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BaTaLHas CLaSSIFICaTor1as
e ProDução acanêm1ca
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articiparam importantes nomes da universidade brasileira, começando
por seu relator, Simon Schwartzman, e outros, como Edmar Bacha - um
~os organizadores da Conferência na Columbia_ Univ~rsit~ - , José Arthur
Giannotti- que realizou uma estada na Columbia Unzversity entre 198o e
19 g2 - , Bolívar Lamounier, José Leite Lopes, ~uiz Edu~r.do Wandcrley, Rober-
to Cardoso de Oliveira, C arlos Nelson Coutinho, Guiomar Namo de Mello,
universidade de pesquisa-considerado um dogm a professado no tocante à
entre outros. '6
universidade brasileira; à nova legislação implantada com a reforma, colo-- Na comissão, o ponto de partida analítico foi a crise vivenciada pelo sis-
cando um novo sistema sobre unia velha est rutura, na qual a exceção são os tema de educação superior brasileiro e que deveria ser enfrentada pela Nova
cursos d e pós-graduação; e, por fim, ao descompasso entre a legislação e a
República. Essa crise será retratada, .aqu i, po~ inter~édio da ?b_jetiva~ào ~a
expansão que se dtí no ensino superior privado.
aralisação, em 1984, das universidades federais, a mais longa v1v1da ate entao.
Ao falar das mudanças que seriam necessárias para mudar o rumo da À greve ficou marcada pela inexistência d e di~c~ssões
no âmbito da socíe~ade
universidade brasileira, Castro (1986, p. 142) aponta prioritariamente que: civil da época e pela ausência de relevo na nudia sobre o problema da umver-
sidade brasileira e sua reestruturação organizacional, que foram agravados no
r... J a estratégia deveria começar com uma tentativa de desfazer () mito período do regime autocrático. Com a possibilidade de retomar discussões
da universidade brasileira. A {)piníão pública e os que lidam com o e nsino propiciadas pela abertura política, as universidades vão impulsioná-las em
superior devem reconhecer o mal que se perpetua através da ilusão de que seu próprio interior, gerando um fator desencadeador de estudos sobre essa
existe uma universidade braslleira. Tndepcndentemcnle da forma como se temática, que serão intensificados no final da década com discussões nas as-
deseje concebê-los, existe nãQ llm mas praticamente tantos modelos quantas sociações científicas e de classe, e, também, estimulando a criação dos grupos
são as inslituiçôes de Ensino superior - e, muitas vezes, a heterogeneidade
de pesquisa. '7 ·
dentro de uma mesma instituição é ainda maior que entre elas. A paralisação das universidades públicas federais foi emblemática ~o
entendimento do conflito, já instaurado no interior do sistema de educaçao
A análise do autor é balizada em dois pontos. No primeiro ele assinala a si- superior e que foi acirrado nos anos seguintes, entre grupos de poder distin -
tuação limítrofe das universidades públicas brasileiras, sobretudo aquelas do tos, marcados por uma hierarquia do poder em homologia a uma hierarquia
sis tema federal, com problem as gue foram agravados continuamen te, com o é do saber. A s questões da época estavam concentradas, entre outras, n a
o caso dos referente~ à estrutura organi7.-acionaJ, à adminis tração e aos gastos, democratização da universidade, n a competência do trabalho acadêmico e
todos apontando para a·ausência de desem penho nesse setor. No segundo, sua avaliação de desempenho e na função social da universidade. Entretanto,
em que se vislum bram os novos caminhos·para a educação sup erior, refere-se os problemas de fundo referiam-se às mudanças ocorridas na instituição
ao ensino privado e à necessidade de se observar o que está acontecendo em universitária, durante o período de autoritarismo, e que conformaram uma
tal segmento, como a realidade do sistema de educação superior atual, cujas determinada estrutura de organização universitária, sendo aceita ou rejeitada
principais vantagens são: a diversidade dos modelos institucionais para o conforme os grupos de poder atuantes nesse momento e nesse universo. Des-
atendimento dos diversos públicos e a criatividade ao fazê-lo; o custo menor sa forma, o conflito era pela imposição de uma nova maneira de ver o mundo
para a formação do aluno; a administração mais flexível e, portanto, mais social, com interesses diversos e conflitantes. A partir disso, um de seus pro-
orgânica e eficiente; o descolamento entre a pesquisa e o ensino; a pesquisa tagonistas foi o professor José Arthur G iannotti, cujos artigos produzidos no
como prestação de serviços, contribuindo para o aumento da rec~ita da insti-
tuição; a busca de fontes alternativas de sustentação; e a produção de serviços
e de produtos em escala comercial. 16 Os outros membros da comissão foram: Caio Tácito, presidente da comissão, Amílcar
Tupiassu, Clementino Fraga filho, Dom Lourenço de Almeida Prado, Eduardo de Lamônica
O segundo momento-chave identificado na gênese da construção da Freire, remando Jorge Lessa Sarmento, Francisco favier Alfaya, Haroldo Tavares, Ja1r ~creu~
agenda diz respeito à organização de uma comissão nacional voltada à ela - dos Santos, Jorge Gerdau Johanp eter, Marly Moisés Silva Araújo, Romeu Ritter dos Reis, Ub1-
boração de uma nova política para a educação superior brasileira: a chamada ratan .Borges de Macedo e José Eduardo Faria. , .
