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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Geografia

A DIMENSÃO ESPACIAL DA VIOLÊNCIA


CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE EM
BELO HORIZONTE - 2005:
vítimas, violadores e rede de proteção

Luciene Leão Ávila


LUCIENE LEÃO ÁVILA

A DIMENSÃO ESPACIAL DA VIOLÊNCIA


CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE EM
BELO HORIZONTE - 2005:
vítimas, violadores e rede de proteção

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geografia – Tratamento da
Informação Espacial, como requisito parcial à
obtenção do Título de Mestre.
Área de Concentração: Estudos Urbanos
Orientador: Dr. Alexandre Magno Diniz
Mestranda: Luciene Leão Ávila

Belo Horizonte
2007

2
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Ávila, Luciene Leão


A958d A dimensão espacial da violência contra a criança e o adolescente em Belo
Horizonte - 2005: vítimas, violadores e rede de proteção / Luciene Leão Ávila.
Belo Horizonte, 2007.
129f.

Orientador: Alexandre Magno Diniz.


Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial
Bibliografia.

1. Violência – Belo Horizonte. 2. Crianças. 3. Adolescentes. 4. Proteção


I. Diniz, Alexandre Magno. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. Programa de Pós- Graduação em Tratamento da Informação Espacial.
III. Título.

CDU: 362.7(815.1)

3
Luciene Leão Ávila
A dimensão espacial da violência contra a criança e o adolescente em Belo Horizonte - 2005:
vítimas, violadores e rede de proteção.

Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da


Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 2007.

Alexandre Magno Alves Diniz

__________________________________________________________
Alexandre Magno Alves Diniz (orientador) – PUC Minas

Leônidas Conceição Barroso

___________________________________________________________
Leônidas da Conceição Barroso - PUC Minas

Mônica Abranches Fernandes

____________________________________________________________
Mônica Abranches Fernandes – Curso de Serviço Social / PUC Minas

4
AGRADECIMENTOS

Neste caminho que escolhi percorrer, muitas pessoas especiais me acompanharam.


Entres elas, as primeiras foram meus pais, irmãs, sobrinhos, sobrinhas e cunhado; mesmo não
sabendo direito que caminho era este, me apoiaram e acreditaram em mim.
Outro ator muito importante e presente foi meu marido Guilherme. Este sabia muito
bem para onde eu estava indo e, mesmo sabendo que poderia ser difícil, me apoiou e me
confortou em todos os momentos.
Os meus amigos foram, também, muito importantes nesta caminhada. Todos sempre
com palavras de conforto, de crédito, ajudando-me a levantar e acreditar que era possível
construir com autenticidade e clareza o referido caminho.
Os Professores, com tanto conhecimento e experiência, constituíram-se peça chave
para efetivar a construção de minha obra, pois conseguiram passar muito bem o que
propuseram, sempre com paciência e carinho.
Com meus colegas de classe pude dividir doces tardes de aprendizagem e descobertas
prazerosas que aumentaram a paixão pela Geografia e pela vivência acadêmica.
Assim, agradeço a todos que acreditaram e me ajudaram realizar este sonho.

5
RESUMO

Cada vez mais, meninos e meninas vêm sofrendo abusos físicos e sexuais por parte
daqueles que deveriam estar cuidando para que seus direitos fossem garantidos. Quando isso
ocorre, a rede de serviços formada para protegê-los não consegue garantir que essas vítimas e
suas famílias se vejam atendidas, principalmente, pelo fato de serem famílias carentes e de
não possuírem recursos para chegar ao atendimento adequado. Desta forma, devido à
necessidade de tornar acessível o atendimento que visa a proteger meninos e meninas em face
da violação de seus direitos e de identificar onde estão crianças e adolescentes violentados, o
presente estudo tem como objetivo identificar a dimensão cartográfica da violência física e
sexual contra meninos e meninas em Belo Horizonte no ano de 2005, bem como a rede de
proteção a tais vítimas.
Para tanto, foram identificados todos os casos de violência física e sexual, nos nove
Conselhos Tutelares das regiões administrativas do município, e a rede para a qual foram
encaminhadas as pessoas envolvidas nos casos registrados. Além disso, buscou-se identificar
a rede que está sendo reconhecida por entidades que trabalham com o público em questão.
Como fonte para desenvolvimento do estudo, baseou-se nas teorias da Geografia da
Violência e das Redes Geográficas. Na primeira foi apresentado o surgimento, evolução dos
estudos da violência na Geografia no Brasil e no mundo, bem como seus autores mais
expressivos, buscando identificar a relação dessa fonte com o fenômeno da violência contra o
público infanto-juvenil. Já no desenvolvimento da discussão sobre as Redes Geográficas,
buscou-se explicitar o pensamento de Christaller sobre a teoria do lugar central e as variações
da teoria de acordo com outros estudiosos.
Buscou-se também apresentar o histórico do surgimento do Estatuto da Criança e do
Adolescente, quem são os atores envolvidos no processo de violação dos direitos, como se
conceituam tais violências, e o significado da rede de proteção.
Desta forma, constatou-se que o perfil do público que sofre violência e que pratica
violência não mudou ao longo dos anos. Constatou-se, também, a inexistência de uma
distribuição homogênea da Geografia da Violência contra meninos e meninas, e que a rede
deve ser mais bem distribuída, a fim de permitir que todos tenham acesso aos serviços
necessários para garantir a proteção da população infanto-juvenil, vítima de violência.

6
ABSTRACT

More and more boys and girls come suffering physical and sexual abuses on part of
those that should be taking care of guarantying their rights. When this occurs, the network of
services that is formed to protect them is not able to guarantee that these victims and its
families will be attended, mainly, for the fact of been devoid families and don’t possess
resources to have an adequate attendance. In such a way, due to necessity to make attendance
accessible, which aims to protect boys and girls of the breaking of its rights and to identify
where children and adolescents are violated, the present study has as objective identify the
cartographic dimension of the physical and sexual violence against boys and girls in Belo
Horizonte in the year of 2005, as well as the network of protection of these victims.
In this way, all cases of physical and sexual violence in the nine Tutelary Counsel of
the administrative regions of the city had been identified. In addition, the network for which
people involved in the registered cases had been directed was also indentified. Moreover, this
study sought to identify the network that is being recognized by entities that work with these
people.
Some of the sources used in the development of the study were the Geography of the
Violence theories and the Geographic Networks. In the first source, was presented the
sprouting and evolution of the violence studies in Geography in Brazil and in the rest of
World and the more important authors of this subject, searching to identify the relation of this
geography with the phenomenon of the violence against the youthful public. Continuing the
discussion about Geographic Networks, this work searched to explain Christaller’s Central
Place Theory and the variations of the theory according to other scholars.
Was also presented the description of the creation of the Infant and Adolescent Statute,
the actors involved in the process of breaking of the rights, how to evaluate such violence, and
the meaning of the protection network.
In such a way, was evidenced that the profile of the public who suffers and practices
violence didn’t change throughout the years. It was evidenced, also, that a homogeneous
distribution of Violence Geography against boys and girls does not exist and that the network
must be better distributed to allow that everyone have access to the necessary services for
guarantee in order to protect the youthful population, which is violated.

7
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapas da localização dos casos de violência física e sexual registrados nos bairros
de Belo Horizonte em 2005 .....................................................................................................82
Figura 2: Taxa da violência física e sexual contra crianças e adolescentes por Unidade de
Planejamento em Belo Horizonte – 2005 ................................................................................84
Figura 3: Taxa da violência física contra crianças e adolescentes por Unidade de Planejamento
em Belo Horizonte – 2005 .......................................................................................................85
Figura 4: Taxa da violência sexual contra crianças e adolescentes por Unidade de
Planejamento em Belo Horizonte – 2005 ................................................................................86
Figura 5: Rede de proteção à infância e à adolescência identificada pela AMAS e CAVIV –
2005 ..........................................................................................................................................89
Figura 6: Rede de proteção à infância e à adolescência utilizada pelos Conselhos Tutelares de
Belo Horizonte – 2005 .............................................................................................................91
Figura 7: Mapa dos Bairros de Belo Horizonte .....................................................................107
Figura 8: Mapa das Unidades de Planejamento de Belo Horizonte .......................................114
Figura 9: Mapa das Regiões Administrativas de Belo Horizonte ..........................................115

8
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Total de casos registrados nos Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – 2005
.................................................................................................................................................................................57
TABELA 2 - Casos de violência física e sexual denunciados nos Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – 2005
.................................................................................................................................................................................58
TABELA 3 - Casos de violência sexual nas regionais administrativas de Belo Horizonte – 2005
.................................................................................................................................................................................59
TABELA 4 - Vítimas de violência sexual nas regionais administrativas de Belo Horizonte – 2005 ....................60
TABELA 5 - Sexo das vítimas de violência sexual – 2005 ...................................................................................61
TABELA 6 - Idade das vítimas de violência sexual – 2005 ..................................................................................62
TABELA 7 - Cor das vítimas de violência sexual – 2005 .....................................................................................63
TABELA 8 - Número de casos que tiveram o agressor identificado – 2005 .........................................................64
TABELA 9 - Número de vítimas que tiveram o agressor identificado – 2005 ......................................................64
TABELA 10 - Perfil dos agressores nos casos de violência sexual – 2005 ...........................................................64
TABELA 11 - Número de casos que receberam notificações – 2005 ....................................................................66
TABELA 12 - Identificação das pessoas que receberam notificação – 2005 ........................................................66
TABELA 13 - Número de casos que receberam termos – 2005 ............................................................................67
TABELA 14 - Vítimas que receberam visita dos conselheiros – 2005 ..................................................................67
TABELA 15 - Casos que receberam visita dos conselheiros – 2005 .....................................................................67
TABELA 16 - Tipificação dos encaminhamentos realizados pelos conselheiros tutelares– 2005 ........................69
TABELA 17 - Casos de violência física registrados nos Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – 2005 ...........70
TABELA 18 - Vítimas de violência física nas regionais administrativas de Belo Horizonte – 2005 ...................71
TABELA 19 - Sexo das vítimas de violência física – 2005 ...................................................................................72
TABELA 20 - Idade das vítimas de violência física – 2005 ..................................................................................73
TABELA 21 - Cor das vítimas de violência física – 2005 ....................................................................................73
TABELA 22 - Número de casos que tiveram o agressor identificado – 2005 ......................................................74
TABELA 23 - Número de vítimas que tiveram o agressor identificado – 2005 ...................................................74
TABELA 24 - Perfil dos agressores nos casos de violência física – 2005 ............................................................75
TABELA 25 - Número de casos que receberam notificações – 2005 ...................................................................75
TABELA 26 - Identificação das pessoas que receberam notificação – 2005 ........................................................76
TABELA 27 - Identificação das pessoas que receberam algum tipo de termo – 2005 .........................................76
TABELA 28 - Vítimas que receberam visita dos conselheiros – 2005 .................................................................77
TABELA 29 - Casos que receberam visita dos conselheiros – 2005 ....................................................................77
TABELA 30 - Tipificação dos encaminhamentos realizados pelos conselheiros tutelares– 2005 .......................78

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LISTA DE SIGLAS

AA – Alcoólicos Anônimos
AMAS – Associação Municipal de Assistência Social
CAVIV – Centro de Atendimento a Vítimas de Violência
CEI – Centro de Educação Infantil
CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
CMT – Centro Mineiro de Toxicomania
CT – Conselho Tutelar
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
FEBEM – Fundação do Bem-Estar do Menor
FORUM DCA – Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente
GEIT – Gerência de Informações Técnicas
MEC – Ministério da Educação
NAVCV – Núcleo de Atenção a Vítimas de Violência
SEDESE – Secretaria de Desenvolvimento Social
SIPIA – Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência
SMMAI – Secretaria Municipal de Modernização Administrativa e Informática
SOSF – Serviço de Orientação Sóciofamiliar
UMEI – Unidade Municipal de Educação Infantil
UPA – Unidade de Pronto Atendimento
UP – Unidade de Planejamento

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SUMÁRIO
ABSTRACT ...............................................................................................................................7
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................8
LISTA DE TABELAS ...............................................................................................................9
LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................10
SUMÁRIO................................................................................................................................11
CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO ..............................................................................12
CAPÍTULO II – MARCO TEÓRICO GEOGRÁFICO ...........................................................16
2.1 Introdução .......................................................................................................................16
2.2 Violência e crime............................................................................................................16
2.3 Geografia do Crime ........................................................................................................19
2.4 Redes Geográficas ..........................................................................................................22
CAPÍTULO III - DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..................................29
3.1 – Introdução ....................................................................................................................29
3.2 – Estatuto da Criança e do Adolescente: história, direitos, violações e violadores........29
3.2.1 Modalidades de violência ........................................................................................35
3.3 - Conselhos Tutelares: o ser e o fazer.............................................................................38
3.4 – As Políticas Públicas e a rede de amparo às vítimas de violência física e sexual .......44
CAPÍTULO IV – METODOLOGIA........................................................................................48
4.1 Introdução .......................................................................................................................48
4.1 Organização dos dados ...................................................................................................48
4.2 Análises ..........................................................................................................................52
CAPÍTULO V - RESULTADOS .............................................................................................55
5.1 Introdução .......................................................................................................................55
5.2 Violência Sexual.............................................................................................................57
5.3 Violência física ...............................................................................................................69
5. 4 Apreciação .....................................................................................................................78
CAPÍTULO VI - ANÁLISE ESPACIAL DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES ...................................................................................................................79
6.1 Introdução .......................................................................................................................79
6.2 Distribuição espacial da violência contra crianças e adolescentes .................................79
6.3 Distribuição da rede de proteção à infância e adolescência ...........................................87
CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................101
ANEXOS ................................................................................................................................106

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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO

A violência é um fenômeno que se dá no nível das relações sociais, gerada pelo


conflito de forças e de poder, oriunda da organização de sistemas sociais marcados pela
desigualdade, exploração, etc. Nesse processo, agressores e agredidos podem se alternar de
papel, uma vez que, nessa trama, não há estabilidade. Ela pode se encontrar em diversos
âmbitos da sociedade, pois não se vê restrita a determinado segmento e é tratada com maior
ou menor importância, chegando a ser banalizada, devido à abordagem dada, principalmente,
pelos meios de comunicação. A violência acha-se presente em todos os momentos do
cotidiano de uma sociedade; ela reside na utilização do poder em benefício próprio, em
detrimento da lesão de outros; apresentando-se na falta de acesso a bens e serviços; encontra-
se na falta da garantia dos direitos das pessoas, passando pela violência no trânsito, violência
contra o patrimônio e violência contra a pessoa. A violência é um dos fenômenos que
abrange, praticamente, todas as dimensões de uma sociedade e que vai estimular as alterações
em suas relações e organização diária. A violência atinge, ainda, todas as faixas etárias, todos
os sexos e classes sociais, mas percebe-se, ao categorizá-la, que certos tipos de violência
atingem grupos específicos. Neste sentido, merece destaque a violência que vitimando
crianças e adolescentes, dentro e fora do ambiente familiar, sobretudo as agressões física e
sexual, que, em face de sua natureza desestabilizadora, trazem impactos substantivos ao
desenvolvimento de meninos e meninas.
Com a justificativa de contribuir para sua formação, e esperando-se que se tornem
bons adultos, crianças e adolescente sempre foram alvos de castigos e correções, tanto por
parte de suas famílias, quanto por parte do Estado. Entretanto, várias vezes tais práticas
ultrapassam o limite e a humanidade, transformando-se em práticas abusivas, deixando
marcas e seqüelas físicas, mentais e psicológicas irreversíveis.
A preocupação com o amparo à criança e ao adolescente no Brasil já evoluiu
consideravelmente, haja vista o atual sistema de proteção de direitos desse público. Mesmo
com a presença dos Conselhos Tutelares, espaços de denúncia da violência contra crianças e
adolescentes, pouco se sabe sobre a dimensão do problema, sobre sua manifestação espacial
no território da capital mineira e sobre a adequação espacial da rede de atendimento a vítimas
de violência à distribuição do fenômeno, constituindo o objetivo do presente trabalho.

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Enxergar crianças e adolescentes como cidadãos, sujeitos sociais possuidores de
direitos e deveres e não objetos de decisões e manipulações dos desejos dos adultos, constitui
mudanças significativas de tradições e hábitos edificados através de séculos. Desta forma, em
que pese aos esforços no sentido de garantir o direito de crianças e adolescentes, a mudança
do paradigma do tratamento destinado a meninos e meninas no Brasil não ocorrerá tão
rapidamente.
Primeiramente, para que haja mudança no tratamento, faz-se necessário mudar a forma
de ver a criança. É imperativo percebê-la como sujeito em desenvolvimento, necessitado de
proteção integral e de respeito, devido à peculiaridade de se encontrar em processo
progressivo de amadurecimento, de compreensão do que seja certo ou errado, do que seja
ético ou não, do que possa ou não ser feito, do que se encontre dentro ou distante de sua
capacidade e do que seja seu direito e seu dever.
Enquanto essa transformação não ocorre e os direitos vão sendo violados a cada dia,
mecanismos previstos no ECA trabalham para minimizar suas ocorrências e suas seqüelas,
através de encaminhamentos das vítimas e da divulgação dos direitos desse público. Assim
como ocorre com os Conselhos Tutelares, que existem como uma das portas de entrada das
denúncias de violações.
Os Conselhos fazem parte da rede de proteção e desenvolvimento integral de crianças
e adolescentes, no momento em que foram criados para garantir a proteção desse público e
pelo fato de funcionarem como um dos principais atores na constituição e articulação da
mesma. No momento em que realizam seus encaminhamentos, os Conselhos estão detectando
a rede de proteção existente no entorno da residência da criança e/ ou do adolescente violado,
e se há falta de algum serviço para efetivação da proteção integral; por isso pode ser
considerado ator importante e essencial para o estabelecimento e fortalecimento da rede de
base local.
É muito difícil prevenir que meninos e meninas sofram qualquer tipo de violência,
principalmente pelo fato de ela ser considerada o resultado de distúrbios psicológicos dos
agressores e ou das desigualdades sociais que se perpetuam e aumentam a cada ano. Segundo
Carvalho (2004, p. 100) a exclusão, a discriminação, a co-habitação com a promiscuidade, a
fadiga e a falta de cortes no cenário cotidiano, faz com que o indivíduo passe da situação de
submissão, de aceitação da desigualdade, à de rebelião, explodindo em atitudes violentas
direcionadas a si mesmo, a seus pares – família e comunidade e aos dominantes (arrastões,
pichações, etc) ou instituições (rebeliões na Febem).

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Já que a mudança estrutural do fenômeno é lenta e difícil, quase inviabilizando a
prevenção, o problema deve ser bem dimensionado e sua rede de atendimento bem distribuída
para, assim, atuar no suporte às vítimas e suas famílias, em busca da extinção do fenômeno.
Apesar de existir um aparato institucional, tal como os Conselhos Tutelares, espaços de
denúncia da violência contra crianças e adolescentes, “Fóruns” de discussão sobre a
elaboração de políticas para a infância, são insipientes as informações sobre a dimensão dessa
rede e sua manifestação espacial no território. Como se encontram distribuídas? Há
homogeneidade de distribuição de serviços entre as regionais e dentro delas? Os
equipamentos utilizados pelos Conselhos Tutelares fazem parte da rede reconhecida pelas
entidades envolvidas? Os Conselhos Tutelares utilizam a rede existente em sua totalidade, ou
se restringem a apenas alguns serviços?
Diante disso, o objetivo principal deste trabalho consiste em diagnosticar a dimensão
do problema da violência contra crianças e adolescentes no ano de 2005, em Belo Horizonte,
quantificando as ocorrências de violações físicas e sexuais, identificando o perfil das vítimas e
violadores, bem como os principais encaminhamentos realizados pelos conselheiros tutelares,
buscando respaldar a elaboração de políticas públicas condizentes com a realidade. Além
disso, busca-se identificar a distribuição dos atos violentos no território de Belo Horizonte e
sua relação com a demanda e a oferta da rede de atendimento a essas vítimas, contribuindo,
assim, para a distribuição adequada das políticas elaboradas.
O dimensionamento permitirá visualizar o número de casos que ocorreram no
município, no ano de 2005. O mapeamento identificará a distribuição espacial dentro do
território da capital e dentro de cada regional de Belo Horizonte, permitindo a identificação de
áreas de maior e menor ocorrência, bem como a semelhança, heterogeneidade e
homogeneidade em sua distribuição. A distribuição da rede nesse espaço deixará clara a
coerência entre as ocorrências e sua distribuição.
A união dos três procedimentos acima descritos permitirá avaliar se a distribuição da
rede de atendimento a vítimas de violência facilita o andamento dos encaminhamentos. Ou
seja, será possível vislumbrar se a localização e distribuição das entidades, programas e
projetos pertencentes à rede possibilitam o atendimento das vítimas encaminhadas pelo
conselho. E, a partir desta análise, novas propostas de distribuição e redimensionamento da
rede podem acontecer, havendo uma reformulação das distribuições das políticas públicas
destinadas a meninos e meninas vítimas dessas violências.

14
Tentando responder às questões levantadas, o presente trabalho foi organizado em
capítulos, sendo que o Capítulo I trata da caracterização e apresentação do objeto estudado; o
Capítulo II apresenta o marco teórico para o desenvolvimento da análise geográfica, trazendo
conceitos como violência e crime, geografia do crime e redes geográficas; no Capítulo III
tem-se o panorama da conquista dos direitos de meninos e meninas, a conceituação da
violência vivida por eles, bem como a rede que deverá protegê-los; o Capítulo IV versa sobre
o processo metodológico do trabalho; no Capítulo V apresentam-se os resultados do
levantamento de dados, e a cartografia da violência e da rede de amparo; por fim, o Capítulo
VI, aborda as considerações finais sobre o tema.

15
CAPÍTULO II – MARCO TEÓRICO GEOGRÁFICO

2.1 Introdução

Em virtude do caráter pioneiro desta pesquisa no âmbito da Geografia, deparou-se


com inúmeras dificuldades de fundamentação técnica; afinal, são raros os estudos geográficos
que, mesmo remotamente, fazem alguma referência à violação de direitos de crianças e
adolescentes no Brasil e no mundo. Desta forma, parte do desafio do presente estudo objetiva
construir pontes entre distintas literaturas, dentro e fora da Geografia, com intuito de buscar
sustentação técnica.
No âmbito da Geografia, alguns estudos e teorias serão úteis no processo de análise,
tais como aqueles avançados pela Geografia do Crime e pela literatura sobre redes
geográficas. A Geografia do Crime fornecerá os subsídios necessários à exploração dos
padrões espaciais relativos às violências física e sexual contra crianças e adolescentes. Por sua
vez, a teoria das redes geográficas auxiliará na caracterização da relação espacial entre a rede
de amparo de crianças e adolescentes e as manifestações de violência registradas pelos
Conselhos Tutelares.

2.2 Violência e crime

A violência constitui-se um tema altamente abordado no cotidiano da sociedade atual,


pois afeta a todos, direta ou indiretamente. Minayo (2006) apresenta a violência como um fato
humano e social, uma vez que ela se faz presente em todas as sociedades, independentemente
de sua organização social e/ou política, constituindo um marco da cultura de cada uma das
organizações. Neste caso, a autora diz que a violência pode ser o ato de utilização do poder
praticado contra comunidades, indivíduos ou grupos, trazendo danos aos mesmos. Deduz,
também, que a violência é um fato histórico, pois apresenta-se em todos os momentos da
história, em proporções e conseqüências distintas. Ela abrange todas as classes e grupos

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sociais e, em alguns casos, podem persistir recorrentemente no tempo, tal como ocorre com a
violência contra crianças adolescentes e contra mulheres.
A definição de violência utilizada pelo Ministério da Saúde e pela Organização
Mundial de Saúde é muito similar. Ambas consideram como violência todas “...ações
humanas individuais, de grupos, de classes, de nações que ocasionam a morte de seres
humanos ou afetam sua integridade e sua saúde física, moral, mental ou espiritual” (Apud
Minayo, 2006). Já a Organização Mundial de Saúde considera a violência como todo “...uso
intencional de força física ou poder, de fato ou em ameaça, contra si mesmo, contra outra
pessoa, grupo ou comunidade, que resulta ou tem alta possibilidade de resultar em ferimentos,
morte danos psicológicos, má formação ou privação” (apud KERBAUY et al, 2006).
Por outro lado, Felix (2002) faz um amplo resgate histórico das diversas acepções do
conceito “crime”. Segundo a autora, uma das primeiras definições pertence ao filósofo inglês
Thomaz Hobbes, quem assevera que “...crime é um pecado que comete aquele que, por atos
ou palavras, faz o que a lei proíbe ou se abstém de fazer o que ela ordena”. Ainda de acordo
com Felix, na linha da criminologia, o crime é considerado como uma infração cometida
contra a lei do Estado, a qual foi formulada para garantir a segurança dos homens perante os
atos que podem ser prejudiciais ao mesmo (FELIX, 2002). Já os teóricos da Sociologia
apresentam argumentações relacionadas a comportamentos desviantes, orientando a
necessidade de estudo do crime de forma holística. Para tanto, sugerem o estudo da trama
social em que o homem encontra-se inserido (leis, normas, regras) como forma de buscar
respostas para o fenômeno. Nesta vertente, destacam-se Durkheim, Clinard, Coben, Becker.
Segundo Felix (2002), Durkeim acredita que o crime equivalha a uma ofensa àqueles
sentimentos enraizados na consciência social do homem, ou seja, a violação de um valor do
homem. Por outro lado, Clinard afirma que o crime é tudo aquilo que se comete em
desaprovação com o que pensa a coletividade; enquanto Coben acredita que o crime ou a
conduta desviada do indivíduo se comente quando não há ação em conformidade com o que
se encontra institucionalizado, em forma de lei ou culturalmente. Por fim, Becker acredita que
o crime não é fruto, somente, da conduta do homem, mas de um processo interativo em que
estão presentes o ator, que possui a conduta, e as regras, formuladas por aqueles que possuem
o poder.
Para os geógrafos marxistas, o crime é “...conseqüência da distribuição desigual dos
poderes econômico e político...”, uma vez que aqueles que fazem as leis são os que detêm
esse poder (Herbert apud FELIX, 2002).

17
Desta forma, pode-se inferir que em cada momento histórico, e em cada ramo da
ciência, o crime é definido e tratado de forma específica, podendo, ainda, guardar pontos de
convergência. No entanto, as maiores variações na conceituação do fenômeno encontram-se
ligadas aos diferenciais culturais. O que se considera crime em um lugar pode não ser em
outro, perante o modo de vida e até mesmo o grau de banalização e da construção do senso
comum em relação àquele ato.
No caso brasileiro, Felix (2002) apresenta uma breve discussão acerca das tipificações
criminais definidas pelo Código Penal, relevantes para o presente trabalho. Trata-se dos
crimes contra o patrimônio, ou seja, aqueles que ferem a propriedade privada do homem; e os
crime contra a pessoa, que ferem o direito à vida.
No Código Penal, o Crime Contra a Pessoa define-se como o conjunto de crimes
contra a vida, definidos pelos artigos 121 a 154, e atravessam um caminho que vai da calúnia
ao homicídio. Nesse caminho, é factível encontrar traços que orientam a similitude com os
casos sofridos por crianças e adolescentes. Tais fatos levam à reflexão de que as formas de
violência, objeto deste estudo, praticadas contra meninos e meninas, podem ser consideradas
crimes e tratadas como tal, sendo, também, passíveis das penalidades previstas na lei. A
exemplo disso, é possível citar como crimes contra o público em questão:

CRIME DESCRIÇÃO PENALIDADE


Homicídio simples Art. 121 - Matar alguém: reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o
Infanticídio
parto ou logo após: detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Lesões Corporais Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Lesão corporal seguida § 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
de morte resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Perigo de contágio
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a
venéreo
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
Perigo de contágio de Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
moléstia grave contaminado, ato capaz de produzir o contágio: reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Perigo para a vida ou detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não
saúde de outrem
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: constitui crime mais grave.
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
Abandono de incapaz autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
abandono: detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos.

