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VIA SACRA 2020

Sexta-Feira Santa
10 de abril

Pe. Daniel Pinheiro, IBP

Bartolomé Esteban Murillo (1660), Cristo no Calvário

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1ª Estação
Jesus é condenado à morte
Ecce Homo. Eis o homem. O homem por excelência, nosso
modelo e nossa cabeça. Jesus sereníssimo. Pilatos o apresenta
ao povo. Nosso Senhor já não tem mais aparência de ser
humano. Como diz a Escritura: eu sou um verme não um
homem. Ego sum vermis et non homo. Pilatos, na sua fraqueza,
tenta encontrar um meio de livrar Jesus. Os chefes dos fariseus
e dos sacerdotes, para garantir que o povo não mude de opinião,
logo gritam: crucifica-o, crucifica-o. O povo logo repete com a
mesma crueldade. Nada é capaz de iluminar essas inteligências
cegas. Nada é capaz de mover esses corações à compaixão. São
os mesmos que, cinco dias antes, tinham cantado hosanas,
proclamado Jesus o filho de Davi, ou seja, o messias prometido.
São os mesmos que haviam estendido suas roupas para que o
Senhor passasse e que agitavam os ramos em suas mãos para
proclamá-lo rei. O que houve? Por que esses homens são tão
voláteis, por que mudam tão rápido? É que tinham esperança
política em Nosso Senhor. Não compreenderam que seu reino
era bem outro. Queriam um messias político antes de tudo. Era
a vida temporal que os movia a reconhecer Cristo. Estavam
movidos pela paixão política, uma das mais veementes que
existem, e que tanto causa agitação, falsos raciocínios, juízos
temerários e perturbação da alma. Movidos por isso, eram
facilmente manobráveis. E os discípulos de Cristo, que o
tinham seguido de mais perto durante os três anos de sua vida
pública? Esses estavam dormindo... Já não mais o sono físico do
Jardim das Oliveiras, mas o sono das almas pusilânimes. Ah,
meu Bom Jesus e minha boa Maria, dai-me a graça de buscar
primeiro o reino dos céus, de permanecer estável na doutrina
católica e na graça divina. Que não seja do números dos voláteis
nem do número dos que dormem.

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2ª Estação
Jesus levando a Cruz às costas
Eis que Jesus é condenado ao suplício da Cruz. O Bom Jesus dos
Perdões é condenado sem misericórdia. Ao contrário,
condenado com toda injustiça, condenado cruelmente,
condenado como ninguém antes dele fora condenado e como
ninguém depois dele jamais será. Não era inocente apenas do
crime que lhe imputavam. Ele era inocente. Ponto. Não tinha
pecado, não tinha falta, não tinha imperfeições. É o Bom Jesus
dos Perdões, no plural, pois são muitas as nossas misérias. Esse
Bom Jesus vai receber a cruz em seus ombros. Podemos
imaginar os soldados romanos cortando a madeira para
fabricar essa cruz para Cristo. Fabricam-na na hora, pois essa
condenação não estava prevista para o Salvador, ainda mais
naquele dia, véspera da Páscoa. Podemos ouvir o corte da
árvore, já é a natureza que geme a morte do seu criador, criador
que os homens não querem reconhecer. Mas que digo?
Fabricam essa cruz os soldados? Essa cruz fomos nós que
entalhamos com nossos pecados. Essa cruz, meu Bom Jesus e
minha boa Maria, foram meus pecados que a fabricaram. Ah,
meu Bom Jesus, essa cruz era minha e vós a tomastes. Dizem
que o pecado ofende a Deus. Como não vemos, seguimos
adiante com nossas faltas, como se nada fossem. Olhemos agora
para Cristo carregado com a cruz e vejamos tudo o que vai se
desenrolar nesses próximos instantes, para nos darmos conta
de que o pecado é ofensa a Deus, ao ponto de levar um Deus à
cruz, ao ponto de fazer a mãe de Deus ter a sua alma traspassada
de dor. Ah, meu Bom Jesus, ah, minha boa Maria, como fui mau
artesão ao fabricar para Vós, Jesus, a cruz, e para Vós, minha

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Mãe, a espada. Perdoai-me, perdoai-me. É o que peço. Um
sincero e profundo arrependimento.

