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JOSÉ FRANCISCO KAHENJENGO

MORDOMIA
CRISTÃ

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MORDOMIA CRISTÃ
Copyright © 2023 por José Francisco Kahenjengo

Proibida a reprodução total ou parcial deste livro por quaisquer


Meios, sem prévia autorização, por escrita, do autor ou editora,
salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Todas as citações das Sagradas Escrituras foram extraídas


da versão King James Atualizada, excepto quando houver
indicação contrária.
__________
REVISÃO TEXTUAL
Lucas Mueba Domingos Manuel
___________
PRODUÇÃO, DIAGRAMAÇÃO & CAPA
Ongombo Editora

1ª edição, Luanda
Depósito Legal: 12026/2023
_______________________________________

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Kahenjengo, José Francisco


Mordomia cristã / José Francisco Kahenjengo. – Luanda: Ongombo
Editora, 2023
97 p. : 14,8 x 21cm
ISBN 978-989-33-4994-6

1.Mordomia cristã 2. Dinheiro 3. Finanças 4. Vida cristã I. Título.

CDU 2-47
CDD 248.4

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“Assim, se vós não fores justos em lidar
com as riquezas deste mundo ímpio,
quem vos confiará a verdadeira riqueza?”
(Lucas 16:11)

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Dedico este livro ao povo peregrino,
nesta terra, que caminha em
direcção à Pátria Celestial, a todos
os que, de coração puro e sincero,
desejam conhecer mais sobre Deus
e Sua Palavra para que possam
obedecer e melhor servir.

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ..................................................................................... 7
AGRADECIMENTOS ..................................................................... 8
INTRODUÇÃO ................................................................................ 9

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO À MORDOMIA CRISTÃ ...... 10


Sobre a mordomia cristã ............................................................... 11
Sobre o mordomo .............................................................................. 14
Princípios da mordomia cristã .................................................... 17

CAPÍTULO 2 - ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DE DEUS .... 24


Administração dos bens de Deus ................................................ 25
Mordomia para glória de Deus .................................................... 43

CAPÍTULO - PROSPERIDADE DOS BENS DE DEUS ....... 47


Teologia da prosperidade ou teologia da pobrezidade? ... 54
Provisão ................................................................................................ 60

CAPÍTULO 4 - MORDOMIA FISCAL ....................................... 64


Domínio próprio aplicado à mordomia ................................... 69
Dinheiro, a raiz de todos os males ............................................. 71

CAPÍTULO 5 - O IMPACTO DA MORDOMIA CRISTÃ ......... 78


Impacto sobre os relacionamentos ........................................... 81
Impacto sobre a teologia do trabalho ....................................... 84
Impacto sobre a fé ............................................................................. 87

PALAVRAS FINAIS .................................................................. 91


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................... 94

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PREFÁCIO
A mordomia cristã é uma doutrina bastante esquecida
e negligenciada em nossos dias. No entanto, ela tem grandes
implicações na nossa vida e, em todos os níveis, com repercus-
são tanto no presente quanto na eternidade. Todo cristão é um
mordomo e deve, necessariamente, usar dos dons e bens que o
Senhor o concedeu para frutificar e glorificar a Deus.
Ao discorrer, em cada capítulo deste livro, vai ficando,
cada vez mais firme, em nossas mentes e corações que:
1. Tudo é de Deus, até o que é nosso - Não há nada, tanto nos
céus quanto na terra, que não tenha as impressões digitais
de Deus ou que Cristo não possa dizer: – É meu!
2. Nunca foi sobre nós, é sempre sobre Ele, Cristo, nosso amado
Senhor - Somos personagens secundárias em uma história
na qual a glória, o poder e o louvor é somente de Cristo,
nosso amado Senhor. Porque só Ele é digno.
3. Embora tudo seja dEle, fomos chamados, graciosamente, a
sermos Coparticipantes não só da sua natureza divina, mas
também das suas riquezas - É sobre Ele, a glória é dEle, mas
Ele chama-nos e faz-nos participantes das suas bençãos e
herança.
Com a mente de um mestre e o coração de um evangelis-
ta, o irmão José F. Kahenjengo, começando, com o exemplo do
servo Eleazer, fala numa linguagem simples e quase que devo-
cional sobre mordomia, bem como deixa patente os distintivos
de um mordomo; também conhecido como despenseiro da gra-
ça, a saber: boa reputação, responsabilidade, voluntariedade e
fidelidade. Consequentemente, persuadindo-nos não somente
a saber, mas a fazer.
Fernando Siamakuta Pambassangue

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus que, na Pessoa do Pai, Filho e


Espírito, me amou, salvou e deu conhecimento para produção
deste livro.
À minha esposa e companheira nesta jornada diária de
aprendizado sobre a mordomia cristã; aos meus familiares à
equipa da Ongombo Editora que, fielmente, cooperou para a
materialização deste livro, especialmente para o revisor tex-
tual e amissíssimo, Lucas Mueba Domingos Manuel; ao meu
grande companheiro da jornada cristã e prefaciador deste li-
vro, Fernando Siamakuta Pambassangue.
Aos meus irmãos, amigos e patrocinadores, Engenhei-
ros Nunes Domingos Chita, Edgar Dombaxe e Ndongala Sebas-
tião Paixão Pedro, que me convenceram a imprimir este livro
que, a princípio, seria apenas um e-book.
E a todos moral e espiritualmente apoiaram para que se
materializasse o desejo de abençoar o povo de Deus com esta
obra, Deus abençoe rica e poderosamente!

Obrigado!

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INTRODUÇÃO

Ser cristão é muito mais do que ser baptizado, frequen-


tar aos cultos e contribuir com ofertas e dízimos. Ser cristão
é “nascer de novo”, depois de morrer para este mundo e seu
sistema corrompido, que é contra o Único e Verdadeiro Deus e
Sua santa Palavra.
A partir do momento em que Deus nos torna “nova cria-
tura”, nasce, em nós, um amor pelas coisas de Deus que, além
de criar em nossos corações a sede pelo contínuo conhecimen-
to de Deus e de Sua Palavra, nos transforma, progressivamente,
na proporção da obediência à todo conhecimento adquirido.
Um dos conhecimentos que revoluciona o nosso modo
de viver é, sem sombra de dúvida, o estudo sobre a visão bí-
blica da administração dos bens que Deus nos confia, o que
chamamos de Mordomia cristã. É uma doutrina que, em seu
fim último, nos desafia a não amar as coisas, entender sobre a
provisão de Deus e seu propósito, incentivar a administração
sábia e o cuidado a ter com aqueles que estão ao nosso redor.
Neste livro procuro, de modo didáctico e apelativo,
abordar sobre a mordomia cristã, seus princípios e sua apli-
cação, no dia a dia, e meu desejo e oração têm sido para que,
ao decorrer da leitura, o Espírito Santo de Deus possa falar ao
seu coração e moldá-lo para todos os dias se esforçar para vi-
ver nesta Terra, sem se apegar aos bens que Deus consede de
modo a usá-los para a honra e glória de Deus.

Bom proveito!

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10 - Mordomia cristã -

- CAPÍTULO 1 -
INTRODUÇÃO
À MORDOMIA
CRISTÃ

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SOBRE A
MORDOMIA CRISTÃ

A palavra grega “οἰκονομίας” (oikonomias) dá origem


a dois vocábulos bíblicos que são objecto de grandes estudos e
debates (mordomia e dispensação). Embora as duas palavras
signifiquem administração, gestão, governo (governação), ge-
rência, responsabilidade e tarefa, cada uma delas, nas Sagradas
Escrituras, é usada em situações bem específicas.
A versão Almeida Corrigida e Fiel (ACF) permite ver a
distinção, na aplicação, entre estas duas palavras quando, em
Lucas 16:1-4, traduz “oikonomia” [nas suas diferentes flexões
tais como: administrar, administrador, administração, etc]
como mordomia, no sentido de administração dos bens de al-
guém, e, nas cartas paulinas (Efésios 1:10 e 3:2 e Colossenses
1:25), ACF traduz a mesma palavra como dispensação, no sen-
tido de administração de um certo período de tempo.
Com base nestes detalhes importantíssimos, vamos de-
finir mordomia como o modo pelo qual uma pessoa administra
ou governa os bens e, neste livro, vamos concentrar-nos ape-
nas na “oikonomia” descrita pelo evangelista Lucas, ou seja, va-
mos abordar sobre mordomia no sentido de administração dos
bens de outrém e, de modo específico, dos bens de Deus.

1
OIKONOMIAS. In: DICIO, Dicionário online de Portugês. 2004-2018.
Disponível em: <https://bibliaportugues.com/greek/3622.htm>. Acesso
em: 20/09/2023.

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12 - Mordomia cristã -

A mordomia cristã não é o resultado da legislação ecle-


siástica, nem um esquema para arrancar o dinheiro dos
homens. É a consequência natural de uma experiência
com Deus, a reação natural do coração que foi tocado
pelo Espírito Santo. (Lopes, 2009, p. 44).

Em Génesis 24, Abraão confia ao seu mordomo a missão


de ir à sua terra natal em busca de uma mulher para Isaque
(Génesis 24:4). Abraão sabia que podia confiar jóias, roupas,
camelos e outros servos (que eram as riquezas da época) a seu
mordomo para que fosse, em seu nome, buscar uma mulher
para seu filho e pagar o dote por ela (Gênesis 24:53). A cer-
teza, de que seu mordomo não mataria ou influenciaria seus
conservos a fugir do jugo de seu senhor, permitiu a Abraão dei-
xá-lo partir carregado de uma responsabilidade: a de ser um
administrador zeloso na administração de seus bens.
Se pararmos para analisar, na história da humanidade,
sempre houve pessoas que exerciam autoridade sobre outras
que lhes prestavam serviços e obediência. Estes servos ou es-
cravos, ficavam nesta condição por várias razões. Dentre as
principais ou directas encontradas, nas Sagradas Escrituras,
destacamos as seguintes:
(i)Crime cometido contra uma entidade poderosa (Génesis
44:9-10);
(ii)Suprimento de uma necessidade em crise extrema, pon-
to de alguém se vender (Gênesis 47:19-25, Êxodo 25:39-
55).
Existiam, além das mencionadas acima, as formas indi-
rectas de se obter escravos. No caso de Abraão, seus servos
foram adquiridos pelos dois métodos abaixo:
(i)Através de uma compra, na mão de um antigo dono, como
o fez em Harã (Génesis 12:5);

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- Introdução à mordomia cristã - 13

(ii) Quando oferecidos por alguém como o fez Abimeleque


(Génesis 20:14).
Durante determinado tempo de interacção com os seus
servos, o senhor da casa vai conhecendo-os e aquele que mais
inspirar confiança, mostrar mais responsabilidade, ter êxito,
no cumprimento das tarefas, e capacidades de liderar os de-
mais conservos, receberá a honra de ser o administrador dos
bens.
É tão relevante este papel que, enquanto os herdeiros
dos bens não atingirem a maior idade e capacidade de governo,
também estão, em muitas coisas, sujeitos aos próprios mordo-
mos.
Toda análise que estivemos fazendo, até agora, permite-
-nos fazer uma analogia directa entre um mordomo, adminis-
trador ou governador (pois todos estes nomes são aplicáveis
à função que estamos abordando) e a responsabilidade que o
SENHOR concede a todos cristão.

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SOBRE O MORDOMO

O capítulo anterior permitiu-nos olhar para a missão de


Eliezer e estabelecer uma analogia sobre que tipo de mordo-
mos nós, como cristãos, devemos ser. Por isso, analisaremos
algumas características da mordomia de Eliezer para encon-
trarmos um posicionamento da nossa mordomia cristã.

Chamado para uma missão


Assim como Eliezer foi escolhido para ter a missão geral
de ser servo de Abraão e a missão particular de exercer tarefas
específicas como a de ir em busca de uma mulher para seu se-
nhor Isaque, todo cristão, sem excepção, é chamado por Deus
para realizar uma determinada missão. Este chamado pode ser
o geral, como é a conversão (chamado para se integrar na famí-
lia de Cristo), ou chamado particular para exercer um determi-
nado ministério específico. Como disse William Perkins:

“Uma vocação ou chamado é um certo tipo de vida,


ordenado e imposto ao homem por Deus, para o bem
comum... Toda pessoa de todo grau, estado, sexo ou
condição, sem excepção, de ter um chamado pessoal e
particular em que caminhar.” (apud, Ryken, 1992, p.
42).

Outrossim, como cristãos, de modo geral, todos somos


chamados à mordomia e, de modo particular, cada um recebe
de Deus bens de todas as naturezas, bem como um “público-al-
vo” ao nosso alcance. Note que, quanto mais o cristão prospera
nas diversas áreas da vida (espiritual, material e emocional),

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- Introdução à mordomia cristã - 15

maior se torna a missão e o “público-alvo” para exercício da sua


mordomia. Portanto, todo cristão tem um chamado (mordo-
mia), uma missão (servir a Deus e ao próximo) e um propósito
(Glorificar a Deus).

Maduro para receber uma grande responsabilidade


Embora todo servo tenha e receba várias responsabili-
dades, a obediência é um emblema que exibe quão confiável é
a pessoa a quem se delega uma responsabilidade.
À obediência vou unir a eficiência, que é a “capacidade
de realizar tarefas ou trabalhos de modo eficaz e com o mínimo
de desperdício”2 para completar os pilares de um ser maduro
suficiente para receber grandes responsabilidades como a de
mordomo. Receber a missão de cuidar dos bens de seu senhor
é a prova mais clara que levaria um homem justo como Abraão
escolher Eliezer para administrar seus bens.
Esta linha de pensamento leva-me a crer que o facto de
todo cristão ser um mordomo de Deus, todos nós somos cha-
mados a uma vida de verdadeira obediência a Deus. Mas como
a obediência é sujeita ao conhecimento que temos de Deus e o
entendimento claro da missão que nos é dada, somos chama-
dos a estudar todos os dias as Sagradas Escrituras.
Tal conhecimento e entendimento nos levaria ao se-
gundo pilar: a eficiência no cumprimento de tudo que Deus
ordena. Com esses dois pilares, o mordomo cristão torna-se
maduro para receber grandes responsabilidades como a que
veremos a seguir e, inevitavelmente, torna-se um exemplo para
seus irmãos em Cristo.