"comissão dos notáveis''. Esta foi instituída em 1985 pelo então presidente 17 Nos Capítulos 4 e 5 pode-se conferir os períodos de maior produção academ1ca e da
José Sarney e pelo Ministro da Educação Marco Maciel. Dessa comissão criação dos principais grupos de pesquísa na temática, concentrados a partir do final dos
anos 1980.
período geralmente polemizavam com o movimento. doc~.nte, tanto na USP signíficam apenas ônus ou sacerdócio. Mas convém desde logo ter em
como em âmbito nacional na ANDES (atual ANDEs/SN). Entre as propostas mente que se os grupos começarem por declarar suas intenções políticas,
elaboradas p~lo professor, representativas da perspectiva de todo um grupo estão propondo uma política da negociação, onde o poder deixa de ser a
de professores em torno da USP e de outras universidades de alto prestígjo encarnação dum bem comum abstrato para o exercício dum acordo feito
acadêmico, está a autonomia universitária, ligada à avaliação de desempenho ad hoc (GlANNOTl'l, 1984, p. 41).
da institujção e dos docentes; à valorização de certas forma s universitárias,
entre as quais a defesa de doutores em seu corpo professoral, com o forma A idéia explícita é a d e que há p essoas, organizadas em grupos específicos,
de garantir a autonomia no en si no e na pesquisa, uma vez que este é o único que podem elaborar um p rojeto d e sociedade e realizá-lo com a chegada ao
grupo capaz de exercer o poder acadêmico, entendido como a capacidade d e poder por intermédio da representação política. Encontra-se nessa proposta
conformar comportamentos e reforçar a vida acadêmica, sendo necessário, a concepção de uma filo sofia social, elaborada sob a orientação de uma
para tal, a democracia, desde que percebida como um processo permanente teoria e por pessoas distintas, as quais poderão levar a termo uma visão de
de negociação com o s representantes dos poderes existentes (GIANNOTTI, mundo social. Porém, esse grupo deveria exercer uma função de distinção,
1986a; i987; 1989). no sentido de afastarem-se de outros m enos preparados e menos dotados de
Uma concepção de vida acadêmica é explicitada na distinção de Giannótti competências para tal tarefa -'~ o baixo clero. O grupo legítimo para desem-
entre os ~'sabidos" que, com a transformação do saber no uso de uma qualifi- penhar tal papel seria o dos intelectuais ou acadêmicos que, tendo vivido
cação monopolizada, são aqueles que abusam do uso dessa qualificação e do a universidade dos sábios, aquela que entende o saber como um modo de
monopólio de um saber imaginário, cujos efeitos podem passar despercebidos vida, teria todas as ferramentas para elaborar e realizar o projeto de mundo
(GIANNOTTl, 1984, p. 37), e os "sábios': amigos da sabedoria autêntica e do social. Se estes acadêmicos foram perseguidos, expulsos da vida acadêmica
saber como forma de vida. Ess.a separação é correlata de uma divisão do ou obrigados ao ostracismo, mesmo que nã o tenham sido ativistas de uma
trabalho intelectual, em que os "sábios" são tomados como aqueles que fazem causa social,'9 era porque tinham possibilidades de fazê-lo e algo a dizer-o
um trabalho efetivo e os "sabidos': como aqueles que fazem do trabalho um alto clero.
faz de conta. Nesse texto Giannotti, na época presidente do CEBRAP, fornece O discurso produzido nesse embate assume a forma de uma linguagem
muitos elementos que refletem a concepção do grupo que vai compor uma performativa (BouRDIEV & BOLTANSKI , 1976), na qual, se existe uma
nova elite de poder nos anos 1990, .centrada no governo Fernando Henrique ciência política ou uma política científica, o único futuro é o da ciência
Cardoso e, mais especificamente, no grupo ligado à educação superior. Há a que pertence aos mais competen tes, justificados no seu monopólio da
confluên cia entre as proposições pretensamente ligadas à universidade e uma política p or seu monopólio da ciên cia. Essa idéia vai en cerrar a produção
visão de mundo social qàe vinha sendo forjada entre uma elite de intelectuais de uma ideologia que terá corno base um tipo de ciência, não como forma
provenientes de um universo social bastante homogêneo. l de representação dentre outras, mas como a única representação legítima
O autor, ao analisar os movimento s políticos das classes m édias, afirma • do mundo social, uma vez que é produzida pelo único grupo também
que dentro das ondas de renovação por que passa a política moderna, uma legítimo. Ao analisar a ciência econ ômica como science royale, Bourdieu &
delas pode se realizar se for orientada por uma "teoria política correta': que
é a do enfrentamento dos problemas de representação e a do abandono do
1
l . .