Exposição ou abandono
de recém-nascido
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
Maus-tratos vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
Ameaça
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
Seqüestro e cárcere
privado Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Quadro 1: Crimes Contra a Pessoa


Fonte: Código de Processo Penal, 2002

18
2.3 Geografia do Crime

A Geografia é uma ciência que tem como uma de suas principais atribuições o estudo
da localização e da distribuição de fatos e fenômenos. Sua principal contribuição vincula-se à
construção de análises de processos sociais e ambientais, a partir de uma perspectiva espacial,
que busca compreender e explicar as regularidades na localização e ocorrência de diversos
fenômenos (CLARCK, 1991).
Uma das vertentes desta complexa ciência é a Geografia Urbana, focada no estudo dos
padrões urbanos, a partir de duas escalas. Na escala regional, a Geografia Urbana trata da
distribuição e dos arranjos de cidades, que se articulam sob a forma de redes, dotadas de
hierarquia, relação e funcionalidade distintas. Por outro lado, trabalha-se também com o
espaço interno das cidades, enfatizando-se aspectos relativos à correlação entre sítio,
morfologia e funções urbanas (CLARCK, 1991).
No âmbito dessas escalas, a Geografia Urbana tem trata de diversos temas. Destacam-
se, neste sentido, a mobilidade residencial, processos de renovação e gentrificação,
percepções, zoneamento, entre outros. Com o despertar da Geografia para processos sociais,
veio à tona a necessidade de se estudar a manifestação espacial da violência e do crime no
espaço urbano, sobretudo em face ao crescimento e transformação das cidades, que
suscitaram e/ou intensificaram a manifestação deste fenômeno. Como desdobramento dessas
reflexões iniciais, surge uma subespecialização intitulada Geografia do Crime.
Esta subdisciplina é fruto da crescente preocupação dos geógrafos com os problemas
sociais, que se deu com mais intensidade na década de 1970, nos Estados Unidos. À medida
que os geógrafos travavam contato com a literatura produzida por outras ciências, acerca da
violência e da criminalidade, constatou-se o imperativo de se trabalhar o fenômeno de
maneira espacial, explorando o contexto em que as ocorrências criminais se davam. Nota-se,
portanto, que a Geografia do Crime não tem por objetivo, exclusivamente, mapear as áreas
onde o fenômeno se dá, mas, também, identificar as variáveis intervenientes a este imbricado
processo (FELIX, 1996).
Um dos primeiros estudos geográficos, com foco na criminalidade, foi desenvolvido
por Guerry, em 1832, que cartografou o crime na França, observando aspectos como a
temporalidade, a espacialidade e a demografia. Tal estudo concluiu que os crimes contra o
patrimônio são mais freqüentes no meio urbano, devido à maior concentração de riquezas, em

19
regiões dotadas de melhores níveis educacionais, e durante o período do inverno (FELIX,
2002).
Outro autor pioneiro nos estudos de Geografia do Crime, Joseph Fletcher, realizou um
estudo similar na Inglaterra, em 1849, no qual constatou que as áreas detentoras de altas taxas
de crimes contra o patrimônio são as mais ricas, onde os moradores possuem alto nível
educacional. Essas áreas são consideradas áreas de coleta e não de formação de criminosos,
não permitindo aferir a relação entre altas taxas de criminalidade e baixa escolaridade
(FELIX, 2002).
Somente no século XIX os geógrafos iniciaram a análise das relações demográficas e
socioespaciais do crime. Desde então, a abordagem da criminalidade na Geografia vem
ganhado adeptos, que apresentam análises a partir de múltiplos pontos de vista. A exemplo
disso, existem os estudos realizados por Harries (1971), que apresentam a distribuição do
crime no território americano, no ano de 1968 – mapeamento do crime. O autor mapeou os
crimes de violência contra a pessoa e contra o patrimônio em todos os estados americanos,
chegando à conclusão de que os estados com menores taxas de crime são aqueles desprovidos
de áreas metropolitanas, ao passo os estados onde há presença de grandes centros
metropolitanos as taxas de crimes mostram-se maiores.
Neste processo, a Geografia do Crime oscilou entre diversas abordagens, com
destaque para aquelas que tratam o crime como fruto da natureza perversa do homem; como
resultado de desvios sociais; e, até mesmo, como fenômeno correlacionado a fatores como
doenças, insanidade, mortalidade, moradia inadequada, pobreza, mobilidade e existência de
grupos étnicos excluídos. Desta forma, houve, ao longo das últimas décadas, significativas
mudanças na orientação epistemológica dos geógrafos do crime, que, paulatinamente,
abandonaram a inclinação pelas teorias deterministas, em favor de abordagens com
fundamentação sociocultural, sobretudo na última metade do século XIX; e, finalmente,
ecológico-espaciais, já no século XX (FELIX, 2002).
A abordagem determinista destinava-se, principalmente, ao desenvolvimento de
estudos acerca das influências climáticas sobre a incidência criminal. Com isso, os
pesquisadores concluíram que o nível de violência é proporcional ao grau de incômodo
provocado pelo calor do verão, associado a outras variáveis, tais como o consumo de álcool,
existência de feriados, fins de semana, contexto de vizinhança e nível socioeconômico da
população (FELIX, 1996).

20
Os estudos com fundamentação sociocultural enfatizam a influência desses fatores no
cometimento da violência e, consequentemente, de crimes. Isso significa que a condição
social e a importância dada ao sucesso econômico geram rixas que podem ocasionar a criação
de revolta. Assim, quando se busca sair dessa condição de fracasso econômico, alternativas
como o tráfico criam seu próprio mundo cultural, guetos que acabam por gerar subculturas, ou
seja, valores e normas que tornaram indivíduos reconhecíveis e pertencentes a determinado
lugar, tornando-os possuidores de valor (FELIX, 1996).
Reflexões de natureza ecológico-espacial ocorreram pioneiramente na escola de
Chicago, que encarava o crime como fenômeno praticado, de modo específico, pelas classes
marginalizadas, que se organizaram em subculturas específicas, com forte orientação étnica e
ausência de controle social. Mas essa teoria já recebe críticas na atualidade pelas ciências
sociais, pois outras expressões sociais vêm contribuindo para a manutenção da delinquência,
tais como o desemprego estrutural e a desfiliação causada pelas mudanças nas relações de
trabalho no sistema capitalista (FELIX, 2002).
Para ilustrar essa orientação, destaque-se o estudo realizado por Bullock (1955), que
investigou os homicídios cometidos em Houston, EUA. Os resultados revelam que 87% dos
agressores pertenciam à raça negra, e que boa parte dos crimes se dava no entorno imediato de
pensões, locais onde esse público fazia refeições e ruas adjacentes (FELIX, 2002).
No Brasil, alguns geógrafos se dedicam ao desenvolvimento de estudos sobre a
Geografia do Crime, como é o caso de Suely Felix e Alexandre Diniz. Felix, a pioneira nos
estudos de Geografia do Crime, explora alguns determinantes do fenômeno, enfatizando as
dimensões social, demográfica e espacial, além de discutir a origem, a evolução e a
multidisciplinaridade associada aos estudos do crime1.
Diniz, em seus estudos, não foge muito à análise realizada por Felix, porque, também,
trabalha analisando fatores determinantes na condição de ocorrência e nível de criminalidade
(violência urbana) no estado de Minas Gerais, tais como: a desorganização social, a ausência
de controle social, migração e adensamento populacional2.

1
Alguns estudos realizados por Sueli Felix: Geografia do Crime: Interdisciplinaridades e relevâncias (2002),
Geografia do Crime (1996), A Geografia das ofensas: análise dos espaços de crimes, criminosos e das condições
de vida da população de Marília-sp (2001).
2
Alguns artigos escritos por Alexandre Diniz: L'uso di tecniche elementari di statistica spaziale nello studio
della riorganizzazione spaziale della criminalità violenta nello Stato di Minas Gerais Brasile: 1996 – 2003
(2007); DINIZ, Geoprocessamento da Criminalidade do Estado de Minas Gerais (2006), Violência Urbana nas
Cidades Médias Mineiras: determinantes e implicações (2005).

21
Como se viu, em face da multidisciplinaridade que marca os estudos sobre
criminalidade, a Geografia cumpre importante papel, oferecendo uma leitura espacial do
fenômeno, a partir de perspectivas e instrumentos próprios. A Geografia do Crime promove,
ainda, a explicação da relação do crime com o espaço, com ênfase nas transformações por ele
induzidos. A exemplo disso, tem-se a construção de casas com grandes muros e condomínios
fechados; valorização dos espaços da cidade (dinâmica no mercado imobiliário); prostituição
(promove a desvalorização de determinados espaços) e densidade demográfica (que pode
contribuir para a deterioração do espaço e aumento da criminalidade e vice-versa)

2.4 Redes Geográficas

Os estudos das redes geográficas originaram-se após o fenômeno da revolução


industrial, especificamente no século XX, tendo como um de seus maiores colaboradores
Walter Christaller, que elaborou sua teoria sobre as Localidades Centrais em 1933. Nos anos
que se seguiram pouco foi acrescido a ela.
A teoria elaborada por Christaller se inspirou em Von Thunen e Weber, propondo uma
identificação e diferenciações entre as localidades centrais quanto à organização no espaço, à
distribuição de bens e serviços, ou seja, seu número, localização, espaçamento e funções dos
assentamentos em termos de serviços prestados às suas hinterlândias (CLARK, 1991).
O modelo dos lugares centrais, um clássico de Christaller, orienta a utilização de
princípios e limitações que devem ser considerados no momento da análise:
Princípios –
“1. uma planície ilimitada, dotada de recursos uniformes;
2. uma distribuição igual da população e do poder de compra;
3. liberdade igual de movimento em todas as direções;
4. os custos de transporte são proporcionais á distância percorrida, e
5. que as mercadorias e serviços tenham o mesmo preço básico em
qualquer centro em que sejam oferecidos para venda.” (CLARK,
1991, p. 129)

22
Limitações –
“1. a oferta e a demanda devem ser equiparadas tanto quanto
possível;
2. a soma das distâncias percorridas dever ser a menor possível;
3. os lucros dever ser maximizados, e
4. o número total de centros servindo a área deve ser o menor
possível.” (CLARK, 1991, p. 129)

Os princípios definem uma superfície homogênea, onde nenhuma localização


encerrará vantagens sobre qualquer outra, quando se trata de facilidade, preço das
mercadorias, serviços vendidos e custo de acesso. Já as limitações criam um sistema de
mercado que minimiza custos e maximiza lucros, a partir de planejamento racional com base
no conhecimento do mercado (CLARK, 1991). Segue-se, então, com a definição da
hierarquia, que se caracteriza pelo nivelamento das localidades que ocorre pela semelhança na
oferta de bens e serviços, e pela influência em áreas similares, considerando, também, o
alcance espacial máximo e mínimo (CORRÊA, 2001).
O modelo de Christaller suscitou a realização de estudos sobre localidades centrais em
países subdesenvolvidos, elaborados por outros autores, e que chegaram aos modos das redes
dendríticas, dos mercados periódicos e da divisão da rede em dois circuitos.
A essência das redes dendríticas caracteriza-se pela origem colonial e pela localização
estratégica que possui, geralmente próxima ao litoral, em vias de se tornar futura hinterlândia.
Concentra as funções políticas e econômicas mais expressivas da região, transformando-se em
núcleo, em relação aos demais centros. Esse tipo de cidade concentra a maior parte do
comércio atacadista, a maior parte da renda, bem como a maioria da elite dominante. Possui
pequenos centros de venda atacadista, indiferenciados entre si, devido à ausência de demanda
da população e pela limitação da mobilidade espacial. Além dessas características, as redes
dendríticas possuem, também, ausência de centros intermediários intersticialmente
localizados, gerando um padrão de relação comercial entre as cidades, na qual cada centro
dessa rede recebe e envia para o núcleo mais próximo e maior da cidade principal, primaz,
impedindo a formação de centros intermediários (CORRÊA, 2001).
É possível nomear de mercado periódico, uma das estruturas da rede das localidades
centrais encontrada nos países subdesenvolvidos. Estas são formadas por pequenos povoados
que esporadicamente se transformam em localidade central, uma vez por semana, ou de cinco
em cinco dias. Geralmente, esse fenômeno pode ocorrer, também, por motivo do período da
safra e atrai todos os tipos de vendedores (artesãos, prestadores de serviços, etc), e aproveitam

23
para organizar atividades culturais, sociais e políticas. Passando esse período, a localidade
volta a exercer sua função principal, a atividade primária. Esse tipo de organização ocorre em
todos os povoados vizinhos, permitindo que os moradores dos pequenos povoados tenham
acesso a determinadas mercadorias e serviços que, em outros momentos, teriam que viajar
grandes distâncias para consumi-los, tornando-os inacessíveis pelo valor que gastariam com o
transporte e com a mercadoria (CORRÊA, 2001).
Alguns fatores importantes constituem a organização desses mercados, tal como
ocorre com o alcance espacial máximo e mínimo dos mercados. O alcance máximo é definido
pela área, definida por um raio, tendo como referência a localidade central, e define a
distância máxima que será percorrida pelo consumidor para aquisição de determinada
mercadoria ou serviço, que se vê diretamente influenciada pelo custo do transporte. Quando
se ultrapassa essa área, o consumidor procurará atender às suas necessidades em outro local,
mais próximo (CORRÊA, 2001).
No alcance mínimo, é levado em consideração o mínimo de consumidores existentes
em certa área, para que determinado serviço ou comércio se instalem. Ambos variam de
acordo com a demanda, a densidade, a renda e o padrão cultural da população. Esses dois
fatores fazem com que os mercados periódicos se transformem ou não em mercados
permanentes (CORRÊA, 2001).
O terceiro modo de análise gerado pelo desenvolvimento de estudos das localidades
centrais, em países subdesenvolvidos; trata-se do modo em dois circuitos econômicos. Tal
modo é definido por Santos (apud, CORRÊA, 2001) como a divisão dos países
subdesenvolvidos em dois circuitos de consumo e distribuição, e de produção. Os dois
circuitos econômicos se formam pela bipolarização da sociedade, ou seja, pela divisão em
pessoas que concentram rendas elevadas e têm acesso a bens e serviços, e pessoas que vivem
do trabalho ocasional com salários muito baixos.

24
Características Circuito Superior Circuito Inferior
Tecnologia capital intensivo trabalho intensivo
Organização burocrática primitiva
Capitais importantes reduzidos
Emprego reduzido volumoso
Assalariado dominante ão-obrigatório
Estoques grandes quantidades e/ou alta qualidade pequenas quantidades, qualidade inferior
fixo (em geral) submetidos à discussão entre comprador e
Preços
vendedor (haggling)
Crédito bancário institucional pessoal não institucional
reduzida por unidade, mas importante pelo elevada por unidade mas pequena em relação
Margem de Lucro colume de negócios (exceção: produção de ao colume de negócios
luxo)
impessoais e/ou com papéis diretas, personalizadas
Relações com a clientela

Custos Fixos importantes desprezíveis


Publicidade necessária nula
Reutilização dos bens nula frequente
Overhead Capital indispensável dispensável
Ajuda Governamental importante nula e quase nula
Dependência Direta do grande, atividade voltada para o exterior reduzida ou nula
Exterior

Quadro 2: Características dos Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos
Fonte: Milton Santos (apud, CORRÊIA, 202, p.74).

O circuito superior caracteriza-se pela necessidade de utilização de grande quantidade


de capital, de tecnologia e infra-estrutura de armazenamento e transporte. Já o circuito inferior
é caracterizado pela pouca utilização de capital e pela pouca organização. O primeiro atende
às camadas mais abastadas e o segundo às mais pobres, mas não se encontram isolados entre
si, pois a classe média, que não possui um circuito próprio, mantém esse vínculo ao utilizar os
dois (CORRÊA, 2001).
Em análise realizada por Santos (apud, CORRÊA, 2001), nas relações estabelecidas
entre as redes de localidades centrais, foi constatado que os circuitos econômicos interferem
na estruturação, fazendo com que cada centro atue em ambos e, ao mesmo tempo, defina sua
hierarquia. Essa hierarquia constitui-se em três níveis: cidade local, intermediária e metrópole.
A disposição hierárquica das localidades centrais (cidade local, intermediária e
metrópole) influencia na formação e existência dos circuitos dentro de cada cidade. Desta
forma, o circuito inferior possui um alcance mínimo, restrito, em todas as localidades, e um
alcance máximo, maior na cidade local. Isso significa que, quanto menor a cidade, maior o

25
alcance do circuito mínimo, ou seja, tais fatores são inversamente proporcionais. Na cidade
intermediária, o alcance do circuito mínimo diminui consideravelmente e, nas metrópoles, ele
se solidifica nas franjas do centro metropolitano (CORRÊA, 2001).
O circuito superior apresenta uma ocorrência espacial diferenciada nas localidades
centrais. Ele incide somente nas localidades intermediárias e nas metrópoles, sendo através
deste o caminho de conexão com a cidade local que se encontra descartada desse circuito:
primeiro, por não possuir funções vinculadas a ele que causem a formação do alcance espacial
mínimo; segundo, por não possuir o alcance espacial máximo.
Nos estudos da Geografia consideram-se redes geográficas o conjunto de localizações
que se encontram conectadas entre si por vias e fluxos. Essas ligações podem se formar pelas
sedes das cooperativas e seus produtores, pela sede da Igreja Católica e suas paróquias e
diocese, entre outras (CORRÊA, 2001).
As redes geográficas existem desde o momento em que foram definidas localizações e
caminhos, bem como uma interação destes, ou seja, desde os primórdios, quando havia troca
de mercadorias e presentes entre as civilizações, pois já havia a centralidade de determinados
povos (CORRÊA, 2001). Com a evolução das civilizações, as redes geográficas se expandem
e se multiplicam, devido às novas formas de organização do trabalho e sua divisão territorial,
que surgem com o advento do capitalismo. Com isso, há um aumento da complexidade das
relações, dos papéis e dos fluxos das redes.
Qualquer tipo de fluxo pode se considerar o início para a instalação de uma rede, pois,
para definir a existência de uma, faz-se necessária, primeiramente, a existência de uma
conexidade, seja de mercadoria ou de informação. Nestas, ainda, observa-se existência de
“nós” que se constituem lugares possuidores de poder e referência, podendo incluir ou excluir
elementos. Desta forma, pode-se inferir que poucas são as chances de apresentação das redes
em sua totalidade, pelo fato de encontrarem em constante movimento (CASTRO et al, 2005).
Considerando a possibilidade de formação das redes, a superfície terrestre encontra-se
repleta de variados tipos de dimensões de análise, que se enquadram nas categorias
organizacional, temporal e espacial.

26
Redes Analisadas Segundo: Especificação Exemplo
Ministério da Saúde, Delegacia Regional,
Estado Posto de Saúde
Agentes Sociais Empresas Sede, Fábricas, Filiais de Vendas, Depósitos
Instituições Sé, Dioceses, Paróquias Católicas
Grupos Sociais Sede, Núcleo Regional, Equipe Local de ONG
Planejada Diversas Redes do Estado e das Corporações
Origem
Espontânea Mercados Periódicos
Mercadorias Matérias-Primas, Produtos Industrializados
Dimensão Organizacional

Natureza dos Fluxos Pessoas Migrantes


Informações Decisões, Ordens
Realização Rede Bancária
Função
Suporte Rede de Transmissão de Energia
Rede de Unidades de Segurança dos Estados
Dominação Toralitários
Finalidade
Acumulação Rede das Grandes Corporações
Solidariedade Rede de ONG ligada ao movimento popular
Real Cidade articuladas de fato via telefonia
Existência Cidades potencialmente articuláveis via
Virtual telefonia
Material Rede ferroviárias
Construção
Imaterial Ligações entre cidades via Transdata
Formal Rede das grandes corporações
Formalização
Informal Rede de contrabando e vendedores de rua
Hierárquica Rede de lugares centrais
Organicidade
Complementaridade Rede de centros espacializados
Longa Rede urbana européia
Duração
Curta Liga hanseática
Dimensão
Temporal

Lenta Navegação Marítima e fluvial


Velocidade dos fluxos
Instantânea Rede TRANSDATA
Permanete Rede bancária
Frequência Periódica Mercados Periódicos
Ocasional Rede associada a um festival
Local Sindicato Municipal de Varejistas e lojas
Sede, fábricas, postos de coletas e fazendas
Dimensão Espacial

Escala Regional associadas em cooperativas


Nacional Rede Globo de Televisão
Global McDonald´s, General Motors, Nestlé
Solar Cidade-Estado e Aldeias Tributárias
Dendrítica Rede urbana da Amônia em 1990
Forma Espacial
Circuito Rede de Tráfego Aéreo
Barreira Rede de Unidades Político-administrativa
Interna Rede muito integrada internamente
Conexão
Externa Rede pouco integrada externamente
Quadro 3: Dimensões de Análise das Redes Geográficas.
Fonte: CORRÊA, 2001. p.111-112.

O quadro acima apresenta o norte de análise das redes geográficas, as quais devem
atravessar todas as variáveis no momento da análise, independentemente de que ponto se
inicie. As dimensões organizacional, temporal e espacial tratam de todas as possibilidades
27
existentes nas especificações de uma rede geográfica, evidenciando sua estrutura interna,
origem, natureza dos fluxos, funções e finalidades, construção, duração, velocidade e
FREQÜÊNCIA dos fluxos, a escala, forma espacial e conexão das redes, a qual cerca de todas
as formas as alternativas de análise (CORRÊA, 2001).
Tendo identificado as possíveis intercessões entre o presente estudo e a Geografia, o
próximo capítulo versa sobre os direitos de crianças e adolescentes no Brasil, incluindo uma
discussão acerca de sua rede de amparo.

28
CAPÍTULO III - DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

3.1 – Introdução

O presente capítulo pretende apresentar o panorama das lutas e conquistas realizadas


ao longo do tempo, no que tange aos direitos e deveres de meninos e meninas brasileiros. No
primeiro momento, resgata-se um pouco da história da conquista dos direitos. Monta-se a
trajetória desde o momento em que crianças e adolescentes eram considerados meros objetos,
miniadultos, sem nenhum tipo de direito e de tratamento adequado à sua condição, passando
pela valorização da família como cuidadora de seus filhos para manutenção da limpeza
urbana. Em seguida, passa-se da desvalorização da mesma, por não ter conseguido realizar o
papel que lhe cabia e a inserção do Estado nesse processo, até chegar à luta da sociedade civil
em prol de leis de proteção à criança e ao adolescente.
No segundo momento, procede-se a descrição do papel e funcionamento dos
Conselhos Tutelares na conquista dos direitos de crianças e adolescentes, enfatizando-se
como se chegou a esse tipo de representação e identificando seus principais parceiros na luta
pela manutenção dos direitos de crianças e adolescentes. O último item apresenta a realidade
das políticas públicas que constituem a rede de amparo às vítimas de violência, utilizada pelos
conselheiros tutelares.

3.2 – Estatuto da Criança e do Adolescente: história, direitos, violações e violadores

A luta pela garantia dos direitos de crianças/adolescentes no Brasil teve início tardio,
devido aos momentos de repressão vividos pela sociedade. Mesmo assim, não se viu tão em
desencontro com os outros países do mundo, chegando a criar, de forma inovadora, uma das
mais completas e avançadas legislações de defesa dos direitos de meninos e meninas.

29
A Declaração dos Direitos Humanos3 buscou sempre incluir determinada categoria
social como favorecida da proteção do Estado. Alguns setores foram excluídos dessa proteção
durante muito tempo, como é o caso das crianças que não eram vistas como seres humanos,
cidadãos, mas como meio-adultos; não opinavam, possuíam poucos deveres e,
consequentemente, pouco ou nenhum direito. Sua identificação como categoria socialmente
diferenciada ocorreu a partir do século XIX, mas só surtiu efeitos, em nível legislativo, no
século XX (CENDHEC, 1999).
No Brasil, a preocupação com o amparo e defesa da criança se expressou, legalmente,
pela primeira vez, no momento da reformulação da legislação penal, ocorrida no Código
Penal de 1830. Esse código partiu do ponto de vista da ideologia cristã e preocupava-se em
amparar crianças órfãs e desvalidas, determinando o envio das mesmas a instituições da Igreja
Católica mantidas pelo Governo. Mais adiante, com o Decreto N.1331-A, de 1854, escolas
tornavam-se obrigatórias àquelas crianças que fossem vacinadas, não possuíssem nenhuma
doença contagiosa e não fossem escravas (UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA, 2006).
Até esse momento não se registrara nenhuma preocupação com as famílias, nem com a
forma como tratavam as crianças e suas conseqüências para a sociedade. Mas o interesse pela
criança pobre aumentou a partir da segunda metade do século XIX, com a inserção da
medicina higienista no País, despertando os legisladores para tal forma de tratamento
(SOARES, 2006)
O modelo higienista possuía como objetivo principal a garantia da saúde coletiva,
física e moral. Assim, intervinham na sociedade e nas vidas das famílias da época, aliando-se
e ajudando o Estado a estabelecer seus ideais positivos republicanos de “ordem e progresso”
para o desenvolvimento da nação, e seu principal alvo consistia nas crianças. Naquela época,
eram vistas como o futuro da nação brasileira, potencial força de trabalho e um grande
problema para a sociedade quando excluídos das doses de moralidade, felicidade, saúde e
bem-estar. Assim, os altos índices de mortalidade infantil e o abandono pelos pais constituíam
fatos a serem exterminados do cenário da época. Passou-se, então, a observar e a cobrar o
tratamento que as famílias ofereciam às crianças.
A medicina higienista exerceu papel fundamental na modificação do tratamento da
criança brasileira. Entre os que mais contribuíram para esse acontecimento figurava o médico
higienista Dr. Moncorvo Filho, que desenvolveu importante trabalho com mães e crianças

3
“Conjunto de direitos subjetivos básicos, inerentes a todos os seres humanos, independentemente de sua raça,
cor, sexo, nacionalidade ou classe social e que os protegem do Estado e dos demais cidadãos.” (CENDHEC,
1999, p. 378)
30
pobres. Dr. Moncorvo, além de realizar diversas campanhas educativas, fundou o Instituto de
Proteção e Assistência à Infância, na cidade do Rio de Janeiro. Suas metas de atuação eram
ambiciosas e preconizavam o cuidado às crianças, regularizando as amas de leite, protegendo
os menores do abuso e da negligência, inspecionando escolas e fiscalizando o trabalho
feminino e de menores nas indústrias. O trabalho desenvolvido por Moncorvo solidificou o
pensamento político da época, edificado nas noções de que a criança representava a base
populacional do País, constituindo-se no futuro trabalhador. Através das discussões realizadas
no I Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, Moncorvo estimulou a criação de leis
relativas aos direitos das crianças, as quais foram incorporadas ao Código de Menores de
1927 (WADSWORTH).
O Decreto 17.943-A, de 12 de outubro de 1927, chamado de Código de Menores ou
Código Melo Mattos, incluiu outro marco na legislação nacional, no que se refere à proteção à
criança. Seu conteúdo refletia, claramente, as idéias político-higienistas da época de “ordem e
progresso”, visando ao “controle da infância... através da garantia da ordem e da moral”
(SILVA E MOTTI, 2001).
Destinado aos menores em situação de abandono ou delinquência, o Código possuía
medidas de assistência e prevenção determinadas de acordo com a idade dos menores
(SOUZA, 1958). Estes eram facilmente abrigados e internados, uma vez que essa medida se
considerava uma forma básica de correção.
O juiz de menores “... detinha poderes de vigilância, proteção e regulação da vida dos
menores...” (CENDECH, 1999, p. 382) e o Art. 9º do Código de 1927, era um dos que
respaldavam a ação do juiz na apreensão e retirada das crianças. Nele se encontravam
definidas as condições das famílias que poderiam ver seus menores retirados de suas casas e
colocados em abrigos ou internatos. Se a família do menor fosse considerada negligente,
ignorante, imoral, perigosa, anti-higiênica, com pessoas em situação de embriaguez, ou
incapazes de se encarregarem da criança, a autoridade pública poderia ordenar o abrigamento
ou internamento do menor (SOUZA, 1958).
Além de facilitar a retirada do menor de sua família, Souza (1958) ressalta que o
Código facilitava a inserção do menor no trabalho e permitia a retirada do pátrio poder em
alguns casos. Um deles consistia no castigo imoderado ao filho (Art. 32 III). Nesses casos, a
tutela, como nos outros casos de perda de pátrio poder, era passada ao Estado.

31
Percebe-se, já no primeiro código, uma semente da defesa do direito à não-violência,
nesse caso, contra a violência física. No entanto, não existe nesse código qualquer menção ou
formas de proteção contra a violência sexual.

O Código de Menores, de 1979, foi idealizado com o objetivo de reformular o Código


Melo Mattos, mas, apesar dos esforços, não obteve muitos avanços. O Código de 1979 não
passou de uma continuação do Código de 1927, uma vez que acentuou as disposições que
tratavam do abandono e da delinquência. O novo código repetiu a perspectiva de tratamento
do menor infrator e a inserção do conceito de menores em situação irregular. Nesse contexto
a “situação irregular” era considerada como:

“... as situações que fugiam ao padrão normal da sociedade saudável em que se


pensava viver. Estavam em situação irregular os abandonados, vítimas de maus-
tratos, miseráveis e, como não podia deixar de ser, os infratores” (CENDECH,
1999, p. 78).

Portanto, pode-se considerar que não houve grandes avanços na defesa e garantia dos
direitos dos menores, principalmente em se tratando dos casos de violência. O último código
continuou preconizando a ausência de direitos na defesa dos “menores”, o arbítrio e a
arbitrariedade do Juiz de Menores, o abrigo e o internamento de crianças, entre outros
(SILVA e MOTTI, 2001).

