Você está na página 1de 160

A Bíblia é nossa testemunha

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 1 18/07/2011, 16:18


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 2 18/07/2011, 16:18
A Bíblia é nossa testemunha.pmd 3 18/07/2011, 16:18
A Bíblia é nossa testemunha, Adão Carlos Nascimento © 1998 Editora Cultura Cristã.
Todos os direitos são reservados.

1ª edição 1998 – 3.000 exemplares


2ª edição 2011 – 3.000 exemplares

Conselho Editorial da CEP


Ageu Cirilo de Magalhães Jr.
Claudio Marra (Presidente)
Fabiano de Almeida Oliveira
Francisco Solano Portela Neto
Heber Carlos de Campos Jr.
Mauro Fernando Meister
Tarcízio José de Freitas Carvalho
Valdeci da Silva Santos
Produção Editorial
Revisão
Elvira Castanon
Editoração
Rissato
Capa
Magno Paganelli

N244b Nascimento, Adão Carlos


A bíblia é nossa testemunha / Adão Carlos Nascimento / São Paulo: Cultura
Cristã, 2011
160 p.: 16x23cm

ISBN 978-85-7622-206-2

1. Bíblia 2. Discipulado I. Título

CDD 220

EDITORA CULTURA CRISTÃ


R. Miguel Teles Jr., 394 – Cambuci – SP
15040-040 – Caixa Postal 15.136
Fones 0800-0141963 / (011) 3207-7099 – Fax (011) 3279-1255
www.editoraculturacrista.com.br - cep@cep.org.br
Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas
Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 4 18/07/2011, 16:18


Sumário

Comece aqui ........................................................................... 7


1. De eternidade a eternidade ..................................................... 9
2. Deus comunica seu plano ....................................................... 15
3. Quem é Deus .......................................................................... 21
4. A criação do universo e do homem ........................................ 27
5. A salvação no Antigo Testamento .......................................... 33
6. O povo de Deus no Antigo Testamento .................................. 37
7. O povo de Deus no Novo Testamento .................................... 55
8. O Verbo se fez carne............................................................... 67
9. Profeta, Sacerdote e Rei .......................................................... 71
10. A vinda do Espírito Santo ...................................................... 77
11. A obra do Espírito Santo ........................................................ 83
12. Deus salva para sempre .......................................................... 89
13. Salvação: para todos ou só para os eleitos? ........................... 93
14. A igreja ................................................................................... 99
15. A origem do presbiterianismo ................................................ 105
16. O presbiterianismo no Brasil .................................................. 113
17. O batismo cristão ................................................................... 119
18. O batismo dos filhos dos crentes ............................................ 127
19. A Ceia do Senhor ................................................................... 133
20. Dízimos e ofertas ................................................................... 139
21. A identidade do verdadeiro cristão ......................................... 143
22. A vida depois desta vida ......................................................... 149
Notas ...................................................................................... 155

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 5 18/07/2011, 16:18


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 6 18/07/2011, 16:18
COMECE AQUI

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem aben-
çoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a
adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua von-
tade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente
no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados,
segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós
em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade,
segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele,
na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como
as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados
segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da
sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão
esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da
verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes sela-
dos com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até
ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.” Efésios 1.3-14

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 7 18/07/2011, 16:18


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 8 18/07/2011, 16:18
1
DE ETERNIDADE A ETERNIDADE
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?
Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.
A ele, pois, a glória eternamente. Amém.”
Romanos 11.33-36

Em 1984, dois jornalistas norte-americanos lançaram um livro que, na


tradução para o português, recebeu o título de Falam os especialistas. A obra,
embora registrando as opiniões de especialistas, é “um magnífico compêndio
de enganos, preconceitos, mentiras e asneiras em geral, proferidos ao longo
dos séculos”. Ela registra, por exemplo, que Aristóteles declarou que a “sede
da alma e dos movimentos voluntários deve ser procurada no coração. O cére-
bro é um órgão de importância secundária”. Que tremendo equívoco do grande
filósofo! Outro registro interessante é a declaração do presidente da 20th Century
Fox, empresa cinematográfica, que, em 1946, afirmou que a televisão não fica-
ria seis meses no mercado; e acrescentou: “Quem aguenta ficar em frente a
uma caixa de madeira todas as noites?”. Os anos passaram e a caixa de
madeira arrasou a 20th Century Fox! O livro é uma prova incontestável do
quanto o ser humano se engana.
Mas os maiores enganos e equívocos têm sido encontrados na análise
das relações do ser humano com o Criador, especialmente quando o assunto é
a salvação. A ideia popular sobre a salvação apresenta Deus sendo surpreendi-
do pelo pecado de Adão e Eva. A seguir, o Criador faz um plano para salvar a
humanidade. Inicialmente são feitos sacrifícios de animais. Deus vocaciona os
profetas para pregar a necessidade de uma volta para o Criador. Tudo fra-
cassa. E Deus envia Jesus para morrer na cruz, numa última e desesperada
tentativa de salvar a humanidade perdida. Mas o que Deus nos ensina por meio
da Escritura Sagrada é bem diferente.
A história da salvação tem as suas raízes na eternidade, antes da fun-
dação do mundo, antes da criação do homem. “O Pai, o Filho e o Espírito Santo,
antes que o mundo existisse, planejaram juntos a salvação dos pecadores.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 9 18/07/2011, 16:18


10 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Nesse plano, Deus o Pai devia enviar seu Filho ao mundo para resgatá-lo;
Deus o Filho haveria de vir voluntariamente ao mundo para se tornar merece-
dor da salvação por sua obediência até à morte; e Deus o Espírito aplicaria a
salvação aos pecadores, instilando neles a graça renovadora”.1
O PACTO DA REDENÇÃO
Os teólogos chamam esse plano divino de pacto da redenção (pactum
salutis em latim). Embora não exista na Bíblia Sagrada nenhum texto que fale
explicitamente desse pacto, há evidências claras de uma aliança entre as três
pessoas da Trindade para a salvação dos pecadores.
O apóstolo Pedro, no discurso feito no dia de Pentecostes, afirmou que
Jesus foi entregue para ser crucificado por mãos de iníquos “pelo determinado
desígnio e presciência de Deus” (At 2.23). A igreja, em oração, declarou que se
ajuntaram Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e povos de Israel, para fazer
contra Jesus tudo o que “a mão e o propósito [de Deus] predeterminaram”
(At 4.28). As palavras desígnio e propósito (ambas tradução de boulê em
grego) indicam uma deliberação tomada anteriormente. Isto é confirmado em
Efésios 3.11, onde está escrito que esse propósito é eterno, isto é, vai de eter-
nidade a eternidade.
O apóstolo João escreveu que Deus “nos amou e enviou o seu Filho
como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10). E o apóstolo Paulo fala
desse amor resultando numa deliberação de nos salvar, decisão tomada “antes
da fundação do mundo” (Ef 1.4).
Outro fator importante a ser considerado é que Jesus se referia à sua missão
salvadora como uma tarefa recebida do Pai (veja Jo 5.30,43; 6.38-40; 17.4-12).
O plano de Deus para salvar o pecador tem a mais estreita relação com a
sua onisciência. “Há em Deus um conhecimento necessário, que inclui todas as
causas e resultados possíveis. Desse conhecimento de todas as coisas possíveis,
ele escolheu, por um ato da sua vontade perfeita, levado por suas sábias conside-
rações, o que desejava levar à realização, e assim formulou o seu propósito eter-
no.”2 Mas devemos ter cuidado para não confundir o pacto da redenção com o
conhecimento prévio de Deus a respeito das coisas que iriam acontecer. Deus
deliberou não porque as coisas iriam acontecer naturalmente, mas elas aconte-
cem naturalmente porque Deus deliberou que elas deviam acontecer.
O PAPEL DAS PESSOAS DA TRINDADE
NO PACTO DA REDENÇÃO
Cada uma das três pessoas da Trindade tem um papel especial no pacto
da redenção. “Na redenção, em certo sentido, há uma divisão de trabalho: o
Pai é o originador, o Filho, o executor e o Espírito Santo, o aplicador. Isto só
pode ser resultado de um acordo voluntário entre as pessoas da Trindade.”3

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 10 18/07/2011, 16:18


DE ETERNIDADE A ETERNIDADE 11
O papel do Pai
Deus, o Pai, é o autor do pacto da redenção. “Na eternidade ele
comissionou o Filho para se fazer merecedor da salvação em favor dos peca-
dores. Ele inspirou os antigos profetas a predizerem a vinda do Filho de Deus
– na carne. Ele ordenou os sacrifícios cruentos da velha dispensação para pre-
figurarem o sacrifício salvador do Filho na cruz do Calvário.”4
Deus, o Pai, enviou seu Filho, na “plenitude do tempo”, “nascido de
mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que
recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5). Ele preparou para o Filho um
corpo não contaminado pelo pecado (Lc 1.35; Hb 10.5). Dotou-o dos dons e
graças necessários para a realização de sua tarefa. Enviou-lhe o Espírito Santo
(Is 61.1; Lc 3.22). O Pai apoiou o Filho na realização da sua obra, livrou-o do
poder da morte, habilitou-o a destruir os domínios de Satanás e a estabelecer o
reino de Deus. Por fim, o ressuscitou dentre os mortos e o exaltou sobremanei-
ra (At 2.22-24; Fp 2.9-11).
O papel do Filho
Deus, o Filho, tem uma dupla função na aliança da redenção: ele é o
fiador e o chefe de seu povo. Em Hebreus 7.22 está escrito que “Jesus se tem
tornado fiador de superior aliança”. A palavra “fiador” é eggyos, em grego, e
significa “aquele que se faz responsável pelo cumprimento das obrigações
legais de outrem. Na aliança da redenção, Cristo se encarregou de expiar os
pecados do seu povo, sofrendo pessoalmente a punição necessária, e de satis-
fazer as exigências da lei pelo mesmo povo. E, ao tomar o lugar do homem
delinquente, ele se fez o último Adão e, como tal, é o Chefe da aliança, o
Representante de todos quantos o Pai lhe deu. Então, na aliança da redenção,
Cristo é o Penhor ou Fiador e o Chefe”.5
O Filho assumiu a natureza humana com suas fraquezas, mas sem peca-
do, nascendo de uma mulher (Gl 4.4-5). Colocou-se sob a lei, guardando-a
perfeitamente (Fp 2.6-8). Sofreu a penalidade de nossos pecados e conquistou
a vida eterna para todos quantos nele creem. Por isso, o Pai lhe deu todo
o poder no céu e na terra (Mt 28.18) para governo do mundo e de sua igreja; e o
fez “Mediador, com a glória que, como Filho de Deus, tinha com o Pai antes de
existir o mundo”.6
O papel do Espírito Santo
A função de Deus, Espírito Santo, no pacto da redenção, é aplicar aos
pecadores eleitos para a salvação a obra redentora de Cristo. Isto pode dar
uma falsa ideia de que a obra do Espírito Santo é pequena e limitada – mas
não é assim.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 11 18/07/2011, 16:18


12 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Quando os profetas do Antigo Testamento predisseram o nascimento,
o ministério, a morte e a ressurreição do Salvador, eles o fizeram “movidos pelo
Espírito Santo” (2Pe 1.21).
O Espírito Santo atuou em Jesus durante toda a sua vida terrena. Jesus
foi gerado no ventre da virgem Maria, por obra do Espírito Santo (Lc 1.30-35;
Mt 1.20). Jesus foi ungido com o Espírito Santo para realizar o seu ministério
(Lc 4.14-21). Ao assumir a natureza humana, Jesus abriu mão de suas prerro-
gativas divinas, ainda que não de sua divindade, e foi auxiliado pelo Espírito
Santo em todo o seu ministério terreno. Por isso, seus milagres foram realiza-
dos pelo poder do Espírito Santo. Deus, o Pai, ressuscitou Jesus dentre os
mortos, mediante a atuação do Espírito Santo (Rm 8.11).
“O Espírito Santo [...] é o único agente eficaz na aplicação da reden-
ção. Ele convence os homens do pecado, leva-os ao arrependimento, rege-
nera-os pela sua graça e persuade-os e habilita-os a abraçar a Jesus Cristo
pela fé. Ele une todos os crentes a Cristo, habita neles como seu Consolador
e Santificador, dá-lhes o espírito de adoção e de oração, e cumpre neles
todos os graciosos ofícios pelos quais eles são santificados e selados até ao
dia da redenção.”7
O PACTO DA GRAÇA
Baseado nesse pacto ou aliança da redenção, Deus estabeleceu
com o homem pecador um pacto de amizade e salvação, denominado pelos
teólogos de pacto ou aliança da graça. Nesse pacto, Deus oferece ao peca-
dor a salvação e a vida eterna por meio de Jesus Cristo. O teólogo Louis
Berkhof definiu esse pacto como “o acordo feito com base na graça entre o
Deus ofendido e o pecador ofensor, porém eleito, no qual Deus promete a
salvação mediante a fé em Cristo, e o pecador a aceita confiantemente, pro-
metendo uma vida de fé e obediência”.8
O pacto ou aliança da graça foi revelado pela primeira vez logo após a
Queda, quando Deus disse à serpente: “Este [o descendente da mulher] te ferirá
a cabeça [da serpente]” (Gn 3.15). Esse texto é chamado de protoevangelho.
Mas o estabelecimento formal da aliança da graça foi feito com Abraão.
“O estabelecimento da aliança com Abraão marcou o início de uma igreja
institucional. Nos tempos anteriores a Abraão havia o que se pode denominar
‘a igreja em casa’. Havia famílias nas quais a religião verdadeira achava ex-
pressão, e sem dúvida havia também reuniões de crentes, mas não havia
definidamente um corpo assinalado de crentes separado do mundo e que pu-
desse chamar-se igreja. Havia ‘filhos de Deus’ e ‘filhos dos homens’, mas não
eram ainda separados por uma linha de demarcação visível. Na época de Abraão,
porém, foi instituída a circuncisão como ordenança sinalizadora, como insígnia
de membro e selo da justiça da fé.”9

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 12 18/07/2011, 16:18


DE ETERNIDADE A ETERNIDADE 13
O pacto feito com Abraão foi ratificado com a nação israelita – a
descendência de Abraão – no monte Sinai. Ali Deus deu a lei e estabeleceu
normas que deviam ser observadas pelo seu povo.
O pacto da graça foi administrado no Antigo Testamento de modo dife-
rente do Novo Testamento. No Antigo Testamento o povo de Deus era formado
por Israel. No Novo Testamento é a Igreja de Jesus Cristo, isto é, o conjunto
formado por todos aqueles que têm Jesus como Salvador e Senhor. Podemos
afirmar que o Antigo Testamento representa uma situação transitória do pacto,
uma preparação para a vinda do Salvador.
A revelação de que Deus enviaria seu Filho para morrer em lugar do
pecador foi dada aos poucos. “Devemos sempre lembrar que a revelação de
Deus no Antigo Testamento é verdadeira e válida, mas representa um processo
histórico, e assim se adapta ao povo do dia. A criança sabe que dois e dois são
quatro. O matemático sabe muito mais, mas ainda concorda com a criança de
que a soma de dois e dois é quatro.”10 O processo de conscientização da vinda
de um Salvador levou séculos. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5).
CONCLUSÃO
A nossa salvação não é resultado do acaso, nem da improvisação.
Assim como Deus fez um plano perfeito para a criação e funcionamento do
universo, ele fez também um plano perfeito para a nossa salvação. Tudo
começou “antes da fundação do mundo”, foi motivado pelo grande amor de
Deus, e tem como objetivo nos levar a ser “santos e irrepreensíveis perante
ele” (Ef 1.4).
Ao único Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – autor e consumador da
nossa salvação, “mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, im-
pério e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos.
Amém” (Jd 25).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 13 18/07/2011, 16:18


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 14 18/07/2011, 16:18
2
DEUS COMUNICA SEU PLANO
“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.”
Hebreus 1.1-2

Deus tomou a iniciativa de comunicar ao homem o plano de salvação.


Ele fez isso falando “muitas vezes e de muitas maneiras” (Hb 1.1).
“O homem é uma criatura insaciavelmente curiosa. Sua mente foi feita
de tal maneira que não pode descansar. Está sempre perscrutando o desconhe-
cido. Mas quando a mente humana começa a se preocupar com Deus torna-se
perplexa. Tateia na escuridão. Tropeça. Não é de estranhar que assim ocorra,
porque Deus é um Ser infinito e imortal, enquanto nós somos mortais e finitos.
Ele está totalmente fora de nosso alcance. Desse modo, nossa mente, que é um
instrumento maravilhosamente efetivo em outros setores, não nos pode ajudar
de pronto. Não pode subir à infinita mente de Deus.”11 Mas – felizmente –
Deus não permitiu que todos os altares fossem erigidos “ao deus desconhecido”
(At 17.23). Ele se revelou.
A REVELAÇÃO
O ser humano jamais conheceria a Deus, nem tomaria conhecimento do
seu plano de salvação, se o próprio Criador não tomasse a iniciativa de se
revelar à criatura. Felizmente Deus tomou a iniciativa de se revelar ao homem.
Essa revelação é um ato “consciente, voluntário e intencional por meio do qual
o mesmo Deus revela ou comunica ao homem a verdade referente a si mesmo
em relação com suas criaturas”.12
Deus se revela mediante as obras da criação e da providência, na
preservação e no governo do universo. Davi escreveu que “Os céus procla-
mam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1).
E o apóstolo Paulo, falando aos habitantes de Listra, afirmou que Deus “não se
deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu
chuvas e estações frutíferas” (At 14.17). E na carta aos romanos ele tratou do
mesmo assunto de modo ainda mais claro, afirmando: “Porque os atributos
invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria
divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 15 18/07/2011, 16:18


16 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20). “Deus fala ao
homem por meio de toda a sua criação, nas forças e nos poderes da natureza,
na constituição da mente humana, na voz da consciência, e no governo provi-
dencial do mundo em geral e das vidas dos indivíduos em particular.”13 Essa
revelação é chamada de revelação geral, por ser dirigida a todos os homens.
Ela é suficiente para deixar os homens indesculpáveis diante de Deus. Mas não
tem o propósito de salvar. Toda a criação foi atingida pelo pecado. Tornou-se
imperfeita. Como instrumento da autorrevelação de Deus, ela deve ser consi-
derada um livro incompleto, com algumas páginas rasuradas. O homem tam-
bém foi atingido. Espiritualmente ele tornou-se ignorante e embrutecido como
um irracional. E, assim, ficou impossível compreender corretamente o que
Deus nos fala por meio da natureza.
Mas o plano eterno de Deus inclui também a revelação especial, que
tem o objetivo de levar o pecador de volta ao Criador. O autor da carta aos
hebreus escreveu sobre essa revelação especial o seguinte: “Havendo Deus,
outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nes-
tes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as
coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1.1-2). Deus falou. Falou por mani-
festações especiais. Falou diretamente a alguns de seus servos, como, por exem-
plo, a Moisés. Falou pelos profetas. Falou por meio de milagres.
A revelação especial é progressiva, atingindo o seu ápice em Jesus Cristo.
“As grandes verdades da redenção aparecem a princípio apenas obscuramente,
mas aumentam gradualmente em clareza, e finalmente se destacam em toda a
sua grandeza na revelação do Novo Testamento.”14
A INSPIRAÇÃO
Deus falou “muitas vezes e de muitas maneiras”. “E depois, para me-
lhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimen-
to e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do
mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda.”15 E assim surgiu a Bíblia
Sagrada, livro inspirado pelo Espírito Santo.
Quando falamos em inspiração da Bíblia, estamos afirmando que Deus
levantou homens e os fez registrar, sem erro, a sua revelação especial. Esses
homens, sob inspiração divina, escreveram os livros que compõem a Bíblia
Sagrada. “Jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto,
homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”
(2Pe 1.21). “Toda Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3.16).
Os escritores dos livros da Bíblia Sagrada escreveram sob inspiração
divina. Escreveram por determinação divina. Alguns autores registraram
ter recebido ordem direta de Deus para escrever (Êx 17.14; 34.27; Nm 33.2;
Is 30.8; Jr 30.2; 36.2). Outros certamente sentiram-se impulsionados a escrever.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 16 18/07/2011, 16:18


DEUS COMUNICA SEU PLANO 17
Era Deus agindo em suas mentes e corações. Mas não devemos imaginar
que Deus ia ditando e eles, escrevendo. Eles não foram meros escribas. Pelo
contrário, Deus os usou precisamente como eles eram. Deus certamente
guiou-os na escolha das palavras, na construção das frases, para que os fatos
e as ideias fossem corretamente registrados. Mas cada um escreveu usando
o seu próprio vocabulário e de acordo com o seu próprio estilo. Por isso, cada
livro, embora inspirado por Deus, traz a marca pessoal de seu autor e as
marcas do tempo em que ele vivia.
A Bíblia Sagrada é uma coleção de 66 livros. Divide-se em duas partes:
Antigo Testamento, com 39 livros; e o Novo Testamento, com 27. A palavra
testamento vem do latim, e seu significado original é acordo, aliança, pacto.
E é nesse sentido que ela é usada para dar nome às duas partes da Bíblia Sagrada.
O Antigo Testamento é assim chamado porque é formado pelos livros que
registram o antigo pacto feito por Deus com seu povo. Este pacto foi feito com
Abraão, pai do povo israelita, e ratificado por meio de Moisés, quando foi
dada a lei ou os dez mandamentos. O Novo Testamento recebe esse nome
porque é formado pelo conjunto dos livros que registram a nova aliança que
Deus fez com o seu povo, por meio de Jesus Cristo. No antigo pacto, o povo
de Deus era formado pelos israelitas e prosélitos. Na nova aliança, é constituído
de todos aqueles que creem em Jesus Cristo como Salvador e Senhor.
Os livros da Bíblia foram escritos por, no mínimo, 36 autores, num período
que pode chegar a 1.600 anos. Mas existe uma extraordinária harmonia em
todas as suas partes. Milhões de pessoas têm sido transformadas mediante a
leitura da Bíblia. E cada crente, ao ler a Bíblia, sente Deus falando com ele.
Tudo isso é evidência de que a Bíblia Sagrada é realmente inspirada por Deus.
Mas a plena convicção dessa inspiração divina é questão de fé, e não de prova
científica. Por isso, só a operação do Espírito Santo em nós é que nos dá a
convicção de que a Bíblia é realmente a Palavra de Deus.
A divisão em capítulos e versículos foi feita bem mais tarde. “Não foi
trabalho de uma só pessoa ou equipe. Os massoretas (especialistas judeus que
produziram um complexo e utilíssimo sistema de sinais vocálicos e outros
sinais para a preservação da língua hebraica – puramente consonantal) fizeram
também a divisão do Antigo Testamento em versículos, no século 9º da era
cristã. Entretanto, alguns atribuem ao cardeal Hugo de São Caro, e outros atribu-
em a Stephen Langton, arcebispo de Cantuária, Inglaterra, a divisão da Bíblia em
capítulos, no século 13. Essa divisão foi aplicada à Vulgata, e, por volta de
1440, foi aplicada à Bíblia Hebraica pelo rabino Nathan. A divisão em versícu-
los apareceu pela primeira vez na Vulgata em 1555, trabalho de Robert Stephen,
em Gênova. Em 1551, Robert Stephen lançara, em Gênova, uma edição do
Novo Testamento grego. A primeira Bíblia inglesa, com divisão em capítulos e
versículos, foi publicada em Gênova, em 1560.”16

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 17 18/07/2011, 16:18


18 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
A Bíblia editada sob a chancela da Igreja Católica tem sete livros a
mais do que a Bíblia editada pelos evangélicos. Até o século 16 não havia uma
definição oficial sobre a situação desses livros. Alguns os aceitavam como
inspirados; outros, não. Mas no dia 15 de abril de 1546 o Concílio de Trento
anexou-os, por decreto, à Bíblia. Os evangélicos chamam esses livros de apó-
crifos e não os aceitam como inspirados por Deus.
Os livros apócrifos, comparados com os livros inspirados, revelam
uma grande pobreza de estilo e conteúdo. Além disso, ensinam doutrinas e
práticas que contradizem as dos livros inspirados. Por exemplo: justificam a
mentira (Judite 10.11-17; 11.1-23; 15.8-10) e o suicídio (2 Macabeus 14.37-46);
ensinam feitiçaria (Tobias 6.1-9) e oração pelos mortos (2 Macabeus 12.38-45).
Uma simples leitura é suficiente para nos mostrar que eles não são inspira-
dos por Deus.
A revelação especial está totalmente contida na Bíblia Sagrada. Por meio
dela, Deus nos diz quem ele é, quem somos nós, de onde viemos e para onde
vamos, e seu plano geral para a nossa vida. No passado, Deus falou a Moisés
“boca a boca” (Nm 12.8). Hoje, Deus nos fala pela Bíblia Sagrada.
A ILUMINAÇÃO
Tudo que precisamos saber para a nossa salvação e para uma vida
correta, justa, em comunhão com Deus, está registrado na Bíblia Sagrada. Mas
“o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-
ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14).
Isso significa que o homem, apenas com os seus recursos naturais, sem a assis-
tência do Espírito Santo, não pode compreender o sentido espiritual da Bíblia
Sagrada. Ela só poderá ser compreendida com a iluminação do Espírito Santo.
Quando falamos em iluminação, estamos nos referindo à atuação de Deus na
mente e no coração do homem, por meio do Espírito Santo, capacitando-o a
compreender o ensino da Bíblia Sagrada.
A Confissão de Fé de Westminster ensina que “Todo o conselho de Deus
concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação,
fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser
lógica e claramente deduzido dela”. Mas acrescenta: “reconhecemos, entre-
tanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito Santo para a salvadora
compreensão das coisas reveladas na Palavra”.17
No registro da conversão de Lídia temos um exemplo de iluminação.
Muitas mulheres ouviram a pregação, mas apenas Lídia converteu-se. E ela
só se converteu porque “o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas
que Paulo dizia” (At 16.14). O Espírito Santo iluminou a mente e abriu o
coração de Lídia, levando-a a compreender e a aceitar a mensagem que esta-
va sendo pregada.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 18 18/07/2011, 16:18


DEUS COMUNICA SEU PLANO 19
A iluminação, contudo, não dispensa o esforço sério e piedoso para
compreendermos corretamente a Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada deve ser
examinada com seriedade e interpretada com fidelidade. “A regra infalível de
interpretação da Escritura é a própria Escritura. Portanto, quando houver ques-
tão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura – o qual
não é múltiplo, mas único – esse texto pode ser estudado e compreendido por
meio de outros textos que falem mais claramente.”18
CONCLUSÃO
Deus tomou a iniciativa de se revelar a nós. Mediante uma revela-
ção especial ele nos deu a conhecer o seu plano para a nossa vida e o modo
como devemos viver e servi-lo. Ele também inspirou homens para registrar,
sem erro, a sua revelação especial. E pela iluminação, pela atuação do Espí-
rito Santo em nossa mente, ele nos capacita a compreender a sua revelação
especial, registrada na Bíblia.
A Bíblia Sagrada é a nossa única regra de fé e prática. Por isso, deve-
mos examiná-la continuamente. E o estudo deve ser seguido da prática. Pois
viver o ensino bíblico resulta em crescimento espiritual. Não que a Bíblia seja
um livro mágico. Mas, sendo ela a Palavra de Deus, somos aperfeiçoados na
medida de nossa prontidão em responder aos apelos que ele nos faz por meio
da sua Palavra.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 19 18/07/2011, 16:18


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 20 18/07/2011, 16:18
3
QUEM É DEUS
“Porventura, desvendarás os arcanos de Deus
ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?”
Jó 11.7

Se Deus não tivesse tomado a iniciativa de se revelar, ninguém jamais


o conheceria. Mas, felizmente, ele se revelou “através de toda a sua criação,
nas forças e nos poderes da natureza, na constituição da mente humana, na voz
da consciência e no governo providencial do mundo em geral e da vida dos
indivíduos em particular”.19 Deus também falou “muitas vezes e de muitas
maneiras” (Hb 1.1). E hoje ele nos fala pela Bíblia Sagrada.
Mas quem é Deus? Não é possível definir Deus. A mente humana,
embora prodigiosa, não dispõe de recursos para captar toda a grandeza do
Criador. O máximo que podemos fazer é a descrição analítica de Deus, a partir
do que ele nos revela na Bíblia Sagrada.
Deus não é uma ideia abstrata ou uma força impessoal que atua no
universo, como afirmam algumas pessoas. Deus é uma pessoa. Ele tem sen-
timento. Ele nos ama. Ele nos sustenta em nossas provações e dificuldades.
Ele nos dá alegria e vitória. Nós podemos compartilhar com ele nossas
experiências. Podemos falar com ele e estarmos certos de que ele nos ouve
e nos atende. Ele cuida de nós e quer o nosso bem. Mas Deus é uma pessoa
diferente de nós. Ele é espírito (Jo 4.24). Ele não tem um corpo físico como o
nosso (Lc 24.39). Por isso, não podemos vê-lo, assim como não podemos ver
o nosso próprio espírito ou o espírito das pessoas que estão ao nosso lado.
OS NOMES DE DEUS
Os nomes atribuídos a Deus, na Bíblia, são instrumentos ou meios que o
Criador usa para nos revelar quem ele é. Eles devem ser estudados e compre-
endidos à luz dos costumes da época em que foram escritos. Hoje os nomes
das pessoas têm pouca importância. Se alguém tem o nome de José, João ou
Joaquim não faz diferença. Mas na época em que a Bíblia foi escrita era diferen-
te. O nome era uma descrição da pessoa. Por isso, quando uma pessoa passava
por uma mudança significativa em sua vida ou em seu caráter, podia também ter
o seu nome mudado. Veja, por exemplo, o caso de Jacó. Ele era um enganador
astucioso. E era exatamente isso o que significava o seu nome (Gn 27.36).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 21 18/07/2011, 16:18


22 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Mas ele passou por uma grande transformação. Deixou de ser um enganador.
E o seu nome foi mudado para Israel (Gn 32.28; 35.10). No Novo Testamento
temos o caso de Pedro. Ele se chamava Simão, mas Jesus lhe deu o nome de
Pedro (Cefas em aramaico), antecipando, assim, que ele passaria por uma
grande mudança e ocuparia um lugar de destaque entre os apóstolos. Assim
também os nomes ou títulos atribuídos a Deus na Escritura Sagrada são instru-
mentos da providência divina para nos revelar qualidades, atributos e modo de
agir do nosso Criador. Vejamos, agora, alguns desses nomes, as circunstâncias ou
situações em que aparecem e o que eles nos revelam sobre Deus.
O primeiro versículo da Bíblia Sagrada diz que “No princípio, criou
Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). O nome Deus (Elohim, em hebraico, plural de
Eloah) descreve o Criador como um ser forte e poderoso, que deve ser temido
e cultuado. “O plural deve ser considerado como intensivo e, portanto, serve
para indicar plenitude de poder.”20
Quando Melquisedeque abençoou a Abraão (Gn 14.18-20), ele o fez em
nome do Deus Altíssimo (Elyon, em hebraico). Esse nome descreve Deus como
um ser supremo, que está acima das divindades locais.
A Abraão (Gn 17.1) Deus se apresentou como o Deus Todo-Pode-
roso (El-Shaddai, em hebraico). Esse nome descreve Deus como um ser
poderoso, que tem poder no céu e na terra; o sustentador, nutridor, aquele que
é capaz de satisfazer.
Deus apareceu a Moisés, no monte Horebe, e lhe disse: “Vem, agora,
e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito”
(Êx 3.10). “Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e
lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me pergun-
tarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE
SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros.
Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o
Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me
enviou a vós outros; este é o meu nome” (Êx 3.13-15). O nome SENHOR (com
todas as letras maiúsculas, Yahweh, em hebraico) significa “Eu Sou o que Sou”.
Por meio dele Deus se revela como o Deus da graça, que sempre existiu e sempre
existirá, que não fica velho, não muda, é eternamente o mesmo.
Quando convocou o povo para atravessar o Jordão e entrar na terra
prometida, Josué lhes disse: “Tomai, pois, agora, doze homens das tribos de
Israel, um de cada tribo; porque há de acontecer que, assim que as plantas dos
pés dos sacerdotes que levam a arca do SENHOR, o Senhor de toda a terra,
pousem nas águas do Jordão, serão elas cortadas, a saber, as que vêm de cima,
e se amontoarão” (Js 3.12-13). O nome Senhor (com a inicial maiúscula e as
demais letras minúsculas, Adonai, em hebraico) descreve Deus como o dono e
o governador de todos os homens.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 22 18/07/2011, 16:18


QUEM É DEUS 23
Deus (Elohim), Deus Altíssimo (Elyon), Deus Todo-Poderoso
(El-Shaddai), SENHOR (Yahweh) e Senhor (Adonai) são nomes ou títulos do
Criador, registrados na Bíblia Sagrada. Eles são meios usados por Deus para
nos revelar quem ele é. Por meio deles sabemos que Deus é um ser supremo,
forte e poderoso, tem poder no céu e na terra, é o dono e o governador de todos
os homens. Mas ele é também o Deus da graça, sustentador, nutridor, capaz de
satisfazer todas as nossas necessidades. Ele sempre existiu e sempre existirá.
Ele não fica velho, não muda, não sofre variação, é eternamente o mesmo.
A TRINDADE
A Bíblia Sagrada ensina que há um só Deus, mas ele subsiste em
três pessoas.
Em Deuteronômio 6.4 está escrito: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus,
é o único SENHOR”. E em Isaías 44.6 o próprio Deus declara: “Eu sou o primeiro
e eu sou o último, e além de mim não há Deus”. Mas, por outro lado, a Bíblia
afirma que Jesus também é Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). O Verbo é Jesus Cristo. A Bíblia
ensina que o Espírito Santo também é Deus. Quando Ananias mentiu a respei-
to da venda de sua propriedade, Pedro o repreendeu, dizendo: “Ananias, por
que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reser-
vando parte do valor do campo? [...] Não mentiste aos homens, mas a Deus”
(At 5.3-4). Mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus, prova de que o Espírito
Santo é Deus. O Pai é Deus; o Filho é Deus; o Espírito Santo é Deus. Três
pessoas, um só Deus. Uma trindade ou triunidade. A palavra Trindade não está
na Bíblia; mas é inegável que ela ensina que existe um único Deus, que subsiste
em três pessoas: Pai, Filho (Jesus Cristo) e Espírito Santo.
A doutrina da Trindade é um mistério. Não podemos harmonizá-la com
a lógica humana. Está além da nossa compreensão. Mas podemos descrevê-la,
conforme é ensinada na Bíblia. Em síntese, a doutrina pode ser descrita assim:
existe um só Deus; Deus subsiste em três pessoas distintas: Pai, Filho (Jesus
Cristo) e Espírito Santo; cada pessoa da Trindade é Deus completo, e não parte
de Deus; as três pessoas da Trindade são iguais em poder e glória.
No registro do batismo de Jesus as três pessoas da Trindade se fazem
presentes, distintamente. O Pai se manifesta do céu, dizendo: “Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). O Filho estava sendo bati-
zado. E o Espírito Santo desceu sobre ele “como pomba” (Mt 3.16).
Muitas pessoas fazem uma grande confusão com as três pessoas da Trin-
dade. Tal confusão pode ser observada especialmente nas orações. Num culto
alguém orou assim: “Senhor, nosso Deus e Pai, nós te agradecemos, Senhor
Jesus, porque tu morreste na cruz em nosso lugar e porque tu habitas em nós”.
Quanta confusão! O Pai não é o Filho. Não foi o Pai quem morreu na cruz, foi

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 23 18/07/2011, 16:18


24 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
o Filho. E quem habita em nós é o Espírito Santo. Na oração nós nos dirigimos
a Deus, o Pai, em nome de Jesus, o Filho.
OS ATRIBUTOS DE DEUS
Os atributos são propriedades ou qualidades de Deus, mencionados na
Bíblia Sagrada ou deduzidos dos atos divinos. Como Deus é perfeito, seus atri-
butos são chamados também de perfeições divinas.
Os atributos que só Deus possui, como, por exemplo, a imutabilidade,
são chamados de atributos incomunicáveis. São assim denominados para ca-
racterizar que eles não foram concedidos aos homens. Aqueles que os homens
também possuem, como, por exemplo, o amor, são chamados de atributos
comunicáveis. A diferença é que as qualidades humanas são imperfeitas e os
atributos de Deus são perfeitos.
Atributos incomunicáveis
A auto existência ou independência é um atributo incomunicável de
Deus (Êx 3.13-14; Jo 5.26; At 17.25). Deus não depende de nada e nem de
ninguém para existir ou agir. Outro atributo é a eternidade (Sl 90.2; 102.12;
2Pe 3.8). Deus sempre existiu e sempre existirá, ele não está limitado pelo
tempo. Outro atributo incomunicável é a imensidade ou onipresença (1Rs 8.27;
Sl 139.7-10; Is 66.1). Deus não está limitado pelo espaço, ele está presente
ao mesmo tempo em todos os lugares. Outro atributo é a imutabilidade
(Ml 3.6; Tg 1.17). Deus não muda em seu ser, em sua essência, em seus atos,
nem em seus propósitos. Quando a Bíblia diz ou dá a entender que Deus
mudou, na realidade a situação é que mudou. A linguagem usada é a do ob-
servador, como, por exemplo, quando alguém afirma que o Sol surgiu ou se
pôs a determinada hora, dando a ideia de que o Sol se movimenta, quando a
Terra é que se move.
Atributos comunicáveis
A bondade é um atributo comunicável de Deus (Sl 145.9,15-16; Jo 3.16-
17; Ef 2.1-9; 1Jo 4.7-10). O homem também recebeu do Criador essa quali-
dade. Mas a bondade de Deus é diferente da bondade humana. Deus é absolu-
tamente bom. Ele trata benévola e generosamente todas as suas criaturas.
Essa bondade, em relação às criaturas racionais, chama-se amor. “Deus é
amor” (1Jo 4.8). Por causa do pecado, o homem perdeu o direito de ser amado
por Deus, mas o Criador continua a nos amar. Deus é misericordioso, por isso
ele tem compaixão de nós. Ele é longânimo, por isso nos tolera. A santidade
é outro atributo comunicável (Êx 15.11; 1Sm 2.2; Is 6.3; Hc 1.13; Ap 4.8).
Deus é perfeitamente puro em sua pessoa e em seus atos e, consequentemente,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 24 18/07/2011, 16:18


QUEM É DEUS 25
ele é contra toda e qualquer forma de impureza. Outro atributo comunicável
é a justiça (Sl 71.19; Mt 10.42; Rm 1.32). Deus é absolutamente justo, ele
governa o mundo com justiça, recompensa todos os atos dos homens e pune
os seus erros (Sl 115.3; Mt 10.29). Deus “faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
É importante conhecer Deus pelo estudo da sua autorrevelação regis-
trada na Escritura Sagrada. Mas, além desse conhecimento teórico, precisa-
mos também do conhecimento espiritual. E tal conhecimento só se adquire
mediante uma vida de comunhão com ele. “Só conhecemos verdadeiramente a
Deus em nossa alma, quando nos rendemos a ele, quando nos submetemos à
sua autoridade e quando os seus preceitos e mandamentos regulam todos os
pormenores da nossa vida.”21
CONCLUSÃO
Zofar perguntou a Jó: “Porventura, desvendarás os arcanos de Deus
ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11.7). Realmente o
homem não tem condições de desvendar os arcanos de Deus. E quando tenta-
mos compreender racionalmente muitos atos de Deus registrados na Bíblia
Sagrada percebemos que eles não se harmonizam com a nossa lógica. As nos-
sas limitações não nos permitem compreender Deus nem seus atos. Contudo,
aquilo que é necessário para a nossa salvação e para a nossa vida em comu-
nhão com ele, Deus nos revelou e está registrado na Bíblia Sagrada com tanta
clareza, que qualquer pessoa, culta ou não, no uso de suas faculdades mentais,
pode compreender, se existir a iluminação do Espírito.
Nas alegrias e nas lutas da vida, em todos os lugares e em todos os
momentos, nós não estamos sozinhos. Deus está sempre conosco. “Como em
redor de Jerusalém estão os montes, assim o SENHOR, em derredor do seu povo,
desde agora e para sempre” (Sl 125.2).
“Ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos
séculos dos séculos. Amém” (1Tm 1.17).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 25 18/07/2011, 16:18


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 26 18/07/2011, 16:18
4
A CRIAÇÃO DO UNIVERSO
E DO HOMEM
“Só tu és SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército,
a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles;
e tu os preservas a todos com vida,
e o exército dos céus te adora.”
Neemias 9.6

Deus sempre existiu e sempre existirá. Ele não teve princípio nem terá
fim. Ele é eterno, imutável, infinito. Mas o homem e o universo tiveram um
princípio, foram criados por Deus. “Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho
e o Espírito Santo, para a manifestação da glória do seu eterno poder, sabedo-
ria e bondade, criar ou fazer do nada, e tudo muito bom, o mundo e o que nele
há, visível ou invisível. Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o
homem, macho e fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-as de inteli-
gência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria imagem.”22
A CRIAÇÃO DO UNIVERSO
O primeiro livro da Bíblia Sagrada começa assim: “No princípio, criou
Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). A Bíblia afirma que Deus é o criador,
preservador e governador do universo. No livro de Neemias está escrito: “Só
tu és SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e
tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos
com vida, e o exército dos céus te adora” (Ne 9.6). E Davi declarou: “Nos céus,
estabeleceu o SENHOR o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo” (Sl 103.19).
As declarações de que Deus criou, preserva e governa todas as coisas, visíveis
e invisíveis, estão presentes em todas as partes da Bíblia Sagrada.
Existem inúmeras teorias filosóficas e científicas sobre a origem do uni-
verso. Muitos livros apresentam essas teorias como se fossem a última palavra
da ciência ou da filosofia. Mas não é possível dizer que a filosofia ou a ciência
encampe qualquer delas, pois não passam de teorias, isto é, elas não foram
comprovadas – nem pelo método filosófico, nem pelo método científico. Elas
representam apenas o pensamento de alguns filósofos ou cientistas sobre a

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 27 18/07/2011, 16:18


28 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
origem do universo. Mas a Bíblia Sagrada afirma categoricamente que Deus é
o criador do universo. Não é teoria, é revelação!
Todas as teorias científicas e filosóficas sobre a origem do universo afir-
mam que ele surgiu por acaso. Mas imagine a seguinte situação: você encontra
um relógio e passa a examiná-lo. Vê que as suas peças têm formas diferentes
e foram feitas de vários tipos de matéria-prima. E todas elas se encaixam e
combinam de tal maneira que todas funcionam harmoniosamente. E marcam
as horas. E cumprem um papel relevante. Formam um todo que tem sentido e
propósito. Se alguém lhe dissesse que aquele relógio surgiu por acaso, você
acreditaria? Então, como acreditar que o universo, muito mais complexo que
um relógio, surgiu por acaso?23 Merece mais crédito a afirmação bíblica de
que Deus criou todas as coisas.