Boltanski (1976, p. 48) afirmam que esta - e depois de maio de i968, tam-
bém a ciência social - vai definir o universo do pensável e que, portanto,
mito da sociedade tran sparente. A primeira idéia é a de que há, ainda, na i .. ela é política na medida em que, sob a aparência de enunciar o ser, anuncia
universidade, grupos interessados cm um trabalho efetivo. o que deve ser. E, ainda,
Se os grupos dinâmicos da universidade, interessados cm ensinar e pes- [... ] conçu et appliqué par dcs gens qui, ayant exdu tout changement radi-
quisar bem e prestar bons serviços à comunidade, se organizarem desde cal d'axiomatiquc, sont convertis à J'idée qu'en maticre de polítique, comme
logo como um grupo político, propondo-se um projeto de universidade
nova e tendo e m vista o objetivo claro de chegar ao poder, ela passará por ~ 8 Especialmente aqudes ligados aos movimt:nlos sociais de origem cm sindicatos e assoda·
.~8 de categorias profissionais diversas, inclusive a dos prnfcssorcs universitários.
um período de profunda reformulação. É preciso, porém, desde logo, que
tais grupos compreendam que sem chegar ao poder da universidade nada
·. t O ~upo mencionado não era o dos intelectuais militantes cm partidos ilegais na época
: ade«:gtme m1htar. Eram os pensadores q ue, mesmo apropnando-se das teorias marxistas, uão
poderão fa:r.er. Vamos acabar com essa mistificação de dizer que os cargos · riam a elas como doutrina para ações políticas.
en d'autres temps en maticre de morale, il suffit de bíen juger p our bien faíre,
Ir póteses para estudos que revejam as próprias can onizações reinantes nessa
que le ur scicncc cst politique e t leur p o litique scicntifique. 'º
fF~r. disciplina. Aqui, o interesse é simplesmente mostrar como há inter-relações
entre esse último grupo e aquele que vem a dominar o espaço d e p rodução
Sendo assim, é propositadamente que o próprio Giannotti (1984) se refe- acadêmica em educação superior no período analisado.
rirá aos economistas como aqueles únicos capazes de verem a crise que afeta Da mesma forma, tal atrelamento é a constatação de que nas discussões
a sociedade e sobre a qual a universidade está calada, e a UNJCAMP como a sobre a universidade há a possibilidade de depreender a elaboração de uma
única universidade com demonstrações nesse sentido. 21 Convém lembrar que visão do mundo social. Entretanto, esta não é colocada em causa, mas sim as
os economistas tiveram participações importantes na conformação de uma especificidades da instituição universitária e os vários discursos daí d ecor-
visão de mundo social emergente no período. Essa concepção centrada em rentes. Tais embates tendem a simplificar e a escamotear a relação entre visão
u.m tipo de ciência, como método de percepção e de ação política, vai acom- de mundo social e universidade, Llln<l vez que contribui para a produção de
panhar o grupo independentemente dos espaços sociais implicados. uma ideologia do mundo social que é legitimada por intermédio do discurso
2
O grupo/ ao qual o próprio Giannotti é um tipo ideal. é aquele da antiga produzido sobre esse universo acadêmico.
Maria Antonia, o mesmo dos estudos interdisciplinares em torno d'O Capi- Em relação à comissão "dos notáveis': três idéias básicas revestem o
tal, realizados entre 1959 e 1964, o mesmo que qualifica os intelectuais do Rio . teor de suas proposições. Primeiramente, a saída d e um modelo único de
de Janeiro, no mesm o período, como menos dotados de compostura acadê- universidade, aquele da. universidade clássica tradicional. Tomando como
mica, os contrários ao "sincretismo" de Florestan Fernandes, o mesmo que parâmetros .a diversidade do sistema e a diversidade do público, o Relatório da
toma os intelectuais de 1930, em torno da USP, como aqueles com a tarefa de "Comissão dos Notáveis" sugere o imperativo de diversificação dos modelos
criar uma intelligentsia, ou melhor, como um grupo dotado de objetivos cla- institucionais. 2:• Para tal, é preciso que haja o reforço na questão da autonomia
ros e relacionados com outras forças sociais, ou com tantos outros esquemas acadêmica, administrativa e financeira para todas as instituições d e ensino
classificatórios que foram cunhados e legitimados no universo acadêm ico superior brasileiras, públicas ou privadas, e o fortalecimento da democracia
das Ciências Sociais brasileira. Todos esses elementos podem servir de hi- interna, tendo como contrapartida a responsabilidade pelos resultados obti-
dos e a necessidade de desempenho eficiente, que seria medido pela avaliação,
o próximo ponto levantado. Ainda em relação à autonomia, seu aspecto mais
20 "[ ... )Concebida e aplicada por pessoas que, tendo exdufdo toda mudança radical axiomá-
relevante é o estímulo à criação de instituições inovadoras e revolucionárias
tica, rnnverk ram -se à idéia de que em matéria de política (como em outros tempos cm matéria
de moral} é suficiente julgar bem para fazer bem, que sua ciência é política e sua política do·prisma acadêmico, científico e administrativo, objetivando mecanismos de
científica" (tradução da autora). auto-gestão, que devem ser livres de controles burocráticos e rotineiros e gozar
21 Dessa instituiç.ão d~stacam-sc os economistas José Serra e Paulo Renato Souza acadêmicos de liberdade também em sua politica de pessoal, comportando a fl exibilidade
aluantes no campo polítiro brasileiro, principalmente a partir dos anos 1990. ' na contratação de professore.e; (MEC, 1985, p. 21).
