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Estado e Economia no Capitalismo “0 problema permanente da teoria politica, ¢ da politica pratica, diz respeito 4 competéncia desses dois mecanismos — o Estado ¢ o mercado = um em. relacdo ao outro. E possivel aos governos controlar uma economia capitalista? Em particular, & possi~ vel conduzir a economia contra interesses e prefe- réncias dos que controtam a riqueza produtiva?” A partir desta pergunta, Adam Przeworsky elabora uma reflexio crucial para nossos dias. Uma obra notdvel pela preciso e, ao mesmo tempo, ori lidade no tratamento das grandes questées que atravessam as sociedades contemporaneas. wi JOA “Tl original: The Site an he ecncnmy wer Cape {© Copyright 1990 by Harwood Academe Publishers cat Poststase 22, 7000 Chur, Sritzesiand Allis esered © Copyright da trust, 1995 DBuneard Dismnuooea oe Puntscagoes Lapa ya Baas Ribeiro, 17 — sala 202 2201-000 — Rio de Jani, BI “el: (O21) 42-028 Fax: (21) 275.0094 Copidesque Same! Aventure Revision Sonia Peixoto Eiitorogo Carlos Alben Hesterg Copa Gustave Meyer C-Broett, Catlogagdo-ne-one Sindiate Nacional dx Etores Livios, RI, Pracwory, Adan Posse tado ¢ economia co capitaliana / Adam Przeworsy: tendasso Argtice Cheibub Rgusinde, Pedko Paulo Zlth Basis. Ri de Janeiro: Relue-Dumac, 1993 ‘Teal de: The State and the economy onder saitliem Ine bibiogafin ISBNN5-7316.045-4 1. Copitalsma. 2. Politica econdmica, 3. Demoeracin, 4. Basta. Tinto epp-330125 sss epu—390242.14 “Todos os dios resewvads, A rprodgio nlo-auorzada desta publ «2480, por qualquer mei, sa ela oa 0a pasa, cont vieageo da ei 3988, Sumério Tntrodugéo PARTE 1 PARTE 2 a O governa do povo 3 I.lntodugdo 13 2.0 governo da maioria 14 2.1. Cidadios homogéneos 14 2.2. Mocelos do eleitor mediano 16 23. A instabildsde ds esltades demsocdticos 22 3. Democraciaeeficiéncia 26 3.1 Acriicanealibersl 26 3.2. Ademoctaciaéinaficionte? 31 4, Questées em aberto 38, 4 Prefertncias 36 42. Competigio poiica 38 43, Represeniagio de interesees 40 44, AzmonomiadoBsado 43 . Ogovernodo Estado 4s Lnteodugio «5 2. Preliminares terminoldgicas 4s 3. As origens da autonomia do Estado 49 3.1. Aabordagem da “autonamiacelativa” 49 32. Asotigens da aulonomia 52 32.1. Teoria de abdicagdolabstengio 53 32.2. Teoria dea burguesiafraca $5 3.3. Aulonomia do Estado e equilfrio do classes sh 34, Estado sociedude—t 355. Aabordagem centzada no Fstido 64 3.6. Autonoma do Estado coma resultado contingemte de contlitos 69 4, Conseqitéacias da autonomia do Bstado 5. A.autonomia do Estado em democracias 5.1. Orgios govemamentais auténomos 77 5.2. Constrangimentos 6. rants 3 O governo do capital 1 5.21. Constrangimenios decorrentes da oferta 9 % 5.2.2. Constrangimenios insitucionais #0 5.23. Constrangimenios econdmicas 88 5.3, Questbes nfo rsoividas $8 Conclusao Introdugzo 7 Pa 2.0 Estado ¢ a reprodugio do capitalismo 2,1, A teoria de Mere sobre a reprodugio do capitaismo 92 2,2, Offe ¢ Habermas 23. Poulantas 244 Teoria da reprodugo: uma extica 103 96 3. Conflito de classes e 0 Estado 3.1. Atooria da elite no poder 3.2 A teoria da dependéncia estar 4, Conclusdes partes Conclusdes Notas 138 Bibliografia Me 1 a 16 108 us us a ® [ | Introdugao © capitalismo & um sistema em que recursos escassos sto privada- mente apropriadas. Entretanto, nesse sistema a propriedade 6 institu- cionalmente separada da autoridade. Em decorréncia disso, existem dois mecanismos mediante 05 quais 03 recursos sf alocados pare usos diversos ¢ distribufdes para os consumidores: 0 mercado ¢ 0 Estado. No mercado, recursos produtivos (capital, tera e capacidade {dc trabalh) sfo elocados por seus proprietirios ¢ a distibuigo do ‘consumo resulta de interagdes descentratizadas. O Estado, porém, também pode alocare disteibuir, agindo sobre aqueles mesmos recur- 308 que constituem a propriedade privada, Estados podem n&o so- smente taxar @ transferir, mas também regular os custos e beneficios ‘elativos, ssociadas a decisdes privadas, Portanto, hé no capitalismo ‘uma fenso permanente entee o mercado ¢ 0 Estado, ‘Ademocracia na esfera politica exacerba essa tensto. O merdado ‘um mecanismo em que agentes individuais decidem alocagées com 0s recursos que passuiem, recursos esses que sto sempre desigual- mente distribuides. Na democracia as pessoas, como cidadios, po- dem expressar preferéncias quanto 2 alocagio de recuesos que elas no possuem, com direitos distribuidos num contexto de maior igual- dade. $6 por migica os dois mecanismos podem levat a um mesmo resultado, Com efeito, distribnigdes do consumo gerndas pelo merca~ do devem ser sistematicamente