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Nossa Senhora

De Quatlasupe!
Rogai por nós.

 COMENTANDO A DECLARAÇÃO FIDUCIA SUPPLICANS


Sobre o significado pastoral das Bênçãos

No dia 18, do mês em curso, Dezembro, do ano do Senhor, 2023, o Dicastério para a
Doutrina da Fé, orientado pelo Dom Víctor Manuel Cardeal Fernández (Tucho), com
aprovação do Santo Padre, publicou a Declaração que trata essencialmente sobre o
significado pastoral das bênçãos, os tipos de bênção: Litúrgica (nº 9-13), que é a formal,
e a Devocional, pastoral (nº 20-30), que é a informal.
No III capítulo, que é o foco da minha abordagem, Le benedizioni di coppie in
situazioni irregolari e di coppie dello stesso sesso - “As bênçãos dos casais em situação
irregular e dos casais do mesmo sexo” (nº 31-41), abre-se a possibilidade da bênção aos
“casais” homossexuais ou pessoas do mesmo sexo. O Documento insiste no facto de
que não se trata de um Matrimónio e sublinha, para evitar confusão, que não deve ser
realizada ao mesmo tempo que os ritos de união civil, com roupas, gestos ou palavras
típicas de um Matrimónio (nº 39), mas num Santuário, numa Peregrinação ou num
encontro com o Sacerdote (nº 40). Entretanto, foi motivo de escândalo para muitos bons
católicos, porquanto, temos plena certeza, pois, nos ensinam as Sagradas Escrituras, que
aceitar a homossexualidade como modo de vida é opor-se ao desejo criacional de Deus
(Cfr. Gen 1,27-28), é querer corrigir Deus e violar a sacralidade da natureza humana na
sua originalidade.
Os ânimos estão elevados, as pessoas estão assustadas e algumas descrentes quanto a
veracidade do Documento, preferem dizer que é fruto do sensacionalismo dos
Jornalistas, que, em busca de polémicas, fazem uma contínua falsa ou exagerada
interpretação das palavras do Papa, acusando o Santo Padre de dizer algo que nunca
disse. Entretanto, a Declaração é real e podemos ter acesso na internet o Documento
original, ir consultar no site oficial do Vaticano.
Muita gente dirigiu-se a mim, buscando um parecer e até então apenas respondia:
"rezemos pela Santa Igreja e pelo Santo Padre!" Ainda insisto que nas nossas orações
diárias, coloquemos continuamente esta intenção. Todavia, depois de muita oração,
meditação, avaliação e investigação, tomei a decisão de escrever este Artigo sobre esta
Declaração publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé.
Não é um Tratado ou um Artigo Teológico sobre a validade ou invalidade da bênção
dada a estas pessoas (do mesmo sexo) que estranhamente estão a ser chamadas de casal
(reza o Documento: “coppie dello stesso sesso”), que não deixa de ser um atentado a
Família, tudo porque, é uma união fechada a fecundidade, uma união onde já não há pai
e nem mãe, só há dois homens ou duas mulheres, que muitas vezes nem se consideram
homens ou mulheres. Não é minha intenção expor de forma teológica sobre a validade
ou invalidade desta bênção, mesmo que alguns pontos, implicitamente, respondam a tal
problemática, no entanto, o que pretendo é, essencialmente, fazer um simples
comentário tratando da aplicabilidade desta Declaração em uma Diocese ou Paróquia e
apresentar algumas situações que o mesmo gerou nas nossas Comunidades.
 O Santo Padre alterou a Sã Doutrina da Igreja?
Obviamente, não! Não se trata de um MUTU PROPRIO ou de uma BULA PAPAL…, é
uma simples Declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé, ou melhor, é uma
Orientação Pastoral e não Dogmática ou Normativa, não é um novo cânon do Código de
Direito Canónico ou correcção de um cânon, não é um novo artigo do Catecismo da
Igreja Católica ou rectificação de um artigo. Graças a Deus, não é. O próprio
Documento fala de prudência pastoral e não norma (Cfr. nº 37).
 O Santo Padre é mesmo infalível?
Esta Declaração, gerou por parte de muita gente, a discussão sobre o Dogma da
Infalibilidade Papal. Se o Santo Padre é realmente infalível, como pode aprovar esta
Declaração, tão ofensiva aos três pilares da Igreja (Sagrada Escritura, Sagrada Tradição
e a Sã Doutrina)? Uma discussão que, indirectamente, revela desconhecimento da
matéria ou um conhecimento muito superficial do Dogma em questão, porquanto, o
Dogma não se aplica a todas as acções ou palavras do Santo Papa, seria torná-lo Deus e
o Papa não é Deus. (cfr. CIC nº 889; DV nº 7 e ler Pastor Aeternus).