Nem a ciência, nem a filosofia dispõem de meios para dizer como se


originou o universo. Por que então muitos homens da ciência ou da filosofia
negam a existência de um Criador? Christiano P. da Silva Neto, Mestre em
Ciência pela Universidade de Londres, responde: “Talvez a principal razão que
leve tantos homens de ciência a rejeitar o modo criacionista seja, na verdade,
bem outra. Crer num Criador traz consigo um compromisso [...] Via de regra,
porém, as pessoas desejam viver suas vidas segundo as suas próprias conve-
niências, e evitam, portanto, esse tipo de comprometimento”.24
A Bíblia é a Palavra de Deus. E, embora usando a linguagem do obser-
vador, a linguagem comum do dia a dia, sem entrar em detalhes técnicos, ela
afirma que Deus criou todas as coisas visíveis e invisíveis.
A CRIAÇÃO DO HOMEM
O registro da criação do homem, na Bíblia Sagrada, começa assim:
“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus,
sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra” (Gn 1.26). E continua assim: “Criou Deus, pois, o homem
à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.27).
Os vegetais e os animais foram criados “segundo as suas espécies”, mas o
homem foi criado à imagem e semelhança do Criador.
A imagem e semelhança de Deus no homem, no sentido restrito, consis-
tem no verdadeiro conhecimento, retidão e santidade com que o homem foi
dotado na criação. E num sentido mais abrangente inclui também o fato de o
homem ser um ente espiritual, racional, moral e imortal.
Após a Queda, por causa do pecado, a imagem divina no homem se
distorceu. Ele continua espelhando Deus, mas de forma incompleta e distorcida.
O homem perdeu o verdadeiro e puro conhecimento, a retidão e a santidade,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 28 18/07/2011, 16:18


A CRIAÇÃO DO UNIVERSO E DO HOMEM 29
mas continuou sendo um ente espiritual, racional, moral e imortal, embora im-
perfeito em todas essas áreas.
Detalhando mais a criação do homem, a Bíblia Sagrada afirma que “for-
mou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego
de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7). O corpo do homem
foi feito de material que Deus havia criado antes, que no texto bíblico é chamado
de “pó da terra”. Mas a alma surgiu como resultado do sopro divino. O primei-
ro homem era formado por um elemento material, o corpo, e por um elemento
imaterial, a alma. E todos os demais seres humanos também são constituídos
de corpo e alma.
O conceito de que o homem é constituído de duas partes distintas, a
saber, corpo e alma, é denominado, teologicamente, dicotomia. Existe, tam-
bém, um outro conceito denominado tricotomia, segundo o qual o homem é
constituído de três elementos: corpo, alma e espírito. De acordo com esse con-
ceito, o corpo é a parte material do ser humano; a alma é o princípio da vida
animal; e o espírito é o elemento racional, imortal, pelo qual o homem se rela-
ciona com Deus.
Os dicotomistas defendem seu ponto de vista afirmando que a Escritura
Sagrada usa as palavras alma e espírito, “uma pela outra, em permuta recípro-
ca”, para referir-se ao elemento superior ou espiritual do homem. Logo, alma
e espírito, quando descrevem o elemento espiritual do homem, na Escritura
Sagrada, são sinônimos.
Os tricotomistas citam dois textos bíblicos onde aparecem alma e espí-
rito como os elementos superiores do ser humano. O primeiro é 1 Tessaloni-
censes 5.23, que diz: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso
espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo”. E o outro é Hebreus 4.12: “Porque a palavra de
Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e
penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e propósitos do coração”. Os dicotomistas respon-
dem a esse argumento afirmando que: “A simples menção dos termos espírito
e alma um ao lado do outro não prova que, segundo a Escritura, são duas
substâncias distintas, como também Mateus 22.37 não prova que Jesus con-
siderava o coração, a alma e o entendimento como três substâncias distintas.
Em 1 Tessalonicenses 5.23, o apóstolo deseja simplesmente fortalecer a afirma-
ção: ‘O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo’, como uma declaração
epizêutica,25 na qual se resumem os diferentes aspectos da existência do ho-
mem, e na qual o apóstolo se sente perfeitamente livre para mencionar os ter-
mos alma e espírito um ao lado do outro, porque a Bíblia distingue entre am-
bos. [...] (O que o texto diz é que a palavra de Deus) produz uma separação
entre os pensamentos e as intenções no coração”.26 O teólogo Louis Berkhof

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 29 18/07/2011, 16:18


30 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
afirma que a tricotomia “não resultou do estudo da Escritura, mas nasceu com
o estudo da filosofia grega”.27
Deus criou o homem com capacidade de reprodução e lhe ordenou:
“Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gn 1.28). Mas aqui surge uma
pergunta: A capacidade humana de se reproduzir inclui também a alma? Ou
apenas o corpo? Este assunto não está claro na Bíblia Sagrada. Por isso, exis-
tem várias teorias sobre a origem da alma em cada indivíduo. As principais
teorias são: preexistencialismo, criacionismo e traducianismo.
A teoria preexistencialista afirma que a alma de cada pessoa já existia
antes que o seu corpo fosse formado. A teoria criacionista afirma que Deus
cria uma alma para cada pessoa que é gerada. Esta teoria se baseia especial-
mente em Eclesiastes 12.7, onde está escrito que, logo após a morte, “o pó
volta à terra, como o era, e o espírito volta a Deus, que o deu”; e em Hebreus
12.9, onde está registrado o seguinte: “Além disso, tínhamos os nossos pais
segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar
em muito maior submissão ao Pai espiritual, e então viveremos?”. A teoria
traducianista afirma que a alma é gerada junto com o corpo, e, portanto, é
transmitida pelos pais aos filhos. Segundo essa teoria, quando Deus capacitou
o homem para se reproduzir, deu-lhe a capacidade para gerar seres humanos
completos, e não apenas corpos que deveriam receber uma alma para se com-
pletarem. Os seus defensores argumentam que, quando Deus criou a mulher,
usou uma parte do homem, e não lhe soprou nas narinas o fôlego de vida.
Portanto, o corpo e a alma de Eva procederam de Adão. Assim também o corpo
e a alma dos filhos procedem de seus pais.
A teoria preexistencialista é rejeitada por quase todos os evangélicos.
As teorias criacionista e traducianista são aceitas por muitos. Mas todas elas
apresentam algumas dificuldades. Isso significa que esse é um assunto que só
será esclarecido quando estivermos com o Senhor.
A QUEDA DO HOMEM
Na criação, Deus estabeleceu uma aliança com o homem, que os teó-
logos chamam de pacto ou aliança das obras. O Criador colocou o homem no
jardim do Éden e lhe deu esta ordem: “De toda árvore do jardim comerás
livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16-17).
A ameaça de morte, no caso de desobediência, deixa implícito que havia tam-
bém uma promessa de vida. “Adão foi, de fato, realmente criado num estado
de santidade positiva, e não estava sujeito à lei da morte. Mas não possuía
ainda os mais elevados privilégios à espera do homem; ainda não havia sido
elevado acima da possibilidade de errar, de pecar e de morrer. Ainda não pos-
suía o mais alto grau de santidade, nem gozava a vida em toda a sua plenitude.”28

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 30 18/07/2011, 16:18


A CRIAÇÃO DO UNIVERSO E DO HOMEM 31
Se ele obedecesse, alcançaria a plenitude de vida, ou seja, estaria acima de qual-
quer possibilidade de errar, pecar ou morrer. A promessa tinha uma condição:
perfeita obediência. Se o homem falhasse, a penalidade seria a morte. A obediên-
cia consistia em não comer do fruto da árvore do bem e do mal. Era o teste para
provar se Adão estava disposto a submeter a sua vontade à vontade de Deus.
Mas o homem não passou no teste. Caiu. Deus lhe tinha dado uma
variedade enorme de frutas, verduras, legumes e cereais para sua alimentação
(Gn 1.29). Mas ele preferiu comer da árvore proibida, desobedecendo ao
Criador. Assim, rejeitava a vontade de Deus e fazia a sua própria vontade.
Abandonava o Criador e tomava o seu próprio caminho. A sentença de morte
pairava sobre o homem. Morte, na Bíblia Sagrada, significa basicamente sepa-
ração. Ao pecar, o homem separou-se de Deus. Morreu espiritualmente. E as
sementes da morte física começaram imediatamente a agir no seu corpo. Ele
passou a viver sob a tirania da morte, que finalmente o alcançaria.
Adão arrastou para o pecado toda a sua descendência. Ele era o cabeça
e o representante de toda a raça humana. Por isso, todos se tornaram pecadores
quando ele pecou. Nós não somos responsabilizados pelo pecado de nosso pai
ou de nossa mãe. “O filho não levará a iniquidade do pai” (Ez 18.20). Mas
somos responsabilizados pelo pecado de Adão, porque ele era nosso re-
presentante. O apóstolo Paulo escreveu que “por uma só ofensa, veio o juízo
sobre todos os homens para condenação” (Rm 5.18).
Além de herdarmos a culpa do pecado de Adão, herdamos também
a corrupção moral. Por isso, temos uma inerente disposição para o pecado.
O próprio apóstolo Paulo confessou: “Vejo, nos meus membros, outra lei que,
guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que
está nos meus membros” (Rm 7.23). “Porque nem mesmo compreendo o meu
próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto. [...] Porque
não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.15,19).
CONCLUSÃO
Felizmente Deus não executou de imediato a sentença de morte que
pairava sobre o homem. Em vez de eliminar o homem, Deus lhe fez uma pro-
messa de restauração. O descendente da mulher feriria a cabeça da serpente
(Gn 3.15). É o protoevangelho. É a promessa bendita de que o inimigo seria
vencido e o homem, restaurado à comunhão com o Criador.
O primeiro livro da Bíblia Sagrada mostra o homem sendo expulso do
paraíso, da presença de Deus. Mas o último livro, o Apocalipse, mostra o homem
de volta ao paraíso. No primeiro livro está escrito que Deus disse ao homem:
“Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te orde-
nara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o
sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 31 18/07/2011, 16:18


32 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que
tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”
(Gn 3.17-19). Mas no último livro está escrito que Deus habitará com os homens.
“Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará
dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pran-
to, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.3-4). O plano
de Deus para o homem não se esgotava no Éden.
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento
de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu con-
selheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória
eternamente. Amém” (Rm 11.33-36).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 32 18/07/2011, 16:18


33

5
A SALVAÇÃO NO
ANTIGO TESTAMENTO
“Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do
vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de
cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido,
com efeito, antes da fundação do mundo,
porém manifestado no fim dos tempos,
por amor de vós.”
1 Pedro 1.18-20

Deus criou o homem à sua imagem, conforme a sua semelhança.


“Homem e mulher os criou” (Gn 1.27). E os cercou de tudo o que necessita-
vam para uma vida feliz. Deu-lhes uma enorme variedade de frutas, verduras,
legumes e cereais para sua alimentação. E os uniu num casamento tão per-
feito, numa identidade tão completa, que os dois se tornaram uma só carne
(Gn 2.23-24). Mas o homem foi reprovado no teste da perfeita obediência.
Quebrou o pacto ou aliança das obras. Afastou-se de Deus. Escolheu o seu
próprio caminho. Tornou-se pecador.
PECADO E CASTIGO
Por causa do pecado de Adão, todas as pessoas nascem pecadoras.
Davi reconheceu isso e declarou: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me
concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Herdamos do primeiro casal a culpa e a
corrupção. Não conseguimos fazer o bem que queremos, mas fazemos o mal
que, às vezes, até detestamos.
Mas, o que é pecado? “É qualquer falta de conformidade com a lei
de Deus, ou qualquer transgressão dessa lei.”29 Se analisarmos algumas pala-
vras gregas usadas pelos escritores do Novo Testamento para designar o pecado,
fica mais fácil compreender a sua extensão e abrangência. Veja algumas des-
tas palavras: hamartia (Rm 5.12; Tg 2.9; 1Jo 1.7) significa errar o alvo;
paraptoma (Rm 5.15-18; 2Co 5.19; Ef 2.1) significa escorregar ou cair, des-
viar da verdade e da justiça; adikia (Rm 9.14; 1Co 13.6; 1Jo 5.17) significa
injustiça; parabasis (Rm 2.23; Gl 3.19; Hb 2.2) significa transgressão, ato

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 33 18/07/2011, 16:18


34 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
de passar além da linha; anomia (1Jo 3.4) significa desobediência e des-
respeito à lei.
Podemos afirmar, portanto, que o pecado consiste em errar o alvo da
vida, não ser o que devia ou poderia ser, desviar-se da verdade e da justiça,
praticar a injustiça, ultrapassar a linha que limita os nossos direitos e liberdade,
desobedecer e desrespeitar as leis. Mas, como o pecado sempre tem relação
com Deus e sua vontade, podemos dizer que pecar é ser, pensar, falar, desejar
ou fazer o que desagrada a Deus.
O homem trata o pecado levianamente, mas Deus o trata de modo seve-
ro. O pecado é uma violação da justiça de Deus e um insulto à sua santidade.
Por isso Deus o castiga nesta vida e na futura. “O pecado é a desgraça do
homem. Todo o seu sofrimento e miséria são devidos ao pecado. O pecado é a
causa básica das dores, perdas, angústias de coração e frustrações.”30 Cada
pecado recebe a justa punição. Podemos ver na Bíblia Sagrada castigos natu-
rais e disciplinares. Mas nenhum pecado fica impune. Os castigos naturais
consistem em consequências diretas das faltas cometidas. “Aquilo que o ho-
mem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Cada homem colhe os frutos do
seu pecado. O preguiçoso passa privações. O mentiroso cai em total descrédito
e, muitas vezes, paga caro por suas mentiras. A lei de causa e efeito aplica-se
também aos pecados cometidos por nós. Mesmo que a pessoa tenha sido
agraciada com o arrependimento e o perdão divino, ainda assim sofrerá as
consequências naturais de seu pecado. Mas há, também, os castigos disciplina-
res, que são impostos diretamente por Deus. Quando tais castigos são aplica-
dos aos crentes, o objetivo é discipliná-los para que eles abandonem o pecado
e se voltem para o Senhor. Podemos citar como exemplo o caso de Himeneu e
Alexandre, os quais, “tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na
fé”, pelo que o apóstolo Paulo os entregou “a Satanás, para serem castigados,
a fim de não mais blasfemarem” (1Tm 1.19-20). Quando os castigos disciplina-
res são aplicados aos ímpios, o objetivo é refrear o mal.
O castigo na vida futura consiste no sofrimento eterno no inferno. Jesus
pintou esse lugar de tormento com cores vivas, quando falou sobre ele ao povo.
O Mestre não deu muitos detalhes, mas deixou claro que o inferno é um lugar
de terríveis sofrimentos. Jesus o chamou de inferno de fogo (Mt 5.22; 18.9),
fogo eterno (Mt 18.8; 25.41), castigo eterno (Mt 25.46) e fogo inextinguível,
que nunca se apaga (Mc 9.43-44).
JESUS CRISTO, O ÚNICO SALVADOR
Algumas pessoas perguntam: Já que Deus é onisciente e, portanto,
sabia que o homem ia pecar, por que não impediu que isso acontecesse?
A resposta honesta é que não sabemos por que Deus não impediu o homem de
pecar. Mas sabemos que o Criador não estava alheio à situação da criatura.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 34 18/07/2011, 16:19


A SALVAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO 35
Antes de criar o mundo ele já havia estabelecido uma aliança com o Filho para
salvar o homem. Nessa aliança, que os teólogos chamam de pacto ou aliança
da redenção, o Filho “se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se de fazer
a expiação do pecado, suportando o castigo necessário, e de satisfazer as exi-
gências da lei em lugar de todo o seu povo”.31 Felizmente o plano de Deus para
o homem não se esgotava no Éden.
Deus mesmo, movido pelo seu grande amor, providenciou um meio
para a salvação do pecador. “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o
seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Jo 3.16). Mas... e aqueles que viveram e morreram antes do sacrifício
de Jesus, como seriam salvos?
Todas as pessoas salvas, de todas as épocas e de todos os lugares, só
recebem a salvação mediante o sacrifício de Cristo. Aqueles que viveram no
período do Antigo Testamento, e que foram salvos, só foram salvos porque
Cristo morreu numa cruz em lugar deles. O livro do Apocalipse se refere a
Jesus como o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8).
E o apóstolo Pedro escreveu que o sacrifício de Cristo era “conhecido, com
efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos”
(1Pe 1.20). Isto significa que antes da fundação do mundo já estava definido
que o Filho viria ao mundo morrer pela salvação dos pecadores. E, desde o
momento em que foi feito o pacto da redenção, o sacrifício de Cristo já estava
valendo para a salvação dos pecadores.
CONDIÇÃO PARA SER SALVO
A salvação mediante o sacrifício de Cristo não significa uma anistia
universal. Deus exige que os homens respondam favoravelmente ao chamado
divino para a salvação e que, “pelo princípio da nova vida gerada dentro deles,
se consagrem a Deus para uma nova obediência”.32 E só serão salvos os que
responderem positivamente ao chamado divino.
Responder ao chamado divino, hoje, significa crer em Jesus Cristo e
recebê-lo como Salvador pessoal e Senhor. Mas... e no Antigo Testamento?
A condição para ser salvo, no Antigo Testamento, é a mesma do Novo
Testamento: crer! “É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputa-
do para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão” (Gl 3.6-7).
Mas se as pessoas que foram salvas antes da vinda de Jesus Cristo
não tinham um conhecimento muito claro da vinda de um Salvador, em que
consistia, então, a fé dessas pessoas? A fé exigida no Antigo Testamento está
registrada em Deuteronômio 6.4-5: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o
único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de toda a tua força”. Além de crer no SENHOR como único Deus, o
israelita devia aceitar, pela fé, sua condição de membro do povo de Deus, por

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 35 18/07/2011, 16:19


36 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
força da aliança que Deus fez com Abraão, e consagrar-se a Deus por uma
vida de obediência e adoração. Os gentios – povos de outras nacionalidades e
raças – deviam também crer no SENHOR como único Deus e tornar-se parte do
povo israelita, já que Israel era o povo escolhido. Como membro do povo de
Deus, devia consagrar-se ao SENHOR.
Cada israelita – seja por nascimento ou adoção – devia estar consciente
de que, embora pertencendo a Deus, era um pecador. Por isso, foram estabeleci-
dos meios pelos quais o pecador podia aproximar-se de Deus. Um desses meios
era o sacrifício de animais. “O homem devia levar um animal limpo, sem defeito,
que não tinha relação com o seu pecado, e entregava-o para ser morto. A vida e
o sangue do animal inocente tomavam o lugar do pecado do adorador. Levava-se
o animal vivo até ao altar, que era o lugar de adoração. A pessoa impunha a mão
sobre a cabeça dele e confessava seus pecados. Compreendia-se, por isso, que
os pecados eram impostos à criatura viva, de modo a ser considerada culpada, e,
então, era ela tratada como se fosse o pecador. Naturalmente, o adorador sabia
muito bem que o cordeiro não era responsável pelo que ele fizera. Deus também
sabia disso, mas era essa a maneira de representar alguma coisa que, um dia,
tinha de acontecer de fato. Apontava para aquele dia no futuro, quando Jesus
Cristo apareceria como o Cordeiro de Deus, e o pecador poria seus pecados
sobre ele.”33
CONCLUSÃO
A Bíblia deixa claro que não existe nenhum meio de salvação fora de
Jesus Cristo. O Senhor Jesus declarou: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a
vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). E Pedro, inspirado pelo
Espírito Santo, afirmou: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo
do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual impor-
ta que sejamos salvos” (At 4.12). Tanto no período do Antigo Testamento quanto
no período do Novo Testamento, Jesus é o único Salvador.
“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo
quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele
seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o
sempre. Amém” (Ef 3.20-21).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 36 18/07/2011, 16:19


37

6
O POVO DE DEUS NO ANTIGO
TESTAMENTO
“Irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem,
e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar,
com respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual e beberam da
mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia.
E a pedra era Cristo. Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles,
razão por que ficaram prostrados no deserto.
Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos
e foram escritas para advertência nossa.”
1 Coríntios 10.1-5,11

A nossa salvação é um processo que começou antes da fundação do


mundo, quando o Pai e o Filho estabeleceram o pacto da redenção. O Filho
“se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se de fazer a expiação do pecado,
suportando o castigo necessário, e de satisfazer as exigências da lei em lugar
de todo o seu povo”.34
O plano de Deus inclui também uma organização para reunir e congre-
gar o seu povo. No princípio essa organização era a família. Podemos citar
como exemplo a família de Jó. O patriarca, além de chefe da família era tam-
bém o seu sacerdote. Ele liderava os filhos na vida religiosa; “levantava-se
de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles” (Jó 1.5).
Após o êxodo, a nação israelita passou a ser a instituição que reunia e congre-
gava o povo de Deus. Israel era uma teocracia.
OS PATRIARCAS
Adão e Eva foram expulsos do Éden, mas continuaram temendo e
cultuando o SENHOR. Quando nasceu o primeiro filho, a mãe o recebeu como uma
dádiva de Deus. Ela declarou: “Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR”
(Gn 4.1). Seus filhos Caim e Abel ofereceram “uma oferta ao SENHOR” (Gn 4.3-5).
Esse ato mostra que os pais procuravam passar aos filhos a ideia de temor, reve-
rência e gratidão a Deus.
A população crescia... e se corrompia. “Viu o SENHOR que a maldade
do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 37 18/07/2011, 16:19


38 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
desígnio do seu coração; então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem
na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer da
face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos
céus; porque me arrependo de os haver feito. Porém Noé achou graça diante
do SENHOR” (Gn 6.5-8). Deus mandou o dilúvio. Destruiu homens e animais.
Mas, felizmente, preservou Noé e sua família e os animais que ele colocou na
arca. E, assim, a humanidade teve um novo começo.
Os homens deviam se espalhar por toda a terra. Mas eles não obede-
ceram ao SENHOR. Por isso as línguas foram confundidas. Cada família ou tribo
passou a falar uma língua diferente da outra. Uma não compreendia o que a
outra dizia. E assim se espalharam pela terra.
Os homens continuaram se corrompendo. Mas Deus sempre teve os
seus servos fiéis. Jó era um deles. Sua história é bem conhecida.
Outro fiel servo de Deus foi Abraão, que vivia em Ur, capital do antigo
reino da Suméria, cerca de dois mil anos antes de Cristo. Deus o chamou para
ser o pai de um novo povo, de uma nova nação, na qual seriam “benditas todas
as famílias da terra” (Gn 12.3).
Abraão teve muitos filhos. Mas Isaque era o filho da promessa e foi o
sucessor do pai. Isaque teve dois filhos: Esaú e Jacó.
Por volta do ano 1876 a.C.,35 Jacó foi para o Egito, onde seu filho José
era o governador geral. Toda a família do patriarca somava apenas 70 pessoas.
Mas Deus os fez multiplicar no Egito, tornando-os um povo numeroso. Tudo
isso está registrado no livro de Gênesis, que se inicia com o relato da criação e
termina com o registro da morte de José.
O ÊXODO E A CONQUISTA DE CANAÃ
Muitos anos após a morte de José, o rei do Egito passou a oprimir e a
escravizar os descendentes de Jacó. Mas Deus levantou Moisés para tirar seu
povo do Egito e conduzi-lo a Canaã – a terra que havia prometido a Abraão dar
à sua descendência.
O povo de Deus saiu do Egito por volta do ano 1446 a.C. Inicialmente
Moisés os conduziu para a região do Sinai. Ali ficaram dois anos se preparando
para a nova realidade que passariam a viver. Eles eram ex-escravos. Agora
precisavam de uma preparação especial para ser uma nação. Deus, por meio de
Moisés, deu-lhes as instruções de que necessitavam. Os livros de Êxodo e
Levítico registram a saída do Egito e as leis que Deus deu ao povo no Sinai.
Devidamente preparado, o povo poderia chegar a Canaã dentro de
muito pouco tempo – possivelmente com menos de três meses de caminhada.
Mas o povo se rebelou contra Moisés e contra Deus. E como resultado ficaram
peregrinando pelo deserto por mais 38 anos. Todos os rebeldes morreram no
deserto. Apenas os seus filhos entraram na terra prometida. O livro de Números

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 38 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO 39
conta essa história. E Deuteronômio registra os discursos feitos por Moisés, re-
cordando ao povo tudo o que Deus havia feito por eles naqueles quarenta anos.
O próprio Moisés morreu no deserto. Mas Deus colocou Josué na
liderança do povo. Por volta do ano 1406 a.C., eles entraram em Canaã.
A luta para expulsar os habitantes da terra foi longa. Eles venceram 31 reis.
“Josué dividiu a terra entre as tribos israelitas segundo as instruções de Deus,
e pouco antes de morrer insistiu com o povo para continuar confiando em
Deus e obedecendo-lhe as ordens. Porém, não foi isso o que fizeram. Após a
morte de Josué, ‘cada um fazia o que achava mais reto’ (Jz 21.25). Os gran-
des líderes desse período atuaram à semelhança de Moisés e de Josué; eram
heróis militares e juízes que presidiam os tribunais de Israel, daí a denomina-
ção que lhes damos de ‘juízes’. Os mais dignos de nota foram: Otniel, Débo-
ra (a única mulher juíza), Gideão, Jefté, Sansão, Eli e Samuel.”36 Foi tam-
bém nesse período que viveu Rute.
O REINO UNIDO
Por volta do ano 1043 a.C., foi instituída a monarquia em Israel. Deus
fez com que a transição fosse pacífica. O novo rei pertencia à tribo de Benjamim.
“Uma escolha muito lógica, pois, é o jovem Saul (1Sm 10.23); este não é
somente alto e hábil, mas também é da tribo central e mais fraca entre as tribos
(1Sm 9.21); assim sua escolha não incitará inveja entre as tribos.”37
“Em seus primeiros anos, Saul apareceu como um homem revestido de
humildade e autodomínio. Contudo, com o correr dos anos seu caráter mudou.
Tornou-se obstinado, desobediente a Deus, ciumento, odiento e supersticioso.”38
Sua morte foi trágica (1Sm 31.1-13).
Davi foi o segundo rei de Israel. Ele começou a reinar sobre a tribo de
Judá por volta do ano 1011 a.C. Ao mesmo tempo, Is-Bosete, filho de Saul,
reinava paralelamente sobre outras tribos. Essa situação durou sete anos e seis
meses (2Sm 2.11), até o assassinato de Is-Bosete por seus adversários.
“Assim, pois, todos os anciãos de Israel vieram ter com o rei, em Hebrom; e o
rei Davi fez com eles aliança em Hebrom, perante o SENHOR. Ungiram Davi rei
sobre Israel” (2Sm 5.3). “Davi reunia as qualidades que o povo buscava –
habilidade militar, sagacidade política e agudo senso de dever religioso.”39 No
seu reinado, Israel se tornou uma nação forte e consolidou suas fronteiras.
O terceiro rei foi Salomão, que começou a reinar por volta do ano 971 a.C.
“A despeito da lendária sabedoria de Salomão, ele nem sempre viveu sabia-
mente. Ele executou o plano político de Davi, fortalecendo seu poderio sobre os
territórios conquistados pelo pai. Ele era um arguto homem de negócios, e fez
alguns acordos comerciais que proporcionaram grande riqueza a Israel (1Rs
10.14-15). Deus também usou Salomão para construir o grande templo em
Jerusalém. Mas o pródigo estilo de vida de Salomão aumentou o peso dos

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 39 18/07/2011, 16:19


40 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
impostos sobre o povo em geral. Salomão herdou do pai a atração por mulhe-
res, [...] e formou um harém de esposas oriundas de muitas terras (1Rs 11.1-8).
Essas esposas pagãs induziram-no a adorar deuses pagãos, e não demorou para
que ele estabelecesse seus ritos e cerimônias em Jerusalém.”40
Salomão escreveu os livros de Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos
Cânticos. Em Eclesiastes ele mostra sua grande frustração no final da vida,
quando afirma: “Eu, o Pregador, venho sendo rei de Israel, em Jerusalém. Atentei
para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e
correr atrás do vento” (Ec 1.12,14).
O REINO DIVIDIDO

Salomão faleceu por volta do ano 931 a.C. A sua morte desencadeou
uma sangrenta luta pelo trono. De um lado estava Roboão, seu filho; do outro
lado estava um ex-exilado político, chamado Jeroboão, que tinha o apoio da
maioria dos chefes militares. O reino foi dividido. Roboão ficou com a parte
sul do país, reinando sobre as tribos de Judá e Benjamim, tendo Jerusalém
como capital. Essa parte passou a denominar-se reino de Judá. E Jeroboão
ficou com dez tribos, tendo a capital sucessivamente em várias cidades na
parte norte do país. Por volta do ano 879 a.C., Onri estabeleceu a capital defi-
nitivamente em Samaria. Essa parte do reino conservou o nome de Israel.
O reino de Israel teve 19 reis. Nenhum deles serviu ao Senhor. Pelo
contrário, todos cooperaram para que o povo e o reino se afastassem mais e
mais do Senhor. Deus levantou profetas para advertir as autoridades e o povo,
mas a impiedade imperava. Um dos primeiros profetas foi Elias, que travou
grande luta com Acabe e Jezabel. Elias foi sucedido por Eliseu. Outros profe-
tas desse período foram Amós, Jonas, Miqueias e Oseias. Amós profetizou
contra a idolatria, a corrupção e as injustiças sociais. Jonas foi enviado por
Deus a Nínive para anunciar o julgamento contra aquele povo; houve conver-
são e a cidade foi poupada. Miqueias denunciou os erros dos governantes de
Israel e de Judá e os falsos líderes religiosos. Oseias denunciou a prostituição
espiritual de Israel e o julgamento inevitável.
No ano 721 a.C., o rei da Assíria tomou Samaria e destruiu o reino de
Israel. Sua população foi levada cativa para várias cidades do império dos
medos. “O rei da Assíria trouxe gente de Babilônia, de Cuta, de Ava, de Hamate
e de Sefarvaim e a fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dos filhos de
Israel; tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas cidades” (2Rs 17.24).
Acabou-se o reino de Israel. E nunca mais se ouviu falar nessas dez tribos.
O reino de Judá durou um pouco mais. Ele teve 20 reis. Quase todos
andaram longe dos caminhos do Senhor. Apenas os reis Asa, Josafá, Joás (Jeoás),
Amazias, Azarias, Jotão, Ezequias e Josias foram fiéis ao Senhor.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 40 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO 41
Deus levantou grandes profetas para advertir Judá. Isaías foi um de-
les. Seu ministério durou cerca de sessenta anos. Ele denunciou o pecado,
aconselhou reis, advertiu quanto ao julgamento do Senhor e, também, falou
sobre a vinda do Messias e um futuro glorioso. Outro grande profeta desse
período foi o sacerdote Hilquias, que redescobriu a lei e conduziu a reforma do
templo, acompanhada de uma reforma religiosa. Habacuque, Jeremias, Joel,
Naum e Sofonias também exerceram seu ministério profético nesse período.
Judá permaneceu espiritualmente insensível. E sofreu as consequên-
cias do julgamento divino. Em 609 a.C., o rei Josias foi morto pelo exército
egípcio, em Megido. Em 605 a.C., Nabucodonosor subjugou Judá e ocupou a
planície costeira. Muitos judeus foram levados cativos para a Babilônia; entre
eles estavam Daniel e seus amigos. No ano 597 a.C., Jerusalém foi invadida
pelos babilônios. Mais um grupo de judeus foi levado para a Babilônia. Entre
estes estava o profeta Ezequiel. Em 586 a.C., Jerusalém foi queimada pelos
babilônios. O rei foi preso e teve os seus olhos vazados. A população de Judá
foi levada cativa para a Babilônia. Assim chegava ao fim o reino de Judá.

A RESTAURAÇÃO DE JUDÁ
Os descendentes de Abraão deviam ser uma bênção para todas as
famílias da terra. Mas o reino de Israel tinha sido destruído, sua população foi
espalhada no meio de vários povos e as dez tribos desapareceram. E Judá esta-
va no exílio.
Mas Deus não mudou o seu plano. Ele continuou falando ao povo por
meio dos profetas. Jeremias foi um profeta que Deus usou para falar ao povo
no período que antecedeu ao cativeiro e também nos primeiros anos do exílio.
Logo após a queda de Jerusalém, ele foi levado para o Egito. Mas antes escre-
veu a famosa carta aos cativos da Babilônia (Jr 29).
Ezequiel foi outro profeta que Deus usou para falar ao seu povo no
cativeiro. Ele animou os exilados com a esperança da volta à sua pátria. En-
quanto isso, o profeta Daniel atuava no governo da Babilônia. Obadias pro-
fetizou contra Edom, que tinha atacado Judá no tempo da invasão babilônica.
Como Deus havia anunciado por meio dos profetas, Judá voltou do
cativeiro. O primeiro grupo voltou em 538 a.C., sob a liderança de Sesbazar e
Zorobabel (Ed 1.8–2.70). Em 536 a.C., eles iniciaram a reconstrução do tem-
plo de Jerusalém. A reconstrução de Jerusalém e do templo teve períodos de
euforia e de desânimo. Por isso, Deus levantou profetas para animar o povo a
completar a obra. Ageu e Zacarias foram os profetas que atuaram nesse perío-
do. Em 516 a.C., foi inaugurado o templo.
A história de Ester se passou nesse período. Ela se casou com o rei
Assuero, conhecido na história como Xerxes, que reinou nos anos 486-464 a.C.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 41 18/07/2011, 16:19


42 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
O segundo grupo voltou em 458 a.C., sob a direção de Esdras e Neemias
(Ed 8.1-14). Neemias foi nomeado governador geral do seu país. Seu principal
trabalho foi a reconstrução dos muros de Jerusalém. A missão de Esdras foi
restaurar o serviço religioso no templo. Ele compilou os hinos que o povo can-
tava, desde a época de Moisés, e preparou um hinário. Esse hinário está na Bíblia
Sagrada – é o Livro dos Salmos. Foi também nesse período que foram escritos os
dois livros das Crônicas.
O Antigo Testamento termina com o livro de Malaquias, escrito mais ou
menos 400 anos antes do nascimento de Jesus Cristo. O livro traz severas ad-
vertências ao povo, que estava voltando às antigas práticas pecaminosas.
CONCLUSÃO
A história do povo de Deus no Antigo Testamento é uma grande adver-
tência para nós. “Estas coisas se tornaram exemplos para nós” (1Co 10.6),
como afirmou o apóstolo Paulo. O nosso Deus é Deus zeloso (Êx 20.5-6).
“O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o
culpado” (Na 1.3).
“Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos séculos dos séculos.
Amém” (Fp 4.20).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 42 18/07/2011, 16:19


43

Apêndice Nºº 1
CRONOLOGIA DO
ANTIGO TESTAMENTO

OBSERVAÇÕES:
1. Este apêndice tem como objetivo apresentar em ordem cronológica os livros e fatos
narrados no Antigo Testamento.
2. A maioria das datas são aproximadas; outras são apenas conjeturas. Na Antiguidade,
cada povo tinha o seu próprio calendário – não havia um calendário universal – e
isso dificulta muito o estabelecimento das datas dos eventos históricos.
3. A coincidência de período de reinado entre reis que se sucederam acontece porque
alguns reis colocaram seus filhos para reinar ao lado deles. Por exemplo: Uzias
começou a reinar no ano 791 a.C.; no ano 751 a.C., colocou seu filho, Jotão, ao seu
lado, como rei; no ano 744 a.C., Jotão colocou Acaz, seu filho, como rei ao seu lado.
Nesse período Judá tinha três reis: Uzias (avô), Jotão (pai) e Acaz (filho).
4. A duração do reinado também precisa ser entendida segundo os critérios da época.
O ano em que o rei assumia o trono era o primeiro ano de seu reinado, mesmo que ele
assumisse o trono no final do ano. Em consequência, um rei que assumisse o trono
faltando dois meses para o ano terminar e o deixasse oito meses depois de iniciado o
ano seguinte seria mencionado no Antigo Testamento como tendo reinado dois anos,
quando, na realidade, o reinado fora de apenas dez meses.
5. Todas as datas mencionadas seguem a ordem decrescente, tendo em vista que se
referem ao período antes de Cristo.

