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Produção independente do Blog Salus in Caritate.

Ano de 2020.
Direitos reservados a Ana Paula Barros.

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está proibida.

Qualquer uso do que está nesse ensaio em textos, palestras


e outros meios de comunicação devem ser acompanhadas
das devidas referências a esse material.

Diagramação: Tiago Tanaka Múrcia | @missaojovensdacruz



Esta Potência, enfim, que tudo manda,
Esta Causa das causas, revestida
Foi desta nossa carne miseranda.
Do amor e da justiça compelida,
Pelos erros da gente, em mãos da gente
(como se Deus não fosse!) perde a vida.
Ó cristão descuidado e negligente
Pondera isto, que digo, repousado,
Não passes por aqui tão levemente.
Não, que aquele Deus alto incriado,
Senhor das cousas todas, que fundou
O Céu, a Terra, o fogo e o mar irado,
Não do confuso Caos, como cuidou
A falsa teologia e o povo escuro,
Que nesta só verdade tanto errou;
Não dos átomos falsos de Epicuro;
Não do largo Oceano, como Tales,
/Mas só do pensamento casto e puro.
Olha, animal humano, quanto vales,
Que por ti este grande Deus padece,
Novo modo de morte, novos males.

(Elegia, Luís de Camões)


Prefácio

Vestimenta
e Pecado

Carlos Nougué
salusincaritate.com

Q uem prefacie um livro de Ana Paula Barros sobre a modéstia


corre sempre o risco de ser imodesto, porque seria como
“ensinar o padre a rezar missa”. Ou como “chover no molhado”. Ana
Paula é uma verdadeira autoridade no assunto – e já desde muito
tempo. Mas preciso atender ao gentil convite da autora e buscarei
fazê-lo falando resumidamente do pecado no vestir segundo a mente
do Doutor Comum da Igreja, Santo Tomás de Aquino, em particular
segundo o que ele escreve na Suma Teológica, II-II, qq. 160 e 168-
170. E minha escolha não é gratuita: é em verdade a resposta mesma
que dou a alunas minhas aflitas com a questão da modéstia no vestir.

1) Antes de tudo, diga-se que a modéstia é uma virtude anexa à


virtude da temperança, e se ocupa de coisas menos difíceis que
aquela: aquela visa à moderação dos prazeres do tato, etc., enquanto
esta aos movimentos e atividades corporais, à apresentação externa
(modo de vestir e semelhantes), à regulação dos divertimentos,
etc., e abrange tanto ações exteriores como interiores (humildade,
simplicidade, mansidão, etc.). Vou tratar aqui, no entanto, como
antecipado, especialmente as partes da modéstia que dizem respeito
mais de perto à vestimenta.

2) Não é nas coisas exteriores que reside o vício, mas no próprio


homem que faz uso delas. E pode-se usar mal delas de duas maneiras:

a) pela violação dos costumes justos da sociedade onde se


vive;

b) por causa de uma descontrolada afeição às coisas

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Vestimenta e Pecado

exteriores, ou seja, por um uso demasiado sensual delas.

3) Tal afeição desordenada se manifesta de três modos:

a) pelo vestir-se e enfeitar-se demasiado refinadamente, em


busca de prestígio social;

b) pelo vestir-se e adornar-se em busca de prazeres do corpo,


ou para excitar sensualmente a outros;

c) pela mera preocupação exagerada com a roupa, ainda que


sem nenhuma de tais finalidades más.

4) As virtudes que se relacionam com a apresentação externa também


são três, opostas aos três modos viciosos que acabamos de ver:

a) a humildade, que exclui a busca da glória e não se excede


em gastos com roupas e enfeites;

b) o contentar-se com o suficiente, o que exclui qualquer


busca de afetação;

c) a simplicidade, que exclui toda preocupação exagerada


com essas coisas e nos leva a contentar-nos com o que nos
é dado.

5) Atente para o uso sábio, por parte de Santo Tomás de Aquino, de


expressões como “preocupação exagerada”. Há que ter cuidado com
os radicalismos desnecessários e em si mesmos viciosos.

6) Sim, porque, por outro lado e segundo o afeto, podem distinguir-

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se duas outras desordens:

a) a negligência ou falta de diligência no vestir-se


corretamente;

b) a falta de cuidado com a aparência: o desleixo pode ser, e


muitas vezes o é, puro fruto da vaidade.

7) Os adornos femininos são isentos de pecado mortal? Vejamo-lo.

a) É fato que os adornos femininos despertam a lascívia nos


homens.

b) Mas pode a mulher, de todo licitamente, ou seja, sem


nenhum pecado, empenhar-se em agradar ao marido, para
evitar que ele, desprezando-a, caia em adultério (já o induzia
São Paulo).

c) Não obstante, não pode a mulher casada vestir-se e


adornar-se para agradar a outros homens, nem o pode
fazer a mulher que se quer solteira com respeito a nenhum
homem, porque em ambos os casos se trataria de excitar a
concupiscência masculina.

d) Se pois ambas se enfeitam com tal finalidade, ou seja,


provocar a concupiscência de homens com que não sejam
casadas, pecam mortalmente.

e) Se porém o fazem apenas por leviandade, ou por um desejo


vaidoso de aparecer, nem sempre pecarão mortalmente, mas

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Vestimenta e Pecado

às vezes venialmente.

f) Diga-se o mesmo, em todos os sentidos, quanto aos


homens.

g) Mas as mulheres podem até estar isentas de qualquer


pecado se agirem daquele modo não por vaidade, mas por
um costume contrário (não recomendável, mas em si não
pecaminoso).

8) Portanto:

a) Quanto a saltos, brincos, maquiagem, etc., podem ser,


como vimos, pecado mortal, pecado venial, ou nenhum
pecado (ainda que possam constituir um costume não
recomendável).

b) Diga-se o mesmo com relação à calça comprida. Mas


acerca dela, que tanta polêmica suscita, há que dizer algumas
palavras mais.

9) Quando foi lançada, e ainda por um bom tempo, o uso da calça


comprida para mulheres foi pecado porque conscientemente as que
a usavam, usavam-na para igualar-se ao homem, o que já desde o
Antigo Testamento sabemos ser pecado gravíssimo.

10) Mas hoje algumas mulheres usam calça comprida por mero
costume social (ou seja, não pecaminoso ainda que não recomendável).
Tentam ser femininas com ela, e não igualar-se ao homem.

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11) O que sucede é que a maioria a usa para excitar a concupiscência


masculina. Usa-a demasiado apertada, numa espécie de exibição
anatômica. E isto será sempre pecado mortal, ou seja, se visar a
tal excitação. Excetua-se o caso de uma esposa que assim se vista
para agradar ao marido, o que poderá nem ser pecado venial (seria
pecado, venial ou mortal, se de algum modo desbordasse os justos
limites do conjugal), podendo ser antes, ao contrário, meritório:
como quando o faz para evitar adultério da parte dele, ou para poder
melhor cumprir o débito conjugal, etc.

12) As mulheres também podem usar calça demasiado apertada


por mera vaidade, o que constituiria pecado venial. Mas a distinção
concreta, neste caso, entre pecado mortal e venial (e até não pecado,
no limite) só pode caber a um sacerdote, e sacerdote bom.

Agora, deixo-os com o que interessa: o texto mesmo de Ana Paula


Barros.

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Introdução
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Esquecidos vão todos,


No coração um desgosto,
Aos vícios estão dispostos,
Mas a saúde está no oposto.

“As pessoas tendem a amar a Verdade quando esta as ilumina, porém


tendem a odiá-la quando as confronta”. (Santo Agostinho)

O primeiro esclarecimento que acredito oportuno para o


desdobramento do tema proposto é a respeito do entendimento
do que é a moralidade, todo o tema se desenrola nessa área.

O objetivo da teologia moral é levar as virtudes cristãs à


excelência, até o fim da vida de cada católico, como está expresso
na própria definição da palavra virtude no Catecismo (que é um
compêndio, um resumo, dos ensinamentos da Igreja): “a virtude é
uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à
pessoa não somente praticar atos bons, mas dar o melhor de si
mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as suas
forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em
atos concretos. O fim duma vida virtuosa consiste em tornar-se
semelhante a Deus” (CIC 1803). E o ato concreto de Deus por nós foi
dar-Se todo na cruz.

Assim a teologia moral nos ensina que os ensinamentos do Senhor


devem ser praticados no cotidiano, numa teologia prática, numa
doação total a Deus nos pequenos atos como uma expressão da

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Introdução

receptividade ao Evangelho e da vontade de Deus para a humanidade.


O centro da ética e moral católica são os Dez Mandamentos.

O estudo da matéria de Teologia Moral é a mais importante na vida


prática, mas antes cabe esclarecer o que é Moralidade Cristã e para
tal recorremos a São Tomás, Doutor Angélico da Igreja.

A moralidade segundo São Tomás se refere às atividades, atos e


comportamentos que fazemos visando à felicidade, que, por sua vez,
trata-se do Sumo Bem, logo, são os atos que nos aproximam de Deus
e ainda nos tornam Seus imitadores. A moralidade é um caminho e
não um fim em si, nem possui em si mesma a felicidade, no entanto,
sem as estacas da moralidade, nos será muito difícil chegar ao Sumo
Bem.

Em nome do Senhor, o quero assim:


Nem direita, nem esquerda. À frente, sim!
Direto ao fim!
(Dominik em Kribi, no Câmeroun)

Esse caminho — o da moral — é um caminho feito de pedras, tais


pedras, por sua vez, são as chamadas virtudes. As virtudes aproximam
cada ser humano de sua verdadeira identidade como pessoa única e
irrepetível, dotada de razão, enquanto os vícios levam-na a perda da
identidade pessoal (e social) e por fim ao animalesco.

“Todavia, as moléculas da perversidade moral turbilhonam também,


e numerosas, em torno do nosso “eu” consciente e muitos jovens

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perturbam a cristalização das suas qualidades espirituais por


suas quedas e recaídas morais contínuas. As quedas morais, meu
filho, atraem naturalmente as moléculas do mal, e as suas vítimas
se tornam muitíssimas vezes “cristais deformados”, isto é, seres
pervertidos” (Dom Tihamer Toth)

Portanto, a moralidade é a proteção, que o cristianismo se esforça


em manter, contra a perda da identidade humana e da queda dos
homens no precipício da irracionalidade.

A moralidade, os atos e comportamentos, devem ser matéria de


edificação pessoal e social; é a vida ética vivenciada em seu sentido
mais elevado; dessa forma ela não deve ser rebaixada a uma casuística
(que depende de casos particulares).

A Teologia Moral como ensina muitos doutores da Igreja são princípios


universais para a vivência das virtudes cristãs no cotidiano. E dentre
os seus Doutores nesse assunto estão: São Tomás de Aquino, Santo
Afonso Maria de Ligório e São Francisco de Sales.

As abordagens pouco claras a esse respeito, que dispensam tais


doutores e toda a Tradição da Igreja; torna a vivência das virtudes,
como nos pede a Igreja em seu Catecismo, praticamente inexistente.
Ou seja, para alguns: nada é exigido, nada é ruim, tudo depende do
ponto de vista, tudo depende do coração da pessoa.

Em segundo lugar, cabe dizer sobre a responsabilidade da mulher em


tal dinâmica. O ser humano em sua feminilidade, ou seja, a mulher, é

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Introdução

responsável por transmitir e manter os valores morais na sociedade.


Dessa forma vemos a amplitude das alterações referente à vivência
e entendimento da feminilidade, que não mais se importa em ter sua
característica mais nobre esquecida e vilipendiada, que é, a saber:
que toda mulher é conservadora, ou seja, uma guardiã da moralidade,
esta como sendo a estrada para o Sumo Bem e para uma sociedade, de
fato, humana, por ter diante dos olhos o Divino.

“O homem empenha suas aptidões em suas obras, já a mulher não


empenha as suas: transmite-as. O homem consome e esgota-se em
suas obras, entrega-se cada vez que exerce seus talentos; a mulher
entrega os talentos propriamente ditos, entrega-os a geração que
sobe. Assim, a doação da mulher é igual à do homem; só que – e
nisso encontramos um dos temas favoritos da nossa época – ela
não se desempenha em benefício da própria mulher, e sim em
beneficio de seus descendentes” (Gertrud Von Le Fort)

No entanto, vemos que mesmo possuindo tão elevada missão a


maioria das mulheres não a desempenha. A moralidade está há muito
enfraquecida e esquecida; não mais lhe dão a devida importância e
desse esquecimento — mesmo nos meios religiosos — se deve boa
parte das derrotas atuais em relação à defesa da vida e da dignidade
humana.

“... a mulher, considerada na sua significação simbólica, é destinada


especialmente aos valores religiosos”.

“Os símbolos são signos ou imagens mediante os quais as realidades

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e as essências metafísicas não são conhecidas abstratamente, mas


completadas em figura. São, no visível, a linguagem do invisível.

...pois é das fontes escondidas que nascem as ações decisivas!”

(Gertrud Von Le Fort)

A moralidade é o que dá o tom da sociedade e tal missão é feminina,


assim, ao mesmo tempo em que a feminilidade foi deturpada pelo
feminismo, foi também agredida a base moral da sociedade, já que
aquelas que são responsáveis naturalmente pela sua transmissão e
preservação estavam determinadas a esquecê-la e, caso falhassem,
a deturpá-la; e assim aconteceu.

No entanto, tal ato não foi assim tão fácil. Não é fácil mudar a
percepção moral de uma sociedade de uma única vez, no entanto, é
possível causar uma dessensibilização gradual e constante, até que
num dado momento a percepção como que abraça outras ideias.

Para formar uma base de pensamento comum é preciso chegar


ao cotidiano das pessoas e tornar tal pensamento acessível e
completamente cotidiano. Dessa forma podemos observar que na
evangelização, desde São Paulo até os jesuítas, havia a intenção de
corrigir e formar uma base moral nas terras de missão para que o
pensamento comum — que direciona as decisões cotidianas — fosse
cristão. A cristandade se define justamente por essa realidade: uma
sociedade formada e alicerçada numa base de pensamento cristão que,
por sua vez, não existe somente no mundo das ideias, mas é concretude,

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Introdução

é uma realidade presente na vida de todos. Dessa forma podemos


vislumbrar com outros olhos as orientações morais de São Paulo
em sua Primeira Carta aos Coríntios, também chamada de a Carta
Severa; assim como, as orientações dadas pelos jesuítas nas terras
de missão que abordavam do adultério e assassinato até a forma
como o homem e a mulher deveriam se comportar. O ocidente foi
erigido, lapidado e alicerçado na base moral dada pela Igreja que,
por sua vez, se embasava nas Leis Divinas.

Nós somos fruto desse esforço e o que nos resta de percepção


moral também, mas devemos nos atentar aos esforços negativos
desencadeados já há algum tempo para destruir tal base e formar
uma nova ordem social, embasada em outros pensamentos, que
obviamente são contrários as Leis Divinas.

Existem várias linhas de ação com tal propósito, mas trataremos no


que se refere à feminilidade e aos frutos que tal deturpação, no que
se refere às virtudes, causou na sociedade.

“Nunca há de um fracasso anular nosso ardor


Nem sucesso trivial diminuir o labor.
Dum passado infecundo herdamos a desventura,
Melhoremos, por Deus!, nossa vida futura.”
(Jekai)

É de conhecimento geral que as mulheres são suscetíveis a moda.


A vestimenta é responsável por transmitir uma ideia sobre quem
as veste, sua identidade, de certa forma; no entanto, também pode

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ser utilizada para incutir algum comportamento que, por sua vez,
pode ser positivo ou negativo, usa-se tal meio com os estudantes
de medicina, enfermagem ou qualquer área da saúde, quando
lhes é orientado que vistam roupas brancas e jaleco antes de,
verdadeiramente, serem médicos, enfermeiros e etc., isso é feito
para que, de certa forma incorporem gradualmente a postura e o
comportamento compatível com o que intentam se tornar. O mesmo
ocorre com um soldado que é orientado a vestir a farda antes de saber
ao menos atirar, para que gradualmente o soldado nasça dentro dele.
Isso chama-se cognição da indumentária, hoje também usada para
que as mulheres se sintam empoderadas usando algo provocante ou
para passar uma determinada imagem numa entrevista de emprego.

Considerando o papel da indústria da moda e sua influência na


sociedade, se torna necessária a reflexão e análise de tal influência
e ainda a direção que a mesma tem encaminhado a sociedade — de
forma sutil devido a sua participação cotidiana — no que se refere à
moralidade. Este é o primeiro objetivo deste livreto.

Para isso, se faz urgente o resgate do entendimento de cada virtude


diretamente ligada a este tema, assim como o levantamento das
principais ações das feministas da chamada “revolução do vestuário”,
que determinaram parte das deturpações atualmente presentes nas
mentes de todas as moças com mais de treze anos, e por fim as
consequências pessoais e sociais de tais desdobramentos.

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Introdução

Mas, o que é Virtude?

“A virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem.


Permite à pessoa não somente praticar atos bons, mas dar o melhor
de si mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as
suas forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em
atos concretos.” (CIC 1803)

“Não foi sem grande clarividência que os latinos deram o mesmo nome
de “virtus” à virtude e a à força.” (Dom Tiahmer Toth)

Dessa forma, a modéstia é uma virtude, uma expressão externa


do que começou no interior, no entanto, também é possível
dizer que o que se expressa no exterior, se adere, pouco a
pouco, no interior.

Entretanto, é preciso lembrar, caro leitor, que uma virtude não


vem sozinha, quando puxamos o fio de uma virtude, nos vemos
normalmente soterrados pela torrente da graça e do aprendizado
de outras tantas. É sobre tal ação que me proponho a escrever de
início, descansando logo após nos pronunciamentos dos papas e dos
santos sobre o comportamento cristão.

O comportamento cristão é diferente do mundano. Deve existir


uma distinção visível entre aqueles que imitam a vida do Senhor —
que entendem que são templos do Deus Vivo na Eucaristia, Sublime
Beleza — daqueles que ainda não O conhecem — para evangelizá-los
— ou dos que O renegam intencionalmente — para combatê-los e

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reparar as suas atitudes. Cada mulher deve ter claramente diante dos
olhos que é um sinal da Sublime Beleza Divina quando vive dentro
da Santa Ordem Divina. Este, caro leitor, é o segundo objetivo deste
livreto.

Sublime beleza,
Que mitiga a tristeza,
Que é luz entre trevas,
E arauto da Realeza.

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As Virtudes
Esquecidas.
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“O heroísmo é o domínio da própria natureza e de suas más


inclinações” (Dom Tiahmer Toth)

A Virtude da Temperança.

Governanta eficaz do templo de Deus,


Que corrige, governa e aos vícios nos ensina a dizer adeus.

“A modéstia é uma união de virtudes e transparece uma pureza de


coração.” (CIC, 2520;2532). A união de virtudes citada na Santa
Doutrina refere-se principalmente a “virtude mãe” da modéstia, esta
que dá à luz a outras virtudes: a temperança. Que por sua vez é filha
da Prudência, chamada “mãe de todas as virtudes’.

A temperança é uma virtude cardeal, ou seja, [as virtudes cardeais]


“desempenham um papel de charneira. Por isso, se chamam “cardeais”;
todas as outras se agrupam em torno delas. São: a prudência, a justiça,
a fortaleza e a temperança.” (CIC, 1805)

Essas virtudes também recebem o nome de “virtudes morais”, ou


seja, “são humanamente adquiridas. São os frutos e os germes
de atos moralmente bons e dispõem todas as potencialidades do ser
humano para comungar no amor divino” (CIC, 1804).

Dessa forma, a virtude da temperança é uma virtude adquirida pelo


esforço, pelo empenho, é um fruto da dedicação em praticar atos
moralmente bons e assim também são as suas “virtudes filhas”: o

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As Virtudes Esquecidas

pudor, a modéstia, a castidade e a pureza.

A temperança nos impulsiona a corrigir, equilibrar e dominar nossos


sentimentos, emoções, temperamentos, defeitos, promove dessa
forma uma ordem interior, visando um ambiente mais agradável
e puro para receber e hospedar Jesus Eucarístico. Essa virtude
nos põe a analisar quem tem feito companhia a Jesus Eucarístico
em nós. Seria o nosso templo moradia de vendilhões? Quais os
sentimentos, emoções, vícios, maus hábitos, maus pensamentos e
maus comportamentos têm tirado a sacralidade do templo que é o
seu corpo?

Pois que essa virtude, mãe bela e exigente de outras virtudes, age
como uma governanta: instaura, mediante o esforço e a disciplina —
fortificados pela graça — a ordem no jardim de Deus que somos nós.

Assim, é possível ver com clareza as deturpações incentivadas


atualmente. Hoje, é sinal de autenticidade “falar o que dá na cabeça”,
no entanto, isso é sinal de destemperança e falta de autodomínio; não
há mérito nisso. Tal atitude, dentre tantas outras que podem servir
como exemplo, geram somente almas desordenadas, angustiadas
por seus próprios rompantes de temperamento e defeitos, sufocadas
por sua própria “autencidade”.

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A Virtude do Pudor.

O precioso se descobre no escondimento,


Mas se acaso o que é precioso sucumbiu no esquecimento,
O conhecimento de que é único e irrepetível trará novo
direcionamento.

A temperança gera a virtude do pudor, que nos orienta a filtrar


os pensamentos e sentimentos antes de falar ou agir. Também
nos mostra a beleza de guardar o que é precioso e belo em nós;
nos tira, por consequência, da tendência à exibição do corpo
indiscriminadamente como forma de auto afirmação, sinal de
autoestima ou o tão aclamado “empoderamento”. Usando a clareza
que a época exige: pouco “poder” tem uma mulher que trata a si
mesma como um “frango de padaria” e pouco honrado é um homem
que se deixa comportar como um “cachorro em frente a uma delas”.

O pudor nos leva, portanto, a um comportamento compatível com


a dignidade de um ser humano e nos tira de toda a atitude que nos
direciona ao animalesco.

“A pureza exige o pudor. O pudor é parte integrante da temperança.


O pudor preserva a intimidade da pessoa. Designa a recusa de
mostrar o que deve ficar oculto. Ordena-se à castidade e comprova-
lhe a delicadeza. Orienta os olhares e as atitudes em conformidade
com a dignidade das pessoas e com a união que existe entre elas.

O pudor protege o mistério da pessoa e do seu amor. Convida

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As Virtudes Esquecidas

à paciência e à moderação na relação amorosa e exige que se


cumpram as condições do dom e do compromisso definitivo do homem
e da mulher entre si. O pudor é modéstia. Inspira a escolha do
vestuário, mantém o silêncio ou o recato onde se adivinha o perigo
duma curiosidade malsã. O pudor é discrição.

Existe um pudor dos sentimentos, tal como existe um pudor corporal.


Ele protesta, por exemplo, contra as explorações exibicionistas do corpo
humano em certa publicidade, ou contra a solicitação de certos meios
de comunicação em ir longe demais na revelação de confidências
íntimas. O pudor inspira um modo de viver que permite resistir
às solicitações da moda e à pressão das ideologias dominantes.

Nasce com o despertar da consciência pessoal.” (CIC 2521-2525,


2533).

Assim, o objetivo para se empenhar na prática do pudor é “proteger


o seu coração”, o mistério mais íntimo da dignidade humana num
esforço para ser capaz de amar. Nasce do autoconhecimento, ou seja,
do entendimento de quem você é e do seu valor, tal descoberta revela
os belos horizontes dos planos de Deus para o homem e para mulher.

“O pudor não esconde uma coisa sem valor, mas protege algo valioso...
não tem nada a ver com beatice ou educação frustrada ... quem,
mediante palavras, olhadelas, gestos e atos, fere o sentimento
de pudor natural de uma outra pessoa, rouba-lhe a dignidade”.
(YouCat, 464)

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Existe em cada ser humano um pudor natural, facilmente visto em


uma criança que chora ao ficar despida na frente de um estranho,
ou ainda, a inibição natural que muitos possuem quando estão
expostos; segundo São Tomás “a virtude é um prolongamento do
instinto”, ou seja, desse pudor natural é possível, mediante o esforço
e educação, ver nascer uma virtude; no entanto, atualmente vemos
toda sorte de estímulos para extirpar e sufocar o pudor natural em
crianças menores de seis anos — com incentivo a roupas, músicas
e danças que remetem a sensualidade — mesmo entre os que se
intitulam religiosos.

Essa virtude nos impulsiona a purificar, regrar, educar e dominar


os sentidos para autoproteger-se, numa atitude de autorrespeito, e
também para prestar o devido respeito à dignidade de outrem.

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As Virtudes Esquecidas

A Virtude da Modéstia.

Corações dóceis procura o Amado,


Quem se deixará ser arado, regado, moldado?
Quem dará frutos para que Ele seja louvado?
Pobre Jardineiro que quase sempre é desprezado!

“Os frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo forma em


nós, como primícias da glória eterna. A tradição da Igreja enumera
doze: “caridade, alegria, paz, paciência, bondade, longanimidade,
benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência,
castidade” (Gl 5, 22-23 segundo a Vulgata in CIC 1832).

“A modéstia é uma virtude anexa à temperança, e diz respeito a todas


as ações exteriores, e — mais especificamente — a maneira e o recato
na hora de se vestir” (Santo Tomás de Aquino, A Suma Teológica de
Santo Tomás de Aquino em forma de Catecismo. Autor: Padre
Tomaz Pègues, O.P.)

A modéstia é a virtude que modera o comportamento e se refere à


vestimenta propriamente dita. Essa virtude é como que uma irmã
gêmea da virtude do pudor e a completa, por isso o Catecismo
ensina: “pudor é modéstia”, pois que uma não se apresenta sem a
outra, ambas nascem e são vividas juntas. Dessa forma, é preciso
um entendimento claro de que não existe na prática uma modéstia
somente interior (salvo o uso do termo para se referir a virtude da
humildade, que não está isenta do que se dirá, já que também é um

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ato), a modéstia em si é exterior, uma vez que você usa vestimentas


para fora e não para dentro, assim como o comportamento humano
é exterior (falar, andar, olhar, gesticular). Trata-se, portanto, do
território do fazer, do ato. Além da simples observação que toda
virtude visa a concretude em atos, como nos ensina mais uma
vez a Santa Doutrina. Portanto, não é possível viver a paciência
internamente, é preciso concretizá-la em atos, não é possível viver a
bondade internamente, é preciso concretizá-la em atos, assim como
não é possível viver a temperança, o pudor e a modéstia internamente,
é preciso concretizá-las em escolhas e atos de autodomínio, discrição,
recato, harmonia, equilíbrio, em uma só palavra: beleza.

“A beleza manifesta-se na harmonia das figuras”, nos ensina Pseudo-


Dionísio

Se não é aceitável que uma Igreja seja revestida de algo indigno


de Deus, seria aceitável que o templo do corpo humano, único e
irrepetível, seja adornado por algo indigno de Deus?

Padre Pio (sacerdote e santo da Igreja e um santo será sempre mais


relevante do que um não santo) nos ensina:

“Eu quero que todos vocês, meus queridos filhos espirituais,


combatam com o exemplo, e sem respeito humano uma santa
batalha contra a moda indecente. Deus estará com vocês e irá
salvá-los! As mulheres que procuram as vaidades do vestuário
nunca poderão vestir a vida de Jesus Cristo, perdem cada um
dos ornamentos da alma, logo que esse ídolo entra em seus

29
As Virtudes Esquecidas

corações. Cuidado com qualquer vaidade em suas roupas,


porque o Senhor permite a queda dessas almas por causa dessa
vaidade.”

Assim a virtude da modéstia está aliada a uma simplicidade que,


por sua vez, não significa desleixo e sim vestir-se conforme a sua
dignidade.

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A Virtude da Castidade e da Pureza.

Rainha das virtudes és,


Brilho especial dás,
Meta de dóceis corações és,
Mas quão rejeitada estás!

“Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? ... Qualquer
outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca
contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é templo
do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que,
por isso mesmo, já não vos pertenceis?Porque fostes comprados por um
grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.”(I Cor, 6, 15-20).

“A mulher santa e honesta é uma graça inestimável; não há peso para


pesar o valor de uma alma casta”. (Ecl 26, 19-20)

“A virtude que mais brilha no Paraíso é a pureza” (Dom Bosco)

“É o mais belo adorno da Igreja e deveria ser a mais querida dos


cristãos.” (São João Maria Vianney)

“De todas as virtudes é que nos torna semelhantes aos anjos.” (São
João Maria Vianney)

“É a vida do espírito” (Santo Éfrem, doutor da Igreja)

“A rainha das virtudes” (São Pedro Damião, doutor da Igreja)

“Por meio dela se alcançam os triunfos mais esplêndidos” (São Cipriano)

31
As Virtudes Esquecidas

“Assim essa virtude faz descer Jesus Cristo sobre a terra e eleva o
homem até o céu, pela semelhança que ela dá com os anjos, e com o
próprio Jesus” (Santo Ambrósio, doutor da Igreja).

“Ela nos faz viver da mesma vida dos anjos, a castidade de uma alma
é a um preço aos olhos de Deus maior que a dos anjos.” (São João
Crisóstomo, doutor da Igreja)

“Ó castidade, tu fazes o homem semelhante aos anjos” (Santo Éfrem,


doutor da Igreja)

“Uma alma casta é uma imagem viva de Deus sobre a terra.” (São
Cipriano)

“O homem casto difere do anjo não em razão da virtude, mas da bem-


aventurança; se a castidade do anjo é mais ditosa, a do homem é mais
intrépida” (Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Igreja).

O caminho iniciado pela virtude da temperança e suas belas filhas


nos leva ao cume do caminho das virtudes, nos dirige à rainha das
virtudes: a pureza. A castidade é uma virtude referente à continência;
realiza sua tarefa como guardiã da afetividade e da sexualidade,
auxiliando a virtude do pudor na guarda do coração, e a modéstia
na guarda do corpo, não permitindo que o templo de Deus seja
literalmente profanado por práticas sexuais — fora do matrimônio
indissolúvel, da naturalidade humana ou reduzido ao puro prazer
vicioso individual — ou por dependências afetivas que podem
desordenar toda alma e ainda direcioná-la a um uso animalesco

32
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e/ou objetivante do próprio corpo ou do corpo de outrem. Assim,


o objetivo principal da castidade é terminar o ciclo iniciado pela
virtude do pudor, que por sua vez, visa fortalecer a alma para que
esta seja capaz de amar, ao próximo e a si mesma.

A pureza, entretanto, é uma virtude que abarca o corpo e a alma,


visa remeter todo o ser à contemplação de Deus, que é Puríssimo e
Santíssimo. A castidade e a pureza são mais que continência sexual.

Mais nítido está, caro leitor, o motivo pelo qual, em uma sociedade
em que temos tanta indecência, intemperança e imodéstia, tenhamos
também tantas pessoas perdidas de si mesmas e que não sabem amar,
pois, o amor a si mesmo tornou-se egocentrismo e pauta de ideologias
que enfraquecem a alma e profanam o corpo. A castidade e a pureza
são, portanto, o refúgio das almas que por ventura se deixaram levar
por essa cascata de destruição da dignidade. Aberta está a porta para
o equilíbrio afetivo e sexual, no entanto, para atingir tal objetivo, é
preciso antes ordenar o templo de Deus pela temperança, guardar
o coração e zelar o corpo pelo pudor e pela modéstia, facilitando a
vivência da castidade e caminho para a pureza; para que se torne
real em nós o “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”, pois o
objetivo final é: nos tornarmos aptos para amar.

