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Copyright 2005 by Editora Tempo de Avivamento

4a Edição - Fevereiro/2023

Coordenador Teológico
Pr. Marco Feliciano, DD

Direção e Edição
Cláudio Roberto de Oliveira

Ilustrações
Sanrley Guedrien Bueno

Instituto Teológico Carisma


Uma visão pentecostal do Evangelho

Todos os direitos reservados por


Editora Tempo de Avivamento - MA Feliciano Com. Discos Ltda.
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Instituto Teológico Carisma
Uma visão pentecostal do Evangelho

Salvação, um Dom de Deus

***

Homilética Dinâmica
(A Arte de Pregar)

***

O Espírito Santo em Nossa Vida


(Paracletologia)

***

O Lar Cristão
(A família cristã à luz da Bíblia)
***

Manifestações do Espírito Santo

***

Língua Portuguesa
Sumário

Salvação, um dom de Deus (Soteriologia)

Introdução ................................................................................................................. 171


Cap. 1 - O que é salvação? ...................................................................................... 172
Cap. 2 - A necessidade de salvação ..................................................................... 174
Cap. 3 - Aspectos divinos da obra salvífica de Jesus Cristo I ........................ 182
Cap. 4 - Aspectos divinos da obra salvífica de Jesus Cristo II ....................... 188
Cap. 5 - A experiência pessoal na salvação ........................................................ 192

O Espírito Santo em Nossa Vida (Paracletologia)

Introdução ................................................................................................................. 198


Cap. 1 - O Espírito Santo no Antigo Testamento ............................................. 199
Cap. 2 - O Espírito Santo no Novo Testamento .............................................. 202
Cap. 3 - O Espírito Santo no milênio .................................................................. 208
Cap. 4 - O Espírito Santo na vida do crente ..................................................... 209
Cap. 5 - A natureza do Espírito Santo ................................................................. 212
Cap. 6 - Os dons do Espírito Santo ...................................................................... 218
Cap. 7 - Fruto do Espírito ...................................................................................... 229
Cap. 8 - O batismo com o Espírito Santo .......................................................... 232

Homilética Dinâmica, A Arte de Pregar

Introdução ................................................................................................................ 239


Cap. 1 - Síntese do estudo da homilética ........................................................... 241
Cap. 2 - Relacionamentos ...................................................................................... 251
Cap. 3 - Conhecimento .......................................................................................... 266
Cap. 4 - Necessidades do pregador .................................................................... 270
Cap. 5 - A arte de pregar ........................................................................................ 272
Cap. 6 - A mensagem .............................................................................................. 277
Cap. 7 - O Pregador ................................................................................................. 279
Cap. 8 - O grande dia .............................................................................................. 282

O Lar Cristão - A família cristã à luz da Bíblia

Cap. 1 - A união sagrada ......................................................................................... 286


Cap. 2 - Noivado e casamento ............................................................................. 288
Cap. 3 - O início do lar.............................................................................................. 291
Cap. 4 - Deveres de manutenção e governo da família ................................. 295
Cap. 5 - A importância dos pais ............................................................................ 301
Cap. 6 - Os pais como exemplo para os filhos ................................................. 303
Cap. 7 - A importância do culto doméstico ...................................................... 308
Cap. 8 - A questão do divórcio .............................................................................. 311

Manifestações do Espírito Santo - A batalha espiritual (Apêndice)

Cap. 1 - Operações do Espírito Santo ou de demônios? ................................. 317


Cap. 2 - Usando o dom do discernimento ........................................................ 325

Língua Portuguesa (Apostila) ................................................................................ 331


Salvação,
um Dom
de Deus
(Soteriologia)

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que


deu o seu Filho unigênito,para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João
3:16)
171 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Introdução
A Bíblia diz que Deus “... amou ao mundo de tal maneira que deu o seu
Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna” (Jo 3.16). Essa passagem se tornou o texto áureo de toda
Bíblia. Deus revelou Seu insuperável amor pela raça humana como um
todo, e por cada pessoa individualmente. Na Epístola aos Felipenses, lemos
que Cristo humilhou-se a si mesmo sendo obediente até a morte de cruz
“...a si mesmo se humilhou, tornado-se obediente até a morte, e morte de
cruz” (Fl 2.8).
Assim, a Bíblia nos apresenta a grande boa-nova de que o plano de
salvação se concretizou na morte de Cristo, salvação essa que foi
arquitetada detalhadamente pelo Deus Trino antes da fundação do
mundo. Portanto temos nitidamente, revelado nas Escrituras o papel de
cada pessoa da Trindade na redenção da humanidade. O Pai planejou a
salvação, O Filho consumou a salvação e o Espírito Santo aplica a salvação
que O Pai planejou e o Filho consumou. Somente um Deus como o nosso
poderia resgatar a humanidade sem entrar em contradição com a Sua
própria justiça divina.
Instituto Teológico Carisma Salvação, um Dom de Deus 172

Capítulo 1
O que é Salvação?
Salvação assumindo uma conotação
espiritual significa: perdão de pecados. Salvação
é livrar alguém da condenação. Condenação é o
resultado do julgamento do pecador. Esse
julgamento consiste em Deus condenar o
pecador à punição eterna do inferno, destino
daqueles que rejeitam a provisão de Deus para o
perdão de pecados. Ela é um dom gratuito,
portanto a única coisa que o homem precisa
fazer para ser salvo é crer permanecendo em
Jesus.
A salvação em três tempos:
O homem é um ser tricotômico, ou seja, ele é composto por espírito, alma
e corpo. Partindo desse princípio esta- mos sendo e seremos salvos.
a) Salvação Passada: É a salvação do espírito e recebe o nome de Novo
Nascimento, Regeneração. O termo bíblico relacionado com essa experiência
é: Justificação. “Deus, quem nos salvou” (2 Tm 1.9); “Segundo a sua
misericórdia nos salvou” (Tt 3.5).
b) Salvação Presente: É a salvação da alma, do nosso Eu. O Espírito Santo
realiza a separação da alma e do espírito. A alma é “quebrada” e o Espírito
Santo, através do nosso espírito, exerce Seu governo sobre ela. Isso é
Santificação. “Desenvolvei a vossa salvação” (Fp 2.12); “Cristo... pode salvar
completamente” (Hb 7:25); “Na vossa paciência, ganhareis as vossas almas” (Lc
21.19); “A palavra em vós enxertada, a qual é poderosa para salvar as vossas
almas” (Tg 1.21); “Quem quiser salvar a sua vida (alma) perdê-la-á; mas quem
perder a sua vida (alma) por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á” (Mc 8.35).
c) Salvação Futura: É a salvação do corpo.
Acontecerá por ocasião do arrebatamento ou da
ressurreição. O termo bíblico para tal
acontecimento é: Redenção. “Nossa salvação está
agora mais perto de nós” (Rm 13.11); “Cristo
aparecerá segunda vez aos que o esperam para a
salvação” (Hb 9.28); “Aguardamos a nossa adoção,
a saber, a redenção do nosso corpo (Rm 8:23).
173 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

A salvação do espírito nos garante o céu, a vida eterna. A condição para


recebê-la é arrepender e crer. As obras não entram aqui. A ressurreição do
corpo terá níveis de glória, como diz Paulo em 1 Coríntios 15. A salvação da
alma está relacionada com o Reino, quando o Senhor Jesus vier para
estabelecer Seu governo nesta terra durante mil anos. Aqui entra as boas
obras, a conduta, o serviço prestado ao Senhor.
Instituto Teológico Carisma Salvação, um Dom de Deus 174

Capítulo 2
A necessidade de salvação
Para o homem entender que ele necessita de
salvação, primeiramente é preciso que ele
reconheça que está perdido. Pois não há
necessidade de salvação onde não há perdição. A
necessidade de salvação nos mostra que o homem
é incapaz de ser salvo pelos seus métodos e pelos
seus próprios esforços. O homem foi incapaz de
seguir toda a Lei, eis o porque da necessidade da
vinda de um Salvador para cumprir essa Lei em seu
lugar. A obra salvífica de Cristo é o alicerce e a base que sustenta o templo do
resgate divino. Questionar esse alicerce é questionar toda estrutura do
cristianismo. Pois se não reconhecermos a existência de perdição, não
necessitamos de salvação, automaticamente não há salvador. Então, Cristo
passa de Salvador do mundo, para simplesmente um homem qualquer, um
personagem histórico, revolucionário que esteve no mundo somente para
fundar mais uma religião. Na Bíblia temos a confirmação dos anjos sobre quem
é Jesus “é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o
Senhor” (Lc 2:11 - grifo nosso).

Por que necessitamos de salvação?


A Bíblia ensina claramente que “... todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus” (Rm 3:23). E também ela nos mostra a nossa condição
espiritual em que, por natureza, todos os homens se encontram, ressaltando
que cada ser humano vem ao mundo
trazendo uma natureza pecaminosa, sendo,
portanto, um pecador de nascença. Com o
passar do tempo essa natureza pecaminosa
evidencia-se nos pensamentos, palavras,
atos pecaminosos e atitudes de inimizades
contra Deus. Pecado no grego é hamartios,
e significa literalmente errar o alvo. No Éden
o homem errou seu alvo desobedecendo ao
Criador. Com isso carregamos o chamado
pecado original. Jesus Cristo pagou pelos pecados do homem
175 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Necessitamos de salvação porque necessitamos de uma nova natureza


(“Importa-vos nascer de novo” Jo 6.7). A humanidade tem basicamente dois
ancestrais em comum. Adão e Eva. Por essa razão podemos afirmar a existência
de apenas uma raça, a raça humana. Na carta aos Romanos Paulo afirma que a
queda da raça da humanidade se deu devido a unidade dessa raça e que a
redenção efetuada por Cristo tem um potencial similar.
A Palavra de Deus é enfática em mostrar que o homem necessita de perdão
porque é pecador, necessita ser achado porque está perdido, necessita ser
absolvido porque está condenado, necessita de justificação porque é culpado,
necessita de ressurreição espiritual porque está morto espiritualmente, necessita
de liberdade porque é escravo, necessita de luz porque está em trevas. Deus é
justo, por isso tem de punir o pecado. Por causa da sua sobrepujante Glória, Ele
tem verdadeira aversão ao pecado e esse julgamento consiste em um afastar
eternamente de Sua presença todos aqueles que morrem em seus delitos e
pecados sem terem aceitado a Jesus como seu Salvador pessoal.

A Origem da Salvação
Já temos visto a condição espiritual do homem perante seu criador e sua
necessidade de salvação. Agora iremos ver a origem da salvação.
A salvação tem origem na Graça de Deus (“Porque a graça de Deus se há
manifestado, trazendo salvação a todos os homens” - Tt 2:11). É um fato que a
graça de Deus é a fonte de salvação e de todas outras bênçãos do cristão. Ela
aparece mais de 300 vezes em toda Bíblia Sagrada, além disso, é traduzida
centena de vezes como “misericórdia” e dezenas de vezes como “bondade,
longanimidade” etc. Portanto a graça é um favor imerecido da parte de um
superior a um inferior, ser acolhido com benevolência e misericórdia.
Não podemos confundir graça de Deus com obras humanas e nem com
“obrigação divina”. Se o homem pudesse ser salvo através de suas obras, ele não
necessitaria de um salvador, isso sem contar o fato de que Deus nunca teve
obrigação de fazer nada pela humanidade caída, a salvação é um dom gratuito,
pois mesmo sendo falhos e imperfeitos, Deus nos ama e usa de sua graça e
misericórdia para conosco. O objetivo da graça de Deus é duplo, primeiramente
ela salva o homem do poder do pecado e depois ela limita a ação deste, levando o
homem a ter íntima comunhão com Cristo. A graça de Deus é um assunto
abrangente, por isso, ela se divide em dois tipos principais:
• A graça comum: São favores que Deus dispensa a toda a raça humana. Cristo,
como Cordeiro de Deus, não é só “mediador da aliança” mas é também “mediador
da criação”. Por este motivo, Deus concede a graça comum ao homem visando a
preservação de vida na terra.
176 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Os fenômenos naturais estão entre esses favores (“...porque Ele faz nascer
o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.” Mt 5.45).
Apesar disso tudo, a graça comum refreia o pecado, mas não muda a
natureza humana. Ela segura a manifestação do pecado, mas não o
extingue. Ela é apenas um veículo para demonstrar a bondade de Deus a
toda criatura.
• A graça especial: É a graça concedida ao homem somente através da
fé no sacrifício vicário do Filho de Deus. Quando o ser humano responde à
graça comum, ele é beneficiado por essa “graça especial” que o leva a
chegar mais perto do Criador. Portanto, a graça produz em nós exatamente
o contrário daquilo que o pecado produziu. O pecado produziu a nossa
morte espiritual, porém a graça nos restituiu a vida. Através dela, Deus
salva, justifica e adota o pecador como um filho (“Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem
no seu nome” - Jo 1:12). Jesus afirmou que é
impossível o homem receber salvação, se essa graça especial não atraí-lo
até Deus (“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o
trouxer...” - Jo 6:44).
177 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Diferenças entre a Lei e a Graça


A LEI A GRAÇA
Ordena Convida

Condena (“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz aos Perdoa (“Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a
que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja redenção dos nossos delitos, segundo as riquezas da sua
fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” - graça” - Ef 1.7)
Rm 3.19)

Maldiz (“Pois todos quantos são das obras da lei estão Convida Justifica (“É evidente que pela lei ninguém é
debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito todo justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé” -
aquele que não permanece em todas as coisas que estão Gl 3.11)
escritas no livro da lei, para fazê-las” - Gl 3.10)

Mata (“E outrora eu vivia sem a lei; mas assim que veio o Vivifica (“O ladrão não vem senão para roubar, matar e
mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; e o mandamento destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em
que era para vida, esse achei que me era para morte.” - Rm abundância” - Jo 10.10)
7.9,10)

Separa o pecador (E disseram a Moisés: Fala-nos tu Aproxima (“Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes
mesmo, e ouviremos; mas não fale Deus conosco, para que estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” -
não morramos.” - Ex 20.19) Ef 2.13)

Opera vingança (“Olho por olho, dente por dente, mão por Não se vinga (“Eu, porém, vos digo que não resistais ao
mão, pé por pé” - Ex 21.24) homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra” - Mt 5.39)

Odeia A graça diz: “Amai”

Diz: “Faze e viverás” (“Então subiu Moisés a Deus, e do Diz: “Crês e serás Salvo” (“Responderam eles: Crê no
monte o Senhor o chamou, dizendo: Assim falarás à casa de Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.” - At 16.31)
Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel” - Ex 19.3)

Foi para uma nação ("Então subiu Moisés a Deus, e do É para todas as nações (“Portanto ide, fazei discípulos de
monte o Senhor o chamou, dizendo: Assim falarás à casa todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho,
de Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel” - Ex 19.3) e do Espírito Santo” - Mt 28.19)

Condena a todos (“Pois todos nós somos como o imundo, e Justifica a todos (“E a esperança não desaponta,
todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos porquanto o amor de Deus está derramado em nossos
nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” - Rm 5.5)
como o vento, nos arrebatam” - Is 64.6)

Na promulgação da lei, 3 mil perderam a vida (“E os filhos Na primeira pregação após a ressureição três mil almas
de Levi fizeram conforme a palavra de Moisés; e caíram do receberam vida (“De sorte que foram batizados os que
povo naquele dia cerca de três mil homens” - Ex 32.28) receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se
quase três mil almas” - At 2.41)

“Graça é Deus dando o que o céu tem de melhor, para


salvar o que a terra tem de pior.”
178 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Estamos vivendo na dispensação da graça de Deus, a nova aliança, não


estamos mais debaixo de jugo de escravidão como era na dispensação da lei.
Então pra que serviu a lei? Ela serviu de aio, ou seja, um professor que nos
conduziu a Cristo para Este nos livrar do pecado (“De maneira que a lei nos serviu
de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” - Gl
3.24) – o quadro a seguir nos mostra como está distante a lei e graça:

O meio de salvação
Já aprendemos que a origem da nossa salvação é a graça de Deus. Mas Deus
é santo, justo e não pode tolerar o pecado; esse tem de ser punido. Então como
Deus pode ainda salvar os pecadores sem ir contra Sua natureza? Encontramos a
resposta na provisão que Cristo realizou na cruz do calvário. Portanto o único
meio de salvação é através da pessoa de Jesus Cristo (“... ninguém vem ao Pai, se
não por mim” - Jo 14:6) - pois Ele é mediador de uma nova e melhor aliança de
Deus com o homem. Deus, através de Cristo, nos beneficiou com os mais ricos
presentes da crucificação. Para aproximarmos de Deus, é preciso que seja
segundo as condições impostas pelo próprio Deus, não temos o direito de
inventar o nosso próprio caminho. A salvação sempre vem através de uma e
determinada pessoa (“Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz do
agradecimento; o que votei pagarei. Do Senhor vem a salvação” - Jn 2:9) – Na
encarnação do Verbo, Deus se fez homem para salvar o homem. Jesus é o único
meio de salvação, porque foi Ele o sacrifício único e perfeito para livrar a
humanidade da condenação do pecado. Por isso Jesus satisfaz dois requisitos:
• Ele tem a vontade de salvar: (“Que quer que todos os homens se salvem, e
venham ao conhecimento da verdade” - 1 Tm 2:4) – o desejo de salvação que está
dentro de Jesus, é no sentido de sentimento e não de apenas de planejamento
decidido. Se o Deus Trino, algum dia planejou a salvação da humanidade, foi
porque o amor que Ele sente é muito grande (“Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna” - Jo 3:16). Neste, que se tornou o texto áureo da
Bíblia, temos o maior sentimento do mundo que é o amor de Deus, temos
também o maior aglomerado de pessoas que é o mundo e finalmente temos a
maior promessa do mundo que é a vida eterna em Cristo Jesus.
• Ele tem capacidade de salvar: (“Portanto, pode também salvar
perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder
por eles.” - Hebreus 7.25). A capacidade de salvar, que só Jesus tem, vem pelo fato
Dele ter, em obediência a Deus, se esvaziado de Sua e Divindade e assumido a
forma humana para morrer em nosso lugar (“Mas esvaziou-se a si mesmo,
tomando forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na
forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e
morte de cruz” - Fp 2.7,8).
179 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Ninguém passou o que Ele passou, ninguém enfrentou o que Ele enfrentou e
ninguém nos amou como Ele nos amou. Pela Sua humanidade Ele pôde passar
por tudo que nós passamos, ter as necessidades que nós temos, ser tentado em
tudo como nós somos, mas, todavia em nenhuma das áreas da vida Ele cometeu
pecado. Isso O habilita a ser a única pessoa que tem capacidade de salvar, pois Ele
está assentado à direita de Deus pai como único sacerdote que pode interceder
pela humanidade (“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado” - Hb 4:15).

A Base para Salvação


O que faz do cristianismo uma “religião” diferente de todas as outras está na
base de salvação. Os valores cristãos são valores que vão de encontro com a
razão humana, e um desses valores é o sangue de Jesus. Enquanto as religiões
que povoam a Terra procuram as mais diversas e absurdas formas de salvação o
cristianismo tem como base somente o sangue de Jesus. Pois Cristo deu Sua vida
e dar a vida é dar o sangue. Esta é a base da Nova Aliança que Deus firmou com o
homem para salvá-lo. Na Antiga Aliança eram usados os sangues de animais
como bodes e ovelhas para purificação da carne, mas o sangue de Cristo é
superior, pois não somente oculta o pecado como também o apaga
definitivamente (“...muito mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si
mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará nossa consciência de obras
mortas para servirmos o Deus vivo” Hb 9.14).
A salvação é de graça, mas não foi barata, ela teve um preço muito alto
(“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos
pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e
incontaminado,” 1 Pe 1.18,19). Foi o sangue de um inocente derramado pelos
culpados. Assim, cada um de nós tem que valorizar a salvação em Deus, pois ela
custou o preço incompreensível do sangue de Jesus Cristo e é através dele que
recebemos salvação, purificação e vitória.
O sangue de Cristo tem falado até hoje (“E a Jesus, o Mediador de uma nova
aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.” Hb 12.24) – e
fala melhor do que o sangue de Abel, porque após o seu irmão Caim ter o matado,
o seu sangue clamou por vingança (“E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue
do teu irmão clama a mim desde a terra” - Gn 4.10) - não querendo perdoar e sim
vingar-se pelo homicídio, o sangue de Abel clamava pela condenação de seu
irmão Caim.
180 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Por outro lado, o sangue de Cristo fala de coisas muito mais superiores do que
Abel: ele clama por perdão e misericórdia em vez de vingança. O sangue de Jesus
clama a Deus por nós.

O Plano de Salvação
Em resumo o plano de Deus para salvação se divide em três partes: Lei,
Graça e Glória. A Lei cerca todo o período do Antigo Testamento, a Graça
compreende os Evangelhos e a Glória o restante das Escrituras. Mas quando foi
planejado tudo isso? A resposta está em Apocalipse 13.8b “...Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo.”- onde nos diz que o propósito do Deus Trino
de salvar a humanidade já estava arquitetado desde a fundação do mundo, mas o
Cordeiro foi morto milhares de anos depois da queda, mas na mente de Deus ele
já havia morrido. Semelhantemente, Isaías 9:6 diz: “Porque um menino nos
nasceu, um filho se nos deu...”. Note que o verbo está no pretérito perfeito, mas
Isaías profetizou setecentos anos antes do menino nascer, mais uma vez vemos a
presciência de Deus, que para Ele não existe passado e nem futuro, mas sim um
eterno presente. Os propósitos de Deus são tão concretos quanto o próprio
acontecimento, por isso, a queda do homem não O pegou de surpresa, pela Sua
presciência Ele já sabia antecipadamente que o homem iria pecar, mas quando
isso aconteceu Ele já tinha a solução para esse problema. Concluímos então, que
o plano de salvação do homem, não era um plano alternativo, nem um remendo,
que foi feito as pressas, mas é uma solução definitiva.
Então se Deus sabia, porque Ele não evitou que homem pecasse?
Simplesmente pelo fato de que Ele não poderia interferir no livre arbítrio do
homem e teríamos nossa vida controlada, Deus tinha que deixar o próprio
homem decidir se obedeceria ou não. Do contrário Deus estaria indo de encontro
com Sua própria natureza, fazendo assim com que Adão obedecesse não porque
queria, mas porque Deus o forçou a fazê-lo. O Senhor é a essência da liberdade,
Ele nunca criaria um ser como se fosse um robô, que simplesmente recebe
ordens, mas sim a todos concedeu o livre arbítrio (o fato de podermos escolher o
bem ou o mal) - é o homem quem escolhe e determina o seu destino eterno, e
não Deus. Quando Lúcifer caiu, o homem seguiu o mesmo destino, isso nos leva a
contemplar quão grandioso é o Senhor. Hoje de livre e espontânea vontade
podemos escolher servir ao Senhor ( “...escolhei hoje a quem sirvais...” Js 24.15).
Dentro do plano da salvação, a Igreja não tem ligação com a lei, mas somente
com a Graça e Glória. Elementos esses que foram reservados restritamente para
a Igreja pelo próprio Deus. O que não podemos é tirar a ordem desse plano tão
bem arquitetado e elaborado minuciosamente por Deus.
181 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Esse foi o grande perigo da Igreja primitiva, regredir da graça para a lei
(“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à
graça de Cristo para outro evangelho;” Gl 1.6) - esse outro evangelho que
Paulo menciona foi a influência de alguns judeus cristãos que obrigavam os
crentes não judeus a praticarem a lei, principalmente o ritual da circuncisão.
Atualmente o contexto é outro, coletivamente, não temos o perigo de
retornar para a lei, mas o grande desafio de cada cristão é conseguir passar
da Graça para a Glória.
Instituto Teológico Carisma Salvação, um Dom de Deus 182

Capítulo 3
Aspectos divinos da obra salvífica
de Jesus Cristo - 1
“Que é o homem mortal para que te
lembres dele? e o filho do homem, para que
o visites?” (Sl 8:4).
Neste salmo, Davi contempla toda obra
da criação e observa sua magnitude,
sentindo-se forçado a perguntar por que
Deus escolheria algo tão falho e inexpressivo
como o homem para dar-lhe o domínio
sobre todas as obras de Sua mão.
Apesar disso, há um Deus no céu que tem consciência disso e sabe que, à
parte Dele, não passamos de meras e frágeis criaturas, e corremos um grande
perigo. Por esse motivo é que Deus providenciou, da Sua parte, alguns
aspectos da obra salvífica de Cristo dos quais veremos a seguir:

Substituição mediante sacrifício


A Bíblia deixa claro que houve substituição na salvação do homem, pois o
que foi substituído não tinha suficiência em si mesmo para salvar-se. Isso foi
devido à exigência de Deus para salvação, que é a perfeita obediência a Ele, e
sabemos que “...todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm
3:23). Assim, o homem foi e é incapaz de ter uma vida perfeita e, por isso, foi
condenado à morte. Para não ferir Sua própria justiça, Deus providenciou uma
solução para este problema, que foi a substituição vicária de Cristo em lugar
da humanidade caída. Essa substituição através do sacrifício de Cristo satisfaz
toda a exigência da ei por meio de Sua morte.
Um dos mistérios que faz com que o sacrifício de
Cristo seja eficaz e o único meio de salvação está no
fato de a encarnação do Verbo (“E o Verbo se fez carne,
e habitou entre nós...” - Jo 1.14), que é completamente
suficiente para pagar pelos pecados do mundo. Por
quê? Na encarnação, Cristo possuía duas naturezas:
humana e divina. Então, como Deus, Ele pôde oferecer
um sacrifício de valor superior ao de um simples
homem.
A morte de Jesus na cruz substitui o
sacrifício
183 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Ele teve de morrer pelos pecados do mundo. Somente Deus poderia fazer
isso. E Jesus deveria ser homem para poder fazer um sacrifício pelo próprio
homem. Como homem, Jesus pôde ser o mediador entre Deus e os homens.
A substituição divide-se em duas partes:
• Substituição temporária: Substituição é o ato judicial de Deus pelo qual
Ele pune os pecadores pelos seus pecados, provendo um substituto
qualificado, sobre o qual recaiu todo o pecado e a culpa imputados à
humanidade por causa do pecado de Adão. Antes do calvário, um cordeiro
morria em lugar do homem, substituindo-o como sacrifício a Deus. No Antigo
Testamento esse sacrifício tinha de ser repetido e somente cobria os pecados,
não os apagava. A pessoa era salva por esse sacrifico, mas somente se ela
tivesse a esperança de que viria o Messias prometido para fazer um sacrifício
único e perfeito.
Todos os sacrifícios do Antigo Testamento eram tipos e símbolos que
apontavam para um melhor sacrifício (“Porque tendo a lei a sombra dos bens
futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que
continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se
chegam” - Hb 10.1), pois era impossível que o sacrifício de animais tirasse o
pecado do homem. Por isso nota-se que Deus não atentava para o sacrifício
em si, mas para a dedicação íntima do ofertante. “Samuel, porém, disse: Tem,
porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que
se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e
o atender, do que a gordura de carneiros” (Sm 15.22).
• Substituição permanente: Depois do calvário, o Cordeiro também
morreu em lugar do homem (“...Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo.” - Jo 1.29), mas esse sacrifício foi uma só vez para sempre e tirou o
pecado do mundo, foi permanente. Pois Deus não quis mais o sacrifício de
animais (“Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto
e expiação pelo pecado não reclamaste.” - Sl 40.6), pois eram temporários e a
Palavra de Deus ensina que Cristo, vicariamente, nos substituiu morrendo em
nosso lugar, recebendo nossa punição e pagando nosso pecado. Por esta
razão, o sacrifício veio atender à culpabilidade da raça humana. Mediante o
sacrifício, o mesmo Deus que exigiu o preço a ser pago pelo pecado também
pagou esse preço, tão grande que nenhum ser humano foi capaz de igualar.
Deus olhou do céu e não viu nenhum justo sequer. Este olhar de Deus
percorreu três tempos: passado, presente e futuro. O Senhor observou que
não houve, não havia e tampouco haveria um justo na Terra (“O Senhor olhou
desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse
entendimento e buscasse a Deus.” - Sl 14.2). Eis a razão de um substituto para
o sacrifício: o ser humano não tinha condições nem de morrer por ele mesmo.
184 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Cristo foi o antítipo do Cordeiro Pascal mencionado no Velho Testamento


(“Porque naquela noite passarei pela terra do Egito, e ferirei todos os
primogênitos na terra do Egito, tanto dos homens como dos animais; e sobre
todos os deuses do Egito executarei juízos; eu sou o Senhor. Mas o sangue vos
será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu o sangue, passarei por
cima de vós, e não haverá entre vós praga para vos destruir, quando eu ferir a
terra do Egito” – Ex 12:12,13) e no Novo (“Expurgai o fermento velho, para que
sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa
páscoa, já foi sacrificado.” – 1 Co 5:7); das ofertas pelo pecado (“Todavia, foi da
vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando ele se puser como
oferta pelo pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e a
vontade do Senhor prosperará nas suas mãos” - Is 53.10; “Porque a lei, tendo a
sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca,
pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem de ano em ano,
aperfeiçoar os que se chegam a Deus. Doutra maneira, não teriam deixado de
ser oferecidos? pois tendo sido uma vez purificados os que prestavam o culto,
nunca mais teriam consciência de pecado. Mas nesses sacrifícios cada ano se
faz recordação dos pecados, porque é impossível que o sangue de touros e de
bodes tire pecados" - Hb 10.1-4, e “Disse mais o Senhor a Moisés: Fala a Arão e
a seus filhos, dizendo: Esta é a lei da oferta pelo pecado: no lugar em que se
imola o holocausto se imolará a oferta pelo pecado perante o Senhor; coisa
santíssima é. O sacerdote que a oferecer pelo pecado a comerá; comê-la-á em
lugar santo, no átrio da tenda da revelação. Tudo o que tocar a carne da oferta
será santo; e quando o sangue dela for espargido sobre qualquer roupa,
lavarás em lugar santo a roupa sobre a qual ele tiver sido espargido. Mas o
vaso de barro em que for cozida será quebrado; e se for cozida num vaso de
bronze, este será esfregado, e lavado, na água. Todo varão entre os sacerdotes
comerá dela; coisa santíssima é. Contudo não se comerá nenhuma oferta pelo
pecado, da qual uma parte do sangue é trazida dentro da tenda da revelação,
para fazer expiação no lugar santo; no fogo será queimada” - Lv 6.24-30) e do
bode expiatório que indiscutivelmente significa substituição (“Quando Arão
houver acabado de fazer expiação pelo lugar santo, pela tenda da revelação, e
pelo altar, apresentará o bode vivo; e, pondo as mãos sobre a cabeça do bode
vivo, confessará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as
suas transgressões, sim, todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do
bode, e enviá-lo-á para o deserto, pela mão de um homem designado para
isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles para uma
região solitária; e esse homem soltará o bode no deserto” - Lv 16.20- 22).
185 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Assim, não somente Cristo se tornou Filho do Homem para que o homem
se tornasse filho de Deus, como também Ele se tornou, no calvário, o que não
era (pecado), para que nós nos tornássemos o que não éramos (somos), isto é,
justos.

A Reconciliação
É a operação graciosa de Deus pela qual reconcilia-Se com os pecadores,
por meio da morte de Jesus Cristo, removendo a inimizade. O termo usado no
Antigo Testamento para reconciliação é “expiação”. A reconciliação resolve o
problema da alienação do pecador. O verbo para denotar reconciliação no
Novo Testamento é “mudar”: mudar de inimizade para amizade; de odiar para
considerar amigo e amar; mudar de guerra para paz; de separação de Deus
para acesso direto ao Pai, tudo isso através do derramamento de sangue por
Cristo na cruz.
A reconciliação implica que, uma vez, existiu uma inimizade (“A vós
também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento
pelas vossas obras más, agora, contudo vos reconciliou.” - Cl 1.21), mas, com
somente uma parte lesada, que foi Deus, o criador do homem. Assim, para que
a reconciliação aconteça, é preciso que a parte lesada desempenhe papel
primário. A nossa reconciliação depende única e exclusivamente do ato de
Deus querer ou não demonstrar disposição de acolher quem O lesou: Sua
atitude seria de reconciliação, pois não adianta o homem querer perdão se
Deus não quiser perdoar. Por isso, Deus tem uma atitude unilateral,
mostrando que, em Cristo, já tomou a iniciativa e nos perdoou (“E tudo isto
provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos
deu o ministério da reconciliação” - 2 Co 5.18). O que o homem precisa é
corresponder, reconhecendo que é o ofensor e que Deus está pronto a
perdoá-lo mediante Cristo. Sem essas duas atitudes, não poderá haver
reconciliação.

A Redenção
É o ato gracioso de Deus pelo qual liberta o pecador da escravidão da lei
do pecado e da morte, mediante o pagamento de um resgate. A redenção
resolve o problema da escravidão do pecador. A palavra redenção vem do
vocábulo grego lutrosis, que significa um pagamento de uma pessoa ou algo
que está escravizado. Redenção, ou resgate, subentende que alguém
desfrutava de uma comunhão plena da qual foi removido pelo fato de ter
transgredido o pacto dessa comunhão e que, agora, retorna ao seu devido
dono pelo preço do resgate que foi pago. O pecado arruinou tanto a natureza
do homem como também sua condição perante o Criador, colocando-o em
186 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

estado de escravidão tão lastimável que os seus próprios esforços são


insuficientes para libertá-lo ou redimi-lo. Foi preciso a vinda de um “parente
próximo” para pagar o resgate (“Quando teu irmão empobrecer e vender
alguma parte da sua possessão, então virá o seu resgatador, seu parente, e
resgatará o que vendeu seu irmão.” - Lv 25.25). Jesus é esse parente próximo
que veio para nos resgatar da escravidão do pecado, pois o homem não foi
criado escravo, mas tornou-se escravo.
A desobediência do homem foi tão grande que alcançou proporções
extremas, atingindo toda a criação existente e fazendo com que esta também
clame pela redenção (“...na esperança de que a própria criação será redimida
do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.” - Rm
8.21). A quem foi pago esse resgate? Certamente não foi a Satanás, como
pensam alguns teólogos, pois não devemos nada a ele. O resgate foi
apresentado ao Deus justo, pois é a Ele que ofendemos com nossos delitos e
pecados.

A Ressurreição
A ressurreição significa “volta miraculosa à vida”. A desobediência da
ordem de Deus expressa no Jardim do Éden (“Mas da árvore do conhecimento
do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres,
certamente morrerás.” - Gn 2.17), implicou na separação do homem de Deus,
ou seja, além da morte física que entrou no mundo, houve também a morte
espiritual. A Bíblia fala de três tipos de morte, sempre com significado de
separação: física, espiritual e eterna. A morte física é a separação do corpo e
da alma, a morte espiritual é a separação do homem de Deus e a morte eterna
é a separação eterna do homem de Deus. Para as duas primeiras há solução,
mas para a morte eterna não, pois o homem passará a eternidade no estado
em que estava antes de sua morte física. Eis a razão de Deus providenciar a
ressurreição espiritual do homem por meio do novo nascimento do crente.
Na morte e ressurreição espiritual, o batismo nas águas é uma figura
do que acontece (“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na
morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do
Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” - Rm 6.4), sendo um
símbolo da nossa morte e ressurreição com Cristo para vivermos em novidade
de vida. Portanto, o homem pode estar fisicamente vivo, mas espiritualmente
morto (“...estando vós mortos em ofensas e pecado” - Ef 2.1). O homem
precisa, agora, aceitar a Cristo para que seja participante do presente de Deus
chamado ressurreição (“...e estando nós mortos, nos deu vida juntamente com
Cristo – pela graça sos salvos, e juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos
fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” - Ef 2.5,6).
187 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

A Justificação
“Justificação é o ato de pronunciar justo. É a declaração de que alguém
é justo, depois de haver sido anulada a sua culpa”, diz W. E. Vine. Justificação é
um vocábulo ligado à área jurídica e tem origem no grego dikaiosis, que define
um ato legal que anistia as culpas de alguém e o declara inocente, inculpado
ou justo perante a sociedade. A palavra hebraica correspondente é tsadak
(“Quando houver contenda entre alguns, e vierem a juízo, para que os julguem,
ao justo justificarão, e ao injusto condenarão.” Dt 25.1).
O homem, por natureza, não é apenas filho da ira, mas também é
transgressor e criminoso. No livro de Jó está a pergunta: “Como, pois, seria
justo o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nasce de
mulher?” (Jo 25.4). Em Salmos está a súplica: “E não entres em juízo com o teu
servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente” (Sl 143.2).
Perante tudo isso, podemos enxergar uma desesperada necessidade de
justificação, pois o homem foi para o banco dos réus sob acusação de
desobediência contra o Criador do Universo e a sentença imposta foi a morte.
Como pode, então, um Deus justo justificar o injusto sem ferir sua própria
justiça? O homem foi incapaz de pagar sua dívida, então através da obra de
Cristo no calvário, o veredicto final pôde ser mudado de culpado para
justificado. Porém, tal mudança vale apenas para aquele que se reconcilia com
Deus através do sangue do Jesus (“Logo muito mais agora, tendo sido
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.” - Rm 5.9).
Instituto Teológico Carisma Salvação, um Dom de Deus 188

Capítulo 4
Aspectos divinos da obra salvífica
de Jesus Cristo - 2
Continuaremos a estudar os Aspectos da
Obra Salvífica. Agora abordaremos os aspectos
Eleição, Adoção, Predestinação, Santificação e
Vida Eterna ou Glorificação.
Na classificação das
doutrinas, a salvação
está entre as mais
fáceis da Bíblia, mas o
aluno não poderá
ficar restrito apenas
ao livro, mas sim
procurar mais fontes de informação e estudos.
Jesus carrega a cruz até o Calvário:
salvação. Ore, busque, leia, pesquise para expandir seus
horizontes, ser cheio do poder do Espírito Santo e uma bênção nas mãos do
Senhor.

A Predestinação
Predestinação é a preordenação das escolhas de Deus baseada nas
necessidades e escolhas do homem. Deus é onisciente e, sabendo das
escolhas futuras dos homens, predeterminou seu destino, sabendo para onde
vai cada ser humano. Mas é errônea a idéia de que Deus escolhe quem vai ser
salvo ou não. O Senhor não é um manipulador do destino do homem, pois Ele
não o criou simplesmente para ser um boneco, mas sim com poder de decisão
e vontade própria para escolher – livre arbítrio. Conforme João 3.16, todos os
seres humanos, sem exceção, foram predestinados à vida eterna, pois o
inferno foi criado apenas para o diabo e seus anjos (“...Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” - Mt 25.41).
Mas, para recebermos a vida eterna, precisamos levar em conta a eleição.
Portanto, definimos que a predestinação é universal e a eleição depende
do livre arbítrio de cada indivíduo em aceitar ou não tal predestinação à vida
eterna. “No tocante à eleição e predestinação, podemos aplicar a analogia de
um grande navio viajando para o céu. Deus escolhe o navio (a igreja) para ser
sua própria nau. Cristo é o Capitão e Piloto desse navio. Todos os que desejam
estar nesse navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo.
189 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

Enquanto permanecerem no navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre


os eleitos. Caso alguém abandone o navio e o seu Capitão, deixará de ser um
dos eleitos. A predestinação concerne ao destino do navio e ao que Deus
preparou para quem nele permanece. Deus convida todos a entrar a bordo do
navio eleito mediante Jesus Cristo” (“Bíblia de Estudos Pentecostal”, pág.
1890).

A Eleição
Eleição é o ato eterno de Deus pelo qual, em seu soberano beneplácito
e sem levar em conta nenhum mérito previsto nos homens, escolhe um certo
número deles para receberem a graça especial e a salvação eterna. No Antigo
Testamento, “eleição” foi usada para demonstrar a eleição de Israel como
nação. A eleição pode ser tanto individual (“Saúdam-te os filhos de tua irmã, a
eleita. Amém.” - 2 Jo 1.13) como coletiva (“Mas vós sois a geração eleita...” 1 Pe
2.9), mas sempre a iniciativa é de Deus (“Não me escolhestes vós a mim, mas
eu vos escolhi a vós, e vos nomeei...” – Jo 15.16).
Quando Deus elege um indivíduo, entendemos que este, mediante o
sacrifício de Cristo no calvário, já atendeu a todos os pormenores exigidos pela
justiça de Deus. Concernente à eleição, é preciso salientar que é precedida
pela predestinação. 1 Pedro 1:2 diz que somos eleitos pela presciência de Deus
(“Eleitos segundo a presciência de Deus Pai...”). Deus sabia de antemão quem
iria crer no Senhor Jesus Cristo.
O que é imprescindível ao homem, agora, é atender ao chamamento de
Deus para a salvação, pois o Senhor chama, e se atendermos o chamado,
tornamo-nos eleitos de Deus – mas o homem é eleito enquanto permanece
em Cristo, pois fora Dele é caçado seu mandato. Permanecemos em Cristo,
pois a eleição é tanto responsabilidade humana quanto soberania Divina. “A
soberania Divina e a soberania humana certamente são contraditórias entre si,
mas a soberania Divina e a responsabilidade humana, não.”

