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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Explicativo sobre gráfico inicial à Propedêutica da História da


Salvação
(Ad usum privatum)

Mons. Expedito Pereira Cavalcante


Digitação: Diego Lima de Oliveira

Emilianópolis, 02 de março de 2015


Síntese do início da Propedêutica à História da Salvação

Verbum Panis
Desde o princípio
Antes mesmo que a terra começasse a existir
O Verbo estava junto a Deus.
Veio ao mundo
E pra não abandonar-nos nesta viagem
Nos deixou todo a Si mesmo como Pão.
Verbum caro factum est.
Verbum panis factum est.
Verbum caro factum est.
Verbum panis factum est.
E aqui partes o teu pão em meio a nós.
Todo aquele que comer, não terá mais fome.
Aqui vive tua Igreja em torno a Ti.
Onde se encontrará, a Morada Eterna.

Verbum caro factum est.


Verbum panis factum est.
Verbum caro factum est.
Verbum panis.

Desde o princípio
Quando o universo foi criado da escuridão,
O Verbo estava junto a Deus.
Veio ao mundo
Rico em misericórdia, Deus mandou o Filho seu
Todo a Si mesmo como Pão.

Verbum caro factum est


Verbum panis factum est.
Verbum caro factum est
Verbum panis factum est.

E aqui partes o teu pão em meio a nós.


Todo aquele que comer, não terá mais fome.
Aqui vive tua Igreja em torno a Ti.
Onde se encontrará, a Morada Eterna.

Verbum caro factum est


Verbum panis factum est
Verbum caro factum est.
Verbum panis factum est.
Nota preliminar
A Bíblia não é um livro para ser lido aleatoriamente e a gosto
do consumidor. Segundo nossa Fé, ela é inspirada por Deus e
revela-nos qual é a vontade de Deus a nosso respeito. Portanto, é
de fundamental necessidade, para o esclarecimento de nossa Fé.
Embora a Bíblia não seja um livro de História, sua formação tem
uma história e uma consequente razão bem definida a que se
presta. Seu conteúdo não é apresentado conforme o “achismo” ou
subjetivismo de quem quer que seja, ou, daquele que a lê sem os
devidos critérios. Provisoriamente, o primeiro depositário de seu
conteúdo, ainda “in fieri”, foi o povo da Antiga Aliança; mas, a partir
de Jesus Cristo e, depois que o “Santo dos santos” deixou de
habitar o Antigo Tabernáculo, a primeira depositária e guardiã da
Sagrada Bíblia e completa, como hoje se encontra a mesma, é a
Igreja (Mt 16, 13-19) e, depois dessa Nova e Eterna Aliança,
portanto, Aliança definitiva, ninguém tem mais o direito de,
indevidamente, se apossar dela e muito menos o direito de
tripudiar sobre o seu conteúdo, de tão augusto e venerável,
conteúdo e, muito menos ainda, de dar-lhe, a bel prazer,
interpretações dissonantes daquela que a Igreja sempre lhe dá (Mt
16, 13-20; Gl 1, 6-9ss).
Parece que, a Constituição Apostólica do Papa João Paulo II, agora
São João Paulo II, nos lembra esse teor quando assim se
expressa, na Introdução ao Catecismo da Igreja Católica quando
diz: “Guardar o depósito da Fé é a missão que o Senhor
confiou à sua Igreja de que ela cumpre em todos os tempos”
(Const. Ap. “Fidei Depositum, parte introdutória, CIC, 2ª edição: Editoras: Ave Maria, Salesiana, Paulus,
Santuário Paulinas e Loyola”) .
Índice
- Síntese do início da Propedêutica à História da Salvação ..........................................3
- Verbum Panis .............................................................................................................3
- Nota Preliminar ..........................................................................................................5
- Introdução: Para entender melhor os onze primeiros capítulos do Livro do Gênesis 9
- O tempo antes do tempo .............................................................................................9
- O Big-Bang: a explosão que deu origem ao Universo! ............................................11
- Algumas observações que devem ser consideradas com relação à gênese humana –
Calendas de Natal .....................................................................................................12
- Ponto para a Igreja Católica: Papa Francisco declara que teorias da Evolução e do
Big Bang são reais ....................................................................................................14
- Criação e Evolução ...................................................................................................16
- Abrindo nossa explicação .........................................................................................18
- Explicando o esquema contido na Propedêutica à História da Salvação a partir da p.
3 ................................................................................................................................19
- Pré-História ..............................................................................................................22
- Proto-História ...........................................................................................................22
- História .....................................................................................................................23
- A História da Salvação .............................................................................................23
- Ainda sobre os onze primeiros capítulos da Bíblia (Gênesis) e a trajetória da
Evolução ...................................................................................................................24
- Os primeiros capítulos, 1 e 2, do Livro do Gênesis..................................................24
- Os 11 primeiros capítulos do Gênesis e a trajetória da Evolução ............................25
- Contexto antropológico e geográfico da História da Salvação ................................28
- O Antigo Egito .........................................................................................................30
- José e seus irmãos.....................................................................................................32
- Êxodo: saída e caminhada, do Povo de Deus (Antigo Testamento) do Egito sob a
liderança de Moisés .................................................................................................33
- Josué: a queda de Jericó ...........................................................................................35
- Os juízes: a conquista da Palestina ...........................................................................36
- Quadro dos juízes de Israel na Bíblia .......................................................................37
- Nota: Profetas anteriores .........................................................................................37
- Os reis .......................................................................................................................38
- O Cisma: o Reino de Israel dividido ........................................................................40
- A separação das dez tribos do norte, das outras duas do sul ....................................40
- O Reino de Israel (935 a 722 a.C.) ..........................................................................40
- O Reino de Judá (935 a 587 ou 586 a.C.) ................................................................41
- O tempo em que duraram os dois reinos, Israel e Judá, viveram grandes profetas ..42
- O nascimento de Roma ............................................................................................42
- Diásporas dos judeus (ano 70 d.C. ou a.D.) ............................................................43
- Qualificando a organização política histórica dos hebreus israelitas ......................43
- Qualificando a organização religiosa dos hebreus israelitas ...................................44
- Os profetas ................................................................................................................44
- Quadro dos profetas posteriores e escritores ...........................................................45
- Nota: datações ..........................................................................................................45
- Conclusão .................................................................................................................49
Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Introdução
Para entender melhor os onze primeiros capítulos do Livro do
Gênesis

O tempo antes do tempo

Dizem os entendidos no assunto – criação ou evolução –


que, o Big Bang é o começo do tempo (Xρόνος, - oυ), é o começo
do Universo. Mas, que começo é este? E os elementos anteriores
que, por sua vez, precederam o Big Bang, não valem, isto é, não
são levados em consideração? Nisto reconhecemos que, de causa
em causa, chegamos à Causa incausada ou Causa das causas.
Afirmar, pois, que o Universo, tal como hodiernamente o
entendemos, começa com o Big Bang, isto é, começa com a
“Grande Explosão” que acontecera há 15 ou 14 bilhões de anos
atrás, isto é, obviamente, muito relativo. Porém, por conta dos
nossos limites, devemos frisar, aprioristicamente, que, Deus
dispôs os elementos primeiros para que o Big Bang pudesse,
realmente, acontecer: o καιρός, - oῦ (tempo oportuno, tempo eterno,
tempo de Deus) ou, mais precisamente, ἁΐδιον ποιϵῖν (v. ποιέω) =
aquilo que dura eternamente, cria, favorece o ρόνος, - oυ (= o
tempo que é tempo: presente, passado e futuro). O Tempo Eterno
(καιρός ou ἁΐδιον ποιϵῖν) possibilita o tempo que é tempo (ρόνος),
antes, agora (durante) e depois do Big Bang com seus efeitos
fantásticos...
Digamos, pois, que o Universo teve início com o Big Bang,
embora sabendo-se que, os elementos primeiros e imediatos,
próximos e remotos, que lhe deram origem já preexistiam num
“tempo” diferente do nosso tempo. Deixemos, porém, por
enquanto, esse “tempo” diferente e primeiro, nas mãos de Deus,
Causa das causas, e sabedores de que ele, Deus, existe como
causa primeira. Trabalhemos, pois, com os dados que a ciência e
a fé coloca em nossas mãos. Todavia, não sejamos ingênuos
querendo identificar os dados da criação, preconizados pela Bíblia
9
Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

(Gn 1 e 2), com o Big Bang e com a evolução sequente do Universo


e a consequente eclosão posterior do dom da vida que se constitui,
para nós, num grande desafio envolto, ainda, num grande mistério
e, mistério por conta de nossa incipiente insipiência. Contudo, a
vida pulula em todas as suas mais variadas formas também de
modo misterioso, aqui mesmo, em nosso exaltado planetinha
chamado Terra, onde, a maioria das pessoas ainda não lhe deram
a devida e reverencial atenção, ao contrário, de maneira sórdida e
imprudente, a insultam e tentam destruí-la sem a devida caução.
A Ciência e a Sagrada Escritura tratam, ao se referir às
origens, do mesmo objeto, porém, de ângulos diferentes. Quando
as Sagradas Escrituras nos falam da criação do mundo e do
homem, ela não está querendo dizer como foi que Deus fez os
mundos e os homens, mas que Ele os fez com sabedoria,
eficiência e amor. A Bíblia não está preocupada em estabelecer
datas e precisões cientificas, mas nos ensina que Deus é sábio e
é amor porque tudo fez temperado com sabedoria e com amor. E
só. Porém, quem vai entrar em certos detalhes, é a ciência;
antropólogos, biólogos, filósofos, teólogos, exegetas, cosmólogos,
físicos, químicos, astrônomos, geólogos, historiadores, etc, são
estes “cabeças gordas” que devem estudar e harmonizar a ciência
que trata de assuntos tão fascinantes e importantes para
entendermos quem somos no aqui e no agora. A Bíblia nos faz
entender que, o Universo como obra de Deus, está aí e que nós
somos chamados a administrar as riquezas de Deus por isso, mais
que imagem e semelhança Dele (...) nós somos chamados a ser
seus filhos, portanto, herdeiros do grande reino que Ele está
construindo para nós (Ap 1, 5-8).
Supondo nossa fé em Deus, sigamos o esquema:

Evolução: Big Bang = Grande Explosão


Criação: Deus fez a luz Coincidência?

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O Big-Bang: a explosão que deu origem ao Universo!

