A história da civilização humana é permeada de perseguições
de cunho religioso, com suas máximas expressões de intolerância em nome de Deus, Alá, Jesus, Maomé etc. Inveja, ódio, mortes, crimes, injúrias, calúnias, perseguições, prisões, torturas são algumas das contraditórias palavras utilizadas no lugar de tolerância, amor, respeito e construção mútua da civilidade humana.
Nada fácil é compreender religiões de amor com tamanhas
expressões de ódio, com a condição humana se sobrepondo à espiritualidade, somando fé ao fanatismo, resultando em tragédias desde o início da humanidade. Perseguidos de ontem se tornam os perseguidores de hoje, extremistas utilizam-se de subterfúgios para práticas criminosas em nome de sua religião ou ideologia. Cristãos perseguidos pelos romanos se tornaram inquisidores na idade Média, cometendo crimes atrozes, comunistas discriminados cometem genocídios para extirpar o cristianismo do planeta. Muçulmanos perseguidos, hoje matam multidões em seus ataques terroristas.
Das cruzadas aos conflitos muçulmanos no Oriente Médio e
África, a violência é constante no encontro entre religiões, nestes muitos séculos de perseguições e intolerância manchando as páginas da história. Na macabra relação religião e violência, conflitos contemporâneos resultam de confrontos indevidos, causas complexas, jogos geopolíticos estratégicos, disputas pelo poder utilizando religiões para atingirem seus fins, disputas econômicas, sociopolíticas, raciais e culturais opostas e outras atrocidades num caldo macabro de intolerância.
As perseguições religiosas impressionam por sua face
sombria de fanatismo e fundamentalismo. A fé mantém grupos separados, alienados em campos hostis, num “tribalismo religioso”, num palco preparado para banhos de sangue e feridas históricas. As diferentes religiões determinam separação, conflitos, falta de olhar crítico, fanatismo, crimes religiosos. Este lado sombrio “fundamentalista” sempre atuante entre cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, ou quaisquer religiões, quando têm oportunidade, se aproveitaram para se livrarem de seus inimigos ou apenas daqueles que professam uma fé diferente dos seus “fundamentos”.
Religião tem sido causa da maioria das guerras na história, com
significativa dimensão étnica, racial ou religiosa, além daquele horror não religioso presente no mundo. Para Pascal: “Os homens nunca praticam o mal de modo tão completo e animado como quando o fazem a partir de convicção religiosa.” Sim, há um visível padrão sinistro na história, pois quando a religião é a força governante de uma sociedade, ela produz horror (HAUGHT, 2003).
Quanto mais fortes as crenças sobrenaturais, pior a
desumanidade. Culturas dominados por sua fé intensa (fanatismo), invariavelmente é cruel com as pessoas que não compartilham dessa mesma fé e até mesmo com seus correligionários. Ignorância ou falta de senso crítico é o maior combustível para fanatismo e fundamentalismo religioso que geram perseguições religiosas.
Nas antigas religiões alguns deuses perseguiram outros deuses
mitológicos: para antigos gregos, a deusa Hera perseguira as amantes de Zeus; para os egípcios, Seth atormentara o deus Osíris; para os babilônios, Marduk perseguira e vencera os deuses rebeldes. E, na vida real, milhões de pessoas sofreram perseguições religiosas ao longo da história, com líderes agindo cruelmente como se fossem deuses superpoderosos e donos da verdade.
Perseguir é atormentar, julgar, punir e castigar pessoas por
motivos religiosos. Os hebreus (israelitas ou judeus) perseguiram antigos moradores da terra que conquistaram, Canaã. Arrasaram suas terras, famílias, animais e seus lugares de cultos, num estranho ensino do Antigo Testamento para perseguir outras religiões. Internamente, os judeus perseguiram seus próprios profetas que os criticavam e os mataram, culminando com Cristo e sua crucificação. A Igreja cristã que nasceu no século I foi perseguida cruelmente por judeus e romanos. No século 3, Maniqueu foi perseguido pelos sacerdotes de Zoroastro (ou Zaratrusta) na Pérsia. No século 4, apesar de o imperador Constantino conceder liberdade aos cristãos e demais religiões (313 d.C. - Edito de Milão), as perseguições continuaram.
No mesmo século 4, o imperador Constâcio II, perseguiu
católicos e protegeu os arianos. Até o século 4, os cristãos eram perseguidos e não perseguiam seus muitos perseguidores. Porém, a partir de 380 d.C., o imperador Teodósio I tornou o cristianismo a religião oficial do Império e a impôs à força em todos os seus territórios, com cruel intolerância aos “hereges”. A religião cristã passou de perseguida a perseguidora de outras crenças e de outros cristãos também, a exemplo do que fizeram com os arianos, donatistas (no século 4), cristãos albigenses (século 13) e com a oficialização da Inquisição, em 1231, que perseguiu muçulmanos, judeus e católicos que pensavam diferentemente de Roma, bruxas, filósofos e cientistas, além de protestantes (século 16 em diante).
Com a conquista das Américas, católicos e protestantes
disputaram ferozmente as religiões ameríndias. Após a Reforma Protestante magisterial, surgiram os reformadores mais radicais (anabatistas) que destruíam igrejas católicas e imagens, e findaram perseguidos tanto por católicos como por outros protestantes mais tradicionais, na Suíça, Bélgica, Holanda, Itália, Espanha, Alemanha, França e Inglaterra, tendo que fugirem para as Américas, aos milhares. Na Inglaterra, a rainha Maria Tudor (Blood Mary, sanguinária) massacrou os protestantes (de 1553 a 1558). Mais tarde, com a rainha Elisabete I, os anglicanos se tornaram inimigos do catolicismo e até dos calvinistas puritanos, perseguindo-os.
Esses exemplos históricos não ensinaram muito, pois ainda no
século 21 continuam as perseguições religiosas, em vários continentes, cometendo genocídios. Sempre há pessoas movidas por seu fanatismo e fundamentalismo que defendem a sua religião como a única, a oficial, e perseguem as demais.