22 Essa idéia de grupo e as oposiçôes q ue ela engendra em termos de uma vi.~ão de mundo
A necessidade de acompanhar e avaliar o desempenho na educação superior,
social e sua aplicação .~ão reforçadas nos anos seguintes com a consolidação do governo FHC
e seus mernbro.~. Em entrevista sobre as eleições presidenciais então cm curso, o próprio
que perpassa vários itens, como a gestão e o controle social da universidade, o
Giannotti fornece alguns elementos para a compreensão desse universo (GAU l>cNZI, 2 002): financiamento e o corpo docente, é o segundo ponto enfatizado. A avaliação
"Probablcmente, si lo que pretendemos es el mayor rigor científico posíble, de ninguna de las é entendida pela comissão como um processo político, que exige um trabalho
dos cosas. Porque el Lula, virtual ganador, no es el Lula de siempre. "El barbudo simpatizan te . tecnicamente perfeito, mas legítimo por parte do sistema de educação superior
de la l<evolución Cubana y cnemigo acérri.m o de los Estados Unidos y el FMr no existe más, e pela opinião pública implicada. As modalidades que devem ser mo~ivo
aunque conser ve la barba'. 'Él, como el resto de los candidatos, se movió al ce11tro'. y porque
de avaliação comportam: os cursos; os alunos; os professores; as atividades
el verdadcro perdedor de estas elccciones no será José Serra. Ni siquit:'ra remando Henrique
Cardoso. Sino e! modelo neoliberal que en la úllima década impusieron los economistas de didático-pedagógicas de ensino; os servidores técnicos e administrativos; e
la Pontificia Universidad Católica (PUC), de Río de Janeiro, con el ex-presidente dei Banco as carreiras. A tarefa de avaliar deveria ser do Conselho Federal de Educação,
Cenlral, Gustavo Franco, a la cabeza. "Serra participó en el gobierno de Fernando Henrique
Cardoso desde un princípio, pero é! siempre fue critico de la polítka económica. f l sicmpre · 23 Proposição que se demonstra latente, pois apesar de discutirem recorrenlemt·ntc a 4u~stão
inlcntó una política más vinculada al mercado interno; una polítka de fomento industrial e citarem as un ivc·rsidadcs confessio nais como exemplo, elegem o trinômio ensino, pesquisa e
Cardoso, a ral1. de su opción por el equipo de la PUC, se inclinó por cl neoliberalismo, en extensão como parâmetros para a organização universitária. Contudo, no decorrer da década
con tra dei pcnsamiento de Serra. Es esa política económica la que se agotó. y tal vez Serra no de 1990, o trinômio é desfeito nas di.~cussóes promovidas nos diversos setores envolvidos com
supo diforendarse a tiempo y claramente'''. a problemática.
mas contando com a estrutura de renovaçã o sugerida pela Comissão, qual seja, superior; fortalecer a pesquisa científica e a pós-graduação; e ajustar o ensino
a de fürnr as diretrizes a serem executadas e a de estim ular outros órgãos em de graduação às necessidades presentes e futuras do pais. ·
sua execução, como o MEC, as universidades, as instituições e as equipes in - O léxico inerente ao relatório da comissão in clui palavras-chave como: de-
depen dentes. Como estratégias são sugeridas a auto-avaliação das institu ições mocratização, liberdade, a~tonomia, qualidade, desempenho, avaliação, gestão
de ensino superior; a avaliação governamental; a avaliação pela comunidade universitária, comunidade acadêmica, universidade de excelência, entre outras.
acadêm ica ou ligada à profissão; e as avaliações indepen dentes, feitas por Estas demonstram a função de categorias form ais de percepção e apreciação,
instituições autônomas em relação ao espaço governamental, à comunidade n a m edida em qu e são aplicadas aos mais diversos dados da educação superior
p rofission al e às universidades. e atuam na produção desse objeto sob a aparência de descrevê-lo.
E, por último, tem-se a questão do financiamento centrada na obtenção O processo de abertura política e democrática da sociedade vivido no país
de resultados e no desempenho, reladonan do-a à autonomia e à avaliação. A n ão permitiria a implantação de políticas de cima para baixo, sendo necessá-
responsabilidade do poder p úblico pela educação superior foi estabelecid a rio o uso de estratégias que pudessem implem entá-las com o aval de outras
como um princíp io da nova política. AoEstad o cabe financiar os setores mais esferas e que garantissem a realização de seu interesse. Segundo Bourdieu &
significativos da pesquisa e do ensino universitários, garantir a liberdade de Boltanski (1976, p. 145),
ensino e apoiar financeiramente as ink iatjvas educacionais de origem privada,
bem com o aprim orar a. q ualidade da ed ucação superior em tod os os seus [.. . ] à la façon çle la regle selon Weber, le plan n'agít que si l'intérêt à lui
aspectos e modalidades institucionais. Para atender a tal princípio, sugere-se obéir lemporte sur l'intérêt à lui désobeir. II doit son efficacité au fait qu'il
a utilização de recursos públicos par a fin anciamento de estabelecim entos est Je discours dans et par lequel la nouvelle classe dominante s'annonce
particulares, de reconhecida qualidade e d e interesse social; a expansão do à elle-même son intérêt, cet intérêt bien compris qui est la seulc loi d'une
sistema d e bolsas para o ensino privado; e o aumento do crédito educativo polítiquc ratíonelle.'•
para os estu dantes d a educação sup erior pública. Segundo o Relatório da Co-
missão, há n ecessidade d e reduzir custos por aluno e tal redução com eça pelo Dessa forma a comissão n ão propõe u ma nova lei da reforma,
quadro de professores.- nem todos precisam de tempo integral, só aqueles
que trabalham efetivam ente com pesquisa -. passando pela in fra -estrutura hcou claro, desde o in ício, que não existem fórmulas salvadoras; por isto,
de serviços, ambos os fatores a serem analisados para se estabelecer critérios não faria sentido propor uma nova lei da refo rma, que simplesmente subs-
para a dotação de recursos orçamentário,~. tituísse a de 1968. O importante é que se de::;cncadeie um processo de ampla
D e forma geral, a concepção da Co m issão pode ser entendida como a discussão e mobilização em torno dos grandes problemas do ensino supe-
abertura do sistema q ue, com a d iversifi cação dos modelos institucionais e a rior, do qual resulte uma nova política que possa ser conduzida com amplo
autonom ia das instituições, interna e externamente, possibilitaria a saída do apoio da comunidade universitária e do resto do país (MEC, 1985, p. 5) .