O Dogma aplica-se em situações muito concretas e singulares. Adianto dizer, que a
FIDUCIA SUPPLICANS não está sob o véu deste Dogma, afinal, é uma Declaração
Pastoral do Dicastério da Doutrina de Fé, mesmo sendo aprovada pelo Santo Padre. Se
não goza do "privilégio" petrino da Infalibilidade, significa que existe a possibilidade de
falibilidade (não digo que faliu, mas que é falível). Somos todos humanos, podemos
errar. Todavia, o Espírito Santo não assiste a Igreja, o Santo Padre, apenas nas situações
que cobre este Dogma, mas ilumina continuamente os ministros de Deus na orientação
do seu Povo Santo. Por isso, temos que rezar sempre pelos Padres, Bispos e pelo Santo
Padre, para que se deixem sempre guiar pelo Espírito Santo.
 Bênção não é Sacramento!
Alguns homens de Deus, apoiando a Declaração e na tentativa de justificá-la, afirmam:
"bênção não é sacramento!" De facto, não é sacramento, porém, todo católico iniciado
ou que tenha feito ao menos um ano de catequese sabe que só existem 7 Sacramentos e
que a bênção não é um deles, tornando este argumento apologético muito fraco.
A bênção é um sacramental e não Sacramento. Isso poderia justificar o Documento, mas
acredito que só piora o caso, afinal, diferente do Sacramento, como defendeu Santo
Agostinho contra os Donatistas e S. Tomás de Aquino em Summa Theologiae, 3, que é
"ex opere operato", não depende da fé, da dignidade do ministro ou daquele que recebe,
ou melhor, embora uma disposição apropriada seja pré-condição necessária para receber
a graça nos Sacramentos, não é a causa dessa graça. O que Deus nos oferece nos
sacramentos é um dom gratuito (cfr. CIC nº 1128). Ao passo que, o Sacramental é "ex
opere operantis ecclesae", ou seja, sua eficácia depende da fé, da devoção, da pureza, do
ministro e do fiel. Não há eficácia na bênção desta unidade errante e pecaminosa entre
dois homens ou duas mulheres, tudo porque, não há pureza nesta união, ela é contrária a
vontade de Deus (cfr. CIC nº 1669-1690).
Arrependidos e com uma fé verdadeira, a bênção deve ser de cura, de restauração, e não
para permanecerem nesta união contrária a vontade de Deus, que viola a criação da
Deus. O Documento orienta que o sacerdote "na breve oração, que precede a bênção
espontânea, deve pedir paz, saúde, espírito de paz para eles, paciência, diálogo e ajuda
mútua, mas também a luz e a força de Deus para poder cumprir plenamente a sua tarefa"
(nº 38). Em nenhum momento, faz menção da reparação, conversão, cura,
arrependimento, e, ainda afirma, em outro lugar, "não reivindicam a legitimação do seu
próprio estatuto, mas imploram que tudo o que é verdadeiro e bom seja de valor humano
está presente em suas vidas e relacionamento, é investido, curado e elevado pela
presença do Espírito Santo" (nº 31). Dizia o Pe. Davide Pagliarani, Superior Geral da
FSSPX: "fazer com que aqueles que vivem numa união fundamentalmente falha
acreditem que ela pode ser ao mesmo tempo positiva e portadora de valores é o pior dos
enganos e a mais grave falta de caridade para com estas almas rebeldes. É um erro
imaginar que há algo de bom numa situação de pecado público e é um erro afirmar que
Deus pode abençoar os casais que vivem nesta situação. A bênção deve ajudar a alma a
superar o pecado e a viver em estado de graça".
 Conferências opositoras ou rebeldes!
Algumas Conferências Episcopais Africanas decidiram não adoptar esta Declaração
como orientação em seus territórios. Para muitos bons católicos, pareceu um caso de
heroísmo e talvez um aceitar o martírio, no entanto, não se trata de uma decisão de
força, para medir força com o Papa ou o Dicastério, é uma decisão totalmente normal e
aceitável. Como já fiz referência no princípio, trata-se de uma Orientação Pastoral, por
isso, o Ordinário do lugar (o Bispo) ou o Pároco (Padre) em comunhão com o seu
Bispo, pode não tomar esta orientação, porquanto, a aplicação de uma Orientação
Pastoral, depende também da realidade, do contexto sociopolítico e cultural do lugar.
Conscientes de que a realidade nunca é a mesma em cada localidade, Diocese ou
Conferência, o Bispo, na sua jurisprudência, pode adoptar ou não, uma Orientação
Pastoral, desde que não fira a Norma Geral da Igreja ou a Sã Doutrina da Igreja, não
atente contra a fé e contra a moral.

