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MEDITAÇÃO

Salve Maria!

Amados irmãos e irmãs, estamos a celebrar, como Igreja, a memória de Nossa Senhora, Mater
dolorosa, e eu gostaria de meditar com cada um de vós sobre a beleza desta realidade vivida por
Maria e que é, na verdade, cristológica.
Ontem celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz e hoje, de propósito, estamos a celebrar a
memória de Nossa Senhora das dores. Vivemos num mundo que busca freneticamente um
Cristianismo lite, soft, suave, sem compromissos sérios, onde as pessoas vão levando uma vida
de tibieza e mornidão. Nós queremos excluir a realidade da Cruz do Cristianismo, por isso, a
Teologia da Prosperidade, enganosa, perniciosa e perigosa, tem sido muito acolhida, basta
vermos o elevado número de seitas e todas cheias de pessoas. Com isso, a Igreja grita ao
mundo: não podemos olhar a Cristo, seguir Cristo, imitar Cristo, fugindo da Cruz. Não é
possível. Por isso, a Igreja mãe e mestra convida-nos a olharmos para estas duas realidades: A
Cruz como meio de Salvação e as dores da Cheia de Graças.
Nós podemos ter a tentação de olhar para a história de Maria, para as dores de Nossa Senhora e
pensar que qualquer mãe sentiria o mesmo, no lugar dela.
Meu irmão e minha irmã, eu gostaria de perguntar se você já leu a história de um Mártir, se
ainda não leu, eu recomendo que faça a leitura, certamente, vai espantar-se, porquanto, são
histórias belas e santas, porém, se você já leu, talvez pode pensar que eram pessoas anormais e
insensíveis, que não sentiam dor, pessoas malucas, talvez até masoquistas, que sentiam prazer,
um prazer da carne, pela dor, porque, afinal de contas, muitas vezes, até facilitavam o trabalho
dos carrascos (aqueles soldados encarregues por tirar-lhes a vida), leia a história de Perpétua e
Felicidade, incrível.
A Igreja, que é continuidade histórica de Cristo encarnado, é realmente um mistério e é preciso
ter fé para compreender, porque, na verdade, os mártires sentiam mais dor do que todo mundo.

Sim, esta é a verdade.

Parece uma loucura, mas é a verdade. Santidade é ser Bem-aventurado e Bem-aventurado


significa que resplandece nestas criaturas o esplendor, a glória, do seu Criador, de Deus, cfr. Pe.
Paulo Ricardo. Nos santos se contempla o triunfo, a glória, de Cristo, são pessoas cheias de
amor e quanto mais alguém ama, mais sensível a dor se torna.
Os mártires são aqueles que morreram por amor a Cristo. Todos nós dizemos que amamos
Cristo, mas será que teríamos coragem de morrer por este amor? Os Santos, certamente,
possuíam um amor tão ardente e profundo que estavam dispostos e alegres em participar, de
forma mais radical, no sacrifício cruento de Cristo na Cruz. Todos os Santos amaram
ardentemente Jesus e deram tudo por Ele, mas, com certeza, nenhum deles amou mais do que
Nossa Senhora.
Quanto mais a pessoa ama, mas a pessoa é sensível à dor, mais sente dor, por isso, é que
nenhuma pessoa sentiu e poderá sentir uma dor tão avassaladora quanto a de Cristo, que é o
amor encarnado.
As dores de Nossa Senhora são cristológicas, se assim posso dizer, giram em torno de Jesus, seu
filho muito amado. São Bernardo, Abade, exorta-nos que “a lança do soldado, trespassou o lado
de Cristo e em Nossa Senhora trespassou a alma, toda a violência de dor, penetrou a sua alma”.
"Stabat Mater dolorosa, Juxta crucem lacrimosa, dum pendebat filius.
Helton Vieira Dias Arão,
Na memória de Nossa Senhora das dores
15 de Setembro de 2023
MEDITAÇÃO

Cuius animam gementem, contristatam et dolentem pertransivit gladius."


