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– 29 de outubro de 2020 –

‘COMO O VATICANO II SERVE


À NOVA ORDEM MUNDIAL’
Conteúdo integral da conferência dada por Dom Antônio Carlo
M. Viganò, Arcebispo e ex-Núncio Apostólico dos EUA, a qual
trata sobre a grande crise atual na Igreja e a terrível ‘máfia
eclesiástica’ que nos assola, denunciando a proliferação das
heresias promovidas pelo Vaticano II, as profanações cometidas
por clérigos, os erros gritantes do Papa Francisco (que segundo
ele teria sido eleito por influência da maçonaria) e a apostasia
generalizada. Tradução de Henrique Sebastião (Diretor da
Fraternidade Laical São Próspero / www.ofielcatolico.com).
1. VIVEMOS EM TEMPOS EXTRAORDINÁRIOS

Cada um de nós, sem dúvida, já entendeu que nos encontramos em um


momento histórico; eventos passados, que antes não pareciam estar
relacionados entre si, agora mostram-se inequivocamente relacionados,
tanto pelos princípios que os inspiram quanto pelos objetivos aos
quais aspiram. Um olhar justo e objetivo sobre a situação atual não pode
deixar de demonstrar a perfeita coerência que há entre a evolução da
estrutura política global e a missão que a Igreja tem assumido na
implementação da Nova Ordem Mundial.

Para ser mais preciso, seria necessário falar da missão que essa
aparente maioria na Igreja desempenha, mas na verdade trata-se de um
grupo numericamente pequeno, porém extremamente poderoso ao
qual, por uma questão de brevidade, chamarei "deep church" ('igreja
oculta' ou 'subterrânea', em tradução livre).

Claro que não existem realmente "duas igrejas", o que seria


impossível, blasfemo e herético. E nem a única e verdadeira Igreja de
Cristo falhou em sua missão, pervertendo-se ao extremo de se tornar
uma seita. A Igreja de Cristo realmente nada tem a ver com aqueles que
há sessenta anos realizam um plano para assumi-la. A sobreposição
entre a hierarquia católica e os membros da "deep church" não é um fato
teológico, mas uma realidade histórica que escapa a qualquer
classificação e que, como tal, é necessário analisar.

Sabemos que o programa da Nova Ordem Mundial consiste em


implantar uma tirania por meios maçônicos. Esse plano remonta à
Revolução Francesa, à Idade do Iluminismo, ao fim das monarquias
católicas e à declaração de guerra à Igreja. Podemos afirmar que a Nova
Ordem Mundial é a antítese da sociedade cristã. Seria o
estabelecimento da Civitas Diaboli – a cidade do Diabo – frente à Civitas
Dei – a cidade de Deus – na luta eterna entre a Luz e as trevas, o Bem e o
mal, Deus e Satanás.
Nesse confronto, a Providência colocou a Igreja de Cristo, e em
particular o Sumo Pontífice, como Katejón, isto é, aquele que se opõe à
manifestação do mistério da iniquidade (2Ts 2,6s). A Sagrada Escritura
também nos adverte que, quando o Anticristo aparecer, esse obstáculo,
o katejón, deixará de existir. Parece-me bastante evidente que o fim dos
tempos está próximo, bem diante dos nossos olhos, e é óbvio, porque o
mistério da iniquidade se espalhou pelo mundo com o desaparecimento
da corajosa oposição do katejón.

Não cometamos o grave erro de considerar o que está


acontecendo na atualidade como normal, julgando a tudo com os
parâmetros sociológicos ou canônicos que uma situação normal poderia
pressupor. Nestes tempos extraordinários em que vivemos – e a crise
pela qual a Igreja está passando é certamente extraordinária – temos
acontecimentos que vão muito além do normal que nossos pais
conheceram. Em tempos extraordinários, podemos ouvir um Pontífice a
enganar os fiéis; ver príncipes da Igreja acusados de crimes os quais, em
outros tempos, teriam causado horror e os levariam a sofrer severas
punições; testemunhamos ritos litúrgicos realizados em nossos templos
que parecem ter sido inventados pela mente perversa de um Thomas
Cranmer [arcebispo inglês herege responsável por diversas deturpações
litúrgicas no século XVI]; vemos como os prelados levam em procissão o
imundo ídolo da Pachamama até a Basílica de San Pedro; e ouvimos o
Vigário de Cristo pedir desculpas àqueles que adoravam tal ídolo,
porque um católico ousou jogá-lo no rio Tibre.

Nestes tempos extraordinários, ouvimos um conspirador – Cardeal


Godfried Danneels – a nos dizer que desde a morte de João Paulo II, a
Máfia de St. Gallen conspirou para eleger um dos seus para a Cátedra de
São Pedro, e isso se concretizou na pessoa de Jorge Mario Bergoglio.
Diante de revelações tão desconcertantes, ficamos surpresos que
nenhum cardeal ou bispo tenha expressado indignação ou pedido que a
verdade seja trazida à luz.

2. ECLIPSE DA VERDADEIRA IGREJA

Há sessenta anos testemunhamos como a verdadeira Igreja é eclipsada


por uma anti-Igreja que, pouco a pouco, usurpou o seu nome e ocupou a
Cúria Romana e os SEUS dicastérios, bem como dioceses, paróquias,
seminários, universidades, conventos e mosteiros. A anti-Igreja usurpou
a autoridade da Igreja de Roma, e seus ministros vestiram os seus
sagrados paramentos; esta usou o prestígio e o poder da Igreja para se
apropriar de seus tesouros, suas contas, suas finanças.

Assim como acontece na natureza, esse eclipse não aconteceu


repentinamente; o mundo vai lentamente da luz à escuridão quando um
corpo celestial fica entre o sol e nós. É um processo relativamente lento,
mas inexorável, no qual a lua anti-Igreja continua sua órbita até se
sobrepor ao sol, criando um cone de sombra projetado na Terra.
Estamos atualmente naquele cone de sombra doutrinal, moral, litúrgica
e disciplinar. Ainda não é o eclipse total, que veremos no final dos
tempos durante o reinado do Anticristo. É um eclipse parcial, que nos
permite ver ainda a coroa luminosa do Sol em torno do disco negro da
lua.

