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EVOLUÇÃO BIOLÓGICA
Rodrigo de Mello
Evolução Biológica 95
IMPORTANTE : Lista de abreviações do latim
i.e. - abreviação de ‘id est’, que é um termo latino que significa ‘isto é’ ou ‘em outras
palavras’. Exemplo: Os peixes da classe Osteichthyes, i.e., peixes que possuem es-
queleto formado de ossos, possuem nadadeiras do tipo raiada ou carnosa (lobada).
e.g. - abreviação para ‘exempli gratia’, que é uma frase latina que significa ‘por
exemplo’ ou ‘exemplo dado’. Exemplo: Muitos autores (e.g., Avise, 2009;
Ricklefs, 2011) concordam que técnicas de biologia molecular devem ser apli-
cadas em estudos evolutivos e ecológicos.
et al. - abreviação para ‘et alii’, frase latina que significa ‘e outros’. Comumen-
te essa sigla é usada para substituir as palavras ‘e colaboradores’, quando
mais de duas pessoas são autoras de um artigo ou de um livro. Suponhamos
que citemos um livro, ou artigo científico, escrito em 2005 por três autores
de sobrenomes: Fulano, Ciclano e Beltrano. No corpo do texto, citamos ape-
nas como Fulano et al., (2005); os detalhes da obra citada serão apresenta-
dos apenas no final dos capítulos, nas Referências
Apresentação
Evolução Biológica 97
livro de ciência. Não podemos extrair dela postulados e hipóteses testáveis
que sirvam para embasar conceitos nos moldes científicos formais. Muitos
religiosos, de fato, entendem certas descrições da Bíblia como verdades
simbólicas, e não verdades literais ou científicas – como o mundo e toda
sua biodiversidade terem sido criados em apenas seis dias, com incoerên-
cias e lógicas antinaturais como, por exemplo, os vegetais (fotossintetizantes
obrigatórios) surgindo antes da luz do sol e tendo a Terra somente cerca de
6.000 anos de idade. Por outro lado, a explicação da diversidade das formas de
vida sob um prisma evolutivo baseia-se em robustas pesquisas, formalizadas e
comprovadas por avaliações científicas rigorosas desde que foi proposta.
Figura 1.
Assim, a postura adotada por nós, autores, é de respeito tanto pela re-
ligião quanto pela ciência. Acreditamos que a concepção evolutiva vem para
engrandecer nossa maneira de ver e entender a vida, e não para disputar prefe-
rências com doutrina alguma. Embora a controvérsia acerca da evolução das
espécies a partir de um ancestral em comum tenha sempre sido palco para am-
plas discussões - e por vezes ainda carrega um estigma de heresia, talvez pela
difusão equivocada de seus conceitos! -, esta nunca foi a intenção de Darwin.
Nos parágrafos finais de sua principal obra ele deixa claro que sua vontade era
partilhar com o mundo um novo vislumbre ao olharmos a natureza:
Evolução Biológica 99
volta de nós e em nós mesmos. Enquanto que o nosso planeta,
obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a girar na sua órbi-
ta, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas
de um começo tão simples, não têm cessado de se desenvolver e
ainda se desenvolvem” (DARWIN, 1859).
Saiba Mais
Figura 2. Retrato do jovem Darwin pintado por George Richmond em 1830 (es-
querda) e uma fotografia nos seus últimos anos de vida (direita). Fotografia de J.
Cameron. Imagens de domínio público.
Há um dito que diz que a sorte favorece mentes preparadas. Sem dúvida alguma
deve ser contado que o naturalista inglês Charles Darwin era uma pessoa
muito inteligente, mas quando ele divulgou a teoria da evolução ele já havia
estudado aquela questão há mais de duas décadas. Quando se conta a história
apenas salientando sua brilhante teoria sobre a origem das espécies, quais
Charles Robert Darwin (1809-1882) foi o quinto dos seis filhos do médico
Robert Darwin e sua esposa Susannah Darwin. Seu avô materno, o famoso
ceramista Josiah Wedgwood, era de uma proeminente e abastada família e
parte da elite intelectual da época. Seu avô paterno foi Erasmus Darwin que,
apesar de exercer a medicina e ter como hobby escrever poesia, também
possuía um espírito inventivo e investigativo. Para nosso interesse aqui des-
tacamos que uma obra de seu avó, DarwinZoonomia, de 1792, já abordava
aspectos acerca da evolução - a transmutação das espécies, como dito na
época - tendo antecipado os mecanismos de seleção, sendo grandemente
admirada mais tarde por seus netos, Charles Darwin e Francis Galton.
A mãe de Charles Darwin morreu quando ele tinha apenas oito anos. No ano
seguinte, em 1818, Darwin foi enviado para uma escola em Shrewsbury, no
interior da Inglaterra, onde se interessou em colecionar minerais e insetos.
Em 1825, depois de passar o verão como médico aprendiz ajudando seu pai
no tratamento dos pobres da cidade, Darwin foi estudar medicina na Univer-
sidade de Edimburgo. Contudo, sua aversão à brutalidade da cirurgia da época
(a anestesia não estava tão desenvolvida como hoje) levou-o a negligenciar os
seus estudos médicos. Entretanto, durante esse período na universidade, ele
aprendeu algo sobre a história natural dos organismos e se iniciou na taxider-
mia - a técnica de preservar animais como vemos nos museus.
Em 1827, seu pai, decepcionado com a falta de interesse de Darwin pela me-
dicina, matriculou-o em um curso de bacharelado em Artes na Universidade
de Cambridge para que ele se tornasse um membro da classe eclesiástica (i.e.,
arcebispos, padres, páracos, vigários). Em Cambridge, Darwin passava muito
do seu tempo coletando besouros com o seu primo William Darwin Fox, que
o apresentou ao reverendo John Stevens Henslow, professor de botânica e
especialista em besouros que, mais tarde, viria a se tornar o seu tutor. Da-
rwin ingressou, então, no curso de história natural de Henslow. Seguindo os
conselhos do reverendo, ele entrou em um curso de Geologia e viajou como
assistente no mapeamento estratigráfico no País de Gales. Só depois disso
Darwin foi recomendado a ser acompanhante de Robert FitzRoy, capitão do
barco inglês H.M.S. Beagle, que deveria mapear a costa da América do Sul. Isto
lhe deu a oportunidade de desenvolver sua carreira como naturalista.