3ª Estação
Jesus cai pela primeira vez em terra
Eis a primeira queda do Salvador no caminho da cruz, no
caminho sagrado. Nos mártires, o prodígio é de exultar de
alegria no meio dos tormentos. Meus caros, maior milagre do
que isso foi sucumbirem a força e a onipotência de Deus ao peso
de uma cruz por amor aos homens. Milagre de compaixão.
Milagre de misericórdia. Milagre de humildade. Levá-la
triunfante seria uma cruz gloriosa para Cristo e inútil para nós.
Levando-a como nós a levaríamos, Ele deixa claro que está no
nosso lugar, que está tomando a nossa fraqueza para nos
comunicar a sua força. Essa queda, diz justamente Santo
Ambrósio, é o princípio de nossa esperança, é a fortaleza dos
fracos e o heroísmo dos mártires. Ah, meu Bom Jesus, essa
vossa fraqueza física merece, para mim, a fortaleza espiritual.
Dai-me a fortaleza para perseverar até o fim.

4ª Estação
Jesus encontra-se com sua Mãe Santíssima
Eis o encontro que nem todos os santos poderiam descrever
com seu verdadeiro significado. É o encontro do Filho de Deus
com a Mãe de Deus. Lá estava Nossa Senhora, discretamente,
em silêncio, acompanhando o seu Divino Filho. Não clamou

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injustiça, não esbravejou, não disse que pecavam contra a fé e a
caridade. Viu que dali o Divino Mestre tiraria algo muito
superior. Dirigiu-se a um lugar em que poderia olhar no olho
d’Ele, olho já ensopado de sangue. Os olhos são a janela da alma.
O que leu Nossa Senhora na alma de Jesus nesse momento? O
amor de Cristo por Deus e pelos homens. Nossa Senhora, indo
no fundo da alma do Salvador, não poderia ver outra coisa. O
amor movia Jesus a tudo isso. O amor por Deus e pelos homens.
O que leu Nosso Senhor na alma de sua terna mãe? O amor, o
seu próprio amor espelhado nela. Claro, Maria vivia da vida de
Cristo, consequentemente, vivia do mesmo amor que Ele. Ah,
meu Bom Jesus, ah, minha boa Maria, dai-me a graça de viver
do mesmo amor que vos incendiou, dai-me a graça de viver do
mesmo amor a Deus e do mesmo amor aos homens.

5ª Estação
Simão Cireneu ajuda Jesus a levar a Cruz
Eis esse grande desconhecido, Simão de Cirene, que tem o
privilégio de carregar a Cruz. Que privilégio desse homem...
Que privilégio desse desconhecido... Carregar nos seus ombros
o altar portátil para a grande Missa da Redenção. E não temos
nós, grandes desconhecidos, a graça de fazer o mesmo? De
carregar a Cruz de Cristo carregando as nossas cruzes? Nossas
cruzes parecem menos suportáveis porque nos parecem meras
combinações do acaso, mera malícia dos homens. E não vemos,
por falta de visão sobrenatural, que nossas cruzes são
testemunhos da proteção divina. Não vemos que, por elas,
Deus, utilizando-se dos homens e das circunstâncias da vida,
purifica a nossa alma, mortifica os nossos defeitos, enfraquece

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as nossas paixões, aumenta nossos méritos e aperfeiçoa a
virtude. Ah, meu Bom Jesus... Ah, minha boa Maria, dai-me a
graça de compreender a cruz.