O processo que levou ao atual eclipse da Igreja, sem dúvida,


começou com o modernismo. A anti-igreja continuou a sua órbita
apesar das condenações solenes do Magistério, que naquela fase brilhou
com o esplendor da Verdade. Mas, com o Concílio Vaticano II, as trevas
daquela falsa entidade desceram sobre a Igreja. De início, apenas uma
pequena parte foi escurecida, mas aos poucos a escuridão foi
aumentando. E nessa fase inicial, se alguém apontasse para o Sol,
denunciando que a treva em breve o esconderia, era acusado de ser um
"profeta da desgraça", com os modos de fanatismo e intolerância que
nascem da ignorância e do preconceito. Este foi o caso do Arcebispo
Marcel Lefebvre e de alguns outros prelados, cuja perseguição confirma,
por um lado, a visão daqueles pastores, e por outro, a reação
desordenada de seus adversários, os quais, por medo de perder o poder,
usaram de toda a sua autoridade para negar as provas contra si e ocultar
suas verdadeiras intenções.

Continuemos com a analogia: podemos afirmar que, no


firmamento da Fé, um eclipse é um fenômeno extraordinário e raro.
Mas negar que durante o eclipse a escuridão se expande, só porque em
circunstâncias normais tal coisa não acontece, isso não é um sinal de fé
na indefectibilidade da Igreja, mas sim uma negação obstinada da
evidência, se não de má fé. De acordo com as promessas de Cristo, a
Santa Igreja nunca será derrotada pelas portas do Inferno; mas isso não
significa que não ficará – nem que já não esteja – escondida pela
falsificação infernal: por aquela "lua" que, não por acaso, vemos
pisoteada pela Mulher do Apocalipse: «Um grande sinal apareceu no
céu: a mulher vestida de sol e com a lua sob seus pés, e na cabeça uma
coroa de doze estrelas »(Ap 12,1).

A lua está sob os pés da Mulher que está acima de toda


mutabilidade, toda corrupção terrena, toda lei do destino e do reino do
espírito deste mundo. Isto porque esta Mulher, que é ao mesmo tempo
imagem de Maria Santíssima e da Igreja, é Amicta sole, revestida do Sol
da Justiça, que é Cristo, e portanto é "livre de todo poder demoníaco,
enquanto participa do Mistério da imutabilidade de Cristo" (Santo
Ambrósio). Ela (Igreja) permanece ilesa, se não em seu reino militante,
certamente nas dores do Purgatório e no triunfante do Paraíso.

Comentando as Escrituras, São Jerônimo nos lembra que "as


portas do Inferno são pecados e vícios, e em particular os ensinamentos
dos hereges". Sabemos, portanto, que mesmo a síntese de todas as
heresias, que é o modernismo e sua versão atualizada pelo Concílio,
jamais poderá obscurecer o esplendor da Esposa de Cristo, a não ser
apenas pelo breve espaço de tempo que a Providência permitir, em sua
infinita Sabedoria, par tirar dela o máximo proveito.

3. ABANDONO DA DIMENSÃO ESPIRITUAL

Nesta conferência, gostaria de falar em particular sobre a relação entre a


revolução do Vaticano II e o estabelecimento da Nova Ordem Mundial.
O elemento central desta análise consiste em evidenciar o abandono
pela hierarquia eclesiástica, mesmo nos seus níveis mais altos, da
dimensão sobrenatural da Igreja e da sua missão escatológica. Por meio
do Concílio, os inovadores apagaram a origem divina da Igreja de seu
horizonte teológico, para criar uma entidade de origem humana
semelhante a uma organização filantrópica. A primeira consequência
dessa subversão ontológica foi a negação inevitável da verdade de que a
Noiva de Cristo não está e não pode estar sujeita à mudança por aqueles
que exercem autoridade vicariamente em nome do Senhor. Tampouco é
propriedade do Papa ou dos bispos e teólogos e, consequentemente,
qualquer tentativa de aggiornamento a rebaixa ao nível de uma empresa
que renova sua oferta comercial para obter lucros, vende suas sobras e
segue a moda do momento. Ao contrário, a Igreja é uma realidade
divina e sobrenatural; ela adapta sua maneira de pregar o Evangelho às
nações, mas nunca pode alterar o conteúdo de um único iota [de sua
doutrina] (Mt 5,18) ou negar seu impulso transcendente, rebaixando-se
a um mero serviço social.

Por outro lado, a anti-Igreja orgulhosamente reivindica o direito


de realizar uma mudança de paradigma, mudando não apenas a forma
de expor a doutrina, mas também a própria doutrina. Massimo Faggioli
confirma isso em seus comentários à nova encíclica Fratelli tutti:

«O pontificado de Francisco é como uma bandeira erguida


perante os fundamentalistas católicos e aqueles que igualam
continuidade material e tradição; A doutrina católica não está apenas se
desenvolvendo. Às vezes muda muito. Por exemplo, em relação à pena
de morte e guerra.»[2]

É inútil insistir no que ensina o Magistério. A afirmação flagrante


dos inovadores de que eles têm o direito de alterar a fé teimosamente se
encaixa na abordagem modernista.

O primeiro erro do Conselho consiste, sobretudo, na falta de uma


perspectiva transcendente – fruto de uma crise espiritual já latente – e
na tentativa de criar um paraíso na Terra com um horizonte humano
estéril. Alinhado a essa perspectiva, a Fratelli tutti contempla a
realização na Terra de uma utopia terrena e uma redenção social na
fraternidade humana, uma paz ecumênica entre as religiões e o
acolhimento dos imigrantes.

