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Difusão e triunfo do cristianismo alguns romanos o sentimento de que os cristãos

eram inimigos da ordem social, pois repudiavam


À medida que lentamente o império
os deuses do Estado, não participavam das festas
romano se deteriorava, nele crescia uma nova
pagãs, desprezavam as competições de
religião de origem oriental: o cristianismo.
gladiadores, não frequentavam os banhos
Declinava com o império o modelo religioso
públicos, pregavam o pacifismo, recusavam-se a
helênico até então predominante entre os
considerar deuses os imperadores mortos e
romanos, ao passo que o cristianismo parecia dar
adoravam um homem que em vida defendera o
respostas mais efetivas aos anseios surgidos da
amor ao próximo e morrera crucificado. O
crise política, oferecendo aos romanos soluções
cristianismo, em resumo, estava criando um
confortadoras para os problemas da vida e da
problema político, e alguns imperadores passaram
morte, uma relação mais íntima com Deus e a
então a promover perseguições sistemáticas
esfera espiritual e a participação numa
contra os fiéis: cristãos eram detidos, espancados,
comunidade de fiéis em que uns se preocupavam
privados de alimento, queimados vivos,
com os outros. A nova religião, centrada no
estraçalhados por animais ferozes na arena,
exemplo de Jesus Cristo e em seu amor
decapitados, crucificados.
incondicional pela humanidade, atraiu, sobretudo
pobres, marginalizados e escravos. As perseguições se deram em dois
momentos. As primeiras, promovidas pelo
No entanto o êxito do cristianismo não se
imperador Nero no ano 64, foram locais, brandas
deveu apenas ao poder da palavra de Jesus, mas
e demasiado esporádicas. No ano 250, porém, o
também ao vigor de uma instituição: a Igreja. Aos
imperador Décio investiu brutalmente contra os
romanos das cidades, desiludidos com os
cristãos em quase todo o império. Seus
negócios públicos, a Igreja - do grego ecclesia,
sucessores, Galo e Valeriano, também
"comunidade de fiéis" -, permitia fazer parte de
promulgaram, entre 251 e 260, editos anti-
um grupo cujos membros se referiam uns aos
cristãos e executaram fiéis da nova crença.
outros como "irmãos" e "irmãs" e, assim,
satisfazia também à humana necessidade de Entre os anos 260 e 303, os cristãos
pertencimento. gozaram de relativa paz, mas logo em seguida o
imperador Diocleciano promoveu contra eles a
O governo de Roma a princípio foi
mais vigorosa perseguição que haviam enfrentado
tolerante com o cristianismo, na medida em que
até então. Apesar de todo o terror que espalharam
não interferiu significativamente no sentido de
pelo território romano, as perseguições não deram
frear a expansão da nova fé. Os missionários
conta de extirpar a nova religião; ao contrário,
cristãos puderam até aproveitar as condições
elas fortaleceram a determinação da maioria dos
criadas pelo império em suas andanças e
fiéis e geravam novos conversos, maravilhados
pregações: esses evangelistas – dentre eles alguns
com a coragem inabalável dos mártires cristãos.
dos 12 apóstolos, seguidores originais do Cristo –
viajavam por estradas e mares resguardados pelas FONTE: CAMPOS, Flávio de. CLARO, Regina.
armas romanas e pregavam em dialeto grego Oficina de História, Volume Único. Leya, 2012.
comum, o koiné, corrente em todo o território Pág. 129-130.
imperial. O universalismo do Império Romano,
forjado na concessão da cidadania a pessoas de
origens e religiões diferentes, preparou o terreno
para a ampla disseminação da religião cristã. Até
mesmo a divisão administrativa criada pelo
Império Romano foi aproveitada pela Igreja, que
se baseou nela para organizar seu clero. A
expansão do cristianismo, no entanto, começou a
preocupar as autoridades romanas, devido o
aumento considerável no número de fiéis da nova
religião. Estes passaram a ser vistos como
subversivos, por pregarem fidelidade a um único
Deus, e não ao imperador de Roma. Crescia entre

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