Ao retornar de sua viagem com o Beagle, ele se dedicou a trabalhar com sua
coleção de pássaros das ilhas Galápagos, no Equador; ele se deu conta de que
devia ter registrado de qual ilha vinha cada espécime, pois variavam de ilha
para ilha. Ele havia inicialmente suposto que os tentilhões das Galápagos per-
tenciam todos a uma única espécie; depois, com a ajuda de um especialista em
aves (i.e., ornitólogo), ficou claro que cada ilha possuía a sua própria e distinta
espécie. A partir daí, imaginou que todos os tentilhões tinham evoluído de um
ancestral comum. É provável que essas observações de variação geográfica
tenham levado Darwin a aceitar, inicialmente, que as espécies podiam mudar.
Figura 3. A única figura de A Origem das Espécies (1859) que mostra a visão de Darwin para
os processos micro e macroevolutivos. O eixo y (vertical) representa o tempo e o eixo x (hori-
zontal), variáveis ecológicas. As letras A e L são espécies de gêneros hipotéticas, sendo que cada
número romano – I a XIV – nas linhas orientais representa intervalos de tempo (milhares de
gerações). Note que as espécies A e I se diversificam ao longo do tempo, enquanto as outras
(B, C, D, E G, H, K e L) tornam-se extintas. A espécie F não se diversifica, mas tem descendentes
que sobrevivem, e representa o que Darwin descreveu de ‘fósseis vivos’. A cada intercessão
entre as linhagens que se diversificam e as divisões no tempo, a linhagem é representada por
linhas tracejadas, que são variedades que diferem umas das outras em características e uso
de habitat.
Figura 4. Germoplasma de feijão: amostra da variabilidade genética para tipo de grão dispo-
nível para o programa de melhoramento do feijoeiro
(iii) A seleção natural não prevê o futuro. Uma vez que cada geração des-
cende dos sobreviventes à seleção exercida pelas condições ambientais
que predominavam na geração anterior, há uma concepção errada bem
comum de que os organismos podem ser adaptados a condições futu-
ras, ou que a seleção pode adiantar-se no sentido de prever mudanças
ambientais que poderão ocorrer durante as gerações futuras. A seleção
natural adapta as populações a condições que predominavam no passa-
do, não a condições que possam ocorrer no futuro. A evolução está, por-
tanto, sempre uma geração atrás de qualquer mudança ambiental;
(vi) A seleção natural atua sobre os indivíduos, não pelo bem da espé-
cie. Descobriu-se que todo comportamento altruísta que tenha sido
estudado em detalhe aumenta a aptidão do altruísta, seja porque os
beneficiários desse comportamento são parentes geneticamente próxi-
mos, seja porque os beneficiários o retribuem, ou por ambas as razões.
Figura 5. Esquema dos mecanismos e a lógica dos processos subjacentes à seleção natural
Glossário
Locus: latim de lugar (plural loci), que em genética designa a localização espe-
cífica de um gene no respectivo cromossomo.
Pool genético ou pool de genes: conjunto completo de alelos que podem ser
encontrados em uma determinada população. A fração de genes que perten-
ce a um dado alelo é denominado frequência alélica.
“Como podem ser questionados os esforços que cada indivíduo deve des-
pender para alcançar sua subsistência, em que qualquer modificação ínfima de
estrutura, hábito ou instinto, deixa-o mais adaptado às novas condições, dando-
A Seleção estabilizadora
Fenótipo
(cor da pelagem e tamanho do bico)
B Seleção direcional
Figura 6. Tipos de seleção natural atuando, nesse caso, sob a cor da pelagem em coelhos e tamanho de bico em
aves. As setas em branco representam as pressões seletivas em cada uma das situações. Na figura apresentamos
esses dois padrões clássicos pelo seu fácil entendimento, mas a partir deles podemos extrapolar a ideia para
quaisquer outros exemplos na natureza.
Para que uma dada população possa evoluir é necessário que seus
membros apresentem diversidade, que será a matéria-prima sobre a qual atua-
rão os agentes evolutivos. A composição genética dos organismos ou popula-
(i) Considere NAA como o número de indivíduos que são homozigotos para
o alelo A (AA);
(iii) Considere Naa como o numero de indivíduos homozigotos para o alelo a (aa).
Mosquito do gênero
Anopheles, principal
DDT
agente transmissor (Dicloro-Difenil-Tricloroetano)
da malária.
Cl Cl
Cl Cl
Indivíduos normais Cl Força seletiva em
(suscetíveis ao DDT). favor de resistentes.
Indivíduos resistentes
ao DDT.
Figura 7. Seleção natural atuando em escala de tempo pequena. O uso do DDT foi larga-
mente usado após a Segunda Guerra Mundial para o combate aos mosquitos vetores da
malária. A aplicação do pesticida com o intuito de matar os mosquitos Anopheles causa
uma pressão seletiva em seus indivíduos, deixando somente os mais resistentes, que ten-
dem a aumentar sua frequência se não forem eliminados. Esse mesmo raciocínio também
se aplica ao uso de antibióticos para combate às bactérias que causam a inflamação da
garganta. Se pararmos de tomar o remédio antes dela sarar totalmente, as poucas bactérias
que sobreviveram às primeiras doses - por serem mais resistentes - tendem a se proliferar,
dando continuidade à inflamação.
3ª BASE
1ª BASE
Figura 8. O código genético é degenerado ou redundante por existirem vários códons que codificam o mesmo
aminoácido. Por exemplo, os códons UCU, UCC,UCA e UCG codificam todos os aminoácidos Serina (Ser). No RNA,
que produz proteínas, encontra-se a base U ao invés da base T, presente na fita de DNA.