4. COMPLEXO DE INFERIORIDADE E SENSAÇÃO DE


INSUFICIÊNCIA

Como já escrevi em outras ocasiões, as demandas revolucionárias


da Nouvelle theologie encontraram terreno fértil nos Padres do Concílio
devido a um sério complexo de inferioridade perante o mundo. Houve
um tempo durante a Segunda Guerra Mundial em que a revolução
liderada pela Maçonaria nas esferas civil, política e cultural penetrou na
elite católica e a convenceu de que ela não estava em condições de
enfrentar o desafio de proporções históricas que não podia mais evitar.
Em vez de questionar a si mesmos e sua fé, esta elite – bispos, teólogos e
intelectuais – imprudentemente reivindicou a responsabilidade pelo
fracasso iminente da Igreja em aderir à sua sólida estrutura hierárquica
e ensino doutrinário e moral monolítico. Observando a ruína da
civilização europeia que a Igreja ajudara a formar, a elite pensava que a
falta de entendimento com o mundo se devia à intransigência dos papas
e à rigidez moral dos padres que não queriam se entender no espírito do
tempo e se abrir para o mundo. Essa posição ideológica parte do
conceito errôneo de que se pode estabelecer uma aliança entre a Igreja e
o mundo contemporâneo, uma concordância de intenções, uma
amizade mútua. Nada poderia estar mais longe da verdade, pois não
pode haver trégua na luta entre Deus e Satanás, entre a Luz e as trevas.
«Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua linhagem e a
linhagem dela: ele esmagará a tua cabeça e tu lhe esmagarás o
calcanhar» (Gn 3,15).

Trata-se de uma inimizade desejada pelo próprio Deus, que coloca


Maria Santíssima e a Igreja como eternos inimigos da antiga Serpente. O
mundo tem o seu próprio Príncipe (Jo 12,31), que é o "inimigo" (Mt
13,28), o "assassino desde o princípio" (Jo 8,44) e o "mentiroso" (Jo 8,
44). Tentar fazer um pacto de paz com o mundo significa concordar
com Satanás. Desse modo, fica transtornada e pervertida a própria
essência da Igreja, cuja missão é converter o maior número possível de
almas a Cristo para a maior glória de Deus, sem nem por um momento
abandonar as armas empunhadas contra aqueles que desejam atraí-las
para si e para condenação.

O complexo de inferioridade da Igreja e seu senso de fracasso


perante o mundo criaram uma tempestade perfeita para que a
Revolução se enraizasse nos Padres do Concílio e, por extensão, no povo
cristão, em quem a obediência à Hierarquia talvez tivesse sido cultivada
ainda mais do que a fidelidade ao Depósito da Fé. Serei claro: a
obediência aos nossos sagrados pastores é certamente louvável quando
nos enviam algo legítimo. Mas a obediência deixa de ser uma virtude e
passa a ser servilismo quando se torna um fim em si mesma, e quando
contradiz o fim para o qual foi ordenada, que é a Fé e a Moral. Devemos
acrescentar que esse sentimento de inferioridade foi introduzido no
Corpo da Igreja com grandes demonstrações de teatralidade, como a
deposição da tiara por Paulo VI.
O golpe de misericórdia dessa atitude foi codificado na reforma
litúrgica, que manifesta sua vergonha do dogma católico silenciando-o,
negando-o indiretamente. A mudança de rito engendrou uma mudança
de doutrina que levou os fiéis a crer que a Missa nada mais é do que um
banquete fraterno e que a Santíssima Eucaristia nada mais é do que um
símbolo da Presença de Cristo entre nós.

5. «IDEM SENTIRE» DE REVOLUÇÃO E CONSELHO

O trabalho dos noviços, cujas ideias heréticas coincidiam com as do


mundo, nada mais fazia do que aumentar o sentimento de incapacidade
dos padres conciliares. Uma análise comparativa do pensamento
moderno corrobora o idem sentire, a identidade de opinião ou
mentalidade dos conspiradores com cada um dos elementos da
ideologia revolucionária:

• A aceitação do princípio democrático como legitimação da


origem do poder em substituição do direito divino da Monarquia
católica (Papado incluído).

• Criação e acumulação de órgãos de poder em vez de


responsabilidade pessoal e uma hierarquia institucional.

• O passado é apagado e avaliado de acordo com os parâmetros


atuais que não defendem a Tradição e o legado cultural.

• A ênfase é colocada na liberdade individual e o sentido de


responsabilidade e dever é enfraquecido.

• A evolução constante da moral e da ética, desprovidos de


natureza imutável e de qualquer natureza transcendente.

• Suposto caráter laico do Estado em lugar da devida submissão da


ordem civil à realeza de Jesus Cristo e da superioridade ontológica
da missão da Igreja sobre a esfera do temporal.
• Igualdade das religiões, e não só perante o Estado, mas também
como conceito geral ao qual a Igreja deve se conformar, contra a
defesa objetiva e necessária da Verdade e da condenação do erro.

• Conceito falso e blasfemo da dignidade do homem como algo


que lhe é inato, baseado na negação do Pecado original e na
necessidade da Redenção como premissa para agradar a Deus,
tornar-se digno de sua Graça e alcançar a bem-aventurança
eterna.

• Minar o papel da mulher e desprezar o privilégio da


maternidade.

• Prioridade da matéria sobre o espírito.

• Culto fideísta da ciência[3] em reação a uma crítica implacável da


Religião baseada em falsas premissas científicas.

Todos esses princípios, propagados por ideólogos maçônicos e


apoiadores da Nova Ordem Mundial, coincidem com as ideias
revolucionárias do Concílio:

• A democratização da Igreja, iniciada com a Lumen gentium e


realizada hoje na via sinodal bergogliana.

• A criação e acumulação de órgãos de poder foi realizada pela


delegação de capacidades de tomada de decisão às conferências
episcopais, sínodos de bispos, comissões, conselhos pastorais, etc.

• O passado e as gloriosas tradições da Igreja são julgados de


acordo com a mentalidade presente e condenados a perder o favor
do mundo moderno.

• A liberdade dos filhos de Deus teorizada pelo Concílio Vaticano


II foi estabelecida independentemente dos deveres morais
individuais das pessoas que, com base nos contos de fadas
conciliares, são todas salvas independentemente de suas
disposições interiores e do estado de sua alma.

• O obscurecimento de qualquer referência moral perene tem


resultado na alteração da doutrina sobre a pena de morte; e,
com Amoris laetitia, que os Sacramentos sejam administrados a
adúlteros notórios, causando a destruição do edifício sacramental.