A Adoção
É o ato judicial de Deus, resultado prático da regeneração, pelo qual
declara seus filhos emancipados e herdeiros da vida eterna. Adoção não deve
ser confundida com regeneração, pois na adoção Deus coloca o pecador que já
é seu filho regenerado na posição de filho adulto. Na adoção não há
transformação interior (moral). A adoção não muda o interior do pecador, mas
sua posição perante Deus. Deus não adota pecadores não-regenerados,
apenas aqueles que já são seus filhos. Pela lógica, regeneração precede
adoção. A regeneração dá a natureza de filho de Deus; adoção dá posição.
190 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

O vocábulo grego huithesia, que significa “estar em lugar de filho”, descreve


alguém que recebeu a filiação sem ter o direito legal de assumir tal condição.
Assim como na adoção de filhos mediante a Justiça, a adoção espiritual tem
iniciativa no pai, e ambas preveem herança a quem nada tinha, além de um
novo nome ao adotado. Apesar das semelhanças, a adoção por Deus é
superior à terrestre, pois o homem nunca adota seu próprio filho, enquanto
Deus só adota quem já foi feito filho: o homem adota um filho quando não
tem nenhum, mas Deus já tinha um Filho Amado antes de nos adotar. Além
disso, geralmente o homem adota quem tem a melhor aparência e melhores
características, mas Deus só adota os miseráveis pecado- res e os piores entre
todos. Enquanto o homem não pode dar sua natureza a quem adotar, mas
Deus proporciona a mente de Cristo.

A Santificação
O termo santificação na Bíblia significa, basicamente, separação para um
trabalho específico e, especialmente, para o serviço de Deus. A santificação é
de suma importante ao cristão, pois somente por ela veremos a Deus (“Segui a
paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” - Hb 12.14).
Santificação é um processo gradual na vida do crente. À medida que se vai
aproximando do Senhor, pela leitura e conhecimentos da Palavra, pela oração
e consagração, torna-se mais semelhante ao Senhor, até atingir a estatura de
varão perfeito, como Jesus Cristo (“Até que cheguemos a unidade da fé; e ao
conheci- mento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo” - Ef 4.13).
É necessário que a santificação ocorra na vida do cristão do interior para o
exterior (“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso
espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” - 1 Ts 5.23). Note que o versículo diz
“...espírito, e alma, e corpo...” , e não “corpo, alma e espírito”; portanto, a
santificação tem de começar no espírito do homem para que se exteriorize
(“...Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os
adultérios, as prostituições, os homicídios” - Mc 7.21). A santificação não é
opcional na vida do cristão, mas um imperativo do Senhor para seus
discípulos, resultado do poder da Palavra de Deus (“Santifica-os na verdade, a
tua palavra é a verdade.” Jo 17:17).

A Glorificação
A glorificação é o ato mais elevado na obra redentora de Deus no
homem, por ser o futuro recebimento de absoluta e definitiva perfeição do
crente, seja física, mental e espiritual. A glorificação completa, a justificação e
191 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

a santificação manifestam os três ministérios de Jesus como Profeta,


Sacerdote e Rei. No passado, Cristo, como Profeta, nos salvou definitivamente
da penalidade do pecado, através da justificação. No presente, como
Sacerdote, Ele nos salva progressivamente do poder do pecado, através da
santificação. No futuro, como Rei, ele nos salvará definitiva e completamente
da presença e do poder do pecado, através da glorificação.
O tempo da glorificação está totalmente no futuro, e começará no
Arrebatamento, com a aquisição de um corpo transformado (“...e os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.” - 1 Co 15.52/b), da
herança (“Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode
murchar, guardada nos céus para vós” - 1 Pe 1.4) e o recebimento dos
galardões (“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para
que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou
mal.” - 2 Co 5.10).
Todos esses eventos sucederão à volta do Senhor Jesus. Agora, basta
somente aos que estão em Cristo confiar em Sua promessa, sabendo que O
que prometeu é fiel para cumprir (“O Senhor não retarda a sua promessa,
ainda que alguns a têm por tardia” - 2 Pe 3.9), pois teremos um corpo como o
de Cristo, transformado, reconhecível, espiritual, celestial, ilimitado, eterno,
glorioso, incorruptível e poderoso. Isto é o que o Senhor tem reservado para
seus servos.
Instituto Teológico Carisma Salvação, um Dom de Deus 192

Capítulo 5
A experiência pessoal na salvação
A salvação é um dom gratuito, o que está
intrínseco nas Sagradas Escrituras, mas ela depende
de duas ações totalmente distintas. A salvação
depende não só da obra salvífica de Cristo, que já foi
efetuada na cruz, mas também do aproveitamento
desta obra por parte do pecador. O ser humano foi
agraciado, da parte de Deus, com várias bênçãos espirituais a fim de reaver
para si a comunhão que havia perdido. Mas o pecador também possui
responsabilidade em querer atender ao chamado para salvação ou não, por
que a vontade de Deus é que todos se salvem. Veremos a seguir os passos
que o pecador precisa trilhar para receber esta tão grande salvação.

A Conversão
O que o homem precisa fazer para ser salvo? Estamos estudando a
salvação pela ótica cristã e bíblica, mas muitas religiões que povoam a Terra
possuem, ainda que falsamente, o seu próprio modo de o homem ser salvo. A
conversão é um dos passos para salvação dentro do cristianismo. Deus nunca
exigiu que o homem efetuasse sua própria substituição, expiação,
propiciação, redenção, justificação etc., por que somente Ele pode conceder
esses dons. Mas a parte exigida do homem dentro da salvação é esta:
conversão.
Teologicamente, conversão é o ato exterior e visível da salvação
operada na vida do regenerado ou, literalmente, virar-se para direção oposta
que se refere a uma dupla mudança de sentido, tendo sempre como alvo o
Senhor Deus (“...e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o
Deus vivo e verdadeiro” - 1 Ts 1.9/b). Então, para ser salvo, é necessário não
somente abandonar o pecado, mas voltar-se para Cristo. Por não consistir em
uma série de rituais místicos, a salvação se torna instantânea no momento da
conversão, sendo a resposta do pecador à chamada de Deus a todos os
homens. A conversão sugere “voltar-se contra” o pecado, mas também
“voltar-se” para Deus.

O Arrependimento
Arrependimento é a mudança voluntária e consciente produzida na
vida do pecador e efetuada pelo Espírito Santo, a qual atinge a mente e os
193 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

sentimentos, conduzindo o pecador ao abandono voluntário do pecado. No Novo


Testamento, é usada a palavra grega metanoia para a ideia de arrependimento e
para explicar o termo shuv, que engloba a mente e a vontade. O homem
arrependido vira as costas para o pecado.
Mas só o arrependimento não é suficiente para a salvação, apesar de
produzir um sentimento de remorso no homem, fazendo-o abandonar o pecado
e entregar-se a Deus. Muitas vezes os pecadores ou criminosos sentem remorso
por suas atitudes e comportamentos, porém não abandonam seus atos
pecaminosos para ter uma vida santa diante de Deus. Um exemplo bíblico bem
conhecido é o de Judas, que se arrependeu de ter traído o Mestre, mas teve um
fim trágico, pendurado em uma árvore. É imprescindível que se conheça o
arrependimento como ele deve ser.
Os bem-intencionados cristãos convidam, pressionam e insistem para o
pecador aceitar a Cristo e crer, sem jamais mencionarem o arrependimento e
abandono do pecado. Mas, na Palavra de Deus ele está intrinsecamente exigido
através dos profetas do Antigo Testamento, da pregação de João Batista, de
Jesus Cristo, dos doze Apóstolos, do ministério de Pedro, de Paulo, na vontade de
Deus etc. O arrependimento é tão importante que duas coisas se seguem a ele:
alegria no céu (“Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se
arrepende...” - Lc 15.7/a) e perdão de pecados (“E disse-lhes Pedro: Arrependei-
vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” - At 2.38).
Arrependimento é condição, mas não a causa da salvação. É a condição do
coração, necessária antes para que se possa crer na salvação. Embora o pecador
não possa ser salvo sem se arrepender, ele não é salvo por que se arrepende. O
arrependimento só é eficaz acompanhado da fé salvífica.

A Fé Salvífica
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que se não vêem” (Hb 11.1). No original do Novo Testamento, fé vem da
palavra grega pistis que é um substantivo e poucas vezes usado para a idéia de
fidelidade, como é no Antigo Testamento, mas sim para referir-se à confiança
ilimitada em Deus. Além de ser a base para o arrependimento, a fé é o aspecto
positivo, pois mostra para onde o pecador está se voltando, isto é, para Deus
através de Cristo.
Somos salvos pela graça através da fé (“Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” - Ef 2.8). E as obras, não
salvam? Para o estudante desavisado, parece que a Bíblia, às vezes, se contradiz.
A Bíblia que diz que Abraão foi justificado pela fé (“Pois, que diz a Escritura? Creu
Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.” - Rm 4.3) é a que diz que o
mesmo Abraão foi justificado pelas obras (“Porventura o nosso pai Abraão não
194 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?” -
Tg 2.21). Como entender isso?
Paulo e Tiago ensinam sobre fé e obras, mas ambas têm sentido
diferente. Paulo fala de uma fé salvífica e Tiago, de uma fé professada. A
intenção de Tiago não era atacar a fé como meio de salvação, mas atacar a fé
professada somente para obter a salvação. As obras pelas quais Abraão foi
justificado não eram obras da lei, mas obras de amor (“Concluímos, pois, que o
homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” - Rm 3.28); o que Tiago refuta
é a possibilidade de haver verdadeira fé sem dedicação e amor a Deus.
Portanto, vemos que a fé é a raiz da árvore, e as obras são os frutos.
Fomos salvos não pelas obras (para não nos gloriarmos nelas), e sim para
praticarmos boas obras. Pois as obras da lei são insuficientes para a salvação
(“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em
Jesus Cristo...” - Gl 2.16). Porém, elas são os frutos que não faltam à verdadeira
fé, configurando evidência e prova exterior da fé do homem (“Fiel é a palavra, e
isto quero que deveras afirmes, para que os que crêem em Deus procurem
aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens.” - Tt
3.8).

A Perseverança
Perseverança é a contínua operação do Espírito Santo no crente, pela
qual a obra da graça divina, iniciada no coração, tem prosseguimento e se
completa, levando os salvos a permanecerem em Cristo e perseverarem firmes
na fé. A perseverança representa o lado humano, e vem da palavra grega
hupomonê, que significa “constância” e “tenacidade”. Este termo dá a ideia de
que a perseverança do crente é comparada a de um soldado em campo de
batalha: é uma atitude heróica que só o crente em Jesus pode ter.
195 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

É errônea a doutrina calvinista (fundada por João Calvino) de que “salvo


uma vez, salvo pra sempre”. As promessas da Bíblia são sempre condicionais
(“se andares”, “se ficares”, “se obedeceres”, “se permaneceres”, “se olhares”, “se
conservarmos”, “se perseverares” etc.) Terá sido em vão o cristão receber
todos os presentes da crucificação, como perdão, justificação, reconciliação,
se não permanecer em Cristo.
Perseverança é o mesmo que paciência, saber persistir em algo que se
está fazendo. A salvação não está garantida para aqueles que não
permanecem em Cristo. Ao contrário do que dos calvinistas professam, o
crente pode, sim, perder a salvação; do contrário, poderia levar a vida como
bem entendesse. As Escrituras, porém, exigem santidade e obediência. Muitos,
no caminhar da vida cristã, se sentem abatidos, angustiados, desanimados e,
não conseguindo permanecer, estão ainda prostrados ou até já passaram para
a eternidade sem Deus e sem luz. Que possamos permanecer em Cristo com
toda a paciência (“Na vossa paciência possuí as vossas almas.” - Lc 21.19) para
que, no fim de nossa jornada, Cristo nos encontre perseverantes na doutrina e
na fé que nos foi dada.
196 Salvação, um Dom de Deus Instituto Teológico Carisma

A Salvação em algumas religiões

Fé Mundial Bahaí - Os adeptos desta seita, fundada em


1844 no Irã, acreditam na imortalidade de cada um, desde
que haja boas obras. Apesar de céu e inferno, após a
morte, dependerem das recompensas aos fiéis, a salvação
reside na fé, no conhecimento e na prática dos
ensinamentos de Deus (Bahá’u’lláh).

Islamismo - Segunda maior religião do mundo, o islamismo


surgiu em 610 d.C. em Meca, na atual Arábia Saudita, a partir
de uma “visão” de Maomé, seu principal profeta. A morte,
para os muçulmanos, pode ser o caminho para o paraíso
(somente para os de sua religião) ou para o inferno
(reservado aos infiéis). Admite a salvação reservada aos que
encontram o equilíbrio entre bem e mal.

Budismo - A religião de Sidarta Gautama, dito “Buda”,


floresceu na Índia no início do século 6o a.C., como ramo
do hinduísmo. O nirvana, estado de iluminação da mente,
é alcançado após sucessivas reencarnações, eliminando
os desejos da mente. Não existe céu nem inferno.

Hinduísmo - Nasceu na Índia, sob influência da religião


bramânica. Segundo seus ensinamentos, o comportamento
da pessoa (bom ou mau) vai influenciar na sua próxima
reencarnação, pela qual paga pelos pecados cometidos.
Após muitas vidas no ciclo de reencarnação, o adepto se
une a Brama, o conjunto do universo chamado Deus.

Judaísmo - Fundado por Abrahão no Oriente Médio, tem


ramos com crenças diferentes. A maioria dos judeus
crêem, porém, na ressurreição físicas após a morte,
quando os fiéis, justos e obedientes a Deus viverão no
céu. Para obter a salvação, é preciso praticar a oração,
arrepender-se dos pecados e obedecer à lei.

Fonte: Centro Apologético Cristão de Pesquisas


O Espírito Santo
em nossa vida
(Paracletologia)

“E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito


sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas
profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os
vossos jovens terão visões.E também sobre os servos
e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu
Espírito.
E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e
fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em
trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande
e terrível dia do Senhor.E há de ser que todo aquele
que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no
monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim
como disse o Senhor, e entre os sobreviventes,
aqueles que o Senhor chamar.” (Joel 2:28-32)
198 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

Introdução
Uma visão panorâmica
Sendo uma das três pessoas da Santa
Trindade, o Espírito Santo é eterno e sua
obra opera desde a eternidade. Na história
da humanidade, sua obra está presente
desde a criação até os dias de hoje. Nem
sempre é possível, porém (não sendo
também necessário), distinguir com
exatidão as obras realizadas pelo Espírito
das do Pai e do Filho. Em outras palavras,
podemos dizer que as operações divinas
têm origem no Pai, são executadas pelo
Filho e se fazem desfrutar por meio do
Espírito Santo.
Lançando uma visão panorâmica sobre Dia de Pentecostes, em Atos 2: batismo
com fogo.
a obra do Espírito Santo em relação à
humanidade, podemos destacar suas operações a partir de períodos (Antigo
Testamento, Novo Testamento, Milênio) e neles verificamos a prática
específicas em pessoas, congregações, povos, nações e na natureza.
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 199

Capítulo 1
O Espírito Santo no Antigo Testamento
Desde antes do alvorecer dos tempos, o
Espírito Santo é. Ele existe desde a eternidade. A
Bíblia ressalta sua atividade entre os homens nos
tempos do Antigo Testamento, embora oculto –
aparece algumas vezes em meio a todas as
façanhas e feitos do passado.
1. O Espírito Santo nos líderes do Antigo Testamento
• Nos profetas Elias e Elizeu: Eles
ministraram em épocas de crise espiritual
nacional. Só o Espírito de Deus lhes
poderia proporcionar vitória contra os
poderes malignos que atuavam
especialmente nas vidas dos reis ímpios
de seus dias. Os discípulos dos profetas
criam que o Espírito transportavam Elias
de um lugar para outro. Quando ele foi Elias é levado por carros de fogo: poder de
Deus.
arrebatado, queriam procurá-lo
pensando: “...pode ser que o Espírito do Senhor o tivesse levado e lançado
nalguns dos montes ou nalguns dos vales” (2 Rs 2:16).
• Em José, do Egito - Sonhos de profundas significações deixaram Faraó, o rei
do Egito, “... de espírito perturbado (...) mas ninguém havia que lhes
interpretasse” (Gn 41:8). Os sonhos foram interpretados por José e o Egito se
livrou de dias terríveis. Pelo que Faraó chegou à seguinte conclusão:
“Acharíamos, porventura, homem como este em que há o Espírito de Deus?”
(Gn 41:38) E nomeou José como o governador de todo o Egito.
• No deserto, nos setenta anciãos - “Disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me
setenta homens dos anciãos... Então descerei e ali falarei contigo; tirarei do
Espírito que está sobre ti e porei sobre eles e contigo levarão a carga do povo”
(Nm 11:16-17). Em Números 11:25 lemos: “Quando o Espírito repousou sobre eles,
profetizaram.”
• Nos Juízes - Sansão: “Então o Espírito do Senhor de tal maneira se apossou
dele.” (Jz 14:6-19)
200 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

• Nos Reis - David: “ E daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apossou


de Davi” (1 Sm 16:13). Então esse homem segundo o coração de Deus (At 13:22)
estava apto a guiar sabiamente o seu povo pelo caminho do sucesso,
triunfando contra todos os inimigos. Embora jovem na idade, era homem de
idéias amadurecidas e atitudes elevadas. Para tanto fora habilitado pelo
Espírito de Deus, e David era cônscio disso. Quando pecou, sentiu que Deus
retirava dele o Seu Espírito. Não se conformou nem seguiu o exemplo de Saul,
que procurou se restabelecer pela força. Ao contrário, orou humildemente “...e
não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl 51:11).

2. O Espírito Santo e o mundo em geral


• Com respeito ao universo material - O Espírito Santo também atuou como
agente da criação: “Envias teu Espírito, eles são criados, e assim renovas a face
da terra” (Sl 104:30). “O Espírito de Deus me fez; e o sopro do Todo-Poderoso
me dá vida” (Jó 33:4). No relato da criação, a palavra hebraica “bara”, que
significa “criar do nada”, é usada apenas três vezes: céus e a Terra (1:1), a vida
animal (1:21) e a vida humana (1:27-28). Nestes casos, a palavra Deus é traduzida
de “Eloin”, que significa Pai, Filho e Espírito Santo.
“No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia;
e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a
face das águas. Disse Deus: haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa; e
fez separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz dia, e às trevas
noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. E disse Deus: haja um
firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. Fez,
pois, Deus o firmamento, e separou as águas que estavam debaixo do
firmamento das que estavam por cima do firmamento. E assim foi. Chamou
Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo. E disse Deus:
Ajuntem-se num só lugar as águas que estão debaixo do céu, e apareça o
elemento seco. E assim foi. Chamou Deus ao elemento seco terra, e ao
ajuntamento das águas mares. E viu Deus que isso era bom. E disse Deus:
Produza a terra relva, ervas que dêem semente, e árvores frutíferas que,
segundo as suas espécies, dêem fruto que tenha em si a sua semente, sobre a
terra. E assim foi. A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente
segundo as suas espécies, e árvores que davam fruto que tinha em si a sua
semente, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom. E foi a tarde
e a manhã, o dia terceiro. E disse Deus: haja luminares no firmamento do céu,
para fazerem separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para
estações, e para dias e anos; e sirvam de luminares no firmamento do céu,
para alumiar a terra. E assim foi. Deus, pois, fez os dois grandes luminares:
201 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite;
fez também as estrelas. E Deus os pôs no firma- mento do céu para alumiar a
terra, para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as
trevas. E viu Deus que isso era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia quarto. E
disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves
acima da terra no firmamento do céu. Criou, pois, Deus os monstros marinhos,
e todos os seres viventes que se arrastavam, os quais as águas produziram
abundantemente segundo as suas espécies; e toda ave que voa, segundo a
sua espécie. E viu Deus que isso era bom. Então Deus os abençoou, dizendo:
Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas dos mares; e multipliquem-se as
aves sobre a terra. E foi a tarde e a manhã, o dia quinto. E disse Deus: Produza
a terra seres viventes segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis,
e animais selvagens segundo as suas espécies. E assim foi. Deus, pois, fez os
animais selvagens segundo as suas espécies, e os animais domésticos
segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra segundo as suas
espécies. E viu Deus que isso era bom. E disse Deus: Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do
mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra,
e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra. Criou, pois, Deus o homem à
sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1:1-27)

O Espírito e a humanidade
• Espírito Santo dá testemunho da obra redentora de Cristo: “O Deus de nossos
pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro; sim,
Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o
arrependimento e remissão de pecados. E nós somos testemunhas destas coisas,
e bem assim o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem.” (At 5:30-
32)
• O Espírito Santo convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo: “E quando
ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8). Dada a
amplitude do sentido filosófico desses três vocábulos, que proporcionam
interpretações múltiplas quanto a seu significado ético-moral, eles representam
as três coisas mais difíceis de o homem se convencer. Com habilidades, não raras,
podem os homens tornar relativos os sentidos e significados dessas palavras. Por
exemplo, pode se perguntar o que é pecado, ou por que o homem peca? Não será
por que Aquele que o criou o fez imperfeito? Ou, ainda, o que é justiça? Às vezes o
que é justo para alguém é injusto para outro, e assim por diante. O homem pode
“relativizar” esses sentidos sem, aparentemente cometer, iniqüidade. Por isso, a
tarefa desse convencimento só pode ser realizada pelo o Espírito de sabedoria do
Senhor: o Espírito Santo.
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 202

Capítulo 2
O Espírito no Novo Testamento
Durante quatrocentos anos parecia que o
Espírito Santo estivera em silêncio. Nenhuma
voz profética, inspirada pelo Espírito, fora
ouvida, proclamando a mensagem de Deus a
seu povo. Essa época de silêncio, no entanto,
foi seguida por um período de atividades
espirituais sem precedentes.
O Novo Testamento inicia-se com manifestações poderosas do Espírito
Santo na vida de João Batista, e no ministério do Cristo de Deus, e de forma
esplendorosa na igreja dos tempos descritos em Atos dos Apóstolos, bem
como nos tempos atuais (como, por exemplo, no avivamento pentecostal do
final do século passado e neste século).
1. Espírito Santo em João Batista
Zacarias, um sacerdote esposo de Isabel,
ouvira de um mensageiro celestial que, a
despeito das circunstâncias, naturalmente
desfavoráveis, iria ganhar um filho. A João
Batista, o filho, estava destinada uma missão de
grande interesse no céu. Ao anunciar o
nascimento deste precursor do Cristo, o anjo
disse: “...Será cheio do Espírito Santo desde o
ventre de sua mãe” (Lc 1.15). O evangelista Lucas
Jesus Cristo é batizado por João também afirma: “o menino crescia, e se
Batista: ação do Espírito Santo.
robustecia em espírito; e habitava nos
desertos até o dia da sua manifestação a Israel”. E dele também se dizia: “E
tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás ante a face do
Senhor, a preparar os seus caminhos; para dar ao seu povo conhecimento da
salvação, na remissão dos seus pecados” (Lc 1:76,77).

2. O Espírito Santo no Senhor Jesus Cristo


• Com relação à pessoa de Cristo :
Dá-se cumprimento a Isaías 7.14 sobre o nascimento virginal de Jesus:
“Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá,
e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel.” “Então Maria perguntou ao
203 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

anjo: Como se fará isso, uma vez que não conheço varão? Respondeu-lhe o
anjo: Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua
sombra; por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus” (Lc
1.34.35). Foi gerado e concebido pelo Espírito Santo não uma personalidade
humana, e sim apenas uma natureza humana. A personalidade gerada foi a
divina, porquanto somente há uma personalidade em Jesus Cristo, a eterna,
que era e é a do Filho de Deus.
Sua recepção no Templo foi preparada pelo Espírito Santo (“Ora, havia em
Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem, justo e temente
a Deus, esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E
lhe fora revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ver o
Cristo do Senhor. Assim pelo Espírito foi ao templo; e quando os pais
trouxeram o menino Jesus, para fazerem por ele segundo o costume da lei,
Simeão o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse: Agora, Senhor,
despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; pois os meus olhos já
viram a tua salvação” (Lc 2.25-30), bem como seu crescimento: “Crescia o
menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava
sobre Ele” (Lc 2.40). “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça diante de
Deus e dos homens” (Lc 2.52).
Jesus não foi criado como Adão, isto é, já adulto. Ele foi gerado e a sua
natureza humana cresceu e se desenvolveu como em toda criança. Quanto à
sua divindade, esta não poderia crescer absolutamente em nada, em sentido
algum, porquanto ela era perfeita e completa. Ele foi guiado pelo Espírito
Santo ao deserto a fim de ser tentado pelo diabo. O Espírito Santo não
somente o impeliu para o deserto, mas acompanhou-o e esteve todo o tempo
presente nEle, posto que era o Seu Espírito.
Todavia, Jesus não venceu o diabo porque sua natureza humana recebera
uma infusão do Espírito (que estava nEle), concedendo-lhe, assim, qualidades
divinas. Na verdade, Ele o venceu usando da Palavra de Deus e sujeitando sua
natureza humana à direção do Espírito Santo. Desta forma, deu lugar para que
o Espírito de Deus respondesse por ele às ciladas do diabo.

• Com relação ao ministério terreno de Cristo


O Espírito Santo ungiu Jesus com poder para seu ministério. Este é um
dos mais polêmicos temas acerca do Senhor Jesus. Alguns acreditam que o
homem Jesus de Nazaré recebeu plenos poderes do Espírito Santo somente
após o seu batismo no Jordão. Sabemos que este pensamento tem a marca
dos ebionitas, uma seita judaico-cristã (66 d.C.) que não cria na preexistência
do Cristo, e que o Jesus de Nazaré era apenas mais uma das revelações do
“verdadeiro profeta” que apareceu, anteriormente, em Adão e Moisés, entre
204 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

outros. Para eles, o Senhor havia recebido o Espírito Santo por ocasião do
batismo sendo, naquela hora, escolhido para ser o Messias, o Filho de Deus.
Os estudiosos do Novo Testamento concordam que tal seita pode ter
existido até o ano 350 d.C., enquanto organização. Todavia, sua argumentação
filosófica perdura até os dias atuais, tentando reafirmar o “revestimento de
poder” em Jesus no dia em que foi batizado por João. A argumentação desta
matéria do ITC, entretanto, procura fugir de qualquer semelhança com essas
heresias. No livro de Isaías 61.1 lê-se: “O Espírito do Senhor está sobre mim por
que o Senhor me ungiu para pregar boas novas para os mansos; enviou-me a
restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a
abertura de prisão aos presos”.
O óleo era usado na unção dos reis e sacerdotes a fim de empossá-los,
simbolizando a capacitação do Espírito Santo para tal trabalho. Este ritual era
uma simbolização. No óleo não havia poderes sobrenaturais e tampouco era
uma poção mágica. O apóstolo João diz em sua Epístola: “E vós tendes a unção
do Santo e sabeis tudo...” Todo filho de Deus recebe a unção do Santo (isto é, o
Espírito Santo) para guiá-lo na Verdade (“Mas o Ajudador, o Espírito Santo a
quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos
fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito.” - Jo 14.26).
A medida que os crentes permanecem em Cristo e leem a Palavra de
Deus, o Espírito os ajuda a compreender suas verdades redentoras:
Todos os crentes podem estudar e conhecer a verdade de Deus e aprender
uns com os outros mediante o mútuo ensino, exortação e instrução
(“Ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e
eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” -
Mt 28.20; “palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria;
ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos
espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.” - Cl 3.16;
“Possais compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o
comprimento, e a altura, e a profundidade” - Ef 3:18).
Desta forma, os crentes têm duas salvaguardas contra o erro doutrinário:
a revelação bíblica e o Espírito Santo (“Portanto, o que desde o princípio
ouvistes, permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o
princípio ouvistes, também vós permanecereis no Filho e no Pai.”-1 Jo 2.24)
O crente não precisa aprender doutrinas extra-bíblicas. Esse é o
significado das palavras de João: “Não tendes necessidade de que alguém
vos ensine”
Os ministérios terrenos de Cristo unanimemente aceitos são
três: profeta, sacerdote e rei. No exercício desses ministérios, Ele aplicou a
205 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

pregação, a cura dos enfermos, a expulsão de demônios, controlou as forças


da natureza, multiplicou pães e peixes e exerceu seu poder sobre a morte.
Equivocadamente, tem-se titulado essas práticas como se fossem ministérios
em si. Não o são; antes, representam práticas resultantes dos três grandes
ministérios. Portanto, ele não recebeu unção específica para realizá-las. Tal
entendimento elimina a ideia filosófica herética dos ebionitas de uma segunda
unção no momento do batismo no rio Jordão. Sendo, portanto, a sua unção
realizada na eternidade, como eterno é o Ungido de Deus.
E se ainda insistir-se na “unção do Jordão” por causa do verbo grego
chrio, que significa, literalmente, “ungir com óleo” (“O Espírito do Senhor está
sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-
me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos” - Lc 4.18, e “Concernente a Jesus de
Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou
por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo,
porque Deus era com ele” - At 10.38) com o sentido de investir ou revestir de
poder. Para se confirmar que houve unção naquele rio, podemos contra-
argumentar que, além dos unguentos não possuírem, intrinsecamente,
propriedades sobrenaturais, a Bíblia nos diz claramente que aquele sinal (a
descida do Espírito Santo como uma pomba) foi para que João o identificasse.
As passagens de Lucas e Atos, portanto, se referem à unção da eternidade.

• Com relação à morte e à ressurreição de Cristo


Jesus Cristo foi capacitado pelo Espírito
Santo para oferecer o sacrifício necessário
pelos pecados (“Muito mais o sangue de
Cristo que, pelo Espírito Eterno, a si mesmo
se ofereceu sem mácula a Deus...” - Hb 9.14) e
foi ressuscitado dos mortos pelo Espírito
Santo (“O Espírito daquele que ressuscitou a
Jesus dentre os mortos...” - Rm 8.11 ).
Não bastava que Jesus sofresse e
Anjo avisa: Jesus ressuscitou
morresse pelos nossos pecados: Ele deveria
fazer isso de modo adequado. “Cristo não nos remiu apenas pelo seu
sofrimento: cuspiram nele, foi açoitado, coroado de espinhos, crucificado e
morto; mas esta paixão se tornou eficaz para nossa redenção pelo seu amor e
obediência voluntária. Assim sendo nos sofrimento de cristo houve muito mais
do que satisfação simplesmente passiva, penal. Ninguém obrigou Jesus. Ele que
participava da natureza divina não podia ser compelido, mas ofereceu-se a si
mesmo voluntariamente” (Abraham Kuyper).
206 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

O Espírito o capacitou a oferecer um sacrifício perfeito numa atitude


aceitável a Deus. Sem dúvida, o Espírito Santo lhe deu poder graciosamente e
sustentou-o durante os sofrimentos tantos físicos como espirituais desse
terrível sacrifício. Mas, de maneira toda especial, a ressurreição de Jesus Cristo
é uma obra do Espírito Santo.

3. Espírito Santo, a provisão divina para a Igreja


O livro de Atos dos Apóstolos pode ser chamado, acertadamente,
“Atos do Espírito Santo”. O impacto que sofreram os discípulos com a morte
de Jesus, a predominância da versão de que os discípulos o tinham roubado do
túmulo, seria suficiente para levá-los a abandonarem a tarefa de continuar
pregando o Evangelho. Mesmo crendo que Jesus ressuscitou de fato,
poderiam fazer muito bem como muitos em nossos dias, que “tudo sabem e
nada fazem”. Foi o Espírito Santo a provisão divina para os seus seguidores
desanimados.

• A permanência do Espírito Santo na Igreja


Após o derramamento no Dia de Pentecostes, as vidas dos discípulos
foram transformadas pelo revestimento de poder do Espírito Santo. Tal
revestimento não tinha um caráter temporário, e todos reconheciam que
manter a comunhão com o Espírito por meio de uma vida irrepreensível era
uma necessidade para um permanente revigoramento espiritual. Em tudo
confiavam no Espírito de Deus. No Livro de Atos lemos que, diante das
ameaças, não temeram e nem recorreram a qualquer autoridade humana
(“Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos
que falam com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para
curar e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Servo
Jesus. E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos
foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de
Deus” – At 4.29-31). Eles se reuniram para suplicar a Deus que lhes desse
intrepidez para continuarem a pregação do Evangelho. Pediram que o Senhor
confirmasse a Sua Palavra, mediante a operação de milagres que glorificassem
a Cristo. E suas orações foram respondidas. Esta é, também, a nossa
necessidade e deve ser nossa convicção.

• Espírito Santo: guia fiel da Igreja


O Espírito Santo é um grande Mestre porque seu ensino é profundo.
Pode comunicar verdades tão profundas que a mente humana, finita e
limitada, não consegue entender sem Sua ajuda. Não raro, alguém cita 1 Co 2.9:
“Nem olhos viram, nem ouvidos ouvira, nem jamais penetrou em coração
207 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. Lêem este
texto e param; parece uma limitação muito séria. Mas, o próximo versículo
remove o obstáculo dizendo: “Deus, porém, no-la revelou por seu Espírito”
(1Co 2.10). O homem natural não pode entender as coisas de Deus “porque elas
se discernem espiritualmente” (1Co 2.14).
Pelo verso 12 sabemos que Deus nos deu o seu Espírito “..a fim de
compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus”.
Isto significa que temos na pessoa do Espírito Santo um Mestre que pode
conduzir-nos às riquezas infinitas do conhecimento das verdades de Deus.
Pode-se, portanto, concluir que, quando aceitamos docilmente o seu ensino,
sentimos que é para nós essencialmente proveitoso. Quando somos guiados
pelo Espírito Santo, somos salvos do desespero procedente do nosso estado
de pecaminosidade pessoal. Muitos continuam ainda sobre dolorosa e
humilhante servidão, não tendo sido suficientemente guiados para a liberdade
espiritual. Não deram inteira oportunidade ao Espírito Santo, o único capaz de
libertar-nos deste estado de indignidade como o de nossa justiça própria e
autossuficiência.
O Espírito Santo é o guia fiel da Igreja em todas as suas tarefas
prioritárias (adorar a Deus, evangelizar o mundo, discipular convertidos) e
também administrativas (“Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de
boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais
encarreguemos deste serviço.” - At 6.3), na realização da obra missionária
(“Enquanto eles ministravam perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito
Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” -
At 13.2), na solução das divergências (At 15 - Concílio de Jerusalém), na
ordenação de ministros (“Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres,
a saber: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de
Herodes o tetrarca, e Saulo. Enquanto eles ministravam perante o Senhor e
jejuavam, disse o Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a
que os tenho chamado. Então, depois que jejuaram, oraram e lhes impuseram
as mãos, os despediram. Estes, pois, enviados pelo Espírito Santo, desceram a
Selêucia e dali navegaram para Chipre.” - At 13.1-4).
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 208

Capítulo 3
O Espírito Santo no milênio
Durante toda essa dispensação, o Espírito Santo tem sido o executivo na
Igreja. Pela história da Igreja, pode-se notar: em qualquer tempo em que Ele
tem sido honrado, a Igreja tem desfrutado de reavivamento. Quando, porém, é
negligenciado ou ignorado, a Igreja falha na missão de salvar almas. Quanto à
ação do Espírito Santo no milênio, considere-se: virá tempo quando o Espírito
Santo terá um plano de ação mais amplo para seu trabalho e ministério.
Aquilo que os diplomatas e todas as equipes de mais alto nível da ONU
(Organização das Nações Unidas) jamais conseguirão, virá a desfrutar como
resultado da operação do Espírito Santo. Durante o milênio, virá uma
propagação maior do que jamais foi visto, como se lê em Isaías 32.15: “...até
que se derrame sobre nós o espírito lá do alto, e o deserto se torne em campo
fértil, e o campo fértil seja reputado por um bosque.” Fala-se do Espírito lá do
alto sendo derramado sobre nós. Nestas palavras, o profeta fala das condições
durante o milênio.
Nos versículos 16 e 18 lê-se: “O juízo habitará no deserto a e a justiça
morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça
repouso e segurança para sempre. E o meu povo habitará em morada de paz e
em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descansos”. Note-se que a
descrição profética deste estado de paz e segurança começa com o
derramamento do “Espírito lá do alto”. Este é o motivo por que o milênio será
um tempo de paz e de bênçãos para todas as nações.
Haverá um novo governo, um rei reinará em justiça. Até mesmo o
deserto, “tipo” da ilegalidade e da opressão, estará debaixo de um governo
justo. Haverá renovação total como resultado do ministério do Espírito de
Deus durante o milênio. “Porque derramarei água sobre o sedento, e rios
sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e
minhas bênçãos sobre os teus descendentes” (Is 44.3).
Em Ezequiel 36.27, ainda falando desse reinado de bênção e
prosperidade, lê-se: “E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis
nos meus estatutos...” Este é o clímax e a consumação do novo pacto que
Deus prometeu fazer com seu povo. É, de fato, comovente testemunhar mais
e mais a operação do Espírito Santo, cuja pessoa está sempre presente em
todas as dispensações. Para isto devemos atentar, e nunca esquecer.
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 209

Capítulo 4
O Espírito Santo na vida do crente

O Espírito Santo é, na atual dispensação, o


grande Executivo da vontade divina no plano
da redenção para os crentes. Já apresentamos,
abreviadamente, a natureza do Espírito Santo
e suas atividades no Antigo Testamento, no
Novo Testamento e no Milênio.
1 - O Espírito Santo produz regeneração
Somente pela regeneração o homem pode torna-se filho de Deus. O
melhoramento da velha natureza humana não lhe proporciona habilitação
satisfatória; o Espírito Santo é quem convence o homem do pecado, levando-
o ao arrependimento e, mediante a conversão, muda sua vida. Todavia, pelo
fato de o homem ter se tornado participante da natureza decaída de Adão, ele
precisa nascer de novo. As bênçãos espirituais provenientes de Deus são
somente para seus filhos espirituais, distribuídas pelo Espírito Santo através
da regeneração, isto é, o novo nascimento.

A natureza da regeneração - A regeneração é de natureza espiritual, obra do


Espírito Santo. Nicodemos era mestre em Israel, mas Jesus lhe ensinou que
precisava nascer de novo, enfatizando: “Na verdade na verdade te digo que
aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3).
A necessidade da regeneração - A natureza humana se corrompeu e o
homem, nasci- do segundo a carne, está espiritualmente morto em delitos e
pecados (“Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”
- Ef 2.1). Portanto, precisa ser vivifica- do, nascer do Espírito (“Mas quando
apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador e o seu amor para com os
homens, não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas
segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e
renovação pelo Espírito Santo” - Tt 3.4,5; “...tendo renascido, não de semente
corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e
permanece” - 1Pd 1:23).
Efeitos da regeneração - As novas atitudes, as decisões sensatas e o
comportamento correto do homem sob o controle do Espírito Santo são
efeitos da regeneração por ele operada, o qual atinge três aspectos básicos
da natureza humana: pensamento, sentimento e vontade. Tudo isso
acontece como efeito das atividades do Espírito Santo.
210 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

2 - O Espírito Santo produz santificação


Assim como a regeneração, a santificação também é obra do Espírito
Santo.
O significado da santificação – Essencialmente, a santificação significa um
ato de Deus separando alguma coisa ou pessoa para um serviço sagrado.
No Novo Testamento, santificação significa separação do homem do
pecado e dedicação de sua vida a serviço de Deus, para uso do Senhor. Não
basta tão-somente estar arrependido, convertido, justificado, regenerado
e separado do pecado: é preciso estar a serviço do Senhor.
Obstáculos à santificação - Ainda que o crente tenha sido feito
participante da natureza divina, a velha natureza, o “eu” ainda está
presente, tentando firmar-se e obter o controle de nossa vontade e de
nossas ações. Pretender, simplesmente, dominar este “eu” por meios
próprios resulta em completo fracasso. Não se pode esquecer que a
natureza carnal é o grande obstáculo para a santificação. É o Espírito
Santo a força no crente que domina a natureza carnal e produz a
santificação (“Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a
cobiça da carne.” - Gl 5.16).
A necessidade da santificação - “Sem a santificação ninguém verá o
Senhor” (Hb 12.14). Nosso Deus é Santo e, assim, não pode ter para si quem
não é santo.