Obs: Acredito que a FIDUCIA SUPPLICANS não é aplicável em grande parte da


África, em detrimento, da semelhança cultural ante a preservação de certos valores,
inclusive em Angola, a nossa política e a nossa cultura, graças a Deus, não legitima esta
estranha união. A Igreja, na sua universalidade, nunca devia adoptar esta orientação.
 Abençoa-se objectos e animais. O que impede abençoar este tipo de união?
Alguns homens de Deus, ainda tentando defender ou justificar esta Declaração, afirmam
que a Igreja abençoa objectos, lugares e animais. Porquê que não pode abençoar estes
dois irmãos ou irmãs? Evidentemente, esta justificação manifesta uma certa ignorância
sobre as razões desta prática da Igreja, porque não é um argumento forte suficiente ou
aplicável neste caso.
O próprio Ritual de Bênçãos faz-nos perceber que abençoa-se a coisa, não pela coisa,
mas pela pessoa, no caso dos animais, diz o seguinte: "Uma vez que segundo a
providência divina do Criador, vários animais participam em certo modo da vida dos
homens, servindo de auxílio nos seus trabalhos ou fornecendo alimento ou conforto,
nada impede que em determinadas ocasiões, se conserve o costume de invocar a bênção
de Deus sobre eles." (nº 721)
 Abençoar não é aceitação!
Outros ainda afirmam que bênção não é aceitação. Obviamente, é um argumento da
serpente. Teologicamente, não vamos definir bênção como aceitação, mas
implicitamente é uma aceitação, é um consentimento, é uma aprovação.
Em algumas culturas, a filha, apaixonada por um jovem, querendo formar uma relação
estável, leva o jovem em casa, apresenta-o aos pais e pede a bênção dos pais. A negação
da bênção é manifestação clara da não-aceitação, dos pais, que a filha se case ou namore
este jovem.
Mesmo quando se abençoam os animais…, implicitamente é dizer: «Aceito que são
criaturas de Deus e que servem para o bem dos homens e das mulheres ». Se não
reconhecesse esta dignidade ou realidade não abençoaria. Os objectos ou lugares são
respostas positivas que o homem dá a Deus, como seu contributo na acção de Deus de
criar e que servem para o bem dos homens e mulheres, nestes se glorifica a Deus.
Implicitamente é uma aceitação deste facto.
Outrossim, "as bênçãos ministradas pela Igreja têm como objectivo a santificação de
certos ministérios; de certos estados de vida; de várias circunstâncias da vida cristã, bem
como do uso de coisas úteis aos homens (cfr. SC nº 60). Nesta união, o que queremos
santificar? O que estamos a pedir a Deus?
Não se trata da pessoa, a pessoa pode ser abençoada, pedindo protecção, saúde,
conversão e etc. Neste caso, trata-se da união, por isso, o Documento usa o termo casal
e faz referência ao Matrimónio. Se o objectivo fosse apenas falar da bênção da pessoa
com desvios afectivos, não seria necessário fazer menção do Matrimónio, muito menos
elaborar tal Documento. Afinal, a conversão é uma graça e não heroísmo humano, por
isso, é normal o homossexual pedir bênção a um Padre, porquanto, precisa do auxílio de