O que queres?
Amor?
Mas por ventura sabes amar?
Então como queres o que não sabes dar?

33
Feminismo.
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Para melhor compreensão do que se seguirá cabe uma definição do


que seria o feminismo.

O feminismo, segundo as feministas, é um movimento político,


filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres
e homens. Surgiu na Europa em meados do século XIX, como uma
consequência dos ideais propostos pela Revolução Francesa, que
tinha como lema a “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”.

Ou seja, segundo elas é somente uma luta por igualdade entre os


sexos. Na prática, na realidade concreta, que é o que importa, o
movimento possuí muitas facetas e também outras intenções
abarcadas explicitamente (pois sempre esteve lá, mas nem sempre
claramente) com o passar do tempo.

O movimento basicamente defende duas coisas:

1) Não existe mulher: a noção de mulher que temos hoje seria


algo inventado e nada teria com a biologia ou a anatomia.

Essa visão, é claro, é de difícil propagação. Afinal a realidade atesta


o oposto, a mulher existe. É muito difícil chegar para uma mulher e
dizer: “então, ser mulher não existe”, é o mesmo que dizer “você não
existe”. Então foi preciso outra abordagem, uma que favorecesse o
entendimento e que chegasse com mais facilidade nas mulheres e
principalmente, no cotidiano delas.

2) A mulher é discriminada: veja que esse discurso é


propagado pelas feministas e mantido por elas. Esse é o

35
Feminismo

principal slogan das feministas e foi justamente por meio


dele que o feminismo se propagou.

Todas as pessoas do mundo podem passar por dificuldades, mas


devido a esse discurso as mulheres adotaram uma postura de vítima
e tudo que lhes acontece é de certa forma culpa do patriarcado e
ainda chamam a isso de “empoderamento”.

Muitos dirão que a pauta defende a mulher contra a violência, que


de fato existe e falaremos sobre isso mais tarde, no entanto, um
ato violento é ruim seja contra a mulher, contra o homem, contra
a criança, contra um idoso, contra seja lá quem for. Partindo dessa
verdade, clara a qualquer mente sã, podemos nos inteirar sobre
outras pautas, abraçadas pelo movimento – nas palavras das próprias
feministas - e que possuem uma ligação profunda com o que se
seguirá.

“O mito da beleza não tem absolutamente nada haver com as


mulheres. Ele diz respeito às instituições masculinas e ao poder
institucional dos homens. As qualidades que um determinado
período considera belas nas mulheres são apenas símbolos
do comportamento feminino que aquele período julga ser
desejável. O mito da beleza na realidade sempre determina o
comportamento, não a aparência”

“A alucinação moderna que prende as mulheres, ou na qual


elas mesmas se prendem, é da mesma forma cruel, rígida e
adornada de eufemismos. A cultura contemporânea dirige

36
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a atenção para as metáforas da Donzela de Ferro enquanto


censura o rosto e o corpo de mulheres de verdade”. (WOLF,
Naomi; O mito da beleza; 1992).

“è a estilização repetida do corpo, um conjunto de atos repetidos


no interior de uma estrutura reguladora altamente rígida, a
qual se cristaliza no tempo para produzir a aparência de uma
substância, de uma classe natural de ser” (BLUTLER, Judith;
Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade,
2003).

“Com efeito, no contexto de uma política sexual, transformações


verdadeiramente revolucionárias deveriam ter influência, à
escala política, sobre as relações entre os sexos. Mas uma vez
que o statu quo do patriarcado se tem mantido tanto tempo e
com sucesso universal, nada indicava que ele pudesse evoluir.
E, contudo a situação modificou-se. Ou pelo menos começou
a modificar-se – e durante cerca de um século parecia que a
organização da sociedade estava prestes a sofrer uma revisão
possivelmente mais dramática do que qualquer outra que
tivesse já sofrido dentro do período histórico. Durante este
tempo, o patriarcado, que constituiu a principal forma de
governo, foi tão discutido e atacado que parecia condenado a
desaparecer. Ê evidente que nada disso aconteceu: a primeira
fase terminou com uma Reforma imediatamente seguida de
uma reação. No entanto, alterações consideráveis surgiram do
seu fermento revolucionário. (MILLETT, Kate; Política Sexual,

37
Feminismo

1970).

“Ter autonomia sobre o próprio corpo extrapola o tema da


reprodução e da saúde e a articulação de políticas públicas
correspondentes, e passa a se referir principalmente a um
modo de experimentação do corpo que, embora não prescinda
de transformações na política, na cultura e nas relações
interpessoais, é vivenciado como subjetivo. Assim, nas
marchas, a sensualidade dos corpos é celebrada; os padrões de
beleza feminina são questionados por corpos que reivindicam
pelos e diferentes formatos; a menstruação é positivamente
assumida. A nudez, importante instrumento de impacto nas
marchas, parece condensar a um só tempo a capacidade de
criticar as normas de gênero e de expressar este modo subjetivo
de “libertação” do corpo” (GOMES, Carla; Corpo, geração e
identidade: a Marcha das Vadias no Brasil; 2016)

“Relações livres, Casamentos abertos, Não-monogamia. Todas


essas práticas procuram reestabelecer a autonomia do indivíduo
e de seus desejos dentro de um relacionamento amoroso. Mas
voltemos para metáfora da casa. Desculpem soar cafona ou
clichê, mas casa me parece uma estrutura adequada e tão
ambígua quando o conceito de amor. Suas paredes podem ser
acolhimento ou prisão, segurança ou opressão. Então vamos
imaginar essa casa, construída sobre uma sólida fundação.
Essa fundação, fincada na terra, é o patriarcado. Antiga,
dura, parece indestrutível. As paredes são os modos como nos

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relacionamos... A mim, a única atitude possível de ser tomada é


olhar com muita honestidade para as fundações dessa casa, não
importa que estilo de vida você tenha adotado. E dinamitar a
ideia de amor (pelos homens)...”(CORREA, Renata; Feminismo
e Amor, 2018).

No entanto, tais abordagens – das quais escolhi as mais amenas


— que hoje são tão amplamente aceitas — não chegaram com
facilidade nas formações das meninas, moças e mulheres. Toda a
moralidade cristã imbuída na formação do ocidente lhe servia e serve
de “obstáculo”. Dessa forma foi preciso começar um processo que
chamo de “dessensiblização” — do qual falarei mais adiante e que
ocorre em relação também a outros temas — que tem como objetivo
não a destruição total da moralidade, de uma única vez, mas causar-
lhe fissuras por onde ideias deturpadas ou contrárias podem se
fundir a outros tantos pensamentos correntes e cotidianos, fazendo
assim com que ideias destrutivas sejam propagadas como avanços.

Para tal processo foi necessário o uso da literatura, de toda sorte de


produções artísticas e cinematográficas e a moda. Com um discurso
muitas vezes calmo como um barquinho na lagoa — e esses são
os piores — os pensamentos feministas estão na mente de homens
e mulheres, mesmo naqueles que acreditam que não os tem. Essa
é a maior vitória do feminismo e a nossa maior derrota. Afinal,
enquanto esse e outros movimentos usarem o slogan da vitimização
mais poderão alavancar na propagação das verdadeiras pautas que
defendem.

39
Feminismo

“Pois minha crença é de que, se vivermos aproximadamente


mais um século – e estou falando na vida comum que é a vida
real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente
– e tivermos cada uma, quinhentos libras por ano e o próprio
quarto; se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de
escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco
da sala de estar e virmos os seres humanos nem sempre em
sua relação um com os outros, mas em relação à realidade, e
também o céu e as árvores, ou o que quer que seja, como são;
se olharmos mais além do espectro de Milton, pois nenhum ser
humano deve tapar o horizonte; se encararmos o fato, porque
é um fato, de que não há nenhum braço onde nos apoiarmos,
mas que seguimos sozinhas e que nossa relação é para com
o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos
homens e mulheres, então a oportunidade surgirá, e a poetisa
morta que foi a irmã de Skakespeare assumirá o corpo que
com tanta frequência deitou por terra.” (WOLFF, Virginia; Um
teto todo seu, 1929)

Não tenho a intenção de lhe dizer o que é a independência, por


hora. Gostaria, no entanto, que ao ler esses trechos reconhecesse o
feminismo em sua forma mais aberta e na mais sutil, disposta entre
palavras de motivação e sonhos, semeando um egoísmo ali, uma ideia
de que a realidade é apartada das relações humanas aculá, a recusa à
abnegação mais além. Mas, principalmente, é preciso notar que sua
disseminação não se deu efetivamente e até mesmo afetivamente
por livros filosóficos ou discursos, e sim pela vida cotidiana, pelos

40
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atos e comportamentos. É uma obviedade, eu bem sei leitor, mas me


parece que muitos se esqueceram.

Pois pergunto-lhe: teria existido espaço para isso se os cristãos


não vivessem esquecidos de seu papel social? Do poder dos atos e
comportamentos cristãos?

Comecemos então a pensar sobre isso.

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A Decadência
Moral da
Sociedade.
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Um país calmo e próspero. Quereis?


Queremos!
Um país sem medo e sem ladrões. Quereis?
Queremos!
Tenho aqui uns ensinos morais para lhes ajudar. Quereis?
Claro que não queremos!

“O que se costuma chamar permissividade dos costumes se apoia


numa concepção errônea da liberdade humana; para se edificar,
esta última tem necessidade de se deixar educar previamente
pela lei moral. Convém exigir dos responsáveis pela educação
que deem à juventude um ensino respeitoso da verdade, das
qualidades do coração e da dignidade moral e espiritual do
homem.” (Catecismo da Igreja Católica, 2526).

“Desde este ponto de vista não podemos deixar de condenar a cegueira


de quantas mulheres de todas as idades e condições; feitas tontas pelo
desejo de agradar, elas não veem a que nível a indecência de suas
vestes chocam a todo homem honesto, e ofendem a Deus. A maioria
delas teriam, em outras épocas, se envergonhado com esses estilos por
grave falta contra a modéstia cristã; e já não é suficiente que elas se
exibam na via pública; elas não têm medo de cruzar as portas da Igreja,
a assistir o Santo Sacrifício da Missa, e até de levar a comida sedutora
das suas paixões vergonhosas até o Altar da Eucaristia onde recebemos
o Autor celeste da pureza. E nós nem estamos falando das exóticas e
bárbaras danças recentemente importadas dos círculos fashion, cada

43
A Decadência Moral da Sociedade

uma mais chocante que a outra; não podemos imaginar nada mais
apropriado para banir o que resta da modéstia.” (Papa Bento XV em
1922 na sua Encíclica Sacra Propediem)

“Eis, você, mais além,


Coração ainda em flor!
Fosses um contra cem!
Deves ser vencedor!”
(Goethe)

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Em - ponderamento¹

A Exposição do Corpo

“A alma vale mais que o corpo. Aprenda a ser mais sábia.”


Dom Giuseppe Tomaselli

O catolicismo é concretude. Para nós as decisões tomadas possuem


uma importância radical quanto à direção e o sentido da nossa
existência. Assim, cada escolha deve ser guiada pelo bom senso e,
logo depois, pela coerência. “A mulher santa e honesta é uma graça
inestimável; não há peso para pesar o valor de uma alma casta”.
(Ecl 26, 19-20)

“Que me importa o artifício enganoso do mal,


Seu canto lisonjeiro e sua vil sedução?
Eu trago a cruz na fronte altiva de ideal
E o fogo dessa cruz, dentro em meu coração” (Eichert)

A falta de coerência nos transforma em almas fracas, de pouca fibra


moral e religiosa, areias que se movem de acordo com a menor
mudança nos ventos, instáveis, volúveis e, dessa forma, incapazes
de arcar com a responsabilidade do termo “ser cristão”.

Quantas coisas que hoje nos causam tantos desgostos tiveram sua
origem em pequenas atitudes alimentadas com a frase “não precisa
disso”. A inconstância gera um coração de pedra e a incoerência
gera um falso cristão.

[1] ponderar: ação de ponderar; fazer a avaliação, a análise de algo; refletir,


pensar muito a respeito de.
45
A Decadência Moral da Sociedade

Imodéstia como Recreação

Depois de tudo que vimos e ainda veremos, fica evidente que as


“vestimentas” como o biquíni, maiô ou sunga, não cabem a prática
do pudor, da modéstia e da pureza; e se a modéstia e a pureza são
frutos do Espírito Santo, a imodéstia e a luxúria são frutos de Satanás.

Vejo-me impossibilitada de simplesmente amenizar esta abordagem,


porque seria uma inadequação com os pensamentos de Cristo.

“O gesto exterior nunca é insignificante; emanando da substância


das coisas, exprime-lhes a essência. Encaradas sob este ângulo, certas
modas são ignóbeis traições: desnudam literalmente a mulher.”
(Gertrud Von Le Fort)

Não é compatível a um cristão se expor dessa forma e isso basta,


porém duros são os corações e obscuro o entendimento, talvez
precisem de algo mais.

Pois bem! O biquíni e o maiô tem uma história que fala por si:
Ana Maria entrou na cabine
(olha lá)
E foi vestir um biquíni legal
(olha lá)
Mas era tão pequenino o biquíni
Que Ana Maria até sentiu-se mal
Ai, ai, ai, mas ficou sensacional
Era um biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho
(chocante)

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Mal cabia na Ana Maria


Biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho
(chocante)
Que na palma da mão se escondia
Ana Maria toda envergonhada
(olha lá)
Não quis sair da cabine assim
(olha lá)
Ficou com medo que a rapaziada
Olhasse tudo Tim-Tim por Tim-Tim
Ai, ai, ai, a garota tá pra mim
Era um biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho
(chocante)
...
Ana Maria olhou-se no espelho
E viu-se quase despida afinal
Ficou com rosto todinho vermelho
E escondeu o maiô no dedal
Olha a Ana Maria aí gente
Yay! Sensacional
Toda queimadinha
Preta, preta, pretinha
Preta, preta, pretinha
Preta, preta, pretinha
Preta, preta, pretinha
Eu ia lhe chamar
Enquanto corria a barca (3X)
Era um biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho
(chocante)
...
Essa canção foi lançada originalmente em 1960, 14 anos depois da
criação do biquíni na França, pelo engenheiro francês Louis Réard,

47
A Decadência Moral da Sociedade

que trabalhava na loja de lingerie de sua mãe. A música mostra o


confronto entre o pudor natural e a tendência da moda, a moça sente
vergonha, mas existem várias ideias que a influenciam - demonstradas
nas expressões “olha lá”, “chocante”, “aí, mas ficou sensacional”, “eu
ia te chamar enquanto corria a barca”, “toda queimadinha” - , ou
seja, no início a moça está em um dilema interior – pudor natural
- e, por fim, constata que está nua. A música original em inglês diz
que ela saiu enrolada em uma toalha enquanto os outros diziam que
ela estava queimada.

Sem a proteção da modéstia, o pudor é ferido e o coração e o corpo


ficam a mercê dos olhos e da cobiça dos outros. Não lhe parece
familiar, caro leitor? No Gênesis – lembras? – também Adão e Eva
se viram nus, também eles já não se viam com a pureza de antes.

O nome biquíni deriva do teste nuclear, o Atol de Bikini. O estilista


previa que a reação do público seria similar a uma bomba atômica
e assim foi.

Seu projeto tinha o objetivo de expor o umbigo pela primeira vez


e ainda a exigência de que a peça deveria passar por dentro de um
anel de casamento. A nova peça era tão escandalosa na época que o
estilista-engenheiro precisou contratar uma dançarina de striptease
para desfilá-lo, já que nenhuma modelo francesa aceitou o trabalho.

Antes da invenção dos biquínis, as peças de banho eram inteiras,


similares aos macacões de natação de hoje — e se voltarmos ainda mais
no tempo, eram similares a uma camisola somada a uma carruagem

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que levava a moça até a água e ninguém a via —, no entanto, dos


primeiros, já é possível encontrar diversos textos e pronunciamentos
da Igreja e dos Santos dessa época, entre 1945 e 1960, que condenam
essa exposição que hoje seria vista como decente, no entanto, não
é. A realidade é a que a moral decaiu tanto que o ruim passou a ser
bom quando comparado com micros pedaços de pano ou o nudismo.

Hoje vamos à praia e vemos todas as mulheres usando biquíni, mas


ele não foi uma peça de sucesso instantâneo — graças aos valores
morais vivos na sociedade — nos Estados Unidos era visto como
uma peça usada somente por mulheres vulgares. Em 1957, a revista
feminina Menina Moderna nos EUA, escreveu que “não era necessário
nem mesmo gastar tempo falando sobre o tal biquíni, pois nenhuma
garota com o mínimo de decência iria jamais usar uma coisa dessa”.
Os escritores diziam que “o biquíni revelava tudo sobre uma mulher
menos o sobrenome de sua mãe.” Os guardas mediam os trajes de
banho e as mulheres vestindo biquíni eram expulsas da praia.

Assim podemos entender os conflitos expressos na música da Ana


Maria. Mas após 1960, tivemos a Revolução Sexual e a fortificação
do movimento feminista, alterando a visão da sociedade sobre a
vestimenta e tornando o biquíni uma peça aceitável, mesmo sendo
uma lingerie de outro tecido. Uma completa falta de lógica: ninguém
acha adequado, ainda, ir às ruas de lingerie, mas completamente
adequado ir às praias com uma lingerie de outro tecido.

Em 1965, uma mulher disse à revista Times “que era antiquado usar

49
A Decadência Moral da Sociedade

qualquer outra coisa”, em 2012, o consumo anual do biquíni atingiu


8 bilhões de dólares.

A popularidade do biquíni é atribuída ao poder das mulheres, ao seu


processo de empoderamento e não ao poder da moda.

Cabe, portanto, definir em que consiste esse “poder”.

Estudos realizados pela Universidade de Princeton, buscou analisar


as reações masculinas a nível cerebral diante de imagens de mulheres
com diversos tipos de vestimenta, os resultados apontaram que
diante de imagens de mulheres seminuas as áreas cerebrais acionadas
referiam-se ao reconhecimento de ferramentas, como chave de fenda
e martelo, ou seja, os homens viam aquela mulher como objeto e
alguns homens demonstraram atividade zero nas áreas cerebrais
responsáveis por analisar pensamentos, sentimentos e intenções de
outra pessoa. Os pesquisadores ficaram profundamente chocados,
pois, devido à própria natureza das relações humanas essa área
dificilmente fica inativa dessa forma.

Os estudos foram realizados com um fundo explicitamente feminista,


mas embora haja a tendência de manipular a interpretação dos
resultados, é difícil se abster do óbvio.

“Tecnicamente, podemos usar uma espécie de eufemismo neurológico


e dizer que o homem não tem essa atitude de uma forma premeditada.
É algo que ele não racionaliza”, afirma Susan Fiske, professora de
Psicologia da Universidade de Princeton, uma das mentoras do
experimento.
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Em um outro estudo realizado pela mesma universidade, ocorreu


que quando os homens viam imagens de mulheres em biquínis,
eles associavam a verbos de ação em primeira pessoa: “eu faço”, “eu
penso”, “eu sinto”. No entanto, quando viam imagens de mulheres
vestidas com decência, associavam a verbos em terceira pessoa: “ela
faz”, “ela pensa”, “ela sente”.

E, por fim, pesquisadores da Nathional Geographic concluíram que


os biquínis realmente incentivam os homens a verem as mulheres
como objetos, como algo a ser usado e não alguém para se relacionar.

Portanto, o biquíni e toda vestimenta que deixa a mulher seminua e


dá sim um poder às mulheres: o de transformar os homens em animais
e a si mesmas em objeto sexual.

Não é de se admirar, portanto, que muitos homens dentro ou fora


dos ciclos cristãos deem mais importância ao carro, ou a moto, do
que a própria mulher. Uma mulher que se deixa ver como objeto
será tratada como objeto.

Surpreendentemente e comicamente, tal tema — a degradação


da mulher por ela mesma — também se tornou objeto de estudo
do mesmo grupo que, mesmo com suas ideias feministas, está
trabalhando para entender o motivo que leva as mulheres a aceitarem
serem tratadas como objeto por “pessoas próximas”, “qual o motivo
que as leva a ter uma atitude tão ‘sexista’?”, perguntam-se esses
espantados cientistas americanos.

51
A Decadência Moral da Sociedade

Ora! A carência, obviamente. É o único resultado real de toda


essa exposição indiscriminada. As mulheres adoeceram em sua
afetividade, por sua própria responsabilidade. E com ela, a sociedade.

Em um estudo publicado pela Psychology of Women Quarterly em


2011, um grupo de 63 mulheres e 83 homens foi colocado diante
de “um olhar objetivador”. A conclusão foi: “como hipotetizado, o
olhar objetivador causou decréscimos no desempenho de matemática
das mulheres, mas não dos homens. Curiosamente, o olhar objetivador
também aumentou a motivação das mulheres, mas não dos homens,
para se engajar em interações subsequentes com seus parceiros.”
E continua: Finalmente, o olhar objetivador não influenciou a
vigilância corporal, a vergonha do corpo ou a insatisfação
corporal para mulheres ou homens... como resultado, o olhar
objetivador pode desencadear um ciclo vicioso no qual as mulheres
têm um desempenho inferior, mas continuam a interagir com
as pessoas que as levaram a ter um desempenho inferior...
Implicações para as consequências a longo prazo do olhar objetivador
e direções para pesquisas futuras são discutidas.”

O problema desses estudos é que, quando chegam à raiz da questão,


alteram a forma de passar os resultados, vês como dizem que o quê
levou a mulher a ter atitudes carentes foi o homem e o “seu olhar
objetivador”? Vês como incentivam a vitimização e a terceirização
da responsabilidade?

Esse não é, claramente, o poder que procuramos.

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A mulher é quem deve mostrar quem é, e como deve ser vista


desde o começo. Se o objetivo é ser vista como inteligente e capaz,
deve se comportar mais sabiamente e proteger a si mesma, elevando
assim a forma como é vista pelos outros, sejam homens ou mulheres.

Ademais, vale observar o que dois estudos dizem sobre modéstia.


Um estudo publicado pela Personality and Social Psychology Bulletin
em 2008, dizia que “pessoas modestas são descritas como humildes,
tímidas, solícitas e não arrogantes e perifericamente como honestas
e simpáticas, evitam chamar atenções, são simples e graciosas. As
concepções cotidianas de modéstia também se estendiam tanto à
mente quanto ao comportamento, enfatizavam a amabilidade
e a introversão e previsivelmente incorporavam um elemento de
humildade.” Já o estudo publicado pela Journal of Cross-Cultural
Psychology, em 2009, diz: os “aspectos comportamentais da modéstia
são identificados em três fatores: autoanulação, autoaprimoramento
e evitar a busca de atenção”.

Fica claro o grande erro escondido em se deixar levar pelas modas,


que pouco ou nada sabem sobre as nuances profundas do ser humano
e, que guiadas por ideologias, esquecem-se do valor individual e
irrepetível do ser humano.

Porém, acredito que o leitor deseja outras abordagens, outros


raciocínios sobre o tema. Assim, lhe trago o que desejam para que
possam beber de fontes mais sábias e com mais autoridade. Coloco
diante dos seus olhos pronunciamentos papais e dos santos, pois,

53
A Decadência Moral da Sociedade

a Igreja como mãe bondosa nos protege há muito tempo de tudo


isso que só recentemente pode ser visto em estudos humanos e na
realidade cotidiana.

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Referências

Christine Dell’amore, Bikinis Make Men See Women as Objects,


Scans Confirm. FEBRUARY 16, 2009. Disponível em: https://www.
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Gregg, Aiden P; Hart, Claire M; Sedikides, Constantine; Kumashiro, Madoka.


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Xiaohua Chen, Sylvia; Bond, Michael Harris; Bacon Chan; Donghui Tang;
Buchtel, Emma E. Behavioral Manifestations of Modesty. Journal of
Cross-Cultural Psychology, 07/2009, Volume 40, Issue 4. Disponível em:
https://getit.princeton.edu/go/29667

55
Pronunciamentos Papais
e Sagrada Congregação
Conciliar.
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Moda e Modéstia Pio XII

Alocução às meninas da Ação Católica, 6 de outubro de 1940.¹

Esta é a hora da juventude católica.

Se amanhã o mundo não desejar permanecer para sempre enterrado


na sombra da morte, ele terá que se ocupar em reparar as suas
perdas, reconstruir as ruínas. Nesse momento você deve colaborar,
Juventude Católica! E que maravilhosos empreendimentos
aguardam a sua colaboração! Para reconstruir a sociedade sobre uma
base cristã; para pôr em estima e honra o Evangelho e sua moral; para
renovar a vida da família, restaurando ao matrimônio a sua coroa -
sua dignidade sacramental, e ao marido e à mulher o sentido de suas
obrigações e a consciência de sua responsabilidade; para estabelecer
em toda a sociedade a noção genuína da autoridade, da obediência, do
respeito pela lei, dos direitos e deveres recíprocos do homem. Esse é o
seu amanhã.

Uma de suas grandes tarefas será a de ensinar a doutrina de Cristo.


O mundo é dominado hoje em grande parte pelo “laicismo”: a
tentativa do homem de agir sem Deus. É uma iniciativa vã e ímpia,
que assume diferentes aspectos e títulos de acordo com a variedade
de tempo e lugar: indiferença, descuido, desprezo, revolta, ódio. Este
último, o mais perverso de todos, felizmente, não é frequentemente
encontrado em famílias nutridas pelo cristianismo há séculos, mas
muitas vezes o desenvolvimento, o progresso, a difusão da ciência e

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das máquinas e os progressos no bem-estar material causaram em


muitas pessoas uma crescente indiferença para com Deus e para
com as coisas divinas.

Os homens acreditam que dependem menos diretamente de Deus,


agora que ganharam para si um padrão mais elevado de bem-estar
material aqui embaixo. Eles ingratamente esquecem que tudo o que
temos é um dom de Deus: quer se trate das forças da natureza que
eles aproveitam, quer das suas próprias faculdades intelectuais e
físicas – precisamente os instrumentos de seu sucesso e de suas
vitórias. Em outras épocas – não em si totalmente imune de falhas e
erros - uma fé religiosa penetrava e invadia o conjunto da sociedade,
especialmente a vida familiar, sendo as paredes adornadas com
o crucifixo e imagens piedosas. A literatura e a arte da casa eram
baseadas na Bíblia. As cidades, vilas, montanhas, nascentes levavam
os nomes dos santos, ao longo das vias na zona rural e em cruzamentos,
o viajante contemplava a imagem de Cristo crucificado e de Sua Mãe
Santíssima. Parecia que tudo, o próprio ar, falava de Nosso Senhor,
porque os homens viviam em contato estreito com Deus, viviam
conscientes de sua presença universal e de seu poder soberano. O sino
da igreja os acordava, convidava-os para o sacrifício divino; a oração
do Angelus três vezes ao dia, para as funções de sagrado; governava
a rotina diária de trabalho, assim como o sacerdote assegurava que o
trabalho fosse bem feito. Cada família de então possuía um catecismo,
uma história da Bíblia, muitas vezes, também, a vida dos santos para
cada dia do ano.

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Mas quantas casas existem hoje, mais ou menos desordenadas


com várias publicações, com romances e contos, mas com a falta
daqueles livros! Quantos pais não estão, justamente, ansiosos para
garantir que seus filhos aprendam bem as regras de higiene, mas
dificilmente prestam todos estes cuidados à sua educação religiosa!
Ensinando do catecismo nossos venerados predecessores muitas
vezes lamentaram publicamente o desconhecimento da doutrina
cristã e os graves prejuízos para as almas que resultam disso. Devido
a esse fato, a Ação Católica, nunca surda às palavras dos pontífices
romanos, considera como uma das suas funções essenciais, bem
como a formação religiosa e moral dos seus membros, também a
sua preparação para o ensino do catecismo: pois o catecismo é o
fundamento do conhecimento Cristão e da vida Cristã.

Aquelas jovens moças que hoje ardentemente desejam fundar uma


família cristã (e não há muitos entre vós que têm precisamente esse
desejo?) devem se preparar e treinar para ser, se não as doutoras
da religião, pelo menos as professoras. Mais do que uma de vocês,
no futuro, pode perceber que a mulher deve lembrar o seu marido,
com infinito tato, sabedoria e paciência, das verdades da fé
e dos preceitos do Evangelho. Certamente terá que fazê-lo para
seus filhos, em qualquer caso, mas não estará cheia de apreensão
ou medo desse dever, se adquiriu experiência e prática em tempo
útil, no âmbito da Ação Católica. Ensinar e instruir uma alma é
ao mesmo tempo “dar e receber”, o que corresponde vosso corpo
é templo do Espírito Santo, que habita em vós. E que Ele é dom de
Deus para vós, de forma que vós já não vos pertenceis”.²

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A consciência da habitação divina, da nossa incorporação


em Cristo, tem através dos séculos, desenvolvido um respeito
religioso para com o corpo em povos dóceis ao espírito do
Evangelho. Esse respeito se manifesta no adorno da pessoa
humana, no comportamento e na atitude, na fala sabiamente
regulamentada e cuidadosamente medida: em uma palavra,
modéstia.

O mesmo apóstolo, nos primeiros anos da Igreja, desejava que as


mulheres usassem o véu nas funções sagradas, e de novo para os
Coríntios escreveu: Julgai vós mesmos: é decente que uma mulher
reze a Deus sem estar coberta com véu? No entanto, para a mulher
é glória ter longa cabeleira, porque os cabelos lhe foram dados como
véu”.³ Este ano vocês têm dado o primeiro lugar em seus projetos
para a “grande cruzada da pureza”, a mesma pureza da qual a
modéstia é a salvaguarda. Assim como a natureza colocou em
cada criatura o instinto de autopreservação no que diz respeito à vida
da criatura e da integridade dos seus membros, assim, consciência
e graça, que não destroem a natureza, mas a aperfeiçoam, colocam
na alma, por assim dizer, um sentido que se torna vigilante contra os
perigos que ameaçam a pureza.