3 - O Espírito Santo e o arrebatamento da Igreja


O arrebatamento da Igreja será um glorioso evento a constituir a
consumação da obra salvadora em nós. É também chamada “a redenção do
nosso corpo”: “e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito,
também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a
redenção do nosso corpo.” - Rm 8.23.
A participação do Espírito Santo no arrebatamento - O arrebatamento
da Igreja será imediatamente precedido da ressurreição dos mortos em Cristo.
“Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo,
ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão
primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente
com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos
para sempre com o Senhor.” (1Ts 4.16,17).
211 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

O Espírito Santo e o tempo do arrebatamento - Paulo diz que o Espírito


intercede por nós “com gemidos inexprimíveis”, o que expressa Seu
próprio interesse por nós e do anseio do coração de Deus pelo dia em que
toda a criação será livre da “servidão da corrupção” (“...na esperança de
que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção,
para a liberdade da glória dos filhos de Deus.” - Rm 8.21). Por meio de sinais
diversos e revelações, o Espírito mantém alerta o Exército de Deus na
terra a lutar, crendo que o arrebatamento da Igreja de Cristo não tardará
(“Pois ainda em bem pouco tempo aquele que há de vir virá, e não tardará.”
- Hb 10.37).
O Espírito Santo o penhor da nossa herança - O Apóstolo Paulo escreve:
“nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas
segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para o louvor da
sua glória, nós, os que antes havíamos esperado em Cristo; no qual
também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo
da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da
possessão de Deus, para o louvor da sua glória.” (Ef 1:11-14). Isto significa
que o Senhor Jesus deixou “penhorado” o seu Espírito o qual, por sua
manifestação em nosso meio e em nossa vida, representa a certeza de que
o Senhor virá nos buscar. Então não haverá mais canseira, dor, doenças ou
aflições, e nem haverá mais morte. Haverá gloriosa harmonia, num
ambiente santo, complemente livre de todo o pecado. Esta é a obra que o
Espírito Santo já está realizando em nós, os santos de Deus. O Espírito
Santo nos assistirá até esse dia maravilhoso.
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 212

Capítulo 5
A natureza do Espírito Santo
Desde o Dia do Pentecostes, o Espírito Santo
tem exercido na terra uma atividade fora do
comum, especialmente neste século. Afinal, desde
a fundação da Igreja (Atos 2), a população do
mundo cresceu algumas vezes, proporcionalmente
à descrença das pessoas, a quantidade de religiões
profanas, os falsos profetas. Assim, subentende-se
que o trabalho do Espírito é, hoje, muito maior do
que anteriormente, já existem homens cada vez
mais numerosos, descrentes e pecadores (que
nem sequer acreditam no diabo, às vezes). Esta
gloriosa verdade é, para nós, muito significante
porque, além de testemunhar da nossa própria
experiência, corresponde a nossa concepção à luz
das profecias, de que a manifestação abundante
do Espírito Santo é um dos sinais distintos da iminente volta de Jesus. A obra
crescente do Espírito Santo em nossos dias destaca a importância do estudo
de Sua Natureza como sendo uma das pessoas da Trindade Santa.
A personalidade do Espírito Santo - Considerando o que a Bíblia expõe
quanto à personalidade do Espírito Santo, certifiquemo-nos de que ele não é
simplesmente uma influência, como alguns creem e ensinam. O Espírito Santo
é uma pessoa divina, que distribui as numerosas bençãos e o poder que Deus
colocou à nossa disposição. Tomemos, pois, a determinação piedosa e sincera,
e esforcemo-nos para receber e experimentar tudo o que o Espírito torna
possível ao povo de Deus.
Identificação com o Pai, o Filho e os cristãos - A prova disso está no
pronunciamento do batismo cristão e na benção apostólica (“Portanto ide,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo” - Mt 28.19; “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de
Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.” - 2 Co 13.13; “E o
Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.” – 1 Jo 5.7). No
texto de Coríntios, Paulo fala da comunhão do Espírito Santo da mesma forma
que João se refere ao Pai e ao Filho (“pois a vida foi manifestada, e nós a temos
visto, e dela manifestada” - 1 Jo 1.2). Note bem que na passagem de Mateus se
213 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

lê “em nome” e não “nomes”, significando que todos os três são pessoas,
igualmente. Seria absurdo se estivesse escrito: “Batizando-os em nome do Pai, do
Filho e de uma influência” ou “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de
Deus e a comunhão do poder”.
Atributos e atividades pessoais inerentes ao Espírito Santo - Pelos textos
abaixo citados, o aluno verá que o Espírito Santo é descrito de tal modo que não
pode haver dúvida alguma quanto à sua personalidade. Leia cuidadosamente:

a) O Espírito Santo possui atributos de uma personalidade:


Pensa: “E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do
Espírito: que ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos.” O
trecho fala da “mente do Espírito” (Rm 8.27)
Tem vontade: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas,
distribuindo particularmente a cada um como quer.” (1Co 12.11)
Sente tristeza: “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes
selados para o dia da redenção.” (Ef 4.30)

b) O Espírito Santo exerce atividades pessoais:


Ele revela: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens,
mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” (2Pd
1.21)
Ele ensina: “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu
nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto
eu vos tenho dito.” (Jo 14.26)
Ele dá testemunho da nossa filiação para com Deus: “Enviou Deus aos nossos
corações o Espírito do seu Filho que clama Aba, Pai” (Gl 4.6)
Ele intercede: “Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza;
porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito
mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis.” (Rm 8.26)
Ele fala: “Quem tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2.7)
Ele comanda: “Atravessaram a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo
Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia; e tendo chegado diante da Mísia,
tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu.” (At 16.6,7)
Ele testifica de Jesus: “Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte
do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, esse dará testemunho de
mim” (Jo 15.26)

c) O Espírito Santo é suscetível de trato pessoal


Alguém pode mentir perante Ele: “Disse então Pedro: Ananias, por que
encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e
retivesses parte do preço do terreno?” (At 5.3)
214 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

Pode-se blasfemar contra Ele: “Portanto vos digo: Todo pecado e


blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não
será perdoada. Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem,
isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não
lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.” (Mt 12.31-32)
A deidade do Espírito Santo - As Escrituras claramente revelam ser o
Espírito Santo uma pessoa divina definida. Também o mesmo Espírito
indica a sua própria deidade quando age como Deus.
Nome divino dado ao Espírito Santo - Na descrição do incidente que
envolve o erro e a punição de Ananias, em Atos 5, temos uma ilustração da
deidade do Espírito Santo. No versículo 3, Pedro o acusou de haver
mentido ao Espírito Santo e, no versículo 4, diz que Ananias mentiu a Deus,
isto é, o Espírito Santo é Deus.
O Espírito Santo possui atributos divinos - Outra prova da deidade do
Espírito Santo se encontra nas qualidades ou atributos que lhe são dados,
como eternidade (“Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito
eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras
mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo?” - Hb 9.14),
onipresença (“Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua
presença? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis
que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas
extremidades do mar, ainda ali a tua mão me guiará e a tua destra me
susterá.” - Sl 139.7-10), onipotência (“Respondeu-lhe o anjo: Virá sobre ti o
Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por
isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus." - Lc 1.35) e
onisciência (“Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito
esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus.” - 1Co 2.10)
O Espírito Santo realiza trabalhos divinos - Foi o Espírito Santo que deu
vida à criação (“A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face
do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.” - Gn
1.2). É o Espírito Santo quem transforma o homem em nova criatura por
meio do novo nascimento (“Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade
te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho?
porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus
respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da
água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da
carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de
eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde
quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai;
215 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” - Jo 3.3-8). Foi o Espírito Santo
quem levantou Cristo da morte, mediante a ressurreição (“E, se o Espírito
daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos
mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos
mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.” - Rm 8.11)

d) Os nomes do Espírito Santo


Espírito de Deus: “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o
Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3.16)
Espírito de Cristo: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é
que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito
de Cristo, esse tal não é dele.” (Rm 8.9)
Espírito de vida: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou
da lei do pecado e da morte.” (Rm 8.2)
Espírito de adoção: “O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus” (Rm 8.16)

e) Símbolos do Espírito Santo


Fogo: O fogo como símbolo do Espírito Santo demonstra sua grande força
em relação às diversas maneiras de sua operação para corrigir os defeitos
da nossa natureza decaída e conduzir-nos à perfeição que deve adornar os
filhos de Deus (“respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, vos
batizo em água, mas vem aquele que é mais poderoso do que eu, de quem
não sou digno de desatar a correia das alparcas; ele vos batizará no
Espírito Santo e em fogo.” - Lc 3:16).
1) Fogo que queima: “Se alguém sobre este fundamento levanta um edifício
de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se
manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o
fogo provará qual seja a obra de cada um. Se permanecer a obra que alguém
sobre ele edificou, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar,
sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo.” (1Co
3.12-15)
2) Fogo que consome: “Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser
abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com
reverência e temor; pois o nosso Deus é um fogo consumidor.” (Hb 12:29)
3) Fogo que limpa: “Então voou para mim um dos serafins, trazendo na mão
uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com a brasa tocou-me a
boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e
perdoado o teu pecado.” (Is 6.6-7).
216 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

Vento: Jesus falou do vento como símbolo do Espírito Santo: é invisível,


porém real. A mesma palavra grega “pneuma” é usada em referência ao
Espírito Santo e a “vento”, “ar”, ou “fôlego”. “De repente veio do céu um
ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde
estavam sentados” (At 2.2). Deus soprou em Adão o fôlego da vida e ele se
tornou alma vivente. Cristo soprou sobre seus discípulos e disse-lhes: “E
havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito
Santo.” (Jo 20.22).
Água, rio, chuva: Em Jerusalém, no último dia da festa, Jesus se levantou e
exclamou: “Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em
pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê
em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva”
(Jo 7:37-38). Há, também, João 4:14: “mas aquele que beber da água que eu
lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele
uma fonte de água que jorre para a vida eterna.” Cristo é a rocha fendida
de Êxodo 17.6: “Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe;
ferirás a rocha, e dela sairá água para que o povo possa beber. Assim, pois
fez Moisés à vista dos anciãos de Israel.” Paulo, comentando este trecho,
diz: “e beberam todos da mesma bebida espiritual, porque bebiam da
pedra espiritual que os acompanhava; e a pedra era Cristo.” (1Co 10.4). O rio
procede do altar (“Depois disso me fez voltar à entrada do templo; e eis
que saíam umas águas por debaixo do limiar do templo, para o oriente;
pois a frente do templo dava para o oriente; e as águas desciam pelo lado
meridional do templo ao sul do altar. Então me levou para fora pelo
caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo caminho de fora
até a porta exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que corriam
umas águas pelo lado meridional” - Ez 47.1,2), mas a chuva vem do céu
(“Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não
tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê
semente ao semeador, e pão ao que come” - Is 55.10).
Óleo, azeite - Nas Escrituras, o óleo aparece como símbolo do Espírito
Santo (“e me perguntou: Que vês? Respondi: Olho, e vejo um castiçal todo
de ouro, e um vaso de azeite em cima, com sete lâmpadas, e há sete
canudos que se unem às lâmpadas que estão em cima dele; e junto a ele
há duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e outra à sua esquerda.
Então perguntei ao anjo que falava comigo: Meu senhor, que é isso?
Respondeu-me o anjo que falava comigo, e me disse: Não sabes tu o que
isso é? E eu disse: Não, meu senhor.
217 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

Ele me respondeu, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel,


dizendo: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor
dos exércitos.” - Zc 4.2-6). O óleo é considerado símbolo do Espírito Santo
porque era usado num ritualismo do Antigo Testamento, correspondendo à
operação do Espírito Santo na vida do crente na atual dispensação. Era
usado nas solenidades de unção e consagração de profetas, sacerdotes e
reis (“Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me
administrarem o sacerdócio.” - Ex 30.30; “Em seguida derramou do óleo da
unção sobre a cabeça de Arão, e ungiu-o, para santificá-lo.” - Lv 8.12; “Então
Samuel tomou um vaso de azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o
beijou, e disse: Porventura não te ungiu o Senhor para ser príncipe sobre a
sua herança?” - 1Sm 10.1 e “Então Samuel tomou o vaso de azeite, e o ungiu
no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se
apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá.” - 16.13; “Mas
ele tornou: Não posso voltar contigo, nem entrar em tua casa; nem
tampouco comerei pão, nem beberei água contigo neste lugar” - 1Rs 13.16).
Selo - Representa propriedade, autoridade, segurança (“no qual também
vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação,
e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da
promessa” - Ef 1.13; “Todavia o firme fundamento de Deus permanece,
tendo este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte- se da injustiça
todo aquele que profere o nome do Senhor.” - 2 Tm 2.19).
Pomba - “Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe
abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma
pomba e vindo sobre ele” (Mt 3.16).
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 218

Capítulo 6
Os dons do Espírito Santo

Os dons do Espírito Santo são os meios


pelos quais os membros do corpo de Cristo são
habilitados e equipados para a realização da obra
de Deus. Sem os dons, ao invés de a Igreja ser um
organismo vivo e poderoso, seria apenas mais
uma organização humana e religiosa.
Os nove dons espirituais são descritos
em 1Co 12.1-11: “Ora, a respeito dos dons
espirituais, não quero, irmãos, que sejais
ignorantes. Vós sabeis que, quando éreis
gentios, vos desviáveis para os ídolos mudos,
conforme éreis levados. Portanto vos quero
fazer compreender que ninguém, falando pelo
Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema! e
ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! senão
pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de
dons, mas o Espírito é o mesmo. E há
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o
mesmo. E há diversidade de operações, mas é
o mesmo Deus que opera tudo em todos. A
cada um, porém, é dada a manifestação do
Espírito para o proveito comum. Porque a um,
Mulher “dança no Espírito”, na África.
pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; a
outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo mesmo
Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro a
operação de milagres; a outro a profecia; a outro o dom de discernir espíritos;
a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um
só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente
a cada um como quer.”
Os dons são comumente classificados em três diferentes grupos:
Revelação: palavra da sabedoria, palavra do conhecimento, discernimento
de espíritos.
Poder: fé, cura, operação de milagres.
Elocução: profecia, variedades de línguas, interpretação de línguas.
219 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

Que entendemos por dons? Antes de tudo, é necessário definirmos a


palavra “dom”.
Usualmente, quando pensamos em dons, vem à mente algo tangível, que
nos é dado por possessão para ser usado quando e como queremos. Todavia, a
palavra grega “carismas”, traduzida por “dons” em 1 Coríntios, não tem esse
sentido. Esses dons não são coisas que podem ser guardadas e usadas por
qualquer pessoa.
A palavra grega “carisma” não é encontrada em nenhum dos Evangelhos e
nem em Atos, mas somente nas Epístolas. Esta palavra significa, literalmente,
“habilitação do favor e da graça de Deus”. É com esse sentido que a palavra é
usada, como em 1 Co 12.31, quando Paulo diz: “Entretanto, procurai, com zelo,
os melhores dons”. É bom notar que há outros dons, além dos nove
mencionados em 1Co 12:
“Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não
tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si
sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um. Pois
assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros
têm a mesma função, assim nós, embora muitos, somos um só corpo em
Cristo, e individualmente uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons
segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da
fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
ou que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com
liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.”
(Rm 12.3-8)
“Mas a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de
Cristo. Por isso foi dito: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons
aos homens. Ora, isto - ele subiu - que é, senão que também desceu às partes
mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu muito
acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele deu uns como
apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros
como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para
a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao
estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que
não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de
doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação
do erro; antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que
é a cabeça, Cristo, do qual o corpo inteiro bem ajusta- do, e ligado pelo auxílio
de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu
crescimento para edificação de si mesmo em amor.” (Ef 4.7-16).
220 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

1) Dons de revelação - Os dons de revelação estão ligados à tomada de


ciência de coisas aparentemente ocultas.
Palavra de sabedoria (“A um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria”
(v.8): diz respeito mais especificamente a um fragmento da sabedoria de
Deus dada por meios sobrenaturais. Todos os servos de Deus necessitam
da “palavra da sabedoria”, especialmente os que têm a responsabilidade
da liderança da Igreja de Jesus. O exercício deste dom é indispensável
para o êxito no governo da Igreja e na solução de problemas
eclesiásticos:
“Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso
te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, levanta-te e anda. Nisso,
tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e
artelhos se firmaram e, dando ele um salto, pôs- se em pé. Começou a andar
e entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus. Todo o
povo, ao vê-lo andar e louvar a Deus, reconhecia-o como o mesmo que
estivera sentado a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e todos ficaram
cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera.” - At 3.6-10
“Quando, pois, vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às
autoridades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder,
nem do que haveis de dizer. Porque o Espírito Santo vos ensinará na mesma
hora o que deveis dizer.” - Lc 12:11-12
Palavra do conhecimento: “... e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da
ciência” (v.8): a definição de “palavra do conhecimento” ou “palavra da
ciência” envolve uma implicação natural de fatos que, no momento,
nenhum indivíduo poderia compreender por meios naturais. É a revelação
de uma série de ações que se baseiam e têm origem na Onisciência de
Deus que, no homem, manifesta-se apenas como fragmentos. Um
exemplo do Antigo Testamento é Eliseu e, no Novo, Jesus:
1. Jesus: “Vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo:
Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador. Pois, à vista
da pesca que haviam feito, o espanto se apoderara dele e de todos os que
com ele estavam, bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que
eram sócios de Simão. Disse Jesus a Simão: Não temas; de agora em
diante serás pescador de homens” (Lc 5.8-10).
2. Eliseu: “Respondeu um dos seus servos: Não é assim, ó rei meu senhor,
mas o profeta Eliseu que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as
palavras que falas na tua câmara de dormir.” (2Rs 6:12)
􏰀 Discernimento do Espírito (“... e a outro o dom de discernir os espíritos”
- v.10): o dom de discernimento de espíritos é uma habilidade divina
sobrenatural que permite a identificação da natureza e do caráter dos
espíritos. Assim como a sabedoria, existem espíritos humanos,
221 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

demoníacos e o Espírito de Deus, que precisam ser discernidos. O dom de


discernimento de espíritos fica evidente nos seguintes casos:
a) Na repreensão de Paulo ao espírito de adivinhação que atuava numa jovem
na cidade de Filipos (“Ora, aconteceu que quando íamos ao lugar de oração,
nos veio ao encontro uma jovem que tinha um espírito adivinhador, e que,
adivinhando, dava grande lucro a seus senhores. Ela, seguindo a Paulo e a nós,
clamava, dizendo: São servos do Deus Altíssimo estes homens que vos
anunciam um caminho de salvação. E fazia isto por muitos dias. Mas Paulo,
perturbado, voltou- se e disse ao espírito: Eu te ordeno em nome de Jesus
Cristo que saias dela. E na mesma hora saiu.” (At 16.16-18)
b) No desmascaramento de Ananias por intermédio de Pedro (“Mas um certo
homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade, e
reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e levando a outra
parte, a depositou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por
que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e
retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías, não era teu? e
vendido, não estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este
desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ananias,
ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E grande temor veio sobre todos os
que souberam disto.” - At 5.1-5)
c) Na repreensão de Pedro a Simão, o mágico (“Quando Simão viu que pela
imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-lhes
dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre
quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo. Mas disse-lhe Pedro: Vá
tua prata contigo à perdição, pois pensaste adquirir com dinheiro o dom de
Deus. Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração
não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao
Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração”
- At 8.18-22)
Muitos falham na concepção real de discernimento dos espíritos
pensando, erradamente, que este dom se relaciona com o julgamento das
questões e relações humanas. Para facilitar sua definição, veja o que não é
discernimento de espírito:
a) não é habilidade para descobrir as falhas ou pecados alheios
b) não é “capacidade” de “ler” pensamentos de outras pessoas
c) nada tem a ver com os “fenômenos” da mediunidade de espíritas d)
nada tem a ver com as prospecções e investigações da psicologia.
Ao contrário, deve ser acentuado que a operação deste dom, como de todos
os outros, está no domínio sobrenatural do Espírito Santo de Deus, uma vez
que é originário de sua Onisciência – por isso mesmo cheio de justiça,
222 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

perfeição e misericórdia. A igreja que é assediada pelo poder das trevas


necessita da manifestação deste dom para vencer as bata- lhas que
sutilmente Satanás empreende com seus ardis. É claro que em qualquer
situação somente um dos espíritos pode agir – o Espírito Santo, o espírito
humano ou o espírito de Satanás. O dom de discernimento habilita a conhecer
o espírito que opera em cada ocasião. As Escrituras advertem que, antes do
arrebatamento, muitos poderão ficar impressionados com operações
satânicas sobrenaturais que enganarão até mesmo os escolhidos.

2) Dons de poder: estão ligados a realizações sobrenaturais explícitas aos


olhos naturais, compõem-se dos seguintes dons:
Dom da fé: há muito que estudar acerca da fé, em seu caráter humano e
sobrenatural, sua diversidade de operação, seu modo de manifestar-se,
sua intensidade nas vidas e ministério de diferentes pessoas. Atente para
este importante assunto, considerando que há três tipos de fé: natural,
comum (a que opera para salvação) e o dom, objeto deste estudo.
a) Fé natural: o homem é a obra-prima de Deus, tendo sido criado com
responsabilidades naturais de relacionar-se com Deus. Mesmo ao homem
perdido, o Senhor tem dado sabedoria natural. Com esse tipo de fé, o homem
pode crer acertada ou erroneamente nas coisas espirituais – pode crer,
mesmo sem obedecer ou seguir a Deus. Fé natural é a capacidade que todo o
homem tem de crer em um ser supremo (“Porquanto, o que de Deus se pode
conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus
atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos
desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de
modo que eles são inescusáveis” - Rm 1.19-20)
b) Fé comum: é a que opera para a salvação (“a Tito, meu verdadeiro filho
segundo a fé que nos é comum, graça e paz da parte de Deus Pai, e de Cristo
Jesus, nosso Salvador” – Tt 1:4 e “Amados, enquanto eu empregava toda a
diligência para escrever-vos acerca da salvação que nos é comum, senti a
necessidade de vos escrever, exortando- vos a pelejar pela fé que de uma vez
para sempre foi entregue aos santos.” - Jd v.3). A fé comum vem pela pregação
da Palavra de Deus e traz à pessoa a graça salvadora (Logo a fé é pelo ouvir, e o
ouvir pela palavra de Cristo.” - Rm 10.17). Mediante a oração no Espírito Santo,
toma o caráter de fé santíssima e torna-se a firmeza do crente (“Mas vós,
amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo”
- Jd v.20). Além disso, é evidenciada praticamente pela submissão a Deus e
pela prática das boas obras: “Disseram então os apóstolos ao Senhor:
Aumenta-nos a fé. Respondeu o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de
mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te, e planta-te no mar; e ela vos
223 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

obedeceria. Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe


dirá, ao voltar ele do campo: chega-te já, e reclina-te à mesa? Não lhe dirá
antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que eu tenha comido e
bebido, e depois comerás tu e beberás? Porventura agradecerá ao servo,
porque este fez o que lhe foi mandado? Assim também vós, quando fizerdes
tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos somente o
que devíamos fazer.” - Lc 17.5-10
“Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver
obras? Por- ventura essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem
nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide
em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para
o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é
morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me
a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês tu
que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem.
Mas queres saber, ó homem vão, que a fé sem as obras é estéril? Porventura
não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre
o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas
obras a fé foi aperfeiçoada; e se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão a
Deus, e isso lhe foi imputa- do como justiça, e foi chamado amigo de Deus.
Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela
fé. E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras,
quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho? Porque, assim
como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é
morta.” - Tg 2.14-26.
c) Fé como dom do Espírito: em certo sentido, toda fé é dom de Deus,
mas há a fé sobrenatural. O dom da fé habilita o crente a aceitar como
realidade todas as promessas de Deus e agir na certeza plena de que Ele vai
cumprir a Sua palavra. Desse tipo de fé poderosa e dinâmica necessitamos
tremendamente em nossos dias: fé que domina todo poder do inimigo e
liberta todos os prisioneiros do diabo, que vence o poder das doenças e
enfermidades, que nos assegura a triunfar contra todo poder do mal, fé que
nos dá a certeza de que Deus tudo nos suprirá na hora da necessidade, que
abre as portas das prisões, que acalma o mar tempestuoso. Esta fé dá ao
cristão a certeza de uma vitória contínua em toda a sua vida e é o trabalho
sobrenatural do Espírito. É a fé de que se fala no capítulo 11 de Hebreus:
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que não se vêem. Porque por ela os antigos alcançaram bom
testemunho. Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra
de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê. Pela fé Abel
224 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

ofereceu a Deus mais excelente sacrifício que Caim, pelo qual alcançou
testemunho de que era justo, dando Deus testemunho das suas oferendas, e
por meio dela depois de morto, ainda fala. Pela fé Enoque foi trasladado para
não ver a morte; e não foi achado, porque Deus o trasladara; pois antes da sua
trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem fé é
impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de
Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam. Pela fé Noé,
divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, sendo temente a Deus,
preparou uma arca para o salva- mento da sua família; e por esta fé condenou
o mundo, e tornou-se herdeiro da justiça que é segundo a fé. Pela fé Abraão,
sendo chamado, obedeceu, saindo para um lugar que havia de receber por
herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé peregrinou na terra da
promessa, como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó,
herdeiros com ele da mesma promessa; porque esperava a cidade que tem os
fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é Deus. Pela fé, até a própria
Sara recebeu a virtude de conceber um filho, mesmo fora da idade, porquanto
teve por fiel aquele que lho havia prometido. Pelo que também de um, e esse
já amortecido, descenderam tan- tos, em multidão, como as estrelas do céu, e
como a areia inumerável que está na praia do mar. Todos estes morreram na
fé, sem terem alcançado as promessas; mas tendo-as visto e saudado, de
longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Ora, os que
tais coisas dizem, mostram que estão buscando uma pátria. E se, na verdade,
se lembrassem daquela donde haviam saído, teriam oportunidade de voltar.
Mas agora desejam uma pátria melhor, isto é, a celestial. Pelo que também
Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus, porque já lhes
preparou uma cidade. Pela fé Abraão, sendo provado, ofereceu Isaque; sim, ia
oferecendo o seu unigênito aquele que recebera as promessas, e a quem se
havia dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, julgando que Deus era
poderoso para até dos mortos o ressuscitar; e daí também em figura o
recobrou. Pela fé Isaque abençoou Jacó e a Esaú, no tocante às coisas futuras.
Pela fé Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José,
e adorou, inclinado sobre a extremidade do seu bordão. Pela fé José, estando
próximo o seu fim, fez menção da saída dos filhos de Israel, e deu ordem
acerca de seus ossos. Pela fé Moisés, logo ao nascer, foi escondido por seus
pais durante três meses, porque viram que o menino era formoso; e não
temeram o decreto do rei. Pela fé Moisés, sendo já homem, recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo
de Deus do que ter por algum tempo o gozo do pecado, tendo por maiores
riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em
vista a recompensa. Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei, porque
225 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

ficou firme, como quem vê aquele que é invisível. Pela fé celebrou a páscoa e a
aspersão do sangue, para que o destruidor dos primogênitos não lhes tocasse.
Pela fé os israelitas atravessaram o Mar Vermelho, como por terra seca; e
tentando isso os egípcios, foram afogados. Pela fé caíram os muros de Jericó,
depois de rodeados por sete dias. Pela fé Raabe, a meretriz, não pereceu com
os desobedientes, tendo acolhido em paz os espias. E que mais direi? Pois me
faltará o tempo, se eu contar de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de
Davi, de Samuel e dos profetas; os quais por meio da fé venceram reinos,
praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca dos leões,
apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram
forças, tornaram-se poderosos na guerra, puseram em fuga exércitos
estrangeiros. As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns
foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma
melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e ainda
cadeias e prisões. Foram apedrejados e tentados; foram serrados ao meio;
morreram ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras,
necessitados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra. E todos
estes, embora tendo recebido bom testemunho pela fé, contudo não
alcançaram a promessa; visto que Deus provera alguma coisa melhor a nosso
respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.”
Dons de curar: é um poder muito desejado em virtude de ser um sinal
eloqüente e ostensivo na confirmação da mensagem do Evangelho, como
também em razão da verdadeira simpatia cristã para com sofredores e do
desejo de proporcionar-lhes alívio. Os dons de curar fazem parte de uma
categoria especial. Além disso, há curas que se realizam imediata- mente,
como no caso do cego de Jericó, e há curas que se realizam gradualmente,
como o cego da passagem de Marcos 8.24 (que, no primeiro momento, via
os homens como se fossem árvores), ou como nos casos dos leprosos: “...
E aconteceu que indo eles, ficaram limpos” (Lc 17.14).
Cego de Jericó: “Depois chegaram a Jericó. E, ao sair ele de Jericó com seus
discípulos e uma grande multidão, estava sentado junto do caminho um
mendigo cego, Bartimeu filho de Timeu. Este, quando ouviu que era Jesus, o
nazareno, começou a clamar, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de
mim! E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava ainda
mais: Filho de Davi, tem compaixão de mim. Parou, pois, Jesus e disse: Chamai-
o. E chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama.
Nisto, lançando de si a sua capa, de um salto se levantou e foi ter com Jesus.
Perguntou-lhe o cego:
226 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

Que queres que te faça? Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu veja. Disse-lhe
Jesus: Vai, a tua fé te salvou. E imediatamente recuperou a vista, e foi
seguindo pelo caminho.” (Mc 10:46-52)
Cego de Betsaída: “Então chegaram a Betsaída. E trouxeram-lhe um
cego, e rogaram-lhe que o tocasse. Jesus, pois, tomou o cego pela mão, e o
levou para fora da aldeia; e cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos,
perguntou-lhe: Vês alguma coisa? E, levantando ele os olhos, disse: Estou
vendo os homens; porque como árvores os vejo andando. Então tornou a por-
lhe as mãos sobre os olhos; e ele, olhando atenta- mente, ficou restabelecido,
pois já via nitidamente todas as coisas” (Mc 8:22-25)
Leprosos: “E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passava pela divisa
entre a Samaria e a Galiléia. Ao entrar em certa aldeia, saíram-lhe ao encontro
dez leprosos, os quais pararam de longe, e levantaram a voz, dizendo: Jesus,
Mestre, tem compaixão de nós! Ele, logo que os viu, disse-lhes: Ide, e mostrai-
vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos. Um deles,
vendo que fora curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; e prostrou-se
com o rosto em terra aos pés de Jesus, dando-lhe graças; e este era
samaritano. Perguntou, pois, Jesus: Não foram limpos os dez? E os nove, onde
estão? Não se achou quem voltasse para dar glória a Deus, senão este
estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.” (Lc 17:11-29)

Dons de operações de milagres: É outro dom de poder, tão estupendo que


se torna inconcebível à mente finita do homem. Entretanto, ele faz parte
do ministério sobrenatural do Espírito Santo. Mas, o que é milagre?
“Milagre é um evento ou um efeito no mundo físico distinto das leis da
natureza ou que sobrepuja o conhecimento dessas leis”. A Bíblia é o livro
dos milagres. Há diversos milagres no Antigo Testamento (como a
passagem do Mar Vermelho, a paralisação do sol, o azeite da botija, o
maná do deserto, passagem do Jordão etc.) e no Novo (a multiplicação dos
pães e dos peixes, a ressurreição de Lázaro, da filha de Jairo, do filho da
viúva de Naim, o tremor de terra na prisão onde estavam Paulo e Silas etc.)
Há necessidade de milagres na igreja. O aumento das atividades de
Satanás nestes dias requer da Igreja o crescimento da fé e mais poder para
que possa ser vitoriosa contra as forças do inferno. Permita Deus nunca
tenhamos de confessar como seus servos no passado: “Não vemos mais as
nossas insígnias, não há mais profeta; nem há entre nós alguém que saiba até
quando isto durará” (Sl 74.9).
3) Dons de elocução - Três dos dons mencionados em 1 Co 12 têm relação
com a palavra falada. Destes, a profecia ocupa o primeiro lugar.
227 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

Dom de profecia: uma pregação inspirada pode ter um elemento profético;


contudo, a profecia é inteiramente diferente da pregação ordinária.
“Profecia é a voz através da qual falam a sabedoria e a fé. É a voz do
Espírito Santo”. O dom de profecia não é infalível: atente bem para este
assunto, pois muitos não o admitem facilmente. Este dom envolve uma
fusão do humano com o divino, o finito e o infinito, o imperfeito e o
perfeito. Há, em algumas pessoas, uma concepção falha de que, na
manifestação do dom de profecia, é somente Deus quem fala. Em alguns
casos isso pode ser verdade, mas cabe aqui uma explicação: se o dom de
profecia é inteiramente uma operação de Deus, sem participação alguma
do homem, não seria necessário qualquer instrução quanto ao exercício do
mesmo, posto que Deus não necessita de instrução.
A inspiração divina não exclui a participação do espírito humano. O Espírito
de Deus não amordaça o espírito do homem para usar o seu corpo – isto é
próprio dos demônios. Quando o Espírito de Deus usa um vaso, o faz com
pleno consentimento deste, que fica livre para até mesmo impedir a Deus, se
quiser. O Espírito de Deus é infalível, mas o do homem não. Como prova disto
Paulo afirma: “E falem dois ou três profetas e os outros julguem” (1Co 14.29).
Por causa da falibilidade do espírito humano, as profecias são ministradas para
confirmar a vontade de Deus; portanto o Senhor não usará o homem para
estabelecer doutrinas ou práticas de vida que já não estejam contempladas na
Bíblia.
Dom de línguas: quanto á forma, falar em línguas como um dom, em sua
essência, é algo idêntico ao falar em outras línguas, na experiência inicial
do batismo no Espírito Santo. No entanto, são diferentes quanto ao seu
propósito e operação. É o poder de expressão vocal em línguas
desconhecidas ao que fala, concedido a certos indivíduos na igreja, pelo
Espírito de Deus, capaz de ser interpretado por meio de outro dom,
igualmente sobrenatural, de modo que tais expressões se tornam
inteligíveis a toda congregação.
Dom de interpretação de línguas: a interpretação das línguas estranhas é
feita sobrenaturalmente, e não como quem traduz palavras. O trabalho é
realizado por intermédio do espírito humano, mas é originado e operado
através do ministério do Espírito Santo. A interpretação é dada não
mediante a atenção prestada às palavras do que fala em línguas e, sim, por
meio da comunhão em espírito com o Espírito do Senhor, que dá a
interpretação mediante tal dom.
A interpretação é elocução inspirada. Na interpretação, as palavras são
dadas por revelação e seguem as regras da profecia de toda elocução:
inspirada, vinda tanto por visão como por outro meio escolhido por Deus e de
228 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

acordo com Sua infinita sabedoria. Quando o “dom” de interpretação opera em


consonância com o dom de língua, os dois juntos são equivalentes ao dom de
profecia.
Não há necessidade de intérprete oficial na Igreja. O dom de interpretação,
assim como os demais dons, poderá sobrevir sobre quem o Espírito quiser, no
momento em que achar necessário. Não é necessidade de uma pessoa pré-
estabelecida ou escolhida para tal função. Até porque existem línguas
estranhas ao que fala, por ser estrangeira, através da qual o Espírito de Deus
queira falar com alguém presente que conheça aquela língua. Uma mensagem
especificamente dirigida sem que haja necessidade de ser conhecida pela
Igreja.
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 229

Capítulo 7
Fruto do Espírito
“Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão, temperança, contra essas coisas não
há lei” (Gl 5.22-23). Não se pode fazer um estudo
apropriado acerca do Espírito Santo sem dar
atenção especial ao Fruto do Espírito. No
passado, antes do grande avivamento
pentecostal iniciado no século passado, dava- se muita ênfase ao Fruto do
Espírito, enquanto que os dons eram ignorados. Para combater esse
desequilíbrio, os pentecostais começaram a enfatizar os dons e quase ignorar
o Fruto do Espírito. Este desequilíbrio estava também em desacordo com as
Escrituras. Os dons do pentecostal iniciado no
século passado, dava-se muita ênfase ao Fruto
do Espírito, enquanto que os dons eram
ignorados. Para combater esse desequilíbrio,
os pentecostais começaram a enfatizar os
dons e quase ignorar o Fruto do Espírito. Este
desequilíbrio estava também em desacordo
com as Escrituras. Os dons do Espírito não
poderão ser exercidos legitimamente através
da vida de um crente em quem não se
manifesta o Fruto do Espírito evidenciando
através das virtudes, que são em número de
nove, e que estabelecem três tipos de relações
básicas do cristão, reunindo as noves virtudes
em três grupos:
Como água, o Espírito invade o ser 1) Caridade, gozo e paz: Estabelecem
relações do cristão com Deus.
Caridade: Palavra derivada do grego “ágape”. O amor é a maior das
virtudes do Fruto do Espírito. Este amor não é o amor natural: é um amor
que tem sua origem em Deus, e é dada ao crente que verdadeiramente
procura seguir as pisadas de Cristo e se empenha a adquirir a Sua
semelhança. O apóstolo João diz que: “Aquele que não ama não conhece a
Deus; porque Deus é amor.” (1 Jo 4.8). Em Mateus 5.44 , Jesus ordena: “Amai
os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.
230 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

O apóstolo João ainda afirma: “Amados, amemo-nos uns aos outros,


porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus
e conhece a Deus” (1 Jo 4.7). Só o amor divino manifestado pelo Espírito na
vida do crente jamais se consome, por que sua fonte não é o homem, mas
Deus. Este amor é como um óleo que “lubrifica” o mecanismo dos dons do
Espírito Santo, fazendo com que esses dons mais eficazes. Leia
atentamente o hino ao amor contido em 1 Co 13:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse
amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda
que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a
ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os
meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo
para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor
é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não
se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus
próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a
injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta. O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão
aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier
o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era
menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei
com as coisas de menino. Porque agora vemos como por espelho, em
enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas
então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior
destes é o amor.”
Gozo: A palavra “gozo” vem diretamente do grego “chara”, e significa:
“alegria, contentamento, tranqüilidade”. Em João 15:11, Jesus diz: “Tendo
vos dito estas coisas para que meu gozo esteja em vós e vosso gozo
seja completo”. Esta alegria constante é a que faz o coração elevar-se
em exultação a Deus, mesmo em meio às tristezas e mágoas. Este dom
é a alegria de Jesus operante na vida do crente. Por isso o apóstolo
Paulo exortou: “Regozijai- vos sempre” (1 Ts 5.16).
Paz: A paz é algo que todo mundo procura, mas que o mundo não a
possui e nem a conhece. Somente aquele que aceita a Jesus como
Salvador e Senhor de sua vida encontra paz eterna, pois Ele é o Príncipe
da Paz (“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o
231 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso


Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” - Is 9.6) que nos diz:
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não
se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14.27)
2) Longanimidade, benignidade e bondade: Estabelece relações do Cristão
com o próximo
Longanimidade: Palavra derivada do grego “makrothumia”. O prefixo
“makros” significa “grande ou longo” e “thumia” fala de “ânimo,
disposição”. Algumas versões bíblicas traduzem por “paciência”, que se
refere à capacidade de suportar insultos, por exemplo. Significa ter a
paciência que suporta a falta de cortesia e de amabilidade por parte dos
outros. É a virtude que faz o crente oferecer a outra face para ser
esbofeteada.
Benignidade: Deriva do grego “chrestotes” e diz respeito à pessoa que,
além de suportar o insulto pacificamente, ainda deseja em seu coração
que o agressor seja abençoa- do. A Bíblia nos exorta que sejamos benignos
(“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que seja boa
para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem.”
- Ef 4.29).
Bondade: Palavra originada do grego “agathosne”, que se refere a um
homem bom. Esta virtude do Fruto do Espírito significa a prática do bem,
isto é, além de suportar o insulto, desejar o bem ao agressor precisa fazer
o bem a ele. Esta é a tarefa desta virtude.
3) Fé, mansidão e temperança: Estabelece relações do cristão consigo
mesmo.
Fé: Derivada do grego “pistis”, que tem sentido de fidelidade, lealdade.
Virtude necessária para se obter a vitória final: “Se fiel até a morte, e dar-
te-ei a coroa da vida” (Ap 2.9).
Mansidão: Derivado da palavra grega “pautes”, significa humildade,
modéstia, primeiramente diante de Deus e depois diante dos homens. O
apóstolo Paulo diz: “Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos,
mais modestos, mostrando toda mansidão para com todos os homens” (Tt
3:2).
Temperança: Vocábulo derivado de grego “egkrateia”, que significa
autocontrole, domínio próprio. Jesus foi um exemplo perfeito de domínio
próprio: apesar de ficar irado e expulsar os cambistas para fora do templo
em Jerusalém, Ele não perdeu o equilíbrio. O apóstolo Paulo exorta: “Irai-
vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre vossa ira” (Ef 4.6). E o sábio rei
Salomão adverte: “Melhor é o longânimo do que o herói da guerra e o que
domina o seu espírito do que toma uma cidade.” (Pv 16:32).
Instituto Teológico Carisma O Espírito Santo em nossa vida 232

