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JURAcY CANGADO - © CLAssico - A MILENAR ARTE CHINESA DE ACUPUNTURA COM 0S DEDOS 502 EDIGAO completa e atualizada do LIVRO DOS PRIMEIROS SOCORROS GROUND ws v —i|_ O mecanismo de agao das praticas chinesas envolve sempre o desbloqueio no transito da rede de meridianos, por meio da intervengdo nos seus pontos reguladores. E 0 livre fluxo do Qi que permite a correcdo do disturbio que ocasiona o mal estar. Aplicada ao autotratamento ou estendida a outra pessoa, a estimulagao digital de pontos chave mostra-se perceptivelmente Util para lidar com toda uma gama de disturbios e disfungdes, particularmente nas crises e noutras condicdes agudas. Como primeiros socorros nas emergén- cias, em certos casos a intervengao manual chega a ser mais imediata do que a das agulhas da acupuntura! Quando envolvem dores em geral, os resultados costumam ser imediatos, e o numero de pontos exigido €é minimo - muitas vezes um Unico ponto pode ser suficiente. Todos os tratamentos constantes deste livro apresentam os pontos sugeridos ilustrados por diagramas de sua locali- Zagao no corpo. Juracy Cangado foi 0 introdutor do DO-IN no Brasil. Desde 1973 desenvolve amplo trabalho pedagdgico de iniciagao as artes terapéuticas chinesas e suas afinidades com as terapias corporais energéticas contemporaneas, com énfase na integracao da sabedoria milenar com as mais modernas concepgées no campo da satide. Além de escrever seus proprios livros: ¢ DO-IN Primeiros Socorros (vols.1 e 2) ¢ DO-IN para Criangas » Rios de Chi interferiu diretamente na publicagado de varias obras de referéncia: « DO-IN Técnica Oriental de Automassagem Jacques de Langre ¢ Shantala: massagem para bebés Frédérick Leboyer 0 Livro do DO-IN Michio Kushi + Shiatsu dos Pés Descalgos Shizuko Yamamoto 4 Sy RA. camo BL livros para uma nova conscigncia JURACY CANGADO » © CLAssico - wr 2a 5 A MILENAR ARTE CHINESA DE ACUPUNTURA COM OS DEDOS 502 EDICAO completa e atualizada do LIVRO DOS PRIMEIROS SOCORROS So Paulo / 2017 EDITORA GROUND / PDITORA AQUARIANA © 2017 Juracy Campos L. ¢ Programagéo visual Antonieta Canelas Editoragao Ediart Reviséo Equipe Ground Capa DesignCRV Fotos Maria Helena.Arte Modelo Anik de Miranda Guimaraes CIP-BRASIL. CATALOGACAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 222d 50. ed Cangado, Juracy Campos L. (Juracy Campos Lopes) Do-in : a milenar arte chinesa de acupuntura com os dedos / Juracy Campos L Cangado. - 50. ed. - Sao Paulo : Aquariana, 2017. 316 p. il: 23. om, Inclui bibliografia Inctui sumatio ISBN: 978-85-7217-183-0 1, Dedos - Acupuntura. |. Titulo, 17-44383 COD: 615.892 CDU: 615.814.1 28/08/2017 30/08/2017 Publicado em coedigao com a Editora Ground Ltda. www.ground.com.br Direitos reservados: Editora Aquariana Ltda. Ay. Santa Catarina, 619 - sala 14 — Vila Alexandria 04635-001Sa0 Paulo ~ SP Tel.: (11) 5031-1500 vendas@aquariana.com.br www.aquariana.com.br , Para Marcio de Castro Agradecimentos Em primeiro lugar, quero expressar meu profundo reconhecimento pela oxtraordinaria ‘sabedoria em acao’, compassivamente legada 4 humanidade por meio da palavra viva dos seres excepcionais e grandes mestres da China antiga. Minha gratidao se estende aos dedicados estudiosos e pesquisadores contemporaneos, cujo trabalho me proporcionou ricas inspiragées para a olaboragao deste livro. Em particular, quero agradecer a minha editora, Dina Venancio, pelo papel decisivo que exerceu na concepgao, gestac&o e produgao da obra. Responsavel, desde o inicio dos anos 1980, por dar continuidade e amplitude 40 projeto editorial da Editora Ground, Dina foi a fonte permanente de onlusiasmo, orientagao e determinagao que assegurou a completa realizacdo deste extenso trabalho. Agradego igualmente a Antonieta Canelas, cujo meticuloso exercicio de diagramagao, composigao e de reiteradas revisées de textos foi mais além da bela programagdo visual e do criativo planejamento grafico. Sou imensamente grato ao grande amigo e parceiro de outras tantas jomadas, Ralph Viana, pela providencial edico dos textos introdutérios, com inspiradas intervengdes pontuais que fizeram a diferenga. Foi um grande prazer trabalhar com Maria Helena Mello, responsavel polo extenso trabalho fotografico, afetuosamente conduzido de forma a Contornar dificuldades e conciliar preciso técnica e criatividade artistica. Quoro expressar também minha admiracao pela modelo, Anik de Miranda, por retratar as posturas com espontaneidade e beleza. E ao capista, Raul Rangel, pela bela e significativa capa. Em acréscimo, quero agradecer a minha mulher, Rachel Barros, pelo apoio constante. A minha secretaria, Romércia dos Santos, pela digitagao ea (ransformagao de um emaranhado de manuscritos em um texto organizado. 1 a08 meus intimeros alunos que, ao longo de mais de quatro décadas, tém Mo iniciado na arte de aprender e ensinar, Minha eterna gratidao a dois grandes amigos, cofundadores da Editora Ground, @ parceiros das primeiras e mais dificeis etapas da jornada: Luiz Andrada que, desde o inicio, soube traduzir em belas imagens graficas o ospltrito do Do-In; e 0 saudoso Marcio de Castro, cuja amalgama de energia, determinagao e inteligéncia aplicada serviu de forga propulsora para a emergéncia do Do-In e da pioneira Editora Ground no Brasil. Que Deus 0 abengoe, onde quer que ele esteja. Por fim, um agradecimento especial a Mario Moura, pela confianga neste livro ainda em sua fase preambular, e que, por ser editor além-mar, Ihe deu também a dimensdo maior de atingir outro continente. Sumario PrerAcio, 15 UM PENSAMENTO EM CAMPOS, 19 (A GRANDE REDE DE ANIMACAO, 23 Os MERIDIANOs PRINCIPAIS E OS 12 OFICIAIS, 25 Os PONTOS DE REGULACAO, 29 ARTES TERAPEUTICAS CHINESAS, 33 PRATICAS CHINESAS DE AUTOCURA, 35 COMO USAR ESTE LIVRO, 39 AuTOTRATAMENTOS, 47 Acne, 49 Afecgdes da pele, 50 Aftas, 51 Angina de peito, 52 Alergias em geral, 53 especialmente cutaneas, 54 especialmente respiratorias, 55 Amidalite, 56 Ansiedade com nervosismo, inquietagéo e/ou angustia, 57 com preocupagtes, obsessao mental ou estémago “nervoso”, 58 com tens&o muscular, irritagdo e opressdo, 59 Apendicite aguda, 60 Apetite, 61 Arritmia cardiaca, 62 Artrite parte superior do corpo, 63 parte inferior do corpo, 64 Asma, 65 ATM (disfungéo da articulacao temporo mandibular), 66 Azia, 67 Bocejos, 68 Bronquite, 69 Bursite, 70 Bruxismo, 71 Caimbras, 72 Ciatica, 73 Circulagao deficiente, 74 Cistite, 75 Claustrofobi Colapso, 77 Célicas e espasmos em geral, 78 intestinais, 79 menstruais, 80 biliares, 81 renais, 82 Colite aguda, 83 Compulsdo, 84 Congestao nasal, 85 Conjuntivite, 86 Contusao nos testiculos, 87 na cabega, 88 Coragem, 89 Cotovelo de tenista, 90 Dentes dores em geral, 91 dores — especialmente superiores, 92 dores — especialmente inferiores, 93 durante o trabalho dentario, 94 antes de extrag&o ou qualquer cirurgia dentaria, 95 aps extragao ou qualquer cirurgia dentaria, 96 Dentes em bebés incémodes da primeira dentigao, 97 Depressao psiquica, 98 Diabetes, 99 Diarreia, 100 Dispneia, 101 Distens6es, luxacées e torceduras, 102 Disturbios digestivos, 103 respiratorios, 104 urindrios, 105 Dor de cabega, 106 est6mago, 107 garganta, 108 ouvido, 109 Dores em geral, 110 no cotovelo, 111 nos dedos das maos, 112 10 nos joelhos, 113 lombares, 114 nos pulsos, 115 musculares em geral, 116 no pescogo e na nuca, 117 no tornozelo ou calcanhar, 118 nos ombros, 119 nos quadris, 120 Ejaculagao involuntaria noturna, 124 precoce, 122 Enjoo e nausea, 123 Enxaqueca, 124 Epilepsia, 125 Esporao do caleaneo, 126 Fadiga cansago crénico, 127 ocular, 128 Febre, 129 Febre do feno (rinite alérgica), 130 Fogacho (calores na menopausa), 131 Forca de vontade, 132 Friagem, 133 Gagueira, 134 Gastrite, 135 Gengivite, 136 Gota, 137 Gravidez, 138 Gripe, 139 Hemorragia ‘em geral — nao muito severa, 140 nasal, 141 uterina, 142 Hemorréida, 143 Herpes labial, 144 Hipoglicemia, 145, Indigestao, 146 Infarto, 147 Insolagao, 148 Insénia com preocupagées ou ma digestdo, 149 com excitagao ou euforia, 150 com irritacdo, inquictagao e/ou calor na cabega, 151 Inritagao, 152 11 Intoxicagao por alimentos, 153 por monéxido de carbono, 154 Por drogas (farmacéuticas ou recreativas), 155 Lactacao, 156 Laringite, 157 L.E.R. (lesdo por esforgo repetitivo nas maos), 158 Medo sem causa aparente, 159 de puiblico, 160 Meméria deficiente, 161 Menopausa desconfortos, 162 Menstruacao distirbios em geral, 163 atrasada ou interrompida, 164 muito frequente ou excessiva, 165 Meteorismo, 166 Micgdo, 167 Nervosismo, 168 Nevralgias, 169 Nevralgia facial, 170 Olhos, 171 Ovarios, 172 Paralisia facial, 173 Parto para auxiliar, somente apés iniciado 0 trabalho, 174 feto na posigao invertida, 175 para o restabelecimento pés-parto, 176 Pernas pesadas, 177 Presséo alta, 178 baixa, 179 Prisdio de ventre, 180 Prostatite, 181 Regurgitagao dcida, 182 Resfriados, 183 Retengdo urinaria, 184 Ressaca, 185 Rouquidao, 186 Sede - para aliviar temporariamente, 187 Sindrome do tunel do carpo, 188 Sinusite e rinite, 189 Solugo, 190 Sonoléncia, 194 Suor excessivo, 192 12 Suor notumo, 193 Surdez - parcial ou recente, 194 ‘Surto emocional, 195 