diferentes daquelas coletivamente preferidas pelos cidadios, uma ver. que a democracia oferace uma oportinidade de obter reparagio por meio do Estado aqueles que sto pobres, oprimidos ou miserdveis em conseqiiéncia da propriedade privada dos recursos prodativos. problema permanente da teoria pottica, e da politica prética, iz respeito & competéncia desses dois mecanismos un em relagio a0 outro, £ possivel ans governos controlar uma economia eapitalis- (a? Em particular, ¢ possivel conduzir a economia contra interesses ¢ preferéncias dos que controlam a riqueza produtiva? ‘Como essas questées envolvem interesses ¢ valores, os argomen- {os légicos e empiricos estao intimarienteentrelagados com questées normativas ¢ politicas. O papel apropriado do Estado em relagio aos virios aspectos da vida social ¢ ccondmnica constitui o tema central das controvéesias polfticas contemporéneas. Deveriam os governos invervir de algum modo na economia? Os Estados suprem as faihas de funcionamento do mercado, tomando a alocacto de recursos mais eficiente? Estariam os mercados operando “mais suavemente” ape- ‘nas porque so continuamente organizados e regulados por Estados? Ou a intervengto estaal é sempre uma fonte de incertozae ineficién- cia? Em suma, a intervengao beneficia ou prejudica o bem-estar xgetal? Os Estados sio organizagSes universatisticamente orientadas ou apenas mais wim dentre uma moltiplicidade de atores particulars (0s, diferenciado apenas pelo monopétio ds. coezga0? Essas questdes decorentes da tensa convivéncia entre Estados € mercados sfo tio genéricas que se reproduzem em campos acadért cos que nao compartilham de quaisquer interesses substantivos. Es- tudos das politicas pablicas proliferam atal ponto que atualmente so publicadas revistas especializadas em areas especificas de polticas de governo como polttica habitacional, politica cultural, polftice fis- cal, politica de defesa ou politica industrial. B mesmo que cada via, dessas dreas contenha, indubitavelmente, alguns aspectos t6enicos| cespecializados, os debates tedricos apontam para os mesmos pro- blemas e so organizados em tomo das mesmas posigées, inde- pendentemente da problematica substantiva. Sio és as posigdes te6ricas bésicas: os Estados respondem as preferéncias dos cidadios, os Estados procuram realizar seus pro prios objetivos, e, Finalmente, os Estados agem segundo o interesse dos que possucm riqueza produtiva, Na primeira viséo, o povo man- & 1 awteopucho ’ 2. “0 Povo”, no singular do século dezoito,exerce sua soberania por meio do processo democritico. Os politicos, lutando por adesbes, ofertam aquelas politicas que so coletivamente preferidas pelos ci- dadios e, uma voz nos cargos, procucam implantar essas politicas. Assim, 08 governos silo perfeitos agentes do piidlico. Na segunda visio, 05 Estados sio instituigdes autémomas em relagio & sociedade. ‘Os Estados “governam” em beneficio préprio — os governos tragam politicas que refletem os valores ¢ os inleresses dos administradores cstatais, Na terceira perspectiva, finalmente, os Estados sio tio coms trangidos pela economia, especificamente pelos interesses dos pro- prietirios privados dos recursos produtivos, que os governos mio podem emprecnder quaisquer agdes contrérias a esses interesses. Assim sendo, 6 0 “capital” quem governa, Nonhuma dessas perspectivas te6ricas, bem como os programas politicos que inspiram, so novas. As questdes relacionadas com o étodo demecritico dominaram os debates politicos A época das Revolugées Americana e Francesa, A visio de que 0 processo de- ‘moorético ¢ intrinsecamente imperfeito e inferior ao mercado como mecanismo de alocagao de recursos remonta. a Burke e 2 de Maistze, ou soja, a0 fim do séoulo dezcito. O medo diate de quais- {quer instiigdes politicas especializadas, mesmo as ropresentativas, Femonta a Rousseau ¢ tem uma complicada historia ideolégica: of -zinalmente um tema da esqueréa, o anti-estatismo foi empunhado pela dizeita apenas recentemente, ¢ apenas em seu aspecto econdmi- co. Finalmente, a crenga de que a soberania popular é drasticamerge reduaida, em qualquer sociedade em que os recursos produtivos sio privadamente possuiios, vem sendo a caracterstica tradicional, quae se definidora, dos movimentos socialistas. No entanto, 0 fato de que todas as posigdes correntes tenham suas raizes no perfodo em que as instituigées politicas ¢ econémicas mo: ddernas foram forjadas néo significa que no tenhamos feito qualquer Progresso. As paginas seguintes atostam que os argumentos tradicio- nais foram beneficiados pelos aparatos ancliticos recentemente