Essa é uma característica especialmente da jovem cristã. Lemos


na “Passio SS. Perpetuae et Felicitatis” – com justiça considerada
uma das joias mais preciosas da literatura cristã primitiva – que, no
anfiteatro de Cartago, quando a mártir Vibia Perpétua, jogada para o
alto por uma vaca selvagem, caiu no chão, seu primeiro pensamento

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e ação foi arrumar o vestido de modo a cobrir sua coxa, porque ela
estava mais preocupada com a modéstia do que com a dor.⁴

Moda e modéstia devem andar de mãos dadas como duas irmãs,


porque ambas as palavras têm a mesma etimologia: elas derivam do
latim “modus”, significando a medida certa, e qualquer desvio em
uma direção ou outra é considerada não reta, não razoável⁵. Mas a
modéstia não é algo apartado da moda. Muitas mulheres, como
pobres, tolas criaturas que perdem o instinto de autopreservação
e a ideia de perigo, e então jogam-se em incêndios e rios, têm
esquecido a modéstia cristã por causa da vaidade e da ambição: caem
miseravelmente em perigos que podem significar a morte de sua
pureza. Elas entregam-se à tirania da moda, mesmo que a moda seja
indecente, de forma a não parecer nem mesmo suspeitarem que
isso é inconveniente. Elas perderam o próprio conceito de
perigo: elas perderam o instinto de modéstia. Ajudar essas
mulheres infelizes a reconhecer suas obrigações morais será
o seu apostolado, a sua cruzada em todo o mundo: “Seja a
vossa modéstia conhecida de todos os homens”.⁶ Exemplo, seu
apostolado será realizado, acima de tudo pelo bom exemplo.
Será o dever de seu amado Presidente, de seus líderes sábios, ensinar-
lhes que antes de vocês colocarem um vestido, vocês devem se perguntar
o que Jesus Cristo iria pensar disso; eles vão avisá-las que, antes de
aceitar um convite, vocês devem considerar se o seu invisível guardião
celestial poderá acompanhá-las, sem cobrir seus olhos com suas asas;
eles vão dizer-lhes quais teatros, quais companhias, quais praias
evitar; eles vão mostrar a vocês como uma garota pode ser moderna,

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culta, esportiva, cheia de graça, naturalidade e distinção, sem ceder


a todas as vulgaridades de uma moda doentia, mas preservando
uma aparência que não tem artificialidades, assim como a alma que
essa aparência reflete, um semblante sem sombra, quer interior quer
exterior, mas sempre reservado, sincero e franco. Recomendamos,
acima de tudo, rezar para a corajosa e ativa defesa de sua pureza.
Recomendamos especialmente a devoção à Eucaristia e à Virgem
Maria Imaculada, a quem vocês estão consagradas.

Na Eucaristia vocês encontram a Deus, a pureza em si, porque Ele é


infinitamente perfeito. Quando Ele se entrega a vocês, – agrada-nos
repetir as palavras do profeta – “O trigo dará vigor aos jovens, e o
vinho às donzelas” ⁷. Nosso Senhor, “que é uma efusão da luz eterna,
um espelho sem mácula”⁸ purifique suas almas e suas faculdades,
seus corpos e seus sentidos. Quanto mais uma criatura se aproxima
de Deus, mais se une a Ele, mais pura se torna e mais ela deseja a
pureza, mais ela tende para Aquele que é o Ser puro.

Quando o Verbo desejou tornar-se carne e nascer de uma mulher,


colocou o seu olhar sobre o mais perfeito ideal de Suas criaturas: uma
moça na graça de sua virgindade. Quando essa graça foi unida por
um milagre singular à graça da maternidade divina, sua beleza era
tão sublime, que os artistas, poetas, santos aspiravam ardentemente,
mas sempre em vão, dar-lhe expressão adequada. A Igreja e os seus
anjos a saúdam com os títulos de Rainha e Mãe, inúmeros são os
títulos com os quais a piedade dos fiéis a coroou como um diadema
de um milhar de joias. Mas de todos esses títulos de glória, um é

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particularmente caro a ela, e descreve a sua perfeição: a Virgem.


Que essa Virgem das Virgens, Maria, Rainha do Santo Rosário, seja
o seu modelo e sua força durante toda sua vida como jovens
mulheres católicas e, especialmente, na sua cruzada pela
pureza.

[1] Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)
[2] I Cor 6, 15.19 [3] I Cor 11, 13.15
[4] Cf. Ed Franci de Cavalieri, 1896, p. 142-144
[5] Horace Sermones, I, 1, 106-107 [6] Fil 4, 5 N.T. No original “modestia vestra nota sit
omnibus hominibus Dominus prope”.

[7] Zac 9, 17 [8] Sab 7,26

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Alocução do Papa Pio XII às


Garotas da Ação Católica

CRUZADA PELA PUREZA¹

(Felicitações por ter começado a “Cruzada pela Pureza”)

É uma cruzada contra os que minam a moral cristã, contra os perigos


que estão criando, no fluxo tranquilo da boa moral no mundo,
poderosas ondas de imoralidade que estão inundando todo o mundo
e envolvendo todas as classes sociais. Não é apenas a Igreja que
proclama esse perigo existente hoje em toda a parte; mesmo entre os
homens que não seguem a fé cristã, aqueles que são mais perspicazes,
os mais preocupados com o bem público, têm apontado claramente os
perigos terríveis para a ordem social e para o futuro das nações. Os
incentivos à impureza, multiplicando-se continuamente, envenenam
as bases da vida. E ao mesmo tempo, a atitude indulgente, ou melhor,
a atitude negativa de uma parte cada vez maior da opinião pública,
tornando-a cega para os mais graves distúrbios morais e relaxa ainda
mais as rédeas que mantêm o mal sob controle.

A imoralidade presente é pior do que a de idades precedentes?


Seria talvez imprudente afirmar isso, e a pergunta é em todo caso
supérflua. Na sua própria época, o autor do Livro de Eclesiastes pôde
escrever: “Não digas jamais: Como pode ser que os dias de outrora
eram melhores que estes de agora? Porque não é a sabedoria que te
inspira esta pergunta. O que foi é o que será: o que acontece é o que há

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de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol”.²

Batalha Cristã

A vida do homem na terra, mesmo na época cristã, permanece


sempre uma guerra. Temos que salvar nossas almas e as almas dos
nossos irmãos. Hoje, o perigo é certamente maior, porque os meios
de excitar as paixões, anteriormente muito restritos, multiplicaram-
se enormemente. O progresso na impressão, publicações baratas e
luxuosas, fotografias, ilustrações, reproduções artísticas de todas as
formas, cores e preços; filmes, espetáculos de variedades e centenas
de outros meios apresentam secreta e discretamente as atrações do
mal, e as tornam disponíveis a todos — velhos e jovens, mulheres
e garotas. Não é verdade que está aí para todo o mundo ver uma
moda que é tão exagerada a ponto de dificilmente ser adequada a
uma garota cristã? E o cinema não apresenta agora as produções
que anteriormente eram apresentadas apenas em locais onde mal se
ousava pôr os pés?

Em face de tais perigos, em alguns países, as autoridades públicas


têm tomado medidas legislativas ou administrativas para conter a
avalanche de imoralidade. Mas essa ação externa vinda até mesmo
das autoridades mais poderosas, embora louvável, útil e mesmo
necessária, nunca pode por si só trazer os resultados na esfera moral,
que são sinceros, fecundos e curadores para a alma. Para curar a
alma, um tipo diferente de poder é necessário.

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O Dever da Ação Católica.

A Igreja deve trabalhar pela alma, e da mesma forma a Ação Católica,


a sua ação, a serviço da Igreja, em união íntima e sob a direção da
Hierarquia, lutando contra os perigos da imoralidade, lutando em
qualquer campo que esteja aberto para você: no campo da moda e
do vestuário, da saúde e do esporte, no domínio das relações sociais
e de entretenimento, suas armas serão a sua palavra, o seu exemplo,
a sua cortesia e seu comportamento; armas que põem ante os outros
um padrão de ações, que são uma honra para você e sua atividade, e
tornam este mesmo padrão possível e louvável para eles.

Não temos a intenção de pintar o triste retrato, apenas muito


familiar, dos exageros que você percebe sobre si: vestidos que
dificilmente são suficientes para cobrir a pessoa, ou outros que
parecem concebidos para enfatizar aquilo que deveria esconder;
esportes que são realizados com tais vestuários, tanto exibicionismo
e em tais companhias que são irreconciliáveis até mesmo com o
padrão menos exigente da modéstia; danças, filmes, peças teatrais,
publicações, ilustrações, decoração a partir do qual o desejo louco
de entretenimento e prazer produz graves perigos. Ao contrário, nós
temos o desejo de trazer à mente mais uma vez os princípios cristãos
para que iluminem suas decisões nesses assuntos, seus passos e guia
de conduta, e inspirem e sustentem sua guerra do espírito.

É realmente uma guerra. A pureza das almas que vivem em estado


de graça sobrenatural não é preservada, nem será preservada, sem

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luta. Felizes são vocês que têm recebido em suas famílias na aurora
da vida, do berço, uma vida mais elevada, vida divina, através do
batismo. Quando você era bebê não tinha que batalhar, inconsciente
de tal grande dom e de tal felicidade — como fazem as almas mais
maduras, mas menos afortunadas do que você — para ganhar um
tão grande bem: mas você também deve lutar para preservá-lo.

Embora o pecado original tenha sido limpo de suas almas pela ação
purificadora da graça santificante que as reconciliou com Deus,
tornando vocês filhas adotadas e herdeiras do céu, deixou em vocês
uma forma triste da herança de Adão: um desequilíbrio interior, um
conflito, que até mesmo o grande apóstolo Paulo sentia. Quando
o homem interior se alegrou na lei de Deus, sentiu outra lei, a lei
do pecado nos seus membros, a lei das paixões e das inclinações
desordenadas, nunca inteiramente sujeitadas, com a qual o anjo de
Satanás trabalha, ajudado pela carne e pelo mundo, para seduzir
as almas. Essa é a guerra do espírito e da carne, tão abertamente
atestada na revelação, que (se excetuarmos só a Virgem Maria) é
inútil pensar que pode haver uma vida humana sem o devido cuidado
e luta.

Não se engane, considerando a sua alma insensível à tentação,


invencível a atrações e perigos. É verdade que o hábito pode tornar
uma alma menos impressionável, sobretudo no caso de uma cujos
poderes são absorvidos e totalmente ocupados no exercício de
alguma atividade intelectual superior ou profissional. Mas imaginar
que todas as almas, tão propensas ao sentimento, podem tornar-

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se insensíveis às incitações provenientes de imagens que, coloridas


pela sedução do prazer, chamam e prendem a atenção, seria supor e
julgar que a cooperação no mal que os convites insidiosos encontram
no instinto da natureza decaída e desordenada poderiam cessar ou
diminuir.

O Objetivo de Ação Comum.

Essa luta inevitável você aceita com coragem e espírito cristão.


O objetivo da ação comum não pode ser a eliminação total desse
combate, mas deve ter por objetivo assegurar que esse necessário
conflito espiritual não se torne mais difícil e perigoso para as almas
pelas circunstâncias extrínsecas e pela atmosfera em que os corações
que sofrem seus ataques devem resistir e lutar. Nos campos de batalha
da Igreja, onde a virtude se opõe ao vício, você encontrará sempre os
personagens heroicos novos intrépidos, moldados por Deus: esses,
sustentados pela graça, não se abalam nem caem, não importa o
quão fortes sejam os golpes; eles podem abertamente conservar-se
incorruptos e puros no meio da sujeira que os cerca; eles são, por
assim dizer, o fermento no grão bom, e um renascimento para o maior
número de almas – esses, também, redimidos pelo sangue de Cristo,
que constituem as massas. O objetivo, então, do seu combate deve
ser o de tornar menos árdua para os homens de boa vontade
a conquista do grau de pureza cristã, a condição de salvação:
para garantir que as tentações que surgem do ambiente não
excedam os limites da resistência que, com a graça divina, a
vitalidade medíocre de muitas almas possa se opor a elas.

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Para realizar um objetivo tão santo e virtuoso, deve-se agir de


acordo com os grupos e correntes de ideias: uma tarefa na qual uma
ação conjunta pode operar com grande efeito. Desde que a união
faz a força, apenas um grupo compacto, tão numeroso quanto
possível, de espíritos cristãos resolutos e não tímidos, será capaz
de, sempre que a sua consciência exige, de lançar fora o jugo de
certos ambientes sociais, de se libertar da tirania – hoje mais
forte do que nunca – de modas de todo tipo: a moda no vestir, a
moda no comportamento e nas relações da vida.

Moderação e Bom Gosto.

O movimento da moda em si não é algo mau. Ele flui espontaneamente


da natureza social do homem, de acordo com um impulso que o
inclina a manter-se em harmonia com seus semelhantes, e com
o modo de agir das pessoas entre os quais ele vive. Deus não lhe
pede para viver fora do seu tempo, tão descuidado das exigências
de forma a tornar-vos ridículos, vestindo-se de maneira oposta ao
gosto comum e práticas de seus contemporâneos, sem considerar o
que agrada a todos eles.

Por isso mesmo o angélico Santo Tomás afirma que, nas coisas
externas que o homem usa, não há mal. Mas o mal vem do homem,
que faz uso dessas coisas sem moderação, ou de modo contrário
ao uso comum no seu ambiente, tornando-se estranhamente
em discórdia para com os outros. Ou então, usando as coisas
de acordo com o uso comum, mas na verdade com afeição

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exagerada, através do uso de muitas roupas pelo orgulho de


estar na moda ou pelo prazer, ou analisadas com um cuidado
exagerado, quando apenas humildade e simplicidade teriam
sido suficientes para garantir o decoro necessário.

E o mesmo santo Doutor vai tão longe e diz que o ornamento da


pessoa do sexo feminino pode ser um ato meritório da virtude, quando
estiver em conformidade com o estado, a posição da pessoa, e se é
feito com boas intenções, e quando as mulheres usam ornamentos
que são decentes de acordo com sua posição e sua dignidade, quando
eles são governados de acordo com os costumes de seu país. Então
ornamentar a si mesmo também se torna um ato da virtude
da modéstia, que influencia o modo de andar e de se portar, o
modo de vestir, todos os movimentos externos.

Mesmo seguindo a moda, a virtude está no meio. Aquilo que Deus pede
é recordar sempre que a moda não é, nem pode ser a regra suprema
da conduta; que acima da moda e de suas exigências existem leis
mais altas e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em
nenhum caso podem ser sacrificados ao talante do prazer ou do
capricho, e diante dos quais o ídolo da moda deve saber inclinar
a sua fugaz onipotência. Esses princípios foram proclamados por
Deus, pela Igreja, pelos santos e pelas santas, pela razão e pela moral
cristãs, assinalados limites, além dos quais não florescem lírios e
rosas, nem pairam nuvens de perfumes da pureza, da modéstia, do
decoro e da honra feminina, mas aspira-se e domina um ar malsão
de leviandade, de linguagem dúbia, de vaidade audaz, de vanglória,

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não menos de espírito que de traje. São aqueles princípios que Santo
Tomás mostra para o ornamento feminino e recorda, quando ensina
qual deve ser a ordem de nossa caridade, de nossas afeições: o bem
da própria alma deve preceder o do nosso corpo, e à vantagem
de nosso próprio corpo devemos preferir o bem da alma de nosso
próximo. Não se vê, portanto, que há um limite que nenhuma
idealizadora de modas pode fazer ultrapassar, a saber, aquele além do
qual a moda se torna mãe de ruína para a alma própria e dos outros?

O Sacrifício Exige.

Algumas jovens dirão talvez que uma determinada forma de vestuário


é mais cômoda, e também mais higiênica; mas, se constitui para a
saúde da alma um perigo grave e próximo, não é certamente higiênica
para o espírito: tem-se o dever de renunciar. A salvação da alma fez
heroínas mártires como Inês e Cecília, em meio dos tormentos e
lacerações de seus corpos virginais: e não irão vocês, suas irmãs na
fé, no amor de Cristo, na estima para virtude, encontrar no fundo de
seus corações a coragem e força para sacrificar um pouco do bem-
estar — uma vantagem física, se vocês preferem – para conservar
segura e pura a vida de suas almas?

E se, por um simples prazer próprio, não se tem o direito de colocar


em perigo a saúde física dos outros, não é talvez ainda menos lícito
comprometer a saúde, até a própria vida de suas almas? E, se como
dizem algumas mulheres, uma moda ousada não deixa nelas
impressão alguma, o que sabem elas da impressão que deixarão

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nos outros? Quem lhes assegura que outros não tirarão disto
um incentivo para o mal? Vocês não conhecem bem a fragilidade
humana, nem de que sangue de corrupção sangram as feridas
deixadas na natureza humana pela culpa de Adão com a ignorância
no intelecto, com a malícia na vontade, com a ânsia do prazer e a
debilidade para o bem, árduo nas paixões dos sentidos a tal ponto que
o homem, como cera amoldável ao mal, “vê o melhor e o aprova, e ao
pior se apega”³, por causa daquele peso que sempre, como chumbo, o
arrasta para o fundo. Ó, quão verdade seria se algumas mães cristãs
suspeitassem as tentações e quedas que causam aos outros com seus
modelos de vestidos e familiaridades em seus comportamentos, que
elas inconscientemente consideram de pouca importância: estariam
chocadas pela responsabilidade que é sua!

Ao que Nós não duvidamos de acrescentar: oh, mães cristãs, se


soubésseis que futuro de perigos e íntimos desgostos, de dúvidas
e irreprimível rubor preparais para vossas filhas e filhos, com
imprudência em acostumá-los a viver parcamente vestidos, fazendo
deles desaparecer o sentido natural da modéstia, vós mesmas
enrubesceríeis, e vos horrorizaríeis pela vergonha que causais a vós
mesmas e o dano que fazeis aos filhos que vos foram confiados pelo
céu, para que crescessem cristãmente. E aquilo que dizemos para as
mães, repetimo-lo a não poucas senhoras crentes, e mesmo piedosas,
que aceitam seguir esta ou aquela moda arrojada, e com o seu exemplo
fazem cair as últimas hesitações que retêm uma turba de suas irmãs
que estão longe daquela moda, a qual poderá tornar-se para elas
fonte de ruína espiritual. Enquanto certos modos provocantes de

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vestir permanecem como triste privilégio de mulheres de reputação


duvidosa e são quase um sinal que as faz reconhecer, não se ousará,
pois, usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como ornamentos
de pessoas acima de quaisquer suspeita, não se duvidará mais de seguir
tal corrente, corrente que arrastará talvez para dolorosas quedas”.

[1] Alocução 22 maio 1941. Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions
(1958).

[2] Eclesiastes 7, 10; 1, 9.

[3] Rm 7, 19.

Alocução do Papa Pio XII aos Delegados do Sexto Congresso Internacional de Alta Costura
(Modificação dos métodos antigos de trabalho – As repercussões nas profissões), 10 de setembro
de 1954. “Papal Teaching, The Woman in the Modern World”, St. Paul Editions (1958)

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O Vestuário pode denegrir a pessoa.

por S. S. Pio XII

Foi dito frequentemente que entre os seres vivos o homem é um


dos mais fracos, um desses que são muito privados de proteção
natural. Mas Deus lhe deu inteligência que o permite compensar
essa deficiência pelo exercício da indústria. Depende então de vós
completar, como quem diz, o trabalho do Criador, fornecendo a suas
criaturas da mesma categoria a roupa da qual elas precisam. Cristo,
fazendo um dia Seus discípulos admirarem o traje delicado de uma
flor simples dos campos, falou- lhes: “Entretanto, eu vos digo que o
próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles.”
(cf. Mt 6, 29)

Se, então, as plantas e animais são formados em cores maravilhosas


que atraem o olhar e compelem à admiração, não pode o homem, a
este respeito, imitar o Divino Artista? Indubitavelmente ele busca,
acima de tudo, proteger-se das inclemências do tempo, mas, assim
que seja possível se libertar da rotina da vida diária, ele se esforça
para se distinguir no estilo do seu vestuário por algum traço pessoal
e característico.

Além disso, o vestuário expressa visivelmente e de um modo


permanente a posição de uma pessoa. Isso varia de acordo com
sexo, idade e função social. E mostra a ligação do indivíduo com
certas classes sociais e dentro destes grupos, o que lhe confere um
status especial.
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Especialmente as roupas formais têm o objetivo de tornar visível


– através da riqueza do material e da costura impecável – a
excelência daquele que as usa. Além desse aspecto utilitário óbvio,
sua profissão tem um caráter verdadeiramente estético que garante
sua originalidade e demandas além da habilidade manual, o uso dos
dons da mente.

Essa é a razão pela qual a arte do alfaiate essencialmente escapa da


mecanização. Sem dúvida, é também necessário assegurar até mesmo
aqui uma produção intensiva que cumpre as necessidades diárias
dos maiores números. Mas o lugar de honra sempre permanecerá
com o trabalho incomum, no qual o artesão explora ao máximo as
qualidades dos materiais utilizados e emprega todos seus recursos
para realizar o ideal que ele concebeu.

É característico de uma arte buscar constantemente se renovar,


inventar formas incessantemente novas e enfatizar outros tons. É
indubitavelmente necessário satisfazer os desejos do comprador,
mas o produtor tentará chamar a atenção e solicitar o interesse dele
pela beleza e sutileza do seu trabalho. Esse esforço é completamente
justificável.

Mas, por outro lado, o espírito materialista que inspira tão grande
parte da civilização atual não poupou o campo da moda. Muito
frequentemente é visto nesse campo um luxo provocante, que ignora
toda a vergonha, só desejando lisonjear a vaidade e o orgulho. Em
vez de elevar e enobrecer a pessoa humana, às vezes o vestuário

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tende a degradá-la e humilhá-la.

Mesmo se vós não fordes responsáveis por essas manifestações


lamentáveis, não podeis permanecer indiferentes a elas. Longe de
manter a já muito forte inclinação para a imodéstia, sempre tende
o cuidado de respeitar as normas da decência e do bom gosto, de
uma elegância sensatamente entendida e perfeitamente honesta.
Em resumo, em vez de seguir a corrente materialista que está
desviando tantas pessoas hoje, deliberadamente ponde-vos ao
serviço de fins espirituais. Não é possível dividir a vida humana,
fixar certas esferas nas quais a moralidade não tem nenhuma
palavra a dizer. As roupas expressam de modo muito evidente
as tendências e gostos que uma determinada pessoa pode
vir a desenvolver no sentido de escapar de certas regras bem
claras, as quais ultrapassam e governam o simples ponto de
vista estético.

Se é necessário condenar a ostentação vã, é completamente normal


para o homem tentar enriquecer pelo brilho exterior de suas roupas
as extraordinárias ocorrências da vida e através delas mostrar os
seus sentimentos de alegria, orgulho ou mesmo tristeza. O vestuário
branco de uma criança na manhã de sua Primeira Comunhão, o de
uma jovem mulher no dia do seu matrimônio, não simbolizam o
esplendor totalmente imaterial de uma alma que está oferecendo o
melhor de si mesma?

Além disso, e de acordo com a parábola do Evangelho, a entrada no

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Reino do Céu não está reservada somente para quem usar o misterioso
vestuário de casamento que Deus requer dos que Ele chama, isto
é, uma consciência clara e pura, cujas faltas foram apagadas pela
Divina Graça que os transforma e os torna merecedores de aparecer
diante de Deus? Não há aqui um ideal moral magnífico para a sua
profissão?

Vocês trabalham imediatamente a serviço da pessoa humana, elevada


por Deus a uma dignidade incomparável quando, pela Encarnação,
Ele se tornou um membro da humanidade. Na mais humilde de suas
queridas criaturas brilha a imagem do Filho de Deus. Assim como
as mãos maternas da Virgem Santíssima se ocuparam para fazer as
roupas de Cristo – talvez até mesmo aquele traje pelo qual no Calvário
foram lançadas sortes por soldados desavisados do significado dos
seus atos – assim é a Deus quem vós continuais vestindo nos homens
de hoje. Isso não é questão de puro simbolismo.

Em uma das passagens mais solenes do Evangelho, o anúncio do


juízo final, Cristo aludiu expressamente a esse trabalho de caridade:
“Vinde, tomai posse do Reino que vos está preparado”, Ele disse aos
Seus eleitos, “porque Eu estava nu e Me vestistes”. E acrescentou,
“todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.” (cf. Mt 25, 34.36.40)

Essa passagem do Evangelho confirma-vos, cavalheiros, uma


promessa magnífica e uma grande consolação. Apesar das dificuldades
que impedem o exercício de vossa atividade profissional, não

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diminuais seus objetivos para a única questão do ganho temporal.


Sabei permanecer sempre atentos ao profundo significado de vosso
trabalho e de sua finalidade humana. Longe de impedir seu exercício,
esse ideal vos ajudará salvaguardando sua dignidade e vos fará ter
um justo orgulho da nobreza de vossa tarefa.

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O Vestir da Mulher Católica

Alocução do Papa Bento XV às Dirigentes da União


Católica Feminina Italiana

22 de Outubro de 1919

A alteração das condições dos tempos atribuiu às mulheres direitos


e deveres que a época anterior não lhes permitia. Mas nenhuma
mudança na ação dos homens e nenhuma novidade de coisas
ou acontecimentos poderão jamais afastar da família, seu
centro natural, a mulher consciente de sua missão. No coração
doméstico ela é a rainha; e mesmo quando está longe de casa, deve
encaminhar para esta não só o carinho de mãe, mas também os
cuidados de sábia regente, da mesma forma que um soberano que
esteja fora do território do seu Estado não negligencia o bem deste,
mas sempre o coloca no ponto mais elevado de seus pensamentos,
acima dos seus próprios cuidados.

Com razão, portanto, pode-se dizer que a alteração das condições


dos tempos alargou o campo da atividade feminina: àquela ação mais
íntima e estrita que ela desenvolvia entre as paredes domésticas,
sucedeu-lhe um apostolado no mundo, mas este apostolado deve
ser realizado de modo que a mulher, tanto fora como dentro de casa,
seja consciente de que sua primeira responsabilidade, ontem como
hoje, é a família. Foi com este critério que quisemos agora informar-
nos sobre o crescimento, ainda contínuo, da atividade da mulher
católica italiana. É onde aplaudimos o reafirmado propósito “de
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dedicar-se à educação dos jovens, à melhoria da família e da escola”.

Não esquecemos o direito que se pretende reivindicar à liberdade


na educação dos filhos, porque seria coisa de bárbaros sugerir que a
mãe que formou as crianças dela fisicamente tenha que manter-se
afastada do cuidado e crescimento da porção mais nobre deles.

Apressemo-nos, ao contrário, em alegrar-nos pelo propósito


que foi feito de garantir que a mulher católica sinta, além
do dever de ser irrepreensível, o dever de mostrar-se tal em
seu estilo de vestir. Tal propósito manifesta a necessidade do bom
exemplo que deve dar a mulher católica; e, oh! quão grave, quão
urgente é o dever de repudiar os exageros da moda! Isso surge da
corrupção dos seus inventores, dando uma contribuição fatal para a
grande corrupção geral dos costumes!

ALGUNS EXCESSOS

Sobre este ponto, queremos insistir de uma maneira especial,


porque, por um lado, sabemos que certos estilos de vestuário que
estão começando a ser aceitos pelas mulheres são provocadores do
mal, e por outro lado nos causa espanto ver que quem favorece o
veneno parece ignorar a sua ação maléfica, e quem incendeia a casa
parece ignorar a força destruidora do fogo. Mas somente a suposição
de tal ignorância torna explicável a infeliz extensão que teve em
nossos dias uma moda tão contrária àquela modéstia que deveria
ser o mais belo ornamento da mulher Cristã. Se ela se desse conta
do que estava fazendo, dificilmente poderia chegar ao ponto de

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entrar na igreja indecentemente vestida e apresentar-se àqueles


que são os naturais e mais credenciados mestres da moral Cristã.

O DEVER DE SE OPOR A ESTA TENDÊNCIA

Oh! Que satisfação tivemos ao perceber que as aderentes à União


Católica Feminina têm escrito no seu programa o propósito de
mostrar-se irrepreensíveis também na forma de vestir-se! Ao
fazê-lo, cumprirão, antes de mais nada, um estrito dever: o
de não dar escândalo e de não ser para outros obstáculos no
caminho da virtude. Elas também mostraram ter compreendido
que, depois de ter sido ampliada a sua missão no mundo, devem dar
bom exemplo, não só dentro de sua casa, mas também no meio das
ruas, até mesmo nas praças públicas.

É importante que a mulher Católica aceite esse desenvolvimento.


Elas devem sentir tanto uma obrigação social como pessoal neste
campo. Por isso, gostaríamos que as numerosas inscritas na União
Católica Feminina, hoje reunidas na nossa presença, realizassem
entre si uma união para combater as modas indecentes, não somente
entre si mesmas, mas também em toda a sociedade que chegue a sua
influência.

Seria desnecessário dizer que a mãe Cristã não deve nunca permitir
que as filhas cedam às falsas exigências de uma moda não
perfeitamente irrepreensível. Mas não é supérfluo acrescentar que
toda mulher de nível – e, quanto maior for a posição que ocupa, tanto
maior é o dever dela – não deve tolerar na presença dela indecência

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no modo de vestuário. Uma advertência, dada a tempo, impediria


a renovação dessa impertinência audaz, violadora dos direitos da
boa hospitalidade. E talvez o eco dessa lição, chegando aos ouvidos
daqueles que criam modas desagradáveis, induziria a não manchar-
se mais de vergonha, igual ou semelhante a que a sábia mulher teria
oportunamente reprovado. Acreditamos que essa união contra
os vícios da moda deva ser bem recebida pelos pais e esposos,
pelos irmãos e por toda a família dessas corajosas batalhadoras.
Certamente, gostaríamos que a promovessem e favorecessem,
do melhor modo possível, todos os sacerdotes a quem compete o
cuidado das almas, lá onde a moda tenha ultrapassado os limites
da modéstia… e, infelizmente, já os ultrapassou em muitos
lugares! Mas a nossa palavra seja acolhida principalmente por
vós, amadas filhas, que hoje declarastes vosso desejo de fazer
um apostolado no meio do mundo.

É este bom exemplo parte da missão educativa que compete


diretamente à mulher, tanto dentro como fora do círculo familiar.
A coragem cristã que inspira o bom exemplo entre a corrupção do
mundo, em face à expansão de modas indecentes, torna mais fácil
a missão inteira das mulheres na sociedade. O ditado popular “a
virtude inspira o respeito” é somente bom senso.

CAMPO PARA AÇÃO

Voltemos, porém, amadas filhas, ao exame, que quer ser de louvor,


das vossas intenções. Com prazer, percebemos que a União Católica
Feminina “promete especialmente dedicar-se à educação da juventude,

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à melhoria da família e da escola.” É principalmente aqui que dizemos


estar satisfeitos por terem sido atendidos os nossos desejos, pois se
tivéssemos de fazer um programa para a ação feminina, não teríamos
sido capazes de traçar regras diferentes daquelas que são orientadas
para o bem-estar da família, da juventude, da escola. E não somente
elogiamos a finalidade, mas também aplaudimos os meios que serão
usados, “levando, como já se disse muito bem, para toda a vida do
país uma visão mais clara da justiça e da caridade”. Oh! Se as novas
gerações crescessem formadas nestas virtudes e, especialmente, se
se falasse menos em teoria da justiça e da caridade e mais na prática,
os debates e as horríveis questões sociais não tardariam a ter uma
boa solução.

Para conseguir tal efeito desejável, a mulher católica deve apelar ao


dever que têm os pais de exigir uma sólida educação religiosa para
seus filhos. Ela deve apelar à obrigação que têm as autoridades civis
de não colocar aqui um obstáculo, mas acima de tudo se deve mostrar
convencida da necessidade de buscar na Igreja as mais oportunas
normas de ação para colocá-las em prática, o mais breve possível.

Mas porque grande é a necessidade do apostolado da mulher, pois a


urgência para frear o mal e para fazer florescer o bem é algo maior
do que qualquer esforço possível as criaturas, levantamos nossos
olhos para o Céu, e ao Céu, de onde nos pode vir o auxílio mais
poderoso, confiantes endereçamos a nossa prece. Ó Senhor, seja do
Vosso agrado, enobrecer com a Vossa graça os sábios propósitos
da União Católica Feminina: abençoai todas aquelas que, depois de

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os terem manifestado nobremente, devem cuidar da sua execução;


abençoai quem, com conselho ou com ação, deve promover o
desenvolvimento e assegurar a eficácia da missão confiada à mulher,
para que, assim como de um só indivíduo desviado se poderia dizer
que foi orientado a um bom caminho pela fidelidade de uma mulher,
“pois o marido infiel fica santificado por sua mulher fiel” (1Cor.
VII,14), assim possa o mesmo repetir-se a respeito da sociedade
atual que voltou ao caminho da salvação graças aos exemplos e aos
ensinamentos, em uma palavra, graças à missão da mulher católica.

Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)

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Carta da Sagrada Congregação do Concílio


aos Bispos do Mundo. [1]

15 de agosto de 1954
(A reforma da moral em ocasião do Ano Mariano)

Ninguém pode ser ignorante do fato que, especialmente durante


a estação de Verão, aqui e ali se têm visões que não podem senão
ofender os olhos e almas dos que não consideram de importância
secundária, ou que não menosprezam completamente, a virtude
cristã e a decência humana. Não só nas praias e em locais de recreação
no feriado, mas quase em todos os lugares, até mesmo nas ruas das
cidades, nos lugares públicos e privados, e quase até mesmo dentro
das igrejas, está sendo difundido um modo de vestuário indigno e
inadequado. Para a alma da mocidade, tão inclinada ao mal, há o
grande perigo de que este abuso entregue a sua inocência, o mais
precioso e mais belo ornamento da alma e do corpo, ao sopro da
morte. Os adornos da mulher, se é que podem ser chamados de
“adornos” esses modos de vestuário, “se é que pode ser chamado de
vestuário o que não protege nem o corpo nem a modéstia” [2], às
vezes são tais que parecem encorajar a lascívia em vez da modéstia.

Nós alcançamos o ponto onde tudo o que acontece na vida


pública e na vida privada, se é depravado e indecente, é publicado
descaradamente em jornais, revistas e periódicos de todo tipo. Nos
cinemas, frequentados por toda a parte como eles são, estas coisas
são exibidas ante os olhos de todos, de forma que não só a juventude
fraca e irrefletida, mas até mesmo pessoas de idade madura,
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permanecem profundamente afetadas por esses espetáculos imorais,


tão trágicos para os espíritos saudáveis. Não podem ser conhecidos
quantos males derivam disso, nem a que perigos a moralidade de
todos está exposta. Consequentemente é necessário, por um lado,
lançar uma verdadeira luz sobre isso e exortar todos à beleza da
modéstia, e por outro lado, impedir e prevenir, tanto quanto possível,
tudo que incite ao mal; e, finalmente, é necessário, até mesmo com
severidade, conduzir o mundo de volta ao caminho da virtude. O
maior dos oradores romanos, de fato, disse: “Frequentemente nós
vemos homens que não podiam ser superados por nada, mas que
cederam ante as tentações da impureza”.[3] Esse é obviamente um
problema muito sério, que não só afeta a virtude cristã, mas
a saúde, também, do corpo e o vigor do desenvolvimento da
sociedade humana. Um antigo poeta poderia afirmar justamente:
“A nudez do corpo praticada pelos homens é o começo da dissolução”.
[4]

Portanto pode ser visto facilmente que este problema não é de


interesse somente da Igreja, mas também daqueles que governam,
já que deveria ser seu desejo buscar remover o que pode debilitar
e quebrar a força do corpo e o entusiasmo para a virtude.

“Vocês acima de tudo, a quem o Espírito Santo deu poder como Bispos,
para reger a Igreja de Deus”[5], vocês, Bispos, têm que considerar
cuidadosamente este tipo de assunto, tomar sob seus cuidados e
promover com todo seu poder toda iniciativa para proteger a
modéstia e restabelecer a moralidade cristã. “Nós somos templos de

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Deus, pela presença e ação do Espírito Santo em nós; e a guardiã,


a sacerdotisa deste templo é a modéstia, que não permite que
nada impuro ou vulgar entre por medo que Deus, que mora
dentro, o abandone, ofendido por esta habitação manchada pelo
pecado”[6]. Agora, como todos podem ver facilmente, o modo atual
de vestuário entre mulheres e especialmente as meninas, constitui
uma ofensa séria contra a decência, e decência é “a companheira
da modéstia, em cuja companhia a própria castidade está mais
segura” [7]. Então é completamente imperativo prevenir e exortar,
do modo que pareça mais hábil, pessoas de todas as situações, mas
particularmente a juventude, a ficar livre dos perigos desse tipo de
vício que é, sem dúvida, diretamente oposto e potencialmente tão
perigoso aos cristãos e à virtude cívica, deixando-os disponíveis para
maiores perigos. “Quão bela é a modéstia e que pedra preciosa
ela é entre as virtudes!” [8]. Então cuidemos para não pecar
contra ela ou manchá-la, deixando-nos ser atraídos pelos vícios que
surgem com a moda, ou por outros instrumentos de sedução que
nós mencionamos acima e aos quais as pessoas decentes podem
apenas lamentar.

[1] Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)
[2] Sêneca, De Bem, 7, 9
[3] Cícero, Tusc., 2, 21.
[4] Ennius, Apud Cic. Tusc, 4, 33
[5] Atos, 20, 28.
[6] Tertuliano, De Cultu fern., 2, 1; P.L. 1, 1316.
[7] Santo Ambrósio, De Off., 1, 20; P.L. 16, 48.
[8] São Bernardo, Serm. 86 in Cant.; M. L. 183.
Papal Teaching, The Woman in the Modern Word, St. Paul Editions (1958)

Tradução: Andrea Patrícia e revisão de Mário Cesar.


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Moda Indecente Feminina.

Carta da Congregação do Concílio


Cardeal Donato Sbaretti

Por força do apostolado supremo que ele exerce sobre a Igreja


Universal por vontade divina, o nosso Santo Padre Papa Pio XI nunca
deixou de inculcar, tanto verbalmente quanto por seus escritos,
as palavras de São Paulo (1 Tm II., 9 -10), ou seja, “Mulheres…
adornando-se com modéstia e sobriedade… e professando piedade
com boas obras”.

Muitas vezes, quando a oportunidade surgiu, o mesmo Sumo


Pontífice condenou enfaticamente a forma indecente de se vestir
aprovada por mulheres e meninas católicas – cuja moda não só
ofende a dignidade das mulheres e vai contra o seu adorno, mas
conduz à ruína mundana das mulheres e meninas, e, o que é ainda
pior, a sua ruína eterna, arrastando outros miseravelmente para
baixo em sua queda.

Não é de surpreender, portanto, que todos os bispos e outros


ordinários, como é dever dos ministros de Cristo, devem, em suas
próprias dioceses, por unanimidade, oporem-se a sua licenciosidade
depravada e promiscuidade dos costumes, muitas vezes suportando
com firmeza o escárnio e a zombaria levantadas contra eles por esta
causa.

Portanto, este Sagrado Concílio, que vigia a disciplina do clero e do

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povo, enquanto cordialmente elogia a ação dos Veneráveis Bispos,


mais enfaticamente, exorta-os a perseverarem na sua atitude e
aumentar as suas atividades na medida em que permitam suas forças,
a fim de que esta doença insalubre seja definitivamente desenraizada
da sociedade humana.

A fim de facilitar o efeito desejado, esta Congregação, pelo mandato


do Santíssimo Padre, decretou o seguinte:

EXORTAÇÃO ÀQUELES COM AUTORIDADE

I. O padre da paróquia e, especialmente, o pregador, quando a


oportunidade surgir, deverá, segundo as palavras do Apóstolo
Paulo (I Tim 2,9), insistir, argumentar, exortar e ordenar que o traje
feminino seja baseado na modéstia e que o adorno feminino seja
uma defesa da virtude. Deixá-los igualmente advertir aos pais para
fazer com que suas filhas deixem de vestir trajes indecorosos.

II. Os pais, conscientes das suas sérias obrigações com relação à


educação, principalmente religiosa e moral, da sua prole, devem fazer
com que suas filhas estejam solidamente instruídas, desde a mais
tenra infância, na doutrina cristã, e eles próprios devem assiduamente
inculcar em suas almas, pela palavra e pelo exemplo, o amor pelas
virtudes da modéstia e da castidade, a partir do momento em que
sua família deve seguir o exemplo da Sagrada Família, eles devem
administrar sua casa de tal maneira que todos os seus membros
encontrem razão e incentivo para amar e preservar a modéstia.

III. Que os pais mantenham suas filhas longe do público de jogos


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e competições de ginástica, mas se as suas filhas são obrigadas


a frequentar essas exposições, deixá-los ver que elas estejam
totalmente e modestamente vestidas. Que eles nunca permitam que
suas filhas usem trajes indecentes.

IV. Superioras e professores nas escolas para as meninas devem


fazer o possível para incutir o amor à modéstia nos corações das
donzelas confiadas aos seus cuidados e exortá-las a vestirem-se
modestamente.

V. As Superioras mencionadas e professores não devem receber


em suas faculdades e escolas meninas vestidas indecentemente, e
não devem nem mesmo abrir uma exceção no caso das mães dos
alunos. Se, após a admissão, as meninas insistirem em vestir-se
indecentemente, as alunas devem ser rejeitadas.

VI. Freiras, em conformidade com a Carta de 23 de agosto de 1928,


pela Sagrada Congregação dos Religiosos, não devem receber em
seus colégios, escolas, oratórios ou recreativos, ou, no caso, uma vez
admitido, tolerar meninas que não estejam vestidas com modéstia
cristã; as Freiras mencionadas, além disso, devem fazer o máximo
para que o amor à santa castidade e à modéstia cristã possa tornar-
se profundamente enraizado no coração de seus alunos.

VII. É desejável que sejam fundadas organizações piedosas de


mulheres, que, por seus conselhos, exemplo e propaganda combatam
o uso de vestuário inadequado à modéstia cristã, e promovam a
pureza dos costumes e a modéstia no vestir.

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VIII. Nas associações de mulheres piedosas, aquelas que se vestem


sem modéstia não devem ser admitidas como membros, mas se, por
acaso, elas forem recebidas, e depois de terem sido admitidas, caiam
novamente no erro, devem ser demitidas imediatamente.

IX. Donzelas e mulheres vestidas indecentemente devem ser


impedidas de receber a Comunhão e de atuar como madrinhas
dos sacramentos do Batismo e da Confirmação, e, além disso,
se o delito for extremo, podem mesmo ser proibidas de entrar na
igreja.

X. Em tais festas ao longo do ano, são oferecidas oportunidades


especiais para inculcar a modéstia cristã, especialmente nas
festas da Virgem Maria, os pastores e sacerdotes que têm a seu
cargo as uniões pias e associações de devotos católicos não devem
deixar de pregar um sermão em tempo útil sobre o assunto, a fim de
encorajar as mulheres a cultivar a modéstia cristã no vestuário. Na
festa da Imaculada Conceição, orações especiais serão recitadas
todos os anos em todas as igrejas catedrais e paróquias, e quando
for possível deve existir uma exortação oportuna por meio de um
sermão solene ao povo.

XI. O Conselho Diocesano de Vigilância, mencionado na declaração


do Santo Ofício, em 22 de março de 1918, pelo menos uma vez por
ano trata especialmente das formas e meios de prover efetivamente
a modéstia na vestimenta das mulheres.

XII. Para que esta ação salutar possa prosseguir com maior eficácia

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e segurança, Bispos e outros Ordinários dos lugares serão a cada


terceiro ano, juntamente com o seu relatório sobre a instrução
religiosa mencionada no Motu Proprio, Orbem Catholicum de 29
de junho de 1923, informar também a esta Sagrada Congregação
sobre a situação no que se refere ao vestuário da mulher, e sobre as
medidas que foram tomadas nos termos desta Instrução.

Cardeal Donato Sbaretti, Prefeito

Congregação do Conselho

Roma, 12 de janeiro de 1930

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Pronunciamento
dos Santos.
Pronunciamento dos Santos

Decência dos Vestidos

São Francisco de Sales, Doutor da Igreja

São Paulo quer que as mulheres cristãs (o que há de entender-se


também dos homens) se vistam segundo as regras da decência,
deixando todo excesso e imodéstia em seus ornatos. Ora, a decência
dos vestidos e ornatos depende da matéria, da forma e do asseio.

O asseio deve ser geral e contínuo, de sorte que evitemos toda mancha
ou coisa semelhante que possa ofender os olhos; esta limpeza
exterior considera-se como um indício da pureza da alma, a
ponto de o mesmo Deus exigir dos seus ministros dos altares uma
pureza e honestidade perfeita quanto ao corpo.

No tocante a matéria e a forma dos vestidos, a decência só se


pode determinar com relação as circunstâncias do tempo, da
época, dos estados ou vocações, da sociedade em que se vive
e das ocasiões. É uso geral vestir-se melhor nos dias de festa, a
proporção de sua solenidade, ao passo que no tempo da penitencia,
como na Quaresma, se escusa muita coisa. Os dias de casamento
e os de luto tem igualmente grande diferença e regras peculiares.
Achando-se na corte de um príncipe, o vestuário terá mais dignidade
e esplendor do que quando se está em casa. Uma mulher pode e deve
se enfeitar melhor quando está com seu marido, sabendo que ele o
deseja; mas, se o fizesse em sua ausência, haveria de perguntar-
se a quem quererá agradar com isso. As moças se concedem mais
adornos, porque podem desejar agradar a muitos, contanto que
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suas intenções sejam de ganhar um só coração para o casamento


legítimo. O mesmo se há de dizer das viúvas que estão pensando
em novas núpcias, contanto que não queiram imitar em tudo as
jovens, porque, depois de ter passado pelo estado matrimonial e
pelos desgostos da viuvez, pensa-se que devem ser mais sóbrias
e moderadas. Para aquelas que são verdadeiras viúvas, como diz
o apóstolo, isto é, aquelas que possuem no coração as virtudes da
viuvez, nenhum adorno convém além de um ou outro, conforme
a humildade, modéstia ou devoção; se querem, pois, dar amor aos
homens, não são verdadeiras viúvas e, se não o querem dar, por que
atrair a si os olhares? Quem não quer receber hóspedes tem de tirar
de sua casa a tabuleta. Ri-se sempre dos velhos que se querem fazer
de bonitos: é esta uma fraqueza que mesmo o mundo só perdoa na
mocidade.

Conserva um asseio esmerado, Filotéia, e nada permitas em ti


rasgado ou desarranjado. É um desprezo das pessoas com quem se
convive andar no meio delas com roupas que as podem desgostar;
mas guarda-te cuidadosamente das vaidades e afetações,
das curiosidades e das modas levianas. Observa as regras da
simplicidade e modéstia, que são indubitavelmente o mais precioso
ornato da beleza e a melhor escusa da fealdade.

São Pedro adverte principalmente as moças que não usem penteados


extravagantes. Os homens de tão pouco caráter, que se divertem com
essas coisas de sensualidade e vaidade, são tidos por toda parte na
conta de espíritos efeminados. Diz-se que não se tem má intenção

95
Pronunciamento dos Santos

nessas coisas, mas eu replico, como fiz outras vezes, que o demônio
sempre tem. Para mim eu desejava que uma pessoa devota fosse
sempre a mais bem vestida duma reunião, mas a menos pomposa
e afetada, e que fosse ornada, como se lê nos Provérbios, de graça,
de decência e dignidade. São Luís resume tudo isso numa palavra,
dizendo que cada um deve vestir-se segundo o seu estado; de
modo que as pessoas prudentes e a gente de bem não possam
achar exagero algum e os jovens nenhuma falta de ornato
e decência; e no caso em que os jovens não se deem por
contentes, é preciso seguir o conselho das pessoas prudentes.

(SALES, São Francisco de. Filoteia ou a Introdução à Vida Devota. Editora Vozes, 8ª ed., 1958, p. 234-236)

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Modéstia na Santa Missa.

São Leonardo de Portomaurício

Uma mulher, que entra na Igreja com um traje espaventoso, atrai


todos os olhares, e queira Deus não atraia também os corações,
arrebatando ao Senhor as devidas adorações. Não é preciso excitar
estas pessoas a assistir todos os dias à Santa Missa; já são demais
levadas a frequentar as Igrejas. O importante será fazer-lhes
compreender com que modéstia e respeito devem portar-se na casa
de Deus, especialmente quando se celebra a Santa Missa.

Tanto mais me edificam senhoras da nobreza e princesas que só


aparecem ante aos altares, vestidas simplesmente, sem luxo nem
elegâncias refinadas, quanto me escandalizam certas pretensiosas
que, com seus penteados ridículos e ares de atrizes, assumem poses
de deusas no lugar santo. A bem-aventurada Ivete teve, certo dia, uma
visão, que devia inspirar a essas pessoas o temor respeitoso, devido
à Santa Missa. Ao assistir à Santa Missa viu essa nobre flamenga um
espetáculo terrível. Perto dela estava uma dama distinta, cujo olhar
se fixava aparentemente no altar; mas não era para seguir o Santo
Sacrifício, nem para adorar o Santíssimo Sacramento que ia receber,
e sim, para satisfazer uma paixão impura. Em volta dela estavam
um grande número de demônios que dançavam e se expandiam em
demonstrações de regozijo. Quando ela se levantou para se dirigir
à mesa sagrada, uns lhe seguraram a cauda do vestido, outro lhe
ofereceu o braço enquanto outros lhe faziam cortejo e serviam-lhe

97
Pronunciamento dos Santos

como a sua senhora. No momento em que o Sacerdote descia do


altar com a Santa Hóstia na mão, a fim de dar a Comunhão àquela
infeliz, pareceu a Ivete que o Salvador abandonava as santas espécies
e volvia ao Céu, repugnando-Lhe entrar num coração assim rodeado
de espíritos das trevas. Aterrorizada por semelhante cena, a bem-
aventurada Ivete dirigia humildes preces a Nosso Senhor. E Ele
revelou-lhe a causa, fazendo-lhe ver que aquela mulher alimentava
uma paixão desordenada por uma pessoa que se achava próxima do
altar, e que durante toda a Santa Missa, ao invés de se ocupar dos
Santos Mistérios, contemplava-a com olhares impuros, desejando
antes lhe agradar que agradar a Deus. Por isso, rodeavam-na os
demônios, e faziam-lhe o cortejo.

Dir-me-eis que não sois do número dessas infelizes criaturas, e eu


creio de boa vontade. Se, entretanto, ides à Igreja com certos trajes
escandalosos, mereceis todas as censuras. Transformeis o Templo
Sagrado em covil de ladrões, pois roubais a Deus a honra, pelas
distrações que provocais aos Sacerdotes, e a todo o povo. Por favor,
considerai e tomai a resolução de imitar Santa Isabel da Hungria.
Para assistir ao Santo Sacrifício retirava da cabeça a coroa, os
anéis dos dedos, depunha seus ornamentos e cobria-se com um
véu, ficando em atitude tão modesta que nunca foi vista desviar
sequer os olhos. Tudo isso agradou de tal modo a Deus, que Ele
quis manifestá-lo a todos: durante a Santa Missa, a Santa aparecia
envolta de tal claridade que se velavam de deslumbramento os olhos
dos assistentes; parecia-lhes contemplar um anjo do Paraíso. Imitai
exemplo tão ilustre, certos de que agradareis a Deus e aos homens,

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e que a Santa Missa será para vós de imenso proveito para esta vida
e para a outra.

Grande é a utilidade que se aufere da assistência à Santa Missa, o que


acaba de ser demonstrado. Muitas vezes, porém, há impossibilidade
para certas pessoas, ou mesmo inconveniência de ir à Igreja todos
os dias. Que sucederia, no entanto, se fôsseis à Santa Missa para vos
entregardes à tagarelice, à curiosidade, às distrações voluntárias, e
voltásseis com as mãos vazias? Foi o que sucedeu a uma camponesa,
que morava em uma aldeia um pouco afastada da Igreja. Querendo
alcançar uma graça importante, ela prometeu assistir à Santa Missa
durante um ano. Com esta intenção, todas as vezes que ouvia repicar
o sino anunciando a Santa Missa, em alguma Igreja dos arredores,
largava imediatamente seu trabalho e punha-se a caminho sem
atender sequer às inclemências do tempo. De volta a casa, para
não perder a conta das Santas Missas assistidas, que tencionava
completar, exatamente conforme se impusera, depositava cada vez
uma fava em uma caixa cuidadosamente guardada. Passou-se o ano,
e ela, certa de ter cumprido a promessa e alcançado muitos méritos,
foi abrir a caixa. Ora, de tantas favas que ajuntara, só encontrou
uma. Surpreendida e consternada, invadiu-a um grande pesar, e
dirigiu-se a Deus, dizendo-Lhe lacrimosa: “Ó Senhor, como é possível
que, de tantas Santas Missas que participei, só uma se encontre de
sobra? Nunca faltei, a despeito do esforço a fazer, do mau tempo,
da chuva, do frio e do caminho ruim!”. Deus então, lhe inspirou
a ideia de contar sua infelicidade a um piedoso Sacerdote muito
prudente. Este lhe perguntou de que modo ia ela à Igreja, e com

99
Pronunciamento dos Santos

que devoção assistia ao Santo Sacrifício. Então ela disse-lhe que, no


caminho, só falava de negócios ou de diversões, e passava o tempo
dos Divinos Mistérios a tagarelar com um e outro, tendo o espírito
ocupado exclusivamente com sua casa e seus campos. “Aí está”, lhe
disse o Padre, “o motivo de nada restar dessas Missas. A tagarelice,
a curiosidade, as distrações voluntárias vos roubaram todo o mérito.
Satanás vo-lo roubou. Por isso, vosso Anjo fez desaparecer as favas,
para vos mostrar que as obras mal feitas, ficam perdidas. Dai graças
a Deus porque, pelo menos, uma das Santas Missas, foi bem assistida
e vos trouxe frutos”.

Fazei agora uma reflexão bem séria e dizei: Quem sabe, de tantas
Santas Missas a que tenho assistido em minha vida, quantas foram
agradáveis a Deus? Que vos responde a consciência? Se vos parece
que bem poucas dessas Santas Missas são dignas de mérito aos olhos
de Deus, remediai esta situação e emendai-vos sinceramente para
o futuro. Mas se, o que não queira Deus, sois do número dessas
infelizes, asseclas dos demônios, que vão à Igreja ajudá-los a arrastar
ao inferno, ouvi uma história apavorante e tremei! Conta-se que
certa mulher, tendo caído em grande miséria, errava em extremo
desespero, num lugar solitário. Apareceu-lhe satanás e disse-lhe, que
se ela quisesse distrair as pessoas na Igreja, por meio de conversinhas
e falatório inútil e inconveniente, ele a tornaria rica como nunca. A
miserável mulher aceitou a proposta e pôs-se a executar o diabólico
ofício, alcançando plenos resultados: agia e falava de tal maneira
que ninguém perto dela podia assistir atentamente à Santa Missa,
nem a outras cerimônias. Não durou muito, porém, que não pesasse

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sobre ela a mão de Deus. Certa manhã desencadeou-se terrível


tempestade e um raio certeiro fulminou-a, reduzindo-a a cinzas.
Ó mulheres, aprendei à custa de outrem, e fugi das pessoas que
por suas tagarelices e irreverências nas Igrejas, exercem o ofício de
ministros de satanás, se não quereis incorrer também na cólera de
Deus.

Livro: “AS EXCELÊNCIAS DA SANTA MISSA”, de São Leonardo de Porto Maurício.

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O Valor do Pudor.

Dom Tihamer Toth

Talvez venham a zombar da tua atitude reservada, por não te sentires


à vontade no meio de conversas indecorosas e de corares logo que
ouvires uma palavra imprópria.

Meu filho, orgulha-te disso! Orgulha-te de poderes corar!

O pudor em nós não é “criancice”, “ingenuidade”, “hipocrisia” –


como eles dizem, – senão um ato de valor incalculável, uma arma
recebida da natureza, que defende, quase sem que o percebamos,
a parte mais nobre da nossa pessoa contra os maus pensamentos.
Para o jovem, o pudor, que defende quase instintivamente contra a
impureza a sua alma delicada, é precioso tesouro.

É um poderoso dique contra as ondas da imoralidade, que todos os


lados rebentam contra a nossa alma… Lembra-te desta bela máxima
de Santo Agostinho:

“Não odeies os homens por causa dos seus erros e das suas faltas, mas
não estimes as faltas e os erros por amor dos homens.”

É covarde quem não sabe tolerar, contra as suas convicções, algumas


contrariedades. Outrora débeis crianças, sem dizerem palavra e por
amor de Cristo, se deixaram despedaçar por animais ferozes. Aos
quatorze anos São Vito sorria ao mergulharem-no em azeite fervente
– por amor de Cristo; e aos treze anos São Pelágio suportava que

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durante seis horas lhe arrancassem os membros, um após outro –


também por amor de Cristo.

As zombarias e chalaças de teus companheiros imundos


compreendem-se muito bem. A tua presença é molesta aos que se
esponjam no esterquilínio. E como olham esses salafrários com tanta
raiva para quem não quer deitar-se junto com eles no muladar! A rã,
ainda que esteja sentada num tronco, salta sempre para o charco,
pois só ali é que se sente à vontade.

Talvez conheças esta velha máxima: “Sunt, a quibus vituperari laudari


est” - há certas censuras que para nós são o maior louvor. E podes
crer que, se o asno injuria a rosa, é porque esta não usa ferraduras.

Sempre me admirei muito de que se desse importância ao julgamento


dessas almas desviadas. Creio saberes que em Pisa, na Itália, a
torre da catedral é inclinada. Ora, se essa torre inclinada pudesse
pensar, certamente desprezaria todas as outras torres do mundo: “É
admirável que, de todas as torres, seja eu a única em boa posição!”.

Não ouviste falar no que aconteceu a uma aldeiazinha oculta na


montanha, onde todos os habitantes eram papudos em razão da água
e da vida que levavam? Certo dia, alguns turistas passaram por ali.
Apresentavam ótima saúde; entretanto, os papudos correram atrás
deles, fazendo grande alarido, rindo: “Vede só!… Homens que não
têm papo!”.

Em todas as lutas fortifica em ti esta santa resolução: quem não quer


perder o seu caráter e a dignidade da sua pessoa, tornando-se escravo

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dos instintos, não deve entregar-se aos prazeres proibidos. Quem dá


importância ao caráter e quer desenvolver harmoniosamente a sua
personalidade, cumpre que vele, como se tratasse de um tesouro,
pela sua integridade física e moral, até ao sacramento do matrimônio
(e também depois), que Deus instituiu para ele.

“É valente quem vence um leão – escreve Helder – é valente quem


submete o mundo; porém mais valente ainda é aquele que vence a si
próprio”.

O teu bigode cresce por si mesmo, as tuas pernas por si mesmas


se tornam mais compridas, mas o verdadeiro caráter viril não se
desenvolve por si próprio. Assim, também, deves lutar e arrancar
todos os dias um pedaço à tua fraqueza inata, mediante séria
abnegação e trabalho verdadeiramente consciente.

Texto retirado do livro “O brilho da mocidade”. Dom Tihamér Toth, 1965.

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O Piedoso
uso do Véu
O Piedoso Uso do Véu

Sinal do invisível no visível,


Sinal da espiritualidade feminina,
No entanto, se tornou esquecido, detestável
Isso não te diz nada coração de menina?

“Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta falta ao respeito
ao seu Senhor. E toda mulher que ora ou profetiza, não tendo coberta
a cabeça, falta ao respeito ao seu Senhor, porque é como se estivesse
rapada. Se uma mulher não se cobre com um véu, então corte o cabelo.
Ora, se é vergonhoso para a mulher ter os cabelos cortados ou a cabeça
rapada, então que se cubra com um véu. Quanto ao homem, não deve
cobrir sua cabeça, porque é imagem e esplendor de Deus; a mulher é o
reflexo do homem. Com efeito, o homem não foi tirado da mulher, mas
a mulher do homem; nem foi o homem criado para a mulher, mas sim
a mulher para o homem. Por isso a mulher deve trazer o sinal da
submissão sobre sua cabeça, por causa dos anjos. Com tudo isso,
aos olhos do Senhor, nem o homem existe sem a mulher, nem a
mulher sem o homem. Pois a mulher foi tirada do homem, porém o
homem nasce da mulher, e ambos vêm de Deus. Julgai vós mesmos: é
decente que uma mulher reze a Deus sem estar coberta com véu?
A própria natureza não vos ensina que é uma desonra para o homem
usar cabelo comprido? Ao passo que é glória para a mulher uma longa
cabeleira, porque lhe foi dada como um véu. Se, no entanto, alguém
quiser contestar, nós não temos tal costume e nem as igrejas de Deus.
Fazendo-vos essas advertências, não vos posso louvar a respeito de
vossas assembleias que causam mais prejuízo que proveito.” (I Cor
11, 4-17)

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Como se vê a discussão em relação ao uso do véu é antiga na


Igreja. No entanto, devido à falta de catequese, muitas pessoas não
entendem o que São Paulo está a explicar.

Toda a explanação do santo se baseia na glória. O homem é a glória


de Deus, a mulher é a glória do homem. Portanto, São Paulo mostra
o uso do véu como uma forma de mostrar a hierarquia que Deus
instituiu ao criar o homem e a mulher. A mulher foi criada do homem
e para o homem, é um presente de Deus, é a glória do homem.

Glória quer dizer: honra, fama e beleza.

Honra, Fama e Beleza.

A mulher é:

- A honra do homem: a honra é o princípio que leva alguém a uma


conduta virtuosa e corajosa, a mulher, portanto, leva o homem a ser
virtuoso e corajoso;

- A fama do homem: a mulher está ligada a reputação do homem,


dessa forma, de acordo com sua postura e comportamento
pode influenciar positivamente ou negativamente as atitudes
desempenhadas pelo homem em prol da sua reputação, além de
influenciar no próprio entendimento que o homem tem do que seria
uma “boa reputação”.

- A beleza do homem: a mulher é fonte de admiração, contém em


si a virtude do que é belo, inspira, portanto, o homem a contemplar
em suas atitudes, gestos e comportamento, o Puro Belo.

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O Piedoso Uso do Véu

“A Beleza Suprema não podia senão criar a beleza. Neste cosmos


tudo era apenas equilíbrio e simples reflexo da Beleza criadora. Quais
olhares podiam descobrir o Belo? Os do homem e da mulher, criados a
imagem de Deus, a quem Deus insuflou seu hálito de vida, capazes de
se maravilharem um diante do outro, num face a face que conduz ao
olhar criador que faz o outro existir. Eis a obra primordial de Deus, seu
primeiro olhar de amor: o homem elevado na beleza de Deus e, pelo
homem, todas as criaturas, feitas para ele, e ele tendo parte comum
com esse universo. Uma criação manando de mil graças.” (Cônego
Constant Tonnellier).

Desse modo, o homem tem na mulher um canal de honra, fama e


beleza, que vem de Deus. A mulher é o diadema da criação, criada
para auxiliar o homem em sua união com Deus.

Por isso, é evidente que durante um rito a mulher deva cobrir-se,


guardar-se para que somente a Honra, Reputação e Beleza de Deus
seja vista e louvada.