Tabagismo, 196 Tens&éo corporal, 197 pré-menstrual (TPM), 198 Tétano, 199 Torcicolo, 200 Torpor mental, 201 Tosse, 202 Trismo, 203 Utero, 204 Vertigem, 205 Zumbido nos ouvidos, 206 Pontos coMBINADOS, 207 Para retengao de liquidos e inchagos, 209 Para fortalecimento imunolégico, 211 Para estresse emocional nas crises e mudangas, 214 Para raiva e irritagao, 217 Para excitacdo e histeria, 219 Para preocupagao e obcessao mental, 221 Para tristeza, pesar e magoa, 223 Para medo e apreensao, 225 Para impoténcia e frigidez, 227 Para descongestionar a cabeca, clarear a mente ¢ ordenar © pensamento, 229 Para recuperar uma noite maldormida, 231 Para aliviar a tensdo abdominal, 233 1° SOCORROS NAS EMERGENCIAS, 235 Afogamento, 237 Apoplexia, 238 Asfixia com face palida decorrente de excesso de didxido de carbono no sangue, 239 com face azulada, 240 Choque elétrico, 241 Choque emocional com torpor, desconexdo ou desmaio, 242 com agitacdo, descontrole e histeria, 243 Colapso cardiaco, 244 Coma recente ou breve, 245 13 Concussao por golpe violento na coluna, 246 com golpe violento na cabeca, 247 Convulsées em geral, especialmente do tipo epiléptico, 248 infantis, 249 Convulsées ou insensibilidade em acidentados, 250 Desmaio em geral, 251 por golpe violento, 252 por golpe nos testiculos, 253 Envenenamento, 254 Exaustao extrema, 255 Ferimentos e cortes, 256 Fraturas, 257 Hemiplegia, 258 Hemorragia venosa (sangue escuro escoando do ferimento), 259 arterial (sangue claro jorrando em jatos do ferimento), 260 Irritagao em criangas, 261 Mordida de cao raivoso, 262 Picadas de abelhas, aranhas, mosquitos e insetos em geral, 263 de cobra, 264 Queimaduras, 265 Sufocagao, 266 Exercicios COMPLEMENTARES, 267 Para artrite e L.E.R. nas maos, 268 Para dor de cabega e enxaqueca, 271 Para rigidez e dor nos joelhos, 272 Para rigidez na coluna, 273 Para rigidez da articulagao ombro-brago, 274 Para afeccSes da garganta e das cordas vocais, 275 Para aumentar o vigor sexual homens, 276 mulheres, 277 AREAS REFLEXAS DOS PEs, 279 PRATICAS DE PREVENCAO E APRIMORAMENTO PESSOAL, 287 Membros superiores, 290 Pescogo e cabega, 291 Tronco, 293 Membros inferiores, 294 Indice da localizagao dos pontos, 297 Bibliografia, 315 14 Prefacio Na ocasiao em que minha editora, Dina Venancio, sugeriu fazermos uma publicagao conjunta dos dois volumes do meu livro “Do-In — Livro dos Primeiros Socorros’, aleguei que essa jungdo jé tinha ocorrido em 1994, na edigdo espanhola das obras, intitulada, “Do-In — el milenario arte chino de curacion”, pela Ediciones Martinez Roca. Mas havia outro motivo para a sua sugestéo: as matrizes originais de ambos os volumes (seus anacr6nicos fotolitos) - me explicou ela — ndo mais comportavam reproducdes aceitaveis. Alem de tudo, estes manuais — 0 primeiro volume na 49? edi¢do e o segundo na 27? — necessitariam de novas fotos e ilustragdes. Mais pratico, portanto, publicd-los num mesmo tomo. Me dei conta, entéo, de que havia chegado o momento de executar um projeto mais ambicioso: enfim colocar em pratica a protelada ideia de remodelizar estes livros. Apesar de serem congruentes com o papel que Ihes coube a época — a iniciagdo a uma técnica fundamentada em nogées alheias @ nossa cultura —, os dois livros jé requeriam uma dedicada atualizacao, compativel com quase cinco décadas de minha experiéncia pessoal e coma agora relativa familiaridade do ptiblico com 0 tema. Pois 0 Do-In, além de constituir um acervo de técnicas de cuidados com a prépria sade, representa uma saudavel proposta de autonomia e de desenvolvimento pessoal continuo. Versdo japonesa do Dao Yin — 0 método de auto aprimoramento e preparo inicidtico que serviu de alicerce para a edificagdo da medicina chinesa tradicional -, 0 Do-In se define como um trabalho em processo. A chegada ao Ocidente. O Do-In chegou ao Ocidente pelas maos de mestres compassivos e jovens visionarios que, no inicio dos anos 1970, cultivavam as sementes de um embrionario movimento ent&éo chamado de “medicina alternativa”. Meu primeiro contato com a técnica — circunstancial, registro — se deu a partir de vivéncias e palestras voltadas para a difusao de uma “nova consciéncia”, que aconteciam nos nucleos contraculturais em Nova York, onde eu entao vivia. Ao voltar para o Brasil, em 1973, juntamente com dois queridos amigos, Marcio de Castro e Luiz Andrada (que conviveram comigo nessa iniciagao informal), fundamos a Editora Ground, a primeira do género no Brasil. O 15 objetivo imediato foi o langamento da minha adaptagao suplementada de um livreto recém-publicado nos Estados Unidos por Jacques De Langre, intitulado “The First Book of Do-In”, um escrito pioneiro sobre o tema no Ocidente, que aqui recebeu o nome de “Do-In, Técnica Oriental de Automassagem”. Arepercussao instantanea que esse pequeno livro causou me instigou a escrever 0 “Do-In—Livro dos Primeiros Socorros”, logo seguido de um segundo volume suplementar. Grande sucesso editorial desde 0 seu langamento, as sucessivas edigdes desses manuais, complementadas por cursos de aperfeigoamento técnico que dei ao longo do pais (que se estenderam até o exterior), conferiram ao Do-In uma expressiva popularidade, sensibilizando toda uma geragdo para as surpreendentes possibilidades de prevencao e autocura ao alcance das proprias mdos. Paralelamente, esta difusao de conceitos orientais de satide e a acessibilidade ao método de autocura também ajudaram a abrir caminhos e contornar as dificuldades iniciais enfrentadas pela acupuntura entre nds. Escolhas dificeis. Agora, apds uma longa e bem sucedida jomada, a restauragao suplementada dessa modesta obra pioneira mostrou-se oportuna enecessaria. Uma tarefa delicada, contudo, uma vez que sua longevidade muito se deve a uma feliz combinagao de eficacia e simplicidade. Era importante nao perder de vista que, em se tratando de um trabalho prioritariamente destinado ao leigo, 0 aprimoramento técnico nao poderia comprometer a acessibilidade original da obra. Me dei conta, de imediato, de que tinha a frente uma jornada que iria exigir uma tomada de decisao a cada passo. Ademais, tratava-se ali da reformulagao de receitas curativas assentadas na sabedoria de uma tradi¢ao milenar. Nesse ponto, socorreu-me Evaristo de Miranda em seu belo livro “Corpo — Territério do Sagrado”. A tradigao, ele esclarece, nao trata essencialmente da conservag4o ou da preservagdo de algo imutavel; na realidade, a tradi¢ao significa a constante atualizagéo no presente do que recebemos no passado. Mas havia ainda uma questéo preliminar a ser definida, que me trazia a mente a adverténcia da minha amiga Sonia Hirsch: a mexer no que foi publicado, opinava ela, é mais facil escrever um novo livro. Indeciso entre as duas solugdes — atualizagao ou livro novo —, optei por ambas. Preservando as valiosas formulas tradicionais que se mantiveram imunes a acao predadora do tempo, decidi por ampliar ¢ reescrever o livro na sua totalidade. A partir dai, sempre que possivel tendo como parametro minha experiéncia prévia e verificagdes pessoais, teve inicio um longo trabalho que incluiu o estudo comparativo de inumeras obras atualmente disponiveis sobre 16 0 tema. A versatilidade dos pontos chineses e as variadas possibilidades de combina-los mais dificultavam do que facilitavam fazer escolhas criteriosas. Critérios de organizagao. Finalmente, apds a selecao dos disturbios a serem tratados e a defini¢&o dos pontos e dos métodos sugeridos, as praticas apresentadas neste livro ficaram organizadas em seis partes: Autotratamentos — selegao de sintomas com sugestées de pontos e técni- cas de tratamento. Pontos combinados — formulas especiais com aplicagao simultanea de pontos. Primeiros socorros nas emergéncias — abordagem sintomatica com a par- ticipagao de outra pessoa. Exercicios complementares — manobras e procedimentos auxiliares para a suplementagao dos tratamentos. Areas reflexas dos pés — massagem nas zonas de correspondéncia da planta dos pés. Préticas de prevencao e aprimoramento pessoal — automassagens nos meridianos para a prevengéo de enfermidades e autodesenvolvimento. As especificagdes e as orientagdes para o exercicio dessas praticas encontram-se detalhadamente expostas no capitulo “Como usar este livro” (p.39). As descrigdes da localizagao de todos os pontos utilizados neste livro, acompanhadas de diagramas, constam do “indice da localizac&o dos pontos” (p.297). Atualizacées. Quando a parte pratica finalmente ganhou forma (mais de 90 por cento do livro), uma Ultima questao se apresentou. Como as informagées técnicas foram devidamente reformuladas, os textos introdutérios originais — apropriados para a sua 6poca — causaram um inadequaco efeito assimétrico. Ou seja, a atualizagado das praticas demandava igualmente uma atualizagao tedrica. Uma providéncia imprescindivel. E importante registrar que a chegada da medicina chinesa ao Ocidente foi, em larga escala, favorecida — 6 forgoso admitir — pela reformulagao a que foi submetida na propria China na era de Mao Tsé Tung. Ela foi feita com o duplo propésito, tanto de acomoda-la dentro da ideologia vigente — 0 materialismo dialético — quanto também para torna-la atraente a um ja ambicionado mercado ocidental. A estratégia envolveu uma rigorosa assepsia pragmatica que praticamente despiu esse sistema de cura de seus fundamentos tedricos mais profundos, em prol de uma proximidade com o cientificismo das biomedicinas ocidentais. 