ée~ senvolvidos. Preiisses foram esclarecidas, argumentos Foram orga nizados cm modelos dedutivos, hipéteses empiricas rivais foram esenhadas. Afiemagies deram lugar a argumenios; padres norma- ee 0 ESTADO H ECONOMIA NO CAPITALISHO tivos passaram a ser explicitos ¢ bastante técnicos; evidéncias aned6- ticas tomaram-se evidéncias sisteméticas. F possivel ter posigtes ideolégicas diferentes c ainda assim argumentar: essa a transforma~ ‘go possibilitada pela adogao de uma linguagem técnica padrio. verdade, evidéncias empiricas continuam escassas e muitas questbes niio podem ser decididas pelo recurso &s evidencias. Mas os desacor- «dos ideolégicos foram racionalizados. As trés maiores visdes da relagdo entre Bstado ¢ economia cons- timer 0 objeto desta monogrsfia. ‘AParte 1 € dedicada a duas questOes: se 0 processo democrético oferece uma tinica leitura das preferncias individuais, ¢ se a demo- cracia leva a resultados econdmicos eficientes. Neste eapitulo as ‘premissas ¢ a esteutura I6gica das teorias econdmicas da demacracia so brevemente esquematizadas, com foco na relaglo entre as teorias dda escolha social e do Estado democratico, As teorias neoliberais — ‘que sustentam que os governas inevitavelmente provocam ineficién- cia cconémica — so reconstruidas ¢ sujeitas a uma erftica inter nna, Finalmente, criticas externas a esse enfogue si svinarizadas, particularmente as que enfatizam a organizagso corporativista de jnteresses, ‘Ap6s algumas preliminares metodolégicas, a Pare 2 deseavolve ‘quatro questBes: com que freqiiéncia e em que extensio os Estados ‘sio autdnomos? Que condigbes promovem a autonomia do Estado? ‘Quais sio as consegtiéncias de diferentes formas de autonomia do Estado para as politicas govemamentais? Coma os butocratas ¢ 08 politicos se tornam auténomos em condigées democréticas? A visio ‘marxista tradicional da autonomia do Estado como uma contingneia das relagées de classe é contrastada com 0 enfogue “centrado no Estado”, que toma a autonomia do Estado como um postulado meto- dolégico. A andlise das conseqiiéncias de formas diferentes de auto- nomia € baseada no enfoque neocléssico de histéria econ6mice. Finalmente, modelos de drgios governamentais ¢ legislativos autd- rnomos em democracias s40 colocados dentro do contexto de cons- trangimentos econdmicos ¢ institucionais, A Parte 3 & centrada nas duas questdes colocadas pelas teorias maristas do Estado: a sobrevivéncia do capitalismo deve-se a wereonucae 0 intervengées do Estado? Por que os govemos agem para fomentar 0 capitalismo? A Tégica das teorias marxistas funcionalistas & recons- trufda primeiramente, seguida de duas importantes verses dessa teoria, O enfoque como um todo &, entfo, sujeito a uma critica que enfatiza tanto os problemas légicos como emptricas por ele enfren- tados. Finalmente, modelos orientados pela teoria das jogos, que colocam as poltticas governamentais dentro do contexio do conflito de classes, s40 examinados como um enfoque altemative pars a problemética marxista, As paginas de conclusdo (Parte 4) retonam &s questbes politicas. PARTE I O governo do povo 1. Introdugio ‘As teorias econ6micas da democracia expiicam as potiticas governa- rmentais pelos interesses dos cidadldos. Acstratura geval dessas eorias é aseguinte. Existem individuos que, alravés dc eertos procedimea- tos, revelam suas preferéncias por poiticas govemnamentais, Existem ‘equizes de politicos reais ¢ rivais que competem por apoio politico, ‘Candidatos maximizadores de apoio oferiam politicas coletivamente preferidas pelos cidadaos ¢ procuram implantar essas politicas, uma vez nos cargos. Os governos sto, entdo, agentes perfeitos do piiblice. ‘© povo a0 qual os governos respondem é ipicamenteidentificado apenas como os “‘individuos”. isto 6, todas as preferéncias so a priori posstveis e todas as coaliz6es entre cles so igualmente provi- ‘duos sfo racionais, no sentido de que apdiam as pro- postas politicas e govemos que mais se aproximam de seu miximo bem-estar. Os individuos revelam suas preferéncias por uma varieda- de de mecanisinos, desde o voto nas eleigdes até 0 suborno de buro- cratas, Os goversantes* — politicos elites, burocratas nomeados ou, * © amor emprega, a0 longo do tivo, 2 expressio szte manager, temo ‘ounhaclo pela sbordagem "centrada no Estado". (NT.) “ ESTADO E ECOWOMEA NO CAPITALISMO ‘mais abstratamente, “o regulador” — so por sua vez levados a fazer aquilo que 0 povo quer que facam no sev proprio interesse, porque ccompetem por apoio popular. Essa feliz coincidéncia entre preferéncias coletivas e politicas iblicas nao se mantém se: nao