliveira ( 1981 : 20- 25 ) fal , , dpr duçao •. No Brasil, Francisco faz entre Gramsci e Marx. Segundo Bobbio, em Marx a sociedade
d a ate e classes inacabadas N
este. Estas classes são constituídas de ' . no or- civil é o locus das lutas, e o conjunto das relações de produção forma
estruturadas definitivamente pelo mod dmassas h1:manas_ amda não 11 estrutura da sociedade. Para Gramsci o nível superestrutural repre-
rambulam de trabalho em trabalho o e e prod~ç~o capitalista. Pe- senta a passagem do momento puramente economico ao momento
capacitação de.f' 't· . ' s m especialidades, sem uma C:tico-político, ou seja, a elaboração superior da estrutura em su-
m1 1va, sem um proJeto rr .
logicamente dominadas. po I ico, iso1adas e ainda ideo- pcrestrutura na consciência dos homens, o passo do objetivo ao sub-
Os movimentos sociais e os partido - f . , . jetivo, da necessidade à liberdade.
que se articulam com o interesse das cl s saod armas_ de ~rgamzação Para Gramsci, a conquista da hegemonia implica a formação do
. , asses, e maneira diferenciada consenso antes mesmo da estruturação da instituição, enquanto que
- 0 partido e uma das formas ue d . . •
taçao, serviços a distintas práticas ~ 1º e oferece: unidade, onen-
ção biunívoca e exclusiva entre um :r~-~sse, mas nao há uma rela-
para o próprio Marx as ideologias derivam das próprias instituições,
para posteriqrmente justificá-las. O bloco histórico é essa unidade
pode agrupar distintas classes e a~ d~ º. e uma classe. Um partido ::;;_í.re estrutura e superestrutura. A conquista do poder não implica
delas não há uma exclusividade t 1lze1-se representante de uma ~.omente a coerção, mas o exercício da direção cultural, como forma
• . en re e e e a classe e pod de trabalho político-ideológico.
vir a contradizer os interesses da classe. ' e mesmo
. O Estado, por sua vez é uma conden - - Estas contribuições de Gramsci mostram que as instituições são
ncas, poliformes que se es,truturam . _saçao de rela-~oes sociais,. dinâmicas e que a reprodução das relações sociais nas instituições se
na sociedade capitalista o Est d é dialet~camente. Evidentemente, dá ele forma contraditória e heterogênea, de acordo com as correla-
coerção e da violência das clas:esºd t~ma forma de organização da ções e articulações de forças.
d ommantes e também d
e a persuasão. O Estado é uma f .. o consenso Se há predomínio da reprodução do capital e da força de traba-
mesmo tempo · ' orma coercitivo-repressiva e ao lho enquanto energia para o capital, evidentemente é porque as
, persuasivo-consensual. ,
O Estado não é éÍrbitro dos fl' - , forças do capital são predominantes e as classes populares subordi-
guerra de todos contra todos con. H~s, nao e a eliminação da nadas.
sociedade de classes. • ' e se situa contraditoriamente numa A reprodução da força de trabalho para o capital e a teoria da
Se a sociedade é como diz Gr . . reprodução necessitam ser colocadas neste contexto de relação de
pode predominar a f~rma o 'f amsc1, gelatinosa, desestruturada, forças.
do consenso. c erci iva, mas sem descartar a formação
A reprodução não é um processo conspiratório, maquiavélico
e mecânico. Não se trata de um esmagamento preestabelecido do
Nas sociedades capitalistas o Estad .
mais sua ação heg A • o vem ampliando cada vez proletariad,1 e de uma estratégia consciente para estrangular toda
emomca, seus aparelhos forma de manifestação da vontade popular e nem uma regulação
sociedade civil na rnedid . ' suas conexões com a
d . ' a em que interfere e intervé - automática do c2.pital.
os conflitos cotidianos e do trabalho a. . . . . m na gestao
e manifestação. O Estado articula d . p ; a dimi~uH sua agudização A concepção dialética do trabalho social supõe a eliminação das
e nele predominam os inte. . desrgua mente interesses e conflitos visões conspiratórias, maquiavélicas e automáticas do capitalismo.
• t esses as classes do • t N Ainda que dominada, existe uma ideologia proletária, existe uma
mstrumento rígido dessas cl mman es. ão é o
asses nem tampouco , t t 1 organização popular dominada, subjugada, mas também subjacente.
mo em relação a elas As I t d - e o a mente autôno-
nas políticas socia. • . u as as fraçoes da burguesia se refletem A utilização da instituição pelas classes dominantes como freio
is, assim como as lutas elas classes dominadas.
à organização das classes dominadas, como regulação de certos con-
100
101
flitos, e mesmo como atendimento a . . . . . . -
mostra que elas se situam num t ce1 tas i e1vmd1caçoes populares, A prática imposta pelas instituições consiste em separar os
con exto complexo de relações sociais
As classes dominadas constituem f . . • problemas e atribuir recursos para contrariar e conter o desenvolvi-
zadas na medid . oiças mais ou menos organi- rnento do poder e do saber das classes subalternas. Um problema só
. a em que se1am capazes de to A ·. •

mteresses e de se mobilizare1n 1· , mar consc1encia de seus se torna objeto da atuação institucional porque é uma questão com-
para rea 1za-los.
plexa, disputada por distintas forças, e na ótica da instituição ele é
Quando as classes subalternas 'se or .
se transformam em força A for • . gamz~m e se mobilizam elas apresentado como carência e a classe dominada como cliente, ven-
de mobilização e organiz;çào. Aça soc_1~l s~poe ~ essa du~Ja dimensão do-se a solução do mesmo como um recurso proveniente de cima
de colocar e.m ação uma estraté ia ~f~~i~1:aça~ s~ r~fere a c~paciclade para baixo.
em relação aos • t g para realizar seus interesses A transformação de um pedido de um "cliente" em reivindicação
• < m eresses opostos.
e dele em reivindicador é uma mudança de relação que desloca a ótica
Esses interesses são objetivamente det . . d
de exploração e dominação. São f • eJ mi~~ __os pelas relações do problema, pois a solução passa a depender da força para obter
pod_er e de produção da mais-vaJ~~mI:~ c~ntr~d1t~1ras de relações de essa solução e não exclusivamente do recurso institucionalizado.
vaçao ou transformação das f . d. o implica <l luta pela conser- A transformação de uma relação de doação numa rtlação de
. • o1mas e produção da . 1·
tomada ou manutenção do oder . ·. - . < ~a1s-va ia e ele conquista implica uma nova articulação dos movimentos existentes
consciência de certos interes~e .• ~- mobl11zaçao implica uma auto- e a vinculação desses movimentos ocasionais com outros mais pro-
dessas relações de exploração. s Idme _rato: e ª luta pela modificação fundamente políticos e permanentes, como assinala Gramsci.
e ommaçao.
. Um~ organização implica a autoconsc1·eAnc1·<,1 Esses movimentos podem vir a controlar, ele formas diversifica-
articula d dos interesses e a das, as próprias instituições, e assim recolocar a problemática da
• çao e recursos e estratégias para realizá-los.
As classes dominantes se organiz· .. doação e do recurso que aparece em muitas delas.
quistar o consenso e o acatame t d dm e se mobilrzam para con- A visão dialética do trabalho social é ao mesmo tempo histórica
Gramsci os pl- o. . . n_o as classes s_ubalternas. Segundo
, an s supe1estruturais sã . • 'd e estrutural. Histórica, no sentido de partir das forças em presença,
privados e pela sociedade pol't' . 'o constitm os pelos organismos em cada conjuntura, em cada momento, forças gerais e específicas,
consenso e dominaç"ío E 'd i ica a que c.-.)rrespondem as funções ele
- , • v1 entemente consenso , d . . ,. vendo-se a situação imediata e a mediatizada. Estrutural enquanto
estao estaticamente scpandos '. . ... : e o1111naçao não coloca a atuação, a prática, na totalidade contraditória das relações
nas fostituições políticas <ma;'suns n~s,. 111st1tu1çoes privadas e outros de exploração e de dominação.
- - , • ua ana 1se depende d· . .
qual sao consideradas. c1 pc1 spcct1va na
Se as forças populares silo débeis, recursos e serviços situam-se
A transformaçilo dessas relacões d , . num projeto mais paternalista. Se as forças populares são fortes, evi-
plica a força de , e consenso e clom1nação im-
uma contra-hegcmoni'1 e, dentemente mudam as relações institucionais, e recursos e serviços se
possa, a partir da situação ele ,b '' ,e_ um_ con trapoclcr que colocam numa perspectiva de direitos ou mesmo de abertura a novas
problemática da transformação. sa er e podei existentes, colocar a
relações sociais.
A transformação ou a práxis t . f . . - - A compreensão da problemática em jogo, das relações sociais,
ção repentina, súbita de um proje: a1~~ o1i°1<1dora nao e uma realiza-
das forças em presença, da conjuntura, dos espaços institucionais, da
?,
de forças, a que Gra~1sci chama d'-' J ~ª.' ma~- supõe a acumulação
contra-hegemonia, é o que pode transformar o trabalho social num
hão está isolada das lutas cofd' 1::
1 ianas
pAohtica m~u_da". A ação política
' o contrano real' 1 movimento real. A dialética do trabalho social consiste justamente em
a partir delas, vinculada à transfonn~ção elas relaç,ões ~za-sed ne as e
exploração. ' < e po er e de transformá-lo num movimento vinculado ao processo global de trans-
formação da sociedade.
As relações de pode :- - .
Ço-es d e exploraçao
- r nc10 sao anteriores ou posteriores ,
mas s 1111
• 1.
I
as re a- A transformação é um processo no qual se situa o trabalho
' e P 1cam mutuamente.
social e não é dependente dela, pois o trabalho social é ap1~nas uma
102
103
oper ação prof issio nal que tem sua espe
cificidade polí tica e técnica.
A com pree nsão da dialé tica do trab alho
social passa justa men te pela
situa ção e pela com pree nsão dessa espe
cificidade.
O trab alho social é cont radi tório e hete
rogê neo, apre sent ando -se
de form a diversificada nas instituições,
com taref as variáveis e um
obje to ae ação perm anen tem ente cons
truíd o.
A tran sfor maç ão das relaç ões sociais,
cessita part ir dess a plur alid ade de form
das relações de força, ne- Ca pít ulo 8
as em que se man ifest a o tra-
balh o social. Plur alid ade tam bém de
repr oduç ão, pois esta não é
isola da da tran sfor maç ão e nem vice
-versa.
A luta das classes dom inad as por tran
Re gu laç ão e articulaç~o:_
sfor mar relaç ões necessita do is pa rad ign1 as n1ctodolog1cos
de estra tégia s e táticas. Esta luta pod
e levar e dese mbo car apen as
num a regu laçã o imed iata por part e do
cionais, com o pres taçã o de recu rsos
Esta do de mec anis mos insti tu-
ou uma regu laçã o política mais
do tra ba lho social*
geral, que implica a repr odu ção das
relações sociais globais. Pod e
tam bém levar à exac erba ção de cert
as cont radi ções , agud izan do os
éonflitos.
Os mec anis mos de legit imaç ão pod em
se tran sfor mar em obje tos
de luta , de conf ront o, apes ar das class
es dom inan tes não dese jare m
ver seu pod er ques tion ado ou ame açad
o. . fl -o é com pree nder que
A distr ibui ção de recu rsos , os plan os "A próp ria essencia d a ,_e
A •

~;"ª
de eme rgên cia, os serv iços não se havi a com pree ndid o
insti tucio nais não raro se tran sfor mam . .
em pleito, em dem anda , em Gas ton Bach e/ar d, Epis temo logi a,
crítica, em conflito. trecho~ esco zl~i :/
.
por D omin t·que Lec ourt, Rio de Jane iro, '
Aqu ilo que estra tégic a ou tatic ame nte 198 3, p. 113 .
foi esta bele cido para con-
trola r sai do cont role das classes dom
inan tes. Arra ncar certo s espa ços
a este cont role , pass ar o cont role às class "Mu dan do de méto dos a ciên cia
es dom inad as é uma ques tão se torn a cada ve.z
de pod er que vai perp assa ndo o cotid mais met ódic a" (Ide m, P- l2S) .
iano .
O pod er perp assa as orga niza ções popu . S • Social foi enfa tizad a du-
lares . A estra tégia das A ques tão da meto dolo gia
classes dom inan tes é man ter-s e no pode do erv1ço deba te teór ico
r, mas este pod er não é abso - d, d d 70 com o uma form a de reto mar o
luto. Nem mes mo nas instituições fech rant e a eca a ~ - t to esta ênfa se levo u a certo s exag
adas com o as prisões, ond e e prát ico da prof1ssao. No en an n' side e-
expl odem as revo ltas e se plan ejam novo rar. a discussão meto doló gica
s crimes. ros. T..eon•c ame nte pass ou-s e a . coh . .
E prec iso que as orga niza ções , os grup
os, os indi vídu os das clas- com o a únic a form a de_ enca mm ame to da sistt mati zaçã o da ativ1-
ses popu lare s tenh am o sabe r desse ~tod o c~~ o um conj unto fixo
pode r, desse cont rapo der. Para dade prof issio nal. Cons1deroul~se 1º med
d everiam prod uzir sem pre ou
isto pod e cont ribu ir o trab alho social,
com seu sabe r específico. e regr as que , uma vez .ap tcac ltad
as,
os Este esqu ema foi cnt1.. d
quas e sem pre os mes mos I esu • ca o por
Este sabe r implica, port anto , situa r-se
na dialética das forç as
sociais e na utilização de med iaçõ es
com plex as de análise e ação .
Nad a de mais antid ialét ico que o imed * Trab alho mim eogr afa d o Pel a Univ ersid ade de Bras1,,..ia. S'er ie "Serv iço
íalis mo. Soci al", n.º 14, 1984.
104
105
Leila Lima e Roberto Rodrigues (1983: l 9-48) como o desvio • • , • a coordenação dos recursos dis??nív,:is fren-
c1a1s, tornava nec,:ssana A tecnologia da plamflcaçao serve
metodologista da profissão. Mesmo dentro de uma concepçâo cha-
lc às reivindicaçoes . cr~scer::tes. recursos e ao mesmo tempo, para
mada marxista há quem estabeleça como permanente em Marx o para confrontar reivmd1caçoes e . . ,,., ~erdade que pode servir
núcleo metodológico central, deixando variar as análises de conjun- •• d - de gastos sociais. .e
ll:gitimar a re uçao . esta redução de recursos na pers- t
tura. Se é verdade que as questões metodológicas são importantes, , t ar e denunciar
lambem para mos r .. d·as. O importante é colocar es e
por out.1o lado é também necessário considerar que elas são histori- 1,
l)ectiva po 1t1ca• das classes domma . d
. 'd em função de determma os
camente determinadas. Além do mais, o método é o desenvolvimento, t ologia construi a
ecn . ou menos útil de acordo com
o desdobramento de uma reflexão sobre um determinado objeto no
processo comol' • uma ele se toma mais .
objetivos, p_o it1cos ~

próprio pensamento. Elaborar o método significa, pois, a reflexão eri o de definir o Serviço Social como
as estrategias • em, •Jogo. . d uz·-10
O p o gd e re a um mero executor, em
rigorosa do caminho percorrido dentro de um amplo debate das t mente l .
várias alternativas possíveis de percorrer este caminho. Assim, a uma tecnologia e JUS a d . -~es olíticas. E mais grave amda, a
microprojetos, das grandes ec1r t. pnamento dado nas técnicas de
questão metodológica não pode ser fechada num único esquema, por
ser historicamente determinada e também condicionada pelo próprio
um executor bem__ade~trado p~
dia nóstico, planif1caçao e ava iaçao,
t 2e1 estabelecidos de acordo com
.
objeto, situando-se num contexto teórico construído. b_métocfa_ é, _g •
obJet1vos . , d er·miºdos pelas classes dommantes.
pie- .
pois, uma construção do conhecimento que reflete sobre ele mesmo,
- a ora a uma análise mais detalhada
sobre os passos, falhas, processos, objetivos e, fundamentalmente, Situada a questao p_assemos b g_ d onto de vista metodológico,
sobre o objeto desse conhecimento. Para se estabelecer o método é do processo de construçao do sa de~1gma ºsPque de maneira geral, vêm
• • • d • • randes para , · .
necessário conhecer seu próprio conhecer, refletir sobre a própria d1v1d111do-o em , Ots g . . . a digma funcionahsta-tecno-
reflexão e representar a relação dessa reflexão com a realidade e as • r1ca prof1ss1ona 1. 0 P ra 8)
pra _ e po lítico (Faleiros, 1983: Cap. ·
mediações do próprio conhecimento. ,'-'' '':.:l crútico e o aparadigma
orientando • , •
d1alet1co