DA CRIAÇÃO À MORTE DE SALOMÃO

DATA EVENTO REGISTRO BÍBLICO


? Criação Gênesis 1–2
? Queda do homem: o pecado entra Gênesis 3–6.10
para a história humana; corrupção do
gênero humano.
? Dilúvio: novo começo com Noé e sua família. Gênesis 6.11–10.32
? Babel: confusão das línguas e início Gênesis 11
das nações.
2000-1850 a.C. Período em que viveu Abraão. Gênesis 12–25.11
? Período em que viveu Jó. Jó 1–42
1900-1750 a.C. Período em que viveu Isaque. Gênesis 21–35
1800-1700 a.C. Período em que viveu Jacó. Gênesis 25.19–49.33

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 43 18/07/2011, 16:19


44 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA

1750-1640 a.C. Período em que viveu José Gênesis 30.22–50.26


1350 a.C. Nascimento de Moisés Êxodo 1–2
1280 a.C. Os israelitas saem do Egito (êxodo), Êxodo 3–40
passam dois anos na região do Sinai, Levítico 1–27
aprendendo as leis que deviam obedecer Números 1–36
como “povo de Deus, nação santa”. Deuteronômio 1–34
Depois seguiram para Cades-Barneia,
onde deviam preparar a invasão da terra
prometida. Doze espias foram enviados
a Canaã para trazer informações sobre
a terra e sobre a posição dos inimigos.
Dez deram informações pessimistas. O
povo se rebelou contra Moisés e contra
Deus. Por isso, Deus determinou que
nenhum adulto daquela geração entraria
em Canaã, exceto Josué e Calebe. O
povo ficou vagando pelo deserto mais 38
anos, até que morresse aquela geração.
1240 a.C. Os israelitas entram em Canaã, a terra Josué 1–24
prometida, sob a liderança de Josué e
tomam posse da terra.
1190 a.C. Josué morre. O povo deixa de ter um governo Josué 24.29-33;
central. Inicia-se o período dos juízes. Juízes 1.1-10
1220-1043 a.C. Período dos juízes. Vários juízes lideram Juízes 1–21;
o povo, ao mesmo tempo, em dife- 1 Samuel 1-8;
rentes regiões do país. Foi também nesse Rute 1–4
período que viveu Rute.
1050 a.C. Início da monarquia. 1 Samuel 9–10
1050 a.C. Início do reinado de Saul. Ele reinou 33 1 Samuel 11–31
anos, de 1043-1011 a.C. Atos 13.21
registra que Saul reinou 40 anos, mas
a conclusão a que se chegou é que, no
texto referido, estão incluídos os 7 anos
do reinado de Is-Bosete, filho de Saul.
1017 a.C. Morte de Saul. Seu filho Is-Bosete assume 2 Samuel 1–3
o trono e reina 7 anos. Logo após a morte
de Saul, Davi foi proclamado rei de uma
das tribos – Judá – e começou a reinar
sobre essa tribo, instalando a sede do
reino em Hebrom, onde reinou 7 anos.
1004 a.C. Inimigos matam Is-Bosete. Davi é ungido 2 Samuel 4–5
rei de todo o Israel.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 44 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO 45

1011-970 a.C. Reinado de Davi. Ele reinou 40 anos, de 2 Samuel 2–24;


1011-971 a.C., sendo 7 anos sobre a tribo 1 Reis 1–2.11;
de Judá e 33 anos sobre todo o Israel. 1 Crônicas 11–29
Davi faleceu no ano 970 a.C.
970-930 a.C. Reinado de Salomão, filho e sucessor de 1 Reis 2.12–11.43;
Davi. Ele reinou 40 anos. Nesse período 2 Crônicas 1-9
Salomão escreveu os livros de Provérbios, Provérbios,
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Eclesiastes e Cantares
930 a.C. Morre Salomão. O país mergulhou numa 1 Reis 12
sangrenta guerra civil em que os filhos de 2 Crônicas 10-11
Salomão e os generais do exército brigavam
pelo trono. Jeroboão, com o apoio dos chefes
militares, divide o reino e se torna o rei de
dez tribos. Roboão, filho de Salomão, reina
sobre duas tribos: Judá e Benjamim. O seu
reino recebe o nome de Judá ou reino do
Sul, por ocupar a parte sul do país. A capital
desse reino é Jerusalém. A outra parte recebe
o nome de reino de Israel ou do Norte, por
ocupar a parte norte do país. Inicialmente a
capital foi instalada em Siquém.

REINO DIVIDIDO
DATA EVENTOS DO REINO EVENTOS DO REINO REGISTRO
DE JUDÁ DE ISRAEL BÍBLICO
931-913 Reinado de Roboão. 1 Reis 11.42–
a.C. Seu reinado durou 17 14.31;
anos. 2 Crônicas 12
930-910 Reinado de Jeroboão 1 Reis 11.26–
a.C. I. Seu reinado durou 14.20
22 anos.
913-911 Reinado de Abias, filho 1 Reis 14.31–
a.C. e sucessor de Roboão. 15.8;
Seu reinado durou 2 Crônicas 13
apenas 3 anos.
911-870 Reinado de Asa, filho e 1 Reis 15.8-24;
a.C. sucessor de Abias. Seu 2 Crônicas 14–16
reinado durou 41 anos.
910-909 Reinado de Nadabe, 1 Reis 15.25-28
a.C. filho e sucessor de
Jeroboão I. Seu reinado
durou apenas 2 anos.
Ele foi morto por Baasa.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 45 18/07/2011, 16:19


46 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA

909-886 a.C. Reinado de Baasa, 1 Reis 15.27–


assassino de Nadabe. 16.7
Seu reinado durou 24
anos.
886-885 a.C. Reinado de Elá, filho 1 Reis 16.6-14
e sucessor de Baasa.
Seu reinado durou 2
anos. Ele foi morto
por Zinri.
885 a.C. Zinri, assassino de 1 Reis 16.9-20
Elá, reinou 7 dias. O
povo conspirou
contra ele e o matou.
885-874 a.C. Reinado de Onri, que 1 Reis 16.15-28
antes era o co-
mandante do exército.
Seu reinado durou 12
anos.
885-880 a.C. Reinado de Tibni, um 1 Reis 16.21-24
rival de Onri. Ele
reinou sobre algumas
partes do reino do
Norte, enquanto Onri
era o rei “oficial”.
Depois de alguns
anos de reinado,
Tibni foi morto pelos
seguidores de Onri.
880 a.C. Onri muda a capital 1 Reis 16.24
do reino do Norte de
Tirza para Samaria.
874-853 a.C. Reinado de Acabe, 1 Reis 16.28–
filho e sucessor de 22.40
Onri. Seu reinado
durou 21 anos. Foi
nesse período que o 1 Reis 17–
profeta Elias realizou o 2 Reis 2
seu ministério.
873-848 a.C. Reinado de Josafá, filho 1 Reis 22.41-51;
e sucessor de Asa. Seu 2 Crônicas 17–
reinado durou 25 anos. 20

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 46 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO 47

853-841 a.C. Reinado de Jeorão, filho 2 Reis 8.16-24;


e sucessor de Josafá. 2 Crônicas 21
Seu reinado durou 8
anos, sendo 5 destes ao
lado de seu pai.
853-852 a.C. Reinado de Acazias, 1 Reis 22.40–
filho e sucessor de 2 Reis 1.18
Acabe. Seu reinado
durou apenas 1 ano.

852-841 a.C. Reinado de Jorão, 2 Reis 3.1–9.25


irmão e sucessor de
Acazias (que não
tinha filhos). Seu
reinado durou 11 1 Reis 19.19–
anos. Ele foi morto por 2 Reis 13.21
Jeú. Foi nesse período
que o profeta Eliseu,
sucessor de Elias,
realizou o seu
ministério.
841 a.C. Reinado de Acazias, 2 Reis 8.24–
filho e sucessor de 9.29;
Jeorão. Seu reinado 2 Crônicas
durou apenas 1 ano. Ele 22.1-9
foi morto por Jeú,
quando lutava ao lado
de Jorão, rei de Israel,
que era parente de sua
esposa.
841-835 a.C. Reinado de Atalia, mãe 2 Reis 11.1-20;
e sucessora de Acazias. 2 Crônicas
Ela era filha de Onri, rei 22.10-13
de Israel, e uma das es-
posas de Jeorão.
Acazias faleceu aos 22
anos de idade, sem
deixar filho que pudesse
assumir o trono. Sua
mãe assassinou os filhos
de Jeorão (com as
outras esposas) e
usurpou o trono.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 47 18/07/2011, 16:19


48 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA

841-814 a.C. Reinado de Jeú, que 2 Reis 9.1–


havia matado Jorão, 10.36
rei de Israel, e Acazias,
rei de Judá. Seu
reinado durou 28 anos.
835-796 a.C. Reinado de Joás, filho 2 Reis 11.1–
de Acazias. Quando seu 12.21;
pai faleceu, sua tia o 2 Crônicas 23–
escondeu para que ele 24
não fosse morto pela
avó, Atalia, que havia
usurpado o trono. Ele
ficou escondido por 6
anos, quando Atalia foi
morta e ele assumiu o
trono, sob a tutela do
sacerdote Joiada. Seu
reinado durou 40 anos.
Ele foi assassinado
numa conspiração
liderada por dois de
seus auxiliares.

814-798 a.C. Reinado de Jeoacaz, 2 Reis 13.1-9


filho e sucessor de
Jeú. Seu reinado
durou 16 anos.
798-782 a.C. Reinado de Jeoás, 2 Reis 13.10–
filho e sucessor de 14.16
Jeoacaz. Seu reinado
durou 16 anos.
796-767 a.C. Reinado de Amazias, 2 Reis 14.1-20;
filho e sucessor de 2 Crônicas 25
Joás. Seu reinado du-
rou 29 anos.
794-753 a.C. Reinado de Jeroboão 2 Reis 14.23-29
II, filho e sucessor de Amós 1–9
Jeoás. Seu reinado Jonas 1–4
durou 40 anos.
Foi nesse período que
os profetas Amós e
Jonas realizaram seus
ministérios.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 48 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO 49

791-739 a.C. Reinado de Azarias 2 Reis 15.1-7;


(Uzias), filho e sucessor 2 Crônicas 26
de Amazias. Seu Joel 1–3
reinado durou 52 anos. Isaías 6
Foi nesse período que Oseias 1.1
o profeta Joel realizou
o seu ministério.
No ano da morte do rei
Uzias (739 a.C.), o
profeta Isaías iniciou o
seu ministério. O
profeta Oseias também
iniciou o seu ministério
nesse período.
753-752 a.C. Reinado de Zacarias, 2 Reis 14.29–
filho e sucessor de 15.12
Jeroboão II. Seu rei-
nado durou apenas 6
meses. Ele foi morto
por Salum.
752 a.C. Reinado de Salum, 2 Reis 15.10-15
assassino de Zaca-
rias. Seu reinado du-
rou apenas 1 mês.
Ele foi morto por
Manaém.
752-742 a.C. Reinado de Manaém, 2 Reis 15.14-22
assassino e sucessor
de Salum. Seu reina-
do durou 10 anos.
752-732 a.C. Reinado de Peca. Ele 2 Reis 15.27-31
reinou paralelamente 751-735 a.C.
a Manaém, como um
rei rival. Depois da
morte de Manaém,
aliou-se a Pecaías, fi-
lho e sucessor de
Manaém, a quem as-
sassinou mais tarde. O
reinado de Peca durou
20 anos. Ele foi assas-
sinado por Oseias.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 49 18/07/2011, 16:19


50 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA

Reinado de Jotão, filho e sucessor 2 Reis 15.32-38;


de Azarias (Uzias). Seu 2 Crônicas 27;
reinado durou 16 anos, Miqueias 1.1
sendo parte desse pe-
ríodo como corregente,
ao lado de Azarias.
Foi nesse período que
o profeta Miqueias ini-
ciou o seu ministério.

744-728 a.C. Reinado de Acaz, filho 2 Reis 16.1-20;


e sucessor de Jotão. 2 Crônicas 28
Seu reinado durou 16
anos, sendo parte des-
se período como
corregente de Jotão.
742-740 a.C. Reinado de Pecaías, 2 Reis 15.23-26
filho de Manaém. Seu
reinado durou 2 anos.
Ele foi morto por Peca.

732-722 a.C. Reinado de Oseias, 2 Reis 15.30–


assassino e sucessor 17.6
de Peca. Seu reinado
durou 9 anos.

729-696 a.C. Reinado de Ezequias, 2 Crônicas 29–


filho e sucessor de 32
Acaz. Seu reinado du-
rou 29 anos.
Foi nesse período que
chegou ao final o minis-
tério dos profetas Isaías,
Oseias e Miqueias.
722 a.C. FIM DO REINO DE IS- 2 Reis 17
RAEL. O povo foi le-
vado para o cativeiro
pelos assírios.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 50 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO 51
REINO DE JUDÁ
696-641 a.C. Reinado de Manassés, filho e sucessor 2 Reis 21.1-18;
de Ezequias. Seu reinado durou 50 anos. 2 Crônicas 33.1-20
Foi nesse período que o profeta Naum Naum 1–3
realizou seu ministério.
641-639 a.C. Reinado de Amom, filho e sucessor de 2 Reis 21.19-26;
Manassés. Seu reinado durou 2 anos. 2 Crônicas 33.21-25
Foi morto numa conspiração liderada
por seus servos.

639-608 a.C. Reinado de Josias, filho e sucessor de 2 Reis 22.1–23.30;


Amom. Seu reinado durou 31 anos. Foi 2 Crônicas 34-35
morto pelo Faraó Neco, rei do Egito, Obadias
numa batalha em Megido. Sofonias 1–3
Foi nesse período que os profetas Jeremias 1.1-10
Obadias e Sofonias realizaram seus
ministérios.
Início do ministério do profeta Jeremias.
608 a.C. Jeoacaz, filho de Josias, reinou 3 meses. 2 Reis 23.31-33;
A seguir foi preso pelo Faraó Neco e 2 Crônicas 36.1-4
levado para o Egito.

608-597 a.C. O Faraó Neco constituiu como rei 2 Reis 23.34–24.5;


Eliaquim, filho de Josias, mudando-lhe 2 Crônicas 36.5-8
o nome para Jeoaquim. Seu reinado Habacuque 1–3
durou 11 anos.
Foi nesse período que o profeta
Habacuque realizou seu ministério.

605 a.C. Nabucodonosor veio a Jerusalém pela 2 Reis 24.10-14;


primeira vez e submeteu o reino de Daniel 1
Judá ao domínio da Babilônia.
Jeoaquim foi confirmado no trono.
Daniel e seus companheiros foram
levados cativos para a Babilônia.
Iniciava-se assim o cativeiro de Judá
na Babilônia, que durou 70 anos.

597 a.C. Reinado de Joaquim, filho de Jeoaquim. 2 Reis 24.8-16;


Seu reinado durou apenas 3 meses. As 2 Crônicas 36.9;
tropas de Nabucodonosor atacaram Je- Ezequiel 1-48
rusalém pela segunda vez, levaram o
rei Joaquim cativo para a Babilônia e
colocaram Matanias, tio paterno do rei,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 51 18/07/2011, 16:19


52 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
em seu lugar. A Matanias deram o
nome de Zedequias.
O profeta Ezequiel foi levado para a
Babilônia, onde realizou o seu minis-
tério entre os cativos.

597-586 a.C. Reinado de Zedequias, que durou 11 2 Reis 24.17–25.30;


anos. 2 Crônicas 36.10-16
586 a.C. As tropas de Nabucodonosor foram a 2 Reis 24.20–25.22;
Jerusalém pela terceira vez, destruíram 2 Crônicas 36.17-21
o templo e puseram fim ao reino de
Judá. O rei Zedequias teve os seus
olhos vazados e foi levado cativo para
a Babilônia. Gedalias foi nomeado
governador do povo que ficou em Judá.
Sete meses depois Gedalias foi assas-
sinado e o povo fugiu para o Egito, le-
vando, à força, o profeta Jeremias. FIM
DO REINO DE JUDÁ.

RESTAURAÇÃO DE JUDÁ
DATA EVENTO REGISTRO BÍBLICO
539 a.C. Queda da Babilônia. Ciro, rei persa,
domina a Babilônia.
538 a.C. Ciro autoriza os judeus a voltarem ao 2 Crônicas 36.22-23;
seu país. Mais de 40 mil voltaram a Jeru- Esdras 1–2
salém, sob a liderança de Zorobabel e
Sesbazar, príncipe de Judá.
537 a.C. Inicia-se a reconstrução do templo de Esdras 3-5; Ageu 1–2;
Jerusalém. Algum tempo depois a Zacarias 1–14
reconstrução para por pressão dos ini-
migos e descaso do povo.
Foi nesse período que os profetas Ageu
e Zacarias exerceram seu ministério.
520 a.C. Reinicia-se a reconstrução do templo. Esdras 6.1-13
516 a.C. Conclui-se a reconstrução do templo Esdras 6.14-22
no dia 10 de março.
483 a.C. Ester se casa com Assuero, conhecido Ester 1–3
na história como Xerxes I.
479 a.C. Ester livra seu povo de ser massacrado. Ester 4–10

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 52 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO 53

458 a.C. Esdras vai a Jerusalém ensinar ao povo a lei Esdras 7–10;
de Deus. Salmos 1–150
Esdras prepara o livro de Salmos para ser o
hinário do templo. Provavelmente ele
escreveu o Salmo 1 para ser o cântico
introdutório do hinário. Os demais salmos
foram apenas compilados por ele.

445-433 Neemias governa Judá, nomeado pelo rei Neemias 1–13


a.C. Artaxerxes (persa), de quem fora copeiro.

430 a.C. Ministério de Malaquias. Malaquias 1–4


Fim do Antigo Testamento. Começa o período
intertestamentário. O período do Novo
Testamento só começaria cerca de 400 anos
depois de Malaquias.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 53 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 54 18/07/2011, 16:19
7
O POVO DE DEUS NO
NOVO TESTAMENTO
“[Deus] não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem,
dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas.”
Atos 14.17

Desde a criação do homem até a consumação de todas as coisas


houve e sempre haverá pessoas que adoram a Deus em espírito e em verdade.
A Assembleia de Westminster reconheceu isso e afirmou: “Haverá sempre
sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo”.41
Esse grupo de verdadeiros adoradores foi maior em alguns períodos da história e
menor em outros. Na época em que Jesus nasceu parece que o número de
verdadeiros adoradores era tão pequeno que é até difícil identificá-los na história.
Contudo, mesmo nos momentos de maior apostasia ou indiferença, sempre houve
um remanescente fiel a Deus. Isso foi visto no Antigo Testamento; e é isso mes-
mo que pode ser observado também no Novo Testamento.
O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
Quando estamos lendo a Bíblia Sagrada e chegamos ao final do Antigo
Testamento, simplesmente viramos duas folhas e entramos no Novo Testamento.
Isso não nos permite perceber que essas poucas páginas em branco cobrem um
período de aproximadamente quatrocentos anos.
O Antigo Testamento termina com os judeus novamente em sua terra,
depois de setenta anos de cativeiro na Babilônia. Mas a independência de Judá
durou pouco tempo. No ano 333 a.C., Alexandre, o Grande, iniciou sua escala-
da de conquistas de vários países. Dez anos depois, quando ele faleceu, seu
expansionismo tinha conquistado até a Índia. Com sua morte, seu reino perma-
neceu unido poucos anos e, a seguir, foi dividido entre os seus quatro generais.
Soter Ptolomeu, conhecido na história como Ptolomeu I, um dos generais favori-
tos de Alexandre, apoderou-se do Egito, assumindo o título de rei daquele país.
Seus descendentes reinaram durante séculos sobre o Egito. Em 320 a.C., Ptolomeu I
dominou a Judeia. Esse domínio durou até o ano 198 a.C., quando Antíoco III

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 55 18/07/2011, 16:19


56 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
conquistou a Judeia. Esse rei era descendente de outro general de Alexandre,
chamado Seleuco, que havia dominado a Síria. Assim, a Judeia deixou de ser
dominada pelo Egito para ser dominada pela Síria.
No ano 166 a.C., os judeus, sob o comando do sumo sacerdote Matatias,
se revoltaram contra seus dominadores. Houve muita luta durante vários anos.
No ano 129 a.C., a Judeia alcançou sua completa independência.
Novamente a independência da Judeia durou pouco. No ano 63 a.C.,
os romanos dominaram o país. E, em 37 a.C., nomearam Herodes, o Gran-
de, como rei da Judeia, sujeito ao Império Romano, mas com total autono-
mia nos assuntos internos do país. Quando Jesus nasceu, Herodes reinava
sobre os judeus.
A PREPARAÇÃO DO MUNDO PARA A VINDA DE JESUS

O país onde Jesus nasceu era, naquela época, como um corredor


ligando vastas porções da Europa, Ásia e África. Ele estava localizado entre
as duas grandes potências da época anterior a Roma: Egito, no Norte da
África, e Síria, na Ásia.
Jesus nasceu em Belém, mas foi criado em Nazaré, no Norte de Israel.
Por essa região passava uma das mais importantes estradas – a que ligava
Damasco, capital da Síria, ao Egito. Era a ligação por terra entre dois conti-
nentes: Ásia e África.
Deus preparou o mundo para a vinda de seu Filho. Qualquer observador
da história perceberá que Deus dirigia os destinos das nações, preparando o
mundo para o estabelecimento de uma nova ordem.
Todo o mundo civilizado da época, exceto o pouco conhecido reino do
Oriente, estava sob o domínio dos romanos. Com isso, o cidadão podia viajar
por todo o vasto império sem ser molestado. “Esses vastos territórios, que
abrangiam toda a civilização então conhecida pelo homem comum, eram do-
minados por um tipo único de cultura. Em nenhum outro período da história
anterior ou posterior se encontra exemplo de predomínio cultural que se possa
comparar ao exercido por Roma nessa época.”42
Na área da comunicação também o mundo foi preparado para a vinda de
Jesus. O latim, língua falada em Roma, foi aprendido pelos povos submetidos.
Cada povo adaptava o seu vocabulário e os seus dialetos à língua dos conquis-
tadores. O grego, por sua vez, era a língua da cultura, familiar a todas as pes-
soas de melhor nível intelectual. Essa língua era muito conhecida no Oriente
Médio. É provável que Jesus e os apóstolos a tenham usado no contato com os
povos não judeus. Portanto, em vez de centenas de línguas e dialetos como
antes, naquela época predominavam duas línguas, o que facilitou muito a di-
vulgação dos ensinos de Jesus.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 56 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO 57
Deus preparou também os transportes. Os romanos construíram e im-
plantaram um excelente sistema de estradas. Com isso, tinham o objetivo de
agilizar o deslocamento das legiões para abafar motins e insurreições nos di-
ferentes pontos do Império. Policiavam tais estradas para proteção das ca-
ravanas de comerciantes que transitavam por elas. A navegação também evo-
luiu muito. Foi essa melhoria nos transportes que facilitou as viagens
missionárias do apóstolo Paulo.
O JUDAÍSMO
O judaísmo, que era a religião dos judeus, havia ultrapassado os limites
do país e tinha prosélitos em quase todo o mundo civilizado daquela época.
Judeus e prosélitos frequentavam, semanalmente, a sinagoga, um centro social
que cuidava da instrução dos adultos e da educação das crianças na fé judaica.
O judaísmo, especialmente em Israel, estava dividido em seitas que iam
do liberalismo ao racionalismo, e do misticismo ao oportunismo político.
Os fariseus formavam a maior seita e também a mais influente sobre o
povo. Eram separatistas e procuravam prestar obediência a todos os preceitos
da lei escrita e oral. Entre eles havia hipócritas, mas a grande maioria era cons-
tituída de homens virtuosos e bons, de elevados padrões morais. O grande
problema dos fariseus é que eles viam na lei um fim em si mesmo, e não um
instrumento para levar o homem a viver em harmonia com o Criador. Embora
declarassem que seu único Deus era o Senhor, o seu deus de fato era a lei.
Viviam para a lei, e não para aquele que lhes dera a lei.
Os saduceus eram menos numerosos do que os fariseus, mas tinham po-
der político e constituíam o grupo dominante na direção da vida civil. “Os saduceus
eram oportunistas e estavam sempre prontos a aliar-se com o poder dominante,
desde que, por esse meio, pudessem manter o seu prestígio e influência.”43
Havia, também, os essênios. Essa seita era “uma fraternidade ascética
para a qual só podiam entrar aqueles que se submetessem aos regulamentos do
grupo e às cerimônias de iniciações. Abstinham-se do casamento e mantinham
as suas fileiras por adoção ou pela recepção de neófitos. As suas comunidades
mantinham em comum as suas propriedades, de sorte que nenhum era rico
nem era pobre. Cada um sustentava a si próprio por meio do trabalho manual.
Comiam os alimentos mais simples e vestiam-se habitualmente de branco, quan-
do não estavam a trabalhar”.44
Havia, também, os zelotes, que formavam um grupo diferente. Eram
nacionalistas fanáticos, que advogavam a violência como método de luta con-
tra os dominadores romanos.
O centro da religião judaica era Jerusalém. Lá estava o templo, e para lá
se voltavam as atenções de todos os religiosos judaicos, independentemente
da seita a que pertenciam. Mas Jerusalém era, também, o centro do mau exemplo

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 57 18/07/2011, 16:19


58 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
na prática da religião. As famílias sacerdotais e os dirigentes rabinos tinham em
suas mãos o poder religioso, “dirigiam o movimento comercial relacionado com
o templo e tinham sociedade nos lucros provenientes da venda de animais para
os sacrifícios e do câmbio de dinheiro envolvido nos tributos do templo”.45 Para
esses dirigentes religiosos, a religião era um negócio, uma fonte de lucro.
OS SERVOS DO SENHOR
Apesar da degradação espiritual do judaísmo, existiam os verdadeiros
adoradores em todos os segmentos religiosos. Deus se serviu do sacerdote
Zacarias e sua esposa Isabel, que “eram justos diante de Deus, vivendo
irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor” (Lc 1.6),
para gerar e educar João Batista, o precursor do Messias. Esse “crescia e se
fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que havia de mani-
festar-se a Israel” (Lc 1.80). Maria, a jovem escolhida para ser a mãe do Salva-
dor, era outro exemplo de que Deus sempre tem os seus verdadeiros adorado-
res. Ao receber a notícia de que ficaria grávida e daria à luz um filho, ela
respondeu: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a
tua palavra” (Lc 1.38).
Jesus nasceu em Belém, para onde Maria e José haviam se dirigido
para recensear-se. Quando a criança foi apresentada no templo, em Jerusalém,
conforme o costume da época, lá estava Simeão, “homem este justo e piedo-
so que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele”
(Lc 2.25). Lá estava também a profetisa Ana, “avançada em dias, que vivera
com seu marido sete anos desde que se casara, e que era viúva de oitenta e
quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e
orações” (Lc 2.36-37).
JESUS, OS APÓSTOLOS E A IGREJA PRIMITIVA
Jesus iniciou seu ministério por volta dos 30 anos de idade. Teve um
ministério curto, de apenas três anos e meio. Os evangelhos não nos contam
tudo sobre Jesus. “Imaginemos alguém escrevendo uma carta a um amigo para
apresentar-lhe uma pessoa importante. Estaria o autor da carta em condições
de descrever tudo acerca da vida dessa pessoa? Claro que não. Ele só podia
escrever acerca daquilo que conhecia – e provavelmente não tentaria, tampouco,
escrever tudo o que soubesse. Ele se concentraria no que, a seu ver, o amigo
desejava e precisava conhecer. Os homens que escreveram os evangelhos
fizeram a mesma coisa. Eles tinham em mira explicar a pessoa e a obra de
Jesus, registrando o que ele fez e disse. E cada autor apresenta uma perspec-
tiva ligeiramente diferente acerca de Jesus e de suas obras.”46
Após a ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos durante quarenta
dias. Findo esse período, foi elevado às alturas, à vista dos apóstolos, mas

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 58 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO 59
deixou-lhes a seguinte promessa: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). A promessa se
cumpriu no dia de Pentecostes, com a descida do Espírito Santo. E, a partir
daí, o grupo de seguidores de Jesus, sob a liderança dos apóstolos, experi-
mentou um extraordinário crescimento.
“À medida que a igreja continuava a crescer, as autoridades governa-
mentais começaram a perseguir abertamente os cristãos. Pedro e alguns dos
apóstolos foram presos, mas um anjo os libertou; convocados pelas autorida-
des, estas lhes deram ordens de parar com a pregação a respeito de Jesus. Os
cristãos, porém, recusaram-se a obedecer; continuaram pregando, muito em-
bora as autoridades religiosas judaicas os espancassem e os lançassem na pri-
são diversas vezes.”47
Inicialmente a igreja funcionava como uma seita judaica. Mas aos poucos
ela foi se diferenciando do judaísmo e adquirindo identidade própria.
“A segunda fase do crescimento da igreja começou com uma violen-
ta perseguição dos cristãos em Jerusalém. Quase todos os crentes fugiram
da cidade. Por onde quer que fossem, os cristãos davam testemunho, e o
Espírito Santo usava esse testemunho a fim de conquistar outras pessoas
para Cristo.”48
Por volta do ano 42, o evangelho chegou a Antioquia, capital da Síria.
Lá nasceu uma igreja forte e operosa. E foi de lá que partiram o apóstolo
Paulo e seus companheiros, levando o evangelho para vários países. O livro
dos Atos dos Apóstolos conta a história de três viagens missionárias, e ter-
mina com o apóstolo Paulo em Roma, preso, porém com certa regalia, pre-
gando o evangelho.
O último livro da Bíblia a ser escrito foi o Apocalipse, por volta do
ano 96. Naquela época, os cristãos estavam sendo massacrados pelos ro-
manos, mas o livro traz promessas de vitória dos servos de Jesus sobre
todos os seus inimigos. Isso de fato aconteceu. E um pouco mais de duzen-
tos anos depois, o Cristianismo estava espalhado em todos os cantos e em
todos os segmentos do Império Romano. O imperador Constantino, em sua
luta para unificar o Império, resolveu fazer do Cristianismo a religião oficial
do Império Romano.
CONCLUSÃO
O Novo Testamento – do nascimento de João Batista ao Apocalipse –
abrange um período de, aproximadamente, cem anos. Historicamente é um
período curto, porém decisivo para a humanidade. Foi nessa época que Deus
cumpriu a promessa feita ainda no Éden, e o descendente da mulher esmagou
a cabeça da serpente.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 59 18/07/2011, 16:19


60 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Nesse curto período, a mensagem de salvação, pregada por homens
indoutos – com exceção de Paulo –, venceu o fanatismo judaico, a pretensa
sabedoria dos gregos e o orgulho dos romanos, e conquistou multidões para o
reino dos céus.
Quando o Senhor age, “quem o impedirá?” (Is 43.13).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 60 18/07/2011, 16:19


61

Apêndice Nºº 2
CRONOLOGIA DO
NOVO TESTAMENTO

OBSERVAÇÕES:
1. Este apêndice tem como objetivo apresentar em ordem cronológica os livros e fatos
narrados no Novo Testamento.
2. A maioria das datas são aproximadas; outras são apenas conjecturas.
3. A maior dificuldade encontrada quando se tenta descobrir a data dos acontecimentos
narrados no Novo Testamento está na multiplicidade de calendários usados naquela
época. Cada povo tinha o seu próprio calendário. Os romanos haviam instituído o
Calendário Juliano, no ano 46 a.C. Mas cada povo continuava usando o seu próprio
calendário. Com o triunfo do Cristianismo, aos poucos surgiram e foram crescendo
pressões para a adoção de um calendário cristão. Dionysios Exiguus, um frade, fez
uma grande campanha nesse sentido, afirmando ser um absurdo os cristãos usarem
um calendário pagão. A partir de 533, os anos passaram a ser contados tomando
como ponto de partida o nascimento de Jesus. O calendário passou a ser misto: dias,
semanas e meses seguiam o Calendário Juliano; mas os anos eram contados a partir do
nascimento de Cristo. Contudo, ao estabelecer o ano do nascimento de Jesus,
cometeu-se um erro que pode ter sido de 4 a 8 anos. Ou seja: o nascimento de Jesus
deve ter ocorrido de 4 a 8 anos antes da data estabelecida no calendário. Sabe-se que
Herodes, o Grande, morreu no ano 4 a.C. E quando Jesus nasceu ele ainda estava vivo.
4. O calendário que usamos atualmente chama-se Calendário Gregoriano. Ele foi
instituído pelo papa Gregório XIII, mediante bula pontifícia datada de 24 de fevereiro
de 1582; mas só entrou em vigor no dia 15 de outubro daquele ano, quando o
calendário foi adiantado 10 dias: 5 de outubro de 1582 passou a ser 15 de outubro
de 1582. Por isso, as datas de hoje têm uma diferença de 10 dias em relação às datas
anteriores a 15 de outubro de 1582.
5. Embora as datas desta cronologia não sejam precisas, ela é muito útil para nos dar a
sequência dos livros do Novo Testamento, bem como dos principais fatos ali narrados.

PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
DATA EVENTOS HISTÓRICOS
333 a.C. Alexandre, o Grande, inicia sua escalada de conquista de vários
países.
323 a.C. Morte de Alexandre, o Grande. Seu reino foi dividido entre seus
quatro generais: Sóter, Filadelfo, Evérgetes e Filópater.
Sóter, conhecido na história como Ptolomeu I, apodera-se do Egito,
assumindo o título de rei daquele país.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 61 18/07/2011, 16:19


62 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
320 a.C. Ptolomeu I anexa a Judeia ao Egito.
198 a.C. Antíoco III conquista a Judeia, que passa a ser dominada pela
Síria.
167 a.C. Antíoco IV, Epifânio, profana o templo de Jerusalém. Revolta dos
judeus, sob o comando do sumo sacerdote Matatias.
166 a.C. Judas Macabeu assume a liderança da revolta dos judeus.
161 a.C. Morre Judas Macabeu e Jônatas Macabeu assume seu lugar.
144 a.C. Jônatas é assassinado e Simão Macabeu assume seu lugar.
129 a.C. Independência da Judeia.
63 a.C. Os romanos conquistam a Judeia.
37 a.C. Herodes, o Grande, é nomeado pelos romanos governador da Judeia.
4 a.C. Morre Herodes, o Grande. Jesus havia nascido pouco tempo antes.

PERÍODO DO NOVO TESTAMENTO


DATA EVENTOS REFERÊNCIA
BÍBLICA

6/4 a.C. Nascimento de João Batista. Lucas 2.57-66


Nascimento de Jesus. Mateus 1.18-25;
Lucas 2.1-20
4 a.C. Morte de Herodes, o Grande. Seu reino foi Mateus 2.19-20
dividido entre seus três filhos: Arquelau
(Judeia, Samaria e Idumeia), Herodes
Antipas (Galileia e Pereia) e Herodes Filipe
(Itureia e Traconites).
6 Arquelau foi deposto pelos romanos. A Judeia
passou a ser governada por procuradores
nomeados pelo imperador Romano.
6/8 Jesus completa doze anos, vai a Jerusalém Lucas 2.41-52
e fica no templo entre os doutores.
26 Pôncio Pilatos, procurador romano, nomeado Lucas 3.1-14
governador da Judeia.
Início do ministério de João Batista.
27 Batismo de Jesus. Mateus 3.13-17
Início do ministério de Jesus. Mateus 4.12-17
28 Prisão e morte de João Batista por ordem Mateus 14.1-12
de Herodes Antipas.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 62 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO 63

30 2 de abril – Entrada triunfal de Jesus em Jerusa- Mateus 21.1-11


lém (domingo). Mateus 26.17-30
6 de abril – Celebração da Páscoa e instituição da Mateus 27.31-56
Santa Ceia (quinta-feira). Mateus 28.1-10
7 de abril – Crucificação de Jesus (sexta-feira). Atos 1.6-11
9 de abril – Ressurreição de Jesus (domingo). Atos 2.1-41
8 de maio – Ascensão de Jesus (40 dias após a
ressurreição).
19 de maio – Pentecostes (50 dias após a Páscoa).

36 Morte de Estêvão. Atos 6.8–7.60


Perseguição e dispersão dos cristãos de Jerusalém. Atos 8.1-3
Conversão de Saulo. Atos 9.1-19
37–40 Saulo na Arábia (três anos). Gálatas 1.17-18
40 Saulo visita Jerusalém. A seguir vai para a Síria e Gálatas 1.21
Cilícia.
41 Conversão de Cornélio. Atos 10.1-48
42 O evangelho chega a Antioquia. Atos 11.19-26

44 Morte do apóstolo Tiago, filho de Zebedeu. Atos 12.1-2


Prisão e libertação miraculosa de Pedro. Atos 12.3-19
46 Barnabé leva Saulo para Antioquia. Atos 11.25-26

47 Barnabé e Saulo levam a Jerusalém a oferta da Atos 11.29-30


Igreja de Antioquia. Na volta, Marcos os acom-
panha para Antioquia.