2
EFICIÊNCIA. In: DICIO, 2009. Disponível em:
<https://www.dicio.com.br/ eficiencia/>. Acesso em: 08 de Janeiro de
2023.

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16 - Mordomia cristã -

A grande missão
Como vimos, no capítulo sobre a Mordomia cristã, Elie-
zer recebeu uma grande missão e ficou registada no Livro de
Génesis capítulo 24. A grande missão era buscar a noiva de seu
senhor Isaque. Todo cristão recebe uma missão similar a esta:
a de buscar “ a noiva de Cristo”.
Como veremos mais para frente, o objecto da nossa
mordomia não é limitado, apenas, em bens materiais. Assim
como Eliezer recebeu a missão de ir buscar a futura esposa
de Isaque, nós somos chamados para buscar a noiva de Cris-
to. Pontanto, se o mordomo de Abraão, que é um ser humano
como ele não fez nada, além de obedecer todas as directrizes
de seu senhor, por que nós, como mordomos de Deus faríamos
diferente? Se Eliezer buscou a direcção de Deus para que pu-
desse cumprir com zelo a sua missão, por que nós, como cris-
tãos, faríamos diferente? Por que não consultaríamos a Deus
como o velho servo de Abraão? Este rogou a Deus e disse:

“Yahweh, Deus de meu senhor Abraão, sê-me hoje pro-


pício e mostra tua benevolência para com meu senhor
Abraão! Eis que estou junto à fonte e as filhas dos ho-
mens da cidade saem para tirar água. A jovem a quem
eu solicitar: ‘Inclina o teu cântaro para que eu beba’ e
que responder: ‘Bebe, e também a teus camelos darei a
beber,’ essa será a que designaste para o teu servo Isa-
que, e assim entenderei que mostraste tua bênção para
com meu senhor!” (Gênesis 24: 12-14)

Essas duas virtudes tiradas no exemplo de mordomia


de Eliezer (zelo na obediência e busca da direção de Deus), de-
vem ser, para nós, uma bússola que nos levará ao cumprimento
de nossas responsabilidades de mordomo cristão.

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PRINCÍPIOS DA
MORDOMIA CRISTÃ

Como toda doutrina bíblica, a mordomia cristã tem vá-


rias bases, as quais considero, facilmente, perceptíveis e que
não devem ser ignoradas. O facto é que a mordomia cristã cho-
ca contra o ego e obriga o cristão a se despir de toda avareza e
amor às coisas da Terra.
Ser um administrador dos bens de Deus é entender que
nós, e tudo que temos, pertencemos ao nosso SENHOR. Ou seja,
Deus é o dono de tudo e nós somos, apenas, mordomos dos
bens espirituais e materiais outorgados por Ele. Então, vamos
aos princípios da mordomia cristã?

1. Tudo pertence a Deus


Talvez não seja propositado, mas as Sagradas Escrituras
foram organizadas de um modo que permitem, logo de come-
ço, dar xeque-mate contra toda oposição a este princípio. Ob-
serve: “No princípio, Deus criou os céus e a terra.” (Gênesis 1:1)
Diferente da posição dos deístas - os que acreditam que
Deus criou o mundo e suas leis, mas afastou-se dele deixando-o
sob seu próprio governo, as Sagradas Escrituras nos garantem
que Deus está sempre presente na história da humanidade in-
tervindo, de tal modo, que nenhum pardal cai sobre a terra,
sem a permissão dEle (Mateus 10:29).
Assim, na sequência deste primeiro princípio da mor-
domia cristã, para melhor compreensão e por uma questão di-
dáctica, vamos dividir o texto de Deuteronómio 10:14.

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18 - Mordomia cristã -

Eis que os céus e os céus dos céus, a terra e tudo o


que nela existe; tudo, absolutamente tudo, pertence a
Yahweh, o SENHOR, teu Deus. (Deuteronômio 10:14)

(i) Os céus e os céus dos céus são do SENHOR. Não


existe nada nos céus ou nos céus dos céus que não seja de Deus.
Tudo pertence a Ele porque Ele criou tudo que há nos céus e
mantém tudo sob seu governo ou administração.
(ii) A Terra é do SENHOR. Essa verdade, com várias
bases nas Sagradas Escrituras, fazem-me compreender que
ninguém conhece a plenitude da Terra, suas leis de marcha e
subsistência como Deus, o Criador do Universo. o Altíssimo
conhece e está em todo lugar deste imenso universo agindo.
Portanto, somente Ele sabe e pode mudar as circunstâncias e
tempos impedindo ou permitindo qualquer catástrofe natural
e essas verdades trazem-nos paz e conforto, pois sabemos que
o mundo não anda desgovernado e que não mudará de curso
sem a intervenção directa do nosso Deus.
(iii) Tudo que há na Terra é do SENHOR. Todas as cria-
turas, deste Universo, nascem, crescem e morrem pela vontade
Deus. Jesus chega ao extremo deste assunto e afirma que até os
cabelos da nossa cabeça estão na registrados na contabilidade
de Deus (Mateus 10:30), Aleluia! Da mais minúscula bactéria
ao mais complexo ser vivo, todos, absolutamente todos, são de
Deus e estão sob Seu controle.
Todos os homens: sejam ímpios ou crentes, ricos ou po-
bres, letrados ou iletrados, todos, absolutamente todos, são do
SENHOR.
E para concluir sobre o “tudo que nela (Terra) existe”
recorremos às falas do profeta Ageu no versículo 8 do capítulo
2 para afirmar que todo Ouro e prata (riquezas) pertencem ao
SENHOR e finalizamos com o texto a seguir:

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- Introdução à mordomia cristã - 19

Ó SENHOR, tua é a grandeza, o poder, a glória, a vitória e


a majestade, porque tudo quanto há no céu e na terra a
ti pertence. Ó SENHOR, o reino é teu, e tu governas sobe-
rano sobre tudo e todos! (1 Crônicas 29:11)

Sendo que tudo pertente a Deus e nós somos mordo-


mos de Seus bens, tudo o que tiver ao nosso alcanse é objecto
da nossa mordomia. Portanto, somos chamados a cuidar dos
homens, dos animais, plantas e todo meio ambiente em si.
Esse princípio não apenas nos incentiva a sermos pro-
motores de actividades que melhoram meio ambiente e o bem-
-estar dos seres vivos, como também nos incentiva a sermos
defensores destas actividades. A depender do envolvimento
com a matéria de meio ambiente, podemos receber missões
mais complexas como: combate ao abate de árvores, caça de
animais em via de extinção ou missões mais simples como mo-
bilizar campanhas de limpezas, participar de campanhas de
plantações de árvores ou até não deitar o lixo em lugares ina-
propriados.
Na mesma proporção, a depender do nível de envolvi-
mento com matérias de direitos humanos e saúde, todos os
contributos que visam melhorar o bem-estar dos homens e dos
demais seres vivos são um campo de actuação do cristão.

2. Ele dá e tira a quem quiser


Como vimos, no primeiro princípio da mordomia cristã,
tudo pertence ao SENHOR. Isso implica que Ele pode dar, para
gestão destes bens, a quem Ele quiser.
O principal critério usado para atribuição de bens aos
homens é a graça comum que se se manifesta através das leis
naturais deste Universo que nos abriga. Uma destas leis é a
da acção e reação ou da semeadura e colheita. O facto é que,

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20 - Mordomia cristã -

independentemente do credo que se professa, denominação


religiosa ou nível de descrença na existência de Deus, em con-
dições normais, se alguém semear milho vai colher milho e se
alguém não semear não terá colheita.
Seja o cristão mais devoto ou o ateu mais zeloso, aquele
que souber cuidar das suas finanças e investir com sabedoria,
vai prosperar. Portanto, a prosperidade financeira não é direc-
tamente proporcional à fé que se professa, mas, sim, à lei natu-
ral da ação e reação ou semeadura e colheita.
Analisando a vida de alguns dos homens mais próspe-
ros, nas narrações das Sagradas Escrituras, observamos que
sua prosperidade veio de um trabalho árduo e honesto. Abraão
destaca-se, neste assunto, por ser alguém muito próspero.
Contudo, sua história mostra o progresso de sua prosperidade.
Ele compra servos e gados, sai de perto de sua parentela (Gé-
nesis 12), vai para uma que Deus mostra, instala-se e investe
na agricultura e criação de gado. O trabalho quotidiano fá-lo
prosperar a ponto de precisar separar-se de seu sobrinho Ló
por causa das constantes desavenças entre seus servos (Géne-
sis 13:6-8).
Jó era, de igual modo, dono de fazendas e muito gado
e prosperou a ponto de ser o homem mais rico entre todos os
habitantes do oriente de sua época (Jó 1:3).
Estes homens prosperaram do mesmo modo que pros-
peram todos os descrentes que, em condições normais e de
igual modo, investiram com sabedoria e cuidaram de suas fi-
nanças. Pelo que, podemos, assim, perceber que o método or-
dinário pelo qual Deus disponibiliza bens aos homens, é me-
diante atitudes que eles tomarão para os adquirir.
No âmbito espiritual, as coisas acontecem de modo si-
milar. A despeito de recebermos a salvação mediante a graça,

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- Introdução à mordomia cristã - 21

crescer, espiritualmente, requer tempo e zelo na oração, estudo


da Palavra de Deus, jejum e obediência às Sagradas Escrituras.
Se alguém negligenciar a vida de oração, não crescerá
em intimidade com Deus, não terá um ministério cheio de un-
ção e poder. Todo aquele que não se dedica ao estudo constante
e fiel das Sagradas Escrituras, vai cometer mais erros de inter-
pretação, vai ter menos discernimento das coisas espirituais e
será menos usado para ensinar, fielmente, as verdades bíblicas.
Se negligenciar o jejum, terá menos sensibilidade às coisas de
Deus, mais dificuldade de mortificar paixões carnais, etc. Todos
estes bens (naturais e espirituais) são dados por Deus a todos
os homens que desejarem e buscarem de modo certo.
Não devemos descartar que, neste processo de aquisi-
ção de bens (naturais e espirituais), podemos encontrar algu-
mas excepções, mas todas alinhadas com a vontade de Deus
que é: a de dar o que Ele quer a quem quer dar. E o mesmo
Deus que dá para administração também pode tirar quando
quiser. Do mesmo modo, como concede aos homens os bens,
Deus pode tirar estes bens.
A retirada destes bens pode não ser bem encarada por
muitos homens, principalmente aqueles que estão mais ape-
gados aos bens do que a Deus. Há, infelizmente, certos crentes
que perdem toda a fé em Deus, quando Ele decide tirar. Ho-
mens deixam de adorar a Deus, porque perderam alguém que
amam, seu trabalho ou outrosbens. Isso acontece, porque não
foi perfeito o entendimento deste princípio (Deus tira e dá a
quem quiser).
Ainda que não fosse, directamente, Deus tirando os
bens de Jó, ele tinha, certamente, esse princípio bem claro em
sua consciência. Ele diz em Jó:

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22 - Mordomia cristã -

E exclamou em oração: “Nu deixei o ventre de minha


mãe, e nu partirei da terra. Yahweh deu, Yahweh o tomou;
louvado seja o Nome do SENHOR!” (Jó 1:21)

Se Jó estivesse mais apegado aos bens do que a Deus,


certamente, teria seguido o conselho de sua mulher que, de-
pois de ver os bens, filhos e até a saúde de Jó ser tirada, em
tão curto espaço de tempo, aconselhou blasfemar contra Deus
e morrer (Jó 2:9). Viemos neste mundo sem nada e de igual
modo vamos sair daqui. Nenhum, absolutamente nenhum, dos
bens materiais que Deus nos confiou, nesta terra, vamos levar
na nossa morte. E, enquanto estamos vivos, absolutamente,
nada do que Deus decidir receber de nós conseguiremos man-
ter connosco. Ele dá e tira a quem e quando quiser.
Indubitavelmente, Deus é bom e nada recebe de nós
sem uma razão. No caso de Jó, queria ensinar lições para Sata-
nás, para nós e para o próprio Jó. Para Satanás, a lição de que
Deus tem verdadeiros adoradores e estes não precisam ser
“comprados com bênçãos” para que O adorem (Jó 2:3). Para
nós o testemunho de que é possível ser fiel a Deus no muito, no
fundamental e na escassez(Jó 2:10). Jó nos ensina que Deus é
maior que Suas bênçãos. E, para o próprio Jó, Deus ensina que
Ele não precisa prestar contas a ninguém, não é obrigado a res-
ponder às questões de ninguém (Jó 40:2).
No final, Jó recebeu o dobro de tudo o que perdeu du-
rante a provação porque entendeu qual era a fonte de sua pro-
visão. Seu coração estava preparado para receber as bênçãos
de Deus, sem permitir ser dominado por elas. Desse modo, ain-
da que, no momento, não tivesse o entendimento do propósito
de Deus diante da ferrenha tributação que o assolava, Jó sabia
que quem dá pode tomar (Jó 1:21) e O adorou.

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- Introdução à mordomia cristã - 23

É sob esse pano de fundo que me permito acreditar que


não apenas na perdas, como também nos ganhos, Jó entendia
que era Deus quem dava filhos, fazendas, plantações e gados,
ainda que nada disso tivesse caído dos céus e exigisse seu co-
nhecimento, expertise e dedicação.

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- CAPÍTULO 2 -
ADMINISTRAÇÃO
DOS BENS DE
DEUS

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ADMINISTRAÇÃO
DOS BENS DE DEUS

Independentemente do grau de formação ou especiali-


zação académica, todo ser humano é um administrador ou ges-
tor de algo ou alguém. Nossa vida, por exemplo, está sob nossa
administração no sentido de sermos nós quem escolhemos o
que vamos comer, beber ou vestir, só para citar alguns exem-
plos. Na medida em que crescemos, em estatura, conhecimen-
to ou na graça de Deus, as responsabilidades, no caso daquelas
que são bem executadas, tendem a gerar experiência. Portanto,
a confiança de que aquele que desempenhou as suas funções
está apto para as desempenhar, novamente, e/ou receber ou-
tras responsabilidades brota naturalmente. Há quem, por pre-
guiça, falta de esforço ou até imaturidade, precisa falhar várias
vezes para acertar, enquanto que, doutra forma, outros, em al-
gumas áreas da vida, simplesmente, nunca amadurecem, infe-
lizmente.
Já reparou que Deus está sempre trabalhando em nosso
crescimento, ensinando-nos e colocando-nos a prova? É Costu-
me dizer que Deus nos prova, não para que Ele saiba se esta-
mos aprovados, porque o Altíssimo é Omnisciente e, portanto,
sabe de todas as coisas. Sua prova tem como objectivo mostrar
a nós mesmo, como somos e estamos nos assuntos ensinados
por Ele.
E se Deus nos provasse, em assuntos relacionados aos
bens que nos deu para administrar, como fez com os homens
mencionados na parábola dos talentos (Mt 25:14-28)? Ou se

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nos pedisse a conta da nossa mordomia como contado na pará-


bola do mordomo infiel em Lucas 16:1-6?
Todo bom administrador precisa, pelo menos, desem-
penhar bem três funções principais que são: preservar, fiscali-
zar e prosperar o bem que recebeu e é sobre essas três funções
nas quais nos vamos concentrar neste capítulo.

Preservação dos bens de Deus


Antes de mais, preciso deixar claro que, quando me refi-
ro à preservação dos bens Deus, não quero com isso dizer que
nosso papel é “enterrar” os bens de Deus para devolver quando
nos pedirem a conta. Com preservar, refiro-me a manter fun-
cional e bem cuidado o que temos para administrar. É como
manter uma empresa funcionando e cuidar das receitas e des-
pesas.
Para facilitar a compreensão deste tópico, vou siste-
matizar os principais grupos de despesas naquilo que vamos,
aqui, chamar de “partes”.