Capítulo 8
O batismo com o Espírito Santo
“Eu, na verdade, vos batizo em água, na base
do arrependimento; mas aquele que vem após mim
é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de
levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito
Santo, e em fogo.” (Mt 3.11). O Dia de Pentecostes
continua sendo o modelo para a igreja, data de sua
fundação. Como resultado da experiência do
Pentecostes, Pedro pregou com tal poder que 3 mil
almas se converteram. Com autoridade
sobrenatural, acusou o seus ouvintes judeus de haverem entregue à morte o
Filho de Deus e exortou-os a se arrependerem de seus pecados. Isto disse
como prelúdio, para logo informa-
lhes que a conversão a Cristo
resultaria em receber a mesma
experiência que observavam, com
sinais poderosamente evidentes. O
batismo com Espírito Santo foi uma
experiência que aconteceu com cada
uma das pessoas e não com um
grupo. Eles estavam reunidos em
grupo, mas o fenômeno aconteceu a
cada um. Crianças são batizadas em culto pentecostal na
ilha de Samoa.
“Então Pedro, pondo-se em pé
com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que
habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.
Pois estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto que é
apenas a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E
acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito
sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os
vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão sonhos; e sobre os
meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles
dias, e eles profetizarão. E mostrarei prodígios em cima no céu; e sinais
embaixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em
trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor.
e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado
233 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no
meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este, que foi entregue pelo
determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o
pelas mãos de iníquos; ao qual Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da
morte, pois não era possível que fosse retido por ela. Porque dele fala Davi:
Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu
não seja abalado; por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou;
e além disso a minha carne há de repousar em esperança; pois não deixarás a
minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção;
fizeste-me conhecer os caminhos da vida; encher-me-ás de alegria na tua
presença. Irmãos, seja-me permitido dizer-vos livremente acerca do patriarca
Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura.
Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com
juramento que faria sentar sobre o seu trono um dos seus descendentes -
prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi
deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção. Ora, a este Jesus, Deus
ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado
pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo,
derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus,
mas ele próprio declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha
direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Saiba,
pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Jesus, a quem vós
crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. E, ouvindo eles isto, compungiram-se
em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos,
irmãos? Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e
recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a
vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus
chamar. E com muitas outras palavras dava testemunho, e os exortava,
dizendo: salvai-vos desta geração perversa. De sorte que foram batizados os
que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil
almas; e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do
pão e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram
feitos pelos apóstolos. Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em
comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos,
segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias
no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de
coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia
acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” (At 2:14-47)
234 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

1) Profecias acerca do batismo com o Espírito Santo


O evento do batismo com o Espírito Santo não surpreendeu nem trouxe
confusão aos que conheciam as promessas do Antigo Testamento e aos que
tinham dado ouvidos às pregações de João Batista.
a) Profecias de Joel: “Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito
sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos
anciãos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões” (Jl 2.28). Joel, um dos
profetas menores, tem sido chamado “profeta do Pentecostes” por causa de
suas profecias correspondentes ao derramamento do Espírito Santo. Foi à
profecia de Joel que Pedro se referiu no Dia de Pentecoste para explicar à
multidão o fenômeno que ocorria.
b) Profecia de Isaías: “Porque derramarei água sobre o sedento, e rios
sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a
minha benção sobre os teus descendentes.” (Is 44.3). Houve outras profecias
sobre a vinda do Espírito Santo, e Isaías anunciou este derramamento
apontando para o Dia de Pentecoste e para o milênio.
c) Profecia de João Batista: “Eu, em verdade, tenho-vos batizado com
água; ele, porém, vos batizará com Espírito Santo” (Mc 1.8). É familiar a muitos
estudantes da Bíblia que a palavra grega usada por João é “baptizein”, que
significa “imergir”, “mergulhar”. Isso significa que os crentes foram imersos,
envolvidos no Espírito.
d) Promessa de Jesus: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador,
para que fique convosco para sempre. A saber, o Espírito da verdade, o qual o
mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o
conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.” (Jo 14:16-17). Jesus
não somente predisse, mas prometeu que enviaria o Espírito Santo de modo
especial. Em Atos dos Apóstolos 1.5 Jesus disse: “Porque, na verdade, João
batizou com água, mas vós sereis batizados com Espírito Santo, não muito
depois desses dias”.
2) O que é o batismo e seu propósito
O batismo com Espírito Santo é um ato da promessa de Deus realizada
por Jesus Cristo, pelo qual o Espírito vem sobre o crente e enche-o
plenamente. É a vinda do Espírito Santo para encher e apoderar-se dos filhos
de Deus, como propriedade exclusivamente Sua. O Espírito outorga os seus
variados ministérios de acordo com Sua vontade soberana, dando ao crente
poder para testemunhar de Cristo e por Cristo, na proclamação do seu
Evangelho. (“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-
me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e
até os confins da terra.” - At 1.8; “E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e
começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que
235 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

falassem.” – At 2.4; “E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a


Cristo. As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-
o e vendo os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos
imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados;
pelo que houve grande alegria naquela cidade.” - At 8.5-8).
a) A santificação e o batismo: Alguns designam como batismo a experiência
que chama- mos de santificação. Em sentido amplo, o batismo no Espírito
Santo exerce grande poder santificador na vida do crente.
b) Autoridade para testemunhar: O propósito desse batismo é melhor
expresso nas seguintes palavra de Jesus: “Mas recebereis poder, ao descer
sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém,
como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.” (At 1:8). E também
na prática de vida dos apóstolos: “Os apóstolos davam, com grande poder
testemunhos da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia
abundante graça” (At 4.33).
3) Evidências do batismo com Espírito Santo
É nossa convicção que o recebimento do Espírito Santo através do
batismo realizado por Jesus é provado pelo fato de o crente batizado falar em
língua desconhecida, pelo poder sobrenatural de Deus. Outros cristãos
evangélicos crêem no batismo, porém sem que haja necessidade de falar em
línguas estranhas. Entretanto, a glossolalia é uma evidência:
a) No Dia de Pentecostes: todos falaram línguas estranhas (“E todos
ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas,
conforme o Espírito lhes concedia que falassem.” - At 2.4)
b) Na casa de Cornélio: Os gentios falaram línguas (“Enquanto Pedro
ainda dizia estas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a
palavra. Os crentes que eram de circuncisão, todos quantos tinham vindo com
Pedro, maravilharam-se de que também sobre os gentios se derramasse o
dom do Espírito Santo; porque os ouviam falar línguas e magnificar a Deus.” -
At 10.44-46).
c) Em Éfeso, falaram em línguas (“E sucedeu que, enquanto Apolo estava
em Corinto, Paulo tendo atravessado as regiões mais altas, chegou a Éfeso e,
achando ali alguns discípulos, perguntou-lhes: Recebestes vós o Espírito Santo
quando crestes? Responderam-lhe eles: Não, nem sequer ouvimos que haja
Espírito Santo. Tornou-lhes ele: Em que fostes batizados então? E eles
disseram: No batismo de João. Mas Paulo respondeu: João administrou o
batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que após ele
havia de vir, isto é, em Jesus. Quando ouviram isso, foram batiza- dos em
nome do Senhor Jesus. Havendo-lhes Paulo imposto as mãos, veio sobre eles
o Espírito Santo, e falavam em línguas e profetizavam.” - At 19.1-6)
236 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

d) Não há referência direta de falar em línguas em Samaria, porém, se não


houvesse um sinal exterior, o que teria levado Simão a “cobiçar” o dom?
Cremos, portanto, que houve evidências das línguas estranhas (“Então lhes
impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo. Quando Simão viu que
pela imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-
lhes dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele
sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo. Mas disse-lhe Pedro:
Vá tua prata contigo à perdição, pois pensaste adquirir com dinheiro o dom de
Deus. Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não
é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao
Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração;
pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniqüidade.
Respondendo, porém, Simão, disse: Rogai vós por mim ao Senhor, para que
nada do que haveis dito venha sobre mim.” - At 8.17-24).
4) Ofensas contra o Espírito Santo
Considerando o que o Espírito Santo é e o que faz em nós, é quase
incrível que alguém se atreva a pecar contra ele. Mas, infelizmente, isso
acontece.
a) Resistência ao Espírito Santo: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos
de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os
vossos pais, assim também vós. A qual dos profetas não perseguiram vossos
pais? Até mataram os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós
agora vos tornastes traidores e homicidas, vós, que recebestes a lei por
ordenação dos anjos, e não a guardastes. Ouvindo eles isto, enfureciam-se em
seus corações, e rangiam os dentes contra Estêvão. Mas ele, cheio do Espírito
Santo, fitando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus em pé à direita de
Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem em pé à direita
de Deus. Então eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos, e
arremeteram unânimes contra ele.” (At 7.51,57). Antes de seu martírio, Estêvão
falava a uma multidão de judeus enfurecidos, acusando-os de resistirem ao
Espírito Santo. Alguns aspectos da resistência podem ser apontados, e
manifestam-se de três maneiras:
Obstinação: é este sentido de “cerviz dura” (pescoço que não se curva).
Indisposição para ouvir; incircuncisos de ouvidos: desatenção por
desprezo ao Espírito Santo.
Indisposição para atender incircuncisos de coração: ouvem e entendem,
mas não obedecem.
Procrastinação: afastar-se do Espírito Santo ao perceber que está sendo
convencido do pecado.
237 O Espírito Santo em nossa vida Instituto Teológico Carisma

b) Entristecimento do Espírito Santo: “E não entristeçais o Espírito Santo


de Deus, no qual está selado para o dia da redenção”. (Ef 4.30). Entristecer tem
sentido de atormentar, agravar, afligir, causar dor. Estes casos acontecem, por
exemplo, por motivo de rebelião: desejo de vingança, pronunciar palavras
torpes etc. ou por amor às coisas mundanas (abandonar a prática dos bons
costumes).
c) O pecado de blasfêmia: Blasfemar é proferir palavras abusivas contra a
divindade do Espírito Santo, de modo consciente e malicioso como, por
exemplo, atribuir a espíritos malignos a obra realizada pelo Espírito de Deus
ou, como se entende atualmente, atribuir ao Espírito Santo obras realizadas
pelo maligno (algo que tem acontecido nas igrejas, quando pessoas se dizem
tomadas pelo Espírito mas, na verdade, estão sob influência da carne ou de
demônios). Os fariseus da passagem de Mateus 12 se encaixam no primeiro
caso, tanto que levaram Jesus Cristo a se pronunciar: “Mas os fariseus,
ouvindo isto, disseram: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu,
príncipe dos demônios. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos,
disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo é devasta- do; e toda cidade,
ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá. Ora, se Satanás expulsa a
Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino? E,
se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos
filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. Mas, se é pelo Espírito de
Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus. Ou,
como pode alguém entrar na casa do valente, e roubar-lhe os bens, se
primeiro não amarrar o valente? e então lhe saquear a casa. Quem não é
comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Portanto vos digo:
Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o
Espírito não será perdoada.” (Mt 12:24-31).
Homilética
Dinâmica:
A arte de
pregar

“Porquanto não há diferença entre judeu e grego;


porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com
todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar
o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão
aquele em quem não creram? e como crerão naquele de
quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem
pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como
está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o
evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas
coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho;
pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De
sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de
Deus.Mas digo: Porventura não ouviram? Sim, por certo,
pois Por toda a terra saiu a voz deles,E as suas palavras
até aos confins do mundo.” (Romanos 10:12-18)
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 239

Introdução
Sem explanações sofisticadas, com bases em filosofias, mas buscando
apenas um entendimento etmológico da palavra “homilética”, chegamos à
seguinte conclusão: o verbo “homilein”, usado pelos gregos sofistas para
expressar o sentido de “relacionar-se, conversar”, foi adotado nos tempos do
Novo Testamento por uma expressão: “he homilia”, que passou a ser usado
para expressar “a arte de pregar um sermão”.
Esta matéria teológica do ITC não se fixa apenas em princípios teóricos,
mas concentra-se grandemente em um treinamento prático - daí a expressão
adotada: Homilética Dinâmica. Sem sombra de dúvidas, a homilética é uma
ciência. E, como tal, profunda e inesgotável para o ávido estudante. É
fundamentada na Verdade, na veracidade de fatos, mas que também deixa
margens para uma mente expansiva e brilhante, viva e sábia, criativa e eficaz,
construir, mediantes metáforas, parábolas, fábulas ou lendas, entre outros
subsídios, argumentos que atinjam o objetivo desta ciência, desta arte, que
convencer o ouvinte.
Quando desenvolvemos, juntamente com a diretoria do Instituto Teológico
Carisma as matérias deste Curso Fundamental de Teologia, expliquei: Como
evangelista nato, gostaria que os estudantes tivessem uma visão mais ampla
da teologia bíblica: viva, dinâmica, cheia de conhecimentos, claro (afinal,
estuda-se para adquirir conhecimentos), mas que fosse também cheia de
graça e unção. Também concordamos que parte dos estudos fosse revelada
em Cristo, mas embasada na Palavra, trazendo de maneira viva o desejo do
Verdadeiro Saber sobre Deus e suas verdades. Pois bem, o diretor do ITC,
Cláudio Oliveira, como sempre, deu aquele sorrisinho de concordância e disse:
“Faça, crie. Fale de quem viveu e vive esta Palavra, para aqueles que aspiram
um dia viver e para aqueles que já a vivem, mas sentem-se presos a ‘letras
mortas’”.
Assim, criamos a Introdução à Doutrina Pentecostal (matéria que abriu o
curso, no primeiro livro), e agora Homilética Dinâmica. De forma alguma
procurei desfazer dos grandes ensinamentos dos mestres que ajudaram a
moldar meu caráter e a sedimentar conceitos em minha mente. Mas, sim,
busquei repassar, não como mestre ou Doutor em Divindades, mas sim como
conservo em Cristo, que ministra, desde os 14 anos de idade, a Santa Palavra.
Na verdade, comecei a ter um relacionamento com as Escrituras ainda
criança, no início da alfabetização, quando ocupei fui coroinha na Paróquia
Cristo Rei em Orlândia, cidade em que moro até hoje. Orei e o Senhor me disse
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 240

para repartir minhas maiores vitórias e minhas maiores lutas, minhas mais
doces e mais amargas lembranças do “depois da mensagem”; as maiores
necessidades e as maiores compensações.
O que vamos aprender juntos, agora, é um resumo de nove anos como
pregoeiro do Evangelho, em que levei a Palavra de forma intensiva,
praticamente todos os dias (algumas vezes, mais de uma pregação num só
dia), por toda a nação brasileira bem como em dezenas de países do mundo.
Sei que, para muitos mestres, esta obra terá apenas “fagulhas” do fogo da
sabedoria que arde em seu interior. Porém, para o leigo pentecostal, será a
força motriz e geradora de fé, a catapulta que o lançará para dentro de um dos
mais belos dons que um ser humano pode possuir: a arte de falar em público.
Entretanto, enquanto os maiores oradores de todos os tempos usaram
seus talentos para áreas importantes da humanidade, como política e
sociologia, foram formadores de opinião, algo os distinguirá para sempre dos
nossos alunos: estes usarão seus talentos para mudar o curso de vidas,
arrebatando-as do inferno e encaminhando-as ao céu!

Pr. Marco Feliciano, D.D.


Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 241

Capítulo 1
Síntese do estudo da homilética
“Procura apresentar-te diante de Deus
aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade.” (2 Tm 2.15)
A última expressão deste versículo (“que
maneja bem a palavra da verdade”) responsabiliza
o pregador da Palavra de Deus a falar bem a
palavra. Este “falar bem” requer, além de
conhecimentos hermenêuticos, exegéticos e
históricos, também o conhecimento homilético, ciência que abrange tudo o
que se relaciona com o discurso religioso, denominado pregação.
A pregação é a forma mais expressiva de
disseminar o Evangelho de Cristo, e ocupou
lugar central no ministério terrestre de Jesus.
O Senhor Jesus se identificou como pregador
público quando visitou a sinagoga de Nazaré,
afirmando que fora enviado a pregar boas
novas aos pobres, a proclamar liberdade aos
cativos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.
(“Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou
na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu
costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe
entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-
o, achou o lugar em que estava escrito: O
Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto
me ungiu para anunciar boas novas aos
Rev. Billy Graham prega na Convenção
pobres; enviou-me para proclamar libertação
Batista Americana, em 1964 aos cativos, e restauração da vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do
Senhor. E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos
de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se
cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos.” - Lc. 4.16-21).
Jesus foi um pregador itinerante. Seu púlpito era o lugar aonde chegava:
um monte, a popa de um barquinho, a tribuna da sinagoga ou a casa de
amigos. Seu ministério não era fixo: ia de vila em vila, de aldeia em aldeia e de
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 242
cidade em cidade. No entanto, Ele é o mais glorioso pregador: arrastava após
si multidões eletrizadas por seus sermões cheios de graça e autoridade divina;
poder e graça lhe eram peculiares.
A primazia da pregação foi bem entendida pela igreja primitiva conforme
nos mostram os seguintes textos:
“E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo. As
multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo
os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos,
clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados; pelo que
houve grande alegria naquela cidade.” (At 8.5-8)
“Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão
naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?”
(Rm 10:14)
“Nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e
loucura para os gregos” (1 Co 1.23)
“Ninguém despreze a tua mocidade, mas sê um exemplo para os fiéis
na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.” (2 Tm 4.2)
“E tomando Jesus os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu,
os abençoou e partiu, e os entregava aos seus discípulos para os porem diante
da multidão.” (Lc 9.16)

Definição de termos
Homilética – é a ciência e a arte de pregar. É ciência por que ensina as leis
que presidem a formação do discurso religioso; é arte pois adapta tal
discurso às necessidades espirituais dos homens.
Homilia – “camaradagem, companhia, conversa”. A palavra “homilética”
veio da palavra “homilia”, que significa primitivamente uma conversação
sobre assuntos religiosos durante a qual o dirigente interrogava o povo e
era por este interrogado. Atualmente, chama-se homilia a exposição
simples de um assunto religioso. Há também as palavras “homileo” e
“homilos”, que estão ligadas ao termo homilética, significando “fala ou
conversa prolongada entre amigos”. A homilética ou retórica sagrada é um
ramo da eloquência que, por sua vez, advém das belas artes e também tem
por finalidade convencer, persuadir e firmar doutrinas nos ouvintes.
Sermão – vem do latim “sermone”, traduzido por “conversação”, um
discurso religioso bem elaborado.
Pregador – é aquele que profere os sermões ou homilias, seja ele teólogo
ou leigo. No sentido bíblico, pregador é aquele que possui uma mensagem
de Deus e por Ele está dominado. O apóstolo Paulo se expressou da
seguinte maneira: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho.” (1 Co 9:16).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 243
Outros termos que ajudam a compreender melhor a natureza da
pregação:
Evangelho – o mais freqüente termo nas páginas do novo testamento.
Significa boas novas, boas notícias. Não pode ser pregação cristã aquela
que não tem um claro anúncio da boa nova.
“Kerysso” – palavra que em nossa língua quer dizer “um arauto”, “que
exerce serviço de arauto”. Aparece aproximadamente 66 vezes no original
grego, e sempre com significado de pregar. “E indo,pregai dizendo:é
chegado o reino dos céus.” (Mt 10.7)
“Dialegomai” – significa “discorrer, discutir, relacionar”; está implícito o
sentido de argumentar com os outros. “Dialegomai” não só implica o
anúncio simples e puro da boa nova, mas também na argumentação
contra os adversários.
“Laleo” – traduzido em português por “falar”. Juntamente com a palavra
“logos”, o verbo “laleo”, quer dizer “falar a Palavra” ou, simplesmente,
“pregar”.

A importância da homilética
Sendo o conjunto de regras aplicadas ao discurso religioso, a homilética
constitui uma das modalidades mais interessantes e imprescindíveis ao
trabalho do obreiro evangélico na entrega da mensagem divina aos pecadores.
O alvo é que compreendam a necessidade de arrependimento de seus pecados
para que sejam novas criaturas, e alcancem os objetivos supremos da vida
espiritual e cumpram alegre e conscientemente a sua missão no mundo como
testemunhas de Cristo. A pregação deveria ser considerada a mais nobre
tarefa que existe na terra, pois realmente é.
O que a homilética é
a) Auxiliar no estudo da análise do texto
bíblico.
b) Auxiliar na exposição de ideias.
c) A homilética aperfeiçoa a forma do
dom da palavra já possuído, mas esse dom
não se adquire pelo estudo.
d) A forma homilética se faz atraente
quando o orador sacro adquire pela
experiência, um estilo próprio de
comunicar-se; as imitações tendem a
deixar o pregador sem estilo.
A Bíblia deve ser estudada sempre
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 244

e) Homilética é uma palavra que tem muito a ver com o pregador. Ele
precisa se identificar com a mensagem que prega, e essa mensagem deve,
primeiramente, falar com o pregador, isto é, trazer experiência a ele. A
mensagem deve ser pregada com tal eficiência que os ouvintes compreendam
o que fazer e sejam motivados para fazê-lo.
f) A homilética conduz à experiência. Esse é o caminho do bom êxito: a
prática do trabalho. O ideal é seguir praticando até preparar e apresentar um
trabalho com facilidade e eficiência, começando com uma série de esboços em
diferentes passagens da Bíblia.

O que a homilética não é


a) não é um substituto para a vida espiritual.
b) não é um substituto do Espírito Santo.
c) não é a garantia de trabalho eficiente. Todas as vezes que subirmos ao
púlpito, devemos ter a consciência de que somos mensageiros do Senhor;
nunca devemos esquecer isso.

Qualificações do mensageiro do Senhor


1) Deve ser regenerado e ter experiência de vida cristã abundante.
2) Deve conhecer e amar Jesus. Essa foi uma das exigências de Jesus a
Pedro: “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão
Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu- lhe: Sim,
Senhor; tu sabes que te amo. Disse- lhe: Apascenta os meus cordeirinhos.
Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim,
Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas.
Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se
Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas- me? E respondeu-lhe:
Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus:
Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo que, quando
eras mais moço, te cingi- as a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas,
quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá, e te levará para
onde tu não queres. Ora, isto ele disse, significando com que morte havia
Pedro de glorificar a Deus. E, havendo dito isto, ordenou- lhe: Segue-me.” (Jo
21.15-19)
3) Deve sentir amor profundo pelos perdidos e pelos irmãos (“Um novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei
a vós, que também vós vos ameis uns aos outros.” - Jo 13.34)
4) Deve conhecer a Bíblia e tê-la como fonte de mensagens.
5) Deve gastar tempo em oração. Jesus foi o nosso melhor exemplo, pois
ele fazia vigílias sozinho, passando horas com Deus.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 245
6) Deve desenvolver uma vida de santidade e consagração.
7) Deve crer na eficiência do ministério que recebeu do Senhor Jesus
Cristo (“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus; e o
que de mim ouviste de muitas testemunhas, transmite-o a homens fieis, que
sejam idôneos para também ensinarem os outros. Sofre comigo como bom
soldado de Cristo Jesus. Nenhum soldado em serviço se embaraça com
negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. E
também se um atleta lutar nos jogos públicos, não será coroado se não lutar
legitimamente. O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos.
Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo.
Lembra-te de Jesus Cristo, ressurgido dentre os mortos, descendente de Davi,
segundo o meu Evangelho, pelo qual sofro a ponto de ser preso como
malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa. Por isso, tudo suporto por
amor dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que há em Cristo
Jesus com glória eterna. Fiel é esta palavra: Se, pois, já morremos com ele,
também com ele viveremos; se perseveramos, com ele também reinaremos;
se o negarmos, também ele nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel;
porque não pode negar-se a si mesmo. Lembra-lhes estas coisas, conjurando-
os diante de Deus que não tenham contendas de palavras, que para nada
aproveitam, senão para subverter os ouvintes. Procura apresentar-te diante
de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que
maneja bem a palavra da verdade.” (2 Tm 2.1- 15); “E dizei a Arquipo: Cuida do
ministério que recebestes no Senhor, para o cumprires.” (Co 4.17)
8) Inspiração que lhe garanta o elemento profético na predica.
9) Sinceridade, pela qual o pregador alcança a simpatia dos ouvintes. A
sinceridade deve ser um dos traços básicos de um pregador, pois nada irá
afastar mais depressa uma congregação do que o fato de os membros
considerarem o pregador um hipócrita e, por outro lado, nada irá tornar um
auditório mais receptivo ou mais disposto do que a sinceridade por parte do
orador (“Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação; que Cristo Jesus veio
ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o principal” - Tm 1.15)
10) Deve ter entusiasmo, que gera a coragem de falar de nossas convicções
mesmo que o emprego ou a vida estejam em risco. João Batista mostrou essa
determinação quando disse a Herodes que não tinha direito à esposa do irmão
(“Pois Herodes havia prendido a João, e, maniatando-o, o guardara no cárcere,
por causa de Herodias, mulher de seu irmão Felipe; porque João lhe dizia: Não
te é lícito possuí-la.” – Mt 14:3-4)
11) Deve ter senso do fardo; pregar não é algo fácil como muitos imaginam,
é um trabalho exaustivo.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 246

12) Deve ter humildade. A primeira bem-aventurança declara: “Bem-


aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mt 5.3).
Esse tipo de pobreza de espírito significa o conhecimento de nossas
limitações.
13) Deve ter mansidão, outra pedra fundamental no caráter do ministro. É
preciso ver o exemplo da mansidão de Moisés (“Ora, Moisés era homem mui
manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra.” - Nm 12.3)
14) Deve ter paciência.
15) Deve ter competência intelectual: todo pregador deve levar para o seu
trabalho certo equipamento básico. Ele precisa ter facilidade para apreender
idéias retê-las. Todo pregador, para alcançar sucesso na pregação, deve
esmerar-se no estudo. O apóstolo Paulo aconselhou Timóteo: “...até que eu vá,
aplica-te à leitura, à exortação, e ao ensino.” (1 Tm 4.13) e “Salvar-se-á, todavia,
dando à luz filhos, se permanecer com sobriedade na fé, no amor e na
santificação.” – Tm 2.15)
O gramático romano Quintiliano concluiu que um orador perfeito teria de
conhecer tudo, e o mesmo se aplica ao pregador perfeito. Jesus, sem dúvida,
era esse pregador perfeito, por- que ele conhecia tudo, até mesmo o
pensamento dos homens. Não há nada que o pregador possa saber que não
seja de valor: história, literatura, ciência, arte, agricultura, política, medicina,
negócios, sociologia, publicidade, filosofia, música, esportes, atualidades,
língua estrangeira, astronomia etc. Quanto mais amplo o conhecimento, tanto
maior a força e a variedade em seu poder de ilustração e aplicação.
A capacidade mental do pregador deve conter uma imaginação rica com
uma boa dose de originalidade, poder de ilustração e uma sede insaciável de
verdade. Há também, nos bons pregadores, uma imaginação ativa e um toque
artístico, isto é, talento especial para apresentar uma história interessante ou
uma frase que provoque atenção. Isso é tão importante na pregação como a
capacidade de arranjo lógico no desenvolvimento do sermão. Em resumo, o
pregador não deve se conformar com seus conhecimentos já adquiridos, mas
estar constantemente envolvido em pesquisas. Sua mente é a ferramenta
básica, e ela deve ser suprida com amplo conhecimento e ajustada com uma
compreensão perceptível da Palavra de Deus.
16) O pregador deve, também, esforçar-se para manter uma boa saúde e
ter espírito de liderança.

Partes fundamentais de um sermão


1) Texto: A palavra texto vem do latim “testus”, que significa tecido, palavra.
Sugere a textura ou o fundamento de ideias e pensamentos sobre os quais o
discurso se baseia, e significa, ainda, todo o passo ou trecho bíblico lido pelo
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 247
pregador. A escolha do texto é fundamental para a pregação. Essa escolha
deve ser feita com a sabedoria do Espírito e mediante oração. Há textos
bíblicos impróprios para pregações como, por exemplo, um de Gênesis,
quando as filhas de Ló o embriagaram para de deitarem com ele (“E subiu Ló
de Zoar, e habitou no monte, e as suas duas filhas com ele; porque temia
habitar em Zoar; e habitou numa
caverna, ele e as suas duas filhas.
Então a primogênita disse à menor:
Nosso pai é já velho, e não há varão
na terra que entre a nós, segundo o
costume de toda a terra; vem,
demos a nosso pai vinho a beber, e
deitemo-nos com ele, para que
conservemos a descendência de
nosso pai. Deram, pois, a seu pai
vinho a beber naquela noite; e,
entrando a primogênita, deitou-se
com seu pai; e não percebeu ele O pregador deve ter vasto conhecimento do mundo.

quando ela se deitou, nem quando se levantou. No dia seguinte disse a


primogênita à menor: Eis que eu ontem à noite me deitei com meu pai;
demos-lhe vinho a beber também esta noite; e então, entrando tu, deita-te
com ele, para que conservemos a descendência de nosso pai. Tornaram, pois,
a dar a seu pai vinho a beber também naquela noite; e, levantando-se a menor,
deitou-se com ele; e não percebeu ele quando ela se deitou, nem quando se
levantou. Assim as duas filhas de Ló conceberam de seu pai. A primogênita
deu a luz a um filho, e chamou-lhe Moabe; este é o pai dos moabitas de hoje. A
menor também deu à luz um filho, e chamou-lhe Ben-Ami; este é o pai dos
amonitas de hoje.” - Gn 19:30-38), ou de Cantares, exalta o amor de uma
mulher e fala de intimidades entre marido e esposa (“Quão formosos são os
teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe! Os contornos das tuas coxas são
como jóias, obra das mãos de artista. O teu umbigo como uma taça redonda, a
que não falta bebida; o teu ventre como montão de trigo, cercado de lírios. Os
teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela. O teu pescoço como a torre
de marfim; os teus olhos como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-
Rabim; o teu nariz é como torre do Líbano, que olha para Damasco. A tua
cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça como a
púrpura; o rei está preso pelas tuas tranças. Quão formosa, e quão aprazível
és, ó amor em delícias! Essa tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus
seios aos cachos de uvas. Disse eu: Subirei à palmeira,
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 248

pegarei em seus ramos; então sejam os teus seios como os cachos da vide, e o
cheiro do teu fôlego como o das maçãs, e os teus beijos como o bom vinho
para o meu amado, que se bebe suavemente, e se escoa pelos lábios e dentes.
Eu sou do meu amado, e o seu amor é por mim. Vem, ó amado meu, saiamos
ao campo, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos de manhã para ir às
vinhas, vejamos se florescem as vides, se estão abertas as suas flores, e se as
romanzeiras já estão em flor; ali te darei o meu amor. As mandrágoras exalam
perfume, e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e
velhos; eu os guardei para ti, ó meu amado.” (Ct 7)
O pregador deve escolher textos que falem primeiramente consigo,
objetivos para cada sermão e que apelem à imaginação. As regras para
interpretação de textos bíblicos acham-se contidas na disciplina
hermenêutica, matéria que todo pregador deve conhecer para ser bem
sucedido na pregação.

2) Exórdio ou introdução
O exórdio ou introdução é a parte do sermão que serve como ponto de
contato entre o pregador e o auditório. Normalmente, a introdução é a última
parte a ser feita na preparação, visto que o pregador deve, antes de tudo,
formar os ângulos a serem atingidos. Tendo uma idéia geral do sermão,
devidamente estruturado, pode-se preparar eficazmente a introdução. A
introdução de um sermão deve fazer com que os ouvintes tenham boa
disposição para escutar o pregador, fazer com que prestem atenção e que
fiquem desejosos de receber a mensagem que o predicante deseja apresentar.
Saber entrar no púlpito e dele sair é uma arte aprendida na experiência.
Depois de haver fixado o propósito do sermão, escolhido o texto, determinado
o tema e organizado o esboço, o pregador estará pronto para preparar a
introdução. A introdução é o ponto entre o tema e a primeira divisão da
prédica.
Uma boa introdução deve ser:
a) breve, sem gastar muito tempo
b) apropriada, isto é, dentro do sermão.
c) interessante, já que não deve prometer demais, mas despertar interesse
pelo sermão. O texto pode ser o ponto de partida, e aspectos geográficos e
históricos numa introdução exigem do pregador uma boa pesquisa. Pode-se
fazer, também, alusão a uma ocasião, relacionando um fato do dia a dia para
enriquecer a introdução.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 249

3) Exposição ou tema
Homileticamente, o tema é o assunto da mensagem, a verdade central do
sermão. Uma pregação sem um tema que coordene seu desenvolvimento é
como um navio sem leme. É possível ter belos pensamentos e passear por
toda a Bíblia, mas o resultado não será bom. Na verdade, o tema é o sermão
resumido, a essência daquilo que se vai falar. A função básica do texto é a de
fornecer ao pregador o tema do sermão, e o texto é a raiz do tema. Embora o
Espírito Santo possa dar um tema antes da escolha do texto, mesmo assim o
pregador deverá procurar um texto em que se possa aplicar o tema.
Termos interrelacionados na apresentação do sermão:
a) Tema: define-se tema como a matéria de que se vai falar ou tratar no
sermão, a idéia central
b) Título: há uma distinção entre tema e título: o título do sermão é o
nome que a ele se dá, ou seja, é o seu encabeçamento. Na elaboração de um
sermão, o titulo é geralmente um dos últimos itens a ser preparado, pois o
procedimento geral é primeiro formular proposição e o esboço principal
c) Proposição: é aquilo que se vai propor no sermão, de forma mais concisa
possível, o tema a ser discutido na pregação. A proposição, que também pode
ser chamada de tese, está tão relacionada com o tema, que em muitos
sermões ambos se confundem. Defende-se também que na proposição
transmitem-se informações aos ouvintes de que se pensa sobre o tema.

4) Argumentação ou tema
O tema de um sermão deve ser bem escolhido. Deve ser espiritual, acima
de tudo, e sem ares profissionais ou mecânicos. O pregador verdadeiro não
sobe ao púlpito como um mercador, que escolhe palavras bonitas para vender
seus produtos. Um tema cristão nasce de uma inspiração divina em alguma
coisa que viu, leu ou sentiu.
Qualidades necessárias ao tema:
a) objetivo
b) vital (chamar a atenção)
c) pertinente (o assunto deve ser mantido; o pregador deve ficar dentro
daquilo a que se propôs a apresentar)
d) legítima relação com a Bíblia
e) argumentação ou discussão (dentro da estrutura do sermão, o plano é
a parte principal; ele tem a ver com a ordem das divisões, e pode ser chamado
também de discussão ou de movimento do sermão)
O plano é a discussão do sermão, ou melhor, o esqueleto com as partes
colocadas em seus lugares, que devem ser revestidas com desenvolvimento
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar250

dinâmico do sermão. Conforme já esboçamos, várias são as designações


dadas pelos mestres de homilética ao plano, como: argumentação, discussão,
movimento, divisões, tratamento etc.
As divisões devem eliminar toda digressão desnecessária, isto é, o
desvio do assunto. Quando o plano não é bem preparado, o pregador corre o
risco de perder-se no sermão e, também, a preparação inadequada desvia o
rumo do sermão.

5) Conclusão ou peroração
Na conclusão, o pregador deve apresentar o clímax de sua pregação. A
aplicação final e definitiva de todo o sermão que está na conclusão, e essa
parte é tão importante como a introdução. O êxito da pregação depende de
uma boa conclusão. Esse clímax é o ponto culminante do sermão tanto para o
pregador quanto para o auditório, e ambos estão movidos pelo Espírito Santo.
Quando o aspecto psicológico do auditório é despertado mediante o intelecto,
o sentimento e a vontade, a conclusão pode ter várias aplicações:
a) recapitulação: recapitular não significa “pregar outra vez”, mas implica
em relembrar sucinta e dinamicamente os pontos principais, os pensamentos-
chaves, os pontos fortes e positivos, sem discuti-los outra vez; é uma forma
de evitar conclusões precipitadas;
b) narração: narrar um fato que possa servir de aplicação da mensagem
pregada pode cativar o interesse do auditório, bem como comovê-lo para uma
decisão;
c) persuasão: um bonito sermão, que recebe aplausos e elogios sem levar
à persuasão, é como barulho de letras vazias (persuasão é a meta principal do
sermão). Levar o ouvinte a uma decisão é trabalho duro empregado durante
toda a pregação, e exige graça e unção do Espírito Santo.
d) convite: todo sermão deve ser concluído com um convite, seja voltado
para a igreja ou para pecadores. O convite enquadra o propósito específico da
pregação. Dentro da conclusão, o convite deve ser inteligente, claro,
insistente, sério e espiritual, pois de nada valerá um sermão bem organizado
sem uma vitoriosa redenção a Cristo.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 251

Capítulo 2
Relacionamentos
“Mas, quando vier aquele, o Espírito de
verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque
não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver
ouvido, e vos anunciará o que há de vir” (Jo 16:13)

O relacionamento entre o pregador e seu Mentor


Celeste
O relacionamento entre o pregador e Aquele
que o inspira a pregar deve ser verdadeiro,
transparente, dependente (como veremos adiante)
e, acima de tudo, apaixonado! Não há vida em um
sermão se não houver intimidade entre o pregador
e Aquele que o vocacionou. Sem esta cumplicidade
do céu com a terra (daquilo que é mortal com o
Imortal,daquele que é falível com o Infalível, do
ordinário com aquele que é Extraordinário), o pregador seria apenas um
falastrão a dissertar sobre mais um assunto a uma platéia que já saberia o que
ouvir. O Espírito Santo é o professor e o mentor, o único que pode dar vida ao
“esqueleto” (esboço) de um sermão, transformando-o em fonte de vida para
os ouvintes.
A intimidade com Ele impede
constrangimentos na atuação do pregador.
Não há nada pior para um pregador do que
sentir-se “vencido” na vida ministerial. E isso
pode acontecer por vários fatores, como:
Falta de inspiração para pregar naquele
dia;
Ao olhar ao seu redor, perceber a presença
de pessoas mais capazes;
Por ser surpreendido por um súbito
esquecimento
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo,
que o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de
tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14:26).
O púlpito: para santificação e
adoração .
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 252
Manter-se na presença Dele é a segurança necessária para impedir que a
ansiedade e os demônios dominem a mente e façam o pregador fracassar no
exercício de suas funções. Medos existem e são naturais. E, segundo pesquisa
da revista norte-americana “Public Speaking”, falar em público é o maior medo
detectado nas pessoas – maior até do que da morte. No ranking dos principais
medos da humanidade, fica com 41% dos votos, seguido por medo de altura
(32%). Por isso, uma amizade plena, seguida por diálogos com o Senhor, pode
reverter esta situação.
“Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque ainda sou
um menino. Mas o Senhor me disse: Não digas: Eu sou um menino; porque a
todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, falarás. Não temas
diante deles; porque estou contigo para te livrar, diz o Senhor. E estendeu o
Senhor a sua mão, e tocou-me na boca; e disse-me o Senhor: Eis que ponho as
minhas palavras na tua boca” (Jr 1:6-9).
Se traçarmos um paralelo aqui, veremos que os
maiores medos da humanidade são exatamente
aqueles que podem elevá-la! Aquele que domina a
oratória, a arte de falar em público, pode alcançar
alturas ainda inatingíveis! Observe: um homem
natural, que detém o dom da palavra natural, pode ser
um orador admirável. Um exemplo é Hitler que, com
sua capacidade de persuasão, inspirou uma geração
inteira a acreditar que podia ser conquistadora e, pior,
que a raça de judeus deveria ser destruída, o que levou
a dizimação de 6 milhões deles. Inclusive um lobo em Jim Jones: morte.

pele de pastor chamado Jim Jones “motivou” seus seguidores a beberem o


“elixir da vida (morte)”, e centenas obedeceram cegamente.
É de conhecimento do povo evangélico que há alguns anos um certo
político do Estado do Pará, não evangélico, que estava em processo de
cassação de seu mandato, participou de uma comemoração do aniversário de
uma igreja e, ao ter oportunidade para falar ao público, dissertou com tanta
eloqüência sobre um texto da Bíblia que possuía, que levou uma multidão de
crentes a jubilarem e serem renovados. Isto seria comum caso não houvesse
um pequeno detalhe: esse político nunca havia sido evangélico.
Agora, prezado estudante do ITC, medite um pouco: se um ditador, um
falso pastor e um político não evangélico convenceram seus ouvintes, imagine
se você, servo fiel, dedicado e íntimo do Espírito Santo? Com o dom natural da
palavra, ou seja, facilidade para falar, dissertar e apresentar idéias, revestido
pela unção do Senhor, o que pode acontecer? A resposta é simples, e é nosso
Senhor quem a dá:
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 253
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também
fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para
meu Pai” (Jo 14:12).
O relacionamento entre o pregador e o seu Mentor deve assemelhar-se
ao que Jesus aconselhou: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em
mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia
que tu me enviaste” (Jo 17:21).