houver uma escolha coletiva tnica; (5 mecanismos que revelam preferéncias induzirem os individuos a antecipar as ages dos outros de mancira coletivamente subétima: es goverantes nilo competirer ou no puderem ser efedivamente su pervisionados. Mas mesmo que os govemnos sejam perfeitamente ‘esponsivos as escolhas coletivas, emerge a seguints questto: as po- lilicas que gozam de maior apoio sio realmente as melhores pata os que ofereccm esse apoio? Isto é, o Bstado deve intervic na economia dc formas que respondam a preferéncia coletiva? A.celagio entre as politicas governamentais ¢ as preferéncias dos individuos € 0 objeto da segao 2. Para tornar claras as premissas, comegamos a segio 2.1 com um exemplo em que os cidacios sio homogéneos e nfo hé qualquer Estado sobre o qual falar. Enfocare- mos endo, na segto 2.2, o modelo de situagies em que-cidadios com preferéncias estruturadias de forma similar votam em uma questo specifica pela regra da maioria: “o modelo doeleitor medésno”, Para concluir essa andlise, sumarizamos brevemiente, a segfo 2.3, a prin- cipal razao pela qual os resultados otimistas do modelo do eleitor mediano nto se sustentam, © tema da segdo 3 € a questo de se 0 Estado intervém na economia no melhor interesse dos individaos, ‘ntesmo quando é perfeitamente respoasivo no atendimento das pre~ feréncias por eles reveladas. A segio 3.1 apresenta a visto da escola a regulagtio (de Chicago); soguide, na 32, de uma revisio critica esse modelo, Uma breve reviséo conclui essa Parte. 2. O governo da maioria 2.1 Cidadios homogéneos Para entender a légica dessas tcorias ¢ as questdes que elas colocam, considere-se uma democracia ideal, Nesse sistema, todos os cidadaos 0 aoveene 00 rove 1s ‘tém igual rena ciqueza e todos votam simultaneamente, escolhen- do a partir de uma tinica dimensio o nivel de uma stividade governa- ‘mental, Suponhamos que os mercadores de Venere enfrentam aques- {Bo de quantos navios de escolta devem construir para proteger a sua {rota reccantil dos picatas. Cada cidadao busca maximizat o benefi- cio liquide que extrai das atividades governamentais, isto 6, cada um ‘vota pelo nivet de atividade que maximiza a diferenga entre custos & bbeneficios. O nivel de protecdo eficiente € 0 nivel para o qual 0 ‘beneficio marginal iguala 0 custo marginal. Portanto, os mercadores de Veneza votam a favor de financiar um mimero ce navios tal que 1 custos do iiltimo navio acrescentado i frota so equivalentes aos beneficios em prote¢ao adicional que cle propicia, Nao faria sentido ppara eles nfo adicionar tal navio, ja que o anterior ainda contribute ais para 2 protegto que para o custo; ¢ nfo faria sentido construir mais do que esse siltimo, j4 que 0 préximo custaria mais do que ccontribuiria para a soguranga da frota. Assim, ciados homogéncos escolheriam um nivel de atividade duc scria oficiente para cada um e para todos. Eles prprios se 10s~ ponsabilizariam pelo custo per capita dessa decisio, Uma ver deci ido o nifmero de navios, os cidadzos aceitam uma proposta compe- ‘itive pare @ construgio dos navios, A competigdo traz © prego dos setvigos para 0 nivel que representa 0 verdadeiro custo para 0 ofer- {ante: o custo j€ conhecido pelos cidadios ao calcularem os cusios & beneficios marginais. O Estado seria um agente perfeito nessas ‘condigdes: uma vez que o Estado nada mais é que os proprios cidg- ios, nfo hé Estado sobre o qual falar Note-se que uma vez.que uma mesma politica é 6tima para cada ‘idadio, qualqucr regra de votagao acabaria Jevando a0 mesmo re- sultado, AtEm do mais, @ transformagdo desse democracia direta ‘em um sistema representativo nfo mudaria nada. Suponhamos que exista um 6r2fo governamental piblico do contratante, que decide sobre 0 nivel de atividade e a contrata, Candidatos para esse Srgio governamental competiriam cntre si: 6 candidato mais préximo da politica preferida pelos cidados vence os oponentes; para maximizar © apoio, isto é, vencer as eleiges, todos as candidatos convergem ara preferéncia coletiva, 6 BSTAOO F SCONOAIA NO CAPITALISMO ‘Assim, quando 0s cidadios so homogéneos, 0 processo politico _gera um Unico resultedo, Se os candidatos para cargos pAblicos com- petem enite si ¢0s servigos governamentais so provides competiti- vamente, 0 Estado funciona eficientemeate como um perfeito agente do pablico. 