(Estava a mãe dolorosa, junto da cruz, lacrimosa, via o filho que pendia.
Na sua alma gemia, contristada e dolorida por um gládio transpassada.)
Por isso, durante todo o Tempo Comum, a Igreja Celebra Nossa Senhora no Sábado, em
referência à dor de Nossa Senhora no silêncio do Sábado Santo, o seu Filho foi cruelmente
assassinado a sua frente.
O ícone de Nossa Senhora aparece representado com 7 espadas trespassando o coração de
Maria:
Não se trata apenas de decoro, mas das dores que Nossa Senhora experimentou por amor.
1ª Maria acolhe, com fé, a profecia de Simeão, cfr. Lc 2, 34-35
Antes mesmo de Jesus nascer, Nossa Senhora já é antecipada com esta mensagem de choque:
"uma espada trespassará a tua alma", tudo por conta do filho que devia nascer. A primeira dor.
Ela não decidiu e não fez um aborto. Não! Por amor, abraçou a vocação.
Precisamos ter esta mesma coragem, pois muitas mulheres fugindo da dor negam o Matrimónio,
negam ter filhos, vivem fazendo abortos, preferem ter a sua casa, o seu carro, o seu dinheiro, e
ficar sozinhas,, pensando que terão felicidade e paz.
Que besteiro!
Por Cristo, com Cristo, em Cristo, tudo é renovado, o sofrimento se torna sacrifício, a dor em
alegria. Não fujamos, abracemos os desafios que Deus coloca em nossa vida com amor.
2ª Maria foge para o Egipto com Jesus e José, cfr. Mt 2,13-14.
Imagina a dor desta mãe amável sabendo que seu filho, no ventre, prestes a nascer, já tinha sido
sentenciado a morte. Fugindo ninguém os queria acolher, portas fechadas na cara, tal como hoje,
muitas vezes, impedimos Cristo e Nossa Senhora, de entrarem em nossa casa, em nossa vida,
em nosso coração, fechamos à porta na cara. Mas ela não desiste, permanece firme.
Quantos de nós diante de uma dificuldade nos desesperamos e perdemos o interesse pela vida?
Olhemos para a força desta mulher, ainda muito jovem, nem 18 anos tinha.
3ª Maria procura Jesus perdido em Jerusalém, cfr. Lc 2, 43-45
Depois de todo sofrimento causado, todo o sacrifício feito, o filho "perde-se"; é procurado em
vários lugares da cidade e é encontrado muito tarde, depois de muito desespero ter causado.
Imagina a dor, o desespero de Maria naquele momento, o filho do sofrimento não aparece, com
a possibilidade de ter acontecido muitos males, há muitos malfeitores por aí.
Você como mãe, como pai, o que faria nesta situação? Nossa Senhora não encheu-se de ira
contra o menino.

4. Maria encontrou-se com Jesus no caminho do Calvário, cfr. Lc 23,26-27


Jesus carregando a pesadíssima cruz, o pior, o mais humilhante, castigo, imaginem a dor desta
mãe vendo o seu filho nesta situação. Aquela que outrora foi tratada pelo Anjo como a "cheia de
graças", parece que agora é a "cheia de desgraças".

Helton Vieira Dias Arão,


Na memória de Nossa Senhora das dores
15 de Setembro de 2023
MEDITAÇÃO

Quantas vezes vivemos rodeados por muitas situações difíceis e acabamos pensando que Deus
abandonou-nos, que só vivemos desgraças, que não somos amados.
Deus te ama, não importa o que esteja passado. Deus não te abandonou, aquele é o teu calvário,
tal como Cristo, você precisa passar por ele, alegra-te porque está experimentando, na carne, o
que Cristo experimentou.
5ª Maria permanece junto à cruz do seu filho, cfr. Jo 19,25-26
Repito: "Stabat Mater dolorosa, Juxta crucem lacrimosa dum pendebat filius"
(Estava a mãe dolorosa, junto da cruz, lacrimosa, via o filho que pendia).
6. Maria recebe nos braços o corpo de Jesus deposto da Cruz, cfr. Mt 27,57-59
7. Maria leva ao sepulcro o corpo de Jesus à espera da ressurreição, cfr. Jo 19,40-42
Depois de ter suportado todo este sofrimento, Nossa Senhora, ainda hoje sofre, sofre por nós,
pelo nosso desprezo, pela nossa infidelidade, pela nossa arrogância, pela nossa ingratidão, pela
nossa incapacidade de viver as nossas promessas baptismais. No entanto, ela não desiste de nós,
apareceu várias vezes na história da humanidade e continua intercedendo por nós junto de seu
Filho.
Que Nossa Senhora nos ensine a amar e a unir a Paixão de Cristo, a nossa compaixão.
Termino com um trecho da música do Sr. Padre Ismael de Tamos, do clero diocesano de Caxito:
"No lagar do mar da dor, lacrimejo cheios de amor, seu coração ardil na cruz, sofredora, Nossa
Senhora, com amor. Prostrada de Joelhos, seu grito de olhar se deu e olhando ao alto a cruz, seu
coração a Deus adorou."
Que Deus encha-nos do seu amor e Nossa Senhora, Mater dolorosa, ajude-nos a suportar as
dores deste mundo, a fim de que um dia possa brilhar em nós a glória resplandecente de Cristo.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é
o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na
hora da nossa morte. Amen!

Helton Vieira Dias Arão,


Na memória de Nossa Senhora das dores
15 de Setembro de 2023

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