Como se viu, nenhum dos dois códigos garante a proteção integral de crianças e
adolescentes. Os pais são os únicos responsabilizados quando repreendem os filhos com
correções abusivas e, por isso, ficam privados de criá-los. Mas, quando essas crianças são
retiradas de suas famílias, seu destino tampouco é garantia de integridade física ou
psicológica, uma vez que as instituições para onde se encaminhavam, como a FEBEM, por
exemplo, mantinham menores de todos os sexos e idades reunidos em um mesmo ambiente,
sem a devida assistência, escolarização ou profissionalização (CENDECH, 1999). Configura-
se, então, um quadro de violação dos direitos das crianças e adolescentes, também, por parte
do Estado, principalmente das entidades de atendimento, do Juiz e da polícia, agindo de
maneira omissiva e abusiva, à margem do Código de Menores.
O caminho para chegar à atual legislação de defesa dos direitos da criança e do
adolescente foi tortuoso. A construção do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente,
segundo Silva e Motti (2001), iniciou-se na época do processo de democratização do País, na
década de 1970. Os movimentos de luta pela reformulação do projeto político, pelo fim da

32
repressão, pelas “diretas já”, resultaram na reformulação da Constituição Federal e na
conquista de um artigo específico em defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
Para alcançar a inserção do artigo em questão foi necessária a mobilização dos
movimentos populares4 da época e de ações, tais como o I Encontro Nacional de Meninos e
Meninas de Rua em Brasília, de 1986, entre outras assembléias e seminários; por meio dessa
mobilização tornou-se possível trazer à tona as questões relativas às violações dos direitos
dessas crianças, inserindo na agenda nacional a situação da infância e ampliando a
participação de outros setores do governo e da sociedade civil. O movimento, uma luta entre
estatutários e menoristas, contou também com a participação do Conselho Nacional de
Propaganda, que deu maior visibilidade à causa e contribuiu para amenizar os conflitos em
jogo (SILVA E MOTTI, 2001).

A Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, de 20


de novembro de 1989, influenciou diretamente na organização da legislação brasileira,
principalmente no que tange à conceituação que abrange os castigos imoderados contra
meninos e meninas. Segundo o Artigo 19 do documento, a criança deve ser protegida:

“...contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou


tratamento negligente, maus-tratos ou exploração, inclusive abuso sexual,
enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais, do representante legal
ou de qualquer outra pessoa responsável por ela.” (ONU, 1989)

Os artigos 227 e 228, presentes na Constituição Federal de 1988, são frutos da fusão
de emendas populares, que pela primeira vez definem que a responsabilidade pelo bem-estar e
pela garantia prioritária dos direitos de crianças e adolescentes será compartilhada pelos
atores família, sociedade e Estado, e baseada nos direitos fundamentais de qualquer cidadão.

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.” (Constituição Federal, Art. 227, 1996, p. 156)

4
Dentro do movimento alternativo criou-se o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, seguido pelo
Fórum Nacional Permanente de Entidades Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente – FÓRUM DCA, que foi conseqüência do primeiro (SILVA E MOTTI, 2001, p. 49).
33
Tem-se, também, pela primeira vez, a clara defesa da não-violência no artigo acima
citado e detalhado no § 4º, o qual diz que a “lei punirá severamente o abuso, a violência e a
exploração sexual da criança e do adolescente” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1998).
Nesse momento, o FÓRUM DCA exerceu um papel muito importante, como
interlocutor da sociedade civil junto ao Congresso Nacional. Sua tarefa continuou, uma vez
que, ao longo do processo de elaboração do anteprojeto do Estatuto da Criança e do
Adolescente, ele se propôs à tarefa de articular o diálogo entre diversos atores (setores
executivo, políticos, jurídicos, mobilização infanto-juvenil, mobilização social, etc.),
organizando encontros, debates, estudos, entre outros, com vistas a garantir o seu
desenvolvimento e aprovação (SILVA e MOTTI, 2001).
Como resultado desse trabalho, em 13 de julho de 1990 é sancionado pelo Presidente
da República o Estatuto da Criança e do Adolescente, iniciando uma nova fase na garantia dos
direitos de meninos e meninas brasileiros. A partir dessa data, entra em vigor a doutrina da
proteção integral, pela qual as crianças e os adolescentes são considerados cidadãos, sujeitos
em desenvolvimento e detentores de prioridade absoluta (SILVA e MOTTI, 2001).
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, divide-se
em duas partes. A primeira reza as diretrizes de proteção, ou seja, os direitos inerentes a esse
público, bem como as ações/orientações necessárias para efetivação das mesmas. A segunda,
chamada parte especial, trata das políticas de proteção, incluindo os atores envolvidos nesse
processo (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselhos
Tutelares, entidades de atendimento, Sistema Judiciário), bem como das penalidades
direcionadas aos atores que violarem os direitos previstos e aos adolescentes que cometerem
atos infracionais.
Uma das características inovadoras do ECA reside no fato de o mesmo definir que
crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e, conseqüentemente, de deveres. O Estatuto
define as crianças como indivíduos com idades variando entre zero e 12 anos incompletos,
enquanto os adolescentes encontram-se na faixa etária de 12 a 18 anos incompletos. Segundo
o Estatuto, crianças e adolescentes “... gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana” (NOGUEIRA, 1991), sendo estes: o direito à vida, saúde, liberdade, respeito
e dignidade, convivência familiar e comunitária, educação, cultura, esporte, lazer,
profissionalização e proteção no trabalho.
Considerando que o Estatuto possui como foco a proteção desse público nas relações
trabalhistas, nas relações civis familiares e nas relações com o Estado, quando em conflito

34
com a lei, qualquer ato contrário a essa proteção considerar-se-á violação de direitos, devendo
ser buscadas as formas legais de garantia dos mesmos.
A violência contra crianças e adolescentes constitui uma das formas de violação de
seus direitos à dignidade e respeito, previstos no Art. 4º do ECA. Com mais clareza, o Art. 5º
detalha que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Além disso, o mesmo artigo
prevê que, caso algum ato seja praticado, o autor será punido na forma da lei, e aquele que se
omitir, também o será (NOGUEIRA, 1991).

3.2.1 Modalidades de violência

É oportuno qualificar alguns conceitos importantes para o entendimento desta


legislação. O conceito de violência é bem definido por Azevedo e Guerra (1995) que afirmam
ser ela fruto de “...uma relação assimétrica (hierárquica) de poder, com fins de dominação,
exploração e opressão”.
A abordagem de Marilena Chauí também é instrutiva. Essa autora afirma que, ao se
tratar a diferença como uma desigualdade, criando-se aí uma relação de superior e inferior, o
ser humano deixará de ser sujeito para tornar-se coisa, mero indivíduo em situação de inércia,
de passividade, de silêncio, de anulação; enfim, será violentado. Desta forma, tendo como
referência tais conceituações, chegou-se a várias tipificações da violência praticada contra
crianças e adolescentes: a negligência, a submissão psicológica, física e sexual (AZEVEDO E
GUERRA, 1995).
A negligência (abandono), apesar de visível, não é considerada, por muitos, como um
tipo de violência contra meninos e meninas. De acordo com a Oficina de Idéias et al5 (1994)
a negligência se configura quando os pais ou responsáveis não cuidam, não fazem, não olham
seus filhos e os submetem ao desamparo e à solidão, podendo comprometer sua qualidade de
vida. Ou seja, ela ocorre quando os responsáveis “...falham em termos de alimentar, de vestir
adequadamente seu filho, etc. , e quando tal falha não é o resultado das condições de vida

5
Livro elaborado pela Oficina de Idéias, a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e a Companhia Brasileira
de Metalurgia e Mineração, registrando situações e ações vividas pelos atores envolvidos no trabalho de
implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente, visando a clarificar o tema e guiar o trabalho dos
profissionais da área.
35
além do seu controle” (BELO HORIZONTE, 2000), quando deixam de cumprir o papel
fundamental de suprir as necessidades básicas para a sobrevivência dos filhos.
Meninos e meninas acometidos pela negligência, geralmente, demonstram crescimento
deficiente, pouca atenção, vestimentas inadequadas ao clima, problemas físicos e fadigas
constantes. Além disso, seu comportamento é extremo: hipo ou hiperativo, infantil ou
depressivo; costumam atrasar ou se ausentar da escola, e também assumem responsabilidades
incompatíveis com a faixa etária em que se encontram.
A violência psicológica é o tipo mais sutil e subjetivo de violência; não deixa marcas
e, por isso, o mais difícil de ser identificado. Pompei (2005) define que a violência
psicológica acontece quando há coação, ameaças, humilhação e/ou privação emocional, além
de “...desvalorização, expectativas negativas, não-reconhecimento de qualidades, permanente
acusação...” (OFICINA DE IDÉIAS et al, 1994). Desta forma, pode-se afirmar que ela ocorre
quando há um bloqueio dos esforços da auto-estima, causando um sofrimento mental, como,
por exemplo, ameaças de abandono, que podem causar danos emocionais.
A violência psicológica pode assumir duas formas: a negligência afetiva e a rejeição.
A primeira ocorre na falta de responsabilidade e de interesse pelas coisas da criança ou do
adolescente; a segunda caracteriza-se pela depreciação e agressividade (BELO HORIZONTE,
2000). É imperativo lembrar que todas as demais formas de violência são permeadas pela
violência psicológica.
Aqueles que sofrem a violência psicológica podem desenvolver problemas de saúde,
tais como obesidade, afecções da pele, gagueira e ou comportamento infantil. No cotidiano,
seu comportamento poderá cercar-se de problemas na aprendizagem, agressividade, timidez,
sentimento destrutivo ou autodestrutivo, dificuldades com o sono, baixa auto-estima,
depressão, apatia e tendência suicida (BELO HORIZONTE, 2000).
A violência física é a mais visível e a mais fácil de constatar e denunciar. Primeiro,
porque suas marcas ficam no corpo das vítimas e, segundo, pelo fato de não ser, totalmente,
considerada como um tabu. O conceito de violência física aparece sob várias formas nos
estudos de pessoas da área. Ferrari (2002) diz que a violência física acontece quando há
utilização da força física excessiva e inapropriada por parte dos pais/responsáveis. No entanto,
Newell (apud BELO HORIZONTE, 2000) traz uma construção conceitual mais detalhada e
completa; segundo ele, qualquer ação que cause dor física em um menino ou uma menina,
seja ela tapa ou espancamento fatal, pode ser considerada uma violência. Esse tipo de

36
violência, geralmente, é praticado pelos pais ou responsáveis, mas não se pode descartar sua
ocorrência em outros espaços que as crianças e os adolescentes freqüentam.
Quando crianças ou adolescentes são vitimizados, há indícios de lesões físicas, feridas,
fraturas, ocultamento de lesões não explicadas, contusões corporais indicando uso de cinto,
escovas de cabelo, fios, fivelas, marcas de dentadas, entre outras. Essas vítimas demonstrarão
um comportamento desconfiado, ao manterem contato com adultos; ficam alerta, temerosas,
com mudanças arrebatadas de humor, extremistas, além de comprovarem dificuldade de
aprendizagem (BELO HORIZONTE, 2000).
A violência sexual constitui a forma de violência mais carregada de tabu e, por isso, é
dificilmente identificada. Ela é considerada todo contato entre crianças e adolescentes e um
adulto, familiar ou não, no qual esses menores de 18 anos estarão sendo usados como objeto
para a prática de ato ou jogo sexual, que satisfará a necessidade ou o desejo do adulto. O ato
ou jogo pode ser praticado de forma homossexual ou heterosexual, com um ou mais adultos, e
acontecerá com a estimulação sexual da criança ou do adolescente para alcançar a estimulação
do adulto. Quando a violação ocorre dentro da própria família, considera-se a relação
incestuosa, pois ocorre com um adulto ligado à vítima por laços consangüíneos (AZEVEDO e
GUERRA, 1995; FERRARI e VECINA, 2002).
As vítimas da violência sexual indicam dificuldade em caminhar, aborto, gravidez
precoce, dores, inchaços, sangramentos nas genitálias, infecções urinárias entre outras
enfermidades. Quanto ao comportamento dessas vítimas, tornam-se agitadas à noite, com
pesadelos e medo de escuro, ficam muito vergonhosas, praticam o autoflagelo e possuem um
comportamento sexual impróprio para a idade. Além dessas características apresentam,
também, quadros de regressão, de depressão, tendências suicidas, fugas constantes e uso de
drogas (BELO HORIZONTE, 2000).
Todas as formas de violência acima abordadas poderão intitular-se de Violência
Doméstica, caso ocorram no lar e sejam representadas por ato ou omissão praticados por pais
biológicos ou de afinidade, responsáveis legais (tutores, padrinhos, etc), ou parentes – irmãos,
avós, tios, etc, tendo como vítimas crianças e adolescente e causando dano psicológico, físico
e/ou sexual. Isso significa que a família, em vez de cumprir seu papel de prover a
sobrevivência da criança, satisfazendo às suas necessidades físicas e socioemocionais, e
exercendo o papel socializador e educador, utiliza seu poder de autoridade de forma
exacerbada, com o objetivo de manter a ordem, o controle e a obediência que acaba por violar
o direito de seu filho e comprometê-lo, física ou psicologicamente, por toda a vida

37
(AZEVEDO e GUERRA, 1995). É importante ressaltar que se considera a violência
doméstica uma das expressões da violência familiar, uma vez que esta abrange outros
públicos, por exemplo mulheres e idosos.

3.3 - Conselhos Tutelares: o ser e o fazer

A criação dos Conselhos de Direitos e Tutelares é considerada, por muitos, como uma
das maiores inovações do Estatuto da Criança e do Adolescente. Trata-se de uma inovação;
sendo guiada pelos princípios da Carta Magna de 1988, a Constituição Federal, ela prima pela
autonomia, pela descentralização e pela participação da sociedade civil na gestão desses
conselhos.
Poucos sabem que o embrião dessa inovação já vinha crescendo e amadurecendo
desde o Código de Mello Mattos. A idéia da criação de um Conselho de Proteção a menores
anota seu primeiro registro na reedição do Decreto 16.272, de 1923, código acima citado,
intitulado “Conselho de Assistência e Proteção a Menores”, já possuindo suas atribuições
muito bem definidas nos incisos de I a XII (COSTA, 2002):
“I – vigiar, proteger e colocar menores egressos de qualquer escola
de preservação ou reforma, os que estiverem em liberdade vigiada e
os que forem designados pelos respectivos juízes;
II – auxiliar a ação do juiz de menores e seus comissários de
vigilância;
III – exercer sua ação sobre os menores em via pública,
concorrendo para fiel observância da lei de assistência e proteção
aos menores;
IV – visitar e fiscalizar os estabelecimentos de educação de
menores, fábricas e oficinas onde trabalham, e comunicar ao
Ministro da Justiça e Negócios Interiores os abusos que neutralizem
os efeitos desses males; (omissis)
VII – obter dos institutos particulares a aceitação de menores
protegidos pelo Conselho e tutelados pela Justiça;(omissis)
IX – promover por todos os meios ao seu alcance a completa
prestação de assistência aos menores sem recursos, doentes ou
débeis;
X – ocupar-se do estudo e resolução de todos os problemas
relacionados com a infância e adolescência;
XI – organizar uma lista de pessoas idôneas ou das instituições
oficiais ou particulares que queiram tomar ao seu cuidado menores
que tiverem de ser colocados em casas de famílias ou internados;

38
XII – administrar os fundos que forem postos à sua disposição para
o preenchimento de seus fins.” (COSTA, 2002, p. 274)

Em 1985 e 1986, já bem próximo à criação do ECA, têm-se mais dois registros do
desejo da sociedade organizada de criar Conselhos tendo como objeto a criança e o
adolescente, bem como a defesa de seus direitos. Segundo Costa (2002), no primeiro ano da
Associação Brasileira de Juízes e Curadores de Menores, foi recomendada em seu Boletim
Informativo nº7, a criação dos Conselhos do Menor nos níveis municipal, estadual e federal.
Já em 1986, no IV Congresso sobre o Menor e a Realidade Social, o “Oitavo Princípio da
Carta à Nação Brasileira pugnava” (COSTA, 2002) pela descentralização dos programas
destinados ao público infanto-juvenil, definindo o município e a comunidade como os mais
adequados à sua operacionalização (COSTA, 2002).
Com todas essas manifestações, a idéia de um conselho foi amadurecendo e seu
objetivo foi estabelecido. Hoje, de acordo com o Art. 131 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, defini-se o Conselho Tutelar como um órgão de caráter permanente, possuidor
de autonomia em seus atos, sem poder jurisdicional, e com o objetivo de zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente (NOGUEIRA, 1991).
Já a função desses Conselheiros pode ser considerada como outro processo de
amadurecimento que seguiu junto à luta pela criação dos Conselhos. De acordo com as
atribuições acima, previstas pelo Código de Menores, Costa (2002) afirma que, já nessa
época, se pensava em transferir algumas funções, então conferidas aos Juízes de Menores, a
algum órgão representado pela sociedade civil organizada, que seria o Conselho Tutelar. Esse
órgão possuiria funções administrativas e socioassistenciais, e trabalharia numa perspectiva
higienista, controlando meninos e meninas para a garantia da ordem social. Ou seja, um ponto
de vista muito diferente do apregoado, hoje, pelo ECA.
Mas, ao longo da discussão para a definição das funções dos conselheiros tutelares, o
movimento continuou seguindo a direção da transferência de poderes iniciada no Código de
Menores. Isso porque, segundo Costa, a criação desses Conselhos era vislumbrada como
bandeira reformista, que vinha para encurtar o poder dos Juízes de Menores. Inicialmente,
“pretendia-se transferir para o Conselho Tutelar uma grande parte das atribuições
constitucionais exclusivas do Poder Judiciário...”, tal como acontece no México (COSTA,
2004, p. 275), mas não foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Verdadeiramente, essas transferências não podem ser consideradas como avanço, uma
vez que, em muitos municípios do Brasil, tampouco existe a presença do Conselho Tutelar,

39
acabando por deixar toda a responsabilidade de ação, no que tange à defesa dos direitos de
meninos e meninas, nas mãos dos Juízes da Infância e da Juventude.
Depois de todas as discussões, chegou-se à conclusão de que os Conselhos Tutelares
deveriam ser órgãos permanentes, com funções exclusivamente administrativa e executiva,
sem caráter jurisdicional, desenvolvendo ações/atendimento de modo contínuo, sem
interrupção, e com autonomia, ou seja, todas as decisões e medidas não sofrem interferência
externa (CURY, 2000).
Além da definição do “ser”, prevê-se também no Estatuto o “fazer” dos Conselheiros
eleitos pela comunidade. As funções/atribuições destes podem se considerar de alta
responsabilidade e relevância, pois eles atuam em prol da garantia de direitos de uma
população vulnerável, em face de sua condição de dependência e de desenvolvimento.
Entre as atribuições dos Conselheiros, pode-se considerar como a primeira o
atendimento a crianças e adolescentes que, segundo o Art. 98 do Estatuto, estejam com seus
direitos ameaçados ou violados pela sociedade ou o Estado; pelos pais ou responsáveis; ou
pela sua própria conduta (incluindo aqueles a quem se atribui a prática de atos infracionais
(COSTA, 2004). Esse atendimento ocorre a partir de denúncias que podem chegar ao
Conselho pelas mãos do próprio violado, de um vizinho, um parente, ou, até mesmo, por meio
de uma entidade ou serviço.
Quando necessário, segundo Pimentel (1998), a esses meninos e meninas poder-se-á
aplicar medidas com a finalidade de proteger e garantir o direito que esteja sendo violado.
Tais medidas acham-se assim previstas no Art. 101 do ECA:
• encaminhá-los aos pais ou responsáveis, com assinatura de termo de
responsabilidade;
• orientar, apoiar e acompanhar a família temporariamente; solicitar matrícula e
freqüência em estabelecimento de ensino fundamental;
• requisitar tratamento médico, psiquiátrico ou psicológico em hospitais ou
ambulatórios;
• inseri-los em programa governamental ou nãogovernamental que oriente e trate
usuários de álcool e/ou tóxicos; abrigar em entidade; e
• coloca-los em família substituta.

40
É importante lembrar que as entidades, para as quais ocorre o encaminhamento do
público do Conselho, serão fiscalizadas pelos conselheiros junto ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário.
Além das crianças e adolescentes constitui atribuição dos conselheiros, também,
atender pais e responsáveis desses e, quando necessário, aplicar quaisquer destas medidas
relacionadas no Art. 129 do ECA:
• encaminhamentos a programas de proteção à família;
• a programas de orientação e tratamento para alcoólatras e toxicômanos;
• a programas de tratamento psicológico ou psiquiátrico;
• a cursos ou programas de orientação;
• a matrícula do filho e acompanhamento da freqüência e aproveitamento escolar; e
• a tratamentos especializados.

Em alguns casos será necessária aplicação de advertência, perda de guarda, destituição


de tutela, ou, até mesmo, suspensão ou destituição de pátrio poder. Mas, com exceção da
primeira, tais medidas definir-se-ão pelas autoridades judiciárias.
Como os Conselhos Tutelares não são órgãos executores, os conselheiros deverão
fazer cumprir suas decisões/encaminhamentos requisitando a execução ou regularização de
serviços, programas e projetos em entidades governamentais e nãogovernamentais das áreas
da saúde, segurança, educação, serviço social, previdência e trabalho.
Em casos da inexistência de algum serviço, ou se o mesmo se mostrar insuficiente, os
Conselhos Tutelares deverão levar o fato ao responsável por tal política, bem como Conselho
Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, um dos responsáveis pela implementação
destinada a esse público. Agindo dessa forma, o conselheiro estará cumprindo mais uma de
suas funções, que é a de auxiliar o Poder Executivo no direcionamento do orçamento
municipal, garantindo, assim, aplicação em serviços públicos realmente necessários, ou seja,
que não estejam sendo ofertados, ou estejam com oferta insuficiente.
Ainda em relação à solicitação de serviços, é importante ressaltar que, caso o serviço
exista e a solicitação do conselheiro não tenha sido cumprida com justificativa, o solicitante
deverá representar o caso junto ao Juiz da Vara da Infância, e este se considerar válida a
representação, a encaminhará ao Ministério Público para apuração de responsabilidade
criminal de quem não cumpriu a execução (PIMENTEL, 1998).

41
Ao Juizado dever-se-ão encaminhar, também, casos que abarquem questões
conflituosas no que se refere à destituição de pátrio poder, guarda, tutela e/ou adoção, bem
como aqueles em que a situação esteja prevista nos artigos 148 e 149 do ECA. Em se tratando
dos casos referentes a adolescentes autores de ato infracional, os conselheiros deverão se
concentrar no cumprimento das medidas determinadas pelo Juiz (PIMENTEL, 1998).
Os conselheiros deverão e poderão requisitar certidões de óbito ou nascimento de
meninos e meninas, quando necessário, e todas as comunicações, medidas, encaminhamentos,
solicitações serão realizadas mediante correspondência oficial expedida pelo Conselho.
Para cumprir todas essas atribuições, o Conselho terá sua área de atuação bem
definida, podendo ser um município, um bairro ou uma região, variando de acordo com o
número de Conselhos existentes na cidade, conforme regimento interno do mesmo. A lei
municipal é que definirá a localização e a quantidade de Conselhos existentes no município,
que deverá possuir o mínimo de um Conselho.
Resumindo, deverá escutar meninos meninas, e suas famílias, orientá-las, aconselhá-
las, encaminhá-las e emitir requisições de serviços para proteger seu público. Nesse trabalho
social, o conselheiro pode atuar de forma preventiva – “...quando há ameaça de violação de
direitos...”, ou corretiva – “quando a ameaça já se concretizou” (Instituto Telemig Celular,
200-) e, por isso, o Conselho foi criado para agir rapidamente de forma desburocratizada. Para
que sua atuação se mostre eficaz e efetiva, torna-se necessário saber lidar com as situações,
sabendo ouvir e compreender as pessoas envolvidas, e para isso os conselheiros utilizam a
“metodologia de atendimento social de casos” (Instituto Telemig Celular, 200-).
Segundo o Instituto Telemig Celular (200-), a metodologia utilizada por esses atores
possui as seguintes etapas:
- Denúncia: é o relato do caso, ameaça ou violação de direitos, realizado por alguma
pessoa solicitando a intervenção do Conselho Tutelar. Apesar de os conselheiros
poderem agir antecipadamente à denúncia, em geral é ela que motiva a ação dos
mesmos. Quando ocorre no próprio Conselho, a denúncia não deverá ser anônima,
uma vez que os conselheiros necessitam da referência do denunciante. Ela só poderá
ser anônima quando realizada no Disk Denúncia. Mas, em ambos os casos, torna-se
necessário que o denunciante informe o tipo de violação, nome da(s) vítima(s),
endereço ou referência do local para apuração da denúncia. Caso esses dados estejam
incompletos, pode ocorrer o encerramento do caso.
- Apuração da denúncia: refere-se à visita de atendimento para constatação do fato.

42
- Medida emergencial: aplica-se conforme a gravidade da situação encontrada, na
tentativa de cessar a ameaça ou violação.
- Caso: havendo a constatação da denúncia, constitui-se o caso, que deverá seguir as
seguintes etapas: estudo, encaminhamento e acompanhamento.
 Estudo: o conselheiro deverá inteirar-se do fato, obtendo o maior
número de informações possível, para ajudá-lo nos encaminhamentos
adequados a cada realidade encontrada.
 Encaminhamento: consiste em aplicar medidas de proteção que visem
a dissolver os focos desencadeadores da violação. O encaminhamento
deve ocorrer em forma de requisição de serviços públicos, podendo
destinar-se a qualquer membro da família que se veja envolvido no
caso de violação.
 Acompanhamento: consiste em garantir que os encaminhamentos,
medidas protetivas, vêm sendo cumpridos pelos atores envolvidos. Não
é função primária dos conselheiros o acompanhamento, por isso eles
podem solicitar que as próprias entidades o façam, mantendo-os
informados através de relatórios.

A essa metodologia o conselheiro deverá associar uma abordagem de empatia,


educativa, com transmissão de informações e leis de forma clara e com vocabulário simples,
defendendo seu público, sendo tolerante, compreensivo, escutando, negociando a decisão sem
aplicar julgamentos (BLANES, CARVALHO E CARINO, 1995).
Mesmo realizando atividades individualmente, cada conselheiro mentem-se
responsável pelo andamento de seus casos. Segundo Pimentel (1998), os casos não correrão
somente por sua conta, mas sim sob a responsabilidade do Conselho como um todo. Isso
porque todas as decisões acontecem de modo coletivo, significando que cada caso deverá ser
discutido, analisado e referendado pelo conjunto de conselheiros.