A parte de Deus, minha parte e parte do próximo


A mordomia é, sem sombra de dúvida, um princípio na-
tural ao homem desde o jardim do Éden. Repare que foi, exac-
tamente, para administrar que o SENHOR colocou Adão naque-
le jardim. Observe o que as Sagradas Escrituras dizem:

Então Deus determinou: “Façamos o ser humano à nos-


sa imagem, de acordo com a nossa semelhança. Domi-
nem eles sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu,
sobre os grandes animais e todas as feras da terra, e
sobre todos os pequenos seres viventes que se movem
rente ao chão!” Deus, portanto, criou os seres humanos

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- Administração dos bens de Deus - 27

à sua imagem, à imagem de Deus os criou: macho e fê-


mea os criou. Deus os abençoou e lhes ordenou: “Sede
férteis e multiplicai-vos! Povoai e sujeitai toda a terra;
dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e
sobre todo animal que rasteja sobre a terra!” (Gênesis
1:26-28)

Dominem (os homens) sobre todo animal da Terra, Óh Gloria!


Fomos criados para administrador os bens de Deus.
Em seguida, Deus coloca todos os animais diante de
Adão e ordena que nomeie cada um deles e o nome que Adão
deu este permaneceu (Génesis 2:19-20).
Ao olharmos para um chefe de família que trabalha
como professor e recebe 50 mil kwanzas/mês, observaremos
que, mesmo sem o conhecimento da doutrina sobre a mordo-
mia cristã, inconscientemente, sabe que precisa administrar
esse valor de acordo com os princípios que conhece, fazen-
do a distribuição de valores segundo o número e prioridade
das despesas que tem. O homem tem a capacidade natural de
administrar os bens dados por Deus. E, desde o Génesis, esse
princípio de administração envolve dar o que é de Deus, tirar o
nosso e dar o que é para o próximo. Mas vamos por partes. Qual
é a parte de Deus?

1. A parte de Deus
Como vimos, desde a “infância da humanidade”, Deus
ensinou aos homens a devolverem a Ele algumas porcentagens
do rendimento de trabalho obtido.
A primeira referência bíblica sobre o assunto encontra-
-se em Génesis capítulo 3, a partir do versículo 4, quando Abel
oferece as primícias e as gorduras do seu rebanho ao SENHOR.

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O facto de Abel oferecer para Deus às primícias, em


detrimento de Caim, que ofereceu apenas alguns produtos dos
seus produtos do campo (verso 3), resultou na aceitação com a
alegria da oferta de Abel e rejeição da oferta de Caim. Não era
o que um ou outro ofereceu, era o que eles estavam oferecendo
para Deus; Se eram as primícias, como Deus ensinou e desejou,
ou apenas qualquer produto que Caim desejava oferecer para
Deus.
Embora não consigamos encontrar, antes desse episódio,
nenhuma referência bíblica instituindo o princípio de devolver
a parte de Deus, essa narração mostra-nos, claramente, tal
princípio, o qual mais tarde é estabelecido por Deus através de
Moisés.
Depois de uma análise de vários textos das Sagradas
Escrituras, posso classificar a parte de Deus em três tipos de
ofertas que são: as primícias, os dízimos e ofertas gerais, todas
elas instituídas por Deus para edificação e/ou manutenção
de Seu santo templo, sustento de seus obreiros, avanço de
Sua obra e, não menos importante, para o sustento dos mais
necessitados, com acentuado grau de prioridade para orfãos e
viúdas.

1.1. As primícias no Antigo Testamento


O dicionário de Strong define primícias como sendo os
“primeiros frutos”1. A Primeira referência directa da instituição
da entregar das primícias encontramos em Êxodo.

“Traze-me, no tempo certo, as primícias das ofertas de


tuas colheitas de cereais, de vinho e de azeite. Consagra a

1
STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. 1 ed. Barueri, SP: Sociedade
Bíblica do Brasil.

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mim o primogénito de teus filhos.” (Êxodo 22:29)

No texto acima, Deus ordena que o povo de Israel leve a


Ele as primícias e consagre a Ele o primogénito, que também é
primícias de seus filhos.
As primícias diferem dos dízimos no seguinte: primícias
correspondem ao ganho ou valor do primeiro dia de produção.
Se abordarmos numa linguagem mais industrializada, seria
valor equivalente a um dia de salário numa retenção dos 30
dias que se recebe por vencimento, enquanto os dízimos cor-
respondem a 10% do salário bruto.

1.2. Dízimos no Antigo Testamento


Não existe dificuldade nenhuma para se constatar a
respeito da remota prática de devolver a Deus a décima parte
do rendimento no Antigo Testamento. De Génesis a Malaquias,
as referências sobre o assunto destacam o claro entendimento
que o povo tinha sobre a prática.
O acto de dizimar era mais do que um simples ritual,
chegando a ser um verdadeiro instrumento para avaliar a es-
pititualidade do povo de Deus. Assim, toda vez que o povo de
Deus deixava de dar os seus dízimos revelava, além de sua cla-
ra desobediência, o quão distante do Criador estavam e como
se importavam mais com seus afazeres e prosperidade do que
honrar e servir a Deus. O texto abaixo levar-nos-á a uma análi-
se mais detalhada sobre o assunto.

Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que


haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz
o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas
do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida.
(Malaquias 3:10)

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Esse simples texto revela grandes verdades. A primeira é que


havia mais do que um tipo de dízimo (Trazei todos os dízimos).
Um estudo sobre o assunto fez-me encontrar, pelo menos, 4
tipos de dízimos frequentes no Antigo Testamento.
A segunda é sobre o local certo para a entrega dos
dízimos: a casa do SENHOR. Pois, só assim, a autoridade
estabelecida por Deus para administração de Sua casa podia
usá-la de acordo com as ordenanças de Deus. Pontanto, por
mais boa vontade que se tenha de ajudar os necessitados,
socorrer uma situação emergente, o Antigo Testamento não
apresenta nenhum exemplo ou ordenança de se usar o dízimo
para esses fins. Ou seja, o crente, naquela altura, tinha o claro
conhecimento de que devia, ordinariamente, separar os
dízimos para ser levado no lugar na casa de Deus para cumprir
com o propósito estabelecido por Deus.
A terceira e última é que, embora haja uma aparente
ideia de troca com Deus, os dízimos não devem ser entendidos
como uma forma de negociar com Deus. Dar o dízimo é cumprir
com o dever de todo filho de Deus de contribuir para o avanço
de Sua obra. Portanto, não dizimar seria não dar a Deus o que a
‘Ele pertence por direito, o que Malaquias 3:8 chama de roubar
a Deus.
A palavra que o profeta Malaquias usa (roubar) refere-
se tirar à força os bens de alguém. Diferente do furto que é o
acto de se apoderar da coisa alheia sem o uso de violência,
Deus, através do profeta, alega que o povo estava a tirar de
modo violento o que é d’Ele por direito.

1.3. Ofertas no Antigo e Novo Testamentos


As ofertas são menos problemáticas que os dízimos e
primícias, dada a facilidade de se encontrarem referências
muito claras sobre o assunto nos dois Testamentos.

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de berilo, ônix, de engaste, de ornato, pedras de várias cores,


turquesas, todo o tipo de pedras preciosas e muito mármore
(versículo 2). A seguir, os chefes das famílias, os líderes das
tribos, comandantes e oficiais ofertaram com generosidade e
alegria (versículo 6). Essa oferta generosa e cheia de alegria do
rei Davi e seus súditos fez com que todo povo se motivasse a ir
ofertar também. O texto nos diz que:

Todo o povo muito se alegrou diante da atitude do rei e


de seus líderes, porquanto entregaram essas ofertas com
alegria, generosidade e pureza de coração a Yahweh, o
SENHOR. E o rei Davi de igual modo ficou extremamente
satisfeito. (1 Crônicas 29:9)

Nesse texto encontramos os três elementos


fundamentais de uma oferta que agradam a Deus: alegria,
generosidade e pureza de coração.
Segundo a consciência de Davi ao ofertar, expressa em
sua oração. Ele orou dizendo:

Ó Yahweh, nosso Deus, toda essa riqueza que doamos


a fim de construirmos uma Casa em honra ao teu Santo
Nome vem das tuas próprias mãos, e todo esse tesouro
pertence a ti. (1 Crônicas 29: 16)

O texto acima texto apresenta, claramente, que Davi


sabia que tudo pertence a Deus e que eles estavam apenas
separando a parte de Deus, como um bom administrador dos
bens de Deus deve fazer.
Os evangelhos sinópticos de Marcos e Lucas contam-nos
uma das maiores referências quando tratamos sobre ofertas.

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[...] “Porquanto, todos eles ofertaram do que lhes sobrava;


aquela senhora, entretanto, da sua penúria deu tudo
quanto possuía, todo o seu sustento”. (Marcos 12:44)

A diferença entre a oferta daqueles ricos e viúva é


abismal. Embora tivessem depositado grandes quantidades,
a oferta daqueles ricos era o que sobrava. Os homens olham
para a quantidade, Deus olha para a qualidade. Você se lembra
da diferença entre a oferta de Caim e Abel? Lembre-se que
Deus recebeu uma e rejeitou outra pela qualidade que cada
oferta possuia, pois ofertar é muito mais do que levar para
Deus dinheiro ou bens. Assim, ao ofertarmos, devemos levar o
coração em adoração devolvendo na proporção que recebemos.
Para Dono do ouro e da prata, a oferta com qualidade é a feita
na proporção do que de Ele dá a cada um. Isso significa que
oferta não pode ser o troco das despesas, nem o dinheiro que já
não tem para onde ser gasto, porque tudo isso é sobra. Ofertar,
proporcionalmente, significa planificar a “parte de Deus” como
se planificam os demais custos ou despesas. Não é o que sobra
para Deus, oferta é o que se planifica, se separa e se devolve
para Ele como acto de devoção.
Aquela pobre mulher, contudo, deu mais do que devido
(proporcionalmente), ela deu uma oferta sacrificial, ou seja,
deu tudo o que possuia, todo seu sustento.
Raras vezes, Deus pede uma oferta sacrificial e, sempre
que o faz, a razão por trás é a transformação do coração de seus
filhos que resulta em uma dependência total na provisão de
Deus. No entanto, “a viúva das duas moedas”, decidiu fazer por
si mesma. Sem revelação, sem mensagens ameaçadoras em
forma de pregações sobre o devorador, apenas movida pelo seu
desejo de dar todo seu sustento para Deus em oferta sacrificial.

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Elas podem ter diferentes objectivos, formas e quanti-


dade a depender do desejo de quem dá para Deus como reco-
nhecimento do que ‘Ele tem feito em sua vida.
Quando o assunto é ofertas sou atraído, inevitavelmen-
te, a olhar para o que Davi disse, enquanto consagrava a Deus
todas as ofertas entregues para a construção do templo ao SE-
NHOR. Duas coisas chamam-me a atenção nesse episódio. Pri-
meiro, a forma como o povo se prontificou para ofertar. Eles,
certamente, tinham uma visão bem clara sobre o que é ofertar
a Deus. Davi, inicialmente, ofertou do seu tesouro pessoal: mui-
to ouro para as obras de ouro, prata para as de prata, bronze
para as de bronze, ferro para as de ferro e todo o suprimen-
to da melhor madeira para as de madeira; assim como pedras
É com as ofertas sacrificiais que se alimentam as mis-
sões que tornam a palavra de Deus acessível a todos, em dife-
rentes idiomas, formatos e tamanhos, promovendo a tradução
e doação de bíblias aos povos das zonas mais rurais, susten-
tando os missionários e contribuindo para o crescimento da
igreja. Nisso, concordo com missionário e pastor Sul- africano
Andrew Murray quando disse:

Pense na igreja e em sua obra neste mundo, nas missões


locais e no estrangeiro; e nas milhares de instituições
que existem para arrancar os homens do pecado, para
levá-los a Deus e à santidade. É uma grande verdade que
a moeda deste mundo, ao ser atirada no ofertório com
o espírito apropriado, pode receber o cunho da Casa da
Moeda do céu e ser aceito no intercâmbio de bênçãos
espirituais. (Murray, [s.d.], p. 10)

Por um lado, a oferta sacrificial exige um coração que

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largou todo amor pelo dinheiro a ponto de dar para Deus aque-
le dinheiro que seria para um destino diferente. Por outro
lado, revela quão firme é a certeza que Deus é o Pai Provedor
que ama e cuida Seus filhos que vivem em Sua dependência,
pois “já crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus
desejos” (Gálatas 5:24) e se fizeram escravos de Jesus Cristo,
diferente daqueles que por trás de sua “oferta sacrificial”, se
revela o seu amor ao dinheiro, sua intenção de negociar com
Deus “dando a Ele um dinheiro que virá com juros”.
Lembre-se que a igreja de Atos é conhecida e referen-
ciada, não apenas como uma igreja que orava, jejuava e evan-
gelizava, como também como uma igreja que depositava todos
os seus bens ao serviço da obra de Deus e sustento dos neces-
sitados (Actos 2:44-45 e 4:34-37).

O que mais desejo vir a aprender com Ele é que, o dinhei-


ro que causa tantas tentações e pecado, aflição e conde-
nação eterna, ao ser recebido, administrado e posto aos
pés de Jesus, o Senhor do tesouro, passa a ser um dos
canais escolhidos por Deus para agraciar a mim mesmo
e aos outros. Nisto também somos mais que vencedores,
por intermédio d’Aquele que nos amou. (Murray, [s.d.],
p. 12)

Assim, o modo como ofertamos pode, dentre as várias,


revelar o nível do nosso entendimento sobre o que é oferta
(1Cr 29:9), nosso amor ao dinheiro (1Tm 6:10) e nosso en-
gajamento imparcial no avanço da obra de Deus (2Co 9:7).
Não obstante, a administração dos bens de Deus é um
exercício requer um coração que se dedica no crescimento da
obra do Senhor. Essa dedicação só é completa quando cada
cristão dá tudo de si para que almas sejam alcançadas, irmãos

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são edificados e Deus é glorificado com o crescimento de Seu


Reino. Por isso costuma se dizer que missões são feitas com os
pés dos que vão anunciar o evangelho, com os joelhos dos que
oram pelas missões e com os bolsos ou mãos dos que doam.
Todavia, não significa que os que o nosso envolvimento com
o avanço da obra ou com o crescimento das missões deve ser
parcial ou concentrado em apenas uma forma de fazer missões,
antes que coloquemos tudo que o Dono da obra nos concedeu,
sejam dons espirituais, sejam habilidades naturais ou talen-
tos, sejam recursos materiais ou intelectuais para cooperar no
avanço da obra de Deus.
O mundo clama por missões que só serão feitas quando
a igreja se disponibilizar para ir atrás dos povos ainda não al-
cançados. Todas as missões nascem do coração de uma igreja
que entendeu a missão do ide e se compromete a fazer a Boa
Nova conhecida até aos confins da Terra.
Grande número dos campos missionários se fecham ou
estão em risco de dar sequência com a obra missionária por-
que a igreja pouco investe em missões. Pouco investe na cria-
ção de escolas de treinamento para missionários, na produção
de literaturas de discipulado cristão e no apoio às agências
missionárias. Tanto de forma particular como cristãos, quanto
de forma mais abrangente como igreja local. E, sobre esse as-
sunto, o teólogo e pastor norte-americano Warren W. Wiersbe
diz:

Não há zelo ou adoração que compense pelas


oportunidades perdidas de servir a outros e suprir suas
necessidades práticas. Não são actividades mutuamente
exclisivas. Afim de que nossa luz brilhe de maneira
intensa e constante, deve haver um equilíbrio entre
compartilhar o evangelho e atender às necessidades

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práticas. Alguém disse bem que é difícil pregar o evan-


gelho a um homem faminto. (Wiersbe, 2006, p. 867).