Por outro lado, do ponto de vista da prática, confundiu-se a 1, METODOLOGIA DA REGULAÇÃO


questão metodológica com a elaboração de uma série de etapas que
pudessem levar a uma maior eficácia no trabalho institucional. O • la ão aquele processo metodoló-
Aqui cons1deramo: como re~~ ç ue consiste no estudo de
processo de planificação tornou-se o mecanismo de sistematização oico que se situa ao mvel da pratica, de q a compensação a nível
das práticas e foi erigido em esquema universal da atividade profis- º • - • bl a e na busca e um ' -
certas s1tuaçoes-p10 . e~-. ão A re ulação combina a relaçao pro-
sional, ou melhor, da sistematização das operações profissionais. O
de recursos, para esta sttuaç • t g ormas institucionais preestabe-
objetivo desse esquema era aglutinar num ou numa série de momentos blema-recurso de acordo com, ccr as n desrecrulagens que podem ser
certas etapas, procedimentos e técnicas utilizados nas atividades pro-
lecidas, tomand? os prob,le1:n:osc~:::~itucion~is. Este tema está bas-
fissionais. Não se pode negar que o Serviço Social utiliza procedi-
reparadas _a traves de m_ecanisdos textos que compõem este livro. No
mentos de diagnóstico, elaboração de programas e projetos, controle a·nda mais esta questão.
tante analisado n~ _conJtmtfo d
de atividades e avaliação por resultados. No entanto, esse arcabouço entanto é necessano apro un ar I
de operações práticas se inscreve num contexto político e teórico ' - arte do pressuposto de que as classes
muito mais complexo. Em primeiro lugar, situa-se numa determinada O processo de ~e.gulaçao p esinte ,radas e podem constituir, eco-
correlação de forças que objetiva a racionalização de recursos em subalternas estão politicamente d _g do capital pelo consumo e
• fonte de expansao -
função daquilo que os próprios tecnocratas chamam de "necessida- nom1camente, uma , . . de rodu ão através da qual estao
des". Esta racionalização tecnocrática busca alcançar certos objetivos pela subordinação de certas f~r mas ) pao d;;envolvimento global da
políticos que são mediatizados pelo procedimento da planificação, ligadas ( por exemplo os ª.utonom~ts s do1·s aspectos. A "desintegra-
.
- ·t rsta VeJamos es e
utilizada como justificativa de um "bom" proceder. Ao mesmo tem- • ai
, • "capi
a'cumulaçao rca
1
• no ponto d e vis . a
. ta das classes dornmantes,
po, a própria dinâmica social, modificada pelas pressões das classes ção polttica imp , • • t a proposição de alternativas
subalternas e pelo processo de acumulação que limita os gastos so- contestação da ordem soc,~l ex1st~,1;. e epode manifestar-se através da
a esta ordem. A contestaçao, a cu ica
106
107
insatisfação individual ou coletiva. .
A insatisfação coletiva pod e as- . . d
sumir formas de protestos ma.is ou vas na soc,ed~~e c1v1l e e-~ ecanismos de coo ptaç ão instítucional. A
menos mobilizadores e ameaça- enta ão dos grupos dom inad os
dores à orde m existente, desde que regu laçã o ~olit1ca busc a ent_a: :
f~tf:São eç divulgação do projeto de
o volume e a extensão deste
protesto se espalhe por segmentos mais para esvaziar seus pro.testos
ou menos representativos e ·taç ão dos valores das classes
amplos da sociedade civil. Assim, direção global da soe1~dad: p~ra. aã:1
manifestações de ruas, canções, vem exercendo um papel fun-
teatros, i:q:iprensa, igreja, escola, com dominantes. Neste sentido, a te ,ev_,s
o organizações populares as mais ,, dessa difusão Atra vés de ou-
diversas, pod em torn ar-s e focos de ques dam enta l como "intelectual orga mco
tionamento. Neste sentido há . . - - . de •part icip ação de
uma resistência à direção e à hege
monia que as classes dominantes
tras inst1tu1ç oes sao estabelercidos mec . amsmos
corp oraç ão dos grupos pop '
desejam desenvolver na sociedade civil integração e lazer q,u~ cadna ,~am ta u-
político de man uten ção da orde m
pela aceitação de seu projeto lares no proj eto pohttco omm an e, ~:m o uma form a de aten uaçã o
social, isto é, das relações de de certas tensões sociais.'
dom inaç ão e exploração. .
O desenvolvimento do processo de A exp ansã o capi.talis . d
ta esenvo lve mecanismos - de aum ento do
. d ra e form açao de pessoa l • •-
e complexo pois, ao implicar uma mud
acumulação é con trad itóri o consumo, trem ame nt~ e rn ão-d e-ob d t abalho não só enq uan to ex1g i
ança na composição orgâ nica des para a repr odu çao ela força e. repo -
do capital e na baix a tendencial da
ções que criam desempregos e recessão
taxa de lucro, leva a modifica- . - desenvolvimento da energiar consu~rüda no trab alho , mas
s1çao e
gem novos mercados e, port anto ,
, mas, ao mesmo tempo, exi- enq uan to repr o duç ão da con diçã o do trab alha dor.
novos consumidores que, para . - e ansão aqui anal isad . '
com prar as mercadorias produzidas,
necessitam de dete rmin ado nível Tan to a mte graç ao com o ~ xp as 1evam a
- - d prob lemas" que
de rendimento. Para obtê-lo, na soci
edade capitalista, é necessário ao forrnulaçao de urna "me todo logi a .de reso 1uçao e
ope rári o vender sua força de trab alho tem como processo fund_amental d a lani fica ção mas cuja s conse-
e/ ou submeter-se às formas c~ntrole político e da ocultação
de pres taçã o de "sal ário s indiretos" qüências são o desenvolvimento º-
pelo Estado (Bru nho ff, 197 6: dom inaç ão Vejamos estas
Cap. 1 e 2). ideológica da relação de exploraçao
e •
conseque.. , nc1·as de maneira mais detalhada.
O mod o de prod ução capitalista vai
assim subo rdin and o de for- d
ma desigual e com bina da os indivídu
os e outras formas de prod ução O processo de cont.role, ?ª. pra_'tica ' não é separado o proc .
ess o
porv entu ra existentes, para expandir • são d1stmgu 1dos , dest acá- los me-
e desenvolver-se, pois a prod u- de ocultação, mas aq~i apenas para
ção é fund ame ntal men te dom inad a , d mecanismos de part icip ação
pelos grandes monopólios. As lhor. O control_e social atraves b-~ ou
~o saúd e ou outr os próprios à

t.ª'~t
áreas de lazer, nutrição, saúde, prev atividade e proJ~tos de _later ~ ha, 1
idência e hab itaç ão são inco rpo- ~bjetivo explícito, claro, mas
radas ao processo de prod ução capi prát ica do Serviço Soc1a nao e
talista não só pelo controle da dades imediatas. Assim, o ime-
prod ução desses serviços, mas pela just ame nte ed,ulcorado por _es:~s a ~~~i
expansão de formas "mercantili- ca ~ma forma em que a •ques-
zadas pelo Esta do" de com pra e ven diat o é uma forma_ de me_diaçaie pse
da dos mesmos. Assim, a área tor;rn mais ou menos premente
de alimentação, ou melhor, a política tão do lazer, da recreaçao, q
de nutrição, pod e desenvolver , • d _ t ões das classes dorn 1·nad as torna-se politicamente
a distribuição de leite em pó na med para ahv1 0 as ens ,
ida que haja uma supe rpro duç ão
imp orta nte na relação de forças soci. . . O controle é um mecamsmo
.
das multinacionais, como também pod ais. stab elec
e servir de meio de escoamento - e resu me apenas no e imento de normas,
de prod utos de segunda qualidade. complexo e nao s . ,. .
A habitação, a edu caçã o e a as se insinua na presença de
saúde torn am- se serviços vendidos pelo procedime~tos, buroc_rac'.ª•. p~pe:~•
próprio Esta do e não raro com ; ·ustamente aí que o assistente
lucro, sobr etud o no que diz respeito uma relaçao de saber pi ofiss1lon •.
à moradia. . lJ pen etra os grupos populares
soctal exerce um pap el centra ' ,pois ee .
Do pon to de vista político, os mecanis
mos repressivos se torn am por den tro, con hece suas estrateg1.as, cus líderes seus locais de reu-
s ·b·1· 1dad es' detendo pois atra-
deslegitimadores e precisam ser com
binados com formas que levem mao, seus pro blema s , suas falhas e poss1 l • , , ,
à integração e à participação da vés dest a rela ção, o saber que vem de dentro desses grupos. Ao
população nos projetos políticos
existentes, através das atividades cult
urais, cívicas, sócio-participati- Ver nosso texto referente aos Cent ros
1. Sociais Urba nos. ln: RIAC , vol. 9.
108
109
mesmo_ ~empo, ele está dentro dá instituição, ainda que de forma Por sua vez, a população se submete a estas ex1gencias tendo
~ubo~drnada e _sem ~ces,so a todos os mecanismos, dispondo de certos em vista a obtenção de um alívio imediato ao processo de explora-
'~cursos que sao_ at~1~u1dos, não raramente, a seu critério, a seu arbí- ção e dominação, servindo-se também delas para sua sobrevivência
trio, ~ grupos e md1v1duos dos quais tem conhecimento. A sua meto- e uma possibilidade de certa melhoria, ainda que fugaz e reduzida, no
dologia ~e trabalho, do ponto de vista do controle, consiste ois no seu cotidiano. Na América Latina, as condições de favoritismo e
~s~~b~lec1mento d_e vínculos entre normas, recursos e problem~s para clientelismo aumentam ainda mais as pressões das classes dominan-
. e t?1r .e catego_nzar este último e elevá-lo à condição de uestão tes sobre as dominadas, além do mais reprimidas pelo autoritarism o.
mst1tuc1onal, retirando dele a sua relação com as forç ~ . O
probl f . . as soc1a1s A seguir analisaremo s o outro paradigma do trabalho social,
J'f ema aparece namente apresentado , tecnicament e estudad~ e
voltado para um processo político de articulação de forças para a
po I icamente com possibilidades de solução a médio ou lo ngo prazo.
A metodolog· • ct l - solução dos problemas e não de isolamento do problema para des-
. . ia e so uçao do problema, ou melhor de re ula ão
consiste Justamente em isolá-lo do contexto e da f orça ' b'gl' ç ' mobilização das forças.
mo I tzadora
que possa ter para a população.
2. METODOL OGIA DA ARTICULA ÇÃO
Esta metodologia busca definir e mostrar para a o rnla -
seu ~robl~_ma, mas na_ perspectiv_a da instituição, com os pm~can1::o~ Em oposição à metodologia da regulação, nossa proposta tem
de dilataçao da qu~stao e com Justificativas de falta de recursos na sido a de considerar as relações sociais contraditóri as para pensar-se
b~:~:s d: fazer a~e~tar alternativas institucionais diferentes das ~ro- um processo de articulação do trabalho social nesse contexto.
p . p 1a populaça?, fazen?o-a acreditar que a questão que a afli e f'. necessário, no entanto, descartar desde o início uma concep-
e a pt eocu pa podera ser dimensionad a e resolvida pelos mecanís- g
mos existentes. ção positivista da contradição , que objetiva fazer uma análise das
relações a partir de uma observação externa, como se as contradiçõe s
0 sabe_r da população sobre a sua própria viela é ex ro riado pudessem ser identificadas de forma isolada, levando-se em conta,
por l1m conJunto de técnicas que constroem um outro sab e,,~ o psa b er apenas algumas oposições em certos pólos em conflito. Ao contrário,
considerado téc • •
rnco ou mesmo científico sobre est·1' realidad A a contradição é movimento, luta, negação, superação numa totalidade
- L

questao de chamar se 't d • ,,. ' ' e. complexa, mediatizada por relações complexas. A reflexão sobre a
t . - O me o o c1ent1fico, nos estudos sociais pode
ourn-se_ u~1a forma de esvaziamento de uma questão política' e de sociedade em conflito implica necessariam ente a consideraçã o das
et· ?rpopn~çao d~ um sa~er popular ameaçador à ordem social e~isten- classes fundamenta is dessa sociedade e mais ainda as relações entre
e. ara isto ha reduçao das ·t- . , essas classes, relações de exploração e dominação, e as relações com
1 • . . . ques oes estruturais as questões indivi-
c ua,s e locais atnbumdo-s e os problemas à próp na . . r· , . outras classes existentes numa formação social. As classes formam
. me icac,a des-
Preparo e d escon l1ec1mento que os atores deveriam ter do. '. frações e alianças que se manifestam concretamen te como forças so-
existentes est b 1 'd • s rnecan1smos
1
b .' - d .• a eA ec,_ os pe o Estado ou pelas classes dominantes ( atri- ciais que se mobilizam e se organizam. em torno de seus interesses
urçao e 1gnoranc1a). gerais ou específicos.
A relação contraditóri a na qual se inscreve o trabalho social só
, O processo_ ~e elaboração do saber chamado técnico e científico
pode ser entendida neste contexto ele relações de classes. As contra-
!)as~a _P~r cond1çoes de poder bastante rígidas e estabelecidas pelas
mst1tu1çoes Por exemplo ' a elab oraçao - d dições se manifestam, se apresentam sob a forma de relações e o
. . • e entrevistas e questionário s
se apresente com hora marcada e l .. , trabalho social nelas está inserido. Assim, um problema, uma questão
ex1g: que a população

traça o do pro fiss1onal ' e\ a a pene-,
. , apresentada pela população, por um indivíduo, são expressões das
• em sua vida íntima além d e con d.1c10na-la
espera , , . d . ' a relações sociais e não o resultado estático de uma falha individual ou
, a ansia e estar diante de perguntas desconl1ec1-·d as. L eva-se a coletiva, mesmo aparenteme nte apresentado como falta de saúde, falta
- , .
Popula. çao a uma espec:e de exame bastante tenso d e suas condições
de v d - de habitação, falta de recreação, falta de alimentação. Os problemas
J a, nao raramente acompanhad o de culpabilização. vividos pela prática do assistente social são o resultado de relações
110 111
complex~she é na articulação dessas relações que pode ser visualizado .~e apresenta é em geral determinado pela própria instituição. É num
o encamm amento da superação de um pro bl ema e não de sua "re-
l :- " , t:Scritório, frente a um bureau ou numa sala já de antemão escolhida
sa uçao atraves de um recurso institucional.
com regras de silêncio, de passagem e rituais de espera que a popu-

resot;! 0 u:\~i~i~,~~:. ~f:~~:~.:ç~ei~~~~l~cf:~~~oev~:: ~uperafão e lação é, em geral, atendida pelo assistente social. O relacionament o é,
pois, uma relação de força. Frente a isto, que metodologia adotar?
;:~:~:was ~ gerais que vão_ condicionar a modificação do~t~f:~~~rx: : A análise dessas condições de relacionament o e a tomada de
< s so re uma determmada questão em ·o o A ". - " ,
. J g •
um mecanismo preestab elec1.d o, pre d etermmado tesoluçao e
. - consciência do poder em que se manifesta o saber profissional é cru-
pelas • t·t
.
ra justamente ' pô r f un ao processo, ms I mçoes pa- cial para que o assistente social se veja numa relação de força não
' ao movimento.
só com a população mas também com outros profissionais e com a
é ape::s n~:oiologia d~ articula~ão a apresentação de um problema própria direção da instituição, no contexto de elaboração das polí-
os pontos de partida par'1 . . 1· - d o particular com ticas sociais numa determinada sociedade capitalista. Um relaciona-
o geral que se faz ,· ' ª ; e c1çao
' . ., ao mesmo tempo atraves de uma l - ,. mento é, pois, a mediação de relações que são articuladas de cima
entre o assistente -'
social e ea p opu 1açao. re açao poht1ca
• para baixo e que, por sua vez, podem ser articuladas de baixo para
Para compreender-s e os aspectos • . ., cima, em vários momentos, com a elaboração de estratégias e táticas
particular é necessária a constru ão de ;~1s g~ra1s de uma questão de aliança e confronto.
mitam a reflexão pelo ç a egonas abstratas que per-
pensamento dos aspectos ou d f A articulação consiste, pois, na elaboração consciente e conse-
'
i:e:;;oq~estã o apresen!ad~ ele for~a parti~ular. Transf;rrr~~:1:
e uma qucstao e um processo cl d -
;;~:! qüente, teórica, política e técnica das relações sociais (vínculos)
presentes no relacionament o profissional, para a construção de estra-
conhecimento, articulando as categorias ger· _e ro uçao ~onstante de
tégias e táticas de solução dos problemas, pela modificação das rela-
e gestos apresentados através elo . / . . ais clS expressoes, palavras
. 'e acionamento da popul · :-- ções de força existentes, tendo em conta os interesses em presença
º. assistente social. Este relacionamento pode fazer-se atrav~~a~ eo~ nas questões complexas apresentadas.
nos procedimentos , como as entrevistas a reuniã . . - e va-
rua, estudos, visitas, telefonemas. ' o, man1festaçoes ele Esta articulação é, ao mesmo tempo, técnica, profissional e polí-
l - tica e não consiste numa determinada posição ou num determinado
Nesse relacionamento específico cio .0 f .
as relações globais de forças A. . d_P~ .1ss,o,~a. estao presentes posicionament o de boa vontade face aos problemas apresentados,
• s contia içoes sociais podem s . ou de simpatia pela população e sim nas análises concretas das si-
mesmo t:n:1Pº, r~vcladas ou escondidas através desse relaciona er' ao tuações para pensar-se a produção de efeitos econômicos, políticos e
.É necess~no, pois, distinguir relação e relacioname • . , menta.
tem servido para camuflar a . .. O . nto, pois o segundo ideológicos que permitam maximizar o relacionament o existente em
b d . • pnmeua. relacwnamento acolh cl . função dos interes~es ela população nas suas relações de dominação
vi~;o o;~:-c::~e(p;~\~ri~)tradbaalchoador soci~l, tem sido utilizado para\:~ e exploração.
rnpreensao das• próp 1.•ias. re1açoes
- ..
soc1a1s
contraditórias. Este posicionament o implica a criação de formas de comunica-
ção em que haja uma horizontalidad e no falar e onde o informar seja
_Daí d_ecorre a necessidade de o trabalhador· soc1·at ter em conta
su·1
• <
1nserçao no contexto de domina ã . . . . tomado como uma tarefa política para colocar a população a par
estas relações no contexto d . I . ç o para refletir teori(:ame11te, daquilo que o assistente social sabe, pois, no processo de comuni-
d . o ,e acwnamento o relac·o cação, há um confronto de saberes que são diferentes, mas que ser-
etermmado pelas condições de trabalho d •. i _namente e
normas os . d' , . o assistente social com as vem a políticas diferentes e estão em relação com interesses contra-
' mews 1spo111ve1s e por isto me , - '
das as relações de força .á ~,e a . smo a, _estao compreendi- ditórios. Este informar implica a mudança das relações de força do
escolhidos pela própria 'i~st~uiçã 0s no, m~s, as f un~oes e os meios são saber para que a população tome conhecimento das políticas institu-
terreno e I' . e asSim se defme o campo ou o cionais de forma clara, simples e articulada com seus interesses, pois
m que se e a o relacionamento . O terreno onde a população nas relações de força estão os limites para a sua mudança.
112
113