6ª Estação
Santa Verônica enxuga o rosto de Jesus
Eis essa grande desconhecida, Verônica, Santa Verônica. Ah, os
membros de Cristo são, em sua maior parte, grandes
desconhecidos... Desconhecidos para nós, que julgamos
superficialmente, que julgamos de modo meramente humano.
Mas é uma consolação ver essa desconhecida, com tanta
grandeza de alma... Ousa aproximar-se de Cristo contra tudo e
todos, praticamente. O tecido católico comporta almas assim...
Desconhecidas, mas santas. São elas, muitas vezes, que
sustentam, efetivamente, os outros membros do corpo de
Cristo. E vai essa alma generosa enxugar o rosto de Cristo,
procurando dar-lhe algum alívio. Sim, é um alívio para o
Salvador poder enxergar melhor, tirar o mar de sangue de seu
rosto, dos seus sentidos. Mas, para isso, que dor ao tocar do
pano. Que dor ao ser retirado o pano. Nosso Senhor sofre
mesmo na consolação... Qual não é a surpresa de Verônica ao
ver depois estampado no tecido o rosto de Jesus? Temos nós,
para usar uma imagem, esse rosto estampado na nossa alma
desde o nosso batismo. E, com o tempo, com os nossos pecados,
essa imagem vai se desfigurando. Devemos limpá-la com o pano
da caridade, banhado nas água da penitência, do
arrependimento, para que volte a brilhar esse rosto em uma
alma inocente e piedosa. Ah, meu Bom Jesus... Ah, minha boa

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Maria, dai-me generosidade para limpar o rosto desfigurado de
Cristo em minha alma.

7ª Estação
Jesus cai pela 2ª vez
Eis que o Salvador cai pela segunda vez. Aquele que sustenta o
mundo e o universo inteiro cai pelo peso da cruz. Quis Nosso
Senhor cair pela segunda vez para nos mostrar que devemos
aproveitar as nossas faltas. As quedas de Cristo, nós bem
sabemos, são físicas. A nossas, são morais. Porém, mesmo de
nossas quedas, podemos tirar algum benefício, se temos
humildade e sincero arrependimento. Diante de nossas quedas,
de nossas misérias, não nos impacientemos, não fiquemos com
raiva de nós mesmos, o que pioraria a condição de nossa alma.
Se, por infelicidade, caímos, reconheçamos a nossa fraqueza,
recorramos ao Bom Jesus e à boa Mãe, para nos reerguermos.
Peçamos o perdão de Deus, com sincero arrependimento, com
o propósito de não cair novamente, mas apoiados em Deus mais
do que em nós mesmos. Tiremos da queda a humildade, a
confiança em Deus, a vida de oração mais intensa, a fuga das
ocasiões de pecado. Ah, meu Bom Jesus... Ah, minha boa Maria,
dai-me a graça de aproveitar as minhas faltas, para crescer na
virtude e no amor a Deus.

8ª Estação
Jesus consola as filhas de Jerusalém

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Eis a mulher cristã representada por essas filhas de Jerusalém.
A tradição judaica farisaica não concedia sequer uma lágrima ao
criminoso que marchava para o suplício. Porém, lá estavam
essas mulheres chorando por Nosso Senhor. Em todos os
passos da paixão, nem uma mulher sequer se manifesta contra
Jesus. Claro, não é mal nem condenável o que fazem essas
mulheres, mas o Senhor aproveita a ocasião para nos lembrar
que a religião tem que ser, antes de tudo, interior. Diz o Senhor
que elas devem chorar sobre si e sobre seus filhos, para lembrar
que a mera compaixão externa pelos seus sofrimentos não trará
frutos se não vier acompanhada de arrependimento. Assim vai
para as nossas práticas religiosas, se não buscamos ter uma
disposição realmente interior, de nossa vontade, de nossa
inteligência, de nossas emoções. Não devemos ter uma religião
superficial e externa. Os nossos atos externos da religião devem
ser um sinal verdadeiro de nossas disposições. Assim teremos
frutos, assim choraremos com frutos a paixão de Nosso Senhor.
Ah, meu Bom Jesus, revesti-me do novo homem, renovai o meu
interior com uma fé viva, uma esperança firme e uma caridade
ardente. Ah, minha boa Mãe, que minha devoção por vós seja
interior e não apenas exterior. Que minha devoção por vós seja
uma devoção para imitá-la, para que eu seja digno filho vosso.