A obra missionária precisa tanto do nosso conhecimen-


to, dons espirituais e naturais, paixão, zelo quanto do nosso di-
nheiro. Deixar de fazê-la é estar indiferente às almas que pre-
cisam da sua entrega, oração e oferta para terem não apenas o
material, como também o espiritual. E o apóstolo do amor nos
permite ter uma visão mais clara da razão da nossa dedicação
quando diz:

Nisto conhecemos todo o significado do amor: Cristo


deu a sua vida por nós e devemos dar a nossa vida por
nossos irmãos. (1João 3:16)

Cristo deu Sua vida por nós e a exortação do apóstolo


João é que, de igual modo, possamos dar nossas vidas pelos
nossos irmãos. Só é possível dar muito quando se consegue dar
o pouco e só possível dar a vida quando se repartir bens e bên-
çãos. E João acrescenta:

Se alguém possuir recursos materiais e, observando


seu irmão passando necessidade, não se compadecer
dele, como é possível permanecer nele o amor de Deus?
Filhinhos, não amemos de palavras nem de boca, mas
sim de atitudes e em verdade. (1 João 3:17-18)

De forma directa, João refere-se à compaixão para uma


ajuda material com os recursos materiais. A aplicação indirecta
que aqui faço, refere-se à, além da ajuda material, usar os
recursos materiais para apoiar a propagação do evangelho e

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edificação do corpo de Cristo, fazendo com que a nossa devoção


a Deus resulte em uma vida piedosa, a qual ajusta a motivação
pela qual contribuímos. Alguns dão por obrigação, outros
para fazer propaganda de “seu bom coração”, como forma de
alimentar seu orgulho e há ainda quem dê por mero hábito de
depositar no balaio a sua oferta. No entanto, somente os que
com alegria e pureza de coração, recebem de Deus as bênçãos
que resultam de uma oferta feita com a motivação certa.

Se nossa motivação é receber reconhecimento humano,


então, como os fariseus, chamaremos atenção para o que
estamos fazendo. Se nosso motivo é servir a Deus e lhe
agradar em amor, realizaremos nossas contribuições sem
chamar atenção e, assim, cresceremos espiritualmente,
Deus será glorificado e outros serão ajudados. Mas
se ofertamos com motivos errados, privámo-nos das
bênçãos e das recompensas e roubamos a glória de
Deus, mesmo que o dinheiro ofertado ajude uma pessoa
necessitada. (Wiersbe, 2006, p. 29).

Como filhos de Deus, nossa real motivação é fazer com que


nossas ofertas, tanto as que são entregues na casa do Senhor,
quanto aquelas dadas para ajudar o próximo, fazem com que
“resplandeça a [nossas] luz diante dos homens, para que vejam
as [nossas] boas obras e glorifiquem a [nosso] Pai, que está nos
céus” (Mateus 5:16 - ACF).

1.4. Primícias e dízimos na actualidade


Os nossos dias são um verdadeiro campo de debates e
as várias doutrinas bíblicas não são uma excepção. Quase ou
até mesmo 100% das doutrinas são temas de debates em que

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as opiniões divergem entre os cristãos e/ou não cristãos e a


doutrina sobre primícias e dízimos não fugiu à regra.
O facto de não existir nenhuma menção sobre primícias
e dízimos é base para as duas grandes correntes sobre o tema.
Tanto os que defendem a continuidade quanto os que defendem
a não continuidade das primícias e dízimos usam esse mesmo
facto como base para defender as suas crenças e práticas.
Enquanto, por um lado, os que acreditam na continuação dos
dízimos apoiam-se nesta base para defender que a não proi-
bição é aval para que a igreja continue com as práticas vete-
ro-testamentárias de dar para Deus suas primícias e devolver
o(s) seu(s) dízimo(s), por outro lado, os que defendem o con-
trário apoiam-se na mesma base para defender que, se não há
menção ou exemplo desta prática, no novo testamento, não há
uma base para a continuidade.
No entanto, para aqueles defendem a não continu-
ação dos dízimos, a principal base nem é a não menção no
Novo Testamento. Esses, apoiando-se no facto de que as
leis cerimoniais não precisam ser guardadas pelos cristãos,
defendem que, assim como a circuncisão, o sacrifício de
animais, a guarda do sábado e demais leis cerimoniais, a práti-
ca de dar o dízimo não tem respaldo para os cristãos.
Minha intenção não é defender uma ou outra. Não obs-
tante, é necessário que todo cristão entenda duas grandes ver-
dades: A primeira é que acreditar na continuidade ou não con-
tinuidade das primícias e dízimos não é critério para salvação
ou espiritualidade. Ou seja, independentemente de qual seja a
sua crença e prática, dar ou deixar de dar primícias e devolver
o(s) dízimo(s) não nos torna mais nem menos salvos ou espiri-
tual do que o irmão que defende o contrário.

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- Administração dos bens de Deus - 39

A segunda verdade é que ambas as correntes defendem


a continuação de dar “a parte de Deus”, contribuindo, periodi-
camente e de acordo com as bênçãos materiais que recebem
de Deus, para que essas ofertas ou contribuições sirvam para
edificação e/ou manutenção do templo de Deus, sustento dos
seus obreiros, apoio à obra de Deus e ajuda aos mais necessita-
dos. Portanto, ambas as correntes, embora de forma diferente,
acabam dando “a parte de Deus” para que sejam alcansados os
mesmos objectivos.

2. A minha parte
Como vimos, no primeiro capítulo (Introdução à mor-
domia cristã), A despeito do mordomo não ser o dono de todos
os bens, tem privilégios que é “a parte do mordomo” na distri-
buição dos bens que o SENHOR dos bens o confia.
No caso da mordomia cristã, a parte do mordomo tende
a ser distribuída de acordo às várias necessidades que possui
desde alimentação, saúde, educação, habitação, saneamento,
lazer, entre outras necessidades colocadas na balança na qual,
do outro lado, está a quantidade de bens que o mordomo tem a
administrar. Por esta razão, a mordomia compreende que não
há um “salário base” para cada mordomo. Cada mordomo vive
de acordo com a realidade da sua mordomia. Alguns mordo-
mos poderão fazer viagens durante as férias laborais, enquan-
to outros terão apenas o essencial para sobreviver.
Talvez a sua pergunta seja: o que está por trás, ou
quais são os critérios que fazem com que alguns mordo-
mos tenham mais bens sobre sua mordomia do que outros?
Acredito que são vários, dentre eles, e o mais importan-
te, o propósito de Deus na vida do mordomo. Acredito que,
por trás da prospe ridade que Deus concede, está o pro-
prósito de, através destes bens, ajudar quem mais precisa.

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40 - Mordomia cristã -

3. A parte do próximo
É uma verdade irrevogável afirmar que vida do homem
sempre foi voltada em servir os outros. Essa verdade torna ine-
vitável abordar sobre mordomia cristã, sem mencionar a parti-
lha de bens com o próximo.
Durante a minha abordagem, entendamos por próximo,
toda pessoa que estiver sob nosso alcance de intervenção, sejam
familiares, amigos, colegas, vizinhos ou qualquer outra pessoa,
ainda que desconhecida. As leis de Deus para o povo de Israel
mostram o modelo de liderança de Deus, que é consciente da
desigualdade económica entre os homens e preocupado com o
sustento dos mais necessitados.
Uma análise sobre essas leis dá-nos uma clara percep-
ção de como Deus estava garantindo que através daqueles que
têm mais possessões, riquezas ou bens, pudessem suprir os
que têm menos.
Todo Israelita sabia que, durante seis anos, podia
semear e colher, mas que, no sétimo ano, devia deixar a terra
“descansar” e não cultivar. Neste tempo, Deus fazia com que a
terra produzisse, por si mesma, alimento que serviriam para os
pobres dentre o povo (Êxodo 23:11).
Outra ordenança estava relacionada à celebração da
festa das semanas ou festa das colheitas, a mesma que, depois
do século III, passou a ser conhecida como festa de pentecostes.
Na época de colheita, os proprietários não podiam colher
até o limite ou extremidades, nem apanhar toda espiga que
caia durante a coleita. Eles deviam deixar para os pobres e
estrangeiros (Lv 23:22).

E, quando teu irmão empobrecer, e as suas forças decaí-


rem, então sustentá-lo-ás, como estrangeiro e peregrino
viverá contigo. Não tomarás dele juros, nem ganho; mas

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- Administração dos bens de Deus - 41

do teu Deus terás temor, para que teu irmão viva con-
tigo. Não lhe darás teu dinheiro com usura2, nem darás
do teu alimento por interesse. Eu sou o SENHOR vosso
Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos dar a ter-
ra de Canaã, para ser vosso Deus. (Levítico 25:35-38
- NVI)

O Senhor havia também ordenado que, no ano do jubileu, toda


a dívida fosse perdoada. Esse detalhe fazia muitos endurece-
ram seus corações, quando recebiam a solicitação de um em-
préstimo, na véspera do jubileu, pois sabiam que com o perdão
da dívida, já não teriam o reembolso do bem que foi dado por
empréstimo. Sobre esse assunto o SENHOR também alerta o
povo dizendo:

Quando houver um pobre em teu meio, que seja um só


dos teus irmãos numa de tuas cidades, na terra que o
SENHOR teu Deus te está doando, não endurecerás teu
coração, tampouco fecharás a mão para com este teu
irmão pobre; pelo contrário: abre-lhe generosamente
a mão, emprestando o que lhe falta, na medida da sua
necessidade. Fica atento a ti mesmo, para que não
surja em teu íntimo um pensamento avarento e pagão:
‘O sétimo ano, o ano do cancelamento das dívidas,
está se aproximando, e não quero ajudar o meu irmão
necessitado!’ Cuidado! Ele poderá apelar ao SENHOR.
Quando lhe deres algo, não dês com má vontade, pois,
em resposta a este gesto, Yahweh teu Deus te abençoará
em todo o teu trabalho, em todo empreendimento da

2
usura - juro de capital [valores monetários] emprestado. USURA. In: DICIO
(CAMANHO e TAVARES. 2ª Edição, p.602)

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42 - Mordomia cristã -

tua mão. Nunca deixará de haver pobres na terra; é por


este motivo que te ordeno: abre a mão em favor do teu
irmão, tanto para o pobre como para o necessitado de
sua terra! (Deuteronômio 15: 7-11)

Esse cuidado, para com o próximo, continua sendo uma


ordenança de Deus e um dever de todo mordomo dos bens de
Deus. O nível de cuidado pelo próximo começa com os da nossa
casa. Quando um cristão, tendo bens, negligencia o cuidado
dos seus familiares falha como cristão e se posiciona pior do
que um incrédulo (1 Timóteo 5:8). Como bons mordomos,
precisamos fazer com que os bens que Deus nos confiou, sejam
usados para o bem estar de nossa casa e nossos familiares,
inicialmente.
Cuidar da família é a prioridade de qualquer mordomo
dos bens de Deus. Não deve, nenhum cristão deixar a sua
família passar necessidades para ostentar ou distribuir os bens
que Deus o confiou a outros. Esse tipo de administração não
glorifica a Deus e não tem sustento nas Sagradas Escrituras.
Só depois do sustento das necessidades essenciais da nossa
família, devemos olhar para o mais adiante, ajudando nossos
irmãos em Cristo e todo aquele que precisar.

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MORDOMIA PARA
GLÓRIA DE DEUS

Toda a tentativa de administrar os bens que o SENHOR


nos confia que não é legislada pelas Sagradas Escrituras não
produz glória para Deus e não deve ser o modelo de mordomia
que o cristão deve adoptar. A mordomia cristã tem como alvo
principal a glória que deve ser dada a Deus.
Uma mordomia para glória de Deus, em primeiro lugar,
reconhece que todos os bens que o SENHOR nos concede vem do
próprio Deus e está connosco para que seja bem administrado.
Sobre este princípio já tratamos no quarto capítulo (Princípios
da mordomia cristã).
Em segundo lugar, a mordomia cristã entende que os
bens devem ser disponibilizados a quem realmente precisa e
não deve ser privado por motivos egoístas.
Esse princípio, certamente, norteava a vida dos
irmãos da igreja primitiva. É possível chegar a esta conclusão
estudando os primeiros capítulos do relato histórico dos Actos
dos Apóstolos. Analisemos, então, alguns destes pontos através
do texto abaixo:

Eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na


comunhão, no partir do pão e nas orações. E na alma
de cada pessoa havia pleno temor, e muitos feitos
extraordinários e sinais maravilhosos eram realizados
pelos apóstolos. Todos os que criam estavam unidos e
tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades
e bens, e dividiam o produto entre todos, segundo a

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44 - Mordomia cristã -

necessidade de cada um. Diariamente, continuavam a


reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas
casas e juntos participavam das refeições, com alegria
e sinceridade de coração, louvando a Deus por tudo e
sendo estimados por todo o povo. E, assim, a cada dia
o SENHOR juntava à comunidade as pessoas que iam
sendo salvas. (Atos 2: 42-47).

É desafiadora a atitude da igreja primitiva. Eles vendiam


suas possessões para que pudessem compartilhar de seus bens
com quem precisa, distribuindo de acordo a necessidade. Esse
é um nível de mordomia que exige uma profunda mortificação
dos desejos da carne e egoísmo.
Tudo isto me faz recordar sobre um conto que li, algures
nas redes sociais, e cuja autoria me é desconhecida. Aqui vai a
versão adaptada:

“Conta-se que havia dois jovens amigos e que um dos dois


tinha a mãe doente. Este, o que tinha a mãe doente, ligou
para o seu amigo informando que a sua mãe estava doente e
correndo risco de perder a vida e que precisava urgente de
um empréstimo para comprar os fármacos. O amigo, mesmo
não tendo o valor solicitado, pediu para que aguardasse até
determinada hora para poder conceder o empréstimo. Quando
chegou a hora combinada, o jovem com a mãe doente ligou
para o amigo mas o telemóvel dava desligado.
Depois de várias tentativas ficou triste e ainda mais
desesperado. Quando menos esperou, chegou o seu amigo com
os fármacos todos e os entregou. O jovem que outrora estava
desesperado recuperou a alegria e disse:
- Amigo, liguei várias vezes para ti mas o teu telemóvel está
desligado.