43
3.4 – As Políticas Públicas e a rede de amparo às vítimas de violência física e sexual

Antes da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a forma de atendimento


destinada a meninos e meninas passou por uma mudança e por uma evolução em seu enfoque,
sendo este espelhado no contexto da época. As entidades afins iniciaram com um atendimento
que se limitava a àquele realizado pela Igreja Católica às crianças desvalidas, ao recolhimento
dos abandonados e miseráveis (no período colonial e no primeiro e segundo impérios);
passaram pelo atendimento correcional-repressivo aplicado pela polícia (República Velha);
chegando ao atendimento assistencialista, tal como as FEBEMs do Regime Militar, que foi o
último enfoque antes da sanção do ECA. Não havia integração entre as poucas políticas
sociais existentes; cada agente, educação/saúde/assistência, cuidava de seu mundo, cabendo às
políticas compensatórias desempenhar um pouco de cada papel, de forma amadora, durante a
execução de seus programas. Com a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente
ocorreu uma mudança radical no atendimento, e as maneiras antes utilizadas foram, aos
poucos, destituídas para a nova metodologia assumir o espaço (INSTITUTO TELEMIG
CELULAR, 200-).
Nesse momento, o paradigma da proteção integral passa a representar o norte da nova
pedagogia de atendimento, que prega o tratamento prioritário de crianças e adolescentes,
respeitando sua fase de desenvolvimento, considerando-os como sujeitos de direitos,
cidadãos, e assegurando a efetivação de tais direitos. E, pensando na integralidade da
proteção, o atendimento passa a ser realizado de maneira completa, utilizando as políticas de
vários setores e levando em consideração a necessidade de cada situação.
Segundo o Art. 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente, para que o direito se veja
garantido e a criança seja protegida integralmente, faz-se necessário estabelecer uma política
de atendimento que se formará pelo “conjunto articulado de ações governamentais e não-
governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal de dos Municípios”
(NOGUEIRA, 1991), compondo uma política de atendimento pautada por (Art. 87):
“I - políticas sociais básicas;
II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para
aqueles que deles necessitarem;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial
às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e
opressão;
IV – serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e
adolescentes desaparecidos;

44
V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da
criança e do adolescente.” (NOGUEIRA, 1991, p.97).

Ainda seguindo as orientações do Art. 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a


política de atendimento passará à competência do município, criando e mantendo programas
específicos de forma descentralizada, seguindo a organização político-administrativa. Além
disso, dever-se-á criar os conselhos tutelares, em nível municipal, e os conselhos de direito da
criança e do adolescente, nos níveis municipal, estadual e nacional, os quais integrar-se-ão
operacionalmente aos órgãos do judiciário. Esses últimos possuirão seus fundos para gestão
de programas e projetos apresentados pela sociedade em geral e necessitarão estimular a
participação dos segmentos da sociedade em todo seu processo de gestão (NOGUEIRA,
1991). Desta forma, percebe-se que tais orientações contribuem no direcionamento político-
geográfico da implantação das políticas que ocorrerão com a ajuda dos Conselhos de Direitos.
Quanto aos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, pode-se afirmar que
constituem um dos principais atores no processo de formulação de tais políticas. Isso ocorre
pelo fato de representarem uma instância de formulação de Políticas Sociais Básicas para
meninas e meninos, incluindo etapas anteriores, como a de poderem diagnosticar, e de
possuírem, como duas de suas principais atribuições, a ampliação e o fortalecimento da rede
de atendimento. Eles deverão assegurar o estabelecimento de relações, articulações e
conexões entre os atores envolvidos nos serviços e entre os diversos serviços (INSTITUTO
TELEMIG CELULAR, 200-).
Já os Conselhos Tutelares possuem um papel diferenciado, pois fazem parte da
política contribuindo, consideravelmente, para sua ampliação. Isso ocorre ao utilizarem os
serviços, programas e projetos existentes, no momento em que fazem seus encaminhamentos
para garantir os direitos de meninos e meninas, os CTs contribuem para diagnosticar
serviços/programas/projetos faltosos ou insuficientes e os repassam às autoridades
competentes, exigindo-os. Ou seja, eles conseguem apresentar as lacunas e articular seu
preenchimento, alimentando a rede cotidianamente.
A essa nova organização do atendimento ao público em questão, tem-se chamado de
rede de atendimento ou rede de proteção. O conceito de rede já passou por expressiva
evolução e, por isso, reúne uma abordagem variada. Na administração pública, até alguns
anos atrás, considerava-se rede o conjunto de serviços similares/padronizados e
desconcentrados, mas subordinados a um poder central. A exemplo, tem-se a política de

45
Educação, pela qual o comando se acha centralizado e subordinado à Secretaria de Educação
dos Estados e Ministério da Educação – MEC (GUARÁ, 1998).
Hoje o conceito de rede abrange questões que abarcam a articulação entre os atores,
agentes, serviços, da interconexão entre o público, o privado e as organizações da sociedade
civil de maneira horizontalizada, complementar e sem dependência. Mas a definição utilizada
na atualidade vai além dessa organização horizontal e indenpendente. Trabalha-se, também,
com a significação de que a rede pode ensejar a cooptação de várias organizações/instituições
em torno de um objetivo em comum, independentemente de qual seja seu papel, seu produto,
dentro da mesma (GUARÁ, 1998).
Quando se trata da constituição da rede destinada a crianças e adolescentes, pode-se
afirmar que ela deverá ser composta de serviços, programas, projetos direcionados à atenção
dos “... direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária” (INSTITUTO TELEMIG CELULAR, 200-).
Dentro dessa política de atendimento formam-se vários tipos de redes. Algumas
específicas, como é o caso da rede de atendimento a vítimas de violência. Em Belo Horizonte
conta-se com a Rede de Atenção à Violência, criada pelo Núcleo de Atenção a Vítimas de
Violência – NAVCV, em Dezembro de 2000, a partir da união de entidades governamentais e
nãogovernamentais que atuam nessa área, visando a fortalecer e melhorar os serviços de
atenção às vítimas e seus familiares (Secretaria de Desenvolvimento Social, 2007). Ainda
segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social – SEDESE, o NAVCV atende as vítimas e
seus familiares envolvidos em crimes de latrocínio, homicídio, estupro e atentado violento ao
pudor, dando-lhes atendimento social, jurídico e psicológico adequado, buscando a redução
de danos e o resgate da cidadania. É importante ressaltar que o NAVCV pertence à
Superintendência de Direitos Humanos da SEDESE, na qual podem ser encontrados projetos
direcionados a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual – Sentinela, mulheres
vítimas de violência e vítimas de tortura.
Pode-se considerar, como outro ator importante na constituição de políticas públicas
de amparo a vítimas de violência, o Centro de Apoio às vítimas de Violência Doméstica e
Intrafamilar – CAVIV. Implementado em Belo Horizonte a partir de convênio com o
Ministério da Justiça, por intermédio através da Subsecretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, o CAVIV é um programa da Secretaria Municipal Adjunta de
Trabalho e Direitos de Cidadania de Belo Horizonte, incorporado à Coordenadoria de Direitos

46
Humanos. Seus objetivos consistem em fortalecer a rede de entidades e serviços de
atendimento às vítimas de violência doméstica e intrafamiliar, construindo um sistema de
informação de fluxos e encaminhamentos das demandas desses casos, subsidiando a
elaboração de políticas públicas.
Tanto o CAVIV quando o NAVC buscam traçar a rede existente de atendimento em
busca de melhorar a qualidade do atendimento a essas vítimas, cada qual com suas
especificidades.
Desta forma, percebe-se que em Belo Horizonte há um movimento para identificação
e fortalecimento das redes de atendimento às vítimas. Só ainda não se discutiu a
regionalização dos serviços específicos, que é claramente orientada pelo Estatuto da criança e
do Adolescente.

47
CAPÍTULO IV – METODOLOGIA

4.1 Introdução

Na presente etapa será apresentado e discutido o roteiro metodológico adotado no


trabalho em questão. Para tanto, este capítulo foi divido em quatro momentos. No primeiro,
apresentar-se-ão as rotinas de coleta e tratamento das informações utilizadas; no segundo
ficarão expostos os desafios encontrados no processo de coleta, seguidos de uma discussão
acerca da forma de organização dos dados trabalhados. Por fim, apresentam-se as principais
estratégias de análise dos referidos dados.

4.1 Organização dos dados

Para alcançar os objetivos aqui propostos, notadamente a contabilização das


ocorrências de violência física e sexual contra crianças e adolescentes, registradas pelos
Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, no ano de 2005, foi necessária a consecução de
inúmeras tarefas. A ausência de um banco de dados formatado, digital e organizado, que
encerrasse as informações demandadas, suscitou um árduo processo de levantamento das
referidas ocorrências in loco, nos nove Conselhos Tutelares de Belo Horizonte.

Para a viabilização do levantamento dos dados, foi fundamental efetivar contatos com
o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e com os nove Conselhos
Tutelares, existentes nas regionais da capital mineira: Norte, Centro-sul, Oeste, Leste,
Noroeste, Nordeste, Pampulha, Barreiro e Venda Nova. Esses contatos possibilitaram a
identificação da forma como se acham registradas as ocorrências referentes à violação dos
direitos da criança e do adolescente, em fichas do SIPIA (Sistema de Informação para a
Infância e a Adolescência) que deveriam estar digitalizadas – e sua organização dentro de
cada Conselho Tutelar – CT.

48
A primeira etapa do trabalho baseou-se na definição dos procedimentos de coleta de
dados, com ênfase na seleção das informações necessárias e pertinentes a esta pesquisa,
disponíveis nas fichas de Registro de Informações para a Infância e a Adolescência, e na
Tabela de Codificação, ambos formulados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Social e Esportes, e pertencentes ao SIPIA.

Essas fichas são preenchidas pelos conselheiros na medida em que chegam as


denúncias aos Conselhos Tutelares, encerrando informações acerca das crianças e dos
adolescentes violados, da natureza das violações, dos violadores, bem como a identificação
das medidas de proteção e encaminhamentos realizados.

A partir do contato com esses documentos tornou-se, então, possível elaborar o


formulário de coleta de dados, que passou a direcionar a compilação das seguintes
informações:

• nº do caso;
• data da denúncia;
• bairro onde reside a vítima;
• sexo da criança ou do adolescente vitimado;
• idade da criança ou do adolescente vitimado;
• cor da criança ou do adolescente vitimado;
• identificação do violador; e
• providências/encaminhamentos e medidas aplicadas ao caso.

O processo de compilação de informações foi realizado manualmente, a partir da


leitura e transcrição para o formulário de coleta dos dados presentes nas fichas de registro de
violação. No entanto, em cada Conselho o tempo de coleta dos dados foi distinto, devido à
forma com que as informações se encontravam organizadas e à quantidade de fichas neles
disponível. Em alguns Conselhos mostrou-se necessária a verificação de todas as fichas de
denúncia do ano de 2005, para que fosse possível selecionar aquelas referentes a violência
física e sexual. Em outros, a consulta se deu diretamente a partir das fichas, previamente
catalogadas e organizadas por tipo de violação, pelos próprios conselheiros.

A coleta de informações teve início em fevereiro de 2006, perdurando até junho de


2006. Ao final do processo, as informações foram codificadas, digitadas e tabuladas,
formando-se um banco de dados relacional. Ao todo foram contabilizadas 9.566 ocorrências,
das quais 858 foram motivadas por violência de natureza física e 237, de natureza sexual.

49
Faz-ser também discutir as estratégias adotadas com relação à compilação e
classificação dos encaminhamentos realizados pelos conselheiros, para cada ocorrência
registrada. Neste sentido, foram considerados como encaminhamentos todos aqueles
procedimentos realizados pelos conselheiros, que visavam à busca pela garantia do direito
violado das crianças e ou dos adolescentes registrados. Neste sentido, destacam-se os
relevantes papéis cumpridos por entidades governamentais e não governamentais, programas
e projetos sociais nas três esferas administrativas.

Com o fito de organizar e classificar os encaminhamentos trabalhou-se,


primeiramente, com base na definição das políticas sociais, objetivando estimular a
elaboração de políticas para o público estudado. Desta forma utilizou-se, para elaboração e
análise das tabelas, as seguintes tipologias:

• assistência social;
• direitos humanos;
• educação;
• esporte;
• habitação;
• justiça;
• saúde;
• segurança; e
• outros.

No segundo momento, para organização da rede de atendimento, adotou-se a tipologia


de atendimento utilizada nos catálogos da AMAS – Associação Municipal de Assistência
Social e do CAVIV – Centro de Atenção a Vítimas de Violência6, visando à padronização das
análises realizadas. Somente com base nas tipificações desses catálogos tornou-se possível
identificar a rede que, efetivamente, vinha se empregando, no ano de 2005, na proteção e
amparo à infância e juventude na capital. O catálogo da AMAS forneceu informações
relativas à rede de atenção às vítimas de violência sexual, enquanto o catálogo do CAVIV
trouxe elementos acerca dos projetos, entidades e serviços voltados para o atendimento às
vítimas de violência7.

Diante da complexidade e diversidade dos encaminhamentos, a classificação das


entidades, programas e projetos sociais, proposta pela AMAS, resultou insuficiente. Logo, foi

6
Tanto a AMAS quanto o CAVIV estão diretamente ligados à Prefeitura de Belo Horizonte.
7
O catálogo do CAVIV traz informações sobre entidades que extrapolam o trabalho de atendimento a crianças e
adolescentes, beneficiando, também, os demais membros da família dos indivíduos expostos às violações que
são objetos deste trabalho.
50
necessário identificar a natureza e a vinculação institucional de cada
entidade/programa/projeto envolvido nos diversos encaminhamentos, para a criação de outras
classes de análises, baseando-se na definição das políticas sociais8 básicas. Chegou-se, assim,
à seguinte tipologia:

• assistência social9;
• educação;
• saúde;
• defesa e responsabilização;
• inserção do adolescente no mundo do trabalho;
• atendimento psíquico-psicológico;
• direitos humanos; e
• uma categoria residual intitulada “outros”10.

Ao longo do processo de coleta e codificação das informações foram encontradas


certas dificuldades, dignas de nota. Primeiramente, alguns campos dos formulários tiveram
preenchimento incompleto ou inconsistente, como no caso das variáveis: tipificação do
solicitante/denunciante, identificação do adulto com quem a criança mora, situação escolar,
ocupação atual, situação de trabalho, data do encaminhamento, entidade prestadora, tipo da
entidade (pública ou privada), acompanhamento das medidas (relatório escrito, audiência ou
relatório por telefone), periodicidade das medidas (diária, semanal, quinzenal ou mensal). Em
virtude dessas inconsistências, tais informações foram descartadas. Outro elemento
perturbador associa-se à falta de padronização na organização das informações em cada
Conselho Tutelar. Assim, tornou-se necessário, antes de qualquer registro dos dados,
identificar e compreender a lógica da organização de cada arquivo, na tentativa de criar
estratégias que contribuíssem para o bom andamento do trabalho em cada Conselho.

Outro complicador consistiu na existência da identificação dos nomes de escolas


municipais e estaduais, UMEIs (Unidades Municipais de Educação Infantil), CEIs (Centros de

8
Neste trabalho define-se como política social “...planos, programas e medidas necessários ao reconhecimento,
implementação, exercício e gozo dos direitos sociais reconhecidos em uma dada sociedade como incluídos na
condição de cidadania, gerando uma pauta de direitos e deveres entre aqueles aos quais se atribui a condição de
cidadãos e seu Estado”(TEIXEIRA, 1985), tais como: educação, saúde, esporte, cultura, assistência social etc
(GUARÁ, 1998).
9
O setor da Assistência Social foi o mais complexo, no momento da classificação, sendo necessário buscar
orientação nas leis que o regulam: Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei 8.742, de 7 de dezembro de
1993) e a Norma Operacional Básica de 2005 – NOB. Além disso, naqueles casos em que não era possível
identificar a classificação somente por sua natureza ou pelo nome, questionou-se a entidade quanto à inscrição
no Conselho Municipal de Assistência Social; em caso positivo, eram eles enquadrados no setor da Assistência
Social.
10
A categoria residual se constituiu a partir da junção dos encaminhamentos destinados aos Setores de Esporte e
Habitação, os quais não foram suficientemente expressivos para elaboração de análise.
51
Educação Infantil), postos de saúde e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), e cartórios a
partir dos dados fornecidos pelos Conselhos Tutelares, gerando a inviabilidade do
mapeamento dessas informações11.

4.2 Análises

Com base nas informações organizadas e digitalizadas, foi possível proceder à análise
estatística, a partir da geração de tabelas de freqüência para cada informação coletada.
Cruzamentos específicos foram também gerados, com o fito de explorar a relação entre
variáveis socioeconômicas e espaciais.

Quanto aos casos de violência física e sexual, realizaram-se mapeamentos utilizando


as informações adquiridas na etapa de coleta de dados. Foram produzidos, inicialmente, três
mapas coropléticos do número de ocorrências de violência física, sexual e total, utilizando
como recorte espacial os bairros de Belo Horizonte, que empregaram, como técnica de
classificação do número de ocorrências, as quebras naturais.

Nesse processo, utilizou-se, também, o softwear Mapinfo 8.512, para o qual se


transportaram as informações coletadas, chegando-se aos mapas utilizados na análise do
fenômeno. Além disso, foram utilizadas as bases de dados dos bairros, das vilas e das favelas
do município de Belo Horizonte, fornecidas pela Secretaria Municipal de Modernização
Administrativa e Informática(SMMAI)/Gerência de Informações Técnicas (GEIT).

O mapeamento da rede de atendimento efetuou-se a partir de dois referenciais. O


segundo trata dos dados coletados nas ocorrências identificadas nos Conselhos Tutelares que
podem se definir como rede utilizada pelos conselheiros no ano de 2005, e o primeiro trata
dos dados disponíveis nos catálogos da AMAS e do CAVIV. Tal como ocorreu com o
mapeamento dos casos de violência, a rede foi mapeada com a utilização do softwear Mapinfo
8.5, utilizando-se as mesmas bases de dados previamente empregadas no mapeamento dos

11
Serviços como AA – Alcoólicos Anônimos, Profissão Futura, Gerência de Serviço Social, Gerência Regional
de Educação,
12
Alguns itens existentes nos mapas produzidos pelo Mapinfo 8.5 foram elaborados no software Corel 12.
52
casos de violência. Empregou-se a técnica cartográfica empregada foi a do mapeamento
coroplético, que contou com a estratégia de classificação de dados das quebras naturais.

Visando a comparar possíveis diferenças espaciais na incidência das violências física e


sexual em Belo Horizonte, construíram-se taxas brutas e corrigidas, de risco dessas
ocorrências. Como não se dispunha de dados referentes à população para os bairros de Belo
Horizonte, optou-se por trabalhar com um outro recorte espacial: as Unidades de
Planejamento da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

As Unidades de Planejamento – UPs – propostas pela Secretaria de Planejamento de


Belo Horizonte, constituem, na verdade, subdivisões das regiões administrativas, sem serem,
necessariamente, agregação de bairros populares. Para sua definição foram considerados os
limites ou barreiras físicas existentes, os processos e características de uso e ocupação e a
articulação interna (OLIVEIRA et al. 2007). Mas como elas guardam relação com os setores
censitários, é possível agregar as informações referentes à população, especialmente a
população com idades oscilando entre 0 e menos de 18.

Portanto, construíram-se, inicialmente, taxas brutas, por 100.000 habitantes, para o


conjunto de Unidades de Planejamento de Belo Horizonte, empregando-se o número de
ocorrências de violência física, sexual e o somatório das duas, e a população com idades entre
0 e menos de 18 anos. No entanto, deve-se ressaltar que a taxa bruta é o estimador mais
simples para o risco de ocorrência de um dado evento, padecendo de grande instabilidade,
sobretudo em relação a estimativas de risco de determinado evento, quando ele é raro e a
população da região de ocorrência é pequena. As variações bruscas que ocorrem com essas
taxas podem nada ter a ver com o fenômeno, e sim com uma variabilidade associada às
observações. Flutuações aleatórias casuais, como a ocorrência de um ou dois casos do evento,
a mais ou a menos, numa localidade, causam variações substanciais nas taxas brutas, caso sua
população seja pequena - efeito este não verificado em localidades de população grande.
Além disso, para situações em que não ocorrem casos do evento em algumas regiões, a taxa
bruta estima o risco de ocorrência do evento como zero, algo irreal, tratando-se de dados
como doenças ou crimes. Mapas de eventos baseados diretamente nessas estimativas brutas
resultam em difícil interpretação e, freqüentemente, geram falsas conclusões (SANTOS,
RODRIGUES, LOPES, 2007).
Visando a contornar esses problemas, empregou-se no presente estudo a correção das
taxas brutas de violência contra crianças e adolescentes, com base em inferências bayesianas.

53
Existem duas estratégias de correção bayesianas: global e local. O estimador Bayes empírico
global trabalha a partir da média ponderada entre a taxa bruta da localidade e a taxa global da
região (razão entre o número total de casos e a população total); enquanto o estimador Bayes
empírico local inclui efeitos espaciais, calculando a estimativa localmente, utilizando somente
os vizinhos geográficos da área onde se deseja estimar a taxa, convergindo em direção à
média local, em vez da média global. Tais procedimentos resultam em taxas menos instáveis,
que levam em conta, em seu cálculo não só a informação da área, mas também a informação
de sua vizinhança. Logo, mapas baseados nessas estimativas são mais interpretativos e
informativos (SANTOS, RODRIGUES, LOPES, 2007).
As taxas brutas foram, portanto, corrigidas a partir do estimador Bayes empírico local,
que se mostrou mais discriminador da distribuição espacial do fenômeno em questão,
empregando-se o software TerraViewPlus 3.0.3, disponível no endereço eletrônico
http://www.dpi.inpe.br/terraview/index.php. As taxas corrigidas foram, posteriormente,
submetidas a mapeamento coroplético baseado no softwear Mapinfo 8.5, empregando-se
como estratégia para classificação das taxas o princípio de Sturgess.

54
CAPÍTULO V - RESULTADOS

5.1 Introdução

Os resultados do trabalho de campo permitiram a apresentação das informações


recolhidas no processo de campo e a identificação dos fenômenos de violência física e sexual.
No processo de identificação e registro da pesquisa foram localizados 858 casos de violência
física e 237 de violência sexual. Ao identificá-los, foi possível conhecer suas características
no ano de 2005, que vão apresentadas a seguir.
Primeiramente, tem-se o total de casos registrados em cada Regional no ano estudado.
Em seguida, faz-se a comparação entre as duas categorias de violência estudada que são,
seguidamente, esmiuçadas dentro de subcapítulos específicos. Essa organização permitiu a
caracterização individual, a assimilação de sua distribuição, do perfil das vítimas e dos
violadores, bem como a identificação dos encaminhamentos realizados até o final do
levantamento.
Na Tabela 1 é pode-se verificar o número total de casos registrados em cada um dos
nove Conselhos Tutelares da Capital. Desta forma, contam-se 9.566 casos registrados nos
Conselhos, referentes a diversos tipos de violação, incluindo as violências física e sexual.
Esses dados permitem perceber que as regionais Noroeste, Oeste, Leste e Venda Nova,
concentram mais da metade dos casos (52,81%).

55
TABELA 1
Total de casos registrados nos Conselhos Tutelares de Belo Horizonte - 2005
REGIONAIS Nº. DE CASOS %
Noroeste 1.554 16,25
Oeste 1.275 13,33
Leste 1.123 11,74
Venda Nova 1.100 11,50
Pampulha 1.060 11,08
Barreiro 1.009 10,55
Centro-Sul 992 10,37
Norte 903 9,44
Nordeste 550 5,75
Total em Belo Horizonte 9.566 100
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

A segunda tabela revela que as violências física e sexual representam,


aproximadamente, 14% do conjunto de ocorrências. A Tabela 2 também apresenta a
disparidade entre o número de crianças que sofreram violência física e sexual. Segundo os
dados, dos 1.323 casos encontrados, mais de 80% são de violência física, ao passo que foram
registrados 255 casos de violência sexual, 19,27%. Essa discrepância no percentual de casos
registrados demonstra predominância na denúncia do ato da violência física, podendo
constituir um indicativo de que essa acontece em maior quantidade que a violência sexual, ou
que há mais facilidade em denunciar fatos referentes à primeira. As denúncias com essa
característica não carregam o estigma de tabu, do pecado, e, por isso, são praticadas à vista de
todos, sem cuidados específicos, prontamente identificadas e denunciadas. Mesmo assim,
sabe-se que a legitimação das práticas educacionais cometidas pelas famílias, a sua
independência, autonomia e a autoridade dos pais para instituir regras dentro desse espaço,
inviabilizam a identificação de atos violentos por parte da sociedade, principalmente pelo fato
de esses atos serem considerados normais (PITTA e SOUZA, 2005). A família é vista como
um espaço sagrado, com suas normas internas, que não podem ser questionadas,
principalmente o poder do homem: “em briga de marido e mulher não se mete a colher”
(POMPEI, 1995).
TABELA 2
Casos de violência física e sexual denunciados nos Conselhos Tutelares de Belo Horizonte - 2005
VIOLÊNCIA FREQÜÊNCIA %
Física 1.068 80,72
Sexual 255 19,27
Total 1.323 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

5.2 Violência Sexual

No levantamento realizado, verificaram-se 1.323 casos de violência; destes, apenas


19,27% foram de violência sexual. Segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e Adolescência (2002), as estimativas de denúncia são muito pequenas,
principalmente quando há o envolvimento de familiares. Nesses casos as chances de ocorrer a
denúncia são ínfimas, porque eles envolvem as relações afetivas entre abusador e vítima, tal
como o medo do violador, medo de causar conflito entre os pais e perdê-los, ou até mesmo
receio de que ninguém acredite na história. Por isso, há necessidade de campanhas que
estimulem a identificação e a denúncia desses casos.
De acordo com a Tabela 3, quando se trata de violência sexual, as regionais Noroeste
(42 casos), Oeste (40 casos) e Norte (39 casos), concentram quase metade dos casos
registrados (51,06%). As que apresentaram os menores números de casos registrados foram a
Pampulha, com nove casos, Centro-Sul, com 15, e Nordeste, com 17, totalizando 17,3%. É
oportuno ressaltar que as duas primeiras regionais também concentram um número expressivo
de registros.
TABELA 3
Casos de violência sexual nas regionais administrativas de Belo Horizonte - 2005
REGIONAIS FREQÜÊNCIA %
Noroeste 42 17,72
Oeste 40 16,88
Norte 39 16,46
Venda Nova 32 13,50
Leste 23 9,70
Barreiro 20 8,44
Nordeste 17 7,17
Centro-Sul 15 6,33
Pampulha 09 3,80
Total 237 100
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Quanto à distribuição de crianças13 que sofreram a violação (Tabela 4), não se vêem
grandes distinções em relação ao número de ocorrências registradas (Tabela 3). As regionais
Noroeste, Oeste e Norte continuam concentrando um percentual mais significativo de
crianças/adolescentes vitimados (49,80%), enquanto as regionais Pampulha, Centro-Sul e
Nordeste conservaram-se com os menores percentuais de concentração (16,08%).

TABELA 4
Vítimas de violência sexual nas regionais administrativas de Belo Horizonte - 2005
REGIONAIS FREQÜÊNCIA %
Oeste 44 17,25
Noroeste 43 16,86
Norte 40 15,69
Venda Nova 35 13,73
Barreiro 28 10,98
Leste 24 9,41
Nordeste 17 6,67
Centro-Sul 15 5,88
Pampulha 09 3,53
Total 255 100
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

13
Ressalta-se que, nos casos registrados, pode ter ocorrido a presença de mais de uma criança, por isso o número
delas aparece maior do que o número de casos, em alguns momentos.
Uma informação importante, registrada pelos Conselhos Tutelares, é a data em que a
denúncia aconteceu; isso permite uma visão da distribuição temporal do número de casos e do
número de vítimas durante todos os meses do ano. Assim, é viável identificar qual ou quais
foram os meses em que houve maior concentração de ocorrências e de vítimas para cada uma
das duas violações.
De acordo com o Gráfico 1, os meses em que se registraram mais casos, em geral,
coincidem com os meses em que o número de crianças e adolescentes violados aparece de
maneira mais expressiva: janeiro, março e abril. A princípio não é possível identificar uma
explicação para a concentração das ocorrências nos meses apreciados. Mas é possível inferir
que esses meses são mais quentes e que há uma permanência mais prolongada das crianças
dentro de casa, em virtude das férias escolares e dos feriados, carnaval e Semana Santa. Em
novembro há dois feriados de Finados e a Proclamação da República.
Sueli Felix (1996) apresenta, em seus estudos, que esse fenômeno pode ser bem
explicado pela teoria determinista. Nessa teoria, estudam-se as condições climáticas, enquanto
fator desencadeante da criminalidade (violência). Nesse caso, os estudos apresentados
concluem que o aumento da agressão se vê associado a fatores como calor, ao consumo de
álcool e aos “efeitos do calendário” (FELIX, 1996) – feriados, finais de semana.
Nesse caso, essas informações seriam mais relevantes se houvesse a possibilidade de
realizar um estudo evolutivo e comparativo entre vários anos.

Distribuição da violência sexual nos meses do ano de


2005

40
35
30
Freqüência

25 Número de casos
20
15 Número de crianças
10
5
0
AI
AR
N

V
L

SI
T
JU

O
JA

SE
M
M

Meses

GRÁFICO 1: Distribuição da violência sexual nos meses do ano de 2005.


Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

59
Ao identificar o sexo das vítimas de violência sexual (Tabela 5), descobriu-se que a
maioria das crianças e ou adolescentes identificados são do sexo feminino, 80,80%. Essas
informações vêm corroboradas pelos estudos de Azevedo e Guerra (1995), quando afirmam
que as vítimas da violência sexual são, de preferência mulheres, na faixa etária de 7 a 12
anos14 (Tabela 6).

TABELA 5
Sexo das vítimas de violência sexual - 2005
SEXO FREQÜÊNCIA %
Feminino 206 80,80
Masculino 44 17,30
Sem Informação 05 2,00
Total 255 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

A predominância da violência sexual, na faixa etária de 7 a 14 anos (Tabela 6),


significa a necessidade de realização de projetos e programas voltados para meninos e,
principalmente, meninas que se encontram dentro dessa faixa, principalmente pelo fato de,
nesse período, as crianças passarem pelas maiores transformações corporais, ou seja, da
infância para a adolescência, podendo influenciar na mudança do olhar daqueles que as
cercam.

14
Pesquisa realizada no Serviço de Advocacia da Criança, em São Paulo, de fevereiro de 1988 a março de 1990,
na qual foram identificadas 203 casos de violência sexual.
60
TABELA 6
Idade das vítimas de violência sexual - 2005
IDADE FREQÜÊNCIA %

0–6 57 22,35
7-14 153 60,00
15-17 39 15,29
Adolescente* 05 1,96
Criança** 01 0,39
Total 255 100,00
* e ** os casos pesquisados apresentaram estas definições e não a idade.
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

A característica de cor foi a mais difícil de se identificar, uma vez que os conselheiros
não se atêm a essa informação ao preencherem a ficha do caso. Sendo assim, identificou-se a
cor de, somente, 21 vítimas de violência sexual, sendo: 10 brancas, seis pardas e cinco negras.
Isso significa que 234 crianças não possuíam essa informação (Tabela 7).
De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano 200515 (2005) as raças negra
e indígena encontram-se em completa desvantagem, uma vez que o racismo constitui um
obstáculo para o desenvolvimento humano dessa população. Isso ocorre pelo fato de as
políticas públicas ignorarem esse público, tratando os diferentes como iguais, e pela
segregação espacial em que a desigualdade social faz com que seja construída. Diante desse
cenário, o Relatório do Desenvolvimento Humano 2005 (PNUD, 2005) revela que a
vulnerabilidade do jovem negro supera muito a do branco, principalmente quando se trata da
violência. Segundo o Relatório (PNUD, 2005), a taxa de jovens negros vítimas de assassinato
chega a ser duas vezes maior do que a de brancos, no Brasil. Isso é fruto da violência
estrutural16, muito mais acentuada para essa população - fato comprovado mediante estudo
desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
O Relatório do Desenvolvimento Humano - 2005 apresenta a disparidade de acesso da
população negra a serviços tais como saúde, educação, moradia, saneamento, espaço de
moradia (segregação espacial), além de evidenciar a desigualdade no mercado de trabalho.