IJ.
Nesse processo de comunicação estão presentes elementos fun- da instituição, a do Estado, conjuntamente com a população que _se
damentais para a tomada de decisão, momento em que o assistente se vê esclarecida pelas perspectivas anteriores e pela sua própna,
social pode analisar as alternativas e conseqüências de encaminha- para encaminhamento da questão específica no contexto e nas con-
mento das superações de uma luta em função da força política exis- dições gerais existentes.
tente na instituição e da força presente no movimento da população.
Assim, a prestação de determinados recursos dos quais_ dispõe
Quando a população se apresenta isolada, fragmentada, tensa por
a instituição pode variar de formas, de acordo com a perspecttva_ pe!a
uma situação de grande desgaste psicológico oriundo das relações de
qual a população encara a questão, conforme a força d~ que d1spoe
exploração, é necessário ter em conta esta realidade para encaminhar-
e a estratégia e tática a serem utilizadas. Uma vez ouvimos ?e u!n
-se então uma alternativa que viabilize a produção de um efeito de
favelado a expressão: "nós sabemos o que queremos, mas nos nao
alívio da tensão, para, ao mesmo tempo, encaminhar-se um debate,
temos a força", demonstrando que a população, não raro, te°: a pers-
uma vinculação política com as próprias organizações da população.
pectiva dos seus interesses e formula claramente seus proJetos _de
O processo de articulação consiste na formação de vínculos políticos
luta mas não conta com a força suficiente para impor ou negociar
para fortalecer a autonomia, a independência ideológica da população
seu; interesses. Assim, é necessário tentar uma nova articulação de
e a sua organização. Não se trata, pois, de urna vinculação cliente-
forças para que o problema possa ser encaminhado a curto e ~ongo
lí~tica, que é um dos objetivos da metodologia da regulação. É a
vinculação entre o assistente social e a população através de mútua prazos de diferentes formas. A f~rma a ~urto prazo, d;_ produçao de
um efeito imediato, pode ser articulada as formas pohticas de orga-
independência e reconhecimento da autonomia do profissional e da
nização e mobilização da população e/ou ao mesmo tempo enfrentar
autonomi~ da população que deve decidir a melhor alternativa para
o imediato a partir das organizações existentes. A mudança de cor-
a superaçao de um problema de acordo com a força existente. O as-
sistente social pode, pois, "dar força" para o encaminhamento da rélação de forças é um processo económico, político e ideológico. A
reposição de energias, a melhoria das condições de vida ~ ~e trabalho,
pro~ução de um efeito de ajuda, caso a situação ou a contradição
a~alisada n~q~ele momento implique justamente a importância dessa a produção de, novos conhecimentos sobre est~s. co~d1çoes e est~s
realidades dependem, ao mesmo tempo, da mob1hzaçao e da orgam-
aJuda_ econom1ca para a reprodução imediata ou a reprodução de
zação do povo e das relações sociais gerais.
energias da força . ~e trabalho que dela necessite a população para
me~1_or pens~r politicamente esta contradição de exploração,. O efeito A fim ele ilustrar esta questão, vejamos um exemplo. Em Goiás
~01Jt1co da aJuda deve ser, pois, analisado com a própria ajuda, con- Velho, uma patroa, uma vez, despediu sua lavadeira porque estava
s1d~r_ando-se o saber da população, sua estratégia e a vinculação reivindicando aumento da sua diária. A lavadeira foi embora e a
pohtica que quer estabelecer com o Estado, as políticas sociais e a patroa pôs-se a campo em busca de uma nova empregada, No entan-
mstituição, e analisando-se as estratégias e táticas ela instituição. to todas encontradas propunham o novo preço já definido pela
A ajuda económica -é contraditória, pois, se por um lado tem la~adeira despedida. A patroa mandou chamar a antiga lavadeira e
um efeito de reposição de energia ou de reprodução da força de contratou-a pelo novo preço, pois este havia sido definido e decidido
traba!ho, ~or outro la?o tem um efeito político que pode levar tanto pela associação de lavadeiras, que reunia bom n~mero de associadas.
~o ~!1entelism? como ~• tomada de consciência das relações de explo- Assim, o problema, a questão imediata se encammhou por uma nova
,_aça~. O pedido de a1ucla revela ou oculta a politização ou despoli- relação de forças, pois, sem a força da associação não seria possÍ'~.el
t1zaçao de uma determinada população ou indivíduo.
a conquista de um novo preço para a diária de trabalho. A relaçao
A análise d~s alternativas e conseqiiências de uma ajuda implica de força, assim, é também mediatizada por vínculos que se 'for1:1~m
pois un~ e~clarec1mento de como ela é vista pela própria instituição e entre os movimentos coletivos e as ações individuais, entre as vanas
pela propna população. O levantamento das divergências de perspec- organizações ela sociedade civil que defendem os interesses _dos tr~-
t1v~ sobre a questão é fundamental no processo metodológico da balhaJores e pelas novas formas de compreensão das questoes poh-
articulação. Assim, o trabalhador social escbrece sua perspectiva, a ticas que envolvem o relacionamento institucional.
114
115
A med ida que, por exem plo, os direi tos
sociais são escla recid os
e a popu laçã o deles toma conh ecim ento
, há poss ibilid ade de se enca -
minh ar formas de relaç ão de força para
a sua defesa, ques tiona ndo- se
a relaç ão de força próp ria do favo ritism
o e do clientelismo, emp res-
sas no proc esso de regu lação assistencial.
A anál ise siste máti ca da conj untu ra e da
estru tura é fund ame n-
tal para uma meto dolo gia da artic ulaç
ão, pois, em cada mom ento
varia m as corre laçõ es de força e, conf orme
o cont exto insti tucio nal, Ca pít ulo 9
pode m have r form as difer entes de enca
minh ame nto de uma ques tão.
Não há, port anto , receitas. ·Além do cont
exto específico da insti tuiçã o,
há que anal isar a conj untu ra global das
tos de expa nsão do capi talis mo, as ques
polít icas sociais. Em mom en- Duas tendências do Serviço So cia l
tões sociais se enca minh am
de form a dive rsa que em mom ento s de
reces são (Piv en e Clàw ard, norte-americano*
1970 ; Fale iros, 1983 ). Num h.1omento
de ascenso das lutas polít icas
as ques tões sociais se enca minh am de
form a difer ente do que num
mom ento de desm obili zaçã o e desc enso
das força s socia is e tamb ém
se enca minh am difer ente men te de acor do
com as relaç ões exist entes
entre a base e os dirig entes da próp ria popu
lação . :É nece ssári o, tam-
bém , ter em cont a a ideologia dom inan
te, pois a discu ssão dos pro-
blem as pela popu laçã o se colo ca insti tucio
nalm ente nos term os pro- O ob'e tivo deste traba lho é uma anál ise
post os pela direç ão cultu ral da classe dom das gra~cles tra~_sforma-
inan te. ções do s!rv iço Social nos Esta dos Uni~
os _e Can ada, tradu zido s em
A prod ução de efeitos de escla recim ento dois gran des mom ento s de sua siste mati
, mobiliza.ção e crítica zaça o.
pode advir da "cap acita ção" prof issio nal
para uma análise política O rime iro mom ento corr espo nde à estru - • d
mais amp la -e para uma utilização flexí
vel do r-elacionamento e dos Rich mo~ d num cont exto de dese nvol vime
tura~ ao. aa a p or Mar y
' ,
proc edim ento s específicos da prof issão , nto cap1ta~1sta
seja este cons truir da reflexão sobr e o proc
a fim de que a meto dolo gia - etitiv a da prod ução resu ltant e da ma1s-val1base ado ~a
esso reali zado a parti r do exp ::ªº ~~~n~ito hora s de traba lho havi a abso luta.
map eam ento das força s em pres ença , das a pro,duzido_ pouc os anos
suas pers pect ivas sobr e uma A l pe ., . d·
dete rmin ada ques tão e das form as alter nativ
as possíveis de ação . Esta ante s o Mas sacr e e Chic ago (186 9). Os oper anos v111ham do tra-
balh o rura l, tamb ém trans form ado pela . d - d -,(aç
capa citaç ão é um proc esso político que
depe nde ele um amp lo deba te mtro uçao e t~ • ões• cap1-
rnbr e as ques tões políticas cent rais do tal is tas.
capi talis mo, de sua form a de
dese nvol vime nto e das relações sociais
forças sociais, para gue uma vez no cont
nele existentes entre classes e O segunc1o rn ºm enta de elab oraç ão da teori zaçã o do .Serviço
exto institucional e no coti- Soci al nort e-am erica. dá no cont exto da expa nsao - d E t J e
no se o s ac o
dian o da popu laçã o se possa visualizar , 1·os dese nvol .
vend o-se a "teo ria dos siste mas ,, , q ue busc a
a vinc ulaç ão teóri ca entre as d os mon opo t • , .
ques tões gerais do capi talis mo, as prop osta . ,
ex1genc1as d·l' JJrod
de uar as relações de traba lho as • • • ut1-
s insti tucio nais e o proc esso 1ust amen te a q '
de luta, orga niza ção e mob iliza ção ela popu
lação , com o instr ume ntal vida de, com a prop os t d 0 mod elo de
ª "solu ção de prob lema s' em
técn ico e profi ssion al disponível naqu ele luga r de um relac iona men to muit o mais . . . d •
mom ento . custo so e im~r o uuv~ , c_o:.0
o prop osto por Mar y Rich rnon d. Con tudo
, a ideo logia da açao rn i-
vidu al perm anec e nos dois mom ento s.


* Trab alho mime ograf ado pela Umve ·ct d d
rs1 a e e Mont errey , maio de 1980.
116
117
Para os latino-amer icanos, a importância de conhecer estas dedica a um trabalho individual. O objetivo do Serviço Social era
tendências vem de sua influência em nosso meio e das próprias mo- tornar os indivíduos socialmente úteis e aproveitáve is, adaptando-o s
dificações do capitalismo em nosso contexto. às situações.

1. O MODELO E A IDEOLOGIA DA PRATICA Segundo Richmond ( 191 7: 51 e 357) houve, entre os "pionei-
LIBERAL FILA'NTRóPICA ros" um movimento preventivo para estudar o indivíduo em seu
mei~, quanto à saúde e alojamento, mas a prática do Serviço Social
~ua~do no final do século passado foi criada a Charity Society se concebia como uma busca desses recursos dentro do esquema de
Organizat1on, foram retomadas as teorias de Thomas Chalmers ( 1823: diagnóstico e tratamento.
55), segundo as quais é o indivíduo o responsável por sua situação e O diagnóstico social, segundo Richmond, pode ser desc~ito c~mo
culpado por sua pobreza. Thomas Chalmers havia desenvolvido suas 0 fato de buscar uma definição, a mais exata possível, da s1tuaçao e
idéias a partir de suas experiências, em uma região rural, de aliviar da personalida de do ser humano que se encontre com uma neces-
a carga dos contribuinte s das caixas de ajuda para os r:obres, dentro sidade social, quer dizer, na relação com os outros seres humanos
de um espírito liberal muito puro. De seu ponto de vista cada indi- dos quais ele depende de certa forma ou que dele depe1,d~m, e ta~-
víduo_ afetado _por uma situ~ção problemáti~ a é responsá;el pela sua bém em relação com as instituições sociais de sua comumdade (R1-
sol~çao. Se ~mo fosse poss1vel resolver a situação por seus próprios chmond, 1917: 51 e 357), o que reflete uma ideologia das relações
meios, deveria recorrer à ajuda de sua família, de seus vizinhos e harmônicas .
em última instância, do Estado, de forma subsidiada. '
A interpretaçã o dessas relações se baseava em regras "gerais"
~ra preciso opor aos que trabalham os que não trabalham ( os de conduta como: "as pessoas que têm dinheiro podem pagar suas
P~~gu1çosos). Para obrigar os pobres a trabalhar, era preciso criar dívidas" (Richmond , 1917: 82), segundo a visão burguesa da so-
dificuldades aos preguiçosos , aos viciados, aos criminosos enviando- ciedade.
-os à "Work House", uma espécie de prisão, onde as c~ndições de
vida eram muito duras. Segundo Wright Mills, "os problemas levantados por este empi-
rismo liberal refletem o que não está de acordo com o modo de vida
Segundo Josephine Shaw Lowel, as verificações e as visitas aos das classes médias das pequenas cidades, com a obediência ao prin-
pob~e~ não se fazi~•~ com fins de tratamento, mas principalme nte para cí.pio da ordem e da estabilidade vigentes ou entra em contradição
corng1r os maus hab1tos e fortalecer as vontades fracas (Lowel 1917: com os lemas otimistas e progressista s da teoria do atraso cultural.
31).
O empirismo liberal finalmente se trai com a noção de 'ajustament o'
. Adam Smith, o pai do liberalismo econômico, concebia O êxito e seu contrário, o 'desajustam ento'" (Mills, 1976: 96) .
social como um assunto puramente individual, dependendo da inteli- Assim dentro da prática liberal filantrópica, considera-se pro-
g~ncia e das habilidades do indivíduo. Dizia que as duas circunstân- blema O d:sajustame nto à sociedade estabelecida . As inferências para
cias que trazem consigo a riqueza são: a habilidade a destreza e a interpretá-lo deveriam encontrar-se na história pessoal d~. cada indi-
inteligência que se põe na aplicação de um trabalho', e a proporção víduo, em suas relações com outros membros de sua fam1ha, ou c~1:1
que encontramo s entre aqueles que estão ocupados em um trabalho as instituições da comunidade . Apesar dos discursos sobre a reabili-
út!I e os que não estão (Smith, 1966: 2). Um pouco mais adiante tação e a prevenção, o método era puramente clínico, mas coi:n. a
afirmava "Se um operário é sóbrio e trabalhador, pode gozar de um ambição de aplicar os "métodos da ciência" aos problemas sociais,
certo bem-estar na vida".
de forma neutra.
. Neste contexto, o objetivo do Serviço Social, como disse Mary Segundo Wright Mills, os defensores dessa. prá~ica buscavam
Richmond ( 1917: 325), era melhorar as condições do indivíduo e transformar as dificuldades individuais das classes mfenores em ques-
das massas, mas, na realidade, a maioria dos a·ssistentes sociais se tões para as coletividade s burguesas (Mills, 1976: 90).
118 119
O Serviço Social de grupo se fundamen ta também na idéia do considera das important es, como o casamento ou a escolha de uma
desenvolv imento do indivíduo, como diz Gisela Konopka: "O as- profissão.
sistente social de grupo faz com que muitos tipos de grupo funcio-
Podemos situar esse modelo dentro da concepção estática da
nem de tal maneira que a interação dos grupos e as atividades do
sociedade , que seria "essencial mente boa" na qual. os "mais _fracos"
programa contribua m para o crescimen to do indivíduo na obtenção
estão a buscar uma situação mais favorável. A sociedade , a~s1m., pa-
dos fins sociais dest·jáveis" (Konopka , 1974: 26), acrescenta ndo con-
rece dividida entre os fracos e os fortes, e por isso é necessário ajudar
tudo que o olJjetivo do assistente social de grupo é o de ajustar o
Jndivíduo ao grupo, e este à sociedade ( Konopka, 1975: 29). os fracos quando lhes falta a vontade para garan~!~ q~~ ele,~ t,am.b~m
"triunfem " como os outros, para que se tornem ute1s e doce1s .
Do ponto de vista comunitár io, encontram os quase a mesma
Para realizar este objetivo é preciso tomar cada_ sitt:aç~o .em
concepção : a comunida de é o meio para o desenvolv imento do indi-
particular porque cada caso é um caso especial e cada s1tuaç_ao e d1~e-
víduo de forma indireta, pelas boas relações que se estabelece m entre
as pessoas dessa comunida de. rente de qualquer outra. Em resumo, diz Smalley,, o_ Serviço_ Soc_ial
deve conceber todos os fenômeno s (casos) como umcos no mtenor
Este "modelo" de prática correspon de a uma concepção ideal do das classes e das categorias (Smalley, 1967: 130).
indivíduo e da sociedade , colocando -o como um centro dessa socie- Aí está a perspectiv a da particular idade da situa~ão e_ das carac-
dade, por sua vez idealizada, quando se diz que ela permite a reali- tetísticas pessoais. Essa perspectiv a se desenvolveu mclu~iv_e no pe-
zação e o desenvolv imento de cada um cios indivíduos. "O Serviço ríodo "freudian o", onde o fortalecim ento do "eu" era def1m?o coT?o
Social tem como objetivo a realização da capacidad e dos indivíduos a tarefa principal da ação profission al. E isto, ~~ ponto de vista epis-
em seu desenvolv imento pessoal e do poder social por meio da cria- temológico, pode ser caracteriz ado como empmsmo .
ção de tipos de sociedade , instituições sociais e de políticas sociais que
contribue m para a auto-reali zação maior possível de todos os ho- Diante do exposto, podemos reconhece r que se . trat~ de um
mens" (Smalley, 1967: l). procedim ento totalmente indutivo, baseado em dados 1111ed1atos. As
inferência s propostas por Mary Richmond não c~1ega~ .ª ul,trapassar
Paradoxal mente essa concepção da sociedade se baseia na sepa- , 1 d a simples observaçã o. A operação de diagnostic • ·f· o e a com-
ração do indivíduo em relação à sociedade. Os indivíduos são colo- o mve um esquem_a
paração entre os dados observáve is - o que :1gm 1ca
cados fora dela, sendo, cm princípio, todos iguais, com a mesma de compreen são de nível inferior em compara~ ao ~os modelos expli-
oportunid ade, com todas as possibilidades abertas. Epistemol ogica- cativos. Para Piaget existem três tipos de exphcaç?e s: a) as_ concep-
mente, também "todos os fatos são iguais", dirá Mil.Is (1976: 90), ções que fazem da totalidade uma realidade suficiente _em s1 mesm_a
negando-s e toda estruturaç ão com base em determina ntes fundamen - e apta para explicar seus componen tes; b) as concepçoe s que expli-
tais.
cam O todo em função das partes - ou como agregado de ~ompo-
Assim, trata-se de uma sociedade abstrata, de uma idealizaçã o nentes individuai s; e) as concepçõe s relacionai s - que cons1d~rai:n
da sociedade competitiva, capitalista e concorren te, sem levar em a totalidade como composiç ão de relações em que os ~le~entos . md1-
conta as classes sociais. viduais estão subordina dos a essas relações de totahzaça o (Piaget,
1967: 104).
Nesse contexto, o assistente social seria a pessoa acolhedor a,
compreen siva e simpática, ele boas relações, buscando as melhores Dó modelo richmond iano de prática do Serviço So~ial, que ~sta-
relações "entre os homens, como se eles vivessem cm um permanen te mos analisand o, é fácil depreende r uma c?ncepção atomista que isola
0 indivíduo e a situação e que vê a sociedade como a soma
dess:s
mal-enten dido, que seria necessário esclarecer e guiar com boas
contribuiç ões profissionais". indivíduos . O tipo de causalidad es que podemos encontrar nessa ana-
lise é do tipo linear, que relacíona doi~ ou :rês_ dados ,e chega a apre:-
Isto se assemelha ao que faz um pai ou uma mãe de família, sadas conclusõe s afirmando que: "tal mferenc1a se da porque,ª fam1-
quando aconselha seus filhos nos momentos ele crise, ou em ocasiões lia está em situação difícil ou porque nenhum esforço esta sendo

