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All content following this page was uploaded by Fábio Augusto Rodrigues Silva on 18 July 2016.
CIÊNCIA E
RELIGIÃO
UMA GUERRA DESNECESSÁRIA
Construções humanas distintas, a ciência e a religião são tidas por muitos como
incompatíveis. As relações entre elas têm sido conflituosas,
tanto no passado quanto nos últimos tempos, mas alguns estudiosos
FOTO DAN DOUCETTE / ALL CANADAS PHOTOS / GLOW IMAGES
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Visão essencialista A tese do conflito é bastante a ser realizadas. No entanto, essas tentativas sempre
divulgada atualmente e entre seus líderes está Richard mostram seus limites.
Dawkins. No livro Deus, um delírio, ele argumenta contra Quanto à caracterização da ciência, um primeiro pro-
os fundamentos das religiões e alega que a existência de blema diz respeito também à diversidade do que pode
Deus é cientificamente improvável e que as religiões são ser denominado como tal. Sob esse rótulo há uma varie-
prejudiciais (ver ‘Formando ateus’, em CH 247). Assim, dade imensa de práticas de conhecimento. Em uma pri-
Dawkins claramente organiza uma militância, convo- meira aproximação, pode-se pensar em ciências naturais
cando as pessoas a se libertarem do “vício da religião”. e humanas. Porém, com essa divisão estamos ainda mui-
Sua postura dá a impressão de que ciência e religião es- to longe de avaliar a diversidade que ali se esconde.
tão em guerra e de que devemos escolher um dos lados. O que se chama ‘ciências naturais’ é composto por
Embora possa parecer atraente do ponto de vista da um conjunto enorme de disciplinas e subdisciplinas.
ciência ou mesmo do ponto de vista da religião, essa pos- Além disso, essa aproximação enganosa faz com que
tura carrega sérios problemas. O principal é que está muitos acreditem em uma unidade da ciência e que to-
fundamentada em uma visão essencialista tanto da ciên- dos os seus campos são regidos por um método único que
cia quanto da religião, ou seja, ela parte da postura de garante o bom conhecimento científico. Isso não é ver-
que haveria um conjunto de características essenciais dade. O método experimental, por exemplo, embora am-
definidoras da ciência e da religião, a partir das quais plamente divulgado como marca da ciência, não é carac-
seria possível argumentar sobre a resolução do conflito. terístico de todas as áreas das ciências naturais. Nem
No caso de Dawkins, ou se aceitam as luzes da razão toda hipótese científica pode ser testada em laboratório.
científica ou se torna adepto das trevas da ignorância Hipóteses históricas, que postulam causas passadas para
religiosa. Essa postura tem implicações sérias, pois favo- fenômenos observados atualmente, fornecem um bom
rece a negação de conhecimentos produzidos por outras contraexemplo à ideia de um método universal. Atrelar
tradições, engendrando um comportamento fundamen- ciências naturais e método experimental é suprimir das
talista e de alienação que pouco contribui para a forma- ciências tradições como biologia evolutiva, paleontologia,
ção de cidadãos de um mundo plural. astronomia e astrofísica e, juntamente, lançar fora teorias
O principal problema que surge quando as relações robustas, como as teorias do Big Bang, da deriva conti-
entre ciência e religião são colocadas no viés essencialis- nental e da evolução.
ta é o pressuposto de que haveria homogeneidade dentro Outra dificuldade relacionada à caracterização da
dessas duas tradições e de que seria possível estabelecer ciência diz respeito ao chamado ‘problema da demarca-
características nítidas a separá-las. O problema não pode ção’, ou seja, a tentativa de definir ciência e separá-la de
ser colocado de modo tão simples. Há enorme diversida- outras formas de conhecimento. A busca por definir