9ª estação
Jesus cai pela 3ª vez
Eis a terceira queda de nosso Divino Mestre. Quis Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, cair por terceira vez. Por
terceira vez cai aquele que criou o céu e terra. Cai terceira vez
para nos mostrar a abundância da misericórdia divina, para

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mostrar a abundância da graça, para mostrar a abundância da
compaixão pelo pecador. Não há limite para a misericórdia de
Deus. Por mais graves e numerosos que sejam nossos pecados,
Jesus Cristo nos perdoa. O único limite para a misericórdia de
Cristo é a nossa falta de arrependimento. Ah, meu Bom Jesus,
quantas vezes já mereci o inferno pelos meus pecados. E
quantas vezes me perdoastes. Não quero mais Vos ofender. Não
quero, Senhor, abusar da Vossa misericórdia. Que eu não peque
mais por malícia, meu Bom Jesus, e dai-me a graça de ir
vencendo meus pecados cometidos por fraqueza. Ah, minha
boa Mãe, vós sois a prova cabal da misericórdia de Cristo. Uma
Mãe tão terna para nos socorrer, intercessora e advogada nossa,
doçura nossa. Ah, minha boa Mãe, dai-me a graça de não abusar
da misericórdia divina. E se, por acaso, cair, dai-me a graça de
confiar inteiramente nessa misericórdia.

10ª estação
Jesus é despido de suas vestes
Eis que Nosso Senhor é despido de suas vestes, de forma a
aumentar ainda mais a sua humilhação. Jesus encontra-se
despojado de tudo absolutamente. Esse quadro é para nós,
sacerdotes, que devemos guardar a pureza de nosso corpo pelo
voto do celibato sacerdotal e que devemos guardar a pureza das
almas. Esse quadro é para vocês, pais e mães de família, que
devem guardar a pureza de seus filhos. Esse quadro é para
vocês, homens, que desperdiçam nos vícios impuros os dons
naturais e sobrenaturais dados por Deus. Esse quadro é para
vocês, mulheres, que acendem a fagulha da sensualidade com
seus trajes e comportamento, gerando incêndio para si e para

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outros por vaidade. Esse quadro é para vocês, jovens, que
desperdiçam a juventude em pecados desse gênero,
comprometendo o futuro da família brasileira. Esse quadro é
para todos nós, que um dia abandonamos as vestes da virtude
da pureza de algum modo. Esse quadro é um quadro de
esperança. Cristo flagelado, coroado de espinhos, batido,
cuspido, maltratado pelo peso da Cruz, despido de suas vestes.
É Ele a esperança dos que se encontram escravizados por esses
pecados baixos. Não há motivo para desespero. Com a ajuda de
Jesus e de sua Mãe, podemos nos despir do velho homem
pecador e nos revestir da justiça e da santidade do homem novo.
A luta é, muitas vezes, árdua, e comporta quedas até que nos
apoiemos inteiramente em Deus, com sincera humildade. Ah,
meu Bom Jesus... Ah, minha boa Maria, não permitais que eu
volte a revestir o vício do velho homem, mas dai-me estar
vestido da santidade, da pureza do novo homem sempre. Se
ainda sou escravo desse pecado, quebrai essas cadeias, Vos
peço, pois reconheço que, sozinho, nada posso. Livrai-nos, Bom
Jesus, desse pecado que envergonha Vossa Igreja, que destrói
tantas famílias, que afasta tantos jovens do caminho de virtude
que traçaram na sua infância.

11ª Estação
Jesus é pregado na Cruz
Eis o crucificado! Os que passam diante d’Ele O provocam para
que prove a sua divindade descendo da Cruz. Pedem para que
Jesus prove a sua divindade fazendo algo grandioso, vistoso, na
ordem da natureza, como se o Salvador já não houvesse feito
tantos milagres diante desses corações endurecidos. Jesus,