2.2, Modelos do eleitor mediano Surpreendentemente, as caraeteristicas bésicas dessa democracia perleita sobrevivam em um mundo em que os individuos difecem er dotagées, rendas e preferéncias,¢ as decisées sfo tomadas segundo a regra da maioria, Esta 6 a conclusio central dos modelos do eleitor mediano, ‘Suponhamos agora que os cidadaos possuem certas dotagBes, comme riqueza ¢ trabalho, uma renda derivada de sua utiizago que é a elas adicionada e preferéncias rlativas a vérias dimenses, como consumo, Izer, bens piblicos, bem-estar¢ outros, Pssas proferéncias si tais que apenas um resultado é preferido sobre todos os demais ¢, como auton ta a distincia entre o resultado preferido e qualqucr altsrativa, a utili- ade de cada individuo nfo aumenta (“curva de pteferéncias wiime- al”), Para a maior parte dessi seydo, seré proveiloso pensar os individuos como ordenados de Y(M)>¥(P).Nota-se, primeitamente, que o eleitor de renda mediana tem a preferéncia ‘mediana no que diz respeito as taxas dc imposto: o Rico gostaria que ‘taxa fosse zero para todos, o Pobre gostaria que a taxa seltasse para dim a partir da fina de renda infinitesimaliente maior que a Sue, 60 cleitor Mediano gostaria que 2 taxn subisse a parti di faixa logo cima de sua renda, que esta no meio, Veros também gue 0 equil- brio majoritésio € a escala de alfquotas preferida pelo eleitor media- no: tal escala ganharia os votos do Pobre ¢ do Mediano contra & proposta do Rico, Uma escala gue impusesse a elevacio da taxagio abaixo da renda do cleitor mediano nao obteria seu apoio ¢, portanto, (© apoio da maioria, enquanto que uma escala que no taxasse qual- ‘quer eleitor mais rico que 0 mediano acummularia uma receita menor, sendo rejeitado por todos of eleitores com renda menor ou igual & 2 aoveano 00 rove » medians, [A menos que as deadweight losses* fossem realmente punitivas, ver Romer, 1975, ou qbe0s leitores pudessem ser levados J acreditar que fossem.| Finalmente, se dois partidos competem para Wencer as eleigées (@ as condicbes discutidas acima sao satisfeitas) cles convergirao para a preferéncia do eleitor mediano. ‘Uma vez que as decisbes sdo tomnadas peta regra da maioria, uma questo que imediatamente surge & por que os pobres nao tomram tudo dos ricos. Isso €0 que todos, Esquerda ou Direita, esperavam — ‘com esperanga ou medo ~~ que o sufrégio universal fosse provocar. ‘Como disse Ersnt Wigforss, 0 principal teGrico da Social Democracia ‘Sueca € Minisiro das Finangas em 1928, “o sufrégio universal € incompatfvel com uma sociedade dividida em urna pequena classe de. proprictérios e urna grande classe de éespossuidos. Ou bem os ricos € proprietérios acabam com 0 sufrdgio universal, ou os pobres, por meio de seu direito de voto, tomam para éles uma parte das riquezas acumuladas.” [Citado em Tingstein, 1973: p. 62.] Se o eleitorado consiste de 7 pessoas, 05 (1/2 + 1) cidadaos mais pobces poderiam ppassar uma proposta que expropriaria 0s ticos. Com efeito, vintos tal resultado na situago analisads acima —a taxa de imposto para todas fs rendas maiores que a mediatia foi a unidade, Por que a maioria, qualquer maioria, nfo exproptiaria a minoria?” As razdes concebiveis sao varias, mas essa literatura centra-se mas deadweight losses que resultam da taxagao. Aumann ¢ Kurz [1977: p. 1139] oferecem a formulagéo mais geral, quando simplesmente assumem que “cada agente pode, se quiser, destruc parte ou a totali- dade de suas dotagies.” Suponhamos que os individuos ofertem suas dotagdes de forma a auferir rendas YO, desde que a taxa dos impostos nao seja maior que algum valor (max), mas que fujam para um mundo nao taxével de economia subterrdnea, de lazer, ou para um paraiso fiscal, quando a taxa de impostos exceder s(max) [Romer, 1975). Agora, aescala fiscal étima parao cleitor mediano e, portanto, ora equilfbrio majortério, serd aquela em que as texas de impostos forem s(max)<1. Uma taxa maior faria com que qualquer individuo Esa expresso serf mantida em inglés, ¢ 0 seu significado fcarf claro 20 devorrer do prprio texto. €N-T,) 20 ETADO F ECONOMIA NO CAPITALISHO, sujeito a taxagio retrasse suas dotagbes de atividades taxaveis, sem | Esta é arazao citada nessa literatura para ‘explicar porque ax maiorias decidem por um ponto anterior a uma redistribuigio completamente igual As deadweight losses scrio ainéatépico de discussdo mais adiante, mas um comentitio preliminar é necessério aqui. Deadweight lasses podem ocorrer porque-o trabalho é desestimmulado pela taxagdo ou por ‘causa de substdios ao lazer. Mas também podem ocorrer porque os consimnidores responderiam & Laxagio poupando menos ou as firmas investindo menos. Uma interessante conseqtiéncia para os modelos do eleitor mediano € a inirodugio da interdependéncia nas decisdes priva- das de poupanga [Bush e MacKay, 1977]. Os individuos alovariam sua renda em dois lempos: primeira vo:ariam nos