Já estudamos uma série de assuntos


relacionados à ciência histórica. Agora, é hora de
avançarmos na nossa viagem pela história,
recuando há muitos e muitos anos atrás, quando
tudo começou. Você deve estar se perguntando
sobre o que estou falando, não é mesmo?! Então,
nesse pequeno texto, vamos tratar sobre a
origem do universo e, consequentemente, do
nosso planeta, através da teoria da grande
explosão ou do Big-Bang.
Não é possível começarmos a estudar
como surgiu a espécie humana sem pensarmos
em como surgiu o planeta em que vivemos, a
galáxia em que estamos situados e o grande
Universo – que um dia teve o tamanho da menor
partícula de um átomo.
Segundo a teoria do Big Bang, há
aproximadamente 14.000.000.000 (14 bilhões)
de anos uma imensa explosão espacial teria sido
responsável por expandir e modificar o universo,
até os dias atuais. Até que isso acontecesse, tudo
estava contido em uma partícula muito pequena
e extremamente densa.
Após a explosão, gases e vapores foram
espalhados para todos os lados. As enormes
faíscas que se desprenderam com essa explosão
teriam se resfriado e endurecido ao longo de
bilhões de anos, e assim, provavelmente, teriam
surgido os diversos planetas e as várias estrelas
do Universo.
Fonte: http://turmadoamanha.com/tag/teoria-do-big-bang/
Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

A ordem e a harmonia da Criação/Evolução: Nebulosas, Galáxias:


entre elas a Via Láctea, onde está nosso Sistema Solar.
Semelhante a Via Láctea, existe, no Universo ou Cosmo,
milhares delas, para não dizer milhões!
Na Via Láctea encontra-se o Sol, pequena estrela, com sua
família constituída por 9 planetas e seus satélites. Entre os
planetas encontra-se a Terra, nossa morada e, nela, três reinos:
mineral, vegetal e animal que servem de berço ao homem criado
por Deus como resultado de uma evolução. Essa evolução
depende das mutações. Mutação é a transformação pela qual um
ser criado pode evoluir. O homem é fruto dessa evolução querida
por Deus:
Algumas observações que devem ser consideradas com
relação à gênese humana

Em São Pedro de Roma é tradição a Igreja-mãe cantar, durante


a solenidade do Natal do Senhor, as Calendas:

“Nós vos anunciamos,


irmãos e irmãs,
uma boa notícia,
uma grande alegria para todo o povo
escutai-a com o coração jubiloso:
milhares [milhões] e milhares [milhões] de anos se passaram
desde que nesta Terra,
como consequência de uma maravilhosa evolução
querida por Deus,
surgiu a vida.
Passaram-se milhares de anos
desde o momento em que Deus quis
que aparecessem na Terra
o homem e a mulher,
feitos à imagem e semelhança de Deus,
para colaborar [com Ele] na obra da criação.
Passaram-se dois mil anos que Abraão,
obedecendo ao chamado de Deus,
partira para uma terra desconhecida
para dar origem ao Povo Eleito,
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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

herdeiro das promessas.


Passaram-se 1.250 anos que Moisés
fizera os filhos de Abraão passar
a pé enxuto
pelo Mar Vermelho
para que aquele povo deixasse a escravidão
e abraçasse a liberdade.
Passaram-se mil anos que Davi, humilde pastor,
fora ungido pelo profeta Samuel
como grande rei de Israel.
Passaram-se uns setecentos anos que Israel,
infiel à Aliança
e surdo entre os mensageiros de Deus,
fora deportado de sua terra.
Em meio aos sofrimentos do desterro,
o Povo de Deus desejou a vinda de um Salvador
que o libertasse da escravidão
e inaugurasse um reino de paz, justiça e liberdade.
Finalmente, durante a Olimpíada de 94,
no ano 752 da fundação de Roma,
no ano 42 do Império de Otávio Augusto,
faz agora 2014 anos,
em Belém de Judá, Povo humilde de Israel,
Terra ocupada, então, pelos romanos,
em um estábulo,
porque não havia lugar na sala dos hóspedes,
nasceu, de Santa Maria, a Virgem esposa de José,
Jesus, o Salvador.
Alegrai-vos irmãos!
Essa é a Boa Notícia do anjo:
‘nasceu, para vós, um Salvador: o Messias, o Senhor’”

(Calendas Natalinas, cantadas solene e tradicionalmente, na Noite de Natal, durante a Missa na


Basílica de São Pedro de Roma, síntese da História da Salvação bem dentro do esquema a que
nos propomos estudar).

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Ponto para a Igreja Católica: Papa Francisco declara que


teorias da Evolução e do Big Bang são reais

As teorias da Evolução e do Big Bang são reais e Deus não é “um


mágico com uma varinha”, declarou o Papa Francisco, o 266º Papa da
Igreja Católica e atual chefe de estado do Vaticano.
Falando na Pontifícia Academia de Ciências no início dessa semana,
ele fez comentários que, de acordo com especialistas, puseram fim às
“pseudoteorias” do criacionismo e do desígnio inteligente, que alguns
argumentam que foram incentivadas por seu antecessor, o controverso Papa
Bento XVI.
Para o Papa Francisco, ambas as teorias científicas não são
incompatíveis com a existência de um criador. O argumento dele é que elas
“o exigem”.
“Quando lemos a respeito da criação em Gênesis, corremos o risco
de imaginar que Deus era um mágico, com uma varinha capaz de fazer tudo.
Mas não é assim”, disse o atual Papa. Ele acrescentou que Deus criou os
seres humanos e os deixou livres para se desenvolver de acordo com as leis
internas que deu a cada um.
Sobre a Teoria do Big Bang, que é a mais aceita para explicar a
origem do mundo, ele diz que ela também não contradiz a intervenção do
criador divino. Aliás, segundo ele, ela também o exige. “A evolução na
natureza não é incompatível com a noção de criação, pois a evolução exige
a criação de seres que evoluem”, argumenta.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

“Uma das grandes tragédias de nosso tempo é a


impressão criada de que ciência e religião precisam
estar em guerra – Francis Collins”

A Igreja Católica e a ciência


A Igreja Católica tem tido por muito tempo uma reputação de ser
anticientífica, conquistada por episódios como o que talvez seja o mais
famoso da história, em que Galileu Galilei enfrentou a inquisição e foi
forçado a retirar sua teoria considerada “herege” de que a Terra girava em
torno do sol.
Mas, para a nossa alegria, os comentários do Papa Francisco estão
mais de acordo com o trabalho progressivo do Papa Pio XII, que abriu as
portas para a ideia da evolução e aceitou de braços bem abertos a teoria do
Big Bang. Em 1996, o Papa João Paulo II deu mais um passo para longe
dessa reputação anticiência, quando sugeriu que a evolução era “mais do
que uma hipótese” e sim um “fato efetivamente comprovado”.
No entanto, mais recentemente, o Papa Bento XVI, antecessor
imediato do atual Papa Francisco, e os seus conselheiros mais próximos
aparentemente aprovavam a ideia de que o desígnio inteligente estaria por
trás da evolução, e que a seleção natural por si só seria insuficiente para
explicar a complexidade do mundo. Em 2005, seu colaborador próximo, o
Cardeal Schoenborn, escreveu um artigo dizendo que “a evolução no
sentido da ancestralidade comum pode ser verdade, mas a evolução no
sentido neo-darwinista, um processo não planejado e desordenado, não é”.

Papa Francisco acredita na Evolução


Para Giovanni Bignami, professor e presidente do Instituto Nacional
de Astrofísica da Itália, a declaração do Papa é bastante significativa por
reconhecer e aceitar a ciência no processo de formação da vida. O Papa
reconhece que “nós somos os descendentes diretos do Big Bang que criou o
universo. E a Evolução veio de criação”, completa.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Papa Francisco Vs. Papa Bento XVI


Apesar do enorme abismo na postura teológica entre o seu mandato e
o de seu antecessor, o Papa Francisco, como um bom diplomata que é,
homenageou Bento XVI ao revelar uma escultura de seu busto de bronze que
agora faz parte da sede da academia nos jardins do Vaticano.
O “conhecimento, sabedoria e a oração ampliam seu coração e seu
espírito. Vamos agradecer a Deus pelo dom que ele deu à Igreja e ao mundo
com a existência e o pontificado do Papa Bento XVI”.
Sempre soubemos que os católicos não são fundamentalistas, nem
literalistas bíblicos que negam a teoria da evolução. Mas com uma
declaração de peso como essa, talvez se torne uma tendência entre as demais
religiões assumir a legitimidade de conhecimentos científicos. Afinal, como
bem disse o Papa Francisco, uma coisa não exclui a outra.
Fonte: http://hypescience.com/papa-francisco-evolucao-big-bang/

Criação e Evolução
Deus poderia ter feito tudo como num toque de mágica, tal como
aparentemente nos parece dizer os dois primeiros capítulos do Livro do
Gênesis. Mas Deus não quis que fosse assim! Ele, diante da sua Onipotência
onipresente, não tem pressa para realizar a sua obra e até parece brincar ao
fazê-la (Pr 8, 22-31ss). O grande segredo é que, toda a criação é evolução,
isto é, a criação toda passa por um processo de evolução e, ambas, criação
e evolução, estão impregnadas da presença e ação do Espírito de
Santidade (ῦἉύη) vivificante e vivificador, santificante e
santificador. Com isto, queremos dizer que, é por meio do Espírito Santo
(o Espirito de Santidade = ῦἉύη), que o Pai, em Jesus Cristo
(Verbo de Deus) dá a Vida (vivificante) e, por meio Dele (Jesus Cristo)
restaura a vida e, toda as coisas, sem, no entanto, nada destruir, mas, tudo
transformando, tornando novo (Ap 21, 5), vai aperfeiçoando os elementos
primeiros a que chamamos, a grosso modo, de seleção natural...
Para precisar melhor a terminologia:
Vivificante: isto é, por meio de Jesus Cristo (o Verbo), no Espírito
Santo (ῦἉύη), o Pai cria e dá a vida
Vivificador: isto é, por meio de Jesus Cristo (o Verbo) no Espírito
Santo, o Pai restaura a vida, quando esta, por causa do
pecado, entrou em colapso e, sem Deus, degenera.
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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Santificante: isto é, aquele algo inerente, que corresponde à Graça de