48– Barnabé e Saulo, enviados pela Igreja de Atos 13–14.26


49 Antioquia, fazem a primeira viagem missionária.
Pregam em Chipre (Salaminas e Pafos), Perge,
Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe. Saulo
adota o nome de Paulo.
Escrita a primeira carta de Tiago (entre os anos Tiago 1.1; Mateus
45 e 50), por Tiago, irmão de Jesus. 13.55
Paulo escreve a carta aos gálatas, em Antioquia, Atos 14.27-28;
logo após voltar dessa viagem missionária. Gálatas 1.1

50 Reúne-se, em Jerusalém, o primeiro presbitério, Atos 15.1-35


para tratar da controvérsia sobre a circuncisão
dos gentios.
Marcos escreve seu evangelho.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 63 18/07/2011, 16:19


64 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
51–53 Segunda viagem missionária. Paulo e Barnabé se Atos 15.36–18.23
separam, por causa de Marcos. Paulo escolhe Silas Atos 18.1-11
para ser seu companheiro. Timóteo viaja com
Paulo, a partir de Listra, sua terra natal. Paulo
chega a Filipos, primeira cidade europeia a ser
atingida pelo evangelho. Passa por Tessalônica e
Bereia. Prega em Atenas.
Em Corinto, Paulo escreve 1 e 2 Tessalonicenses,
no ano 52.
Viaja para Éfeso, levando Áquila e Priscila.
O casal fica em Éfeso e Paulo se dirige para Jeru-
salém e, de lá, volta a Antioquia.
54–57 Terceira viagem missionária. Paulo e seus com- Atos 18.24–21.26
panheiros passam pela região da Galácia e da
Frígia, confirmando as igrejas. Chegam a Éfeso,
onde permanecem mais de dois anos.
Em Éfeso, Paulo escreve 1 e 2 Coríntios (entre os Atos 19.1-20
anos 54 e 57).
Paulo sai de Éfeso, passa pela Macedônia forta-
lecendo as igrejas.
Em Corinto, Paulo escreve a carta aos romanos, Atos 20.1
no ano 56.
Chega à Grécia, onde permanece três meses.
Começa a viagem de volta, passando pela Ma-
cedônia, Mileto, Rodes, Pátara, Ptolemaida,
Cesareia e chega a Jerusalém.
58 Paulo é preso em Jerusalém. A seguir é levado Atos 21.27–26.32
para Cesareia, onde fica dois anos preso.
60 Paulo é enviado para Roma. Atos 27.1–28.15
Lucas escreve o Evangelho segundo Lucas. Lucas 1.1-4
61 Paulo chega a Roma, onde permanece dois anos Atos 28.16-31
na sua própria casa.
Escreve as cartas a Filemom, aos colossenses,
aos efésios e aos filipenses.
63 Segundo a tradição e notas de alguns escritores
antigos, Paulo foi libertado da prisão em Roma e
“pregou o evangelho até às extremidades do
Ocidente”. Mas alguns estudiosos do Novo Tes-
tamento julgam que Paulo perdeu o direito de
prisão domiciliar e foi colocado na Prisão
Mamertina, onde foi executado.
Nesta cronologia vamos partir do pressuposto de
que Paulo foi libertado da prisão.
Lucas escreve o livro dos Atos dos Apóstolos.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 64 18/07/2011, 16:19


O POVO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO 65
64 Escrita a primeira carta de Pedro. 1 Pedro 1.1
66 Escrita a segunda carta de Pedro. 2 Pedro 1.1
67 Paulo, na Macedônia, escreve 1 Timóteo. 1 Timóteo 1.1-2
Paulo, em Nicópolis, escreve a carta a Tito. Tito 1.1-4
Paulo é preso na Macedônia e mandado para
Roma.
Paulo, na prisão em Roma, escreve a segunda 2 Timóteo 1.1-2
carta a Timóteo.
Paulo é julgado, condenado e executado em
Roma.
Escrita a carta aos hebreus.
Escrita a carta de Judas, por Judas, irmão de Je- Judas 1; Mateus
sus. 13.55
70 Destruição de Jerusalém. Os judeus são dispersos
pelo mundo.
75 Escrito o Evangelho segundo Mateus.
85–90 Escrita a primeira carta de João.
90–100 João escreve o Evangelho segundo João.
96 Escrito o Apocalipse, pelo apóstolo João. Apocalipse 1.1-3
Escrita a segunda carta de João 2 João 1
97 Escrita a terceira carta de João. 3 João 1

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 65 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 66 18/07/2011, 16:19
8
O VERBO SE FEZ CARNE
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava
no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele,
nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua
glória, glória como do unigênito do Pai.”
João 1.1-4,14

O plano de Deus para a nossa salvação foi elaborado na eternidade,


antes da fundação do mundo. Mas a sua execução tem um cronograma, tem
uma história. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho”
(Gl 4.4). No tempo próprio, na hora certa, “o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). E esse momento oportuno foi
criado pelo próprio Deus.
HUMANIDADE E DIVINDADE DE JESUS
Mateus inicia a narração do nascimento de Jesus com as seguintes pala-
vras: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe,
desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo
Espírito Santo” (Mt 1.18). A palavra desposada descreve a situação conjugal
de Maria, quando ficou grávida. O casamento entre os judeus tinha três etapas.
A primeira era o compromisso, geralmente feito pelos pais, às vezes até sem o
conhecimento do casal. A segunda etapa era o desposório, que corresponde
mais ou menos ao nosso casamento civil. Quando o rapaz e a moça estavam na
idade própria para o casamento – moças a partir de 12,5 anos, e rapazes a partir
de 18 –, fazia-se o desposório. A partir daí o rapaz e a moça eram considerados
marido e esposa, mas ainda continuavam vivendo separados, cada um na casa
de seus pais. A seguir vinham as bodas, a terceira etapa. Esta era uma grande
festa, geralmente feita na casa do noivo. E, a partir daí, os dois passavam a
viver como marido e esposa. Maria estava desposada com José quando ficou
grávida. E ele “sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secreta-
mente. Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um
anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua
mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um
filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 67 18/07/2011, 16:19


68 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
deles. Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e rece-
beu sua mulher. Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho,
a quem pôs o nome de Jesus” (Mt 1.19-21,24-25). A ordem era dupla: José devia
levar Maria para sua casa e assumir a paternidade legal da criança que estava
para nascer. A ordem para dar nome ao menino implicava assumir a paternidade
legal de Jesus, pois só o pai podia dar nome a uma criança.
“Os evangelhos de Mateus e de Lucas contam com detalhes como o
Filho de Deus veio ao mundo. Ele nasceu fora de uma pequena hospedaria,
em uma obscura aldeia da Judeia, nos grandes dias do Império Romano.
A história é geralmente embelezada quando a contamos Natal após Natal,
mas na realidade ela é rude e cruel. A razão de Jesus ter nascido fora da
hospedaria é que ela estava cheia e ninguém ofereceu uma cama para a
mulher que estava para dar à luz, de modo que ela teve seu nenê no estábulo
e o deitou em uma manjedoura.”49
As pessoas que estavam em Belém não sabiam que aquela criança era o
Filho de Deus. “O Verbo se fez carne: um corpo humano real. Ele não deixou
de ser Deus; não era menos Deus do que havia sido antes, mas começou a
tornar-se homem. Ele não era Deus com menos elementos de sua divindade,
mas Deus e mais tudo que havia tornado seu ao assumir a forma humana.”50
Jesus era, ao mesmo tempo, verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem. Este é um mistério que está além de nossa compreensão. Mas as duas
naturezas de Cristo aparecem claramente na Bíblia Sagrada. “Deus tornou-se
homem; o Filho Divino tornou-se judeu; o Todo-Poderoso apareceu na terra
como um bebê indefeso, incapaz de outra coisa qualquer além de ficar deitado,
olhar, mexer-se e fazer ruídos, precisando ser alimentado e trocado, e ensinado
a falar como qualquer outra criança. E não havia ilusão ou decepção nisso, a
infância do Filho de Deus foi uma realidade. Quanto mais se pensa sobre isso,
mais surpreendente se torna. Nada na ficção é tão fantástico como a verdade
da encarnação.”51
No plano de Deus para a nossa salvação, o Salvador devia ser verdadei-
ro Deus e verdadeiro homem. “Desde que o homem pecou, era necessário que
o homem sofresse a penalidade. Além disso, o pagamento da pena envolvia
sofrimento de corpo e alma, sofrimento somente cabível ao homem. Era neces-
sário que Cristo assumisse a natureza humana, não somente com todas as suas
propriedades essenciais, mas também com todas as debilidades a que está su-
jeita, depois da Queda, e, assim, devia descer às profundezas da degradação
em que o homem tinha caído. Ao mesmo tempo, era preciso que fosse um
homem sem pecado, pois um homem que fosse, ele próprio, pecador e que
estivesse privado da sua própria vida, certamente não poderia fazer expiação
por outro. No plano divino de salvação era (também) absolutamente necessá-
rio que o Mediador fosse verdadeiro Deus. Era necessário (1) que ele pudesse

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 68 18/07/2011, 16:19


O VERBO SE FEZ CARNE 69
apresentar um sacrifício de valor infinito e prestar perfeita obediência à lei de
Deus; (2) que ele pudesse sofrer a ira de Deus redentoramente, isto é, para
livrar outros da maldição da lei; e (3) que ele pudesse aplicar os frutos da sua
obra consumada aos que o aceitassem pela fé.”52
HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO DE CRISTO
Ao tornar-se homem, Jesus “a si mesmo se esvaziou, [...] a si mesmo
se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.7-8).
A humilhação de Cristo teve cinco estágios: (1) encarnação; (2) sofrimento;
(3) morte; (4) sepultamento e (5) descida ao hades.
Foi grande humilhação para a segunda Pessoa da Trindade encarnar-se,
assumir a natureza humana, “enfraquecida e sujeita ao sofrimento e à morte,
embora isenta da mancha do pecado”.53
A vida terrena de Jesus foi uma vida de sofrimento. Ele, Senhor, se fez
servo; não tinha pecado, mas tinha de viver o dia a dia com pecadores; era
absolutamente santo, e tinha de viver num mundo dominado pelo pecado. “Ele
sofreu com as repetidas investidas de Satanás, com o ódio e a incredulidade do
seu povo, e com a perseguição dos seus inimigos. Visto que ele pisou sozinho
o lagar, a sua solidão só tinha de ser deprimente e o seu senso de responsabili-
dade, esmagador.”54 O Catecismo de Heidelberg ensina que “todo o tempo em
que ele viveu na terra, mas especialmente no fim da sua vida, ele suportou, no
corpo e na alma, a ira de Deus contra o pecado de toda a raça humana”.55
O ponto culminante do sofrimento de Jesus foi a sua morte. Ele jamais
pecou, mas teve de pagar o salário do pecado. Ele foi submetido a um julga-
mento injusto. Foi torturado, e crucificado entre dois ladrões. A crucificação
era reservada aos piores bandidos; e o pior deles ocupava a cruz do centro.
Os algozes de Jesus certamente intentaram ligar a sua imagem aos ladrões,
que eram as pessoas mais odiadas e desprezadas daquela época. Além de todo
o sofrimento físico e moral, Jesus sofreu também a ira do Pai contra o pecado
que estava sobre a raça humana, o que o levou a clamar: “Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).
O sepultamento foi outro estágio da humilhação de Cristo. O sepul-
tamento era um instrumento para simbolizar a humilhação do pecador, era
voltar ao pó.
O último estágio da humilhação de Jesus foi sua descida ao hades. Hades
é uma palavra que pode ser traduzida como sepultura, inferno ou mundo dos
mortos. A descida de Jesus ao hades tem sido interpretada de várias formas.
Louis Berkhof, grande teólogo, afirma que “parece melhor combinar dois pen-
samentos: (a) que Cristo sofreu as angústias do inferno antes da sua morte, no
Getsêmani e na cruz; e (b) que ele adentrou a mais profunda humilhação do
estado de morte”.56

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 69 18/07/2011, 16:19


70 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Tudo isso aconteceu porque “ele tomou sobre si as nossas enfermidades
e as nossas dores levou sobre si; [...] foi traspassado pelas nossas transgres-
sões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava
sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4-5).
Mas Deus o exaltou. E a exaltação de Cristo tem quatro estágios:
(1) ressurreição; (2) ascensão; (3) sessão à destra do Pai e (4) regresso físico
para julgar vivos e mortos.
A ressurreição de Jesus não foi uma simples volta à vida. Isso já havia
acontecido com Lázaro, com o filho da viúva da aldeia de Naim e com a filha de
Jairo. E iria acontecer com outras pessoas. A ressurreição de Jesus significa que
a sua natureza humana foi restaurada à sua pureza, força e perfeição originais.
O corpo ressuscitado não estava mais sujeito às limitações de antes – era um corpo
glorificado, perfeito instrumento da alma. Além disso, sua ressurreição equivale a
uma declaração do Pai de que todas as exigências da lei tinham sido cumpridas.
Jesus ressuscitou e voltou para o Pai. “Na ascensão vemos Cristo como
o nosso grande Sumo Sacerdote entrando no santuário interior para apresentar
ao Pai seu sacrifício consumado.”57
Voltando ao céu, Jesus foi entronizado à direita do Pai. “Naturalmente, a
expressão ‘mão direita de Deus’ não pode ser tomada no sentido literal, mas
deve ser tomada como uma indicação figurativa do lugar de poder e glória. Que
Cristo está assentado à mão direita do Pai significa que as rédeas do governo da
Igreja e do universo lhe estão confiadas, e que ele foi feito participante da glória
correspondente a isso. É a sua investidura pública como Deus-Homem.”58
Mas o estágio mais avançado da exaltação de Cristo será a sua volta
gloriosa na condição de Juiz. Jesus “está no fim da estrada da vida de todas as
pessoas, sem exceção. ‘Prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus’
(Am 4.12) foi a mensagem de Amós a Israel. ‘Prepara-te para te encontrares
com Jesus ressuscitado’ é a mensagem de Deus hoje ao mundo (At 17.31).
E podemos ter a certeza de que aquele que é verdadeiro Deus e homem perfei-
to será um juiz perfeitamente justo”. Ele julgará vivos e mortos. Os ímpios
serão condenados ao sofrimento eterno; e os redimidos entrarão na bem-aven-
turança eterna. E assim estará consumada sua obra redentora.
CONCLUSÃO
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”
(Fp 2.5). Ser cristão não é apenas receber Jesus como Salvador; é também
recebê-lo como Senhor. Isso significa fazer o que ele nos manda (Jo 15.14). O cristão
deve seguir o Mestre no sentido de tornar-se pobre para enriquecer seu próximo; e
buscar, de todas as formas lícitas e possíveis, promover o bem dos outros.
Ser cristão é viver de tal maneira que os homens “vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 70 18/07/2011, 16:19


71

9
PROFETA, SACERDOTE E REI
“É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de
Deus e também intercede por nós.”
Romanos 8.34

Jesus Cristo é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.


Ele possui as duas naturezas – divina e humana – inteiramente perfeitas e
distintas, inseparavelmente unidas em sua pessoa.
Como homem, Jesus é o homem perfeito, como todos os homens seriam
se o pecado não tivesse entrado para a história da raça humana. “O homem,
como foi criado por Deus, devia funcionar como profeta, sacerdote e rei.
Daí ter sido dotado de conhecimento e entendimento, de retidão e santidade, e
de domínio sobre a criação inferior. A entrada do pecado no mundo afetou o
homem todo e o impossibilitou de funcionar propriamente na sua tríplice capa-
cidade de profeta, sacerdote e rei. Ficou sujeito ao poder do erro e do engano,
da injustiça, da poluição moral, do sofrimento e da morte. Cristo veio como o
homem ideal e com o propósito de restaurar o homem à sua condição original,
e, como tal, necessariamente funcionou como profeta, sacerdote e rei.”59 Como
profeta, ele é o representante de Deus junto aos homens. Como sacerdote, ele
representa os homens perante Deus. Como rei, ele exerce domínio sobre o
homem e sobre o universo.
Os ofícios de Cristo não podem ser confundidos com cargos. Cargo é
uma função exercida por uma pessoa, por delegação ou por imposição. “Ofí-
cio é, antes de tudo, uma dignidade, um ministério, uma missão, todos em
grau acima do comum. É um mandato com confiança e autoridade. O seu
desempenho é um serviço e não uma obrigação tabelada. [...] O ofício é con-
tínuo, é um estado.”60
O OFÍCIO DE PROFETA
“Cristo exerce o ofício de profeta, revelando-nos, pela sua Palavra e
pelo seu Espírito, a vontade de Deus para a nossa salvação.”61
O profeta é alguém que traz uma mensagem da parte de Deus para os
homens. Esse conceito está bem claro no livro do Êxodo. Deus chama Moisés
e ordena que ele tire os israelitas do Egito. Moisés, porém, responde: “Ah!
Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 71 18/07/2011, 16:19


72 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Êx 4.10). Então, Deus lhe
respondeu: “Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemen-
te; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se alegrará em seu coração.
Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e
com a dele e vos ensinarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo; ele te
será por boca, e tu lhe serás por Deus” (Êx 4.14-16). “Vê que te constituí como
Deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será teu profeta. Tu falarás tudo o que eu
te ordenar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, para que deixe ir da sua terra os
filhos de Israel” (Êx 7.1). Arão seria a boca de Moisés, isto é, por meio dele
Moisés falaria a Faraó e aos israelitas. Assim também é o profeta: ele é a boca
de Deus, sua função é falar aos homens o que Deus mandar. No Antigo Testa-
mento “era dever dos profetas revelar a vontade de Deus ao povo. Isso podia
ser feito na forma de instrução, admoestação e exortação, promessas gloriosas
ou censuras severas. Eles eram os monitores ministeriais do povo, os intérpre-
tes da lei, especialmente nos seus aspectos morais e espirituais”.62
A Bíblia Sagrada mostra, de modo bem claro, que Jesus exerceu e exer-
ce o ofício de profeta.
No Antigo Testamento, Jesus foi anunciado como profeta. Em Deutero-
nômio 18, está registrada a promessa do grande Profeta: “O SENHOR, teu Deus,
te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele
ouvirás” (Dt 18.15). E, em Atos 3.22-26, Pedro afirma que tal promessa se
referia a Jesus.
Jesus fez referência a si mesmo como profeta. Quando foi rejeitado
em Nazaré, ele afirmou: “Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na
sua casa” (Mt 13.57). E, pouco antes de sua morte, voltou a referir a si mes-
mo como profeta. Isto aconteceu quando alguns fariseus sugeriram que ele
saísse de onde estava para fugir da perseguição de Herodes. “Ele, porém,
lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios
e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei. Importa, contudo, caminhar
hoje, amanhã e depois, porque não se espera que um profeta morra fora de
Jerusalém” (Lc 13.32-33).
O povo reconhecia Jesus como profeta. A mulher samaritana lhe disse:
“Vejo que tu és profeta” (Jo 4.19). Na primeira multiplicação dos pães, as
pessoas presentes disseram: “Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir
ao mundo” (Jo 6.14). Quando ele ressuscitou o filho da viúva da aldeia de
Naim, “todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: Gran-
de profeta se levantou entre nós” (Lc 7.16). A mesma declaração foi feita em
outras ocasiões. E, por fim, na entrada triunfal em Jerusalém, “as multidões
clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia” (Mt 21.11).
O exercício do ofício profético de Jesus não se limita ao período de
sua vida terrena. Ele agiu como profeta na antiga dispensação, nas revelações

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 72 18/07/2011, 16:19


PROFETA, SACERDOTE E REI 73
especiais do Anjo do Senhor e na iluminação dos profetas do Antigo Testamento,
pois sobre eles estava o Espírito de Cristo (1Pe 1.11). “Enquanto estava na terra,
ele exerceu este ofício em seus ensinos e por meio de sinais que os seguiam.
E sua obra profética não cessou quando ascendeu ao céu. Continuou-a pela
operação do Espírito Santo por meio dos ensinos dos apóstolos; e ainda a conti-
nua pelo ministério da Palavra e na iluminação espiritual dos crentes. Mesmo
assentado à mão direita do Pai está sempre ativo como nosso grande profeta.”63
O OFÍCIO DE SACERDOTE
“Cristo exerce o ofício de sacerdote oferecendo-se a si mesmo, uma
só vez, em sacrifício, para satisfazer a justiça divina, para reconciliar-nos com
Deus e para fazer contínua intercessão por nós.”64
No Antigo Testamento, Deus instituiu o sacerdócio como um meio para
que o pecador se aproximasse dele. A função do sacerdote era oferecer sacri-
fícios e fazer intercessão pelo pecador. “Aquele que ia ao templo adorar, se
estava cônscio de que era pecador, tinha de levar um animal vivo para ser
sacrificado pelo sacerdote. Deus requeria da parte do homem uma obediência
perfeita, mas, falhando nisso, o mesmo Deus fazia provisão de um meio pelo
qual o pecador se aproximasse dele: era o sacrifício. O homem devia levar um
animal limpo, sem defeito, que não tinha relação com o seu pecado, e entre-
gava-o para ser morto. A vida e o sangue do animal inocente tomavam o lugar
do pecado do adorador. O animal a ser sacrificado costumava ser um cordeiro,
mas, algumas vezes, também se oferecia um novilho, um bode ou uma pomba.
Levava-se o animal vivo até ao altar, que era o lugar de adoração. A pessoa
impunha a mão sobre a cabeça dele e confessava seus pecados. Compreen-
dia-se por isso que os pecados eram impostos à criatura viva, de modo a ser
considerada culpada, e então era ela tratada como se fosse o pecador.”65
Tanto o sacerdote como o animal inocente sacrificado apontavam para Jesus.
Em Isaías 53 está descrito, profeticamente, o sofrimento vicário do
Servo do Senhor. Esse Servo “foi traspassado pelas nossas transgressões e
moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados” (v. 5). O Novo Testamento mostra que o
Servo Sofredor é Jesus Cristo, que se ofereceu como sacrifício para a nossa
salvação (Mt 8.17; Mc 15.28; Lc 22.37; Jo 12.38; At 8.32-35; Rm 10.16; 1Pe
2.22-25; Ap 5.6). João Batista o apresentou como “o Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29).
Mas o livro da Bíblia que fala mais diretamente sobre o ofício sacerdotal
de Cristo é a carta aos hebreus. Nela está escrito que Jesus é o grande sumo
sacerdote (4.14-16), superior ao sacerdócio da antiga aliança (5.1-10), que seu
sacerdócio é eterno (7.11-19), e que seu sacrifício não se repete, porque é
perfeito e eficaz (9.11-22). O que é peculiar no sacerdócio de Jesus é que ele é,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 73 18/07/2011, 16:19


74 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
ao mesmo tempo, o sacerdote e o sacrifício. Ele ofereceu a si mesmo como
sacrifício para a nossa eterna salvação. Ele declarou: “Eu sou o bom pastor;
conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, [...] e dou a minha
vida pelas ovelhas. [...] Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontanea-
mente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este
mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.14-18).
Mas a obra sacerdotal de Cristo não se limita ao seu auto-oferecimen-
to como sacrifício pelos nossos pecados. Ele continua a sua obra sacerdotal
como nosso intercessor junto ao Pai. O apóstolo Paulo ensinou que “Cristo
Jesus [...] está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8.34).
O autor da carta aos hebreus afirmou que Jesus tem um sacerdócio eterno e
imutável, “vivendo sempre para interceder” pelos salvos (Hb 7.23-25). E o
apóstolo João recomendou: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que
não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus
Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos
nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1Jo 2.1-2).
“Agora, pois, não há mais sacerdotes, nem sacrifícios expiatórios, na
Igreja de Jesus Cristo!”66 Cada crente é o seu próprio sacerdote. Cada crente
pode dirigir-se diretamente a Deus, sem intermediários, em nome de Jesus.
O OFÍCIO DE REI
“Cristo exerce o ofício de rei, sujeitando-nos a si mesmo, gover-
nando-nos e protegendo-nos, reprimindo e subjugando todos os seus e os nos-
sos inimigos.”67 Como Filho de Deus e segunda Pessoa da Santíssima Trin-
dade, Jesus tem poder e domínio sobre todo o universo. Mas o seu ofício de rei
não é apenas o exercício desse domínio. É a sua realeza original “revestida de
nova forma, com uma nova aparência, administrada para um novo fim”. Isso
pode ser dito também com estas palavras: “Podemos definir a realeza de Cristo
como o seu poder oficial de governar todas as coisas do céu e da terra, para a
glória de Deus e para a execução do seu propósito de salvação.”68
Os teólogos, quando tratam do ofício real de Cristo, falam em dois reinos:
reino da graça e reino de poder (em latim: regnum gratiae e regnum potentiae).
O reino da graça é o governo de Cristo sobre seu povo. E o reino de poder é o
domínio de Jesus Cristo sobre o universo.
O governo de Cristo sobre o seu povo é um reinado espiritual. É espiri-
tual por três razões principais:
Primeira, porque está estabelecido no coração e na vida de seus ser-
vos. O ponto de partida para se pertencer a esse reino é o novo nascimento,
que leva o pecador a uma adesão incondicional a Jesus Cristo. “E, assim, se
alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que
se fizeram novas” (2Co 5.17). O apóstolo Paulo testemunhou sobre esse reinado

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 74 18/07/2011, 16:19


PROFETA, SACERDOTE E REI 75
de Cristo em sua vida, afirmando: “Porque eu, mediante a própria lei, morri
para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na
carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou
por mim” (Gl 2.19-20).
A segunda razão do caráter espiritual desse reinado de Jesus Cristo é
que ele tem um objetivo essencialmente espiritual, que é a salvação do seu
povo. Após declarar aos apóstolos que toda a autoridade lhe havia sido dada
na terra e no céu, Jesus deu-lhes a seguinte ordem: “Ide, portanto, fazei discí-
pulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Es-
pírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho orde-
nado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”
(Mt 28.19-20). Jesus tem toda autoridade no céu e na terra, e ele usa toda
essa autoridade para salvar.
A terceira razão do caráter espiritual do reinado de Cristo sobre seu
povo é a sua administração essencialmente espiritual. Ele não usa a força da
espada, nem a força da lei. Ele usa a Palavra – a Bíblia Sagrada – e o Espírito
para dirigir o seu povo. A Palavra testifica sobre ele (Jo 5.39). É também pela
Palavra que ele orienta o seu povo, pois ela é “inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra” (2Tm 3.16-17). E por meio do Espírito ele guia o seu povo “a toda a
verdade” (Jo 16.13). Pela Palavra e pelo Espírito Santo, Jesus reúne o seu povo
em um só corpo – a igreja – e o dirige, protege e aperfeiçoa.
Além de reinar espiritualmente sobre sua igreja, Jesus reina também
sobre o universo. “Como Rei do universo, o Mediador guia de tal maneira os
destinos dos indivíduos, dos grupos sociais e das nações, que promove o cres-
cimento, a purificação gradual e a perfeição final do povo que ele remiu com o
seu sangue. Nessa capacidade, ele também protege os seus dos perigos a que
são expostos no mundo, e vindica a sua justiça com a sujeição e destruição de
todos os seus inimigos.”69
CONCLUSÃO
O que significa para o crente os três ofícios de Cristo?
Significa que Jesus, como profeta, nos deu uma revelação completa
sobre Deus e sobre sua vontade para nossa vida. “Ninguém jamais viu a Deus;
o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18).
Como sacerdote, Jesus ofereceu-se a si mesmo como sacrifício para a
nossa salvação; e o seu sangue “nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7). Estamos
livres de condenação, porque Jesus morreu, ressuscitou e está à direita de Deus
intercedendo por nós (Rm 8.33-34).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 75 18/07/2011, 16:19


76 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Como rei, Jesus nos chamou, por meio da Palavra e do Espírito Santo,
nos reuniu no seu corpo – que é a igreja –, nos dirige, nos protege e nos aper-
feiçoa. Jesus tem todo o poder e toda a autoridade no céu e na terra. Por isso,
não precisamos temer bruxaria, feitiçaria, macumbaria, maldições – hereditá-
rias ou não –, possessão demoníaca ou coisas parecidas. Só temos de temer
uma coisa: afastarmo-nos de Jesus.
“Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos
apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus,
nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, im-
pério e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos.
Amém” (Jd 24-25).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 76 18/07/2011, 16:19


77

10
A VINDA DO ESPÍRITO SANTO
“Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade;
porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido,
e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará porque há
de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.”
João 16.13-14

Jesus Cristo, verdadeiramente Deus e homem, realizou uma obra


completa para a nossa salvação. Como profeta, ele nos deu uma revelação com-
pleta sobre Deus e sobre sua vontade para nossas vidas. “Ninguém jamais viu
a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18).
Como sacerdote, ofereceu-se a si mesmo como sacrifício por nós; e o seu san-
gue “nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7). E está à direita de Deus interce-
dendo por nós (Rm 8.33-34). Como rei, Jesus nos chamou, por meio da Palavra
e do Espírito Santo, nos reuniu no seu corpo – que é a igreja –, nos dirige, nos
protege e nos aperfeiçoa. Por isso, quando estava morrendo na cruz ele pôde
dizer: “Está consumado!” (Jo 19.30). Estava completa a obra que ele viera
fazer por nós. Agora só restava a obra a ser feita em nós.
A obra de Jesus por nós é completa, mas ela não alcança o seu objetivo
de salvação sem a obra do Espírito Santo em nós. Por isso, Jesus disse aos
discípulos: “Convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não
virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7). O Espírito
Santo aplica em nós a obra redentora de Cristo. Ele atua no coração dos peca-
dores e os leva a receber Jesus como Salvador e Senhor. Atua, também, nas
vidas daqueles que foram salvos, levando-os a crescer na graça e no conheci-
mento de Jesus Cristo.
O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO
A atuação do Espírito Santo não se limita ao período do Novo Testa-
mento. Ele está presente e atuante na história da humanidade desde a criação.
“No princípio, criou Deus os céus e a terra. [...] e o Espírito de Deus pairava
por sobre as águas” (Gn 1.1-2). O Espírito Santo estava sobre Moisés e Josué,
quando eles guiavam o povo de Israel para a terra prometida. Foi ele quem deu
habilidade a Bezalel para fazer as obras de arte para o tabernáculo (Êx 35.30-35).
Foi ele quem capacitou os 70 anciãos para ajudarem a Moisés (Nm 11.16-25).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 77 18/07/2011, 16:19


78 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Foi ele quem revestiu os juízes de poder e autoridade para libertar e julgar o
povo de Israel (Jz 3.10; 6.34; 11.29; 13.25; 14.6,19; 15.14). Quando Saul e
Davi foram ungidos reis, o Espírito Santo veio sobre eles para qualificá-los
para a importante missão (1Sm 10.6,10; 16.13-14).
O Espírito Santo falou por meio dos profetas (Ne 9.30; 2Pe 1.21).
Inspirou os escritores da Bíblia Sagrada (2Tm 3.16). Mas foi no dia de Pente-
costes que o Espírito Santo veio para ficar para sempre com o povo de Deus.
Segundo Manford Gutzke, “É importante notar a linguagem emprega-
da no Antigo e Novo Testamentos. No Antigo se diz que o Espírito Santo
vinha sobre indivíduos. No Novo – e a partir do Pentecostes – o Espírito
Santo habita nas pessoas. No Antigo Testamento, o Espírito Santo vinha so-
bre seres humanos e fazia uso deles. No Novo, o Espírito Santo habita no
crente e estimula-o a realizar de coração a vontade de Deus.”70 Entretanto, é
preciso notar que do mesmo modo que a conversão é operada no Novo Testa-
mento por meio da obra do Espírito dentro do crente, necessariamente isso
também deve ter acontecido no Antigo Testamento. Por isso devemos conside-
rar a distinção da atuação do Espírito mais como sendo indicativa da universa-
lidade. No Antigo Testamento o Espírito vinha para Israel, no Novo Testamento
ele está disponível a todos os povos.
O ESPÍRITO SANTO NO MINISTÉRIO DE JESUS
O Espírito Santo agiu e sempre agirá em função do pacto da reden-
ção. Ele preparou o caminho para a vinda do Salvador, esteve com ele em
sua vida, morte e ressurreição. Ele está conosco como selo e “penhor da
nossa herança” (Ef 1.14).
Jesus declarou: “O Filho nada pode fazer de si mesmo” (Jo 5.19).
Quando disse isso ele se referia ao seu relacionamento com o Pai. Mas
essas mesmas palavras lançam luz sobre a dependência que o Filho tinha
do Espírito Santo.
Jesus foi gerado no ventre da virgem Maria pelo Espírito Santo. Quando
o anjo disse a Maria: “Eis que [tu] conceberás e darás à luz um filho, a quem
chamarás pelo nome de Jesus” (Lc 1.31); ela respondeu: “Como será isto, pois
não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre
ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra;
por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”
(Lc 1.34-35). Jesus, como segunda Pessoa da Santíssima Trindade, sempre
existiu; mas, como homem, passou a existir a partir do momento em que foi
gerado pelo Espírito Santo.
João Batista veio como precursor de Jesus, para preparar-lhe o caminho.
Ele foi preparado para isso, sendo cheio do Espírito Santo desde o ventre ma-
terno (Lc 1.15).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 78 18/07/2011, 16:19


A VINDA DO ESPÍRITO SANTO 79
Toda a vida terrena de Jesus foi vivida sob a ação do Espírito Santo.
Quando ele foi batizado por João Batista, o Espírito Santo desceu sobre ele em
forma de pomba (Mt 3.13-17). “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao
deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1). E, com a assistência do Espírito
Santo, ele venceu o tentador. Quando expulsava demônios, Jesus o fazia pelo
poder do Espírito (Mt 12.28). Seus milagres eram feitos pela unção do Espírito
(Lc 4.18; At 10.38). Jesus se ofereceu como sacrifício por nós, sob a assistên-
cia do Espírito Santo (Hb 9.14). E, por fim, o Pai, por intermédio do Espírito
Santo, “ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos” (Rm 8.11).
O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DOS APÓSTOLOS
A atuação do Espírito Santo sobre os apóstolos, antes do dia de Pente-
costes, é bem semelhante à atuação do Espírito no Antigo Testamento.
Quando Jesus prometeu aos discípulos o Consolador, disse-lhes: “E eu
rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sem-
pre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque
não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará
em vós” (Jo 14.16-17). Embora o Espírito Santo habitasse com os apóstolos,
ele ainda não estava para sempre com eles, no sentido de estabelecer a Igreja
de todos os povos.
Embora o Espírito Santo já habitasse com os apóstolos, logo após a
ressurreição Jesus “soprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”
(Jo 20.22). Mas essa ainda não era a posse definitiva do Espírito, pois o evento
de Pentecostes, que marcaria a universalidade do povo de Deus, ainda não
tinha acontecido. Jesus havia acabado de comissioná-los para pregar o evange-
lho e exercer autoridade espiritual. E, a seguir, deu-lhes o Espírito Santo como
equipamento para realizarem a tarefa que haviam recebido.
Somente após a glorificação Jesus enviaria o Espírito para formar o
novo povo de Deus (Jo 7.39). Ele precisaria ir para o Pai para que o Espírito
viesse. Ele disse aos discípulos: “Convém-vos que eu vá, porque, se eu não
for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo envia-
rei” (Jo 16.7).
A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO NO PENTECOSTES
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio para ficar para sempre
com os servos de Jesus Cristo, conforme ele havia prometido (Jo 14.16).
O livro de Atos dos Apóstolos registra que “ao cumprir-se o dia de Pentecostes,
estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som,
como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.
E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 79 18/07/2011, 16:19


80 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar
em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2.1-4).
Como era um dia especial para os judeus, Jerusalém estava cheia de
pessoas de diferentes países. Alguns eram judeus nascidos fora da Palestina.
Outros eram prosélitos do judaísmo. Uma enorme multidão dirigiu-se para o
local onde os apóstolos estavam. E o maravilhoso é que os apóstolos recebe-
ram o dom de falar línguas que não conheciam, e, assim, cada pessoa ouvia a
pregação do evangelho em sua própria língua materna. “Estavam, pois, atôni-
tos, e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses
que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria
língua materna [...] as grandezas de Deus?” (At 2.7-8,11).
As “línguas como de fogo” que pousaram sobre cada um deles podem
ter sido um meio que Deus usou para dissipar a desconfiança que podia existir
no grupo. Judas Iscariotes tinha traído o Mestre; Pedro o negara; e Tomé, a
princípio, descreu da sua ressurreição. Por isso, podia haver um clima de des-
confiança dentro do grupo. Sem um sinal visível de que cada um recebera o
Espírito Santo, um poderia questionar se o outro também o tinha recebido.
Com aquela manifestação visível, ficou patente que todos receberam o Espíri-
to. E as línguas que passaram a falar eram símbolo da universalização do evan-
gelho. Em Babel, Deus havia confundido a linguagem do povo. Por causa da
rebeldia contra o Criador, cada um passou a falar uma língua que o outro não
entendia; e, assim, foram dispersos pela terra (Gn 11.1-9). Mas, agora, estava
sendo inaugurada uma nova era de salvação, e todos podiam ouvir as grande-
zas de Deus em sua própria língua.
“O ministério do Espírito Santo foi ampliado por ocasião do Pentecos-
tes, sem ser de forma alguma diminuído em termos do que era anteriormente.
Antes do Pentecostes, como vimos, o Espírito sustentava a criação e a vida
natural, renovava corações, dava entendimento espiritual e dons para serviço
tanto de liderança como de outra sorte, e ele ainda faz tudo isso. A diferença
desde o Pentecostes é que todo o seu ministério atual para com os crentes
relaciona-se não ao Cristo que haveria de vir, como acontecia quando ele mi-
nistrava aos santos do Antigo Testamento, nem se relaciona mais com o Cristo
presente na terra, como aconteceu quando Simeão e Ana o reconheceram, e
durante os três anos do seu ministério público; relaciona-se agora com o Cristo
que veio, morreu e ressuscitou e agora reina na glória.”71
CONCLUSÃO
O Espírito Santo veio para aplicar em nós a obra perfeita e completa
que Cristo fez por nós. Ele “prepara o caminho para o evangelho, acompa-
nha-o com seu poder persuasivo e recomenda a sua mensagem à razão e à
consciência dos homens, de maneira que os que rejeitam a oferta misericor-

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 80 18/07/2011, 16:19


A VINDA DO ESPÍRITO SANTO 81
diosa ficam não somente sem desculpa, mas também culpados de terem re-
sistido ao Espírito Santo”.72
O Espírito Santo é Deus. Mas, no processo da redenção, ele não cha-
ma a atenção para a sua Pessoa, nem para a sua obra. Ele atua em função da
obra feita por Jesus Cristo. Por isso, J. I. Packer, um dos maiores teólogos do
século 20, nos faz a seguinte advertência: “Perguntamos: Você conhece o
Espírito Santo? Não devíamos estar perguntando isso. Pelo contrário, devería-
mos perguntar: Você conhece a Jesus Cristo? Você conhece o suficiente em
relação a ele? Você o conhece bem? Estas são as interrogações que o próprio
Espírito deseja que façamos. Pois ele é auto-obliterador. O seu ministério é um
ministério de holofote em relação a Jesus, uma questão de focalizar a glória
de Jesus diante dos nossos olhos espirituais e de estabelecer a ligação entre
nós e ele. Ele não chama atenção para si próprio, nem se apresenta a nós
como objeto de comunhão direta, como o fazem o Pai e o Filho; o seu papel e
a sua alegria são aumentar a nossa comunhão com os dois, glorificando o
Filho como objeto da nossa fé e, então, testemunhando a nossa adoção, por
meio do Filho, na família do Pai.”73
Façamos nossas as palavras do cântico espiritual:

Ao único que é digno de receber


a honra e a glória, a força e o poder,
ao Rei Eterno, imortal,
invisível, mas real,
A ele ministramos o louvor.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 81 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 82 18/07/2011, 16:19
11
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
“[O Espírito Santo] convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.”
João 16.8