15
O Relatório de Desenvolvimento Humano 2005 foi elaborado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações
Unidas, tendo como foco a discussão da relação entre os temas racismo, pobreza e violência. O mesmo está
disponível no site www.pnud.org.br.
16
Segundo Oficina de Idéias et al (1994, p.112), a violência estrutural envolve a miséria, a escravidão, o
desemprego, a má distribuição de renda, a falta de acesso à escola/educação, à habitação, aos serviços de
saneamento básico, ao lazer, etc. Ou seja, é a falta de acesso a bens e serviços, ausência de direitos, de cidadania.
Tudo isso gera a violência e, conseqüentemente torna os negros mais vulneráveis que o
restante da população.
Diante desse contexto é de fundamental importância importante saber se as crianças e
os adolescentes que estão sendo vítimas da violência sexual, e também física, se inserem no
perfil dessa vulnerabilidade. Afinal, qual é a raça desses meninos e meninas? Somente assim
será possível apontar “...caminhos que tornem possível remover obstáculos ao
desenvolvimento humano...” (PNUD, 2005) através de políticas públicas que possuam o
caráter focalizado ou universalista (Relatório do Desenvolvimento Humano, 2005).

TABELA 7
Cor das vítimas de violência sexual – 2005
COR FREQÜÊNCIA %

Branco 10 3,90
Pardo 06 2,40
Preto 05 2,00
Sem informação 234 91,8
Total 255 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Ao buscar a identificação dos agressores, constatou-se que em 226 casos (Tabela 8)


essa informação mostrava-se disponível, totalizando 243 crianças com o violador identificado
(Tabela 9). Nos 226 casos identificaram-se 237 violadores, significando que, em alguns casos,
houve mais de um agressor. Entre estes, pode-se afirmar que o pai (18,14%), o padrasto ou a
madrasta (15,61%) e outros parentes (13,08%) apontam-se como os que mais cometeram
violência sexual contra o público estudado. Estes totalizam 46,83% do total de agressores.
Apesar de não se identificar separadamente o sexo do agressor, pesquisa realizada na cidade
de São Paulo, no período de fevereiro de 1988 a março de 1990, revela que, na maioria dos
casos de violência sexual, os violadores eram do sexo masculino: os padrastos e os pais
biológicos (AZEDEDO e GUERRA, 1995). Isso significa que, mais de 10 anos depois, o
panorama de Belo Horizonte se compara ao de São Paulo, não sofrendo grandes alterações.

62
TABELA 8
Número de casos que tiveram o agressor identificado – 2005
IDENTIFICAÇÃO FREQÜÊNCIA %

Sim 226 95,36


Não 11 4,64
Total 237 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

TABELA 9
Número de vítimas que tiveram o agressor identificado – 2005
IDENTIFICAÇÃO FREQÜÊNCIA %

Sim 243 95,29


Não 12 4,71
Total 255 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

TABELA 10
Perfil dos agressores nos casos de violência sexual – 2005
VIOLADOR FREQÜÊNCIA %

Pai 43 18,14
Padrasto ou madrasta 37 15,61
Parente 31 13,08
Adolescente ou criança 21 8,86
Vizinho 08 3,38
Mãe 04 1,69
O próprio 03 1,27
Namorado (a) 03 1,27
Polícia 01 0,42
Cunhado 01 0,42
Outros 85 35,86
Total 237 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Quanto aos procedimentos tomados pelos conselheiros a partir do momento em que


ocorreu a denúncia, pode-se iniciar apresentando o que usualmente consta como uma das
primeiras providências adotadas por eles. Assim, quando um caso é denunciado ao Conselho
Tutelar, as partes envolvidas (crianças, adolescentes, pais, agressores, programas de
socialização, posto de saúde, escola, etc.), podem receber um documento chamado
“notificação”. Esta se utiliza para convidar pessoas envolvidas no caso, ou que possuam
alguma ligação com a vítima, para esclarecimentos a respeito do ocorrido, bem como para
tomada de decisões em relação ao caso. Dos 237 casos de violência sexual, 155 tiveram a
expedição de notificação para algum dos envolvidos (Tabela 11). No total expediram-se 185
notificações, e em alguns casos, foi expedida mais de uma, com destino à mesma pessoa17 ou
a outros envolvidos no caso. Essas 185 notificações foram encaminhadas, principalmente, aos
pais ou responsáveis, com um percentual de 72,02%. As demais, com percentuais abaixo de
11% (Tabela 12), foram encaminhadas ao violador, à vítima, parente, padrasto/madrasta,
escola ou outros não identificados, conforme se vê na tabela seguinte.
Diante disso, pode-se identificar a necessidade da presença dos pais ou responsáveis
para maiores esclarecimentos ou, até mesmo, para informar sobre a situação ocorrida. Isto se
dá pelo fato de que, na maioria das vezes, as denúncias partem de familiares ou vizinhos, que
embora não envolvidos no caso, revelam o ocorrido pessoalmente ou, com mais freqüência,
por ligações telefônicas anônimas (PITTA e SOUZA, 2005). Em Belo Horizonte, existe o
Disque Direitos Humanos que faz muito bem o papel de recebimento de denúncias anônimas,
diretamente encaminhadas aos Conselhos Tutelares. Já nos Conselhos Tutelares, conforme
informação dos conselheiros, não é possível realizar denúncias anônimas via telefone. Eles
solicitam a presença da pessoa no local para registrarem o fato.

17
As pessoas envolvidas com a vítima podem receber mais de uma notificação quando os conselheiros julgarem
necessária a sua presença no Conselho Tutelar, para mais esclarecimentos, ou no caso de não terem comparecido
após o envio de outra notificação.
64
TABELA 11
Número de casos que receberam notificações – 2005
NOTIFICAÇÕES FREQÜÊNCIA %

Sim 155 65,40


Não 82 34,60
Total 237 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

TABELA 12
Identificação das pessoas que receberam notificação – 2005
NOTIFICAÇÕES FREQÜÊNCIA %

Pai/mãe ou responsáveis 133 71,89


Violador 20 10,81
Vítima 15 8,11
Parente 10 5,41
Padrasto ou madrasta 01 0,54
Escola 01 0,54
Outros 05 2,70
Total 185 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Outro documento muito utilizado pelos conselheiros é o chamado “termo”, que


apresenta as seguintes modalidades:
• advertência (quando pais ou responsáveis são chamados à responsabilidade);
• declaração (no qual há a declaração de consciência da situação pelos pais ou
responsáveis);
• entrega e responsabilidade (no qual pais ou responsáveis assumem ter recebido a
criança e que vão primar pela garantira de seus direitos); e
• orientação ou aconselhamento.

Pelas informações coletadas, os termos não constituem instrumento corriqueiramente


utilizado pelos conselheiros, haja vista o número identificado. Em todos os casos registrados
(237), foram emitidos somente 62 termos, dos quais, quase metade (45,16%) são termos de
declaração, utilizados para registrar o conhecimento dos pais, no que se refere ao fato
ocorrido (Tabela 13).
TABELA 13
Número de casos que receberam termos – 2005
TERMOS FREQÜÊNCIA %

Declaração 28 45,16
Advertência 21 33,87
Entrega e responsabilidade 10 16,13
Orientação ou aconselhamento 03 4,84
Total 62 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

A visita ao local onde reside a vítima, ou onde ocorreu a violação, também é um


procedimento que faz parte da rotina dos conselheiros. A visita não se dá em todos os casos,
mas somente quando os conselheiros acreditam ser imprescindível, ou seja, em casos graves
ou urgentes. Por isso, em apenas 12 casos ocorreu a visita dos conselheiros (Tabela 15),
totalizando 14 crianças ou adolescentes visitados (Tabela 14).

TABELA 14
Vítimas que receberam visita dos conselheiros – 2005

VISITA FREQÜÊNCIA %
Sim 14 5,49
Não 241 94,51
Total 255 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

TABELA 15
Casos que receberam visita dos conselheiros – 2005
VISITA FREQÜÊNCIA %

Sim 12 5,06
Não 225 94,94
Total 237 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Os encaminhamentos realizados pelos conselheiros funcionam como busca pela


garantia do direito violado, como medidas de proteção, e podem se destinar a todos os
envolvidos no caso, incluindo irmãos, pais, responsáveis, etc. As políticas foram definidas
respeitando as próprias organizações municipal, estadual e federal, bem como o
reconhecimento das ONGs em Conselhos. Desta forma, nos casos de violência sexual as três
políticas que receberam o maior número de encaminhamentos foram as de Direitos Humanos,
70 casos; Saúde, 57 casos; e Segurança, 51 casos (Tabela 1618). Estas três totalizaram 63,57%
dos casos com encaminhamentos, demonstrando que são as mais utilizadas nos casos de
violência sexual. A Assistência Social posiciona-se na quinta colocação, no que se refere ao
número de casos encaminhados pelos conselheiros. Isso demonstra que os programas e
projetos existentes na política de Assistência Social são importantes para o cumprimento da
proposta de proteção e garantia dos direitos de meninos e meninas vitimizados, e para suas
famílias, apesar de não constituírem atividades específicas de atendimento a essas vítimas, tal
como ocorre com a Política de Direitos Humanos.
A presença da Política de Direitos Humanos, no topo da tabela de encaminhamentos,
associa-se ao fato de seus projetos e programas serem específicos no atendimento do público
que sofre violência sexual, como no caso do Programa Sentinela, que atende meninos e
meninas vitimados; e do Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência, que trabalha com
vítimas de todos os tipos de violência. Além de possuir um atendimento específico, o primeiro
encontra-se em todas as regionais, o que facilita o encaminhamento e, até mesmo, o acesso
dos encaminhados. Já o segundo possui uma localização que facilita o deslocamento das
pessoas, encontrando-se no centro da cidade.
Em se tratando da política de Saúde, os encaminhamentos também ocorrem
direcionados ao atendimento às vítimas e seus familiares, no sentido de socorrê-los. Quando
se trata das vítimas, os encaminhamentos ocorrem, principalmente, para postos de saúde,
hospitais, UPAs e clínicas, em busca de atendimento médico ou psicológico. Já seus
familiares, geralmente, se encaminham para atendimentos psicológicos, centros de
tratamentos de toxicomania, CMT (Centro Mineiro de Toxicomania), AA (Alcoólicos
Anônimos) e SOS Drogas.

18
É importante salientar que o número total dessa tabela não se refere ao número total de casos. Nela, buscou-se
identificar a presença ou não do encaminhamento em cada caso. Por isso, alguns casos foram contabilizados
mais de uma vez e outros, nos quais não houve encaminhamento, não apareceram na tabela.
67
TABELA 16
Tipificação dos encaminhamentos realizados pelos conselheiros tutelares– 2005
ENCAMINHAMENTOS FREQÜÊNCIA %
Direito Humanos 70 25,18
Saúde 57 20,50
Segurança 51 18,35
Educação 40 14,39
Assistência Social 35 12,59
Justiça 23 8,27
Esporte 01 0,36
Outros encaminhamentos 01 0,36
Habitação 00 -
Total 278 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

A importância em esclarecer o perfil dos atores envolvidos no fenômeno da violência


sexual é inquestionável, por isso foi levantada e percebidas suas peculiaridades, e
constatando-se, a não-alteração desse perfil. Mais importante ainda, é saber o que se vem
fazendo quanto aos casos, principalmente no que tange aos encaminhamentos e
acompanhamentos, uma vez que as seqüelas deixadas nas vítimas podem se tornar
irreversíveis.
A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência
(2002) indica que crianças e adolescentes violentados sexualmente padecem de uma série de
males, quais sejam: sentimento de culpa; depressão; tendência ao suicídio; sentimento de ser
suja, má, e de pouco valor; desconfiança das pessoas; medo de ser violentada novamente;
somatizações; e dificuldade de relacionamento na vida adulta, podendo influenciar no
trabalho e na vida sexual. Além das conseqüências geradas na vítima, a Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (2002) afirma que o abuso sexual
gera, ainda, conseqüências para a sociedade, no momento em que não há punição adequada
para os abusadores, e eles ficam soltos; proliferação de sites de pedofilia; banalização do
sexo; e erotização de crianças. Tudo isso gera uma cadeia que incentiva e alimenta o abuso
sexual contra crianças e adolescentes.
5.3 Violência física

Quando se trata da violência física nas regionais, nota-se forte concentração espacial
das ocorrências. Observe-se que a regional Noroeste, com 148 casos, Norte, com 134, Leste,
com 124, e Oeste, com 117, concentram mais da metade dos casos registrados (60,96%). Por
outro lado, as demais regionais apresentam menos de 10% de casos registrados, não havendo
variação considerável entre elas (Tabela 17).

TABELA 17
Casos de violência física registrados nos Conselhos Tutelares de Belo Horizonte - 2005
REGIONAL FREQÜÊNCIA %

Noroeste 148 17,25


Norte 134 15,62
Leste 124 14,45
Oeste 117 13,64
Centro-sul 79 9,21
Barreiro 72 8,39
Venda Nova 68 7,93
Pampulha 64 7,46
Nordeste 52 6,06
Total 858 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Quando se trabalha com o número de crianças que sofreram violência física, tem-se
uma distribuição espacial muito semelhante àquela encontrada no número de ocorrências.
Note-se que o maior número de crianças e adolescentes vítimas de agressões físicas
encontram-se nas regionais Noroeste, Oeste, Norte e Leste. Essas quatro regionais, apesar de
se apresentarem em seqüência diferenciada em relação à Tabela 17, continuam concentrando
mais da metade das ocorrências (60,4%), ou seja, 645 crianças e/ou adolescentes vítimas de
violência física (Tabela 18).

69
TABELA 18
Vítimas de violência física nas regionais administrativas de Belo Horizonte - 2005
REGIONAL FREQÜÊNCIA %

Noroeste 171 16,0


Oeste 164 15,4
Norte 157 14,7
Leste 153 14,3
Centro-sul 100 9,4
Pampulha 86 8,1
Barreiro 82 7,7
Venda Nova 82 7,6
Nordeste 73 6,8
Total 1.068 100,0
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Em relação à dimensão tempo, nota-se certa sazonalidade na ocorrência de agressões


físicas contra crianças e adolescentes (Gráfico 2). É possível identificar que o período de maio
a setembro é aquele no qual se concentra boa parte das ocorrências, ao passo que, nos demais
meses, o número de violações é consideravelmente menor. Além disso, os mesmos meses
também concentram o maior número de crianças e adolescentes vitimizados. A princípio não
há explicação para esse fenômeno. É necessária uma pesquisa específica e aprofundada sobre
o movimento.

Distribuição da Violência Fìsica nos meses do ano de


2005

140
120
Freqüência

100 Número de casos


80
60 Número de
40 crianças
20
0
N R
MA
I L T V SI
JA MA JU SE NO
Meses

GRÁFICO 2: Distribuição da Violência Física nos meses do ano de 2005


Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.
Ao contrário da violência sexual, a violência física não é característica de
determinado sexo. Nos casos registrados, pode-se perceber um equilíbrio na
distribuição, uma vez que se identificaram 513 vítimas do sexo feminino e 543 do
sexo masculino (Tabela 19). Com base na literatura de Azevedo e Guerra (1995) é
possível inferir que, em estudos anteriores, as vítimas pertenciam a ambos os sexos,
mas com predominância feminina, ao contrário do que ocorreu nesse estudo. Segundo
as autoras, a violência física ocorre, geralmente, com meninas, principalmente quando
estão na fase da adolescência. Isso acontece pelo de os pais desejarem reprimir ou
retardar a descoberta da sexualidade das meninas, por meio da força.

TABELA 19
Sexo das vítimas de violência física - 2005
SEXO FREQÜÊNCIA %

Feminino 513 48,03


Masculino 543 50,84
Sem Informação 12 1,12
Total 1068 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Tal como acontece na violência sexual, o fenômeno da violência física se concentra na


faixa etária de sete a 14 anos. Desta forma, pode-se ressaltar o fato da fragilidade de meninos
e meninas que se encontram nessa faixa etária, seguidos dos que se incluem na faixa entre
zero e seis anos.
Em duas pesquisas realizadas em São Paulo e apresentadas por Azevedo e Guerra
(1995), a faixa etária coincide com a apresentada atualmente. A primeira, datada do ano 1981,
revela que, dos 415 casos de violência física encontrados, a maior parte registrava vítimas
entre sete e 13 anos. Já na segunda, realizada sete anos depois, foram identificados 1.072
casos de violência física e, em sua maioria, as vítimas contavam entre sete e 12 anos de idade.

71
TABELA 20
Idade das vítimas de violência física – 2005
IDADE FREQÜÊNCIA %

0–6 350 32,77


7 – 14 570 53,37
15 – 18 108 10,11
Sem Informação 40 3,75
Total 1068 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Também nos casos de violência física, a característica “cor” foi a mais difícil de se
identificar. Os conselheiros encontram dificuldade em coletar essa informação, ao atenderem
as pessoas, principalmente quando a criança/adolescente não se vê acompanhada dos pais ou
responsáveis. Ainda assim, foi possível identificar a cor de 1.068 vítimas de violência física,
das quais: 58 são brancas, 46 pardas e 16 negras (Tabela 21). Isso significa que 948 crianças e
adolescentes que sofreram violência não tiveram essa informação identificada, impedindo,
assim, a categorização da cor das vítimas e sua análise.

TABELA 21
Cor das vítimas de violência física - 2005
COR FREQÜÊNCIA %

Branco 58 5,43
Pardo 46 4,31
Preto 16 1,50
Sem Informação 948 88,76
Total 1068 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Nos 858 casos registrados nos Conselhos, identificou-se o agressor em 852,


totalizando 888 vitimizadores. Isso significa que, tal como ocorreu na violência sexual, houve
mais de um agressor em algumas ocorrências.
Dos agressores identificados, a mãe é a que aparece com maior freqüência (42,34%),
concentrando quase metade do percentual de casos (Tabela 24). Essa informação pode ser
corroborada pelos dados coletados no município de São Paulo, onde se constatou que em 50%

72
dos casos “...os pais biológicos eram os agressores, havendo um ligeiro predomínio de mães”
(AZEVEDO e GUERRA, 1995).
Outra característica desse tipo de violência é a predominância dos agressores no
núcleo familiar. Ao somar os percentuais dos três primeiros (mãe, pai e padrasto/madrasta),
obtêm-se 73,76% (Tabela 24), demonstrando a predominância dessa violência dentro da
própria família, configurando-se a chamada violência doméstica. Azevedo e Guerra (1995)
também revelam que as estatísticas internacionais dão conta de que, em 70% dos casos, os
agressores são os pais biológicos. Contraditoriamente, o espaço onde deveria ocorrer a
proteção física e emocional acaba sendo o primeiro a apresentar ocorrências de transgressão
dos direitos.
Com a identificação deste perfil, é possível concluir que crianças e adolescentes
continuam submetidos à violação de seus direitos dentro do próprio lar, com pretexto de
aplicação de educação e disciplina. Esse fenômeno da violência doméstica, segundo Pitta e
Souza (2005), é praticado por pais, parentes ou responsáveis e causa danos físicos, sexuais e
ou psicológicos, significando a coisificação da infância e a negação dos direitos de meninos e
meninas, no que tange à sua condição de sujeito em desenvolvimento.

TABELA 22
Número de casos que tiveram o agressor identificado – 2005
IDENTIFICAÇÃO FREQÜÊNCIA %

Sim 852 99,30


Não 06 0,70
Total 858 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005

TABELA 23
Número de vítimas que tiveram o agressor identificado – 2005
IDENTIFICAÇÃO FREQÜÊNCIA %

Sim 1053 98,60


Não 15 1,40
Total 1068 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

73
TABELA 24
Perfil dos agressores nos casos de violência física – 2005
VIOLADOR FREQÜÊNCIA %

Mãe 376 42,34


Pai 200 22,52
Padrasto e/ou madrasta 79 8,90
Parente 65 7,32
Pais 57 6,42
Adolescente ou criança 38 4,28
Escola 22 2,48
Vizinho(a) 06 0,68
Polícia 05 0,56
Entidade de atendimento 03 0,34
Responsável 02 0,23
O próprio 01 0,11
Namorado(a) 01 0,11
Outros 33 3,72
Total 888 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Quanto ao primeiro passo geralmente dado pelos conselheiros (notificação), os


números não se assemelham aos observados nos casos de violência sexual; no entanto, nos
casos de violência física a proporção de notificações foi maior (76,92%). As diferenças
continuam quando se observam os destinatários de tais notificações. Na Tabela 26, referente
às pessoas que receberam alguma notificação, é possível vislumbrar que os violadores foram
os mais notificados, ao passo que, nos casos de violência sexual, os mais notificados foram os
pais ou responsáveis. Isso ocorre pelo fato de os violadores dos casos de agressão física serem
os próprios pais, principalmente as mães, tal como foi visto acima.

TABELA 25
Número de casos que receberam notificações – 2005
NOTIFICAÇÕES FREQÜÊNCIA %

Sim 660 76,92


Não 198 23,08
Total 858 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.
TABELA 26
Identificação das pessoas que receberam notificação – 2005
NOTIFICAÇÕES FREQÜÊNCIA %

Violador 493 63,04


Pai/mãe ou responsável 213 27,24
Vítima 38 4,86
Parente 15 1,92
Escola 05 0,64
Padrasto ou madrasta 03 0,38
Outros 15 1,92
Total 782 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Das 858 ocorrências registradas nos Conselhos Tutelares de violência física contra
meninos e meninas, somente 252 receberam um tipo de carta chamada “termo”. Dentro dessas
ocorrências pode-se identificar um total de 300 termos entregues pelos conselheiros a pais ou
responsáveis pela vítima, sendo que os mais significativos foram, com 49%, os termos de
advertência” e, com 34,67%, os termos de declaração.

TABELA 27
Identificação das pessoas que receberam algum tipo de termo – 2005
TERMO FREQÜÊNCIA %

Advertência 147 49,00


Declaração 104 34,67
Entrega e responsabilidade 36 12,00
Orientação ou aconselhamento 13 4,33
Total 300 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Quando se trata de visitas domiciliares nos casos de violência física, constatou-se que
63 crianças receberam visita dos conselheiros tutelares, e essas crianças encontram-se
distribuídas em 46 casos (Tabela 28).

75
TABELA 28
Vítimas que receberam visita dos conselheiros – 2005
VISITA FREQÜÊNCIA %

Sim 63 5,90
Não 1005 94,10
Total 1068 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

TABELA 29
Casos que receberam visita dos conselheiros – 2005
VISITA FREQÜÊNCIA %

Sim 46 5,36
Não 812 94,64
Total 858 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

Quanto aos encaminhamentos realizados, foram mantidos os critérios de


caracterização de programas e projetos, de acordo com a política às quais pertencem, ou de
acordo com o registro em algum Conselho, tal como o Conselho Municipal de Assistência
Social.
Nos registros dos nove Conselhos foram identificados 503 casos com algum tipo de
encaminhamento, beneficiando 665 vítimas. Ao contrário do que ocorreu com os
encaminhamentos realizados nos casos de violência sexual, as políticas que receberam maior
número de encaminhamentos foram a da Assistência Social, 119 casos, Educação, 118 casos,
e Saúde, 118 casos, que totalizaram 70,58%.
Nos casos de violência física, os conselheiros tutelares atendem famílias, na sua
maioria, de baixo poder aquisitivo (POMPEI, 2005), as quais carregam um histórico da
violência estrutural19 que atinge sua totalidade, colocando-as em situação de vulnerabilidade.
Além disso, os pais sofrem pressões e agressões do meio onde se encontram, gerando
desequilíbrio emocional ou mental, embriaguez e estresse, que são descontados nos filhos.
Por esse motivo, essas famílias que chegaram até os Conselhos são encaminhadas para

19
Segundo Oficina de Idéias et al (1994, p.112), a violência estrutural envolve a miséria, a escravidão, o
desemprego, a má distribuição de renda, a falta de acesso à escola/educação, à habitação, aos serviços de
saneamento básico, ao lazer, etc. Ou seja, a falta de acesso a bens e serviços, ausência de direitos, de cidadania.
programas tais como o SOSF20 – Serviço de Orientação Sócio Familiar (para onde foram
encaminhados 66 casos) e a AMAS – Associação Municipal de Assistência Social (com 30
casos), que realizam um trabalho com toda a família, encontrando seus pontos de
vulnerabilidade e realizando outros encaminhamentos, quando necessário.
Outro encaminhamento proposto com freqüência pelos conselheiros vai para o Plantão
Social, previsto na política de Assistência Social, no qual são atendidas necessidades básicas
para a sobrevivência da família, como a disponibilização de cesta básica, uma carência ligada
à má distribuição de renda e à falta de emprego.
A política de Educação aparece em segundo lugar, devido à necessidade de verificação
da freqüência das vítimas à escola, pois a presença de crianças dentro de casa pode facilitar a
ocorrência de agressões. Já na política de Saúde, o número mais expressivo de
encaminhamentos ocorreu para os postos de saúde (69,06%), beneficiando tanto vítimas
quanto familiares, sobretudo em relação ao atendimento psicológico. Os demais
encaminhamentos foram para a Clínica CRIS (5,04%), para atendimento psicológico, CMT –
Centro Mineiro de Toxicomania (4,32%) e AA – Alcoólicos Anônimos (3.60%), que
receberam os familiares das vítimas para tratamento do vício da bebida, entre outros.

TABELA 30
Tipificação dos encaminhamentos realizados pelos conselheiros tutelares– 2005
ENCAMINHAMENTOS FREQÜÊNCIA %
Assistência Social 119 23,66
Educação 118 23,46
Saúde 118 23,46
Justiça 74 14,71
Segurança 59 11,73
Direitos Humanos 11 2,19
Esporte 02 0,40
Habitação 02 0,40
Total 503 100,00
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte, 2005.

20
“O SOSF atende famílias com medida de proteção aplicada na reorganização da dinâmica familiar em busca
do resgate dos direitos das crianças, através de atividades de orientação, apoio e proteção sociofamiliar, definidas
a partir de um plano de intervenção construído com as próprias famílias.” (Prefeitura de Belo Horizonte, 2007)
77
5. 4 Apreciação

Os resultados expostos mostraram como se caracterizam dois tipos de violência: física


e sexual. A partir delas, foi possível identificar que existe uma diferenciação no que tange ao
perfil de vítimas, de violadores, e do trabalho desenvolvido pelos conselheiros. Cada qual
demonstrou particularidades que contribuirão para definir a elaboração e distribuição de
programas e projetos de atendimentos dentro da capital; cada uma delas possui necessidades
diferentes, apesar de suas causas e conseqüências se cruzarem em muitos momentos. Além
disso, ficou evidente que os anos passam, mas o cenário da falta de proteção à infância e à
adolescência continua incompleto e restrito. Diante disso, é necessário aproveitar tais
informações e elaborar políticas que contemplem as demandas apresentadas e diminuam o
sofrimento dessas vítimas.

78
CAPÍTULO VI - ANÁLISE ESPACIAL DA VIOLÊNCIA CONTRA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

6.1 Introdução

A análise cartográfica é elemento essencial no processo de construção deste trabalho;


por isso, o presente capítulo foi elaborado para desenvolver essa análise utilizando as
informações coletadas ao longo do processo de trabalho de campo. Desta forma, apresentar-
se-ão os mapeamentos das violências física e sexual ocorridas dentro do território de Belo
Horizonte, no ano de 2005, a partir dos dados coletados nos Conselhos Tutelares das nove
regionais, bem como a rede que atende essas vítimas, seus violadores e demais familiares.