Deus, que é a Vida de Deus em nós, portanto, que
determina e identifica a nossa vocação original e
fundamental.
Santificador: isto é, quando caímos, perdendo a Graça, por Jesus
Cristo, no Espírito Santo (que habita em Jesus Cristo),
Ele, o Pai nos restaura, nos refaz quando, pelo pecado
saímos de nossa sintonia com Ele, Deus e, no Espírito
de Santidade, corrige nossa rota e nos conduz a
plenitude da vida, portanto, reconstrói tudo, sem nada
destruir, mas tudo transformando, cristificando o que
é, refaz, no Verbo todas as coisas porque o Verbo está
impregnado do Espírito de Santidade, Espírito de
Amor e Vida, expressão do amor e da vida que
prolonga e é sinal de eternidade que só pode vir da
Trindade Santa.
No processo dessa criação que evolui, as mutações têm papel
preponderante como causas próximas no aperfeiçoamento do ser humano
e, hoje, para adiantar, apesar de tudo, é gratificante saber que a qualidade de
vida do ser humano e dos outros seres tendem à uma maior e mais sensível
longevidade – Deus seja louvado, porque isto não é coisa humana, mas do
próprio Deus, por mais que a vaidade humana queira aparecer; o homem
apenas descobre e usufrui daquilo que Deus faz.
Portanto, a Causa das causas, isto é, a Causa Primeira, mais
profunda, mais remota de tudo isso, dessa positiva e grandiosíssima
possibilidade é Deus!
Daí concluímos: Ciência e Fé se completam. No entanto, alguém
poderia objetar dizendo: Ah!, mas isto poderia ser um “a priori”. Sim, sem
dúvida, à primeira vista, isto, poderia sim, ser um “a priori”; todavia, diante
da própria demonstração orquestrada pela própria natureza, esta proposição
não será mais um “a priori”, mas, de fato, é um “a posteriori”, porque, a
própria natureza, antecipadamente, demonstra, graças a Paleontologia, e a
Antropologia e outras ciências afins, dão testemunho cabal do que estamos
expondo. A ciência nos testifica quão sábio, “brincalhão” e pedagogo é
Deus! Enriquece com uma grande capacidade de evoluir o universo todo
mesmo antes do Big Bang pelo poder transformador das mutações. O
universo é vivo e a vida que nele está, o faz passar por grandes
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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

transformações e, num longo, – quase eterno, – tempo; porque: “não há


efeito sem causa, como não há obra sem autor”. E as realidades terrestres,
bem como as realidades celestes, visíveis e invisíveis, vão surgindo, a seu
tempo, no Tempo e no espaço. Daí, entendermos, melhor o que abordamos
na “Propedêutica à História da Salvação”, página 203: “Neste ponto da
nossa reflexão, entendemos que, não é o imperfeito que se tornará perfeito,
mas o perfeito que tornará perfeito o que, ainda, está em gestação. Ele que
faz e restaura todas as coisas (At 3, 21; Cl 3, 11). Por isso, o respeito e a
reverência ao dom da vida, porque, provém de Deus e, no Filho, Ele nos
restaura (Rm 3, 24; Ef 1, 7; Cl 1, 14; Hb 9, 12; cf. Sl 129, 7).”

Abrindo nossa explicação:

“2.Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!
Vossa majestade se estende, triunfante, por cima de todos os céus.
3.
Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde
vossos adversários, e reduz ao silêncio vossos inimigos.
4.
Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as
estrelas que lá fixastes:
5.
Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os
filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?
6.
Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o
coroastes.
7.
Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes
todo o universo.
8.
Rebanhos e gados, e até os animais bravios,
9.
pássaros do céu e peixes do mar, tudo o que se move nas águas do
oceano.
10.
Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a
terra!” (Sl 8, 2-10).

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Explicando o esquema contido na Propedêutica à História da


Salvação a partir da página 3

3. Partículas no “universo preexistente” anterior ao Big Bang, por


alguma razão, foram se atraindo...
4. Depois se comprimiram até explodir: e veio a luz. É o começo do
tempo (ό). Com a explosão, começou a formação das grandes
nebulosas e depois das galáxias. Com isto, não sejamos ingênuos pensando
que esta explosão venha a coincidir com o “faça-se a luz”, contido no Livro
do Gênesis (Gn 1, 3). Estamos aos 14 ou 15 bilhões de anos atrás.
Depois da formação das nebulosas, veio a formação das galáxias;
depois destas, veio a formação das estrelas e das constelações...
5. Em seguida aconteceu a formação dos planetas, satélites e
surgimento de cometas. Nasce, portanto, o Sistema Solar, isto é, o Sol, seus
planetas e satélites dentro da galáxia chamada Via Láctea. Outros sóis,
portanto, e seus sistemas são formados na galáxia e em milhares e milhares
de outras galáxias e, cada qual, a seu tempo, em nossa galáxia e em outras
tantas do Universo ou Cosmo.
6. O Planeta Terra, um dos menores do Sistema Solar, por alguma
razão, é privilegiado, entre tantas riquezas, com o dom da vida humana,
animal e vegetal. Com isso, não queremos dizer que, não possa haver outras
vidas parecidas com as nossas ou não, no contexto do Universo, além da
existência de Deus, seu Criador e Causa remota. A existência de Deus
transcende o Universo.
Entre 3 a 2 bilhões de anos, a vida vai tomando assento em nosso
Planeta, a Terra. Ela passa por três eras específicas: Paleozoica, Mesozoica
e Cenozoica e por vários períodos, épocas e tempo.
7. Tempo que vai favorecendo, de modo sofisticado e complexo, o
desenvolvimento e aperfeiçoamento da vida (cf. detalhes no esquema).
8. Para entendermos esses detalhes, na linha do tempo, em relação ao
homem e suas origens, sigamos o esquema:
9. No Planeta Terra (P.T.) somente há 75 milhões de anos a.C.,
começam a surgir os primeiros primatas (mais pertos e mais parecidos com
o homem) e, o primeiro deles é o Plesiadapis (75 milhões): “O primeiro
mamífero na escala evolutiva do homem e, de todos os seus parentes

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

próximos, os macacos, é o Plesiadapis. Há 75 milhões de anos, para fugir à


intensa predação que sofria no solo, ele foi viver sobre as árvores. Era
pouco maior que um rato”.
10. O Smilodectes: “20 milhões de anos depois, portanto, há 55
milhões de anos a.C., ocorre a primeira mudança (mutação) de rota de uma
parte dos descendentes do Plesiadapis. Surgem os seres que deram origem
aos atuais tarsióides, lorisídeos e lemuróides, pequenos mamíferos de
focinho pontudo e de pele luzidia”. É o fenômeno evolutivo das mutações
(...). O Smilodectes (55 milhões de anos a.C.) é, pois, o ancestral dos
tarsióides, lorisídeos e lemuróides.
11. Em seguida, surgem os macacos, do Velho Mundo e do Novo
Mundo. No Velho Mundo, o Aegyptopithecus (30 milhões de anos a.C.), o
Dryopithecus (20 milhões de anos a.C.). Intermediando entre esse tempo e
o próximo, surgem os gorilas e os chipanzés ou chimpanzés. Em seguida,
vem o Sivapithecus (18 milhões de anos a.C.).
“De acordo com as descobertas fósseis, os gorilas e os chimpanzés
desviaram-se do leito principal dos primatas há 15 milhões de anos a.C. (ou
há 19 milhões a.C.?). Pesquisadores que se valem da Engenharia Genética
para datar espécies, porém, dizem que as diferenças de DNA – a molécula
responsável pela transmissão hereditária dos caracteres – mostram que a
separação só ocorreu há 4 milhões de anos a.C. Para estes cientistas, o
Sivapithecus é um ancestral do Orangotango e estaria fora da linhagem
humana”.
12. Os Australopitenídeos: O Australopithecus Afarensis, cujo
fóssil mais celebre é “Lucy”, está dividido entre dois destinos: Uma corrente
de pesquisadores acha que “Lucy” é um ancestral só do homem moderno e
seus avós extintos; outros sugerem que ela deu origem aos extintos
Australopitenídeos.
Provavelmente o Australopithecus Afarensis é o ancestral dos
demais Australopitenídeos, tais como o Australopithecus Africanus que
vivera por volta de 3.2 milhões de anos, o Australopithecus Robustus que
vivera por volta de 2.2 milhões de anos. É bom notar que, houve outras
denominações para o gênero australopitenídeo, por exemplo, o
Australopithecus Bolsei e outros. Entre o Australopithecus Africanus e o
Australopithecus Robustus, está o Homo Habilis que vivera por volta de
2.3 milhões de anos a.C.
Pelas respectivas datas, percebemos que o homem primitivo, a saber,
o Homo Habilis fora contemporâneo dos Australopithecus e que, ambos,
viveram na África.
Neste ponto, de nosso estudo, é que entra a questão do elo perdido!

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

13. Os primeiros Hominídeos, viveram, rumo à Pré-História, a qual


só começou a partir dos 500 mil anos a.C. e prolonga-se até aos 4.000 anos
a.C. Os primeiros hominídeos já viviam, há muito tempo, antes da Pré-
História tradicional. O Primeiro hominídeo, dizemos isto com ênfase, é o
Homo Habilis (2.3 milhões de anos a.C.) e teve, como berço, a África e,
mais precisamente, o vale do Hift, a região do Lago Turkana e a região do
Quênia. O Homo Erectus (1.6 milhões de anos a.C), que também tem a
África como berço, viveu, como o Homo Habilis, no vale do Hift, na região
do Lago Turkana e do Quênia e ao lado norte/ nordeste da África. No espaço
de tempo em que vivera o Australopithecus Africanus (3.2 milhões de anos
a.C) e o Australopithecus Robustus (2.2 milhões de anos a.C), já vivera
pois, o Homo Habilis (2.3 milhões de anos a.C), primeiro representante da
espécie humana que começa a existir sobre a face do Planeta Terra e bem
depois dos grandes sauros que povoaram a Terra de 330 a 235 milhões de
anos a.C.
14. Depois de uma longa caminhada e transformações, chegamos aos
120 mil anos a.C. e vamos encontrar o Homo Neanderthalensis. O Homo
Habilis vivera há 2.3 milhões de anos a.C. e, inquestionavelmente, é o
primeiro ser antepassado direto do homem. Seu sucessor, o Homo Erectus,
que vivera 1.6 milhões de anos a.C., usava o fogo e falava. O Homo Sapiens
Neanderthalensis, que vivera há 120 mil anos a.C., barbeado e bem vestido,
poderia passar, hoje, pelas ruas sem assustar as pessoas à sua volta. Há 30
mil anos a.C., o Homo Sapiens de Cro-Magnon, já pintava as cavernas.
A Pré-História, propriamente dita, como se costuma ensinar nas
escolas, começa somente aos 500 mil anos a.C. O Homo Neanderthalensis
está neste circuito pré-histórico (120 mil anos a.C.).
15. De 35 a 30 mil anos a.C., surge o Homo Sapiens moderno. É ele
o Homem de Cro-Magnon que deu origem ao Homem Contemporâneo.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

17. A Proto-História é o hiato, ou melhor, é o elo que liga a Pré-


História com a História.
“O IV milênio a.C. marca o fim da Pré-História e o início da História
propriamente dita. Um fenômeno, entre outros tantos, que marcam este
momento, é o surgimento da escrita. Outro fenômeno é o surgimento das
cidades-estados e dos reinos. O Egito, a Mesopotâmia, a Índia e a China,
etc, marcam estas épocas remotas da História. Na História da Salvação, o
Egito e a Mesopotâmia têm lugar especial nessa trajetória. O Povo Bíblico
tem suas origens na Mesopotâmia; depois, vivem no Egito e dele recebe
influências...”