jugo governamental e a liberdade de ação, visto que quanto m ais diversifi cado
o sistem a, m ais difícil a tarefa d e centralizar parâmetros un ificadores. Daí Uma das m an eiras de esse discurso tornar -se eficiente seria o uso d a
o papel d o Estado q uanto ao controle, por inte rmédio da avaliação, e ao cooptação daqueles que estivessem envolvidos n a universidade ou q ue dela
fin an ciamento da educação superior. Porém, a rigidez nessas duas funções .
~
participassem - pesquisadores, professores, en tidades, comunidade. Por isso
. i
é atenu ada, considerando-se que a avaliação poderia ser desempenhada por a decisão de n ão se propor uma reforma do sistema - o que geraria polêmicas
várias instituições, n ão s.omen te pelo governo, e seu financiam ento ocorreria imensas, capazes de inviabilizar o mínimo de mudanças-, mas realizá-la por
de for ma indireta às instituições particulares, ao aluno, o que enfraqueceria a ~ .. intermédio de algumas estratégias. A primeira, elaborando políticas e implan-
,.. .
ingerência do Estado na instituição. No caso do ensino público, a autonomia ~
.~
tando-as. por m ediação d a S1::su - é unânime o uso dos decretos-lei na década
finan ceira das universidades tamb~m propiciaria essa flexibilização nas ações ' .. de i990 em relação às políticas d e educação su perior. Em seguida, mobilizando
~:
desenvolvidas. ;· .
As propostas para a n ova u n iversida de, também sugeridas pela Comis-
são, enquadram-se nos seguintes eixos: reformular o .Conselho f ederal d e
.i ·.·..:{?.: 24 "da mes ma forma que a regra para Weber, o plano [projeto, lei} somente produz eft:ito se o
Educação; consolidar a autonomia e a dem ocracia interna das universidades; ·
alterar os mecanismos de fin anciamento; democratizar o acesso à educação·
li interesse a lhe ob edecer suplanta o in teresse a lhe desobedecer, uma vez que sua eficácia reside
no fato de que é o discurso no e pelo qual a "º"" classe dominante anu ncia para ela mes ma seu
interesse, interesse esse que é a única lei de uma política racional" (t rad ução da autora).
a "comunidade acadêmica': Como muitos pesquisadores possuem redes de
relações com o governo ou assumem cargos no governo federal, uma estratégia
rr
'
deste para reforçar sua posição no cenário nacional. Com trajt:tória exemplar no
campo científico das Ciências Sociais, desde cedo se envolveu em pesquisas refe-
eficaz seria colocar uma concepção de sistema de educação superior como rentes ao desenvolvimento econômico brasileiTO e latino-americano, às políticas
parte da agenda acadêmica, ou melhor, tornando essa agenda decididamente governamentais e à ciência no Brasil: Se:1 livro sobre.ª for~ação .~ª c~muni.da~e
política em vontade acadêmica. Para tal, um trabalho de uso social do aparato científica nesse país tornou-se referencia para a soc1olog1a da c1encia bras1le1ra.
acadêmico precisou ser mobilizado, por meio da utilização dos argumentos Sua trajetória também foí balizada por uma forte circulação internacional,"6
acadêmicos, do tempo, dos debates com os pares e das pesquisas aplicadas, começando com a América Latina e fortalecendo-se em instituições acadêmicas
para tornar uma idéia-força em realidade inelutável. Essa estratégia relacio- dos Estados Unidos e da Inglaterra.
na-se com o perfil da elite dominante no período, qual seja, a de intelectuais No Brasil, Simon Schwartzman atuou em díversas in stituições universitá-
atuantes e saídos do universo acadêmico. rias, àssumindo, também, postos estratégicos no Estado, nos quais se destaca
sua participação na FINEP, que desempenhou o papel do MCT criado so-
Ü ALTO CLERO E A ELABORAÇAO DA A.GENDA -A DIRF.TRJZ mente em 1985, a partir do final dos anos 1960 e durante a década seguinte.