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- Administração dos bens de Deus - 45

- Não havia conseguido dinheiro então vendi o meu telemóvel e


comprei os medicamentos para a tua mãe, respondeu o amigo
que comprara os fármacos.”
Os bens ficam com quem mais precisa deles. Este é o
modelo de mordomia que vejo nas Sagradas Escrituras: não
apegado aos bens, mas às pessoas. O contrário é materialismo
e falta de amor ao próximo. Bem, como diz o adágio popular:
“Deus fez as pessoas para serem amadas e coisas para serem
usadas, mas nós usamos as pessoas e amamos as coisas”.
Com certeza, não é um princípio fácil de se viver, mas é
um desafio que todo cristão deve abraçar orando e estudando
sobre o assunto até que se torne nosso estilo de vida, até que
valorizar a vida humana e o bem estar do próximo seja mais
importante do que acumular bens.
Em terceiro lugar, administrar para glória de Deus
exige cuidar e fazer com que os bens sejam cuidados para que
prosperem e abençoem mais vidas. Para abordar sobre este
ponto, vamos ao próximo capítulo.
A despeito de usar o termo mordomia cristã, a mordomia
é uma prática muito mais antiga do que o cristianismo. Como
pudemos ver, tivemos exemplos desta prática de piedade,
devoção e zelo de homens de Deus cujo relato histórico
encontramos no Antigo Testamento. No entanto, apesar da
distância contextual e temporal, o ponto mais alto da mordomia
está visível nas pegadas de seus trajectos na terra. Todos eles,
sem excepção, têm um profundo amor por Deus acima das dos
bens de Deus. Todos os eles, mesmo possuindo riquezas, não
se aprisionavam a elas, antes fugiam o amor às coisas. Assim,
Moisés, diante do discurso de Deus de dar a ele e ao povo todas
as coisas que prometeu desde Abraão a Jacó, diante da oferta
de obter livramento dos seus inimigos, Provisão de um lar e
alimento oferecidos com a cláusula de Deus não os conduzir,
afirmou sem titubear:

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46 - Mordomia cristã -

[...] “Se não vieres Tu mesmo, não nos faças sair daqui”.
(Êxodo 33:15)

E Moisés obteve, não apenas a companhia e cumprimento


das promessas do Guardião de Israel durante a peregrinação,
como também, um grande nome entre os homens e um lugar
no Céu.
Até hoje, nenhum homem conhece o lugar de sua
sepultura, pois o próprio Deus o sepultou (Deuteronómio
34:6). Resta-nos apenas o testemunho de que:

Em Israel, todavia, nunca mais se levantou um profeta


como Moisés, com quem Yahweh houvesse dialogado
face-a-face. Também jamais surgiu alguém que realizasse
milagres, sinais portentosos e maravilhas semelhantes
àqueles que Moisés, em obediência às ordens do
SENHOR, fez no Egipto contra o faraó, contra todos os
seus servos e exércitos, e contra a terra dos egípcios.
Porquanto em momento algum houve uma pessoa que
demonstrasse tamanho poder como Moisés, tampouco
realizasse as obras temíveis que Moisés ministrou aos
olhos de todo o povo de Israel. (Deuteronômio 34:10-
12)

Que, assim como Moisés, possamos amar Deus a ponto


de O desejar mais do que qualquer promessa ou bênção que
venha dEle e amar o próximo a ponto de interceder e nos
dedicar para o seu sucesso.

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- Administração dos bens de Deus - 47

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- CAPÍTULO 3 -
PROSPERIDADE
DOS BENS DE
DEUS

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49

Não menos importante do que poupar, todo bom mor-


domo precisa fazer os bens sob sua gestão prosperarem. Essas
duas habilidades (a poupança e o investimento) são excelentes
ferramentas para se cuidar e multiplicar os bens.
No relato de Lucas 16, Jesus nos conta sobre um mor-
domo infiel que, após ser chamado para prestar conta da sua
mordomia, decidiu chamar os devedores de seu senhor e in-
vestir naquilo que hoje podemos chamar de network1.
Embora tenha agido fraudulentamente, Jesus conta-nos
essa parábola, deixando claro que o senhor desse mordomo o
elogiou, por esse agir com sabedoria. Sua sabedoria consistiu
em garantir sustento depois da urgência de seu despedimento
e sustento para sua aposentadoria (futuro).
Tão importante quanto separar a parte de Deus, a nossa
parte e a parte do próximo, o mordomo precisa separar recur-
sos para questões de emergência, tais como: doença inespera-
da, apoio familiar, superação e sustento durante a crise, dentre
várias outras necessidades urgentes. Para tal, o mordomo pre-
cisa conhecer e registar suas receitas (entradas) e planificar
suas despesas ou gastos. Quando as receitas não são capazes
de suprir as despesas, o primeiro passo é ajustar as despesas,
excluindo as dispensáveis para se gastar com o que realmente
é prioritário.
O segundo passo é encontrar uma fonte de receita me-
lhor ou acrescentar outra(s) fonte(s) de receitas capazes de
suprir todas as despesas e garantir que ainda dê para poupar e
investir.
1
Grupo de pessoas ou de coisas que se apresentam conectadas, interligadas
ou relacionadas umas às outras. NETWORK. Dicio, 2019. Disponível em:
<https://www.dicio.com.br/ network/>. Acesso em: 20 de Setembro de
2023

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50 - Mordomia cristã -

Poupar requer menos riscos. Afinal, o dinheiro que


se poupa, quer depositado num banco (quando há isenção
de taxas de manutenção da conta) ou deixado a circular em
kixikila2, mantém-se o mesmo. Por outro lado, investir requerer
riscos susceptíveis a perdas. Sua principal vantagem é que,
o investimento sábio e bem administrado pode multiplicar o
valor inicial.
Uma das formas mais simples de investir é fazer um
depósito a prazo. Este tipo de investimento permite guardar o
dinheiro em um banco para que esse seja e devolvido com juros
num prazo determinado previamente. Embora a percentagem
seja muito pequena, comparando com outras formas de
investimentos que mencionarei mais adiante, é uma das mais
simples.
Alguns tipos investimentos como constituir uma
empresa ou empreender em pequenos negócios exigem mais
do tempo e dedicação de quem investe, o que, para aqueles
que já têm um emprego com elevada carga horária, pode ser
mais difícil de administrar, enquanto que investir em depósitos
a prazo ou na bolsa de valores requer menos envolvimento
directo no processo de multiplicação do capital.
Empreender ou constituir uma empresa é como decidir
plantar, cuidar da plantação para depois colher os frutos.
Enquanto investir na bolsa de valores, por exemplo, é como dar
dinheiro para que alguém plante, cuide, colha os frutos e divida
consigo a percentagem dos lucros de acordo o investimento
feito.
Para começar a investir, o mordomo precisa adquirir
conhecimento e disciplina.

2
KIXIKILA - Empréstimo rotativo de dinheiro entre duas ou mais pessoas,
com pagamento mensal.

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- Prosperidade dos bens de Deus - 51

Por esta razão, o mais recomendado é começar inves-


tindo em si, buscando conhecimento sobre a área em que dese-
ja investir.
Repense qualquer forma de investimento que pareça
fácil de mais e capaz de dar grandes lucros em pouco tempo,
ainda que seja adornado de vários “testemunhos” e promessas,
aparentemente alcançáveis. Essas promessas de ganhos fáceis,
geralmente, caracterizam esquemas financeiros arquitectados
por pessoas de má-fé com objectivo de se enriquecerem com
os bens alheios.
É claro que, quando falo sobre investir, não estou, ne-
cessariamente, dizendo que todos devem empreender, ser seu
próprio chefe, criar suas empresas. Não! Quer dizer, apenas,
que todos os mordomos têm a obrigação de multiplicar os bens
que o SENHOR a eles confiou. Aqueles que têm conhecimento e
habilidade para empreender, podem, efectivamente, criar uma
empresa e empregar pessoas, empreender em negócio de co-
mércio e/ou prestação de serviços, etc. Aqueles que, quer por
não possuírem habilidades ou até paciência para os processos
que envolvem a estruturação e desenvolvimento de um empre-
endimento, podem optar por investir em na bolsa de valores.
Existem muitos tipos de investimentos feitos na bolsa
de valores, vou mencionar neste livro apenas duas:

(i)Investimento em Acções – é comprar fracções (acções)


do capital de uma empresa. Ao comprar acções da empre-
sa, você torna-se sócio ou proprietário parcial com direito
a receber uma participação nos lucros da empresa, confor-
me o capital investido.
(ii) Títulos de renda fixa – são investimentos que pa-
gam um juro fixo aos investidores. Alguns exemplos
de títulos de renda fixa são os títulos públicos e títulos

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52 - Mordomia cristã -

privados. A diferença entre os títulos públicos e privados


é que nos públicos você investe onde os bancos comer-
ciais investem: dando por empréstimo o seu dinheiro ao
Governo, enquanto, nos títulos privados, esse dinheiro é
dado por empréstimo às empresas. Ao fazer este tipo de
investimento, o investidor sabe com antecedência qual o
valor dos juros e o período de maturidade.

Meu objectivo, neste livro, não é ensinar como empre-


ender, investir na bolsa de valores ou em títulos públicos. Mi-
nha intenção é recordá-lo sobre a responsabilidade que o mor-
domo tem de fazer prosperar os bens de DEUS.
Com objectivo de abordar sobre a necessidade de Seus
discípulos estarem sempre preparados para a Sua vinda, no
Evangelho segundo Mateus, capítulo 25, Jesus ensina aos seus
discípulos usando a parábolas dos talentos.
A despeito de não estar ensinando, directamente, sobre
administração dos bens de Deus e mais especificamente sobre
investimento, é possível tirar grandes lições das verdades na-
turais usadas para ilustrar verdades espirituais sobre a presta-
ção de contas das nossas vidas. Na parábola dos talentos, Jesus
conta-nos sobre 3 homens que receberam de seu senhor bens
para que cuidassem deles. Cada um, segundo a sua capacidade,
recebeu uma quantidade, sendo estas: cinco, dois e um talento.
Enquanto aqueles que receberam cinco e dois investiram para
duplicar os bens, o que recebera um apenas o guardou com
medo de perder o pouco que tinha e a reacção de seu senhor
foi:

[...] Servo mau e negligente! Sabias que colho onde não


plantei e ajunto onde não semeei? Então, por isso, ao

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- Prosperidade dos bens de Deus - 53

menos devíeis ter investido meu talento com os


banqueiros, para que quando eu retornasse, ou
recebesse de volta, mais os juros. (Mateus 25: 26-27)

Uma das lições que podemos tirar desta parábola


é a necessidade de investir e fazer multiplicar o que Deus
nos confiou. Ainda que seja fazer o mínimo, que é “investir
com banqueiros”, para ganhar alguns juros mínimos, o que,
actualmente, chamamos de depósito a prazo.
O mordomo cristão precisa ter a mentalidade dos dois
primeiros homens da parábola: a mentalidade de investir para
multiplicar os bens que Deus confiou ou, quando as condições
não forem suficientes para investir em grandes proporções,
investir para ganhar pequenos juros e multiplicar os bens de
Deus.
Ademais, o SENHOR, Dono de todos os bens, dá a cada
um, segundo a sua capacidade. A alguns dá mais e a outros dá
menos para a todos cobrar de acordo ao que cada mordomo
recebeu.

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TEOLOGIA DA
PROSPERIDADE OU
TEOLOGIA DA
POBREZIDADE1?

Acredito, piamente, que, para seus filhos, Deus olha para


sua real intenção com a aquisição de bens. Para o SENHOR, a
salvação de seus filhos, sua vida santa e devoção, valem mais
do que qualquer riqueza. Deste modo, o mesmo SENHOR que
faz seus filhos prosperarem, para Sua glória e propósito, impe-
de que alguns de seus filhos também o façam, para Sua glória e
propósito, sempre que esta prosperidade for um impedimento
para a salvação ou alcance de determinado propósito que o SE-
NHOR tenha com seus filhos.
Primeiro, nem todo cristão será rico ou terá grandes re-
cursos financeiros e, portanto, ser cristão não é sinónimo ou
indício de que vai ser próspero financeiramente. Isso porque
prosperidade não é algo exclusivo aos crentes. Prosperidade
tem mais a ver com forma sábia com que se administram os
bens do que com a crença ou não em Deus.
Prosperidade é mais um dos assuntos em que se opera
a graça comum de Deus e as bases estão nas leis naturais do
universo. Assim como cresce a semente bem plantada e cui-
dada por um ateu, cresce, em condições naturais, a semente
bem plantada por um crente também. Portanto, basta olhar
para a sociedade e perceber que a prosperidade financeira

1
POBREZIDADE - Neologismo do autor

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- Prosperidade dos bens de Deus - 55

não é exclusiva àqueles que temem a Deus, embora ser devoto


ao Dono de tudo e todos traz suas vantagens de modo extraor-
dinário, as quais abordaremos ainda neste capítulo.
Segundo, porque nem todo cristão permite que “seus
olhos se abram para realidade”. Infelizmente, muitos ficam pre-
sos à teologia da pobrezidade, a qual defende que o cristão deve
dedicar-se somente na oração, jejum e estudo e divulgação da
Palavra de Deus. Não percebem que ser cristão não é abraçar
a pobreza material, viver sem recursos financeiros ou fugir de
uma vida próspera financeiramente. Lamentavelmente, muitos
são os que, na tentativa de se tornarem mais espirituais, demo-
nizam o trabalho e a prosperidade, porque, simplesmente, não
entendem o que já tratamos no primeiro capítulo deste livro:
o modo como cuidamos as nossas finanças, diz muito sobre a
nossa vida espiritual.
Diante dos dois extremos descrito acima e que
têm causado debates entre alguns cristãos, é fundamental
posicionar-nos no equilíbrio. Este equilíbrio é a razão pela
qual o conhecimento sobre os princípios da mordomia cristã
coloca-nos num “ponto seguro” sobre prosperidade financeira
no seio cristão. Entender que tudo é de Deus e Ele dá a quem
quer, permite-nos entender que “o pão nosso de cada dia” é
fruto da graça e bondade de Deus. Olhando nesta perspectiva,
podemos perceber as palavras de nosso SENHOR, Jesus Cristo,
descritas pelo evangelista Mateus no capítulo 6, versos 31 a 33.

Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos,


ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque
todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso
Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas
coisas; Mas, buscai primeiro o reino de DEUS, e a sua

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56 - Mordomia cristã -

justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.