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

19. A História da Salvação


Como se vê, a História da Salvação, em comparação com a História
do Universo, do Mundo e da trajetória do homem, é muito recente. Portanto,
a expressão popular: “isto é mais velho do que o rascunho da Bíblia”, não
tem razão de ser, considerando o tempo em que a Bíblia começou a ser
redigida. Embora a Bíblia não seja um livro de história e, por isto mesmo,
não esteja preocupada em precisar datas, embora faça referências a estas, a
História da Salvação tem suas origens, praticamente, só na segunda metade
da Idade Antiga e, o seu marco é a figura do Patriarca Abraão que vivera por
volta de 1.800 / 1.750 a.C. A História Bíblica é, pois, muito recente e,
rigorosamente falando, tem seu início com Abraão e prolonga-se até Jesus
Cristo e, mais precisamente, até a morte do último apóstolo, por volta do ano
100 d.C.
De agora em diante, o fio condutor do nosso estudo é o Povo Hebreu,
que também é chamado Povo de Israel, o Povo de Deus no Antigo

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Testamento. Menção a outros povos, só será feita quando isto interessar à


História da Salvação, direta ou indiretamente.

20. Ainda sobre os 11 primeiros capítulos da Bíblia e a


trajetória da Evolução
Os primeiros capítulos, 1 e 2, do Livro do Gênesis
O relato da Criação é feito na forma poética, própria para ser cantada
solenemente na Liturgia do Povo de Deus (Gn 1, 1-31).
Na maioria das vezes em que a Bíblia se refere à Criação, usa o gênero
literário poético (cf. Sl 8, 6-10; Sl 103(104), 1ss; Pv 8, 22-31; Dn 3, 58-81).
O que, entre outros, os escritores sagrados querem enfatizar é o
reconhecimento ao Senhor pela Criação, harmoniosa e bela, e fazer,
explicitamente, o consequente agradecimento e o devido louvor por
fazermos parte deste gesto, desta ciranda do Amor Divino. Exalta-se a
grandeza, a sabedoria, a bondade e amor de Deus, expressos no ato da
Criação. É simplesmente reconhecer que Deus fez tudo muito bom (cf. Gn
1, 1ss). Neste particular, de modo algum, a Bíblia quer nos dizer como foi
que Deus criou todas as coisas, os mundos siderais, mas sim que: Ele criou
tudo com sabedoria, ordem, harmonia, providência e muito amor. É Ele o
oleiro artífice.
Pela teoria da Evolução, a ciência tenta com honestidade e sabedoria
humanas demonstrar, para o nosso próprio crescimento, como foi e como
é que Deus fez e continua fazendo todas as coisas. Ciência e Fé, Razão e
Revelação se completam; a Ciência ainda tem um longo caminho a percorrer
e, com isso, a Fé só tem a ganhar para melhor nos ensinar a crer, para que
possamos enfrentar os desafios das coisas novas. A Bíblia nos ensina que o
homem e a mulher, enquanto caminham à luz da Palavra de Deus, têm a vida
e, consequentemente, são felizes; porém, quando procuram ingênua ou
maliciosamente prescindir de Deus, de sua Palavra e da sua presença, pecam,
sucumbem e, pecando, atraem sobre si o desconforto, a desgraça e,
finalmente a morte, não porque Deus seja mesquinho, ao contrário, porque
fomos feitos para Nele, com Ele e por Ele vivermos de sua plenitude, graça
sobre graça (Gn 3, 1ss; Jo 1, 1ss.16ss). A nossa natureza foi feita para termos
a nossa plenitude Naquele que é (Ex 3, 13-14; Gn 17, 1; 31, 13; Ex 20, 2; Is
45, 22; Jr 22, 27; Ez 28, 2; Os 11, 9; Mc 12, 26-27; Jo 8, 58; Jo 8, 12; Ap 2,
8; Ap 21, 6; Ap 22, 13). Para que Nele, por Ele e com Ele, sejamos felizes,

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

é fundamental que também sejamos obedientes porque somos ouvintes e


praticantes de sua Palavra (Tg 1, 22; Mt 7, 24; Lc 6, 47; Lc 8, 21).

Os 11 primeiros capítulos do Gênesis e a trajetória da


Evolução

Bem antes da Bíblia ser confeccionada, mesmo antes dos seus


primeiros albores, direta ou indiretamente, o homem primitivo, desde o
Homo Habilis ao Homo Sapiens, debateu-se exaustivamente em demanda,
ou seja, em busca da sua verdadeira identidade: Quem sou? De onde vim?
Para onde vou? Em face dos seus limites, deparou-se, sempre, com o
desconforto surpreendente do mal. O homem foi, e ainda é, um ente tão
vulnerável que, até muitas vezes, o que é essencial e necessário para sua
subsistência, lhe parece ser mal, o incomoda e ameaça o seu parco conforto
e mais: muitas vezes, a predação por parte dos animais carnívoros, as
distâncias, as doenças, o mistério tenebroso que o envolve em relação ao
futuro, a natureza revolta, a fome, a sede, o frio, o desconforto e a
inadequação dos abrigos e das intempéries... O homem primitivo, mais do
que nós, conheceu e experimentou a dor e sem nenhum lenitivo! Gemeu e
chorou sem ter quem o consolasse, sem o consolo dos medicamentos que
aliviasse o seu sofrimento, sem o milagre dos anestésicos e, por fim,
conheceu e experimentou o mistério e a dor final da morte e sem vislumbrar
qual seria seu destino futuro após experimentar o mistério tenebroso da
morte! A morte fora terrível porque lhe bloqueava, radicalmente, seus
pequenos sonhos e projetos, sonhos e projetos que, certamente, não seriam
como os nossos, mas, em seu mundo e do seu jeito! A temática do mal,
sempre rondou ao redor do ser humano e sempre quis estar em sua
companhia. Desde os 2.3 milhões de anos, até por volta de 1.750 a.C., o
homem caminhou às apalpadelas no âmbito daquilo que, atualmente,
entendemos por Fé. Parece que Deus ainda não tinha mostrado, claramente,
o seu rosto à humanidade; porém, se antes, o fizera, a humanidade ainda não
estava preparada, nem mesmo apta para vislumbrá-lo na penumbra da Fé
revelada. Mal tal revelação começou a acontecer, o mal permanece de
espreita, a fim de planejar a queda e o fracasso da humanidade e adentra às
portas do paraíso terrestre, plantado por Deus, para ser a casa do homem, a
fim de que, neste, o homem pudesse ter acesso à vida em contraposição na
sua relação com a árvore da ciência, do bem e do mal (Gn 3, 1ss).

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

É o drama do Pecado Original, resultado da estultícia da serpente e da


fraqueza insipiente e incipiente do homem e entra em nossa história sem
pedir licença, não obstante a presença onisciente e onipresente porque
onipotente do Altíssimo. Antropológica e historicamente, o culto cananeu à
serpente Astarte da fertilidade fora “belo e atraente” como “belo e
atraente” se apresenta o fruto da árvore da ciência do bem e do mal (Gn 3,
1ss), como belos e atraentes são os cultos idolátricos do nosso tempo na
forma da “plutolatria” da prosperidade a todo custo, da “antropolatria” que
caracteriza, pela avareza, a tentação do poder e do “entronamento” [colocar
no trono] do poder do homem, feito necessário, para conduzir a efeito, seus
projetos, sofisticadamente, sórdidos e fraticidas e que se manifesta no
secularismo adotado e preconizado pela Nova Ordem Mundial e abraçado,
com prazer, pelo Estado Laico, devido as vantagens políticas, econômicas e
sociais para satisfação daqueles que detêm nas mãos a chave do poder,
simplesmente, para que o deus prazer tome assento no ser dos poderosos
deste mundo. E nós, por nossas fraquezas e ignorância, ingenuamente,
estamos nos colocando a serviço da grande besta que se chama: Nova Ordem
Mundial, pela simulação que se traduz no relaxo da Ortodoxia e no
consequente relaxo da ortopraxia; ainda, belos e atraentes são os cultos
mistéricos, exóticos e esotéricos e adulterados (cultos satânicos, as drogas,
como santo daime... do falso e ingênuo culto do cristianismo das seitas, das
seitas secretas e em nome da tolerância religiosa, em contraposição ao
radicalismo de uma falange islâmica) e que atraem até mesmo aqueles que
se acreditam santos e, a estultícia do mal é tão sagaz que, até a própria Bíblia,
inconteste Palavra de Deus, é instrumentalizada para justificar à falta de
fé, a ingenuidade, o fanatismo, o oposicionismo circunstancial, a
simploriedade, para justificar a prevaricação e as investidas do mal (Ef 6,
12ss). A Bíblia foi roubada de seus verdadeiros herdeiros, talvez porque não
fôssemos dignos Dela e, por isso, foi roubada de nós e os inimigos a
instrumentalizam e adulteram o seu conteúdo tentando convencerem a si
mesmos e a nós de que estamos errados; fundamentalistas que são, não
consideram um antes e um depois da Bíblia; ela caiu do céu de paraquedas
nas mãos de lobos com pele de ovelhas (...); instrumentalizam a Bíblia, como
arma de guerra contra católicos; não a entendem como o Livro da Vida.
Nestas coisas todas, os efeitos do Pecado Original continuam marcando os
passos da nossa História. Aquilo que deveria ser instrumento de comunhão,
tornou-se instrumento de diabolização, isto é, tornou-se instrumento de
divisão, discórdia e desentendimento. Nestas coisas todas, o Pecado
Original, continua marcando ponto em nossa História Religiosa desde Adão
até nossos dias, apesar da Promessa de Deus (Gn 3, 15) já ter chegado para