6.2 Distribuição espacial da violência contra crianças e adolescentes

A partir da análise dos mapas sobre o fenômeno da Geografia da Violência contra


crianças e adolescentes, identificou-se a inexistência de padrão de concentração, tanto na
distribuição do total dos casos encontrados quanto na distribuição isolada dos casos de
violência física e sexual.
No mapa da distribuição das violências física e sexual contra crianças e adolescentes
(Figura 1 - Mapa 4), buscou-se localizar a distribuição da totalidade do fenômeno dos dois
tipos de violência. Por isso, identificou-se que os locais com maior número de ocorrências
registradas foram os bairros Serra (mais de 23 casos) e Nova Granada (de 20 a 23 casos).
Com menor concentração, mas considerável número de ocorrências, aparecem os
bairros Céu Azul, Floramar, Tupi, Santa Terezinha, Ouro Preto, Glória, São José,
Inconfidência, Caiçaras, Aparecida, Floresta, Santa Efigênia, Boa Vista, Taquaril, Jardim
América, Santa Lúcia, Betânia, Milionários, que apresentaram um total entre 12 e 19 casos
registrados.
Quando se busca identificar a proximidade dos locais onde há registro de casos de
violência com áreas de vilas e favelas, percebe-se que, apesar de não constituir padrão, existe
alta correlação entre a intensidade dos casos registrados e a vizinhança com essas áreas. Isso

79
pode se comprovar com o Bairro da Serra, onde se encontra o Aglomerado da Serra (Centro-
sul); no Bairro Nova Granada, onde se localiza o Morro das Pedras (Oeste); e no Bairro
Jardim América, onde existe a Ventosa (Oeste). Segundo observações de alguns conselheiros
tutelares, os moradores não afirmam pertencer à vila ou favela, mas ao bairro limítrofe,
urbanizado, estruturado, o que pode explicar a concentração de ocorrências destinadas a esses
bairros vizinhos.
O Conselho, para cumprir todas as suas atribuições, terá sua área de atuação bem
definida, podendo ser um município, um bairro ou uma região, variando de acordo com o
número de conselhos existentes na cidade e sendo determinado em seu regimento interno. A
lei municipal21 definirá a localização e a quantidade de Conselhos existentes no município,
que deverá possuir o mínimo de um Conselho. Essas orientações não definem a localização,
pensando na centralidade, acessibilidade (vias de acesso e linhas de ônibus) desses locais; não
se sabe se há preocupação dos planejadores quanto a essa localização de cada Conselho
Tutelar dentro do município, podendo ser este um fator determinante para a realização das
denúncias. É perceptível que não há, atualmente, centralidade geográfica dos Conselhos
Tutelares (Figura 1 - Mapa 1), quando se trata da localização deles mesmos dentro das
regionais administrativas.
Outra característica perceptível sobre a Geografia da Violência que atinge a população
infanto-juvenil, refere-se à proximidade dos Conselhos em relação às áreas onde houve um
número considerável de registros de casos de violência. É visível que, com exceção do
Conselho Tutelar da regional Pampulha, os Conselhos estão, consideravelmente, próximos às
áreas onde o número de casos foi alto. Entretanto, quando se desenvolve uma análise
particular para cada tipo de violência, é possível perceber que essa análise sofrerá
modificações, como se verá.
Ao comparar os dois fenômenos, violência física e sexual (Figura 1 – Mapas 2 e 3), é
possível inferir que não há um padrão de distribuição definido, uma vez que os casos estão
pulverizados no território da cidade de Belo Horizonte e que os bairros de maior concentração
não são semelhantes, com exceção do Bairro da Serra. Entretanto é possível visualizar a
presença de um número muito maior de bairros onde não houve ocorrência de casos de
violência sexual (176) do que de casos de violência física (94), permitindo corroborar a

21
No Município de Belo Horizonte, a lei que define a organização e fundação do Conselho Municipal de
Direitos da Criança e do Adolescente e dos Conselhos Tutelares é a Lei 5.969, de 30 de setembro de 1991, que
trata da Política Municipal de atendimento aos Direitos de Crianças e Adolescentes. Em seu conteúdo, que
haverá um Conselho Tutelar em cada Administração Regional do município e que a área de abrangência dos
Conselheiros será a região onde se localiza o CT.
80
afirmação de autores como Azevedo e Guerra (1995) que acreditam na existência de um
complô do silêncio, muito difícil de se romper considerando que esse fenômeno envolve
medo, culpa e vergonha, principalmente com relação aos casos de violência sexual.
Na modalidade violência física (Figura 1 – Mapa 2) é possível perceber que eles se
encontram presentes em quase todo o território do município, por serem esses casos mais
facilmente denunciados do que os de violência sexual.
Nesses casos, constatou-se um número maior de ocorrências, primeiramente, no Bairro
da Serra (mais de 20 casos) e, em segundo lugar, no bairro Nova Granada (entre 16 e 20
casos). Em 31 bairros houve o registro de seis a 10 casos, mas na maior parte dos bairros
(148) o número de ocorrências alterou entre um e cinco casos registrados.
Tendo em vista o fato de que este tipo de violência é mais denunciado, a existência de
bairros com número significativo de denúncias, próximos aos Conselhos, é maior do que a
anterior. Desta forma, percebeu-se que isso ocorreu nas regionais Oeste, Centro-sul, Leste e
Norte, e que as sedes dos Conselhos acham-se cercadas de bairros com casos identificados.
Os casos de violência sexual (Figura 1 – Mapa 3) possuem uma geografia diferenciada
da anterior, pelo fato haver maior número de ocorrências nos bairros Serra e Jardim América,
que apresentaram entre sete e oito ocorrências. Em seguida, com um número de ocorrências
entre cinco e seis casos, aparecem os bairros Padre Eustáquio e Caiçara (Noroeste), Nova
Granada (Oeste), Taquaril (Leste) e Floramar (Norte). Não é possível afirmar que existe uma
padronização quanto à proximidade dos Conselhos e a realização das denúncias, pois, dos
nove Conselhos, apenas três (regionais Noroeste, Norte e Oeste) estão cercados de bairros que
tiveram um grande número de denúncias. Os bairros onde há maior incidência de casos e que
se encontram próximos aos Conselhos Tutelares são: Jardim América, Nova Granada, Padre
Eustáquio, Caiçara e Floramar. Já os bairros Serra e Taquaril registram um número
considerável de ocorrências, mas não estão próximos a nenhum Conselho Tutelar.
Mesmo assim, acredita-se que a presença dos Conselhos em locais de fácil acesso,
com várias linhas de ônibus, pode ajudar as pessoas a denunciarem os casos que acontecem
nos bairros mais distantes.

81
Figura 1: Mapas da localização dos casos de violência física e sexual registrados nos bairros de Belo Horizonte
em 2005.
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – SMMATI/GEIT.
82
A coleta das informações sobre o número de casos de violência física e sexual contra
crianças e adolescentes, existente em cada bairro, possibilitam calcular a taxa de
vulnerabilidade das crianças de cada Unidade de Planejamento - UP, no que tange à
probabilidade de serem vítimas desses tipos de violência. Assim foi possível identificar que
a distribuição da vulnerabilidade apresenta geografias diferenciadas.
O mapa das taxas de violência física e sexual contra crianças e adolescentes (Figura
2), revela a predominância das taxas intermediárias, que se encontra presente em 54 UPs.
Nas demais, também não houve predominância das altas taxas de risco. Apesar dessa
predominância não, é possível afirmar a existência de um padrão de distribuição das taxas.
No mapa referente à violência física (Figura 3) verificaram-se algumas semelhanças
com a distribuição apresentada pelo mapa da Figura 2. Isso ocorre devido ao número de
casos de violência física, que é muito mais expressivo, quando comparado ao de violência
sexual. O fenômeno da violência física se encontra distribuído de forma heterogênea, com
pequena formação de aglomerados de UPs, tal como ocorre com a regional Barreiro, que
apresenta sua parte norte com um nível secundário de risco e a parte inferior com uma das
menores taxas de risco. Tem-se também uma área homogênea na parte centro-oeste do
município, a qual apresentou altas taxas de risco. As Unidades de Planejamento onde
ocorreram as maiores taxas foram Abílio Machado, Ouro Preto, Concórdia, Floresta/Santa
Tereza, São Bento/Santa Lúcia e Serra.
Já no mapa referente à taxa de risco dos casos de violência sexual (Figura 4), tem-se
outra distribuição. Nessa situação é possível visualizar que as taxas se distribuíram
homogeneamente na porção norte, centro-oeste e sul do município, com o agrupamento de
várias Unidades de Planejamento. As duas primeiras são identificadas como áreas com altas
chances de ocorrência de violência sexual contra meninos e meninas. Já a porção sul do
município identificou-se como um espaço de baixa taxa de risco de violência sexual contra
o público estudado. Entretanto, apenas duas Unidades de Planejamento apresentaram as
maiores taxas, Baleia e Serra, ambas localizadas na porção Leste do município.

83
Figura 2: Taxa da violência física e sexual contra crianças e adolescentes por Unidade de Planejamento em Belo
Horizonte – 2005.
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – SMMATI/GEIT – IBGE/Censo 2000.

84
Figura 3: Taxa da violência física contra crianças e adolescentes por Unidade de Planejamento em Belo
Horizonte – 2005.
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – SMMATI/GEIT – IBGE/Censo 2000.
Figura 4: Taxa da violência sexual contra crianças e adolescentes por Unidade de Planejamento em Belo
Horizonte – 2005.
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – SMMATI/GEIT – IBGE/Censo 2000.

86
6.3 Distribuição da rede de proteção à infância e à adolescência

No que tange à rede de proteção a crianças e adolescentes (vítimas de violência), foi


possível visualizar que existe uma diferença quanto aos equipamentos utilizados no ano de
2005 pelos conselheiros tutelares e aqueles identificados como pertencentes à rede pela
AMAS e pelo CAVIV, também em 2005. É possível visualizar que alguns equipamentos
utilizados pelos conselheiros não foram identificados pelos órgãos que realizaram o
levantamento da rede, e que muitos equipamentos reconhecidos como pertencentes à rede não
foram utilizados em nenhum momento pelos conselheiros tutelares, tal como se visualiza nos
mapas apresentados abaixo.
Os primeiros mapas (Figura 5) referem-se à rede identificada pela AMAS e pelo
CAVIV e a primeira diferença que surgiu entre a rede utilizada e a oficial diz respeito ao
número de equipamentos. Na rede utilizada pelos Conselheiros em 2005, foram identificados
56 tipos diferentes de serviços, alguns inexistentes na rede encontrada nos catálogos da
AMAS e do CAVIV. Já na rede oficial foram identificados 144 equipamentos, serviços,
programas e projetos. Isso significa que nem todos os equipamentos existentes são utilizados
pelos Conselhos e que eles conheceram e consideraram alguns equipamentos (entidades,
programas, projetos) como pertencentes à rede, os quais não foram encontrados nos catálogos
da AMAS e do CAVIV.
Apesar de a Política de Assistência Social apresentar um número maior de serviços e
equipamentos na rede oficial, não se observa aumento da área de cobertura. Há um aumento
de concentração nas áreas centrais e um esvaziamento das áreas periféricas, demonstrando
que o aumento não se vê diretamente relacionado à descentralização. Pode-se inferir também
que o fato de a rede utilizada pelos Conselheiros se encontrar mais descentralizada demonstra
ser a rede local mais reconhecida e utilizada por eles do que por aqueles que buscaram
oficializar a rede de equipamentos existentes.
As categorias de análise “defesa e responsabilização” e “inserção do jovem no
mercado de trabalho” apresentaram um número maior de encaminhamentos e maior
descentralização, demonstrando haver mais equipamentos do que aqueles utilizados pelos
conselheiros.
Já a Política de Saúde só apareceu com maior número e mais descentralizada pelo fato
de não ter sido possível identificar os postos utilizados pelos conselheiros em seus
encaminhamentos.
A política de Educação demonstrou que não há um reconhecimento de seus serviços
como parte da rede de proteção à infância e à adolescência, ao contrário do que se presenciou
no levantamento realizado nos Conselhos Tutelares.

88
Figura 5: Rede de proteção à infância e adolescência identificada pela AMAS e pelo CAVIV – 2005.
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – SMMATI/GEIT.
Quanto à rede utilizada pelos conselheiros (Figura 6), quando se busca identificar a
distribuição da totalidade dos equipamentos utilizados, percebe-se que estes se apresentam
concentrados na região central, principalmente nos Bairros Centro, Santa Efigênia, Floresta,
Barro Preto e Carlos Prates. Os demais serviços encontram-se timidamente pulverizados no
restante do território do município.
Quando realizada a divisão por categorias de atuação, fica mais visível a desigualdade
espacial no que se refere à distribuição de serviços e equipamentos dentro da área estudada.
Percebe-se que a Assistência Social configura a Política Social mais descentralizada dentro do
município de Belo Horizonte. Mesmo assim, ainda ocorre uma concentração significativa de
serviços da Assistência Social na região central do município, que se apresenta como
predominante, e na porção noroeste.
Os Conselhos Tutelares, também, podem se considerar equipamentos
descentralizados, mas, de acordo com o que se presenciou nos mapas de distribuição dos
casos registrados, é possível inferir que essa distribuição não se dá de acordo com a realidade
do espaço urbano em questão, por não permitir uma proximidade com todo universo
populacional.
As áreas da Educação e da Saúde22 demonstraram que seus equipamentos
encaminhados do Conselho Tutelar ainda se encontram bastante centralizados. Da mesma
forma ocorreu com o atendimento jurídico-psicossocial, com a defesa, e responsabilização e
inserção no mundo do trabalho que ainda não se organizaram de maneira a atender toda a
população, proporcionando maior acessibilidade.

22
Tanto as escolas quanto os postos de saúde são equipamentos já descentralizados. Ambos foram muito
utilizados pelos conselheiros, mas, devido ao fato de não haver identificação precisa de ambos, ficou definido
que seria viável mapear tais encaminhamentos.
90
Figura 6: Rede de proteção à infância e à adolescência utilizada pelos Conselhos Tutelares de Belo Horizonte –
2005.
Fonte: Conselhos Tutelares de Belo Horizonte – SMMATI/GEIT.
Dentro da perspectiva de análise das redes geográficas, considera-se rede qualquer tipo
de fluxo em que há conexidade. Desse modo, é possível considerar a distribuição dos
equipamentos de uma cidade, bem como seus bairros, como uma rede. Assim, os serviços
utilizados pelos Conselhos Tutelares e aqueles identificados como rede oficial permitem
inferir que há proximidade do seu desenho, fluxo e dinâmica, com as redes dendríticas da
teoria das localidades centrais, desenvolvida por Christaller. Tomando como referência tal
estudo, foi possível iniciar a análise a partir do fluxo dos equipamentos em relação aos bairros
e de sua hierarquia que se definiu utilizando como referência a concentração dos
equipamentos (serviços, projetos, programas) nesses espaços.
Assim, após analisar os fatores supracitados é possível afirmar que, na análise de
Christaller, realizada para as redes dendríticas, o centro de Belo Horizonte e seu entorno
imediato funcionariam como o espaço (cidade) primaz, o qual possui e centraliza funções
políticas e econômicas expressivas, ao ponto de concentrar serviços considerados de alta
complexidade, pois necessitam de infra-estrutura complexa e possuem alto alcance, fazendo
com que pessoas de outras regiões se desloquem para atender às suas necessidades.
Dentro dessa hierarquia, as regionais funcionariam como cidades locais possuindo
alguns serviços de alcance mínimo e, dificilmente, utilizados por pessoas de outras regiões.
Há por certo, exceções, tal como ocorre com serviços muito especializados, tradicionais, ou
pouco disseminados dentro do território do município, como é o caso dos benefícios prestados
pela AMAS, que possuem encaminhamento de todas as regionais.
Quanto à formação da rede, pode-se analisá-la utilizando as dimensões organizacional,
temporal ou espacial. Em se tratando da dimensão organizacional, a rede de proteção à
infância e à adolescência é diversificada e, por isso, possui as especificações de Estado,
Instituições e Grupos Sociais. Sua origem pode ser planejada, quando provém de um
estudo/pesquisa que incentivará sua criação, ou espontânea, considerando a demanda do
momento, e que seu fluxo é de pessoas e informações (garantia de direitos). A função pode se
considerar como de realização e de suporte, uma vez que há as duas execuções nos âmbitos
das atividades da rede, e sua finalidade refere-se à solidariedade. A existência da rede é real,
sua construção é material e constitui-se formalizada e hierarquizada.
Quanto à dimensão temporal, a duração da rede de proteção não pode se definir como
longa ou curta, pois dependerá do contexto de cada época, mas, em relação a alguns
equipamentos, ela pode ser considerada longa, como no caso das escolas e postos de saúde. A

92
velocidade do fluxo não se mantém de modo permanente, depende dos atores envolvidos no
processo; desse modo, ora ela pode ser lenta, hora instantânea.
Já na dimensão espacial a análise mostra-se mais restrita, pois a escala é regional, com
forma espacial dendrítica e conexão interna.
Assim, de acordo com a teoria de Christaller, a rede de proteção ao público infanto-
juvenil permite a analogia com as redes geográficas, apesar de representar uma realidade tão
nova e deferenciada daquela que norteou a construção da teoria em sua essência.

93
CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fenômeno chamado “violência” está, a cada dia, mais presente em nosso cotidiano.
Haja vista violências vivenciadas pela população infanto-juvenil, que podem variar de simples
negligências e agressões verbais até agressões físicas e sexuais, levadas, muitas vezes, a
conseqüências extremas.
É sabido que, anteriormente à criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, os atos
de violência que acometiam esse público não eram tão evidenciados e levados em
consideração, uma vez que, aos olhos da sociedade, muitos castigos, mesmo que abusivos,
eram vistos como necessários para a boa formação da criança e, principalmente, do
adolescente, que não deveria se enveredar na delinqüência.
Desta forma, somente após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente passou-
se a atentar para o abuso nos atos corretivos/educativos e suas conseqüências no futuro de
meninos e meninas.
Hoje, tem-se uma gama de entidades, programas e projetos que visam, de acordo com
a proposta do ECA, a garantir a proteção de meninos e meninas, um desses órgãos é o
Conselho Tutelar que, em muitos momentos, funciona como porta de entrada para o
funcionamento e diagnóstico da rede de proteção. Os Conselhos afiguram-se de fundamental
importância no processo, pois se constituem em espaços formados por pessoas envolvidas
com a causa da defesa dos direitos e que já possuem uma vivência com a comunidade
atendida. Os conselheiros são pessoas das comunidades do entorno, eleitos por estas, e que
recebem um treinamento específico para o atendimento e busca de resolução para todos os
casos que ali chegam.
Diante desse cenário de violência, de luta, de conquistas e de construção dos direitos
de crianças e adolescentes, surgiram questões que resultaram e sustentaram o presente
trabalho. Identificar a cartografia da violência e da proteção contra os abusos físicos e sexuais,
sofridos por meninos e meninas, constituiu seu objetivo primaz do mesmo.
Dentro desse importante objetivo, buscou-se apresentar elementos que viabilizassem a
realização da ponte entre os dados empíricos e as teorias da Geografia, não deixando de
visualizar os fundamentos da criação do ECA, os estudos que permitem a reflexão dos dados
coletados, bem como os conceitos que consentiram a identificação das práticas violentas em
questão.

94
Constituindo o Conselho Tutelar uma das principais portas de entrada para a
identificação dos casos de violência, ele foi definido como o campo de coleta, que forneceu o
rico material de verificação e análise do fenômeno.
Quanto às teorias geográficas, optou-se por buscar respaldo nos estudos e teorias da
geografia do crime e nas redes geográficas.
As informações coletadas nos CTs permitiram identificar como se encontra
estabelecido o perfil das vítimas de cada uma das violações, sexo e idade, e dos violadores.
Ressalte-se o infortúnio de o perfil desses últimos se restringirem à identificação da relação de
parentesco com a vítima. Desta forma foi possível assimilar que existem disparidades e
semelhanças entre os dois subfenômenos (violência física e violência sexual).
A primeira diferença identificada entre os casos refere-se ao número de casos que
chegam aos CTs. Enquanto a violência física apresenta um número total de 838 casos, a
violência sexual apresentou 237 representações nos CTs. No universo de denúncias realizadas
esses números são pouco expressivos, pois só houve em 2005 um total de 9.566 denúncias
nos CTs de Belo Horizonte. Esses dois números que se referem às violações estudadas nos
mostram que apenas 11,12% das denúncias referem-se a casos de violência física e 2,6% a
casos de violência sexual. Ainda em relação ao número de denúncias, existe uma disparidade
entre os dois tipos de violência estudados, pois a física, em relação à sexual, concentrou 80%
dos casos encontrados. Isso permite inferir que a última é velada pelas famílias, amigos e
vizinhos, já que, quando constatada, gera problemas de desestruturação física das famílias,
separação, divórcio, colocação da criança em casa de outros parentes, mudança de endereço,
entre outras conseqüências. O fato, geralmente, não ocorre nos casos de violência física, pois
podem ser mais “facilmente” solucionados quando a família aceita o acompanhamento e os
encaminhamentos propostos pelos conselheiros.
Outra disparidade descoberta ao realizar a comparação das informações, refere-se ao
sexo das vítimas. Nos casos de violência física, o número de vítimas do sexo masculino e
feminino está divido homogeneamente, mas nos casos de violência sexual essa distribuição
não é homogênea, pois o número de vítimas do sexo feminino é muito maior, totalizando 80%
dos casos. Com isso, pode-se inferir que o sexo definirá o grau de vulnerabilidade das vítimas
em cada uma das violações, direcionando ações de proteção com profissionais especializados
para cada público.
Ao analisar as faixas etárias em que ocorrem as violências, foi possível perceber que
há semelhanças, já que as faixas mais atingidas em ambos os casos são, primeiramente, de

95
sete a quatorze anos e de zero a seis anos. Daí, mostrou-se a necessidade de ações, projetos,
programas de proteções destinadas às famílias que possuem crianças e adolescentes nessas
faixas etárias e, também, a esses meninos e meninas, uma vez que estes se mostraram em
maior vulnerabilidade, em relação às violências estudadas.
O item cor foi pouco identificado nos casos dos Conselhos Tutelares. Naqueles
encontrados foi possível identificar que as crianças e adolescentes da cor branca foram as que
mais sofreram uma das violências, sendo registrados 4% nos casos de violência sexual e 5,5%
nos casos de violência física.
Finalizando o perfil de vítimas e violadores, na maior parte dos casos os conselheiros
identificaram quem foi o violador, o que facilita a tomada de providências, por parte deles, e
ajuda no desenvolvimento de atividades de prevenção.
Nesse ponto não há semelhança no que tange ao perfil dos violadores, pois, nos casos
de violência sexual, os pais, os padrastos e os parentes são os que mais violam. Já nos casos
de violência física, quem mais viola os direitos de integridade física de meninos e meninas
são as mães e os pais. Apesar de possuírem certa dessemelhança nos principais atores
envolvidos nos casos, ambas as violências podem ser caracterizadas como violência
doméstica, inferindo-se que meninos e meninas encontram-se mais vulneráveis naqueles
espaços que deveriam ser de proteção, de construção da cidadania, de desenvolvimento, de
acolhimento, de alegria e felicidade. Crianças e adolescentes não estão vivendo em um espaço
que garanta o desenvolvimento pleno, a construção de caráter e de personalidade, que farão
deles adultos saldáveis e felizes.
Quando passamos a analisar as providências e encaminhamentos tomados pelos
conselheiros, foi possível perceber que o tipo de violência definirá o tipo de encaminhamento,
já que cada uma delas necessita de atendimentos específicos e possui programas e projetos
específicos. Os programas, projetos e entidades já trazem um direcionamento de acordo com o
tipo de atendimento que a vítima necessita. Assim, foram encontrados mais encaminhamentos
para as Políticas de Assistência Social, Educação e Saúde nos casos de violência física. Nos
casos de violência sexual, os encaminhamentos foram realizados para projetos e programas,
tais como o “Sentinela”, que se encontram alocados nos Direitos Humanos e realizam
atendimentos específicos a essas vítimas, serviços de Saúde e de Segurança (defesa e
responsabilização), que se compõe pelos serviços das Delegacias (Dopcad, Depca, Delegacias
em geral e IML).

96
Dentro da perspectiva de realização de pontes com as teorias da Geografia, buscou-se
identificar estudos que permitissem o alcance da construção da discussão teórica. Como se
trata de um tema novo dentro do âmbito da Geografia, a busca da correlação dos dados
empíricos com a teoria constituiu um desafio.
Primeiramente, iniciou-se com a explicação do surgimento de estudos com fenômenos
próprios ou que foram intensificados pelo adensamento demográfico, como ocorre com a
violência. Apesar de sua existência acompanhar a evolução da humanidade, recortes
específicos, bem como seus estudos dentro da Geografia, são conseqüências das novas
organizações urbanas e de seu crescimento que trouxe, principalmente, o crescimento da
pobreza e da desigualdade.
Dentro dessa perspectiva tornou-se possível vislumbrar que a Geografia vem se
interessando especificamente pelos crimes e não pela violência em si, chegando ao ponto de
constituir a “Geografia do Crime”. Se a violência é considerada um crime contra a pessoa, e
se crianças e os adolescentes sofrem violência, então os atos cometidos contra meninos e
meninas podem se definir como crimes, embora não venham sendo tratados como tal. Desta
forma, utilizando a teoria da Geografia do Crime, percebeu-se a necessidade de voltar os
estudos dessa disciplina para outras formas de violência, tendo em vista que, nos estudos a
respeito, pouca relação se encontrou com a presente pesquisa.
Assim, não sendo possível vislumbrar a Geografia do Crime, ante a ausência das
mesmas perspectivas e características de análise, tentou-se identificar a Geografia e a
Cartografia da violência física e sexual contra crianças e adolescentes. Desta forma chegou-se
a resultados cartográficos que permitiram inferir uma diferença entre a distribuição do
fenômeno, quando se utiliza a soma dos casos, ou os casos de violência sexual e os de
violência física separadamente.
Em alguns momentos a análise apresentou semelhanças, como a não-padronização e a
pulverização dos casos dentro do território do município, a presença do maior número de
casos registrados no Bairro Serra, os bairros onde se acusou a existência de casos ficam
próximos de áreas de vila e favelas e o fato de apenas alguns Conselhos estarem próximos de
bairros com números expressivos de casos de violência.
Quando analisados separadamente, os dois tipos de violência apresentaram uma
geografia própria, influenciada, principalmente, por fatores sociais que impedem as pessoas
de efetivarem as denúncias dos casos de violência sexual cometidos contra meninos e
meninas. Primeiramente, os casos de violência física apareceram em maior número e quase na

97
totalidade do território. Tal fato não ocorreu com a violência sexual, que foi timidamente
registrada e mostra-se ausente em quase metade dos bairros do município (176).
Outro elemento constatado na análise referiu-se à localização dos Conselhos Tutelares
e dos bairros com maior número de registros, que apareceu de forma diferenciada. Nos casos
de violência física os registros distribuíram-se dentro de quase todo o território, já que apenas
94 bairros não apresentaram nenhuma denúncia. Já nos casos de violência sexual a
distribuição não atingiu boa parte do território pelo fato de o número de casos ser,
consideravelmente, menor.
Dentro da análise da Geografia da Violência contra meninos e meninas, torna-se
fundamental a descentralização dos Conselhos para estes ficarem mais próximos da totalidade
dos bairros e, conseqüentemente, com um número menor de famílias sob sua
responsabilidade. Isso facilitará o registro das denúncias, devido à proximidade física, a
criação de um vínculo mais conciso entre comunidades e conselheiros, tornando-os, também,
educadores a favor da garantia dos direitos do público em questão. No momento em que os
conselheiros estiverem mais próximos e responsáveis por um número menor de pessoas,
poderão ampliar sua atuação dentro das comunidades e melhorar o acompanhamento que se
deve dar a cada caso, o que aumentará o grau de resolução dos casos.
Ao calcular as taxas de vulnerabilidade de crianças e adolescentes que vivem nas
Unidades de Planejamento foi possível verificar que há semelhanças, somente, em algumas
distribuições que ocorreram nos casos de violência física e no mapa em que houve a soma dos
dois tipos de violência. Em nenhum dos casos há predominância de altas taxas em um número
expressivo de UPs. O que ocorreu foi a formação de regiões contínuas com a mesma taxa de
vulnerabilidade, tal como aconteceu com a Regional Oeste e Noroeste que, por assim dizer, se
transformaram em uma no mapa que apresenta a distribuição espacial das taxas de violência
sexual.
Outra teoria da Geografia que se buscou utilizar na construção de pontes de análise foi
a teoria das Redes Geográficas. Dentro desta, identificou-se a semelhança da teoria de
Christaller, sobre as localidades centrais, com a distribuição dos equipamentos dentro do
território do município. Assim, pôde-se considerar que o centro da capital, devido à sua
expressiva função política, econômica/comercial, atrai todos os serviços/equipamentos que
possuem maior elaboração e um raio de alcance mais extenso. Já os demais serviços, tais
como as sedes dos Conselhos Tutelares, Postos de Saúde, Escolas, alguns programas e
projetos, se restringem apenas ao espaço da regional, que foi considerada, a partir desse fato,

98
como uma cidade local, por possuir serviços de baixo alcance. Percebeu-se também, que
alguns serviços, devido à sua credibilidade e pouca oferta, faz com que aumente seu alcance,
apesar de não ser tão específico assim. Mas, essa não-descentralização de muitos serviços
pode prejudicar a efetividade e a eficácia do trabalho dos conselheiros, uma vez que o alto
custo do transporte pode impedir que as pessoas realizem o atendimento necessário para a
garantia dos direitos, da proteção necessária.
A identificação da rede utilizada e existente juntos com o mapeamento dos casos de
violência física e sexual registrados nos Conselhos, permitiu alcançar outro objetivo proposto
dentro do trabalho realizado, o de identificar se as políticas acham-se distribuídas em
consonância com as áreas de maior necessidade, ou seja, aquelas onde há mais casos de
violência física e/ou sexual contra meninos e meninas. Desta forma, constatou-se que,
dependendo do serviço demandado, os Conselhos encaminham seus usuários para serem
atendidos fora do bairro ou da regional onde moram, uma vez que muitos atendimentos não
foram implantados de forma descentralizada. Isso significa que ainda se faz necessário
direcionar serviços, projetos, programas, para locais mais próximos às comunidades. Os
serviços existentes podem ser satisfatórios, no sentido da complexidade e da possibilidade de
atendimento, mas, com certeza, muitas famílias ficam sem buscá-lo, principalmente, pelo fato
de não possuírem recurso para deslocamento, o que pode gerar a desistência e induzir o
encaminhamento ao insucesso.
Quanto ao fato de promoção da proteção de crianças e adolescentes, fica sugerido o
desenvolvimento de campanhas, pois elas são de fundamental importância para romper com o
“pacto do silêncio”, daí resultando que o abuso sexual não seja combatido, nem denunciado,
de modo a proteger seus vilões, e deixando seqüelas muitas vezes irreversíveis em suas
vítimas. Isso pode ser considerado, também, para os casos de violência física. Esse trabalho
preventivo pode se desenvolver através de campanhas educativas, destinadas aos pais,
mostrando o desenvolvimento de crianças e adolescentes, e a importância de crescerem em
um espaço saudável e acolhedor. Além dessa frente de defesa, duas outras providências
podem ser tomadas. A primeira refere-se ao desenvolvimento de ações preventivas que
identifiquem meninos e meninas em situação de vulnerabilidade, impedindo que a violência
ocorra ou continue acontecendo; a segunda trata do acompanhamento de vítimas e
vitimizadores, de modo que ambas as medidas também podem ser consideradas como ações
que resultarão na diminuição de casos.