A FINEP é um órgão de suma importância para o financiamento da ciência e
Os elementos expostos anteriormente permitem compreender os fatores da tecnología no Brasil, tendo sido responsável pelo provim ento dos recursos
externos ao ambiente acadêmico que influenciaram a produção da agenda para a implantação do sistema de pós-gradu ação e para a expansão e conso-
acadêmica em educação superior. A agenda foi gerada no espaço des enjeux lidação do sistema.de ciência e tecnologia no país. A partir da última década
politiques e por ágentes determinados, sendo transposta por estes ao universo de i990 intensificou-se o financiamento da tecnologia e da inovação em
específico da educação superior. Tais agentes têm como padrão o pertenci- parcerias com o sistema produtivo. Outra atuação importante do pesquisador
mento ao alto clero, o qual exprime a composição do poder por uma elite, foi no IBGE, instituição responsável pela produção de estatísticas sobre a si-
cuja distinção se dá pelo uso de propriedades acumuladas de vários tipos, tuação social brasileir a, que vai adquirir importância crucial para a realização
constituintes de um novo modo de dominação. Essas propriedades diversas da filosofia social domin ante, haja vista o uso da previsão estatística para a
são, sobretudo, objetivadas na detenção de um capital cultural de espécie conformação de um tipo de sociedade ao qual se almeja implantar e tornar
particular, ou seja, aquele produzido no espaço acadêmico, em um dado "naturalizada': Bourdieu & Boltanski (1976, p. 148) assim se referem ao fatalis-
período de sua história, na vanguarda de seu desenvolvimento. Mas, também, mo do provável, que é o princípio dos usos ideológicos da estatística, tendo
pelo capital social que é pertinente.à rede de relações estabelecidas durante a por efeito fazer esquecer que o conhecimento do mais provável é também o
trajetória de formação acadêmica e profissional, principalmente marcada por que torna possível, em função de uma outra intenção política, a realização
um tipo de drculação internacional. do men os possível: a ciência das tendências estruturais. Esta vai comandar o
Os integrantes do Nui>Es, principalmente Simon Schwartzman e Eunice sucesso das ações políticas, na medida em que possa dirigir os possíveis. O
Durham, exemplificam o uso dessas du as diferentes espécies de capital no uso ideológico da estatística assume a função de dotar os homens políticos
trabalho de imposição, tanto da agenda política como da acadêmica no do conhecimento da estrutura, porém esse conhecimento não muda as ações
espaço de produção ein educação superior. Ao mesmo tempo, são vistos
como produtores de um discurso dominante sobre o mundo social, ao lado 26 ~ essa circulação que permite a sua posição acadêmica também nos Estados Unidos e o
de outros membros do alto clero. diálogo com os pares pertencentes àquele un iverso. Dessa forma, é interessante destacar como
Em relação à educação superior, o pesquisador Simon Schwartzman esse. pesquisador é visto em tal ambiente. A lílulo de exemplo, trm debate snbrc a questão cul-
configura um caso típico do expert na área,25 representando a visão brasileira turál entre Simon Schwartzman e Richard Morse, no q ual este vai assim se referir às posições
de Simon: "os seus heróis aparentemente são na maioria cientistas dedicados (sociais ou não),
da:educação superior no espaço da expertise internacional e utilizando-se com Ph.D.'s de respeitáveis universidades ocidentais. [ ... ] Sua profissão de fé exprime a con-
. fiança na capacidade técnica e cíentífica dos sistemas educacionais e na produção em massa de
25 Ultimamente atua como consultor internacional nas áreas educacional e social e é dircto r- Ph.D.'s para aliviar a doença, a fome e a catáslrofe ambiental. [ ... ] Sua posição pessoal parece
presidence do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETs), instituição privada e .sem enyolver a atração por uma tecnoburocracia modernizante que recusa o rótulo de corporati.vís-
fins lucrativos que desen'loive diagn ósticos e a\•allações na áre-.r <le desenvolvimento social vol- ta, m as que, apesar de uma vaga simpalia pela democracia, ainda não está disposta a solicitar
tados para a formulação de políticas públicas. Posição semelhante a do eronomista Cláudio de o contato direto com as massas. Abrir espaços para o povo a esta altma seria. segundo ~le
Moura .Castro, cujas ações se direciõnam para a educa.ção em todos os n íveis e para questões pres~ente, fechar as portas para a democracia, corn o abandono do dcsc1wolv1mento· m· d ustrial
de· formação para o trabalho. · e a inibição da pesquisa em ciências sociais" (J\·foRsn, 1989, pp. 168-173).
J.o
políticas. Isso p o rque os h omens políticos não querem nada mais do que já """' sua notoriedade dentf fica no universo nacional, aliando trnnfos em relação aos
está implicado na estrutura, visto que o provável n ão aumenta as chances ~ . outros agentes, até do mesmo grupo. Estes elementos reforçam a sua posição
do possível. A utilização das estatísticas sobre a situação social brasileira l · distinta, chegando a p ossuir uma p osição profissional nos Estados Unidos e a
também se dará no m ercado internacional, con firmando tendên cias feitas ~ participar d e espaços transnacion ais de pro dução de conhecimentos técnicos
em outros espaços de dominação sim bólica ou aju dando em sua elaboração. .r sobre a educação superior.
