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Esta tese pressupõe que a jurisdição na Igreja absolutamente não pode estar
com um herege.
"A perda da fé por heresia meramente interna não acarreta a perda do poder de
jurisdição (...). Isso se prova em primeiro lugar pelo fato de que o governo
(eclesiástico) se tornaria muito incerto caso o poder dependesse de
pensamentos e culpas interiores. Outra prova: dado que a Igreja é visível,
cumpre que o seu poder governativo seja a seu modo não de meras cogitações
mentais. Esta é uma razão ―a priori‖, pois em tal caso a Igreja não retira o
poder através de seu direito humano, uma vez que não julga do que é interno,
como diremos adiante. E o poder também não é tirado por força do mero
direito divino, porque este ou é natural, vale dizer, conatural aos próprios dons
sobrenaturais, ou é estabelecido por determinação positiva. O primeiro
membro do dilema não pode ser aceito, porque pela própria natureza das
coisas não se pode demonstrar uma conexão necessária entre a fé e o poder de
jurisdição; e também porque o poder de ordem é ainda mais sobrenatural, e no
entanto não se perde, o que constitui verdade de fé, como se expõe mais
amplamente no tratado dos Sacramentos em geral, e como ensina São Tomás
(II-II, q. 39, a. 3). Portanto, embora a fé seja fundamento da santificação e dos
dons que a ela pertencem, não é contudo fundamento dos demais poderes e
graças, que são concedidos em benefício dos outros homens. O segundo
membro do dilema se elimina com a simples observação de que pela Tradição
nem pela Escritura é possível demonstrar a existência desse direito divino-
positivo. Finalmente, é consentâneo com a razão que, assim como a jurisdição
eclesiástica só é conferida através de alguma ação humana - quer seja esta
apenas designativa, isto é, eletiva da pessoa, como no caso do Sumo Pontífice,
quer seja colativa do poder, como nos demais casos - assim também não deva
ser retirada senão através de alguma ação externa, pois em ambas as situações
deve ser guardada a devida proporção, atendendo-se à condição e natureza do
homem" [1].
S.Roberto Bellarmino
"Além disso, a segunda afirmação de Cajetano, de que o Papa herege pode ser
verdadeira e autoritativamente deposto pela Igreja, não é menos falsa do que a
primeira. Pois se a Igreja depõe o Papa contra a vontade deste, está certamente
acima do Papa; o próprio Caietano entretanto defende, no mesmo tratado, o
contrário disto. Caietano responde que a Igreja, depondo o Papa, não tem
autoridade sobre o Papa, mas apenas sobre o vínculo que une a pessoa ao
Pontificado. Do mesmo modo que a Igreja, unindo o Pontificado a tal pessoa,
não está por isso acima do Pontífice, assim também pode a Igreja separar o
Pontificado de tal pessoa em caso de heresia, sem que se diga estar acima do
Pontífice.
Mas contra isso deve-se observar em primeiro lugar que, do fato de que o
Papa depõe Bispos, deduz-se que o Papa está acima de todos os Bispos,
embora o Papa ao depor um Bispo não destrua a jurisdição episcopal, mas
apenas a separe daquela pessoa. Em segundo lugar, depor alguém do
Pontificado contra a vontade do deposto, é sem dúvida uma pena; logo, a
Igreja, ao depor um Papa contra a vontade deste, sem dúvida o está punindo;
ora, punir é próprio ao superior e ao juiz. Em terceiro lugar, dado que,
conforme Cajetano e os demais tomistas, na realidade o todo e as partes
tomadas em seu conjunto são a mesma cosa, quem tem autoridade sobre as
partes tomadas em seu conjunto, podendo separá-las entre si, tem também
autoridade sobre o próprio todo constituído por aquelas partes [3].
Dr.Arnaldo Vidigal [4], seguindo Suarez [5] subdivide em três as teses sobre a
natureza do "manifesto":
"Diz ele que isso se daria quando a heresia se tornasse "manifesta"; e opõe o
conceito de "manifesto" ao de "oculto". Ora, a heresia oculta pode ser a
interna (oculta "per se"), como pode ser a externa desconhecida por outrem
(oculta "per accidens"). A se atribuir a São Roberto Bellarmino a primeira
dessas interpretações, o Papa perderia o Pontificado no momento em que
exteriorizasse sua heresia, ainda que ninguém o percebesse. A se lhe atribuir a
segunda interpretação, a perda do Pontificado se daria quando algumas outras
pessoas – talvez uma só – soubessem do fato.