programas govemamen= tais (bens pablicos ov transferSncias puras) ¢ depois decidiriam quanto ‘poupar de sua renda remanescente. A preferencia do cleitor mediano a respeito dos programas governamentais impde uma restri¢io ovgamen- Céria nas decisées de poupanga de qualquer um: todos devern pagar as taxas escothidas pelo eleitor mediano, antes de decidir © que fzer com sua renda rermaneseente, Poderfames, entdo, esperar que 0 eleitor me- diano antecipatia os efeitos de suas decisdes sobre imposios baseado ra taxa de poupanga alhcia ¢, portanto, buseado na rena agregada ou nabase de taxagiio. Mas os modelos do eleitor mediano invariavelmen- te se fundam em deadweight fosses na oferta de tabalho e o status tempirico dessa premissa € duvidoso [ver Saundess ¢ Klau, 1985: pp. 164-167, para uma resenha recente da evidéncial. Na realidade, AU mann ¢ Kur (1977; p. 1157] se véem forgados a tomar uma via tortuo~ saz em seu modelo, deadweight lasses na oferta de trabalho constituet tuna ammeaga que induc a um compromisso, nunca sendo, portanto, realizadas; logo, as deadweight losses nio ocorcem. Se isso é verdade, nfo cxiste, ent, sequer uma base emapiriea Sobre a qual estimar magnitude dessas perdss, ‘Note-se que qualquer um que no seja o eleitor mediano tem axes para ficar infeliz com 0 resultado da regra majoritéria: os cleitores pobres prefeririam que as taxas fossem maiores, os eleitores ricos gostariam de vé-las menores. Além do mais, seo eleitor media- ‘ro opta por uma taxa positiva, como faz. ipicantente, a renda agrega- dda é menor do que seria seas taxas e transferéncias fossem zero. Mas @ covEKno Be rove: a ‘qualquer outra taxa faria alguém perder. Em patticutar, com uma taxa ‘menor, a renda agregada aumentaria (assumindo que ha deadweight losses), € 0s ricos pagaciam menos em taxas Kquidas, mas os pobres receberiam menos em beneficios liquidos. Assim, o equilibria majo- ritério do cleitor mediano nfo seria derrotado pele gra de unanimi- dade: & Pareto cficiente. Que escalas de taxagio prevalecerao com as premissas dos mode= los doeleitor mediano? A resposta depende, entre outros fatores, das restrigdes impostas aos padres admissiveis de taxagao e das premis~ sas especiticas a respeito da fungao das deadweight losses. Amaioxia dos modelos bascia-se tia premissa de que a escala de taxagao & linear, as prelerénecias so quasi-concavas e a receita fiscal total e igualmente distribuida entee os individuos. No mais simples modelo desse tipo, os individuos eseolhem a taxa que maximiza a utilidade derivada de seu consumo ¢ lazer pSs-taxagao # Se os impostos 1 tivessem qualquer efeito ns renda agregada, o eleitor median exeo- Iheria um dos vatores extremos admissiveis pare a taxa de impost ‘zero se sua ronda é igual ou maior que a renda médis e cem por cento se arenda mediana é menor que a média. Uma vez.que-a distribuigio de renda ¢ tipicamente distoreida em diregSo as rendas mais baixas, ea ralmente menor que a média, 0 equilforio ‘majoririo cousistria em uma completa iyualdade nas rendes pos fisco, Mas sea taxacto provoca deadiveigh losses, o eleitor mediano vai preferir uma taxa de impostos menor que a unidade.’ Acconclusko eral dos modelos baseados em escalas linentes de taxagiio ¢ que a {scala de taxagio vencedora int (1) transferitrenda dos rieos parg.os pobres, (2) prover uin imposto negative para os pobres, ¢ (3) encon- (ear scu Timite antes de afingir uma igualdade peefeita de rendas POstaxagios ‘Uima vez que na regra majoritdtia a preferéneta do eleitor com Fenda mediana é decisiva, 0s modelos do eleitor mediano vineulam, Proveitosamente, informagGes sobre as condigdes correntes 20s re~ Suitados da escotha politica, Camo Romer ¢ Rosenthal [1979: p. 144] ‘observaram, “a maior vantagem do paradigma do eleitor mediano & ue permite a anilise de problemas sociais através das preferéncias de uin tnico individuo, o crucial eleitor mediano”. Vimos que a referéncia-modal do eleitor mediano depende da relacdo entre a sua 2 STADE E ECONOMIA NO CAPITALISMO renda ea renda média. Se a distribuicdo de renda fosse perfeitamente simétrica, isto 6, se a mediana fosse igual 8 média, a maioria votaria por nenhum imposta e nenhuma transferéncia (suponde que nenbum problema especial € apresentado pelos bens ptilicos, como essa literatura tende a assurnir). A medida em que a distribuigdo de renda pré-tisco se torna mais desiguel, isto &, a mediana cai em relagao & média, a taxa de imposto preferida pelo eleitor mediano aummenta. O resultado foi usado por Meltzer ¢ Richard (1981] para explicar 0 crescimento do governo na Europa Ocidontal: extensBes