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Resumos Aula 1
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Maingueneau (2007)
Maingueneau afirma que as fronteiras que separam uma visão sobre a Análise do
Discurso como ciência e a AD como uma sociologia, estão ainda muito borradas frente
à realidade das pesquisas que se perpassam nos dias de hoje. Isso tendo por norte a clara
divisão do campo do saber linguístico e do social/psicológico que o autor vai distinguir
mas que não colocam em linhas finais a definição deste, justamente devido ao contexto
invariável no qual este “Discurso” pode ser situado e/ou concebido. Para ele existe uma
ligação com os saberes constituídos por Saussure em relação à linguagem mas que não
se restringe nesse quesito pois se integram em uma transversalidade, particularmente a
partir do pensamento desenvolvido na França, de que se trata de uma reconfiguração do
conjunto dos saberes.
A distinção entre linguística do discurso e análise do discurso parece ser de que
esta mora em uma esfera disciplinar e, aquela, em uma esfera integrativa onde texto e
locus social funcionam em mútua relação coercitiva. Assim como essa união tende a ser
influente para uma ampla gama de disciplinas do discurso, que não necessariamente
andam em desalinho umas com as outras. Isto implica, principalmente nas ciências
humanas, a constituição de corpora de pesquisa, entendendo as categorias que vão
orientar a (re)formulação de corpus de pesquisa imersos e devidamente articulados entre
si para a própria noção de corpora, caso esta vier a ser privilegiada por quem pesquisa
por razões e sentidos de interesse próprios ao objeto que se intenta em analisar.
Maingueneau vai definir duas unidades fundamentais para os analistas do
discurso (tópicas e não-tópicas), mas com foco principalmente nas unidades não tópicas
uma vez que elas são constituídas de maneira independente das fronteiras
predeterminadas. Elas seguem através de formações discursivas e percursos de
elementos de diversas ordens lançados no interdiscurso, sem a pretensão de constituir
totalidades. No entanto, “o sentido é fronteira e subversão da fronteira, negociação entre
lugares de estabilização da fala e forças que excedem toda e qualquer localidade”
(Maingueneau, 2007, p. 34).
Maingueneau (2008)
Poderíamos sintetizar a definição de discurso de Dominique Maingueneau
(2008) no livro “Gênese dos discursos” como dispersão em regularidade. Isso implica
dizer que, na análise de discurso de orientação francesa, existe a definição dos discursos
como formações em um determinado espaço-tempo histórico e de regras enunciativas
ao mesmo tempo. No caso explicitado no capítulo introdutório do livro a tese está
centrada na hipótese do primado do interdiscurso sobre o discurso. Evidentemente, ao
utilizar o termo “hipótese” para encadear seu pensamento e desenvolver o movimento
articulatório necessário para a sustentação da ideia de dispersão em regularidade, até se
poderia pensar que o autor estaria associado a vertentes estruturalistas e totalmente
definidoras da realidade social de maneira puramente pré-determinada, mas esta é uma
utilização semântica muito bem explicitada e justificada. Bem como, o termo “gênese”
não se limita a um visão romântica de origem mas de limites e/ou fronteiras que
demonstram a variedade de sistemas assim como suas transformações.
Dito isto, o autor rechaça qualquer ideia que de alguma forma pretenda
determinar (ou ainda pior, predeterminar) uma relação dicotômica na pesquisa que
busca debruçar-se sobre a linguagem e tendenciosamente interprete este campo do saber
apenas como “superficialidade” ou “profundidade”. O autor sugere a superação dessa
dicotomia no caminho de elucidação e coerência global de múltiplas dimensões textuais.
A isto se segue a ideia de desdobramento entre superficialidade e profundidade. A
superficialidade discursiva seria a própria enunciação, o significante, a palavra. Em
contrapartida, em relação a profundidade, pode-se inferir, em uma cadeia lógica, que se
trata da formação discursiva que é o conjunto de regras dessa enunciação. Daí a
entendermos que o discurso para o autor está alocado precisamente nessa relação. Isso
pode ser ainda mais elucidado pensando em exemplos práticos. Como quando falamos
sobre o discurso religioso, a referência não é apenas a textos específicos (a bíblia por
exemplo) mas também a um conjunto de significados que seguem regras do discurso
religioso (as práticas sociais e ritos, orações por exemplo). No entanto, essa formação
discursiva não é infinita, ela pode se encerrar em algum momento uma vez que as regras
da enunciação moldam a forma como entendemos o que é este discurso.
Longe de uma visão simplista, Maingueneau afirma que o interdiscurso é o
espaço de regularidade pertinente onde os discursos são componentes e não se
constituem de maneira independente ou como numa relação de causa e efeito, mas de
maneira simultânea e de forma regulada dentro do interdiscurso. Assim como é
impossível tratar a discursividade de maneira totalmente exterior ou tratar de um
discurso sem se referir a todos os discursos.
Aqui entra a tese do primado deste interdiscurso sobre o próprio discurso em
uma perspectiva de uma heterogeneidade constitutiva, na qual se enlaça o Eu (Mesmo) e
o Outro na constituição de ambas identidades. Uma identidade de um grupo social, na
qual uma coletividade expressa suas subjetividades, é desta maneira um discurso. De
maneira semelhante a identidade de um discurso, que está atrelada a esta definição de
heterogeneidade constitutiva e enunciativa dessa identidade. Importante frisar que o Eu
e o Outro não se finaliza nos seus pressupostos psicanalíticos, mas estão situados na
acepção enunciativa e histórica.
O interdiscurso é então destrinchado em três conceitos centrais: Universo
Discursivo; Campo Discursivo e Espaço Discursivo. O primeiro é um conjunto amplo
de discursos em uma conjuntura definida; o segundo é um conjunto mais restrito de
discursos que compartilham elementos em comum ou não mas possuem a mesma
função social; e o terceiro diz respeito aos subconjuntos de formações discursivas nas
quais se assumem posições de sujeito em negociação de significados.
Retomando a ideia do Mesmo e do Outro, o autor aborda a relação entre ambos,
argumentando que a definição de uma rede semântica que delimita a singularidade de
um discurso coincide com a definição desse discurso em relação ao seu "Outro", que é
concebido como um "tu virtual" e o interdito do próprio discurso. Esta concepção
complexa destaca que cada enunciado possui uma faceta (o lado direito) que
corresponde à formação discursiva e outra faceta (o lado avesso) que tende a rejeitar
esse "Outro" que, na realidade, também contribui para a constituição do sujeito do
discurso. Assim, evidencia-se um dialogismo inerente a cada enunciado, revelando uma
dissimetria na sua gênese que não abrange todas as relações entre um discurso primário
e um secundário, ainda mais em uma perspectiva cronológica. Esses discursos se
entrelaçam em um campo discursivo que possui um duplo caráter: um dissimétrico, que
descreve a formação de um discurso, e um simétrico, que revela a interação conflituosa
entre dois discursos nos quais o "Outro" representa, total ou parcialmente, o contraponto
do próprio discurso.