As estatísticas cm relação à educação também são reforçadas, dai a própria , A p osição de Eun ice Durham, diferen tem ente da posição do agente anterior,
reformulação do lNEP para atin gir ta is objetivos. ( está vin culada às estratégias nacionais de imposição de um a diretriz única de
Schwartzm an tam bém tem imp ortância est ratégica na composição e na i enten dimento da educação s up erior brasileira. Com menor circulação no pla -
força que o Núcleo de Pesquisa ass ume, visto que escap a do estereótipo da l 00 internacional, particip ou diretamente de altos postos do governo federal,
dominação representada pela usp•; - apesar de nela ter atuado - e por seus t como secretária nacional de educação superior, secretária nacional de politi-
quadros, p ois de vem de Minas Gerais e tem posição acadêmica assentada n o cas públicas e presidente da CAPES. Sua t rajet ória acadêmica é demarcada pela
Rio de Janeiro, ao mes mo tempo em que possui um capital internacional de realização dos estudos em Antropologia na USP, onde se encontrou com Ruth
competências e de relações capaz de ser mobilizado no esp aço de poder bra- 1 . Cardoso, sua orientada de doutorado. Tendo como interlocutores legítimos
sileiro. Seus estudos em relação à educação superior não dispensam análises José Goldemberg, Ruth Cardoso e José Arthur Giannotti, a pesquisadora
que clamam o rigor acadêmico e o poder de argumentação científica, todavia f entrou em conflitos com o movim ento sindical da USP. Desde então, envolveu-
estas análises assumem um papel de convencimento dos pares para a causa d a se com os estudos da universidade brasileira, passando a porta-voz do grupo
qual ele é um dos porta-vozes. Dessa forma, ele dissimula o papel de delegado político dominante, para as reformulações do sistema de educação superior,
de um grupo, impondo o esquecimento ou a ignorância do comando por ele · nos anos t990. Inclusive, assu m iu maior visibilidade no espaço acadêmico
exercid o. A função de porta-voz é que lhe permite, entre outros, afirmar que nacional da temátka, apesar de apresentar produção acadêmica menor em
há "um a revolução silen ciosa não somente na educação m as em várias áreas, comparação à de Simon Schwa rtzm a n. Participou mais diretamente da
que, em conjunto, p oderão dar ao país uma nova e significativa inserção no . própria ANPOCS, de seminários e congressos nacionais na área acadêmica,
m u ndo contemporâneo. Na educação superior é preciso olhar o que está paralelamente aos encontros patrocin ados pelas associações de educação
ocorrendo com mais profundidade, p rocurar identificar os sinais positivos superior privadas e por empresas d e consultoria educacional, no âmbito d as
d e m u dança e t rab alhar a p artir deles para torná-los m ais reais e efetivos" disputas emin entemente p olíticas em relação à questão da educação superior.
(SCHWA R.TZMAN, 2000, p. 18), isso q uando se refere às tran sformações im - Esses elemen tos reforçam a anál.ise d a construção de um novo espaço
plantadas p elo govern ~ que ajudou a compor. de poder, em que experts em governab ilid ad e, pertencentes a um m ercad o
Ao analisar a construção de um m ercado p ara os produtores de saberes de internacional, imprim em d iretrizes p olit icas n o âm bito Jocal, atuand o ao
Estad o - aqueles relativos à regulação e à governan ça-e de um m er cado de lado e com o técnico-políticos, provenientes do universo acadêmico e cien -
importação- exp ortação simbólica desses saberes, Dezalay (200 4 ) assevera que tífico nacional. O capital acadêmico adquire um papel central n essa batalha,
os experts ou consu ltores internacionais são o produto de toda uma h istória de servindo de caução e de legitimid ade p ara as ações políticas práticas, bem
comp etição in ternacional dos saberes de Estado, sendo aqueles os herdeiros como o capilal social acu mulado durante a t rajetória de formação acadêmica
d iretos ou, m ais precisamente, os sucessores e concorrentes dos juristas e d os e profissional dos agentes e pela circulação d estes n o mercado internacional.
missionários que serviam de intermediários ao poder colonial. Dessa maneira, Na busca de legitimidade p elo Estado, as estratégias dos agentes dire-
Simon Schwartzm an apresenta o perfil adequado ao mercado d a expertise in- . cionam-se para a inserção em um mercado internacional de conhecimento
ternacional, desde sua fo rmação acadêmica, na área de administração pública técnico, dominado pelos Estad os Unidos e suas instituições legitimadoras
e política, passando p elo acúmulo de competências acadêmicas e língüíslicas, (DEZALAY & GARTII, 2000, p. i64). O un iverso dos produtores em educação
dadas pela precocidade de sua trajetória no âmbito internacional e, ainda, por superior reforça essa análise, como é possível observar no Quadro 2 a seguir.
17 A ü SP, com urnen tc tomada como respon sável pela formação das elites dirigente.ç do país,
deve ter seu papel relativi7.ado, haja vista que .só assume função de d istinção p ara alguns atores,
_j ustamente aqueles com circulação em outros espaços sociais capazes <le reforçar seu peso
distinti vo.
Quadro 2 Circulação i12ternacional dos pesquisadores.
P•~•lrisa4or/çirculafão Estados Unídu - -- i- - - --f>n-M
- pa_ls_es_· - - · - lítica da agenda, esta acabou sendo utilizada como agenda acadêmica única,
com a produção dirigida para corroborá-la. Isso reforça o trabalho simbólico
SctrNartz:mn F.ccte Pr?.licp.1e oo Ha~les f:ioo.:s; Sll-edist1
Colleii!u'll; S:. A~lhimy's/lhl<ir·~ de reconhecimento do objeto acadêmico pelos pares, o que propici ou a legiti-
Dur:iam mação da concepção por ela determinada.