• A adoção do secularismo levou ao desaparecimento da religião


oficial do Estado nos países católicos promovido pela Santa Sé e
pelo Episcopado, por sua vez, levou à perda da identidade
religiosa e ao reconhecimento dos direitos das seitas, bem como à
aprovação de regulamentos que violam o direito natural e divino.

• A liberdade religiosa proposta na Dignitatis Humanae tem


consequências lógicas e extremas na Declaração de Abu Dhabi e
na última encíclica, Fratelli tutti, com a qual a missão salvífica da
Igreja e da Encarnação deixa de fazer sentido hoje.

• As teorias da dignidade humana na esfera católica têm


confundido o trabalho dos leigos em relação ao trabalho
ministerial do clero e um enfraquecimento da estrutura
hierárquica da Igreja, e a ideologia feminista é abraçada, abrindo
caminho para que as mulheres recebem ordens sagradas.

• A preocupação desordenada com as necessidades temporais dos


pobres, muito típica da esquerda, transformou a Igreja em uma
espécie de instituição caritativa, limitando sua atividade ao
meramente material, a ponto de abandonar o aspecto espiritual.

• A submissão à ciência atual e aos avanços tecnológicos resultou


na rejeição da Igreja à rainha das ciências (Fé), "desmitologizando"
milagres, negando a inerrância das Sagradas Escrituras,
entendendo os mistérios mais sagrados de nossa Fé como
mitos ou metáforas, de modo sacrílego implicando que a
Transubstanciação e a Ressurreição são conceitos mágicos que
não devem ser tomados literalmente, mas simbolicamente, e
qualificando os dogmas marianos sublimes como um absurdo.

Há um aspecto quase grotesco desse rebaixamento e deterioração


da Hierarquia que parece se adequar ao pensamento geral. O desejo da
Hierarquia de agradar aos seus perseguidores e servir aos seus inimigos
é sempre tardio e descoordenado, dando a impressão de que os bispos
estão desesperadamente desatualizados, que certamente não estão à
altura dos tempos. Fazem com que aqueles que os veem jogando com
tanto entusiasmo com a própria extinção acreditem que tal exibição de
lisonjeira submissão ao "politicamente correto" não vem tanto de uma
persuasão ideológica sincera, mas do medo de ser varrido, de perder
autoridade e prestígio, apesar de lamentar que o mundo continue a dá-
los. Eles não querem perceber – ou não querem reconhecê-lo – que o
prestígio e a autoridade de que são guardiões vêm da autoridade e do
prestígio da Igreja de Cristo, não do substituto miserável e lamentável
que eles próprios inventaram.

Quando essa anti-Igreja estiver totalmente implantada no eclipse


total da Igreja Católica, a autoridade da Hierarquia dependerá de seu
grau de submissão à Nova Ordem Mundial, que não tolerará o menor
desvio de seu próprio credo e aplicará aquele dogmatismo, fanatismo e
fundamentalismo que muitos prelados e pretensos intelectuais criticam
naqueles que hoje permanecem fiéis ao Magistério. Dessa forma, a "deep
church" poderá continuar a carregar a marca de Igreja Católica, mas
será escrava do pensamento da Nova Ordem, o que lembra aqueles
judeus que, após negarem o reinado de Cristo perante Pilatos, foram
submetidos à servidão pelas autoridades civis de seu tempo: "Não temos
outro rei senão César"(Jo 19,15). O atual "César" manda fechar os
templos, colocar uma máscara e suspender as celebrações sob o pretexto
de uma pseudo-pandemia. O regime comunista persegue os católicos
chineses, e o mundo vê que Roma nada diz. Amanhã, um novo Tito
saqueará o templo do Conselho, levará o saque a algum museu, e a
vingança divina nas mãos dos pagãos terá se cumprido mais uma vez.

6. PAPEL INSTRUMENTAL DOS CATÓLICOS ‘MODERADOS’ NA


REVOLUÇÃO

Alguns dirão que os padres conciliares e os papas que presidiram aquela


assembleia não perceberam as repercussões que sua aprovação do
Concílio teria na Igreja. Se assim for – por exemplo, se houve algum
arrependimento por aprovar apressadamente textos heréticos ou quase
heréticos – é difícil compreender como é que eles não foram capazes de
refrear imediatamente os abusos, corrigir os erros e esclarecer os mal-
entendidos e omissões. Mas, acima de tudo, é incompreensível que as
autoridades eclesiásticas pudessem ser tão implacáveis com aqueles que
defendiam a Verdade católica, e ao mesmo tempo contemporizar de
forma tão atroz com rebeldes e hereges. Seja como for, a
responsabilidade pela crise conciliar deve ser atribuída às autoridades
que, mesmo diante de milhares de chamados à colegialidade e ao
pastoreio dos fiéis, zelosamente guardaram suas prerrogativas de
exercê-las em uma única direção, isto é, contra a o pequeno rebanho
(pusilla grex), e nunca contra os inimigos de Deus e da Igreja.

Com raríssimas exceções, quando algum teólogo herético ou um


revolucionário religioso é censurado pelo Santo Ofício, isso nada mais
faz do que confirmar uma regra que está em vigor há décadas. Sem falar
que ultimamente muitos foram reabilitados, e isso sem nenhuma
abjuração dos seus erros, e até foram promovidos a ocupar cargos
institucionais na Cúria Romana ou nos ateneus pontifícios.

Essa é a realidade, como fica claro em minha análise. Agora,


sabemos que além da ala progressista do Concílio de um lado, e da ala
tradicional católica de outro, há uma parte do episcopado, o clero e o
povo, que procuram manter uma distância equivalente do que
consideram esses dois extremos. Refiro-me aos chamados
"conservadores", ou seja, ao setor centrista do corpo do corpo eclesial
que acaba levando água aos revolucionários, porque, embora rejeite os
seus excessos, compartilha com eles dos mesmos princípios.

O erro dos conservadores não está em conferir ao tradicionalismo


uma conotação negativa, e de colocá-lo ao lado do progressismo. Não
consiste em colocar-se arbitrariamente entre dois vícios, mas entre a
virtude e o vício. São eles que criticam os excessos da Pachamama ou as
declarações mais radicais de Bergoglio, mas ao mesmo tempo não
toleram que o Concílio seja questionado, muito menos a ligação
intrínseca entre o câncer conciliar e a metástase atual. A correlação
entre conservadorismo político e religioso consiste em estar no centro,
uma síntese entre a tese da direita e a antítese da esquerda, segundo a
abordagem hegeliana tão cara aos moderados partidários do Concílio.