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

nós na pessoa do seu Filho Jesus Cristo. Embora Deus continue sendo o
Senhor da História e, isto, através do seu Filho Jesus Cristo, a serpente
continua se esforçando para morder o calcanhar daquela que, como Maria,
nossa primeira mãe em Cristo, continua gerando, gestando e dando a luz ao
Filho de Deus, que é o Libertador, Redentor, Salvador e Santificador.
Preferindo o culto à serpente, por causa das “vantagens” imediatas,
que esse culto oferece aos homens (Gn 3, 1ss; Nm 21, 4-9; Dt 31, 14-25), o
mundo dos homens continua ferido de morte por uma chaga que não cicatriza
nunca (Jr 30, 12-13; 15, 18ss). Há corrupção em todos os sentidos (Gn 6, 1-
8).
21. Dentre os filhos de Adão, um mata o outro e seus descendentes
continuam matando e alegam os mais variados e sofisticados motivos e até
mesmo por motivos religiosos e por adorar o mesmo Deus (deus) de maneira
diferente! Por outro lado, é bom que procuremos, sempre, a verdade sobre o
verdadeiro Deus! Mas enquanto buscamos isto, não é necessário matar, mas
testemunharmos que nossa Fé é verdadeira quando é expressão do Amor
Divino e em nome desse mesmo amor, alguém seria capaz de morrer, mas
nunca matar (...). Noé é salvo; sua família e ele e, por causa de sua justiça.
No entanto, um filho seu, carrega no corpo o vírus da perversidade e da
corrupção moral e aproveita da fraqueza do próprio pai, para tratá-lo com
gozação e faltar com a caridade e respeito (Gn 9, 20-27) e com a
sensualidade, o primeiro na série de três pecados fontais [fonte], abre-se o
caminho da prepotência que engata para os outros dois: a avareza e o
exibicionismo (Mt 4, 1-11; Lc 4, 1-12), a ponto de os homens desejarem
eternizar os seus nomes sem a anuência de Deus ou mesmo prescindindo
Dele e, Babel, a Torre de Babel, gera a confusão das línguas (Gn 11, 1-26),
o que, em nosso tempo, se verifica, nitidamente, na chamada “Nova Ordem
Mundial” que, no momento, vicia e contamina a ideologia do Estado Laico
e, em contraposição, provoca reações e radicalismo religioso intolerante e
violentamente agressivo. O resultado disso, entre outros, tem sido o
secularismo, também radical, que, idealiza um mundo sem Deus, sem a
Religião e de comportamento moral e eticamente bizarro, tendencioso e
permissivo que está levando o mundo, ao que parece, ao caos, basta que
abramos os olhos para a realidade. Tira-se Deus, desarticula-se a Religião ou
cultiva-se uma religião de máscaras para se levar vantagens escusas e
imediatas (Gn 6, 1-4) e a massa humana torna-se presa fácil para a desejada
e planejada, desde os tempos de antanho, manipulação. Com a implantação
forjada no medo e no terror de uma ‘poderosa’ organização que até é
chamada de religião, mas, uma religião sem Deus, principalmente, sem

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

influência do Cristianismo e do Judaísmo, ou religião poderosa e esmagadora


das liberdades; que no fundo tenciona impor uma ideologia dominadora das
liberdades em todos os níveis; os resultados disso já podemos antever. Salvar
a corrupção e a perversidade de modo sofisticado, está no centro da pauta
dessa “Nova Ordem Mundial”. E quem segurará e abrandará este fenômeno?
Da experiência exposta pelo Antigo Testamento (Gn 7, 17-24; 8), o Dilúvio
fora a solução. Para a situação atual, qual seria a solução para melhorar o
plantel do nosso mundo conturbado?
Para Deus, o Dilúvio não bastou para solucionar o problema do mal
que se alastrou sobre a Terra, o problema da corrupção que se abateu sobre
a Terra. Por isso, com um dos descendentes de Noé, Abrão (Abraão), Deus
desce para fazer aliança, um pacto com os homens novamente. Abrão
(Abraão) é um descendente de Sem, filho abençoado de Noé, e é com Abraão
que Deus vem reatar um pacto e, num de seus descendentes serão abençoadas
todas as nações da Terra (Gn 11, 10-26.27-32; 12, 1ss; 15, 1-21).

22. Contexto antropológico e geográfico da História da Salvação


Nos anos 1.800 / 1.750 a.C.: A Mesopotâmia tem esse nome, porque
é uma região do Oriente Médio, onde, mais precisamente e atualmente,
encontra-se maior parte do Território Iraquiano. O nome, Mesopotâmia, vem
da Língua Grega: έ = meio, centro + ό = rio. A união das duas
palavras έ+ ό, significa: “entre rios” = έ+ οί, o
que quer dizer: “entre rios”; οί é plural: “rios”. A Mesopotâmia
abrange, portanto, um grande oásis banhado por dois grandes rios: o Tigre e
o Eufrates; o rio Tigre fica ao lado oriental e o Eufrates mais ao ocidente. Do
resto, a região que circunda a Mesopotâmia não passa de um vasto deserto.
Sendo a Mesopotâmia uma região privilegiada, com água e vegetação, fora
sempre cobiçada por tribos nômades de seu derredor que, na Mesopotâmia,
viam um lugar aprazível para se viver; porém, as guerras e a disputas por
aquele oásis foram constantes, porque todos queriam, ali, um lugar ao sol.
Para agravar a situação, o lugar estava localizado na rota obrigatória das
migrações de povos indo-europeus, que, não poucas vezes, pilhavam, sem
clemência à região. De modo que, a política do lugar sempre sofreu de grande
instabilidade. Houve tentativas de se organizar as cidades-estados em
grandes reinos e impérios, mas, as circunstâncias, acima citadas, falaram
mais alto. Já, bem antes, em 2.772 a.C., Sargão I tentou até criar um império
grande e forte e chegou até mesmo intitular-se “imperador dos quatro

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

cantos da Terra”. Sargão I, mal sabia do tamanho da Terra. Seu império


durou enquanto ele vivera.
Entre 1.800 a.C. e 1.750 a.C., aparece a figura de Hamurábi (ou
Hamurápi), grande general e poderoso conquistador que conseguiu
consolidar um império respeitável, para época, desde Ur da Caldeia ao sul
da Mesopotâmia e que se estendeu além de Harã, ao norte e, de leste a oeste
abrangendo os rios Tigre e Eufrates. Estabeleceu leis rígidas que compilou
no famoso “Código de Hamurábi” e, quem não tivesse disposto para seguir
tais leis, estava livre para ir embora de seus domínios; nessas circunstâncias,
os hicsos e os hebreus, muitos deles, resolveram sair de sua terra natal.
Abrão era hebreu. Os hicsos, fortes guerreiros, foram invadir o Egito... o
hebreu Abrão preferiu migrar para o norte, para a região de Harã;
percebendo, porém, que Hamurábi exercia influência naquela região, ao
chamado de Deus, resolveu partir de Harã para as terras dos cananeus, mais
ao sul e a oeste margeando o rio Jordão. É neste ínterim que Deus se entabula
com este Abrão e faz com ele uma aliança e a Promessa (Gn 12, 3).

Mapa bíblico percurso de Abraão

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

O Antigo Egito
O Antigo Egito se caracteriza por três grandes períodos bem distintos:
pelo chamado tempo dos nomos e, depois, dos dois reinos: Baixo Egito e
Alto Egito, unificados, mais tarde, pelo faraó Menés. O tempo dos nomos e
da consolidação dos dois reinos em um só, vai de 4.000 a.C. até 3.200 a.C.
Após esse período, começam as grandes dinastias e os três períodos bem
distintos, a saber:
a) Antigo Império: 3.200 a.C. a 2.300 a.C.
b) Médio Império: De 2.134 a.C. a 1.580 a.C.
1. Domínio dos Hicsos: 1.750 a.C. a 1.580 a.C.
2. Os Hebreus no Egito: 1.650 a.C. a 1.250 a.C.

c) Novo Império: De 1.580 a.C. a 525 a.C.


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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

A História do Egito Antigo, porém, só interessa à História da


Salvação, a partir, praticamente, da segunda metade do período chamado
Médio Império, mais precisamente a partir de 1.750, quando por pressão de
Hamurábi, senhor do grande Império Babilônico da Mesopotâmia, os
hebreus, Abrão e sua gente, os hicsos e sua gente, saem; os hebreus rumam
para o norte/oeste da Mesopotâmia; os hicsos, fortes guerreiros, atravessam
em direção ao oeste/sul, o deserto da Arábia e foram invadir o norte/nordeste
do Egito, ocupando-lhe as melhores terras. Foram denominados pelos
egípcios como: “reis pastores, piores do que a peste e que governam sem
Rhá”. Dominaram o Egito de 1.750 a 1.580 a.C., quando foram expulsos por
uma coligação de príncipes legítimos do Egito, liderados por Amósis I. Com
a expulsão dos hicsos, os hebreus começam a ser escravizados (Ex 1, 8-22)
e se inicia a terceira fase ou período do Antigo Egito chamada de: Novo
Império. Esse novo Império vai se prolongar de 1.580 a 525 a.C., quando,
Cambises II, do Império Persa, invade o Egito e o anexa ao seu vasto
domínio.
O clã de Abraão (Deus muda o seu nome de Abrão para Abraão (Gn
17, 5); de pai elevado, para pai de um grande povo), porém, primeiro, saiu
de Ur da Caldeia (Gn 11, 27-32), a fim de sair também da influência de
Hamurábi e seguindo a direção norte, quase a nordeste e margeando o rio
Eufrates e vai estabelecer-se em Harã. Dali, o Senhor o chama para a terra
que lhe haveria de mostrar (Gn 12, 1) e Abrão partiu com sua mulher Sarai,
seu sobrinho Ló e todos os seus pertences (Gn 12, 4-9). Em época de seca,
Abrão foi para o Egito. Por causa de sua mulher, Sarai, foi expulso do Egito,
mas, foi agraciado com muitos bens (Gn 12, 10-20)! Da escrava de sua
mulher, Agar, adquirida no Egito, Abrão teve um filho, Ismael, que é
considerado o pai dos árabes (Gn 16, 1-16); teve, também, outras mulheres
com as quais teve filhos (Gn 25, 1-6), mas o filho da Promessa, fora mesmo
Isaac, filho de Sarai (Sara) (Gn 21, 1-7). Isaac, tendo crescido, casou-se com
Rebeca (Gn 24, 1-67).
Do Casamento de Isaac com Rebeca nasceram gêmeos: Esaú e Jacó
(Gn 25, 19-26). Nascendo primeiro, Esaú era o primogênito. No entanto,
Esaú desdenhou de sua primogenitura, brincou com ela, brincou com coisa
sagrada, vendendo-a ao seu irmão Jacó, por um prato de sopa de lentilhas
(Gn 25, 27-34). E Deus tomou a sério tal brincadeira e desdenho; criou clima
propício e a bênção que deveria ser para Esaú foi copiosamente pronunciada
sobre Jacó (Gn 27, 1-30ss). Daquele momento em diante, Deus esteve,
sempre, com Jacó, livrando-o da fúria do irmão, Esaú (Gn 27, 41-45),
conduzindo-o à Mesopotâmia (Gn 40, 27; 47, 46ss; 28, 29-31), cuidando dele
em todo o longo tempo em que lá permaneceu, abençoou sua família e
trouxe-o de volta para junto dos seus. Deus mudou o seu nome de Jacó para
Israel, porque lutou com Deus e com ele saiu vencedor (Gn 32, 29-33) e, por
fim, se reconcilia com Esaú (Gn 33, 1-18). Jacó (Israel) é pai de 12 filhos,
com suas duas mulheres e com as duas escravas respectivas. Com a primeira
mulher, Lia, teve seis filhos: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zabulon;
e com a escrava de Raquel, Bala, teve dois filhos: Dã e Neftali; com a escrava
de Lia, Zelfa, teve dois filhos: Gad e Aser; com Raquel, sua segunda mulher,

