Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nem sempre a Igreja exerce o seu Magistério solene ou ordinário universal, e por
conseguinte, nem sempre assiste-lhe garantia absoluta de não errar. O Papa raramente
fala “ex cathedra”; entretanto ensina diariamente, já por exortação ou cartas a indivíduos,
grupos, nações, já por documentos destinados à Igreja universal: encíclicas, decisões
doutrinais das Congregações romanas. [1]
Quanto a estas últimas, é de notar que são infalíveis, logo irreformáveis, quando o Papa
— rara vez — as faz pessoalmente suas.[2] Aprovadas porém, “na forma comum”, não
são absolutamente isentas de erro, logo, podem vir a ser reformadas. (Pelo que,
combatem contra moinhos de vento, os que opõem à infalibilidade papal, a condenação
de Galileu).
Comporta assim o tesouro da doutrina católica enorme acervo de verdades que não são
objeto de fé divina. Umas delas poderão vir a ser definidas — e por isso sói-se dizer de
algumas, que estão “próximas da fé”; por ex.: “Maria é medianeira de todas as graças” —
outras jamais poderão sê-lo; por ex.: as aparições de Lourdes.
Como é sabido, a Igreja, além do dogma, ensina também a moral. Cabe aqui igualmente
a distinção entre magistério infalível (por ex.: a Igreja pregando o decálogo, definindo
que o celibato religioso é mais perfeito do que o estado conjugal) [3]; e o magistério não
infalível; por ex.: nas grandes Encíclicas dos últimos Papas, sobre a questão social ou
contra os totalitarismos, temos grande número de verdades morais ou sociais, ou de
erros condenados, sem intenção de definir irrevogavelmente.
O fato de não ser este ensino absolutamente garantido contra o erro, não significa que
esteja eivado de falsidade. Muita vez pode até ser considerado praticamente infalível,
por ex.: a condenação do aborto medico, da esterilização, da inseminação artificial.
https://unamsanctam.great-site.net/o-magisterio-nao-infalivel.html 1/4
19/03/2024 09:00 O Magistério Não Infalível | Unam Sanctam | Artigos contra os erros do sedevacantismo
segundo, é a autoridade imediata da Igreja, em virtude de seu poder pastoral sobre seus
filhos. Sem dúvida, tal poder, a Igreja recebeu-o de Deus, porém a autoridade divina
intervém apenas mediatamente, como fonte e guia da autoridade da Igreja.
Com efeito, o ensinamento não infalível da Igreja é também assistido pelo Espírito Santo,
embora não de maneira absoluta. Muito se enganaria, pois, quem cuidasse que ele nos
deixa inteiramente livres de assentir ou de discordar.
Não obrigar sob pena de heresia, está longe de equivaler a não obrigar de todo,
conforme ensina o Concílio do Vaticano: “Não bastaria evitar a perversão da heresia, se
não fugíssemos ainda diligentemente os erros que dela se aproximam mais ou menos”.
[4] Pio X condenou os que pretendiam eximir de qualquer culpa moral quem não levasse
em conta as censuras decretadas pelas Congregações romanas. [5] Cabe à Igreja não
só propor a verdade revelada, como ainda mostrar o que — direta ou indiretamente — a
ela leva ou dela afasta.
Nem basta acolher este ensinamento com um silêncio respeitoso; impõe-se uma adesão
intelectual. [6] Dando-a, nossa piedade filial se curva a Cristo, que conferiu autoridade
sobre nós a sua Esposa.
Assim, embora esta modalidade de ensino não esteja garantida, de maneira absoluta,
contra o erro, sempre acertamos, aceitando-a com docilidade, porque rendemos
homenagem ao Senhor Jesus, nosso Mestre.
A primeira vista, parece estranha essa adesão interna a uma doutrina, afinal de contas,
passível de reforma. Guarde-se silêncio: é questão de disciplina; mas, que se dê
assentimento verdadeiro, espanta.
https://unamsanctam.great-site.net/o-magisterio-nao-infalivel.html 2/4
19/03/2024 09:00 O Magistério Não Infalível | Unam Sanctam | Artigos contra os erros do sedevacantismo
Maior ou menor será a obrigação de aderir, segundo a Igreja urgirá mais ou menos a
aceitação da verdade, a repulsa ao erro As decisões doutrinais das Congregações
Romanas, válidas para o orbe católico, obrigam muito mais, por exemplo, do que as
exortações papais a grupos de peregrinos.
Mas então terá cada fiel que se improvisar historiador, arqueólogo, médico ou psicólogo,
para criticar a aparição, ou discutir a autenticidade da relíquia? De todo. Vale aqui,
proporcionalmente, o que mais alto dizíamos das decisões doutrinais não infalíveis:
aceitando-as, o fiel sempre acerta — sobrenaturalmente. O culto de uma aparição ou
relíquia se dirige, primordialmente, às mesmas pessoas dos Santos a quem se honra, e
estas não podem ser nem ilusórias, nem falsas.
[1] Como a fala “ex cathedra” é denominada magistério extraordinário, chama-se a fala
não “ex cathedra” de magistério ordinário (Humani Generis, n. 19). Donde certa
ambiguidade, pois este magistério ordinário (o Papa falando isoladamente, sem
intenção de definir) é falível; enquanto o magistério ordinário universal (o Papa falando
conjuntamente com os Bispos não reunidos em Concílio) é tão infalível quanto o
magistério extraordinário.
[2] Assim Pio X avalizou por “motu próprio” o decreto Lamentabili do Santo Oficio
(Denz., nn. 2065a, 2114).
[4] Denz., n. 1820; Código de Direito Canônico, c. 1324; Pio XII, Humani Generis, n. 17.
https://unamsanctam.great-site.net/o-magisterio-nao-infalivel.html 3/4
19/03/2024 09:00 O Magistério Não Infalível | Unam Sanctam | Artigos contra os erros do sedevacantismo
https://unamsanctam.great-site.net/o-magisterio-nao-infalivel.html 4/4