(Mateus 6:31-33)

Essas palavras de JESUS não significam que o cristão não


deve trabalhar e que deve apenas dedicar-se à oração, estudo
das Sagradas Escrituras e divulgação do evangelho. JESUS
queria, com isso, ensinar-nos sobre a motivação e objectivo em
torno da procura pelo que comer, beber ou vestir.
O Mestre conta-nos que devem ser os gentios a andarem
inquietos por estas coisas e os versículos anteriores (24 a 30)
mostram-nos que quem decide servir ao SENHOR precisa
entender que o DEUS que alimenta as aves dos céus e veste
os lírios do campo preocupa-se e cuida com mais empenho
da vida de Seus filhinhos. DEUS pode escolher alimentar-nos,
fazendo descer comida do céu como fez com Israel, no deserto,
enviando maná e codornas (Êxodo 16:13-35, Números 11:31-
32 e Salmos 105:40), pode enviar corvos para nos alimentar
como fez com Elias (1Reis 17:4-6), pode criar uma forma nova
ou, simplesmente, conceder-nos trabalho para que possamos,
através dele, suprir as nossas necessidades. Não é por isso que
oramos antes das refeições? Não é para dar graças a Deus pelo
alimento que nos dá, obtido pelos meios que nos dá?
Isso significa que não devemos nos formar, ter um
bom emprego ou empreendimento, adquirir muitos bens? De
maneira nenhuma; pois, tudo isso também vem do SENHOR e
nos é dado para que possamos administrar de acordo com a
vontade de quem coloca estes bens a nossa disposição. Como
disse o Reverendo Augustus Nicodemus no seu livro “O que a
Bíblia fala sobre dinheiro”:

[...] Deus tem um plano para os recursos que ele nos

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- Prosperidade dos bens de Deus - 57

confia. As Escrituras nos ensinam que, sendo o Senhor


de todas as riquezas, Deus não só as distribui às pessoas
mas também determina como deverão ser usadas. Ele
tem um plano, presente nas Escrituras, para os recursos
que graciosamente nos concede. (Nicodemus, 2021, p.
8).

Portanto, prosperidade financeira é DEUS confiar a


alguém a responsabilidade de cuidar de uma quantidade
maior dos seus bens, os quais, por regra, são obtidos quando
os ganhos são gastos de forma sábia para garantir que haja o
que investir, poupar e doar.
Assim, prosperidade tem mais a ver com a mentalidade
do mordomo e sua capacidade de ganhar e gastar apenas
o essencial, saber investir e fazer multiplicar o que se tem.
Quando a mentalidade do mordomo é moldada a não gastar
tudo o que se ganha e a usar o que tem, seja produto ou serviço,
para multiplicar o que Deus já o confiou, a prosperidade é uma
certeza.
O exemplo relatado, em 2Reis capítulo 4, nos versos 1 a
5, é perfeito para o que estamos abordando. A história da viúva
de um dos discípulos dos profetas que estava prestes a ver seus
filhos serem levados para escravidão por causa das dívidas
deixadas pelo seu esposo, permite-nos aprofundar sobre duas
verdades, sendo a segunda a “chave de ouro” para o assunto em
análise.
(i) Todos temos algum conhecimento ou produto que
pode gerar dinheiro. O que falta, em muitos casos, é a visão cer-
ta de como e onde podemos vender o produto ou serviço para
transformá-los em dinheiro para cobrir as despesas, ampliar
os investimentos e ainda ter capital financeiro para ajudar

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58 - Mordomia cristã -

quem mais precisa.


O que o profeta Eliseu fez foi fazer a viúva olhar para
si mesma perguntando: “[...] Diz-me o que tens em casa.” Ela
respondeu: “A tua serva só tem em casa uma garrafa de azeite”
(2 Reis 4:2 - NVI). Era [só] uma garrafa de azeite que o servo de
Deus precisava para além de operar um milagre, ensinar lições
para a vida daquela pobre mulher que quase perdeu seus filhos
por negligência.
(ii) Ela teve o milagre para a nova chance e o trabalho
para alcansar a prosperidade. Quando essa mulher diz que, em
casa, tinha apenas uma garrafa de azeite, o que você imagina?
Uma casa sem móveis, roupas ou qualquer utensílio básico
de uma casa habitada ou que ela se referia à garrafa de azeite
como a única coisa que dava para vender e gerar dinheiro? Se
como eu, você imagina que a mulher se referia à garrafa de
azeite como único produto que podia ser vendido, entende a
preocupação. Vender aquele azeite não seria suficiente para
liquidar as dívidas e, ainda que fosse, como sobreviveria
cuidando de mais dois filhos? Mas Deus é bom e, através de seu
servo Eliseu, multiplica o que a viúva já tinha, sem a impedir
que aprenda com o processo da busca pela prosperidade, o
trabalho. E, então, depois de multiplicado o azeite, a orientação
do homem de Deus foi: “[...] Agora vais vender este azeite
[trabalhar] para pagares a tua dívida. O dinheiro que sobrar
será suficiente para viveres, tu e os teus filhos.” (2 Reis 4:7 -
NVI).
Duas coisas podem ter acontecido depois deste
episódio. A primeira foi essa mulher ter aprendido e ganhado
uma mentalidade de empreendedora, sabendo o que ganhou,
o que gastar, o que investimento, o que poupar e o que doar
e, deste modo, prosperar cada vez mais. A segunda foi ter

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- Prosperidade dos bens de Deus - 59

parado de investir e gasto todos os bens e voltado ao ciclo da


pobreza (gastar tudo o que se ganha). Logo, compreende-se
que o que impede muitos de alcançar a prosperidade é a men-
talidade pobre que concentra as suas finanças em gastos pes-
soais e não se permite investir e crescer. Essa é a mentalidade
que faz com que pessoas que receberam um crédito bancário
para investirem em algo rentável e próspero, assim que tive-
rem o dinheiro, na conta bancária, sejam atraídos pelo carro,
casa ou outros bens pessoais e abandonem o plano inicial de
investir ou fazer crescer o investimento que já têm.

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PROVISÃO

Sou defensor da doutrina da mordomia cristã por dois


motivos essenciais. O primeiro é pela razão lógica de que Deus,
certamente, tem uma resposta para a desigualdade social entre
pobres e ricos. A mordomia cristã propõe que a resposta é os
que mais têm ajudem os que têm menos. Afinal, a mordomia
cristã entende que desde o pão diário às mais altas necessida-
des supridas são resultados da provisão de Deus.
O segundo motivo é pelas bases que podemos encontrar
nas Sagradas Escrituras. Como pudemos ver, nos capítulos an-
teriores, e veremos, nos capítulos posteriores, existem fortes
fundamentos para se estudar, defender e praticar a mordomia
cristã.
Mordomia cristã é, também, sobre como Deus usa ho-
mens para cuidar dos próprios homens, sem que Ele deixe de
ser o Provedor. E, quando o assunto é provisão, inevitavelmen-
te, lembro-me daquele que é conhecido como “o apóstolo da
fé”, sobre quem se diz:

“Pela fé, Jorge Müller levantou orfanatos, alimentou mi-


lhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes em re-
dor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo”
(Boyer, 1999, p. 112).

Müller foi o missionário que decidiu nada ter além do


necessário para sobreviver que, maior parte das vezes, era ob-
tido miraculosamente após fervorosas orações.

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- Prosperidade dos bens de Deus - 61

Müller podia não ser o melhor exemplo sobre o papel


dos investimentos e poupança, mas, ainda assim, é um grande
exemplo sobre dependência de Deus e cuidado pelo próximo.
Nisto, como cristãos, temos vantagem sobre os ímpios. Nós
conhecemos o Dono de todos os bens e temos a honra de
sermos filhos d’Ele. Temos acesso à sua presença e temos a
história descritas nas Sagradas Escrituras, histórias de homens
como nós que, de modo ordinário ou extraordinário, souberam
e viveram abraçados às provisões do SENHOR.
De maneira extraordinária, nas Sagradas Escrituras e
fora dela, deparámo-nos com casos em que a provisão veio, não
quando se guardava, mas quando se dava “tudo que se tinha”.
São casos extraordinários porque, pelas Escrituras, podemos
conferir que tais textos são descritivos4 e não normativos5.
Tanto é que existem raríssimos casos na Palavra de Deus.
Um dos casos que chama a minha atenção, no momento
em que escrevo, é a história da viúva de serepta que, diante
da seca que assolava e com apenas um punhado de farinha e
um pouco de azeite, recebeu a promessa de Deus de que teria
provisão até que voltasse a chover. E, como nos permite saber
o escritor do livro dos Reis de Israel e Judá, o facto é que: “Da
panela a farinha não acabou, e da botija o azeite não faltou,
segundo a palavra do SENHOR, por intermédio de Elias” (1Reis
17:16 - ARA).
Deus ensina para esta viúva uma lição fundamental que
todo mordomo deve saber: do alimento mais básico à mesa

4
Textos descritivos são aqueles que trazem a narração de um assunto, sem
apresentá-los como uma norma ou um padrão que deve ser seguido.
5
Textos normativos são aqueles que apresentam uma norma, mandamento
ou padrão

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62 - Mordomia cristã -

mais farta, das condições mais simples às condições mais


prósperas, toda provisão vem do SENHOR.
Diferente do que os falsos profetas e mestres ensinam,
fazendo parecer que as ofertas são um investimento onde
quanto mais se dá, mais se recebe, esses homens, com objectivo
de se enriquecerem às custas dos outros, criam “causas
maiores”, inventam narrativas convincentes e enganam muitos.

Na verdade, a entrega do dízimo deve ser expressão


de nossa gratidão e adoração a Deus, não de barganha
para obter algum tipo de retribuição. “Deus ama quem
dá com alegria” [2Coríntios 9:7]. Ele não tem a menor
obrigação de retribuir financeiramente a quem “planta
uma semente” com seu dízimo. (Nicodemus, 2021, p.
34).

No entanto, o número de cristãos que ainda vê a oferta


como um dever cuja obediência acarreta, obrigatoriamente,
algum benefício extra, é assustador. Alguns pela pouca ou má
instrução que receberam sobre o assunto, outros porque falsos
evangelistas os convenceram que o cristianismo é algum tipo
de promoção para uma vida de conquistas materiais, livre de
problemas e sem compromisso real com a santidade.
Mas louvado seja Deus que é Dono de tudo e nos
constituiu mordomos para administração de seus bens. É Ele a
fonte de toda provisão, o endereço certo no qual todo mordomo
deve enviar suas petições, pois, n’Ele, nenhuma oração fica sem
resposta.

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- Prosperidade dos bens de Deus - 63

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- CAPÍTULO 4 -
MORDOMIA
FISCAL

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65

A terceira grande responsabilidade do mordomo é de


fiscalizar os bens de Deus. Esta responsabilidade é importante,
porque se preocupa em garantir que o que é de Deus não seja
gasto de forma egoísta ou supérflua e que os bens não sejam
todos “destinados ao estômago”.

Riquezas e glórias vêm de Deus. Contudo, o dinheiro não


é um tesouro para ser usado de forma egoísta, apenas
para o nosso deleite. Deus nos dá o dinheiro para o
glorificarmos com ele, e fazemos isso, quando cuidamos
da nossa família, dos domésticos da fé e outras pessoas
necessitadas, inclusive nossos inimigos. (Lopes, 2009,
p. 15).

Um dos objectivos da mordomia fiscal é fazer com os


bens de Deus sejam usados não apenas focados em gastos, mas
com uma perspectiva global de receitas, despesas, poupança,
investimento e doação.
Se os bens são de Deus e nós somos apenas mordomos,
então, é presumível que prestemos contas ao Dono de todos os
bens. Se você analisar como tem administrado os bens de Deus,
qual seria a avaliação da sua mordomia?
Por esta razão, é fundamental que o mordomo cuide sa-
ber quais são os bens que Deus deixa sob seu controle e como
eles estão sendo usados. A essa tarefa de saber como os bens
de Deus colocados sob nossa mordomia estão a ser cuidados,
chamamos mordomia fiscal.
Fiscalizar os bens de Deus implica colocar limites, esta-
belecer regras e, sempre que possível, pedir contas aos nossos
conservos.

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66 - Mordomia cristã -

Já se deparou com pessoas que abusam da sua bondade


para obter alguma coisa? Como se sentiu após se deparar com
aquela pessoa que pede favores para receber algum dinheiro
para comprar comida, mas quando o dinheiro está em suas
mãos é destinado à droga, bebedeira ou outro fim indevido?
Certa vez, deparei-me com um senhor de fisionomia
magra, trajado de uma indumentária casual, que disse estar a
precisar de 100 kwanzas para pegar um táxi que o levaria a
regressar à casa. Compadeci-me com a causa e ofereci algum
valor a mais para que aquele pobre senhor pudesse regressar
à casa e estar com sua família. Porém, para a minha surpresa,
num outro dia, encontrei-me com o mesmo senhor, no mes-
mo local e a fazer o mesmo pedido. De antemão, me opus à
sua abordagem, fazendo o recordar que já havia caído naquele
golpe. Depois desta vez, várias outras vezes deparei-me com
aquele a quem eu considerei estar ajudando com dinheiro para
táxi, naquele mesmo local e noutros lugares, fazendo outros
cair na mentira que me deu a grande lição de me munir contra
pessoas que andam por aí enganando pessoas para conseguir
dinheiro para fins desconhecidos e diferentes daqueles apre-
sentados quando pediram.
Confesso que, toda vez que me deparo com aquele que
me deu uma grande lição, penso em várias possibilidades que
tinha para me certificar que o dinheiro que Deus me deu para
administrar estava sendo usado para um fim conhecido, líci-
to, bom e puro; possibilidades que aprendi a usar, tais como:
acompanhá-lo ao táxi, pagar, directamente, ao cobrador de táxi
e recomendá-lo a não devolver no caso do “necessitado” descer
tão logo eu dê costas...
Situações como essas tendem a desmotivar quem
costumava ajudar o próximo fazendo-o desistir. Talvez você

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- Mordomia fiscal - 67

seja uma destas pessoas que, tanto na vida social ou


religiosa, deixou de ajudar o próximo por já ser enganado,
várias vezes, ou por ouvir várias histórias sobre pessoas
que foram enganadas ou talvez você tenha deixado de dar
sua contribuição na igreja [entenda-se ofertas, dízimos ou
primícias] pela má forma como são administrados os bens
destinados à casa de Deus para sustento dos obreiros, viúvas e
órfãos, manutenção do tempo e avanços na obra.
Se essa for a sua situação, lamento informar que não
temos nenhum texto bíblico capaz de dar um “xeque-mate” a
esse imbróglio. Mas o que posso entender pelas Escrituras é
que:
(i) Todos os líderes e pastores que se aproveitarem da
autoridade que de Deus receberam para se enriquecerem ou
obter ganho financeiro, estão caminhando para a condenação
de suas almas. Por isso, maior responsabilidade na mordomia
têm os líderes e pastores que, além da administração dos bens
para sustento de sua família, cuidam da administração dos
bens para sustento da casa e obra de Deus.
(ii) Embora haja, actualmente, uma “pandemia” que
macula a visão que o mundo tem sobre o cristianismo e as
igrejas cristãs, por a cada dia se elevar o número de falsos
profetas, pastores e mestres que abrem casas de angariação
de dinheiro com título de igrejas cristãs, ainda existem igrejas
puras em seu posicionamento bíblico e cuidado dos bens de
Deus entregues para manutenção do templo, sustento para os
obreiros, órfãos e viúvas e crescimento da obra.
(iii) Deixar de ajudar quem pede ajuda pelas experiências
com pessoas mentirosas pode impedir que pessoas que
realmente precisam não obtenham ajuda.