J
120 121
feito para melh orar sua casa" (Rich mond , 1917 deixou de ser um movi ment o refor mista para
: 85). Este é o nível agora admi nistra r as
da c?~st ataçã o e não de uma explicação, e nem instituições do Estad o social. Por outro lado,
ao meno s pode ser conti nua o autor , a
classificado em um dos três tipos propo stos por sociologia deixou de lado suas iniciativas refor mista
Piaget. s, seu gosto pelos
. Ficam os. nos níveis dos fatos, das prenoções, probl emas parce lados e pela causa lidad e dispersa
da ideologia do e se coloc ou a ser-
assistente social, que somente se guia pelo conh viço das empr esas, do Exér cito e do Estad o.
ecim ento comu m e Na medi da em que a
pelo ?ºm •senso. Conf orma mo-n os com uma class buroc racia cresc eu em impo rtânc ia na ordem econó
ificação prelim inar mica , política, so-
que fica no nível da experiência primá ria, onde cial e militar, o senti do da palav ra empí rico foi
estão os valores de muda ndo: assim, é
"bem " e_ de "mal ". Segu~do G. Bach elard , "o empí rico só o que se dá nos plano s dessas grand
conh ecim ento experi- es instituições (Mills,
ment al hgad o ao conh ecim ento comu m imediato 1976 : 98).
,é entre laçad o tanto
~elas carac teríst icas muito gerais, quan to pelas Dura nte a crise dos anos 30, que exigm uma
distinções muito par- refor mula ção da
ticulares (Bac helar d, 1970 : 112) . acum ulaçã o capit alista , o gove rno amer icano se
. Enc~ntra?1os na form ulaçã o desse tipo de viu obrig ado a, por
probl emát ica do Ser- pressões econó mica s e sociais, insta urar medi
viç~ Social afirm ações muito gerais como : "o das políticas de segu-
indiv íduo é a base da rança do empr ego e de pensã o por velhice, inclu
socie dad~ "; ~u afirmações muito partic ulare s sive contr atand o a
como: "esta família opini ão das organ izaçõ es de assistentes sociais.
gasta mmto , e desor ganiz ada". Estes come çavam a
anali sar ou a exam inar a pobre za como um probl
ema social e parti-
. A crític_a te_órica a e~te tipo ~e prátic a supõe cipav am da distri buiçã o de ajuda direta aos desem
a ruptu ra com prega dos e na ad-
essa~ gener ahzaç oes e partic ulanz açoes pela relaç minis traçã o dos traba lhos públicos.
ão dialética entre 0
partic ular e o geral e vice-versa.
A guerr a, por sua vez, provo cou uma trans form
~a prátic a que vimos analisando, as explicaçõe ação do apare lho
s de tipo preca u- produ tivo dentr o de um clima de "cola boraç ão
sal sao tamb ém _freqi.ientes (Piag et, 1967 : 1.9), de classes". A urba-
pois supõ em O desvio nizaç ão, o consu mo e a tecnologia se comb inara
de norm as de vida de bons costumes ou de noçõe m e se desenvolveram,
s e preno ções tais afeta ndo direta ment e a form a de vida rural.
~o~~ o progr esso, a melh ora, Tefle
tindo a ideologia de mobi lidad e
md1v1dual da ascen são social por esforço própr io. A família exten sa perde u seu peso. Foi nesta époc
a e no perío do
. A!ém dis_so, as d~as noções sobre as quais se que se seguiu (pós- guerr a) que come çou a desen
basei a a atuaç ão volver-se o traba lho
profissional sao dedu zidas da experiência comu de grupo s e o da organ izaçã o comu nitári a frent
e a - d . m: a noção da • d e a essas nova s con-
~oçao o ~Justamento. Amb as são noções muito aJu a dições econó mica s e sociais.
gerais ou muito
particulares._ AJ~da pode significar uma visita, urna
palav ra amiga, um Kurt Lewi n e seu discípulo Lipp it sistem atiza ram
con~elho, _dm?e1ro, recursos. O ajust-e e a adap o conceito de
tação são tamb ém "mud ança socia l" na prátic a social, tratan do de
noçoes mu_ito imprecisas, referi ndo-s e a ajuste indiv definir muito bem o
idual a uma socie- papel de "agen te de muda nça" e de elabo rar,
dad_e c~ns1derada boa. Qual é o significado disso numa visão geral, a
? Simplesmente a interv enção profi ssion al junto aos indivíduos,
ace1t_açao do etho_s _da econo mia de merc ado (liber os grupos, as comu ni-
alism o), onde pre- dade s e as organ izaçõ es (Lipp it, ·wats on e West
do1:1ma a comp etiça o entre grupo s e indivíduos ley, 1958 ). Bene ,
, crend o-se na "lei do
mais ~a~a_z". Essa visão esquece (esco nde) que Benis e Chin tamb ém traba lhara m "a muda nça
os home ns fazem socia l" procu rando
sua historia _e1:° condições dada s e em relações integ rar as três form as tradic ionai s de ação
complexas de classes ( caso, grupo , comu ni-
e forças sociais. dade ) numa meto dolog ia comu m. A:,sim se estab
eleceu de form a dis-
tinta aos anos 20 a relaç ão entre o méto do profi
2. O MOD ELO DA PRA TICA LIBERAL TEC ssional e as exigências
NOC RAT ICA do proce sso de trans form ação das relações socia
is sob o capitalismo.
. ~rig ht Mills escreveu que nos últimos decênios As reflex ões de Erne st Gree nwoo d ( 1955 : 31)
O antig o empi - contr ibuír am
nsmo hberal se desdo brou em muitos empirismo para expli citar essa nova relaç ão e em 1958 Gord
s mais. O libera lismo on Hear n publicou
122

J
123
seu trabalh~ , Theo? building insocia l work ( 1958), procura ndo apli- Na perspec tiva burocrá tica-libe ral da sistema tização da ação do
car ao Serviço Social os passos do método científico então reconhe - assistente social, a "mudan ça" é vista como uma inovaçã o que está
cido. ligada à melhori a do funcion amento das estrutur as internas por uma
modific ação do compor tamento ou das atividades dos clientes. Desta
Na Améric a do Norte, depois da guerra, os governos começa m a maneira , muitos autores estabelecem a diferença entre o sistema
estende r, o campo da previdê ncia social já existente e abrir novos cliente, o sistema agente e o sistema meio ambien te, e falam da solu-
program as de prevenç ão enfrent ando novas crises sociais com novas ção dos problem as e da prestaçã o de serviços (Lippit et alii, 1958:
medida s assistenciais, como a guerra contra a pobreza e com restri- Cap. 2 e 3) como uma modific ação do cliente (compo rtamen to), do
ções econôm icas como o controle de salários. meio (recurs os) e do agente (relacio nament o) .1 Vista dessa perspec -
. O Est~d_o e os . monopó lios intervem, cada vez mais, na gestão tiva, a ação do assistente social consiste em "desenv olver um grau
da vida cot1diana, cnando uma burocra cia adminis trativa para realizar ótimo" de individu alidade, em evitar ou aliviar os efeitos das situações
seus progr~m.as e.m to.das as escalas e setores. O consum ismo chegou de crise e buscar no meio ambien te, desenvolver o self insight para
a ser o ob1et1vo imediat o da econom ia, sendo o objetivo último, evi- uma tomada de consciência da situação (Hearn , 19 5 8). Median te esta
dentem ente, a acumul ação do capital. Os monopó lios também contro- ação, busca-s e um equilíbrio ou um reequilíbrio do indivíduo no
la~ a public(da~e, e criam novas necessidades. A técnica do marketi ng meio existente.
estimul a os _md1v1duos a consum ir as inovações postas no mercad o. Entreta nto, a concepç ão da teoria dos sistemas (cliente /meio)
Dessa ~aneua .' o co~ceito de mudanç a está intimam ente ligado à im- propõe um esquem a operativ o vazio e formal que está a serviço da
pla~t?ç ao de rnovaçoes para melhora r os recorde s e a eficiência do
ideologia domina nte, que conside ra normal a aceitaçã o e não a nega-
md1v1duo no processo produti vo.
ção da ordem.
, As. "inovaç ões" se referem tanto à tecnologia da produçã o como
O problem a do funcion amento do sistema se coloca a partir da
a orgamz ação ( relações sociais) da produçã o.
visão ela mudanç a como resul.tante das relações pessoais e interindi-
_ ~on_tudo é necessário fazer, como Godbou t e Martin (1974: 9), viduais. Para o process o de mudanç a, tem-se primeir amente a moti-
~ d1st1nç~~ en~re os conceitos de inovaçã o e de mudanç a. A inovaçã o vação para a ação (Parson s e Shills, 1962: 5), que pode ser emotiva
e a mod1ficaçao dos meios para alcança r um objetivo determi nado e ou cognitiva. Mas esse process o é de mudanç a entre as variáveis e se
a mudanç a é a modificação dos objetivos ou fins e dos valores. identifica como compon ente de um sistema num determi nado mo-

Acrescente-se que a verdade ira mudanç a da socieda de não é mento.


soment e uma m~d.ança de funcion amento , mas antes uma mudanç a Todo o sistema da ação se estabelece a partir do ato ( a perso-
das est:utur as bas1:as_ dess~ sociedade, quer dizer, nas relações de nalidad e), da cultura e do sistema imediato de relações. A cultura
produça o dessa propna sociedade, pelas quais esta se produz a si está compos ta pelo sistema de idéias, pelo sistema de relações e pelo
~esma enquan to condições materiais de sua manute nção e desenvol- sistema de orientaç ão de valores. O ponto de partida para a ação é
v'.~e~to e enqu~n to condições superes truturai s de consciência, orga- a necessid ade do organis mo em contato com o meio. Esta necessidade
nt~açao_ e reflexao dessas mesmas condições. Estrutu ra social e econô- do organis mo em contato com o meio aparece como um ponto de
m1ca nao P?~em ser entendi das como um mundo separad o das forças partida que é necessúrio isolar para satisfazer, através da relação com
que a rnod1hcam. As forças as modificam nas condiçõ es existentes. os recurso s do meio ambien te (interve nção).
A estru~ura, assim, é uma totalida de contrad itória onde as forças A ação cio assistente social está orientad a assim pela "satisfa -
que a compoe m se acham em relações (Piaget, 1967: 163) que se ção das necessi dades" do grupo, segundo Berrien ( 1968: 117-8) , que
estabelecem segundo o processo dinâmic o de conflitos e equilíbr ios
instáveis. l. Ver também Pincus e Minahan , 1973; Compton e Galaway
, 1975.