Ícone de Submissão

O véu é neste mundo o símbolo do metafísico. É também o da


feminilidade: todas as grandes circunstâncias da vida feminina
nos mostram a figura da mulher sob um véu. Esse véu ajuda a
compreender porque não é o homem e sim a mulher que prepara o
mundo à introdução dos grandes mistérios do cristianismo” (Gertrude
Von Le Fort)

Deus é o Criador e tudo ocorre dentro da Sua Santa Ordem. Tudo

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que vem de Deus possuí uma hierarquia, uma ordem. E é justamente


nesse argumento que São Paulo sustenta sua explicação: a Santa
Ordem. O apóstolo faz menção a isso quando diz “por causa dos
anjos”. Os puros espíritos estão divididos em hierarquias, numa
Santa Ordem diante de Deus e se alegram e até mesmo exigem que
também vivamos e expressemos a ordem estabelecida por Deus
entre nós. A obediência a essa Santa Ordem é determinante para a
saúde espiritual pessoal e comunitária.

Como vimos, a mulher foi criada do homem e para o homem, é para


ele um presente de honra, fama e beleza.

Nesse contexto é que se baseia a submissão da mulher perante o


homem.

A mulher como parte da criação deve ser submissa ao homem,


mostrando e ensinando a docilidade que todas as criaturas devem
ter diante de Deus e o homem, por sua vez, deve proteger, amar,
cuidar e defender a mulher - sendo ela a fonte de admiração mais
próxima da Beleza e da Graça - mostrando e ensinando que todos
devemos amar, cuidar e defender o que é sagrado. Nisso consiste a
complementaridade sadia entre o homem e a mulher tementes a
Deus, sua relação é uma expressão da relação entre Deus e a alma,
entre Cristo e a Igreja.

O entendimento da hierarquia estabelecida por Deus faz com


que as relações humanas afetivas sejam sadias e um reflexo
da Beleza e da Ordem.

109
O Piedoso Uso do Véu

Muitas mulheres se contrapõem ao uso do véu por asco da submissão


e por adesão a um feminismo camuflado e os homens por adesão a um
feminismo por osmose - o que é espantoso. No entanto, nada dignifica
e enaltece mais a mulher que a visão cristã da feminilidade, ou seja,
a vivência da vida como Deus estabeleceu para nós.

A mulher é o ícone da submissão, ao contemplá-la todos os homens


devem se lembrar dos altos princípios cristãos e que tudo que
fazem devem fazê-lo considerando os pensamentos de Deus. Uma
mulher usando véu é um lembrete silencioso, mas eficaz, da Beleza
e principalmente da Santa Ordem Divina, dela segundo Santo
Agostinho provêm a Paz.

Identidade Feminina

“A rejeição do véu tem um profundo simbolismo... o gesto exterior


nunca é insignificante... O abandono do véu implica sempre a destruição
do mistério feminino. Quando a mulher recusou o dom de si... se
consagrou ao mais abjeto de todos os cultos, o do seu próprio corpo, - e
isso quando a humanidade sofre uma miséria incrível- atingiu a esse
grau de decadência em que tudo perdeu de sua vocação metafísica”
(Gertrud Von Le Fort)

Seria Deus Pai capaz de rebaixar uma de suas filhas?

Ele nos fez formadoras da sociedade e canal da Beleza. Uma mulher


forte é consciente dos olhos do Pai sobre ela, de quem ela é dentro da
criação e não se deixa levar por discursos vitimizados que possuem
o único objetivo de rebaixá-la. Também não se deixa levar por uma

110
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ideia de beleza burguesa, centrada unicamente em “feminices” ou


“emperequetudes” que são inclinações do feminino mas não a sua
vivencia efetiva.

Nunca tivemos tantos discursos sobre o “poder feminino”, mas


também nunca tivemos tantas mulheres infelizes e com baixa
autoestima. Nunca tivemos tantas mendigas afetivas, muitas delas
com o discurso de “super mulher” na boca, mas no coração as
feridas de quem se deixou ser um objeto, de quem se deixou ser
um “corrimão de escada”, chamando a isso de “autenticidade” ou
guiadas pela carência e falso entendimento do que é o amor.

Mulheres que se esqueceram do fundamental: nós somos a glória do


homem.

Com mulheres que não sabem quem são, temos homens que
também não sabem quem são e uma sociedade que não sabe
quem é ou para onde vai.

Dessa forma, a sociedade é o reflexo da qualidade de suas mulheres.

E sim, a responsabilidade é nossa! Sem um discurso vitimista! Se


queremos homens decentes, temos que lutar e sermos como Deus quer
e fazer o que devemos fazer.

E quando sabemos quem somos - honra, fama e beleza do homem e


filhas de Deus - não temos qualquer repúdio em guardar nosso brilho
para deixar brilhar o Senhor a Quem servimos. E, como resultado,
os homens talvez voltem a trilhar o caminho virtuoso.

111
O Piedoso Uso do Véu

Portanto, a mulher sinaliza a submissão da criação e da Igreja


perante Deus.

Esse caráter etéreo da mulher, esse mistério é expresso no uso do


véu. Assim, vemos no uso do véu a união da consciência da
submissão e abnegação - entrega e doação que caracteriza o ser
mulher - e o mistério da feminilidade - que é ser vaso e canal da
graça de Deus. A moderna recusa ou aversão ao uso do véu, no
fundo demonstra uma aversão à submissão, à abnegação e a
graça características da feminilidade. A sua adesão por outro
lado demonstra o entendimento desse mistério que dá todo
sentido a vocação feminina, ou ao menos, deveria ser assim.

Os Anjos

Para finalizar a questão sobre a Santa Ordem estabelecida por Deus


e a submissão, São Paulo diz “por isso a mulher deve trazer o sinal da
submissão sobre sua cabeça, por causa dos anjos.”

Os anjos são criaturas, puros espíritos, que também foram criados


de forma hierárquica. Existem três hierarquias, dentro delas coros
diferentes entre si em glória e funções. Embora sejam todos puros
espíritos, não são iguais.

A mulher em sua missão, portanto, deve lembrar dessa desigualdade


estabelecida por Deus.

Sim! Desigualdade! Que quer dizer “que não é igual”.

“Os homens e as mulheres são seres humanos criados a imagem de


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Deus e filhos de Deus redimidos por Jesus Cristo... mesma dignidade


e mesmos direitos não significam, porém, uniformidade”
(YouCat, 401).

Desigualdade não quer dizer “abaixo”, “acima”, simplesmente quer


dizer que é diferente.

Imitamos na terra o que acontece no Céu: a Santa Ordem hierárquica


de Deus. Nós, seres humanos, imitamos os seres celestes.

Os anjos, sendo puros espíritos, se alegram quando uma alma


quer imitá-los e ainda mais, quer purificar seu coração dos olhares
externos e da admiração alheia, para que Deus seja mais amado,
adorado e servido. Também se alegram, pois, tal atitude gera
piedade e purificação em outras almas, que passam a se atentar para
a solenidade que presenciam na Santa Missa.

“Com tudo isso, aos olhos do Senhor, nem o homem existe sem a
mulher, nem a mulher sem o homem. Pois a mulher foi tirada
do homem, porém o homem nasce da mulher, e ambos vêm de
Deus.”

Após abordar sobre os anjos, São Paulo volta a falar sobre a união
entre homem e mulher na hierarquia estabelecida por Deus, mostrando
claramente que não se trata de um rebaixamento, mas de um sinal
de dignidade, ambos vêm de Deus, não podem viver um sem o
outro, a mulher foi tirada do homem e o homem nasce da mulher,
existe, portanto, como que uma exigência de complementaridade.

113
O Piedoso Uso do Véu

“Julgai vós mesmos: é decente que uma mulher reze a Deus sem
estar coberta com véu?”

Se, no entanto, alguém quiser contestar, nós não temos tal


costume... Fazendo-vos essas advertências, não vos posso louvar
a respeito de vossas assembleias que causam mais prejuízo que
proveito.”

Por fim, o santo termina dizendo que nós não temos o costume de
contestar as orientações dos Apóstolos, mas que a comunidade de
Coríntios julgasse por si mesma, se era decente esse comportamento,
baseando-se em tudo o que ele havia explicado. O que tu respondes
ao apóstolo?

Desde o princípio, a Igreja coloca como uma prática que nasce


da reflexão e da meditação sobre a criação e a vontade
de Deus, expressa em nossas obras e vestimenta. Nasce do
amadurecimento e também da boa formação cristã. Quando o
véu caiu em desuso, foi um sinal da queda dos valores cristãos
e de seu arauto (a mulher), deu-se espaço à desordem. Mas nosso
Deus é o Deus da Ordem.

O Comportamento na Santa Missa

“O martírio não é nada em comparação com a Santa Missa. Pelo


martírio, o homem oferece a Deus a sua vida; na Santa Missa, porém,
Deus dá o seu Corpo e o seu Sangue em sacrifício para os homens. Se o
homem reconhecesse devidamente esse mistério, morreria de amor. A
Eucaristia é o milagre supremo do Salvador; é o Dom soberano do Seu

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amor.” (São Tomás de Aquino)

“A Santa Missa é a obra na qual Deus coloca sob os nossos olhos todo o
amor que Ele nos tem; é de certo modo, a síntese de todos os benefícios
que Ele nos faz.” (São Boaventura)

“Todas as Missas tem um valor infinito, pois são celebradas pelo próprio
Jesus Cristo, com uma devoção e amor acima do entendimento dos
Anjos e dos homens, constituindo o meio mais eficaz, que nos deixou
Nosso Senhor Jesus Cristo, para a salvação da humanidade.” (Santa
Matilde)

São Paulo escreve em sua carta uma frase interessante “fazendo-


vos essas advertências, não vos posso louvar a respeito de vossas
assembleias”, ou seja, a forma da realização do rito na Igreja
não estava muito boa...

São Paulo explica a questão sobre “cobrir a cabeça” e logo


começa a falar sobre o comportamento do povo na Santa Missa.
As reuniões estavam causando “mais prejuízo que proveito”.

“Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando se reúne a vossa assembleia,
há desarmonias entre vós. E em parte eu acredito. É necessário que
entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os que
são realmente virtuosos.

Desse modo, quando vos reunis, já não é para comer a ceia do Senhor,
porquanto, mal vos pondes à mesa, cada um se apressa a tomar sua
própria refeição; e enquanto uns têm fome, outros se fartam. Porventura

115
O Piedoso Uso do Véu

não tendes casa onde comer e beber? Ou menosprezais a Igreja de Deus,


e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Devo
louvar-vos? Não! Nisto não vos louvo...”Eu recebi do Senhor o que vos
transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o
pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo,
que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo
modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este
cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes,
fazei-o em memória de mim. Assim, todas as vezes que comeis desse
pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha.
Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor
indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor.
Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba
desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo
do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. Esta é a razão
por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos.” (I
Coríntios 11, 20-30)

Pelo texto da Carta de São Paulo à comunidade de Coríntios, na


chamada Carta Severa, percebemos que eles tinham se esquecido
que estavam tomando o Corpo do Senhor. Iam à Santa Missa como
quem vai a um “banquete de festança” e se esqueciam do Corpo de
Cristo.

Parece-te familiar, caro leitor?

“Aquele que o come e o bebe sem distinguir o Corpo do Senhor,


come e bebe a sua própria condenação.”

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Será mesmo que, no contexto atual, podemos dizer que os fiéis sabem
o que é a Santa Missa?

A Missa é o Santo Sacrifício do Altar, é o Calvário, no entanto,


sem derramamento de sangue, chamamos a isso de “forma
incruenta”. É um milagre! Deus se faz alimento sobrenatural em
espécie natural.

“A atitude corporal - gestos, roupa - há de traduzir o respeito, a


solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso
hóspede.” (CIC, 1387)

“De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração


da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da
Presença Real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o
tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu
todo. [...] Numa palavra, é necessário que todo o modo de tratar a
Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado
por um respeito extremo.” (São João Paulo II, Mane Nobiscum
Domine, 18)

“Lembro-me de como as pessoas se preparavam para comungar: havia


esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o
cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um
pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de
almas finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor. Quando na
terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes,
música e vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que

117
O Piedoso Uso do Véu

maneira não devemos preparar-nos?” (Homilias sobre a Eucaristia,


São Josemaria Escrivá).

Não é possível se comportar de forma “não solene” na Santa Missa.


Sabendo o que é, que existem anjos, santos e o Senhor Jesus presente
realmente na Eucaristia, é impossível.

O uso do véu não é uma obrigatoriedade, mas auxilia na vivência


da fé, no resgate da feminilidade e da masculinidade segundo a
vontade de Deus, na vivência piedosa, zelosa, amorosa do Santo
Sacrifício da Missa e, por fim, é sinal visível da hierarquia da
criação e ainda da submissão, abnegação e mistério inerentes à
vocação feminina, esta que é um ícone da obediência que toda
criação deve ao Criador.

O Espírito Santo é “o Princípio de toda ação vital e verdadeiramente


salutar em cada uma das diversas partes do Corpo”. Ele opera de
múltiplas maneiras a edificação do Corpo inteiro na caridade: pela
Palavra de Deus, “que tem o poder de edificar” (At 20,32); pelo Batismo,
por meio do qual forma o Corpo de Cristo; pelos sacramentos, que
proporcionam crescimento e cura aos membros de Cristo; pela “graça
concedida aos apóstolos, que ocupa o primeiro lugar entre seus dons”;
pelas virtudes, que fazem agir segundo o bem; e, enfim, pelas
múltiplas graças especiais (chamadas de “carismas”), por meio das
quais “torna os fiéis aptos e prontos a tomarem sobre si os vários
trabalhos e ofícios que contribuem para a renovação e maior
incremento da Igreja”. (CIC, 798).

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Portanto, o véu está à disposição daquelas que, por se deixarem


edificar, edificam também a Igreja, Corpo Místico de Cristo. Todas são
chamadas à disponibilidade em Deus que consiste em se reconhecer
como morada de Deus, em abraçar a contemplação e por amor se
deixar transfigurar em um ícone que remete ao Amado, em um canal
para a luz imutável de Deus.

“Reunir’ o coração, recolher todo o nosso ser sob a moção do Espírito


Santo, habitar na morada do Senhor (e esta morada somos nós),
despertar a fé, para entrar na Presença daquele que nos espera, fazer
cair nossas máscaras e voltar nosso coração para o Senhor que
nos ama, a fim de nos entregar a Ele como uma oferenda que
precisa ser purificada e transformada.” (CIC, 2711).

“A contemplação é olhar de fé fito em Jesus. Eu olho para Ele e Ele


olha para mim”, dizia, no tempo de seu santo pároco, o camponês de
Ars em oração diante do Tabernáculo. Essa atenção a Ele é renúncia
ao “eu”. Seu olhar purifica o coração; a luz do olhar de Jesus ilumina
os olhos de nosso coração; ensina-nos a ver tudo na luz de sua
verdade e de sua compaixão por todos os homens. A contemplação
considera também os mistérios da vida de Cristo, proporcionando-nos
“o conhecimento íntimo do Senhor”, para mais O amar e seguir.”
(CIC, 2715).

“Deus fala ao homem através da criação visível. O cosmos


material apresenta-se à inteligência do homem para que leia nele os
traços do seu Criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a
terra, a árvore e os frutos, tudo fala de Deus e simboliza, ao mesmo

119
O Piedoso Uso do Véu

tempo, a sua grandeza e a sua proximidade. Enquanto criaturas, estas


realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da
ação de Deus que santifica os homens e da ação dos homens que
prestam a Deus o seu culto. O mesmo acontece com os sinais e
símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e
beber do mesmo copo podem exprimir a presença santificante de Deus
e a gratidão do homem para com o seu Criador.” (CIC, 1147-1148).

“É preciso que volte a ser claro que a ciência da liturgia não existe
para produzir constantemente novos modelos, como é próprio
da indústria automobilística (...). A Liturgia é algo diferente da
manipulação de textos e ritos, porque vive, precisamente, do que
não é manipulável. A juventude sente isso intensamente. Os centros
onde a Liturgia é celebrada sem fantasias e com reverência
atraem.” (Papa Emérito Bento XVI, livro “O sal da terra”, 1996)

Aspecto Geral

“As mulheres, entretanto, têm que cobrir suas cabeças e vestir-se com
modéstia, especialmente quando se aproximam da mesa do Senhor”
(Mulieres autem, capite cooperto et modest vestitae, maxime cum ad
mensam Domincam accedunt, Código de Direito Canônico de 1917,
cân. 1262).

Muitos alegam a questão da data, 1917, como sendo “muito antiga”


(como se isso existisse na Igreja) temos orientações gerais para as
atualizações do Código de Direito Canônico, descritas nos Códigos
mais recentes:

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“A lei posterior ab-roga ou derroga a anterior, se expressamente


o declara, se lhe é diretamente contrária, ou se reordena
inteiramente toda a matéria da lei anterior; a lei universal,
porém, de nenhum modo derroga o direito particular ou especial, salvo
determinação expressa em contrário no direito” (Código de Direito
Canônico de 1983, cân. 20, destaques nossos).

“Salva a prescrição do cân. 5, o costume contra ou à margem da lei


é revogado por um costume ou lei contrários; mas, se não fizer
expressa menção deles, uma lei não revoga costumes centenários
ou imemoriais, nem a lei universal, costumes particulares”
(Ibid., cân. 28, destaques nossos).

“O costume é o melhor intérprete da lei” (Ibid., cân. 27).

O véu caiu em desuso após a revolução sexual, mas não foi proibido
pela Santa Sé, é um costume centenário. Por dois mil anos, as
mulheres usaram véu na Igreja, assim como ensinavam os
apóstolos, não por vaidade, falsa humildade ou rebaixamento,
mas para honrar a presença do Senhor no Santíssimo
Sacramento. Não por serem santas, mas por Deus ser Santo. E assim
ainda é ensinado nas terras de missão do Oriente, por exemplo.

Não seria natural uma alma piedosa, que ama o seu Senhor, querer
honrá-lO e se apresentar de uma forma digna e que mais Lhe agrada?

Ademais, podem surgir ainda as seguintes dúvidas:

Quando posso usar o véu?

121
O Piedoso Uso do Véu

O véu deve ser usado durante toda a Santa Missa e nas ocasiões em
que Jesus Eucarístico estiver exposto (na Igreja ou na procissão de
Corpus Christi), também pode ser usado, sem a isso se obrigar, nas
orações particulares e procissões.

Qual a diferença entre o véu preto e o branco?


Nas regiões em que se celebra o rito latino (missa tridentina e paulina)
é costume o uso do véu branco pelas solteiras e do véu preto pelas
casadas ou viúvas. No entanto, nas regiões em que se celebra outros
ritos será possível observar outros costumes em relação a cor.

Posso usar somente o véu para cobrir a cabeça?


O mais indicado é sempre o véu, mas é possível usar: chapéu, xale
ou casquete. Lembrando que enfeites de cabeça (tiaras, laços, etc.)
não contam como “substitutos”. Deve-se buscar cobrir a cabeça não
adornar a cabeça.

A cor muda em solenidades, Sexta-feira Santa ou tempo


quaresmal? Ou não se usa véu nessas datas?
Visto que o uso do véu é em louvor e respeito a presença de Jesus
Eucarístico deve-se usá-lo todas as vezes em que Ele estiver presente
e/ou houver comunhão. Quanto a cor do véu, como vimos, se
relaciona com a situação da moça/mulher e não com o tempo litúrgico,
assim a cor do véu só muda caso a situação da moça/mulher mude
(casamento, no caso). Dessa forma, usa-se sempre o véu na cor
condizente com a situação da moça/mulher, independente do tempo
litúrgico.

122
salusincaritate.com

“Tenho medo de chamar a atenção e ser vista como vaidosa


ou alguém que se faz de santa”.
A modéstia é discrição, no entanto, isso não significa que carece de
beleza e a beleza atraí os olhos das pessoas e os direciona para o
que é Belo. No entanto, tal preocupação não advém, normalmente,
do desejo piedoso de ser discreta e sim do medo do que falarão ou
pensarão e isso sim é vaidade. A vaidade se alimenta dos olhos e
pensamentos de aprovação, dessa forma é sempre mais fácil, muito
mais, permanecer numa situação de espera até que os olhos de
aprovação surjam e quando lá, passar a usar o véu ou fazer qualquer
tipo de mudança. Isso sim é vaidade.

“Por favor, considerai e tomai a resolução de imitar Santa Isabel da


Hungria. Para assistir à Santa Missa, ela se dirigia com grande pompa
à Igreja. Mas, para assistir ao Santo Sacrifício retirava da cabeça a
coroa, os anéis dos dedos, depunha seus ornamentos e cobria-se com
um véu, ficando em atitude tão modesta que nunca foi vista desviar
sequer os olhos. Tudo isso agradou de tal modo a Deus, que Ele
quis manifestá-lo a todos: durante a Santa Missa a Santa aparecia
envolta de tal claridade que se velavam de deslumbramento os olhos
dos assistentes; parecia-lhes contemplar um anjo do Paraíso. Imitai
exemplo tão ilustre, certos de que agradareis a Deus e aos homens, e
que a Santa Missa será para vós de imenso proveito para esta vida e
para a outra.” (São Leonardo de Porto Maurício, franciscano, livro
Excelências da Santa Missa)

Diante dos exemplos das santas, não existe alma capaz de se

123
O Piedoso Uso do Véu

envaidecer, o que fazemos é pouco, quase nada, mas é válido se é


feito por amor a Deus e não aos homens. Não existem devoções
pequenas e grandes, existe amor grande, amor pequeno ou ainda
– Deus nos livre – nenhum amor. Os pensamentos dos homens
mudam, suas preferências também, mas Deus nunca muda, o que
Lhe agradou antes, agrada-Lhe também agora.

124
Coerência e
Concretude.
Coerência e Concretude

Todas as virtudes se mantêm mediante a aplicação continua da


coerência, dessa forma, quando tomamos uma decisão, é preciso
vislumbrar todo o seu significado e não nos contentar com o
que dizem sobre as “exigências da modernidade”. Vimos que boa
parte da ação da mulher, do seu papel, está ligado ao símbolo, à
capacidade de inspirar e de, por meio dessa inspiração, influenciar
os comportamentos de toda uma sociedade - através da pequenez
do cotidiano usado amplamente por ideologias contrárias aos
pensamentos de Cristo - munidos desse entendimento e acima de
tudo comprometidas em abraçar essa responsabilidade, que abarca
muitas vidas, será possível entender o que vem adiante.

“O gesto exterior nunca é insignificante; emanando da substância das


coisas, exprime-lhes a essência.” (VON LE FORT, Gertrud)

O Uso da Calça e a “Emancipação Feminina”

No fim do século XIX, as mulheres começaram a aderir à febre dos


esportes, dos exercícios físicos e a andar de bicicleta. Começaram,
assim, a usar um modelo de calça bem bufante, quase uma saia
bifurcada, a chamada bloomer, cujo nome foi em homenagem à
feminista Amélia Bloomer.

Essa peça que hoje é a segunda pele das mulheres e torna a todos
como que operários em uniforme nessa grande fábrica chamada
mundo, não foi bem recebida em seus primeiros anos de existência,
mostrando mais uma vez como o trabalho contra a moral cristã foi
e é uma das barreiras mais eficazes contra as feministas e todas

126
salusincaritate.com

as outras massas de manobra ideológicas. Em 1800, entrou em


vigor, em Paris uma lei que autorizava a prisão de mulheres que
usassem calças em público. Era permitido usar calças apenas com
autorização prévia da polícia. Em 1930, a lei foi aplicada pela última
vez, quando o comitê olímpico francês retirou as medalhas da atleta
Violette Morris pela insistência dela em usar calças. Em 1892 e 1909,
a lei sofreu emendas que permitiram que as mulheres usassem a
peça apenas se estivessem de bicicleta ou a cavalo. Essa lei só foi
oficialmente derrubada em 2003, curiosamente.

Apesar desses acontecimentos, a peça do vestuário masculino


não era de fato muito comum entre as mulheres, e só começou a
ser vista com frequência na primeira década do século passado.
O famoso estilista francês Paul Poiret, o maior nome da moda na
época, apresentou em seus desfiles a calça odalisca ou à turca, de
inspiração oriental. Eram modelos folgados, de tecidos leves, e com
a barra ajustada ao tornozelo.

Quem iria, entretanto, dar mais força ao uso da calça comprida


feminina seria Coco Chanel. Atrizes como Marlene Dietrich, Katherine
Hepburn e Greta Garbo ajudaram a popularizar a peça. Dietrich
foi uma das primeiras mulheres a aparecer de calças compridas em
público, nos anos 20, marcando época ao surgir vestindo um smoking
impecável e cartola na estreia do filme Marrocos, em 1930 (veja que
é o mesmo período dos textos papais apresentados anteriormente).
Dizem que a atriz chegou a ser notificada por um chefe da polícia
de Paris por circular às margens do Rio Sena com calças e paletó
masculino.
127
Coerência e Concretude

Com a II Guerra Mundial e a necessidade das mulheres assumirem


os postos de trabalho deixados pelos homens, a calça comprida
passou a ser usada pelas cidadãs comuns. Nos anos 50, os modelos
diversificam-se, surgindo a calça cigarette, mais ajustada e curta.
As mocinhas dos Anos Dourados começaram a circular com jeans,
meias soquete e rabo de cavalo. A primeira calça jeans feminina
foi lançada em 1934 pela Levi´s, ou seja, a peça até então usada
pelas mulheres era a calça masculina, numa clara ação de
revolta. O leitor tem agora diante dos olhos que o motivador
inicial de tal moda foi um pecado mortal, sugiro que some a
isso as orientações do prefácio.

Após essa primeira abordagem sobre a história da calça,


prosseguiremos analisando alguns pontos interessantes coletados
de artigos de moda, psicologia e feminismo, visando com isso, um
entendimento mais profundo da relação estabelecida entre o uso
da calça e a chamada “emancipação feminina” e as “feministas da
revolução do vestuário”.

“Segundo Stefani (2005), a moda é um aspecto indissociável da


sociedade humana, estando intrinsecamente ligada aos valores
políticos, culturais e morais desta mesma sociedade. Assim, a
indumentária representa tudo aquilo que é idealizado, criado e
valorizado coletivamente. Ao mesmo tempo, a moda aproxima-
se constantemente de correntes e movimentos artísticos -
sejam eles contemporâneos ou não - nos quais encontra inspirações
para a criação de coleções e tendências. Ao longo da história

128
salusincaritate.com

da moda, muitos foram os estilistas que se juntaram a artistas


plásticos para criar suas coleções e, ao mesmo tempo em que as
expunham ao público, vendiam-nas. Apesar da moda experimentar
constantemente da linguagem das artes visuais em seu processo de
criação, ela pode ser considerada como um fenômeno artístico?
... a necessidade em ocultar o físico se intensificou a partir do
momento em que as religiões - principalmente o catolicismo
- se solidificaram não apenas como crenças, mas como estilos
de vida e padrões culturais.

Barthes (2005, p. 59) considera as vestimentas como um objeto ao


mesmo tempo histórico e sociológico, sendo sempre percebido
como o significante particular de um significado geral que lhe
é exterior, como a época, o país ou a classe social.

Autores como Carlos Miele (1999) e Gilda de Mello Souza (1996)


consideram que as peças em si não são obras de arte até o momento
em que um corpo as vista. A partir do momento em que vestem
um corpo, que por sua vez irá interagir com o mundo ao seu redor,
de acordo com os propósitos do corpo que estão vestindo, as
vestes tornam-se então obras de arte.

A vestimenta contém valores simbólicos que estão no seio das


sociedades.” (SOWINSKI, 2017)

Vemos nesse trecho as atuais visões sobre moda e podemos concluir


que a moda é uma expressão individual que, no entanto, tem uma
relação com fatores exteriores, os valores e as crenças da sociedade e

129
Coerência e Concretude

do indivíduo. Podendo ainda ultrapassar o limiar entre ser somente


uma expressão e se tornar uma forma de inspiração, reflexão ou
imposição.

No entanto, a autora aborda a união entre a moda e os diversos


movimentos culturais de arte e, por conseguinte, a toda a ideologia
que tais movimentos abraçam, tornando-a – a moda - uma forma de
veicular as ideologias que normalmente pertencem a um pequeno
grupo em uma realidade presente no cotidiano, e até mesmo na única
opção, considerada moderna e atual, disponível, fazendo, mesmo
sem uma intenção ordenada, uma dessensibilização dos valores que
motivavam a sua renúncia a princípio, tornando-os até mesmo em
sinais de retrocesso. O que é considerado bom, a partir disso, é o
produzido mais recentemente e os “motivos libertadores” dessa nova
decisão.

A moda, portanto, é atualmente uma arma para influenciar de forma


progressiva as massas em prol de uma dessensibilização de valores
e princípios morais e religiosos, que são entendidos como barreiras
para o progresso das ideologias que os impulsionam e motivam.

Tal processo é visível atualmente nos desfiles na inserção da ideologia


de gênero, que é hoje parte integrante das coleções.

Vejamos alguns pontos que nos esclarecem tal intenção, na fala das
próprias feministas:

“O uso da moda pelas feministas nos anos de 1910, ... moda e


aparência se tornaram um fator importante na construção

130
salusincaritate.com

da imagem da Nova Mulher e parte integrante da ideologia


feminista naquele período... adotar e adaptar o estilo oriental,
que passou a dominar a moda feminina na época, permitiu que
as feministas construíssem uma identidade moderna e política,
ao mesmo tempo em que se situavam na moda... as feministas
empregaram a moda para expressar suas visões e identidades
políticas... as Novas Mulheres não viam a moda como oposição as
ideias feministas, mas como uma maneira útil de alcançá-las. ”
(RABINOVITCH-FOX, 2015)

“Em meados do século XIX, as mulheres começaram a fazer e usar


o “vestido de reforma” - um traje composto de calças e saias
leves, encurtadas - como uma alternativa às roupas femininas
pesadas. Quando ridicularizadas em público por usarem roupas
ostensivamente masculinas, as reformadoras insistiram que suas
roupas eram saudáveis, funcionais e naturais. Este artigo discute o
uso das mulheres da ciência médica e do conhecimento técnico
em sua rejeição da moda, promoção da igualdade sexual e
esforços para mudar as práticas tradicionais de vestuário.
Quando abordado do ponto de vista tecnológico, a vestimenta
de reforma revela tensões mais amplas em uma sociedade
americana industrializada.” (MAS, 2017)

“Apesar da aparente irrelevância contemporânea do Antigo


Testamento, a narrativa de Adão e Eva em Gênesis 2–3 é um elemento
profundamente enraizado dentro da mitologia cultural ocidental.
Como tal, exige virtualmente uma crítica feminista, porque

131
Coerência e Concretude

a sua interpretação comum como uma narrativa que demonstra


a inferioridade das mulheres e legitima a sua subordinação, tem
uma relação de reforço mútuo com a visão de mundo patriarcal
que ainda permeia grande parte da cultura ocidental. Uma leitura
feminista de Gênesis 2–3 destaca as dificuldades com a leitura
subordinacionista tradicional e sugere outras possibilidades de
interpretação que relativizam o absolutismo das alegações de
autoridade patriarcal, possibilitando, assim, conceber e trabalhar
em prol de uma ordem de mundo diferente.” (ROOKE, 2007)

“O movimento de reforma do vestuário, muitas vezes deturpado


como um modismo dos líderes dos direitos das mulheres, foi na
verdade um movimento distinto, com raízes na reforma da saúde
do século XIX. Representa um tipo diferente de feminismo em
relação ao movimento pelos direitos das mulheres e um “caminho
não tomado” pelo feminismo do século XIX. Os reformadores do
vestuário estavam comprometidos com um modelo de ação
exemplar de mudança social que pressupunha que alguns
indivíduos intrépidos que tinham a coragem de viver de
acordo com o princípio poderiam inspirar outras pessoas a
transformar o mundo. Os líderes dos direitos das mulheres, por
outro lado, estavam determinados a construir um movimento
capaz de mudar as instituições sociais, políticas e econômicas
e acreditavam que os compromissos eram necessários para
isso.” (KESSELMAN, 1991)

O uso da moda como instrumento em prol de uma mudança social

132
salusincaritate.com

faz parte dos motivos inspiradores das “mulheres da reforma do


vestuário”, estas usavam uma tendência natural feminina para
incutir, mudar e deturpar valores e conceitos morais e religiosos,
dessa forma, até mesmo aquelas que estavam imbuídas por algum
interesse em questões de saúde e bem-estar acabaram se tornando
uma ferramenta para a propagação dos princípios do movimento,
assim como a sua nova visão da ordem do mundo que, como vimos,
é explicitamente contrária à expressa por Deus. Usando assim da
moda e até mesmo de novas interpretações das Escrituras, incutem
progressivamente uma forma de pensar, que faz com que as mulheres
se voltem contra as bases “do ser mulher”, deturpando tais bases e
as transformando em uma prisão, com isso elas próprias incentivam
a constante visão, embora falsa, de inferioridade e vitimização da
mulher tão presente atualmente, já que, mesmo que queira, a mulher
não pode se livrar de si mesma, pode, no entanto, se deixar deturpar.