Cópia correta
Cópia mutante
Figura 9.
0
Histona 3 Insulina Mioglobina Albumina Interleucina 1
Figura 10. Gráfico e esquema demonstrando que a maioria das mutações não altera a
aptidão dos organismos, enfatizando que grande parte das substituições no DNA é neutra.
Por fim, outro ponto importante que é trazido à tona pela lógica do
neutralismo molecular é que as moléculas (sejam aminoácidos, proteínas
ou DNA) evoluem de forma mais ou menos constante ao longo do tempo.
Essa percepção fez com que pudéssemos estabelecer um relógio molecu-
lar (Figura 11), hoje comumente usado para inferir as datas de divergência
entre os táxons biológicos. O uso do relógio molecular e impacto no neutra-
lismo nas filogenias moleculares será discutido melhor no Capítulo 3.
Fibrinopeptídeos
14
Hemoglobina
12 Citocromo
Número de mudanças de
aminoácidos / 100 sítios
10
0
200 400 600 800 1000 1200 1400
Milhões de anos desde a divergência
Figura 11. Gráfico com tempos de divergência e número de mudanças nucleotídicas. Perceba que
apesar das taxas de evolução serem diferentes, as três moléculas têm taxas de divergências cons-
tantes. Fazendo-se uma analogia com um relógio analógico, o ponteiro que ‘andaria mais rápido’
seria a molécula que tem o maior número de mutações em um tempo menor. Por outro lado, o
‘ponteiro mais lento’ seria a molécula que tem menos mutações ao longo desse mesmo tempo.
Mutações desfavoráveis
x são selecionadas contra;
Ocorre reprodução e mutação;
Figura 13. A importância do tamanho populacional no papel da deriva genética. Notar que quanto menor o número
de indivíduos em uma população, mais rápido é o tempo de um alelo se fixar ou se extinguir na população. Em
populações grandes, o efeito da deriva é mais suavizado.
N - baixo
N - alto D - baixa N - grande
D - alta D - baixa
Figura 14. Esquema da ação da deriva genética onde cada cor representa uma combinação
de alelos. Ao amostrar aleatoriamente os alelos em uma população, seja por colonização
(efeito fundador) ou por eventos que dizimam parte da população ancestral (bottleneck –
efeito gargalo de garrafa), a deriva captura apenas parte da diversidade alélica ancestral.
Por isso, se um grupo de indivíduos sobreviventes contiver apenas uma pequena parte
da diversidade original, ele tenderá a possuir baixa variabilidade genética, mesmo que se
expanda e aumente o número de indivíduos ao longo do tempo. Se imaginarmos que cada
círculo represente um indivíduo em uma população natural, depois de um evento pronun-
ciado de bottleneck, a expansão dessa população abrigaria somente uma ínfima parte da
riqueza alélica da população ancestral.
Conclusão
Apresentação
Figura 15. Larva e indivíduo adulto de um gênero (Harmonia) de joaninha. Na primeira foto,
a larva está se alimentando de um afídeo – também conhecido como pulgão ou piolhos-das
-plantas – que, por sua vez, se alimenta da seiva de plantas.
Interação espécie-ambiente
*
Tempo
Figura 16. Diversificação evolutiva de um clado dentro de sua zona ecológica de origem, com mudanças adaptati-
vas ocasionais (*) para diferentes zonas ecológicas. Esta figura são adaptações das figuras em Ricklefs (2006) e
Wiens et al. (2010).
realizado de A realizado de B
Tamanho de presa
Como o parque situa-se numa área semiárida, fronteiriça entre duas gran-
des formações geológicas - a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão
periférica do rio São Francisco - com paisagens variadas nas serras, vales e
planície, com vegetação de caatinga, é o único Parque Nacional situado no
domínio morfoclimático das caatingas. A unidade abriga fauna e flora espe-
cíficas e pouco estudadas. Trata-se, pois, de uma das últimas áreas do semiá-
rido possuidoras de importante diversidade biológica. Na região, os refúgios
são representados pelos enclaves de mata semidecídua dos boqueirões, que
assumem assim óbvia importância para a fauna durante a seca. Sua conser-
vação e eventual restauração no caso de degradação violenta são tópicos
importantes para a proteção da fauna visando conservar populações, princi-
palmente de mamíferos e aves maiores e outros animais mais vulneráveis à
ação humana. A fauna da caatinga, quando comparada à de outros ambientes
como a Floresta Amazônica e mesmo o Cerrado, possui um número reduzido
de espécies. Isto se deve às características do clima, que excluem espécies
animais incapazes de resistir às secas e à própria estrutura do ambiente, pro-
porcionando ocorrências endêmicas (que só ocorrem naquele local).
Figura 19. Riqueza de espécies nos maiores grupos de organismos. A proporção conhecida
de espécies em cada ‘fatia’ é representada pela parte mais central. Notar que a maioria das
espécies da maioria dos grupos não são conhecidas Figura modificada do artigo de Purvis, A.
& Hector A. 2000. Getting the measure of biodiversity. Nature 405: 212-219.
1
ver mais detalhes Já o conceito biológico de espécie (CBE) tem o isolamento repro-
no Capítulo 3, dutivo como principal critério de identificação da independência evolutiva.
na seção 3.2,
sobre filogenias. Especificamente, se populações de organismos não hibridizam regularmente
na natureza ou se, quando o fazem, são incapazes de produzir prole fértil, elas
estão isoladas reprodutivamente e são consideradas boas espécies. O concei-
to biológico de espécie tem sido amplamente aceito desde que Ernst Mayr o
propôs em 1942. Ele é utilizado na prática por muitos zoólogos e constitui a
definição legal utilizada no Endangered Species Act (Lei das Espécies Ameaça-
das), que é a legislação emblemática da biodiversidade nos Estados Unidos. O
grande trunfo do CBE é que o isolamento reprodutivo é um critério significa-
tivo de identificação de espécies porque confirma a ausência de fluxo gênico.