do dircito de volo ¢ a recente proliferagdo de elcitores que recebein sua renda da seguridade social levaram a renca mediana para baixo cm relagdo & ‘édia, aumentando assim a taxa fiseal de equilibrio majoritéro. Além do mais, Meltzer ¢ Richard notam que © modelo do eleitor mediano explica o aumento da divida publica, jf que “o cleitor deci- sivo tem incentive para taxar tanta os futueos ricos quanto os ata.” [p. 925] (Os modelos do elcitor mediano foram testados em relagaoa virias fireas de politicas pablicas.7 Pommerchne [1978] descobriu. que tal ‘modelo foi bastante bem-sucedido nas municipalidades safgas com emocracia direta, Todavia, as pesquisas empiricas geralmente le- ‘vam a conclusdes odticasa respeito de sua validade. Tendo resenkado virios estudos sobre gastos de escolas municipais, que fomnecem as mais favordveis bases de teste para esse modclo, Romer ¢ Rosenthal (1979: p. 144] conelufram que cles “fatham em mostrar que os gastos reais cotrespondem, em geral, 2queles desejados pelo eleitor medi no.” [Ver também Muclier, 1979: pp. 106-109.] Dads as severas res- trigdes 8 validade desse modelo, essa conclusdo nao suspreende. 23. Ainstabilidade dos resultados democriticos O modelo do eleitor mediano ¢ intelectual e normativamenteatrativo. As politicas poblicas sio explicadas pelas preferéneias dos cidadios € a teoria € poderasa o suficiente para dar conta de uma variedade de ‘fendmenos, incluindo os padrSes histricos de gasios estatais. Nor ‘ativamente, o modelo do eteitor mediano justifica o ideal demoer tico: em uma comunidade democritica, os governos sto sensiveis © desejos dos cidadios. Mas, infelizmente, toda essa re onl Genco a. ; zis 0 modelo do eleitor mediano se apica, ou 2 cone em que nd um equi a regra moni, 0 +e fe resrtivas, Hoje esté bem estabelecido que nen proce- Bec e votagio produziria, em geral, uma ordenagio transitive en snc cletvas [Atrow, 1954, Para resenbas dos desenvol- F evios subseatentes, ver Plot, 1976; Muciler, 1979; Schofield, F078, 1982; Miller, 1983; Suzumura, 1983]. Sie instaveis asescolhas i {duos racionai ymento especifico, FE ctetivas feitas por individuos racionais em um mor i ee F ccinas preferéncias individuais podem levar a diferentes resultados ‘Vimos acima que um equiltbrio majoritério existe apenas se hi Fi :ma proposta que ndo pode ser derrotada segundo aregea majoritéria, Fal cquiltorio ¢ estavel se ele resulta do processo de votagto, in- dependentemente da ordem em que as propostes s4o comparadas. ‘Quando as preferéncias individuais tém um nico pico e algumas restrigdes adicionais se verificam, o equilforio da regra majoctéria ‘existe: este € 0 teorema central que fundarmenta os modelos do eleitor mediano. Mas jé com escalas de taxagio nio-lineares, as preferéncias dos leitores podem ser tais que poder aparecer ciclos mesmo em vota- sobre questdes unidimensionais (Foley, 1967]. Com mais imensdes, € sempre possivel que mesmo que todos os eleitores Bsejam racionais, no sentido de que suas preferéncias sejam transitvas sci prefere X em vez de Ve Yemn vez de Z, ‘prefere X em vez de Z), as preferdncias coletivas sejam intransitivas, isto é X decrotaria ¥ pela regra majoritéria, ¥ derrotaria Z, ¢ Z dertoraria X. Suponha que 98 individuos votam para decidic quanto dinieiro obter com impos tos, quanto gastar em bens piblicos, quanto em transferéncias para cidadios comprovadamente carentes, quanto em bencficios univer= sais. Em geral, nao ha escolhas que no possam ser derrotadas pot utra(s) proposta(s). O niicleo esté vazio: 0 ncleo sendo 0 conjunto fede propostas invenciveis. Além do mais, sc as questécs séo suficien- emente multi-dimensionais qualquer resultado € possivel, mesmo 24 ESTADO E ECoMoIEIA NO CAPIEALISSO resultados que deixem todos pior do que estavam sob 0 status-quo, sem deixar ninguém melhor. [MeKelvey, 1976.] Esses resultados forgarn a uma grande refnterpretagdo do processo demoerético. Numa democracia em que é pertitido aos cidadfos pre~ feriro que bem desejarem, em que as preferéncias de-cada um contam ara os resultados e nenhunta preferéncia individual é decisiva e em que 0s resullados sfo independentes da seqiiéncia em que as propostas apatecem, no ini sc gerar uma prefer@neia coletiva que possa ser vista ‘como um mandato popular Unico, expresso confisvel da vontade co- Jetiva, Na realidade, resultados de votagio nil se relacionars com as preferéncias deeleitores. Assim, pelo menos em uma interpretagio [ver em particular Riker, 1982], 0 efeito do teorema de Arrow ¢ seus desen- volvimentos subscqientes quebrou a conexiio do séeulo dezoito entre soberania