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A Ética do Interesse e as duas dimensões da Ética

Compreender como funciona a Ética do interesse no contexto do mundo contemporâneo.

Comentários iniciais da aula

Na aula anterior estudamos conceito de ética e verificamos que ter uma postura ética é antes
de tudo termos uma ação reflexiva frente os valores postos em nossa sociedade e tomarmos
nossas decisões de forma consciente.

Entender a ética é de extrema importância para quem se propõe ser professor, pois no
exercício da docência nos deparamos com diferentes conflitos éticos e é preciso termos uma
postura reflexiva e crítica (ética) na tomada de decisões que permeiam o cotidiano escolar. Por
isso, iremos durante esse tópico refletir sobre a Ética.

Esclarecimentos iniciais

A humanidade vive, atualmente, um momento histórico marcado por grandes mudanças,


provenientes sobretudo do desenvolvimento tecnológico e da estruturação da sociedade do
conhecimento e da comunicação. A palavra chave desse milênio é mudança.

Temos que ter consciência que todas as mudanças ocasionadas pela evolução do sistema
capitalista marcaram significativamente a forma do homem ser e pensar, nas diferentes
esferas da existência humana a mudança se faz presente.

O mundo capitalista nasceu sobre a bandeira do “ter”, do individualismo e da busca frenética


de prazeres momentâneos. O século XXI, momento em que o capitalismo, em sua versão
neoliberal, insere-se em praticamente todo o mundo é marcado por crises de todos os tipos,
mas particularmente, moral e ética.

Vivemos em um momento histórico que a ética posta pelo mundo capitalista passou a ser
questionada, uma vez que o homem não encontrou no “ter” e na ciência as respostas de seus
anseios e sua felicidade.

Iremos neste tópico verificar em que se estrutura a ética capitalista, chamada aqui, por ética
do interesse e analisar as duas dimensões da ética presente no mundo contemporâneo.

A ética do interesse

Pensar na ética do interesse é na verdade pensar na visão de homem e de mundo que


estruturou-se a partir do advento do capitalismo. Que trouxe como marca uma nova lógica,
uma nova fé, a fé na técnica e no conhecimento cientifico.

Caporali (2001) nos explica:

Está lógica pode ser assim resumida: a) O mundo moderno surgiu com o capitalismo; b) o
mundo capitalista foi, desde sempre, o mundo da riqueza, quando as pessoas começaram a
colocar o essencial de sua energia na busca de enriquecimento; c) o mundo da riqueza foi se
tornando, cada vez mais definidamente, o mundo do dinheiro e d) dinheiro é algo que se
consegue pela busca sistemática, competente e obsessiva do auto-interesse. O exercício do
interesse é, portanto, perfeitamente legítimo. No limite da tese alguém diria: o interesse é um
valor moral.

(CAPORAL (2001,P.71))

Podemos dizer que a ética do interesse se estrutura totalmente na cultura capitalista e se


legitima nela. O homem moderno irá se lançar em uma busca incessante pelo ter e toda sua
percepção de mundo estará voltada e organizada para busca de seus interesses pessoais,
independente, do que esses interesses possam ocasionar para o outro.

Caporali(2001) enfatiza que foi-se estruturando o mundo das coisas, onde os valores da
amizade, do respeito ao próximo foi deixando de existir e se estruturando uma cultura de
“coisificação” onde tudo se torna objeto de consumo.

O interesse é a ação orientada para a meta de atingir objetivos de riqueza, de poder, de


conforto – enfim aquilo que o homem pretender para si. O interesse legitima o homem que diz
“eu quero”, “eu posso”, “eu farei”, “ eu exijo”. Meu desejo, meu querer, minha capacidade de
poder, minha decisão de fazer. Se sou homem posso, por todos os meios lícitos, trabalhar para
obter aquilo que desejo.

(CAPORALI (2001,p.73))

A ética do interesse conforme podemos observar na citação acima cria um homem


preocupado com o “eu”, um homem em que o ego toma lugar de destaca em sua vida. Um
homem egoísta que utilizara todos os meios que tiver para alcançar seus
objetivos,independemente do significado disto. Um homem que se lança ao mundo das
paixões, guiado por seus interesses pessoais, ao buscar criar mais e mais meios de intervenção
no mundo para atingir esses interesses.

A ética do interesse desconhece a solidariedade, ela busca somente a supremacia do desejo


pessoal e é condicionada a lógica do mercado, onde tudo se torna objeto. (inclusive gente)

Essa ética é na verdade a ética do mundo capitalista é a legitimação do interesse material e


tudo aquilo que o acompanha, geralmente a busca do poder e o desfrute da luxúria – foi uma
transformação cultural extraordinariamente significativa. Porém, as transformações
proporcionadas pelo avanço tecnológica e pelo crescimento da sociedade do conhecimente,
foi acompanhada pela implantação de uma cultura qeu supervaloriza o ter em contraposição
ao ser, cultura essa que não vem sendo capaz de dar ao Homem as respostas aos seus anseios
e que o faz questionar o seu papel no mundo.

As duas dimensões da ética

A ética tem duas dimensões importantes de serem entendidas. A primeira diz respeito ao
domínio individual, e se relaciona a construção dos fundamentos do caráter moral do ser
humano. Essa dimensão está diretamente relacionada com as virtudes humanas.

A segunda dimensão é a de domínio publico da ética, sua dimensão social, politica e


econômica. Essa dimensão está intimamente ligada aos problemas relativos à cidadania, da
ação humana no espaço social.
Referências

ARRUDA, Maria Cecilia Coutinho de, e outros. Fundamentos de ética empresarial e


econômica. São Paulo: Atlas, 2001.

______, Código de ética. São Paulo : Negócio Editora, 2002.

BOFF, Leonardo. Ética da Vida. Brasília: Letraviva, 1999.

CAPORALI, Renato. Educação &Ética. Rio de Janeiro: Gyphus.2001.

COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006.

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