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porém, demonstra, pregado na Cruz, a sua divindade. Ele a
demonstra rezando por seus algozes, rezando por aqueles que
O crucificam, rezando por aqueles que O matam, que cometem
o deicídio: Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem. De
fato, apenas o Filho de Deus poderia derramar essa bênção
sobre aqueles que O crucificavam. Prova a divindade com algo
muito maior do que descer da Cruz. Prova com um milagre de
ordem moral, com o perdão concedido aos seus inimigos em um
momento tão extremo. E será eficaz a oração de Nosso Senhor.
Na cruz, pelo menos um dos ladrões e um dos soldados irá se
converter. E, depois deles, quantos que já crucificaram Jesus
não se converteram? Não somos nós, por acaso, desse número?
E, imitando o exemplo do Senhor, deve ser o dia de hoje um dia
de jubileu, ou seja, um dia de perdão, um dia de perdoarmos
sinceramente aos que nos fizeram ou fazem mal. Não temos,
talvez, em nosso coração, alguém para perdoar, alguma mágoa
para desfazer? Não tem, por acaso o marido o que perdoar à sua
esposa e a esposa ao seu marido? Os pais aos filhos e os filhos
aos pais? Temos ressentimentos quanto a outros parentes?
Quanto a amigos, colegas de trabalho, de estudo? Quem quer
que seja... Perdoemos. Os lábios que beijarão a Cruz logo mais
não devem ser os lábios de um coração cheio de mágoas e de
ressentimentos. Com a graça de Jesus, saibamos perdoar todos
os que nos ofenderam. Exige uma virtude sobre-humana, sem
dúvida, mas aqui está, diante de nós, a graça que nos é dada por
Cristo pregado na Cruz. Ah, meu Bom Jesus, perdoai-me a mim,
assim como perdoo aos que me ofenderam. Ah, minha boa
Maria, dai-me a graça de perdoar para ser eu mesmo perdoado
pelo meu próximo e, sobretudo, por Deus.

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12ª Estação
Jesus morre na Cruz
Eis que o autor da vida morre na Cruz. Entrega o seu espírito ao
Pai. Eis o madeiro da Cruz, do qual pende, crucificado, a
salvação do mundo. Logo mais, na cerimônia da Sexta-Feira
Santa, o padre irá oscular, ou seja, beijar o crucifixo. Ah, meu
Bom Jesus, nesse ósculo do sacerdote, quantas almas gemem e
pedem as graças de que mais precisam. Nesse ósculo, o pedido
pela Igreja. Nesse ósculo, o pedido pela Missa. Nesse ósculo, o
pedido para o reinado social de Cristo. Nesse ósculo, o pedido
de que a família católica se mantenha. Nesse beijo do sacerdote
no crucifixo, estão as súplicas das almas que lhe foram
confiadas. Nesse ósculo, os pedidos de levar uma vida de
perfeição. Nesse ósculo, os pedidos de perdão pelos pecados.
Nesse ósculo, os pedidos para se vencer tal e tal vício. Nesse
ósculo, o pedido para que as crianças guardem a inocência.
Nesse ósculo, o pedido para que os jovens não se deixem levar
pelo mundo e suas seduções, pelos colegas de escola e de
faculdade. Nesse ósculo, o pedido por pais e mães de família.
Nesse ósculo, a necessidade de cada um diante de Cristo
crucificado, também as legítimas necessidades materiais.
Poderia o Senhor crucificado negar algo a quem lhe oscula os
pés com toda humildade, desejoso de se submeter à sua
vontade? Não... Ah, meu Bom Jesus, dai-nos as graças de que
mais precisamos. Vós sabeis mais e melhor do que eu qual é essa
graça, como ela deve ser dada e quando deve ser dada. Estou a
Vossos pés, meu Bom Jesus, para fazer a Vossa vontade. Ah,
minha boa Mãe, que o ósculo no crucifixo seja realmente a
expressão de minha alma desejosa de amar inteiramente a
Cristo.