popular ¢ racionalidade coletiva, entendida como tcansitivi= dade das preferéncias coletivas Riker [1982] argumentou que os teoremas da impossibilidade invalidaram a interprezagao das eleigies como uma expresso da vontade popular, sagerindo que deveriamos pensar as eleicdes como lume oportunidade negativa de climinardirigentes indescjiveis. Uma vex que as eleigdes nao so uin mecanismo significative para a ex- pressfo da vontade popular, ndo podem ser vistas como outorgando 0s govemnos um mandato para perseguir quaisquer politicas particu- laces, Assim, Riker defenden um govemo mirimo baseado em dirci- tos negatives, uma democracia “liberal” em lugar de uma democracia “populista”. Coleman ¢ Ferejohn [1986] axgumentaram, entretanto, que os teoremas da impossibitidade se aplicam com igual forga a escolha de governos e a escolha de politicas: nesses termos, nao hé +a26es para preferira democracia liberal a democracia populista, Bles também se uniram a Shepsle [1979] ao enfatizar que muito da instabilidade da escolha coletiva pode ser removida por constrangi- zentos institucionais consensuais. As questées normativas se concentraram tradicionaimente na identiticagko, fcita po Arrow, de racionalidade coletiva e transitivi= dade ox pelo menos nito-ciclicidade das preferéncias coletivas [ver Mueller, 1979]. Alguém poderia considerar que qualquer resultado alcangado com justiga deveria ser aceitavel, mesmo se pudesse ser © aoveano 90 revo 25 derro:ado por algum outro resultado justo, pola regra de maioria Além disso, pode-se argumentar, no espitito de Dabt [1956], que ‘maiorias estiveis sia indesejaveis, j4 que podem oprimic minories Miller [1983] observou com asticia que o paraiso perdido pelo te6- 1ico da escolha social 60 paratso ganho pelo tesrico pluralist, Final- ‘mente, Schofield [1982, 1985] atentou para 0 fato de-que 0 caos da politica racional no deve sercontrastado com aracionalidade estével do mercado: 0 edificio da teoria do equilforio geral ¢ vulnerével & ‘maipulagéo estratégica por agentes individuals. ‘Teorias positivas da politica pablica também so profundamente afetadas pelos resultados da impossibilidade. Miller [1983] chegou a0 cextramo de argumentar que a maioria das utuagdes de volagio © smudangas de governo resultam mais da instabilidade inerente as esco- thas coletivas do que de mudangas nas preferéncias subjacentes dos individuos. Atém disso, mesmo gue os governos tentem manipular a ‘economia de modo a maximizar sex apoio eletoral, nfo existe uma politica nica capaz de consistentemente ganas eleigbes contra todas as alternativas, Assim, Schofield (1985: p. 5] argumentou que se um ‘govemo tenlasse induzir cicios econdmicos cleitorais “nfo existiria ‘realm procecimento tnico para fazer isso de um modo que maxim Zzasse votos, ou garantisse votos suficientes para a reeleigo” A forga ‘analtica das teotias econdmicas da democracia.é assim quase nua, ¢ (0 teoremas da impossibilidade se verificam no mando reat Os teoremas da impossibilidade se apsiam em vérins premissus, cada uma dolas jé tem sido objeto de extensos debates. A premnisga ue nio é sequer explicitamente mencionada & que as preferéncias individvais sfo dadas e permanecem imutaveis durante 0 processo politico, Visto da perspectiva da ciéncia econtmnica, o proceso polt- consistria apenas na manifestagto ¢ egregacdo de preferéneias individuais formadas exogenamente. Mas & rezoavel que os indivi duos mudem suas preferéncias como resultado de sua miitua comu- nicagio [Sen, 1977: Offe ¢ Wiesenthal, 1980; Elster, 1984; Kolm, 1984), Infelizmente, no temos uma descrigio razodvel do modo ‘como as preferéncias mudam, Riker [1982s p. 122 p. 128] admitiu 8 possibilidade de. que as interacées politicas possam modificar as preferéncias dos eleitores, mas sem especificar as bases para tal, ¢ 6 ESTADO E ECOROMIA NO CAFITALISICO relegou essa possibilidade as questdes sem importincia politica. A. ‘questio central é se preferéncias cofetivas transitivas podem ser in- {duzidas por um proceso politico no qual os politicos deliberadamen- te busquem produzir um mandato nfo ambfguo ¢ consistente. Nesse ‘estigio, ninguém parece saber 20 certo Democracia e eficiéncia 3.1, Aeritica neoliberal Mesmo se cidadios racionais expressassem suas proferéncias de for- ma estavel e sem ambigiiidads ¢ se-os governos respondessem com a satisfagio dessa preferéncia coletiva, qualquer intervergdo politica ‘na cconomia seria inimiga do bem-cstar geral. Este é 0 ponto central de um conjunto de visdes que combinam a critica conservadora tra-

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