17 A manobra acabou tendo um alto custo. A negagao de seus preceitos basicos mais legitimos, atribuidos ao misticismo, ¢ a exclusdo dos classicos filosdficos que originalmente nortearam suas praticas, deixaram esta “nova” medicina chinesa tradicional carente de uma construgéo tedrica a altura do seu extraordinario potencial terapéutico — “uma Arvore sem raizes”, na definigao do historiador de medicina Paul Unschuld. Esses fatos acabaram restringindo um extraordinario acervo de ferramentas de transformagdo em um conjunto de técnicas — operativas, por certo — destinadas quase que exclusivamente ao tratamento de problemas do corpo e ao fortalecimento do vigor fisico. Releituras mais recentes de canones censurados, como o Ling Shu ("Eixo Espiritual”) deixaram claro que ndo é possivel entender a medicina chinesa, e muito menos explorar todo o seu potencial, pela otica ocidental. Em outras palavras, ou ela sera compreendida a partir da sua génese, ou nunca o sera. Fruto de uma perspectiva incomum, focada, nao nas coisas, mas nas interrelagdes continuas que se operam entre elas, a visao chinesa fundamenta-se na nog&o de uma abrangente teia dinamica que ordena e conduz 0 movimento da vida. Figurada no espago corporal humano pela geografia ativa dos vasos e meridianos, essa rede de animacdo orquestra © comportamento integrado do organismo e mantém em ressonancia o funcionamento do mundo e do homem em seu corpo. E esse enfoque singular que orienta e confere significado a todo o universo das artes terapéuticas chinesas. Assim sendo, aproveitei a oportunidade para resignificar conceitos @ noges-chave, cujas tradugées correntes, com muita frequéncia ndo se mostram compativeis com as concepeées originais. Uma medida importante, uma vez que, como sustenta a crenga chinesa, 0 potencial dessas praticas aumenta com o entendimento do praticante. Em acréscimo, poder dispor de maneira consciente de tais recursos voltados para a autossuficiéncia e a responsabilidade pessoal, ganha mais importancia na medida em que se intensificam os desafios que a vida nos traz. Segundo as tradigdes, sempre que o homem atravessa grandes dificuldades e impasses, uma sabedoria perene ressurge, na forma de conhecimentos e praticas, para ajuda-lo a transformar crises ciclicas em oportunidades de crescimento. Minha expectativa é de que o presente livro traga uma modesta contribuigdo para esse crescente processo de transformacao. Juracy Cangado Julho/2017 18 Um pensamento em campos Q UANDO CARL JUNG APRESENTOU AO DESTACADO ARTIFICE DA MECANICA quantica, Niels Bohr, a verso do ‘I Ching’ traduzida e comentada pelo sindlogo Richard Wilhelm, o fisico, reconhecendo ali descrigdes de um extra- ordinario territério recém-descoberto pela ciéncia ocidental, expressou seu assombro com uma frase definitiva: “os chineses pensam em campos!”. Para Bohr, que a partir de entéo manteve em sua mesa de trabalho o emblema de Yin/Yang circundado pelos dizeres “os contrarios nao se contradizem”, o impacto maior foi justamente deparar-se com 0 seu revoluciondrio conceito de complementaridade, exuberantemente refletido no pensamento de uma cultura tao remota. Mas 0 paralelismo entre as duas visdes nao se esgota na no¢do de correspondéncias que se atraem e se agrupam e oposigdes que se contra- riam € se completam. De fato, se abstraimos as denotagées utilizadas no formalismo da teoria quantica (ondas de probabilidade e particulas que nao se definem pelo que sao, mas pelo que fazem) e fixamos 0 foco em suas conotagées simblicas, podemos entendé-las como metaforas de um miste- rioso processo que os antigos sdbios chineses chamaram de Yi, a Mutacdo. Pois 4 semelhanga do olhar da nova fisica, a mente chinesa nao se detém nas coisas, mas nas transformages. O foco e a énfase esto nas transigdes € no na constancia. Ao prospectar a nebulosa zona de operagdes subjacente as estruturas atomicas — 0 nivel “pré-matéria” das ondas-particulas — os fisicos modernos tiveram que deixar de lado a objetividade e a precisao do pensamento anali- tico mecanicista, t&o Uteis na lida com as “coisas” que emergem a superficie, em favor de uma forma de pensar apoiada em nogées de incerteza, relativi- dade, tendéncias, conexées ndo-locais e interdependéncia mente-matéria. Nas profundezas do universo subatémico as leis naturais operam em confor- midade com o principio das categorias afins, ordenadas no campo como “ten- déncias para existir’, algo como uma medida de probabilidade de ocorréncia de um evento, que a nova fisica denomina “fungao de onda quantica”. O “campo” atua como um poder ordenador: em toda situagao existe uma rede atuante de relagdes; 0 campo consiste na tend&ncia de assumir certas posigées, criando uma ordem. Capturado pela “medi¢&io” — interagao resul- tante da observacao no nivel microcésmico - um feixe de ondas colapsa, “dobrando-se” como um fendmeno localizado — uma particula subatémica. 19 “Mas essas particulas isoladas”, escreveu Niels Bohr, “s&o abstragées, suas propriedades so definiveis e observaveis somente através de sua interagao com outros sistemas”. Ainda mais enfatico, Gregory Bateson argumenta que todas as definig6es tém que ter por base a relagdo. E arremata, argumen- tando que, a rigor, qualquer coisa somente se define por suas relagdes com outras coisas e nao pelo que 6 em si mesma —e que isto deveria ser ensinado as nossas criangas na escola primaria! Entre dois mundos Sem pretender abusar das analogias — afinal, a ninguém ocorre confundir meecAnica quantica com cosmologia chinesa — algumas comparagées s&0 apenas inevitaveis. Confronte-se, por exemplo, as explicagdes de Bohr e Bateson acima citadas com a descrigdo taoista do Qi (Chi), o agente dinamico da teia cosmica interativa: “o Qi nao esta nas coisas, mas no didlogo, na relagao”. Objeto de intervengao das praticas médicas chinesas, o Qi é uma das ideias diretrizes fundamentais do pensamento desta cultura. Seu significado transcende as nogées de substancia, ou mesmo de forca, no sentido quantitativo do termo “energia”. Kaptchuk o descreve como “energia a ponto de se materializar, e materia no limite de se tornar energia”. Mais conciso e certeiro, Eyssalet diz que Qi é a Relagdo. Para o taoismo € 0 “cavalo branco” que entra e sai da existéncia, animando e atualizando o mundo sem cessar. Em suas trajetorias ininterruptas, o Qi tece uma vastissima e intrin- cada teia de interrelagGes que recobre e permeia 0 mundo e promove uma relacdo intima e indissoluvel entre todas as coisas. Numa via de mao dupla, costura os dominios do visivel e do invisivel. No Amago da trama césmica, um portal (Wu Xing) distingue os dois grandes setores do mundo: de um lado o Céu Anterior (Xian Tian), onde o tempo € perene e 0 espago é ndo-localizado; do outro, o Céu Posterior (Hou Tian), com seu tempo ciclico esculpindo 0 espaco tridimensional. Aqui, “an- terior’ e “posterior” definem, respectivamente, “tudo aquilo que precede a forma” e “tudo que sucede a forma”, numa referéncia as duas modalidades de espago- -tempo decorrentes dos movimentos “interiores” e “exteriores” do Qi. © Céu Posterior é 0 familiar dominio “do que tomou forma”, das “dez mil coisas” e das relagdes ativas entre os seres. E 0 aspecto mais “mecanico” da realidade onde o Qi configura as formas concretas ¢ ordena suas interrela- ges. Seu modelo operacional é a rede césmica que, no Ambito humano, se replica no corpo pela arborizagao dos Vasos e Meridianos (Jing Mai) 20 No Céu Anterior a dinamica do Qi é “interna”, numa espécie de “imo- bilidade ativa”, que os taoistas comparam a de uma libélula pairando no ar, plena de tensdo e vibragdo interior, mas ainda assim estacionaria. Na esfera humana corresponde ao periodo pré-natal, bem como ao mundo interior da pessoa, com seus potenciais, anseios, sensagGes, sentimentos e pensamentos. No plano espiritual esta associado ao destino. Na cosmologia assemelha-se a “ordem implicada” ou “dominio das frequéncias” do fisico David Bohm. O que extraimos deste exercicio analégico 6 que, de certa forma, a me- cAnica quantica esta para a fisica classica assim como a medicina chinesa tradicional esta para a biomedicina ocidental. Em ambos os casos percebe- -se que a diferenga de abordageris ~ sistémica ou holistica, por um lado, e reducionista-mecanicista, por outro — determina largamente as possibilidades, os métodos e os objetivos alcangaveis. De fato, tais aportes diferem porque suas metas s4o diferentes: para lidar com os aspectos densos da realidade o mecanicismo é insuperavel, mas para 0 acesso aos seus “interiores” sutis — no que tange a medicina chi- nesa, aos seus aspectos psicoemocionais —, s6 é possivel a partir de uma concepgao sistémica. Perspectivas e paradigmas Portanto, podemos concluir que tais abordagens sao perspectivas sin- gulares, que retratam aspectos distintos da realidade. Assim, a