124 125
~erá o output ~e. um sistema social, que busca ao mesmo tem o Esta é uma v1sao sumamente conservadora. Howard Polsky diz
can_çar seus ob3et1vos (formal achievement) e obter satisfaço~e p al- que "a função do sistema de trabalho na sociedade é a de produzir
taçao). s ( acei-
com eficiência e eficácia os objetivos e os serviços para o lucro e
A satisfação das "necessidades" do grup 0 que a função da família é a de ser o centro das relações emocionais,
obtid 1 • ' representa a satisfação de compreensão e de apoio mútuo entre seus membros, uma espécie
d t a p; os m~egrantes de um sistema social por sua "participação"
en ro . esse sistema, pela realização de suas aspirações ( . de 'depósito de emoções' no qual os membros de forma individual
marketing) no próprio sistema. Então na aç-:-ao concreta d ~eJa o podem restaurar suas energias para enfrentar com êxito a batalha no
•J ' • • o assistente exterior" (Polsky, 1968: 12).
socia ' tratando de satisfazer as "necessidades" ma·. . d'
1s ime 1atas•
uma situa - t, de
. çao, es a por sua vez, vinculada à "boa" atua ão lobal Para ele, a função do Serviço Social é a de ajudar o indivíduo
sistema, quer dizer, à reprodução das relações de força: g do como mediador, conciliador entre as demandas conflitantes do sis-
- Uma ação orientada diretamente pelas "necess1'dades imediatas" tema de trabalho e do sistema familiar (Polsky, 1968: 14). O traba-
na b lho social seria uma espécie de relações humanas para reforçar e re-
maº ~~~:?ue so _repujar o probl~ma de sua inserção dentro do siste-
produzir o lucro no trabalho, assegurando ao mesmo tempo uma
''inoeações'~ue p1omove essa açao. As ações tendentes a introduzir compensação emocional na família, nas relações sociais.
. - que a curto prazo podem melhorar a com reensão de
uma s1tuaçao p_odem ter um efeito de melhorar a al'uaçã: d .. Concentrando-se no bom funcionamento de cada um para au-
global, no sentido dos ob • t' . o sistema mentar assim sua eficácia, a concepção baseada na teoria dos sistemas
. Je ivos propostos por este por cxem lo a
p~z s?c1al e o aumento do consumo. Esta "necessidade" está p ' é uma espécie de terapia dos abusos do sistema. Ela se concentra no
bida md~pendenternente da estrutura como uma função do o ~on~e- papel de cada um e não nas estruturas e relações, esquece também
mo, co_ns1?er_ando-se a intervenção social como se foss; ,gams- que os sistemas não são estáticos, diferenciam-se mudando segundo
de red1stnbmção de eneroia poder e info. ,· - um problema seu tamanho, sua complexidade, sua hierarquia e também pela emer-
lhorar as atividades, de ~m~1dar" o com rn_,~çao, tratando-se de me- gência de novas forças sociais e de movimentos de negação.
as partes desequilibradas. po1 tumento e de atuar sobre
As relações de produção e as relações familiares são complexas
Esta perspectiva liberal, tecnocrática parle do pressuposto d e se articulam de forma muito explícita. A família operária se orga-
a mudança de uma parte pode mudar o todo e que niza em torno da produção de sua subsistência, que é determinada pelo
atomista da sociedade bastando que se prod ' com uma concepção capital.
entr • c1· 'd ' uza urna transformação
e o rn 1v1 uo e o meio (Gordon ] 968· 7~ . ,·. Por sua vez a relação entre a família e o capital é também me-
transacional ) p , b ' • , • (YeJa-se a analise
d .. • orem, ca e perguntar-se qual a melhor transação. Gor- diatizada pelas lutas dos trabalhadores por melhores salários, condi-
ou responde que as melhores transações são aquelas que ·m 1 . ções de trabalho e mudanças políticas mais profundas.
nam o crescimento e o desenvolvim~nto "nalural" do • i _pu s10-
que também traga lh • organismo e As necessidades estão pois em relação com o desenvolvimento
don, 1968: 9). • m me oras concomitantes no meio ambiente (Gor- histórico da produção e das lutas de classe, estabelecendo-se relações
entre a classe trabalhadora e os aparatos estatais e empresariais de
.
Que é desenvolvimento 11 a· tui·al? ...,., t d o que existe acordo com o processo de luta e de organização das classes.
d' • .e u " G •d
iz que desenvolvendo as potencialidades d . d. 'd • o1 on
O 111 1v1 uo se desenvolve
també • d A mediação profissional, assim, é um processo complexo que se
vê exc:s:v!:::t:d:.i!~~~;~~an ;;~:~~e~~;ovo na teoria atomista que localiza no conjunto das relações sociais. Em um momento de forte
elementos existem em um sis;ema de relaçci::, d:~o~:~ estrutura, os organização e pressão das classes dominadas, os profissionais podem
mudar a forma de atuar nos momentos de refluxo, combinando de
Crê-se também que a socied d f forma diferente a atribuição de recursos, de participação e de discur-
a todos os indivíd b . a e o erece as mesmas possibilidades
pelas dificuldades q:os, us:ando-bs_e levantar o bloqueio constituído so. Os sistemas organizados pela sociedade para determinados fins
e o me10 am iente oferece na ação profissional. se estruturam em uma dinâmica complexa de relações e podem ser
126 127
entendidos ou apresentados como um conjunto e um sistema hist0rico plexidade da totalidade contraditória, co~binan?o-se º,~ prática_ a
de combinação de alianças e confrontações do qual o profissional articulação de múltiplas determinações: P1,a~et_ ~1z que a evol~ça?
participa.
dos seres organizados aparece como uma sene ininterrupta de as~1m_1-
As contradições da estrutura se articulam às contradirões vividas lação do meio a formas cada vez mais complexas, n_ias a ~r?pna
pelo indivíduo, pois é nas relações sociais que se formam os indi- diversidade dessas formas mostra que nenhuma tem sido su!1c1ent~,
víduos·: As relações sociais são mediatizacloras de múltiplas determi- para pôr essa assimilação em equilíbrio com uma acomodaçao defi-
nações econômicas, políticas e ideológicas. nitiva'' (Piaget, 1967: 460).
Na visão liberal-tecnocrática, a relação entre o assistente social e Spitzer ( 1975: 236) fala de uma relação em espiral no proce_ss_o
o "cliente'' aparece como um simples contrato concebido no mais de solução de problemas, mas isto significa :iue _um_a_ etapa pode '.~,-
puro estilo liberal, onde cada um conserva "a liberdade" de atuar em ciar-se antes de terminar a anterior. Isto nao s1gn1f1c_a uma rel~çao
igualdade de condições, desconhecendo a condição de força do de- entre O geral e o particular, o pseudoproblema enunciado e_ os ,inte-
tentor de poder burocrático que vê o cliente como consumidor ou resses elas forças sociais em luta. Ele diz que o processo _nao e um
usuário do serviço e, sob este ponto de vista, o cliente é alvo (target) conjunto de técnicas, mas sim um processo de colaboraçao en~re ;- o
que é necessário mudar em sua maneira de comportar-se, consideran- cliente e o assistente (Spitzer e Welsh, 1975: 236). Esta colaboraçao
do os objetivos ·da agência ( Kauffman, 19: 9). O autor propõe a utili- é muito importante, mas a soluç.ão dos problemas i~olaclos deve ser
zação do poder, ela persuasão e ela reeducação para influenciar as examinada dentro cio contexto global ele relação de ahança e de poder
pessoas. Assim, a teoria do contrato não é mais do que outra forma de entre o assistente social e o cliente.
ocultar a relação entre o sistema global e um consumidor, um usuário, o mais importante é a eficácia imediata no modelo tecno_cr_ático
a quem é necessário convencer ou influenciar. Será que o assistente e a diminuição dos custos na perspectiva dos burocratas admm1stra-
social poderá influenciar ou persuadir o sistema em sua complexidade,
dores.
em sua contradição e em sua hierarquia? Como disse Lefebvre (1972:
3) : "As relações conflitivas não entrarn na prática social da sociedade Esta maneira de atuar pode ajudar a codificar as a,ç~es que
burguesa, senão através ele formas que as contêm e as ocultam - a controlam melhor os clientes e diminuem os custos . .É necess_ano, -~ara
forma contratual". a crítica a essa postura, uma teoria 'da sociedade capaz de 1denhf1car
as causas dos problemas além dos indivíduos . .É s_omente por este
Do ponto de vista operacional, a visão produtivista tecnocrática
meio que se pode encontrar verdadeiramente a teon~ das estruturas,
percebe a ação profissional como um método para a solução de pro-
ensaiando-se ao mesmo tempo sobrepujar º. _imediatam~nte dado,
blemas em um procedimento linear: identificar o problema, analisar
• om as aparências para que as colet1v1clades defmam e re-
a situação, propor objetivos e estratégias para finalizar com a estabi- rompei c •• · t (P. t 1970·
lização, pelo processo dito de mudança. definam continuamente seus objetivos de cresctmen o 1age . •
47) nas conjunturas.
Esta maneira de propo,· o sistema ele operações ignora o próprio
feedback e a regulação e auto-regulação complexas que se produzem A ação social não é um assunto de u~ esp~cialista "competente"
também em muitos níveis. A regulação depende da correlação de perante um cliente de tal agência para atnbu,çao de um recurso ou
forças. Pela ruptura com o saber imediato (Bourdieu, Passeron e modificação ele um comportamento, mas sim uma relação de forç~s,
Chamboredon, 19: 35) e com o conhecimento comum, é necessário onde O saber e O poder se articulam, e os problemas e s~a soluçao
considerar a auto-regulação dia!eticamente nas relações contraditórias. dependem da relação de forças historicamente dada e nao de uma
Piaget fala de regulações mais gerais nas quais o homem é lógica abstrata e mecanicista. As "soluções'' imediatas podem trans-
capaz, para superar (Piaget, 1967: 404) as regulaçôes imediatas de formar-se por sua vez em mediações para u~a acumulação de forçasê
esquemas do comportamento reflexo. Para a solução dos problemas Esta reflexão é desenvolvida em outros cap1tulos deste tra~a~ho e
imediatos traz consigo questões que é necessário examinar na com- por aí que passa a reconceituação do Serviço Social no cot1diano.

128 129
Se a visão liberal paternalista punha ênfase no "eu" ou no pro-
cesso de ajuda, a visão tecnocrática propugna um novo modo de
Parte IV
ação mais produtivo e menos custoso de solução dos problemas de Experiências
~ro?utividade ou insatisfação, mudando também as relações do pro-
f1ss10nal para que se inscreva na lógica da produtividade. Daí a im-
portânci!=l de sua organização e mobilização para que se modifiquem
também essas relações.

Capítulo 10

Trabalho social con1 hansenianos

Eda Gomes de Barros Lima*


Vicente de Paula Faleiros* *

O objetivo deste artigo é apresentar, de forma ainda preliminar,


para a discussão profissional, uma experiência recente de Serviço So-
cial e saúde com um grupo de hansenianos em Brasília.
Num primeiro momento apresentamos o enfoque que nos levou a
situar esta análise, para em seguida mostrar o "itinerário institucio-
nal" do hanseniano e refletir sobre o relacionamento profissional/
cliente nas condições existentes.
Esta análise parte do pressuposto de que "a instituição é um
espaço político de atuação onde os problemas que afetam o conjunto
das classes dominadas são parcializados, abstraídos, analisados, sepa-
rados, classificados por categorias que fragmentam estas classes em
setores de velhos, menores, acidentados" (Faleiros, 1979: 143). Uma
destas categorias é o hanseniano pobre.

* Assistente Social da Fundação Hospitalar do Distrito Federal. Realiza


o trabalho com hansenianos. Foi presidente da APAS/DF em 1984./85.
* * Professor da Universidade de Brasília.
* * * Agradeço à Eda a autorização para incluir este artigo nesta coletânea.
Publicado originalmente em Serviço Social & Sociedade, ano VI, n. 0 17, a•bril
de 1985.
130
131
O espaç o políti co de contr ole e manu tençã o da força como forma ele determ inaçã o do poder , passa ndo
de trabal ho em segui da a ana-
é també m um "luga r de comp etição e luta" (Fale lisar as forma s de organ izaçã o/isol amen to dos
iros, 1979 : 145) hanse niano s. Com
vincu lado ao desen volvim ento da hegem onia da respeito ao relaci onam ento, desta camo s a posrura
classe domin ante. e a fala dos atores
Esse camp o de luta é que const itui o espaç o institu t:m prese nça, o uso do dinhe iro e o traba lho com
ciona l, "faze ndo o corpo , para tra-
das institu ições proce ssos dinâm icos e não respo stas tarmo s do saber enqua nto conhe cimen to sobre doenç
mecâ nicas aos a, recursos, for-
tipos de, amea ça e ao proce sso de acum ulaçã o de
capita l" (Fale iros: 1nulár ios e instilu ições, vincu lado ao proce sso de poder .
1979: 146).
Não coloc amos aqui a quest ão dos hanse niano s
Nessa s condi ções é que se torna possível lutár pelo nas relaçõ es
romp iment o mais gerais, pois é no própr io trabal ho com eles
com a ideolo gia tecno crátic a e com a estrat égia que pr_etendemos
da mode rnizaç ão articu lar nossa s ret:lexõcs nesse sentid o. Este trabal
(Fale iros, 1979: 150), busca ndo-s e "form as variad ho aqrn coloc ado
as de alianç a pro- apena s se inicia.
fissio nal/cl ientel a, segun do a corre lação de forças
histor icame nte de-
termi nadas ". O ITINE RARI O INST ITUC IONA L
O relaci onam ento profis siona l/clie nte implica pois
relaçõ es de Uma das dificu ldade s em trabal har com hanse niano
poder e saber que são concr etame nte articu ladas. O s é o estigm a
poder /sabe r não da lepra na socied ade, també m vivido por eles.
se absol utiza nas mãos dos profis siona is ou nas mãos Esta é u~a _ques-
da popul ação. tão que está sendo apro[ undad a no relaci onam
O saber /pode r se exerc e de forma s difere ntes (Fouc ento pro~1ss1onal/
ault, 1977: 26) cliente. A amea ça cio contá gio, outro ra, fez com
levan do-se em conta as condi ções de hegem onia que se isolassem
das ciasses domi- os doent es em colôn ias, reforç ando- se o estigm a, també
nante s. m visto como
castig o divino.
O relaci onam ento profis siona l/clien l,e implica pois
relaçõ es mais Hoje, 110 Brasil , o contr ole da doenç a de hanseníase_
comp lexas das forças sociais. E é como uma relaçã ainda está
o de força que marca do por uma legislaçfio retróg rada, mas novas
coloc amos esta exper iência . Nessa relaçã o a assist tentat ivas ~ur~e~n
ente social adota para modif icar esta relaçã o ele força, inclusive com
uma "estra tégia de alianç a" (Fale iros, 1979 : 152) a contn bmça o
com os hanse nia- do saber cientí fico sobre a quest ão.
nos no sentid o de fortal ecer o poder e o saber deles
nessa s condi ções
objetivas. O Centr o de Saúde n.° t, de Brasília, conce ntrou
suas ativid a-
des no atend iment o da hanse níase e da tuberc ulose
O poder e o saber não são categ orias isoladas e se desde seus pri-
articu lam no mórd ios em 1962. Receb e popul ação das várias
cotidi ano das institu ições. O poder não se limita regiões do Brasil,
ao contr ole e o oferecet~do cuida dos médic os e de enferm agem
saber , à inform ação. O poder comp reend e a capac , medic amen tos e
idade de articu lar educa ção social. Atend e ( em 1984) aproximad_ament
organ izaçã o, recurs os, estrat égias e tática s para defen ~ trezen tos han-
der ou conqu istar senian os. O grupo com que se trabal ha, aqui refen
intere sses e posições. Ele envolve, pois, o saber do, conta com
enqua nto conhe ci- 22 memb ros e com um comp arecim ento médio de
ment o teórico e prátic o de seus intere sses, dos dez pessoas ••
adver sários e da
totali dade social contr aditór ia e comp lexa. Há pouco mais de um ano, a Secre taria de Saúd~
:t:pas sou, ao
Centr o 120 cotas alime ntares do Progr ama de
Estas categ orias se expre ssam també m de forma contr Nutn çao e Sa~de
aditór ia no a serem distri buída s aos pacie ntes das referi das
espaç o políti co das institu ições, no seu cotidi ano. clínicas. O Serviço
Nosso enfoq ue Social admin istra esta distri buiçã o.
volta- se para o cotidi ano do poder /sabe r na institu
ição. Nesse coti-
diano desta camo s os indic•adores que estrut uram A enf:crmagem, que envia o pacie nte ao Serviço Socia
estas relaçõ es de l, faz uma
sab_er/poder do relaci onam ento profis siona l/clie nte. pré-se leção , cujos critér ios nunca foram discu tidos
Assim, em pri- conju ntame nte.
meiro lugar está o "terre no" onde o client e é receb De forma geral a orien tação é que se ofereç a
ido. Ele vem ao ajuda a todos os
espaç o já estrut urado da instituição. Em seguid a desta pacie ntes e que se encam inhem aquel es que se mostr
camo s o tempo em intere ssado s.
132
133
O paciente que foi "inscrito " recebe um cartão onde se agenda o preferir não receber os alimentos e não retornou ao serviç~. A maio-
seu retorno ao Centro de Saúde para receber a cota a ele destinada. ria, porém, mantém um bom relaciona mento com a assistente so-
Ao ser atendido pela assistente social, o hansenia no é "inscrito t:ial. Foram realizada s até agora cinco reuniões: quatro com han-
no program a". Registra m-se em Jivro as informações necessárias
1
senianos do Paranoá2 e uma com hansenia nos de cidades-satélites.
sobre a pessoa em questão: nome, data da inscrição, número do Dentre as instituições da comunid ade, recebemos da Federaçã o
prontuár io médico, clínica, endereço, gêneros distribuídos e suas das Bandeira ntes uma quantia em dinheiro, que vem ajudar os p~-
quantidades, e assinatur a do beneficiário. A partir deste momento cientes de hanseníase ligados à invasão do Paranoá. Esta quantia
ele passa a receber mensalm ente a sua "dieta", que consiste em (Cr$ 50.000,0 0 mensais) é utilizada para compra de pas~agens de
quantida des variáveis de arroz, açúcar, feijão, farinha de trigo e ônibus e o que sobra é gasto na aquisição de bens escolhidos pelo
fubá.
próprio grupo.
A partir desta fase inicial, ele começa a receber "orientaç ão
social": ao voltar ao serviço é entrevist ado pela assistente social Dentre os desconfo rtos provocad os pelo mal de Hansen, encon-
que preenche com ele um formulário de "anamne se social". Nessa tra-se o adormec imento de certas partes do corpo, principal mente nas
folha estão especificados os dados "importa ntes para o estudo": extremidades. Essa sensação leva a pessoa doente a s,~ ferir com fa-
idade, nome do médico que o atende, procedên cia, tempo em Bra- cilidade, precisan do de proteção contra as agressões_ do meio. As b~n-
sília, endereço, estado civil, naturalid ade, instrução, religião, pro- deirantes encarregam-se de fornecer essas proteçoes (luvas, meias,
fissão/oc upação, situação previdenciária, pessoa responsável ou a sapatos etc.) aos doentes. Durante as reuniões elas servem um lan-
ser mobilizada em casos de emergência, situação de saúde e sócio- che, propicia ndo maior integraçã o grupal.
-econômica. Esse "interrog atório" é feito de forma a não agredir O conteúdo das discussões do grupo, de forma geral, gira em
demasiad amente a pessoa que vem candidat ar-se à ajuda oferecida. torno de como cuidar da saúde e de como prevenir complicações
Passa-se então ao diálogo a respeito dos pontos críticos da situação dela decorren tes; mas outros assuntos são trazidos à baila a pedido
apresent ada. do próprio grupo. Até o moment o foram discutidos, além das dúvi-
A maioria queixa-se dos incômodos provocados pela doença e das sobre a forma como se apresent a a doença e o seu tratamen to,
agravados pelo desconfo rto proveniente da situação financeira defi- 0 atendime nto no Centro de Saúde do Lago
Norte e a situação da
cit~ria. Alguns encontra m-se traumati zados pelos estigmas sociais "invasão " do Paranoá (onde residem muitos hansenia nos), quanto a
das patologias. Muitos não têm emprego fixo ou trabalha m na sua destinaç ão ( o governo· quer desocup á-lo) e problem as de coluna
agricultura sem nenhum seguro social. As histórias são ricas em e como preveni-los (pois os doentes devem carregar água todos os
detalhes, mas repetitivas quanto à gênese sócio-econômica dos pro- dias).
blemas enfocados.
RELAÇÕES DE PODER E O RELACIONAMENTO
Dentro do quadro apresent ado, as opções para a assistente so-
ASSISTENTE SOCIAL /CLIENT E
cial se restringem a urna palavra de apoio, à orientaçã o pura e sim-
ples, a um encamin hamento para outra instituição ou ao encami- O espaço institucional
nhament o do doente para um grupo, onde serão discutidos assuntos
de interesse comum. No atendime nto individual o doente é recebido em uma sala
Durante um ano de trabalho neste esquema apenas três pacien- tipo consultó rio onde estão duas mesas e quatro cadeiras, além do
tes recusara m-se a responde r ao formulário e um deles declarou arquivo. Para romper com a frieza do ambiente e identificar-se com

1. O programa de dermatolo gia sanitária do Centro é composto de, enfer- 2. o Paranoá é a maior área favelada do Dis!rito F~deral, com 30 mil
meira, médico dermatolo gista e auxiliar de enfermage m. Em 1984 encaminh ou hab:tantes . Trata-se de uma área prioritária do Serviço Social, da FHDF, que
ao Serviço Social 20% de sua clientela. não pode abranger todo o DF para trabalhos com grupos.