No campo civil, o estado profundo dirigiu a dissidência política e


social por meio de organizações e movimentos que aparentemente são
sua oposição, mas na realidade servem para manter o poder. Da mesma
forma, no campo eclesiástico, a igreja profunda usa conservadores
moderados para fingir que oferece liberdade aos fiéis. Por exemplo, o
mesmo motu proprio "Summorum Pontificum", embora permita a
celebração do rito extraordinário, requer pelo menos implicitamente
(saltem simpliciter) que o Concílio seja aceito, e que a legitimidade da
reforma litúrgica reconhecida. Esse estratagema impede que aqueles
que se beneficiam por si mesmos se oponham ao erro, o mínimo que
seja, porque se o fizessem correriam o risco de dissolução das
comunidades Ecclesia Dei. Assim, infiltra-se no povo cristão a perigosa
ideia de que, para que algo bom seja legítimo na Igreja e na sociedade,
deve vir acompanhado de algo mau ou menos bom.

Mas alguém teria que estar muito enganado para fingir que
direitos iguais são concedidos ao bem e ao mal. Pouco importa que
alguém seja pessoalmente favorável ao bem, se reconhecer a
legitimidade daqueles que são a favor do mal. Nesse sentido, a liberdade
de escolha do aborto, teorizada pelos políticos democratas, encontra o
seu contrapeso na não menos aberrante liberdade religiosa teorizado
pelo Concílio, e que hoje defende obstinadamente a anti-Igreja. Se um
católico não tem permissão para apoiar um político que defende o
direito ao aborto, menos é permitido aprovar um prelado que defende a
liberdade pessoal de colocar em perigo sua alma imortal, ao escolher
permanecer em pecado mortal. Isso não é misericórdia, mas uma grave
negligência das funções espirituais diante de Deus, para ganhar o favor e
a aprovação do homem.

7. SOCIEDADE ABERTA E RELIGIÃO ABERTA

A presente análise não seria muito completa se não falasse da nova


língua tão popular na esfera eclesial. O vocabulário católico tradicional
foi deliberadamente modificado com o objetivo de alterar o conteúdo
que expressa. O mesmo aconteceu com a liturgia e a pregação, em que a
clareza da expressão católica foi substituída pela ambiguidade ou pela
negação implícita das verdades dogmáticas. Mil exemplos podem ser
dados. Este fenômeno remonta ao Concílio, que tentou criar versões
católicas de slogans mundanos. No entanto, gostaria de enfatizar que
essas expressões emprestadas de vocabulários secularistas também
fazem parte da novilíngua. Pensemos na insistência de Bergoglio na
Igreja partidária ou na abertura ao mundo como um valor positivo.
Além disso, coloquei algumas citações da Fratelli tutti:
“Um povo vivo, dinâmico e com futuro é aquele que está
permanentemente aberto a novas sínteses, incorporando o diferente”
(n.º 160).

«A Igreja é uma casa de portas abertas» (n. 276).

«Queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus
templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar
a esperança, ser um sinal de unidade […] construir pontes, romper
paredes, semear reconciliação » (Ibid.).

A semelhança com a "sociedade aberta" adotada pela ideologia


mundial de Soros se destaca a tal ponto que quase constitui uma
religião aberta como um contraponto a ela.

E essa religião aberta está totalmente em sintonia com as


intenções do globalismo. Dos comícios políticos por um novo
humanismo abençoado pelas autoridades da Igreja à participação
da intelectualidade na propaganda verde, tudo segue o pensamento
dominante em um grotesco e lamentável agrado ao mundo.

«Procuro o favor dos homens ou de Deus? Ou estou tentando agradar


aos homens? Se ainda tentasse agradar aos homens, não seria servo de
Cristo” (Gl 1,10).

A Igreja Católica vive sob o olhar de Deus; existe para sua Glória e
para a salvação de almas. E a anti-Igreja vive sob o olhar do mundo,
promovendo a blasfema apoteose do homem e a condenação das almas.
Durante a última sessão do Concílio Vaticano II e na presença de todos
os padres sinodais, estas palavras inusitadas de Paulo VI ressoaram na
Basílica do Vaticano:

«A religião de Deus que se fez homem encontrou a religião -


porque tal é - do homem que se faz Deus. Tem acontecido? Um choque,
uma luta, uma condenação? Poderia ter acontecido, mas não aconteceu.
A antiga história do Samaritano tem sido o fio condutor da
espiritualidade do Concílio. Uma imensa simpatia permeou tudo. A
descoberta das necessidades humanas - e tanto maiores quanto mais
velha fica a criança da Terra - chamou a atenção de nosso sínodo. Vocês,
humanistas modernos, que renunciam à transcendência das coisas
supremas, atribuam-lhe até este mérito e reconhecem o nosso novo
humanismo: também nós - e mais do que ninguém - somos promotores
do homem ». [ 4]

Essa simpatia – no sentido etimológico de συμπάϑεια


[sympatheia], isto é, de participação num sentimento alheio, é a imagem
do Concílio e da nova religião – por ser religião da anti-Igreja. Uma anti-
Igreja nascida da união imunda entre a Igreja e o mundo, entre a
Jerusalém celestial e a infernal Babilônia. Vejamos bem: a primeira vez
que um pontífice voltou a falar "humanismo" foi no encerramento do
Concílio e, hoje, o encontramos como um mantra repetido por todos os
que o consideram uma expressão perfeita e coerente da mentalidade
revolucionária do Concílio[5 ]

Sem perder de vista essa comunhão de intenções entre a Nova


Ordem Mundial e a anti-Igreja, devemos ter em mente que o Pacto
Global pela Educação, programa elaborado por Bergoglio com o objetivo
de "gerar uma mudança em escala planetária para que a educação crie
fraternidade, paz e justiça, uma necessidade ainda mais urgente nestes
tempos marcados pela pandemia"[6]. Promovido em colaboração com
as Nações Unidas, este "processo de formação na relação e na cultura do
encontro encontra também espaço e valor na casa comum de todas as
criaturas, desde as pessoas, visto que se formam na lógica de comunhão
e solidariedade, trabalham já com vista a recuperar uma serena
harmonia com a criação"[7]

Como se vê, toda referência ideológica é sempre ao Concílio,


porque justamente a partir desse momento a anti-Igreja colocou o
homem no lugar de Deus, a criatura no lugar do Criador.