O relacionamento entre o pregador e a Palavra


É impossível ser um exímio, médio ou leigo pregador sem conhecer a
Palavra que prega. É como ir para uma guerra e não saber destravar,
engatilhar, mirar e atirar com uma metralhadora. Nada vai acontecer por falta
do conhecimento simplesmente para manusear a arma que está em suas
mãos. Seria como ter um computador de última geração e entregá-lo a uma
pessoa que não sabe sequer digitar. Seria inútil. Agora, entregue aquela
metralhadora para um mariner ou o computador para Bill Gates e imagine o
que pode acontecer...
Num texto bíblico do tópico anterior, o Senhor fala que o Espírito nos
fará lembrar as suas palavras (“...e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho
dito” - Jo 14:26). Como podemos lembrar se não ouvimos ou não lemos? Como
crentes no poder sobrenatural de Deus, sabemos que Ele pode nos dar uma
palavra revelada, porém, a dedicação à leitura, à investigação bíblica, ao estudo
sistemático da Palavra deve ser observada e jamais ser dispensada.
A intimidade com a Palavra de Deus dá segurança ao pregador,
transformando sua mente e fazendo-o sábio. A maior dificuldade em estudar a
Bíblia é pelo fato de seus escritos serem de difícil interpretação, bem como o
grande volume de informações relacionados a cultura, política e costumes de
um tempo muito distante de nós. Assimilar, contextualizar, interpretar e
guardar tudo isso na mente, certamente, não é fácil, mas é possível. Se não
tudo, boa parte, mas não do dia para a noite. È preciso uma busca incessante,
séria e desejosa.
Uma sugestão é começar pelo Novo Testamento. Familiarize-se com
as histórias dos evangelistas e, se possível, faça isso mais de uma vez. Depois,
conheça a história da igreja apostólica e seus heróis. Analise as Cartas de
Paulo e as dos demais apóstolos, até chegar a Apocalipse e, por favor, não
tenha medo. Leia o Novo Testamento pela primeira vez como um livro de
história, na segunda como uma biografia e na terceira, como estudante,
fazendo anotações de datas, nomes, momentos e fatos interessantes.
Então, vá até Gênesis, leia o Pentateuco e conheça os Livros Históricos.
Delicie-se com os Livros Poéticos, ame os profetas menores e entusiasme-se
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 254
com os profetas maiores. Faça isso quantas vezes for possível, e o Espírito que
inspirou todos os escritores da Bíblia o guiará e revelará o que está escrito nas
“entrelinhas”, dando uma visão diferenciada e ensinando-o a traçar paralelos
entre o Velho e Novo Testamento. Assim, a obra será grande e o respeito pelo
futuro ministério surgirá.
“Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl
119:11).

O relacionamento entre o pregador e suas ferramentas naturais


São três as ferramentas naturais do pregador: mente, voz e corpo.
Mente - A psique humana é um mistério e possui uma habilidade incrível
para armazenar conhecimentos. Nela existe uma inesgotável fonte de
lembranças, sonhos, projetos, alegrias, dores, frustrações e realizações,
cada qual arquivado em uma “pasta”. A mente humana é o controle central
do corpo e das emoções, e o elo entre o homem e Deus (ou entre o
homem e o diabo). O pregador da Palavra deve sempre rogar ao doce
Espírito para que mantenha sempre saudável a sua mente. Livre de
mágoas e decepções, pois é nela (e através dela) que o Espírito Santo irá
gerar a mensagem a ser pregada. A mente do pregador precisa de
“sementes”, ou seja, informações de fora. Ela precisa ser ocupada com
conhecimentos de todos os níveis e de todas as áreas. A mente do
pregador precisa ser “fértil” e criativa, pois só assim suas ministrações
terão êxito. “O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é
sábio” (Pv 11:30)
Se a mente está doente, o corpo todo padece, pois ela também é membro
do corpo. “De maneira que, se um membro padece, todos os membros
padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se
regozijam com ele” (1 Co 12:26).
A confiança do pregador deve então estar no Seu Senhor, pois só Ele
poderá trazer saúde a mente do pregador. “Tu conservarás em paz aquele cuja
mente está firme em ti; por- que ele confia em ti” (Is 26:3)
Voz - A força da entonação vocálica e a impostação da voz no momento
certo podem despertar sentimentos escondidos, fazer aflorar emoções e
arder no ouvinte o desejo de ouvir a mensagem. Mas também podem
servir como “anestésico imediato”, levando-o ao sono. A sabedoria do
orador fará com que, no momento certo, aplique a entonação necessária à
voz.
Use sua sabedoria e aplique estes exemplos para saber como expressar
seu sermão:
- Leão: quando ruge, traz respeito e silêncio sobre a selva;
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 255

- Rola: o canto triste deste pássaro traz melancolia a quem ouve;


- Vendaval: amedronta, mas leva sementes a lugares aonde jamais
chegariam
- Brisa: toca o rosto com suavidade, provocando alívio e sensação de paz
Os sons influenciam! A música carregada de “swing” leva o corpo a bailar
descontroladamente, assim como a música romântica traz à lembrança que a
solidão precisa ser expulsa e alguém precisa aproximar-se para trazer
aconchego. O cuidado com a voz é essencial para aqueles que querem ter um
ministério longo e profícuo. Para cada hora ministrada, duas devem ser
separadas para o descanso. Momentos antes de falar, beber bastante água
para hidratar as cordas vocais e, se possível, também beber água em
intervalos durante a ministração. Tomar cuidados com mudanças bruscas de
temperatura pode dar longevidade à principal ferramenta natural do pregador,
a voz.
Corpo - Este é o “veículo” encarregado de transportar o dom da palavra, do
som aos movimentos que, com expressões físicas, ajudam o ouvinte a
compreender o que está sendo dito. Quando o cinema era rudimentar,
sem som nem cor, um de seus primeiros gênios conseguia emocionar as
platéias através de suas expressões corporais e faciais – Charles Chaplin,
que deu corpo ao personagem “Carlitos”.
O pregador é, por natureza, uma exímio “artista”, no sentido mais puro da
palavra, capaz de transportar o espectador para dentro da cena narrada. Com
o movimento dos braços, o dedo em riste, um sorriso expressivo, com os
olhos semicerrados ou um salto, unido à unção recebida do céu é possível
levar o ouvinte a uma meditação tão introspectiva, que reverbera em um forte
“Amém!”
Gesticulações certas em determinados momentos trazem um “colorido” à
mensagem e ajudam a transmitem-na de forma precisa e profunda. A bem da
verdade, expressões exageradas podem ter um resultado negativo, mas tudo
deve ser bem empregado de forma a não escandalizar nem chocar o
espectador. O orador deve ser sábio, prudente e elegante para falar e
gesticular. Não deve jamais ser escrachado ou deselegante com seus ouvintes,
principalmente por serem eles a Noiva do Cordeiro.

O relacionamento entre o Pregador e suas ferramentas espirituais


As ferramentas espirituais do pregador são: oração, consagração e amor
à Palavra.
Oração - O sentido mais pleno desta palavra é diálogo – um diálogo com
Deus. Não um monólogo, mas um diálogo, uma conversa aberta e franca
entre duas pessoas. A saber, de um lado o limitado e necessitado ser
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 256

humano, e do outro o Senhor, ilimitado e pronto para suprir as carências e


necessidades do outro.
Desde que os primeiros homens habitaram a face da terra, compreenderam
a necessidade de orar, de falar com Deus. O homem é um ser espiritual que
habita um corpo físico. Este homem interior, espiritual, necessita de
intimidade com Deus, de alimento para seu espírito, pois tem sede da
presença do Senhor, e é a oração o canal que abre as comportas desta fonte
que sacia o sedento: “Porque derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a
terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha
bênção sobre os teus descendentes” (Is 44:3).
A necessidade do pregador quanto à dependência de Deus deve ser
expressa em oração. O próprio mestre dos oradores, Jesus, ensinou seus
discípulos a orarem, e nesta oração mostrou as três maiores carências na vida
do homem:
“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado
seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra
como no céu; O pão nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos induzas
à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória,
para sempre. Amém” (Mt 6:9-13 - grifo nosso).
Pão, perdão e livramento são as três maiores carências do ser humano, e
em especial do pregador do Evangelho, da verdade:
pão, alimento que sacia a fome do corpo físico, e o maná, pão celestial que
sacia a fome da alma, quando esta enfrenta os grandes desertos das crises
ministeriais.
perdão, ato divino ensinado à humanidade, porém quase nunca posto em
prática, pois seu sentido literal é esquecimento, e raramente o ser humano
esquece quando é ofendido. Na vida do pregador, esta palavra deve ser
não apenas pregada, mas vivida! Perdão pelas faltas como ser humano,
pelos pecados constantes na esfera da carne, e perdão pela falta de
coragem que às vezes acomete o profeta, que olha para as circunstâncias
e não para o Senhor que o autorizou a falar
livramento, especialmente do mal – dos homens maus, do ardil adversário.
Livramento de si mesmo, dos seus medos interiores, do complexo de
inferioridade que não deixa o orador expor com audácia aquilo que foi
entregue pelo Pai. Livramento do dia da angústia, das calúnias, dos
homens de olhos altivos (invejosos), dos laços do passarinheiro. Certa vez,
um pregador orou assim: “Senhor, torna-me invisível aos olhos dos meus
inimigos!” E outro, desta forma: “Coloca-me longe do alcance dos
homens!”
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 257
A oração feita no tempo certo, por um coração puro, pode muito em seus
efeitos: “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e
firmes que não sabes” (Jr 33:3).
Na sua intimidade, o pregador junto ao povo, em oração, pode trazer cura
para sua geração: “E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se
humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus
caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a
sua terra” (II Cr 7:14).
A função do pregador junto à oração é de tal importância, que, na sua
pequenez, pode impedir a destruição de um povo: “E busquei dentre eles um
homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha perante mim por
esta terra, para que eu não a destruísse...” (Ez 22:30/a). A oração é
insubstituível como fonte geradora de força e coragem na militância da arte
de pregar!
Consagração - Consagrar alguém ou consagrar-se a Deus é o ato ou efeito
da unção, ou seja, ungir significa “separar”: uma separação de
pensamentos, de filosofias, de atitudes. O pregador é separado pelo
Senhor para uma obra específica, diferenciada. Por isso a separação o
levará a uma vida reta, justa e de temor a Deus, pois, ao ser separado,
transforma-se em “paradigma”, “espelho” para aqueles que o ouvem e o
admiram. Passa a ser um formador de opinião, e por isso deve ser especial.
E só a consagração contínua o manterá no caminho proposto. Quando se
consagra a Deus, o pregador se eleva, seu espírito passa a ser treinado
pelo Espírito do Senhor e, com isso, sua sensibilidade espiritual fica
aguçada. Ele começa a ver aquilo que ninguém vê, falar aquilo que
ninguém fala e fazer coisas que ninguém pode fazer, pois o preço pago na
consagração, alto como é, trará a ele autoridade para realizar coisas que
outros jamais conseguiriam.
João Batista, o precursor de Cristo, era a voz do que clamava no deserto.
Consagrado desde o ventre, habitando no deserto, vestindo-se e
alimentando-se de forma diferente, acabou sendo notado. Respeitado como
profeta, nunca realizou um milagre, mas Jerusalém descia para ouvi-lo às
margens do Jordão: “E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no
deserto da Judéia, e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos
céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que
clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. E
este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em
torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre. Então
ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao
Jordão; E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados”
(Mt 3:1-6).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 258

O que atraía a multidão a este homem, como não realizava milagres, era o seu
estilo de vida. As roupas chamavam a atenção, a pregação era severa, forte, e
isso não espantava o povo, pois discernia que João era separado, consagrado a
Deus. Talvez a maior carência dos obreiros do século 21 seja esta: a falta de
tempo (ou disposição) para consagrar-se, separar- se. Quanto mais tempo
com Deus, com íntimo ficará aquele que Dele se aproximar.
Amor pela Palavra - Como estamos falando sobre ferramentas espirituais,
abrangeremos, de modo sucinto, apenas o sentimento entre o pregador e
a Palavra – mais à frente falaremos desta ferramenta em si.
Não há expressão de amor maior à Palavra do que a dita pelo salmista:
“Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119:11).
Ele não falava em decorar a Palavra e colocá-la na mente, mas em amá-la ao
ponto de vivê-la, pois do coração do homem procede seus atos! Não basta
pregar a Palavra, é preciso vivenciá-la! E, para isso, ela deve ocupar um lugar
especial dentro do coração do pregador, pois só assim, ao ministrá-la, seus
ouvintes perceberão que ele é mais do que apenas um falastrão, mas alguém
que vive o que ensina e prega, e isto fará surtir o efeito desejado por Deus no
coração dos pecadores: “E disseram um para o outro: Porventura não ardia em
nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as
Escrituras?” (Lc 24:32)
Amar a palavra é doar-se incondicionalmente a ela, render-se diante da
profundidade de seus ensinamentos e pregá-la com vida. O pregador que a vê
desta forma se diferenciará daquele que apenas a manuseia, como
profissional. O amor não profissionaliza o pregador, mas sim vocaciona-o.

O relacionamento entre o pregador e seu sermão


Quando o pregador, sob a unção divina, “gera” um sermão, sua alma é
agraciada. Sabemos que nossas emoções estão alojadas na alma. Entendemos
(e cremos) piamente que o sermão depende inteiramente da revelação divina,
bem como do estado de espírito do pregador, o porta-voz de Deus.
A sabedoria na construção do sermão pode ser enriquecida com a leitura
constante da Bíblia e o uso de outras fontes de informação, como livros,
histórias, contos, ilustrações etc. O objetivo do sermão deve sempre ser o de
“levar a fé” ao ouvinte, seja ele convertido ou não. Cabe ao pregador observar
seu público e, com eloqüência, conduzi-lo a uma atitude de adoração, sendo
necessário para isso, antes de tudo, conquistar a atenção das pessoas. A parte
fundamental do sermão está em sua introdução, pois ela guiará a atenção do
público, abrindo as “janelas” de sua percepção para a mensagem divina contida
na pregação.
O apóstolo Paulo era mestre como pregador de sermões expositivos,
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 259
usando sabedoria e um pouco de psicologia, conquistava a atenção de todos a
sua volta: “E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses,
em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; Porque, passando eu e vendo os
vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: ‘Ao Deus
Desconhecido’. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos
anuncio” (At. 17:22-23)
Quem resistiria a um sermão com esta introdução? Quem não gostaria
de saber sobre o “Deus Desconhecido” dos atenienses? Pois bem, a sabedoria
com que ele conduziu sua pregação resultou na salvação de pessoas e acabou
envolvendo os sábios de sua época em uma busca mais apurada a respeito do
reino de Deus.
O relacionamento entre o pregador e o público
Conquistar, convencer, fazer-se entender, ganhar a confiança e colocar
a platéia em posição de adorar a Deus não é tarefa simples e tampouco fácil. O
carisma, o sorriso, a palavra ideal no momento certo podem desencadear uma
reação de contentamento na platéia. A arte de conquistar pessoas pode ser
nata ou adquirida. O medo, a timidez, a vergonha e o que chamam de “pânico
de multidão” podem ser vencidos com preparação psicológica e treinamento.
A preparação psicológica vem através da vontade de vencer a timidez,
usando métodos simples como observar a maneira como os grandes oradores
se portam diante do público, a maneira de introduzir seu pensamento nas
mentes e nos corações, a impostação de voz, gesticulação etc. Um
treinamento simples na frente do espelho, improvisando um microfone e com
muita imaginação (que é fértil naqueles que sonham em tornar-se oradores,
conferencistas ou pregadores), pode-se obter um resultado tremendo.
A mente do pregador deve estar em sintonia com o momento da
adoração. A letra das músicas, os testemunhos apresentados, as coreografias
e o tema da festividade constituem uma espécie de “sinal”, mostrando o
caminho a ser seguido. O Senhor fala por meio de sinais. Se em uma reunião
uma música fala sobre a cura da alma, a leitura oficial dá indícios de cura da
alma, um testemunho contado por alguém que recebeu o refrigério na alma, o
público foi preparado para ouvir uma mensagem que se enquadre nisso.
Portanto, o pregador deverá seguir esta ordem e pregar algo sobre o que
aconteceu até então. A exceção, claro, é se o Espírito Santo o conduzir de
outra forma.
O público ficará impactado se o orador souber conduzi-los com maestria
pela mensagem pregada. Para tanto, ele deve ter certeza de que sabe o que
está pregando, falando ou ensinando. A segurança é transmitida por meio da
entonação vocal e da inteligência expressa por conhecimentos bíblicos e
extrabíblicos, que enfeitarão a mensagem e lhe darão vida. Conhecendo e
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 260
conquistando a atenção do público, os irmãos se entregarão sem reservas a
Deus e ao coração do pregador que, no momento da pregação, estará fazendo
exatamente aquilo que Jesus faria se estivesse ali.
Uma das maiores demonstrações de autoridade, perspicácia e psicologia
de um pregador em relação ao público é encontrada em uma passagem da
vida de Jesus. Ele iniciava seu ministério, com 30 anos de idade – homem feito
– e conhecia muito bem a necessidade do seu povo, os hebreus. Ele sabia da
opressão que Roma exercia sobre seus patrícios. Também sabia da vida
dissimulada dos fariseus e a maneira hipócrita como agiam diante do povo. Os
impostos pagos aos dominadores acabaram empobrecendo os judeus, e os
quatrocentos anos sem profetas (período interbíblico entre Malaquias e
Mateus) causaram uma grande “fome” de Deus. Com sua inteligência, Jesus
sintetizou a necessidade do povo e trouxe-lhes o refrigério: conhecendo as
pessoas e suas necessidades, pregou o famoso “Sermão da Montanha”:
“E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se,
aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava,
dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos
céus; Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; Bem-
aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os
que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os
misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os
limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacifica-
dores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que
sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque
é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas
que foram antes de vós. Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que
se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado
pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade
edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do
alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim
resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:1-16).
O pregador jamais deve subestimar a inteligência do seu público, mas
sim policiar-se ao máximo para não constrangê-lo seja com palavras, gestos
ou insinuações. Lembre-se que um orador cristão não é um orador comum,
mas porta-voz do céu: suas palavras têm poder para dar vida ou matar.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 261
O pregador e a dependência do Espírito de Deus
A Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo de Deus, é o mentor,
senhor, inspirador, professor e mestre do pregador. Nele está a fonte da
inspiração de que todo orador cristão necessita. Nele também reside todo o
conhecimento não-revelado, à espera de alguém que o deseje e busque. Ele é
a ligação entre o natural e o sobrenatural. Temos um exemplo vivo disso na
Bíblia Sagrada. Pedro, antes de ser cheio do Espírito Santo, negou Jesus diante
dos homens. Depois, já com o Espírito, enfrentou uma multidão que acusava a
ele e aos discípulos de estarem embriagados, e com graça e unção anunciou-
lhes Jesus. Com isso, quase 3 mil almas foram salvas:
“E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto. Pedro, porém,
pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens
judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai
as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais,
sendo a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos
últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda
a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens
terão visões, E os vossos velhos terão sonhos; E também do meu Espírito
derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e
profetizarão; E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo na
terra, Sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, E a lua em
sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor; E acontecerá que
todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Homens israelitas,
escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre
vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós,
como vós mesmos bem sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado
conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas
mãos de injustos; Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois
não era possível que fosse retido por ela; Porque dele disse Davi: Sempre via
diante de mim o Senhor, Porque está à minha direita, para que eu não seja
comovido; Por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; E
ainda a minha carne há de repousar em esperança; Pois não deixarás a minha
alma no inferno, Nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; fizeste-me
conhecer os caminhos da vida; encher-me-ás de alegria na tua presença.
Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi,
que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura.
Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com
juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo,
para o assentar sobre o seu trono, Nesta previsão, disse da ressurreição de
Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 262

corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos


testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do
Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.
Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu
Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que ponha os teus inimigos por
escabelo de teus pés. Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse
Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. E, ouvindo eles
isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais
apóstolos: Que faremos, homens irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz
respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos
Deus nosso Senhor chamar. E com muitas outras palavras isto testificava, e os
exortava, dizendo: Salvai- vos desta geração perversa. De sorte que foram
batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia
agregaram-se quase três mil almas” (Atos 2:13-41).
A inspiração é imprescindível na vida de um pregador, e esta só lhe será
dada caso este esteja em plena comunhão com o Espírito Santo. Com muito
conhecimento mas sem inspiração, transforma-se em um orador mecânico,
formalista. Assim, atinge apenas o intelecto dos ouvintes. Já se unir
conhecimento e inspiração, o pregador alcança seu objetivo e também o do
Senhor.
Também vem do Espírito Santo a sabedoria para falar. Foi assim com a
primeira e última pregação de Estevão, mártir do cristianismo que, com
eloquência, enfureceu os doutores da lei. Entre eles estava um certo Saulo de
Tarso que, mais tarde, influenciado pelo episódio da morte do discípulo,
tornou-se Paulo, o maior filósofo da fé cristã: “E levantaram-se alguns que
eram da sinagoga chamada dos libertinos, e dos cireneus e dos alexandrinos, e
dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. E não podiam
resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava” (Atos 6:9-10).
Como professor por excelência, o Espírito ensinará o necessário e trará à
mente do pregador a lembrança das palavras estudadas. Este quesito é
importante. Alguns neófitos esperam que o Espírito lhes ensine tudo, sem que
vejam necessidade de dedicarem-se. Ora, é preciso ler e estudar, pois só assim
podemos nos lembrar daquilo que conhecemos. O pregador faz a sua parte, o
Santo Espírito ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua
sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido
com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o
Cristo, para o assentar sobre o seu trono, Nesta previsão, disse da
ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 263
carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos
testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do
Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.
Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu
Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que ponha os teus inimigos por
escabelo de teus pés. Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse
Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. E, ouvindo eles
isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais
apóstolos: Que faremos, homens irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz
respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos
Deus nosso Senhor chamar. E com muitas outras palavras isto testificava, e os
exortava, dizendo: Salvai- vos desta geração perversa. De sorte que foram
batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia
agregaram-se quase três mil almas” (Atos 2:13-41).
A inspiração é imprescindível na vida de um pregador, e esta só lhe será
dada caso este esteja em plena comunhão com o Espírito Santo. Com muito
conhecimento mas sem inspiração, transforma-se em um orador mecânico,
formalista. Assim, atinge apenas o intelecto dos ouvintes. Já se unir
conhecimento e inspiração, o pregador alcança seu objetivo e também o do
Senhor.
Também vem do Espírito Santo a sabedoria para falar. Foi assim com a
primeira e última pregação de Estevão, mártir do cristianismo que, com
eloquência, enfureceu os doutores da lei. Entre eles estava um certo Saulo de
Tarso que, mais tarde, influenciado pelo episódio da morte do discípulo,
tornou-se Paulo, o maior filósofo da fé cristã: “E levantaram-se alguns que
eram da sinagoga chamada dos libertinos, e dos cireneus e dos alexandrinos, e
dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. E não podiam
resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava” (Atos 6:9-10).
Como professor por excelência, o Espírito ensinará o necessário e trará à
mente do pregador a lembrança das palavras estudadas. Este quesito é
importante. Alguns neófitos esperam que o Espírito lhes ensine tudo, sem que
vejam necessidade de dedicarem-se. Ora, é preciso ler e estudar, pois só assim
podemos nos lembrar daquilo que conhecemos. O pregador faz a sua parte, o
Santo Espírito a Dele: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de
tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 264

A vida de um pregador do Evangelho nada seria sem a presença do


Espírito de Deus. Aprendamos com Davi: “Não me lances fora da tua presença,
e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Salmo 51:11).

Pregador e o seu “eu” interior


O maior inimigo do homem é ele mesmo. O pregador do Evangelho
jamais deve deixar de observar dois aspectos. Primeiramente, a oratória é o
maior poder que um ser natural pode ter na sua existência. A arte de falar e
expressar-se é o que movimenta a política, as finanças (que se resumem em
compra e venda), as artes (reveladas através de expressões, e a maior delas é
falar). Quem fala convence, conquista, persuade, vende. Secundariamente,
suas palavras podem gerar ou destruir vidas!
Uma vez anunciador do
Evangelho, orador de massas, o
pregador deve vigiar sempre, e
esconder-se à sombra da Cruz de
Cristo, aprendendo com Ele. A
unção de Deus na palavra encanta
e atrai o ouvinte. O ser humano é
carente de ouvir alguém que, de
fato, tenha algo a dizer. Muitos
falam, mas pouco têm a dizer. É preciso cuidado com as palavras

O pregador deve preparar-se para ver sua fama percorrer a Terra,


mantendo-se humilde diante dos homens e do Senhor. Jesus ensinou o
caminho. Sua fama alcançava toda a terra, multidões vinham de todos os lados
para ouvi-lo. Os discípulos tentaram transformá-lo em um “superstar”,
mandando a multidão se afastar, não permitindo que ninguém se aproximasse
dele. Até que um dia, porém, Ele os corrigiu: “E traziam-lhe meninos para que
lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam aos que lhos traziam. Jesus,
porém, vendo isto, indignou-se, e disse-lhes: Deixai vir os meninos a mim, e
não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus” (Mc 10:13-14).
“Depois, foram para Jericó. E, saindo ele de Jericó com seus discípulos e
uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado
junto do caminho, mendigando.E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a
clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim. E muitos o
repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de
Davi! tem misericórdia de mim. E Jesus, parando, disse que o chamassem; e
chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama”
(Mc 10:46-49).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 265
Ignorante é o homem que se exalta e orgulha-se de um dom que lhe foi
dado. Pois não é mérito seu, mas d’Aquele que lhe deu tal presente. A vida
ministerial de muitos pregadores foi abortada simplesmente por não
observarem este importante quesito e sentirem-se uma espécie de
Nabucodonosor. O rei de Babilônia, conta a Bíblia, se orgulhava do seu reino,
esquecendo-se que quem o dera havia sido o Senhor: “Falou o rei, dizendo:
Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do
meu poder, e para glória da minha magnificência? Ainda estava a palavra na
boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor:
Passou de ti o reino. E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será
com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão
sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo domina sobre o reino
dos homens, e o dá a quem quer. Na mesma hora se cumpriu a palavra sobre
Nabucodonosor, e foi tirado dentre os homens, e comia erva como os bois, e o
seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pêlo, como as
penas da águia, e as suas unhas como as das aves. Mas ao fim daqueles dias
eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e tornou-me a vir o
entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para
sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em
geração. E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a
sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há
quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Dn 4:30-35).
Aprendamos com João Batista a respeito do ministério da Palavra: “É
necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3:30).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 266

Capítulo 3
Conhecimento
A chamada
“E como pregarão, se não forem enviados?
como está escrito: Quão formosos os pés dos
que anunciam o evangelho de paz; dos que
trazem alegres novas de boas coisas” (Rm 10:15).
A arte da pregação se desenvolve em dois
planos: a chamada universal e a pessoal.
Uma difere da outra pelo fato de a segunda ser específica e especial. A
chamada universal para pregar a Palavra está ditada em Marcos 16:15 “E disse-
lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. Esta é uma
ordem a todos os convertidos ao cristianismo: pregar a Palavra como
testemunhas da obra vicária de Jesus Cristo na Terra em todo o tempo. Assim,
o conhecimento do pregador pode limitar-se em seu testemunho pessoal de
transformação de vida, um evangelismo pessoal etc. Já a segunda chamada,
que pode ser considerada “pessoal”, é mais abrangente e específica. Veja um
exemplo bíblico:
“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco,
subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu
uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem
és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para
ti recalcitrar contra os aguilhões. E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que
queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te
será dito o que te convém fazer. E os homens, que iam com ele, pararam
espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. E Saulo levantou-se da
terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o
conduziram a Damasco. E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu. E
havia em Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor
em visão: Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor. E disse-lhe o Senhor:
Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas por um
homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; E numa visão
ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão,
para que tornasse a ver. E respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca
deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; E aqui
tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invocam
o teu nome. Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 267
escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de
Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9:3-16).
A chamada de Paulo é um destes exemplos de vocações especiais.
Quanto a fazer acepção de pessoas, o Senhor não a faz quando se trata de
salvar! A salvação é universal, para todos. Mas, para uma obra específica,
especial, melindrosa, o Senhor tem os seus “vasos escolhidos”.
A grande pergunta do estudante deverá ser: Como saber se minha
chamada é específica? O Senhor, no seu tempo, revelará! Palavras proféticas,
desejo forte de buscar o conhecimento da Palavra, revelações, sonhos
espirituais e uma chama ardente no coração quando se está diante do púlpito
ou de um pregador, somados a uma ansiedade imensa em ministrar a Santa
Palavra, fazem parte dos “sinais” na vida daqueles que possuem uma chamada
específica.
Quando se tem certeza da vocação, a paciência caminhará ao lado da
ansiedade e ambas somarão esforços para que não haja atraso e nem
precipitação para responder a esta chamada ministerial.

A ferramenta de trabalho
A ferramenta de trabalho do pregador é a Santa Palavra, a Bíblia Sagrada.
Quanto mais tempo dedicar-se a ela, numa busca incansável e incessante de
conhecimento, melhor colocará em prática a vocação que possui. “Procura
apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15).
Manejar a Palavra significa, também, saber empregá-la no momento certo
e para a pessoa certa. A sabedoria abrirá caminho para que esta seja aplicada.
Quem lê, conhece, sabe, destaca-se. Quanto mais leitura, mais cultura. Por
isso o estudo teológico é de suma e vital importância para os obreiros do
Senhor.
Absorver o máximo de livros, apontamentos, datas, histórias, personagens,
aplicações históricas. É interessante procurar tentar compreender os
significados espirituais, traçando paralelos entre as histórias bíblicas e as
histórias atuais.
Procure saber o porquê de as histórias estarem inseridas dentro de
determinado texto e contexto. Busque junto ao Espírito Santo, fonte
inesgotável, inspiração para reger, como um maestro, o grande coro de
adoradores, para contar uma história de tal forma que nunca mais seus
ouvintes venham esquecê-la!

Sobre assuntos atuais e gerais


Atualização: esta é uma necessidade na vida de qualquer pregador, líder ou
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 268
comunicador. Conhecer “de tudo um pouco”:
política, notícias, ciências, história,
comportamento etc. Vivemos num mundo
globalizado onde as informações caminham à
velocidade da luz, e o que é notícia agora será
passado em poucos minutos. A grande maioria
dos nossos ouvintes tem hoje acesso a
informações via TV, rádio, jornais, revistas,
internet. Ter conhecimento dos
acontecimentos no mundo pode ajudar o
pregador a chamar a atenção do público, dar
uma abertura para o
começo de um sermão e até, de certa forma, descontrair as pessoas.
É possível ser moderno sem ser mundano: ouvir de tudo, ler de tudo e
reter o que convier ao cristão. O mensageiro do século 21 precisa ser muito
mais que um comunicador. A igreja hodierna é exigente: tem necessidade de
ouvir uma mensagem atualizada que vai ao encontro de suas necessidades,
que vão desde problemas com o pecado a crises emocionais, sentimentais,
financeiras etc. Quando a igreja se reúne, o pregador deve ter consciência de
que não falará a uma só pessoa, mas a centenas de vidas, cada qual com sua
necessidade – e esta igreja não pode voltar para sua casa carregando dúvidas,
desmotivada, sem vontade de retornar no outro dia.
Neste ponto, a mensagem do pregador será a “alavanca” que projetará
Cristo mais vivo na mente dos ouvintes. Citando conhecimentos gerais (como
psicologia pastoral e conhecimentos sobre relacionamentos à luz da Palavra,
somados ao contexto atual do mundo), fluirá deste pregador a unção que
restaurará vidas, convencendo seus ouvintes de que não estão ouvindo um
“aventureiro”, mas alguém que se dedica aos estudos e à oração para melhor
servi-los. Veja no texto abaixo o mestre Paulo usando seus conhecimentos
seculares concernentes a filósofos e poetas de seu tempo:
“E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns
diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de
deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição. E tomando-
o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é
essa de que falas? Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos,
pois, saber o que vem a ser isto (Pois todos os atenienses e estrangeiros
residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir
alguma novidade). E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens
atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e
vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito:
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 269

Ao Deus Desconhecido. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o


que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo
Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;
Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de
alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e
todas as coisas; e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem
sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados
e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura,
tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;
Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos
vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois,
geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao
ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens”
(At 17:18-29; grifo nosso)
Quando Paulo cita os poetas, ganha credibilidade diante daqueles que
só viviam de dizer e ouvir alguma novidade. Da mesma forma a membresia da
igreja busca ouvir novidades. Atualize-se, caso contrário terá um ministério
raquítico e limitado.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 270

Capítulo 4
Necessidades do pregador
Necessidades naturais
Aquele que almeja o episcopado tem
necessidades naturais para o desenvolvimento
do seu ministério, tais como saúde, disposição,
vontade, ânimo, coragem e conhecimento. O
conhecimento é uma das principais (como citado
no
capítulo anterior): é o seu acervo particular de literaturas, obras e hoje, com o
avanço tecnológico, um computador com acesso à internet é indispensável.
Conhecemos um pregador quando estamos diante do seu porta-livros, de sua
escrivaninha, do conteúdo posto sobre o criado mudo em seu quarto.
Conhecimento se adquire de duas formas: revelação ou dedicação. O primeiro
vem do céu, e o segundo emprega-se na terra.
Necessidades emocionais
A saúde emocional do pregador
será a diferença entre um e outro
sermão. Lembrando que a
mensagem a ser pregada estará
alienada ao emocional do
mensageiro, se ele estiver feliz,
contente, a mensagem terá este
foco; caso esteja melancólico e
O pregador deve sempre orar antes da mensagem. choroso, seu público, nesse dia,

ouvirá uma mensagem nestes mesmos moldes.


O pregador precisa estar motivado a pregar uma mensagem, crendo
que ela impactará o ouvinte. Ele deve preocupar-se na preparação de um
alimento para o povo, e o resultado virá não pela sua prédica, mas pela graça e
unção que Deus, neste dia, a ele dará. Gritos, saltos, aleluias, glórias a Deus
animam o pregador pentecostal, como os aplausos animam o artista, mas
sabemos que aleluias e glórias não são para o mensageiro, mas para Aquele
que o enviou.
O apoio da família é estimulante, mas caso a família não lhe dê o apoio
esperado, deve focar sua visão no céu e saber que seu Pai Celeste está com
ele, torcendo e inspirando-o.
O cuidado com o término da mensagem é de suma importância. Deve o
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 271
pregador estar preparado para tudo: elogios e críticas. Se o criticarem,
aprenda com seus erros; se o aplaudirem, fique com a alegria para si, mas
não se esqueça de repassar a glória para Deus.

Necessidades espirituais
Comunhão com Deus em oração e santificação. Tempo gasto na
presença de Deus não se perde: é aplicação a curto, médio e longo prazos.
A comunhão traz a sensibilidade e esta levará o pregador para dentro do
coração de Deus e, de lá, trará a mensagem para a igreja. Consagração e
jejum são armas infalíveis que neutralizarão a carne e darão força ao
espírito do pregador para que se separe de tudo o que possa bloquear sua
intimidade com Deus.
Intercessão é fundamental. Que todo pregador consiga guerreiros
para lhe darem cobertura espiritual antes e durante a pregação de seu
sermão.
A oração introdutória, na maioria das vezes, é feita por alguém que elevará
uma prece ao Senhor antes que o pregador esteja ministrando. Bom seria
que todo pregador pudesse fazer sua própria oração antes de pregar. Veja
três motivos:
a) quando o pregador ora por si, ora não apenas com os lábios, mas
com o coração, e a sinceridade de sua oração pode mover a mão de Deus
b) quando o pregador ora, pode (e deve pedir) proteção especial a
Deus para que cerque o ambiente com seus anjos, neutralizando e
maniatando os demônios que lutarão de todas as formas para que o
sermão não atinja o objetivo traçado por Deus. Os demônios estarão
usando todos os artifícios possíveis para roubar a atenção do povo e do
próprio pregador, como crianças correndo, pessoas distraídas, conversas
durante a mensagem, manifestações demoníacas (possessões malignas, o
que não é incomum em cultos pentecostais)
c) quando o pregador ora, a igreja sente em suas palavras a entrega
total e incondicional, criando entre pregador e público uma comunhão que
dará a ambos o desejo de serem abençoados durante a pregação.
Pudesse o pregador, horas antes da pregação da Palavra, isolar-se das
pessoas e aproximar-se do Senhor, não para um monólogo, mas para um
diálogo, para que ambos, pregador e Deus, subam juntos à tribuna e façam
proezas!
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 272

Capítulo 5
A Arte de Pregar
Persuasão
Persuadir, no contexto homilético, é convencer,
fazer-se entender com sucesso. Para que o sermão
tenha êxito, é necessário que o mensageiro se faça
entender. Para isso, deve estar bem preparado, saber
o que falar, como falar e quando falar. Antes de
convencer o público, o orador deve ter convencido a
si mesmo das verdades que ele irá pregar.
A segurança transmitida por meio da
mensagem trará o resultado
esperado. Para isso, a mensagem,
antes de queimar no coração do
ouvinte, deve ter queimado no
coração do pregador – ele deve,
antes de pregar ao povo, pregar a si
mesmo e autoavaliar-se.
No meio secular, não há
ninguém que tenha um poder de
persuasão tão grande quanto um
O pregador norte-americano Benny Hinn: oratória
e inspiração
bom vendedor. Para isso, ele faz
cursos, estuda o produto, planeja os argumentos e, ao vender, sabe que está
fazendo para sua própria sobrevivência. Apliquemos tal princípio ao ministério
do pregador, que precisa fazer cursos, estudar seu “produto” (isto é, o sermão,
a mensagem), planejar os argumentos e, ao pregar, saber que esta fazendo
não apenas pela sua sobrevivência, mas também pela dos ouvintes. O
mensageiro deve demonstrar paixão ao pregar, não gaguejar e não
demonstrar dúvidas sobre o que esta falando, conquistando a atenção do
público: se for assim, será uma benção.

Oratória
A arte de falar em público é, talvez, uma das mais poderosas armas
que o homem possui. Mas, todo começo é difícil. Nenhum pregador deve
basear-se em seu primeiro sermão para poder dizer como será o próximo.
Falar é uma arte e, como toda arte, pode ser aprimorada, melhorada.
Conselhos, ouvir pregadores, comunicadores e aprender com eles e espelhar-
se em alguém – isto não é errado. O que funcionou para alguém pode
funcionar para um novo pregador também...
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 273

Procurar ajuda profissional para a educação vocal é uma ótima


alternativa. A voz do orador faz muita diferença. Sabemos, é claro, que a
unção do pregador é o que realmente faz a diferença. Mas a impostação vocal
é de suma importância para aquele que quer falar em público. Quanto melhor
a impostação, mais agradável para o ouvinte, e mais atenção terá o pregador.
Deve-se evitar falar palavras de difícil compreensão para a platéia,
principalmente quando foi “copiada” de outro pregador, e jamais citar uma
palavra apenas por sua eufonia, pois é preciso conhecer seu significado e, se
possível, dar exemplos.
Jesus era um exímio orador exatamente pelo fato de usar a linguagem
acessível ao povo. Usando parábolas e histórias para incrementar, embelezar,
dar vida ao sermão. Para toda pregação feita, deve-se encontrar um
testemunho, uma história, uma parábola que nela se encaixe perfeitamente,
pois clareará a mente dos ouvintes e dará um espaço entre o raciocínio rápido
e eloquente do pregador e a próxima sentença a ser citada.

Postura
O pregador jamais deverá esquecer que é um formador de opinião,
alguém em quem as pessoas confiam e poderão espelhar-se. Não deve portar-
se como um palhaço nem tampou- co como um animador de auditório, mas
com seriedade e serenidade. Não precisa ficar armar-se de carranca ou
“mostrar os dentes”, mas ser sereno, agradável, interessante. Suas roupas
devem estar devidamente alinhadas, procurando sempre estar bem vestido.
Isso não quer dizer que precisa usar roupas caras, e sim bom gosto.
Um mínimo de observação pode fazer a diferença. Terno e gravata são a
indumentária aprovada pelo público evangélico, mas não é regra. Pode-se
vestir qualquer roupa, desde que ela represente aquele que estará
ministrando a Palavra. Imagine um advogado atuando de bermuda e camiseta
regata, ou uma juíza de Direito com blusa cavada e minissaia... Se estes que
fazem da oratória sua profissão vestem-se com respeito e à altura de seu
trabalho, que dificuldade encontrará o pregador em trajar-se à altura do
trabalho que Deus lhe confiou?
No púlpito, sua postura deve ser impecável. Cuidado ao sentar-se e
levantar-se, evitando conversas com as pessoas que estão ao seu lado, pois
na igreja ele é referência. Jamais mascar chiclete dentro da igreja ou mesmo
no púlpito. Sua postura deve ser a de um adorador, alguém que está
absorvendo a unção liberada na reunião. Adorar a Deus quando alguém esta
pregando, cantando ou testemunhando antes de sua ministração, mostrará
ao povo que, de fato, o pregador não é do tipo “faça o que digo, mas não faça
o que eu faço".
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 274

O meio pentecostal é cheio de gente que parece mais um ciborgue do


que ser humano. Enquanto todos falam, cantam e adoram, o pregador fica lá,
parado feito uma estatua, inerte. Quando toma o microfone, já o faz falando
em línguas estranhas e aos berros, pedindo que o povo faça exatamente
aquilo que ele, até aquele momento, não fez. Não sejamos profissionais do
púlpito, mas sim vocacionados do Senhor!