Ademais, o santo também reconheceu esta tese como provável, mas não como
a mais provável.
(...) O mesmo diz Melchior Cano (lib. 4 de loc., cap. 2), ensinando que os
hereges não são partes nem membros da Igreja, e que não se pode sequer
conceber que alguém seja cabeça e Papa, sem ser membro e parte (cap. ult. ad
argument. 12). E ensina no mesmo local, com palavras claras, que os hereges
ocultos ainda são da Igreja, são partes e membros, e que portanto o Papa
herege oculto ainda é Papa. Essa é também a sentença dos demais autores que
citamos no livro 1 "De Eccles.".
Bíblia
Considerando que possa cair em heresia: "Roguei por ti, para que a tua fé
não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos" S. Lucas
22:32.
Papa Adriano II
"Julgamos que, juntamente com esses, foi lançado fora da Santa e Católica
Igreja de Deus, e anatematizado, também Honório, outrora Papa de Roma,
pois verificamos, por seus escritos enviados a Sérgio, que em tudo seguiu o
pensamento deste último e confirmou seus princípios ímpios" [2].
“Se por Igreja Romana se quer dizer a sua cabeça ou pontífice, é fora de
dúvida que ele pode errar, mesmo em matérias que tocam a fé. Ele faz isso
quando ensina heresia por seu próprio julgamento ou decreto. Na verdade,
muitos pontífices romanos foram hereges. O último deles foi o Papa João XXII
(† 1334)“ [4].
“Nos termos da Lei antiga, o Sumo Sacerdote não usava o Rational, exceto
quando estava investido com as vestes pontificais e entrava diante do
Senhor. Assim nós não dizemos que o Papa não pode errar em suas opiniões
privadas, como fez João XXII; ou não ser totalmente um herege, como, talvez,
Honório era” [5].
São Bruno ao Papa Pascoal II insinuando que ele podia cair em heresia
obstinada
"(...) Eu vos estimo como a meu pai e senhor (...). Devo amar-vos; porém
devo amar mais ainda Àquele que criou a vós e a mim. (...) Eu não louvo o
pacto (assinado pelo Papa), tão horrendo, tão violento, feito com tanta
traição, e tão contrário a toda piedade e religião. (...) Temos os Cânones;
temos as constituições dos Santos Padres, desde os tempos dos Apóstolos
até vós. (...) Os Apóstolos condenam e expulsam da comunhão dos fiéis
todos aqueles que obtêm cargos na Igreja através do poder secular. (...) Esta
determinação dos Apóstolos (...) é santa, é católica, e quem quer que a ela
contradiga, não é católico. Pois somente são católicos os que não se opõem à
fé e à doutrina da Igreja católica. E, pelo contrário, são hereges os que se
opõem obstinadamente à fé e à doutrina da Igreja católica. (...)" [6].
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[1] Adriano II, alloc. III lecta in Conc. VIII, Act. 7 - citado por Billot, Tract. de Eccl. Christi, tom. I, p. 619 - Ver também Hefele-Leclercq, tome V, pp. 471-
472
[2] Denz.-Sch. 552.
[3] Denz.-Sch. 563
[4] Quaest. in IV Sent. Quote in: “L’Infaillibilité du pape et le Syllabus”, (Besançon: Jacquin; Paris: P. Lethielleux, 1904)
[5] St. Francis de Sales, The Catholic Controversy (TAN Books) p 305-306
[6] Carta de São Bruno de Segni a Pascoal II, escrita em 1111 - P.L., tom. 163, col. 463. Ver também: Baronius, Annales, ad ann. 1111, n.º 30, p. 228;
Hefele-Leclercq, tom. V, part. I, p. 530
[7] P.L., tom. 162, col. 240
[8] Hierarch. Eccles., lib. 4, cap. 8
[9] De Romano Pontifice, lib II, cap. 30
[10] Op.Cit. A.Xavier, pg. 8
Notas finais:
1 Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 1, pág. 578;
Denzinger 714.
2 Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 1, pp. 125-126.
3 Denzinger 253.
4 São Francisco de Sales, The Catholic Controversy, pp. 305-
306.
5 Oeuvres Complètes, 9:232.
Do livro: A Verdade sobre o que Realmente Aconteceu à Igreja Católica
depois do Vaticano II