Diferenciação genética
População 1 População 2
Ausência
de fluxogenico
entre as populações
Tempo
µ1 µ2
População ancestral
Figura 20. Esquema de divergência evolutiva provocada por isolamento reprodutivo de popu-
lações ao longo do tempo. Quanto maior o tempo e menor o fluxo gênico entre populações,
maior é a diferenciação genética devido a taxas de mutação (µ1 e µ2) independentes em
cada população.
Área Área
Espécie
A B ancestral
Istmo do Panamá
P C
P C
P C
Figura 22. Esquema demonstrando que as espécies de camarão pistola mais semelhantes
entre si estão em lados diferentes do Istmo do Panamá. As cores iguais em cada lado da
barreira especifica a similaridade genética entre as espécies/populações.
Duas populações
têm fluxo gênico
fluxo gênico
Figura 24. Exemplo de especiação simpátrica, onde o processo de divergência evolutiva ocor-
re sem necessidade de isolamento geográfico. Nesse caso, a especiação pode ser causada
por poliploidia.
Alguns desses fatores são gerados por mudanças abruptas nas condi-
ções do solo como as criadas pela atividade mineradora, que deixa os restos
de cascalho com altas concentrações de metais pesados, como o chumbo e o
zinco. Os solos formados com tais refugos contém concentrações de metais
pesados que são danosos ao crescimento da maioria das plantas. Há uma
forte seleção favorecendo a tolerância a metais pesados nas plantas que cres-
cem nesses locais. Nos últimos séculos, as plantas capazes de crescimento
nesse tipo de solo evoluíram em várias espécies de gramíneas. Uma delas é
a Anthoxanthum odoratum.
Tamanho populacional
Tempo
Figura 27. Padrões de crescimentos populacionais: quando os recursos são ilimitados e não
há competição intraespecífica, o crescimento é exponencial (em verde claro), e quando os
recursos são limitados, há competição. (em verde escuro).
Drosophila
Moloka’i
Maui
Lana’i
Kano’olawe
Hawai’i
Figura 28. Esquema mostrando que as espécies mais recentes de Drosophila cor-
respondem às ilhas mais novas, fato que evidencia fortemente que a atual distri-
buição desses insetos se deu por colonização (i.e., dispersão das ilhas mais antigas
para as mais recentes).
Irradiação adaptativa significa que uma espécie ancestral evolui em várias es-
pécies descendentes com adaptações ecológicas distintas. Geralmente, quando
duas espécies com adaptações ecológicas diferentes evoluem de uma só espé-
cie ancestral, ocorre um único evento de especiação. Uma irradiação adaptativa
local acontece quando vários de tais eventos de especiação ocorrem em uma
mesma área. A conhecida Explosão do Cambriano é um ótimo exemplo de
irradiação adaptativa. Aqui, porém, examinaremos irradiações adaptativas em
pequena escala – que são uma ligeira extensão do processo de especiação.
Os lagartos do gênero Anolis nas ilhas do Caribe são um exemplo de como as es-
pécies evoluem para ocupar vários nichos ecológicos e têm adaptações adequadas
aos seus modos de vida.Algumas espécies de Anolis vivem nas ramagens, outras nos
dosséis e outras no capim. As que vivem nas ramagens têm caudas longas e patas
curtas; as que vivem no capim têm caudas curtas; as que vivem nos troncos de
árvores baixas têm patas longas. Os Anolis são encontrados em todas as principais
ilhas das Grandes Antilhas e ocupam distribuições de habitats parecidos em cada
ilha.Todas as espécies que vivem em ramagens, por exemplo, assemelham-se – têm
caudas longas e patas curtas, sejam elas de Cuba, Haiti, Jamaica ou Porto Rico. Os
outros tipos ecológicos também apresentam semelhanças nas várias ilhas.
Capim
Ramagem
Capim
Troncos
Capim
Troncos
Ramagem
Capim
Troncos
Ramagem Hispaniola
Troncos Porto Rico
Capim Jamaica
Ramagem Cuba
Figura 29. Relações filogenéticas das espécies de Anolis de diferentes tipos ecológicos
em quatro ilhas caribenhas. Notar que cada tipo ecológico tende a evoluir indepen-
dentemente nas diversas ilhas; a especiação dos grupos ocorreu mais por ilhas do
que por tipo ecológico. Figura modificada de Ricklefs (2006) e Losos et al. (1998).
Taxa de
Diversificação
Energia
Regiões Regiões
TROPICAIS TEMPERADAS
Figura 30. Gradiente de riqueza com taxas de diversificação nas regiões tropicais e tempe-
radas. A maior riqueza tropical sugere que as regiões tropicais mais favoráveis em termos de
disponibilidade de energia, com maior velocidade de especiação como consequência de um
aumento nas taxas de mutação (devido à maior irradiação), ou que maior especialização
ecológica, que aumentaria a necessidade de adaptação a condições ecológicas locais e ge-
rando assim maior isolamento reprodutivo. O número de ramos nas ilustrações filogenéticas
é proporcional ao número de espécies; quanto mais ramos, mais espécies. Figura modificada
de Diniz-Filho et al., 2009.
Atividade
Pense e reflita sobre qual mecanismo já visto que poderia ser a “força, de
toda força...que penetra qualquer coisa sólida”, bem como as “admiráveis
adaptações que o meio (ambiente)” proporcionou para que o mundo fosse
criado, tal como canta Jorge Ben.
Apresentação
Este capítulo aborda como a evolução pode ser usada para compreender
a diversidade da vida. Para isso, devemos examinar a classificação do que deno-
minamos como espécies, as variações (i.e., plasticidades) que ocorrem dentro
delas, a forma como os organismos se desenvolvem, bem como descrever as re-
lações evolutivas entre elas. Como a história das espécies não pode ser simples-
mente observada, as relações filogenéticas precisam ser reconstruídas a partir
de indícios nas moléculas, cromossomos e morfologia das espécies atuais (e na
morfologia dos fósseis) para entendermos como e quando elas surgiram.