A obra de Jesus por nós é completa, mas ela não alcança o seu
objetivo de salvação sem a obra do Espírito Santo em nós. Pois é o Espírito
que aplica em nós a obra redentora de Cristo. Ele atua no coração dos
pecadores e os leva a receber Jesus como Salvador e Senhor. Atua, tam-
bém, na vida daqueles que foram salvos, levando-os a crescer na graça e
no conhecimento de Jesus Cristo.
VOCAÇÃO EFICAZ
O Espírito Santo usa a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus, para chamar
o pecador a fim de receber a salvação. Tiago escreveu que o Pai, “segundo o
seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como
que primícias das suas criaturas” (Tg 1.18). A palavra da verdade é, sem dúvi-
da, a Palavra de Deus. E em 1 Pedro 1.23,25 está escrito: “pois fostes regene-
rados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de
Deus, a qual vive e é permanente. [...] Ora, esta é a palavra que vos foi
evangelizada”. Somos feitos novas criaturas mediante a Palavra de Deus, a
palavra que nos foi evangelizada. A Palavra de Deus pode chegar ao pecador
por diferentes meios: pela pregação, pela leitura da Bíblia Sagrada, de um livro
ou até de um folheto, de um hino ou outros meios.
Qualquer que seja o meio usado pelo Espírito Santo para aplicar em nós
a obra redentora de Jesus Cristo, a Palavra de Deus é o instrumento que ele usa
para nos chamar para a salvação. “E, assim, a fé vem pela pregação, e a prega-
ção, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Mas a simples pregação do evange-
lho, sem a atuação do Espírito, é insuficiente para levar o pecador a Jesus
Cristo. A Bíblia traz vários registros de pregação seguida de rejeição. Paulo fez
uma veemente pregação em Antioquia, mas muitos rejeitaram a Palavra de
Deus (At 13.16-46). E isso se repetiu em vários lugares.
A Palavra de Deus só se torna eficaz para a nossa salvação quando o
Espírito Santo atua por meio dela. Foi o que aconteceu com Lídia. Paulo pre-
gava; ela e outras mulheres ouviam; e Deus, pelo Espírito Santo, abriu o
coração dela “para atender às coisas que Paulo dizia” (At 16.14). Os teólogos

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 83 18/07/2011, 16:19


84 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
chamam isso de vocação eficaz, que é a atração irresistível que Deus, por meio
da Palavra e do Espírito Santo, exerce sobre o pecador, levando-o a aceitar a
Cristo como seu único Salvador.
REGENERAÇÃO
Deus vocaciona eficazmente o pecador para a salvação e o regenera.
A regeneração consiste na implantação do princípio da nova vida espiritual na
pessoa que está sendo chamada, pela Palavra, para a salvação. Podemos definir
regeneração como a ação do Espírito Santo, na mente e no coração do peca-
dor, dando-lhe uma disposição santa de servir a Deus em espírito e em
verdade. Essa definição é compartilhada por grandes teólogos e confirmada pela
Bíblia Sagrada. Strong ensina que a “regeneração é aquele ato de Deus pelo qual
a disposição dominante da alma é tornada santa e o primeiro exercício santo da
disposição é assegurado”.74 Gordon definiu regeneração como “um ato drás-
tico, operado sobre a natureza humana caída, por parte do Espírito Santo, que
produz uma alteração na atitude inteira do indivíduo”.75 E Berkhof ensina que
“regeneração é o ato de Deus pelo qual o princípio da nova vida é implantado
no homem, e a disposição dominante da alma é tornada santa e o primeiro
exercício santo dessa nova disposição é assegurado”.76 Esse primeiro exercí-
cio de que falam Strong e Berkhof é o novo nascimento. Esse novo nascimento
– o nascer do Espírito (Jo 3.5-6), o nascimento espiritual – entroniza Jesus
Cristo na alma do pecador e o leva a se mover em direção a Deus.
O diálogo de Jesus com Nicodemos mostra claramente o que é rege-
neração. Nicodemos, um dos principais dos judeus, disse a Jesus: “Rabi, sabe-
mos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes
sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus:
Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode
ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nas-
cer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda
vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne,
é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito” (Jo 3.2-6). Nascer da água ou
nascer da carne eram expressões usadas pelos judeus para falar do nascimento
físico. E Jesus afirma que para entrar no reino de Deus é preciso nascer mais
uma vez: nascer do Espírito. O processo de nossa vida iniciou-se no momento
de nossa concepção. Assim também o processo da aplicação da obra de Cristo
em nós se inicia com a nossa concepção espiritual, isto é, no momento em que
o Espírito Santo implanta em nós a semente da nova vida. É a regeneração, isto
é, somos gerados de novo pelo Espírito Santo.
Antes da regeneração, a atração pelo pecado domina o pecador. A partir
da regeneração, ele passa a desejar o que é bom, reto e justo.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 84 18/07/2011, 16:19


A OBRA DO ESPÍRITO SANTO 85
CONVERSÃO: ARREPENDIMENTO E FÉ
Esse toque regenerador do Espírito Santo leva o pecador à conversão.
“Esta conversão é apenas a expressão externa da obra da regeneração, ou a
mudança que a acompanha, efetuada na vida consciente do pecador. Essa
conversão tem dois aspectos, um ativo, o outro passivo. No primeiro, a conver-
são é contemplada como a mudança efetuada por Deus, na qual ele muda o
curso consciente da vida do homem. E no último, é considerada como o resultado
dessa ação divina. [...] [É] aquele ato de Deus pelo qual ele faz o regenerado, na
sua vida consciente, voltar para ele com fé e arrependimento.”77 Conversão,
portanto, é o resultado da ação do Espírito Santo que leva o pecador a arrepen-
der-se de seus pecados e a crer em Cristo como Salvador e Senhor.
Não podemos confundir arrependimento com remorso. O remorso não é
tanto um lamento pelo que fizemos, mas o medo das consequências do que fize-
mos. Já o arrependimento é um sentimento de tristeza e pesar pelo erro cometido,
acompanhado da disposição de mudar de vida. Os rabinos judeus diziam que o
verdadeiro penitente (arrependido) é aquele que se voltar a ter a oportunidade de
cometer o mesmo pecado, nas mesmas circunstâncias, não o fará. Mas o ponto
fundamental no arrependimento dos pecados é a volta para Deus. Judas Iscariotes
reconheceu o seu pecado, pois ele mesmo declarou: “Pequei, traindo sangue
inocente”. Sentiu tristeza pelo pecado cometido. E, quando ele atirou para o san-
tuário as moedas de prata que recebera para trair o Mestre, estava abominando
o erro cometido; mas não voltou para Deus. Foi suicidar-se (Mt 27.3-5). Pedro,
por sua vez, arrependeu-se, voltando para Jesus.
As constantes exortações que a Bíblia faz aos homens para que se
arrependam e creiam em Jesus Cristo podem dar a ideia de que o homem é
capaz de arrepender-se e crer por si mesmo. A verdade, todavia, é que o ver-
dadeiro arrependimento e a fé salvadora são dádivas de Deus. Os crentes de
Jerusalém, ao ouvirem a explanação que Pedro fez sobre a conversão de Cornélio
e de seus familiares, glorificaram a Deus, dizendo: “Logo, também aos gentios
foi por Deus concedido o arrependimento para a vida” (At 11.18). Eles reconhe-
ciam que o verdadeiro arrependimento é concedido por Deus, mediante a atua-
ção do Espírito Santo. Por meio do profeta Jeremias, Deus disse a seu povo:
“Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então,
poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr 13.23). O homem,
morto em transgressões e pecados – ou em consequência do pecado – é incapaz
de arrepender-se; ele só se arrepende quando é tocado pelo Espírito Santo.
Mediante o arrependimento, o pecador se desvincula da antiga vida de
pecado; e por meio da fé ele se vincula à nova vida em Cristo.
A fé que leva à salvação pode ser definida como “uma confiante entrega
a Cristo para a salvação”.78 Calvino afirmou que “podemos ter uma definição
perfeita da fé, se afirmamos que é um conhecimento firme e certo da vontade

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 85 18/07/2011, 16:19


86 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
de Deus a nosso respeito, fundado na verdade da promessa gratuita feita em
Jesus Cristo, revelada ao nosso entendimento e selada em nosso coração pelo
Espírito Santo”. Berkhof define a fé salvadora como “uma firme convicção,
efetuada no coração pelo Espírito Santo, quanto à verdade do evangelho, e
uma confiança sincera e entusiástica nas promessas de Deus em Cristo”.79
O apóstolo Paulo deu testemunho de sua fé, afirmando: “Sei em quem tenho
crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até
aquele Dia” (2Tm 1.12).
À semelhança do verdadeiro arrependimento, a fé salvadora também
procede de Deus, pela atuação do Espírito Santo. O apóstolo Paulo escreveu:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de
Deus” (Ef 2.8). A fé é dom de Deus!
Devemos ter cuidado para não debitar a Deus a culpa por pessoas não
receberem Jesus como Salvador e Senhor. Quando o homem manifesta a fé
salvadora é porque o Espírito Santo operou em seu coração. Mas quando ele
ouve o evangelho e não o aceita, age consciente e deliberadamente. Não aceita
por sua livre e espontânea vontade. A esse respeito, Jesus declarou: “a luz veio
ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas
obras eram más” (Jo 3.19).
SANTIFICAÇÃO
O propósito de Deus em nos salvar não é apenas nos levar para o céu
após a nossa morte. Ele pretende também estabelecer conosco um relaciona-
mento vital e produzir em nós um caráter que esteja de acordo com esse
relacionamento. Por isso, o mesmo Espírito que nos chamou eficazmente
para a salvação, nos regenerou, nos concedeu o arrependimento para a vida e
a fé salvadora, também nos santifica.
Algumas pessoas pensam que santidade é um conjunto de qualidades
morais do indivíduo, com o qual ele satisfaz a Deus. Outros pensam que a
santificação consiste num prolongamento da nova vida, implantada na alma
pela regeneração. Isso, entretanto, não corresponde à verdade. A santificação
é, essencialmente, obra de Deus, por meio do Espírito Santo. Strong define
santificação como “aquela operação contínua do Espírito Santo, pela qual a
disposição santa implantada na regeneração é mantida e fortalecida”. 80
E Berkhof a define como “a graciosa e contínua operação do Espírito Santo,
pela qual ele liberta o pecador justificado da corrupção do pecado, renova toda
a sua natureza à imagem de Deus, e o capacita a praticar boas obras”.81
O conceito básico de santificação na Bíblia é separação para Deus. No
Antigo Testamento, Israel é apresentado como povo santo porque foi separado
para Deus. No Novo Testamento, os crentes são chamados santos porque fo-
ram separados para Deus (Rm 1.7; 1Co 1.2; 2Co 1.1; Ef 1.1; Fp 1.1). Por isso,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 86 18/07/2011, 16:19


A OBRA DO ESPÍRITO SANTO 87
a santificação do crente tem três aspectos: (1) quando o Espírito Santo regene-
ra uma pessoa, ela crê em Cristo e todos os seus pecados são perdoados. Não
é mais considerada culpada de pecado algum. Isso é a santificação definitiva,
e significa que essa pessoa foi definitivamente separada para Deus; (2) a
partir da regeneração, o crente começa a crescer espiritualmente, e esse cres-
cimento continua a vida toda: é a santificação progressiva. Essa santificação,
nesta vida, é sempre incompleta; ninguém chega aos cem por cento de santida-
de nesta vida; (3) mas, na hora da morte, o crente é aperfeiçoado em santidade,
a fim de comparecer diante de Deus: é a santificação final.
CONCLUSÃO
Jesus declarou que o Espírito Santo convenceria “o mundo do peca-
do, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim (Jesus); da
justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o prín-
cipe deste mundo já está julgado” (Jo 16.8-11). Isso significa, em outras pala-
vras, que o Espírito Santo convenceria os homens de que eles não estão em
situação correta diante de Deus; colocaria no coração deles o desejo de se-
rem corretos diante de Deus e os levaria a se conscientizar da realidade do
juízo vindouro. A partir desse convencimento, o Espírito Santo os guiaria a
toda a verdade (Jo 16.13).
Sem o Espírito Santo não haveria salvação, pois só ele pode convencer
o homem do pecado, da justiça e do juízo. Só ele pode levar o homem a Jesus
Cristo. E Jesus é o único Salvador.
“Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso
Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aper-
feiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que
é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o
sempre. Amém” (Hb 13.20-21).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 87 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 88 18/07/2011, 16:19
12
DEUS SALVA PARA SEMPRE
“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la
até ao Dia de Cristo Jesus.”
Filipenses 1.6

O Espírito Santo aplica em nós a obra redentora de Jesus Cristo. Ele usa a
Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus, para chamar o pecador a fim de rece-
ber a salvação; e opera em nós a vocação eficaz, a regeneração, a conversão e a
santificação. Mas isso não é suficiente para definir todo o processo de salvação.
O apóstolo Paulo declara que “se alguém está em Cristo, é nova criatura;
as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). O Espírito
Santo abriu o coração do pecador, e ele deu ouvido à Palavra de Deus. O Espí-
rito implantou nele a semente da nova vida, ele se arrependeu de seus pecados,
creu em Jesus Cristo, recebendo-o como Salvador e Senhor, e iniciou a cami-
nhada da santificação, que vai construir o seu caráter cristão. Mas... e os peca-
dos do passado? E a segurança de que o processo de salvação chegará ao fim?
A JUSTIFICAÇÃO
Quando o pecador recebe Jesus Cristo como Salvador, ele é justificado
diante de Deus, mediante a obra redentora de Cristo. “A justificação é um ato
judicial de Deus, no qual ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que
todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao pecador.”82 Isso
significa que todos os seus pecados – do passado, do presente e do futuro – são
perdoados, ele é restaurado como filho de Deus e passa a ter direito à herança
da vida eterna. O apóstolo Paulo ensinou: “Nenhuma condenação há para os
que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Essa justificação, embora operada fora
do homem, isto é, no tribunal de Deus, se faz sentir também no interior do
homem. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus” (Rm 5.1).
A justificação, contudo, não impede o homem de continuar pecando.
Todo ser humano é pecador. Nasce em pecado, pecou no passado, peca no
presente e continuará pecando até o momento de sua morte. O apóstolo João,
escrevendo a crentes, afirmou: “Se dissermos que não temos pecado nenhum,
a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. [...] Se dissermos
que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está
em nós” (1Jo 1.8,10). E o apóstolo Paulo declarou: “Não faço o bem que prefiro,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 89 18/07/2011, 16:19


90 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.19). Por isso Jesus nos ensinou a
orar: “perdoa-nos as nossas dívidas” (Mt 6.12). E o apóstolo João escreveu:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9).
Aqui surge uma questão séria: se na justificação todos os nossos peca-
dos do passado, do presente e do futuro são perdoados, se nenhuma condena-
ção há para os que estão em Cristo, por que temos de pedir perdão pelos
pecados que cometemos?
Se nos lembrarmos de que a justificação restaura o nosso direito de
filhos de Deus – direito perdido por causa do pecado –, fica mais fácil com-
preender essa situação. A nossa identidade de filho é permanente e inalterada.
O filho não deixa de ser filho pelo fato de fazer coisas que desagradam ao Pai.
Mas ao fazer tais coisas ele quebra a comunhão com o Pai. Por isso, o pecado
produz no crente um sentimento de culpa, de tristeza e de separação de Deus.
E, quando o crente toma consciência do seu pecado, ele sente uma compulsão
que o impele a confessar o pecado, abandoná-lo e pedir perdão a Deus.
A experiência de Pedro nos dá um exemplo disso. Ele negou o Senhor Jesus, mas
quando tomou consciência de seu pecado “chorou amargamente” (Mt 26.75).
Aqui está a diferença entre o verdadeiro crente e aquele que, embora se decla-
rando crente, ainda não foi transformado pelo Espírito Santo. O verdadeiro
crente não tem prazer no pecado. O apóstolo João, na mesma epístola em que
declarou que se dissermos que não temos pecado, a verdade não está em nós,
afirmou também que todo aquele que permanece em Jesus Cristo “não vive
pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” (1Jo 3.6).
Isso significa que o pecado é um acidente na vida do crente; e que se alguém
vive deliberadamente no pecado é porque não é verdadeiramente crente.
A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
Aquele que recebe Jesus como Salvador e Senhor com toda a certeza
chegará ao céu. Isso não significa que o crente não esteja sujeito a pecar e a
quebrar sua comunhão com Deus. Mas o verdadeiro crente jamais cairá com-
pletamente; isso significa que sua fé e seus hábitos cristãos jamais desaparece-
rão inteiramente. Mas essa perseverança também é obra do Espírito Santo.
Os teólogos chamam isso de perseverança dos santos, e a definem “como a
contínua operação do Espírito Santo no crente, pela qual a obra da graça divina,
iniciada no coração, tem prosseguimento e se completa”.83 O apóstolo Paulo
declarou a mesma coisa, porém com palavras diferentes: “Estou plenamente
certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia
de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
O Rev. José Martins, em seu livro O homem e a salvação,84 aponta sete
razões bíblicas para a nossa segurança de salvação. Duas se relacionam com o
Pai, três com o Filho e duas com o Espírito Santo. Essas razões são as seguintes:

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 90 18/07/2011, 16:19


DEUS SALVA PARA SEMPRE 91
a) O propósito e o poder do Pai garantem a nossa salvação.
Paulo escreveu aos efésios que “fomos também feitos herança, pre-
destinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade” (Ef 1.11). E João escreveu: “Filhinhos, vós sois de
Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em
vós do que aquele que está no mundo” (1Jo 4.4). O Pai tem o propósito de nos
salvar. Como ele não muda, podemos ter a segurança da salvação. Satanás
tem um propósito diferente. Ele quer nos levar para o inferno. Mas o poder do
Pai garante a nossa salvação. Nós venceremos porque maior é aquele que está
em nós do que aquele que está no mundo.
b) A morte, a ressurreição e a intercessão de Cristo garantem a
nossa salvação.
O apóstolo Paulo escreveu: “Quem intentará acusação contra os eleitos
de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem
morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também
intercede por nós” (Rm 8.33-34). Jesus morreu em nosso lugar, ressuscitou
como prova de que o Pai aceitou o seu sacrifício, e está constantemente inter-
cedendo por nós. Ele é o nosso advogado diante do Pai. Por isso, podemos ter
a certeza da salvação.
c) O selo e o penhor do Espírito Santo garantem a nossa salvação.
O apóstolo Paulo ensinou também que “depois que ouvistes a palavra da
verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes sela-
dos com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até
ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.13-14). Na An-
tiguidade, uma das funções do selo era garantir a propriedade de um objeto ou
de um escravo. O selo era uma marca ou uma tatuagem. O penhor era um
objeto que garantia o pagamento de uma dívida. O Espírito Santo vem habitar
em nós, a partir do momento em que recebemos Jesus como Salvador, assim
ele nos sela como propriedade de Deus e, ao mesmo tempo, é o penhor de que
o Pai cumprirá a promessa de nos salvar.
A CERTEZA DA SALVAÇÃO
Quem se arrepende de seus pecados e crê em Jesus Cristo como Sal-
vador e Senhor tem a vida eterna. Jesus garantiu: “Em verdade, em verdade
vos digo: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida
eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24).
Observe que Jesus disse “tem a vida eterna”, e não “terá a vida eterna”.
Ele usou o presente, e não o futuro. E o apóstolo João escreveu: “Aquele que
tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida.
Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós
outros que credes em o nome do Filho de Deus” (1Jo 5.12-13).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 91 18/07/2011, 16:19


92 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
A Bíblia Sagrada é muito realista; ela não esconde a fraqueza e a
miséria do homem. Ela diz que somos fracos, frágeis, incapazes até de enten-
der as coisas de Deus. Mas, apesar de tudo isso, ela nos garante que em Cristo
podemos ter a certeza da salvação. Jesus afirmou categoricamente: “As mi-
nhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes
dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode
arrebatar” (Jo 10.27-29).
Podemos ter certeza completa e absoluta do cumprimento das promes-
sas que Deus nos faz em sua Palavra. “O caráter de Deus paira acima de toda
suspeita. Ele é justo. Ele é santo. E a palavra de Deus é tão digna de confiança
quanto o seu caráter.”85 “Deus não é homem, para que minta; nem filho de
homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará?
Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23.19).
CONCLUSÃO
A nossa salvação depende da graça divina, e não dos esforços huma-
nos. Se dependesse de nós, não poderíamos ter segurança, pois somos fracos,
imperfeitos e instáveis. Mas como depende só da graça de Deus, a situação é
diferente. “Quando o próprio Deus é o guardião de nossa alma, podemos ficar
tranquilos, na certeza de que estamos de fato seguros – sem o mínimo resquício
de dúvida.”86
Deus nos chamou para a salvação, por meio de sua Palavra e do Espírito
Santo. Deus nos regenerou, nos converteu, nos justificou, nos santifica e ga-
rante a nossa salvação.
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 92 18/07/2011, 16:19


93

13
SALVAÇÃO: PARA TODOS
OU
SÓ PARA OS ELEITOS?
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos.”
Romanos 8.29

“Passava Jesus por cidades e aldeias, ensinando e caminhando para


Jerusalém. E alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que são salvos?”
(Lc 13.22-23). Essa mesma pergunta tem sido feita inúmeras vezes. A salva-
ção é para todos ou só para os eleitos?
Kuiper nos adverte que, quando tratamos de quem será salvo, estamos
tocando na secreta vontade de Deus e, portanto, devemos “lembrar que
estamos lidando com um profundo mistério, que estamos em terra santa, onde
os anjos temem pisar, que o homem finito não pode nem começar a compreender
o Deus infinito, e que, portanto, temos de ser sóbrios, evitando escrupulosa-
mente qualquer especulação humana e apoiando-nos estritamente na segura
Palavra de Deus”.87
O DESEJO DE DEUS: QUE TODOS SEJAM SALVOS
O versículo mais conhecido da Bíblia afirma que “Deus amou ao mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Qualquer que seja a interpre-
tação dada a esse versículo, é inegável que ele afirma a universalidade do
amor de Deus.
O apóstolo Paulo declarou que Deus “deseja que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4). E Pedro
escreveu que Deus é longânimo e não quer “que nenhum pereça, senão que
todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.9).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 93 18/07/2011, 16:19


94 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Jesus, em várias ocasiões, tornou clara a universalidade do amor de
Deus. De braços abertos, ele disse às multidões que o rodeavam: “Vinde a
mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”
(Mt 11.28). Ele declarou também: “Em verdade, em verdade vos digo: Quem
ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra
em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24). Ele a ninguém rejeita:
“o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37). João declarou
que “ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos pró-
prios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1Jo 2.2).
A REALIDADE DO HOMEM:
MORTO EM DELITOS E PECADOS
O homem tem sido insensível ao grande e imensurável amor de
Deus. Criado à imagem e semelhança do Criador, o homem preferiu dar
ouvido a Satanás e afastar-se de Deus. Foi expulso do Éden. E afundou de
tal maneira no pecado que “viu o SENHOR que a maldade do homem se havia
multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu
coração” (Gn 6.5).
Deus levanta Israel para ser o seu povo. Mas esse povo passa a maior
parte de sua história vivendo na incredulidade, na desobediência e na idolatria.
Pelo profeta Isaías, Deus disse: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o
SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados
contra mim” (Is 1.2).
Deus enviou os profetas para chamar o povo de volta à comunhão com
ele. Mas, além de não darem ouvido à mensagem dos profetas, cometeram
contra eles as maiores atrocidades. “Alguns foram torturados, [...] outros, por
sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e
prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de es-
pada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, ne-
cessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra”
(Hb 11.35-38). E quando veio Jesus, o Messias prometido, crucificaram-no
entre dois ladrões.
O apóstolo Paulo descreveu a situação espiritual do homem, afirmando:
“Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a
Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem,
não há nem um sequer. Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm 3.10-
12,18). O homem está morto em seus delitos e pecados, e nada – absolutamente
nada – pode fazer para ser salvo (Ef 2.1-9).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 94 18/07/2011, 16:19


SALVAÇÃO: PARA TODOS OU SÓ PARA OS ELEITOS? 95
DESEJO E PLANO IMUTÁVEL DE DEUS
O Rev. Blaine Smith, pastor presbiteriano em Washington, Estados Uni-
dos, ensina que precisamos fazer distinção entre o desejo de Deus e o seu plano
imutável.88 Ele afirma que quando o Novo Testamento fala do desejo de Deus,
usa a palavra grega thélema. Um exemplo pode ser visto em 1 Tessalonicenses
4.3: “Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação”. Vontade aqui é thélema
e significa que Deus deseja que tenhamos uma vida santificada. Essa vontade de
Deus requer a nossa colaboração para que seja realizada. Ou seja, Deus deseja,
mas não nos impõe essa sua vontade. Mas o Novo Testamento fala também de
um plano imutável de Deus que será realizado, quer colaboremos ou não com ele.
Para falar dessa vontade intencional de Deus, o Novo Testamento usa a palavra
grega boulê. Em Atos 2.23 está escrito que Jesus foi entregue para ser crucifica-
do “pelo determinado desígnio e presciência de Deus”. Desígnio aqui é boulê,
isto é, o plano imutável de Deus.
A PREDESTINAÇÃO
O desejo de Deus é que todos os homens sejam salvos, mas o homem
não quer colaborar com o Criador no processo de salvação. E, se depender
dessa colaboração, ninguém será salvo. Por isso, Deus, movido pelo seu pro-
fundo amor, incluiu no seu plano imutável a salvação daqueles que lhe aprouve
salvar. A Bíblia Sagrada chama isso de eleição ou predestinação.
A predestinação está presente em todo o Novo Testamento. Nos evan-
gelhos encontramos várias declarações de Jesus onde ele fala em eleitos e
escolhidos, o que confirma a predestinação. Ele disse que os falsos profetas
procurariam enganar, se possível, até os eleitos (Mt 24.24). E, falando da gran-
de tribulação, afirmou que se o Senhor não tivesse “abreviado aqueles dias, e
ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais
dias” (Mc 13.20). Disse também que, na sua segunda vinda, “enviará os seus
anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos,
dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.31).
O apóstolo Paulo, na epístola aos romanos, perguntou: “Quem in-
tentará acusação contra os eleitos de Deus?” (Rm 8.33). Aos efésios, ele es-
creveu que Deus nos escolheu em Cristo, para a salvação, antes da fundação
do mundo, “e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos” (Ef
1.3-5). Aos colossenses, ele recomendou: “Revesti-vos, pois, como eleitos de
Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de
humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3.12). Aos tessalonicenses,
ele escreveu: “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação” (2Ts 2.13).
Na segunda epístola a Timóteo, ele declarou: “Tudo suporto por causa dos
eleitos” (2Tm 2.10).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 95 18/07/2011, 16:19


96 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
O apóstolo Pedro também escreveu sobre a predestinação. Ele inicia a
sua primeira epístola se dirigindo “aos eleitos que são forasteiros da Dispersão
[...] eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1Pe 1.1-2).
O último livro do Novo Testamento chama os salvos de eleitos (Ap 17.14).
Algumas pessoas, apesar de a Bíblia Sagrada ensinar claramente a
predestinação, tentam levantar objeções contra essa doutrina. As duas princi-
pais objeções dizem respeito à evangelização e à justiça de Deus.
Quanto à evangelização, afirmam que, se já estão escolhidos os que
serão salvos, não é necessário evangelizar. Mas a Bíblia ensina o contrário.
Paulo estava pregando o evangelho em Corinto, quando alguns judeus passa-
ram a fazer-lhe oposição e a blasfemar. À noite teve Paulo “uma visão em que
o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu
estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta
cidade” (At 18.9). Deus tinha muitos predestinados naquela cidade, e Paulo
devia permanecer ali pregando o evangelho, pois os predestinados precisavam
conhecer o evangelho para serem salvos. Na epístola a Tito, Paulo se apresenta
como “apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus”
(Tt 1.1). Jesus afirmou: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as co-
nheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Os predestinados para a salvação preci-
sam ouvir o evangelho, a voz do Bom Pastor, para segui-lo.
Quanto à alegação de que Deus seria injusto se escolhesse uns e não
escolhesse outros, o argumento é até infantil. Quando um rapaz vai se casar,
ele escolhe uma moça e deixa de escolher outra. Às vezes, deixa até de esco-
lher uma que tem melhores qualidades e que, além disso, é apaixonada por ele.
Ao fazer isso, ele está cometendo injustiça? De modo nenhum; está apenas
usando o seu direito de escolha. Se a humanidade toda está perdida, e Deus
escolhe alguns para a salvação, onde está a injustiça? Mas, como queremos
tratar desse assunto com os ensinos da Palavra de Deus, vejamos o que a Bíblia
diz sobre isso: “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo
nenhum! Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode
o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro
direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro
para desonra? Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a
conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, pre-
parados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da
sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os
quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas tam-
bém dentre os gentios?” (Rm 9.14,20-24).
A questão séria que está por detrás das objeções à predestinação é
esta: Quem é Deus?. É o SENHOR ou é o homem? Quando o homem questiona
a Deus, ele quer ser deus. Ele quer dizer ao Criador o que é certo e o que é

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 96 18/07/2011, 16:19


SALVAÇÃO: PARA TODOS OU SÓ PARA OS ELEITOS? 97
errado; o que deve ser feito e o que não deve ser feito. Mas, quando o homem
se coloca no seu lugar de criatura, ele reconhece humildemente que Deus é
soberano e, portanto, pode fazer o que quiser.
CONCLUSÃO
O Rev. James Kennedy, criador do método de evangelização conheci-
do como Evangelismo Explosivo, é autor de uma ilustração magistral sobre a
predestinação. Diz ele: “Imaginemos cinco pessoas que estejam planejando
assaltar um banco. Mas eles eram meus amigos. Eis que descubro o plano e
rogo diante deles que não o levem avante. Imploro-lhes que desistam. Final-
mente, eles me empurram para um lado e dão início à execução do plano.
Agarro-me a um deles e luto com ele, rolando pelo chão. Porém, os demais
prosseguem, assaltam o banco, um guarda é morto, e eles são capturados,
declarados culpados, sentenciados à cadeira elétrica e executados. E o único
homem do grupo que não se envolveu no assalto fica livre.”89 Em seguida, ele
pergunta se teve alguma culpa na morte dos quatro amigos. E responde que
não teve, pois insistiu com eles para que não fizessem o assalto. E pergunta
também se o amigo que permaneceu vivo escapou porque era bonzinho.
E responde que o amigo que ficou vivo era tão mau como os que morreram, e
só escapou porque foi salvo por ele.
Sem querer explicar a predestinação, a secreta vontade de Deus, a ilus-
tração do Rev. Kennedy mostra aquilo que a Bíblia ensina, isto é, que todos os
homens estão perdidos, condenados ao inferno; que ninguém quer saber de
Deus; que Deus quer que todos sejam salvos e proclama que não leva em conta
os tempos da ignorância, “agora, porém, notifica aos homens que todos, em
toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o
mundo com justiça” (At 17.30-31); mas ninguém se arrepende. Logo, Deus
não é responsável pela perdição de quem quer que seja. Diante dessa recusa
em aceitar o seu amor, Deus escolheu alguns para a salvação. E, por meio do
Espírito Santo, Deus leva estes a receber Jesus como Salvador e Senhor. Eles
serão salvos não porque são bons, mas porque foram alcançados pela mi-
sericórdia de Deus.
O apóstolo Paulo, diante dessa maravilha da graça divina, declarou:
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus cami-
nhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conse-
lheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque
dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eterna-
mente. Amém” (Rm 11.33-36).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 97 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 98 18/07/2011, 16:19
14
A IGREJA
“Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
Mateus 16.18

O plano de Deus para a nossa salvação inclui uma organização para


nos arrebanhar. Na antiga aliança feita com Abraão e ratificada quando Deus
deu a lei, por meio de Moisés, essa organização era constituída de israelitas.
Deus havia prometido a Abraão: “ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e
te engrandecerei o nome” (Gn 12.2).
Mas Israel quebrou a aliança com o Senhor. E negou-se a receber o
Messias. Rejeitaram o Filho de Deus. “Veio para o que era seu, e os seus não
o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo 1.11-12). Feliz-
mente, Deus fez uma nova aliança, por meio de Jesus Cristo. E “a todos quantos
o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”. E com estes
Jesus edificou a sua igreja, conforme ele mesmo prometeu: “edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Assim,
a nação de Israel, como organização instituída para congregar o povo de Deus,
foi substituída pela igreja.
CONCEITO BÍBLICO DE IGREJA
Mas, o que é igreja?
“Posso usar essa palavra para significar um edifício, como quando digo:
‘Há três igrejas neste quarteirão’. A Bíblia não emprega a palavra igreja nesse
sentido. Posso também usar a palavra para significar uma denominação, assim:
‘A Igreja Metodista tem muitas congregações nesta cidade’. A Bíblia não se
refere a denominações, de modo nenhum. Posso empregar a palavra para signi-
ficar um fator cultural que opera na comunidade. Posso, então, dizer: ‘A igreja
opõe-se ao vício e à venda de bebidas alcoólicas’. Porém, neste sentido, a Bíblia
nunca emprega a palavra. Posso usá-la para me referir a todas as atividades
públicas dos cristãos como um grupo na sociedade. Poderia, então, dizer:
‘A igreja, na comunidade onde me criei, era certamente fraca’. Com este senti-
do, a Bíblia jamais emprega a palavra. Ou poderia usá-la para aludir a uma causa.
Diria então: ‘Por certo sou a favor do desenvolvimento da Igreja’. Mas o Novo
Testamento não emprega a palavra com esse sentido.”90

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 99 18/07/2011, 16:19


100 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Os escritores do Antigo Testamento usaram duas palavras hebraicas
para designar a igreja. A primeira é kahal, que vem de uma raiz que signifi-
ca chamar, e é traduzida em nossa língua por assembleia. A segunda é ‘edhah,
que vem de uma raiz que significa indicar ou encontrar-se ou reunir-se num
lugar indicado.
No Novo Testamento a palavra igreja vem de ekklesia, palavra grega
usada para designar a assembleia da população das cidades gregas, que se
reunia para tratar de questões administrativas. No Novo Testamento a palavra
igreja é usada com vários significados, cujos principais são:
a) Um grupo de crentes de uma determinada localidade, uma igreja lo-
cal. Por exemplo: “igreja que estava em Jerusalém” (At 11.22); “igreja de
Antioquia” (At 13.1). Veja também Atos 5.11 e 11.26.
b) Um grupo de crentes que se reunia na casa de uma determinada pes-
soa, uma igreja doméstica (1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2).
c) Vários grupos de crentes, em diferentes lugares, unidos pela mesma
fé (At 9.31).
d) A totalidade daqueles que, no mundo inteiro, professam a Cristo e
se organizam para fins de culto, chamada genericamente de igreja de Deus
(1Co 10.32; 11.22; 12.28).
e) A totalidade dos crentes, quer no céu quer na terra, que se uniram ou
ainda se unirão a Cristo como Salvador e Senhor, chamada de corpo de Cristo
(Ef 1.22; 3.10,21; 5.23-32; Cl 1.18,24).
A ESSÊNCIA E O CARÁTER MULTIFORME DA IGREJA
Jesus declarou: “edificarei a minha igreja” (Mt 16.18); e a partir des-
sas palavras surge a pergunta: que tipo de igreja Jesus edificou? A resposta é
que a igreja edificada por Jesus é um organismo espiritual, formado pelo
conjunto dos salvos de todos os tempos, raças e lugares. Ela não pode ser
discernida pelos olhos físicos porque é essencialmente espiritual. O seu rol
de membros é o livro da vida (Lc 10.20; Ap 20.15; 21.27). Outra pergunta é:
quando foi que Jesus edificou a sua igreja?. A resposta é que Jesus edificou
sua igreja com sua morte na cruz do Calvário (ver Ef 5.22-29; Tt 2.11-14;
At 20.28; 1Co 6.20 e Ap 5.9).
Mas a igreja de Cristo tem também um lado visível, que são as comuni-
dades de crentes, organizadas e compostas de seus servos. Jesus reconheceu
e aprovou, antecipadamente, essas comunidades locais, quando ordenou que o
irmão impenitente deve ser levado perante a igreja (Mt 18.15-18).
A igreja de Cristo é uma só, mas pode ser vista de diferentes ângulos.
Ela pode ser vista como igreja militante e igreja triunfante. Militante é o seg-
mento da igreja que ainda está na terra, lutando “contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 100 18/07/2011, 16:19


A IGREJA 101
espirituais do mal” (Ef 6.12). Triunfante é o segmento da igreja que está no céu
com Cristo (Ap 7.9-17).
A igreja pode ser descrita como visível e invisível. Visível é o segmento
da igreja que se manifesta numa “sociedade composta de todos quantos, em
todos os tempos e lugares do mundo, professam a verdadeira religião, junta-
mente com seus filhos”.91 É a igreja como a vemos, isto é, os membros, a
pregação da Palavra, a administração dos sacramentos, a organização, a vida
comunitária, o testemunho público dos crentes e a oposição ao mundo. Igreja
invisível é o conjunto de todos os salvos do presente, do passado e do futuro.
É invisível porque só Deus a conhece.
A igreja pode ser considerada também como organismo e organização.
Essa distinção é aplicada apenas à igreja visível. Como organismo, a igreja é a
união dos fiéis, sob o vínculo do Espírito. Paulo fala desse aspecto da igreja em
1 Coríntios 12, onde compara os membros da igreja aos membros do corpo
humano. Como organização, a igreja é uma agência para a conversão dos
pecadores e para o aperfeiçoamento dos salvos.
Apesar dessas distinções, devemos ter em mente que a igreja de Cristo
é uma só. A sua essência está na comunhão espiritual e invisível dos verda-
deiros crentes.
Já que a igreja de Cristo é uma só, o que dizer, então, do grande número
de denominações? As denominações são uma concessão de Deus à dureza de
nossos corações, são uma contingência das nossas limitações humanas. O de-
sejo de Deus é que pensemos a mesma coisa, tenhamos o mesmo amor, seja-
mos unidos de alma, tendo o mesmo sentimento (Fp 2.2). O ideal seria a exis-
tência de uma só denominação. Mas, infelizmente, não atendemos a esse dese-
jo nem atingimos esse ideal. Nossas limitações e tendências pessoais influen-
ciam nossa maneira de ver e sentir nossos compromissos com Deus e o modo
correto de servir ao Senhor. Por isso, surgiram as denominações. Porém, o
mais importante é que existe uma única igreja de Cristo, da qual fazem parte
todos os verdadeiros crentes.
OS ATRIBUTOS DA IGREJA
A igreja tem os seus atributos, isto é, as suas qualidades que a dis-
tinguem de outras instituições. Os atributos da igreja são: unidade, santida-
de e catolicidade.
A unidade da igreja é de caráter interno e espiritual. “Essa unidade
implica que todos os que pertencem à igreja participam da mesma fé, são
solidamente interligados pelo comum laço do amor, e têm a mesma perspec-
tiva gloriosa do futuro.”92 O apóstolo Paulo falou dessa unidade, afirmando:
“Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa
só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo;