Deus para viver a sua castidade e superar esta condição que muitas vezes é fruto de má
formação biológica, ele não é culpado. Alias, estes já têm recebido a bênção, com o
conhecimento da condição ou não do padre.
No Documento em questão, nesta bênção, o que estamos a pedir: durabilidade da união,
protecção da união, felicidade nesta união? Para os homossexuais, pode não ser e não é
um Matrimónio, mas indirectamente é e será aprovação da Igreja, em nome de Deus,
desta união. Dizia Dom Ladaria Cardeal Ferrer, ex Prefeito do Dicastério para Doutrina
da Fé: “A Igreja não dispõe e nem pode dispor do poder de abençoar o pecado”
 Você não ama mais do que Cristo!
Cuidado em pensar que tendes mais amor do que Cristo. Cristo é Deus, Deus é amor
(1Jo 4,16). Cristo, que é amor, expulsou os Cambistas do Templo (Jo 2,13-25), corrigiu
severamente os Escribas e Fariseus e os chamou de hipócritas (Mt 23,27)... Porquê que
nós, em nome do amor, da caridade e da unidade, queremos aceitar tudo, queremos
aceitar, acolher, sem corrigir, sem motivar a conversão, sem alertar sobre o erro, sobre o
estado de vida de pecado que a pessoa está a viver? O verdadeiro amor, a verdadeira
caridade, é dizer ao irmão: “mude de vida”; “não desafie Deus, não viole a lei de Deus”;
“estás em pecado grave ou mortal”; “nesta sua condição, a união com o Sagrado será
profanação, será condenação”, como ensina São Paulo.
 CEAST não diz nada?
Aguardemos o pronunciamento dos nossos Bispos, não se desespere, é uma situação
delicada e requer tempo, oração, meditação e avaliação. Confiantes na sabedoria dos
nossos Pastores, Bispos, com fé, aguardemos as orientações que deles receberemos em
tempo oportuno. É o Espírito Santo que ilumina e orienta a actuação do Magistério.
Não procure aquecer a cabeça, tenha fé e não se esqueça que Cristo é a cabeça da Igreja
e o Espírito Santo seu guia. Por isso, rezemos, com fervor e confiança, pela nossa
amada, Santa e Imaculada, Igreja de Cristo, Católica, e pelos nossos queridos Padres,
Bispos e o Santo Padre.
Que Nossa Senhora, nossa Mãe amável e Rainha, vele por nós, nos ajude a dizer sempre
sim a verdadeira e sã Doutrina da Igreja de Cristo, nos ajude a discernir; Ela que é o
Espelho de Justiça, nos ajude a ver com certa clareza, a nosso nível, a vontade de Deus
para agirmos sempre com justiça.
Obs: Os animais não reflectem, mas não verás um animal a cometer tal barbaridade.
Estamos a ser pior que os animais, pois, você não verá um cão se relacionando com
outro cão, é sempre com uma cadela.

 Siglas e Abreviaturas
CIC – Catecismo da Igreja Católica;
DV – Dei Verbum;
SC – Sacrosanctum Concilium
CEAST – Conferência Episcopal de Angola e São Tomé;
FSSPX – Fraternidade Sacerdotal São Pio X;
Jo – João;
Mt – Mateus.
Do Escravo de Maria: Helton Vieira Dias
Arão “Maria”, Estudante de Teologia, na
memória de São Pedro Canísio, presbítero e
doutor da Igreja, no Advento, no ano do
Senhor, 2023.

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