Além da seleção natural, outro grande pilar que sustenta a evolução da-
rwiniana é que os seres vivos descendem de um ancestral comum. Essa visão,
aparentemente simples, tem um impacto gigantesco na forma de se ver a própria
vida – quaisquer espécies pegas ao acaso possuem, em algum tempo do passado,
ancestrais em comum. É por isso que a simbologia para representar atualmente
a história da vida é dada por ramificações, tais como os galhos de uma árvore.
Figura 31. Esboço de Darwin em seu diário pessoal. O cientista desenha seu insight do pro-
cesso evolutivo como ramificações de linhagens que descendem de ancestrais em comum,
mas que divergem ao longo do tempo, tal como os galhos de uma árvore. Entre as anotações
em volta da árvore, lê-se “I think”, que significa: Eu acho.
Classe:
Mammalia
Ordem:
Carnívora
Família:
Felidae
Figura 32. A lógica para se construir as relações evolutivas (i.e., de parentesco) entre as espécies pelos seus carac-
teres homólogos e compartilhados (ou não). Os números da árvore à esquerda representam caracteres comparti-
lhados. Por exemplo, o caractere 1 é compartilhado pelas espécies A, B, C e D. Já o caractere 5 está presente somen-
te na espécie D. Na árvore à direita estão especificados alguns caracteres compartilhados entre alguns mamíferos.
Úmero Úmero
Úmero Ulna
Ulna Falanges
Rádio Rádio
Táxon E
Táxon F
Táxon C
Táxon A
Táxon B
Táxon D
Táxon G
Grupo irmão
Como visto, nomes taxonômicos são dados somente para grupos monofiléti-
cos nos sistemas de classificação filogenéticos. Mas isso não significa que todo
grupo monofilético deve ter um nome. Os sistemas em geral só dão nome a
grupos associados devido a muitas características derivadas ou à presença de
caracteres importantes, que podem ser utilizados para identificar membros
desse grupo. Embora a maioria dos sistemas seja a favor de classificações
filogenéticas, alguns acreditam que os sistemas de classificação devem refletir
também o grau de diferenciação entre os organismos, não somente a sua
genealogia evolutiva. De acordo com essa visão, devemos manter os nomes
de grupos parafiléticos que tenham sofrido diversificação e mudanças evolu-
tivas rápidas. A perspectiva desses taxonomistas pode ser ilustrada pelas aves,
crocodilos e seus parentes.
Figura 35.
A mesma lógica e conceitos vistos até agora podem ser aplicados no ní-
vel molecular. A evolução nesse nível acarreta mudanças na sequência nucle-
otídica, devido a mutações. As novas sequências nucleotídicas são herdadas
pelas linhagens descendentes como características derivadas compartilhadas
(Figura 36). Essa é a base da Sistemática Molecular, que, aliada à taxonomia
clássica (i.e., morfológica) tem contribuído muito para esclarecer as relações
evolutivas entre diversos táxons. Com o aprimoramento de técnicas da Biolo-
gia Molecular (e.g., sequenciamento de genes, relógio molecular) aliado ao ar-
cabouço teórico relacionado à evolução molecular, podemos hoje aprimorar
as análises das relações evolutivas entre populações, espécies, gêneros, famí-
lias e quaisquer outros níveis hierárquicos de classificação biológica.
Você acredita que podemos fazer uma analogia com a evolução biológica a
partir da evolução dos idiomas? O Latim, por exemplo, poderia ser conside-
rado com o ‘ancestral comum’ dos idiomas como o Português, o Espanhol, o
Italiano e o Francês? As línguas faladas na Alemanha, Inglaterra e Estados Uni-
dos poderiam ser consideradas como tendo outra origem, no caso do idioma
falado pelos antigos povos anglo-saxônicos? Ainda, se pudéssemos agrupar
os diferentes idiomas falados no mundo, levando-se em conta o alfabeto e
a escrita como caracteres a serem avaliados, como seriam agrupados esses
idiomas acima citados, juntos ou separados de idiomas como os falados no
Japão, China, Coréia e Arábia Saudita? Pensando em clados e em grupos mo-
nofiléticos como seria uma possível árvore de relações entre esses idiomas?
Figura 38. Da esquerda para a direita: chimpanzé, bonobo e gorila, nesta ordem, são os primatas mais
próximos do ser humano.
Em sua obra “A origem das Espécies”, Darwin observou que nas fases
iniciais de desenvolvimento embrionário de vertebrados existia uma gran-
de semelhança entre estes embriões, que posteriormente no transcorrer do
desenvolvimento cada um se modificaria tomando as características perten-
centes à espécie. O estágio em que os organismos apresentam um mesmo
padrão de desenvolvimento foi chamado de estágio filotípico (Figura 40).
Esta semelhança demonstraria a ancestralidade de cada espécie. Para Da-
rwin, esta observação seria uma grande evidência de sua teoria evolutiva.
Figura 40. Estágios filotípicos (ao centro) de quatro espécies de vertebrados: humano, porco,
lagarto e galinha.
A fraude de Haeckel?
Figura 41. Desenho feito no final do século 19 por Ernst Haeckel (1874), que com-
para as semelhanças entre embriões e adultos de várias espécies de vertebrados.
Contudo, há mais de um século os cientistas atestam a fraude cometida por Haeckel,
alegando que os embriões de vertebrados não são tão parecidos como foi ilustrado.
Saiba mais
Informações retiradas de: FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo, 17 ago. 2006.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15039.
shtml>. Acessado em: 01 ago. 2012.
Figura 46. A expansão dos genes Hox, ocorreu em dois momentos da evolução. Primeira-
mente, na mudança dos cnidários com simetria radial e duas camadas celulares, para orga-
nismos como os platelmintes com simetria bilateral e triblásticos (A). O segundo momento
de expansão ocorreu na origem dos vertebrados. Ilustração representando os genes Hox de
Drosophila melanogaster. Os genes Hox são mestres na organização segmentar do corpo.