134 135
r

o cotidiano do doente, a assistente social colocou nas paredes algu- no momento em que comparecem ao Centro. Não é obrigatório o
mas gravuras representando cenas m.ais ou menos familiares à clien- atendimento no dia marcado. Por qualquer intercorrência pode-se
te~a: um grupo de trabalhadores agrícolas, um grupo de negros em liberar as cotas de alimentos e o fornecimento de passes. Recomen-
at'.tude de p~ece, uma criança lavando roupa e outra criança em da-se ao doente seu retorno no dia marcado. Os atrasos são critica-
atitude agressiva, tendo. uma favela ao fundo. O cliente senta-se em dos pela equipe, porque dificultam a rotina do Centro e prejudicam
uma das, cadeiras, podendo ser entrevistado pela assistente social os profissionais envolvidos, obrigando-os a trabalhar além do ho-
ou pela auxiliar.
rário. Recomenda-se também a ida ao Centro na parte da manhã,
A ~ssistente social está em seu território e tem à sua disposição porque durante este período estão presentes todos os técnicos en-
(seu poder) objetos que se encontram dentro da sala. As figuras volvidos no programa. O poder de fixar horários não depende da
colocadas n~ parede representam uma tentativa de romper com os assistente social, podendo-se compor com as possibilidades do clien-
cartazes bonitos ( com motivos burgueses) e as ordens afixadas nas te, pois o doente é visto como cidadão que tem direito ao Serviço
paredes: D~ qualquer forma, supõe-se que o doente que compareça Social.
pela pnme1ra vez ao serviço deva sentir-se apoiado, mesmo que
em terreno desconhecido. A organização

_ ~s r~uniões realizam-se no auditório do Centro. As cadeiras As relações de poder implicam, não só delimitação do território
nao sao . fixas e ar~umadas e~ função do grupo, pelos membros, e do tempo, mas também estabelecimen to de normas e oposição a
com a aJuda da assistente social, geralmente em forma de círculo. elas por movimentos organizados. Em geral o doente é tratado de
~~ momento da reunião nota-se que existe maior descontração forma fragmentada nas instituições, para isolá-lo de seus movunentos
~~r par te" do~ doent~~- Alguns trazem consigo filhos pequenos que políticos.
as vezes. atrapalham um pouco o andamento dos trabalhos. São A assistente social recebe normas ele atendimento, principal-
re_Preend1dos pel?s próprios pais e não pela assistente social. Os mente no que se refere à distribuição de gêneros alimentícios. A
clientes pode~ cuct~l~r pe!~ ~entro sem restrições e constrangimen - quantidade de gêneros é estabelecida pelo Instituto Nacional de Ali-
tos. !3~te ambiente foi prop1c1ado a paritr dos técnicos (enfermeiros mentação e Nutrição e pelo Departamento de Saúde Pública do
e ~~~icos), que transmit~ram _aos· demais membros da equipe a DF, que limitam também o número de pessoas a serem matriculadas
certeza de que a doença e, cur,r:el e pouco transmissível, principal- no programa. Os critérios de distribuição de passes são fixados pelas
mente quando o doente esta devidamente medicado.
Bandeirantes do Brasil. O uso cio auditório onde se realizam as
import~nte notar que os hansenianos preferem ser atendidos
.Ê reuniões é controlado pela administração, dependendo da ordem de
no ~entro ª. se-lo no próprio local de moradia para não serem estig- inscrição dos grupos interessados.
matizados amda mais pelos vizinhos ao receber a visita de técnicos.
A rotina cio serviço muitas vezes obriga o doente a esperar pelo
O tempo - os horários atendimento nos bancos dos corredores, podendo-se conversar du-
rante a espera. Não há ordens de silêncio. Não existe entrega de
A assistente social está condicionada pelo seu horário de tra- fichas por ordem de chegada. Quando existe dúvida a respeito ~e
balho, enquanto funcionária e assalariada do Centro. Não há mo- quem chegou em primeiro lugar, os próprios clientes resolvem entre
vimento para mudanças nesse sentido. si quem deverá ser atendido.
, . A volta do doente ao Centro é marcada pela clínica dermato- Os hansenianos, a nível nacional, estão organizados em um
logica e. pelo ~erviço Social, geralmente no mesmo dia, levando-se movimento de reintegração (Morhan, que se encontra ainda pouco
em _cons1deraç~~ a data escolhida pela assistente social para a reali- atuante em Brasília). O baixo nível sócio-econômi co da clientela
zaçao da reumao. Os que chegam pela primeira vez são atendidos atendida pelo Serviço Social dificulta a integração dos doentes do
136 137
r'

movim ento. Essa articu lação é uma das forma s - , · - comp eens-ao e alívio de
de fortal ecer seu q ue a verba lizaça o e as lagnm as trarao r .
poder junto à institu ição e a assistente social procu - 1· t Não há possib ilidad e de um atend iment o
ra estabe lecer tensoes para o c ien e.
uma estrat égia para aprox imar os dois grupo s. clínico psicossocial de longo prazo por falta de cond1 . - d l
çoes o pet5º ª •
Alguns hanse niano s vêm ao Centr o acom panha dos As reaçõ es agressivas, quand o acont ecem , são encar
de familiares adas comf_ i_rme-1
· -ao
e outro s . trazem os amigos, que partic ipam das reuniõ
es.
za. f:, difícil a comu nicaç entre se t or es popul ares e o pro 1ss1ona
de outra classe (Moff att, 1984 : 78) •
A postura da assistente social Duran te as reuniõ es os clientes verba lizam meno,s
suas dificul-
dades individuais e não falam do seu probl ema de
A assist ente social atend e o doent e com uma postu _saude c~m clare-
ra de "bom za Os assun tos discu tidos geralm ente não estão
acolh iment o", sem as marca s do patern alism o tradic hga~o s a doenç a.
ional. 1:, funda - • amam a assist-ente social de "diret ora", e não
menta l a não rejeiç ão do hanse niano , o que é conse eh quest ionam as con-
nsual entre os • • • d
memb ros da equip e. O exam e da situaç ão de cada
um é minuc ioso, cepço- es em1·t·das
1 • Este proce sso está apena s se m1cian. o, ·pd odend o
chega r mais adian te à discu ssão dos estigmas e d d
atento e sério, para contr ole do Centr o e autoc ontro
le do cliente. da 1dent1 a ~ - o
No atend iment o grupa l existe desco ncent ração , com
clima para risos d oente. N esse mome nto P rovav elmen te os clientes terão .cond1çoes
e conve rsas inform ais, princi palme nte duran te o iai,ch de vivenciar sua exper iência grupa l de forma meno
e. Os doent es s passiva.
demo nstram gosta r de freqü entar o Centr o, ou o grupo
e alguns ver-
balizam esse sentim ento, não aceita ndo a possibilidad O corpo doente
e de transf e-
rência para outra s unida des de atend iment o. Apare
nteme nte a pos- A libera ção da palav ra está vincu lada à libera ção
tura do doent e é daque le que "pede e receb e", aceita do corpo ,
ndo o "jogo " .
de poder da instituição e assim legitim ando- a na
sua forma assis- utiliza do pelo capita lismo como o l)Je
• t d explo ração e de consu mo.
o e .
tencial. A nível institu ciona l e, .impor tante, para
, . por-se a 1sto a abert ura de
o '
possib ilidad es de manif estaçã o da aceita ção do doent
O uso da fala e.
Por parte da equip e de profis sionai s não há reje~ção
do cont_ato
A libera ção da palav ra do doent e é um meio para corpo ral com os hanse niano s. A enferm agem exam
desbl oquea r ma-os sem ~~s-
o preco nceito e os estigmas. No entan to, há uma trume ntos especiais que anule m o canta ta físico. Duran
preoc upaçã o por te as reumo es
parte da assistente social em não força r o hanse de grupo são criada s propo sitalm ente situações em
niano a encar ar que o do:,nte, a
abrup tamen te a sua doenç a. Esper a que essa libera ção
gir, no decor rer do tempo, na medid a em que exista
venha a emer-
assistente social, as enferm eiras e as represent_ant_es
.
?ªFederaç~do ~as
confia nça e Band eirant es servem- se do mesm o lanch e ' d1stnbutdo sem cut a os
clima propício. Duran te a entrevista o assun to de higiênicos especiais.
maior impor tância
é aquel e que está dificu ltando no imedi ato a vida do
cliente e muita s Às vezes os memb ros da equ. 1·pe profissional receb em dos doen-
vezes o probl ema em quest ão encon tra-se nas áreas
previd enciá rias, tes peque nos prese ntes de frutas ou doces caseiros.
trabal hista ou familiar. As orient ações direta mente
ligadas à doenç a
só são dadas quand o o doent e as solicita, duran
grupo , e são transm itidas pelo pessoal de enferm
te discussões em o uso do dinheiro
agem . Tenta -se
tratar as questõ es de forma objeti va, evitan do-se O dinhe iro do grupo é doado por um _milit~r
lamen taçõe s. Às apose nt~do à
vezes a assistente social interr ompe um discurso sobre
a seu ver, já foi esclarecido, com uma pergu nta sobre
o assun to que, Feder ação das Band eirant es, que o rep~~sa !
a~s1s~ente_ social do
·o - f:, uma quant ia ínfim a e sua ut1hzaçao e discu
Em alguns casos o cliente é incen tivado :; falar e
outra quest ão. cen t I • tida co~
grupo de acord o com suas priori da d es. A te, agora houve unamm1-
?
alguns chora m ao
relata r suas dificuldades. Nesses casos a assistente
social consi dera dade nas decisões.
138 139
O saber e as informações sobre a doença tr~tégias e táticas de sobrevivência frente às normas estabelecidas
ao relacionamento com um pólo "mais forte", ou seja, com a as-
~ assistent~ social _detém algumas informações sobre a doen a sistente social. As vezes o doente se manifesta de forma contun-
adq;m.das .atrav-es de leituras, treinamentos e discussões com out1?0~ dente em reação às constantes humilhações que tem sofrido na so-
pr~ 1sswna1s. O doente conhece seus sofrimentos e os efeitos do ciedade, cabendo à assistente social utilizar seus conhecimentos para
estigma •. Sabe o que representa ser doente. Há insegurança em am- fornecer elementos que esclareçam a complexidade das situações.
-
bas as par .,.~ e troca d m f ormaçoes,
~
0
sempre presente nos relacio-

: Nesse sentido a teoria mais geral deve sempre estar articulada às


namentos interpessoais.
situações concretas. A mudança das relações de poder/saber vão
exigir mudar o relacionamento profissional/cliente , ampliando a par-
Na medida em que o doente controlar o saber sobre o seu
• segurança e autonomia O
a doença ' pod e1·,'a te1· mais ticipação efetiva do cliente nas decisões institucionais que lhe dizem
. . e sobre .
corpo
ob1et1vo do assistente social é reforçar este sab~r nas cond' - • respeito.
locadas pelo d d , • 1çoes co-
• . . grupo_ e º:ntes, inclusive com " realização de uma
pesqmsa, CUJO pro1eto esta em estudo. CONCLUSÃO

Informações sobre os. recursos A teoria do poder/saber institucional pode esclarecer a prática
profissional e contribui para que o profissional possa situar-se me-
A assistente d~t_ém quase todas as informações sobre a ori em lhor no seu cotidiano. A volta para uma reflexão desse tipo nos
d~~ ~ecursos mate_na1s e procura transmiti-las aos clientes para ;on- parece fundamental, pois tenta colocar uma problematizaçüo teórica
tn u1r ao conhecimento e controle dos mesmos por parte dae C1I- - no coração do exercício cotidiano da profissão. Entender o relacio-
entela. ' namento implica compreender e explicar as relações mais globais.
No entanto, é extremamente difícil trazer as reflexões teóricas para
A inse~urança da clientela provém da inconstância com ue os um cotidiano marcado pelo ativismo e pelas rotinas. Foi no sentido
:ec~rsos ( alI~ento! e medicamentos) são enviados ao Cerltr~ e a de romper com este ativismo que tentamos esboçar este trabalho.
- d ,
assistente social nao controla o mecanismo de l'b eraçao
e do - d i as cotas
açoes, que ependem de instituições alheias ao próprio Centro. Não tivemos aqui a pretensão de elaborar um modelo de prática
(pretensão formalista), nem de apenas descrever ou relatar a prática
A ass~stente social conhece as instituições mas não está ciente
d os mecamsmos de pode ' (empirismo). Nosso objetivo foi repensar a prática cotidiana à luz
r que regem cada uma delas não podendo
l
esc arecer sobre certas mudanças ocorridas • Os r ' - de certas categorias de análise que permitam uma contribuição efe-
cem a l - · . . c ien 1es nao conhe- tiva à mudança de correlação de forças que favoreça a clientela. A
s re açoes intennst1tucionais, mas sabem os efeitos das mu-
danças e cortes nos recursos a eles destinados. aliança entre médicos, assistentes sociais e enfermeiros entre si e a
aceitação da clientela na luta contra o estigma é uma força positiva
A teoria que foi articulada. No entanto, as condições sociais dos doentes não
possibilitam uma forma de cuidados mais profundos. A mudança
. 1º domí?io da teoria das relações sociais confere ao ass1·stente dessas condições, a nosso ver, não está isolada da articulação dos
• •
sacia a. poss1 b1TI d ~.d e d e visualizar •
e criticar sua atuação e situar-se doentes com seus movimentos específicos na luta por uma melhor
na con1untura polttico-econômica de forma crítica Este h ·
to lhe d·' "bTd d • con ec1men- legislação e melhores atendimentos e com os movimentos mais glo-
.ª poss~ i t a e de enfrentar as situações-problema com uma bais de transformação da sociedade.. Nesse processo as formas de
perspectiva mais ampla.
dominação por que passam os hansenianos precisam ser pensadas
O doe?t~, preocupado com a solução de problemas imediatos teoricamente para uma nova articulação política e ideológica de seu
e sem cond1çoes de dominar uma anál'1se n1a1·s elaborada, adota es- cotidiano.
140 141
(

ANEXO

LEPROSOS QUEREM O FIM DO PRECON CEITO

O Movimen to de Reintegra ção do Hansenia no, já com um


núcleo formado em Brasília, pretende levar um amplo trabalho para
interferir na política de saúde do governo referente à questão e su-
gerir propostas para que a doença, mais conhecida por lepra, possa
ser tratada sem preconcei to e encarada sem medo pela população .
O advogado André Luiz de Paula, da diretoria do núcleo central, que
funciona em São Bernardo do Campo, em São Paulo, denuncia que
há, por parte do governo, uma tentativa de acabar com as colônias
de hansenian os, o que poderá causar graves transtorno s, já que não
existe, por parte da sociedade , infra-estr utura para recepcion ar o
portador da doença.
O Ministério da Saúde está estudando atualment e a reformula -
ção da Portaria 165, que traça normas para o controle da hanse-
níase. Segundo André Luiz, a Portaria não atende aos interesses dos
pacientes em muitos pontos e em outros, positivos, não é seguida
pelas secretaria s de saúde, encarrega das de executar o controle da
doença. O Movimen to de Reintegra ção do Hansenia no defende, tam-
bém, como já foi prometido pelo Ministério da Saúde, a participaç ão
dos pacientes na criação de uma nova lei, que já está sendo estudada
pelo governo, que trata da hansenías e. O objetivo do moviment o,
também conhecido por Morhan, é evitar que a formulaçã o de quais-
quer normas e diretrizes sobre a doença reflita o preconcei to. Pelos
dados do Ministério da Saúde, existem atualment e no Brasil cerca
de 200 mil portadore s da hansenías e, porém, segundo o Morhan, o
número atinge a 500 mil, se contar os doentes que não sabem que
estão portando o bacilo de Hansen. Cinco por cento dos pacientes
são tratados em colônias e o restante nos centros de saúde.
O dado alarmante é que, no Brasil, ao contrário dos países
desenvolv idos, não houve um controle progressiv o da doença, o que
provocou o seu alastrame nto, principalm ente onde há condições de
vida e assistênci a sanitárias inadequad as. Ou seja, o índice de han-
seníase é muito mais alto entre as populaçõe s carentes, o que a faz
conhecida como "a doença dos pobres". Seu controle, segundo o
Morhan, depende de decisões políticas, já que a doença tem carac-
terísticas sociais.

143
O Mov imen to de Rein tegra ção do Hans enian
o tamb ém lanço u
uma carti lha, um livreto que oferece escla
recim entos simples e es-
senciais para a popu lação , e prete nde vend
ê-la às secre taria s de
saúd e, inclusive do DF. f: mais um traba
lho cont ra o preco nceit o,
a estig mati zação social do paciente. Um dos
maio res prob lema s, se-
gund o Andr é Luiz, é a próp ria resis tênci a
do doen te em se assumir,
em enfre ntar o preco nceit o social. Na luta
contr a preco nceit os de
todo s os tipos que cerca m o doen te, o Morh
an tamb ém comb ate o
uso pejor ativo do term o "lepr a", e argu ment
a que a palav ra na cons - Ca pít ulo 11
ciência desin form ada da maio ria da popu lação
repre senta aJgo repu g-
nante . A filosofia do movi ment o é divu lgada
atrav és de se 1-1 jorna l,
cujo pedid o de assin atura s pode ser feito no
Med iterrâ neo, 135 - Bair ro J arclim do Mar
seguinte ende reço: Rua Os cen tro s sociais urb ano s no Brasil*
- São Bern ardo do
Cam po, em São Paul o.

Como identificar a doen ça?