É evidente que o novo humanismo tem uma estrutura


ambientalista e ecológica na qual se enxertam tanto a encíclica Laudato
sii quanto a teologia verde, a Igreja com uma face amazônica do Sínodo
dos Bispos de 2019, com sua adoração idólatra da Pachamama (Mãe-
Terra ) na presença do "sinédrio romano". A atitude da Igreja durante a
cobiçada pandemia de covid-19 mostrou, por um lado, a submissão da
Hierarquia aos ditames do Estado, violando assim a libertas Ecclesiae.
que o Papa deveria ter defendido fortemente. Também revelou a
negação de qualquer significado sobrenatural da pandemia,
substituindo a justa cólera de Deus, ofendido pelos inúmeros pecados
da humanidade e das nações, pela fúria mais perturbadora e destrutiva
da Natureza, ofendida pela falta de respeito pelos meio Ambiente...

Gostaria de enfatizar que atribuir uma identidade pessoal à


natureza, praticamente dotando-a de intelecto e vontade, é o prelúdio
da sua divinização. Já vimos um prelúdio sacrílego a isso sob a própria
cúpula da Basílica de São Pedro.

O ponto principal é este: conforme a anti-Igreja se acomoda à


ideologia dominante do mundo hoje, ela se envolve em cooperação
genuína com representantes poderosos do estado
profundo, começando com aqueles que preparam uma economia
sustentável, como Jorge Mario Bergoglio, Bill Gates, Jeffrey Sachs, John
Elkann e Gunter Pauli[8].

É importante lembrar que a economia sustentável tem


repercussões na agricultura e no mundo do trabalho em geral. O deep
state deve obter mão-de-obra de baixo custo por meio da imigração, o
que contribui ao mesmo tempo para o desaparecimento da identidade
religiosa, cultural e linguística dos países afetados. Por sua vez, a deep
church fornece uma base ideológica e pseudo-teológica para este plano
de invasão, e ao mesmo tempo garante uma parte na lucrativa recepção.
Podemos compreender a insistência de Bergoglio na questão dos
imigrantes, reiterada também em Fratelli tutti: “Assim se espalha uma
mentalidade xenófoba, de pessoas fechadas e fechadas sobre si mesmas”
(nº 39) (...) “As migrações constituirão um elemento determinante do
futuro do mundo” (nº 40).

Bergoglio usa a expressão "elemento determinante", indicando


que não é possível hipotetizar um futuro sem migração.

Deixe-me falar um pouco sobre a situação nos Estados Unidos às


vésperas das suas eleições presidenciais. A Fratelli tutti dá a impressão
de constituir um endosso do Vaticano ao candidato democrata, em clara
oposição a Donald Trump, e aparece precisamente alguns dias depois de
Francisco se recusar a conceder uma audiência em Roma ao secretário
de Estado Mike Pompeo. Isso confirma de que lado estão os filhos da luz
e quem são os filhos das trevas.
8. FUNDAMENTO IDEOLÓGICO DE "FRATERNIDADE"

A questão da fraternidade, que é uma obsessão para Bergoglio, encontra


sua primeira formulação em Nostra aetate e em Dignitatis humanae. A
última encíclica, Fratelli tutti, é o manifesto dessa perspectiva maçônica
em que o trilema liberdade, igualdade e fraternidade substitui o
Evangelho em prol de uma unidade entre os homens que exclui Deus.
Observe-se que o Documento sobre fraternidade humana, pela paz
mundial e pela coexistência comum, assinado em Abu Dhabi em 4 de
fevereiro do ano passado, foi orgulhosamente defendido por Bergoglio
com as seguintes palavras: “Do ponto de vista católico, este documento
não se afasta um milímetro do Concílio Vaticano II”.

O cardeal Miguel Ayuso Guichot, presidente do Pontifício


Conselho para o Diálogo Inter-religioso, comenta em "La Civiltà
Cattolica":

O Concílio fez rachar gradualmente a barragem, que acabou


rompendo. O rio do diálogo cresceu com as declarações de Nostra
aetate, sobre a relação da Igreja com os crentes de outras religiões, e
a Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa; temas e documentos
que estão intimamente ligados entre si e permitiram a São João Paulo II
dar vida a encontros como o Dia Mundial de Oração em Assis, em 27 de
outubro de 1986, e que, vinte e cinco anos depois, Bento XVI faria
ressuscitar na localidade que é o berço de São Francisco, no 'Dia de
reflexão, diálogo e oração pela paz e justiça no mundo: Peregrinos da
verdade, peregrinos da paz'. Portanto, o empenho da Igreja Católica no
diálogo inter-religioso, que abre o caminho à paz e à fraternidade, faz
parte da sua missão original e tem as suas raízes no Concílio.[9]

Mais uma vez, o câncer do Concílio se confirma como a origem da


metástase bergogliana. O fio condutor que liga o Concílio ao culto da
Pachamama também permeia Assis, como meu irmão Athanasius
Schneider acertadamente apontou em seu recente discurso[10].