31
Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

teve dois filhos: José e Benjamim (Gn 29, 31-35; Gn 30, 1-24; Gn 35, 16-
30).
José e seus irmãos
A poligamia tolerada e até promovida no Antigo Testamento sempre
trouxe problema, para a família, quando, no mínimo, provocava constantes
ciúmes, tanto das mulheres entre si, bem como entre os filhos. No caso de
Jacó, não poderia ser diferente. Casou-se com as duas filhas de Labão, Lia e
Raquel (Gn 29, 15-30). Deste casamento, Deus concedeu-lhes filhos
conforme já abordamos acima. Na constituição da família de Jacó (Israel)
estão envolvidas suas duas mulheres Lia e Raquel e duas escravas de suas
mulheres; estão envolvidos doze filhos, porém, de mães diferentes.
Querendo ou não, entra aqui, a questão de preferências. Israel preferia
Raquel, mas, no entanto, Lia lhe dera seis filhos; Raquel deu-lhe dois filhos
e morreu no parto do caçula Benjamim (Gn 35, 16ss). Israel tinha preferência
por José por causa de Raquel e, isto, causou um terrível ciúme nos demais
irmãos que decidiram eliminar José do seu convívio familiar (Gn 29, 31-35).
Por causa de seus sonhos (Gn 37, 1-11), a inveja e o ciúme incitam os
irmãos de José a se desvencilharem dele, vendendo-o a mercadores
madianitas (ismaelitas) que se dirigiam ao Egito (Gn 37, 12-36). No Egito,
José é revendido pelos mercadores madianitas (ismaelitas) a Putifar, ministro
do faraó e chefe da guarda do palácio real. Sendo José um jovem de boa
aparência, a mulher de Putifar sendo de má conduta, logo desejou José e fez
de tudo para poder possuí-lo, mas, por sua fidelidade a Deus, José a rejeitou
não caindo em suas ciladas. No entanto, ela, simulada que era, arranjou um
meio de prejudicar José e este, sob a fúria de Putifar, foi condenado à prisão
(Gn 39, 1-23). Depois de muito tempo na prisão, José se distingue pela
correta interpretação de sonhos de colegas de cela e, depois, em seguida,
decifra os sonhos do próprio faraó e a favor do Egito (Gn 40-41), o que lhe
valeu não só a liberdade, mas também, o cargo de alto posto junto ao faraó e
ao Egito. Neste ponto da história, é bom lembrar que, a essa afinidade do
faraó com José deveu-se à certa afinidade de parentesco e cultura entre os
hebreus e hicsos, povos estes, ambos de origem semita e que, de certa
forma, adoravam a mesma divindade (Gn 12, 10-17, 18-20). Sobreveio à
região um tempo de seca e fome. Sob José, o Egito estava abastecido por
causa de suas previsões em relação as interpretações dos sonhos do faraó. O
escasso tempo também atingiu o lugar onde estava Jacó (Israel), pai de José
e seus 11 irmãos. Sabendo Jacó (Israel) que no Egito se vendia trigo, enviou
para lá os seus filhos e, a Providência Divina preparou o encontro de José
com seus irmãos. Leiamos todo este enredo na Bíblia, capítulos 42 a 46. E o
Povo Hebreu (Israelita) multiplicou-se no Egito. Os parentes hicsos foram
expulsos do país em 1.580 a.C. Os Israelitas tinham-se estabelecido no Egito,
sob José, por volta do ano 1.650 a.C. e, segundo o oráculo divino (Gn 15,
13-16), aconteceu como estava previsto, o Povo de Israel (Israelitas) foi
escravo no Egito e de lá só saiu sob a liderança de Moisés, por volta de 1.250
a.C. (cf. Ex: capítulos 2 a 15ss). Cumpriu-se o oráculo (Gn 15, 13-16); sem
a proteção dos hicsos, os Israelitas ficaram à mercê da nova administração
local do Egito (Ex 1, 8-22).
32
Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Êxodo: saída e caminhada, do Povo de Deus (Antigo Testamento)


do Egito sob a liderança de Moisés

A tensão entre os hebreus (Povo de Israel) e os egípcios começou,


historicamente, durante o reinado do Faraó (título dos reis do Egito Antigo)
Séti I, pai de Ramsés II. Vendo aumentar a população hebraica (filhos de
Israel) no país, o Faraó Séti I decretou a morte imediata dos meninos hebreus
recém-nascidos, conservando-se, porém, as meninas. Ordenou às parteiras
que se encarregassem de cumprir suas ordens a esse respeito. Tementes a
Deus, elas não cumpriram esta ordem fraticida (Ex 1, 8-22). Moisés, filho de

33
Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

um casal hebreu, foi salvo da morte tendo sido colocado num barquinho feito
pela própria mãe, nas águas do rio Nilo, através do qual fora salvo; por isso
recebeu o nome de Moisés, porque fora tirado das águas pela filha do próprio
Faraó, rei do Egito e, por isso mesmo, fora criado na corte como filho da
filha do Faraó (Ex 2, 1-12). Porém, quando já adulto, viu um egípcio
maltratando um hebreu injustamente e por causa disso, matou o egípcio;
quando o Faraó que, no momento, já era Ramsés II, soube do ocorrido,
procurou matar Moisés. Moisés fugiu para Madiã, onde, tornou-se pastor de
ovelhas de Jetro, sacerdote de Madiã. Passado algum tempo, ganhando as
boas graças de Jetro, Moisés causou-se com sua filha mais velha, chamada
Séfora (Ex 2, 11-25; 3, 1-6).
Enfim, o Livro do Êxodo descreve a saga do entabulamento de Deus
com Moisés, no qual o Senhor Deus revela-se a ele, revelando-lhe, também,
o seu nome “Quem Sou” e, “Aquele que é” (Ex, 3, 14ss), encoraja Moisés
sair e ir ao seu Povo e ao Faraó e conduzir seu Povo, do Antigo Testamento,
a sair da escravidão do Egito para a liberdade (Ex 3, 15-22; 4-15). O marco
bem definido da ação libertadora de Deus, por meio de Moisés, é a passagem
pelo Mar Vermelho (Ex 15, 1ss). Daí para a frente, é solene e constante a
presença de Deus junto ao Povo de Israel. Daí em diante, todo Livro do
Êxodo e os demais livros do Pentatêuco tratam, cada um deles, de acordo
com a intenção dos autores sagrados, desta presença de Deus, através de
Moisés, junto ao Povo da Antiga Aliança, o Povo Hebreu, o Povo de Israel.
Esta saga mostra-nos a fidelidade de Deus para com o seu Povo escolhido e
a infidelidade, a fragilidade e propensão do Povo quanto ao pecado e a
tendência para desviar-se do caminho.
Moisés é, pois, a maior personagem da História dos Hebreus; nasceu
no Egito, foi educado na corte do Faraó Séti I. Expulso do Egito por pressão
de Ramsés II, filho de Séti I, foi para o Deserto de Madiã. Pastoreou o
rebanho de Jetro, sacerdote de Madiã, posteriormente, casando-se com
Séfora, filha mais velha de Jetro. Com ela teve um filho, Gerson. Por
mandato de Deus (Ex 3), enfrentou Ramsés II, libertando o Povo Hebreu da
escravidão no Egito. No Monte Sinai, na Península do Sinai, segundo a
Bíblia, recebeu das mãos do próprio Deus, os Dez Mandamentos que, por
sua vez, são fundamentos da Religião Judaica ou Judaísmo. Morreu aos
120 anos e teve, como seu sucessor, Josué, que introduziu o Povo de Israel,
os Hebreus, na Terra Prometida, na Palestina, onde estavam os cananeus
desde antes da chegada do Patriarca Abraão (Gn 12, 6-7). Com auxílio direto
de Deus, Josué destruiu a fortaleza de Jericó (Js 6, 1ss).
A saída do Povo Hebreu do Egito chama-se Êxodo (= ἔξο, -
saída para o caminho, caminhada). O Livro do Êxodo e os demais livros
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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