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68 - Mordomia cristã -

Portanto, o melhor a fazer é aprender com as


experiências para ajudar quem realmente precisa e não tem
meios para adquirir e, referindo-se às contribuições entregues
na casa de Deus, direccioná-las em igrejas cujas finanças sejam
transparentes.

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DOMÍNIO PRÓPRIO
APLICADO À MORDOMIA

Você controla seus gastos ou eles o controlam? Até que


ponto você consegue resistir àquele forte desejo de gastar e,
muitas vezes, sem qualquer necessidade?
Essas e outras questões pertinentes estão em volta da
reflexão sobre o domínio próprio que o mordomo precisa e
como o mesmo está relacionado com a terceira grande tarefa
do mordomo: a de fiscalizar os bens de Deus.
É evidente que cada mordomo vive conforme os bens
que administra. Isso implica que quem mais recebe mais res-
ponsabilidades lhe é confiada. O que mais recebe dá mais para
Deus, porque cada um, oferta de acordo com que administra;
dá mais para o próximo e mais para si. E o papel do domínio
próprio é fazer com que o mordomo não seja aprisionado pe-
los seus desejos a ponto de se esquecer da parte de Deus e do
próximo.
A falta de domínio, nos gastos financeiros, não só pri-
va muitos de dar o que é de Deus, de sustentar suas famílias,
condignamente, conforme os bens que administra, como tam-
bém abre portas para dívidas que podem estar acima da sua
capacidade de liquidação, destruindo relacionamentos pela
infidelidade no pagamento das dívidas. Sem contar com as ir-
reparáveis oportunidades de investimento que se perdem por
se deixar dominar pelos desejos insaciáveis.
Por essas razões, a primeira fiscalização é a pessoal,
embasada na análise dos gastos feitos de maneira supérflua.

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Não quero, com isso, dizer que o mordomo não pode ter
momentos de lazer. Muito pelo contrário. A boa administração
dos bens de Deus inclui o bem-estar e lazer do mordomo,
suportados por gastos bem planificados e que não atrapalhem
as outras responsabilidades da mordomia.
Outro papel fundamental do domínio próprio é o de
fazer preservar o compromisso de um sacrifício que vale a pena.
Esse sacrifício consiste em limitar os gastos para poder poupar
ou investir em prol de uma conquista que muito se deseja.
Tal conquista pode ser a compra de um imóvel, realização do
casamento que tanto se espera, custear alguma formação ou
comprar algum bem que se deseja.

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DINHEIRO, A RAIZ
DE TODOS OS MALES

Um dos aspectos fascinantes na mordomia é o equilíbrio


de poder possuir os bens com a mentalidade de que todos eles
pertencem a Deus e fazer com esses bens sejam instrumentos
para Sua glória, sem se deixar ser dominado e escravizado por
tais bens.

O dinheiro é um bom servo, mas um péssimo patrão. O


problema não é ter o dinheiro, mas o dinheiro nos ter. O
problema não é carregar dinheiro no bolso, mas ente-
sourá-lo no coração. O dinheiro deve ser granjeado com
honestidade, investido com sabedoria e distribuído com
generosidade. (Lopes, 2009, p. 8-9).

A mordomia entende que as riquezas não são o fim em


si e nenhum dinheiro poderá trazer a verdadeira felicidade.
Como cristãos, sabemos que nossa felicidade está em Cristo,
que é suficiente para cada uma das nossas necessidades, sejam
elas espirituais, materiais ou até emocionais. Aqueles que en-
contram, no Salvador, a satisfação da qual se refere Paulo, em
Filipenses capítulo 4, no verso 11, fazem com que o “Dia feliz”
mencionado no hino abaixo, escrito por Phillip Doddrige , se
repita sempre que o mundo tentar nos convencer que pode-
mos ser felizes distante de Deus.

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72 - Mordomia cristã -

1. Oh! Dia alegre! Eu abracei


Jesus e nEle a salvação!
O gozo deste coração
Eu mais e mais publicarei.

Dia feliz! Dia feliz,


Quando em Jesus me satisfiz!
Jesus me ensina a vigiar
E, confiado nele, a orar!
Dia feliz! Dia feliz,
Quando em Jesus me satisfiz!

3. Descansa, oh alma! O salvado


É teu sustento, o Pão dos Céus;
E auem possue o Eterno Deus
Resiste a todo tentador.
Hino 34 – Hinário da IEBA

Exercer a mordomia cristã só é possível quando o


mordomo entende a essência da sua felicidade, a qual é Cristo.
Vê que alcançar riquezas não é o fim da mordomia. Até porque
riquezas são apenas meios concedidos pelo próprio Deus para
suprir necessidades materiais; e, como sabemos, não é preciso
muito esforço para se concluir que a vida não se resume apenas
em ganhos materiais, razão pela qual, existem pobres mais
felizes do que ricos. E aqueles que adiam a sua felicidade para
o momento em que terão mais dinheiro, não entenderam que a
felicidade tem mais a ver com a satisfação do que já se tem do
que a ansiedade pelo que se deseja conquistar.

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- Mordomia fiscal - 73

Somos mordomos-peregrinos que nada trouxemos nes-


sa terra e nada levaremos. Então, por que viveríamos buscan-
do a felicidade em algo tão temporário? Não sabemos nós que
bens e riquezas veem do SENHOR e Ele as dá a quem quiser?

Não digam, pois, em seu coração: “A minha capacidade e


a força das minhas mãos ajuntaram para mim toda esta
riqueza”. Mas, lembrem-se do Senhor, o seu Deus, pois é
ele que dá a vocês a capacidade de produzir riqueza [...]
(Deuteronómio 8:17-18 – NVI)

O bom mordomo é aquele que, possuindo pouco ou mui-


to, entende o seu papel na administração dos bens que Deus o
confiou e não se deixa escravizar pela ilusão que aprisiona, na
insatisfação do que já se tem, e prega que a felicidade está na
conquista de mais bens.

Quando você deseja ser rico, esse desejo o domina e


o controla. O dinheiro torna-se seu senhor e seu deus.
Então você passa a buscá-lo mais do que a Deus e a
procurar a sua felicidade mais do que o bem do seu
próximo. Dessa maneira, o amor ao dinheiro o leva a
violar os dois principais mandamentos da lei de Deus.
(Lopes, 2009, p. 24).

Quem ama a “raiz de todos os meles” (1Timóteo 6:10a)


perde o foco da mordomia cristã, esquecendo-se que o objec-
tivo da prosperidade bíblica é de partilhar e ajudar quem mais
precisa. Normalmente, é possível identificar aqueles que já es-
tão sendo enamorados pelo amor ao dinheiro pelas seguintes
características:

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Pessoas que amam o dinheiro, nunca estão satisfeitas.


São pessoas cuja sede não sacia, e por essa sede, mentem, ma-
nipulam e matam. Trabalham para o dinheiro como escravos.
Quando estão na posição de chefia, pagam indevidamente seus
funcionários sob regime de exploração e quando estão na po-
sição de subordinados, são promotores da corrupção, invejam
e maquinam contra seus colegas e estão sempre prontos para
conseguir, com bajulação, um lugar que devia ser conseguido
com profissionalismo.
Pessoas que amam o dinheiro, sempre inventam descul-
pas para não contribuir. Examine a si mesmo se as suas justi-
ficativas para não contribuir não passam de desculpas como:
“quando eu for rico passarei a contribuir” ou “o que tenho é
pouco. Então prefiro não dar nada a dar tão-pouco”. Você se
lembra da mulher que da sua penúria deu suas duas únicas
moedas? A história foi registada pelos Evangelistas Marcos
(12:41-44) e Lucas (21:1-4) e nos traz o perfil de alguém que
quer contribuir. Embora o contexto se refira a ofertas levadas
à casa de Deus, a lição serve para a vida. Esse perfil, além de
demonstrar empatia e desejo de contribuir, gera reciprocidade
em forma de bênçãos maiores. Como disse o sábio Salomão:

Há quem dê generosamente, e vê aumentar suas


riquezas; outros retêm o que deveriam dar, e caem na
pobreza. O generoso prosperará; quem dá alívio aos
outros, alívio receberá. (Provérbios 11:24-25)

Pessoas que amam o dinheiro, alegram-se quando rece-


bem e se entristecem quando dão. O coração egoísta quer sem-
pre receber, quer sempre juntar para si. Sua alegria está em
receber cada vez mais, ainda que nunca dê.

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- Mordomia fiscal - 75

Pessoas que amam o dinheiro, podem perder grandes


bênçãos e até a oportunidade da salvação. O amor ao dinheiro
cega aqueles que por ele se deixam dominar. Essa cegueira faz
pensar que não existe nada melhor e maior do que o dinheiro a
ponto de valorizá-lo mais do que família, mais do que valores e
princípios de uma vida santa e mais do que a própria salvação.
O episódio narrado pelo evangelista Mateus no capítulo
19, versículos 16 a 22, nos mostra a aplicação prática do que o
amor ao dinheiro faz, quando nos conta sobre o jovem rico que
recebera de Jesus a dica do que lhe faltava para alcançar a vida
eterna: “[...] vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um
tesouro no céu; depois, vem e segue-me.” (Mateus 19:21b - ARA).
Não por ser normativo vender tudo para herdar a vida eterna,
mas por ser imperativo que todo o que deseja herdar a vida
eterna, deve nascer de novo e esquivar-se do amor mundo e do
que nele há (1João 2:15-16).

Repare que Ana só recebeu de Deus quando


compreendeu e tomou a atitude de devolver para o Provedor
aquilo que do Provedor recebera. Não apenas a compreendeu
o seu papel de administradora do que é de Deus, o qual não
detém para si o que é de Deus, embora tenha a missão de
cuidar. A mulher de Elcana foi adiante e tomou a atitude de
suplicar que Deus a fizesse canal pelo qual passam os bens de
Deus (1Samuel 1:11).
Dessa forma, Ana recebeu, além de um filho, uma lição
para a vida. A lição é que quando abrimos nossas portas para
dar, a mesma porta permanece aberta para receber. Ana abriu a
porta para dar para Deus e essa porta permaneceu aberta para
fazê-la receber as bênçãos proferida por aquele que levava as
petições do povo a Deus, o sumo sacerdote Eli:

[...] “Que Yahweh te dê outros filhos desta mulher em lugar

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do filho que ela rogou e dedicou ao SENHOR!”. Então o


SENHOR visitou Ana novamente e a abençoou, e ela
concebeu e deu à luz a mais três filhos e duas filhas [...]
(1 Samuel 2:20-21).

Quando as súplicas não foram suficientes, Ana apelou ao


voto: [...] “Ó SENHOR Todo-Poderoso, se quiseres dar atenção
à humilhação da tua serva e te lembrares de mim, e não te
esqueceres da tua serva, mas lhe concederes um filho homem,
então prometo que o dedicarei a ti...” (1 Samuel 1:11).
Seu voto resume-se nisso: “meu desejo é ser um canal
que recebe e dá e não um destino que recebe e retém para si”. A
diferença entre ser canal e destino é simples. Aqueles que são
canais, recebem os bens de Deus e estão abertos para fazê-los
passar para outros a quem o Dono dos bens, decidir entregar.
Por outro lado, os que se entendem como destino, apegam-se
aos bens e o amor às coisas do mundo, fá-los não usar as coisas
deste mundo para ajudar ao próximo (Lucas 16:9).

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- CAPÍTULO 5 -
O IMPACTO DA
MORDOMIA
CRISTÃ

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A clara consciência sobre os princípios da mordomia


cristã mudam o modo como vemos o mundo e, neste caso em
particular, o modo como vemos nosso trabalho, nossos negó-
cios e nosso modo de servirmos e dedicamo-nos a eles.
Minha visão sobre mordomia cristã começou a tornar-
-se nítida a partir do dia em que senti, em meu coração, Deus
a fazer-me compreender que, além de Seu servo, sou o tipo de
filho que nunca sairá de Seu cuidado e nunca será independen-
te para viver distante do Pai.
Recordo-me de, naquele dia, estar em uma vigília pes-
soal de gratidão e consagração. Enquanto tentava contar as
muitas bênçãos recebidas da Divina mão, quando meu coração
e mente foram saqueados pelo pensamento e sentimento do
significado de ter Deus como Pai. No mesmo instante, salta-
ram-me à mente textos bíblicos sobre a Paternidade de Deus, o
que me levou a meditar em cada um dos textos e caminhar ou
trilhar o caminho do profundo entendimento de que o Dono de
todas as coisas é meu Pai e que tenho a missão de cuidar do que
é d’Ele. E, durante esse percurso, sinto-me como Paulo quando
disse:

Irmãos, quanto a mim, não julgo que haja alcançado;


mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas
que atrás ficam [os erros de uma mordomia centrada no
“eu”], e avançando para as que estão adiante de mim [as
bênçãos de uma mordomia centrada na glória de Deus],
prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana vocação
de Deus em Cristo Jesus. (Filipenses 3:13-14 - ACF)

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80 - Mordomia cristã -

Desde então, nunca deixei de receber testemunhos


de irmãos, em Cristo, que como eu, entenderam
os principais fundamentos da mordomia cristã e
são impactados pelo estilo de vida que nos torna,
completamente, dependente ao Dono de todas coisas,
encontrando n’Ele a provisão para, durante a necessidade e a
sabedoria, melhor administrar os Seus bens.
Um dos motivos pelos quais escrevi este livro foi o
de partilhar os conhecimentos adquiridos durante anos de
estudos sobre os diversos temas abordados aqui, adicionados
às experiências e testemunhos sobre a provisão as atitudes
certas na administração dos bens de Deus.
Outrossim, os impactos são profundos e visíveis na
vida de todos os que se desafiarem a ver Deus como provedor
de todas as nossas necessidades e não apenas dos momentos
de crises. Quantos não vêem Deus como Provedor apenas no
momento das dificuldades e apertos da vida, mas “assumem
o comando do barco” quando não há visível tempestade? Tal
posicionamento é uma clara evidência de que Deus ainda não é
reconhecido como o Senhor de todo barco e que existem áreas
que preferimos governá-las sem o Capitão Jesus.

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IMPACTO SOBRE OS
RELACIONAMENTOS

De quem é o pai e mãe que nos geraram? De quem são


os irmãos que nos viram crescer? Há quem pertence a(o) na-
morado (a), esposa(o) e amigos que nos acompanham nesta
jornada chamada vida? Ou de quem é a nossa prole?
A resposta é simples: são de Deus, pois ‘Ele é o Criador
e são nossas, porque o próprio Criador deu-as para que as pos-
samos cuidar. É, por isso, que a mordomia cristã traz um gran-
de impacto na forma como cuidamos “dos nossos, que são de
Deus”. Afinal, o fim último da mordomia cristã é cuidar destes
que Deus nos deu. Não apenas cuidando para não faltar pão
e água, mas também cuidando para que tenham paz e cresci-
mento espiritual, intelectual e emocional.

Atitudes Puritanas em relação a filhos estavam arraiga-


das na convicção de que filhos pertencem a Deus e são
confiados aos pais como mordomia. (Ryken, 1992, p.
92).