Note que cada gene está representado por uma cor que corresponde à expressão de um
gene em diferente região do corpo da mosca (B).
Saiba Mais
Informações retiradas de: DIÁRIO DIGITAL. Lisboa, 27 out. 2010. Disponível em: <
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=417834>.Acessado em: 02 ago. 2012.
Medula espinhal
exteriorizada
Sisto
espinha Medula espinhal
bífida
Figura 47.
Atividade
De acordo com as novas ideias propostas por Darwin, a evolução não teria
sido sequencial, e sim ramificada. Na prática, o que significa esta afirmação? O
que propõe a Lei da Recapitulação Ontogenética de Haeckel? Com base em
que elementos Haeckel propôs esta teoria? Foi por observações ou pressu-
posições teóricas? Qual o papel dos Genes Hox no controle do desenvolvi-
mento embrionário?
O estudo da paleontologia por meio dos fósseis nos permite saber quais
organismos habitaram a Terra e hoje já não existem mais. Além de sabermos as
formas de vida extintas, através do registro fóssil podemos observar as mudan-
ças evolutivas através da história da Terra, estudando uma espécie desde o seu
aparecimento até a sua extinção. Um exemplo de evolução bem estudada é a do
cavalo (Equus caballus), desde o Eoceno até a atualidade (Figura 48).
Holoceno 2 4
3
Pleistoceno Cavalo moderno
(há 1 milhão de anos) (equus) - 1,6 m
2 4
Mioceno
final
(há 8 milhões de anos)
3
Pliohippus - 1,25 m
Mioceno
médio
(há 15 milhões de anos) 2 4
3
Merychippus - 1,0 m
5
Eoceno
final
(há 36 milhões de anos) 2 4
Mesohippus - 0,6 m 3
Eoceno
inicial 5
2
Hyracotherium - 0,4 m 4
3
Figura 48. Reconstrução da evolução do cavalo por meio de registros fósseis, desde o Eoceno
até os dias atuais.
Figura 49. Darwin ao observar diferentes raças de animais, como os bovinos, supôs que essas
diferenças morfológicas eram originadas pelo gradualismo, que em um ponto da evolução
formaria uma nova espécie.
Saiba mais
Fenótipos Fenótipos
Tempo
(a) Gradualismo (b) Equilíbrio pontuado
Figura 50. Diferença entre gradualismo e equilíbrio pontuado ao longo do tempo. Note que
no gradualismo as mutações vão ocorrendo de forma lenta e gradual de forma que o apa-
recimento de novas espécies ocorre de forma sutil. Por sua vez, no equilíbrio pontuado, as
taxas de mutações são mais rápidas e quando surge uma nova espécie, este evento ocorre
por pequenos saltos.
Atividade
Uma das controvérsias mais duradouras na biologia evolutiva tem sido se tais
lacunas fenotípicas representam simplesmente um registro fóssil inadequado
- ou seja, a evolução foi gradual, mas nós simplesmente não temos dados para
provar isso - ou se a evolução realmente passou por saltação. Algumas linhas
evolutivas acreditam que os dinossauros foram os ancestrais evolutivos das
aves, contudo faltava encontrar o elo perdido entre as dois grupos distintos.
Na China foi encontrado o que supostamente seria o elo perdido entre rép-
teis e aves, se trata do Archaeopteryx sp. Este achado fóssil possui características
de répteis, como os dentes, e de aves, como as asas.
Figura 52. Figura extraída do trabalho de Woltereck (1909, p.114), em que ele retrata a
diferença no tamanho das cabeças de duas espécies de dáfnias (Hyalodaphnia cucullata e
Daphnia longispina). As diferenças fenotípicas no tamanho das cabeças são resultados de
diferentes concentrações de nutrientes disponíveis na água.
Plasticidade e o homem
Atividade
Apresentação
Antes de ler sobre o tema, em sua opinião, como teriam surgido os primeiros
seres vivos?
Ingredientes:
- 1 camisa suja (preferencialmente de mulher)
- Um punhado de grãos de trigo
Modo de Preparo:
“coloque a camisa suja em um canto sossegado e pouco iluminado. Sobre ela
espalhe os grãos de trigo. Aguarde 21 dias para o surgimento de novos ratos”.
Figura 55. Impedindo o contato das moscas com a carne e, consequentemente, o depósito
de ovos que se originariam as larvas, Francesco Redi conseguiu provar que as larvas não
surgiam espontaneamente da carne em decomposição.
As galhas são estruturas que ocorrem nas plantas semelhantes a tumores, por
ocorrer hiperplasia e hipertrofia dos tecidos vegetais na região atingida. Estas
estruturas são uma tentativa de impedir a invasão das plantas por ovos de in-
setos, nematóides, ácaros, fungos e bactérias. Estas infecções podem ocorrer
nos ramos, folhas, gemas e órgãos subterrâneos das plantas. As galhas de for-
mato arredondado (Figura 56) são chamadas de bugalho e são consequência
do depósito, num dos seus ramos, de um ovo de vespa. Esta desenvolve-se e
alimenta-se no interior do bugalho, onde passará por todas as fases das suas
metamorfose. Desta forma, as galhas não se originam por abiogênese e sim
pela deposição de ovos.
Figura 57. Após ferver dois frascos distintos com caldo de carne e deixar um tampado e o
outro exposto, Joblot verificou que neste frasco tampado não havia se desenvolvido microor-
ganismos, desta forma, as “sementes” deste organismos estariam no ar e nào surgiriam do
caldo espontaneamente.
Em meio à guerra entre defensores das duas teorias sobre a origem da vida,
um confeiteiro de Paris, François Appert, observando os resultados dos expe-
rimentos de Spallanzani acabou inventando os produtos enlatados, que após
fervura e vedação não estragariam.
Figura 59. Pasteur usou frascos com gargalo pescoço de cisne que retém os microrganismos
presentes no ar não contaminando o caldo de carne, demonstrando que os microorganismos
estão presentes no ar e não no caldo de carne.