Desejo-lhe, porém, novamente apresentar abordagens de pessoas


melhores e que oferecem outras abordagens morais sobre esse tema.
Reitero que tais questões se referem à moralidade cristã e, longe de
se tratar de uma grande área opinável, tem bases sólidas embora
esquecidas, sem elas resta-nos somente a moralidade do mundo que,
por sua vez, sem o cristianismo é nada.

RABINOVITCH-FOX, EINAV, [Re]fashioning the new woman: women’s dress, the Oriental style,
and the construction of American feminist, Journal of Women’s History, 06/2015, Volume 27,
Issue 2. Disponível em:

MAS, CATHERINE, She Wears the Pants: The Reform Dress as Technology in Nineteenth-Century

133
Coerência e Concretude

America. Technology and Culture, 2017, Volume 58, Issue 1

ROOKE, DEBORAH W; Feminist Criticism of the Old Testament: Why Bother, Feminist Theology,
01/2007, Volume 15, Issue 2

KESSELMAN, AMY. THE “FREEDOM SUIT”: Feminism and Dress Reform in the United States,
1848-1875, Gender & Society, 12/1991, Volume 5, Issue 4

134
salusincaritate.com

A TODAS AS RELIGIOSAS PROFESSORAS


AOS QUERIDOS FILHOS DA AÇÃO CATÓLICA,
AOS EDUCADORES QUE DESEJAM SEGUIR
VERDADEIRAMENTE A DOUTRINA CRISTÃ

Giuseppe Cardinal Siri.


Arcebispo de Genova - Itália.

O primeiro sinal da nossa primavera tardia indica certo aumento,


este ano, do uso das vestes masculinas por mulheres, jovens e até
mesmo por mães de família. Até 1959, em Genova, este tipo de veste
significava que a pessoa era uma turista, mas agora parece que há
um número significativo de garotas e mulheres da mesma Genova
que escolhem, ao menos em viagens de lazer, vestir calças de homem.

A evolução deste comportamento nos obriga a refletir seriamente, e


nós pedimos a quem esta notificação vai dirigida dar toda a atenção
que este problema merece, como é próprio das pessoas que estão
conscientes de ser responsáveis frente a Deus.

Nós pretendemos acima de tudo fazer um juízo moral


equilibrado sobre o uso de roupas masculinas pelas mulheres.
De fato nossa reflexão só pode estar fundamentada sobre a
questão moral.

Em primeiro lugar, quando a questão é cobrir o corpo feminino, não


se pode dizer que o uso de roupas masculinas pelas mulheres seja uma

135
Coerência e Concretude

grave ofensa contra a modéstia, pois as calças certamente cobrem


mais do corpo da mulher que as saias das mulheres modernas.

No entanto, as vestes para serem modestas não necessitam


apenas cobrir o corpo, e tampouco devem estar coladas ao
corpo. É verdade que muitas roupas femininas colam mais do que
muitas calças, mas as calças podem ser feitas para apertarem mais, e
de fato geralmente apertam. Por isso, este tipo de roupa, colada
ao corpo, nos dão a mesma preocupação quanto às roupas
que expõem o corpo. Então a imodéstia das calças masculinas
no corpo feminino é um aspecto do problema que não pode ser
deixado sem uma observação geral sobre elas, ainda que não deva
ser superficialmente exagerado também.

No entanto, outro aspecto das mulheres vestindo calças nos parece


ser o mais grave. O uso de vestes masculinas por parte das
mulheres afeta primeiramente à própria mulher, causado
pela mudança da psicologia feminina própria da mulher; em
segundo lugar afeta a mulher como esposa do seu marido,
por tender a viciar a relação entres os sexos; e em terceiro
lugar como mãe de suas crianças, ferindo sua dignidade ante
seus olhos. Cada um destes pontos deverá ser cuidadosamente
considerado:

A. A Roupa Masculina muda a psicologia da Mulher.

Na verdade, o motivo que leva a mulher a usar roupa de homem é


o de imitar, e não somente isso, mas o de competir com o homem,

136
salusincaritate.com

que é considerado o mais forte, mais livre, mais independente. Esta


motivação mostra claramente que a roupa masculina é a ajuda
visível para trazer uma atitude mental de ser “igual ao homem”.
Em segundo lugar, desde que o ser humano existe, a roupa que uma
pessoa usa modifica seus gestos, atitudes e o comportamento, a tal
ponto que só pelo fato de se usar uma determinada roupa, o vestir
chega a impor um estado de ânimo especial em seu interior.

Permita-nos acrescentar que, uma mulher que sempre veste roupas


de homem, indica que ela está reagindo à sua feminilidade como se
fosse algo inferior, quando na verdade é só diversidade. A perversão
de sua psicologia é claramente evidente.

Estas razões, somadas com muitas outras, são suficientes para nos
alertar o quão equivocado elas são conduzidas a pensar ao se vestir
com roupas de homens.

B. A Roupa Masculina tende a corromper as relações entre as


mulheres e os homens.

Na verdade, com o passar dos anos e conforme as relações entre os


sexos se desenvolvem, um instinto mútuo de atração predomina.
A base essencial desta atração é a diversidade entre os sexos, que é
possível somente pela sua complementaridade ou completando um
ao outro. Se esta “diversidade” se torna menos óbvia porque
um de seus maiores sinais externos é eliminado, e porque a
estrutura psicológica normal é enfraquecida, o que resulta é
a alteração de um fator fundamental na relação.

137
Coerência e Concretude

O problema é ainda mais profundo. A atração mútua entre os sexos


é precedida tanto naturalmente, quanto em relação ao tempo,
por um sentido de pudor que freia os instintos que surgem, lhes
impõe respeito, e tende a elevar o nível de mútua estima e temor
saudável, impedindo que todos aqueles instintos possam levar a
atos descontrolados. Mudar a roupa, que por sua diversidade revela
e assegura os limites da natureza e da defesa, é anular a distinção e
ajudar a destruir o trabalho de defesa vital do sentido de vergonha.

É, no mínimo, impedir este sentido. E quando o sentido de vergonha


é impedido de colocar os freios, as relações entre homem e mulher
se afundam em degradação e puro sensualismo, separadas de
todo respeito mútuo ou estima.

A experiência esta aí para nos dizer que quando a mulher é


desfeminilizada, as defesas são destruídas e as fraquezas aumentadas.

C. A Roupa Masculina fere a dignidade da Mãe antes os olhos


de suas Crianças.

Toda criança tem um instinto pelo sentido de dignidade e decoro


de sua mãe. Uma análise da primeira crise interior das crianças,
quando elas despertam para a vida ao seu redor, mesmo antes delas
entrarem na adolescência, mostra o quanto vale para elas o sentido
de suas mães. As crianças são sumamente sensíveis a esta idade.
Os adultos geralmente deixaram isso de lado e não pensam mais
sobre isso. Mas fazemos bem em recordar as demandas severas que
as crianças instintivamente fazem a sua própria mãe, e a profundas

138
salusincaritate.com

e até terríveis reações que nelas se afloram pela observação dos seus
maus comportamentos. Grande parte do futuro é traçada aqui – e
não para melhor – nestes precoces dramas durante a infância.

A criança pode não saber a definição de exposição, de frivolidade ou


infidelidade, mas possui um sentido instintivo que reconhece quando
essas coisas acontecem, sofre com elas, e é amargamente ferida por
elas em suas almas.

Vamos pensar seriamente em tudo o que foi dito até agora, mesmo
que a aparência da mulher com roupas masculinas não faça surgir
imediatamente tudo aquilo causado por uma grave imodéstia.

A mudança da psicologia feminina gera um dano crucial e, ao longo


dos anos, torna-se irreparável à família, à fidelidade conjugal, às
afeições e à sociedade humana. É verdade que os resultados de se
vestir roupas impróprias não podem ser vistos todos a curto prazo.
Mas devemos pensar no que está sendo devagar e articuladamente
destruído, despedaçado, pervertido.

Se a psicologia feminina é mudada, existe alguma reciprocidade


imaginável mudada entre marido e mulher? Ou, existe alguma
autêntica educação de crianças imaginável, que é tão delicada
no seu proceder, entrelaçada de fatores imponderáveis, na qual a
intuição e instinto da mãe cumpram um papel decisivo nessa idade
tão delicada? O que estas mulheres serão capazes de dar a suas
crianças, tendo usado calças durante tanto tempo e com sua
alta-estima determinada mais por sua competição com os

139
Coerência e Concretude

homens do que por seu papel como mulher?

Perguntamo-nos porque, desde que o homem existe – ou melhor,


desde que ele se tornou civilizado: por quê tem sido o homem,
em todos os tempos e lugares, irresistivelmente levado a fazer a
diferenciada divisão entre as funções dos dois sexos? Não temos
aqui um testemunho exato para o reconhecimento, por toda a
humanidade, de uma verdade e de uma lei acima do homem?

Para resumir, quando uma mulher veste roupas de homem, deve


ser considerado um fator, a longo prazo, da desintegração da ordem
humana.

A consequência lógica de tudo o que foi apresentado aqui é que


qualquer pessoa, em uma posição de responsabilidade, deveria estar
possuída por um sentido de alarme no significado verdadeiro e próprio
da palavra, um severo e decisivo alarme.

Nós dirigimos uma grave advertência aos sacerdotes das paróquias,


a todos os sacerdotes em geral e aos confessores em particular, aos
membros de qualquer tipo de associação, a todos os religiosos, a
todas as irmãs, especialmente as irmãs educadoras.

Nós os convidamos a que tomem plena consciência deste problema


de forma que atuem em seguida. Essa conscientização é o que
importa. Ela irá sugerir a ação adequada no tempo certo. Mas não
permitamos que nos aconselhe a ceder ante uma inevitável mudança,
como se estivéssemos confrontados por uma evolução natural da
humanidade, e daí por diante!

140
salusincaritate.com

Pessoas vêm e vão, porque Deus deixou espaço suficiente para o início
e fim do livre arbítrio do homem. No entanto, as linhas essenciais
da natureza e as não menos substanciais linhas da Eterna Lei, nunca
mudaram, não estão mudando agora e nunca irão mudar. Existem
limites além dos quais uma pessoa pode ir tão longe o quanto queira,
mas fazê-lo resulta em morte, há limites os quais fantasias filosóficas
vazias menosprezam ou não levam a sério, mas que constituem uma
aliança de fatos sólidos e da natureza que punem qualquer um que os
ultrapassa. E a história já ensinou suficientemente – com assustadoras
provas advindas da vida e da morte de nações, que a conseqüência
para todos os violadores deste esquema da “humanidade” é sempre,
mais cedo ou mais tarde, uma catástrofe.

A partir da dialética de Hegel em diante, nós temos escutado


repetitivamente coisas que não passam de fábulas, e pela força
de escutá-las tão frequentemente, muitas pessoas acabam por se
acostumar a elas, mesmo escutando passivamente. Mas a verdade
da questão é que Natureza e Verdade, e a Lei baseada em ambas, vão
por seu caminho imperturbável, e destroem aos pedaços a ideia dos
tolos que, sem justificativa alguma, creem em mudanças radicais e de
longo alcance nessa mesma estrutura do homem.

As consequências de tais violações não são um novo desenho do


homem, mas desordens, instabilidades prejudiciais de todos os
tipos, a assustadora secura das almas humanas, o grande aumento
no número de seres humanos abandonados, levados há muito tempo
para longe da vista e da mente humana para viver seu declínio no

141
Coerência e Concretude

ócio, na tristeza e na rejeição. Neste naufrágio de eternas regras


se encontram famílias destruídas, vidas terminadas antes da
hora, corações e casas que se esfriaram, idosos jogados para um
lado, jovens intencionalmente depravados e, em última instância,
almas em desespero tirando suas próprias vidas. Todas estas ruínas
humanas dão testemunho do fato de que a “linha de Deus” não dá
espaço, nem admite qualquer adaptação com os sonhos delirantes dos
assim chamados filósofos!

Já temos dito que aqueles que se dirigem esta Notificação são


convidados a tomar o problema que tem adiante como um sério
alarme. Eles sabem que devem dizer, começando com os bebês no
colo de suas mães.

Eles sabem que sem exagerar ou tornar-se fanáticas, elas precisarão


limitar estritamente o quanto elas podem tolerar que as mulheres se
vistam como homens com uma regra geral.

Eles sabem que não podem ser tão fracas a ponto de deixar
qualquer um fechar os olhos para um costume que está tomando
conta e destruindo a base moral de todas as instituições.

Os sacerdotes sabem da direção que devem ter no confessionário,


mesmo não tomando toda veste masculina usada por mulher como
uma falta grave, devem ser precisos e decisivos.

Todos caridosamente refletirão sobre a necessidade de ter uma frente


de ação unida, reforçado por todos os lados, por todos os homens de boa
vontade e todas as mentes iluminadas, de forma a criar uma barreira

142
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verdadeira para conter a inundação.

Cada um de vocês responsável pelas almas em qualquer situação


entende o quão útil é ter como aliados nesta campanha defensiva
homens intelectuais e da mídia aliados nesta campanha. A posição
tomada pelas indústrias desenhistas de roupa, seus brilhantes
estilistas, tem uma importância crucial em toda essa questão. O
sentido artístico, a elegância e o bom gosto juntos podem encontrar
uma solução apropriada e digna para a roupa que a mulher deve usar
quando for andar de moto, ou estiver nessa ou naquela atividade física,
ou no trabalho. O que importa é preservar a modéstia, junto com o
eterno sentido de feminilidade, aquela feminilidade que, mais
do que qualquer outra coisa, todas as crianças continuarão a
associar com a face de sua mãe.

Nós não negamos que a vida moderna traga problemas e faça


requerimentos desconhecidos por nossos avós. Mas afirmamos
que existem valores que precisam ser mais protegidos do
que experiências passageiras, e que, para todas as pessoas
inteligentes, há sempre bom senso e bom gosto o bastante para
encontrar soluções dignas e aceitáveis para os problemas que
surjam.

Comovidos pela caridade, nós estamos lutando contra uma degradação


do homem, contra o ataque sobre aquelas diferenças nas quais descansa
a complementaridade entre o homem e a mulher.

Quando vemos uma mulher de calça, nós deveríamos pensar não

143
Coerência e Concretude

tanto nela, mas em toda a humanidade, de como será quando todas


as mulheres se masculinizem. Ninguém ganhará ao tratar de levar a
cabo, numa futura época, imprecisão, ambiguidade, imperfeição e,
em uma palavra, monstruosidades.

Esta nossa carta não é dirigida ao público, mas àqueles responsáveis


pelas almas, pela educação, por Associações Católicas. Que façam
seu dever, e que não sejam como sentinelas que foram apanhadas
dormindo no seu posto enquanto o mal penetrava sorrateiramente.

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CIRCULAR SOBRE A REVERÊNCIA AOS


SANTOS SACRAMENTOS

Dom Antônio de Castro Mayer

21 de novembro de 1970

AS SENHORAS COMUNGUEM DE CABEÇA COBERTA.

Ainda sobre a recepção da Sagrada Comunhão mantenha-se o costume


tradicional que manda às senhoras e moças que se apresentem com
a cabeça coberta. Outro hábito imemorial, fundado na Sagrada
Escritura (cf. 1 Cor. 11, 5 e SS.), que não deve ser modificado. São
Paulo recorda a veneração e o respeito aos Anjos presentes na igreja,
que as senhoras significam com o uso do véu. Nada mais belo, mais
ordenado, mais encantador do que a mulher cristã que reconhece
a hierarquia estabelecida por Deus, e manifesta externamente sua
adesão amorosa a semelhante disposição da Providência.

A IMODÉSTIA NO TRAJAR E A NOSSA RESPONSABILIDADE

Na mesma ordem de ideias, lembramos aos nossos caríssimos


Sacerdotes que devem empenhar-se, a fundo, por conservar nos
fiéis o amor à modéstia e ao recato, que os tornam menos indignos
de receber os Santos Sacramentos. Não nos esqueçamos de que,
se a sociedade se paganiza, se ela foge da mentalidade cristã,
como esta se define nas máximas evangélicas, não o faz sem a
conivência e a cooperação das famílias católicas, e, portanto,

145
Coerência e Concretude

em grande parte, por nossa culpa, de nós Sacerdotes.

Ou por comodismo, que em nós cria aversão ao exercício de nossa


função de orientadores do povo fiel, ou quiçá – PROH DOLOR!
– por condescendência com a sensualidade reinante, somos
remissos em declarar, sem rebuços, que as modas de hoje destoam
gravemente da virtude cristã, e, mais ainda remissos somos, em usar
da firmeza apostólica, ainda que suavemente exercida, para afastar
dos Sacramentos a atmosfera sensual atualmente introduzida na
sociedade pelas vestes femininas.

É com tristeza que sabemos de Sacerdotes na Diocese, e de outras


pessoas com responsabilidade de orientação de almas que não tomam
a menor medida no sentido de manter em torno dos Sacramentos,
especialmente da Santíssima Eucaristia, o ambiente de pureza que
Jesus Cristo exige de seus fiéis servidores.

Por que todas as igrejas da Diocese não ostentam, em lugar bem


visível, as disposições eclesiásticas no sentido de que as senhoras
e moças não se apresentem no templo de Deus com vestes
ajustadas, decotadas, de saias que não desçam abaixo dos
joelhos, ou de calças compridas, estas últimas mais próprias
do outro sexo?

E por que não tomam todos os Sacerdotes medidas a fim de que com
semelhantes trajes, não se apresentem aos Sacramentos as senhoras
e moças, ou para recebê-los ou como madrinhas ou testemunhas?
Seria o mínimo que se poderia pedir a quem está realmente

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interessado por que a adaptação de que tanto se fala, não seja uma
profanação do Sagrado, com prejuízo pessoal, para o povo fiel e
para a sociedade em geral.

Caríssimos Sacerdotes. O zelo pela Casa de Deus, bem como a


caridade com o próximo, pede, nos tempos atuais, maior atenção à
maneira de vestir dos fiéis que o são e querem viver cristãmente. A
Sagrada Escritura lembra que “as vestes do corpo, o riso dos dentes e o
modo de andar de um homem fazem-no conhecer” (Ecli. 19, 27).

E Pio XII comenta: “A sociedade, por assim dizer, fala com a roupa
que veste; com a roupa revela suas secretas aspirações, e dela se serve,
ao menos em parte, para construir o seu próprio futuro” (“Disc. e
Radiomes.” Vol. 19, p. 578).

Ainda desejo que leia as seguintes afirmações:

“A Igreja é a casa de Deus. É proibido para os homens entrar com os


braços nus ou usando shorts. É proibido para as mulheres entrarem
usando calças, sem um véu sobre sua cabeça, com roupas curtas, decotes
baixos, roupas sem mangas ou vestidos imodestos”. (Bispo Bernard
Fellay. The Dignity of Women: The Misplaced Notions of Feminism.)

“O Bom Cristão, logo ao despertar, deve fazer o sinal da Cruz e


oferecer o coração a Deus dizendo: ‘Jesus, Maria e José, eu vos
ofereço meu coração e minha alma.’ Depois se vestir com toda a
modéstia. São Luíz Gonzaga não deixava nem os pés descobertos,
porque considerava a pureza como um límpido espelho, que ao
menor sopro fica todo embaçado.” (Dom Bosco)

147
Coerência e Concretude

Não tenho a intenção de lhe fazer um ditame moralista pejorativo,


a intenção desse levantamento é que saiba a história daquilo que
lhe é apresentado como natural, moderno e como sendo parte da
sociedade e assim, sabendo as origens e as orientações dos cardeais
sobre tais mudanças possa voltar-se um pouco mais para o que
edifica a feminilidade e facilita o nosso papel na sociedade. Como
vemos nas explicações dos Cardeais, os príncipes da Igreja, - que
não falavam somente para o seu tempo, já que o tema das cartas é
justamente o resultado disso à longo prazo - o uso de calças não é
uma falta grave mas tem sua consequência na pessoalidade feminina,
na complementaridade entre homem e mulher, na interação entre
mãe e filho e ainda, agora o digo eu como pequena serva da Santa
Tradição, altera em muito o nosso papel como ícone da Beleza
Celestial e da Ordem Divina, a calça é muitas vezes um sinal de
pertencimento a uma sociedade, é uma forma de sentir bem vista e
quista e em algumas moças pode ser o sinal visível de apego a tudo
o que podem pensar e dizer dela caso ela escolha outra forma de ser,
mais compatível com quem ela é.

Da mesma forma que as feministas usaram a moda e mais


especificamente a calça para impor suas ideias em prol de uma nova
mulher, não mais ligada aos valores cristãos, assim nós também
devemos usar a moda, ou seja, as peças, cortes e comprimentos que
sejam em si uma forma de propagar o pudor, a modéstia, a descencia,
a delicadeza da feminilidade, a beleza.

No entanto, não é uma falta grave, segundo alguns teólogos –

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embora exista uma controvérsia entre os teólogos moralistas a esse


respeito, no entanto, tal esfera não me compete -, mas, se assim é, é
para isso que fomos remidos e resgatados, para fazer o mínimo? Para
somente nos abster do que é muito grave? Diversas vezes os apóstolos
apontam a necessidade de “ser irrepreensível”, um ponto abordado
muito pouco nos tempos atuais, pois dele podemos concluir o óbvio:
fugir somente do que é grave, é pouco.

Santa Teresa ensina ao falar sobre as Moradas do Castelo Interior


que na primeira morada existe um interesse em fazer somente aquilo
que não é pecado grave, existe ali somente um impulso em fazer
renúncias do que mais ofende a Deus e isso, é claro, é muito bom.
No entanto, um caminho não se faz com um único passo, como
ela mesma nos ensina “parar é retroceder”, dessa forma devemos
sempre aperfeiçoar a capacidade de se livrar de tudo o que pode ser
desagradável ao Coração de Jesus, mesmo que não seja um pecado
grave.

Veja bem, não é interessante que muitas vezes mudamos muito


do que somos e escolhemos para agradar as pessoas e somos tão
limitados em buscar agradar o Coração de Jesus cada vez mais? Não
lhe parece estranho que as pessoas sejam mais importantes que ser
agradável ao Bom Jesus, cada vez mais, mesmo nas pequenas coisas?

Portanto, tal questão se desenrola no entendimento moral e no


amor. O primeiro por ser obrigação do cristão cristianizar o mundo
e não se deixar paganizar por ele - adotando as ideias expressas até
mesmo em roupas - e o segundo por ser tal atitude motivada pelo

149
Coerência e Concretude

amor e o desejo de agradar somente a Deus.

Poderia ainda acrescentar os diversos malefícios do uso da calça


em relação a saúde ginecológica e circulação sanguínea mas me
abstenho de tal abordagem, entretanto desejo que o leitor saiba que
ela existe e poderia ser facilmente incorporada aqui como forma
de endossar o levantamento já feito, mas não tenho o costume de
rebaixar questões morais à questões de saúde, apesar da importância
que naturalmente dou a área.

Prefiro, no entanto, acrescentar outros pontos aos já mencionados:

Santo Tomás na Suma Teológica, II-llae.q. 169 a.2, ad 3 diz: “o


vestuário exterior deve corresponder à condição da pessoa, de
conformidade com o uso comum. Por isso, em si mesmo, é
pecaminoso uma mulher trazer trajes viris, ou inversamente;
sobretudo porque pode ser essa uma causa de lascívia, o que
a lei antiga especialmente proibia, porque os gentios usavam destes
travestimentos pela superstição da idolatria. Pode-se, porém, proceder
desse modo e sem pecado, se o exigir a necessidade: quer para ocultar-
se dos inimigos, quer por falta de outras roupagens, quer por outro
motivo semelhante”.

Ou seja, em situações normais não seria aceitável.

O teólogo Vermeersh dá como “vestes proibidas”, pecaminosas,


entre outras, aquelas “que se apegam de tal maneira ao corpo que, ou
exibem toda a forma do corpo ou acentuam as características sexuais…
(teol. Moralis-Princípia-Consiliae-Responsa. De Ornatu muliebri, nº

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126, cfra.Zalba: Theol. Moralis V. II, 236 1-b; Dicionário de Theol.


Moralis – Verbete: “vestido”).

Pode parecer um problema menor em comparação com outros


tantos na Igreja, mas será mesmo que tais atitudes — e seus
motivos inspiradores e ideológicos — não são como sementes de
monstruosidades no seio da Igreja?

Vejo-me assim, impossibilitada de falar mais sobre isso, o restante


decorre do entendimento do que foi dito, da abertura de coração e
ainda do desejo de ser sinal de feminilidade no mundo e na Igreja.

“O mais leve movimento de uma alma animada de puro amor é mais


proveitoso à Igreja do que todas as demais obras reunidas.”
(São João da Cruz)

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Outras questões.

“NÃO SOU FEMININA, NÃO ME IDENTIFICO COM NADA


DISSO.”
Devemos ser quem somos dentro daquilo que nos aponta a Igreja.
Isso é completamente possível! Nada que é feito por amor a Deus
é uma destruição de quem somos, antes é uma edificação. Assim
é completamente possível despertar a sua feminilidade através do
trajeto da virtude da modéstia. A feminilidade é obedecer as Leis
Divinas - em atos concretos, não somente no mundo das ideias, pois
são as nossas escolhas e atitudes, até mesmo e principalmente nas
coisas consideradas pequenas, que demonstram o seu verdadeiro
seguimento - servir ao próximo em abnegação e doação. É muito
estranho um discurso sobre feminilidade que não coloque claramente
que a vocação da mulher está ligada a abnegação e a propagação
dos valores morais e religiosos, isso é uma espécie de mutilação
vocacional; ou ainda que não fale sobre sacrifico, lapidação,
mortificação ao falar sobre uma virtude.

Você não acordará um dia se sentindo a mulher mais modesta e


feminina do mundo, o caminho da virtude é um caminho de fato, é
uma constante lapidação que vem do processo de autoconhecimento,
conhecendo quem de fato você é, poderá escolher a melhor forma
de expressar seu amor ao Deus que habita o seu corpo, nos adornos
e roupas que o vestem.

Pois, afinal, será mesmo que você escolhe o que veste? Será mesmo
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que você tem liberdade de escolha no que lhe é apresentado nas


lojas atualmente? Qual a imagem que você tem de feminilidade?
Será que é uma imagem espelhada em Nossa Senhora e nas santas,
ou é imbuída de ideologias, ou, o que é pior, de deturpações que o
feminismo fez das Santas Mulheres?

Todas essas perguntas podem ser feitas e analisadas, assim como


pode ser feita uma tentativa de “fazer-se nova” em Deus. É bem
comum que, quando uma mulher se veste com tecidos e peças mais
femininas, ela sinta algo mudar dentro dela, o caminhar, a forma de
sentar e o semblante... esse é um dos motivos que nos levam a escolher
tais peças para eventos importantes. Para encontrar a feminilidade,
é preciso se deixar transformar por essa experiência, e com o tempo
você verá que poderá viver uma feminilidade compatível com quem
você é e em conformidade com todas as orientações já dadas a esse
respeito.

Tenha um exemplo para se identificar e tudo se resolverá, tenha a


meta de imitar a Bela Virgem Maria.

Muitos dizem que não há documentos da Igreja sobre tais necessidades,


que são somente alguns padres, cardeais, santos e doutores da Igreja –
só isso- que dizem tais coisas... bem, se estivéssemos aqui para seguir
a moralidade do mundo, não haveria necessidade de uma moralidade
cristã, que inclusive é a base da primeira. Sem a moralidade cristã,
temos uma desordem em toda a ordem da sociedade e ainda uma
grande fissura nas colunas que sustentam o Ocidente. Os resultados
dessas fissuras já são claramente visíveis.

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Um cristão visa uma metanóia, uma mudança de pensamento para


uma conformidade com os pensamentos de Cristo.

“Não faça coisa nenhuma nem diga palavra que Cristo não faria ou
não diria se encontrasse as mesmas circunstâncias.”
São João da Cruz, doutor da Igreja

QUANDO EXISTE O MEDO DA OPINIÃO DOS OUTROS.


Vai crescendo em minha alma a fortaleza
Quanto cresce do mal a intensidade;
As portas áureas me abrem a Eternidade,
E lá cessam cuidados e tristezas.
Vou amar quem somente é amável
Em oxigêneas luzes abrasar-me
Nunca errar, nem temer gente implacável
Vou nos jardins celestes recrear-me
E no seio de um Deus justo, adorável,
A tudo o que me falta associar-me.
(Soneto por Dona Leonor, Marquesa de Alorna, 1750-1839)

Importar-se com olhos que não são os de Deus é apego às criaturas,


o que impede o seguimento na busca d’Aquele que Importa. O desejo
de ser bem-vista e benquista aprisiona e é um impedimento para o
progresso espiritual.

“Renuncie aos desejos e encontrará o que seu coração deseja.”

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“A pessoa que está presa por afeto a alguma coisa, mesmo pequena,
não alcançará a união com Deus, mesmo que tenha muitas virtudes.
Pouco importa se o passarinho está com um fio grosso ou fino, ele
ficará sempre preso e não poderá voar.”

“Para possuir Deus plenamente é preciso nada ter, porque, se o coração


pertence a Ele, não pode se voltar para outro.”

“A pessoa que caminha para Deus e não afasta de si as preocupações,


nem domina suas paixões, caminha como quem empurra um carro
encosta acima.” (São João da Cruz, doutor da Igreja)

Não seria essa a razão que faz tudo isso lhe parecer tão difícil?

Muitas moças não progridem nessa virtude por causa do apego à


vestimenta que todo mundo usa e às opiniões daqueles que estão
dentro desse imenso grupo chamado “todo o mundo” – melhor
definição, de fato não há, trata-se mesmo de um imenso grupo
dos que são apegados às coisas do mundo - dessa forma, além dos
problemas inerentes às deturpações do vestuário, temos ainda um
problema maior: o apego aos pensamentos do mundo. Mas isso não
deve ser acalentado, obviamente, o que é preciso é desatar os laços
do apego.