Sobre a anti-Igreja, Monsenhor Fulton Sheen descreveu o


Anticristo com as seguintes palavras: “Levando em consideração que sua
religião será a fraternidade, mas sem a Paternidade de Deus,
ele enganará os próprios eleitos”[11]. Parece que estamos vendo a
profecia do venerável Arcebispo americano cumprida diante de nossos
olhos.
Não há nada de estranho, portanto, que a infame Grande Loja da
Espanha, depois de felicitar calorosamente seu campeão elevado ao
Trono, mais uma vez preste homenagem a Bergoglio com estas palavras:

«O grande princípio desta escola iniciática não mudou em três séculos:


a construção de uma fraternidade universal onde o homem se chame
de irmão para além dos seus credos específicos, das suas ideologias, da
cor da sua pele, da sua extração social, sua língua, sua cultura ou sua
nacionalidade. Esse sonho fraterno colidiu com o fundamentalismo
religioso que, no caso da Igreja Católica, gerou textos severos
condenando a tolerância da Maçonaria no século XIX. [Já a última
encíclica do Papa Francisco] mostra o quão longe a atual Igreja Católica
está dessas suas posições anteriores [que não podem ser mudadas ao
bel-prazer de nenhum Papa]. Em Fratelli tutti, o Papa abraça a
fraternidade universal, o grande princípio da Maçonaria Moderna.»[12]

O comentário do Grande Oriente da Itália segue a mesma linha:


"Estes são os princípios que a Maçonaria sempre perseguiu e guardou
para a elevação da humanidade"[13].

Austen Invereigh, hagiógrafa de Bergoglio, confirma com


satisfação essa interpretação, que um verdadeiro católico acharia no
mínimo perturbadora[14]. Lembro que desde o século 19, nos
documentos maçônicos da Alta Vendita, uma infiltração maçônica da
Igreja já estava planejada:

«Você também vai pegar amigos e levá-los aos pés da Sé Apostólica.


Vais pregar a Revolução com a tiara e a capa magna, avançando sob a
Cruz e os estandartes, numa revolução que não precisará de muita
ajuda para incendiar o mundo.»[15]

9. CAUSA E EFEITO

A filosofia nos ensina que algum efeito sempre corresponde a toda


causa. Vimos que o que se fez com o Concílio teve o efeito desejado e
deu forma concreta àquele momento antropologicamente decisivo que
hoje conduz à apostasia da anti-Igreja e ao eclipse da verdadeira Igreja
de Cristo. Portanto, devemos entender que se queremos anular os
efeitos nocivos que vemos diante de nós, é necessário e indispensável
eliminar os fatores que os originaram. Se esse é o nosso objetivo, é claro
que aceitar – mesmo que apenas parcialmente – esses princípios
revolucionários, isso tornaria os nossos esforços inúteis e
contraproducentes. Portanto, devemos estabelecer claramente os
objetivos que pretendemos alcançar, direcionando nossas ações a esses
objetivos. Mas devemos também todos estar cientes de que nesta obra
de restauração não há a menor exceção aos princípios, justamente
porque se eles não forem bem estabelecidos, qualquer possibilidade de
sucesso ficaria inviável.

Portanto, abandonemos de uma vez por todas as vãs distinções,


deixemos de uma vez de supor que existam aspectos bons nesse
Concílio, de tal modo que haja uma separação entre o desejo dos bispos
que ali se reuniram e o que daí se sucedeu, ou entre a letra e "o espírito"
do Vaticano II, ou que exista uma distinção entre o magistério ali
apresentado e as práticas que vieram depois, ou ainda entre a
hermenêutica da continuidade em oposição àquela da ruptura. A anti-
Igreja tem justamente usado o rótulo de "Concílio ecumênico" para
atribuir autoridade e força legal ao seu programa revolucionário, da
mesma forma que Bergoglio chama de carta-encíclica ao seu manifesto
político de fidelidade à Nova Ordem Mundial.

A astúcia do inimigo soube isolar a parte ainda sã da Igreja, que se


divide entre ter que reconhecer a natureza subversiva dos documentos
conciliares, sendo obrigada a excluí-los do corpus magisterial, e ter que
negar a simples realidade, declarando-os apoditicamente ortodoxos, a
fim de salvaguardar a infalibilidade do Magistério. O episódio
das Dubia supôs uma humilhação para aqueles príncipes da Igreja, mas
não pôde desfazer os nós doutrinários que foram dados a conhecer ao
Romano Pontífice.

Bergoglio não responde, justamente porque não quer negar ou


confirmar os erros implícitos, correndo o risco de ser declarado herege e
perder o pontificado: este é o mesmo método do Concílio, no qual a
ambiguidade e o uso de terminologias imprecisas impedem a
condenação do erro implicado. Mas qualquer jurista sabe bem que além
da violação flagrante da lei, também é possível cometer um crime
apoderando-se indevidamente da lei e usando-a para maus
fins: Contra legem fit, quod in fraudem legis fit (o que escapa à lei é
contrário a ela).

10. CONCLUSÃO

A única maneira de vencer essa batalha é voltar a fazer o que a Igreja


sempre fez e parar de fazer o que a anti-Igreja nos pede hoje, que é
aquilo que a Igreja sempre condenou. Coloquemos mais uma vez Nosso
Senhor Jesus Cristo no centro da vida da Igreja; e, antes disso,
coloquemo-Lo de volta no centro da vida da nossa cidade, da nossa
família, no centro de nós próprios. Devolvamos a coroa à Nossa
Senhora, Maria Santíssima, Rainha e Mãe da Igreja.

Celebremos mais uma vez a tradicional liturgia sagrada com


dignidade, e rezemos com as palavras dos santos, não com os
circunlóquios dos modernistas e hereges. Vamos saborear mais uma vez
os escritos dos Padres da Igreja e místicos, e rejeitar as obras
impregnadas de modernismo e sentimentalismo imanente. Apoiemos
com oração e ajudemos materialmente os muitos bons sacerdotes que
permanecem fiéis à verdadeira Fé, e retiremos todo o apoio de quem
tem compromisso com o mundo e suas mentiras.