Illinois; i'ri11c3•.:r·: SL'.iroford: WootlrowWilsui: U~;vf.rSi~3de de Paris: lo:crto
Nas alianças feitas pelo grupo representado pelo NUPF.S podem ser identi-
.O;::risXI ficados muitos dos participantes do próprio Grupo de Trabalho da ANPOCS,
coroo é o caso de Clarissa Baeta Nevcszt1 e o próprio grupo de pesquisa da
UnB, o NESUD, do qual participa, sobretudo, o pesquisador Carlos Benedito
O ~rupo dominante do espaço de produção acadêrnica em educação Martins. que desenvolveu muitas p esquisas de caráter aplicado na área da
sup~:ior monta t.1m aparato acadêmico para realizar estudos e pesquisas da si- educação superior e, principalmente, em relação à pós-graduação no Brasil.
tuaçao ge~al do sistema de educação superior e de sua avaliação, analisando-o Esses pesquisadores passam a legitimar a agenda do NUP ES ao utilizar a
tant,o. nacio~almente quanto em estudos comparativos com a situação da mesma agenda acadêmica que imporia uma concepção do sistema de Ensino
Amenca Latma. Em seguida, a pós-graduação, sendo um sistema autônomo superior e gue auxiliaria na implantação de politícas públicas para o setor,
em relação à edu~ção superior, e a profissão acadêmica também vão compor apesar de haver, entre seus membros, divergências quanto a posições político-
a ,agenda d: pesqu1sa.s do grup~. A ên fase i:ecai na produção de dados, ou seja, ideológicas em relação ao sistema de educação superior e a relação deste com
na ~roduçao da realidade conforme os interesses da visão de mundo social o Estado.
foqada. pelos agen:e~. Essa estr~tégia acadêmica é imbuída de uma lógica
e~pre~sa~nente ~oht1:a, qual seJa, a da realização de uma ampla avaliação APOSIÇAO CONTRA -HEGEMÔNICA f\ O ESPAÇO ACADÊMICO
diagnos~1ca da s1tuaçao da educação superior (e depois do sistema de pós-
graduaçao) para .posterior e concomitante i:eforma do sistema. O próprio Um grupo que poderia se contrapor ao dominante, em função das proprie-
Schwartzman assim se refere quanto a essa situação: . dades de alguns de seus agentes, em relação ao capital cultural, apresentarem
elementos semelhantes - falam de um 111 esmo patamar-, aparece na segunda
O Brasil já passou do t~mpo das reformas educacionais de primeira geração, metade da última d écada de 1990, tendo como protagonista um cientista
e~n que tudo se resum.1a a tratar de conseguir "mais" de tudo_ escolas, pré- politico e outros pesquisadores de disciplinas diversas, todos com forte par-
d10s, professores, eqmpamenlos e, sobretudo, dinheiro. Estamos vivendo ticipação em esferas universitárias locais. O CIPEDES constitui-se como um
os pro~le~1as de segunda geração, que requerem uma avaliação cuidadosa centro interdisciplinar e virtual, com sede no Instituto Latino-americano de
das pnondades dos investimentos que já existem; e estamos iniciando a Estudos Avançados, na UFRGS. Seus membros mais destacados são Hélgio
~~pa mais ~ecisiva e fundamenta l, as reformas de terceira geração, que Trindade (ex-reitor da UFRGS, atualm ente ex-presidente da Comissão
cxig~~- reexame p~ofundo dos pressupostos culturais, institucionais e pe- Nacional da Avaliação da Educação Superior e membro do CNE), José Dias
dagogicos que presidem o funcionamento de nossas instituições de ensino Sobrinho (ex-pró-reitor de Pós-Graduação da U:-rICA MP, ex-presidente da
(SCHWARTZMAN apud GJAMllJAGI, 2004, p. 214). Comissão Especial de Avaliação da SEsu que elaborou o SINAES, atualmente
presidente da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior e editor
Essa mesma agenda pode ser identificada como - d da Revista Avaliação), Dilvo Ristotf (atual diretor de estatística e avaliação da
- d · compon o as preocu-
paçoes o GT Educação e Sociedade d a ANPocs p · ·· 1 · educação superior do INEP) e Maria Beatriz Luce (atual m embro do CNE).
d ti l d • , , nnc1pa mente a partir
1
o ~~ . os ª.nos ~80, e tra~s.corren.do todos os anos seguintes corno pro- Esse grupo atuou com uma outra diretriz política, em relação ao anterior,
blematIC,\ obngatóna. A tematica mais discuti.da 11 G'f t: · d · d tendo seu cume com a eleição do atual governo petísta (Partido dos Traba-
_ . . . · ' .o tO • a o sistema e
educaçao supenor, mcJumdo análises globais do sisten1a q ·t lhadores), com alguns de seus membros assumindo postos no governo federal,
. - ·d · - ' , ue perm1 em sua
avaliaçao,
. a 1 . entificaçao
. . de. seus_problemas ' e partie-ui·an·d a d es e as pesquisas
· atnando na elaboração de um sistema de aval iaçào da educação superior e na
que comprovam sua d1vers1ficaçao com a coexistência da.s · ·d d , comissão para a reforma universitária.
. .
bl 1cas, · d • ' · · umvers1 a es pu-
M pnva as e de .outros generos_ organizacion
· ais
, de ·nst't · - ·
1 1 u içoes supenores.
1 esmo com pesquisadores que nao aderiram completamente à diretriz po-
28 A t rajetória sucinta dos pesquisadores que cmnpõem o espaço académico da temática
encontra-se flO Apêndice 2 .
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