99
Dentro da perspectiva de novos estudos é importante ressaltar a necessidade de
continuar buscando realizar a construção de uma Geografia da Violência contra a criança e o
adolescente, aproximando-a cada vez mais, das propostas de análise apresentadas nos estudos
sobre esse tema. Mas, para isso, faz-se necessário um maior comprometimento das pessoas
que coletam as informações e, até mesmo, uma reelaboração da ficha em que são anotados os
casos de violação. Pois, em alguns momentos, ela própria não contribui para que sejam
coletadas tais informações, a exemplo do perfil socioeconômico dos vitimizados, o perfil
educacional, a cor; estas seriam algumas opções que contribuiriam para direcionar estudos
nessa área. Além disso, a construção de uma série histórica do fenômeno permitirá aprofundar
na análise de questões como a distribuição sazonal das violações que, devido à ausência de
argumentos, foi parcialmente analisada.
É fundamental que outras pesquisas se realizem, para o aprofundamento desta,
principalmente no sentido de identificar a relação mantida pelas entidades que compõem a
rede de atendimento.
Outros estudos que podem ser realizados referem-se à análise da relação dos índices
de vulnerabilidade social, índice de qualidade de vida urbana, bem como suas variáveis, e a
distribuição das ocorrências dentro do município. A busca dessa relação é de suma
importância para a checagem da necessidade de elaboração de novas políticas públicas nas
áreas que apresentam lacunas, no que tange à garantia dos direitos, não só de meninos e
meninas, mas de toda a família, que representa o principal espaço de reprodução da violência
nos dias de hoje.

100
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105
ANEXOS

106
ANEXO A: Mapa dos Bairros de Belo Horizonte

Figura 7: Mapa dos Bairros de Belo Horizonte


Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, 2007.

107
ANEXO B: Quadro referência dos Bairros de Belo Horizonte

Número Nome Tipo


600 AARAO REIS BAIRRO
602 ALIPIO DE MELO BAIRRO
603 ALTO DOS CAICARAS BAIRRO
604 ALTO DOS PINHEIROS BAIRRO
605 ALVARO CAMARGOS BAIRRO
607 ANCHIETA BAIRRO
608 APARECIDA BAIRRO
609 DA GRACA BAIRRO
610 DAS INDUSTRIAS BAIRRO
611 DAS MANSOES BAIRRO
612 BALEIA BAIRRO
613 BARREIRO DE BAIXO BAIRRO
614 BARREIRO DE CIMA BAIRRO
615 FREI LEOPOLDO BAIRRO
616 BARROCA BAIRRO
617 BARRO PRETO BAIRRO
618 BELVEDERE BAIRRO
619 BETANIA BAIRRO
620 BOA VISTA BAIRRO
621 BOM JESUS BAIRRO
622 BONFIM BAIRRO
623 BURITIS BAIRRO
624 CABANA PAI TOMAZ BAIRRO
625 CACHOEIRINHA BAIRRO
627 CAICARA ADELAIDE BAIRRO
628 CAICARA BAIRRO
629 CALAFATE BAIRRO
630 CALIFORNIA BAIRRO
631 CAMARGOS BAIRRO
632 CAMPO ALEGRE BAIRRO
633 UFMG CAMPUS AREA
634 CANAA BAIRRO
635 CARDOSO BAIRRO
636 CARLOS PRATES BAIRRO
637 CARMO BAIRRO
B638 CASA BRANCA BAIRRO
639 CASTELO BAIRRO
640 SAO JOSE / PAMPULHA BAIRRO
641 SAO LUIZ BAIRRO
642 CENTRO BAIRRO
643 CEU AZUL BAIRRO
644 CIDADE JARDIM BAIRRO
645 CIDADE NOVA BAIRRO
646 COLEGIO BATISTA BAIRRO
647 CONCORDIA BAIRRO
648 CONJUNTO CALIFORNIA BAIRRO
649 CONJUNTO CALIFORNIA II BAIRRO
650 CONJUNTO CELSO MACHADO BAIRRO

108
651 CONJUNTO ITACOLOMI BAIRRO
652 BRAUNAS BAIRRO
653 JARDIM ATLANTICO BAIRRO
654 COQUEIROS BAIRRO
655 CORACAO DE JESUS BAIRRO
656 CORACAO EUCARISTICO BAIRRO
657 CRUZEIRO BAIRRO
658 DOM BOSCO BAIRRO
659 DOM CABRAL BAIRRO
660 DOM JOAQUIM BAIRRO
661 DOM SILVERIO BAIRRO
662 DONA CLARA BAIRRO
663 DURVAL DE BARROS BAIRRO
664 ENGENHO NOGUEIRA BAIRRO
665 ERMELINDA BAIRRO
666 ESPLANADA BAIRRO
667 ESTORIL BAIRRO
668 ESTRELA D'ALVA BAIRRO
669 ETELVINA CARNEIRO BAIRRO
670 EUROPA BAIRRO
671 EYMARD BAIRRO
672 MORRO DAS PEDRAS BAIRRO
673 CEMIG VILA
674 SUMARE BAIRRO
675 MARIZE BAIRRO
676 FILADELFIA BAIRRO
677 FLAVIO MARQUES LISBOA BAIRRO
678 FLORAMAR BAIRRO
679 FLORESTA BAIRRO
680 FREI EUSTAQUIO BAIRRO
681 FUNCIONARIOS BAIRRO
682 GAMELEIRA BAIRRO
683 GLALIJA VILA
684 GLORIA BAIRRO
685 SAO JOSE FAZENDA
686 GRAJAU BAIRRO
687 GUARANI BAIRRO
688 JULIANA BAIRRO
689 GUTIERREZ BAIRRO
690 HAVAI BAIRRO
691 HELIOPOLIS BAIRRO
692 HORTO BAIRRO
693 INCONFIDENCIA BAIRRO
694 INDEPENDENCIA BAIRRO
695 MONTE AZUL BAIRRO
696 INSTITUTO AGRONOMICO BAIRRO
697 IPANEMA BAIRRO
698 IPIRANGA BAIRRO
699 ITAPOA BAIRRO
700 JAQUELINE BAIRRO
701 JARAGUA BAIRRO

109
702 JARDIM AMERICA BAIRRO
703 JARDIM DOS COMERCIARIOS BAIRRO
704 JARDIM MONTANHES BAIRRO
705 JARDINOPOLIS BAIRRO
706 JATOBA BAIRRO
707 JOAO PINHEIRO BAIRRO
708 LAGOA BAIRRO
709 LAGOINHA / VENDA NOVA BAIRRO
710 LAGOINHA BAIRRO
711 LEBLON BAIRRO
712 LETICIA BAIRRO
713 LIBERDADE BAIRRO
714 LINDEIA BAIRRO
715 LOURDES BAIRRO
716 LUXEMBURGO BAIRRO
717 MADRE GERTRUDES BAIRRO
718 MANGABEIRAS BAIRRO
719 MANTIQUEIRA BAIRRO
720 MARAJO BAIRRO
721 MARIA HELENA BAIRRO
722 MILIONARIOS BAIRRO
723 MINAS BRASIL BAIRRO
724 MINAS CAIXA BAIRRO
725 MINASLANDIA BAIRRO
726 MONSENHOR MESSIAS BAIRRO
727 NOVA BARROCA BAIRRO
728 NOVA CINTRA BAIRRO
729 NOVA ESPERANCA BAIRRO
730 NOVA FLORESTA BAIRRO
731 NOVA GAMELEIRA BAIRRO
732 NOVA GRANADA BAIRRO
733 NOVA PAMPULHA BAIRRO
734 NOVA SUISSA BAIRRO
735 NOVA VISTA BAIRRO
736 NOVO SAO LUCAS BAIRRO
737 OLHOS D'AGUA BAIRRO
738 OURO PRETO BAIRRO
739 PADRE EUSTAQUIO BAIRRO
740 PALMARES BAIRRO
741 PALMEIRAS BAIRRO
742 BANDEIRANTES BAIRRO
743 PAQUETA BAIRRO
744 PARAISO BAIRRO
745 PATROCINIO BAIRRO
746 PEDREIRA PRADO LOPES BAIRRO
747 PEDRO II VILA
748 PINDORAMA BAIRRO
749 PIRAJA BAIRRO
750 PLANALTO BAIRRO
751 POMPEIA BAIRRO
752 PRADO BAIRRO

110
753 PRIMAVERA BAIRRO
754 PRIMEIRO DE MAIO BAIRRO
755 WASHINGTON PIRES BAIRRO
756 PROVIDENCIA BAIRRO
757 REGINA BAIRRO
758 RENASCENCA BAIRRO
759 RIBEIRO DE ABREU BAIRRO
760 SAGRADA FAMILIA BAIRRO
761 SALGADO FILHO BAIRRO
762 SANTA AMELIA BAIRRO
763 SANTA CRUZ BAIRRO
765 SANTA EFIGENIA BAIRRO
766 SANTA HELENA BAIRRO
767 SANTA INES BAIRRO
768 SANTA LUCIA BAIRRO
769 CONJUNTO SANTA MARIA BAIRRO
770 SANTA MARIA BAIRRO
771 MARIA GORETTI BAIRRO
772 SANTA MONICA BAIRRO
773 SANTA ROSA BAIRRO
774 SANTA TEREZA BAIRRO
775 SANTA TEREZINHA BAIRRO
776 SANTO AGOSTINHO BAIRRO
777 SANTO ANDRE BAIRRO
778 SANTO ANTONIO BAIRRO
779 SAO BENTO BAIRRO
780 SAO BERNARDO BAIRRO
781 SAO CRISTOVAO BAIRRO
782 SAO FRANCISCO VILA
783 SAO GABRIEL BAIRRO
784 SAO GERALDO BAIRRO
785 SAO JOAO BATISTA / VENDA NOVA BAIRRO
786 SAO JOAO BATISTA BAIRRO
787 SAO JOSE PARQUE
788 SAO LUCAS BAIRRO
789 SAO MARCOS BAIRRO
790 SAO PAULO / VENDA NOVA BAIRRO
791 SAO PAULO BAIRRO
792 SAO PEDRO BAIRRO
793 SAO SALVADOR BAIRRO
794 SAO TOMAZ BAIRRO
795 SARANDI BAIRRO
796 SAUDADE BAIRRO
797 SERRA BAIRRO
798 SERRANO BAIRRO
799 SERRA VERDE BAIRRO
801 SION BAIRRO
802 SOLIMOES BAIRRO
803 TAQUARIL BAIRRO
804 TEIXEIRA DIAS CONJUNTO HABITACIONAL
805 TIROL BAIRRO

111
806 TUPI BAIRRO
807 GARCAS BAIRRO
808 UNIAO BAIRRO
809 UNIVERSITARIO BAIRRO
810 VENDA NOVA BAIRRO
811 VERA CRUZ BAIRRO
811 VERA CRUZ BAIRRO
812 GOIANIA BAIRRO
813 VILA CLORIS BAIRRO
814 VILA OESTE BAIRRO
815 VILA PARIS BAIRRO
816 VILA MARIA VIRGINIA BAIRRO
818 RIO BRANCO BAIRRO
819 VISTA ALEGRE BAIRRO
820 XANGRILA BAIRRO
821 APARECIDA SETIMA SECAO BAIRRO
822 ALTO BARROCA BAIRRO
823 PONGELUPE BAIRRO
824 NOVA CACHOEIRINHA BAIRRO
825 MORRO DO PAPAGAIO BAIRRO
826 CAFEZAL VILA
827 TREVO BAIRRO
828 COPACABANA BAIRRO
829 SANTA BRANCA BAIRRO
830 AEROPORTO BAIRRO
831 JARDIM VITORIA BAIRRO
832 VALE DO JATOBA BAIRRO
833 OLARIA BAIRRO
834 JARDIM FELICIDADE BAIRRO
835 CONJUNTO HABITACIONAL CONFISCO BAIRRO
905 PAULO VI BAIRRO
906 CAPITAO EDUARDO BAIRRO
907 SUZANA VILA
926 FERNAO DIAS BAIRRO
967 NOVA AMERICA BAIRRO
996 ESPLENDOR BAIRRO
1043 IPE BAIRRO
1065 JARDIM GUANABARA BAIRRO
1114 CONJUNTO HABITACIONAL BETANIA CONJUNTO HABITACIONAL
1133 SAVASSI BAIRRO
1138 NOVO DAS INDUSTRIAS BAIRRO
1139 CONJUNTO HABITACIONAL BONSUCES CONJUNTO HABITACIONAL
1140 BONSUCESSO BAIRRO
1141 ARAGUAIA BAIRRO
1142 SAO JOSE PARQUE
1143 FLAVIO DE OLIVEIRA CONJUNTO HABITACIONAL
1144 SANTA MARGARIDA VILA
1145 ATILA DE PAIVA CONJUNTO HABITACIONAL
1146 JOAO PAULO II CONJUNTO HABITACIONAL
1147 MALDONADO BAIRRO
1148 DIAMANTE BAIRRO

112
1150 BRASIL INDUSTRIAL BAIRRO
1151 URUCUIA BAIRRO
1153 PINHO VILA
1154 CASTANHEIRA VILA
1155 TUNEL DE IBIRITE CONJUNTO HABITACIONAL
1156 REGIAO DA NOSSA SENHORA DA BOA BAIRRO
1157 ITAIPU BAIRRO
1158 MARILANDIA VILA
1159 SANTA CECILIA BAIRRO
1160 JATOBA IV BAIRRO
1161 CINQUENTENARIO BAIRRO
1162 ERNESTO DO NASCIMENTO CONJUNTO HABITACIONAL
1163 SANTA RITA VILA
1164 MANGUEIRAS BAIRRO
1165 PETROPOLIS BAIRRO
1166 MINEIRAO BAIRRO
1167 SOLAR BAIRRO
1168 PILAR BAIRRO
1170 NOVO AARAO REIS CONJUNTO HABITACIONAL
1171 JATOBA DISTRITO INDUSTRIAL BAIRRO
1172 JARDIM ALVORADA BAIRRO
1173 POUSADA SANTO ANTONIO BAIRRO
1174 CAMPUS DA PUC AREA
1175 CAPITAO EDUARDO FAZENDA
1176 GRANJA WERNECK AREA
1177 PARQUE DAS MANGABEIRAS AREA
1178 SERRA DO JOSE VIEIRA AREA
1202 VISTA DO SOL VILA
1238 OURO MINAS BAIRRO
1239 BELMONTE BAIRRO
1240 NAZARE BAIRRO
1241 BEIJA FLOR BAIRRO
1245 GRANJA DE FREITAS GRANJA
1246 ALTO VERA CRUZ BAIRRO
1247 TUPI MIRANTE BAIRRO
1251 ECOLOGICA VILA
1252 VITORIA DA CONQUISTA VILA
1253 SILVEIRA BAIRRO
1258 JONAS VEIGA BAIRRO
Quadro: Anexo
Fonte: Softweare Mapinfo 8.5

113
ANEXO C: Mapa das unidades de planejamento do município de Belo Horizonte

Figura 8: Mapa das Unidades de Planejamento


Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, 2007.

114
ANEXO D: Mapa das regiões administrativas do município de Belo Horizonte

.
Figura 9: Mapa das Regiões Administrativas
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, 2007.

115
ANEXO E: Quadro da rede de proteção à infância e adolescência utilizada pelos Conselhos
Tutelares – 2005.

Bairro Regional Nome (entidade, serviço, programa ou projeto)


Conselhos Tutelares
613 Barreiro Conselho Tutelar Barreiro
679 Centro-sul Conselho Tutelar Centro-Sul
679 Leste Conselho Tutelar Leste
636 Noroeste Conselho Tutelar Noroeste
645 Nordeste Conselho Tutelar Nordeste
687 Norte Conselho Tutelar Norte
732 Oeste Conselho Tutelar Oeste
641 Pampulha Conselho Tutelar Pampulha
810 Venda Nova Conselho Tutelar Venda Nova
Defesa e Responsabilização
617 Centro-sul POLÍCIA CIVIL - INSTITUTO DE IDENTIFICAÇÃO
617 Centro-sul DELEGACIA DE MULHERES DELEGACIA ESPECIALIZADA DE
CRIMES CONTRA MULHER
617 Centro-sul PROCURADORIA DE JUSTIÇA
617 Centro-sul FÓRUM LAFAIETE
617 Centro-sul CENTRO DE DEFESA ZILÁH ZPÓSITO
642 Centro-sul JUIZADO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE
BELO HORIZONTE
642 Centro-sul PROMOTORIA DE JUSTIÇA E DEFESA DA INFÂNCIA E
JUVENTUDE
679 Centro-sul Centro de Apoio a Mulher - BEMVINDA
679 Centro-sul 4º DELEGACIA DE PLANTÃO/SECCIONAL LESTE
718 Centro-sul DEPCA-DEL. ESPECIALIZADA A PROTEÇÃO À CRIANÇA E
AO ADOLESCENTE
731 Oeste POLÍCIA CIVIL - IML - (INSTITUTO MÉDICO LEGAL)
760 Leste DOPCAD - DELEGACIA DE ORIENTAÇÃO E PROTEÇÃO À
CRIANÇA E AO ADOLESCENTE
774 Leste Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente -
CMDCA/BH
783 Nordeste PUC SÃO GABRIEL-SETOR JURÍDICO
810 Venda Nova DELEGACIA 7º SECCIONAL
641 Pampulha DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL TPI23
Atendimento jurídico-psicossocial
642 Centro-sul FAMÍLIA ACOLHEDORA ASSISTÊNCIA
642 Centro-sul NAVCV - Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Violentos -
DH
657 Centro-sul ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -AMAS -
ASSISTÊNCIA
765 Leste CENTRO DE DEFESA DA CIDADANIA
642 Centro-sul PROGRAMA SENTINELA
Inserção do Adolescente no Mundo do Trabalho
642 Centro-sul NIAT - Núcleo Integrado de Apoio ao Trabalho (CAPACITAÇÃO
E INSERÇÃO PRODUTIVA - NOB)
642 Centro-sul CIDS - Centro de Inclusão Digital (CAPACITAÇÃO E INSERÇÃO
PRODUTIVA - NOB)
657 Centro-sul ASSOCIAÇÃO PROFISSIONALIZANTE AO MENOR DE BH -
ASSPROM ( CAPACITAÇÃO E INSERÇÃO PRODUTIVA - NOB)

116
ASSISTÊNCIA SOCIAL
600 Norte CENTRO SOCIAL FREI JOSÉ RENATO - programa de 6 a 14
(REGISTRO CMAS)
608 Noroeste Centro de Acolhimento ao menor Santa Inês - CAMESI
(programa de socialização) (REGISTRO CMAS)
609 Nordeste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Nordeste
609 Nordeste Plantão Social Nordeste
619 Oeste PROJETO CRESCENDO (REGISTRO CMAS)
619 Oeste CENTRO DE ACOLHIDA BETÂNIA - programa de socialização
(REGISTRO CMAS)
636 Noroeste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Noroeste
636 Noroeste Plantão Social Noroeste
641 Pampulha Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Pampulha
641 Pampulha Plantão Social Pampulha
642 Centro-sul Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Centro-Sul
642 Centro-sul Plantão Social Centro-Sul
642 Centro-sul PROGRAMA FAMÍLIAS ACOLHEDORAS - PBH
642 Centro-sul PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA - PBH
642 Centro-sul PROGRAMA MIGUILIM - Greência de Inserção Especial - PBH
643 Venda Nova ABRIGO-NOVA ALIANÇA DE AMPARO AO MENOR
657 Centro-sul ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -AMAS
657 Centro-sul ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -AMAS
678 Norte CENTRO SÓCIO- EDUCATIVO ALVORADA - programa de
socialização 6 a 14 (REGISTRO CMAS)
679 Leste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Leste
679 Leste Plantão Social Leste
690 Oeste Centro de Apoio ao Cidadão - CAC HAVAÍ - Secretaria de
SERVIÇOS SOCIAIS
692 Leste CIRCO DE TODO MUNDO - programa de socialização e jornada
ampliada
694 Barreiro Núcleo de Apoio as Famílias Barreiro
698 Nordeste CENTRO DE PASSAGEM DOM BOSCO
702 Oeste CASA TRAVESSIA
710 Noroeste Núcleo de Apoio as Famílias Noroeste
714 Barreiro CASA DOS MENINOS
732 Oeste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Oeste
732 Oeste Plantão Social Oeste
732 Oeste Núcleo de Apoio as Famílias Oeste
738 Pampulha ASSOCIAÇÃO DE PROMOÇÃO HUMANA DIVINA
PROVIDÊNCIA
750 Norte Centro de atividade da criança e do adolescente Cristo Operário -
CACACO (programa de socialização de 6 a 14) - (REGISTRO
CMAS)
751 Leste LAR FRATERNIDADE IRMÃO FÁBIO
754 Norte ABRIGO SÃO PAULO
754 Norte CENTRO ESPIRITA JOANA ANGELS - programa de 6 a 14
(REGISTRO CMAS)
767 Leste CENTRO DE PASSAGEM CASA ROSA
772 Venda Nova CENTRO DE PASSAGEM VILA EUNICE
777 Noroeste ABRIGOS - MINISTÉRIO PROGRAMA CRIANÇA FELIZ
780 Norte Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Norte
780 Norte Plantão Social Norte
807 Pampulha ABRIGO EMAUS - (MINISTÉRIO CRIANÇA FELIZ)
117
808 Nordeste Núcleo de Apoio as Famílias Nordeste
810 Venda Nova Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Venda Nova
810 Venda Nova Plantão Social Venda Nova
812 Nordeste ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA PRESIDENTE VARGAS -
(REGISTRO CMAS)
830 Pampulha Núcleo de Apoio as Famílias Pampulha
834 Norte Núcleo de Apoio as Famílias Norte
907 Pampulha ABRIGO ASSOCIAÇÃO FRATERNAL AMIGOS DO MENOR -
AFAM -
907 Pampulha Grupo de Desenvolvimento Comunitário - GDECOM (REGISTRO
CMAS)
1153 Barreiro CASA DA COMUNIDADE - programa de socialização de 6 a 14
(REGISTRO NO CMAS)
1246 Leste Núcleo de Apoio as Famílias Leste
1246 Leste CIAME FLAMENGO - programa de socialização (REGISTRO NO
CMAS)
1379 Centro-sul Núcleo de Apoio as Famílias Centro-Sul
613 Barreiro Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Barreiro
613 Barreiro Plantão Social Barreiro
1493 Venda Nova Núcleo de Apoio as Famílias Venda Nova
EDUCAÇÃO
642 Centro-sul BEM - BOLSA ESCOLA MUNICIPAL
682 Oeste SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS
GERAIS-SEE
692 Leste INAPLIC-CENTRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
778 Centro-sul SUPERINTENDÊNCIA ESTADUAL DA EDUCAÇÃO
778 Centro-sul SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
SAÚDE
636 Noroeste CENAPS - CENTRO ASSISTENCIAL CARLOS PRATES (clínica)
636 Noroeste CRIA - CENTRO DE REFERÊNCIA PARA INFÂNCIA E
ADOLESCÊNCIA (instituição -saúde mental- atendimento
ambulatorial)
642 Centro-sul CMT - CENTRO MINEIRO DE TOXOMANIA
642 Centro-sul SOS DORGAS - Centro de Acolhimento
656 Noroeste CLÍNICA PSICOL. PUC CORAÇÃO EUCARÍTICO
666 Leste UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO Leste
702 Oeste UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO Oeste
730 Nordeste UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO Nordeste
738 Pampulha EQUIPE ACOLHIDA - (ATENDIMENTO NA ÁREA DE SAÚDE)
750 Norte CLÍNICA CRIS
752 Oeste MATERNIDADE ODETE VALADARES
754 Norte UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO Norte - (policlínica 1º
de maio)
765 Leste CPP-CENTRO PSICOPEDAGÓGICO
765 Leste HOSPITAL JOÃO XXIII
765 Leste HOSPITAL DAS CLÍNICAS - UFMG
765 Centro-sul DR. JANE CAMPOS (CONSULTÓRIO MÉDICO)
776 Centro-sul BIOCOOL TECNOLOGIA EM GENÉTICA
781 Nordeste HOSPITAL ODILON BEHRENS
783 Nordeste CLÍNICA DE PSICOL PUC SÃO GABRIEL
797 Centro-sul ABRAÇO - Tratamento para usuários de drogas
805 Barreiro UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO Barreiro
810 Venda Nova UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO Venda Nova

118
1141 Barreiro HOSPITAL JÚLIA KUBITSCHECK
613 Barreiro CLÍNICA DE PSICOL PUC BARREIRO
OUTROS
642 Centro-sul BOLSA MORADIA (Habitação)
642 Centro-sul PROJETO CURUMIM (Esporte)
738 Pampulha PROJETO GUANABARA (Esporte)
1493 Venda Nova Centro de Referência em Área de Risco - CREAR (Habitação)
Quadro: Anexo
Fonte: AMAS E CAVIV - 2005

119
ANEXO F: Quadro da rede de proteção à infância e adolescência identificada pela AMAS E
CAVIV – 2005

Bairro Regional Nome (entidade, serviço, programa ou projeto)


Conselhos Tutelares
0641 Pampulha Conselho Tutelar Pampulha
0645 Nordeste Conselho Tutelar Nordeste
0679 Centro-sul Conselho Tutelar Centro-Sul
0679 Centro-sul Conselho Tutelar Leste
0687 Norte Conselho Tutelar Norte
0732 Oeste Conselho Tutelar Oeste
0739 Noroeste Conselho Tutelar Noroeste
0810 Venda Nova Conselho Tutelar Venda Nova
0613 Barreiro Conselho Tutelar Barreiro
Defesa e Responsabilização
0602 Noroeste 14ª Delegacia Distritial
0617 Centro-sul Defensoria Pública - Núcleo de Atendimento a Mulheres e
situação de violência
0617 Centro-sul EDH - Escrtório de Direitos Humanos
0617 Centro-sul Igreja Batista do Barro Preto
0617 Centro-sul Procuradoria de Defesa dos Direitos Humanos
0617 Centro-sul Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos
0617 Centro-sul Promotoria de Justiça e Defesa da Saúde
0617 Centro-sul SEAC - Serviço de Atendimento do cidadão
0621 Leste 8ª Delegacia Distritial
0624 Oeste Associação Beneficente dos Moradores do Bairro Cabana
0625 Nordeste 20ª Delegacia Distritial
0625 Nordeste Escola Municipal Eleonora Pieroccetti
0628 Noroeste 7ª Delegacia Distritial
0628 Noroeste CEJU - Centro de Exercício Jurídico do Cruso de direito do
Centro Universitário Newton Paiva
0628 Noroeste Centro de Exercício Jurídico Newton Paiva
0636 Noroeste 3ª Delegacia Seccional - Norte
0636 Noroeste Escola Municipal Dom Jaime de Barros Câmara
0642 Centro-sul Juizado da Infância e da Juventude
0642 Centro-sul Promotoria da Infância e da Juventude
0642 Centro-sul Delegacia Regional do Ministério do Trabalho e Emprego - DRT