Fervor
Este é um curso pentecostal, portanto a matéria é voltada para
pregadores pentecostais, daí o nome Homilética Dinâmica. O pregador
pentecostal que não é fervoroso precisa rever sua fé, sua chamada, seus
conceitos e seus valores espirituais. O fervor do pregador incendiará a igreja e
moverá o coração de cada um. Tem ele o poder de colocá-la diante do Trono
de Deus para que seja renovada. Fervor, alegria, celebração e barulho fizeram,
fazem e sem- pre farão parte do culto pentecostal.
O pregador pentecostal é uma espécie de “dínamo espiritual” que
irradiará fé e contagiará a igreja com sua intimidade com Deus. Não é
vergonhoso nem desordeiro adorar a Deus com liberdade, pois essas
manifestações são marcas da igreja pentecostal no mundo. O fervor
transmitido na mensagem pentecostal pregada com prudência e cautela, sem
exageros nem repetições, agradará a Deus, ao público e ao próprio
mensageiro.
A Palavra deve ser pregada na integra: começo, meio e fim. Sem isso a
igreja não será edificada. Durante a ministração o pregador pentecostal
liberará seus jargões inflamados (frases de efeito) e somadas a ela, a adoração
quer seja com um grito de glória a Deus, ou línguas estranhas ou um salto,
não são atuações de alguém que quer apenas motivar o povo. O sensível
pregador pentecostal, quando cheio do Espírito Santo, extravasa sua alegria
com essas manifestações. Isto não escandaliza a ninguém, pelo contrário, traz
à atenção o público já convertido, incentivando-o a adorar a Deus.
Quanto ao público não convertido, ficará em sua mente a célebre
pergunta de Atos dos Apóstolos: “Que isto quer dizer?” A curiosidade não o
espantará, mas toda manifestação ocorrida no Espírito, quer sejam gritos,
pulos, línguas estranhas, os atrairá, pois são sinais. O pregador pentecostal
deve ter fervor quando outros estão pregando ou ministrando, e não quando
apenas ele está no púlpito. O povo do Senhor é sábio, pois observa e não se
engana. Então, aja durante a ministração de outra pessoa como gostaria que
outros agissem quando você estivesse pregando.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 275

Expressão corporal
A ala mais conservadora da igreja
cristã acha exagero quando pregadores se
expressam corporalmente, com saltos,
pulos, gesticulações com as mãos etc. nos
cultos pentecostais. Na verdade o
pregador pentecostal “comunica-se”
usando, também, uma linguagem corporal.
Em idos tempos, o cinema mudo
conseguia transmitir suas mensagens,
ideia e “palavras” apenas por meio de
gestos e expressões corporais. Charles
Chaplin foi um gênio que, através da arte A expressão corporal é importante no
de interpretar e atuar, encantou platéias pregador
do mundo todo sem dizer uma única
palavra.
A gesticulação pode dar uma conotação de exortação, explicação etc.
Por exemplo: as mãos sobre a cabeça significam proteção, busca da memória,
reconhecimento de que algo saiu errado; mãos sob o queixo demonstram
pensamento, espera; erguidas e abertas, significam adoração ao Senhor;
punhos fechados e erguidos, uma guerra travada e certeza de vitória;
aplausos, adoração ao Senhor e reconhecimento de uma palavra ungida e
inteligente. Saltos e pulos, mesmo que pareçam extravagantes, exemplificam
que o “vaso” está transbordando etc. Pregar é atuar, é transformar um texto
antigo em histórias interessantes, em poemas emotivos, em palavras de
reflexão...
Há um assunto que provoca discórdia: o microfone deve ou não ser
tirado do pedestal? Se o pregador permanecer parado no lugar onde está
ministrando, deverá ter muito carisma e uma mensagem interessante para
não perder a atenção do povo, pois a pregação pode tornar-se monótona.
Quando o microfone está nas mãos de um pregador que se movimenta e
gesticula (sem excessos nem exageros, claro), prenderá a atenção dos
ouvintes, que serão conduzidos com autoridade até o Trono de Deus.
Tudo feito com respeito, ordem, sem exageros; resumindo, num muito
formalismo, sem muita extravagância, pois tudo o que é demais, sobra, lembra
um dito popular. Equilíbrio: graça e conhecimento juntos. É possível ser
intelectual e, ao mesmo tempo, cheio do Espírito Santo. Temos um exemplo
bíblico assim: Paulo aprendeu aos pés de Gamaliel: possuía um intelecto
privilegiado, mas quando falava no Areópago, explanava com sabedoria e,
certamente, usava a linguagem corporal para prender a atenção dos ouvintes
e afirmar as grandes verdades de Deus.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 276

Expressão facial
Quando está ministrando, a face do pregador brilha, seus olhos
resplandecem um fogo invisível, suas palavras são como flechas certeiras que
não matam, mas que dão vida. A fisionomia expressa tanto quanto as palavras
e a linguagem corporal. Assim como diante dos mais íntimos somos capazes
de discernir seu temperamento, se estão alegres ou tristes, eufóricos ou
desmotivados, o rosto do pregador deve acompanhar sua pregação!
O sorriso do pregador conquistará e influenciará seu público. É fato
comprovado: sorria para uma pessoa e ela ficará contagiada.
O semblante fechado do pregador deixará a platéia ansiosa e a fará
prender a respiração, pois saberá que, pela face do pregador, aquele é um
momento sério, em que uma verdade será transmitida.
Momento de silêncio, acompanhado de um olhar sereno e profundo, dará
ao público a ideia de que é hora de meditar.
Se, por um momento, a mensagem exigir reflexão profunda, o pregador,
parado diante do público, em silêncio e de olhos fechados, levará a platéia
a acompanhá-lo por um momento em profunda adoração.
Lembrando que o pregador-comunicador é também um intérprete, em
certos momentos a mensagem exigirá uma atuação. Colocar-se no lugar do
protagonista ou antagonista do texto lido, como se estivesse vivendo aquele
momento bíblico, é importante para que o povo entenda o que ocorreu.
Mesmo que haja choro, alegria, palavra profética ou um milagre, cabe ao
pregador, na unção de Deus, colocar-se por um momento no lugar do
personagem e agir como ele, talvez até imitando-o.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 277

Capítulo 6
A mensagem
Uma história contada
A pregação da palavra de Deus é uma
obrigação para todos os cristãos: “E disse-lhes: Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
criatura” (Mc 16:15). Anunciar Cristo ou pregar o
Evangelho nada mais é do que narrar uma história
antiga aos ouvidos daqueles que necessitam
conhecer a salvação. Pregar a Palavra para uma
igreja é contar a mesma história com outro
objetivo. O pregador é um contador de
histórias que, quando consegue contá-
las carregadas de emoção e verdade,
leva o ouvinte a uma viagem ao tempo
anunciado e promove uma
compreensão objetiva ao aplicar a
interpretação da história.

Uma história interpretada


Para interpretar uma história,
contextualizá-la e fazer sua aplicação,
há um caminho a percorrer. Para isso, o
estudante da Palavra deverá usar uma
outra matéria paralela à Homilética
Dinâmica, chamada Hermenêutica, que
é a arte de interpretar os textos. Paulo fala em Éfeso: mensagem poderosa

Um monólogo
É uma das maneiras mais usadas pelos pregadores. Somente ele fala, sem
o auxílio do público, sem a interação com a platéia.

Um diálogo
Quando o pregador prega e pede que, de forma responsiva, a plateia
trabalhe com ele o seu sermão, movimentando o ambiente, pedindo que um
ouvinte fale, toque, peça algo ao outro, questionando a platéia e solicitando
insistentemente a resposta. Este tipo de mensagem tende a ser mais
apreciada, pois ninguém fica inerte na reunião. Mas, para isso, é necessário
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 278

experiência e psicologia por parte do pregador, ou seja, em outras palavras, o


pregador precisa conhecer seu público, observá-lo no decorrer da ministração
do culto, descobrindo se poderá ou não haver uma abertura, uma comunhão
entre eles.

Um drama
A Bíblia é um livro extremamente emocionante e muito, muito dramático.
Narrar um drama bíblico exige conhecimento, estudo, disciplina, coragem e
sensibilidade. Não há melhor mensagem do que esta para tocar corações e
fazê-los se render a Cristo.

O efeito
O efeito esperado pelo pregador, no final do sermão, pode não ser
alcançado, algumas vezes. Para isso, o equilíbrio emocional do pregador, bem
como a consciência de que pregou aquilo que o Senhor queria, deverá trazer
alegria ao seu coração. Afinal, é bíblico: a Palavra pregada não tornará vazia, ou
seja, ela alcançará alguém: “Assim será a minha palavra, que sair da minha
boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará
naquilo para que a enviei” (Is 55:11).
A partir deste conceito, não haverá frustração caso não haja salvação de
almas, atendimento ao chamado para o altar, fervor espiritual manifestado
(adoração ou aplausos). Tampouco pode-se ter orgulho por acontecer o que
se esperava ou infinitamente mais do que almejava. O pregador deve estar
preparado para repassar ao Senhor a gratidão pela oportunidade de ter
pregado e a glória pelos méritos alcançados, pois deve saber que não foi ele,
mas o Senhor quem falou.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 279

Capítulo 7
O pregador
O Homem e sua vocação
Embora não pareça, o pregador é um homem comum. Não natural,
mas comum: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de
Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de
ninguém é discernido” (2 Co 2:14-15).
Paulo diz que só os espirituais
discernem as coisas do Espírito. O
trabalho do pregador é espiritual,
portanto, apesar de comum, não é
natural. Como é feito da mesma matéria
que os demais – carne, ossos, células, etc.
–, não é um semideus, super-homem,
mas alguém como Elias, sujeito às
mesmas paixões dos reles mortais: “Elias
A vocação do pregador é diferente da do
era homem sujeito às mesmas paixões
homem natural que nós e, orando, pediu que não
chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra” (Tg 5:17).
O equilíbrio do pregoeiro deve ser seu alicerce, sabendo separar a
vocação da vida cotidiana. Não significa que deve ter uma vida dupla, mas sim
que deve sempre lembrar que é como todos os demais seres humanos, sujeito a
falhas. Isso o livrará da “síndrome” de Lúcifer, de Nabucodonosor ou dos Césares
romanos, que pensavam ser uma espécie de “deuses”.
Não há dúvida de que o pregador é um ser especial, mas pela sua
vocação. Afinal, foi escolhido pelo Senhor dos senhores para ser seu porta-voz
na terra.
Fora do púlpito, precisa ser um bom pai, bom esposo e exemplo de fé.
Aprendamos melhor com o conselho de Timóteo: “Esta é uma palavra fiel: se
alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo
seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto,
hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não
cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;
Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a
modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado
da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 280
condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que
estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo. Da mesma
sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito
vinho, não cobiçosos de torpe ganância; Guardando o mistério da fé numa
consciência pura. E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se
forem irrepreensíveis. Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não
maldizentes, sóbrias e fieis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma só
mulher, e governem bem a seus filhos e suas próprias casas. Porque os que
servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita
confiança na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 1:13).
Eis aí conselhos a serem seguidos como bússola para um abençoado e
prodigioso ministério. Timóteo admoesta bispos (pastores, pregadores) e
diáconos (oficiais da igreja, pregadores), lembrando que um dos mais
poderosos sermões da Bíblia, causa de um dos primeiros mártires, foi
pronunciado por um diácono, Estevão:
“Ora naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma
murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram
desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos
discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e
sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa
reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos
sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no
ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram
Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor,
e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; E os apresentaram
ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. E crescia a
palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos
discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé. E Estêvão, cheio de fé
e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. E levantaram-se
alguns que eram da sinagoga chamada dos libertinos, e dos cireneus e dos
alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. E
não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava. Então
subornaram uns homens, para que dissessem: Ouvimos-lhe proferir palavras
blasfemas contra Moisés e contra Deus. E excitaram o povo, os anciãos e os
escribas; e, investindo contra ele, o arrebataram e o levaram ao conselho. E
apresentaram falsas testemunhas, que diziam: Este homem não cessa de
proferir palavras blasfemas contra este santo lugar e a lei” (At 6:1-13).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 281

Outro exemplo de um diácono que se destacou como pregador foi


Felipe:
“E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o
lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está
deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco,
mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente
de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração,
Regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito
a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia
o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei
entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele
se assentasse. E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a
ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o
tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu
julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da
terra. E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o
profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca,
e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus. E, indo eles
caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui
água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de
todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho
de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe
como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor
arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu
caminho. E Filipe se achou em Azoto e, indo passando, anunciava o
evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesaréia” (At 8:26-40).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 282

Capítulo 8
O grande dia
Do que depende a mensagem

Da vontade de Deus: O que Ele quer falar


A certeza da vocação, a seriedade do
ministério e a explosão de confiança que
envolve o pregador darão a ele subsídios
psicológicos para que pregue sem medo. O
centro da vontade de Deus é o lugar mais
seguro onde um pregador pode estar. Seu
porto seguro é a Palavra que está em suas mãos e, com certeza, já está
intrínseca em seu coração. A palavra a ser pregada depende da vontade de
Deus, ou seja, do que Deus quer que a igreja ouça:
“E disse-me: Filho do homem,
põe-te em pé, e falarei contigo.
Então entrou em mim o Espírito,
quando ele falava comigo, e me pôs
em pé, e ouvi o que me falava. E
disse-me: Filho do homem, eu te
envio aos filhos de Israel, às nações
rebeldes que se rebelaram contra
mim; eles e seus pais transgrediram
O pregador precisa falar o que Deus quer,
contra mim até este mesmo dia. E pois a Palavra é Dele
os filhos são de semblante duro, e obstinados de coração; eu te envio a eles,
e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus. E eles, quer ouçam quer deixem de
ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber, contudo, que esteve no
meio deles um profeta. E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as
suas palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites
entre escorpiões, não temas as suas palavras, nem te assustes com os seus
semblantes, porque são casa rebelde. Mas tu lhes dirás as minhas palavras,
quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes. Mas tu, ó filho do
homem, ouve o que eu te falo, não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a
tua boca, e come o que eu te dou” (Ez 2:1-8).
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 283

“O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha
palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o
Senhor” (Jr 23:28).
“Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar,
administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja
glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o
sempre. Amém” (1 Pe 4:11).

Do estado emocional do pregador


A saúde emocional do pregador dará a diretriz da mensagem a ser
anunciada. Se ele estiver alegre, sua mensagem transmitirá tal sentimento ao
povo. Se estiver melancólico, sua mensagem seguirá seu coração e o povo
receberá a mensagem desta forma. Se houver acabado de sofrer um ataque
espiritual, a Palavra será de guerra. O Senhor usa os revezes, as circunstâncias
diárias para moldar o espírito do pregador e, conseqüentemente, seu estilo de
mensagem para o dia preparado.
O pregador deve ter a sensibilidade de saber que tudo o que acontece
antecipando o momento da pregação envolve uma trama cósmica, demônios e
anjos batalhando. O resultado de uma vida sensível a Deus elevará a sabedoria
do pregador, e a igreja que o ouvirá será abençoada e enriquecida!

A ansiedade
A ansiedade pode ser amiga ou vilã do pregador pois, na verdade, é ela que
move o coração dos ouvintes e do pregoeiro. Todos no mesmo lugar estarão
ansiosos, uns para ouvir e outro para falar e sobre o que falar.
O “friozinho” no estômago pode demonstrar tanto dependência divina
como despreparo – por isso, vilã ou amiga. Se for dependência, fluirá com
muita unção a mensagem, mas se for por despreparo, pode arruinar a
mensagem. Por isso, a preparação é indispensável: saber o que falar, como
falar e quando falar dará a segurança necessária para o sucesso do sermão.

O resultado
O resultado do sermão nem sempre será o esperado ou sonhado pelo
pregador, mas com certeza será o que o Senhor gostaria que ocorresse. Claro
que, se o pregador se dedicou ao sermão, buscou a presença e a inspiração
divina. A Palavra jamais voltará vazia: embora seja elaborada pelo homem, não
é do homem, pois vem do céu.
A glória será sempre do Senhor, mas a alegria é a recompensa do pregador.
Ao ver seu talento surtir um efeito poderoso, santo e ungido na vida da igreja
que, com certeza, voltará para casa com vontade de retornar ao próximo culto.
Instituto Teológico Carisma Homilética Dinâmica: A Arte de Pregar 284

“Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a
preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria,
trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126:5,6).
O Lar Cristão
(A família cristã
à luz Bíblia)

“Não tendes lido que aquele que os fez no princípio


macho e fêmea os fez,E disse: Portanto, deixará o
homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois
numa só carne?Assim não são mais dois, mas uma só
carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o
homem.” (Mateus 19:4-6)
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 286

Capítulo 1
A união sagrada
O homem foi a única criatura de Deus, que no princípio, vivia sozinho
no Jardim do Éden. Todos os animais foram criados aos pares, macho e fêmea,
mas o homem, não. Sozinho, o ser humano foi criado à imagem de Deus (“E
disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre
os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta
sobre a terra.” – Gn 1.26), e foi feito alma vivente destinado a viver
eternamente (“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe
nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.” - Gn 2.7).
Uma simples parceira seria
incapaz de suprir as necessidades
emocionais e sociais do homem.
Assim, Deus proveu no sentido de
que eles fossem mais do que
parceiros: fossem companheiros. A
lição mais significativa do primeiro
matrimônio é a unidade singela do
plano de Deus para a raça humana.
Por exemplo: Deus podia ter formado “Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo”
Eva do pó da terra, assim como fez (Ef 5:28)

com Adão. O plano divino, porém, era proporcionar um relacionamento mais


íntimo entre essas duas criaturas. Assim, Deus formou Eva de uma parte
daquele que seria seu marido e companheiro (“Assim devem os maridos amar
a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua
mulher, ama-se a si mesmo. Pois nunca ninguém aborreceu a sua própria
carne, antes a nutre e preza, como também Cristo à igreja” (Ef 5.28,29).
Ao se unirem matrimonialmente, foram feitos uma só carne (“Portanto
deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só
carne.” - Gn 2.24). Isso indica que os laços de parentesco entre o homem e sua
mulher, em certo sentido, são mais estreitos que aqueles que unem pais e filhos.
Por esta razão, o homem, ao casar por amor, deixa o convívio de seus pais e
apega-se, liga-se, junta-se àquela que escolheu como esposa e companheira. Nas
palavras de Gênesis 2.24, temos a base para o ensino de que o casamento é
divinamente instituído e não de origem puramente humana, ou resultado da
propalada evolução do homem.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 287
Apesar de ser uma instituição divina, tendo como base as Escrituras
Sagradas, o matrimônio não chega a ser um sacramento, como dogmatiza a
igreja católica. De acordo com a lei de Deus, em Gênesis, e reafirmada por
Jesus Cristo em Mateus 19.4-6, o casamento é um acordo entre um homem e
uma mulher, efetuado segundo a lei civil do país, até que a morte os separe.
“Não tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher, e
que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe
o homem” (Mt 19:4- 6).
O que é indicado pelos textos das Escrituras é que, socialmente, Deus
criou o homem e a mulher e destinou-os para o casamento. Portanto, a
relevância que o matrimônio tem no contexto geral da Bíblia deve levar os
nossos jovens, aptos para o casamento, a nunca fazerem desse ato sagrado
um assunto de interesse unicamente seu e, sobretudo, buscar a indispensável
orientação divina quando tiverem de pô-lo em consecução.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 288

Capítulo 2
Noivado e Casamento

O casamento é mais do que uma união de


corpos – é uma comunhão plena de duas pessoas.
O princípio da amizade e do namoro antes do
casamento está firmemente baseado na
necessidade psicológica de testar as possibilidades
de adaptação e harmonia entre o
homem e mulher.

Noivado
O namoro e o noivado precedem
o casamento e baseiam-se em
costumes que variam de um país para
outro. O noivado pode ser anunciado
em cerimônia pública ou numa simples
troca de alianças, em particular. Pode
ser, também, a colocação de um
diamante no dedo da namorada pelo
homem que a escolheu. Qualquer
costume que esteja de acordo com o
padrão de Deus e a cultura do país é
aceitável (“Portanto, quer comais quer Durante o noivado, o casal deve se conhecer
bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” - I Co
10.31).
Durante o período de noivado, o futuro casal geralmente passa longo
tempo junto, trocando ideias, visando um melhor conhecimento mútuo. O
noivo e sua noiva planejam suas vidas e começam a comprar as coisas que
acham necessárias ao seu futuro lar. Há certos costumes que, às vezes,
induzem os noivos a acumularem dívidas antes do casamento. A começar pela
compra de alianças, móveis, casa e até mesmo para as festividades do
casamento – muitos fazem tudo além de seu poder aquisitivo. É óbvio que há
necessidade da escolha de um lugar para morarem, uma vez casados e, se
possível, fora da casa dos respectivos pais “Portanto deixará o homem a seu
pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne.” - Gn 2:24).
Contudo, é necessário que haja bom senso quanto às providencias que serão
tomadas neste sentido. Desse modo, o cristão, mais do que qualquer outra
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 289
pessoa, não deve preocupar-se por acompanhar a moda ou ser escravo dos
costumes ditados por Paris ou Nova Iorque em detrimento das suas posses
financeiras.
A conduta durante o noivado deve ser controlada e dirigida pelos
padrões bíblicos, em primeiro lugar, e pela igreja, secundariamente. O casal
deve vencer a natural atração carnal à medida que se fazem mais íntimos. Para
vencer toda tentação nesta área, é preciso cautela e, mais uma, vez bom
senso e temor a Deus. O comportamento de ambos deve estar à altura de
impedir críticas à sua pureza e também contra a igreja da qual são membros. É
bom lembrar que Jacó trabalhou sete anos para ganhar Raquel, e Deus o
ajudou (“E olhando, viu ali um poço no campo, e três rebanhos de ovelhas
deitadas junto dele; pois desse poço se dava de beber aos rebanhos; e havia
uma grande pedra sobre a boca do poço.” – Gn 29.2).

Casamento
Para estarem habilitados civilmente para o matrimônio, os noivos devem
estar munidos dos documentos civis exigidos pela lei. Indispensavelmente,
devem possuir certidão de nascimento, documento exigido pelo cartório. Os
noivos devem lembrar-se que, para seu matrimônio ter validade legal,
necessário se faz que satisfaçam às exigências da lei, também fazendo-se
acompanhar de testemunhas idôneas. Em decorrência dessas observâncias, o
homem dá à esposa e, no futuro, aos próprios filhos, o seu nome e assegura-
lhes a proteção sob as leis do país.
É bom lembrar que todas essas exigências civis devem ser cumpridas
antes da cerimônia religiosa. Nesta ocasião, os noivos fazem, publicamente,
votos entre si, perante as pessoas amigas. Prometem amar, honrar, proteger
e ser fieis mutuamente até que a morte os separe. Estes votos deverão ser
proferidos perante um ministro ordenado que, após ouvi-los e declarar aos
noivos suas responsabilidades mútuas, declara-os marido e mulher, rogando
as bençãos de Deus sobre o novo par.
A cerimônia perante a igreja indica que o casamento foi divinamente
instituído e que os cônjuges buscaram a ajuda e orientação de Deus para suas
vidas e o estabelecimento do seu lar perante um ministro de Deus.

Planejamento do casamento
O planejamento do casamento é necessário por várias razões. Os noivos
devem ter idade suficiente para assumir as responsabilidades do matrimônio.
Devem ter em mente que casamento não é brincadeira de criança. A família
contemporânea prima pelo modelo conjugal, isto é, em que marido e mulher
são responsáveis igualitariamente pelo lar. A visão de que à mulher cabe a
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 290
condução do lar, preparação das refeições e primazia na educação dos filhos,
enquanto o homem deve cuidar do sustento da família, é considerada antiga.
Hoje, 40% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres, e cada vez mais
o sucesso da profissionalização feminina amplia sua importância no cenário
econômico nacional e, claro, familiar.
O marido deve ter um emprego ou outro meio de vida assegurado,
saber trabalhar e estar disposto a sustentar esposa e filhos. A mulher deve
saber cuidar da casa e do lar, ser prestimosa, saber cozinhar bem e estar
devidamente preparada para criar os filhos na doutrina e disciplina do Senhor.
O modelo assim descrito, claro, ainda vige em muitos lares, mas são cada vez
mais minoria, pois a visão de que marido e mulher são co-responsáveis pelo
lar e pelos filhos, incluindo aí educação formal e religiosa, grassa na sociedade.
É de bom alvitre que antes do casamento os noivos sejam devidamente
orientados por um conselheiro qualificado em aconselhamento pré-nupcial
quanto aos diversos aspectos da vida a dois. Prática comum há alguns anos, a
consulta médica para verificação das condições físicas de ambos é apontada
como parte de um bom preparo.
Juntos, noivo e noiva devem abordar e esclarecer suas idéias sobre
vários aspectos, como religião, finanças, filhos, amigos, interesses e
comportamento. Devem adquirir e ler bons livros, apropriados à preparação
de si mesmos e do futuro lar. Esclarecimentos sobre determinados assuntos,
antes do casamento, podem evitar possíveis transtornos no futuro, muitos
dos quais com consequências desastrosas.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 291

Capítulo 3
O início do lar
O lar é de muito maior significado
do que qualquer outra organização ou
sociedade humana. É a unidade básica da
vida humana, instituída por Deus como
meio de propagação da raça humana. O
primeiro lar foi estabelecido no Jardim do
Éden com a criação de Adão e Eva nos
primórdios da história da humanidade. Pela
singularidade do lar dentro do plano de
Deus, temor de vê-lo e considera-lo como
Ele. Qualquer desvio do plano divino quanto ao lar significa total inversão dos
valores do casamento.
O grande valor do lar pode ser visto pelo papel de influência que ele
exerce sobre a vida da criança. O que a criança aprende ou deixar de aprender
no lar terá marcante reflexo na sua vida no futuro. Um lar feliz não pode ser
adquirido em troca de ouro nem se forma da noite para o dia. Ele é o resultado
legítimo da comunhão entre um homem e uma mulher, envolvendo as vidas
daquelas crianças que porventura nasçam como resultado dessa união. Desse
modo, o lar é a soma do amor, da tolerância e da compreensão mútua entre
todos aqueles que compõem a família.
Ao longo desta lição, será abordada
a diferença entre um lar formado por
pessoas naturais e um lar onde Jesus
Cristo é o hospede divino. Mostraremos os
alicerces sobre a necessidade da
comunicação livre entre todos os
integrantes do lar. Para termos o lar como
Deus planejou, devemos apegar-nos à
Bíblia, adotando-a como o único “manual
de conduta da família”. Aceitando-a como
tal, teremos a possibilidade de evidenciar
os diferentes aspectos do fruto do Espírito,
não só no nosso relacionamento com os
nossos entes queridos, mas também com O casal deve planejar a vida após o
os demais membros da nossa comunidade. casamento
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 292
A importância do lar
A antropóloga Margaret Mead, uma das mais importantes do mundo,
afirmou: “Achamos uma forma de unidade que chamamos ‘lar’ em todas as
sociedades conhecidas no mundo”. A partir deste resumo, pode-se indagar:
qual a importância do lar cristão?

1. Importância para a nação


Bons lares formam o alicerce para uma nação forte e vigorosa. O lar foi
a primeira sociedade organizada no mundo, e só depois surgiram escolas,
igrejas, tribos, aldeias, cidades e nações. Annie Creesman escreveu que “um lar
pode ser comparado a um pequeno governo: o pai é o presidente, a mãe a
vice-presidente. Eles se ajuntam mutuamente na administração do lar, criam
leis justas para que as crianças possam ter um lugar para viverem sossegadas.
Estas leis ensinam os filhos a serem ordenados e obedientes. Se as crianças
adquirem o hábito da obediência no lar, obedecerão também a seus pastores,
professores e autoridades as mais diversas de sua pátria.”

2. Importância para a sociedade


A sociedade depende do lar para sua existência. O lar produz os
membros que compõem a sociedade e que a mantêm viva, geração após
geração. Um lar devidamente estruturado provê o treinamento necessário às
crianças para que sejam úteis à sociedade. O treinamento que os filhos
tiverem no lar há de determinar o tipo de pessoas que serão no seio da
comunidade. Desse modo, o lar fundamentado no bem e na verdade ajudará a
desenvolver bons hábitos, senso de obrigação, amor, lealdade e respeito para
com os outros.

3. Importância para a criança


O lar é de extrema importância para a criança, pois molda seu caráter
e sua perspectiva de vida. Apesar dos problemas e desapontamentos que
enfrenta no mundo, é bom saber que sempre pode voltar para um lar seguro.
Ali ela é bem-vinda. Seus pais a entendem, amam e tomam conta dela. É o seu
lugar. Um lar feliz, não importa se numa choupana ou numa mansão, confere à
criança o senso de segurança necessário para ajudá-la a desenvolver sua
personalidade.
Cada criança precisa de amor, do cuidado e da felicidade que só um lar
cristão e bom pode oferecer. Assim como a alimentação é importante à sua
saúde física e desenvolvimento, de igual modo o amor dos pais, irmãos e
demais parentes é sumamente importante para a sua saúde e felicidade
permanente. Os pais devem se preocupar em ensinar a seus filhos não apenas
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 293
por palavras, mas também com as ações.
É muito comum lermos na Bíblia, palavras como as que se seguem: “Andou
em todos os pecados que seu pai havia cometido antes dele; e seu coração não
foi perfeito para com o Senhor seu Deus. (...) Fez o que, era mau perante o
Senhor, e andou nos caminhos de seu pai, e no seu pecado com que seu pai fizera
pecar a Israel” – I Rs 15.3 e 26.
Se o lar for bom, geralmente as crianças serão boas; enquanto se o lar
for mal-estruturado e cheio de vícios, geralmente as crianças serão levadas à
desobediência, à desonestidade e, posteriormente, à delinquência. Entretanto,
isso não é regra, pois há diversos casos de lares em que existe amor,
compreensão e disciplina, mas os filhos, quando fora de casa, tornam-se
exatamente o oposto daquilo que aprenderam.

4. Importância para os cônjuges


Uma das mais belas provisões divinas ao ser humano foi o lar, onde
marido e mulher podem repartir alegrias, tristezas, afazeres, lazer, problemas e
sucessos. As experiências adquiridas no lar não são apenas fruto de paciência,
entendimento e consideração mútua, mas ensinam sobre estas coisas também.
O lar se apresenta como escape e refúgio das tensões e dos problemas que o
marido e mulher enfrentam no dia a dia. O amor e a paz, oriundos da presença de
Deus no lar, podem fortalecer e revigorar tanto o marido como a esposa,
levando-os ao sucesso no desempenho de suas funções do cotidiano. Isto é o
que Deus deseja que o nosso lar seja para nós e para os nossos filhos.
Finanças e orçamento doméstico
Conflitos oriundos do fator “dinheiro” são mais que evidentes na lista
dos problemas que muitas vezes envolvem o casamento. Muitos casamentos
simplesmente não resistem à queda no padrão de vida ou no poder de compra,
pois não são alicerçados no amor, tendo o plano divino como direção. Para evitar
problemas nesta área, o momento certo de se resolver como o salário será
controlado, administrado e gasto, é durante o noivado ou logo no início do
casamento. Ninguém consegue todo o dinheiro que deseja; no entanto, muitos
pensam que, se tivessem mais dinheiro, todos os problemas da vida seriam
solucionados.

Problemas na administração do dinheiro


Estudando a administração do dinheiro é que descobrimos algumas
razões responsáveis por graves dificuldades nesta área. A falta de sábia
administração ou de orçamentos mensais é, talvez, a primeira fonte de
problemas financeiros no casamento.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 294
Seja qual for a quantia mensal que a família receba, se esta for gasta sem
controle, provocará problemas, acarretando, inclusive, instabilidade do lar. Se
o jovem marido ganha salário mínimo, cabe à esposa ajudar a aplicar esse
dinheiro naquilo que é prioritário – ou, apesar dos problemas de colocação
profissional, ter um emprego para fortalecer as finanças.
Aliás, atualmente, é raro um lar contemporâneo em que apenas o
homem é o provedor do sustento. Mas, caso contrário, a esposa não deve
fazer exigências irracionais só porque é casada com ele. Não deve murmurar e
nem criticar o marido pelo fato de o salário não ser suficiente para comprar
tudo quanto deseja. Em atitude de compreensão, ela, que antes do casamento
já tinha conhecimento do poder aquisitivo do marido, deve ser
necessariamente sábia para administrar o seu lar.

A responsabilidade do marido
Por outro lado, o marido deve reconhecer que é responsável pelas
provisões indispensáveis ao sustento da sua esposa e dos seus filhos (“Mas, se
alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a
fé, e é pior que um incrédulo.” - I Tm 5.8). Apesar de Deus ter dado ao homem
capacidade de trabalhar e ganhar o seu pão através das riquezas do mundo,
muitos não têm aproveitado daquilo que Deus lhes destinou como sustento.
“Quanto ao homem, a quem Deus conferiu riqueza e bens, e lhe deu poder
para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho: isto é dom
de Deus” (Ec 5.19). Cada situação deve ser analisada e resolvida conforme as
suas possibilidades e limitações. O importante é que o marido e a mulher
tenham sempre em lembrança: a Bíblia é o manual da família, e o meio que
Deus usa para dirimir as dúvidas do casal.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 295

Capítulo 4
Deveres de manutenção e
governo da família
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e
especialmente dos de sua própria casa, tem
negado a fé, e é pior do que o descrente” – I Tm
5.8

Manutenção da família
É plano de Deus que o marido trabalhe para
prover as necessidades da sua família. Como
cabeça da família, a ele cabe a responsabilidade de
alimentar, vestir e educar os filhos. O homem foi
provido de ombros mais fortes, o que
naturalmente lhe dá condições de corresponder
ao trabalho árduo e à preocupação de trabalhar e adquirir os bens materiais
necessários ao sustento da sua família. Um sintoma do colapso moral da
família em nossa geração é a facilidade com que muitos maridos passam esta
responsabilidade à esposa: não querem trabalhar e, sim, viver à custa da
mulher. Tal fato prova um grande desvio do padrão divino, sendo seus efeitos
altamente prejudiciais à vida familiar.

Governo da família
A Bíblia ensina que o marido foi
destinado por Deus para ocupar a posição
de autoridade e governo no casamento
(“porque o marido é a cabeça da mulher,
como também Cristo é a cabeça da igreja,
sendo ele próprio o Salvador do corpo.” - EF
5.23). O que é chefia ou autoridade, no
contexto do casamento? Antes de
responder, veja:

1. O que autoridade não é


a) Não é ditadura: muitos homens
O homem deve exercer sua autoridade
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 296
interpretam erradamente Efésios 5.23 para justificar atitudes e
comportamento autoritário no casamento. Gritam, mandam, exigem
obediência com tamanha imposição que gera medo (e não amor) na esposa e
nos filhos.
b) Não é garantia de respeito automático: é verdade que foi Deus quem
determinou que o marido tivesse autoridade no lar. Exercê-la, entretanto,
requer sabedoria, ou a família lhe negará o devido respeito. Respeito gera
respeito. Porém, lembra a escritora Ester Gouveia: “A mulher precisa ter
cuidado para que uma submissão cega não prejudique sua família e sua
própria vida.”
c) Não é individualismo: autoridade não quer dizer que o marido tem de
tomar todas as suas decisões sozinho. Embora chefia envolva autoridade, isto
não implica que a esposa deva ser alijada das decisões, sob a alegação de que
é incapaz de decidir ou de influenciar o marido.

2. O que é autoridade
a) É responsabilidade: ser o cabeça da mulher é mais do que uma questão
de simples autoridade: é uma questão de responsabilidade. Uma vez que Deus
criou Eva para ser ajudadora de Adão, este, como “cabeça” da família, é
responsável perante Deus. Ele tem de cuidar de sua família e um dia
apresentá-la a Deus.
b) É liderança: uma liderança requerida em todos os momentos da vida
conjugal. É claro que o marido precisa ser comedido ao exercê-la, não se
tornando irritado, mas evidenciando humildade e constante submissão a
Jesus Cristo, o Senhor da sua vida e do seu lar.
c) É exemplo: a autoridade está baseada num paradoxo: “Se alguém quer
ser o primeiro, será o último e servo de todos” – Mc 9.35. Jesus mostrou este
princípio lavando os pés dos discípulos. É um ato que tipifica o modo certo de
exercer autoridade, isto é, ela não se fundamenta em orgulho, prepotência ou
autoconfiança, mas em humildade. A autoridade do marido sobre a sua esposa
e filhos é espiritual e conferida por Deus.

A esposa como auxiliadora


A escritora Elizabeth Elliot, cujo marido, o missionário Jim Elliot, foi
morto por índios no Equador, em 1956, é uma das mais capazes articulistas
evangélicas, e escreveu: “Nós somos criadas para sermos mulheres. O fato de
eu ser mulher não me faz ser um tipo de cristão diferente, mas o fato de eu
ser uma cristã me faz uma mulher diferente. Eu aceito o que Deus tinha em
mente para mim quando ele me criou. Minha vida inteira é uma oferta a Deus
– tudo o que sou, e tudo o que ele quer que eu seja.”
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 297
Um propósito específico
Elizabeth Elliot tem forte convicção de que a mulher foi criada por Deus
e designada para, dentro da Sua vontade, cumprir um propósito específico.
Ninguém fará uso acertado de coisa alguma se não souber para que fim tal
coisa foi criada ou qual o seu propósito. Este reconhecimento é importante,
seja com respeito a coisas inativas, como um alfinete, ou a criação de um ser
humano, como Eva, a primeira mulher.

Ser mulher, motivo de alegria


Deve se constituir em razão de sobeja satisfação a mulher aceitar o
fato de que ela é realmente diferente – uma mulher, o primeiro ser criado com
o propósito de completar afetuosamente alguém (“...nem foi o homem criado
por causa da mulher, mas sim, a mulher por causa do homem.” - I Co 11.9).
Seguindo o relato da criação, lemos Deus criando todos os animais e, por fim,
o homem – Adão. Então Deus trouxe os animais a Adão para ver como este
lhes chamaria (“Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais o
campo e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes
chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi o seu
nome.” - Gn 2.19). Naturalmente ele desempenhou sua responsabilidade com
relativa satisfação, mas no seu íntimo havia um vazio, faltava-lhe “alguém” em
que encontrasse satisfação pessoal. Assim, após ter visto Deus que tudo
quanto fizera era muito bom, uma coisa sabia não ser bom: que o homem
estivesse só. Deus poderia ter formado um outro homem, entretanto, ele
sabia que a Adão era necessário mais do que a amizade de um amigo, ou o
companheirismo dos animais. Adão precisava de uma auxiliadora
especificamente designada e preparada para tal responsabilidade. Assim, Deus
criou a mulher e deu-a a Adão como uma “auxiliadora que lhe fosse idônea” –
(“Então disse o homem: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha
carne; ela será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.” - Gn 2.23).

Auxiliadora em quê?
O papel da mulher junto ao marido e ao lar é de fundamental
importância. Dentre os muitos pontos que salientam o papel da esposa como
auxiliadora do seu marido, podemos destacar os seguintes:
1. Auxiliadora no sentido afetivo: isso a faz mulher de um só homem, o
seu marido. Assim, entrega-se a ele com amor e inteireza de coração.
2. Auxiliadora no sentido social: deste modo, ela contribui no sentido de
conservar a imagem de seu marido como homem de bem diante da igreja e da
sociedade, das quais são partes inseparáveis.
3. Auxiliadora no sentido profissional: quando as coisas vão mal na área
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 298
profissional, todo marido espera encontrar na esposa o apoio que lhe falta por
parte dos amigos. Deste modo, a influência e o auxílio da esposa são de
singular importância. Que ela possa exercê-la positivamente, levando o seu
marido a superar as crises que, porventura, possam advir.
4. Auxiliadora no sentido espiritual: quem alguma vez na vida não se
sente mal, como o viajante que foi assaltado e deixado semimorto à beira da
estrada que desce de Jerusalém a Jericó? Em tais circunstâncias, quem não
espera que algum “bom samaritano” lhe estenda a mão e ajude-o? Quando
isso acontece com o marido, em vez de a mulher agir como o levita ou o
doutor da lei, deve agir como o “bom samaritano” que o seu marido espera
encontrar. O auxílio espiritual que a mulher cristã pode e deve oferecer é tal
qual um investimento cujo retorno se dará sem demora.