moderna bio- medicina ocidental, fruto de uma ética dominantemente focada no visivel, tem como objeto de intervencao o corpo fisico e suas mazelas observa- veis. E somente a partir da detec¢do das “imagens de lesdo”, hoje identi- ficadas pela moderna tecnologia médica, que sua eficdcia pode se mostrar verdadeiramente soberana N&o é por outra raz&o que os enigmaticos, mas bastante comuns, quadros Clinicos de “distrbios funcionais sem lesées observaveis” prosseguem sendo © grande pesadelo do médico ocidental. Ante a essa realidade que ndo se explica pelas lentes mecanicistas — a “maquina” funciona mal, apesar de suas “engrenagens” apresentarem-se (ainda) intactas —, pouco resta ao cli- nico senaéo empurrar o incémodo problema para as regi6es nebulosas de uma mal definida “psicossomatica”, uma espécie de gueto terapéutico muito esporadicamente visitado pela nossa medicina oficial. Ja a medicina chinesa tradicional — apesar das mutilagées sofridas pela reforma “modemizadora” de Mao Tsé Tung — aborda o fendmeno sob uma perspectiva radicalmente distinta. Menos interessado na constancia das. 21 coisas do que nas transicées e transformagdes que se operam entre elas, 0 pensamento dos antigos sabios chineses foi capaz de conceber um sistema de cura dominantemente funcional. Para além do corpo fisico, seu campo de agéo é uma “rede de animag4o”, um verdadeiro campo de interrelagdes que ordena todas as atividades psicofisicas em cadeias de fungdes, e as regula pela dinamica da natureza e do mundo. Em razdo dessa otica que privilegia as relacGes, o interesse do médico chinés estaré sempre mais voltado para o entendimento de como a vida fun- ciona do que ao conhecimento de partes de sua anatomia. Ao contemplar © corpo e seus componentes nao ocorrera a mente chinesa indagar ‘o que é isso?’, mas sim ‘o que isso faz?’. Trata-se, portanto — e essa compreensao é simplesmente fundamen- tal — de uma medicina essencialmente diferente da nossa. E é por isso que, como tem demonstrado nossa ambigua convivéncia com a MTC em décadas recentes, nao € possivel entendé-la nem explorar todo o seu potencial a partir da 6tica ocidental. E certo que sempre é possivel tirar algum proveito de suas técnicas sem um entendimento fundamentado de sua esséncia (como, de fato, ocorre hoje em larga escala no Ocidente). Mas, como adverte o dito taoista “sem a pratica a teoria é inutil; sem a teoria a pratica é perigosa”. Tais diferencas, contudo, néo devem desestimular a construgao de um didlogo inteligente e integrativo entre essas duas abordagens terapéuticas. Mesmo porque, como ja intuiram os antigos sabios chineses e agora atestam 08 fisicos de vanguarda, perspectivas opostas, longe de se contradizerem, apenas reafirmam a validade de ambos os pontos de vista — estando claras as paisagens que descrevem. Assim, 0 tao debatido conflito de paradigmas gira em toro de uma falsa premissa: afinal, o que ha de criticavel no atual pa- radigma nao é 0 fato de ele ser reducionista, mas de ser parcial e excludente. 22 A grande rede de animacao E M SEU CLASSICO “O PENSAMENTO CHINES”, 0 CONCEITUADO SINOlogo Marcel Granet esclarece que a mente chinesa nao divide o mundo em reinos, mas em cadeias de comportamentos. Os lotes de realidades que se agrupam por graus de complexidade e poder de interagdo — os reinos mine- ral, vegetal e animal - sdo coberturas sobrepostas a uma vastissima rede dinamica que ordena o funcionamento da vida e encadeia os fenémenos, desde os mais densos até os mais rarefeitos, em linhagens de correspon- déncias solidarias. Na concepeao tradicional chinesa, essa abrangente teia de interrela- Ges se reflete no terreno corporal humano pela rota precisa dos Vasos e Meridianos. E por esses caminhos que se opera a “rede de animag&o” orde- nadora responsavel por manter em ressonancia o funcionamento do mundo e do homem. E é por meio dessa rede que “o homem se regula pela Terra (a natureza), a Terra se regula pelo Céu (a dimenséo cosmoldgica), 0 Céu se regula pelo Dao (Tao), ¢ 0 Dao se regula por si mesmo” Mas chamar essas vias invisiveis de “canais condutores de energia” 6 uma forma simplista e inexata de descrever a dinamica auto-organizadora que rege a vida do homem em seu corpo. O termo chinés que a designa — Jing Mai — traduz a nogao de um conjunto de “trajetos sutis preexistentes”, suge- rindo a ideia de que algo insubstancial e impalpavel se conduz primariamente por essas rotas. A esse algo o chinés da o nome de Qi (Chi), 0 agente do mo- vimento, o sopro primordial que transporta a vitalidade e “faz o mundo andar’. Os rios de Oi A nogdo de Qi, contudo, nao implica qualquer tipo de substancia ou mesmo de energia, embora todas as substancias e energias dependam do Qi para sua existéncia e funcdo. Qi refere-se a uma expressio dirigida e es- truturada de movimento. Qi ndo ¢ 0 fluxo de alguma coisa ou de algo singular, mas 0 proprio fluxo em si que serve de veiculo para todas as manifestagdes da vida. Exprimindo-se continuamente por fases alternantes de tensdo, expansao € crescimento, e de distensao, retraimento e decrescimento — figuradas pelos emblemas chineses Yang e Yin —, o Qi se faz presente tanto na agado 23 transformadora do tempo Yang, quanto na disposigéo receptiva do espago Yin. Yin e Yang sao os emblemas ativos que assinalam as incessantes flutua- gdes do Qi Nesse sentido a palavra “meridiano”, que alude as zonas de influéncias que o tempo demarca no espago terrestre, pode ser considerada uma tradugao tazoavel do termo chinés Mai. Mas, da mesma forma em que ocupam todas as dimensées do mundo manifesto, as trajetérias corporais do Qi nado se res- tringem a topografia classica dos Vasos e Meridianos comumente retratada nos mapas chineses. Ali, em beneficio da didatica, registra-se tao somente as vias de maior relevo funcional — os 12 Meridianos Principais, e os 2 Vasos que ordenam e asseguram as suas polaridades Yin/Yang. Entre esses caudalosos “rios de Qi”, contudo, existem meridianos se- cundarios e ramificagdes de todos os calibres que se estendem em todas as diregdes formando uma trama, uma intrincada malha dinamica que se assenta no territério somatico e se espraia, para além da forma fisica defi- nida, como uma sutilissima névoa diluindo-se no entorno. 24 Os meridianos principais e os 12 oficiais E M SUA TOTALIDADE, A REDE DE ANIMACAO DO JING MAI COMPREENDE distintos sistemas interdependentes com fungées integradas e comple- mentares. Dentre esses, como visto, destaca-se o sistema dos 12 Meridia- nos Principais — um circuito que se estabelece no periodo embrionario si- multaneamente com o desenvolvimento dos bragos e das pernas, e com Os quais exibe uma estreita correspondéncia funcional. Verdadeiro corpo de interrelagées entre o homem e o mundo que 0 envolve, a chamada Grande Circulagao dos 12 Meridianos Principais tem por encargo maior conduzir a circulagao e a renovagao continua da vitalidade no organismo por meio de interc€mbios continuos com suas fontes externas de sustento. Isoladamente, todo meridiano principal representa a dinamica de uma rica unidade funcional que associa fungées fisiolégicas, emogées, disposi- gdes mentais e psiquicas e qualidades espirituais, em conjuntos coerentes Cada um desses aspectos funcionais tem como elemento de apoio a estru- tura material de um Grg&o interno especifico. Tais sistemas organicos sao denominados Zang (aqueles de polaridade Yin) e Fu (de polaridade Yang). Mas 0 conceito de Zang Fu nao designa apenas um conjunto de érgaos fisicos, ou sua fisiologia corpérea. Classicos originais da medicina chinesa tradicional reconhecem nesses complexos meridianos-orgaos-fungdes um “papel social” andlogo ao de ministros da Corte Imperial. Sao, assim, cha- mados “oficiais”, equivalentes aos agentes ptiblicos que compéem a cti- pula do governo do Estado. Como ostenta o nome do érgao fisico que Ihe serve de base, a fungao de cada um desses 12 “oficiais" € comumente referida na clinica chinesa como “o Qi do 6rgao” (0 “Qi do figado”, por exemplo). Ainda que nao constituam uma exigéncia para o exercicio das técnicas acessiveis apresentadas neste livro, esses breves esclarecimentos acerca da incomum fisiologia chinesa pretendem dar ao praticante uma compre- enso, mesmo que ligeira, daquilo com que estara lidando. E essa compre- ens4o, segundo a experiéncia chinesa, é uma condigao mental que sempre potencializa resultados. Em especial, o entendimento da organizagéio e da topografia corporal dos 12 meridianos é um pressuposto facilitador para praticamente todos os métodos curativos chineses. Afinal, é ao longo desses trajetos que se encontram 8 “pontos” de regulagem e atualizagdo da Grande Circulacdo, a responsavel pelo equilibrio funcional do organismo como um todo. 25 A cartografia da grande circulacao Imagem ativa da dinamica integrada dos Oficiais/Zang Fu, a Grande Circulagao constitui um circuito fechado continuo, duplicado nos dois lados do corpo, que alinha os 12 Meridianos Principais numa ordem sequencial invariavel. Essa ordenacao resulta da interligagao de 6 pares de meridianos, correspondentes as 6 parelhas de érgaos-oficiais Zang (Yin)/Fu (Yang). Os Componentes de cada dupla sao denominados Meridianos Acoplados. Zang Fu Pulmao (P) Intestino Grosso (IG) | Baco-Péncreas (BP) Estémago (E) Coragao (C) Intestino Delgado (ID) Rins (R) Bexiga (B) Circulagdo-Sexo* (CS) Triplo Aquecedor* (TA) | Figado (F) Vesicula Biliar | Marcado pelo ritmo alternante de duas etapas Yin (crescente e decres- cente) seguidas de duas etapas Yang, o circuito se estabelece nessa ordem: Pulmao, Intestino Grosso, Estomago, Baco-Pancreas, Coragao, Intestino Delgado, Bexiga, Rins, Circulagdo-Sexo, Triplo Aquecedor, Vesicula Biliar © Figado, dai retornando ao Pulmao, repetindo-se o ciclo indefinidamente. Vista em conjunto, a Grande Circulagao dos 12 Meridianos Principais assinala no corpo a dinamica da curva senoidal da propagagéo da energia no espaco. Na perspectiva chinesa é esse padrao das flutuacdes do Qi que rege o funcionamento do mundo e do homem. * Os Oficiais / Zang Fu Circulagéo-Sexo (ou Pericardio ou Protetor do Coragao) € Triplo Aquecedor so fungées totalizadoras particularmente associadas aos Zang Fu Coragao e Intestino Delgado, equipe considerada regente da rede. 26 Por forga desse sequenciamento invaridvel, a topografia dos 12 Meridia- nos faz com que o Qi circule trés vezes em torno do corpo, descrevendo trés ciclos com quatro areas de conex4o: peito, maos, face e pés. Yin Yang Yang Yin | peito maos face pés | 4°ciclo Pulmdes —Intestino Grosso —-Estémago—_-Bago-Pancreas. 2 Ciclo Coragao —Intestino Delgado ~——Bexiga Rins 3°Ciclo Circ. Soxo TriploAquecedor —Ves. Biliar Figado Vistos por essa ética, os Meridianos Principais mostram-se arranjados em quatro grupos, cada grupo composto de trés meridianos com trajetos similares, polaridade Yin/Yang comum e idéntico sentido de fluxo. Por fim, a figura de um homem com os bragos elevados revela os 12 meridianos assinalando, no terreno corporal, as duas expressGes polarizadas do Qi: as forgas Yin ascendem pela face anterior/interna das pernas e dos bragos até a cabeca, onde prevalece o Yang; as forgas Yang descem pela face posteriorlexterna dos bragos e das pernas até os pés, onde invertem o seu sinal. k 4 Fluxo ascendente Fluxo descendente dos 6 Meridianos Yin dos 6 Meridianos Yang 27 Os Vasos Extraordinarios Em acréscimo ao entendimento da anatomia sutil dos 12 Meridianos Principais, é proveitoso saber da disposigaio de dois outros trajetos que dispdem igualmente dos seus proprios pontos reguladores: 0 Vaso da Concep¢ao e o Vaso Governador. Com 0 encargo de regular o relacionamento Yin/Yang na rede de meridianos, esses dois vasos, representados por duas linhas singu- lares que mediam, respectivamente, as faces anterior e posterior do tronco, tém uma importancia bem significativa e abrangente na fisiologia chinesa. Os Vasos da Concepgao e Governador sao, de fato, dois destacados componentes de um sistema denominado Oito Vasos Extraordinarios — um circuito primordial extremamente sutil, responsavel pelo matriciamento do es- Pago corporal e por sua organizag&o funcional, Encarregados da distribuigéo da vitalidade inata e da estruturac&o interior do organismo, os Vasos Extraor- dinarios desempenham um papel fundamental no desenvolvimento embrio- nario, e também servem de base para as interrelagdes continuas que serao conduzidas pelos 12 Meridianos Principais a partir do nascimento. Mapas chineses Comumente, os mapeamentos chineses disponiveis (ver “Rios de Qi”, Editora Ground) descrevem tao somente a localizacg&o dos dois vasos centrais ladeados pelos doze meridianos bilaterais — os Unicos canais que dispdem dos préprios pontos de intervengo terapéutica. Aqui, essas explanagées tém por finalidade ilustrar a nogdo de ordem e de totalidade que embasa as concepgées chinesas e confere efetividade as suas praticas. Para os iniciantes a imagem da rede de animagao servira também de pano de fundo para uma vis&o panoramica integrada dos pontos sugeridos neste livro. al ‘Visdo conjunta dos 12 Meridianos Principais e dos 2 Vasos Extraordinarios. 28 Os pontos de regula¢ao U: ASPECTO QUE, PARTICULARMENTE, REQUER ESCLARECIMENTO PREVIO envolve o significado dos assim chamados “pontos de acupuntura” que demarcam os caminhos dos meridianos e vasos chineses. Se, moderna- mente, esses “rios de Qi” ja podem ser identificados como “linhas de baixa resisténcia elétrica da pele” (vale dizer, de maior condutividade), os minus- culos vortices reguladores dos seus fluxos ainda carecem de maior reflexao. A maneira vaga e imprecisa como esses intrigantes fendémenos sao referidos na maioria dos textos chineses modernos € apenas coerente com a orientagao atual de ater-se a pratica, distanciando-se o mais possivel de uma teoria considerada primitiva e acientifica. Mas, como as tentativas de explica-los a partir de uma otica cientificamente consistente se mostraram infrutiferas — terminais nervosos, “triggers points”, e outras hipdteses igualmente néo comprovadas ~, esse objeto de intervencat terapéutica de praticamente todas as técnicas chinesas continua obscuro para uma larga parcela de praticantes. Segundo a otica tradicional chinesa, esses pequenos centros de autorregulagao e ajuste funcional da rede nado sao propriamente “pontos”, & tampouco do dominio exclusivo das técnicas da acupuntura. ‘Xue’, a palavra chinesa que os designa, se traduz por cavidades, fendas ou cavernas. Andlogos aos poros da pele, constituem intersticios sutis ao longo da rede que permitem intercambios diretos entre 0 interno e o externo. Os Xue s&o, acima de tudo, regides pontuais onde os rios de Qi se articulam, mobilizando seus recursos potenciais e ajustando sua dinamica &s variaveis do entorno. Aparentemente, exercem uma funcao homeostatica, autorreguladora. Mas sua fungdo maior é a de armazenar potenciais especificos, comu- mente submersos, associados ao complexo meridiano-6rg&o-fungao a que pertencem. Quando solicitados — através de variados meios que incluem agulhas, calor, massagens, pressées digitais, cromoterapia, dleos essenciais ou respiragées dirigidas —, possibilitam descongestionamentos no transito da rede e consequentes corregdes das disfuncdes correspondentes. 29 As Cavernas do Espirito De maior relevancia pratica, uma ultima consideragao diz respeito a atitude mental requerida para melhores resultados na lida com os pontos chineses. E certo que o agente da cura é sempre 0 Qi — a esséncia do movimento e de todas as mutagées. E os Xue s&o, por definigdo, lugares no corpo de maior concentragao de Qi. Mas ha ainda uma outra razdo da sua eficacia terapéutica. Na alquimia interior taoista, esses mintisculos orificios so denominados “cavernas do Shen”, numa alusdo ao poder ordenador que rege a dinamica do Qi, e que, na concepgao dos antigos sabios chineses, tém ali as suas vias de passagem Traduzido comumente por espirito, 0 termo “Shen” expressa a idela de uma capacidade organizadora que, no mundo e no corpo, demarca os cami- nhos do Qi e qualifica suas fungées. Na esfera humana, a nogao de Shen/ Espirito abarca a totalidade dos niveis de percepeao que atuam no corpo —do Sensdrio motor as dimensdes psicoemocionais e espirituais. Por esse motivo, além da escolha criteriosa do ponto, é a Intengéo — aspecto mental racional de Shen, com propriedade de dirigir 0 Qi para obje- tivos conscientes — 0 fator considerado mais influente nas praticas curativas @ nas artes marciais da China. © que significa dizer que, como seré melhor explorado no capitulo “Como usar este livro”, p.39, mesmo um tratamento tecnicamente impreciso mas conduzido por uma disposig&o mental clara e dirigida pode, até um certo limite, ser compensado pela indole autorreguladora que emana desses Pequenos centros ordenadores. Propriedades dos pontos Alinhados verticalmente no terreno somatic, 309 pontos, espelhados nos dois lados do corpo, se interligam ordenadamente, assinalando o fluxo da Grande Circulag&o dos 12 Meridianos Principais. Acrescidos dos 52 pontos Pertencentes aos 2 vasos impares — Vaso da Concepeao e Vaso Governador ~ constituem um total de 361 pontos (ou 670, considerando que os pontos dos 12 Meridianos sao duplos). Além destes, um grande numero de pontos extras — pontos extra meridia- Nos e aqueles pertencentes aos micro sistemas da orelha, do nariz, das maos e dos pés — eleva 0 total para cerca de 1.000 pontos conhecidos e utilizados nas. Praticas chinesas. Os pontos extras, contudo, so considerados secundarios, ©m razéo de suas fungdes especificas e propriedades restritas. 