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 101 18/07/2011, 16:19


102 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está
em todos” (Ef 4.4-6).
A santidade da igreja significa que todos os seus membros foram sepa-
rados para Jesus Cristo. O apóstolo Paulo costumava dirigir-se aos crentes
chamando-os de santos. Evidentemente ele sabia que os membros da igreja
não são perfeitos, mas são santos no sentido de pertencerem a Jesus Cristo.
A santidade completa só é encontrada na igreja triunfante.
A catolicidade da igreja ressalta a sua universalidade. Na antiga alian-
ça, os servos de Deus pertenciam a um único povo: a nação israelita. Os gentios
só poderiam tornar-se povo Deus mediante a adoção da nacionalidade israelita.
Na nova aliança, os servos de Deus pertencem a “todas as nações, tribos, po-
vos e línguas” (Ap 7.9).
Além desses três atributos, alguns teólogos incluem um quarto: a
apostolicidade. Este atributo tem dois elementos: a igreja é apostólica porque
foi edificada sobre o fundamento dos apóstolos (Ef 2.20) e porque tem um
compromisso de fidelidade à doutrina dos apóstolos (Gl 1.8-9; 1Co 3.10-11).
AS MARCAS DA IGREJA
A igreja visível se compõe de denominações e comunidades locais de
crentes. Nenhuma denominação ou igreja é perfeita ou completa. “As igrejas
mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro.”93 Mas a Escritu-
ra Sagrada aponta alguns sinais que nos permitem distinguir uma igreja verda-
deira de outra que não passa de um ajuntamento de pessoas. As principais
marcas de uma igreja verdadeiramente cristã são: a correta pregação da Pala-
vra de Deus, a correta administração dos sacramentos e o fiel exercício da
disciplina eclesiástica.
A pregação de uma verdadeira Igreja Cristã está fundamentada na Escri-
tura Sagrada, a Palavra de Deus. Pode haver divergência entre as doutrinas de
uma igreja e outra. Umas batizam por aspersão outras, por imersão. Umas bati-
zam crianças outras só batizam adultos. Mas é imprescindível que todas as
doutrinas estejam alicerçadas na Escritura Sagrada. Quando a igreja deixa a
Palavra de Deus e passa a pregar filosofias humanas ou experiências pessoais,
ela está deixando de ser uma verdadeira Igreja Cristã. A Igreja Católica Roma-
na atribui à tradição a mesma autoridade da Bíblia Sagrada. A Igreja Adventista
do Sétimo Dia considera inspirados pelo Espírito Santo os escritos de Helen
White; portanto, com a mesma autoridade da Escritura Sagrada. As Tes-
temunhas de Jeová tiveram o atrevimento de adulterar a Escritura Sagrada,
fazendo uma tradução que se adapte às suas doutrinas. Por isso, essas igrejas
não são consideradas verdadeiramente cristãs. Os pentecostais dão muita
ênfase às revelações e às experiências pessoais, colocando-as, às vezes,
acima da Escritura Sagrada, por isso correm o risco de ser desqualificados da
condição de verdadeira Igreja Cristã.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 102 18/07/2011, 16:19


A IGREJA 103
A correta administração dos sacramentos não significa que todas as
igrejas devem seguir o mesmo ritual. Mas implica obediência a três princípios
fundamentais: (1) o conteúdo e a forma de administração dos sacramentos
precisam estar de acordo com o ensino da Escritura Sagrada; (2) a pessoa
que administra os sacramentos deve estar revestida de autoridade espiritual e
eclesiástica; (3) os participantes dos sacramentos precisam estar devidamente
qualificados.
O fiel exercício da disciplina eclesiástica é outra marca de uma verda-
deira Igreja Cristã. Onde não há disciplina, até os verdadeiros crentes correm o
risco de se corromper. “As igrejas que relaxarem na disciplina descobrirão
mais cedo ou mais tarde em sua esfera de influência um eclipse da luz da
verdade e abusos nas coisas santas.”94 O apóstolo Paulo ordenou à igreja em
Corinto que exercesse a disciplina eclesiástica (1Co 5.1-5,13). E ele mesmo
exerceu a disciplina (1Tm 1.20). A igreja em Éfeso foi elogiada porque não
suportava “homens maus” e porque odiava “as obras dos nicolaítas” (Ap 2.2,6).
Mas as igrejas em Pérgamo e Tiatira foram duramente condenadas por não
exercerem a disciplina de seus membros (Ap 2.14-15,20). A ordem clara de
Jesus é que o irmão que pecar deve ser confrontado; se ele não der ouvido à
advertência, deve ser considerado como “gentio e publicano” (Mt 18.15-18).
As palavras de Jesus indicam a necessidade de exclusão daqueles que perma-
necem no pecado, já que gentios e publicanos não faziam parte do povo de
Deus na época de Jesus.
CONCLUSÃO
Igreja não é edifício, não é tijolo, não é pedra. Igreja é gente. Igreja é
“povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daque-
le que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9).
Três palavras gregas apontam a missão da igreja: kérigma, diaconia e
koinonia. A palavra kérigma significa mensagem, proclamação. A igreja exis-
te para proclamar a salvação e a nova vida em Jesus Cristo. Diaconia é serviço.
A igreja tem a obrigação de prestar serviço aos indivíduos e à sociedade.
O exemplo foi dado por Jesus, que veio buscar e salvar os perdidos e ao mesmo
tempo que pregava, alimentava, consolava, curava e libertava. Koinonia geral-
mente é traduzida como comunhão. Harvey Cox, um teólogo moderno, afirma
que koinonia é o “aspecto da responsabilidade da igreja que exige uma demons-
tração visível daquilo que a igreja está dizendo no kérigma (proclamação) e
apontando na sua diaconia (serviço)”.95
A igreja foi instituída por Jesus Cristo, e “as portas do inferno não pre-
valecerão contra ela” (Mt 16.18).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 103 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 104 18/07/2011, 16:19
15
A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO
“Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pou-
parão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas per-
vertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai.”
Atos 20.29-31

A igreja de Cristo é invisível, não pode ser discernida pelos olhos físi-
cos porque é essencialmente espiritual. O seu rol de membros é o livro da
vida (Lc 10.20; Ap 20.15; 21.27). Mas a igreja de Cristo tem, também, um lado
visível, que são as comunidades de crentes, as igrejas locais, organizadas e
compostas dos servos de Jesus Cristo. “Justamente como a alma humana se
adapta a um corpo e se expressa por meio do corpo, assim a igreja invisível,
que consiste não de almas, mas de seres humanos que têm alma e corpo, as-
sume necessariamente forma visível numa organização externa, por meio da
qual se expressa.”96
A igreja visível foi fundada pelos apóstolos e se ramificou em vários gru-
pos. Um desses grupos é denominado Protestantismo Reformado ou Presbiterianismo.

A IGREJA PRIMITIVA

Historicamente a Igreja Cristã nasceu no dia de Pentecostes. A princí-


pio ela era considerada apenas uma seita do judaísmo (At 24.14; 28.22). Mas,
com o passar do tempo, adquiriu identidade própria.
Os cristãos foram violentamente perseguidos pelos judeus e pelos
romanos. A perseguição, contudo, ajudava a igreja. Os crentes tornavam-se
mais ousados, e os falsos cristãos não suportavam a pressão e saíam. Assim, a
igreja ia, ao mesmo tempo, se fortalecendo e se purificando.
No século 4º cessaram as perseguições. No ano 313, Constantino e Licínio,
concorrentes ao trono imperial, se encontraram e assinaram o Edito de Milão,
concedendo plena liberdade ao Cristianismo. Em 323, Constantino finalmente
derrotou Licínio, tornando-se o único governante do mundo romano. Com seu
tino político, sentiu a necessidade de unificar o Império. “Havia uma só lei, um
só imperador e uma única cidadania para todos os homens livres. Era necessá-
rio que houvesse também uma só religião.”97 E o Cristianismo foi feito reli-
gião oficial do Império Romano.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 105 18/07/2011, 16:19


106 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
A partir da oficialização do Cristianismo, a Igreja Cristã passou a rece-
ber um grande número de adesões. Muitas pessoas, sem a verdadeira conversão,
entraram para a igreja. A atuação de tais pessoas e a influência do mundo pagão
levaram a igreja a adotar doutrinas e práticas que se chocam brutalmente com os
ensinos bíblicos. Eis alguns exemplos: no ano 375 foi instituído o culto aos
santos; no ano 431 instituiu-se o culto a Maria, a partir do Concílio de Éfeso,
cidade em que pontificava a grande Diana dos efésios, divindade feminina pagã;
em 503 surgiu a doutrina do purgatório; em 783 foi adotada a adoração de ima-
gens e relíquias; em 1090 inventou-se o rosário; em 1229 foi proibida a leitura da
Bíblia. Há muitas outras inovações que a sua menção aqui se tornaria longa.
Algumas pessoas afirmam que a igreja organizada pelos apóstolos é a
Igreja Católica Romana. Quanto a isto, devemos esclarecer o seguinte:
a) A igreja dos apóstolos não adotou nenhum nome específico. Ela é cha-
mada no Novo Testamento simplesmente de igreja. Historicamente ela é
denominada Igreja primitiva, por ter sido a primeira.
b) O sistema de governo e a organização da igreja primitiva, suas dou-
trinas e sua liturgia eram bem diferentes do que é praticado pela Igreja Católi-
ca Romana.
c) A verdade é que a Igreja Católica Romana surgiu das transformações
ocorridas na igreja primitiva. Transformações que, lamentavelmente, só afas-
taram a igreja dos ensinos de Jesus Cristo.
As heresias mencionadas, aliadas à corrupção e imoralidade do clero,
levaram a igreja a perder suas principais características de Igreja Cristã. Mas ainda
existiam pessoas sinceras, tementes a Deus, que clamavam por uma reforma.
A REFORMA PROTESTANTE
A partir do ano 1300, o mundo ocidental experimentou um sentimento
crescente de nacionalismo. Os povos não queriam sujeitar-se a Roma. Aspira-
vam ver surgir uma igreja nacional. Esse clima favoreceu o surgimento dos pre-
cursores da Reforma. Eram homens cultos, de vida exemplar, que tinham pra-
zer na leitura e na exposição da Bíblia Sagrada. São chamados precursores
porque antecederam os reformadores e, principalmente, porque não conse-
guiram superar o legalismo religioso – não descobriram a graça salvadora.
Queriam fazer alguma coisa para alcançar a salvação, quando a Bíblia afirma:
“Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus;
não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).
Os principais precursores da Reforma foram: João Wyclif (1328?-1384),
professor na Universidade de Oxford, na Inglaterra; João Huss (1373?-
1415), professor na Universidade de Praga, que foi queimado por causa de
sua fé; e Girolano Savonarola (1452-1498), monge dominicano, que foi enfor-
cado e queimado por ordem do papa Alexandre VI, em Florença, na Itália.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 106 18/07/2011, 16:19


A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO 107
Além dos movimentos liderados pelos precursores da Reforma, ocor-
reram outras tentativas de reformar a igreja, mas sem êxito.
No século 16, a situação era bastante propícia a uma reforma da igreja.
A Europa estava no limiar de uma nova época política e social. Gutenberg
revolucionara o processo de impressão do livro; Colombo descobrira a Amé-
rica... E o descontentamento com a igreja persistia. Tudo isso preparava o
terreno para a reforma. E Lutero foi o homem que Deus levantou para desen-
cadear o movimento que resultou na Reforma religiosa do século 16.
MARTINHO LUTERO (1483-1546)
Martinho Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483. Sua família
era pobre e ele lutou com muita dificuldade para estudar. Preparava-se para
ingressar no curso de Direito, quando resolveu tornar-se monge. Entrou para o
mosteiro agostiniano de Erfurt, em 1505, antes de completar 22 anos de idade.
Dois anos depois foi ordenado sacerdote. No ano seguinte foi para Wittenberg
preparar-se para ser professor na recém-criada universidade daquela cidade.
Foi lá que Lutero dedicou-se ao estudo das Escrituras. E, ao estudar a carta
aos romanos, descobriu que “O justo viverá por fé” (Rm 1.17). Ele já havia
feito tudo o que a igreja indicava para alcançar a paz com Deus. Mas sua
situação interior só piorava. Ao descobrir a graça redentora, entregou-se a
Jesus Cristo, pela fé, e encontrou a paz e a segurança da salvação.
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da
capela de Wittenberg as suas 95 teses. Era o início da Reforma.
Lutero tentou reformar a igreja, mas Roma não quis se reformar. An-
tes, o perseguiu violentamente. Em 1521 ele foi excomungado. Nesse mesmo
ano teve de se esconder durante dez meses no castelo de Wartburgo, perto de
Eisenach, para não ser morto. Depois voltou para Wittenberg, de onde coman-
dou a expansão do movimento de reforma.
Lutero faleceu em Eisleben, no dia 18 de fevereiro de 1546.
ÚLRICO ZUÍNGLIO (1484-1531)
Paralelamente à reforma de Lutero, surgiu na Suíça um reformador
chamado Úlrico Zuínglio. Era mais novo do que Lutero apenas 50 dias, mas
tinha formação e ideias diferentes do reformador alemão.
Úlrico Zuínglio nasceu na Suíça, no dia 1º de janeiro de 1484. Seu pai
era magistrado provincial. Sua família tinha uma boa posição social e financei-
ra, o que lhe permitiu estudar em importantes escolas daquela época. Estudou
na Universidade de Viena, de Basileia e de Berna. Graduou-se Bacharel em
Artes, em 1504, e Mestre dois anos depois.
Em 1506, Zuínglio tornou-se padre, embora o seu interesse pela reli-
gião fosse mais intelectual do que espiritual. Mas em 1520 ele passou por uma

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 107 18/07/2011, 16:19


108 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
profunda experiência espiritual, causada pela morte de um irmão querido. Dois
anos depois iniciou um trabalho de pregação do evangelho, baseando-se
tão-somente na Escritura Sagrada. O papa Adriano VI proibiu-o de pregar.
Poucos meses depois, o governo de Zurique, na Suíça, resolveu apoiar Zuínglio
e ordenou que ele continuasse pregando.
Em 1525, Zuínglio casou-se com uma viúva chamada Ana Reinhard.
Nesse mesmo ano, Zurique tornou-se, oficialmente, protestante. Outros cantões
(estados) suíços também aderiram ao protestantismo. As divergências entre
esses cantões e os que permaneceram fiéis a Roma iam-se aprofundando.
Em 1531 estourou a guerra entre os cantões católicos e os protestantes,
liderados por Zurique. Zuínglio, homem de gênio forte, também foi para o cam-
po de batalha, onde morreu no dia 11 de outubro de 1531, mas o movimento
iniciado por ele persistiu. Outros líderes deram continuidade ao seu trabalho.
Suas ideias foram reestudadas e aperfeiçoadas.
As igrejas que surgiram como resultado do movimento iniciado por Zuínglio
são chamadas de igrejas reformadas em alguns países, e igrejas presbiterianas
em outros. Dentre os líderes que levaram avante o movimento iniciado por
Zuínglio destacam-se Guilherme Farel e João Calvino.
GUILHERME FAREL (1489-1565)
Guilherme Farel nasceu em Gap, província francesa do Delfinado, no
ano de 1489. Os seus biógrafos o descrevem como um pregador valente e
ousado. Embora sua família fosse aristocrática, ele era rude e tosco. Sua
eloquência era como uma tempestade.
Farel converteu-se em Paris. O homem que o levou a Jesus Cristo era
seu professor na universidade e se chamava Jacques LeFévre. Parece que Farel
inicialmente não pretendia deixar a Igreja Católica, pois em 1521 ele iniciou um
trabalho de pregação sob a proteção do bispo de Meaux, Guilherme Briçonnet.
Mas logo depois foi proibido de pregar e expulso da França, acusado de estar
divulgando ideias protestantes.
Em 1524 estava em Basileia fazendo as suas pregações. Mas a sua
impetuosidade o levou a ser expulso da cidade.
Em 1526, Farel iniciou o seu trabalho de pregação na Suíça de fala fran-
cesa. Ligou-se aos seguidores de Zuínglio. Conseguiu implantar o protestantis-
mo em vários cantões suíços. E em 1532 entrou em Genebra pela primeira vez.
Sua pregação causou tumulto na cidade. Teve de retirar-se. Mas voltou logo
depois. E no dia 21 de maio de 1536, a Assembleia Geral declarou a cidade
oficialmente protestante.
Mas Genebra aceitara o protestantismo mais por razões políticas que
espirituais. E agora Farel tinha uma grande tarefa pela frente: reorganizar a
vida religiosa da cidade.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 108 18/07/2011, 16:19


A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO 109
Guilherme Farel era um homem talhado para conquistar uma cidade
para o protestantismo. Mas se perdia completamente no trabalho que vinha a
seguir. Não sabia planejar, nem organizar, nem liderar, nem pastorear. Mas,
felizmente, conhecia suas limitações e convidou João Calvino para reorganizar
a vida religiosa de Genebra.
No dia 23 de abril de 1538, Farel e Calvino foram expulsos da cidade.
Calvino foi para Estrasburgo, onde pastoreou uma igreja formada por refugia-
dos franceses. Farel foi para Neuchâtel, uma cidade que havia sido conquistada
por ele para o evangelho. Calvino voltou para Genebra em 1541. Farel perma-
neceu em Neuchâtel, onde faleceu em 1565, com 76 anos de idade.

JOÃO CALVINO (1509-1564)


O homem responsável pela sistematização doutrinária e pela expansão
do protestantismo reformado foi João Calvino. O “pai do protestantismo refor-
mado” é Zuínglio. Mas o homem que moldou o pensamento reformado foi João
Calvino. Por isso, o sistema de doutrinas adotado pelas igrejas reformadas ou
presbiterianas chama-se Calvinismo.
João Calvino nasceu em Noyon, na Picardia, na França, no dia 10 de julho
de 1509. Seu pai, Geraldo Calvino, era advogado e secretário do bispado de
Noyon. Sua mãe, Jeanne le Franc, faleceu quando ele tinha três anos de idade.
A família Calvino tinha amizade com pessoas importantes. E a convi-
vência com essas famílias levou João Calvino a aprender as maneiras polidas
da elite daquela época.
Geraldo Calvino usou o seu prestígio junto ao bispado para conseguir a
nomeação de seus filhos para cargos eclesiásticos, conforme os costumes da-
quela época. Antes de completar 12 anos, João Calvino foi nomeado capelão
de La Gesine, próximo de Noyon. Não era padre, mas seu pai pagava um padre
para fazer o trabalho de capelania e guardava os lucros para o filho. Mais tarde
essa capelania foi trocada por outra mais rendosa.
Em agosto de 1523, logo depois de ter completado 14 anos, João Calvino
ingressou na Universidade de Paris. Ali completou seus estudos de pré-gradua-
ção, no início de 1528. A seguir foi para a Universidade de Orléans, onde
formou-se em Direito.
Em maio de 1531, faleceu Geraldo Calvino. E João, que estudara Direi-
to para satisfazer o pai, resolveu tornar-se pesquisador no campo da literatura
e da filosofia. Para isso, matriculou-se no Colégio de França, instituição
humanista fundada pelo rei Francisco I. Estudou grego, latim e hebraico.
Tornou-se profundo conhecedor dessas línguas.
Em 1532, João Calvino lançou o seu primeiro livro: Comentários ao
tratado de Sêneca sobre a clemência. Os intelectuais elogiaram muito a obra.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 109 18/07/2011, 16:19


110 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Era um trabalho de grande erudição. Mas o público ignorou o lançamento –
poucos compraram o livro.
João Calvino converteu-se a Jesus Cristo entre abril de 1532 e o início
de 1534. Não se sabe detalhes da sua experiência. Mas a partir daí, Deus pas-
sou a ocupar o primeiro lugar em sua vida.
No dia 1º de novembro de 1533, Nicolau Cop, amigo de Calvino,
tomou posse como reitor da Universidade de Paris. O seu discurso de posse
falava em reformas, usando linguagem semelhante às ideias de Lutero. E o co-
mentário geral era que o discurso tinha sido escrito por Calvino. O rei Francisco I
resolveu agir contra os luteranos. Calvino e Nicolau Cop foram obrigados a
fugir de Paris.
No dia 4 de maio de 1534, Calvino compareceu ao palácio do bispo de
Noyon, a fim de renunciar ao cargo de capelão. Foi preso, embora por um
período curto. Libertado logo depois, achou melhor fugir do país. E no final de
1535 chegava a Basileia, cidade protestante, onde se sentiu seguro.
Em março de 1536, Calvino publicou a sua mais importante obra –
Instituição da religião cristã. O prefácio da obra era uma carta dirigida ao
rei da França, Francisco I, defendendo a posição protestante. Mas a Institui-
ção era apenas uma apresentação ordenada e sistemática da doutrina e da
vida cristã. A edição definitiva só foi publicada em 1559.
A Instituição da religião cristã, conhecida como Institutas de Calvino,
é a mais completa e importante obra produzida no período da Reforma.
Em julho de 1536, Calvino chegou a Genebra. A cidade havia se decla-
rado oficialmente protestante no dia 21 de maio daquele ano. E Guilherme
Farel lutava para reorganizar a vida religiosa da cidade.
Calvino estava hospedado em uma pensão, quando Farel soube que ele
estava na cidade. Foi ao seu encontro e o convenceu a permanecer ali para
ajudá-lo na reorganização da cidade.
Calvino era bem jovem – tinha apenas 27 anos. A publicação das
Institutas fizera dele um dos mais importantes líderes da Reforma na França.
Mas o seu início em Genebra foi muito modesto. Inicialmente ele era apenas
um preletor de Bíblia. Um ano depois foi nomeado pregador. Mas, enquanto
isso, elaborava as normas que pretendia implantar e fazer de Genebra uma
comunidade-modelo.
João Calvino teve muitos adversários e opositores em Genebra. À medi-
da que ele ia apresentando as normas que pretendia implantar na cidade, a fim
de torná-la uma comunidade-modelo, a oposição ia crescendo. Finalmente a
oposição venceu as eleições. E, no dia 23 de abril de 1538, Calvino e Farel
foram banidos de Genebra.
Calvino foi para Estrasburgo, onde pastoreou uma igreja constituída de
refugiados franceses. Ali viveu os dias mais felizes de sua vida. Casou-se. A esco-
lhida se chamava Idelette de Bure. Era holandesa, e viúva.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 110 18/07/2011, 16:19


A ORIGEM DO PRESBITERIANISMO 111
Genebra, enquanto isso, passava por várias mudanças. Os adversários
de Calvino foram derrotados. E no dia 13 de setembro de 1541 ele entrava
novamente em Genebra. Voltava por insistência de seus amigos. Voltava forta-
lecido. E, enfim, pôde reorganizar a vida religiosa da cidade.
Calvino introduziu o estudo do seu catecismo, o uso de uma nova liturgia,
um governo eclesiástico presbiterial, disciplinou a vida civil, estabeleceu nor-
mas para o funcionamento do comércio e fez de Genebra uma cidade-modelo.
No dia 29 de março de 1549, Idelette faleceu. Mas Calvino continuou
o seu trabalho. Pesquisava, escrevia comentários bíblicos e tratados teológicos,
administrava, pastoreava, incentivava.
Em 1559 fundou a Academia Genebrina – a Universidade de Genebra.
Jovens de vários países foram estudar ali e levaram a semente do evangelho na
volta à terra deles. Esses jovens se espalharam pela França, Países Baixos,
Inglaterra, Escócia, Alemanha e Itália.
João Calvino faleceu em Genebra, no dia 27 de maio de 1564, mas a
sua obra permaneceu viva.

JOHN KNOX (1505/15?-1587)


Os seguidores do movimento iniciado por Zuínglio e estruturado por
Calvino se espalharam imediatamente por toda a Europa. Na França, eles eram
chamados de huguenotes; na Inglaterra, puritanos; na Suíça e Países Baixos,
reformados; na Escócia, presbiterianos.
A Escócia é um país muito importante na história do protestantismo
reformado. Foi lá que surgiu o nome presbiteriano. Por isso, alguns livros de
história afirmam que o presbiterianismo nasceu na Escócia.
O grande nome da reforma escocesa é John Knox. Pouco se sabe a
respeito dos primeiros anos de sua vida. Supõe-se que tenha nascido entre os
anos 1505 a 1515. Estudou teologia e foi ordenado sacerdote, possivelmente em
1536. Não se sabe quando e em que circunstâncias ocorreu a sua conversão. Em
1547 foi levado para a França, onde ficou preso dezenove meses, por causa de
sua fé. Libertado, foi para a Inglaterra, onde exerceu o pastorado por dois anos.
Em 1554 teve de fugir da Inglaterra, indo, inicialmente, para Frankfurt, e depois
para Genebra, onde foi acolhido por Calvino. Em 1559 voltou para a Escócia,
onde liderou o movimento de reforma religiosa. Sua influência extrapolou a área
religiosa, atingindo também a vida política e social do país. Sob sua influência, o
parlamento escocês declarou o país oficialmente protestante, em dezembro de
1567. A igreja organizada por ele e seus auxiliares recebeu o nome de Igreja
Presbiteriana. John Knox faleceu no dia 24 de novembro de 1587.
O presbiterianismo foi levado da Escócia para a Inglaterra; de lá, para
os Estados Unidos da América.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 111 18/07/2011, 16:19


112 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Em 1726, teve início um grande despertamento espiritual nos Estados
Unidos. Esse despertamento levou os presbiterianos a se interessarem por mis-
sões estrangeiras. Missionários foram enviados para vários países, inclusive o
Brasil. No dia 12 de agosto de 1859, chegou ao nosso país o primeiro missio-
nário presbiteriano: Ashbel Green Simonton.
CONCLUSÃO
“Edificarei a minha igreja” – disse Jesus – “e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Homens fraudulentos e a influência do
mundo pagão desviaram a igreja dos ensinos de Jesus. Mas sempre existiram
servos fiéis, que não se conformavam com o erro e clamavam por uma
reforma. Lutero deu início ao movimento vitorioso.
Lutero e Calvino tentaram um entendimento para unir suas forças.
Mas não foi possível. Lutero queria apenas reformar a igreja. Contudo, Calvino
entendia que a igreja estava tão degenerada, que não havia como reformá-la.
Por isso ele se propôs a organizar uma nova igreja que, na sua doutrina, na
sua maneira de prestar culto e na sua forma de governo, fosse idêntica à
igreja primitiva.
E foi assim que surgiu a Igreja Presbiteriana.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 112 18/07/2011, 16:19


113

16
O PRESBITERIANISMO NO BRASIL
“Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas
e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,
até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à
perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.”
Efésios 4.11-13

A Igreja Cristã foi fundada pelos apóstolos, no dia de Pentecostes. Ela


é o lado visível da igreja invisível. Nem todos os membros da igreja visível são
também membros da igreja invisível. Alguns ainda não passaram pela conver-
são; outros nunca experimentarão o novo nascimento. E mesmo aqueles que
nasceram de novo em Jesus Cristo continuam pecadores. Por isso, a igreja tem
muitas falhas e imperfeições.
Como resultado das fraquezas de seus membros, a Igreja Cristã está
dividida em muitos ramos. Um desses ramos é o protestantismo reformado ou
presbiterianismo. No Brasil existem várias denominações presbiterianas:
Igreja Presbiteriana do Brasil, Igreja Presbiteriana Independente, Igreja
Presbiteriana Conservadora, Igreja Presbiteriana Fundamentalista e Igreja Pres-
biteriana Unida. Todas elas têm a sua origem no trabalho missionário iniciado
pelo Rev. Ashbel Green Simonton, no século 19.
PRIMEIRAS TENTATIVAS
A primeira tentativa de implantação do presbiterianismo em nosso país
foi feita pelos franceses, que invadiram o Rio de Janeiro em 1557. Eles pretendiam
fundar aqui uma colônia cujo nome seria França Antártica. O grupo era com-
posto de católicos e huguenotes (nome dos presbiterianos franceses). A colônia
devia caracterizar-se pela tolerância religiosa. Três pastores acompanhavam o
grupo com o objetivo de dar assistência religiosa aos colonos e pregar o evange-
lho aos nativos. A invasão fracassou e eles foram expulsos em 1567.
Uma segunda tentativa foi feita pelos holandeses, que invadiram o Nor-
deste de nosso país. Em 1624, uma esquadra holandesa chegou a Salvador, na
Bahia, onde permaneceu até março de 1625. Expulsos da Bahia, os holandeses

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 113 18/07/2011, 16:19


114 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
se reorganizaram e invadiram Pernambuco em 1630. Em 1654 eles foram definiti-
vamente expulsos de nosso país, e as comunidades reformadas que eles haviam
implantado no Nordeste desapareceram.
A IMPLANTAÇÃO DEFINITIVA
A implantação do presbiterianismo em nosso país se deu pelo trabalho
de missionários, que vieram especialmente para evangelizar os brasileiros.
O primeiro missionário presbiteriano a vir para o Brasil se chamava
Ashbel Green Simonton. Ele chegou ao Rio de Janeiro no dia 12 de agosto de
1859. Tinha apenas 26 anos de idade. Era formado pelo Seminário de Princeton
e ordenado pastor pelo Presbitério de Carlisle. Embora tivesse estudado portu-
guês em Nova York, Simonton não tinha domínio suficiente de nossa língua
para pregar aos brasileiros. Por isso, enquanto aprendia melhor o português, ele
se dedicava ao trabalho de evangelização dos estrangeiros que aqui residiam ou
que por aqui passavam.
No dia 22 de abril de 1860, Simonton dirigiu o primeiro trabalho em
português. Era uma escola dominical. A assistência total somava cinco pessoas:
três crianças e duas moças. Dois anos depois, recebia os dois primeiros mem-
bros: um norte-americano e um português. O primeiro brasileiro a se tornar
membro da Igreja Presbiteriana se chamava Serafim Pinto Ribeiro. Ele foi
recebido por profissão de fé e batismo no dia 22 de junho de 1862.
O segundo missionário presbiteriano a chegar ao Brasil foi Alexander
Blackford, que era casado com uma irmã de Simonton. Ele e a esposa chega-
ram ao Rio de Janeiro no dia 25 de julho de 1860. O terceiro missionário era um
alemão naturalizado norte-americano chamado Francis Schneider. Ele chegou
no dia 7 de dezembro de 1861. A missão estabeleceu sua sede no Rio de Janeiro,
mas os missionários viajavam pelo Brasil todo, procurando conhecer o país e,
ao mesmo tempo, divulgar o evangelho.
Em 1863, o Rev. Alexander Blackford foi para São Paulo com o obje-
tivo de evangelizar a capital e o interior.
AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES
Os missionários consideravam que uma igreja estava organizada a
partir do dia do batismo dos primeiros convertidos. A Igreja Presbiteriana do
Rio de Janeiro foi organizada no dia 12 de janeiro de 1862, quando foram
batizados os dois primeiros convertidos. Dentro desse mesmo critério, a Igre-
ja Presbiteriana de São Paulo foi organizada no dia 5 de março de 1865; a
Igreja Presbiteriana de Brotas, interior de São Paulo, no dia 13 de novembro
de 1865; a Igreja Presbiteriana de Lorena, também no interior de São Paulo,
no dia 17 de maio de 1868; e a Igreja Presbiteriana de Borda da Mata, inte-
rior de Minas Gerais, em 23 de maio de 1869.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 114 18/07/2011, 16:19


O PRESBITERIANISMO NO BRASIL 115
Em 1865 foi organizado o primeiro presbitério – Presbitério do Rio de
Janeiro. Na primeira reunião desse presbitério foi ordenado o primeiro pastor
brasileiro, um ex-padre chamado José Manoel da Conceição. No dia 14 de
janeiro de 1867 começou a funcionar o primeiro seminário, localizado no Rio
de Janeiro, fundado para preparar os pastores brasileiros.
O Rev. Simonton faleceu em São Paulo, no dia 8 de dezembro de 1867.
Mas o trabalho de evangelização e organização de igrejas continuou.
O segundo presbitério – Presbitério de São Paulo – foi organizado no
dia 13 de janeiro de 1872. E, em 1888, foi organizado o Sínodo. Nesse ano já
havia igrejas organizadas em 14 Estados. Havia 4 presbitérios e 32 pastores,
sendo 20 estrangeiros e 12 brasileiros.
No dia 7 de janeiro de 1909 foi organizada a Assembleia Geral que, a
partir de 1937, passou a se chamar Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana
do Brasil.

O SISTEMA DOUTRINÁRIO

A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas


bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecis-
mo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única regra de fé e prática é a Bíblia
Sagrada. Mas, em virtude de a Bíblia não trazer as doutrinas já sistematizadas,
adotamos a Confissão de Fé e os catecismos como exposição do sistema de
doutrinas ensinadas na Escritura.
A Confissão de Fé e os catecismos são conhecidos, historicamente,
como Símbolos de Westminster. Eles foram preparados por uma assembleia
de clérigos anglicanos, congregacionais, independentes, batistas e presbi-
terianos. Essa assembleia foi convocada pelo Parlamento inglês para elabo-
rar os princípios de governo, doutrina e culto que deviam reger as atividades
religiosas na Inglaterra, Escócia e Irlanda. A assembleia foi instalada no dia
1º de julho de 1643, com a presença de 69 membros. Fez 1.163 sessões, sem
contar as reuniões de comissões e subcomissões. A participação média variava
entre 60 e 80 membros. A maior presença foi de 96 membros. O local da
reunião foi a Abadia de Westminster e, por isso, ficou conhecida como
Assembleia de Westminster.
A Confissão de Fé e os Catecismos foram aprovados pelo Parlamento
inglês em 1648. A Igreja Presbiteriana da Escócia, a da Inglaterra e a dos
Estados Unidos da América adotaram a Confissão de Fé e os catecismos
como padrão doutrinário. A Igreja Presbiteriana do Brasil, na organização do
Sínodo em 1888, também fez o mesmo.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 115 18/07/2011, 16:19


116 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
O SISTEMA DE GOVERNO
A Igreja Presbiteriana do Brasil, como organização eclesiástica, ado-
ta um sistema representativo de governo. É um meio-termo entre o sistema
de governo episcopal, em que o governo é exercido pelo bispo, e o sistema
congregacional, onde as decisões são tomadas em assembleias ou sessões,
com a participação de todos os membros. No sistema episcopal uma só pes-
soa decide e, por isso, os erros são mais frequentes. No sistema congregacional
todos tomam parte em todas as decisões; e os erros também são mais
frequentes, pois nem todos estão preparados para todos os níveis de deci-
são. No sistema presbiteriano, os membros reunidos em assembléia elegem
os seus representantes; e estes formam os concílios, que são assembleias
compostas de pastores e presbíteros, que cuidam do governo da igreja em
todos os níveis. Os concílios, em ordem crescente, são: conselho, presbité-
rio, sínodo e supremo concílio.
a) Governo da igreja local
Os membros da igreja elegem os presbíteros e os diáconos para um
mandato de cinco anos. Os presbíteros, juntamente com o pastor, formam o
conselho, que cuida do governo e da disciplina daquela igreja. Os diáconos
formam a junta diaconal, que cuida da ordem no templo e seus arredores e da
assistência social. A junta diaconal funciona sob a orientação do conselho.
Alguns atos do conselho dependem da aprovação dos membros da igreja, reuni-
dos em assembleia. Por exemplo: a aquisição ou transferência de imóveis de
propriedade da igreja só poderá ser feita mediante aprovação da assembleia.
b) Governo da igreja no nível regional
Um conjunto de igrejas forma o presbitério. As decisões do presbité-
rio são tomadas em assembleias constituídas de pastores e presbíteros. Os pas-
tores são membros natos do presbitério, mas os presbíteros são representantes
dos conselhos das igrejas. Cada igreja tem um representante no presbitério.
O presbitério supervisiona o trabalho dos pastores e dos conse-
lhos. É ele quem faz a designação dos pastores para as igrejas – por iniciativa
própria ou atendendo a solicitação das igrejas. O presbitério julga os atos dos
conselhos, podendo aprová-los ou não. Qualquer membro da igreja poderá
impetrar recursos ao presbitério contra decisões do conselho. Em caso de
necessidade, o presbitério poderá intervir na igreja, interditando ou dissolvendo
o conselho. No caso de dissolução do conselho, os membros da igreja serão
oportunamente convocados para eleger novos presbíteros.
Acima do presbitério está o sínodo, que é constituído de um conjunto
de presbitérios. As decisões do sínodo são tomadas em assembleias constituídas
de pastores e presbíteros – representantes dos presbitérios. O sínodo supervi-
siona o trabalho dos presbitérios.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 116 18/07/2011, 16:19


O PRESBITERIANISMO NO BRASIL 117
O governo da igreja no nível nacional é exercido pelo supremo concílio.
As decisões do supremo concílio são tomadas em assembleias constituídas
de pastores e presbíteros – representantes dos presbitérios.
Os concílios exercem funções administrativas e judiciárias. Os mem-
bros da igreja e os oficiais estão sujeitos à disciplina, aplicada pelo conselho.
A disciplina pode ser: admoestação, que consiste em chamar à ordem o culpado,
verbalmente ou por escrito, de modo reservado, exortando-o a corrigir-se; afas-
tamento da comunhão, que consiste no impedimento de participar da Santa
Ceia, das assembleias e de exercer qualquer atividade na igreja; exclusão, que
consiste na eliminação do membro do rol da igreja. Os pastores estão sujeitos à
disciplina, aplicada pelo presbitério.
O conselho e o presbitério, quando vão tratar de disciplina de seus
membros, transformam-se em tribunais. A pessoa disciplinada, se julgar a disci-
plina injusta, poderá recorrer ao concílio imediatamente superior, pedindo anu-
lação de sua disciplina. Se o recurso for encaminhado ao presbitério, este se
reunirá em tribunal para julgá-lo. O sínodo e o supremo concílio têm o seu
tribunal de recursos, cuja função é julgar em nível de recurso os processos de
disciplina que subirem a eles.
Para se orientar no governo e na disciplina, os concílios têm a Consti-
tuição, o Código de Disciplina e os Princípios de Liturgia da Igreja Pres-
biteriana do Brasil. A Constituição traz as normas administrativas; o Código
de Disciplina, as normas para disciplina eclesiástica dos membros da igreja,
dos pastores e dos concílios; e os Princípios de Liturgia, as normas para o
culto, a ministração dos sacramentos e das cerimônias eclesiásticas. Compete
a cada concílio observar essas normas em seus próprios atos e verificar se elas
estão sendo observadas pelos concílios que estão sob sua jurisdição.
Cada concílio cuida de assuntos de sua competência e supervisiona,
orienta, inspeciona e disciplina o concílio imediatamente inferior. Um concílio
não poderá determinar a maneira de o concílio imediatamente inferior agir em
nenhuma matéria de sua exclusiva competência. Mas poderá fazê-lo retroce-
der, reformar ou anular qualquer deliberação que fira algum princípio doutri-
nário ou constitucional da Igreja Presbiteriana do Brasil.
De toda reunião de cada concílio lavra-se ata pormenorizada, que
periodicamente é submetida à apreciação do concílio superior. Isto é, as
atas do conselho são submetidas ao presbitério; as do presbitério, ao sínodo; e
as do sínodo, ao supremo concílio. Mediante o exame das atas, o concílio
verifica se o concílio imediatamente inferior está agindo dentro das normas da
Igreja Presbiteriana do Brasil.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 117 18/07/2011, 16:19