Figura 60. De acordo com a Hipótese da nebulosa, o sistema solar teria surgido pela rotação
de uma nuvem de gás e poeira, que durante esse processo as pequenas partículas foram se
agregando até muito tempo depois ocorrer a formação do sol e dos planetas.
Eletrodos
Compartimento
“atmosfera”
Vapor de água
Condensador
Compartimento
“oceano”
Calor Recolha de amostras
Figura 61. Aparelho criado para testar a hipótese de Oparin sobre a origem das primeiras
moléculas orgânicas. Neste aparelho, Miller teria recriado as condições primitivas da atmos-
fera terrestre, propiciando o aparecimento das primeiras moléculas orgânicas nos oceanos.
Neógeno
Neogênico
Holoceno
10.000 anos Homo sapiens
144 24
Jurássico Surgimento dos primatas
Oligoceno
Grandes dinossauros
Paleogênico
37
FANEROZÓICO
e aves
208
Triásico Eoceno Expansão das ave
Dinossauros e mamíferos
245
58
Permiano
Répteis
286 Paleoceno Irradiação dos mamíferos
Carbonífero 66 M.a.
Florestas e pântanos
(depósitos de carvão) 360
Paleozóico
Devoniano
Idade dos peixes
408
Siluriano Plantas e artrópodes terrestres
Primeiro crinóides
438
Ordoviciano
Primeiros corais Surgimento peixes sem mandíbulas, corais
Peixes primitivos
505
Cambriano Primeiros peixes, esponjas, corais e moluscos
Idade dos trilobites
570
CRIPTOZÓICO
2500
Figura 63. Linha do tempo da evolução dos organismos, com seus principais eventos em
cada era geológica.
Atividade/Pesquise
Até hoje não temos uma resposta definitiva para a questão da origem
e desenvolvimento da vida na Terra. E, infelizmente, não temos a perspec-
tiva de cientificamente comprovarmos como aconteceu todo o processo.
Sendo assim, nos restam especulações e inferências sobre o surgimento dos
primeiros animais e plantas, e, neste campo da ciência especificamente, a
possibilidade de cada um imaginar uma possível origem para a vida, seja ela
baseada em dados científicos ou crenças religiosas.
Usando uma técnica iniciada por George H. F. Nuttall (1904) e por Morris
Goodman (1962), Vincent Sarich e Allan Wilson (1967) injetaram albumina
sérica humana purificada, uma proteína do sangue, em coelhos. Após aguardar
que esses coelhos fizessem anticorpos contra a proteína da albumina humana,
Sarich & Wilson obtiveram soro sanguíneo deles. Esse soro continha anticor-
pos anti-humanos de coelho. Os pesquisadores misturaram o soro de coelho
com albumina sérica purificada de diferentes macacos antropóides do Velho
Mundo. Os autores usaram a intensidade da reação imune entre os anticor-
pos anti-humanos de coelhos e as albuminas dos primatas como uma medida
da semelhança entre as albuminas testadas e presumiram que a semelhança
entre as albuminas do soro de duas espécies refletia o parentesco evolutivo
entre elas. A filogenia resultante mostra que os humanos são estreitamente
relacionados com os gorilas e com dois chimpanzés (Figura 66).
Gibões
Orangotangos
Humanos
Ancestral Chimpanzés
comum e Bonobos
Gorilas
Macacos do
Velho Mundo
30 20 10 0
Tempo (em milhões de anos atrás)
Figura 66. A filogenia de antropoides de Sarich & Wilson (1967). A linha do tempo embaixo é dada em milhões de
anos antes do presente.
Humanos
Chimpanzés
Gorilas
Orangotangos
Gibões
Macacos do
Velho Mundo
30 20 10 0
Em milhões de anos
Figura 67. Tempos de divergência de antropoides. Nessa filogenia, Stauffer et al. (2001)
estimaram as datas dos ancestrais comuns por meio da combinação de dados de dezenas
de proteínas usadas como relógios moleculares. As barras mais espessas correspondem aos
erros-padrões envolvidos nas estimativas.
Australopithecus Kenyantropus
3 MILHÕES afarensis platyops
2 MILHÕES
Homo HomoKenyanthropus
habilis rudolfenses
H. robustus
H b
H. ergaster
1 MILHÃO H. boisei
H
H. antecessor
500 MIL
H. neanderthalensis
100 MIL
H. erectus
H
50 MIL
H. neanderthalensis
20 MIL
H. floresiensis
ATUALIDADE H. sapiens
H i
Figura 68. Quadro esquemático com os principais fósseis hominídeos já encontrados
12.000
35.000
Homo floresiensis (?)
Homo neanderthalensis
40.000
Homo erectus
100.000
200.00
Homo erectus
Homo heidelbergensis
600.000
Homo erectus
1.000.000
Homo ergaster
1.800.000
Figura 69. Linhagens que provavelmente deram origem à espécie Homo sapiens, mostrando
potenciais rotas de migração. Author Martin0815 (Wikimedia -http://commons.wikimedia.org )
Egoísmo Altruísmo
Figura 70. Egoísmo: Louva-Deus (Mantis religiosa) se tiver oportunidade devora a cabeça
do macho após a cópula. Dessa forma ela terá mais nutrientes para a gestação que está se
iniciando. No entanto, para o macho não é assim tão prejudicial, pois seus genes vão conti-
nuar “vivo” no seu filhote que irá nascer. Fonte: http://binarme.blogspot.com.br. Altruísmo:
As abelhas operárias nesse exemplo da espécie Apis mellifera protegendo a colmeia, pica
os predadores de mel, ao picar parte de seus órgãos vitais saem com o ferrão, que fica
aderido à pele do predador, o que leva o bicho à morte. Morrendo ela não irá usufruir do
bem que ela defendeu.