30 Ja a natureza dos pontos principais ¢ bem mais complexa. Todos eles disp6em de uma variada gama de propriedades associadas as multiplas fungdes do organismo. Isoladamente, cada ponto exibe, em diferentes graus, uma maior ou menor relagao com aspectos fisicos, mentais, psicoemocionais e espirituais do sistema humano. Em comum, todos os pontos ostentam uma natureza dual. Ainda que cada um se distinga por uma identidade singular vinculada a aspectos parti- culares do complexo meridiano-6rgao-fungado a que pertence, sua natureza holistica — em profundidade, todo ponto remete-se a totalidade do potencial funcional humano — lhe confere, de alguma forma, o poder de evocar a fungao de qualquer outro ponto. Além disso, pontos de diferentes meridianos comumente exercem in- fluéncia sobre a regido do corpo onde est&o assentados e, inversamente, recebem influéncias dessas areas anatémicas. Um ponto situado sobre © nervo ciatico, por exemplo, pode ser Util para o tratamento da ciatica, mesmo que seu meridiano nao tenha correspondéncias especificas com aquele nervo. Por outro lado, o problema pode promover congestionamentos em pontos da area afetada e comprometer a condicdo funcional dos meridianos a que pertencem. Porém, esse efeito local, semelhante ao exercido pelos pontos extras, n&o dispde da mesma abrangéncia da acdo sistémica promovida por pontos frequentemente distantes, mas funcionalmente associados ao sistema afligido. 31 Artes terapéuticas chinesas M UITO ANTES DE COMEGAREM A PERFURAR PONTOS ESTRATEGICOS NA pele com finos estiletes de pedra, precursores das agulhas da acu- puntura, os mestres e iniciados da China antiga ja cuidavam da satide e praticavam o aprimoramento pessoal por meio de posturas corporais, alongamentos, automassagens ¢€ exercicios respiratérios vitalizantes. As referéncias mais longinquas a essas praticas constam de escritos em bronze datadas da dinastia Zhou (1100-231 a.C.). Rastrear as origens dos exercicios terapéuticos chineses sugere um tra- balho arqueolégico que se estenderia para além das brumas do antiquissimo. Encontrado em escavacées recentes na provincia de Hu Nan, no interior da China, um texto bastante esclarecedor, escrito em rolo de seda no ano 168 a.C., éilustrado com figuras de mulheres e homens, jovens e idosos praticando uma gindstica terapéutica chamada ‘Dao Yin’ (Tao Yin). Supde-se que 0 termo Dao Yin, que se traduz por “método de condugaéo do Qi’, tenha sido o primeiro nome criado na China para designar um método corporal destinado aos cuidados com a satide. Ao longo do tempo, o Dao Yin assimila nog6es taoistas de fisiologia energética e circulagao dos fluxos vitais e, incorporando exercicios fisicos e espirituais para 0 cultivo da longevidade concebidos nas escolas de alquimia interna (Nei Dan), consolida-se como um poderoso sistema de autocura. Nesse modelo ancestral de yoga taoista jA se encontravam estabelecidos os principios que iréo servir de alicerces para todo 0 universo das artes tera- péuticas chinesas: regular 0 corpo, regular a mente, regular a respiragao e, meta ultima, regular o Qi. A influéncia budista Séculos de intercdmbios entre a China e a India resultaram em significa- tivas influéncias na filosofia e nas praticas fisicas e espirituais da tradigaéo chinesa. Atribuida ao legendario monge budista Bodhidarma (Da Mo), a implantagao da meditag4o ‘Dhyana’ - ‘Chan’, em chinés — inaugura uma cor- rente de pensamento que ira sintetizar as doutrinas das escolas budistas e taoistas e reformular suas praticas de auto aprimoramento e defesa pessoal. 33 Sob essas influéncias, 0 ancestral Dao Yin vai gradativamente se desdobrando em miltiplas vertentes. A énfase na postura corporal e no movimento, na respiragdo e na mentalizagéio dirigida resultou em métodos distintos como o Kong Fu (hoje reduzido exclusivamente a técnicas de combate), 0 ‘Tai Ji Quan’ (Tai Chi Chuan) e 0 ‘Qi Gong’ (Chi Kun). Paralelamente, a evolugdo das técnicas de intervengao nos pontos dos meridianos — com as maos, com agulhas e por cauterizagdes com Ia de arte- misia -, associada a elaboradas classificagdes de padrées patalégicos, deram origem a métodos de carater medicativo, como a massagem terapéutica ‘An Mo’, a moxaterapia e a hoje universal acupuntura. Com a inclusao de nogdes mais aprofundadas de fisiologia energética e diagnose, a acupuntura foi pouco apouco tendo o seu uso restrito ao contexto clinico. Na China atual, 0 termo Dao Yin refere-se exclusivamente @ automas- sagem. A massagem terapéutica dirigida a outra pessoa tem o nome de An Mo ou Tui Na. O conjunto de métodos para o aprimoramento pessoal e a auto- cura € hoje referido genericamente como modalidades de Qi Gong. Estima-se que existem atualmente na China cerca de 18.000 estilos de Qi Gong. O dialogo com o Japao Mas, antes de despontar no Ocidente a medicina chinesa tradicional se reveste, no Japao, de uma roupagem fortemente marcada por tonalidades locais. A partir do século VI da nossa era, a cultura e a tradigao chinesas vao gradativamente se infiltrando nos dominios japoneses, até o ponto em que se da uma verdadeira simbiose entre as duas civilizag6es. Sob a rubrica do termo ‘Do’, equivalente fonético do ‘Dao’ (Tao) chinés, estabelece-se no Japéio uma escola mairiz que sintetiza o legado cultural da China e confere a muitas das suas correntes de pensamento e disciplinas um desenvolvimento ainda maior do que o alcangado em sua propria patria, A meditagao Chan da origem ao Zen, a acupuntura adquire estilos diferenciados, a massagem terapéutica An Mo ganha a objetividade técnica do Shiatsu, as artes marciais evoluem em modalidades como o Judé, 0 Karatedo e 0 Aikido. E 0 quase esquecido Dao Yin tem no Do-In a sua mais completa tradugao. 34 Praticas chinesas de autocura R ESGATANDO © ESPIRITO E A ESSENCIA ORIGINAL DO ANCESTRAL Dao Yin, um método de auto aprimoramento fisico e espiritual e de preparo iniciatico, reformulado pelos mestres da escola Do, ganha forma nos dojo Japoneses com o nome de ‘Do-In Kwappo’. O termo Do-In traduz literal- mente a nog&o de Dao Yin: Dao, e sua correspondéncia japonesa Do, ex- Pressam aqui a ideia de “caminho, conducao de Qi’: Yin ou In, “o modo facil, suave”. Kwappo, por sua vez exprime a ideia de “restaurar, regenerar’ — por meio dos recursos pessoais. A notavel combinagao de simplicidade e eficacia permite que o Do-In logo se popularize, tornando-se uma rotina diaria para a prevencdo e o tratamento de problemas de satide acessivel as pessoas comuns. Voltada Para os cuidados pessoais e a autocura com 0 concurso das proprias maos, a pratica do Do-In logo passou a se inserir nos costumes familiares, congre- gando adultos, idosos e criangas num saudavel ritual cotidiano. Aacessibilidade da técnica, contudo, em nada compromete a sua efi- cacia. O Do-In, a semelhanga do seu modelo primordial chinés, dispde de um acervo de recursos terapéuticos singelos — sob 0 olhar leigo — que, aplica- dos no contexto devido, se revelam nao apenas de grande utilidade mas, por vezes insuperavei: Dentre essas possibilidades mais imediatas e acessivei: , duas modali- dades se destacam: as automassagens para a prevencao e o aprimoramento pessoal, e as técnicas para corregao de disfungdes. Prevenc¢ao e aprimoramento pessoal Comparavel a faxina didria de uma residéncia, a pratica de auto- massagem dos meridianos é um procedimento essencial Para a manuten- ¢ao da salubridade e da condi¢do funcional do organismo. Com 0 recurso exclusivo das proprias maos, e exigindo um minimo de pré-requesitos, que nao vao além de um conhecimento sumério da geografia dos meridianos e de algumas manobras simples e Seguras, esse modesto ritual assegura notaveis beneficios. Ao desfazer tenses musculares, que sinalizam e promovem obstrugdes no transito da rede, as automassagens cotidianas promovem a livre circulagao 35 sangue — premissa basica para o funcionamento harménico e in- do do organismo. Os beneficios mais imediatos incluem 0 alivio de ten- © perturbagdes emocionais, e uma melhor disposigao fisica e mental. Realizada com assiduidade — idealmente por meio de uma rotina diaria, s do desjejum -, a pratica previne doengas, corrige disfungdes e promove primoramento. O contato frequente com o corpo e a gradativa familiaridade com areas e pontos associados as fungées internas, favorece o autoconheci- mento e habilita o praticante a moldar sua pratica cotidiana em conformidade com as necessidades do seu organismo. Sua meta Ultima é o autoaperfei- coamento e a longevidade. Em acréscimo aos tratamentos especificos que constituem a quase tota- lidade das receitas curativas sugeridas neste livro, 0 capitulo “Praticas de prevengao e aprimoramento pessoal”, p.287, apresenta uma sugest4o para uma pratica concisa mas completa das automassagens do Do-In. O aporte sintomatico Outro valioso recurso tradicionalmente utilizado nas praticas de auto- cura do Do-In envolve a intervengdo reguladora nos pontos dos meridianos Para a corregao de disturbios. Ja presente nos métodos do ancestral Dao Yin, as técnicas de estimulagao de pontos chave particularmente associa- dos a disfungées e enfermidades serviram de base para o desenvolvimento dos sistemas de massagem terapéutica do An Mo e do Tui Na, e culmi- naram nas elaboradas receitas curativas aplicadas no contexto clinico da acupuntura. Aestimulagao dos pontos pelo contato direto das maos, contudo, se man- teve com um papel destacado nas tradigdes médicas da China e do Japao, tanto como método independente quanto associado as agulhas da acupuntura. Apartir dos anos 1970, com a gradativa implantagao da acupuntura no Ocidente — largamente facilitada pela rapida popularizacao do Do-In desde o inicio daquela década — 0 variado acervo de técnicas de manipulagao digital dos pontos chineses foi se tornando conhecido entre nds com o nome de digitopressura ou digitopuntura. Segura e praticamente isenta de pré-reque- sitos, essa abordagem acessivel e objetiva despertou imediato interesse no publico ocidental. Aplicada ao autotratamento ou estendida a outra pessoa, a digitopres- ura mostra-se perceptivelmente util para lidar com toda uma gama de dis- iurbios e disfungdes, particularmente nas crises e noutras condigdes agudas. Como primeiros socorros nas emergéncias, em certos casos a intervencdo manual chega a ser mais imediata do que a das agulhas da acupuntura! 