118 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
CONCLUSÃO
Cada igreja cristã é uma parte visível da invisível Igreja de Cristo. Uma
igreja local é uma organização eclesiástica. Como organização, ela necessita
de princípios e normas para se conduzir. Mas a Igreja é mais do que uma simples
organização. Ela é um organismo. É o Corpo de Cristo. “Ora, vós sois corpo de
Cristo; e, individualmente, membros desse corpo” (1Co 12.27). No corpo exis-
tem muitos membros, com funções diferentes. Mas todos constituem um só
corpo. Por isso, não pode haver divisão, discórdia ou porfia entre os membros
do corpo. O mesmo se aplica aos membros da igreja. Inimizades, porfias, ciú-
mes, iras, discórdias, dissensões, facções e coisas semelhantes a essas não po-
dem existir na igreja. A comunhão entre os membros de uma igreja deve gerar
também comunhão entre as igrejas.
Jesus Cristo é a cabeça do corpo, da Igreja. Por isso, cada membro,
como parte desse corpo, deve ser obediente ao Senhor Jesus Cristo.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 118 18/07/2011, 16:19


119

17
O BATISMO CRISTÃO
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo:
Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado.”
Mateus 28.18-20

A igreja é a organização instituída por Deus para arrebanhar o seu


povo. E o batismo é a porta de entrada na igreja.
“O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus
Cristo, não só para solenemente admitir na igreja a pessoa batizada, mas tam-
bém para servir-lhe de sinal e selo do pacto da graça, de sua união com Cristo,
da regeneração, da remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus
por Jesus Cristo a fim de andar em novidade de vida.”98
A palavra sacramento não está na Bíblia. Ela foi usada em relação ao
batismo e à Ceia do Senhor, pela primeira vez, por Tertuliano, um teólogo que
viveu muitos anos após a morte de Cristo e dos apóstolos. Mas isso não signi-
fica que ela seja imprópria para designar as duas ordenanças deixadas por
Jesus para serem observadas por seus servos. Sacramento era o nome dado ao
juramento que o soldado fazia de fidelidade ao imperador até à morte. E é
nesse sentido que nós usamos esse termo. No batismo o crente faz um jura-
mento de fidelidade a Cristo até a morte; e quando participa da Santa Ceia o
crente reafirma esse juramento. Portanto, quando falamos em sacramento, esta-
mos nos referindo a uma ordenança sagrada, instituída por Jesus Cristo, para
simbolizar, selar e aplicar ao crente os benefícios da salvação.
Jesus instituiu dois sacramentos: o batismo e a Santa Ceia. Iremos,
agora, estudar o batismo.
O SIGNIFICADO DO BATISMO

O batismo foi instituído por Jesus Cristo após a sua ressurreição. Ele orde-
nou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 119 18/07/2011, 16:19


120 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). “Quem crer e for
batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.16).
O batismo corresponde à circuncisão praticada na antiga aliança.
A circuncisão foi instituída como sinal e selo do pacto estabelecido com Abraão
(Gn 17.9-14; Rm 4.11-13). E o batismo é o sinal e o selo da nova aliança,
estabelecida por Jesus Cristo. Mas o batismo, por ser um sacramento da nova
aliança, é ainda mais rico de significado do que a circuncisão. Após ouvir o
sermão de Pedro, no dia de Pentecostes, quase três mil pessoas se sentiram
tocadas e lhe perguntaram: “Que faremos?” (At 2.37). E a resposta foi:
“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado” (At 2.38).
a) O batismo significa e sela a nossa união com Cristo
No capítulo 5 da carta aos romanos, Paulo traça um paralelo entre
Adão e Cristo. Ele mostra que, quando nascemos, nos identificamos com Adão.
E, em virtude da queda de nossos primeiros pais, nascemos pecadores;
“por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim
também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12).
Mas quando recebemos Jesus como nosso Senhor e Salvador, nós nos identifi-
camos com ele. “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos
se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, mui-
tos se tornarão justos” (Rm 5.19). Por isso, a Bíblia afirma que fomos crucifi-
cados (Rm 6.6), morremos (Rm 6.8; Cl 3.3; 2Tm 2.11) e ressuscitamos (Ef 2.6;
Cl 2.12; 3.1) com Cristo. “Um morreu por todos; logo, todos morreram” (2Co
5.14), afirmou o apóstolo Paulo. E o batismo significa e sela a nossa união com
Cristo. “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também ande-
mos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança
da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurrei-
ção” (Rm 6.4-5).
b) O batismo significa e sela a nossa participação nas bênçãos do pacto
da graça
Antes da fundação do mundo, o Pai e o Filho estabeleceram o pacto da
redenção. O Filho “se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se de fazer a
expiação do pecado, suportando o castigo necessário, e de satisfazer as exigên-
cias da lei em lugar de todo o seu povo”.99 Baseado nesse pacto, Deus estabe-
leceu com o homem o pacto da graça. “Pode-se definir a aliança (pacto) da
graça como o acordo feito, com base na graça, entre o Deus ofendido e o peca-
dor ofensor, porém eleito, no qual Deus promete a salvação mediante a fé em
Cristo, e o pecador a aceita confiantemente, prometendo uma vida de fé e
obediência.”100 A promessa principal do pacto da graça é que Deus será o nosso
Deus e também da nossa descendência. Essa promessa inclui bênçãos temporais
e eternas. Por meio dela Deus garante nos conduzir nesta vida e nos receber no

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 120 18/07/2011, 16:19


O BATISMO CRISTÃO 121
céu, após a nossa morte. E o batismo significa e sela essas promessas.
“De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro
por Deus” (Gl 4.7).
c) O batismo significa e sela a promessa de pertencermos ao Senhor.
Na cerimônia de recepção de membros, o celebrante costuma dizer às
pessoas que estão professando a fé: “A profissão de fé e as solenes promessas
que acabais de fazer diante de Deus e desta igreja, sendo sinceras, importam
em uma aliança entre vós e Deus, na qual ele promete ser o vosso único Deus,
e vós prometeis pertencer-lhe. No batismo que agora vai ser ministrado,
Deus vos dá um penhor desta santa aliança.”101 Nós pertencemos ao Senhor.
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de proprieda-
de exclusiva de Deus” (1Pe 2.9). E o batismo é o selo da propriedade divina.
d) O batismo é um meio de graça
O batismo é um meio que Deus usa para nos transmitir bênçãos.
A Confissão de Fé nos lembra de que “a eficácia do batismo não se limita ao
momento em que é administrado”.102 E o Catecismo Maior nos ensina que “o
dever necessário, mas muito negligenciado, de tirar proveito do nosso batismo
deve ser cumprido por nós durante a nossa vida, especialmente no tempo da
tentação e quando assistimos à administração desse sacramento a outros”.103
BATISMO POR IMERSÃO
A forma do batismo não está claramente definida na Bíblia. Homens
piedosos, cultos e fiéis, examinando a Escritura, têm concluído que o modo
correto de se ministrar o batismo é a aspersão. Outros, igualmente piedosos,
cultos e fiéis, têm concluído que a forma bíblica é a imersão.
Vamos examinar, a seguir, a interpretação imersionista.
a) Os imersionistas afirmam que a palavra batismo significa
imersão; e que o verbo batizar significa imergir. Logo – afirmam –, o
batismo deve ser aplicado por imersão.
A forma mais simples de testar se duas palavras são sinônimas é subs-
tituir uma pela outra; se o sentido não se alterar, fica provado que as duas têm
o mesmo significado. Vamos aplicar esse teste a um texto bíblico onde aparece o
verbo batizar: “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram
todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados,
assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés” (1Co 10.1-2). Substi-
tuindo batizar por imergir, fica assim: “tendo sido todos imersos, assim na
nuvem como no mar” Alterou o sentido? É claro. Os israelitas atravessaram o
mar a pés enxutos (Êx 14.15-22,29). Não foram imersos no mar, nem na nu-
vem. Concluímos, pois, que, nesse texto, o verbo batizar não é sinônimo de
imergir. O argumento imersionista perde a sua força, pois o seu pressuposto é
que batizar significa sempre imergir.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 121 18/07/2011, 16:19


122 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
b) Os imersionistas argumentam também que o verbo batizar
deriva do grego bapto e baptizo, que significam imergir.
Vamos examinar dois textos onde aparecem esses verbos. O primeiro é
Daniel 4.25: “e serás molhado do orvalho do céu”. Na versão grega do Antigo
Testamento, chamada Septuaginta, o particípio ‘molhado’ é bapto. É possível
imergir alguém no orvalho do céu? Claro que não é. Logo, aqui, bapto não si-
gnifica, em hipótese nenhuma, imergir. O segundo texto é Lucas 11.38: “O fariseu,
porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara primeiro, antes de comer”.
No texto grego, lavava é o verbo baptizo. Os judeus se lavavam antes das
refeições. Mas, se lavavam como? Marcos registrou esse costume assim: “Os
fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem
lavar cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não comem sem se
aspergirem” (Mc 7.3-4). Comparando esses dois textos, podemos afirmar que
em Lucas 11.38 o verbo baptizo significa aspergir e não imergir. Em alguns
textos bapto e baptizo significam imergir; em outros significam molhar, tingir e
aspergir. Novamente o argumento imersionista perde a sua força, pois parte do
pressuposto de que bapto e baptizo significam imergir, e só imergir.
c) Os imersionistas afirmam também que o fato de João Batista
batizar no rio Jordão significa que ele batizava por imersão.
A expressão bíblica “João batizava no rio Jordão” apenas identifica a
região onde João batizava, sem ter relação com o modo ou a forma como
João batizava. Isso fica comprovado pelo registro de João 10.40: “Novamente,
se retirou para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio;
e ali permaneceu”.
d) Argumentam também que se João Batista batizava em Enom,
“porque ali havia muitas águas”, isso prova que ele batizava por imersão.
Quanto ao registro de que “João estava também batizando em Enom,
perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e para lá concorria o povo e era
batizado” (Jo 3.23), D. J. Wiseman, professor de Assiriologia na Universidade
de Londres, afirma que Enom é, em árabe, Ain, que significa fonte.104 Muitas
águas aqui, portanto, significa muitas fontes de água. Enom era o lugar apro-
priado para João batizar, já que multidões iam até lá, e essas multidões precisa-
vam de água para beber e para higiene pessoal.
e) Os imersionistas afirmam que Jesus foi batizado por imersão,
porque o registro bíblico afirma que, após ser batizado, Jesus saiu da água.
O fato de Jesus ter saído da água após o batismo não significa que ele
tenha sido batizado por imersão. Nem todas as vezes que uma pessoa entra e
sai da água configura-se uma imersão. Às vezes uma pessoa entra e sai da água
sem molhar nada mais além dos pés.
f) No batismo do eunuco, este e Filipe desceram à água. Por isso os
imersionistas afirmam que o eunuco foi batizado por imersão.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 122 18/07/2011, 16:19


O BATISMO CRISTÃO 123
No caso do eunuco, ele seguia pelo caminho. E este, normalmente, fica
num nível acima da água. Logo, para ir até onde havia água ele teria de descer.
Se descer à água significasse imersão, teríamos de concluir que Filipe também
foi imerso, pois o texto bíblico afirma que “ambos desceram à água” (At 8.38).
g) Paulo compara o batismo a um sepultamento. Logo, conclu-
em os imersionistas, o batismo deve ser feito por imersão.
Quando Paulo afirmou que fomos sepultados com Cristo na morte pelo
batismo (Rm 6.4; Cl 2.12), ele estava se referindo ao significado do batismo, e
não, ao modo de ministrá-lo. Nos mesmos capítulos Paulo afirma também que
fomos circuncidados (Cl 2.11) e crucificados (Rm 6.6) com Cristo, prova de
que ele está tratando da nossa identificação com Cristo na sua morte, e não da
forma de se ministrar o batismo.
Além do que já foi exposto, temos outras dificuldades para aceitar o
batismo por imersão. Por exemplo: João Batista batizava multidões (Mt 3.5,6),
além de pregar. Será que ele dispunha de tempo e energia física para imergir
tanta gente? No dia de Pentecostes foram batizadas quase três mil pessoas em
Jerusalém. Não havia rio na cidade. Apenas reservatórios de água para uso da
população. Seriam tais reservatórios suficientes para imergir três mil pessoas?
E se fossem, as autoridades deixariam os apóstolos imergir pessoas em tais
reservatórios? O carcereiro de Filipos foi batizado logo depois da meia-noite,
provavelmente no pátio da prisão onde residia, após um terremoto que fendeu
as paredes da prisão (At 16.23-33). É possível pensar em imersão num caso
como esse? Uma pessoa doente ou muito idosa não dispõe de condições físicas
para ser batizada por imersão; será que Jesus adotaria uma forma de batismo
que excluiria os doentes e idosos?
O BATISMO POR ASPERSÃO
Embora a forma do batismo não esteja clara na Bíblia, cremos que
muitas evidências apontam para a aspersão, ou seja, para o derramamento de
água sobre a cabeça das pessoas que estão sendo batizadas.
Examinemos algumas dessas evidências:
a) O profeta Malaquias escreveu o seguinte: “Eis que eu envio o
meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim” (Ml 3.1).
Jesus afirmou que essa profecia se refere a João Batista (Mt 11.10).
A mesma profecia diz que o mensageiro “purificará os filhos de Levi”
(Ml 3.3). Essa purificação era feita aspergindo água sobre eles (Nm 8.5-7).
A linguagem da profecia é simbólica. Mas a figura usada é a aspersão.
Muitos sacerdotes, filhos de Levi, foram batizados por João Batista. E o mais
provável é que tenham sido batizados por aspersão, conforme dá a enten-
der a profecia de Malaquias.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 123 18/07/2011, 16:19


124 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
b) O profeta Ezequiel, profetizando sobre a restauração de
Israel, disse: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis puri-
ficados” (Ez 36.25).
O profeta Isaías, quando profetizou que o Senhor derramaria o seu Espí-
rito, afirmou também que ele derramaria água “sobre o sedento” (Is 44.3). Nova-
mente trata-se de linguagem figurada; mas a figura usada é a aspersão. Isso
nos leva a concluir que a aspersão de água é o modo escolhido por Deus para
marcar o seu povo. O batismo de João era, entre outras coisas, a marca de uma
nova era. Era o selo colocado sobre as pessoas que se arrependiam de seus
pecados. Logo, provavelmente era feito por aspersão.
c) Jesus falou aos discípulos sobre o batismo com o Espírito Santo
que eles receberiam, usando a mesma construção gramatical usada para
falar sobre o batismo com água.
Ele disse: “João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis
batizados com o Espírito Santo” (At 1.5). No dia de Pentecostes eles recebe-
ram esse batismo: “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reu-
nidos no mesmo lugar; [...] Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2.1,4).
Pedro se referiu a essa experiência ao defender-se por ter batizado Cornélio
e seus familiares. Ele disse: “Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito
Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da
palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas
vós sereis batizados com o Espírito Santo” (At 11.15-16). Observe que no
batismo com o Espírito Santo, o Espírito caiu sobre as pessoas. Já que a
construção gramatical é a mesma, no batismo com água, esta deve cair sobre
a pessoa que está sendo batizada.
d) Ainda que ficasse provado que João Batista batizava por
imersão, que Jesus foi batizado por imersão e que os apóstolos batiza-
vam por imersão, poderíamos continuar batizando por aspersão, sem
desobedecer à Bíblia Sagrada.
Pois no batismo a água é símbolo. Logo, não importa a quantidade.
Pois é desse modo que procedemos na Ceia do Senhor. Usamos uma peque-
na quantidade de pão e vinho, mesmo sabendo que Jesus usou quantidades
normais desses elementos. A Ceia celebrada por Jesus era uma refeição.
A que celebramos hoje faz parte do culto. E nem por isso estamos desobede-
cendo ao Senhor.

Como a Bíblia não diz explicitamente a forma como o batismo deve


ser feito, praticamos a aspersão, pois ela é mais prática – pode ser pratica-
da em qualquer lugar, em qualquer circunstância e com qualquer pessoa,
mesmo que o batizando seja um enfermo, uma pessoa muito idosa ou um

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 124 18/07/2011, 16:19


O BATISMO CRISTÃO 125
paralítico. Nós cremos que Deus não determinaria uma forma de batismo
que discriminasse qualquer pessoa por deficiência física. E a aspersão não
discrimina ninguém.
CONCLUSÃO

A pessoa que recebeu Jesus como Salvador e Senhor está salva, quer
tenha sido batizada ou não. Quem salva é Jesus e não o batismo. Mas quem
recebe Jesus deve também receber o batismo. Jesus e os apóstolos falaram do
batismo como uma obrigação e não como uma opção. A nossa Confissão de
Fé afirma que é “grande pecado desprezar ou negligenciar essa ordenança”.
A experiência tem mostrado que, assim como o sedento anseia pela
água, o verdadeiro convertido anseia pelo batismo.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 125 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 126 18/07/2011, 16:19
18
O BATISMO DOS
FILHOS DOS CRENTES
“Para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe,
isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.”
Atos 2.39

Deus faz tudo perfeito. Quando ele fez o plano para a nossa salvação,
incluiu uma organização para nos arrebanhar. Na antiga aliança, essa organiza-
ção era a congregação de Israel, formada pela nação israelita. Na nova aliança,
é a igreja, formada pelos servos de Jesus Cristo.
A essa altura surge uma pergunta: E as crianças?. Elas herdaram a
culpa de Adão e já nasceram pecadoras. E ainda não dispõem de maturidade
psíquica e emocional para entender o evangelho e receber Jesus como Salva-
dor e Senhor. Qual é a situação espiritual das crianças?
A Bíblia Sagrada mostra que as crianças são herdeiras espirituais de seus
pais. Quando os pais se rebelam contra Deus, as crianças também sofrem as
consequências. Mas, quando os pais são fiéis, elas também são beneficiadas.
As crianças, filhas de crentes, são herdeiras espirituais de seus pais. Per-
tencem ao Senhor. Por isso têm direito de receber o batismo e pertencer à igreja.
As crianças que morrem na infância, sendo eleitas, são salvas, indepen-
dente da situação espiritual de seus pais. Elas são regeneradas e salvas por
Cristo, “mediante o Espírito que opera quando, onde e como quer”.105
O BATISMO E A CIRCUNCISÃO
O apóstolo Paulo mostra que o batismo equivale à circuncisão.
Ele escreveu: “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de
mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é circuncisão de Cristo;
tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente
fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre
os mortos” (Cl 2.11-12).
Na antiga aliança as crianças eram circuncidadas. Quando Deus estabe-
leceu a aliança com Abraão, ele instituiu a circuncisão como sinal e selo do
pacto. “Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descen-
dência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 127 18/07/2011, 16:19


128 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado.
[...] O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida
será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança” (Gn 17.9-10,14).
A circuncisão, por sua natureza, se aplicava apenas às pessoas do sexo mas-
culino. De acordo com os costumes da época, as mulheres não tinham au-
tonomia para tomar as suas próprias decisões. Elas eram sempre representa-
das por um homem: quando solteiras, pelo pai; quando casadas, pelo marido.
Por isso, elas não precisavam receber nenhum sinal do pacto.
Quando Jesus estabeleceu a nova aliança, ele instituiu o batismo como
sinal e selo desse novo pacto. Ele ordenou: “Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mt 28.19-20). “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer
será condenado” (Mc 16.16).
A equivalência entre circuncisão e batismo é bem clara. Lembremo-
nos de que a antiga aliança foi feita com Abraão; e para fazer parte dessa
aliança a pessoa tinha de pertencer à descendência de Abraão – por nascimento,
por adesão ou por ter sido comprada. Mas Deus estabeleceria uma nova ali-
ança, mediante Jesus Cristo, onde a consanguinidade seria substituída pela fé.
Discorrendo sobre essa nova aliança, o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito
Santo, mostrou que, nela, a descendência de Abraão ocorre mediante a fé,
e não mediante laços consanguíneos. Ele escreveu: “Sabei, pois, que os da fé é
que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria
pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados
todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em
nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em
madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a
fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido” (Gl 3.7-9,13-14). Portan-
to, para fazer parte da nova aliança a pessoa precisa crer em Jesus Cristo como
Salvador e Senhor. O sinal e selo da antiga aliança era a circuncisão.
O sinal e selo da nova aliança é o batismo. Na antiga aliança, o Senhor mandou
circuncidar (Gn 17.9-14); na nova aliança, o Senhor mandou batizar (Mt 28.18-
20; Mc 16.15-18). Se os filhos dos crentes da antiga aliança recebiam o sinal e
selo da aliança, somos levados a concluir que os filhos dos crentes da nova alian-
ça devem receber o batismo, que é o sinal e selo dessa aliança.
Algumas pessoas perguntam: Se o batismo equivale à circuncisão, por
que Jesus e os apóstolos foram batizados, se eles tinham sido circuncidados?
A resposta é que Jesus e os apóstolos viveram no período de transição entre a
antiga e a nova aliança. Eles foram circuncidados porque eram descendentes
de Abraão e pertenciam à antiga aliança. Foram batizados porque pertenciam à

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 128 18/07/2011, 16:19


O BATISMO DOS FILHOS DOS CRENTES 129
nova aliança, estabelecida por Jesus Cristo. Eles pertenceram às duas alianças
e receberam o sinal e selo de ambas: a circuncisão e o batismo. Da mesma
forma, eles celebravam a Páscoa, que fazia parte da antiga aliança, e a Ceia do
Senhor, que faz parte da nova aliança.
O BATISMO DE CRIANÇAS NO NOVO TESTAMENTO
Apesar de todas essas evidências, algumas pessoas ainda insistem na
pergunta: Onde está escrito na Escritura Sagrada que as crianças devem ser
batizadas? Explicitamente não está escrito em lugar nenhum. Mas a ausência de
tal determinação explícita não anula práticas anteriores nem aquilo que se pode
deduzir de outros ensinos. Caso dependêssemos de uma ordem explícita, regis-
trada na Escritura, para estabelecermos práticas na igreja, não poderíamos per-
mitir que as mulheres participassem da Ceia do Senhor, pois quando a Ceia foi
instituída só homens participaram, e não existe nenhum texto que afirma explici-
tamente que as mulheres também devem participar dela. No entanto, ninguém
questiona o direito que as mulheres têm de participar desse sacramento.
O Novo Testamento não diz explicitamente que as crianças devem ser
batizadas. Mas implicitamente ensina o batismo de crianças. Veja estas três
inferências bem claras:
a) O apóstolo Paulo relaciona o batismo com a circuncisão sem afirmar
que as crianças estão excluídas do batismo. A equivalência entre batismo e cir-
cuncisão é muita clara, conforme já vimos. Na antiga aliança, as crianças que
nasciam dentro do pacto, isto é, os descendentes de Abraão, eram circuncidadas
ao oitavo dia. Já que o batismo é “a circuncisão de Cristo” (Cl 2.11) na nova
aliança, seria necessário uma ordem explícita para que as crianças que nascem
no pacto, isto é, filhos de crentes, fossem impedidas de recebê-lo.
b) O Novo Testamento registra o batismo de pelo menos três famílias
inteiras, sem mencionar que as crianças não foram batizadas. Lídia foi batiza-
da juntamente com toda a sua casa (At 16.15); o carcereiro foi batizado, e
também todos os seus (At 16.33). Paulo declara ter batizado “a casa de
Estéfanas” (1Co 1.16).
c) No batismo da casa de Lídia é possível que crianças tenham sido
batizadas. “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de
púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para aten-
der às coisas que Paulo dizia. Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos
rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí
ficai. E nos constrangeu a isso” (At 16.14-15). Lídia e toda a sua casa recebe-
ram o batismo. Nesse mesmo capítulo está registrado o batismo do carcereiro
e de todos os seus. No caso do carcereiro, está registrado que “ele, com todos
os seus, manifestava grande alegria, por terem crido em Deus” (At 16.34).
Logo, entre os filhos do carcereiro havia adultos que também creram e foram

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 129 18/07/2011, 16:19


130 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
batizados. Mas, no caso de Lídia, o registro bíblico cita apenas a conversão
dela. Mas ela e toda a sua casa foram batizados. Se seus filhos eram adultos,
então foram batizados sem conversão. Paulo não faria isso. Logo, os filhos de
Lídia eram crianças, que foram batizadas juntamente com sua mãe.
Mas existe ainda outra objeção a ser respondida. É a que se refere à
necessidade de fé para receber o batismo. Jesus afirmou: “Quem crer e for
batizado será salvo”. E algumas pessoas, baseadas nesse texto, afirmam que as
crianças não podem ser batizadas porque não têm maturidade psíquica e
emocional para exercer a fé. Só que tais pessoas se esquecem de que o
texto diz também: “quem, porém, não crer será condenado”. Se o texto se
referisse também às crianças, teríamos de concluir que elas serão condenadas.
Mas Jesus disse que delas “é o reino de Deus” (Mc 10.14). Logo, o texto se
refere aos adultos que iam ouvir o evangelho. Se eles cressem e recebessem o
batismo, estariam salvos. Se não cressem, seriam condenados.
O batismo dos filhos dos crentes é praticado na Igreja Cristã desde o
seu início, como parte da doutrina dos apóstolos. Existem registros históricos da
maior confiabilidade mostrando a prática do batismo infantil na igreja, desde o
seu início. Orígenes, grande teólogo e escritor cristão, nascido no ano 185, em
suas Homilias em Lucas, afirma: “portanto as crianças são também batizadas”;
em seus Sermões sobre Levítico ensina que “as crianças também, segundo o
costume da igreja” eram batizadas; e em seu Comentário de Romanos registra
que “a igreja recebeu dos apóstolos a tradição de batizar também as crianças”.
Hipólito, outro grande teólogo e escritor cristão do século 2º, em sua obra
Tradição apostólica, testemunha que a Igreja Cristã daquela época bati-
zava crianças. Tertuliano, considerado o primeiro teólogo latino, em sua
obra De Baptismo, escrita por volta dos anos 200-206, embora tenha cometi-
do alguns desvios doutrinários, também testemunha que a Igreja Cristã batiza-
va crianças.106 Só a partir do século 16, com o surgimento dos anabatistas, é
que o batismo de crianças passou a ser contestado.
OS BENEFÍCIOS DO BATISMO DOS
FILHOS DOS CRENTES
Alguns pais perguntam: o que vou ganhar batizando meus filhos?
Essa pergunta deveria ser acompanhada de uma outra: o que vou per-
der se não batizar meus filhos?
Na antiga aliança, a criança que não fosse circuncidada era excluída do
pacto, não pertencia ao Senhor (Gn 17.14). Por analogia, somos levados a
concluir que os pais que não apresentam seus filhos para o batismo os estão
excluindo da nova aliança. Isso não significa que esses pais estão condenando
seus filhos ao inferno. Mas os estão colocando na mesma condição dos filhos
daqueles que não têm Jesus como Salvador e Senhor. É a mesma situação de

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 130 18/07/2011, 16:19


O BATISMO DOS FILHOS DOS CRENTES 131
um pai muito rico que deixa de reconhecer um filho. Esse filho fica excluído da
herança, a não ser que ele provoque esse reconhecimento por via judicial. Em
Cristo nós temos uma grande herança de bênçãos espirituais; e não é justo
privarmos os nossos filhos dessa herança.
Os nossos filhos, como nossos herdeiros espirituais, têm direito às mes-
mas bênçãos que nos estão reservadas. Eles pertencem ao Senhor, por isso são
guiados e protegidos pelo Senhor. Eles só perderão o direito a tais bênçãos se
nós os excluirmos do pacto. Quando se tornam adultos, eles passam a respon-
der espiritualmente por eles próprios. Aí compete a eles decidir se vão perma-
necer na fé em que foram criados e confirmar isso pela aceitação de Jesus
como Salvador pessoal e Senhor, ou se vão renunciar às bênçãos de pertencer
ao Senhor. Não existe meio-termo. Jesus afirmou: “Quem não é por mim é
contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Mt 12.30).
Alguns pais alegam que não apresentam seus filhos para o batismo por-
que religião é algo muito pessoal, cuja escolha deve ser feita pelo próprio
indivíduo. Preferem instruir seus filhos e deixar que eles mesmos, na idade
apropriada, escolham o caminho que devem seguir. Mas esses mesmos pais
“não sentem o mesmo embaraço quando lhes escolhem um nome, vestuário,
alimento, medicamentos, educação, etc. Qual pai ou mãe espera o filho ou a
filha crescer para decidir sozinho se quer ir à escola, comer determinado ali-
mento indispensável à saúde, decidir se toma ou não vacina, se quer ou não ir
ao médico? Ora, se nós, no propósito de fazer o melhor para o bem-estar dos
filhos, tomamos decisões que irão afetá-los por toda a vida, por que não
consagrá-los a Deus pelo batismo, quando Deus tem promessas e deseja salvar
toda a família?”107
Mas as bênçãos espirituais que nossos filhos irão receber como nossos
herdeiros não dependem apenas do batismo, mas também da nossa fidelidade
ao Senhor. Acã tinha sido circuncidado, circuncidara seus filhos, mas se tor-
nou infiel ao Senhor. Como resultado, morreu juntamente com toda a sua famí-
lia (Js 7.16-26). Crentes infiéis não têm herança de bênçãos espirituais para
legar aos seus filhos, mesmo que os apresentem para receber o batismo.
CONCLUSÃO
O povo de Deus é formado por adultos e crianças. Os adultos receberam
Jesus como Salvador e Senhor. São filhos de Deus. Pertencem ao Senhor.
As crianças, seus filhos, são herdeiras espirituais dos pais. Como herdeiras
espirituais, têm direito às mesmas bênçãos. Por isso devem ser batizadas.
Deixar de batizá-las é excluí-las dessa herança bendita.
O nosso Deus é também o Deus de nossos filhos.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 131 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 132 18/07/2011, 16:19
19
A CEIA DO SENHOR
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei:
que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós;
fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado,
tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue;
fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.”
1 Coríntios 11.23-25

Jesus Cristo instituiu dois sacramentos: o batismo e a ceia do Senhor.


O batismo é a porta de entrada na igreja. E a Ceia do Senhor tem como objetivo
fortalecer espiritualmente os crentes e manter a unidade da igreja. “Os crentes
comungam recebendo juntos o emblema do corpo partido do Senhor e bebendo
do vinho, símbolo do seu sangue derramado, significando com isso que lhes
cumpre como igreja pensar unanimemente na fonte – Cristo – de onde promana
a salvação.”108
Assim como o batismo é o sucessor da circuncisão, a Ceia do Senhor
é a sucessora da Páscoa.
A PÁSCOA
Quando Deus chamou Abraão para servi-lo, fez-lhe várias promessas:
“de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome.
Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.2-3).
Mais tarde Jacó, a quem Deus deu o nome de Israel, neto de Abraão,
foi com sua família para o Egito. Eram apenas setenta pessoas (Gn 46.27).
“Mas os filhos de Israel foram fecundos, e aumentaram muito, e se multiplica-
ram, e grandemente se fortaleceram, de maneira que a terra se encheu deles”
(Êx 1.7). E o rei, Faraó, resolveu escravizá-los.
Quando Deus ordenou a Moisés que retirasse os israelitas do Egito e os
conduzisse para Canaã, o rei se opôs. Não queria perder a mão-de-obra gratuita.
Então Deus mandou uma série de pragas sobre o Egito. A última delas foi a morte
dos primogênitos. “Moisés disse: Assim diz o SENHOR: Cerca da meia-noite passa-
rei pelo meio do Egito. E todo primogênito na terra do Egito morrerá, desde o
primogênito de Faraó, que se assenta no seu trono, até ao primogênito da serva

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 133 18/07/2011, 16:19


134 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
que está junto à mó, e todo primogênito dos animais. Haverá grande clamor em
toda a terra do Egito, qual nunca houve, nem haverá jamais; porém contra
nenhum dos filhos de Israel, desde os homens até aos animais, nem ainda um
cão rosnará, para que saibais que o SENHOR fez distinção entre os egípcios e os
israelitas” (Êx 11.4-7).
Os israelitas deviam sacrificar um cordeiro sem defeito, macho de um
ano, e, com o seu sangue, marcar as ombreiras e a verga da porta de sua casa.
Cada família devia sacrificar um cordeiro. Se a família fosse pequena, podia
convidar o vizinho mais próximo.
O que Deus prometeu realmente se cumpriu. “Aconteceu que, à
meia-noite, feriu o SENHOR todos os primogênitos na terra do Egito, desde o
primogênito de Faraó, que se assentava no seu trono, até ao primogênito do
cativo que estava na enxovia, e todos os primogênitos dos animais. [...] não
havia casa em que não houvesse morto” (Êx 12.29-30). Mas na casa dos
israelitas nada aconteceu, nem o rosnar de um cão.
Deus deu a esse acontecimento o nome de Páscoa (Pesah, em hebraico,
que vem de um verbo que significa passar por cima, poupar). E ordenou que
ela fosse comemorada todos os anos. “Páscoa significa, naturalmente, duas
coisas: o acontecimento histórico e sua posterior comemoração repetida.”109
Mas a Páscoa tem ainda um terceiro significado: o cordeiro sacri-
ficado fazia as vezes de Jesus Cristo, “nosso Cordeiro pascal” (1Co 5.7).
Assim como o sangue do cordeiro livrou os primogênitos dos israelitas da
morte, o sangue de Jesus, “nosso Cordeiro pascal”, nos livra da morte eterna,
da condenação ao inferno.
A INSTITUIÇÃO DA CEIA DO SENHOR
Nos dias de Jesus, a Páscoa era comemorada com o sacrifício do
cordeiro, com os pães asmos (sem fermento) e mais quatro elementos:
a) Uma taça de água salgada, para relembrar as lágrimas derramadas
no Egito e as águas salgadas do mar Vermelho, que os israelitas atravessaram
a pés enxutos;
b) Várias ervas amargas, para recordar a amargura da escravidão,
e o hissope usado para borrifar o sangue do cordeiro nas ombreiras e na
verga da porta da casa dos israelitas, quando Deus mandou a praga da
morte dos primogênitos;
c) Uma massa feita de maçã, romã, tâmara e nozes, chamada
carosheth, para recordar o barro que usavam no Egito para fazer tijolos; peda-
ços de casca de canela eram colocados na sopa para lembrar a palha que
usavam para secar e queimar os tijolos.
d) Quatro copos de vinho, para recordar-lhes as quatro promessas
registradas em Êxodo 6.6-7: “Eu sou o SENHOR, e vos tirarei de debaixo das

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 134 18/07/2011, 16:19


A CEIA DO SENHOR 135
cargas do Egito, e vos livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço
estendido e com grandes manifestações de julgamento. Tomar-vos-ei por meu
povo e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus, que
vos tiro de debaixo das cargas do Egito”. Durante a celebração cantavam os
Salmos 113 a 118 e, para encerrar, o Salmo 136.
Lucas registra que Jesus, aos 12 anos de idade, participou da comemora-
ção da Páscoa, em Jerusalém, em companhia de seus pais (Lc 2.41-50). Prova-
velmente essa participação se repetiu durante toda a vida terrena de Jesus.
Numa quinta-feira, Jesus celebrou a Páscoa pela última vez e instituiu
a Santa Ceia. “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o
partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir,
tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele
todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em
favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt 26.26-28).
A Páscoa apontava, ao mesmo tempo, para o passado e para o futuro.
Era a comemoração da saída do Egito e a prefiguração do sacrifício do Messias.
O cordeiro pascal apontava para Jesus. Mas o futuro tinha chegado. Jesus seria
sacrificado no dia seguinte, como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo” (Jo 1.29). Seria estabelecida uma nova aliança entre Deus e seu povo,
onde os laços de sangue seriam substituídos por laços de fé. Na antiga aliança, o
povo de Deus era constituído de descendentes de Abraão; na nova aliança, é
constituído de todos aqueles que recebem Jesus como Salvador e Senhor (Jo 1.11-
12; Gl 3.7-9). Portanto, era necessário substituir a Páscoa por uma celebração
que representasse a nova situação. E, por isso, Jesus instituiu a Santa Ceia.
“A Ceia do Senhor é o sacramento que comemora e proclama o sacri-
fício único, perfeito e completo que Cristo fez para a nossa redenção. Ela se
caracteriza por apresentar uma ou mais verdades espirituais mediante sinais
visíveis e externos. A Ceia do Senhor é uma representação simbólica da morte
de Cristo (1Co 11.24-26), um símbolo da nossa participação no sacrifício e na
vitória de Cristo (Jo 6.53) e, também, um símbolo da união espiritual de todos
os crentes (1Co 10.17; 12.13). A Ceia do Senhor é um meio de graça, isto é, um
meio que Deus usa para nos alimentar espiritualmente, promovendo assim o
nosso crescimento espiritual.”110
A PRESENÇA DE JESUS NOS ELEMENTOS DA CEIA
As palavras de Jesus “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue” têm
sido interpretadas de quatro maneiras diferentes.
a) A Igreja Católica Romana afirma que, mediante a consagração dos
elementos, pelo sacerdote, a substância do pão (hóstia) se transforma em corpo
de Cristo, e a substância do vinho se transforma em sangue de Jesus. Por isso,
essa doutrina é chamada transubstanciação.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 135 18/07/2011, 16:19


136 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
b) Os luteranos e afins rejeitaram a transubstanciação. Eles entendem
que o pão continua sendo pão e o vinho continua sendo vinho. Mas, junto com as
substâncias do pão e do vinho, no ato da celebração, estão as substâncias da carne
e do sangue de Jesus. Por isso, essa doutrina é chamada consubstanciação.
c) Zuínglio rejeitou a transubstanciação e a consubstanciação. Para
ele, a Ceia é um memorial do que Cristo fez pelos pecadores e um ato de
reafirmação de fé do participante. Essa doutrina chama-se memorial. É a dou-
trina adotada pela maioria das igrejas batistas e pentecostais.
d) Calvino, embora herdeiro do movimento de reforma iniciado por
Zuínglio, não concordou com a interpretação de memorial. Para ele, o pão e o
vinho não se transformam em outra substância, como afirma a transubstanciação.
A substância do corpo e do sangue de Jesus não se soma à substância do pão e
do vinho, como interpreta a consubstanciação. Mas, tampouco é a Ceia um
simples memorial. Jesus está presente espiritualmente no pão e no vinho.
Essa presença espiritual é tão real como o pão e o vinho. Por isso, ao participar
do pão e do vinho, o crente participa espiritualmente do corpo e do sangue de
Jesus. E, assim como pão e vinho alimentam o corpo, a presença espiritual
de Jesus nos elementos da ceia alimenta espiritualmente o participante. Essa é
a doutrina aceita pela Igreja Presbiteriana.
OS BENEFÍCIOS DA PARTICIPAÇÃO DA CEIA
A doutrina da presença espiritual de Jesus nos elementos da Santa
Ceia, que está intimamente ligada à concepção dos benefícios da participação
na Ceia, foi resumida pelo teólogo Charles Hodge, da seguinte forma: “As
virtudes e os efeitos do sacrifício do corpo do Redentor na cruz se fazem pre-
sentes no sacramento e, neste, são comunicados ao participante digno pelo
poder do Espírito Santo, que utiliza o sacramento como seu instrumento, segun-
do sua vontade soberana.”111
Reconhecemos que é muito mais cômodo adotar o ensino de Zuínglio
de que a Santa Ceia é apenas um memorial. Mas não é possível sustentar tal
doutrina diante do ensino de Paulo em 1 Coríntios 11.23-32. Se a Ceia é apenas
um memorial, como sustentar que “aquele que comer o pão ou beber o cálice do
Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor”? E que “quem
come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”? E como enten-
der que, em Corinto, havia muitas pessoas fracas e doentes, e algumas até
tinham falecido, pelo fato de haverem participado da Santa Ceia de maneira
indevida? Tudo isso evidencia que a Santa Ceia é mais do que um memorial do
que Cristo fez pelos pecadores e um ato de reafirmação de fé do participante.
Jesus está presente, espiritualmente, no pão e no vinho da Santa Ceia. E, assim
como pão e vinho são alimentos para o corpo, a presença espiritual de Jesus
alimenta a nossa alma.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 136 18/07/2011, 16:19