A MODÉSTIA NÃO É UM ESTILO.


Muitas vezes é uma tentação fazer da modéstia um estilo, com um
leve toque de virtude, e ainda passível de ser alterada de acordo com
a época, a moda e os modismos.

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No entanto, a modéstia é uma virtude e tem em si algumas


orientações, já expressas, quanto às áreas a serem expostas e ainda
quanto aos motivos para vivê-la nesse tempo. Dessa forma, não é
correto chamar de estilo, salvo se for referente à forma de ser cristão
verdadeiramente.

Não deve ser vista como mais uma forma de vestir dentre as outras
tantas já conhecidas no mundo.

Entretanto, é importante encontrar a sua forma de viver a modéstia


dentro das orientações já dadas. Algumas moças são mais vintage,
outras mais casuais, enfim, isso só será possível com o seu gradativo
processo de autoconhecimento. Muitas moças não sabem nem
mesmo qual é a sua cor preferida ou o que lhe fica melhor.

Quanto às áreas do corpo, acrescento ao já apresentado as orientações


da moral católica:

“Segundo a moral católica, nosso corpo é dividido em partes honestas,


semi-honestas e desonestas. As partes desonestas são as partes íntimas
e regiões vizinhas. As semi-honestas ou menos honestas são os seios,
braços, flancos. As partes honestas são as mãos, os pés e o rosto. A
Igreja – através dos Papas, dos santos e de seus membros mais dignos
– tem insistido para que o vestuário cubra tanto as partes desonestas,
quanto às semi-honestas do corpo.” (Compêndio de Teologia Moral.
Autor: Padre Teodoro da Torre Del Grecco.)

Diz-se “desonestas” no sentido de que não é honesto mostrá-las e


colocar em risco a própria dignidade e incitar o outro a pecar por

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pensamentos ou atos.

Cabe lembrar que uma vestimenta modesta pode ser elegante, mas
nem toda vestimenta elegante é modesta, já que pode evidenciar,
mostrar ou marcar as áreas desonestas e semi-honestas. Tal
observação vale para o uso de qualquer vestido ou saia, que deve
sempre proteger as áreas desonestas e semi-honestas não mostrando,
evidenciando ou marcando. Dessa forma notamos, novamente, além
dos motivos mais elevados mostrados anteriormente, a inadequação
da calça, assim como qualquer vestimenta que marque o corpo.

A Modéstia é se apagar?

O SENSO ESTÉTICO.
A modéstia não limita a beleza, ela realça a beleza. Não de uma
forma sensual e sexual, mas de uma forma pura e celestial.

São Tomás de Aquino nos ensina:

“Ora, essa afeição desordenada pode manifestar seu exagero de três


formas. Primeiro, quando se busca o prestígio social mediante um modo
refinado de vestir-se e de enfeitar-se. Por isso, diz Gregório: ‘Julgam
alguns que não é pecado usar um vestuário fino e precioso. Mas se não
o fosse, jamais a palavra de Deus teria dito que o rico, atormentado no
inferno, estivera vestido de linho fino e de púrpura, pois ninguém traja
roupa preciosa, isto é, superior à sua condição, senão por vanglória’.
– Outra manifestação dessa exagerada preocupação com a roupa
acontece quando nisso se buscam os prazeres do corpo, vendo na roupa
um atrativo para tais prazeres. – E a terceira manifestação seria a

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preocupação exagerada com a roupa, ainda que não interfira nenhuma


finalidade má.

Olhando, agora, a questão pelo lado da deficiência, podem-se distinguir


duas desordens segundo o afeto. A primeira, por negligência, quando
não se tem cuidado nem diligência em se vestir corretamente. Por essa
razão, o Filósofo diz que é relaxamento ‘deixar o manto arrastar-se
pelo chão, sem nenhum empenho por levantá-lo’. – A segunda é a dos
que se vangloriam dessa mesma falta de cuidado com a aparência.
Por isso, Agostinho diz que ‘pode haver vaidade não só no brilho e
no luxo dos ornatos do corpo, mas até numa apresentação negligente
e degradante e tanto mais perigosa quanto procura nos enganar, a
pretexto de serviço de Deus’. E o Filósofo diz que “tanto o excesso
quanto a deficiência dizem respeito à jactância” (gabar-se).

Em relação aos adornos das mulheres, devem-se fazer as mesmas


observações antes feitas, em geral, sobre a apresentação exterior,
destacando, porém, algo especial, ou seja, que os adornos femininos
despertam a lascívia nos homens, segundo o livro dos Provérbios: ‘Eis
que essa mulher lhe vem ao encontro, trajada qual prostituta, toda
insinuação’.
Como o número de consagradas (celibatárias) que vivem no mundo
(fora dos conventos) tem aumentado, vale essa observação de São
Tomás:

“Mas as que não têm marido nem os querem ter e vivem em celibato
(as consagradas), não podem, sem pecado, querer agradar aos olhos dos
homens, para lhes excitar a concupiscência, porque isso seria incentivá-
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los a pecar. Se, pois, se enfeitarem com essa intenção de provocar os


outros à concupiscência, pecam mortalmente. Se o fizerem, porém, por
leviandade, ou mesmo por um desejo vaidoso de aparecer, nem sempre
será pecado mortal, mas às vezes venial. Diga-se o mesmo, aliás, a
respeito dos homens.”

CONSUMISMO E QUEM FAZ O QUE EU VISTO.


A vivência da virtude da modéstia leva ao entendimento da
simplicidade e de que não precisamos de muito para viver e nos
vestirmos bem. Uma das primeiras coisas que acontece ao viver a
modéstia é viver a virtude da pobreza como despojamento, deixar
ir embora tudo que não é modesto, mas também tudo que você não
precisa, não usa ou não tem relação com a sua personalidade. Com
a bagagem leve e mais integridade (ser inteiro), fica bem mais fácil
seguir o caminho das virtudes.

Nós estamos consumindo em demasia e isso nos impede de termos


um juízo de valor justo perante as coisas.

O que é necessário?

Necessário é aquilo que é útil, não somente por um curto tempo,


mas por algum tempo ou ainda por muito tempo.

É muito simples montar um conceito de consumo, uma reeducação


de consumo. Por exemplo, comprar roupas de qualidade e atemporais
que duram mais, escolher poucas e boas maquiagens (para as casadas
ou em espera) - investir na qualidade da pele talvez -, pensar se
realmente as marcas mais caras são realmente as melhores. Assim

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como vale prestigiar os ateliês, as costureiras, as pequenas lojas


que executam um trabalho com a mesma clareza da vivência da
virtude que você. No entanto, também é muito meritório garimpar
peças pelo comércio em geral, já que é muito útil para aprimorar a
capacidade de escolher bem (virtude da prudência).

Hoje se usa muito o termo investir, é uma forma de colocar valor ao


que se vende, basta saber se aquilo tem realmente valor para cada
um de nós ou estamos seguindo o conceito de valor de uma grande
máquina de comércio. Lembre-se: nós somos seres com consciência
e devemos usá-la em tudo.

Tenha cuidado e moderação na aquisição das suas peças, a virtude


da modéstia visa nos retirar da escravidão da moda, em todos os
sentidos.

A MAQUIAGEM.
A maquiagem deve ser compatível com toda a intenção da virtude da
modéstia, ou seja, é completamente válida a maquiagem, no entanto,
ela não deve vir carregada de intenções direcionadas para incitar a
imagem da “mulher fatal” ou “vestida para matar”, tais pensamentos
não são compatíveis com o pensamento de Cristo, assim como os
pensamentos de vaidade que crescem nutridos pela opinião dos
outros (como nos explicou São Tomás ao falar sobre adornos). Toda
mulher sabe se uma maquiagem remete ao Céu ou ao Inferno, apenas
olhando. Algumas são feitas explicitamente para inspirar a imagem
do sexy e fatalmente poderosa, mas uma maquiagem modesta tem a
intenção de elevar os pensamentos à pureza.

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Ao se maquiar, em linhas gerais, seria adequado buscar realçar a


beleza natural, fugir do que é visivelmente artificial e muito mais do
que é “sexy”, isso vale para todas, independente da vocação.

Tanto nesse ponto quanto nos anteriores, será preciso uma


reordenação do senso de beleza, de estética. Muito do que hoje
carregamos como referência de belo e esteticamente agradável está
imbuído pelo pensamento do mundo (principalmente no Brasil,
as referências de “bonito” são sempre sensuais). É preciso uma
purificação do senso de beleza para poder admirar e imitar a Beleza
que se expressa no auge da feminilidade na Santíssima Virgem
Maria. Buscar uma união com a Boa Senhora promove um ambiente
frutuoso para que os frutos de beleza possam chegar a amadurecer.
Sem isso, temo que sempre achará algo de bonito na modéstia, mas
sempre nos outros, sem nunca tomar para si essa virtude que é sinal
de todo cristão e fruto da ação eficaz da Espírito Santo.

Portanto, busque dedicar-se a rever o seu senso de beleza diante


de obras sacras, músicas sacras, obras de arte e ainda diante da
singeleza da criação, além, é claro, do mais importante, dedique-
se a uma devoção mariana. Somente contemplando A Mulher que
mais agrada a Deus, podemos trilhar o caminho da feminilidade
genuína e fértil, que se compraz na busca de uma naturalidade que
é própria de uma mulher que se sente bem dentro de si mesma e usa
a chamada área da beleza para propagar a virtude e não deturpá-la
visando acalentar algum apego.

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POSSO USAR O VÉU COM A CALÇA?


Como vimos o véu significa a submissão e abnegação total à Vontade
de Deus, a calça é, por sua vez, sinal de emancipação, de pensamentos
revolucionários e de insatisfação vocacional. Pergunto, portanto,
sabendo disso, é coerente que uma mulher que sabe quem é mostre
em si dois sinais que são conflitantes entre si? Um diz uma coisa e
outro o desmente aos berros.

Se ao usar o véu não houver uma percepção clara do papel feminino


como símbolo de radical importância para a vivência do cristianismo,
pouco se entende do real significado do uso piedoso do véu.

O QUE DEVO RESPONDER AOS QUE ME PERGUNTAM


DOS MOTIVOS PARA USAR O VÉU?
Rapidamente basta dizer: o véu é sinal de submissão e abnegação
total aos desígnios de Deus, uso-o para imitar a Santíssima Virgem.
Provavelmente isso dará matéria para muita meditação, mesmo em
uma mente um tanto obscurecida. Ou simplesmente: para imitar a
mulher mais especial que já existiu, a Mãe do Senhor.

VALOR HUMANO E A CRISE DA MASCULINIDADE

Lutei convosco, fiquei cansado,


Fiquei caído. Quando acordei
Tu me ungiste, Tu me elevaste.
Tu eras meu pai e eu não sabia.
Eu sofri muito. Furei as mãos.

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Ceguei. Morri. Tu me salvaste.


Eu sou teu filho e não sabia.
Lutamos muito: Eu Te feri.
Perdoa Pai, pensai meus olhos:
Eu era cego e não sabia.
(Lutamos muito, por Jorge de Lima, 1895-1953)

Como pano de fundo desse caminho de lapidação, vemos duas


realidades que oferecem a essa vivência um sentido ainda mais
profundo do que até agora lhe foi desvendado.

Ao vivenciar as virtudes da temperança, do pudor, da modéstia e da


castidade, rumo à pureza de corpo e da alma, podemos ser um sinal
que atesta o valor humano.

No estudo realizado pela faculdade de Princeton, já citado, as


mulheres que estavam seminuas eram vistas como objetos, no
entanto, outro ponto observado pelos cientistas se refere ao fato
que tal atitude também é desencadeada quando estamos diante de
mendigos, moradores de rua, dependentes químicos e etc. Ou seja,
nós seres humanos criamos um mecanismo para de fato não vermos
tais pessoas, criamos um mecanismo que nos torna cegos ao valor
humano daquela pessoa ali sentada na calçada, não vemos a dignidade
daquela imagem de Deus desfigurada.

Assim, como os cientistas fizeram a ligação entre os dois fatos, não


posso me abster de notar uma ligação entre a qualidade das interações

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entre o homem e a mulher, que se baseia em uma visão doentia


da dignidade do outro, com a forma completamente desumana que
tratamos, muitas vezes, os seres humanos.

Não lhe parece estranho que num país em que a promiscuidade é um


elemento cultural, tenhamos tantos exemplares da imagem de Deus
ferida pelas ruas, sentados nas calçadas ou caídos em entorpecimento
pelas drogas ou bebidas?

A modéstia é vista muitas vezes como um moralismo barato, alguns


acreditam que existem discussões mais relevantes, mas se enganam,
da mesma forma que uma avalanche começa com uma única pedra,
toda uma cadeia de imoralidade e dessacralização se inicia com a
desordem na visão de cada um sobre a sua própria dignidade e a do
próximo.

“A mulher representa um valor particular como pessoa humana e, ao


mesmo tempo, como pessoa concreta, pelo fato da sua feminilidade. Isto
se refere a todas as mulheres e a cada uma delas, independentemente
do contexto cultural em que cada uma se encontra e das suas
características espirituais, psíquicas e corporais, como, por exemplo, a
idade, a instrução, a saúde, o trabalho, o fato de ser casada ou solteira.”
(São João Paulo II, Mulieris Dignitatem, n. 29)

Não seria, portanto, mais inteligente começar pelo que é


aparentemente menor e, ao mesmo tempo, a raiz do problema? Pois,
se hoje temos uma dessacralização nas Igrejas, é porque antes os
templos de Deus nos corpos humanos foram sendo corrompidos

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gradativamente, até que agora se manifesta visivelmente na própria


arquitetura, música e abusos na Igreja.

Vês quanto espaço para avançar encontra a escuridão se a luz das


virtudes não brilha nas almas?

Sem a luz da virtude, não temos o lume da Bela Ordem Divina, e isso
gera o que hoje chamamos de “crise da masculinidade” oriunda da
crise da feminilidade.

Jordan Peterson analisa a atual situação social da seguinte maneira:

“Deixamos de tentar transformar as mulheres em homens para tentar


converter os homens em mulheres. E isso não convém a nenhum dos
dois sexos”

“A esquerda pós-moderna e suas guerreiras feministas conseguiram


impor a ideia de que a hierarquia é uma construção social do malvado
e corrupto patriarcado ocidental. Sepultam a biologia sob sua ideologia.
Negam a natureza para culpar o homem. É simplesmente absurdo.
Suas ideias não têm base factual alguma. A biologia evolutiva e a
neurociência demonstram que as hierarquias são incrivelmente
antigas. Mais do que as árvores.”

“95% dos delitos são cometidos por 5% da população. A maioria desses


criminosos atua uma ou duas vezes. Mas existe um pequeno segmento
que age de forma serial: predadores sexuais, pederastas, pedófilos,
psicopatas que deixam uma fila de vítimas. A partir daí, decidiram
transformar todos os homens em predadores ao manipular a definição

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de violência sexual.”

“É uma descoberta científica impressionante: se você erradicar as


diferenças culturais, vai maximizar as diferenças biológicas.”

“Há uma crise da masculinidade. A ‘tóxica masculinidade’, dizem as


feministas. Os garotos recebem da sociedade moderna uma mensagem
devastadora e paralisante. Primeiro, são recriminados por sua
agressividade, quando é inata e essencial a seu desejo de competir, de
ganhar, de ser ativamente virtuoso. Depois dizem que a sociedade é
uma tirania falocêntrica corrupta da que eles, por suposto, são culpados
da origem pelo mero fato de serem homens...”

Não lhe parece estranho que os homens em nossas igrejas estejam


reduzidos ao “terço dos homens”, ou que estampem no rosto um
certo deslocamento ao entrar numa Igreja? Será mesmo que todos
eles são fracos, débeis e não querem ajudar? Ou será que estamos
com um desequilíbrio na complementaridade, e o espaço que lhes
pertence está ocupado por mulheres que deveriam estar ocupadas
com seu papel? Não é estranho que uma Igreja vista externamente
como patriarcal tenha mulheres fazendo praticamente tudo, menos
ser padre - apesar de todas as pressões nesse sentido, alimentado
por tudo que fora relatado aqui - e homens um tanto perdidos, além
dos seminários com meia dúzia de seminaristas? Não é estranho
que boas moças não se sintam seguras diante dos rapazes que
frequentam a Igreja ( ou vice- versa)?

“As mulheres têm tanto interesse como os homens em acabar com a

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crise da masculinidade. Uma mulher sensata não quer um idiota


como parceiro. Quer um homem. E se for esperta e competente, quer
um homem inclusive mais esperto e mais competente do que ela.”
(Jordan Peterson)

Se os homens são fracos é por serem espelhos de mulheres fracas,


se eles estão acomodados é em resposta a supermulher que deseja
fazer tudo, se temos poucos padres é por falta de mulheres que
os gerem, formem e orientem sendo um constante sinal da Santa
Ordem Divina.

Nós mulheres somos o norte da sociedade, podemos edificá-la ou


devastá-la. Nós somos as únicas que podemos trazer um lembrete
da Ordem Divina em meio ao caos. Não é estranho, portanto, que do
Éden, passando pela edificação na Encarnação, até a deturpação na
revolução sexual, a mulher tenha um papel determinante.

Basta saber se estamos dispostas a sermos sinais da Beleza e da


Ordem para o homem e para o mundo e com isso ajudá-los a resgatar
a sua masculinidade, pois, se você deseja que existam homens bons
em todas as esferas da sociedade, tem a responsabilidade de gerá-
los, consagradas no celibato ou no casamento, corporalmente e/
ou espiritualmente, mediante as suas escolhas, suas condutas, suas
vestimentas e formas de se expressar.

“A história do cristianismo teria tido um desenvolvimento muito


diferente se não houvesse a generosa contribuição de muitas mulheres.”
(Bento XVI, audiência geral, 14 de fevereiro de 2007)

167
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Para que isso ocorra é preciso que exista também uma purificação
do que é entendido como papel da mulher. Hoje, frequentemente o
papel de mãe e esposa é visto como menor e até mesmo na Igreja
ocorre tão frequentemente uma inversão de papéis que olhos mais
bem treinados veem claramente uma grande dose de feminismo
em suas intenções. O papel da mulher não é uma “masculinidade
de saias”, não é buscar fazer o que eles fazem a todo custo, existe
sim uma certa ordem que deve ser restaurada. O papel da mulher
como esposa e mãe não é visto como um “papel de liderança”, mas
é a maior liderança que existe, ninguém tem maior influência que
uma esposa e uma mãe, mulheres nessa posição mudaram o rumo
da história e talvez não tivessem êxito se tivessem renegado uma
posição tão importante.

E é de acordo com essa posição que devemos nos expressar. Qualquer


sentimento de inadequação ou repulsa a esses papéis tão essenciais
e influentes não tem raiz cristã e é, em si, um veneno contra a
feminilidade que deve ser sempre fértil na Ordem Divina.

A CULTURA E O ANIMA FORMA CORPORIS.


É bem comum a observação de que as atitudes devem se conformar
a cultura atual ou ainda seguir as “exigências da modernidade”.

Segundo São Tomás de Aquino: “os movimentos exteriores são sinais


das disposições interiores.” ou ainda “anima forma corporis” (a alma
forma o corpo, o corpo forma a alma)

168
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Recentemente li um texto, muito ruim, sobre a visão do pudor nas


diferentes civilizações, o texto relativizava o pudor dizendo que
afinal não é falta de pudor entre os índios estar pelado, mas é falta
de pudor entre os árabes mostrar os cabelos. Isso existe, existe. Aqui
no Brasil não é falta de pudor sair uma vez ao ano vestida de glitter,
também não é falta de pudor falar palavrões na rua e muitas outras
coisas que quem vai, de verdade, à realidade desse nosso Brasil
brasileiro - no morro e nas periferias, nas escolas públicas e nas
praças das grandes cidades - poderá relatar.

Mas quem mostra o que é verdadeiramente certo? A realidade de


cada povo ou algo acima, que leva os homens a um bem maior e
mais elevado? Se formos seguir as diretrizes do nosso tempo,
todos deveriam sair com frases de ordem, peludas pelas ruas. Ou
ostentando um celular de última geração e roupas minúsculas. A
cultura moderna seria mesmo uma boa professora no que se refere
à moralidade? Estaríamos mesmo melhores seguindo a inclinação
do tempo atual? O caminho é adaptar as virtudes cristãs a cultura
que é claramente pagã ou ateia? O caminho é paganizar e não mais
cristianizar?

Me parece que tais exemplos, muito reais, pouco podem nos ajudar
na vivência da moralidade cristã, já que a atual sociedade nem cristã
é. O que podemos fazer, embora atualmente seja quase impossível,
é retirar das culturas o que é bom e elevá-la segundo os valores,
princípios e virtudes cristãos, também é possível suportar com a
devida e verdadeira orientação o que se tornou comum, mesmo sendo

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inadequado. No entanto, não podemos absorver o que é sabidamente


ruim.

A cultura é matéria de cristianização, uma vez que a Igreja Católica


é também uma cultura, fato um tanto esquecido atualmente. Nós
temos uma língua (o latim), nós temos literatura, arte, arquitetura,
história, leis. O esquecimento desse pequeno conhecimento e a
recusa em transmiti-lo gerou sérias consequentes à identidade do
Ocidente e, principalmente, a identidade do católico.

Também já li o triste argumento que “a intenção é o que importa”,


se referindo a São Tomás, quando este está a falar sobre o pecado
e a vestimenta. Você pode ter um coração ingênuo “recém-saído
do jardim de infância,”, mas acredite, suas atitudes podem gerar
maus pensamentos nas pessoas; pode não ser pecado mortal no seu
caso - e a realidade está aí para dizer que é verdade - mas seu irmão
(ou irmã, lembremos que não é raro aqueles que lutam contra as
desordens sexuais) pode pecar mortalmente por sua causa.

Adentramos, pois, num ponto de suma importância em tudo que se


refere à moralidade: as referências, os modelos.

AS REFERÊNCIAS E A FEMINILIDADE.
Nós somos moldados em grande parte pelas referências que nos
cercam e pelas quais buscamos. Os modelos que vislumbramos são
como bússolas para o que queremos ser e fazer. Já nos ensinavam os
antigos que as pessoas imitam o que veem nas outras, por isso uma
das funções do cristão é dar bom exemplo.

170
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Após a invasão dos bárbaros o Ocidente ficou devastado e sem um


poder de estado que o guiasse. Foi a Igreja Católica em seus padres
e religiosos missionários, que deu o tom dessa nova época e que
erigiu o Ocidente. Tais monges, com seu exemplo, foram muito
influentes na formação das pessoas. O povo observava a vida dos
monges e buscava imitá-la, a medida do possível em suas vidas. A
evangelização sempre foi embasada no exemplo.

Tal observação não é obsoleta se considerarmos a realidade brasileira,


da qual já falamos superficialmente anteriormente, nós somos uma
nação sem modelos, por isso não é muito difícil entender a atual
síndrome de manada da qual o povo está escravo.

Atualmente não é difícil encontrar discursos relativistas no que se


refere a qualquer assunto, também é possível encontrar aqueles que
falam sem nenhum conhecimento teórico e muito menos prático
sobre o assunto. No que se refere à virtude, segundo nos orienta o
Catecismo, isso é de fundamental importância. Como pode alguém
que não estudou, não vive - e portanto não sabe - opinar sobre algo
que é absolutamente aprofundado a medida em que se vive?

É um raciocínio lógico, bem sei. Mas não é raro encontrar aqueles


que fazem exatamente isso. Imagine um aluno que está com dúvidas
em aritmética e vai tirar sua dúvida com o professor de português.
O que você diria a esse garoto? Pois! Muitos fazem a mesma coisa
no que se refere a moral cristã, acreditam que se fulano sabe tanto
sobre uma coisa saberá tudo sobre outra ou ainda tudo sobre tudo. O
impressionante é o fato desses supostos intelectuais responderem a

171
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pergunta sobre algo que não estudaram e não vivem. É muito difícil
saber quem está mais equivocado quem pergunta ou quem responde.
Não defendo aqui o que chamam de “lugar de fala”, defendo uma
coisa chamada competência. Ou se tem competência para falar de
algo ou não se tem.

Com isso, quero lhe mostrar que as referências devem ser filtradas,
nem todo mundo que opina lindamendamente sobre uma coisa está
apto para opinar sobre outra, nós é que vivemos numa época em
que as pessoas acham que podem opinar sobre tudo, principalmente
sobre moral.

É preciso lembrar que, se você é católico, a Igreja já lhe deu


modelos. A Igreja católica é a única instituição do mundo que
revira literalmente a vida de bons homens e mulheres e após anos
de analise os apresenta aos seus filhos e diz: “esse você pode imitar
o que é bom nele”. Como é possível, portanto, recorrer aos modelos
do mundo ou ainda a opiniões de pessoas que não vivem a virtude
discutida. É um disparate.

Também devemos buscar purificar as referências de mulher que


temos atualmente, principalmente na América. Nossa percepção
de beleza feminina é ainda muito ligada às “coisas femininas”, ao
“sexy”, sem nenhuma transcendência. Justamente essa falta de
maturidade tem favorecido o avanço do discurso feminista. Veja
bem, é bem comum que a “volta da feminilidade” seja revestida de
um discurso sobre cabelo, unhas, imagem, cores, etc. Não digo que
isso é ruim. Digo que é pouco, quando vemos o progresso que fizeram

172
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as ideologias no pensamento feminino.

Reduzir a feminilidade a fazer o oposto das feministas é um tiro


no pé, que será comprometedor mesmo estando em cima de um
salto alto. A feminilidade não pode ser tão “aburguesada” a ponto
de ser entendida somente como: “as feministas não depilam então eu
depilo”, “as feministas não usam maquiagem então nós usamos”... isso
não vai dar certo. Esse discurso da beleza reduzida à área da beleza
cosmética ou de visagismo, não dará certo. Logo, logo será revertida
a uma vivência equivocada da feminilidade. Essa percepção que hoje
se aflora lembra muito a visão de feminilidade na burguesia, em que
a mulher tinha muito que se “emperequetar’, ser agradável, alegre,
feliz, quase ela própria um adorno.

Santo Agostinho diz às virgens cristãs: “Fugi da companhia e da


palavra das mulheres, cuja doutrina não é conforme ao Evangelho e
cuja vida é por qualquer forma digna de censura”.

Isso não dará certo, porque não deu certo antes. A feminilidade
não é o conjunto de coisas que naturalmente a mulher se inclina, a
feminilidade é a conversão dessas inclinações e de todo o seu ser para
fazer a Vontade de Deus, viver a Ordem Divina e ser sinal dela. Numa
mudança de mentalidade, de comportamento e de objetivo final.

E a criatura que mais viveu essa realidade sublime da feminilidade


é a Santíssima Virgem Mãe.

173
Vestimenta e Pecado

Imitação de Maria

“A beleza se não for temperada pela Modéstia é uma provocadora


dos apetites animais, que mui facilmente atacam a fortaleza da
alma e a derribam em pouco tempo” (“O Decênio Crítico”, por um
Assistente da Ação Católica, Cap. IV, Art. II, a).

Maria é o nosso exemplo de mulher, basta ver as orientações do


próprio Papa São João Paulo II sobre isso:

“Pode, portanto, afirmar-se que a mulher, olhando para


Maria, nela encontrará o segredo para viver dignamente a
sua feminilidade e levar a efeito a sua verdadeira promoção.
A luz de Maria, a Igreja lê no rosto da mulher os reflexos de uma
beleza, que é espelho dos mais elevados sentimentos que o coração
humano pode albergar: a totalidade do dom de si p or amor; a
força que é capaz de resistir aos grandes sofrimentos; a fidelidade
sem limites, a laboriosidade incansável e a capacidade de conjugar
a intuição penetrante com a palavra de apoio e encorajamento.”
(Redemptoris Mater, 46)

Ela nos orienta no caminho da virtude. Se estamos aqui para


viver somente a decência que o mundo diz que é suficiente, não
precisamos de tanto trabalho, muitos programas de moda na tv já
fazem isso. O objetivo da Igreja e dos católicos deve ser propagar o

174
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bom fermento das virtudes, das práticas concretas que aproximam


de Deus e dignificam o ser humano como filhos amados e resgatados
por Deus que se fez homem.

Também não é difícil entender que ao dizer que devemos imitar


Nossa Senhora, passamos a uma nova forma de ver nossas
escolhas, nas coisas mais pequenas como roupas, porte, tom da
voz, posicionamento de ideias, até mesmo maquiagem, unhas,
portar-se em praias; enfim. Como disse passamos do “será que
é pecado?” para o “Nossa Senhora faria isso?”, passamos a mirar
um exemplo mais perfeito e acabado, um exemplo que pode nos
mostrar a pureza e delicadeza de sermos mulheres. Não é difícil,
mas é preciso ter contato com Ela, não se imita quem não se
conhece.

Para isso é preciso, como ensina São Maximiliano Maria Kolbe:


a oração, o estudo e a humildade. Contemple a Mãe do Senhor,
olhando-a e pedindo a Ela a Graça de ser uma mulher que agrada
a Deus, Ela não tardará em atendê-la (o).

A modéstia é uma virtude. A modéstia é a imitação de uma pessoa:


Nossa Senhora.

E isso vale para todas as mulheres, principalmente, independente


de ser “mariana” ou não, ser consagrada a Nossa Senhora ou não,
devemos mirar a mulher mais agradável diante de Deus e imitá-la,

175
Vestimenta e Pecado

seja você casada ou religiosa, moderninha ou vintage, tímida ou


extrovertida; todas devem entrar na escola de feminilidade que é
Nossa Senhora e buscar a cada dia mais imitar a Mãe do Senhor.

A nossa salvação e a edificação das famílias depende disso.

“Quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com


modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos
penteados, ouro, pérolas, vestidos de luxo, e sim em boas obras,
como convém a mulheres que professam a piedade” (I Tm 2,9-10)

“O ornamento das mulheres virtuosas deve consistir em levar


uma vida irrepreensível, entreter-se muitas vezes com Deus na
oração, ser assídua e aplicada ao trabalho para fugir da ociosidade,
resguardar os olhos e refrear a língua com a modéstia e o silêncio”.
(Santo Afonso Maria de Ligório citando São Gregório Nazianzeno,
Doutor e Padre da Igreja).

“Não te afastes da mulher sensata e virtuosa (...); pois a graça de


sua modéstia vale mais do que o ouro” (Eclo 7,21)

“A graça de uma mulher cuidadosa rejubila seu marido, e seu


bom comportamento revigora os ossos. É um dom de Deus uma
mulher sensata e silenciosa, e nada se compara a uma mulher
bem-educada. A mulher santa e honesta é uma graça inestimável;
não há peso para pesar o valor de uma alma casta” (Eclo 26,16-20)

176
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“Comporta-te com a Modéstia e a reserva que terias se contigo


estivessem Jesus e Maria!” (“Imitação de Maria”, por um religioso
anônimo, Liv. II, Cap. XXVIII).

“Uma recomendação particular a vós, meninas. Sede sempre modestas


no vestir, no porte e no falar; modestas em tudo, para não serdes
nunca motivo de escândalo para ninguém. Não imiteis certas jovens
descaradas, que, talvez mesmo sem pensar, levam uma vida que, por
leviandade de trato, é inteiramente escandalosa e causa de tantos
pecados” (Teólogo Giuseppe Perardi, “Novo Manual do Catequista”,
Part. II, n. 199).