36 E importante ressaltar que, embora possa ser utilizada preventivamente (para alivio do estresse, tratar predisposigées, evitar recaidas apos doengas graves e coibir crises), a digitopuntura tem um aporte dominantemente sintomatico. Mas aqui este termo nao tem o significado pejorativo de aliviar sintomas encobrindo suas causas. © mecanismo de aco das praticas chinesas envolve sempre o des- bloqueio no transito da rede de meridianos. E 0 livre fluxo do Qi que permite a corregao do disturbio que ocasiona o mal-estar. Se a providéncia nao for suficiente — porque a enfermidade ja se encontra por demais evoluida — 0 sin- toma retorna. Sintomas recorrentes, principalmente quando envolvem dores intensas ou de origem indefinida, sinalizam a necessidade de uma avalia- cao médica adequada. A partir dai, e guardadas as precaugées e contraindi- cagées habituais (ver capitulo “Como usar este livro”, p.39), mesmo pacientes com patologias graves efou usuarios de medicagaéo continua podem igual- mente tirar proveito da digitopuntura como tratamento suplementar. Aexcegao das prescrigdes destinadas aos primeiros socorros nas emer- géncias, quando a participagao de uma outra pessoa se fara muitas vezes necessaria, todos os demais tratamentos sugeridos neste livro sao priori- tariamente voltados para o autotratamento. O que significa dizer que todos os procedimentos aqui propostos — os pontos escolhidos e as técnicas suge- tidas — poderao ser conduzidos com o recurso exclusivo das préprias m&os. 37 COMO USAR ESTE LIVRO Os tratamentos apresentados neste livro derivam essencialmente das intuigées e experimentagdes de antigos sabios e mestres da China antiga. As escolhas e combinagées dos pontos, e as sugestées de como trata-los — as “receitas curativas” - s&o frutos de estudos comparativos de dedicados trabalhos de pesquisadores contemporaneos. em grande parte confirmados pela verificagao pessoal do autor. Em outras palavras, tais indicagdes nao pretendem ser formulas fixas, mas téo somente diretrizes — consistentes, sup6e-se — passiveis de modificagdes e adaptagdes em conformidade com as necessidades individuais do praticante. De fato, a natureza polivalente dos pontos de intervengao terapéutica, seu potencial autorregulador e suas ecléticas possibilidades combinatorias, fazem de todas as praticas de cura chinesas un processo continuo de desen- volvimento pessoal. Tais varidveis, no entanto, nao tornam a escolha dos pon- tos menos importante. Pelo contrario, a selego criteriosa dos pontos sempre foi reconhecida como o fator mais decisivo para o sucesso da pratica. Mas como na pratica importa o que sucede, a definigao final quanto ao melhor ponto au pontos e suas combinagées mais desejaveis sera determina- da pelos resultados alcangados. A percepgao das respostas do préprio corpo ao estimulo de pontos especificos e as técnicas empregadas é de grande valia para o autoconhecimento, favorecendo uma compreensdo ampliada das ne- cessidades pessoais e das possibilidades comumente insuspeitadas de aten- dé-las por meio dos préprios recursos. A partir dai, a decisao de quando buscar auxilio médico pode ser determinada de forma mais abalizada e responsavel. Receitas curativas Neste manual, os tratamentos sugeridos estao organizados pela ordem alfabética dos sintomas. Os pontos sugeridos sao aqueles que mais comu- mente se mostram relacionados de forma sigrificativa ao disturbio em pauta. As possibilidades da utilizagdo dessas formulas sdo vastas. Nas emer- géncias, para a reanimagao ou para aplacar descontroles e surtos, assim como nas crises agudas, particularmente quando envolvem dores em geral, os resultados ¢ imam ser imediatos, e o niimero de pontos exigido é mi- nimo — muitas vezes um tinico ponto pade ser suficiente. 39 Nos casos de afecgées locais, tais como problemas artriticos e reuma- ticos, ou quando houver lesdes por acidentes, podem surgir pontos sensi- veis ou espontaneamente dolorosos — regulares ou extra-meridianos — na regio afetada. Esses pontos acidentais, denominados Pontos Ashi (‘ail”, em chinés), podem ser igualmente tratados com pressao continua, como reforgo opcional. Ja o tratamento complementar de sindromes e enfermidades crénicas ou preexistentes, cujos beneficios sao comumente graduais e cumulativos, requer a utilizag&o de toda a série por meio de uma rotina persistente, se possivel didria. A mesma orientagdo se aplica as séries sugeridas para a prevengao de crises e recorréncias de disturbios especificos. Mas mesmo a estimulagado de um ou dois pontos da série indicada, se realizada com fre- quéncia, assegura beneficios. Eventualmente, a pressao em um ponto pode provocar uma resposta — dor ou pontada — em outro ponto, muitas vezes localizado em uma reg) distante do corpo. Esse fenémeno, denominado “dor referente”, geralme: sinaliza que ambos pontos encontram-se funcionalmente relacionados. que justifica a inclusdo do ponto reflexo na série sugerida Por fim, é importante lembrar que, & excegao dos pontos pertencentes aos dois vasos (VC e VG), todos os demais s4o pares e simétricos, duplica- dos nos dois lados do corpo. Por esta raz4o, em principio os pontos deverao ser tratados bilateralmente e, se possivel simultaneamente, com o emprego de ambas as maos. Quando isto n&o for possivel, como no caso do autotrata- mento na area dos bragos e das mAos, trata-se o ponto de um lado do corpo 0 outro imediatamente apés. Nas lesdes e afecgdes locais, no entanto, 6 suficiente utilizar o(s) pon- to(s) localizado(s) no lado afetado. A regra vale igualmente para certos casos especiais, devidamente especificados nos textos, quando o tratamento unilate- ral sera mais aconselhavel. Para congest&o nasal, por exemplo, o ponto C1, situado no centro das axilas, devera ser pressionado, mas aqui unicamente na axila oposta! Localizacao Todos os tratamentos constantes deste livro apresentam os pontos sugeridos ilustrados por diagramas da sua localizagao no corpo. No “indice de localizagaéo dos pontos”, p.294, as ilustragdes sao acompanhadas de descrigdes que permitem a localizagao precisa de cada ponto a partir de marcos anatémicos perceptiveis. 40 Ajuda saber que os pontos geralmente situam-se em depressées anat6- micas formadas entre musculos, ossos e tendées — depressées visiveis, mas em certos casos apenas esbocadas em areas planas do corpo. Um outro indi- cador é a sensibilidade, uma vez que a maioria dos pontos é particularmente sensivel 4 press4o e, por vezes, os pontos tornam-se espontaneamente dolorosos quando bloqueados. © que implica dizer que o melhor ponto para tratar um disturbio € quase sempre particularmente doloroso e, assim, de facil identificagao. Ao buscar localizar um ponto, comece por esquadrinhar a area corres- Pondente @ ilustra¢éio, pressionando profundamente com a ponta do polegar até identificar o lugar de maior sensibilidade. Ajuste a ponta do dedo no centro mais sensivel e pressione lenta e gradualmente até sentir uma dor aguda bastante caracteristica. Com a pratica, como ocorre na execugao de um instrumento musical, © aprimoramento da sensibilidade dos dedos torna essa percepgdo natural- mente mais acurada. Técnica Valendo-se do mesmo cardapio de pontos reguladores da tradigéio chi- nesa, uma grande variedade de estilos de digitopuntura preconiza diferentes técnicas de intervengao para um objetivo comum: a restauracdo do fluxo alte- tado na rede de animagao e a correg&o dos disturbios a ele associados. Tais diferengas técnicas — em certos casos com orientagées discordantes — tem deixado alguns praticantes, especialmente os iniciantes, um tanto inseguros. quanto & melhor maneira de tratar os pontos. O fato de que, no devido contexto, todos esses métodos demonstrem um bom grau de efetividade, apenas comprova que o mais importante é o ponto. A técnica empregada pode ser mais ou menos apropriada, mas seu papel nessas praticas é tao somente 0 de facilitar a aco autorreguladora que ema- na dessas “Cavernas do Espirito” (ver “Pontos de regulaco”, p.29). O método aqui adotado é, no meu entendimento, aquele que melhor con- cilia 0 objetivo proposto com a resposta natural do corpo a interferéncias ex- ternas. Se o toque é relativamente profundo e constante, produz relaxamento local ¢ acalma; ja quando é intermitente, agil e superficial, excita e estimula. Na medicina chinesa esses procedimentos so chamados de Sedacao e Tonificagéo, e so aplicados respectivamente as dues expressées basicas dos disturbios: sintomas de Excesso e de Deficiéncia. Distinguir entre essas duas categorias basicas de sintomas é tarefa relativamente facil. 