0642 Centro-sul Comunidade do Condomínio Arcângelo Maleta


0642 Centro-sul Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos de MG -
CONEDH-MG
0642 Centro-sul Conselho Estadual de Integração e Participação da comunidade
Negra
0642 Centro-sul Conselho Estadual de Proteção do Idoso
0642 Centro-sul Cordenadoria Municipal para Associação da Comunidade Negra
0642 Centro-sul DAJ - Deivisão de Assistência Judiciária da Universidade
Federal de Minas Gerais
0642 Centro-sul Defensoria Pública do Juizado da Infância e da Juventude
0642 Centro-sul Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Belo Horizonte

0642 Centro-sul Juizado Especial Cível das Relações de Consumo


0642 Centro-sul Juizado Especial Criminal

120
0642 Centro-sul Ministério do Trabalho
0642 Centro-sul Ministério do Trabalho e Emprego - Delegacia Regional do
Trabalho em Minas Gerais / NAPE - Núcleo de Apoio a Projetos
Especiais
0642 Centro-sul NAJ - Faculdade Milton Campos
0642 Centro-sul Ouvidoria de Polícia do Estado de Minas Gerais
0642 Centro-sul Promotoria de Justiça e Defesa da Infância e Juventude
0642 Centro-sul Subsecretaria Antidrogas
0643 Venda Nova Escola Municipal Mário Mourão Filho
0645 Nordeste Igreja Santa Luzia
0654 Noroeste Escola Municipal Padre Edeimar Massoti
0656 Noroeste SAJ - Serviço de Assistência Jurídica - PUC Minas
0657 Centro-sul Fumec - fundação mineira de cultura
0659 Noroeste Defensoria Pública - Crimes de Menor Potencial Ofensivo -
JECRIM
0659 Noroeste Escola Estadual Assis das Chagas
0660 Nordeste Escola Municipal Henriqueta Lisboa
0665 Noroeste Escola Estadual Professor Alsindo Vieira
0667 Oeste Uni BH
0678 Norte 22ª Delegacia Distritial
0678 Norte Escola Estadual Pedro Paulo Penido
0679 Centro-sul 4ª Delegacia Seccional - Leste
0679 Centro-sul 5ª Delegacia Distritial
0682 Oeste 5ª Delegacia Seccional - Oeste
0689 Oeste Juizado Especial Cível Gutierrez
0692 Leste Escola Estadual professora amélia de Castro Monteiro
0702 Oeste igreja Presbiteriana no Jardim América
0703 Venda Nova Escola Municipal Gracy Viana Lage
0710 Noroeste Núcleo de Apoio a Família Habitar Brasil
0714 Barreiro Escola Municipal Mello Cançado
0715 Centro-sul 1ª Delegacia Seccional - Centro
0715 Centro-sul UNI-BH - Assistência Jurídica Gratuita
0717 Oeste 19ª Delegacia Distritial
0718 Centro-sul Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente
- Depca
0718 Centro-sul DEPCA-DEL. ESPECIALIZADA A PROTEÇÃO À CRIANÇA E
AO ADOLESCENTE
0719 Venda Nova Escola Municipal Moisés Kalil
0722 Barreiro Escola Municipal professora Isaura Santos
0724 Venda Nova Comunidade Kolping Minas Caixa
0731 Oeste Instituto Médico legal - IML - DEFESA E RESPONSABILIZAÇÃO

0731 Oeste POLÍCIA CIVIL - IML - (INSTITUTO MÉDICO LEGAL)


0732 Oeste Fundação Lions Clube Antônio Luis Cançado
0737 Barreiro Escola Estudual Pedro Franca
0738 Pampulha Escola Municipal Carmelita Carvalho Garcia
0744 Leste Caixa de Caridade para viúvas e crianças sem lar
0750 Norte 1ª Delegacia Distritial
0754 Norte Grupo de Convivência e Terceira Idade Turminha alegre
0758 Nordeste Paróquia Santo Afonso
0759 Nordeste Escola Municipal Secretário Humberto Almeida

121
0760 Leste Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente -
Dopcad
0760 Leste DOPCAD - DELEGACIA DE ORIENTAÇÃO E PROTEÇÃO À
CRIANÇA E AO ADOLESCENTE
0760 Leste Escola Estadual Helena Pena
0762 Pampulha Pampulha Iate Clube
0765 Leste Ministério Público do Trabalho
0765 Leste Câmara Municipal de Belo Horizonte
0765 Leste Instituto Jurídico para Efetivação da Cidadania - Minas Gerias
0767 Leste Paróquia Nossa Senhora de Nazaré
0768 Centro-sul Escola Estadual Dona Augusta Gonçalves Nogueira
0773 Pampulha Associação dos Amigos Da Cresap
0773 Pampulha Igreja Batista Ismirna
0775 Pampulha Escola Municipal Santa Terezinha
0776 Centro-sul 3ª Delegacia Distritial
0776 Centro-sul Comissão de Diretos Humanos da Assembléia Legislativa
0776 Centro-sul Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais
0778 Centro-sul 2ª Delegacia Seccional - Sul / 1ª Delegacia Distritial
0780 Norte Associação Comunitária Feminina do Bairro Antônio Diniz - São
Bernardo
0780 Norte Associação Comunitária Feminina do Bairro Antônio Diniz São
Bernardo - ACOFEBAD
0783 Nordeste Associação de Desenvolvimento do Bairro São Gabriel
0783 Nordeste SAJ - Serviço de Assistência Jurídica - PUC Minas
0785 Venda Nova Escola Municipal Antônio Ferreira
0785 Venda Nova Rotary Internacional distrito 4520
0791 Nordeste Escola Municipal Francisco Bressani de Azevedo
0797 Centro-sul 10ª Delegacia Distritial
0797 Centro-sul Escola Municipal Levindo Coelho
0797 Centro-sul NPJ - Núcleo de Prática Jurídica - FUMEC
0797 Centro-sul Procuradoria da República do Estado de Minas Gerais
0798 Noroeste Centro social e pastoral Padre João de Matos Almeida
0801 Centro-sul Ação Social Paula Frassinetti
0802 Norte Escola Municipal Florestan Fernandes
0803 Leste Escola Municipal Fernando dias Costa
0806 Norte Escola Municipal Sebastiana Novaes
0810 Venda Nova 7ª Delegacia Seccional - Venda Nova
0810 Venda Nova Escola Estadual Batista Santiago
0810 Venda Nova Escola Estadual Juscelino Kubtishek de Oliveira
0811 Leste 6ª Delegacia Distritial
0831 Nordeste Escola Municipal Prefeito Souza Lima
0832 Barreiro ASBECAM - Associação Beneficente Caminhar
0907 Pampulha Grupo de Desenvolvimento comunitário
1240 Nordeste Associação de Desenvolvimento do Bairro São Gabriel
0613 Barreiro 36ª Delegacia Seccional - Barreiro
0613 Barreiro SAJ - Serviço de Assistência Jurídica - PUC Minas
1492 Noroeste 2ª Delegacia Distritial
1492 Noroeste Paróquia Santa Maria Mãe de Misericórdia
1493 Venda Nova Escola Estadual Síria Marques da Silva
Atendimento jurídico-psicológico
0617 Centro-sul Casa PAI PJ
0642 Centro-sul Coordenadoria de Direitos Humanos - PBH

122
0642 Centro-sul Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Violentos - NAVCV

0642 Centro-sul Associação das Travestis de Belo Horizonte - ASSTRAV


0642 Centro-sul Associação Lésbica de Minas Gerais - ALÉM
0642 Centro-sul Centro de Referência da Diversidade Sexual - CRDS
0642 Centro-sul Centro pela Luta da Livre Orientação Sexual - CELLOS/MG
0642 Centro-sul Conselho Estadual dos Direitos da Crianças e do Adolescente
0642 Centro-sul Conselho Municipal dos Direitos da Mulher
0642 Centro-sul Cordenadoria de Direitos Humanos
0642 Centro-sul Cordenadoria de Proteção de Defesa do Consumidor - Procon
Municipal
0642 Centro-sul Cordenadoria Municipal dos Direitos da Mulher - COMDIM
0642 Centro-sul Fundação Movimento Direito e Cidadania - FMDC
0642 Centro-sul Grupo de Apoio e Prevenção a AIDS - GAPA
0642 Centro-sul Movimento das Donas de Casa
0642 Centro-sul NAVCV - Núcleo de Atendimento a Vímitas de Violência
0642 Centro-sul Núcleo de Combate à Discriminação em termos de emprego e
ocupação
0642 Centro-sul Programa Liberdade Assistida da Secretaria Municipal Adjunta
de Assistência Social
0642 Centro-sul Rede SOS Racismo
0657 Centro-sul ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -AMAS
0679 Centro-sul BEMVINDA
0681 Centro-sul Conselho Estadual da Mulher
0681 Centro-sul Grupo VHIVER
0692 Leste Gira Rua - Grupo de apoio às entidades que atuam com meninos
(as) com violência de rua
0702 Oeste Procon Estadual
0710 Noroeste ASA - Ação Social Arquidiocesana
0710 Noroeste Comissão Pastoral de Direitos Humanos
0710 Noroeste Comissão Patoral Carcerária da Arquidiocese de Belo Horizonte

0715 Centro-sul CAADE - Cordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa


Deficiente
0718 Centro-sul Associação Municipal de Assistência Social - AMAS
0765 Leste Comissão de Diretos Humanos e Defesa do Consumidor da
Câmara Municipal de Belo Horizonte
0765 Leste Cordenadoria dos Direitos da Pessoa Idosa - CDPI
0774 Leste Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente -
CMDCA/BH
0774 Leste Conselho Municipal do Idoso
0774 Leste N'Zinga - coletivo de Mulheres Negras
Inserção do Adolescente no Mundo do Trabalho
0600 Norte Associação de Amigos do Centro Social Frei José Renato
0604 Noroeste Centro Educativo Cândido Cabral
0617 Centro-sul Associação das Freiras Filhas de Nossa Senhora do Monte
Calvário / Instituto Danta Inês
0617 Centro-sul Associação dos Catadores de Papel Papeão e Material
0617 Centro-sul Associação Pró-Criança - CIAP
0617 Centro-sul ADEVIBEL - Associação de Deficientes Visuais de BH
0624 Oeste Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente da Cabana e Região

0636 Noroeste Grupo de Instituições Solidárias


123
0642 Centro-sul Associação Profissionalizante do Menor - Assprom
0642 Centro-sul Cruz Vermelha
0642 Centro-sul Ministério do Trabalho e Emprego- Delegacia Regional do
Trabalho e Emprego em Minas Gerais - DRT/MG
0642 Centro-sul Serviço Nacional do Comércio - Senac
0642 Centro-sul Programa Governamental "Estágio Remunerado" - Sedese -
SINE Amazonas
0642 Centro-sul Programa Governamental Municipal "Gerência de Estágios"
0642 Centro-sul Cordenadoria Municipal de Apoio e Assistência à pessoa
portadora de deficiência
0642 Centro-sul NIAT - Núcleo Integrado de Apoio ao Trabalho
0647 Nordeste Educandário e Creche Menino Jesus
0647 Nordeste Educandário e Creche Meninos Jesus
0657 Centro-sul Associação profissionalizante ao menor de Belo Horizonte -
ASSPROM
0666 Leste Casa do Homem de Nazaré
0678 Norte Núcleo Assistencial Caminho para Jesus / Unidades
0679 Centro-sul Centro de Integração Escola Empresa - CIEE
0679 Centro-sul União Social Camiliana / Centro Educacional São Camilo
0679 Centro-sul Centro de Integração Emrpesa Escola de Minas Gerais
0681 Centro-sul Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Senar Minas
0681 Centro-sul Senai - Escola Fiemg de Líderes Empresariais
0682 Oeste Centro Salesiano do menor
0689 Oeste Associação Comunitária de Moradores do Gutierrez - ACMG
0689 Oeste Associação do pequeno Cristo
0691 Norte CDM - Cooperação para Desenvolvimento e Morada Humana
0692 Leste Senai - Centro Automotivo - Centro Nacional de Tecnologia
Automobilística
0692 Leste Senai - Núcleo de Educação à Distância
0692 Leste Senai - Centro de Formação Profissional Sérgio de Freitas Pacho
- CECOTEG
0692 Leste Senai - Centro Tecnológico de Eletrônica César Rodrigues
0692 Leste Senai - Centro de Desenvolvimento Tecnológico para Vestuário -
MODATEC
0692 Leste Central de Articulação do Voluntariado de Minas Gerais
0692 Leste Centro de Educação Especial Inaplic
0692 Leste Memória Gráfica Typographia Escola de Gravura
0698 Nordeste Centro de Estudos e Atendimento ao Menor - Ceame
0698 Nordeste Centro de Voluntários da Cidade de Ozanan / Creche oete
Valadares
0702 Oeste União do Paraplégicos de Belo Horizonte
0710 Noroeste Senai - Centro de Formação Profissional Américo René Giannetti

0710 Noroeste Ação Social da paróquia Nossa Senhora da Conceição


0710 Noroeste Centro de Formação profissional américo Giannetti / SENAI
0714 Barreiro Fórum de Entidade de Educação Profissional - FEEP
0714 Barreiro Ação Social Técnica
0714 Barreiro Casa do Meninos
0714 Barreiro Creche Comunitária Maria Floripes
0717 Oeste Senai - Centro de Atividades do Trabalhador Emília Massanti
0717 Oeste Fundação Dom Bosco
0717 Oeste Obra Social Madre Gertrudes

124
0718 Centro-sul Associação Municipal de Assistência Social - AMAS
0718 Centro-sul Associação Mineira de Reabilitação
0718 Centro-sul Associação Municipal de Assistência Social - AMAS
0718 Centro-sul Corpo Cidadão
0722 Barreiro Lar Fabiano de Cristo
0722 Barreiro Lar Fabiano de Cristo
0724 Venda Nova Comunidade Kolping Minas Caixa
0728 Oeste Programa Governamental "Estágio Remunerado" - Sedese -
SINE Nova Cintra
0732 Oeste Associação dos Deficiêntes Visuais de Belo Horizonte
0738 Pampulha Obras Sociais da Pampulha
0765 Leste Centro de Tratamento Preventivo Ltda - CTP
0765 Leste Grupo da Fraternidade Irmão Sheila
0766 Barreiro Conselho Comunitário do Centro Social Urbano do Barreiro -
CSU
0771 Nordeste morya Plase Plano de AssistÊncia Social à Comunidade
0772 Venda Nova Associação Assitencial Caminho da Luz
0774 Leste Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento
0776 Centro-sul Rede Cidadã
0777 Noroeste Ministério programa Criança Feliz
0791 Nordeste Senai - Escola SESI Newton Antônio da Silva Pereira
0791 Nordeste Conselho Regional das Associações Comunitárias da Região
Nordeste
0797 Centro-sul Centro Educacional Professor Estevão Pinto / CEPEP
0797 Centro-sul Conselho de Pais Criança Feliz - Conpacep
0797 Centro-sul Instituição Beneficente Martim Lutero
0797 Centro-sul Instituto Félix Guattari
0801 Centro-sul Associação Querubins
0803 Leste Projeto Providência - Páscoa
0810 Venda Nova Programa Governamental "Estágio Remunerado" - Sedese -
SINE Venda Nova
0834 Norte Associação Comunitária do Bairro Felicidade - Abafe
0907 Pampulha Grupo de Desenvolvimento Comunitário - Gdecom
1153 Barreiro Comissão Fé e Esperança da Vila Pinho / Centro de Educação
Infantil Clara e Francisco de Assis
1165 Barreiro Lar Frei Toninho - Casa de Apoio
1313 Nordeste Centro Social de apoio a Criança e Adolescente Conjunto Paulo
VI
1388 Leste Senai - Centro de Formação Profissional Paulo de Tarso
0613 Barreiro Programa Governamental "Estágio Remunerado" - Sedese -
SINE Barreiro
ASSISTÊNCIA SOCIAL
0607 Centro-sul Núcleo Harmonia de viver Grupo de apoio aos Familiares de
Portadores de Alzheimer
0609 Nordeste Plantão Social Nordeste
0609 Nordeste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Nordeste
0617 Centro-sul Centro de Referência à População de Rua
0617 Centro-sul Istituto São Rafael
0619 Oeste ACB - Associação Comuitária Betânia
0636 Noroeste Plantão Social Noroeste
0636 Noroeste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Noroeste
0641 Pampulha Plantão Social Pampulha

125
0641 Pampulha Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Pampulha
0642 Centro-sul Clínica Social de Terapia
0642 Centro-sul Conselho Municipal Antidrogas
0642 Centro-sul Plantão Social Centro-Sul
0642 Centro-sul Programa Sentinela Municipal
0642 Centro-sul Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Centro-Sul
0642 Centro-sul Gerência da Coordenação das ações para a População de rua
0642 Centro-sul Programa Miguilim
0657 Centro-sul ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -AMAS
0677 Barreiro Centro Educacional Paulo Campos Guimarães
0678 Norte Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus
0679 Leste Plantão Social Leste
0679 Leste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Leste
0679 Centro-sul República Reviver
0692 Leste Programa Mocatu
0694 Barreiro Núcleo de Apoio as Famílias Barreiro
0710 Noroeste Núcleo de Apoio as Famílias Noroeste
0710 Noroeste Agentes de Pastoral Negros
0710 Noroeste Albergue Noturno Municipal
0710 Noroeste Comissão da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte
0710 Noroeste República Maria Maria
0710 Noroeste Ação Social Arquidiocesana
0718 Centro-sul Associação Municipal de Assistência Social - AMAS
0732 Oeste Núcleo de Apoio as Famílias Oeste
0732 Oeste Plantão Social Oeste
0732 Oeste Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Oeste
0739 Noroeste Casa de Apoio ao Portador de HIV/AIDS
0754 Norte Abrigo São Paulo
0774 Leste Centro de Recreação Infantil de Defesa e Atendimento à Criança
e ao Adolescente
0776 Centro-sul Programa Sentinela Estadual
0780 Norte Plantão Social Norte
0780 Norte Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Norte
0797 Centro-sul Movimento Graal do Brasil
0808 Nordeste Núcleo de Apoio as Famílias Nordeste
0810 Venda Nova Plantão Social Venda Nova
0810 Venda Nova Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Venda Nova
0830 Pampulha Núcleo de Apoio as Famílias Pampulha
0834 Norte Núcleo de Apoio as Famílias Norte
1246 Leste Núcleo de Apoio as Famílias Leste
1333 Pampulha Casa Dom Bosco - Atendimento ao Adolescente
1379 Centro-sul Núcleo de Apoio as Famílias Centro-Sul
0613 Barreiro Plantão Social Barreiro
0613 Barreiro Serviço de Orienteção Sócio-Familiar Barreiro
1493 Venda Nova Núcleo de Apoio as Famílias Venda Nova
OUTROS
0617 Centro-sul ADEVIBEL - Associação de Deficientes Visuais de BH
EDUCAÇÃO
0636 Noroeste Movimento Viva e Deixe Viver
SAÚDE
0602 Noroeste Centro de Saúde São José
0607 Centro-sul Clínica Escola de Psicologia - FUMEC
126
0616 Oeste Centro de Saúde Noraldino de Lima
0617 Centro-sul Centro de Saúde Oswaldo Cruz
0617 Centro-sul MUSA - Mulher e Saúde
0619 Oeste Centro de Saúde Betânia
0619 Oeste Centro de Saúde Conjunto Betânia
0619 Barreiro Centro de Saúde Diamante Teixeira Dias
0619 Oeste Centro de Saúde Prof. Amilcar Vinícios Martins
0620 Leste Centro de Saúde Boa Vista
0620 Leste Centro de Saúde São Geraldo
0621 Noroeste Centro de Saúde Bom Jesus
0622 Noroeste Centro de Saúde São Cristóvão
0622 Noroeste Clínica Ammor - Ação Multiprofissional com meninos de Rua
0624 Oeste Centro de Saúde Cabana
0625 Nordeste Centro de Saúde Cachoeirinha
0628 Noroeste Centro de Saúde Santos Anjos
0628 Noroeste Clínica de Atendimento Multidisciplinar à prevenção e ao
Tratamento de Toxicomania (Centro Universitário Newton Paiva)
0630 Noroeste Centro de Saúde Califórnia
0632 Norte Centro de Saúde Campo Alegre
0636 Noroeste Centro de Convivência Carlos Prates
0636 Noroeste Cersam Noroeste
0636 Noroeste Cria Noroeste
0637 Centro-sul Província Carmelitana de Santo Elias
0638 Leste Centro de Saúde Mariano de Abreu
0642 Centro-sul Centro Mineiro de Toxicomania
0642 Centro-sul Clínica Social de Terapia
0642 Centro-sul Polínica Centro-sul
0643 Venda Nova Centro de Saúde Céu Azul
0656 Noroeste Clínica de Atendimento Psicológico - PUC
0658 Noroeste Centro de Saúde Dom Bosco
0659 Noroeste Centro de Saúde Dom Cabral
0666 Leste UPA Leste
0669 Norte Centro de Saúde Etelvina Carneiro
0670 Venda Nova Centro de Saúde Jardim Europa
0673 Barreiro Centro de Saúde Vila Cemig
0678 Norte Centro de Saúde Floramar I
0681 Centro-sul Clínica Analítica Vivência
0681 Centro-sul Fuliban - Fundação Libanesa de Minas Gerais
0681 Centro-sul Secretaria Municipal de Saúde - atenção à mulher
0682 Oeste Centro de Saúde Campo Sales
0682 Oeste Hospital Galba Veloso
0682 Oeste Hospital Sarah Kubticheck
0682 Oeste Hospital Sarah Kubitschek
0686 Oeste Centro de Saúde São Jorge
0686 Oeste Cersam Oeste
0687 Norte Centro de Saúde Gruarani
0689 Oeste ABRAZ - Associação Brasileira de Alzheimer
0690 Oeste Centro de Saúde Havaí
0691 Norte Centro de Saúde Heliópolis
0692 Leste Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário
0694 Barreiro Centro de Saúde Independência

127
0699 Pampulha Centro de Convivência Pampulha
0700 Norte Centro de Saúde Jacqueline
0702 Oeste Centro de Saúde Ventosa
0702 Oeste UPA Oeste
0704 Noroeste Centro de Saúde Jardim Montanhês
0707 Noroeste Centro de Saúde João Pinheiro
0714 Barreiro Centro de Saúde Lindéia
0714 Barreiro Equipe da Criança e do Adolescente
0717 Oeste Centro de Saúde Valdomiro Lobo
0717 Oeste Centro de Saúde Vila Imperial
0719 Venda Nova Centro de Saúde Mantiqueira
0722 Barreiro Centro de Saúde MIlionários
0724 Venda Nova Centro de Saúde Minas Caixa
0728 Oeste Centro de Saúde Vista alegre
0730 Nordeste UPA Nordeste
0731 Oeste Programa Mãe Solteira
0732 Oeste Clínica de Psicologia Newton Paiva
0735 Leste Centro de Saúde São José Operário
0738 Pampulha Centro de Saúde Itamarati
0738 Pampulha Centro de Saúde Ouro Preto
0739 Noroeste Centro de Saúde Padre Eustáquio
0739 Noroeste PAM Padre Eustáquio
0744 Leste Centro de Saúde Paraíso
0748 Noroeste Centro de Saúde Pindorama
0751 Leste Centro de Saúde Pompéia
0752 Oeste Maternidade Odete Valadares
0754 Norte Casa Transitória
0754 Norte Centro de Saúde Primeiro de Maio
0754 Norte UPA Norte - Pliclínica Primeiro de Maio
0756 Norte Centro de Saúde Providência
0758 Nordeste Centro de Saúde Aucides Lins
0758 Nordeste Cersam Nordeste
0759 Nordeste Centro de Saúde Conjunto Ribeiro de Abreu
0759 Norte Centro de Saúde MG-20
0759 Nordeste Centro de Saúde Ribeiro de Abreu
0760 Leste Centro de Saúde Sagrada Família
0760 Leste PAM Sagrada Família
0761 Oeste Centro de Saúde Salgado Filho
0762 Pampulha Centro de Saúde Santa Amélia
0763 Nordeste Centro de Saúde Gentil Gomes
0763 Nordeste Centro de Saúde Santa Cruz
0765 Leste Centro de Saúde Carlos Chagas
0765 Leste Centro Geral de Pediatria
0765 Leste Centro Psico-médico
0765 Leste CPP - Centro Psicopedagógico
0765 Leste Hospital das clínicas
0765 Leste Hospital das Clínicas
0765 Leste Hospital João XXIII
0765 Leste Instituto Raul Soares
0766 Barreiro Centro de Convivência Barreiro
0767 Leste Centro de Saúde Santa Inês

128
0768 Centro-sul Centro de Saúde Santa Lúcia
0769 Centro-sul Centro de Saúde Conjunto Santa Maria
0769 Centro-sul Polínica Antônio Cândido
0770 Noroeste Centro de Saúde Santa Maria
0771 Nordeste Centro de Saúde Maria Goreti
0772 Venda Nova Centro de Saúde Santa Mônica
0773 Pampulha Centro de Saúde Santa Rosa
0774 Leste Apae-BH
0774 Leste Centro de Saúde Horto
0774 Leste Cersam Leste
0774 Leste Lar das Idosas Santa Tereza - Santa Terezinha
0775 Pampulha Centro de Saúde Santa Terezinha
0777 Noroeste Centro de Saúde Pedreira Prado Lopes
0778 Centro-sul Centro de Saúde Meninos Jesus
0780 Norte Centro de Saúde São Bernardo
0781 Nordeste Hospital de Pronto Socorro Odilon Behrens
0782 Pampulha Centro de Saúde Ermelinda
0782 Pampulha Centro de Saúde São Francisco
0782 Pampulha SESC-MG - Centro de Saúde São Francisco
0783 Nordeste Centro de Saúde São Gabriel
0785 Venda Nova Cersam Venda Nova
0788 Leste Centro de Saúde Nossa Senhora da Aparecida
0789 Nordeste Centro de Saúde São Marcos
0791 Nordeste Centro de Saúde São Paulo
0792 Centro-sul Centro de Saúde Santa Rita de Cássia
0793 Noroeste Centro de Saúde Glória
0796 Leste PAM Saudade
0797 Centro-sul Centro de Saúde Cafezal
0797 Centro-sul Centro de Saúde Nossa Senhora da Conceição
0797 Centro-sul Centro de Saúde Nossa Senhora de Fátima
0797 Centro-sul Centro de Saúde São Miguel
0797 Centro-sul Movimento Graal do Brasil
0798 Noroeste Centro de Saúde Serrano
0803 Leste Centro de Saúde Novo Horizonte
0803 Leste Centro de Saúde Taquaril
0805 Barreiro Centro de Saúde Tirol
0805 Barreiro Centro de Saúde Túnel de Ibirité
0805 Barreiro UPA Barreiro
0806 Norte Centro de Saúde Tupi
0808 Nordeste Centro de Saúde Vilas Reunidas
0810 Venda Nova Centro de Saúde Andradas
0810 Venda Nova Centro de Saúde Venda Nova
0810 Venda Nova UPA Venda Nova
0812 Nordeste Centro de Saúde Goiânia
0814 Noroeste Centro de Saúde joão XXIII
0815 Centro-sul Centro de Saúde Tia Amância
0818 Venda Nova Centro de Saúde Visconde do Rio Branco
0819 Oeste Centro de Saúde Cícero Idelfonso
0829 Pampulha Cersam Pampulha
0832 Barreiro Centro de Saúde Vale do Jatobá
0834 Norte Centro de Saúde Jardim Felicidade

129
0835 Pampulha Centro de Saúde Confisco
0905 Nordeste Centro de Saúde Marizanda Baleiro
0906 Nordeste Centro de Saúde Capitão Eduardo
1065 Norte Centro de Saúde Floramar II
1153 Barreiro Centro de Saúde Vila Pinho
1157 Barreiro Centro de Saúde Itaipú/Jatobá
1168 Barreiro Centro de Saúde Pilar/Olhos D'água
1172 Noroeste Centro de Saúde Jardim Alvorada
1240 Nordeste Centro de Saúde Nazaré
1245 Leste Centro de Saúde Granja de Freitas
1246 Leste Centro de Saúde alto Vera Cruz
1246 Leste Centro de Saúde Vera Cruz
1310 Noroeste Centro de Saúde Jardim Filadélfia
1313 Nordeste Centro de Saúde Conjunto Paulo VI
1339 Oeste Centro de Saúde Vila Leonina
1367 Barreiro Centro de Saúde Santa Cecília
1400 Norte Centro de Saúde Aarão Reis
1436 Nordeste Centro de Saúde Vila Maria
1490 Barreiro Centro de Saúde Bairro das Indústrias
0613 Barreiro Centro de Saúde Barreiro
0613 Barreiro Centro de Saúde Barreiro de Cima
0613 Barreiro Centro de Saúde Miramar
0613 Barreiro Centro de Saúde Urucuia
0613 Barreiro Cersam Barreiro
1493 Venda Nova Centro de Saúde Jardim Leblon
Quadro: Anexo
Fonte: AMAS E CAVIV – 2005

130

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