A mulher virtuosa
Nenhum outro texto das Escrituras pinta com matizes tão vivos o
quadro da mulher excelente quanto Provérbios 31.10-31, quadro descritivo da
mulher virtuosa:
“Álefe. Mulher virtuosa, quem a pode achar? Pois o seu valor muito
excede ao de jóias preciosas. Bete. O coração do seu marido confia nela, e não
lhe haverá falta de lucro. Guímel. Ela lhe faz bem, e não mal, todos os dias da
sua vida Dálete. Ela busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com as mãos.
Hê. É como os navios do negociante; de longe traz o seu pão. Vave. E quando
ainda está escuro, ela se levanta, e dá mantimento à sua casa, e a tarefa às
suas servas. Zaine. Considera um campo, e compra-o; planta uma vinha com o
fruto de suas mãos. Hete. Cinge os seus lombos de força, e fortalece os seus
braços. Tete. Prova e vê que é boa a sua mercadoria; e a sua lâmpada não se
apaga de noite. Iode. Estende as mãos ao fuso, e as suas mãos pegam na roca.
Cafe. Abre a mão para o pobre; sim, ao necessitado estende as suas mãos.
Lâmede. Não tem medo da neve pela sua família; pois todos os da sua casa
estão vestidos de escarlate. Meme. Faz para si cobertas; de linho fino e de
púrpura é o seu vestido. Nune. Conhece- se o seu marido nas portas, quando
se assenta entre os anciãos da terra. Sâmerue. Faz vestidos de linho, e vende-
os, e entrega cintas aos mercadores. Aine. A força e a dignidade são os seus
vestidos; e ri-se do tempo vindouro. Pê. Abre a sua boca com sabedoria, e o
ensino da benevolência está na sua língua. Tsadê. Olha pelo governo de sua
casa, e não come o pão da preguiça. Côfe. Levantam-se seus filhos, e lhe
chamam bem-aventurada, como também seu marido, que a louva, dizendo:
Reche. Muitas mulheres têm procedido virtuosamente, mas tu a todas
sobrepujas. Chine. Enganosa é a graça, e vã é a formosura; mas a mulher que
teme ao Senhor, essa será louvada. Tau. Dai-lhe do fruto das suas mãos, e
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 299
louvem-na nas portas as suas obras. Álefe. Mulher virtuosa, quem a pode
achar? Pois o seu valor muito excede ao de jóias preciosas. Bete. O coração do
seu marido confia nela, e não lhe haverá falta de lucro. Guímel. Ela lhe faz bem,
e não mal, todos os dias da sua vida.”
Esta mulher, com certeza teria satisfeito a qualquer homem que sonha
como a mulher ideal. Nela é retratada a mulher ideal para o rei Lemuel,
segundo o coração de sua mãe. E que sogra não se alegraria diante de tal
nora?

Qualidades da mulher virtuosa


Estas são as nove qualidades que compreendem a mulher virtuosa:
1. laboriosa (v. 13, 19, 24)
2. ajuizada (v. 16, 18)
3. forte fisicamente (v. 17)
4. boa dona de casa (v. 15, 21, 27)
5. sábia (v. 26)
6. caridosa (v. 20)
7. boa mãe (v. 28)
8. boa esposa (v. 11, 12, 23, 28) 9.
temente ao Senhor (v. 30); esta é a mais
A mulher virtuosa serve a Deus, antes de tudo
elevada de todas as suas virtudes

Descrevendo a mulher virtuosa


A mulher virtuosa conserva a roupa de seu marido bem cuidada. De
bom grado cumpre com todos os seus deveres diários, providencia refeições
variadas, selecionando comida nutritiva e deliciosa. Ela levanta cedo para
servir o café ao marido que vai para o trabalho, e a seus filhos que logo irão
para escola. Ela está sempre preocupada com estabilidade e o futuro do lar. A
força de seu caráter é demonstrada em suas atitudes ante as
responsabilidades como dona de casa. Ela se orgulha de um serviço bem feito,
ainda que tenha de ir noite adentro para completar suas tarefas.
A mulher virtuosa tem um coração compassivo e mão aberta para
ajudar os necessitados. A sua própria família é beneficiada devido aos seus
talentos domésticos. A sua roupa revela sempre modéstia e submissão a
Deus. Até seu marido é reconhecido pela maneira de vestir, quando sai para o
serviço.
Às vezes usa seus talentos domésticos para trabalhar, ganhar dinheiro
e, assim, suplementar a renda da família. Ela é conhecida como uma mulher de
caráter digno. A expressão do seu rosto comunica serenidade e segurança. É
sábia no falar, zelosa em aplicar palavras carinhosas no trato com os filhos e o
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 300
marido.
Ela está sempre interessada nos problemas e desejos de todos os
membros da família. Não participa de “fofocas” nem se envolve com mexericos
sobre a vida alheia. Com muita admiração e respeito, seus filhos e seu marido
falam dela aos seus amigos.
Outras mulheres têm se destacado; entretanto, esta sobrepuja a todas
as demais. A popularidade é enganosa, como também a formosura, mas a
mulher que mantém constante comunhão com o Senhor será louvada. Seu
nome será sempre lembrado com respeito e admiração. As nove qualidades
que descrevem a mulher virtuosa, não são privilégio de apenas algumas
senhoras, mas Deus as espera manifestas na vida de cada mulher, mãe e
esposa cristã no mundo hoje.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 301

Capítulo 5
A importância dos pais

A família é a base da civilização humana.


Deste modo, a base da sociedade cristã é a
família.

Dificuldades nos últimos tempos


Vivemos numa época em que a família
enfrenta forças maléficas e desintegradoras, com
o fim de destruí-la sócio e espiritualmente. As
influências da civilização moderna
dificultam, em muitos sentidos,a tarefa
dos pais na criação dos filhos. Enquanto
no passado os pais controlavam, em
grande parte, o que entrava no lar, hoje
em dia a influência (muitas vezes
negativa) dos meios de comunicação de
massa arrogam o direito de fazê-lo em
seu lugar. Evidentemente algumas destas
influências são boas, porém, a maioria
nada tem a ver com aquilo que Deus
Os pais devem cuidar dos filhos no caminho
determina para ser seguido dentro do lar.
do Senhor Portanto, torna-se cada vez mais
imprescindível o papel decisivo a ser cumprido pelos pais na criação dos seus
filhos.

Preparando os filhos para a vida


Apesar da campanha desempenhada pelas forças das trevas no sentido
de fazer dos pais “coisa do passado”, as Escrituras e a própria história provam
que os pais ainda são não só os primeiros, mas também os melhores mestres
que os filhos podem ter. É no lar que a criança se prepara para enfrentar o
mundo. Vindos de um lar verdadeiramente cristão, os filhos hão de mostrar-se
preparados para a vida em sociedade. Porém, se provêm de um lar não-
cristão, poderão não concorrer para o bem-estar do mundo em que vivem.
Deus poderia ter escolhido outra maneira de trazer crianças ao mundo.
Poderia ter criado a criança de forma a amadurecer e desenvolver-se após
algumas semanas, como se dá com alguns animais. Mas Ele preferiu que seu
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 302
desenvolvimento fosse gradativo, dentro de um tempo mais prolongado,
dando oportunidade para o desenvolvimento de sua personalidade, espírito,
alma e corpo no ambiente do lar, onde é vivida a infância. Deste modo, os pais
foram dados por Deus aos filhos para sustentá-los, guiá-los e orientá-los.
O Senhor dá pais aos filhos para que também sejam amados e
disciplinados, deveres estes que andam de mãos dadas. Amor sem disciplina é
puro sentimento. Disciplina sem amor é tirania.

Paternidade responsável
Aqueles que se preparam para o casamento e que naturalmente serão
pais, devem conscientizar-se de que são responsáveis diante de Deus, no
sentido de se manterem saudáveis física e mentalmente. À futura mãe cabe o
cuidado pré-natal. Cabe também aos pais o cuidado da alimentação própria
durante a infância e cuidar da formação social e espiritual de seus filhos. Assim
como crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos
homens, Deus espera que os nossos filhos assim cresçam também (“E crescia
Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” -
Lc 2.52).
Ainda que a responsabilidade dos pais seja algo indiscutível, é bom
lembrar que eles contam com o auxílio do Senhor Jesus na consecução dos
seus planos envolvendo, naturalmente, o bem-estar de seus filhos. Para isso,
Ele espera que os pais busquem Sua ajuda, pois os filhos são “herança do
Senhor”. Deus tem posto os pais como “mordomos” quando lhes confia filhos.
Deste modo, é indispensável que os pais vivam de forma tal que os seus filhos
não se desiludam das coisas espirituais, mas que possam ser conduzidos a
conhecer e a andar segundo a vontade do Todo Poderoso. Nisto está o grande
privilégio que a paternidade e a maternidade se constituem.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 303

Capítulo 6
Os pais como exemplo para os filhos

“Tu, pois, ensinas a outrem, não te ensinas a ti


mesmo?” – Rm 2.21

É triste observar uma pessoa tentando ensinar


a outra um princípio, atitude ou verdade que ela
mesma não pratica, quando o bom senso manda
que só deva ensinar aquilo que se vive.

O poder do exemplo
Uma das primeiras leis a serem seguidas na instrução dos filhos é que os
pais demonstrem com as suas próprias vidas os frutos que eles querem que os
filhos produzam. Por isso, os pais devem ter em mente que a instrução
depende muito mais de exemplo do que de preceito. Os que “vivem” os fatos
valem muito mais do que os que apenas os “dizem”.
Quando Deus ordenou a Israel
quanto a maneira correta de os pais
instruírem seus filhos, disse: “E estas
palavras, que hoje te ordeno, estarão
no teu coração; e as ensinarás a teus
filhos, e delas falarás sentado em tua
casa e andando pelo caminho, ao
deitar-te e ao levantar-te.” (Dt 6.6-7).
Note bem: “estarão no teu coração”,
isto é, “estarão muito bem guardadas,
a fim de não perdê-las nunca”. Elas
deverão ser sempre lembradas, pois
nelas está a vontade de Deus para a
vida dos pais e dos filhos. A vida de Os pais devem ser bons exemplos para os filhos
cada um deverá girar em torno das
palavras “que hoje te ordeno” e, consequentemente, serão sempre lembradas
para ensiná-las “a teus filhos (...) assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e deitando-te e levantando-te”.
Felizes os pais que têm autoridade e liberdade para ensinar a seus filhos,
pois lhes é assegurado o respeito dos mesmos e a disposição de seguirem os
conselhos paternos. Deste modo, podem ver no pai que autoridade e bom
humor são perfeitamente associáveis.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 304
Vivendo um relacionamento nestes moldes, pais e filhos estarão concorrendo
para a unidade do lar e no sentido de que o nome de Deus seja glorificado
(“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo
para glória de Deus.” - I Co 10.31).

Semeadura e colheita
“O justo anda na sua integridade, felizes lhe são os filhos depois dele”
(Pv 20.7). Os pais devem ensinar a honestidade como um valor supremo;
todavia, se o filho, ao atender um telefone indesejável, ouvir de seus pais:
“Diga que não estamos em casa”, ele estará aprendendo que ser honesto é
muito relativo, isto é, a honestidade dependerá da ocasião, do momento.
“Filhinhos, deixem de brigar!” – ordenou certa mãe, quando ouviu vozes
exaltadas saindo do quarto: - “Nós não estamos brigando” – disse a garota.
“Estamos brincando de ser papai e mamãe”.
De onde teriam aquelas crianças tirado a idéia de que “brincar de ser
papai e mamãe” requer discussão? Muitos pais descuidados esquecem que
estão sendo vistos pelos filhos e que os mesmos os têm como exemplo em
palavras e atitudes. Deste modo, trazem sérias conseqüências para o
relacionamento dos seus filhos.
A criança tem a capacidade inata de aprender sempre. A cada momento
ela recebe impressões que afetam as suas atitudes, seu comportamento, sua
fé, sua personalidade e seus hábitos. Muitos do que ela aprende vem por meio
da observação das ações dos adultos, principalmente dos pais. Pelo fato de
nascer com a natureza pecaminosa, ela copia e imita o mal com mais
facilidade do que o bem. Por isso, os pais devem dar o melhor exemplo diante
dos seus filhos, de sorte que eles não venham a escandalizar-se (“Mas
qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor
lhe fora que se lhe penduras- se ao pescoço uma pedra de moinho, e se
submergisse na profundeza do mar.” - MT 18.6).
Se o exemplo dos pais não se coadunar com a conduta cristã, eles serão
responsáveis diretos por afastarem seus filhos dos caminhos de Deus, ao
invés de ganhá-los para Cristo. Que por influência dos pais, se cumpra a
profecia de Isaías 54.13: “Todos os teus filhos serão ensinados do Senhor: e
será grande a paz de teus filhos”.

Por que disciplinar?


Os pais devem disciplinar seus filhos para que tenham uma vida em
harmonia com Deus e com os homens. O Senhor Jesus, quando criança,
cresceu sob a disciplina de seus pais terrenos.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 305

A pessoa disciplinada
A pessoa disciplinada é aquela que adquire e voluntariamente observa a
maneira correta de viver. Disciplinar não é somente castigar uma criança por
que ela se negou a cumprir um determinado requisito, mas é o treinamento e
o ensino dado dia após dia para que ela conheça o caminho em que deve
andar (“Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando
envelhecer não se desviará dele.” – Pv 22.6). A palavra disciplinar é de raiz
latina e quer dizer “ensinar”. O dicionário diz que é “instrução; treinamento
que corrige; molda e fortifica”. Como verbo, quer dizer: “treinar o autocontrole
ou obediência para normas planejadas”.
A criança, ao nascer, já possui uma natureza pecaminosa, que se revela
desde o berço. Em poucos meses a criança já estabelece suas exigências,
querendo que prevaleça sua própria vontade e contrapondo suas idéias com
as de seus pais. A Bíblia aponta claramente a depravação da raça humana e
sua necessidade de um Salvador.

As crianças e a salvação
O ensino dos teólogos através dos séculos é que as crianças, ao
morrerem, antes de terem consciência do pecado, estão isentas da
condenação eterna. Isto é real porque elas estão protegidas pelo sangue de
Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Não é, em absoluto, por causa de sua
inocência, mas por causa da justiça de Deus. A Bíblia fala: “Eu nasci da
iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5); “Desviam-se os
ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo
mentiras” (Sl 58.3).

Disciplina, processo contínuo


Disciplina envolve um processo de muitos anos. Os pais têm de fazer
sua parte juntamente com a igreja, a escola e outras agências da comunidade,
e a sociedade em geral. Se essa responsabilidade é desempenhada de maneira
eficaz, os filhos estarão devidamente equipados para enfrentar a vida,
equilibrados e preparados. E assim serão capazes de transmitir às gerações
posteriores as bases fundamentais de “como viver”.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 306
Maneiras de disciplinar

1. Com amor
As atitudes dos pais e de outros adultos
determinam os conceitos que uma criança forma
de si mesma, da vida em geral e de Deus. Há pais
que dão a entender aos filhos que seu amor está
condicionado ao comportamento deles: “Se você
for um mau menino, papai não amará mais você”,
ou “mamãe vai dar você para dona Maria se você
não for uma boa menina”. O filho deve ser amado
pelo que é, e não pelo que faz ou deixa de fazer.
Há modos de exercer a disciplina Disciplina aplicada nesta base pode
criar um senso de inferioridade e o filho reagirá de maneiras indesejáveis.
Disciplina, seja na forma de punição corporal ou expressão verbal, deve
ser ministrada com amor. Crianças que estão seguras do amor de seus pais
são mais aptas a aceitar a liderança. A hora em que seu filho mais precisa de
amor é quando sente que fez alguma coisa errada. Amor é o melhor tipo de
disciplina.

2. Com constância
Os filhos podem viver confusos por causa da inconstância dos pais. Um
mesmo ato por ele praticado pode provocar punição ou, em outro momento,
passar despercebido. Alguns pais são tão flexíveis que seus filhos não têm a
mínima idéia do que eles querem. Quantas vezes um pai diz: “Se você fizer isso
vai apanhar!”, ou “Você vai apanhar quando chegar em casa!”. O filho sabe que
tais promessas tanto podem ser cumpridas como não. Os pais falam muitas
coisas que não cumprem. Seja constante para que seu filho saiba o que
esperar de você.

3. Com harmonia
Se os pais não tiverem harmonia nem de acordo em relação à
disciplina, os filhos ficarão em situação bastante incômoda. Eles nunca
saberão distinguir a atitude certa da errada nem o caminho a seguir. O pai diz
“não”, a mãe diz “sim” e vice-versa. Chegam até a discutir perto do filho que,
por sua vez, não consegue chegar a uma conclusão – sua mente fica confusa.
Desentendimentos entre os pais devem ser discutidos em ambiente
reservado e não perante os filhos. (“Se a trombeta der som incerto, quem se
preparará para a batalha?” – I Co 14.8).
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 307

4. Com justiça
O filho aprecia firmeza e espera justiça. Ele merece uma explicação
conforme a sua capacidade de entender o “porquê”. O castigo deve ser
proporcional à ofensa. Pais são admoestados em Efésios 6.4: “vós, pais, não
provoqueis à ira vossos filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do
Senhor.”

5. Atitudes certas
Há pais que não corrigem os seus filhos até que estejam tomados de ira
ou quando já não aguentam mais. Se o pai decide corrigir o filho somente
depois de ter perdido o controle de si mesmo, fará isso com raiva e, assim, a
disciplina perde seu valor. Quando a punição ou disciplina é dada só para
aliviar os sentimentos dos pais, torna-se um ato egoísta e a criança está
sendo explorada e abusada.
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Capítulo 7
A importância do culto doméstico
“Escutai o meu ensino, povo meu; inclinai
os vossos ouvidos às palavras da minha boca.
Abrirei a minha boca numa parábola; proporei
enigmas da antiguidade, coisas que temos ouvido
e sabido, e que nossos pais nos têm contado. Não
os encobriremos aos seus filhos, cantaremos às
gerações vindouras os
louvores do Senhor, assim
como a sua força e as
maravilhas que tem feito.
Porque ele estabeleceu um
testemunho em Jacó, e
instituiu uma lei em Israel,
as quais coisas ordenou aos
nossos pais que as
ensinassem a seus filhos;
para que as soubesse a
geração vindoura, os filhos A prática do culto no lar deve começar desde cedo nas
famílias
que houvesse de nascer, os quais se levantassem e as contassem a seus filhos” –
Sl 78.1-6.

Para os pais
O culto doméstico é uma fonte para enriquecimento pessoal e
espiritual. Jesus disse que o homem não pode viver só de pão. Ainda existem
muitos pais em lares chamados cristãos que estão tentando viver sem uma dieta
adequada, que inclui alimento espiritual diário. A leitura diária da Bíblia pode dar
uma compreensão das Escrituras que não se consegue de nenhuma outra
maneira. Pode também dar saúde espiritual.
“Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-
vos mutuamente, em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e
cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações” (Cl 3.16).
“Porque muito me alegrei quando os irmãos vieram e testificaram da tua
verdade, como tu andas na verdade.” (III Jo v.3).
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 309
Cada membro da família é assim fortalecido para resistir ao erro e ao
pecado. Através do culto doméstico, Cristo é convidado a permanecer no lar
como o “hóspede divino”. O culto doméstico ajuda a criar mais harmonia
entre os cônjuges quando eles têm os mesmos propósitos, isto é, ter uma
família consagrada a Deus. Através da oração em conjunto e da leitura da
Bíblia, eles recebem coragem, conforto, esperança para uma vida em
harmonia com Deus e com os outros.
O culto doméstico oferece uma oportunidade singular para a
instrução espiritual dos filhos. Alguém já se deparou com pais cristãos
desapontados com os filhos, indiferentes e mundanos? Há pais que
contemplam os alvos da vida cristã como se fossem espectadores de um
grande desfile, deixando os filhos para trás. Eles deveriam erguer seus filhos
bem alto para que também assistissem ao desfile. Devemos compartilhar com
os nossos filhos as vantagens que temos recebido da parte de Deus.
“E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as
ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo
caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.” (Dt 6:7). Nesta passagem, quer-se
dizer para ensinar “com assiduidade, com diligência”, e não de qualquer jeito,
um pouco aqui e um pouco ali. O culto doméstico oferece uma oportunidade
mais ampla de obedecer esta ordem de Deus. “Não os encobriremos aos seus
filhos, cantaremos às gerações vindouras os louvores do Senhor, assim como
a sua força e as maravilhas que tem feito.” (SL 78.4).

Para os filhos
O culto doméstico é a ocasião que os filhos têm para adquirir
conhecimento da Palavra de Deus. Um grande educador de crianças disse:
“Nós despejamos a Palavra de Deus na mente de nossos filhos, pela mesma
razão que leva o construtor a reunir no local da obra os materiais de
construção, para que estejam ali quando ele for começar o seu trabalho”. O
culto doméstico produz esperança em Deus desde os primeiros anos de vida
dos filhos do cristão. Eles são salvos de uma vida de vadiagem entre a massa
de jovens desocupados, deprimidos e flutuantes sobre o mar da vida, que mais
tarde irão chorar: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.”(Ec
12.8).

Para a união do lar


O culto doméstico é um fator que unifica a família inteira. Josué
incluíra sua família quando fez a sua declaração de fé com o propósito de fazer
a vontade de Deus (“Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei
hoje a de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 310
além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a
minha casa serviremos ao Senhor.” - Js 24.15). Há famílias que estão se
desintegrando por causa da falta de um líder e porta-voz. Cornélio chamou
seus parente e amigos (“No outro dia entrou em Cesaréia. E Cornélio os
esperava, tendo reunido os seus parentes e amigos mais íntimos.” - At 10.24),
e o carcereiro de Filipos ouviu, creu e regozijou-se, ele e a sua casa (“Ora, o
carcereiro, tendo acordado e vendo abertas as portas da prisão, tirou a
espada e ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido. Mas Paulo
bradou em alta voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, porque todos aqui
estamos. Tendo ele pedido luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou
ante Paulo e Silas e, tirando-os para fora, disse: Senhores, que me é necessário
fazer para me salvar? Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu
e tua casa. Então lhe pregaram a palavra de Deus, e a todos os que estavam
em sua casa. Tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-
lhes as feridas; e logo foi batizado, ele e todos os seus. Então os fez subir para
sua casa, pôs-lhes a mesa e alegrou- se muito com toda a sua casa, por ter
crido em Deus.” (At 16.27-34).
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 311

Capítulo 8
A questão do divórcio
Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) mostra que, entre 2000 e
2003, foi registrado aumento de 2,17% no
número de casamentos, enquanto as separações
cresceram o dobro – 4,93%. Em 2003, por
exemplo, houve 103.452 separações judiciais
contra 748.991
casamentos. Houve um tempo em que
informações como essas interessavam aos
evangélicos apenas como conhecimento
geral – mais uma daquelas notícias a
mostrar que o mundo jaz no maligno.
Entretanto, há alguns anos, os crentes
começaram a fazer parte de tais
estatísticas – quando divórcio e separação
passaram a fazer parte do cotidiano das
igrejas.
Não faltam livros, artigos, palestras e
Cresceu o divórcio entre evangélicos que tais para explicar o problema do
divórcio – ou sua solução – entre os evangélicos. Por outro lado, não há
consenso sobre quem, quando e por que o casal pode pedir a separação, sem
que contrariem os preceitos bíblicos. Entretanto, não se pode negar que há
cada vez mais ex-casais crentes que jogaram as convenções em prol de uma
vida mais feliz – mesmo que sozinhos. Não é fácil, de qualquer forma. Em
alguns casos, é tão difícil deixar uma relação sem amor ou respeito quanto
encarar uma igreja sem preparo para conviver com divorciados. “Não sei se
podemos chamar preconceito, mas uma coisa é certa: já não nos encaixamos
nos grupos de algumas igrejas, pois não há nada específico para divorciados”,
diz a dona de casa Penha, de São Paulo (para preservar a imagem dos
entrevistados, apenas o primeiro nome será divulgado).
Um casamento morto, em que adultério, brigas, desamor e falta de
comunhão com Deus prevalecem, pode ser melhor do que o divórcio? Uma
resposta apressada pode apostar em “Sim”, é melhor, pois abre-se a chance
para uma nova vida de felicidade. Porém, a situação é bem mais difícil. “Se
Deus ressuscitou Lázaro, não pode fazer o mesmo com um casamento morto?
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 312
questiona o pastor e escritor Josué Gonçalves, que faz palestras voltadas para
a família. Autor do livro “23 Atitudes que Podem Revolucionar um Casamento”,
ele diz que a primeira providência é tomar uma atitude em favor da
ressurreição do mesmo. Deus prefere enterrar o casamento morto ou
ressuscitá-lo? “Esse milagre depende muito mais dos envolvidos do que de
Deus”, garante.
A maioria tenta, certamente. “Meu casamento foi difícil, porém não
reclamo, pois foi minha a escolha”, explica Ângela, 44 anos, de São Paulo. “Deus
nos mostra o caminho e cabe a nós escolhermos e assumirmos as
conseqüências dessas escolhas.” Após o divórcio, conta, teve de reestruturar
a vida, e crê que esta pode ser nova e abençoada por Deus, “se andarmos em
seus caminhos”. Mas, lembra a psicóloga Esly Regina Carvalho, o Senhor nunca
nos prometeu a felicidade nesta vida. “Gozo do Espírito Santo, sim, mas
felicidade humana, não”, salienta. Para ela, deve-se fazer todo esforço pra
“ressuscitar” um casamento morto, por que nada está morto para o Senhor.
“E nossa felicidade não deve estar no cônjuge, mas na nossa relação com
Deus”, acredita.

Última solução
Na sua opinião, é um mito e um erro pensar que meu marido ou esposa
tem a obrigação de fazer o outro feliz. “Isso é papo do mundo. Não sei porque
achar que procurando outra pessoa as coisas vão estar melhor. Se eu não
mudar, as coisas serão as mesmas. Eu vou me casar com uma outra pessoa
igual ou pior. E se eu mudar, então quem sabe meu casamento também
muda?”, questiona. O divórcio entre evangélicos, principalmente, deve ser
encarado como a última solução a aceitar diz Esly, autora de “Quando o
Vínculo se Rompe” e fundado- ra da Praça do Encontro, organização sediada
nos Estados Unidos e voltada à ajuda de pessoas que querem vencer desafios.
O reverendo Fausto Brasil, da Igreja Presbiteriana, diz que sempre será
contrário ao divórcio, seja de evangélicos ou não. “Sou contra porque Deus é
contra, não é vontade Dele que um casal se divorcie”. Esclarece que, na
verdade, é a favor dos divorciados, tanto que criou há nove anos o Ministério
Apoio, que reúne trezentos ex-casados, solteiros e viúvos, que apresenta
aconselhamento, assistência pastoral, psicológica e jurídica, além de fornecer
farto conteúdo sobre necessidades específicas deste grupo. Tanto Esly quanto
o pastor Josué também são contrários ao divórcio, apesar de oferecerem apoio
aos divorciados. Qual a razão de Deus odiar o divórcio? Responde o pastor
Gonçalves: “Casamento é um pacto, e quando se quebra esse pacto sagrado, os
efeitos têm implicações eternas. Sou contra o divórcio, apesar de reconhecer
que em alguns casos a separação é uma saída de emergência", pondera.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 313
A Igreja contemporânea nem sempre aceita o divórcio oficialmente,
mas tenta conviver com ele. Há quem considere, inclusive, que tal tolerância
seja demais. Corremos um sério risco de assistirmos dentro da igreja à
banalização do casamento, o que é preocupante”, imagina o pastor Josué. A
idéia de “Vou casar; se não der certo, separo” já é comum a muitos jovens,
pois o casamento não é mais visto na perspectiva divina – “até que a morte os
separe”. O divórcio, como não faz parte do plano original de Deus, surgiu da
queda do homem. “A resistência da igreja tem a ver com o plano original de
Deus para o homem em relação ao casamento”, acredita.

Mundo x Igreja
A dureza do coração humano está permitindo que os valores do mundo
levedem a massa da igreja, observa Esly, “em vez de fazer com que os valores
da igreja levedem a massa do mundo.” Tal observação também pode ser
aplicada a diversos outros aspectos, às vezes confundidos com “usos e
costumes”, mas que já fizeram parte da doutrina cristã. O divórcio, por este
ângulo, deve ser visto como “corpo estranho” à Igreja, em vez de ser
assimilado com naturalidade. “No entanto, precisamos entender que há
situações que ele é inevitável e, portanto, precisamos ser compassivos para
com os divorciados e não atirando a primeira pedra”, ressalta o reverendo
Fausto. A resistência dos evangélicos ao assunto, segundo ele, se deve
principalmente à interpretação bíblica de que o divórcio é um “pecado
imperdoável”. Não se pode, portanto, tapar o sol com a peneira. O Senhor é o
mesmo ontem, hoje e eternamente, mas os crentes mudaram – e muito.
Houve uma transformação comportamental entre os membros que assustaria
pastores que ocuparam os púlpitos trinta ou quarenta anos atrás, por
exemplo. O que um casal deve fazer ante o impasse do casamento, quando o
divórcio parece a melhor saída? Pedir ajuda é o primeiro passo. O site do
Ministério É Hora de Semear Fogo recebe dezenas de pedidos de oração de
pessoas cujos lares estão esfacelados, com o casamento em ruínas.
Quem acha que o divórcio é solução apenas para diferenças de gênio ou
culturais, engana-se. Há muitos casamentos em que a violência é permanente,
inclusive em lares de evangélicos – pastores, inclusive. Relata a psicóloga Esly
Carvalho em seu livro “A Família em Crise” diversos casos de violência
doméstica e abuso sexual. “Se as pessoas acham que não existe isso, devem
morar em outro planeta”, afirma. “A salvação do Espírito tem de ser
trabalhada na alma, no coração e no corpo também”, diz.

Alternativa fácil
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 314
O divórcio passou a ser uma alternativa fácil para muita gente sem
perseverança pois qualquer crise é suficiente para romper laços. “Há
divorciados que lamentam não ter lutado mais, carregam a dor da culpa por
terem sido precipitados”, diz o fundador do Ministério Apoio. Com sua
experiência de aconselhamento, garante, o preço a pagar pela restauração do
casamento é menor do que de uma nova relação. “Cerca de 65% das pessoas
que têm casado pela segunda vez não estão sendo bem-sucedidos e cerca de
75% dos casamentos pela terceira vez também não”, contabiliza. O problema,
avalia, é que estas pessoas estão indo para novas relações carregando as
feridas antigas e, infelizmente, repetindo seus erros.
Deve-se procurar ajuda, sempre. Seja com terapeutas, pastores,
conselheiros ou mesmo um parente sábio que pode auxiliar com equilíbrio e
orações. “Muita gente quer procurar ajuda quando finalmente cai a ficha que o
outro não vai continuar agüentando mais. Aí, às vezes, é tarde demais”, diz
Esly. Entretanto, nem todas as igrejas estão preparadas para lidar com tais
problemas e tampouco os pastores. Segundo ela, é preciso que os pastores e
conselheiros tenham uma preparação superior à do seminário. Como os
pastores são escolhidos, em geral, por seu conhecimento e testemunho, ela
sugere que pessoas idôneas da igreja sejam separadas para fazer o
aconselhamento. Outro ponto importante é jamais compartilhar o que se
ouve. “Muita gente já foi exposta no sermão de domingo por pessoas mal
instruídas”, lembra.

“Saída de emergência”
Enfim, qual o posicionamento bíblico para o divórcio? Eis uma questão
delicada que suscita um caloroso debate. As igrejas, na maioria, aceitam o
divórcio em caso de adultério ou quando a relação se torna insustentável. O
texto de Mateus 19 é apontado como solução tanto para quem aceita quanto
para quem condena o divórcio. “Porém, a Bíblia não é uma enciclopédia, mas a
bússola orientadora através da qual avaliamos e filtramos nossas decisões”,
explica Josué Gonçalves. Existem outros motivos além do “adultério”, explica,
que podem exigir uma separação para que os prejuízos sejam menores. “O
divórcio nunca pode ser visto como uma porta de saída, mas sim, como uma
‘saída de emergência’”.
Segundo Fausto Brasil, interpretando estas palavras de Jesus, a igreja
brasileira se posiciona de três formas a respeito desta questão. O primeiro
grupo entende que o casamento só termina com a morte, e nem mesmo em
caso de adultério deveria ser considerada a possibilidade do divórcio (pois é
sempre pecaminoso, nunca é aceito por Deus). Já o segundo compreende que
temos de entender que as palavras de Jesus se aplicavam às circunstâncias
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 315
daquela época e que a sociedade mudou. Por último, há os que afirmam que o
casamento é uma instituição divina a ser preservado, e um segundo
casamento só é lícito quando o primeiro for terminado por adultério (Mateus
19:7) ou por abandono obstinado da parte do descrente (I Coríntios 7:15).
O que se vê, porém, são casamentos realizados na igreja, sob as bênçãos
do pastor, terminarem no Fórum. Pode, assim, um casamento abençoado por
Deus correr o risco de dissolver-se? É a vida com Deus que sustenta uma casa
e, por conseguinte, um casamento. Portanto, se não houver sustentação, a
relação rui. O reverendo Brasil acredita que é preciso comunicação,
sinceridade e verdade, caso contrário, reinarão falsidade e mentira. “Elas
nascem insegurança, desconfiança, ciúmes, brigas e divórcio. A verdade
precisa ser sempre dita, no momento certo e do jeito certo”, exorta. E ela só
terá efeitos positivos se as pessoas tiverem humildade para reconhecer seus
erros, arrepender-se e servir um ao outro.
Em suas palestras, o pastor Josué Gonçalves diz que o mais difícil não é
casar, mas permanecer casado e feliz. “Feliz o homem que teme ao Senhor e
anda nos seus caminhos”, cita o Salmo 128. Isso quer dizer que, enquanto
houver temor no coração do casal, o casamento está seguro e garantido
debaixo da bênção de Deus. Se faltar temor, a relação se vulnerabiliza e pode
ser atingida facilmente pelo diabo.
Um dos grandes erros de alguns casais é o excesso de autoconfiança:
achar que um anel de ouro, uma assinatura no cartório ou uma declaração
pública são suficientes para garantir o casamento para o resto da vida. “Isso é
utopia, ilusão, ignorância. Vida conjugal é como uma viagem de carro: se não
houver paradas para reabastecimento, revisão, reparos etc., os dois não irão
muito longe”, compara. E decreta: casais abençoados são aqueles que se
preocupam com a manutenção do relacionamento.

(Extraído da revista Tempo de Avivamento, edição 7 de setembro/2005)


Manifestações do
Espírito Santo
A batalha Espiritual
(Apêndice)

“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que


fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo
doce, e do doce amargo!” (Isaías 5:20)
Instituto Teológico Carisma Manifestações do Espírito Santo 317

Capítulo 1
Operações do Espírito Santo
ou de demônios?
Milhares de crentes, em todas as partes do
mundo, estão suplicando a Deus por um
avivamento. Mas, qual seria a natureza de tal
avivamento? A resposta se encontra na narrativa
do derramamento do Espírito Santo no
Pentecostes (“Ao cumprir-se o
dia de Pentecostes, estavam
todos reunidos no mesmo
lugar. De repente veio do céu
um ruído, como que de um
vento impetuoso, e encheu
toda a casa onde estavam
sentados. E lhes apareceram
umas línguas como que de
fogo, que se distribuíam, e
sobre cada um deles pousou
uma. E todos ficaram cheios
do Espírito Santo, e Rev. Luciano Padilla ora em igreja de Nova York: pentecostes

começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que


falassem” - Atos 2:1-4).
E, cumprindo-se o Dia de Pentecostes, realizavam-se três festas anuais
em Jerusalém, das quais todos os homens tinham de participar: Páscoa,
Pentecostes (ou seja, a Festa das Primícias) e a Festa dos Tabernáculos. A festa
de Pentecostes (palavra que significa “cinquenta”) ocorria cinqüenta dias
depois da Páscoa (“Contareis para vós, desde o dia depois do sábado, isto é,
desde o dia em que houverdes trazido o molho da oferta de movimento, sete
semanas inteiras; até o dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinquenta
dias; então oferecereis nova oferta de cereais ao Senhor. Das vossas
habitações trareis, para oferta de movimento, dois pães de dois décimos de
efa; serão de flor de farinha, e levedados se cozerão; são primícias ao Senhor.
Com os pães oferecereis sete cordeiros sem defeito, de um ano, um novilho e
dois carneiros; serão holocausto ao Senhor, com as respectivas ofertas de
cereais e de libação, por oferta queimada de cheiro suave ao Senhor. Também
oferecereis um bode para oferta pelo pecado, e dois cordeiros de um ano para
sacrifício de ofertas pacíficas.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 318
Então o sacerdote os moverá, juntamente com os pães das primícias, por
oferta de movimento perante o Senhor, com os dois cordeiros; santos serão
ao Senhor para uso do sacerdote. E fareis proclamação nesse mesmo dia, pois
tereis santa convocação; nenhum trabalho servil fareis; é estatuto perpétuo
em todas as vossas habitações pelas vossas gerações.” - Lv 23:15-21).
O Espírito Santo deixou o céu e veio à terra na ocasião de realizar-se
uma solene festa em Jerusalém, da qual participavam de 2 a 3 milhões de
judeus e prosélitos, segundo cálculos atuais, “de todas as nações debaixo do
céu”. Entre eles, quase 120 pessoas estavam esperando a promessa do Pai:
“Até que do alto fossem revestidos de poder” (Lc 24:49). “De repente, veio do
céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa
em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como
que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E foram cheios do
Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia que falassem" (At 2:2-4).
Desde o Pentecostes até os dias atuais, o Espírito Santo vem operando
de muitas maneiras. Ainda que o Espírito tenha operado desde a fundação do
mundo, porém age de uma forma diferente atualmente. Existem dois tipos de
operações sobrenaturais: as que vêm de Deus, pelo Espírito Santo, e as que
vêm do diabo, por meio dos demônios.
Precisamos ter muito cuidado para não atribuirmos operações do
Espírito Santo a demônios, o que é considerado blasfêmia (“Portanto, eu vos
digo: todo pecado e blasfêmia se perdoarão aos homens, mas a blasfêmia
contra o Espírito Santo não será perdoadas aos homens” - Mt 12:31)
Por outro lado, também não podemos atribuir operações dos demônios
ao Espírito Santo. O endurecimento do coração leva a uma mente réproba e
depravada, a ponto de chamar o bem de mal e o mal de bem (“E assim como
eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um
sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm” – Rm 1:28; “Ai
dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da escuridade luz, e
da luz escuridade, e fazem do amargo doce, e ao doce, amargo” – Is 5:20).

O engano da visualização
Nos últimos anos, surgiram muitos ensinos a respeito de visualização.
Vejamos à luz da Bíblia o que nos diz. (“Assim diz o Senhor dos Exércitos. Não
deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem
de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do
Senhor. Dizem continuamente aos que me desprezam: O Senhor disse: Paz
tereis; e a qualquer que anda segundo a dureza do seu coração dizem: Não
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 319
virá paz sobre vós. Porque quem esteve no conselho do Senhor, e viu, e ouviu
a sua palavra? Quem esteve atento à sua palavra e a ela atendeu?” - Jr 23:16-
18.)
Visualização é a criação de uma imagem ou figura na mente por meio
da imaginação. Segundo esse ensinamento errôneo, as pessoas adquirem
poder para alterar até mesmo sua vida, promovendo a cura de seu corpo físico
ou de outra pessoa, curas emocionais, obter riqueza, sucesso – tudo através
da visualização.
Esta é a pergunta de muitos: ora, se algo é bom para o nosso corpo,
como a cura e a riqueza, como pode ser errado se feito por um cristão?
Porque a prática da visualização põe o cristão em contato com o mundo
espiritual através de seu espírito e sob controle da sua própria vontade, e não
segundo a vontade de Deus.
É evidente que Deus se revela mediante de visões pelo seu Espírito,
mas precisamos ter discernimento se de fato o espírito manifestado é de
Deus. Quando a visão vem do Senhor, não há glória nem exaltação para o
homem; pelo contrário, o homem fica mais humilde (“Então olhei, e eis uma
semelhança como aparência de fogo. Desde a aparência dos seus lombos, e
daí para baixo, era fogo; e dos seus lombos, e daí para cima, como aspecto de
resplendor, como a cor de âmbar. E estendeu a forma duma mão, e me tomou
por uma trança da minha cabeça; e o Espírito me levantou entre a terra e o
céu, e nas visões de Deus me trouxe a Jerusalém, até a entrada da porta do
pátio de dentro, que olha para o norte, onde estava o assento da imagem do
ciúmes, que provoca ciúmes.” – Ez 8:2-3).
A comunicação foi na forma de visão ou imagens visualizadas. Mas
note que Ezequiel afirma claramente que essas visões eram de Deus. O
profeta não formou as imagens por conta própria, mas sim as recebeu de uma
fonte externa, Deus.
“E Paulo teve, de noite, uma visão em que se apresentava um varão da
Macedônia e lhe rogava, dizendo: Passa a Macedônia e ajuda-nos” - At 16:9).
Observe neste versículo sete que ele intentava ir para Bitínia, mas o Espírito
de Jesus não lhe permitiu. Significa que nenhum homem de Deus tem visões
do mundo espiritual partindo de seu espírito, da sua intuição ou da vontade.
Mas, porém, recebe a comunicação do Espírito do Senhor no seu espírito.
Conforme Romanos 8:16: “O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito
que somos filhos de Deus”.