Cont rair a hanseníase, vulg arme nte conh ecida


por lepra , não é
tão fácil corno se pensa. A maio ria das pesso Nest e texto, prop o•:ho -me a anali sar ~. polít
as que entra em can- ica gove rnam ental
tata com o bacilo de Hans en, que prov oca dos centr os sociais urba nos (CSU ) no Bras
o mal, cria resistência e n.
nada acontece. Muti laçõe s são coisas do passa
do. Há mais de trinta A ünpl antaç ão desses centr os come çou _em
anos, a doen ça é curável atrav és do medi 1975 , em_ pe_1;odo de
came nto sulfona. Em expa nsão econôrnica. Em 1980 , num a con_J
quat ro a sete dias de trata ment o a hans enías untura ele r~cessao, mu:
e é contr olada e corta da danç as importante·s de orien tação e de func
sua capa cidad e de trans miss ão. O contá gio ionam ento, foi am mcor po
passa por um proce sso radas a essa política. Esse perío do corre spon
demo rado de três a cinco anos. de tamb~m a u11:a forte
mobi lizaç ão social e política ligad a à liberaliza
ção relat iva da ditad ura.
Os prim eiros sinto mas são os ador meci ment
o, a sensa ção de 1. OS ANO S 70: EXP ANS ÃO CAP ITAL
anestesia de parte do organ ismo , às vezes ISTA E INTEGRA.ÇÃO
acom panh ado de man-
chas, verm elhas ou branc as. Os nervos mais SOC IAL
ataca dos são os do .Ê por um decre to do pri.:;sidente Geise
braço , pern as e pescoço, que torna m-se gross l em 1975 que os CSU s
os, dolor idos, com cons - são criad os num mom ento em que a ditad
tante s form igam entos e fisgadas. Os doen tes ura mili~ar ~avo~·-ece um
com resistência most ram desenvolviI~ento e uma expa nsão cresc entes
pouc as lesões, pequ enas e bem definidas, e de multmac1onais e em-
os de pouc a e nenh uma
resis tênci a apres entam lesões grandes. Para presa s estat ais. 1
evitar muti laçõe s é es-
sencial o diagnóstico preco ce e o trata ment
o adeq uado . A medi ca-
ção, em alguns casos , prov oca reações, a
luta dos remé dios com * Artig o publi cado na U.evue I111ematio11 I d' A 1 • 11 Comn11.111autaire, nY
a e e 10
bacilos, que pode m ser comb atido s com outro 8/48 outub ro de 1982, p. 191-8 .
s medi came ntos como . , .
a corti sona . (Jornal de Brasília, 26-8 -84, domi ,1 Em 1972, as multi nacio nais contr olava
ngo, p. 15). • m 4_0'.40% <;O. patnt_n~nio e
51 13% 1· · l'
dos empr egos cas incus t .·, s o oovcr no parl1c1pava a1 1espcct1v.imentc
co:11 35 39 e 13 41% O capita l 11,1.. "' •
multi nacio nal contr ola setor:csl Hl';Pc:>rtan(7e
1 da
' ' •
econo mia nacio nal como ma teria• [ 1 t ·te (96% 4s"')
<e ransp oi ) n1'1te na e etnco -,o ,
, '
q uímic o (51,1 2%).
Com O gover no milita r se produ z um apro f d d
multi nacio nais e <lo desen volvim ento de un ame~ t0 da penet ração as
empre sas estata is.
144 145
O II Plano Naciona l de Desenvo lvimento (1975-1 979) insiste A implanta ção dessas políticas se efetua segundo um modelo
no fato de que o desenvol vimento social sobre a necessid ade de au- tipicame nte tecnocrá tico, através do qual os problem as sociais são de
mentar a rend~ da populaçã o das periferia s urbanas, visando incorpo- duas ordens: falta de recursos materiais e ameaça de desinteg ração
rar à econorm a moderna (leia-se: ao capital monopo lista) novos social das comunid ades urbanas. Ora, do ponto de vista tecnocrá tico,
setores e, território s do Nordeste (II PND, 1975: 26-7). os problem as podem ser resolvidos tanto pela distribui ção de bens
e serviços (nutrição , saúde, esporte) como pelo ambiente de vida
_Nenhuma classe, afirma-se, deve ficar fora do processo de inte- harmoni oso num lugar público, como um centro social. O problem a
graçao e de expansã o da estratégi a de desenvolvimento social. A ex- da pobreza, da exploraç ão e de suas causas estrutura is se resume
..-.ansão do capital exige de fato um consumo de bens duráveis um numa questão de equipam ento, de serviço, de integraçã o social.
aumento da produtiv idade, e uma integraçã o social pelo uso de ~qui-
pamento s urbanos e de uma certa distribui ção de benefícios favo- b nessa perspectiva que os Ministérios da Saúde, do Trabalho ,
recendo sob certas condiçõe s a participa ção dos trabalha do;es nos da Previdên cia Social e do Interior contribu em para oferecer serviços
ganhos da empresa como o Program a de Integraç ão Social (PIS) nos CSUs. Numa estratégia de "market ing social", deseja-se tornar
tentou realizar. acessível, nos bairros populare s, os serviços do governo.
Os CSUs são, pois, organism os governam entais e não organis-
O~ program ~s e servi_ços dos CSUs se situam no processo de mos populare s, mesmo que apelem à participa ção da populaçã o.
expansa~ ~o capital e de mtegraçã o, pela formaçã o da mão-de- obra
das. penf_enas u_r~anas, em particula r onde são implanta dos grandes Eles são administ rados no âmbito nacional, por um Comitê Exe-
projetos md~s~nais. _Tratava-se de, através desses program as, promo- cutivo compost o de represen tantes de cinco ministérios (Planeja men-
ver novos habitas ahmenta res, organiza r cuidados de saúde favorece r to, Saúde, Trabalho , Interior e Previdên cia Social) e, no âmbito do
o. d~se?volvimen50 de atividades esportiva s que contribu íssem para Estado, por um organism o de gestão e um conselho consultivo.
dimmmr as tensoes sociais. Um conselho comunitá rio, que não tem poder ele decisão algum,
No plano político, o regime militar implanta do em 1964 come- é constituí do em cada Centro. Tem três funções: participa r da ma-
çou a perder ~ua legitimidade: a Igreja católica, os sindicatos, os nutenção do Centro, estabelecer uma lista de atividades e tomar conhe-
setores patronai s reagem à política de controle crescent e do Estado cimento das normas. Trata-se de funções de realimen tação da propa-
sob;~ a _sociedade civil. Em 1974, a oposição consegue uma vitória ganda do governo e de ligitimação do poder para "assegur ar" a
pohtic,a importan te e o governo perde a eleição nas principais cidades presença do governo federal na comunid ade. 2 Além disso, os conselhos
do pais, mas as ganha no interior. comunit ários não são formado s, na maioria dos casos, o que deixa o
campo livre aos tecnocra tas e aos burocrat as. Vários conselhos que
E: nessa co?-juntura de expansão econômi ca e de enfraque cimento preexisti am à implanta ção dos centros sociais urbanos recusara m-se a
do poder que o governo promulg a uma série de medidas pontuais integrar o novo program a. A implanta ção dos oentros tem às vezes
como a criaçÍ10 dos CSUs, a assistência social à velhice a reforma d~ suscitado reações negativas por parte da populaçã o. Em João Pessoa,
Previdên cia Social e uma nova lei sobre acidentes do' trabalho . capital do Estado da Paraíba, por exemplo, a populaçã o solicitava
a construç ão de um cemitério no local para onde o Estado previu o
~ntre 1968 ~ 1973, período do chamado "milagre brasileiro ", com um Centro: mas a construç ão do Centro foi erguida apesar de tudo, de
crescimen to supenor ao do Japão, a indústria de transform ação conheceu um acordo com a decisão do governo.
aumento médio anual de 11,1 % de 1969 a 1972, com um decréscim o real do Em novembr o de 1981, 345 Centros estavam em funciona mento,
poder de co~~ra do salário mínimo em torno de 40% (38,01 % ) entre 1964
e 1974. ~uahf1~ou-se este fenômeno como achatame nto salarial, o que não é
quando 181 outros estavam em construç ão ou em fase de projeto.
outra coisa senao a extração da mais-valia.
Em I 973, com o aumento do preço do petróleo aparecem os primeiros 2. Instrução n.U 3 do Programa Nacional de Centros Sociais Urbanos
sinais da crise econômic a que se agudiz,u .í mais tarde'. (PNCSU) .

146 147
r

44,95% dos c~~tros se sit~am no Nordeste do país, sua regiao mais dos beneficiários) compreende a orientação e a referência jurídica
pobre. As reg1oes Sul e Sudeste, as mais ricas, absorvem contudo para obtenção de documentos administrativos.
52,3 % dos recursos do· programa.
Os serviços oferecidos são pouco integrados entre si, o que se
U~ grande número de CSUs se encontra nos grandes conjuntos deve ao fato de terem sido estabelecidos por decreto, no domínio da
c?ns1_:m~os pelo governo e financiados pelo Banco Nacional de Ha- educação e da cultura, ela saúde, do esporte, da formação de mão-de-
b1taçao. N? Rio de Janeiro, oito dos nove Centros estão instalados -obra, da previdência e da assistência social. A maioria dos serviços
nesses ':ººJun,:os e são administrados por uma fundação privada: a são estabelecidos por contrato com outros organismos governamentais
Fundaçao Leao XIII, ligada à Igreja Católica. que exercem a tutela desses serviços. Por exemplo, a Legião Brasileira
de Assistência ( organismo do governo federal) organiza cursos, mas
2. AVALIAÇÃO eles são definidos pela Legião e, freqüentemente, sem relação com as
necessidades da população.
Após cinco anos de funcionamento, os tecnocratas dos CSUs
constataram um semifracasso do programa, devido à grande dificul- Face a essas grandes dificuldades de operacionalização dos Cen-
da?~ _de operacionalizur seus objetivos. O governo federal construiu tros e no contexto ele uma nova conjuntura económica, mudanças
-ed1f_1cws sem se preocupar suficientemente com as etapas posteriores importantes foram introduzidas na política seguida até 1980.
da unplantação do programa.
3. OS ANOS 80: RECESSÃO E CRISE LEGITIMADA
_ Em 1979, somente 51 % dos CSUs construídos estavam em ope-
raçao. Entre 1975 e 1979, 30% somente cios espaços físicos cons- O governo militar estabeleceu seu poder sob a coerção e não
truídos eram utilizados. Uma avaliação do programa nos estados do sob o consentimento da população. Nenhum governo pode manter-se
Ceará (Nordeste), Minas Gerais (Sul), Bahia (Sudeste) e Santa Ca- sem um mínimo de sustentação popular. A partir ele 1978, o governo
tarina (Sul) revela que 33,1 % das famílias atingidas pelos progra- militar elaborou um projeto ele clistens:ío gradual e controlada e co-
mas dos Centros recebiam mais do que três vezes o salário mínimo meçou a diminuir a repressão, a tortura, a censura, o encarceramento,
(~ilardi e Pizarro, 1980). No conjunto desses quatro estados, a mé- principais métoáos do governo da ditadura militar.
dia de apenas 30,7% da clientela potencial se beneficiava de uma Este projeto de distensão política visava dar mais ligitimidade
atividade oferecida pelos Centros. ao governo, sem arriscar perder o poder, e melhorar a imagem inter-
nacional do país. A liberação para formação de novos partidos polí-
Os serviços de saúde e nutrição têm sido os mais ativos, segundo ticos ( com exclusão do Partido Comunista) tinha por fim dividir a
o número de beneficiários diretos ( 44,16%), em função de campa- oposição e evitar a repetição dos desastres eleitorais de 1974 a 1978.
n~as de vacinação e de distribuição de certas refeições gratuitas às
cuarn;as. Os serviços educativos e cu!Lurais que compreendem as ati- O espaço aberto na sociedade civil e na sociedad~ poiüica por
vidades culturais e cívicas, como a celebração de datas nacionais uma persistente resistência é então ocupado pelos movimentos políti-
cos e sociais. As Comunidades Eclesiais de Base (CEB) da Igreja
conferências e assembléia3 de informação reuniram 21,5% dos bene~
Católica tornam-se um lugar de discussão política e de reivindicação
ficiários. As atividades esportivas (21, 10% dos beneficiários) são
para a solução de problemas soei~::,,. As igrejas se abrem às assem-
sobretudo orientadas para competições. O programa de mão-de-obra
bléias dos sindicatos e cios movimentos rurais e urbanos. Associações
( 6,?7 %_ dos beneficiários) compreende cursos de cabeleireiro. tape- de lavadeiras, de artesãos, de idosos ou deficientes se desenvolvem
çana, pmtura, costura, bordado, datilografia, eletricidade, cerâmica, simultaneamente a movimentos locais para melhorias quanto a água,
crochê, confecção. Mas esses cursos não são de qualidade suficiente esgoto, eletricidade, movimentos mais amplos de mulheres pela anistia
para qualificar mão-de-obra para as exigências do mercado de traba- total, contra a alta do custo de vida, por uma nova Constituição, pela
lho. Enfim, o programa de previdência e de assistência social (6,27% abolição da Lei de Segurança Nacional.

148 149
, fi!.

Várias greves selvagens (as greves ainda são proibida s) defla- je tomada de consciência pelos habitante s, de problem as reais da
gram em 1979 e 1980 na indústria e nos serviços, entre as quais a comunid ade e de sua potencia lidade para transform ar essa realidade
dos metalúrgicos em .São Paulo, da construç ão civil em Belo Hori- (IPEA-P NCSU, 1980: 2). A mobilização da comunid ade compr_een-
zonte, dos professores de todos os níveis. Essas greves resultam de de a formaçã o de agentes para "ajudar" a comunid ade a se organizar,
uma conjuntu ra de recf.ssão aguda. 3 mstalação de postos de serviços e realização de levantamentos. Essa
'
O desempr ego e o subempr ego aumenta m. A taxa de desempr e- mobilização repousa sobre o desenvolvimento da cooptaçã o da co-
go, que era de 4% nos anos 70, passa a 11 % em novembr o de 1981. munidade ao nível local.
Os setores monopol istas se desenvolvem, bem como as formas mais Segundo o III Plano Nacional de Desenvolvimento, o tra~o
tradicionais da economi a de subsistência. A heteroge neidade estrutu- principal desta política de "particip ação" se coloca sobre a soluçao
ral se mantém e se articula para o desenvolvimento do capital mo- dos problem as em escala local e sobre a integração da populaçã o
nopolista. às iniciativas governamentais. Populaçã o-alvo e açõe3 corresponden-·
Face às greves, o governo reage tanto pela repressã o como pela tes são claramen te definidas segundo o seguinte esquema :
negociação, elemento relativamente novo no processo político. A ne-
Populaç ão-alvo Ações
gociação é então imposta por uma corrente muito importan te da bur- Medidas voltadas para o mercado
guesia industrial - em particula r dos empresários de São Paulo - , Desempr egados e pobres
de trabalho
que compree nde que o capitalismo deve se liberalizar se não quiser
desaparecer na onda de uma revolução. Trabalha dores em economia
de subsistência
Nesta nova conjuntu ra, o Program a Naciona l dos CSUs (PNCSU ) Assistê.ncia e saúde
Grupo de mães e crianças
muda de estratégia. Em abril de 1980, o Executivo apresent a ao
Jovens Esportes
Conselho Nacional de Desenvolvimento Social um novo projeto (Ins-
Deficientes Assistência
trução n. 0 12) que visa orientar a política dos CSUs.
Idosos Serviços
Começa-se por interrom per a construç ão de novos estabeleci- Populaç ão em geral Assistência e saúde
mentos para retomá-la em 1982. Daí a i 985, prevê-se a construç ão
de 274 novas unidades que se somariam às 526 já aprovada s, totali- Fonte: III PND, 1980-19 85.
zando assim oitocentos Centros. Constata -se: a populaçã o-alvo é aquela excluída do mercado de
Face à crise, à mobilização popular, aos movimentos de reivin- trabalho . A política visa pois a integraçã o dessa populaçã o ao mer-
dicação que se tornam cada vez mais ativos, o governo deve desen- cado de trabalho , mantê-la num mínimo de assistência ou ele diversão
volver novas estratégias de controle. O PNCSU propõe então uma ( esporte) . A participa ção é reduzida aos objetivos determinados pelo
política de desenvolvimento comunit ário que se inspira no processo poder·
Estes três objetivos de integraçã o ao mercado , de manuten ção
3. Se nos anos 70 o produto interno cresceu à taxa de 10% nos anos de um nível mínimo de assistência e de diversão se situam no con-
80 nota-se um decréscim o de 8%, Entre 1970 e 1971, a produçã~ de auto- texto ela reproduç ão da força de trabalho e da ordem social em vista
móveis ele passeio tinha aumentad o de 37% e de agosto de 1980 a agosto de
1981, essa produção registrou uma baixa de 40%. A distinção entre o período da acumula ção do capital. Num país depende nte e desenvolvido, as
de expansão ( 1969-1974 ) do capitalism o e o período atual de recessão aguda condições de acumula ção estão ligadas à articulação dos setores mo-
( 1978-1984 ) é muito clara. Entre 1974 e L978, a deterioraç ão tem sido pro-
gressiva e lenta. A renda é ainda mais concentra da segundo os dados oficiais nopolistas, tradicionais da economi a, com urna economia de subsis-
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 1970 os 50% tência. O eixo central da nova política dos CSUs é justamente o
mais pobres possuíam 14,9% da renda, e os 10% mais ricos, 46,7%. Em
1976, os 50% mais pobres partilhava m ele 13,5% da renda, e os 10% supe-
desenvolvimento comunit ário e a pseudocriação de -emprego, man-
riores, 50,4%. tendo a economi a de subsistência e as pequenas empresas de família.

150 151
/

4. QUAIS AS ESTRATÉGIAS PARA O FUTURO? mais geral. A colaboração dos CSUs é vista co~no_ um apoio organi-
zacional e econômico à criação de empregos, pnnc1palmente nos 107
Existe contudo uma diferença de concepção do desenvolvimen to Centros que se situam nas zonas metropolitanas .
comunitário entre a definição que lhe dá o III PND e a proposta
pelos tecnocratas dos CSUs. Talvez se trate de um espaço possível Cada Centro deve apresentar projetos e já se co~hecem expe-
para a discussão interna e de uma abertura à participação efetiva riências de fabricação de brinquedos, de doces, confecçao de roupas,
da população? de hortas coletivas.