E acrescento, dizendo que, não apenas os filhos, não


apenas a família com laços sanguíneos, mas todos os que Deus
nos dá para cuidar e ser o próximo.
A despeito de muito se tratar sobre bens materiais, o
fim último da mordomia é sobre a administração sábia destes
bens materiais para glória de Deus de modo que o homem cui-
de do seu próximo e de toda obra de Deus, enquanto percorre

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82 - Mordomia cristã -

os poucos dias de vida que o ALTÍSSIMO lhe concede.


Quando os princípios da mordomia cristã, estão enrai-
zados em nós, ao olharmos para o nosso próximo, vemos uma
propriedade (bem) de DEUS dada a nós para cuidar. Afinal, é
este o significado de ser “próximo”, certo? Na visão apresen-
tada pela parábola do bom samaritano, esta é uma das lições
que temos: nosso próximo é quem tem empatia connosco e nós
somos o próximo daqueles por quem temos empatia. O texto
bíblico nos diz:

Então, aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas,


derramando nelas vinho e óleo. Em seguida, colocou-o
sobre seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria
e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao
hospedeiro e lhe recomendou: “Cuida deste homem,
e, se alguma despesa tiverdes a mais, eu reembolsarei
a ti quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o
próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”
Declarou-lhe o advogado da Lei: “O que teve misericórdia
para com ele!” Ao que Jesus lhe exortou: “Vai e procede
tu de maneira semelhante”. (Lucas 10: 34-37)

O Bom Samaritano escolheu usar os bens, que Deus co-


locou sob sua administração, para cuidar de quem precisava.
Esse é o papel do mordomo. A começar pela sua casa, você de-
cide se os bens, que Deus colocou à sua disposição, serão usa-
dos para os fins certos, baseado no exercício da mordomia cris-
tã ou se serão gastos de forma egoísta, imprudente e aquém do
real propósito.
Vê quão nítida se torna a visão sobre relacionamentos,
quando aplicamos os princípios da mordomia cristã, nos as-
suntos do dia-a-dia. Tal visão permite-nos olhar a infidelidade

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- O impacto da mordomia cristã - 83

conjugal, por exemplo, muito mais do que uma falta cometida


contra quem prometemos amar, mas, primeiramente, contra
Deus que nos deu Sua prosperidade para a cuidarmos.
Ora, se tudo é de Deus, como vimos que é, e nós somos
apenas mordomos comissionados a cuidar do que é d’Ele,
entendemos por que razão, “[...] como disse o próprio SENHOR
Jesus: mais bem-aventurados é dar do que receber” (Actos
20:35).

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IMPACTO SOBRE A
TEOLOGIA DO TRABALHO

Se o SENHOR confiou a alguém riquezas e um grande


negócio para gerir, como mordomo que serve a essa pessoa,
como devo agir? O apóstolo Paulo responde-nos a esta questão
quando disse:

Quanto a vós outros, escravos, obedecei a vossos


senhores terrenos com todo o respeito e temor, com
sinceridade de coração, como a Cristo, não servindo à
vista, como para agradar a homens, mas como servos de
Cristo, fazendo de coração, a vontade de Deus, servindo
de boa vontade como se servissem ao Senhor e não aos
homens. (Efésios, 6:5-7)

Escravos, obedecei em tudo a vossos senhores terrenos,


não servindo apenas quando supervisionados, como
quem age somente para contentar os homens, mas
trabalhando com sinceridade de coração, por causa do
vosso temor ao Senhor. E tudo quanto fizerdes, fazei-o
de todo o coração, como para o Senhor e não para
homens, conscientes de que recebereis do Senhor a
recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que estais
servindo! Pois quem agir de forma injusta receberá o
devido pagamento da injustiça cometida; e nisto não há
exceção para pessoa alguma. (Colossenses 3:22-25)

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- O impacto da mordomia cristã - 85

A vontade de Deus é que, trabalhando por conta de ou-


trem, não o façamos com a motivação de sermos vistos pelos
homens, mas com a certeza de que, através deste trabalho, es-
tamos a servir a Deus, que é Dono de tudo e todos.
Quantos cristãos, que perderam os seus empregos, pro-
moções no trabalho e outras regalias, teriam evitado tamanha
vergonha para o corpo de Cristo e a oportunidade de estarem
em melhores condições financeiras, se fizessem de todo o cora-
ção, como para o Senhor e não para os homens? (Colossenses
3:23b). Nessa abordagem, não me refiro a irmãos injustiçados,
mas àqueles que, devido ao mau posicionamento como funcio-
nários, chegavam sempre atrasados, faltavam sem justificação
plausível e, várias vezes, por preguiça, não fizeram o seu tra-
balho com o profissionalismo e a qualidade exigida, nem se es-
forçam para servir a Deus nos seus empregos, dando sempre o
melhor de si, para honra e glória de Deus.
Aqueles que por conta própria trabalham são, igual-
mente, chamados a servir a Deus, convidando o Dono de todos
os empreendimentos e empresas a levar os negócios a bom
porto, garantindo que a prosperidade destes proporcionem
mais empregos, mais desenvolvimento das comunidades locais
e bênçãos, em forma de mais qualidade de vida, aos homens
que são de Deus.
Sem a intenção principal de cuidar do bem-estar do ho-
mem, suprindo suas necessidades e promovendo seu desenvol-
vimento, todo serviço prestado é apenas uma estrutura para
ganhar dinheiro e sem as duas componentes fundamentais da
mordomia cristã que são: glorificar a Deus, servindo-O e servir
ao próximo, glorificando a Deus. Nessa ordem de ideias, preci-
so concordar com as palavras do puritano Jonh Cotton quando
disse:

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“Um homem, portanto, que serve a Deus no serviço


aos homens... faz seu trabalho sinceramente como na
presença de Deus, e como quem tem uma ocupação
celestial em mãos, e, portanto, confortavelmente
sabendo que Deus aprova seu caminho e trabalho.”
(apud, Ryken, 1992, p. 42).

O “modo puritano de entender o trabalho” deve trazer


uma motivação diferente no exercício das profissões, uma
motivação não baseada no dia de semana (Segunda ou Sexta-
feira), não na obtenção de riquezas, mas no serviço a Deus,
através dos homens, estando certos de que da parte daquEle
que está acima de toda autoridade humana seremos avaliados
e recompensados.

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IMPACTO SOBRE A FÉ

A igreja foi abençoada com toda a sorte de bênçãos es-


pirituais (Efésios 1:3). Nossa salvação, nossa comunhão com os
santos e nossos dons espirituais são bens espirituais concedi-
dos por Deus.
Embora o ser e deixar de ser salvo, manter a comunhão
com os irmãos, receber dons espirituais não depende, unica-
mente, de nós, manter a alegria da salvação, procurar, sempre
que estiver ao nosso alcance, ter paz com todos os homens (Ro-
manos 12:18 e Hebreus 12:14) e não negligenciar os dons que
nos foram dados por Deus, requer de nós uma parte de respon-
sabilidade.

Salvos para uma nova vida


Minha intenção não é defender certa corrente teológica
nesta abordagem sobre a salvação. Por esta razão, em vez de
falar sobre arminianismo ou calvinismo, vou ater-me apenas
em abordar sobre como o cristão, como bom mordomo, deve
cuidar de sua vida com Deus.
O devocional deve ser, na minha opinião, a parte mais
importante do dia de qualquer cristão. Como filhos de Deus,
nosso dever é priorizar o tempo com Deus por três motivos.
Primeiro, porque através dele professamos nossa fé em Deus;
Ou seja, mostramos que temos um Deus e a Ele rendemos nos-
so culto com adoração e comprometimento diário.
Vamos tomar como exemplo uma jovem cristã casada
que trabalha, estuda e ainda tem tarefas domésticas por fazer.

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As tarefas de nível um como ir ao trabalho, frequentar as aulas


são prioritárias e só podem ser feitas por ela. Mas, existem
tarefas domésticas que podem ser delegadas a algum integrante
da família que tenha mais tempo ou a uma empregada
contratada para reduzir a carga deste trabalho. Estas tarefas
são de nível dois e podem ser delegadas e supervisionadas
mesmo sem estar presente no momento em que a tarefa
é executada. O tempo passado na internet (desde que não
seja uma actividade relacionada ao cumprimento de tarefas
laborais ou académicas, podem ser dispensadas e substituídas
por outras como leitura das Sagradas Escrituras ou de livros de
edificação da fé e oração.
Segundo, Fuja da procrastinação. Adiar as tarefas
prioritárias como ir ao trabalho apertando o botão de adiar
o alarme pela manhã, preparar-se mais tarde por causa de
minutos para “se actualizar na internet” logo pela manhã, são
atitudes que roubam o tempo que pode ser ganho e usado
para momentos devocionais. A verdade é que, a maior razão
pela qual muitos cristãos procrastinam o momento devocional
é que estão preenchendo estes períodos com vícios de
entretenimento.
Portanto, é possível, apesar das várias tarefas do dia,
reservar tempo para o devocional, ainda que se precise cuidar
da família, trabalhar, estudar e ter momentos de lazer bem
planificados. O segredo está em assumirmos a administração
do nosso tempo e não “deixar ser levado”. Nosso cérebro é
uma máquina de ocupação; quando não é guiado por metas
bem agendadas, buscará suas próprias tarefas para preencher
o “espaço em branco”. Planifique bem o seu dia e fuja da
procrastinação.

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- O impacto da mordomia cristã - 89

Dons espirituais
Um dos pontos a não negligenciar, quando falamos da
mordomia dos bens espirituais, é o uso correcto dos dons. Eles
servem, essencialmente, para salvação de perdidos e edificação
do corpo de Cristo. O Apóstolo Pedro nos exorta:

Servi uns aos outros de acordo com o dom que cada um


recebeu, como bons administradores da multiforme
graça de Deus. Se algum irmão prega, fale como quem
comunica a Palavra de Deus; se alguém serve, sirva
conforme a força que Deus provê, de maneira que em
todas as atitudes Deus seja glorificado mediante Jesus
Cristo, a quem pertencem a glória e o pleno domínio por
toda a eternidade. Amém! (1 Pedro 4:10-11)

Cada um de nós possui um dom espiritual e, por esta


razão, todos os membros do corpo de Cristo, sem excepção,
devem, como mordomos da multiforme graça de Deus, servir
uns aos outros. Para que possamos servir de modo apropriado
precisamos:
(i) Conhecer os nossos dons. Eles podem ser conhecidos após
um estudo sobre o que as Sagradas Escrituras dizem a
respeito, quais e como os dons estão operacionais nos
nossos dias.
(ii) Exercitar os dons. Os dons são habilidades que devem
ser exercitadas para o aperfeiçoamento. Quanto mais
exercitamos um dom mais crescemos e mais habilitados
nos tornamos para experimentar a operação destes dons.
Os dons são uma grande bênção quando bem usados. Mas,
também, podem ser objecto de grande maldição quando
usados erradamente.

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90 - Mordomia cristã -

Pedro diz que o que prega deve o fazer como quem co-
munica a Palavra de Deus. Por esta razão, deve estudar, profun-
damente, a Palavra de Deus para que a mensagem a ser prega-
da seja a mais fiel possível às Sagradas Escrituras.
Quem profetiza deve julgar suas palavras mediante as
Sagradas Escrituras para que não conduza o povo de Deus a um
engano de seu coração ou inspirações de demónios.
Usar mal e negligenciar os dons são um caminho para li-
mitar a boa administração dos bens espirituais dados por Deus
à sua igreja.

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PALAVRAS FINAIS

Que grande missão Deus concedeu aos homens: a de


administrar os seus bens! Tanto os bens materiais quanto os
espirituais, são dados por Deus para que os homens possam
cuidar com sabedoria, fazer prosperar e fazê-lo servir o
propósito pelo qual Deus concedeu.
Embora Deus não precise receber nosso dinheiro, como
cristão, sabemos que “a parte de Deus” é de grande contributo
para suprir as necessidades do povo de Deus, do templo de
adoração de seu povo e da propagação do evangelho, através
da obra missionária.
As igrejas que não investem na obra missionária, que
não investem na propagação do evangelho e no crescimento do
corpo de Cristo, andam, espiritualmente, mortas e fazem uma
má administração dos bens que Deus, através de Seus filhos,
disponibiliza para a igreja.
Outro reflexo da má administração dos bens de Deus,
em uma igreja, é o cuidado e assistência que se presta aos mais
necessitados, especialmente aos órfãos e viúvas.
Outrossim, Deus concede-nos também bens espirituais
para que possamos servir os nossos irmãos. Nossa salvação
precisa ser um ganho para a família, igreja e sociedade. Nosso
testemunho de vida deve ser um bem para servir o próximo,
assim como os dons espirituais.
A grande missão de administrar os bens de Deus precisa
ser entendida pelas lentes dos princípios da mordomia.

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Isso inclui, não apenas a administração de bens materiais


como casas, carros, também nossos relacionamentos, através
da forma como cuidamos o nosso próximo, nosso trabalho,
como entendemos a teologia por trás do negócio, emprego ou
empreendimento que Deus, em sua infinita graça, nos permite
administrar.

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- O impacto da mordomia cristã - 93

Por isso, recomendo:


Pais, ensinemos aos nossos filhos sobre mordomia
cristã. Ensinemos às heranças do SENHOR sobre o que é ofertar,
como devem ofertar e qual a razão da contribuição cristã. Elas
precisam aprender que a oferta não é troca com Deus e deve
ser proporcional ao que receberam de Deus.
Quando ensinamos, as crianças aprendem “em que
caminho que deve[m] andar” (Provérbios 22:6) e entendem
que sua contribuição é uma bênção e não um peso.
E acrescentemos a esses ensinamentos, o testemunho
de uma vida piedosa, não apegada aos bens materiais, sem
amor ao dinheiro e um coração sempre disposto a partilhar no
pouco ou no muito.
Pastores e líderes, a contribuição cristã é tão
espiritual quanto a oração. Uma igreja que aprendeu sobre
sua responsabilidade financeira não precisa de mensagens
ameaçadoras para contribuir fiel e proporcionalmente. Ficar
indiferente (não ensinar sobre o assunto) é tão desastroso
quanto ensinar errado.

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

BOYER, Orlando Spencer. Heróis da fé. 15ª edição. Rio de


Janeiro: CPAD, 1999.

RYKEN, Leland. Santos no mundo – os puritanos como


realmente eram. 1ª Edição. São Paulo: Editora Fiel, 1992.

NICODEMUS, Augustus. O que a Bíblia fala sobre dinheiro. 1ª


edição. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2021.

LOPES, Hernandes Dias. Riqueza, a prosperidade que vem de


Deus. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos Ltda, 2009.

IEBA. Hinos em Português e Kikongo. 3ª edição. Luanda:


Núcleo. 2003.

WIERSBE, Warren Wendel. Comentário bíblico expositivo –


Novo Testamento – Volume I. 1ª edição. São Paulo: Geográfica
Editora, 2006

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