A ingenuidade dos cristãos


Infelizmente, os cristãos são muito ingênuos. Eles acreditam em
qualquer um ou em qualquer coisa que parece vir do mundo espiritual ou
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 320
forma sobrenatural atribuindo-a a Deus. Nem tudo que brilha é ouro, lembra o
dito popular.
“Amados, não deis crédito a
qualquer espírito, antes provai os
espíritos se provem de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo
mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito
de Deus: todo espírito que confessa que
Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e
todo espírito que não confessa a Jesus
É preciso discernir o espírito que se manifesta
não procede de Deus; pelo o contrario,
este é o espírito do ante cristo,
a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente já está no
mundo” (I Jo 4:1- 3).
Satanás vai operar em nosso tempo por meio de falsos ensinos, falsos
milagres, falsas palavras de conhecimento, falsas profecias e falsas
manifestações de piedade. Presume-se, erroneamente, que pelo fato de
alguém estar falando em nome do Senhor, agindo como servo de Deus, que de
fato trata-se de servo do Senhor. “Porque os tais falsos apóstolos são obreiros
fraudulentos, transformando-se em anjos de luz; não é muito, pois, que os
seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles
será conforme as suas abras” (II Co 11:13-15).
Como devemos separar os falsos milagres dos verdadeiros?
Frequentemente, a única forma é pedir orientação ao Senhor. Vamos observar,
porém, duas maneiras:
1. As curas realizadas na vontade do suposto curador só glorifica a ele
mesmo, que passa a se achar tão poderoso que quer fazer-se guru de Deus.
Mas Deus só cura quando quer, não quando nós queremos.
2. O Espírito Santo só tem um objetivo: trazer a glória ao Senhor Jesus
Cristo.
“Nem todo o que me diz Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus,
mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele
dia hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado
em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não
fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci.
Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade” (Mt 7:21-23).
Devemos atentar, obviamente, que o milagre não provém
necessariamente de Deus somente porque alguém diz que está realizando o
milagre em nome de Jesus. A nossa garantia é encontrada na oração de Jesus:
“Pai, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu.” “Porque se
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 321
levantarão falsos cristos e falsos profetas e farão sinais e prodígios, para
enganarem, se for possível, até os escolhidos” (Mc 13:22).
O crente da atualidade precisa estar informado de que pode haver, nas
igrejas, diversos obreiros corrompidos e distanciados da Verdade.
“Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a
muitos; e, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas
quem perseverar até o fim, esse será salvo. E este evangelho do reino será
pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o
fim. Quando, pois, virdes estar no lugar santo a abominação de desolação,
predita pelo profeta Daniel (quem lê, entenda), então os que estiverem na
Judéia fujam para os montes; quem estiver no eirado não desça para tirar as
coisas de sua casa, e quem estiver no campo não volte atrás para apanhar a
sua capa. Mas ai das que estiverem grávidas, e das que amamentarem
naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não suceda no inverno nem no
sábado; porque haverá então uma tribulação tão grande, como nunca houve
desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. E se aqueles dias
não fossem abreviados, ninguém se salvaria; mas por causa dos escolhidos
serão abreviados aqueles dias. Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo!
ou: Ei-lo aí! não acrediteis; porque hão de surgir falsos cristos e falsos
profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora,
enganariam até os escolhidos” (Mt 24:11-24).
Nesta passagem, o Senhor adverte que nem toda pessoa que professa a
Cristo é um crente verdadeiro e que, hoje, nem todo escritor evangélico,
missionário, pastor, evangelista, professor, diácono e outro obreiro é aquilo
que diz ser. “Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens,
mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mt 23:28).
“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas,
mas interiormente são lobos devoradores” (Mt 7:15). Esses pastores têm uma
mensagem firmemente baseada na Palavra de Deus e expõem altos padrões
de retidão. Tais obreiros podem, inclusive, parecer sinceramente empenhados
na obra de Deus e no Seu reino, demonstrar grande interesse pela salvação
dos perdidos e professar amor a todas as pessoas. Outros surgem como
grandes ministros de Deus, líderes espirituais de renome ungidos pelo Espírito
Santo, que realizam milagres, têm grande sucesso e multidões de seguidores.
Todavia, esses homens são semelhantes aos falsos profetas dos tempos
antigos. “Não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos;
porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para saber se amais o Senhor
vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma” (Dt 13:3).
Como também os fariseus do Novo Testamento: “Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas!
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 322
Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente
parecem formosos, mas interiormente estai cheios de ossos de mortos e de
toda imundícia” (Mt 26:27). Suas vidas, na intimidade, são marcadas por cobiça
carnal, imoralidade, adultério, ganância e satisfação dos seus desejos egoístas.
Este assunto é sério, tanto que Jesus advertiu os seus discípulos dez
vezes para se precaverem dos líderes enganadores. Veja:
1 – “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em
ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mt 7:15)
2 – “E Jesus lhes disse: Olhai, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e
dos saduceus. Pelo que eles arrazoavam entre si, dizendo: É porque não
trouxemos pão. E Jesus, percebendo isso, disse: Por que arrazoais entre vós
por não terdes pão, homens de pouca fé? Não compreendeis ainda, nem vos
lembrais dos cinco pães para os cinco mil, e de quantos cestos levantastes?
Nem dos sete pães para os quatro mil, e de quantas alcofas levantastes?
Como não compreendeis que não nos falei a respeito de pães? Mas guardai-
vos do fermento dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16:6,11)
3 – “Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane.
Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; a muitos
enganarão. E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; olhai não vos
perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá
fomes e terremotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio
das dores. Então sereis entregues à tortura, e vos matarão; e sereis odiados
de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo muitos hão de se
escandalizar, e trair-se uns aos outros, e mutuamente se odiarão. Igualmente
hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos; e, por se
multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas quem perseverar até o
fim, esse será salvo” (Mt 24:4,13)
4 – “Porque nada está encoberto senão para ser manifesto; e nada foi
escondido senão para vir à luz. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.
Também lhes disse: Atendei ao que ouvis. Com a medida com que medis vos
medirão a vós, e ainda se vos acrescentará” (Mc 4:22-24)
5 – “E Jesus ordenou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos
fariseus e do fermento de Herodes” (Mc 8:15)
6 – “Então Jesus começou a dizer-lhes: Acautelai-vos; ninguém vos
engane” (Mc 13:5)
7 – “Ora, naquele mesmo tempo estavam presentes alguns que lhe
falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios deles” (Lc
13:1)
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 323
8 – “Dir-vos-ão: Ei-lo ali! ou: Ei-lo aqui! Não vades, nem os sigais” (Lc 17:23)
9 – “Guardai-vos dos escribas, que querem andar com vestes compridas, e
gostam das saudações nas praças, dos primeiros assentos nas sinagogas, e
dos primeiros lugares nos banquetes” (Lc 20:46)
10 – “Respondeu então ele: Acautelai-vos; não sejais enganados; porque
virão muitos em meu nome, dizendo: Sou eu; e: O tempo é chegado; não
vades após eles” (Lc 21:8).
Somos exortados a pôr à prova mestres, pregadores e dirigentes das
igrejas: “Mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom” (I Ts. 5:21); “Amados,
não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já
muitos falsos profetas se tem levantado no mundo" (I Jo 4:1).
Seguem-se os passos para testar falsos mestres e profetas:
1 - Discernir o caráter da pessoa. Ela deve ter uma vida de oração
perseverante e manifesta devoção sincera e pura a Deus, manifestar o fruto
do Espírito (“Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade,
a benignidade, a bondade, a fidelidade. A mansidão, o domínio próprio; contra
estas coisas não há lei” - Gl 5:22-23), ama os pecadores (“Porque Deus amou o
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” – Jo 3:16), detesta o mal e
ama a justiça (“Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu
Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros” - Hb
1:9), fala contra o pecado.
2 - Discernir os motivos da pessoa. O líder cristão verdadeiro procurará
fazer quatro coisas:
a) Honrar a Cristo (“Quanto a Tito, ele é meu companheiro e cooperador
para convosco; quanto a nossos irmãos, são mensageiros das igrejas, glória de
Cristo”, II Co 8:23; “Sim, irmão, eu quisera regozijar-me de ti no Senhor;
reanima o meu coração em Cristo”, Fl 1:20)
b) conduzir a igreja à santificação (“Os quais, havendo-me interrogado,
queriam soltar- me, por não haver em mim crime algum que merecesse a
morte”, At 28:18; “Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo
com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne. Mas, o que se une
ao Senhor é um só espírito com ele. Fugi da prostituição. Qualquer outro
pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca
contra o seu próprio corpo”, I Co 6:16-18; “E que consenso tem o santuário de
Deus com ídolos? Pois nós somos santuário de Deus vivo, como Deus disse:
Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu
povo. Pelo que, saí vós do meio deles e separai-vos, diz o Senhor; e não
toqueis coisa imunda, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 324
para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso”, II Co 6:16-18)
c) Salvar os perdidos (“Pois, se anuncio o evangelho, não tenho de
que me gloriar, porque me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não
anunciar o evangelho! Se, pois, o faço de vontade própria, tenho recompensa;
mas, se não é de vontade própria, estou apenas incumbido de uma mordomia”
(I Co 9:16-17)
d) proclamar e defender o Evangelho de Cristo e dos seus apóstolos
3 - Observar os frutos da vida da mensagem da pessoa. Os frutos dos
falsos pregadores comumente consistem em seguidores que não obedecem a
toda a Palavra de Deus.
4 - Discernir até que ponto a pessoa se baseia nas Escrituras. Isto é
fundamental: observar se crê e ensina os escritos originais do Antigo e do
Novo Testamento, plenamente inspirados por Deus, e que devemos observar
todos os seus ensinos. “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa
para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (II Tm
3:16). Traduz-se a palavra grega “theopneustos”, que literalmente significa
“tendo assimilado Deus”.
A intenção deste ensino, evidentemente, é proporcionar a todos os
verdadeiros servos do Senhor instrução para não serem enganados. “Dá
instrução ao o sábio, e ele se fará mais sábio; ensina ao o justo, e ele crescerá
em entendimento” (Pv 9:6); “E ao servo do Senhor não convém contender,
mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor. Instruindo
com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhe dará
arrependimento para conhecer a verdade e tornarem a despertar
desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos” (II Tm
2:24-26). E devemos lembrar: os falsos mestres são, na realidade, atraídos pelo
diabo, mas a correção mansa do servo do Senhor pode levar os falsos mestres
ao arrependimento.
Instituto Teológico Carisma Manifestações do Espírito Santo 325

Capítulo 2
Usando o dom do
discernimento
O principal dom dado por Deus é o amor. Sem
ele, é impossível que um crente receba outro, pois
falar em línguas estranhas não é dom, mas sim
evidência do batismo com o Espírito Santo (vide
Introdução à Doutrina do Pentecostalismo –
Volume 1). Todos os dons são importantes para a
Igreja, mas, hoje, faz-se necessário que se busque o
dom de discernimento de espíritos. É por meio dele
que se pode compreender se uma manifestação vem de Deus ou do diabo.
“Ora, aconteceu que quando íamos ao lugar de oração, nos veio ao encontro
uma jovem que tinha um espírito adivinhador, e que, adivinhando, dava grande
lucro a seus senhores. Ela, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: São
servos do Deus Altíssimo estes homens que vos anunciam um caminho de
salvação. E fazia isto por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou- se e disse
ao espírito: Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma
hora saiu” (At 16:16-18).
Porquanto que a maioria dos acontecimentos atribuídos e considerados
como “discernimento de espírito” são, na verdade, apenas suspeita, que tem
como raiz o medo, a preservação própria e territorial e não o Espírito Santo.
Isso acontece porque a maior parte da autoridade exercida na Igreja,
atualmente, é falsa, e isso faz com que aqueles que a usam competem e têm
medo de ser intimidados por qualquer pessoa que não possam controlar.
O verdadeiro discernimento tem como raiz o amor, que “é paciente, é
benigno; (...) não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece. Não se
conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera,
não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a
verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Co 13:4-7).
Muitos consideram que a prontidão em “tudo crê, tudo esperar e tudo
suportar” nos levará mais para uma ingenuidade do que para discernimento,
mas é o contrário o verdadeiro. Se não enxergarmos através dos olhos do
amor de Deus, não veremos claramente e não interpretaremos o que
estivermos vendo com precisão.
O verdadeiro discernimento somente pode operar através do amor de
Deus. O amor de Deus não pode ser confundido com uma misericórdia não
santificada, que aprova coisas que o próprio Deus desaprova. O amor de Deus
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 326
é absolutamente puro e facilmente distingue entre o puro e o impuro, mas faz
isso com as razões corretas. Insegurança, autopreservação, autopromoção,
feridas não curadas, falta de perdão, ira etc. confundem e neutralizam o
verdadeiro discernimento espiritual.
Há uma maneira simples de discernir se uma operação é de Deus ou do
diabo: quando é divina, a pessoa (canal de tal manifestação) se torna mais
humilde, amorosa, submissa e quebrantada, e esconde dos demais a
experiência que teve, por que o que aconteceu foi entre ela e Deus. Mas,
quando é satânica e vem mascarada de sã espiritualidade, a pessoa se torna
orgulhosa de sua espiritualidade, rebelde e insubmissa. Por isso os que se
parecem mais “espirituais” tendem ser os mais rebeldes.

Como saber se um milagre é de Deus ou do diabo

Advertências preliminares
Jesus tinha muito a dizer sobre milagres: “Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não
profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e
em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente:
Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt
7:21-23). Neste trecho, Jesus nos dá três advertências:
Primeira: um milagre não é necessariamente de Deus por que foi feito
por alguém que chama Jesus de “Senhor”. Há operadores de milagres que
falam respeitosamente de Jesus, reconhecem que Ele é o Senhor mas,
entretanto, não são enviados por Deus. Para saber se um milagre é de Deus
necessário é que ele esteja embasado na sã doutrina.
Segunda: um milagre não é necessariamente de Deus só por que ajuda as
pessoas. Nesta passagem, Jesus nos assegura que demônios foram de fato
expulsos e milagres benéficos foram feitos. Contudo, os milagres não se
originavam do poder de Deus.
Terceira: um milagre não é necessariamente de Deus apenas por que o
operador de milagres parece ter garantia dos céus. Porventura ficamos
imaginando se falsos profetas e os operadores de milagres sabem que estão
equivocados? Alguns, talvez, sabem ser impostores que deliberadamente
exploram as pessoas. No entanto, outros são sinceros, crendo que seus dons
milagrosos são de Deus. Por isso, Jesus nos dá mais esta advertência.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 327
Repare que os indivíduos exemplificados por Jesus esperavam estar
dentro dos portões adornados de pérola. No entanto, ficaram surpresos e
horrorizados por terem sido rejeitados. Eles pregavam um Cristo e o
chamavam de Senhor, porém não eram convertidos! Podemos afirmar que tais
milagres foram feitos por pessoas que falavam continuamente sobre o céu, a
vida eterna e temas semelhantes. Talvez sejam as mesmas pessoas que falam
que não tínhamos de esperar o céu, mas que poderíamos ter tudo agora.
Curas que deixam o “curador” orgulhoso e desfilando na frente do povo,
como se houvesse ganhado uma grande batalha, chamando a atenção da
multidão para si, não tem autenticação divina. Lembre-se de Pedro na Porta
Formosa: “E quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, porque
vos maravilhais disto? Ou porque olhais tanto para nós, como se por nossa
própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem. Observe que ele
deu toda glória para Jesus” (Atos 3:12).

Libertação é necessária
O que é libertação? É ser liberto de um jugo (“O Espírito do Senhor Deus
está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos
mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade
aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” - Is 61:1). Assim, nós podemos
ter um jugo, que vamos chamar de fortaleza.
Mas, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões
humanos. As armas com as quais lutamos, ao contrário, são poderosas em
Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que
se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo o
pensamento para torná-lo obediente a Cristo. “Porque, embora andando na
carne, não militamos segundo a carne, pois as armas da nossa milícia não são
carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; derribando
raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo (II Co 10:3-5).
Toda libertação bem-sucedida deve começar removendo primeiro o que
protege o inimigo. Falando de guerra espiritual, o apóstolo Paulo menciona a
palavra “fortaleza” para definir as brechas espirituais em que Satanás e suas
legiões se escondem e ficam protegidos. Essas fortalezas existem em
pensamentos e ideias que dominam indivíduos e igrejas, bem como
comunidades e nações. Antes de reivindicar a vitória, essas fortalezas
precisam ser destruídas, e a armadura de Satanás removida. Assim, as armas
poderosas da Palavra e do Espírito podem saquear com eficácia a morada do
inimigo.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 328
Libertação, na verdade, é um processo em se tratando da mente, por
que a cada instante recebemos novas informações externas, que são bem-
vindas ou não: depende se as aceitamos ou as rejeitamos. Qualquer área do
nosso coração ou de nossa mente que não esteja sujeita a Jesus Cristo é
vulnerável ao ataque satânico. E é aqui, na vida de pensamentos não-
crucificados da mente do crente, que a destruição de fortalezas é de vital
importância. Por esta razão, precisamos alcançar o que as Escrituras chamam
de “humildade da mente” para que a libertação real seja possível. Quando
descobrimos, em nós mesmos, alguma rebeldia contra Deus, não devemos
nos defender nem nos desculpar. Em vez disso, temos de humilhar o coração
e arrepender-nos, exercitando nossa fé no fato de que Deus nos transformará.
Analise isto: Satanás alimenta-se de pecado. Onde quer que haja um
hábito de pecado na vida do crente, certamente haverá atividade demoníaca
nessa área. O hábito de pecar nem sempre se transforma na habitação de
espírito que rouba o poder da alegria do crente; quando isso acontece, a
pessoa pensa que está tudo bem, levando uma vida descuidada, e essa
habitação (ou hábito) é uma fortaleza.
É preciso admitir que espíritos malignos frequentem a vida de cristãos e
dirigem suas atitudes, bem como certamente concordar que todos temos
uma mente carnal, que é origem de imaginações e pensamentos vãos que os
exaltam acima de Deus. Para lidar com o diabo, temos de tratar dos hábitos de
pensamento carnal, que são fortalezas que protegem o inimigo. Os demônios
operam na área da alma, na vontade das emoções: “Tira a minha alma da
prisão, para que louve o teu nome; os justos me rodearão, porque são mais
fortes do eu” (Salmos 142:7).
O conceito de “aceitar Jesus” é muito vago para se afirmar que a pessoa
está liberta. Aceitar, lembre-se, é diferente de servir. Se você é um cristão há
algum tempo, já teve muitas fortalezas destruídas em sua vida: elas foram
destruídas quando se arrependeu e veio para Jesus. Em geral, a libertação
também é assim tão simples quando a alma está desejosa. Todavia, sem
nenhuma medida de arrependimento, a libertação é praticamente impossível,
pois embora se ordena que o espírito saia enquanto o padrão de
pensamentos do indivíduo não for transformado, pois sua atitude continuará
sendo errada e voltada para o pecado, recebendo de volta o espírito mau com
boas-vindas.
Instituto Teológico Carisma Família Cristã 329

A batalha de todo crente


Para vencer uma guerra é necessário estratégia e planejamento. A guerra
não é alguma grande jornada de poder; antes, é uma exibição de atributos e
caminhos de Deus diante de um mundo perdido e moribundo, que olha para ver se
realmente somos os vencedores, não sujeitos aos poderes malignos desta era. A
arma mais eficaz na guerra espiritual é a oração e o jejum.
Todos os crentes são guerreiros desta batalha desde o momento em que
aceitam a Jesus. Algumas pessoas, porém, questionam que, se Satanás foi vencido
na cruz, por que lutar contra ele? Satanás foi vencido porque o Senhor tirou-lhe as
chaves da morte e do inferno, e sua derrota final se dará na segunda vinda de
Cristo. Renitente, ele tenta tirar da Igreja o maior número de almas possível, ou
simplesmente impedir que o Reino de Deus cresça. Mas, a batalha também se dá
no evangelismo, quando se luta diretamente contras as hostes para que uma alma
seja salva do inferno.
Quando se fala em batalha, temos de lembrar de “legalidade”. É algo polêmico:
mesmo um crente pode ter, em sua vida, brechas nas quais Satanás “monta” sua
fortaleza, ou mesmo quando faz algo errado. Essas brechas podem ser mágoa,
inveja, mentira, lascívia, orgulho.... Veja o trecho de Mateus 16:23: “Ele, porém,
voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de
escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas
que são dos homens”. É Jesus repreendendo o apóstolo, que deu lugar ao diabo.
Há quem defenda, inclusive, que Pedro, ao negar Jesus após a prisão, também
estivesse sob influência maligna. A razão seria que, naquela hora, o apóstolo
corajoso, que enfrentou soldados com espada em punho, transformou-se num
covarde e acuado. Judas, outro apóstolo, foi tomado pelo demônio e entregou
Jesus aos seus algozes, traindo-o.
O pecado, porém, é maior brecha que se pode dar ao diabo, e Jesus exortou:
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está
pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14:38). Além disso, é preciso lembrar do salmista
Davi: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores” (Sl 1:1).
Esta batalha, sabe o diabo, está perdida: Jesus Cristo é o vencedor! Quando
ascendeu aos céus, o Senhor disse aos seus discípulos: “E estes sinais
acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão
novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não
lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados”
(Mc 16:17-18).
Língua
Portuguesa
(Apostila)

“Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria,


peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente,
e não censura, e ser-lhe à dada” (Tiago 1:5)
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 331

Capítulo 1
Pronomes
Pronomes são palavras que representam um substantivo ou acompanha-
no, limitando a significação dele.
Ex.: - O garoto viajou?
- Sim, ele viajou. (ele = pronome) Observe que, na segunda frase, a palavra
ELE substitui o substantivo garoto.
􏰀
Classificação dos pronomes Pronomes pessoais:
São aqueles que substituem os nomes e representam as três pessoas
gramaticais.

Principais empregos dos pronomes pessoais


Os pronomes oblíquos me, nos, te, vos, e se, podem funcionar como
pronomes reflexivos.
Ex.: Nós nos culpamos pelo ocorrido. (nos = a nós mesmos)
Os pronomes nos, vos, e se, podem funcionar como pronomes reflexivos
recíprocos, significando um ao outro.
Ex.: Pai e filho abraçam-se felizes. (se = um ao outro)

Eu x mim
Observe com atenção o emprego de “eu” e “mim”nas frases abaixo:
Você trará a prova para eu corrigir? (correto; corrigir é verbo)
Você trará a prova para mim. (correto; sem verbo.
Para mim, chegar lá será fácil. (correto; = chegar lá será fácil para mim)
Aquele era um problema para mim resolver. (errado; resolver é verbo)

Pronomes possessivos

São aqueles que se referem às três


pessoas gramaticais, indicando o que
pertence a elas.
Ex: Eu já decidi o meu destino.
Todos compreenderam nossa posição.
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 332

Principais empregos dos pronomes possessivos


Com os pronomes de tratamento
devem ser usados os possessivos de
3a pessoa (seu, sua, seus etc.) e não
os de 2a pessoa do plural (vosso,
vossa etc.).
Ex: Vossa excelência esquece o seu
passado!
Os pronomes possessivos seu (s) e sua(s), se não forem usados com certo
cuidado, podem, em certas frases, gerar ambiguidade.
Ex.: Sérgio, o professor convidou seu pai para a festa?
Seu pai = pai de Sérgio ou pai do professor? Os pronomes possessivos
podem ser, eventualmente, substituídos por pronomes oblíquos.
Ex.: A saudade aperta-me o coração. (me = meu)
Pronomes demonstrativos
Indicam o lugar em que se encontra o ser a que o falante se refere.

Principais empregos dos


demonstrativos:
Este(s), esta(s), e isto: são usados
para iniciar seres que estão perto
da pessoa que fala.
Esse(s), essa(s) e isso: são usados para indicar seres que estão perto da
pessoa que ouve.
Aquele(s) , aquela(s) e aquilo: são usados para indicar seres que estão longe
da pessoa que fala e também longe da pessoa que ouve. Além dos pronomes
demonstrativos anteriores, há também outras palavras que podem, em
certas fases, funcionar como demonstrativos.
Ex.: Ele não disse o que queria. (o = aquilo) Ele sempre conta a mesma
mentira.
Você não tomaria tal atitude. (tal = esta)
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 333
Pronomes indefinidos
São os que, de modo vago, impreciso, indeterminado, referem-se à 3a
pessoa gramatical.
Ex.: Alguém esteve aqui.

Pronomes interrogativos:
São as palavras que, quem, qual,
quais, quanto(s) e quanta(s) usadas
na formulação de frases
interrogativas
diretas ou indiretas.
Ex.: Quantas pessoas estavam aqui? (interrogativa direta)
Diga-me quantas pessoas estavam aqui. (interrogativa indireta)

Pronomes relativos
São os que se referem (relacionam) a um substantivo anterior,
substituindo-o na oração seguinte.
Ex.: Eu comprei a casa. A casa foi do
meu avô.
Eu comprei a casa, que foi do meu
avô. (casa = substantivo; que =
pronome relativo).

Principais empregos dos relativos


O relativo quem só é usado em relação a pessoa e sempre aparece
precedido de preposição.
Ex.: Essa é a mulher a quem eu pedi ajuda. (mulher = pessoa; a = preposição;
quem = pronome relativo)
O relativo que pode ser substituído por o qual, a qual, etc.
O relativo onde pode ser substituído por em que. (Onde, porém, só
pode ser usado para lugares)
Ex.: Passei pela cidade onde você mora. (onde = em que)
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 334

Capítulo 2
Crase

Crase é uma palavra com origem no grego “krásis”, que significa “mistura,
fusão”. Trata-se, em língua portuguesa, da fusão da preposição “a” com o
artigo definido feminino “a”.

Atenção! Só haverá crase diante de palavra feminina e que dependa de outra
que exija a preposição a.

Casos em que o uso da crase é obrigatório:


a) Na indicação de horas
Às três da manhã. À zero hora. À meia-noite. Às duas da tarde.
b) Em locuções adverbiais (em geral nas locuções adverbiais de
instrumento para evitar ambiguidade, ou quando estiverem pluralizadas),
prepositivas e conjuntivas, formadas por palavras femininas: às pressas, à
direita, à custa de, às tontas, às claras, à procura de, à medida que, à espera
de, à moda de.

Atenção! O uso da crase é obrigatório mesmo quando a expressão estiver


subentendida: Móveis à Luís XV. Escrevia à Machado de Assis.

c) Antes dos pronomes relativos que, qual, quais (quando o a ou as puder


ser substituído por ao ou aos): É a cidade à qual você se referiu. É uma
conversa semelhante à que tivemos antes.

d) Diante da palavra distância, desde que determinada: Encontrava-se à


distância de 20 metros.
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 335

Atenção! A polícia manteve-se a distância. 􏰀

Casos em que não ocorre crase


a) Diante de palavras masculinas: Andar a cavalo. Escrever a lápis. Comprar
a prazo. Chegar a tempo.
b) Diante de verbos: Ficava a contemplar a plantação. Estava a percorrer as
ruas.
c) Diante de pronomes de tratamento: O que direi a Vossa Excelência?
Recomendamos a Vossa Senhoria.

Atenção! Perguntei à senhora. Entreguei-o à senhorita

d) Diante de pronome que não admitem artigo: Fiz alusão a esta aluna.
Perguntei a ele e a ela. Não vou a qualquer parte.
Ela deve a mim e a ti. É o menino a cuja mãe me referi.
e) Diante de palavras no plural (sentido genérico), se o “a” estiver no
singular. Não falo a pessoas desinteressadas. Aspiro a posições de destaque.
f) Diante do artigo indefinido “uma”: Não se deve chegar a uma atitude
dessas. Não me submetendo a uma ordem deste tipo.

Atenção! Saíra à uma da tarde. (numeral)

g) Diante da palavra “terra” quando esta designar “chão firme”: O marinheiro


foi a terra.

Atenção! Os tripulantes regressaram à terra. Ele voltou à terra natal.

h) Diante da palavra “casa” no sentido de “lar”: Quando voltou a casa,


estava exausta. Só chego a casa na hora do almoço

Atenção! Voltou à casa dos pais. Fez uma visita à Casa Branca (“casa” esta
determinada)

i) Nas locuções formadas por palavras repetidas: Sentaram-se frente a


frente. Tomou o remédio gota a gota. Houve reação de parte a parte.

j) Nomes próprios femininos, de mulheres célebres, ou pessoas não


íntimas: Impuseram condições a Maria Stuart. Vou levar isto a Elisa.
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 336

Atenção! Se empregarmos o artigo diante de nomes próprios femininos


para denotar intimidade ou grau de parentesco, a crase será aceita: Pedirei
dinheiro à Maria.

Casos em que o uso da crase é facultativo

a) Diante de pronomes possessivos: Pediu à sua irmã (a sua) que me


encontrasse.

Atenção! Com possessivos no plural é preferível o uso da crase:

b) Com até/até a: Dirigiu-se até a (ate à) porta.

c) Antes de nomes de mulheres: Peça à Maria (a Maria)que nos


acompanhe.
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 337
Expressões com e sem crase

a álcool esta(s) à exceção de à moda (de)


à altura (de) à faca à morte
à americana a facadas à mostra
à baiana a ferro e fogo a nado
à baila à flor da pele à navalha
à bala à força (de) à noite
à beça à frente (de) à nossa espera
à beira (de) a frio a óleo
à beira-mar a fundo a olho nu
à beira-rio a gás à ordem
a bel-prazer a gasolina a ouro
a bordo à gaúcha à paisana
à brasileira a gosto a pão e água
à caça (de) a grande distância a par
a calhar a granel à parte
a caráter à inglesa a partir de
à carga à italiana a passarinho
a cargo de à janela a pauladas
a cavalo a jato à paulista
a cerca de a juros a pé
a certa distância a lápis a pedidos
à chave a lenha a pequena distância
a começar de a longa distância a pino
a contar de a longo prazo à ponta de faca
a curto prazo a lufadas a pontapés
à custa (de) à luz a ponto de
a dedo a mais à porta
à deriva à maneira de a portas fechadas
a diesel à mão a postos
à direita à mão direita a pouca distância
à disposição à máquina à praia
a distância à margem (de) a prazo
a duras penas à medida que à prestação
elas(s), a ele(s) a meia altura a prestações
a eletricidade à meia-noite à primeira vista
à entrada (de) a menos a princípio
à escolha (de) à mercê (de) à procura (de)
a esmo à mesa a propósito
à espada à mesma hora à prova
à espera (de) a meu ver à prova d’água
à espreita (de) à milanesa à prova de fogo
à esquerda à mineira a público
a esse(s), a essa(s) à minha disposição a punhaladas
a este(s), a esta(s) à minha espera à pururuca
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 338
Expressões com e sem crase

àquela altura às margens de à vista disso


àquela hora, àquelas horas às mil maravilhas à volta (de)
àquele dia às moscas à vontade, à-vontade
àqueles dias à solta a zero, à zero hora
àquele tempo à sombra (de) bater à porta
àqueloutro(s), às onze (horas) cara a cara
àqueloutra(s) às ordens (de) cheirar a perfume
à queima-roupa à sorte condenado à morte
a querosene às portas de dar à luz
à raiz de às pressas de alto a baixo
à razão (de) às quais de cabo a rabo
à ré às que (=àquelas que) de fora a fora
a respeito de às segundas-feiras de mais a mais
a rigor às soltas de mal a pior
à risca às suas ordens de parte a parte
à roda (de) às tantas de ponta a ponta
a rodo à sua disposição descer à sepultura
à saciedade à sua escolha de sol a sol
à saída à sua espera dia a dia
à saúde de à sua maneira exceção à regra
às avessas à sua moda face a face
às barbas de à sua saúde faltar à aula
às boas às últimas folha a folha
às carreiras às vésperas (de) frente a frente
às cegas às vezes gota a gota
às centenas às vistas de graças às
às claras à tarde hora a hora
às costas à tardinha ir à forra
às dez (horas) à tinta ir às compras
às dezenas a tiracolo ir às urnas
a distância a tiro jogar às feras
à distância de à toa lado a lado
às doze horas à-toa mandar às favas
às duas (horas) a toda mãos à obra
às dúzias a toda força marcha à ré
a seco a toda hora meio a meio
a seguir à tona (de) palmo a palmo
à semelhança de à última hora para a frente
a sério à uma (hora) passar à frente
a serviço a valer passo a passo
às escondidas a vapor perante as
às escuras a vela pôr à mostra
a sete chaves à venda avião a jato pôr à prova
às gargalhadas à vista (de) pôr fim à vida
às lágrimas
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 339
Expressões com e sem crase

a quatro mãos
à que (= àquela que)
quanto às
reduzir a zero
sair à rua
saltar à vista
terra a terra
todas as vezes
uma à outra
umas às outras
valer a pena
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 340

Capítulo 3
Verbo

Verbo é a palavra que exprime um fato (ação, estado ou fenômeno)


situado ao tempo. É uma palavra variável que:

a) pode ser conjugada no passado, presente e futuro.


b) indica ação, estado ou fenômeno da natureza.
c) pode vir precedida pelos pronomes pessoais retos, que representam as
pessoas verbais.

Flexões do verbo
O verbo varia em número (singular, plural), pessoa (1a ,2a, 3a ), tempo
(presente, passado, futuro), modo (indicativo, subjuntivo, imperativo) e voz
(ativa, passiva, reflexiva).

Conjunções verbais
1a conjugação: terminação AR (ex.: falar)
2a conjugação: terminação ER (ex.: ler)
3a conjugação: terminação IR (ex.: sair)

Pretérito (passado)
perfeito: Eu andei
imperfeito: Eu andava
mais-que-perfeito: Eu falara

Futuro
Do presente: Eu levarei
Do pretérito: Eu levaria

Modos verbais:
Indicativo: atitude de certeza.
Subjuntivo: atitude de hipótese, dúvida
Imperativo: atitude de ordem, pedido, etc.
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 341

Formas nominais:
Infinitivo: terminação R (andar, viver, dividir).
Gerúndio: terminação NDO (andando, vivendo, partindo)
Particípio: terminação ADO (p/ 1a conjugação) e IDO (p/ 2a e 3a
conjugações).

Classificação dos verbos

Regular : verbo que, ao ser conjugado, não sofre modificação em seu


radical. Ex.: CANTar (Eu CANTo, Nós CANTamos etc.)
Irregular: verbo que, ao ser conjugado, sofre alteração em seu radical . Ex.:
MEDir (eu Meço, Que eles Meçam etc.)
Defectivo: é todo verbo que apresenta falhas, lacunas, em sua conjugação.
Ex.: Colorir (não existe “eu coloro”)
Abundante: é o verbo que possui duas for- mas equivalentes. Em geral
essa equivalência ocorre no particípio. Ex.: Acender: particípio regular =
acendido; particípio irregular: aceso
Principal: é o verbo que conserva, na frase, sua significação total, plena.
Ex.: Ele estudou a lição.
Auxiliar: é todo verbo que se junta a outro verbo para constituir as
locuções verbais e os tempos compostos. Ex.: Todos estavam procurando
você (estavam = verbo auxiliar; procurando = verbo principal)

Vozes verbais
Voz ativa o sujeito pratica a ação verbal. Ex.: O garoto prendeu o pássaro. (
garoto = sujeito; prendeu = ação)
Voz passiva: o sujeito recebe, sofre a ação verbal. A voz passiva pode ser:
a) analítica: verbo auxiliar + particípio do verbo principal. Ex.: O rapaz foi
vaiado pelos amigos. (rapaz = sujeito; foi = verbo auxiliar; vaiado = verbo
principal).
b) sintética ou pronominal: formada por um verbo indicador de ação +
pronome se (pro- nome apassivador). Ex.: Alugaram-se todas as casas.
(alugaram = verbo/ação; se = pronome apassivador; todas as casas = sujeito)
c) Voz reflexiva: o sujeito pratica e também recebe a ação verbal. Ex.: A
menina penteava-se calmamente. (menina = sujeito)

Formação do imperativo
O imperativo é o modo que exprime ordem, pedido, convite etc. Por esse
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 342

motivo ele não possui a 1a pessoa do singular (eu), uma vez que não é lógico,
não teria sentido o falante dar uma ordem, ou fazer um convite a ele mesmo.

Observe no quadro abaixo a formação dos imperativos afirmativo e


negativo:

Conjugar um verbo é flexioná-lo em tempo, modo, número e pessoa


Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 343
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 344

Capítulo 4
Advérbio
Advérbio é uma palavra que tem por função modificar o sentido de
verbos, adjetivos e de outros advérbios. O advérbio sempre apresenta uma
circunstância, dando idéia de tempo, lugar, modo, afirmação, dúvida, etc.
Além disso, é sempre invariável, ou seja, não pode ir para o feminino, nem
para o plural. Na oração, o advérbio só exerce a função de adjunto adverbial.
Ex.: O navio não chegou hoje. (não = advérbio; chegou = verbo; hoje =
advérbio)
Na oração, não e hoje são advérbios, pois estão modificando um pouco
o sentido do verbo “chegar”. Acrescentando a esse verbo, respectivamente,
as ideias de “negação” e “tempo”.
A criança estava bastante triste. (bastante = advérbio; triste = adjetivo)
Bastante é advérbio, pois está modificando um pouco o sentido do
adjetivo “triste”, intensificando-o.
O avião chegou muito cedo. (muito = advérbio; triste = adjetivo)
Como cedo modifica o verbo “chegar”, é advérbio.
Muito é advérbio, pois modifica o advérbio “cedo”.

Locução adverbial
Conjunto de duas ou mais palavras que funciona como advérbio.
Ex.: De manhã, ele irá à cidade. (de manhã = locução adverbial; irá =
verbo de locução; à cidade = locução adverbial)
Outros exemplos: às cegas, às claras, à toa, a medo, à pressa, às
pressas, a pé, a pique, a fundo, a jusante, a montante, à uma, às escondidas,
às tontas, à noite, às vezes, ao acaso, de repente, de chofre, de forma
alguma, de cor, de improviso, de propósito, de viva voz, de súbito, de uma
assentada, de soslaio, de quando em quando, de vez em quando, em breve,
em vão, por miúdo, por atacado, em cima, por fora, por hora, por trás, para
trás, de perto, sem dúvida, com certeza, por certo, por um triz, o mais das
vezes, as mais das vezes, passo a passo, lado a lado, vez por outra, de fome,
de medo etc.

Classificação dos advérbios


Afirmação: sim, é claro, certamente etc.
Dúvida: talvez, provavelmente etc.
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 345
Intensidade: muito, pouco, meio, tão etc.
Lugar: aqui, longe, junto, fora etc.
Modo: rapidamente, às escondidas, assim etc.
Negação: não, de maneira alguma etc.
Tempo: sempre, agora, ontem, às vezes etc.

Preposição
Preposição é a palavra que relaciona duas outras palavras, estabelecendo
entre elas uma relação, de tal forma que o sentido da primeira é explicado ou
completado pela segunda.
Ex.: Ninguém teve medo de ameaças. (de = preposição)
O barco dirigiu-se para a margem. (para = preposição)

Subdivisão das preposições


Essenciais: sempre funcionam como preposição (a, ante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre)
Acidentais: palavras que às vezes funcionam como preposição (conforme,
consoante, durante, exceto, segundo etc.)

Conjunção
Conjunção é a palavra que tem por função ligar dois termos de uma
oração ou ligar entre si duas orações.

Subdivisão das conjunções


Conjunções coordenativas: ligam dois termos de uma oração ou duas
orações independentes, de mesmo valor
Ex.: Os estudantes e os trabalhadores vaiavam o político. (O e está
ligando dois termos da oração.)
O lugar é lindo, mas o povo não vive feliz. (O mas está ligando duas
orações).

Conjunções subordinativas
Ligam duas orações, uma das quais depende da outra.
Ex.: Só iríamos se você nos obrigasse.

Interjeição
Interjeição é toda palavra ou expressão que utilizamos para expressar de
modo vivo e intenso nossos estados emotivos.
Instituto Teológico Carisma Língua Portuguesa - Apostila 346
Ex: Nossa! Como foi fácil a prova! (nossa = interjeição).
Acabaram-se as aulas, ufa! (ufa = interjeição)
Jesus disse que seus discípulos, em certo
momento da caminhada, receberiam um
poder que viria do alto, revestindo-os com
coragem, bravura, intrepidez, fervor e uma
consciência fiel de que o Senhor continuaria,
no meio dos séculos e milênios, sendo o
mesmo "Eu Sou" do passado. O carisma do
Espírito Santo, fundamento da fé pentecostal,
não é base da salvação, pois esta vem pela
graça, pela fé. E o poder pentecostal, revelado
através dos dons
espirituais, é dado para honrar e revestir a igreja, não interferindo na
salvação das almas.
O estudo do pentecostalismo ainda é incipiente no Brasil. A razão é que
nossos pais na fé são oriundos de igrejas tradicionais que, apenas
recentemente, começaram a se abrir para o entendimento sobre o
avivamento e o mover do Espírito Santo.
Esta é uma lacuna que o Instituto Teológico Carisma (ITC) quer preencher,
lançando as bases de uma doutrina pentecostal. Não se trata, porém, de
apenas uma decodificação de passagens bíblicas. O Curso Fundamental
de Teologia do ITC, que se inicia com este primeiro volume, traz
revelações de Deus para seu povo, mostrando que a chama viva do
Espírito está acessa sobre a Igreja contemporânea. Há dúvida de que os
dias da profecia são os atuais? Roguemos a Deus para que, em sua
misericórdia, dê a cada um soberania para absorver o conhecimento e,
mais ainda, espaço para a atuação do Espírito Santo em nossas vidas.
Somente assim, com direção divina e tendo o Espírito como guia,
poderemos compreender a verdade sobre o avivamento.

Instituto Teológico Carisma

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