Nas análises das estratégias, precisa-se distinguir as forças sociais Os representantes dos CSUs do Nordeste, reunidos em outubro
presentes no aparelho do Estado. Assim, encontramos no mesmo do- de 1981, consideraram que a estratégia de formação ,ct~ pequenas
recursos
uN
cumento uma definição crítica do desenvolvimen to comunitário e uma empresas e, so, u m paliativo ao emprego e_ que são . necessanos
- ·
outra baseada em soluções de problemas locais. do governo federal para sua implantaçao (Con~1ssao IV, CS - or-
deste, 1981). Um dos grupos de tr_a~a_lho ~~est1?nª., mesmo s~ a e~~
Essas divergências começam a ser toleradas pela sociedade polí- tratégia do desenvolvimen to comumtano cnt1co e v1avel face a poli
tica brasileira.
tica de centralização do governo e um outro grupo_ coloca_ ~ pr~blema
Em relação à estratégia de emprego e ao apoio aos setores de do discurso da participação e da realidade da_ ~ao-part1c1paçao, do
subsistência, entrevê-se também a possibilidade de uma abertura a um controle ainda persistente nos movimentos sociais. De f~to, o nov_o
processo de autogestão. discurso apresentado pela coordenação naci~nal pode servil' tanto p~ta
justificar a cooptação dos movimentos locais, como ponto de partida
Se, por um lado, o governo visa a integração da mão-de-obra de uma estratégia de participação.
através de trabalhos comunitários, a direção do PNCSU está aberta a
uma autonomia dos grupos de trabalho. "Desde o começo, é preciso .É provável que os CSUs diversifiquem suas ativi?ades e s~as
ver claramente o objetivo de conduzir os trabalhadores a se unirem de iniciativas segundo a relação de forças a nível local e nacional. A: mv_el
forma autônoma nessas empresas":' nacional, é preciso um mínimo de apoio de um_ forte setor _da ~ll'eçao
nacional do programa e, a nível local, o a~010 _ da orgamza!~º ~os
Na verdade, propõe-se reduzir os problemas de desemprego e de • • e dos técnicos e o da organizaçao das mob1hzaçoes
pro f•1ss1onais
subemprego por trabalhos de construção civil e de melhoria de redes
populares.
de água e esgoto, de eletricidade e de pequenas empresas.
Em 1984, 0 governo federal cortou o programa a nível naci?nal,
Um passo positivo, nesta proposição, é o fato de recusar o tra-
deixando-o a cargo dos estados e municípios, que devem assumir os
balho voluntário, forma freqüentement e utilizada para extrair de for-
ma absoluta a mais-valia da força do trabalho. ânus das atividades, redirecioná-las ou encerrá-las.

Essas pequenas empresas elevem ser economicamen te viáveis,


numa perspectiva ele comercializaçã o e ele produção integrada ao mer-
cado local, ao artesanato e aos setores não-explorado s pelas empresas
existentes.
Essas empresas comunitárias devem receber todo apoio do CSU
no que diz respeito à complementar idade de uma política ele emprego

4. Carvalho •~ Olávio (fPEA-PNCSU, 1981: 12). Este documento foi


redigido com a colaboração do doulor Uwe Spanger, da RFA, no programa
de cooperação técrnca Brasil/ Alemanha. Parece que a sigla CSU foi inspirada
por emblema alemlio similar.

152 153
Biblio grafia

ALAYON, Norberto. Hacia la historia dei trabajo social e11 Arge11ti11a. Lima,
CELATS, 1980.
ALBUQUE RQUE, José Augusto Guilhon et alii. O f1111cio1w111ento político das
imtituiç,,es : análise do funcioname nto instituciona l de um;.: agência de saúde
na periferia de São Paulo, Relatórios I e li. São Paulo, 1979, mimeo.
ANDE R-EGG, Ezequiel. Trabajo social co1110 acció11 liberadora. Buenos Aires,
ECRO, 1975
ANDERSO N, Perry. S11r Gra111sci. Paris, Maspero, 1978.
BACHJ-:LA RD, Gaston. Le racio11"/i.m1e app/iqué. Paris, PUF, 1970.
BADIOU, Alain Tltéorie "" la co11tradic:tio11. Pr'.ris, Maspero, 1975.
BAILEY, • Roy e BRAKE, Mike. Radical social work. Nova Iorque, Pantheon
Books, 1976.
BARTHY, Aldair Brasil. Participaçã o social, in: Debates Sociais, ano X, n'.
0

19, outubro de 1974.


BELL, Daniel. O fim da id('o/ogill. Brasília, UnB, 1982.
BERRIEN, F. K. General ai;d social syste111s. Nova Jérsci, Rutgers Univcrsity
Press, 1968.
BOBBIO, Norberto. Gramsci y la concepción de la sociedade civil, in: PIZZOR-
NO, Alessandro et alii. Gramsci y las cie11cias sociales. México, P&P, n.
0

19, 1980.
BOURDIE U, P.; PASSERON , J. C. & CHAMBO REDON, J. C. Le métier de
sociologue. Paris, Mouton/Bo rdas, 19
BROBOFF , Jacottc e LUCCION I, Micheline, La tutelle aux prestations socia-
les, in: Esprit, n. 0 5, maio de 1972.
BRUNHOF F, Suzanne. f;tat ey capital. Paris, Maspero, 1978.
BULLAIN , Maritza Jíménez et alii. Trabajo social con campesinos . Buenos
Aires, CELATSIE CRO, 1976.

155
CA RVALH ?, A~ba Maria Pinho de. Uma análise da proposta de rraba/Jw - - - - . Editorial Stato Operario , ano III. n. 0 14, 21-5-192
rec,_,ncc1tuaçao do Se, viço Social na América Latina Rio de J se ·ial • 5. ln: POR-
: " •• TANTIE RO, Juan Carlos. Los usos de Gramsci . México, P&P, 1977.
de Mestrado , PUC-RJ , 1982, mimeo. • ane,ro, tese GREEN WOOD, E. Social science and social work: a theory of
their relation
CARVA
a CJioLHOd ' Ruv,- e. OTAVIO
, . ' .Ro d i•igo.. p ~mos para uma discussã o sobre o ship. ln: Social Service Rei·iew, 29, 1955.
PN··cs ~ PI\ CSU a a11v1dades ecoIwmI cas comunitá rias. Brasília HEARN , Gordon. Tlteory Building in social work. Toronto , Universi
-P IPEA- ty of To-
U, setembro de 1981. ' ronto Press, 1958.
CH/\LM ERS, Thcmas. The <;:'hristian a11d cil'ic economv of /arge IAMA.M OTO, Marilda e CARVA LHO, Raúl. Relações sociais e
towns Gla _ Serviço Social
gow, Chalmer s and Collins, J823. • no Brasil. São Paulo, Cortez, 1982.
• s
CLARK , ,Maria Angélica_ Gallardo . La pníxis dei rrabajo social e11 1111 IPEA-PN CSU. Proposta para a operacio nalizaçã o dos CSUs no
a dirección país. Brasília,
cIeIItI1Ica. 8 uenos Aires, ECRO, 1974. IPEA-PN CSU, 1980, mimeo.
li
~
COMTPhTODN, B. R. & GALAW AY, B. (Org.) Socílll u·ork priresI·
e: orsey Press, 1975. ' ••
Homewo od JOHNSO N, Terence Y. Professio ns and powe'r. Londres, MacMill
an Press,
1977,
OAVlü üFF, Paul. The advocate relations hip, in: GILl3F.R T Ne'I1 KAUFF MANN, Ira. La gestion du changem ent. Quebec, Escola
SPECHE -T
1977. ..
l·h- "Y ( Orgs ) PI w111111g
• f or suei/li
• 11·elf11re. Nova J érsci,
• e
Prcntice Hall'. Social, mimeo.
de Serviço

KONDE R, Leandro . O que é dialética . São Paulo, Brasilien se, 1981.


DUQ~ ~ .?hi$[aine~ ~Estruré gitu ca11Ipo11c.I·as, aç 11 u de clas.w c/i.~farç.·a KONOP KA, Gisela. Serviço Social de grupo. Rio de Janeiro, Zahar,
da. Campi- 1974
- TI<1 1,1nde. U F I b, Depto. de Scciolog ia, 1980. mi meo.
LEFEBV RE, Henri. De /'E.tal. Paris, Union Génerale d'Éditi,)n
ETZIO~ I. Orga11izações mod,,r11as. 6.ª ed., Sf10 Paulo, Diviasi,:, s-Col. 10/18,
1980. 1976, 4 vol.
FAL~-;O , ~~ 11_ª d~ Carm:1 Brandt de Carvalho . S,•rviço Social: - - - - - . Lz reproduc tion des rapports de producti on. ln: L'Homm
, uma nova e et la
sao teor1ca. 3. ed., Sao Paulo, Cortez & Moraes, 1979.
Société, n. 0 22, outübro/ dezembr o de 1972.
FALEIR OS 'e Vicente de Pa u Iª· A J) 0 /rtirt1 .\'Ocwl
' • • do Estado capitali•· tn S'-o LEFORT , Claude. A invenção democrá tica. São Paulo, Brasilien se,
P au 1o, ortez, 1980. J • "
1983.
LIMA, Boris. Contribu ción a la ,.,etodo/o gía dei trabajo social.
. • Corpora tivismo, populism o y seguriclad social Mag•istcr Latino- Caracas, Fa-
-A mencrno · _ . ern Trabajo <-o cn1.,
• 1 u rnvers1( cultad de Ciências Econom icas y Sociales, 1974.
, • ~ • • 1ade ele Hondura ' s, 1979.
• m•meo. LIMA, Leila e RODRIG UES, Roberto. MetodQl ismo, estallido de
UFP' .MC nse eco11ômica t: política social na A111érica Latina João una época.
o, estrado em Serviço Social n. 0 2, 1983, mimeo. Pessoa, . ln: Acción Crítica, n. 0 14, dezembr o de 1983.
• ' LIMA. Sandrz A. Barbosa. Participa ção social no. cotidiano . São Paulo,
---~-- --. Espaço institucio nal e espaço p,ofissio nal Jn, Servi Cortez,
•0 Social &
.)CCll'dad e, vol. I, n. 0 1, setembro de 1.979, p. 137._53, •
(· 1980.
LlPPIT, Ronald; WATSO N, Jeanne & WESTLE Y, Bruce. The
J981. Metodol ogia e ideologia do tra/Jalho • / • s ão P,wlo, Cortez, dynamic s of
soc,a planned e/tange. Nova Iorque, Harcour t, 1958.
LOJKIN E, Jean. O Estado capitalis ta e a questão urbana. São Paulo,
cl . La ré,:ulario n étarique des accidt'nt. , du travai/ 011 l:Jré,·il Tese de Martins
outor,1,1o apresent ada à Universi dade de Montrea l em at;osto •d~ Fontes, 1981.
1983 LOURA U, René et alii. A 11álisis i11s1i111cio11al y socio-an álisis. México,
FILA RDI, Sola no e PIZARR O, c 1·•,sostomo
·, ·
. Eleme111 - a avaliaçã o•• de Nueva
0 para 11111
1
te.•,,wIpe11 110 do PNCSU. Brasília, PNCSU 1980 mimeo Imagem, 1977.
FOUC>A l)LT, M 1• · · e punir. Petrópol ' LOWEL , Josephin e Shaw. Charities ( 1.898), in: RICHM OND,
cheL Vrf!iar '
is, Vozes, •
1977. Mary Social
diagnosis . Nova Iorque, Russel Sage Foundat ion, 1917.
GA 1.ir~~ti:eef~~i1,S~~1:6. work practice: a radical perspecti ve. Englewo LUZ, Madel T. Instituiçõ es e estratéRi a de hegemon ia. Rio de Janeiro,
od Cliffs, Graal,
GERMA NI. • Gino · Polir·rque, socIt:le
,• , et moden11s • at1or:.
• 1979 .
Bruxelas . D11culot, 1972. MACPH ERSON , C. B. A democra cia liberal. Rio ele Janeiro, Zahar,
GODBO U r,. Jacques e MARTIN , Nocole. Participa tion 1978.
Universi dade de Quebec, _ et iiinova1io11. Quebec, MAGUI NA, Alcjandr ino. De,·arro llo capitalis ta y trabalho social:
1974 origines Y
tcndenci as de la profesión en e\ Peru. Lima. Edicione s CELATS ,
GORDO
t' . N, William
f . . · Basic constr uc ts f or an •integrat1•ve and generativ e concep- 1979.
10.1 e soclili work. rn: - - - - - . Trabajo social, servicio o actividad producti va, in: Acción
Crítica,
ap11roac/J: contrihu tions IO\HEARN
'.d
Gord (O·1 •
. . C .· ·. va, a, h'o J'1st1c
. on ?') T/Je genNal sy.1·te111s
conceptr on of social work Nova n. 0 3, 1977.
101quc, ouncII on Social Work Educatio n, !968. MAQUI AVEL. N. O Príncipe. São Paulo, Abril Cultural , 1979.

GRAMS CI, Antôni?. lntroduç ão à filosofia da práxis. Lisboa, Antídoto MARX, K. E/ Capital. Libro /. Capítulo VI. Inédito. México, Sigl-.>
, 1978. XXI, 1979.
. _ . Maqwav e/, a polltica e o Estado moderno . Rio de Janeiro Civi- MEISTE R, Albert. Vers une socio/og ie des associati ons. Paris,
Les Edítions
11zaçao 8 rasile1ra, 1980. ' Ouvrierc s, 1972.

156 157

_J
r MILLS , Stuart. L'imag ir.ation sociolo gique. Pa-ris, Masper
o, 1976.
REYM ÃO, Maria Eun.ce Garcia . As atribui ções
profiss ionais do assisten te so-
MOFF ATT, Alfredo . Psicote rapia do oprimi do. 5.ª cial. São Paulo, Cortez & Moraes , 1978.
ed., São Paulo, Cortez , TOS, Leila Lima. 1 extos de Serviço Soc_,a.• 1 São Paulo, Cortez , 1982.
1984. SAN
MOUR E, Barring ton. Social origins of dictato rship SOUZA , Maria Luíza. Questõ es teórico -pr áiflcas do Serviço Social. São Paulo,
and democr acy. Boston ,
Be:icon Press, 1966. Cortez & Moraes , 1979. .
NAPO LE9NI , Claudi o. Lições sobre o Capítu lo V1 de VA. RIOS. Desafí o ai Servici o Social. Buenos A ires, Human itas, 1974,
Marx. São Paulo, LECH , • . .
198 l. VIRIL O, Paul. Le jugeme nt ~rem1e d J Paul Lambe rt. ass1ster c'est exclu-
r, e ean •
re, in: Esprit, n.º 4, ma10 de 1972.
l OLIVE IRA, Francis co. Anos 70: as hostes errante s. ln:
vol. 1, n. 0 1, dezemb ro de 1981.
Novos Estudo s Cebrap , WARR EN, Dean. A industr ia /1zaçao . - de São Paulo 3 ed., s-ao Paulo, Di-
a
• •

l PALM A, Diego. La reconc eptua/i zación: una busque


Série CELA TS, 1977.
PARO DI, Jorge. EI signific ado dei trabajo social en

P ARSON S, Talcott . The profess ions and social structu


logical theory. Toront o, MacMi llan, 1954.
da en Americ a Latina.

el capital ismo y en la
reconc eptuali zación. ln: Acción Crítica , n. 0 4, p. 33-41.
res, in: Essays in socio-
fel, s/d.
WHYT E, William J. The organiz atior.
Garden City, 1956.
.
man.
N I que Double day and Co.
ova r ,

PARSO NS, Talcot t & SHILS , Edwars . Towar d a genera


l theory of action.
Harvar d, Harvar d Univer sity Press, 1962.
PERLM AN, }anice E. O mito da margin alidade . Rio
de Janeiro , Paz e Terra,
1977.
PIAGE T, Jean. Biologi e et cwwais sance. Paris, Gallim
ard, 1967.
- - - - - . Epistem ologie des science s de l'Jwmm e.
Paris, Gallim ard, 1970.
PINCU S, A11en & MINA HAN, Anne. Social work practic
e: model anel method .
Ith<ica, Peacoc k Publish ers Inc., 1973.
PIVEN , F. e CLOW ARD, R. Regula tinff the poor. Nova
Iorque , Vintag e Books,
1.973.
POLSK Y. Howar d. System as patient : client needs and
system functio ns. ln:
HEAR N, Gordo n (Org.) , op. cit.
PORTA NTIER O, Juan Carlos. Los usos de Grams ci.
México , Folios Edicio-
nes, 1982.
POULA NTZA S, Nicos. Pouvoi r politiqu e et classes
sociales. Paris, Masper o,
1972.
R[CHM OND, Mary. Social Diagno sis. Nova Iorque,
Russel Sage Founda tion,
1917.
SING ER, Paul. Econom ia política do trabalh o. São
Paulo, Hucite c, 1977.
- - - - - . Trabal ho produti vo e excede nte, in: Revista
de Econom ia Política ,
São Paulo, vol. 1, n. 0 1, janeiro -março de 1981.
SINGE R, Paul el alii. Preven ir e curar. Rio de Janeiro
, Forens e, 1978.
SMAL LEY, Ruth Elisabe th. Theory and social work
practic e. Nova Iorque ,
Colúm bia Univcr sity Press, 1967.
SMITH , Adnm. Recher ches sur la 11ature et les causes
des richess es desnati ons.
Osnabu rk, Otto Zeller, 1966.
SOUZA SERRA , Rose Mary. A prática instituc ionaliz ada
do Serviço Social. São
Paulo, Cortez, 1982.
SPITZ ER, Kurt & WELS H, Betty. Jlroble m solving
: a model pratice . ln:
COMP TON & GALA WAY (Orgs.) , op. cit.

158
\ 159
rr
1

~
Impresso nos oficfnos do
EDITORA PARMA LTDA
Telefone (011) 912 7822
Av Antonio Bordello, 280 4$
Guarulhos · São ~ulo · Brasil
Com filmes fornecidos pelo editor J OU ,
2 1 2007

Você também pode gostar