A CEIA DO SENHOR 137
A Ceia do Senhor é um meio de graça, isto é, um meio que Deus usa
para nos nutrir e fortalecer espiritualmente. Por isso, devemos participar dela
regularmente. Na antiga aliança, o israelita que deixasse de participar da Páscoa,
sem justificativa, era eliminado do povo de Deus (Nm 9.13). Na nova aliança, o
crente que deixa de participar da Ceia do Senhor, sem justificativa, está fechando
um canal de bênçãos para a sua vida e se aniquilando espiritualmente.
Mas não basta participar, é necessário também que a participação seja
correta. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios que a causa de existirem entre
eles “muitos fracos e doentes” (1Co 11.30) era a falta de discernimento na
participação da Ceia do Senhor. O crente deve examinar a si mesmo, preparar-se
e participar da Ceia do Senhor. Quem se examina e deixa de se preparar e de
participar, está negando o Senhor Jesus Cristo; está dizendo “sim” ao pecado e
“não” a Cristo.
“Qual é, pois, a função da Santa Ceia? A de um balanço nas contas, a de
uma limpeza na casa, a de um banho no corpo... Isso tudo não pode ser adiado,
segundo interesses pessoais, sem graves prejuízos.”112
CONCLUSÃO
Os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo – o batismo e a Ceia
do Senhor – são sinais e selos do pacto da graça. Eles são, também, o instru-
mento que Deus usa para fazer uma diferença visível entre os que pertencem
à igreja e os de fora. Por isso, os que são de Cristo devem receber o batismo e
participar regulamente da Ceia do Senhor.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 137 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 138 18/07/2011, 16:19
20
DÍZIMOS E OFERTAS
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis:
Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.”
Malaquias 3.8

Antes da fundação do mundo, Deus estabeleceu um plano para a nos-


sa salvação. E esse plano inclui uma organização para nos arrebanhar. A congre-
gação de Israel, constituída dos cidadãos da nação israelita, era a instituição
que reunia o povo de Deus na antiga aliança. Quando Jesus estabeleceu a nova
aliança, ele instituiu a igreja para arrebanhar e congregar o seu povo, substitu-
indo, assim, a congregação de Israel.
Todas as organizações necessitam de recursos financeiros para fun-
cionar. E a instituição que congrega o povo de Deus não é uma exceção.
A congregação de Israel precisava de recursos para manter o santuário e sustentar
os levitas. A igreja necessita de recursos para manter o templo e suas insti-
tuições e para sustentar aqueles que se dedicam ao seu serviço. Por isso, Deus
requer do seu povo o dízimo e as ofertas.
O DÍZIMO NO ANTIGO TESTAMENTO
Abraão foi o primeiro crente a dar o dízimo. Ele encontrou Melquisede-
que, sacerdote do Deus Altíssimo, e “de tudo lhe deu [...] o dízimo” (Gn
14.20). Mais tarde, o seu neto, Jacó, após uma experiência da presença de
Deus, fez um voto ao Senhor, onde incluiu o compromisso de entregar o dízimo
(Gn 28.18-22).
Quando Deus deu a lei, por meio de Moisés, a entrega do dízimo foi
incluída entre as obrigações do povo de Deus. O que antes era estabelecido
pelo costume, foi incorporado à lei. “Também todas as dízimas da terra, tanto
dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do SENHOR; santas são
ao SENHOR” (Lv 27.30). Os dízimos seriam usados para o sustento da tribo de
Levi, que se dedicava ao serviço do santuário. “Aos filhos de Levi dei todos os
dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da
congregação” (Nm 18.21). Em Deuteronômio 14.28-29 está escrito que o dízimo
seria usado também para amparo dos órfãos, das viúvas e de pessoas carentes.
“O dízimo era uma espécie de termômetro da vida espiritual do povo de
Deus. Nos tempos em que se mantinham fiéis a Deus, davam também o dízimo.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 139 18/07/2011, 16:19


140 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
Quando, porém, vinham períodos de pecado e desobediência, negligenciavam o
pagamento do dízimo.”113
O último livro do Antigo Testamento traz uma repreensão severa àque-
les que não entregavam o dízimo e um apelo veemente para que contribuíssem
fielmente. “Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis:
Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldi-
çoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à
casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto,
diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derra-
mar sobre vós bênção sem medida” (Ml 3.8-10).
O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO
Jesus sancionou a doutrina do dízimo. Ele disse: “Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e
tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a miseri-
córdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23).
Ele condenou os escribas e fariseus porque negligenciavam os preceitos mais
importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; mas reafirmou o dever da
entrega do dízimo. Observe que Jesus afirmou: “devíeis, porém, fazer estas
coisas, sem omitir aquelas”. Isto é, eles deviam praticar a justiça, a misericór-
dia e a fé, sem omitir a fiel entrega do dízimo.
A congregação de Israel, como organização instituída para arrebanhar o
povo de Deus, foi substituída pela igreja. Mas esta também tem pessoas a seu
serviço, que devem ser sustentadas por ela. “Não sabeis vós que os que pres-
tam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar
do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam
o evangelho, que vivam do evangelho” (1Co 9.13-14).
AS OFERTAS NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO
Além do dízimo, Deus exige de seu povo ofertas. Quando Deus de-
terminou que os israelitas fizessem três grandes festas anuais de ação de gra-
ças, ordenou que em todas elas houvesse ofertas: “ninguém apareça de mãos
vazias perante mim” (Êx 23.15).
Os israelitas receberam ordens para dedicar ao Senhor vários tipos de
oferta. Havia as ofertas pelo pecado, ofertas votivas, as primícias da colheita e
do rebanho, oferta pelo nascimento e resgate dos primogênitos, vários outros
tipos de ofertas e também as ofertas voluntárias. A ordem era bem clara: “Hon-
ra ao SENHOR com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda” (Pv 3.9).
“A apresentação das várias ofertas e sacrifícios, com os hinos e as ora-
ções de arrependimento e gratidão, contribuíam para lembrar ao povo o Deus
que lhe era invisível, e para ajudá-lo a não se tornar escravo das coisas que via

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 140 18/07/2011, 16:19


DÍZIMOS E OFERTAS 141
e com que lidava diariamente. Fazendo ofertas, apresentando seus dízimos, o
povo sentia melhor a presença de Deus e o fato de ser povo seu. Sentia o dever
que tinha de prestar lealdade a esse Deus que sempre atendia às suas necessi-
dades e que sempre estaria bem perto para guiá-lo e abençoá-lo. Que melhor
meio de evitar as tentações de egoísmo e desobediência? Era essa a finalidade
das ofertas e dízimos.”114
Jesus também deu grande importância às ofertas. “Assentado diante
do gazofilácio, observava Jesus como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos
ricos depositavam grandes quantias. Vindo, porém, uma viúva pobre, deposi-
tou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante. E, chamando os
seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre deposi-
tou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles
ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto
possuía, todo o seu sustento” (Mc 12.41-44).
Algumas pessoas afirmam que não dão ofertas porque são dizimistas.
Pensam que entregando o dízimo fielmente estão cumprindo todas as suas obri-
gações financeiras com a obra de Deus. Mas o dízimo é o mínimo. Quem entrega
fielmente o dízimo está apenas cumprindo a sua obrigação de devolver ao
Senhor a parte que lhe cabe em nossa renda. Além do dízimo, devemos consa-
grar ao Senhor as nossas ofertas, pois são elas que demonstram a nossa grati-
dão a Deus e o nosso amor à sua igreja e à sua obra.
BÊNÇÃOS DECORRENTES DO DÍZIMO E DAS OFERTAS
Contribuir com o dízimo e com as ofertas é dever de todo membro
da igreja. Mas não se pode esquecer que a nossa contribuição é uma
fonte de bênçãos.
Quando a igreja dispõe de mais recursos, mais pessoas são beneficiadas.
Com mais recursos haverá mais evangelização e mais assistência aos necessi-
tados. Mas, as maiores bênçãos estão reservadas para quem contribui. Quando
Deus fez o apelo veemente aos israelitas para serem fiéis na entrega do dízimo,
fez-lhes também um desafio: “provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se
eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem
medida” (Ml 3.10). E Deus não falha em suas promessas.
A simples condição de poder contribuir já é uma bênção. Escrevendo
sobre a oferta das igrejas da Macedônia, o apóstolo Paulo declarou: “Também,
irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da
Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abun-
dância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza
da sua generosidade” (2Co 8.1-2). Os crentes da Macedônia, apesar de po-
bres, glorificavam a Deus pela graça de poderem contribuir. Eles entendiam
que era uma bênção ter alguma coisa para ofertar. Muitas pessoas gostariam

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 141 18/07/2011, 16:19


142 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
de contribuir, mas não têm com que contribuir. Muitos gostariam de entregar o
seu dízimo, mas não têm dízimo a entregar porque nada ganharam. Se você tem
dízimo a entregar é porque você ganhou alguma coisa. Se o seu dízimo repre-
senta uma importância muita elevada é porque você ganhou muito. Portanto,
poder contribuir já é uma bênção.
A contribuição leva o crente a ser mais consagrado e a ter mais
interesse na obra de Deus. E isso é mais uma bênção. Os crentes que contri-
buem mais para a igreja geralmente demonstram também mais interesse para
com a obra de Deus.
Por fim, Jesus afirmou que receberemos a recompensa até por um copo
de água que dermos a alguém, por esse alguém ser seu discípulo (Mt 10.42).
A nossa contribuição será recompensada com as bênçãos de Deus. E a expe-
riência tem mostrado que os dizimistas fiéis e os ofertantes generosos são crentes
abençoados, bem-sucedidos e felizes.
CONCLUSÃO
Todos nós naturalmente queremos que a nossa igreja tenha um tem-
plo bonito, bem construído, bem mobiliado, bem cuidado. Se o templo está
feio, sujo, mal conservado, nós não gostamos. Se os bancos estão cobertos de
poeira, se a aparelhagem de som não funciona bem, se os instrumentos são
velhos e ultrapassados, nós reclamamos. Mas, às vezes, nos esquecemos de
que a igreja necessita de dinheiro para manter o templo como desejamos.
A igreja precisa de dinheiro também para pagar seus funcionários, socorrer
as pessoas carentes, manter suas obras sociais e educacionais. Enfim, toda
instituição precisa de dinheiro para funcionar, e a igreja não é uma exceção.
Foi por isso que Deus determinou que os seus servos contribuam com o dízimo
e com as ofertas.
O dinheiro que ganhamos é bênção de Deus. O Senhor nos dá inteli-
gência, saúde e energia para trabalhar, produzir e ganhar. E ele nos ordena que
entreguemos o dízimo de tudo, para o sustento da igreja onde ele nos colocou.
Deixar de entregar o dízimo é desobedecer a Deus e menosprezar a igreja.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 142 18/07/2011, 16:19


143

21
A IDENTIDADE DO VERDADEIRO
CRISTÃO
“Então, [Jesus] convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes:
Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.
Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á;
e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á.”
Marcos 8.34-35

Há alguns dias estamos caminhando juntos no estudo do processo da


salvação. Já vimos que esse processo começou antes da fundação do mundo,
quando ficou estabelecido pela Trindade que o Filho viria ao mundo morrer em
lugar do pecador. Vimos que só Jesus Cristo é que pode salvar o pecador, que
“não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum
outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”
(At 4.12). Vimos, também, que para ser salvo o ser humano precisa crer em
Jesus Cristo e recebê-lo como Salvador e Senhor. Mas, que implica tudo isso?
William Bright comparou o relacionamento com Jesus Cristo ao casa-
mento. Na união matrimonial, do ponto de vista ideal, estão incluídos o intelecto,
a emoção e a vontade. O intelecto é usado para avaliar se a pessoa com quem
se pretende casar é a pessoa certa. A emoção envolve a pessoa, levando-a a
amar o(a) escolhido(a) de todo o seu coração. E por um ato de vontade os
dois se comprometem, perante a autoridade competente, a viver como ma-
rido e mulher.
A seguir, veremos como esses mesmos três elementos se expressam
na identidade do verdadeiro cristão.

O INTELECTO
A fé cristã é convicção baseada em fatos reais. Não é salto no escuro.
Tem bases sólidas. Quando os saduceus tentaram contestar a ressurreição
dos mortos, Jesus lhes respondeu: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem
o poder de Deus” (Mt 22.29). Em outra ocasião, Jesus desafiou os judeus,

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 143 18/07/2011, 16:19


144 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
dizendo-lhes: “Examinais as Escrituras, [...] e são elas mesmas que testificam
de mim” (Jo 5.39). E Lucas declarou, no prefácio do seu evangelho, ter feito
“acurada investigação de tudo desde sua origem”, para que o leitor tenha “plena
certeza das verdades” registradas por ele (Lc 1.1-4).
O apóstolo Paulo citou a profecia de Joel de que “todo aquele que invo-
car o nome do SENHOR será salvo” (Jl 2.32); e, a seguir, perguntou: “Como,
porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem
nada ouviram?” (Rm 10.14). Com isso ele estava afirmando que para servir a
Deus é necessário conhecê-lo. A conversa de Jesus com a mulher samaritana
também aponta nessa mesma direção. Quando a mulher quis tratar da questão
relacionada com o lugar de adoração, Jesus lhe disse: “Vós adorais o que não
conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos ju-
deus” (Jo 4.22). Implicitamente Jesus estava declarando que a adoração dos
samaritanos não era correta porque eles a faziam na ignorância.
Tentar servir a Deus na ignorância pode ser desastroso. Jesus declarou
que pessoas matariam seus servos, julgando com isso estarem prestando um
culto a Deus (Jo 16.2). E o apóstolo Paulo testemunhou que os judeus de sua
época tinham “zelo por Deus, porém não com entendimento” (Rm 10.2). A igno-
rância os levava a se afastar de Deus, mesmo quando julgavam servi-lo.
Para ser verdadeiramente cristão é preciso saber o que isso significa.
É preciso conhecer pelo menos os pontos fundamentais da fé cristã.
Certa vez um senhor me disse que gostaria de ser crente, mas não conse-
guia. E explicou a sua dificuldade, dizendo: “Eu sei que para ser crente a gente
precisa acreditar, mesmo sabendo que aquilo não é verdade, mas eu não consi-
go fazer isso”. Ele estava inteiramente enganado. “Acreditar naquilo que a
pessoa sabe não ser verdade” é ser supersticioso e não, crente. “A fé é a
certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”
(Hb 11.1). A fé vê o invisível, mas não o inexistente. Nós somos chamados a
crer naquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. Não podemos crer em nada
que vá além dessa Palavra, pois a recomendação bíblica, por meio do apóstolo
Paulo, é esta: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue
evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como
já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daque-
le que recebestes, seja anátema” (Gl 1.8-9). Por isso, o verdadeiro cristão sabe
em quem tem crido e no que tem crido.
A EMOÇÃO
O conhecimento intelectual dos fundamentos da fé cristã é muito impor-
tante, mas é insuficiente para a salvação. A Escritura Sagrada fala muitas
vezes sobre o conhecer, referindo-se ao conhecimento experimental. Conhe-
cer a Jesus, no sentido bíblico, implica necessariamente ter experiência com

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 144 18/07/2011, 16:19


A IDENTIDADE DO VERDADEIRO CRISTÃO 145
Jesus. Esse é o lado emocional do conhecimento de Deus. É ele que nos leva
a um envolvimento com Jesus. É mediante esse envolvimento que nós nos
alegramos com o Senhor e no Senhor, e também nos entristecemos com o
que entristece o Senhor. Salmos 119.136 e Atos 11.23 ilustram esse envolvi-
mento emocional do cristão nas vitórias e vicissitudes da causa de Deus no
mundo. No primeiro texto o salmista declara: “Torrentes de água nascem dos
meus olhos, porque os homens não guardam a tua lei”. No segundo texto
temos o registro da alegria de Barnabé, ao ver que os gentios também se
convertiam ao Senhor.
Outro aspecto desse conhecimento emocional é o amor. Para ser verda-
deiramente cristão não basta saber que Jesus é o Filho de Deus, que veio ao
mundo para nos salvar. É necessário mais. É preciso amá-lo de todo o coração.
Ele mesmo disse: “Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também
o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21). E quanto à intensidade desse
amor, ele afirmou o seguinte: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a
mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim
não é digno de mim” (Mt 10.37).
Aqui também está uma área que deve ser tratada com muito cuidado.
O amor é um sentimento, portanto, faz parte das nossas emoções. Mas a intensi-
dade do nosso amor não pode ser medida pela intensidade de nossas emoções.
A emoção é uma reação a um evento ou experiência. Emocionalmente
as pessoas reagem de maneiras diferentes. Assistindo ao mesmo acontecimento
ou participando da mesma experiência, as pessoas podem reagir de maneiras
bem diferentes. O eunuco, ao ouvir o evangelho de Jesus Cristo, creu e pediu
para ser batizado. Tudo naturalmente, sem grandes emoções. Mas o carcereiro
de Filipos experimentou um turbilhão de emoções. Lucas registrou que ele “en-
trou precipitadamente e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas” (At 16.29).
O eunuco e o carcereiro tiveram experiências e emoções diferentes; mas a
conversão de ambos foi autêntica.
Não existe um padrão para medir as emoções de uma pessoa diante do
evangelho de Jesus Cristo. Algumas pessoas têm uma experiência de conver-
são fortemente emocional. Outras têm uma experiência sem grandes emoções,
mas igualmente real. Alguns têm uma vida cristã cheia de manifestações emo-
cionais; outros têm uma vida cristã sem grandes arroubos emocionais, mas
igualmente sincera e autêntica. O verdadeiro crente tem um envolvimento
emocional com o Senhor Jesus, mas não vive de emoções. O crente que precisa
de emoções para manter a sua fé estará sempre inseguro, porque as emoções são
muito instáveis e, também, porque sempre precisará de emoções mais fortes para
não cair na rotina, no trivial e no desânimo. O que de fato evidencia a intensidade
do amor que uma pessoa tem por Jesus Cristo são os seus atos (Mt 7.15-23).
Quem ama a Jesus deve provar isso por suas palavras e atitudes.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 145 18/07/2011, 16:19


146 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
A VONTADE

Além do intelecto e das emoções, ser um verdadeiro cristão envolve


também a vontade. Chamamos de vontade a faculdade que leva a pessoa a
querer alguma coisa e a se comprometer com aquilo que quer. É a capacidade
de agir com intencionalidade definida.
Para ser verdadeiramente cristã, a pessoa precisa assumir com Jesus
Cristo um compromisso de fé. Nesse compromisso, a pessoa crê que o sacri-
fício de Jesus é suficiente para perdoar todos os seus pecados; por isso, entre-
ga a Jesus o destino eterno de sua alma, e se dispõe a, dia a dia, procurar viver
de acordo com os seus ensinos.
Mas a decisão de seguir a Jesus não é tão simples como pode parecer.
Ela implica uma tomada de posição radical. Jesus exige que ela seja radical.
Lucas registra que Jesus “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si
mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Na instrução
aos doze apóstolos, Jesus declarou: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do
que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a
mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é
digno de mim” (Mt 10.37-38).
Jesus fez declarações semelhantes em várias outras ocasiões. Nicode-
mos, líder dos fariseus, membro da mais alta corte de justiça da Judeia, procu-
rou Jesus fazendo-lhe os maiores elogios: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo
da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se
Deus não estiver com ele” (Jo 3.2). Mas Jesus não ficou impressionado com os
elogios nem com a alta posição social de Nicodemos, e respondeu-lhe: “Em
verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver
o reino de Deus” (Jo 3.3). Ao homem que queria primeiro sepultar o pai, para
depois seguir a Jesus, o Mestre ordenou: “Deixa aos mortos o sepultar os seus
próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus” (Lc 9.60). Àquele
que queria primeiro despedir-se de seus parentes, para depois segui-lo, Jesus
disse: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o
reino de Deus” (Lc 9.62). E a respeito da multidão que o aplaudia, mas sem
compromisso, Jesus declarou: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu
coração está longe de mim” (Mt 15.8). Em certa ocasião Jesus fez um discurso
muito duro, e por isso muitos deixaram de segui-lo. Diante disso seria natural
que ele abrandasse suas exigências. Mas Jesus não voltou atrás; pelo contrário,
confrontou os seus próprios discípulos, dizendo-lhes: “Porventura, quereis tam-
bém vós outros retirar-vos?” (Jo 6.67). Jesus não aceita crente pela metade,
porque ele não pode salvar o homem pela metade. Ou somos inteiramente
crentes, ou então estamos completamente perdidos.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 146 18/07/2011, 16:19


A IDENTIDADE DO VERDADEIRO CRISTÃO 147
O apóstolo Paulo tinha conhecimento das exigências de Jesus, por isso
ele declarou: “Esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo
pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co 9.27).
Muitas pessoas se julgam cristãs, mas, na realidade, são apenas admira-
doras de Jesus Cristo. Outras gostam de Jesus e, por isso, pensam ser cristãs.
Mas o verdadeiro cristão é aquele que tem compromisso com Jesus.
CONCLUSÃO
Voltando à comparação da vida cristã com o casamento, perguntamos:
O fato de um rapaz estar intelectualmente convencido de que determinada
moça é a pessoa ideal para ser sua esposa dá-lhe o direito de ir viver com ela,
como marido e mulher? É claro que não. E se ele sentir por ela um grande
amor, poderá levá-la para sua casa para ser sua esposa? Ainda não. Os dois
só poderão viver como marido e mulher, com a aprovação de Deus e da
sociedade, depois de assumirem o compromisso matrimonial perante a au-
toridade competente.
No relacionamento com Jesus Cristo o processo é bem semelhante ao
do casamento. A pessoa usa o intelecto para se convencer de que Jesus Cristo
é o Filho de Deus, que veio ao mundo para nos salvar. Pela emoção ela é
envolvida no amor que ele manifestou pelo pecador perdido e passa a amá-lo
de todo o seu coração. Mas essa experiência intelectual e emotiva é insuficien-
te para fazer da pessoa um verdadeiro cristão. É necessário que ela, por um ato
de vontade, assuma com Jesus Cristo o compromisso de confiar nele para a
sua salvação e de viver procurando fazer a vontade dele. Verdadeiro cristão é
aquele que tem compromisso com Jesus Cristo.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 147 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 148 18/07/2011, 16:19
22
A VIDA DEPOIS DESTA VIDA
“Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então,
o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou,
para que Deus seja tudo em todos.”
1 Coríntios 15.28

A nossa salvação resulta de um processo que se iniciou antes da fun-


dação do mundo, antes de existir o tempo – portanto, na eternidade – e se
consumará também na eternidade. Deus nos contemplou com a sua graça,
“assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele,
para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade” (Ef 1.4-5). E esse processo se consumará quando estivermos viven-
do nos “novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe 3.13).
A MORTE E A RESSURREIÇÃO
Deus criou o homem para viver para sempre. Adão foi criado num
estado de santidade positiva e era imortal, no sentido de não estar sujeito à lei
da morte. Se ele não pecasse, sua imortalidade seria confirmada. Mas o ho-
mem pecou e passou a viver sob o jugo da morte. “Por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a
todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12).
Mas, o que é morte? Morte é “a separação (seja natural ou violenta)
da alma do corpo, separação essa pela qual é terminada a vida neste mundo”.115
Logo que ocorre essa separação, o corpo entra em processo de decomposição.
“Já cumpriu a necessidade que dele tinha o espírito e, cumprida a necessida-
de, é posto de lado.”116 Mas a alma ou espírito continua viva e consciente.
Na morte, dormimos aqui e acordamos imediatamente no outro lado desta vida.
Se a pessoa durante a sua vida aceitou a salvação que Deus oferece em Jesus
Cristo, logo após a morte a sua alma entra num estado de bem-aventurança
consciente. Se rejeitou a oferta de salvação, a sua alma entra imediatamente
num estado de castigo consciente.
A Bíblia Sagrada ensina, de modo bem claro, que a alma do verdadeiro
crente, logo após a morte, entra imediatamente num estado de bem-aventurança

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 149 18/07/2011, 16:19


150 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
consciente. Quando o ladrão suplicou: “Jesus, lembra-te de mim quando vie-
res no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás
comigo no paraíso” (Lc 23.42-43). E o apóstolo Paulo, quando sentiu que sua
morte se aproximava, declarou que morrer é “partir e estar com Cristo”
(Fp 1.23). Os mortos estão vivos. Os crentes estão no céu, com Cristo; os
ímpios estão no inferno.
O corpo volta ao pó, mas não desaparecerá para sempre. Ele entra em
decomposição, mas um dia levantará do túmulo. “Todos os mortos serão res-
suscitados com os seus mesmos corpos e não outros, posto que com qualidades
diferentes, ficarão reunidos às suas almas para sempre.”117
A doutrina da ressurreição do corpo faz surgir em nossa mente mui-
tas interrogações. Uma delas é sobre as pessoas que foram sepultadas muti-
ladas. No caso de pessoas que morrem em desastre de avião, é possível que
partes de seu corpo sejam sepultadas muito distantes uma da outra. E como
será a ressurreição dessas pessoas? No grande capítulo da ressurreição dos
mortos – 1 Coríntios 15 –, o apóstolo Paulo responde: “Mas alguém dirá:
Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? Insensato! O que se-
meias não nasce, se primeiro não morrer; e, quando semeias, não semeias o
corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra
semente. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das
sementes, o seu corpo apropriado. Pois assim também é a ressurreição dos
mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-
se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em
poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual” (1Co 15.35-38,42-
44). A ressurreição será operada pelo poder de Deus, e ele sabe como resol-
ver esse e outros problemas. O corpo ressuscitado será o mesmo que foi
sepultado, porém de substância diferente. O corpo que temos corresponde às
necessidades deste plano físico de existência; o corpo ressuscitado será um
corpo perfeitamente adaptado às necessidades do tipo de vida que teremos
na outra existência.
Devemos lembrar também que nem todas as pessoas passarão pela
morte. Os que estiverem vivos na segunda vinda de Cristo não morrerão, mas
serão transformados num abrir e fechar de olhos. O apóstolo Paulo explicou
esse assunto assim: “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas
transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao
ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este cor-
po corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista
da imortalidade” (1Co 15.51-53).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 150 18/07/2011, 16:19


A VIDA DEPOIS DESTA VIDA 151
A SEGUNDA VINDA DE CRISTO
A Bíblia Sagrada relaciona a ressurreição dos mortos com a segunda
vinda de Cristo. O apóstolo Paulo escreveu: “Não queremos, porém, irmãos, que
sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como
os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou,
assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem.
Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do ar-
canjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebata-
dos juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e,
assim, estaremos para sempre com o Senhor” (1Ts 4.13-14,16-17).
Jesus prometeu voltar ao mundo para consumar sua obra. Ele disse
aos discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também
em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo
teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar,
voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós
também” (Jo 14.1-3). Essa promessa foi repetida várias vezes, de várias ma-
neiras. No momento da ascensão de Jesus, estando os discípulos “com os olhos
fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se
puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando
para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo
como o vistes subir” (At 1.10-11).
A segunda vinda de Cristo será um fato maravilhoso para os seus servos.
Mas será terrível para os ímpios. “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas;
sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido
do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expecta-
tiva das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão aba-
lados. Então, se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e
grande glória” (Lc 21.25-27).
A promessa da segunda vinda de Cristo é uma fonte de conforto e
esperança para o cristão. Billy Graham escreveu que “cristão algum tem o
direito de andar por aí torcendo as mãos, imaginando o que devamos fazer
diante da atual situação do mundo. A Escritura diz que em meio à persegui-
ção, confusão, guerras e boatos de guerra, devemos reconfortar-nos mutua-
mente com o conhecimento de que Jesus Cristo está voltando em triunfo,
glória e majestade”.118
Quando se dará a segunda vinda de Cristo? Ninguém sabe. Jesus afir-
mou que nem os anjos sabem o dia e a hora, mas apenas o Pai (Mt 24.36). Por
isso, a recomendação de Jesus é esta: “Portanto, vigiai, porque não sabeis em
que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24.42).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 151 18/07/2011, 16:19


152 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
O JUÍZO FINAL E O DESTINO ETERNO

Jesus declarou também que, na sua segunda vinda, julgará os homens:


“Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e,
então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mt 16.27)
Algumas pessoas perguntam: Se os salvos estão no céu e os ímpios
no inferno, por que haverá um juízo final? A resposta é que o juízo final não
tem como objetivo definir o destino eterno dos homens. A Bíblia ensina que
esse destino é determinado na hora da morte de cada pessoa. Quem morre
firmado em Jesus Cristo está salvo; quem morre em seus pecados está eter-
namente perdido. O propósito do juízo final é expor, diante de todas as criatu-
ras racionais, a glória de Deus num ato formal que engrandecerá a sua san-
tidade, justiça, graça e misericórdia. No juízo final, Deus manifestará a sua
graça e misericórdia, salvando os pecadores que se arrependeram e aceita-
ram Cristo; e a sua justiça, condenando aqueles que permaneceram rebeldes
e que morreram em seus pecados.
No juízo final serão julgados os anjos decaídos, isto é, Satanás e seus
demônios, e todos os indivíduos da raça humana. Algumas pessoas entendem
que os crentes não serão julgados, já que Jesus prometeu que aquele que dá
ouvido à sua palavra “tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da
morte para a vida” (Jo 5.24). Mas o contexto mostra que as palavras de Jesus
indicam que os salvos não entrarão em juízo condenatório, ou seja, não serão
condenados. Os ímpios serão julgados e condenados; mas os salvos serão jul-
gados e absolvidos, porque Jesus já sofreu na cruz o castigo que merecemos,
“o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53.6).
Os ímpios sofrerão eternamente. Não sabemos, com precisão, em que
consistirá o castigo dos ímpios. Mas é possível entender, pela Bíblia Sagrada,
que eles serão privados totalmente do favor divino, experimentarão uma per-
turbação infindável, sofrerão dores reais no corpo e na alma, e estarão sujeitos
às dores de consciência, à angústia, ao choro e ao desespero.
Os salvos herdarão o céu e também a nova criação. A Bíblia não diz
claramente como será essa nova criação. Mas o apóstolo Pedro afirmou que
Jesus ficará no céu “até aos tempos da restauração de todas as coisas” (At 3.21).
E que “esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe 3.13).
Sabemos que toda a criação foi atingida pelas consequências do pecado.
E cremos que Deus restaurará a criação, após o juízo final. Muitos teólogos
acreditam que Deus vai restaurar o universo às condições originais em que
foi criado. E os servos de Deus, com corpos imortais e almas inteiramente
aperfeiçoadas, habitarão na Terra e servirão ao Criador eternamente, em es-
pírito e em verdade.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 152 18/07/2011, 16:19


A VIDA DEPOIS DESTA VIDA 153
CONCLUSÃO
A perspectiva de habitarmos a Terra totalmente restaurada enche o
nosso coração de grande alegria. Contudo, a Bíblia não diz claramente que
esse é o futuro que nos espera. Mas, graças a Deus, afirma que o nosso futuro
será glorioso. O apóstolo João descreveu assim a visão que lhe foi dada do
nosso futuro: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo
de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e
Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a
morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primei-
ras coisas passaram” (Ap 21.3-4). E o apóstolo Paulo registrou que “nem olhos
viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que
Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9).

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 153 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 154 18/07/2011, 16:19
Notas

1. R. B. Kuiper, Evangelização teocêntrica, pág. 7.


2. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 103.
3. Louis Berkhof, idem, pág. 268.
4. R. B. Kuiper, Evangelização teocêntrica, pág. 8.
5. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 268.
6. Louis Berkhof, idem, pág. 272.
7. Confissão de Fé de Westminster, XXXIV, III.
8. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 278.
9. Louis Berkhof, idem, pág. 296.
10. A. R. Crabtree, Teologia do Antigo Testamento, pág. 184.
11. John Stott, Cristianismo básico, págs. 10-11.
12. Louis Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, pág. 126.
13. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 29.
14. Louis Berkhof, idem, pág. 36.
15. Confissão de fé de Westminster, I, I.
16. Odayr Olivetti, Brasil Presbiteriano, ano 37, n. 499, abril de 1996, pág. 2.
17. Confissão de fé de Westminster, I, VI.
18. Idem, I, IX.
19. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 29.
20. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 50.
21. Arthur W. Pink, Os atributos de Deus, pág. 5.
22. Confissão de fé de Westminster, IV, I e II.
23. Versão simplificada do clássico argumento do relógio, formulado por William Paley
(1743–1805), filósofo moral e teólogo britânico.
24. Origens do universo e da vida, Módulo 1, pág. 24.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 155 18/07/2011, 16:19


156 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
25. Epizeuxe é uma figura de retórica pela qual há repetição de palavras ou de seus
sinônimos para maior veemência ou ênfase.
26. Louis Berkhof, Teologia sistemática, págs. 194-195.
27. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 110.
28. Louis Berkhof, idem, pág. 118.
29. Breve Catecismo de Westminster, resposta à pergunta 14.
30. Manford George Gutzke, Palavras chaves da fé cristã, pág. 57.
31. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 140.
32. Louis Berkhof, idem, pág. 147.
33. Manford George Gutzke, Palavras chaves da fé cristã, pág. 75.
34. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 140.
35. Todas as datas citadas neste capítulo são tiradas da cronologia adotada no livro O
mundo do Antigo Testamento, escrito por J. I. Packer, Merril C. Tenney e Wiliam
White Júnior. Contudo, deve ficar claro que não é possível confirmar com exatidão
nenhuma dessas datas.
36. J. I. Packer e outros, O mundo do Antigo Testamento, pág. 28.
37. William S. Smith, Deus e seu povo, vol. 1, pág. 166.
38. J. I. Packer e outros, O mundo do Antigo Testamento, pág. 30.
39. J. I. Packer e outros, idem, pág. 31.
40. J. I. Packer e outros, idem, pág. 31.
41. Confissão de Fé de Westminster, XXV.V.
42. Williston Walker, História da Igreja Cristã, vol. I, pág. 16.
43. Merrill C. Tenney, O Novo Testamento, sua origem e análise, pág. 140.
44. Merrill C. Tenney, idem, pág. 140.
45. Merrill C. Tenney, idem, pág. 77.
46. J. I. Packer e outros, O mundo do Novo Testamento, pág. 18.
47. J. I. Packer e outros, idem, pág. 22.
48. J. I. Packer e outros, idem, pág. 23.
49. J. I. Packer, O conhecimento de Deus, pág. 45.
50. J. I. Packer, idem, pág. 48.
51. J. I. Packer, idem, pág. 44.
52. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 319.
53. Louis Berkhof, idem, pág. 337.
54. Louis Berkhof, idem, pág. 337.
55. Catecismo de Heidelberg, resposta à pergunta 37.
56. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 343.
57. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 177.
58. Louis Berkhof, idem, pág. 178.
59. Louis Berkhof, idem, pág. 183.
60. Francisco Martins, O ofício de presbítero, págs. 14-15.
61. Breve Catecismo, resposta à pergunta 24.
62. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 359.
63. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 184.
64. Breve Catecismo, resposta à pergunta 25.
65. Manford George Gutzke, Palavras chaves da fé cristã, págs. 74-75.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 156 18/07/2011, 16:19


NOTAS 157
66. Álvaro Reis, As sete palavras da cruz, pág. 86.
67. Breve Catecismo, resposta à pergunta 26.
68. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 407.
69. Louis Berkhof, idem, pág. 411.
70. Manford George Gutzke, Palavras chaves da fé cristã, pág. 170.
71. J. I. Packer, Na dinâmica do espírito, pág. 86.
72. Confissão de Fé de Westminster, XXXIV.II.
73. J. I. Packer, Na dinâmica do espírito, págs. 87-88.
74. Augustus Hopkins Strong, Systematic Theology, pág. 809.
75. Citado em Novo dicionário da Bíblia, verbete “regeneração”, pág. 1379.
76. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 471.
77. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 220.
78. José Martins, O homem e a salvação, pág. 100.
79. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 227.
80. Augustus Hopkins Strong, Systematic Theology, pág. 869.
81. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 536.
82. Louis Berkhof, idem, pág. 517.
83. Louis Berkhof, idem, pág. 550.
84. José Martins, O homem e a salvação, págs. 137-143.
85. Clyde M. Narramore, Como ser feliz, pág. 187.
86. Clyde M. Narramore, idem, pág. 191.
87. R. B. Kuiper, Evangelização teocêntrica, pág. 23.
88. M. Blaine Smith, Conhecendo a vontade de Deus, págs. 20-21.
89. D. James Kennedy, Verdades que transformam, pág. 42.
90. Monford George Gutzke, Palavras chaves da fé cristã, pág. 219.
91. Catecismo Maior de Westminster, resposta à pergunta 62.
92. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 576.
93. Confissão de Fé de Westminster, XXV.V.
94. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 581.
95. Citado por Abival Pires da Silveira, em Revista de Educação Cristã, Tomo II, Lição 12.
96. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 570.
97. Wiliston Walker, História da Igreja Cristã, vol. I, pág. 154.
98. Confissão de Fé de Westminster, XXVIII.I.
99. Louis Berkhof, Manual de doutrina cristã, pág. 140.
100. Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 278.
101. Manual do culto, pág. 18.
102. Confissão de Fé de Westminster, XXVIII.VI.
103. Resposta à pergunta 167.
104. Novo dicionário da Bíblia, pág. 1451.
105. Confissão de Fé de Westminster, Declaração Explicativa, parágrafo II.
106. Áureo Rodrigues de Oliveira, O Estandarte, março de 1998, pág. 14.
107. Áureo Rodrigues de Oliveira, idem, fevereiro de 1998, pág. 14.
108. Manford George Gutzke, Palavras chaves da fé cristã, pág. 244.
109. Novo dicionário da Bíblia, pág. 1206.
110. Adão Carlos Nascimento, A razão de nossa fé, pág. 35.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 157 18/07/2011, 16:19


158 A BÍBLIA É NOSSA TESTEMUNHA
111. Citado por Louis Berkhof, Teologia sistemática, pág. 660.
112. Júlio Andrade Ferreira, Antologia teológica, vol. III, pág. 91.
113. Walter Kaschel, Não sou meu, pág. 57.
114. Paul R. Lindholm, Mordomia cristã e finanças da igreja, pág. 107.
115. J. H. Thayer, A Greek-English Lexicon of the New Testament, pág. 282.
116. Ray Summers, A vida no além, pág. 21.
117. Confissão de Fé de Westminster, XXXII.II.
118. Billy Graham, Mundo em chamas, pág. 234.

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 158 18/07/2011, 16:19


159

A Bíblia é nossa testemunha.pmd 159 18/07/2011, 16:19


A Bíblia é nossa testemunha.pmd 160 18/07/2011, 16:19

Você também pode gostar