Como os genes mantiveram até aqui, até a forma de vida que vemos
hoje? A resposta está sob nossos olhos, como visto no capítulo X (de seleção
sexual), na seleção sexual a fêmea escolhe o macho maior, ou mais “bonito”,
ou, ainda, o que vence a luta por ela. Por trás dessa escolha da fêmea estão
seus genes guiando–a para escolher o macho que possui os melhores genes.
Pois esse macho irá melhor defender o território, conseguirá mais comida e
de melhor qualidade, e, se for caso, cuidará dos filhotes de forma mais eficaz.
Dessa forma, seus filhotes terão o sucesso reprodutivo maior e, assim, seus
genes continuarão sempre no ciclo da vida. Mas, cuidado, aqui não estamos
levando em consideração a deriva gênica.
J. Maynard Smith usou a teoria dos jogos para explicar de forma mais
clara o comportamento de agir de forma a se favorecer, mas não perder tanta
energia (Figura 71). E, em 1973, conceituou a Estratégia Evolutivamente
Estável (EEE) como: o comportamento (ou estratégia) que será estável sob
a pressão da seleção natural. Que vá persistir ao passar do tempo e suportar
pequenas oscilações do ambiente.
Equilíbrio de Nash
A Bíblia, e um dos seus provérbios diz o seguinte a respeito das formigas: “Vai
ter com a formiga, ó preguiçoso; olhai para os seus caminhos e sê sábio. Pois ela,
não tendo chefe, nem guarda, nem dominador, prepara no verão o seu pão; na sega
ajunta o seu mantimento...” (Provérbios, 6:6). Quando se fala em Ecologia (ou
qualquer outra ciência que derivou dela, como a Biologia da Conservação e
a Educação Ambiental), seguindo seus reais princípios, estamos lidando com
toda interação que ocorre entre os seres vivos, bem como a dinâmica dos
mesmos com seus respectivos ambientes. No entanto, hoje em dia a mídia
tem propagado e estabelecido algumas distorções sobre isso. O que é ser, por
exemplo, ecologicamente correto?
O nosso papel ecológico no mundo, portanto, é muito negativo. Por outro lado,
a “lição” trazida pelas formigas é retratada brilhantemente pelo famoso ento-
mólogo (biólogo que estuda formigas) Edward O. Wilson. O professor e pes-
quisador da prestigiada Universidade de Harvard, em um trecho do seu livro
autobiográfico Naturalista (1994), nos dá informações muito relevantes sobre o
papel ecológico desses insetos aparentemente insignificantes, ao mesmo tempo
em que enfatiza a nossa condição egocêntrica de pensar o mundo:
Se insetos que, aparentemente não tem importância alguma para nós, têm um
papel ecológico tão grande, o que pensar do conjunto de toda a biota oculta
aos nossos olhos ou da televisão? O que desempenha em seu ecossistema
aquela árvore torta ou aquele animal que simplesmente achamos feio ou
asqueroso para nosso padrão de beleza? À medida que estendemos as ex-
plicações científicas dentro dos domínios da biologia humana, nós ganhamos
Figura 72. Formigas cortadeiras, que levam parte de folhas para o cultivo de fungos
específicos para sua alimentação.
O mesmo Edward Wilson, que nos ajudou com a ‘lição das formigas’,
em seus livros Consiliência: a unidade do conhecimento (1994) e Sobre a Na-
tureza Humana (1979), deixa uma reflexão a ser feita por todos nós, seres
humanos. Ele assegura que temos que tomar consciência de nosso papel no
gerenciamento da biodiversidade e com o meio ambiente – afinal, fazemos
parte dele e também somos seus dependentes. Wilson sugere que o Homo sa-
piens, a primeira espécie verdadeiramente livre, pode estar prestes a encerrar a
seleção natural, a força que nos fez. Devemos, portanto, olhar profundamente
para dentro de nós mesmos e decidir o que queremos ser ou fazer. O autor
conclui que os seres humanos deveriam tomar mais consciência da sublime
e épica forma que o mundo foi criado e como a humanidade se tornou parte
dele. Essa visão pode confirmar que somos parte de algo maior do que nós
mesmos; ela une a nossa espiritualidade, ao invés de enfrentá-la, com o conhe-
cimento empírico que a ciência e que a história podem oferecer.
A janela que Darwin abriu para a vida do mundo permitiu uma pers-
pectiva nova e evolutiva de outros assuntos. Começamos a estudar a evolu-
ção das nebulosas e das estrelas, da linguagem e das ferramentas, dos ele-
mentos químicos, de organizações sociais. A aquisição feita pelo Homem de
um tipo de mecanismo evolutivo muito acima do de cromossomos e genes
para assegurar a continuidade de mudanças ao longo do tempo, possibilita-
-nos transpor a barreira estabelecida pelas limitações biológicas e penetrar
no campo virgem da existência psicossocial, devido a nossa capacidade de
pensamento conceitual e linguagem simbólica. A organização da consciên-
cia alcançou um nível no qual a experiência podia não apenar ser armazena-
da em um indivíduo, mas também ser transmitida cumulativamente a novas
gerações. Isso é um ponto crítico que iniciou a fase humana ou psicosso-
cial da evolução. Em nosso planeta, isto está ainda no começo de seu curso,
tendo-se iniciado há menos de um milhão de anos. Entretanto, o ritmo da
evolução humana não apenas é mais rápido que o da evolução biológica;
a racionalização e aumento no volume de informações atuais fizeram com
que nos tornássemos o último tipo dominante de vida, fechando a porta à
possibilidade de qualquer outro animal fazer o mesmo avanço e disputar
nossa posição única na Terra. No entanto, a consequência lógica e biológica
de tal processo faz com que exploremos, muitas vezes inconsequentemen-
te, os espaços e recursos naturais compartilhados por outros seres vivos.
Assim, à luz desses fatos e ideias, o verdadeiro desígnio do Homem deverá
ser fundamental para o futuro da evolução no planeta. Qualquer progresso
maior somente será alcançado com uma nova visão do destino humano; e
isto se deve, sem dúvida, em grande parte, ao trabalho iniciado por Darwin
sobre a evolução biológica por seleção natural.
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