41 Excessos sao manifestagées de hiperatividades, tais como descontroles, agilagGes, nervosismo, ansiedade, convulsées, inflamagées e infecgdes agudas, fobre, calor excessivo, pressao alta, célicas e espasmos, e dores em geral. A técnica apropriada é a Sedagao, e 0 método mais simples consiste em pressionar profunda, forte e continuamente o ponto indicado, frequentemente com 0 polegar, durante todo o tempo requerido. Deficiéncias se expressam por hipoatividades, incluindo estados de astenia, prostragéo, depresséo, medo, choque, paralisias, hipoestesias, {riagem, pressao baixa, hipotonicidade e, no extremo, desmaio e coma. O método requerido para estes casos, 6 a Tonificagéo. Consiste em es- limulagées ritmicas intermitentes, mais leves e superficiais mas dinamicas. Aqui cabem variaveis: presso leve com movimentos ligeiros para frente e para tras, sem deslizar sobre a pele; fricgdes com os nés dos dedos, dorso das maos fechadas, com a palma das maos ou com os calcanhares; percussao com a ponta ou nés dos dedos; beliscées e outras manobras estimulantes. Quando houver dtivida quanto a natureza do sintoma, ou quando destinada manuteng&o e ao aprimoramento da satide, a técnica sugerida é a Harmonizagao: pressdo continua sobre o ponto enquanto se realiza movimentos circulares, sem deslizar sobre a pele. Toque Aintensidade das manobras é compativel com a constitui Gao fisica do organismo, com a faixa etaria e com a regio do corpo onde o ponto se situa. Outra diferenca corre por conta da técnica empregada: como Ja visto, a Tonificagao é sempre mais superficial, ligeira, ritmica e estimulante; © a Sedagao envolve pressao profunda, firme, continua e, por vezes, um pouco dolorosa. Neste ultimo caso, a intensidade do toque é particularmente importante: 4 pressdo sedativa é lenta, gradual, intensa mas até o limite do toleravel, gerando uma sensag&o entre a dore a “press&o confortavel”. A retirada da pressao sera realizada de maneira lenta e gradativa. Independente da técnica utilizada, todas as manobras deverdo ser rea- lizadas com movimentos fluentes e elegantes, um pouco como nas praticas do Qi Gong. A regiao do corpo tratada deve ficar relaxada e receptiva, enquanto a mao que atua exerce a press4o ou a estimulagdo indicada de maneira firme mas flexivel e sem tensdo. As pressées continuas, naturalmente Mais fortes e profundas, s4o exercidas gradualmente e, sempre que possivel, 42 usando 0 peso do proprio corpo. Ou seja, o dedo se mantom firme mas o peso 6 exercido pela inclinagtio do corpo, de forma a no tensionar a mao e 0 brago. Tempo O aspecto menos consensual diz respeito ao tempo requerido para a estimulagao dos pontos. As recomendagées variam de 30 segundos a 10 minutos ou mais para cada ponto! Uma vez mais, nao ha como estabelecer uma norma fixa. O tempo médio sugerido lrabalhar de 3 a 5 minutos cada ponto, mas essa prescrigéo gené- rica se aplica as series destinadas aos tratamentos suplementares de proble mas crénicos ou ao aprimoramento de fungdes comprometidas. Em certos casos, como nas emergéncias, a resposta pode ser bem mais imediata, e aqui a regra é clara: atingido o objetivo, o tratamento cessal E importante lembrar ainda que, como ja foi exposto, nos padrées de Deficiéncia o tempo requerido é sempre mais breve + comumente de 30 se gundos a 2 minutos para cada ponto -, de forma a evitar a hiperestimulagao possiveis complicagdes como nausea, dor de cabeca ou inquietagao. Para acalmar e sedar, no entanto, o tempo de tratamento é mais flexi- vel. Se 4 resposta, apesar de perceptivel, nado se mostrar suficiente pode-se estender o tempo da sedagdo, mas até um limite maximo de cerca de 10 minutos, para evitar uma saturag4o que pode inibir a agéo do ponto (mas ja tratei o mesmo ponto para uma ins6nia renitente por mais de 15 minutos — @ consegui dormir depois!). Por outro lado, é conveniente repetir o tratamento duas ou trés vezes ao longo da dia, mesmo apés obtido o alivio, para evitar a recorréncia do proble: ma. Mas, naturalmente, ha sempre que prevalecer 0 bom senso: uma dor de dente que insiste em retornar sugere uma urgente visita ao dentista! Por fim, 6 sempre util ter em mente que, especialmente na lida com disturbios com dominantes componentes psicoemocionais, a técnica seré sempre um mero recurso facilitador. O mais importante é reconhecer os pontos de regulagao como vias de acesso corporal aos potenciais de autocura @ estabelecer com eles uma relacao proveitosa. 43 Intencao Tecnicismos a parte, apés a escolha do ponto, 0 fator que se mostra mais consistente e decisivo nas praticas chinesas é 0 uso consciente da atengéo mental para dirigir as forgas curativas através do corpo. Inten¢ao, palavra que traduz a nogdo chinesa de Yi — 0 poder ordenador do pensamento —, é um termo com significado bem préximo ao Kiai das artes marciais japonesas: a canalizagao da forga mental para um objetivo unico, pela forte mas serena determinagao de conduzir 0 processo a meta desejada. Yillntengao elabora imagens mentais que conferem direcionalidade ao Qi como uma flecha enderegada ao alvo. Como sintetiza o aforismo chinés, “para onde vai o mental, vai o Qi” (ver “As Cavernas do Espirito”, p.30). E essa a ideia chinesa de “regular a mente”: por meio de Yi, o aspecto objetivo da consciéncia, o pensamento — comumente chamado um “macaco bébado” na alegoria chinesa -, se liberta das dispersées e fixagdes habituais e ganha foco e propésito. Mas Intengao néo significa controle ou interferéncia. Toda expectativa ansiosa ou determinagao rigida — a “ideia fixa” — ira apenas estancar o fluxo natural do Qi, gerando mais tensao e novas obstrugdes. Segundo a tradi- gao, vale repetir, ao Yi cabe téo somente conceber as rotas naturais para que 0 fluxo espontaneo do Qi restabelega a justa condig&o de equilibrio (aquela que se ajusta). Uma vez adotada a disposicao mental condizente, ensina a sabedoria chinesa, “seja como um bambu 0co” — esvazie a menie e simplesmente deixe acontecer. Respiracao Uma ultima recomendagao diz respeito a “regular a respiragao”. Pratica- mente todas as culturas tradicionais, em todos os tempos e lugares, utilizam exercicios respiratérios para potencializar resultados das suas praticas de satide. Por si s6 a respiragdo, além de revitalizar e purificar 0 corpo e a men- te, € um processo que influencia diretamente o ritmo do funcionamento de todas as fungdes do organismo — das atividades fisiolégicas as disposicdes psico-emocionais. Existem inmeras modalidades de exercicios respiratérios destinados as mais diversas finalidades. Mas estas, principalmente quando incluem técnicas avangadas de yoga (pranayama), requerem um trabalho prepara- tério sem 0 qual as alteragées respiratérias podem causar mais danos do que beneficios. a4 A forma mais segura e harmonizante de exercicio respiratorio é também a mais simples. Comumente chamada de “respiracdio natural’, é aquele tipo de respirago que se observa nos bebés e nas criangas pequenas: profunda, suave € continua, envolvendo todo 0 corpo — e espontanea. Na estressante vida moderna, contudo, essa espontaneidade precisa ser resgatada por meio de um treinamento consciente. Tradicionalmente empregado como pano de fundo para a otimizagao das praticas taoistas, um procedimento extremamente simples ajuda a desbloquear 0 corpo e a mente e favorece a abertura dos pontos de tratamento. Numa posig&o confortavel, colocar as maos sobrepostas sobre o um- bigo. Focar a atenc&o na respiragao imaginando que, ao inspirar, o ar parta do nariz através de um tubo longo e estreito até um baldo localizado atras do umbigo. Essa inspiragéio profunda expande o balo e o abdémen; ao expirar, © balao se contrai e o ar é empurrado para cima e para fora por meio do tubo. Os movimentos alternantes ascendente e descendente do diafragma massageiam os érgaos abdominais e produzem um relaxamento em todo o corpo, despertando a mente e aquietando as emogées. Mas, uma vez mais, regular a respiracgdo nao implica submeté-la a um controle rigido. As tradigdes advertem que todo 0 processo deva ser realizado sem esforgo e tao somente como um treinamento para que a respiracao se conduza de forma espontanea e natural. Um aforismo chinés sintetiza a ideia: “regular a respiragao significa nao regular”. Tampouco, numa respiragéo profunda e completa é desejavel inspirar © expirar ao maximo. Tal procedimento forgado s6 iria gerar tensdo nos pul- Mées e nos misculos do trato respiratorio, dificultando a circulagéio do ar e a absor¢ao do oxigénio. E conveniente praticar essa respiragdo simples ¢ natural — de resto, benéfica em qualquer situag&o — por alguns minutos antes e durante todos os exercicios, para realcar a agdo reguladora dos pontos. Precaucées Em principio, as técnicas nao-invasivas da digitopressura sao seguras € nao envolvem contraindicagdes. Mas algumas precaugdes e questées de ordem pratica devem ser consideradas. « Nao se deve tratar pontos localizados no abdémen quando houver do- engas infecciosas agudas na area, e particularmente no caso de cancer intestinal. 45

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