do Pentatêuco, além dos Dez Mandamentos, apresentam os detalhes da


vontade de Deus a respeito da conduta de seu Povo Eleito do Antigo
Testamento. O Livro do Levítico aperfeiçoando esse aspecto, de modo
especial, dá ênfase ao quadro litúrgico sacerdotal de acordo com a vontade
de Deus. Todo o Pentatêuco, constituído pelos primeiros cinco Livros da
Bíblia, a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
constituem uma demonstração inconteste de como Deus salva e assiste o seu
Povo com mão forte e braço estendido (Dt 5, 15; 7, 19; 26, 8; Sl 135, 12). O
povo peca, Deus corrige e perdoa (Jó 5, 17; Hb 12, 5-8; 5, 9-11; I Cor 11,
32); é o pecado do povo que dificulta a sua própria entrada na Terra
Prometida (Nm 13-14; Js 7). Após a morte de Moisés, Josué, seu sucessor,
introduz, à duras penas, o Povo de Israel na Terra Prometida, a Terra que
deveria ser conquistada com suor e sague e, depois da conquista, ser mantida
a todo custo, principalmente, pela fidelidade do povo ao Senhor.
Este teor é encontrado em todo o Antigo Testamento e nos
profetas (...). A História do Povo de Israel foi sempre uma história marcada
pela luta ferrenha, tanto antes, como depois de Jesus Cristo, como
concluiremos mais adiante. Muitas vezes, a infidelidade do povo é a causa
do sofrimento, da instabilidade e da dor! Os livros da Bíblia pós-Pentatêuco,
de variadas formas, tratam deste aspecto, desde Josué até ao último dos
profetas, Malaquias, dispostas na ordem didática.
O Pentatêuco é a primeira parte da Bíblia constituída pelos cinco
primeiros livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Josué: A queda de Jericó
Josué foi o sucessor de Moisés e, nele, a promessa de entrar na Terra
Prometida se cumpriu, porque Josué não duvidou da promessa do Senhor; os
outros duvidaram; por isso, aqueles que tinham 20 anos de idade em diante,
ao saírem do Egito, e duvidaram, não entraram na Terra Prometida (Nm 13-
14). Josué e Caleb foram os únicos adultos que não duvidaram. Não
duvidaram de que Deus tornaria a Israel capaz de lutar contra e vencer os
gigantes que habitavam à Terra Prometida! Ele é o Deus dos vivos; é o Deus
de Abraão, de Isaac e de Jacó (Ex 3, 6), que se entabula com Moisés e sua
gente. Portanto, a promessa feita aos pais haveria de ser cumprida, não como
os homens planejam, mas como Deus planejou (Gn 15, 1-5).
Quando os hebreus, Povo de Israel, chegaram à Palestina, a Terra
Prometida (Gn 15, 13-16), os cananeus estavam lá, isto é, estavam naquela
região (cf. Gn 12, 6) com seus costumes, suas crenças, inclusive em plena
atividade de culto à deusa Astarte, culto da fecundidade de iniciação sexual
para adolescentes e púberes que se preparavam para o futuro casamento (...).
É este culto à deusa da fertilidade, Astarte, a deusa serpente que vai servir
35
Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

de inspiração (Midrash) para a narrativa do Livro do Gênesis no capítulo


terceiro (...) sob o relato do Pecado Original envolvendo nossos primeiros
pais Adão e Eva. Como este culto à deusa da fertilidade envolvia uma prática
sexual, logo, muitos hebreus queriam se bandear para esta prática maliciosa
e abominável aos olhos da fé hebraica. É a partir desta situação circunstancial
que Josué, líder do Povo de Israel, faz uma exortação que está contida no
capítulo 24 do Livro de Josué onde dizia ele aos israelitas: “quanto a mim e
à minha família, nós serviremos ao Senhor” e vejamos o que os israelitas
responderam (Js 24, 2-15.16ss). Josué disse isto, porque também previa o
perigo de Israel bandear-se para aquele culto “belo e atraente” como fruto
do paraíso (Gn 3, 6).

Os juízes: A conquista da Palestina

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Depois da morte de Josué, os israelitas perderam a unidade que


tiveram por pouco tempo. As tribos, separadas, foram governadas por
anciãos. Porém, em época de guerras, o governo de todas as tribos era
exercido por um chefe militar enérgico chamado juiz. Os principais juízes
de Israel, responsáveis pela conquista da terra, depois de Josué foram:
Otoniel, Barac, Gedeão, Jefté, Sansão, Heli e Samuel.
Sansão ficou famoso pela força que tinha. Combateu os filisteus, mas,
traído por Dalila, morreu cegado pelos filisteus e esmagado pelos escombros
do templo dos filisteus, cujo desmoronamento ele mesmo, Sansão, houvera
provocado.
Samuel, o último dos juízes foi o que mais se distinguiu entre eles.
Proclamou Saul como primeiro rei de Israel com a finalidade de reunir forças
necessárias para combater os filisteus. Por causa de sua infidelidade, Deus
rejeitou Saul com o rei de seu Povo e ordenou a Samuel que ungisse outro
para substituir Saul e, este, foi Davi, filho de Jessé (I Sm 16, 13).
Quadro dos Juízes de Israel na Bíblia

Nota: Profetas anteriores: É importante notar, aqui, que o ministério


profético começa a tomar forma a partir de Samuel, embora que eles, os
profetas, sejam presença em Israel desde tempos memoráveis, desde os
tempos de Abraão passando por Moisés... A partir de Samuel, eles são mais
frequentes dentro da história de Israel, passando por figuras como próprio
Samuel e os profetas estáticos, o profeta Natan (2 Sm 7, 1ss) e outros
passando por Elias e Elizeu até chegar aos profetas escritores ou
posteriores, didaticamente postos a partir de Isaias até Malaquias.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Os reis

Saul foi o primeiro rei dos hebreus. Empenhou-se no combate aos


filisteus; não cumprindo a vontade de Deus, foi rejeitado! Entrou em
depressão e suicidou-se. Numa linguagem atual: era bipolar, esquizofrênico.
Seu sucessor fora Davi, filho de Jessé. Davi, primeiro, foi introduzido na
casa de Saul como músico da corte e, segundo, tornou-se famoso por ter
matado Golias, o gigante filisteu temido por Israel.
Davi pertencia a tribo de Judá [Benjamim]. Escolhido por Deus e
ungido por Samuel, para ser rei dos Hebreus. Uma vez proclamado rei,
reuniu, sob a sua autoridade, as tribos israelitas formando um sólido reino.
Conquistou, dos jebuseus, a cidade de Jerusalém, transformando-a em
capital do reino. Submeteu os temidos filisteus, os moabitas, os amonitas e
os idumeus. Casou-se com Betsabé, aquela que fora mulher de Urias.
Pecador, Davi se reconhece como tal diante de Deus. Compôs salmos e, entre
os mais célebres, está o salmo 50 onde, o rei compositor declara sua
confissão, reconhecendo seu pecado e pede perdão.

Salomão: filho de Davi, viveu como um déspota, embora fosse sábio


e bom. Viveu no luxo e no esplendor. Escreveu livros e compôs salmos,
protegeu as artes, incrementou o comércio. No fim da vida, corrompeu-se.
Porém, entre as suas grandes realizações destacamos três:
a. A construção do templo de Jerusalém, centro de unidade
religiosa e da política nacional dos hebreus;
b. Dividiu o reino em doze províncias governadas por homens
de sua confiança e que também estavam encarregados de
garantir à “manutenção do rei e da sua casa”;
c. Estabeleceu relações comerciais com a Fenícia, com a Síria
e com a Arábia, de onde traziam escravos, cavalos, ouro,
prata, pedras preciosas, perfumes e outros objetos.
Este período da História que abrange o tempo desde Saul a Salomão,
projeta-se desde 1.050 a 930 a.C., mais ou menos. É o tempo em que se
consolida o Reino de Israel; depois, veio o Cisma. Nesta época, o Egito
Antigo estava em pleno período chamado Novo Império, que se estendeu de
1.580, começando com a expulsão dos hicsos, a 525 a.C., quando o Egito

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

fora tomado por Cambises II (da Pérsia) e anexado ao Grande Império


Persa.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

O Cisma: O Reino de Israel dividido

A separação das 10 tribos do


norte, das outras 2 tribos do sul:

Após a morte de Salomão, as


tribos do norte não se submeteram a
Roboão, filho e sucessor de Salomão,
primeiro, porque ele, Roboão, não
quisera amenizar, entre outros, os
impostos; segundo, porque já havia uma
propaganda tendenciosa em favor de
Jeroboão entre as tribos do norte para
aclamá-lo rei... Nestas circunstâncias,
sob a liderança de Jeroboão, as 10 tribos
do norte o proclamaram rei e formaram
o Reino de Israel propriamente dito.
Somente as 2 tribos do sul, Judá e
Benjamim, permaneceram fiéis a
Roboão e constituíram um novo reino,
o Reino de Judá, tendo, como capital,
Jerusalém e, em Jerusalém estava o
magnífico Templo de Salomão
símbolo da unidade religiosa e política
nacionais. Esta divisão (cisão) do Estado Hebreu aconteceu mais
precisamente em 935 a.C. e foi chamada de “Cisma”. Inicia-se a decadência
do Império Davídico-Salomônico.

O Reino de Israel (935 a 722 a.C.)

Era maior e mais populoso, porém, mais pobre. Foi dilacerado por
lutas internas, pela ambição do poder e pela corrupção, de modo que, o país
foi desarticulando-se e enfraquecendo-se em todos os níveis.
Em 722 a.C., depois de desesperada resistência, o Reino de Israel caiu
em poder de Sargão II, rei dos assírios. Samaria, a capital, foi saqueada e
pilhada e os nobres que não pereceram foram levados como cativos para a
Assíria.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Mapa do Domínio Assírio a partir da anexação do Reino de Israel (722 a.C.)

O Reino de Judá (935 a 587 ou 586 a.C.)

O Reino de Judá teve maior tempo de duração. Foi pilhado e


conquistado por Nabucodonosor, Rei dos caldeus (Ur da Caldeia outrora
fora o berço da família de Abraão...). O templo de Jerusalém fora destruído
e seus adornos e recipientes sagrados foram sequestrados. Os habitantes de
Judá foram levados prisioneiros para a Babilônia, iniciando-se, assim, o
chamado “Cativeiro de Babilônia” que durou de 586 a 539 a.C. O
Libertador dos hebreus escravos na Babilônia e que pertenciam ao Reino de
Judá, foi Ciro, o grande e rei dos persas, depois de ter matado Baltazar, o
último rei babilônico deste período.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Império Babilônico sob Nabucodonosor a partir de 586 a.C e


anexação do Reino de Judá

No tempo em que duraram os dois reinos, Israel e Judá, viveram


grandes profetas.
O nascimento de Roma
Enquanto os reinos de Israel e Judá, na Palestina, entravam em crise e
decadência, bem do outro lado do mundo, do lado ocidental, uma das
maiores potências do mundo antigo estava nascendo e dando os seus
primeiros passos: Roma. Estamos no ano de 753, mais precisamente, no dia
21 de abril de 753 a.C. Roma tem sua importância para a História da
Salvação, porque, quando o Salvador do mundo nasceu, morreu e
ressuscitou, a sua terra natal, a Palestina, estava sob o domínio de Roma e,
Roma, do ponto de vista histórico e ideológico, teve suas influências
profundas nos acontecimentos relativos à Fé Cristã.
Em síntese, de 722 a.C. até 476 d.C., o Povo Hebreu, o Povo de Deus
no Antigo Testamento, nunca mais teve estabilidade política e condições de
viver em paz na sua própria terra e, isto vem se estendendo até o momento

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

histórico presente. A partir do ano 722 a.C. até o século IV d.C., o Povo
hebreu israelita foi dominado por assírios, babilônios, persas, greco-
macedônicos e, por último, pelos romanos.