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13ª Estação
Jesus é descido da Cruz e depositado nos braços de sua
Mãe Santíssima
Eis a mãe novamente com seu Divino Filho em seus braços,
como nos tempos de infância do homem-Deus. Todavia, já não
há n’Ele a beleza física. Mas como cresceu em graça. Não, não é
que Jesus tenha se tornado mais santo, o que não era possível.
Mas como mostrou perfeitamente para todos a verdade de seus
ensinamentos, como mostrou o exemplo perfeito de todas as
virtudes. Como mostrou a caridade de Deus para conosco. Ah,
minha Senhora, a espada está cravada em vossa alma. A espada
de dor, de uma dor do tamanho do mar, e ainda maior. Mas vós,
mais do que todos, compreendeis as palavras que Nosso Senhor
pronunciou há pouco: tudo está consumado. Vós sabeis que
todas as graças já foram merecidas por Cristo. Todas as graças,
das mais extraordinárias às mais simples. Todas foram
merecidas até o momento da morte de Cristo. Esse tesouro,
minha boa Mãe, já está em vossas mãos. Olhai, minha boa Mãe,
para a pobreza de minha alma, ainda tão pobre de virtudes, tão
pobre de generosidade para com Cristo, tão pobre de amor por
Deus, por vós e pelo próximo. Ah, minha boa Mãe, eu vos
suplico que sejais generosa comigo, pobre pecador. Vós sois a
minha esperança e a doçura de minha alma. No fundo do
abismo, se a alma tem ainda Maria por Mãe, há esperança, essa
alma ainda não está de todo perdida para o céu. Que eu jamais
deixe de recorrer a vós, minha boa Mãe, pois aquele que,
sinceramente, a vós recorre se arrepende de seus pecados e
começa a trilhar o caminho de vosso Divino Filho. Ah, meu Bom
Jesus, dou-Vos graças por me terdes dado Maria como
tesoureira de Vossas graças e, ainda mais, por me terdes dado
Vossa Mãe por minha Mãe. Ah, minha boa Maria, que eu seja
digno filho da Mãe de Deus.

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14ª Estação
Jesus é colocado no sepulcro
Eis o homem sepultado. Morto, não há dúvida. Abate-se o
desânimo sobre os discípulos. Os fatos não ocorreram como
eles esperavam. Esperavam o triunfo rápido e definitivo de
Cristo sobre seus inimigos, estabelecendo um reino político.
Esperanças tão contrárias e tão alheias a tudo o que Nosso
Senhor fez durante toda a sua vida. Todavia, os discípulos,
vendo que a vontade deles não foi feita, desanimam, como que
esquecidos de tudo o que Jesus fez e ensinou. Assim somos nós.
Desanimamos quando nossa vontade não é feita. Desanimamos
quando idealizamos um modo de nos santificar, muitas vezes
sem sofrimentos ou apenas com alguns sofrimentos que
escolhemos, e vemos que Deus escolheu outro modo para nos
santificar. Desanimamos, pois queremos ser santos do nosso
jeito e não do jeito que Deus quer que sejamos santos. Nosso
Senhor mesmo não escolheu o jeito de nos salvar. Veio ao
mundo para fazer a vontade do Pai e a fez com perfeição e com
caridade sem igual. Nossa Senhora mesma não escolheu o modo
como se uniria aos sofrimentos de seu Divino Filho.
Conformou-se à vontade d’Ele e do Pai, abraçando as suas dores
em inteira união com Cristo. Não desanimaram. Não
desanimemos nós. Não desanime a minha alma diante das
dificuldades, das cruzes, dos sofrimentos. Com tudo isso, Deus
vai entalhando a nossa alma na santidade. Não desanimemos
jamais, sequer com nossas quedas. Ah, meu Bom Jesus, dai-me
ânimo, dai-me coragem para Vos seguir do jeito que Vós quereis
ser seguido. A Vossa vontade é o que interessa... Não a minha.
Ah, minha boa Mãe, um último pedido: fixai-me em Cristo, que

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eu jamais me separe d’Ele novamente. Que eu jamais me deixe
levar pelo desânimo, pelo abatimento. Dai-me ânimo, coragem,
generosidade. Dai-me, minha boa Mãe, a alegria de ser católico,
de morrer com Cristo para o pecado e para minha simples
vontade própria, a fim de viver a vida de Cristo, a fim de chegar
ao céu. Que jamais me esqueça, minha boa Mãe, nas
dificuldades, de que estais o tempo todo me chamando: venha
ao céu, meu filho. Eu quero ir, minha boa Mãe, é o meu grande
desejo – ir ao céu –, para aí amar a Deus perfeitamente e amar
também a vós e todos os anjos e santos.

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