E sobretudo – peço-o em nome de Deus! – abandonemos esse


complexo de inferioridade que os nossos adversários nos habituaram a
aceitar; na guerra do Senhor eles não nos humilham (a não ser a
humilhação pelos nossos pecados pessoais). Não! Eles humilham a
Majestade de Deus e a Noiva imaculada do Cordeiro. A verdade que
abraçamos não é nossa, mas de Deus! Permitir que se negue a Verdade
ou aceitar que a Verdade conviva com as heresias e erros da anti-Igreja
não é um ato de humildade, mas de covardia e fraqueza. Sejamos
motivados pelo exemplo dos santos mártires macabeus, diante de um
novo Antíoco que nos pede para sacrificar aos ídolos e abandonar ao
Deus verdadeiro. Respondamos com as suas palavras, rezando ao
Senhor: «Manda também agora, ó Soberano dos Céus, o teu bom Anjo
adiante de nós, para dar a conhecer a força do teu Braço terrível e
tremendo; para que os que blasfemam contra o teu povo santo, e que se
encham de terror!”(2Mc 15,23).
Vou terminar esta palestra com uma memória pessoal. Quando eu
era Núncio Apostólico na Nigéria, descobri uma tradição preciosa que
surgiu na terrível guerra em Biafra e continua até hoje. Participei
pessoalmente durante uma visita pastoral à Arquidiocese de Onitsha e
me marcou profundamente. Chama-se rosário das crianças do bairro e
consiste em reunir milhares de crianças (mesmo as mais pequenas) de
cada cidade e bairro para rezar o Santo Rosário implorando a paz. Cada
criança carrega nas mãos um pedaço de madeira, como um altar em
miniatura, com a imagem de Nosso Senhor e uma vela acesa.

Nos dias que antecedem o dia 3 de novembro, convido todos vocês


a participarem da Cruzada do Rosário, uma espécie de cerco a Jericó,
mas não com sete trombetas feitas de chifres de carneiro e tocadas por
padres, e sim com a Ave Maria dos pequeninos e inocentes para
derrubar as paredes do deep state e da deep church.

Participemos, como os filhos do Rosário, dos filhos do bairro,


implorando à Senhora vestida de Sol que se restaure o Reino de Nossa
Senhora e nossa Mãe, e que se abrevie este eclipse que nos aflige.

Que Deus abençoe essas santas intenções.

Conheça o Curso Livre em Teologia para leigos da Frat. Laical São Próspero:
https://materiais.ofielcatolico.com.br/curso-de-teologia-biblica
_____________________
[1] Padre Antonio Spadaro SJ, Fratelli Tutti, a risposta di Francesco alla crisi
nostro tempo , em Formiche , 4 de outubro de2020 ( aqui í ).

[2] “O pontificado de Francisco é como uma bandeira erguida perante os


fundamentalistas católicos e aqueles que igualam continuidade material e
tradição; A doutrina católica não está apenas se desenvolvendo. Às vezes muda
muito. Por exemplo, em relação à pena de morte e guerra»
https://twitter.com/Johnthemadmonk/status/1313616541385134080/photo/1
https://twitter.com/massimofaggioli/status/1313569449065222145?s=21

[3] “ Devemos evitar cair nessas quatro atitudes perversas, que certamente não
contribuem para uma investigação objetiva e um diálogo sincero e produtivo
para a construção do futuro de nosso planeta: negação, indiferença, resignação
e confiança em soluções inadequadas ”.
cfr. https://www.avvenire.it/papa/pagine/papa-su-clima-basta-negazionismi-
su-riscaldamento-globale

[4] «Religio, id est cultus Dei, qui homo fieri voluit, atque religio - talis enim
est aestimanda - id est cultus hominis, qui fieri vult Deus, inter se congressae
sunt. Acidente de Quid Tamen? Concurso, proelium, anátema? Id sane haberi
potuerat, sed plane non accidit. Vetus illa de bono Samaritano narratio
excmplum fuit atque norma, ad quam Concilii nostri spiritualis ratio directo
est. Etenim, immensus quidam erga homines love Concilium penitus pervasit.
Perspectae et iterum considetae hominum necessitates, quae e o irritante fiunt,
quo magis huius terrae filius crescit, totum nostrae huius Synodi studium
detinuerunt. Hanc saltem laudem Concilio tribuite, vos, nostra hac aetate
cultores humanitatis, qui veritates rerum naturam transcendental renuitis,
iidemque novum nostrum humanitatis studium agnoscite: nam nos etiam,
immo nos prae ceteris,». Paulo VI, Discurso na última sessão do Concílio
Ecumênico Vaticano II, 7 de dezembro de 1965, cfr.
http://vatican.va/content/paul-vi/it/speeches/1965/documents/hf_p-
vi_spe_19651207_epilogo-concilio.html

[5] https://twitter.com/i/status/1312837860442210304

[6] Cf. www.educationglobalcompact.org

[7] Congregazione per l'Educazione Cattolica, Lettera Circolare alle scuole,


università e istituzioni educative , 10 de setembro de 2020, cfr.
http://www.educatio.va/content/dam/cec/Documenti/2020-09/IT-
CONGREGATIO-LETTERA-COVID.pdf

[8] https://www.lastampa.it/cronaca/2020/10/03/news/green-blue-la-nuova-
voce-dell-economia-sostenibile-via-con-il-papa-e-bill -gates-1.39375988
https://remnantnewspaper.com/web/index.php/articles/item/2990-the-
vatican-un-alliance-architects-of-death-and-doom
[9] Card. Miguel Ángel Ayuso Guixot, Il document sulla Fraternità umana nel
solco do Concílio Vaticano II , 3 de fevereiro de 2020. Cf.
https://www.laciviltacattolica.it/news/il-documento-sulla-fratellanza-umana-
nel-solco -of-the-vatican-Council-ii /

[10] https://www.cfnews.org.uk/bishop-schneider-pachamama-worship-in-
rome-was-prepared-by-assisi-meetings/

[11] Dom Fulton Sheen, discípulo de rádio de 26 de janeiro de 1947. Cf.


https://www.tempi.it/fulton-sheen-e-linganno-del-grande-umanitario/

[12] https://www.infocatolica.com/?t=noticia&cod=38792

[13] https://twitter.com/grandeorienteit/status/1312991358886514688

[14] https://youtu.be/s8v-O_VH1xw

[15] « Vous amènerez des amis autour de la Chaire apostolique. Vous aurez
preché une révolution en tiare et en chape, negociantes com o croix et la
bannière, uma revolução qui n'aura besoin que d'être a tout petit peu
aiguillonnée pour mettre le feu aux quatre coins du monde ». Cf. Jacques
Cretineau-Joly, L'Église romaine en face de la Révolution , Paris, Henri Plon,
1859 (aqui ).

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