Diásporas dos judeus (ano 70 d.C. ou a.D.)


Na época dos imperadores romanos denominados “Flávios”,
Jerusalém foi saqueada e incendiada, o templo destruído e a nível de solo.
Os hebreus-judeus, foram espalhados pelas inúmeras províncias do Império
Romano. Foi a chamada Diáspora e, Diáspora que dizer: Dispersão.
No reinado de Adriano (117 a 138), houve a segunda diáspora dos
judeus (hebreus).
Nota: cf. na “Propedêutica da História da Salvação”:
a) Reis de Israel, p. 24
b) Reis de Judá, p. 24
Qualificando a organização política histórica dos hebreus
israelitas
Monarquia absoluta com tendência teocrática
Na evolução da política, os hebreus passaram pelas seguintes formas
de governo: Patriarcal, judicial e na forma de realeza. Por volta de 1.030 ou
1.025 a.C., foi estabelecida a monarquia absoluta, na qual o monarca
soberano podia acumular riquezas e viver no luxo, mas estava sujeito à
punições.

A organização social
Nesta se distinguiam duas características básicas: a família, e as
classes sociais.
A família era a base da sociedade hebraica. O pai exercia autoridade
quase ilimitada sobre os filhos. O casamento era monogâmico, porém, a
poligamia era tolerada. Nas heranças, o direito de primogenitura era
reconhecido. Idolatria, blasfêmia e adultério eram severamente punidos.
Aplicava-se a pena de Talião: “olho por olho, dente por dente”.
As classes sociais: com o estabelecimento da monarquia, os hebreus
israelitas foram assim classificados: família real, mercadores, servos e
escravos.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Qualificando a organização religiosa dos hebreus israelitas


O Judaísmo é a religião organizada por Moisés que caracteriza-se por
sua fé num único Deus, na imortalidade da alma, no juízo final, na
recompensa e castigo após a morte e na vinda do Messias. Javé [Adonai,
Eloim, El-Shaddai], Deus invisível, incorpóreo, todo-poderoso, criador do
céu e da terra, está presente, em Espírito, em todos os lugares.
O Decálogo: contém os principais fundamentos do Judaísmo ou
Mosaísmo que, segundo relato bíblico, foram ditados por Javé (Deus) a
Moisés no Monte Sinai.
As festas religiosas: O Decálogo não impõe nenhuma forma especial
de culto, exceto a santificação do Sabat, dia sagrado, em memória do sétimo
dia da criação do mundo. Faziam o sacrifício de animais. Os sacerdotes
levitas [de Levi] ministravam o culto. Comemoravam três grandes festas:
- Páscoa, em memória da saída dos israelitas hebreus do solo
egípcio.
- Pentecostes, em recordação da entrega dos Dez Mandamentos
no Monte Sinai a Moisés.
- Tabernáculos, que relembra a permanência do Povo de Israel
no deserto.
As seitas: Depois do Cativeiro de Babilônia, surgiram várias seitas
que disputavam entre si, no Judaísmo, a supremacia sobre os hebreus. A seita
dos fariseus que acreditavam na ressurreição e na recompensa após a morte,
na premiação após a morte e na existência de anjos; a seita dos saduceus,
mais ricos, negavam a ressurreição e as recompensas da vida após a morte,
também não acreditavam na existência de anjos; os essênios, mais influentes
procuravam conservar o Mosaísmo [ou Judaísmo] em toda sua pureza
original. Mais tarde, surgiram os zelotas ou zelotes com tendências
politicamente radicais.

Os Profetas:
Os Profetas sempre, de algum modo, existiram no Antigo Testamento
e não é um apanágio somente do Povo israelita hebreu, mas, eles, os
profetas, tomam lugar de destaque entre o Povo israelita hebreu (Israel)
desde Samuel, passando por Elias e desembocando nos profetas escritores
e, por isso mesmo, são caracterizados em dois grupos: profetas anteriores,
porque vêm primeiro; profetas posteriores o que coincide com os profetas
escritores.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Quadro dos profetas posteriores e escritores

Depois de várias crises e domínio estrangeiro, o Monoteísmo israelita


hebreu degenerou influenciado pelo Politeísmo dos dominadores.
Os profetas, principalmente, profetas escritores, foram grandes
reformadores originários do povo; pregavam publicamente contra os atos
contrários à religião, procurando reestabelecer a antiga fé em Javé, à ordem
e à tradição.
Os profetas mais notáveis foram: Elias que combateu o culto a Baal
em Samaria, capital do reino de Israel (norte), na época do rei Acab e da
rainha Jezabel, filha do rei de Sidon; Eliseu, sucessor de Elias; Oseias, no
século IX a.C.; Amós, no século VIII a.C.; Ezequiel, no século VII (ou VI)
a.C., autor do “livro de Ezequiel”; Daniel, século VII (ou VI) a.C., cativo na
Babilônia por Nabucodonosor; Miqueias, de grande visão e progressista;
Jeremias, no século VII a.C., autor das famosas “lamentações”; Isaias, o
maior de todos (764 a 790 a.C.), autor do “livro de Isaias”.

Nota:
1. 21 de abril de 753 a.C.: Nascimento de Roma;
2. 722: Auge da ascensão do Império Assírio: Sargão II invade e
anexa à Assíria, o Reino do Norte, Israel.
- Sargão II: 722-705 a.C.
- Teglatfalazar: 705-669 a.C.
- Assurbanípal: 669-626 a.C.
- 589 a.C., mais ou menos, marca a decadência do Império
Assírio.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

3. 589 a.C.: marca a ascensão do Império Babilônico.


- Nabucodonosor reina de 604 a 561 a.C.
- 586 a.C.: Auge da ascensão do Império Babilônico:
Nabucodonosor invade e anexa à Babilônia, o Reino do
Sul, Judá.
- Poderio babilônico termina no reinado de Baltazar em
538 a.C., com a dominação persa.
- 539 a.C.: O exército persa, sob o comando de Ciro, o
grande, toma a Babilônia, e, esta, cai em poder dos
persas.

4. 589 a 333 a.C.: Duração do Império Persa

- 560 a 529 a.C.: Ciro, o grande, reina no Império Medo-


Persa.
- 538 a.C.: Sob o comando de Ciro, o grande, os judeus
recebem permissão para voltar à Palestina: começa a
reconstrução do templo em Jerusalém.
- 538 a.C.: Volta dos judeus exilados da Babilônia.
- 525 a.C.: Cambises II, filho e sucessor de Ciro, anexa o
Egito ao Império Persa. É o fim do Novo Império do
Egito Antigo. Cambises II morreu em 523 a.C. quando
voltava para a Pérsia.
- 521 a.C.: Dario I, o grande, sobe ao poder no Império
Persa
- 520 a 515 a.C.: Zorobabel: a reconstrução do templo foi
encorajada pelos profetas Ageu e Zacarias.

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

- 445 a 439 a.C.: sob, Esdras e Neemias, início da


reconstrução do templo e de Jerusalém e a
redescoberta da Torah.

- 333 a.C.: sob Dario III, o Império Persa, cai em poder dos
greco-macedônicos, sob o comando de Alexandre Magno
da Macedônia...
- 336 a 323 a.C.: Começa e se desenvolve a expansão
Greco-Macedônica.
- 333 a.C.: a Palestina cai em poder dos Greco-
Macedônicos.
- 332 a.C.: O Egito cai em poder dos Greco-Macedônicos.
- 331 a.C.: O Império Persa, sob o comando de Dario III,
cai em poder dos Greco-Macedônicos.
- 327 a.C.: Alexandre Magno, chega à fronteira da Índia.
- 323 a.C.: Morre Alexandre Magno, imperador dos
Greco-Macedônicos.
- Enquanto isso acontece, no Ocidente o domínio de
Roma vai se alastrando.
- 200 a 175 a.C.: Domínio dos Selêucidas na Palestina

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

* Os Macabeus
* Perseguição de Antíoco Epifânio
* Grupos religiosas de Judá: Fariseus, Saduceus,
Zelotas (ou Zelotes) e Essênios.

* Ano 14 a.C.: Dominação Romana na


Palestina: nasce Jesus, o Libertador, Redentor,
Salvador e Santificador a quem queremos
conhecer melhor, para melhor amá-lo e servi-lo
e, assim procedendo, Nele tenhamos a
libertação, a redenção, a salvação e santificação
e vida plena, porque, a Ele pertencem a honra,
a glória e o poder pelos séculos dos séculos,
porque, Nele, está a luz da vida e Nele veremos
a luz! (Sl 27, 1; Sl 36, 9; Sl 118, 27; Is 2, 5; Is 42,
6; Is 49, 6; Is 60, 19; Mq 7, 8; Mt 4, 16; Mt 5, 14;
Lc 2, 32; Jo 1, 5; Jo 3, 10; Jo 5, 35; Jo 8, 12; Ef
5, 8; II Tm 1, 10; I Jo 1, 5)

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Propedêutica à História da Salvação - Escola da Fé

Conclusão

Esta explicação refere-se ao esquema introdutório à Propedêutica da


História da Salvação. Depois de fazermos um estudo sistematizado da
História da Salvação, o estudo intitulado “Igreja Sacramento de Jesus
Cristo no coração do mundo”, é a sequência. A Cristologia que deveria ser
posta entre a “Propedêutica à História da Salvação” e “Igreja Sacramento
de Jesus Cristo no coração do mundo”, se constituirá numa abordagem à
parte. Se Deus quiser, trabalharemos esse conteúdo logo mais. A bibliografia
dessa explicação é a mesma da “Propedêutica à História da Salvação”.

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