“A mais resplandecente pérola de uma jovem é a Modéstia, guardai-


vos, pois, no vestir, no olhar, no andar, na cabeça e em todo o corpo,
em casa e fora de casa; sempre e por toda a parte resplandeça em vós
esta virtude.

São Paulo, recomendando aos fiéis a Modéstia, diz-lhes: ‘Que a vossa


Modéstia seja conhecida de todos os homens, pois o Senhor está junto
de vós’.

A donzela vaidosa é uma enviada do Demônio, porque a vaidade é


mais que irmã da impureza, é sua mãe”. (Manual da Pia União das
Filhas de Maria, Cap. IV, “5ª regra para todo o tempo”, 5º Ponto,
pp. 122-123, traduzido do italiano pelo Côn. Dr. Ana­nias Corrêa
do Amaral, 11ª edição, Porto, 1926).

177
Vestimenta e Pecado

“Nunca profiras palavras imorais, porque matam a alma. Deixa de


zombarias e de piadas; de que te serve que os outros deem risadas, se
ofendes a Divina Majestade na pessoa do teu irmão a quem maltratas?

Não te distraia olhando aqui e acolá, porque isso mostra o vazio e a


vaidade de teu coração. Sejas moderada no teu andar, como o fazem
as pessoas que vivem na presença de Deus. Não levantes muito a tua
voz, nem dê fortes gargalhadas; mas a graça da Modéstia envolva
sempre o teu semblante.

Corrigirás melhor aos maus com a tua Modéstia do que com


a abundância de tuas palavras. Se tiverdes de falar, sejam as
tuas palavras como anzóis com que prendas à piedade aos maus
que te escutarem. Sede afável com todos, e os ganharás a todos para
Deus.

Se todos aqueles que te virem se regozijarem e bendizerem ao Eterno


Padre que está nos Céus, e os maus se comportarem na tua presença,
então crê, filha Minha, que a Modéstia está em ti como a tocha que
ilumina e vivifica. Imita-Me” (“De la imitacion de la Bie­naventurada
Virgem Maria Nuestra Señora”, por un monje premons­tratense,
Cap. III, pp. 176-177, nueva edición, Madrid, 1926).

Atualmente, a indústria da moda tem nos afastado, por modas e


modismos, das verdadeiras referencias cristãs. A moralidade não é
um grande campo de opiniões pessoais, se assim fosse não haveria

178
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compêndios variados que demonstram a preocupação de membros


ilustres da Igreja em manter certa coerência e direções a respeito
desse tema. Como é possível viver segundo o coração de Deus e
amá-lO e viver uma vida sem as estacas da moral cristã?

O mundo nos apresenta diversas opiniões sobre moralidade e


nenhuma delas nos levam às práticas das virtudes e, portanto,
não nos pertencem. Os filhos de Deus devem viver como filhos
de Deus. E ainda todas as católicas são filhas de Maria e com Sua
Santa Mãe devem se parecer.

Se a moda é a expressão de pensamentos nós devemos usá-la para


propagar a Verdade: Jesus é Rei e Santos são os seus pensamentos.
E é segundo tais pensamentos que devemos viver.

179
Vestimenta e Pecado

Leis de Conduta Mortal, dadas por S. Em.


D. Sebastião Leme, na Assembleia Geral do
“Dia da Filha de Maria”.

da Arquidiocese do Rio de Janeiro,


em 22 de agosto de 1937.

1. Piedade e vida interior


A Filha de Maria, onde quer que se apresente, deve ser reconhecida
pelo seu porte exterior de distinção e modéstia, reflexo de uma
piedade sólida e de vida interior profunda.

2. Fervor Eucarístico:
A piedade e a vida interior da Filha de Maria devem alimentar-
se com a devoção fervorosa à Santíssima Eucaristia, concretizada
principalmente, pela assistência à Missa e pela Comunhão frequente,
e, se possível, diária.

3. Devoção terníssima à Maria:


Pela devoção terníssima que deve consagrar à sua Mãe do Céu, a
Filha de Maria não deixará passar nenhuma Festa de Nossa Se­nhora
sem esmerado preparo e condigna celebração.

4. Devoção dos Sábados:


A devoção dos Sábados, tradicionalmente consagrados pela piedade
católica ao culto da Virgem Maria, ocupará um lugar de destaque na
vida espiritual da Filha de Maria.

180
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5. Ação Católica: No exercício pacífico da Ação Católica, cada Filha


de Maria deve procurar obter um lugar de honra, quer pela sua
formação primorosa, quer pela incorporação numa das suas duas
organizações fundamentais femininas.

6. O amor à Igreja e ao Papa:


A Filha de Mar ia não cederá a ninguém o primado do amor à Igreja
e a submissão filial ao Papa e às Autoridades Eclesiásticas.

7. Diversões e Modas:
Na sua atitude em face das diversões modernas, das modas e leituras,
a Filha de Maria lembrar-se-á sempre das altas exigências de sua
eminente dignidade cristã.

8. Praias e Banhos:
As praias de banho não serão frequentadas pelas Filhas de Maria em
trajes, horas e companhias incompatíveis com a Modéstia Cristã.

9. Cassinos:
As responsabilidades de perfeição individual e de bom exemplo
interdizem à Filha de Maria a frequência dos Cassinos e reuniões
similares.

10. Rádios:
O cuidado com a conservação de suas virtudes exige que a Filha
de Maria não sintonize para as estações emissoras em horas de
programas pouco escrupulosos e inconvenientes.

181
Anseio
A busca por significado
e o poder de eleição.
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Dentre os diversos modos de se referir a esse interesse pela modéstia


está à expressão “onda” ou ainda “neurose”.

O tempo dirá se estou certa, mas esta expressão provém de uma análise
incompetente, não somente pelo que já foi dito, anteriormente, mas
ainda pelo que virá adiante.

Quando estamos diante de um comportamento social devemos nos


atentar a alguns pontos cruciais visando analisá-lo bem. No que se
refere à modéstia, alguns deles podem ser observados nas respostas
às seguintes perguntas:

— Quais os motivadores desse comportamento no Brasil?

— Isso se repete em outros países?

— Se sim, tem as mesmas características?

— Existe um fio de união entre o que acontece no Brasil e o que


acontece em outros países?

Toda abordagem que não considera nem mesmo estas questões é


falha.

Para deixar mais claro a extensão do que estamos vivendo gostaria


de lhe responder estas questões.

Os motivadores desta mudança comportamental no Brasil é


religioso, começou, de fato, entre os católicos, com a propagação da
Consagração Total a Santíssima Virgem Maria que resgatou — no

183
Anseio

processo — uma virtude que deve ser vivida por todo cristão (por isso
não parou nos consagrados, antes usou deles como instrumento) e
que não se restringe a uma devoção, portanto, não existe um estilo
de “modéstia mariana”, existe a virtude da modéstia que foi vivida
por Maria, por Jesus e pelos santos; virtude esta que é fruto da
ação do Espírito Santo. Nada nos espanta nesta dinâmica, já que
a Santíssima Virgem está debaixo da sombra do Espírito Santo e é
dócil as suas ações, assim também o são quem dEla se aproxima.

Esta alteração de comportamento — esta busca por uma vestimenta,


porte, novos e nobres interesses — pode ser observada em outros
países, mas não com o mesmo motivador.

Não é difícil encontrar uma nova categoria de moda, que surgiu,


fora das passarelas, e depois a influenciou, chamada vintage fashion.
Em suma esta nova categoria é motivada por um apreço pelo
passado, pela delicadeza, pela singeleza e em alguns pontos pode
ser uma espécie de saudade, mas sem nenhuma conotação religiosa
especifica. Em si é um estilo, uma moda que pode durar um tempo e
passar, e só.

Este grupo, do vintage fashion, não é pequeno, nem anônimo. Podem


ser vistos principalmente na Europa e possuem uma grande parcela
de admiradores, estranhamente, pois realmente buscam reproduzir
as vestimentas de determinada época (é comum encontrar feministas
nestes grupos; no Brasil ele ainda não encontrou espaço por conta
da cultura e pela forte ligação que algumas formas de se vestir têm
com a religião, mas existem inícios disso).

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Digo estranhamente, pois se isso ocorre num meio religioso é


chamado de neurose, mas quando não tem conotação religiosa (mas,
algumas vezes, feminista) é chamado de autêntico. No entanto,
notamos com clareza que as vivências motivadas pela religiosidade
são mais equilibradas.
Nos Estados Unidos, por sua vez, existem dois grupos: um com
motivação religiosa, muito aceita por conta da própria raiz cristã
do país — que apesar de tudo, não foi completamente esquecida — e
outra com uma vertente mais alinhada a delicadeza de um tempo
que se foi, sendo uma outra vivência do vintage fashion, podendo
existir ou não traços feministas.
Veja, neste caso, não é o vintage fashion que é feminista; são algumas
feministas que simpatizam com esse estilo e o deixam mais moderno
ou sexy; fazendo novamente aquela dinâmica do uso da moda como
ferramenta para chegar até as mulheres. O mesmo pode fazer uma
cristã visando levar o Evangelho até as pessoas, desde que não
reduza a virtude a um estilo, mundanizando o que é espiritual
para receber aceitação.

Portanto, vemos que cada caso possui características e motivadores


diferentes, no entanto, com o mesmo anseio como fio de união.
O anseio é, neste caso: o apreço pelo que possui significado. A
religiosidade, por sua vez, orienta esta ação para que não se torne
um saudosismo ineficaz, mas um sinal da dignidade dos filhos de
Deus, do Reino que há de vir e da caridade. Veja que se trata de
ações parecidas, exercidas por grupos opostos, com motivadores
diferentes e muitas vezes contrários.
185
Anseio

Não se trata, portanto, de uma onda e nem mesmo de uma neurose


— nem mesmo o que ocorre nos meios seculares — trata-se antes de
um anseio pelo sentido, e por significado em meio à liquidez e falta
de sentido do mundo em que vivemos.

Cabe lembrarmo-nos de um ponto importante da doutrina cristã,


expressa de forma clara na doutrina de São Tomás sobre o mérito
e demérito das obras: O homem só pode dispor-se para alcançar,
como recompensa, a visão beatifica, unicamente por meio de seus
atos. As ações que merecem tal recompensa são as ações virtuosas.

As ações virtuosas são aquelas que a vontade humana executa em


conformidade com a vontade divina e sob o impulso da graça. Deve ser
voluntário e para isso, há de ser espontâneo e feito sob conhecimento
de causa.

O ato voluntário deve ser feito com conhecimento do fim, pois se o


individuo se engana no que há de fazer, o ato é involuntário, mas só
é involuntário se o individuo conhecendo o erro, não o executaria.

Apesar do que fica dito, um ato ou omissão podem ser voluntários


se o sujeito é culpado pela ignorância ou pelo erro, chama-se
a isso negligência culpável; que se dá quando o sujeito se recusa ou
é negligente em aprender suas obrigações.

Para apreciarmos a moralidade dos atos voluntários é preciso se


atentar as: circunstâncias da pessoa, objeto, consequências, lugar,
intenção, meios e tempo.

186
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Circunstâncias da Pessoa:
ao caráter ou condição da pessoa,

Objeto e Consequências:
a realidade do ato, seus efeitos e consequências,

Lugar:
lugar da ação,

Intenção:
ao fim ou objetivo que se propõe o operante,

Meios:
aos meios e auxílios que utiliza,

Tempo:
ao tempo em que a executa.

A mais importante é a quarta, ou seja, o fim ou objetivo do


operante.

Todos os atos voluntários procedem da vontade e o valor dos atos


humanos e sua virtude tem raízes exclusivamente na faculdade da
vontade.

Dentre os atos da faculdade da vontade o mais importante e o que


carrega maior responsabilidade é o ato de escolher ou o ato de eleição.
Pois mediante a eleição, a vontade, com conhecimento de causa
e prévia análise, adere a um bem determinado que desde logo
aceita e ao qual trata de apropriar-se, dando a ele preferência.

187
Anseio

Assim a eleição é um ato de livre arbítrio. Logo os atos humanos


têm seu caráter moral e valor — para alcançar as bem-aventuranças
— determinados pelo ato eleger.

O ato de eleição se dividi em: boa e má.

Diremos que é boa quando são: bons o objeto (a realidade do ato, seus
efeitos e consequências), o fim (objetivo que se propõe o operante),
e as circunstâncias (o caráter da pessoa). A bondade do ato provém
da reta razão.

A reta razão é a razão humana que opera esclarecida com a luz divina,
ou, ao menos, não lhe opõem obstáculos.

Assim para que um ato seja bom, virtuoso, é necessário que o objetivo
seja conforme a reta razão, que esta lhe aprove o fim e não oponha
reparo às circunstâncias (caráter da pessoa). E ainda, se falta alguma
das ditas condições, o ato deixa de ser bom e se converte, ainda que
em graus distintos, em ato mau.

“Deve-se dizer que o caráter distingue uma pessoa de outra


levando em consideração a finalidade a que está orientado.”
(TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, q.63, a. 3).

“O caráter é propriamente um sinete com que alguém é marcado para


que se oriente a determinado fim: assim o denário é marcado com
um caráter para ser usado no comércio, e os soldados são marcados
com um caráter por serem incumbidos do serviço militar” (TOMÁS DE
AQUINO, Suma Teológica, q.56, a.3.).

188
salusincaritate.com

“Pelo vosso Verbo criastes o mundo e tudo governais com justiça. Feito
homem, Vós no-lo destes como mediador, para nos anunciar as vossas
palavras e chamar-nos a seguir os seus passos. Ele é o caminho que
nos conduz até Vós, é a verdade que nos liberta, é a vida que nos enche
de alegria. Por meio do vosso Filho, reunis numa só família todos os
homens que criastes para glória do vosso nome, resgatados com o
sangue da sua cruz e marcados com o sinal do Espírito Santo. Por
isso, agora e para sempre, com todos os Anjos proclamamos a vossa
glória... (Ordinário da Santa Missa).

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Vida Interior
A Soberania do Amor.
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“Porém se tu fores decidido partidário da verdade, se puseres sempre


a justiça em tuas palavras, em tuas ações e em tua vida – então,
cada um dos atos será como que um golpe em prol do advento do
Reino de Deus” (Dom Tihamer Toth)

Todas as nossas ações e escolhas importam.

Segundo São Tomás de Aquino, há quatro formas da alma se elevar


a Deus, o santo doutor as apresenta como que em graus:

1º) pela fé: considerando a grandeza de seu poder;

2º) pela esperança: aspirando a felicidade eterna;

3º) pela caridade: buscando unir-se à bondade e à santidade de


Deus. A alma então desenvolve um amor afetivo;

4º) pela justiça: buscando imitar suas obras, realizar a prática das
virtudes. Passa então a um amor efetivo.

(Prólogo do Comentário de Santo Tomás sobre os Salmos)

Considerando tal ensinamento podemos vislumbrar a Soberania do


Amor de Deus e as regras sublimes do Reino de Deus vivida em
antecipação nos corações e nas vidas dos que amam a Deus. Amor
efetivo.

A Lei do Reino de Deus, como nos ensina Santo Agostinho em seu


comentário da Carta aos Romanos, é mais sublime que a lei antiga,
pois propõe uma atitude mais perfeita e radical. Antes era previsto

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Vida Interior

obedecer ao mandamento de não matar, mas não havia dedicação a


não odiar e muito menos a amar até mesmo o inimigo; era previsto
uma vida sem adultério, mas não havia menção a vivência sublime
da virgindade ou da castidade. A antiga lei não era ruim ou muito
pesada, antes era uma seta para cume; o Senhor nos apresenta os
cumes que deseja que alcancemos. Por isso, Ele diz que não veio
tirar um iota da Lei, pois que veio elevá-la, veio nos convidar a dar
passos maiores.

Para tanto nos concedeu o Espírito Santo. Segundo o monge


dominicano Callens o Espírito “far-nos-á passar da fórmula à
realidade das coisas” e ainda “Ele cria convicções geradoras de vida”,
pois “a ideia entra na vida quando se transforma em convicção”. Nós
somos levados frequentemente a acreditar que a vida espiritual, a
vida interior ou a vida religiosa é um tipo de nuvem, etérea, distante
e fora da nossa realidade cotidiana, pois é... isso é sinal de um
pensamento fora do Espírito Santo. É ação do Espírito Santo tornar
o amor afetivo em amor efetivo, o fazer das ideias belas e sublimes,
lidas e nunca praticadas, em atos concretos. Nisso consiste o caminho
da virtude, nisso consiste a concretude da fé cristã.

A virtude é um constante processo de lapidação e dilatação à


Soberania do Amor de Deus; a dilatação, no entanto, é proporcional
ao acolhimento das propostas de renúncia e sacrifício que o Senhor
espalha por diversos meios e enredos cotidianos.

O Senhor disse muitas vezes a Santa Margarida Maria: “deixa-Me


fazer”.

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A vida interior só existe no acolhimento desse influxo do Amor


Soberano de Deus, que por ser soberano deseja fazer maravilhas em
nós e requer espaço. Esse acolhimento gera vida interior fecunda,
consciente do poder de Deus (fé), sedenta da felicidade eterna
(esperança), abrasada do amor de Deus que a instiga a uma resposta
de amor (caridade), dedicada a imitar o Senhor em tudo (justiça).

É justo que O imitemos, Ele que tanto fez por nós. É amor se
empenhar em ter os mesmos pensamentos do Amado, é alegria
viver antecipadamente as leis do Reino de um Deus tão Amável, é
sublime ser testemunha e matéria da ação transformadora do poder
de Deus.

Independente da vocação particular, todos somos chamados a


responder ao Amor de Deus e viver debaixo da soberania desse amor,
dessa resposta depende a nossa felicidade. E essa resposta torna-se
concreta na pratica das virtudes, elas são como que as pedras que
formam o caminho após a passagem pela porta estreita. Para os
que querem andar neste caminho, suave e agradável aos buscadores
e amantes de Deus, é inevitável e radicalmente necessário crescer
nelas.

Deus quer uma resposta de amor e a soberania de Seu amor não aceita
concorrência.

Que Deus nos conceda a graça de responder aos pedidos do Senhor,


que muitas vezes não são grandiosos, sem restrições ou condições.
A maioria de nós não viverá um momento de grandioso martírio,

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Vida Interior

nem torturas, nem faremos grandes discursos sobre a fé ou grandes


apostolados, nós somos chamados a entregar a gotinha de sangue
dos pequenos desapegos e sacrifícios - determinados a viver a Regra
da Soberania do Amor - nela não há obras pequenas ou grandes,
mas sim obras de amor pequeno, amor grande... ou – Deus nos
livre- nenhum amor.

“Que é, pois, esse perfeito amor? Supõem antes de tudo uma grande
estima, uma grande admiração por Deus, e um justo conhecimento de
suas próprias misérias, chegando ao desprezo de si mesmo; vem
depois do esquecimento de seus próprios interesses e a procura
acima de tudo do bem de Deus, dos interesses de Deus, da glória
de Deus. O egoísmo leva o homem a se concentrar em si mesmo e o
amor fá-lo sair de si mesmo...
Quando amor perfeito reina sobre toda a natureza humana, sobre a
inteligência, a vontade e as faculdades operantes; amamos então a
Deus com todo nosso espírito, todo o nosso coração, todas as forças,
isto é, com as mãos, os braços, os pés; todo o poder de atividade que
temos é para Ele.

Enfim o amor tende à união, à imitação, à transformação no


Bem amado. Se o admiramos, como não desejaríamos assemelhar-nos
a Ele? Além disso, o amor é a vontade que se compraz em seu objeto,
que o representa como muito amável, deixando-se atrair por ele; tende,
pois a unir-se-lhe, e, como o amor exige uma certa conformidade à
vontade para realizar essa união, procura adaptar-se ao seu objeto,
harmonizar-se com ele, assemelhar-se a ele, transformar-se nele.”
(Saudreau, Augusto. O ideal da alma fervorosa).
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Quando o Senhor viu aquela mulher entregar as poucas moedas que


tinha no Templo, chamou os apóstolos para contemplar a cena de
abandono à Providência, de abertura para deixar Deus fazer; no Céu
não seria estranho se Ele estivesse neste momento fazendo a mesma
coisa. O Salmo 14 diz que Deus se inclina sobre a humanidade para
ver se existe alguém que tenha juízo e sabedoria. Não causa espanto,
portanto, que o Senhor esteja a esperar o momento dos pequenos
triunfos de cada alma e que ao vê-lo chame a santos e anjos para
contemplar e se alegrar com Ele.

O caminho da virtude é o caminho das pequenas coisas, não da


mediocridade. Fazer pequenas coisas não significa fazer pouco,
antes significa fazer o que nos é orientado e mais um pouco; essa é a
mensagem do Evangelho ao instaurar a Lei da Graça: é preciso não
matar, mas somado a isso não odiar e ainda amar quem te odeia,
é preciso não adulterar, mas somado a isso buscar a castidade e a
pureza do corpo e da alma, é preciso respeitar o Templo Sagrado e
somado a isso respeitar o seu próprio corpo que é também templo.
Pois quem não odeia não mata, quem respeita o seu corpo e o do
outro não adultera ou comete fornicação ou menospreza um seu
semelhante seja idoso, adulto ou tão pequeno quanto um gergelim
na barriga da mãe. Essa é a elevação da Lei que o Senhor nos trouxe.
Esta é a Beleza, a Graça, a Santa Ordem dos pensamentos de Cristo.

Santa Teresinha foi a grande propagadora da pequena via; e sua


vida comprova o dito acima; ela era carmelita, já vivia uma vida
penitente, mas ainda assim quis fazer o mais perfeito, dar um pouco

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Vida Interior

a mais do que mandava a regra da ordem. Esse é o espírito de uma


alma virtuosa que não estagna no “não precisa”, ou fica buscando
brechas e discursos que a façam acomodar-se confortavelmente no
“não precisa de tudo isso”. Antes abraça todas as oportunidades de
fazer um pouco mais, tendo diante de si o quanto Deus fez por nós.

Quem contempla o Crucificado sempre sabe que faz pouco!

A alma orientada pela Soberania do Amor guia-se por princípios


elevados e vê crescer em si:

— a convicção: um ideal firme e elevado em ação;

— o caráter: que é a faculdade da vontade fixada em fazer o bem,


manter-se nele e agir em conformidade aos princípios elevados que
acredita;

— honestidade interior: lealdade e retidão ao que acredita, mesmo


estando sozinho ou em meio a uma multidão que faz o oposto.

“Mas dize-me, amigo, merece o nome de cristão aquele que nas ações,
princípios e convicções se deixa guiar pelas circunstâncias exteriores e
pelos conselhos dos companheiros” (Dom Tihamer Toth)

A Soberania do Amor é a regra dos corações que amam a Deus. E


esta ação majestosa faz com que alma amando a Deus transborde
em amor aos irmãos.

“Quando, por coseguinte, uma alma possui a verdadeira caridade, é


sinal de que está em paz com Deus. Tal nos ensina o apóstolo São

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João: “Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos


os nossos irmãos” (1Jo 3, 14).

“Quando uma alma possui a verdadeira virtude, revelam-se verdadeiros


discípulos do Cristo (Jo 13, 35), dão ao mundo um belo espetáculo
e fornecem-lhe uma prova evidente da divindade do cristianismo.”
(Saudreau, Augusto. O ideal da alma fervorosa).

São Paulo nos ensina que “a fé opera pela caridade” (Gl 5, 6) e ainda
“por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a
maior delas é a caridade.” (I Cor 13, 13).

A virtude deve ser vivida neste espírito:

— pela fé: pois, como criaturas elevadas a filhos devemos santificar


e glorificar Seu Santo Nome em nossa corações e atos,

— pela esperança: vivendo em antecipação e na medida máxima que


conseguimos os pensamentos de Cristo, que é a Regra do Reino de
Deus,

— no entanto, o maior motivo é a caridade: por amor a Deus que


nos amou e aos irmãos que amamos como a nós mesmos. Deste
influxo e transbordamento do amor, que é um dom do próprio Deus,
tornamos concretude os anseios do Coração Divino, lembrando que
“assim também vós, quando tiverdes cumprido todas as ordens, dizei:
somos simples servos, fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17,
10), que é conhecer, amar e servir a Deus.

197
Vida Interior

Acredito, caro leitor, que deva terminar por aqui os fragmentos do


que pesquisei e refleti sobre este assunto, pois já lhe canso demais.
Espero que tenha sido feliz em lhe oferecer uma nova luz sobre este
assunto nada pequeno, embora pareça.

Singelamente, Ana.

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Oração
Amor do Coração de Jesus, abrasai meu coração.
Formosura do Coração de Jesus, cativai meu coração.
Bondade do Coração de Jesus, atrai meu coração.
Caridade do Coração de Jesus, derramai-vos em meu coração.
Clemência do Coração de Jesus, consolai meu coração.
Domínio do Coração de Jesus, sujeitai meu coração.
Doçura do Coração de Jesus, penetrai meu coração.
Equidade do Coração de Jesus, regrai meu coração.
Eternidade do Coração de Jesus, encheis meu coração.
Fidelidade do Coração de Jesus, protegei meu coração.
Força do Coração de Jesus, sustentai meu coração.
Glória do Coração de Jesus, ocupai meu coração.
Grandeza do Coração de Jesus, confundi meu coração.
Humildade do Coração de Jesus, humilhai meu coração.
Imutabilidade do Coração de Jesus, fixai meu coração.
Justiça do Coração de Jesus, não abandoneis meu coração.
Liberalidade do Coração de Jesus, enriquecei meu coração.
Luz do Coração de Jesus, iluminai meu coração.
Misericórdia do Coração de Jesus, perdoai meu coração.
Obediência do Coração de Jesus, submetei meu coração.
Paciência do Coração de Jesus, não vos canseis de meu coração.
Presença do Coração de Jesus, apaixonai meu coração.
Providência do Coração de Jesus, velai sobre meu coração.
Reino do Coração de Jesus, estabelecei-vos em meu coração.
Sabedoria do Coração de Jesus, conduzi meu coração.
Santidade do Coração de Jesus, purificai meu coração.
Silêncio do Coração de Jesus, falai a meu coração.
Ciência do Coração de Jesus, ensinai a meu coração.
Poder do Coração de Jesus, assegurai meu coração.
Vontade do Coração de Jesus, dispõe de meu coração.
Zelo do Coração de Jesus, devorai meu coração.

Só quem se mortifica em Vós floresce;
Só é senhor de si quem se Vos rende;
Só sabe pretender quem Vos pretende,
E só sobe por Vós quem por Vós desce.

Quem tudo por Vós perde, tudo ganha,


Pois tudo quanto há, tudo em Vós cabe.
Ditoso quem no Vosso amor se inflama,

Pois faz troca tão alta e tão estranha.


Mas só a Vos pode amar o que Vos sabe,
Só a Vos pode saber o que Vos ama.

(Falando com Deus,


por Frei Jeronimo Baía, 1620-1688)
Referências
Complementares
salusincaritate.com

E-books de apoio de minha


autoria ou participação:

Modéstia da
Teoria à Prática.

Guia “definitivo”
sobre Modéstia
(sem relativismo).

202
salusincaritate.com

Clique no título desejado para


acessar o link com o material.

Pronunciamentos Papais e da
Sagrada Congregação do Concílio:

1. Cruzada pela pureza, por S. S. Pio XII

2. Moda e modéstia, por S. S. Pio XII

3. O vestuário pode denegrir a pessoa, por S. S. Pio XII

4. Papa Bento XV fala sobre moda

5. Problemas morais nos estilos da moda, por S. S. Pio XII

6. Carta aos bispos: Imodéstia nas modas contemporâneas,


pela Sagrada Congregação do Concílio aos Bispos do
mundo

7. Carta da Congregação do Concílio sobre modéstia, pelo


Cardeal Donato Sbaretti

Pronunciamento
de Santos:

1. Vestida com dignidade, por São Francisco de Sales

2. Modéstia aos olhos, por Santo Afonso Maria de Ligório


203
salusincaritate.com

3. As excelências da mortificação, por Santo Afonso Maria


de Ligório

4. As nossas conversas, por São Francisco de Sales

5. Honestidade das palavras e respeito que se deve ao


próximo, por São Francisco de Sales

6. Da prática da caridade nas palavras, por Santo Afonso


Maria de Ligório

7. Modéstia ao assistir à Santa Missa, por São Leonardo


de Porto Maurício

8. Imodéstia - Noiva do diabo, por São Leonardo de Porto


Maurício

9. Padre Pio insistiu na modéstia

10. Adorno de modéstia e sobriedade: Pe. Pio na luta pela


modéstia

11. Modéstia por São Tomás de Aquino: Suma Teológica,


II-II, qq. 160 e 168-170

Pronunciamento de Cardeais, Bispos,


Monsenhores, Cônegos e Padres

1. Pureza interior, pelo Cardeal Mindszenty

204
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2. Uso do véu / Modéstia no vestir, por Dom Antônio de


Castro Mayer

3. O valor do pudor, por Dom Tihamér Tóth

4. Soldados da pureza, por Dom Tihamér Tóth

5. O sentido da vista / Modéstia: Baluarte que nos protege


a débil virtude, pelo Cônego Augusto Saudreau

6. Praias e piscinas / Dança, pelo Padre Ricardo Félix


Olmedo

7. As vestes à luz da Bíblia Sagrada, pelo Padre Elcio


Murucci

8. Maria - Modelo acabado do mundo feminino, pelo Padre


Hardy Schilgen

9. Modéstia no vestir - Cuidado com a moda!, pelo Padre


Hardy Schilgen

10. Acerca da decência no vestuário, pelo Abade A. Bayle

11. A modéstia: I - No porte e nos olhares / II - Nas conversas


e recreios, pelo Padre F. Maucourant

12. Modéstia do corpo, pelo Padre Adolph Tanquerey

13. Castidade / Modéstia / Castidade do coração, pelo


Padre Gabriel de Santa Maria Madalena

205
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14. As modas indecentes e a Maçonaria, por Dom Tomás


de Aquino

15. Vestidas com o sol, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

16. Eu e minha toilette... Algemas da moda!, pelo Padre


Geraldo Pires de Souza

17. Heroínas do pudor, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

18. Inculcar nas crianças a modéstia nos trajes: um dever


de mãe!, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

19. Relatividade do pudor?, pelo Padre Geraldo Pires de


Souza

20. Com teus vestidos, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

21. Pequeno catecismo do namoro, pela FSSPX

22. A sensualidade e o dano intelectual, pelo Padre Gillet

23. Grandes tesouros para a donzela cristã: modéstia e


humildade, pelo Padre J. Baetman

24. Sois cristã: tendes, pois, uma fé que deve irradiar,


pelo Padre J. Baetman

25. Moda: uma trama diabólica, pelo Padre J. Baetman

26. O coquetismo, pelo Padre J. Baetman

206
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27. Ornamentos da donzela cristã: firmeza / brandura /


altruísmo, pelo Padre Matias de Bremscheid

28. Vaidade feminina, pelo Padre Manuel Bernardes

29. Ambição e moda, pelo Padre Luis Chiavarino

30. Conversas, pelo Frade Frutuoso Hockenmaier

31. Palavras torpes e indecentes, pelo Padre Manuel


Bernardes

32. Sermões de São João Maria Vianney - O cura D’Ars

33. Lembrete de algumas regras de modéstia cristã, pelo


Monsenhor Bernard Fellay

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208
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Viva a
Cristo Rei!

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