Você está na página 1de 13

Produção e Aplicações de Exopolissacarídeos Fúngicos

Production and Applications of Fungal Exopolysaccharides

Aneli M. Barbosa1*, Paulo D. T. da Cunha2, Mariane M. Pigatto2 e Maria de


Lourdes Corradi da Silva3

Resumo

Exopolissacarídeos são polímeros de monossacarídeos secretados no meio de cultivo, que apresentam


diferentes aplicações industriais. Existem poucos artigos científicos sobre a produção, caracterização e
aplicações de exopolissacarídeos (EPS) fúngicos. A maioria das pesquisas neste campo tem se
concentrado em EPS de bactérias, as quais possuem crescimento mais rápido. O objetivo do presente
trabalho foi revisar a literatura publicada sobre EPS fúngicos, relatando os parâmetros de cultivo dos
fungos, o efeito de fontes de carbono, nitrogênio orgânico e inorgânico, aeração, agitação,
microelementos, adição de antiespumantes e fatores de crescimento na produção de EPS. Também
foram revisados os métodos utilizados para recuperar EPS fúngicos, bem como para a sua caracterização.
Algumas propriedades reológicas do meio de cultivo e as aplicações dos EPS também foram descritas.
Palavras-chave: Exopolissacarídeos, Glucanas, Produção de Exopolissacarídeos Fúngicos

Abstract

Exopolysaccharides are polymers of monosaccharides which are secreted in the culture medium and allow
for different industrial applications. There are few scientific reports on the production, characterization and
applications of fungal exopolysaccharides (EPS) . Most research in the field has been concentrated on bacterial
EPS, since bacteria are easier to grow. The objectives of the present work were to review the literature on
fungal EPS, reporting fermentation parameters for growing fungi, and the effect of carbon source, organic
and inorganic nitrogen, aeration, agitation, microelements, addition of antifoam, and factors of growth on
EPS production. The methods for recovering fungal EPS as well as their characterization, some rheological
properties of the culture medium, and EPS applications were also described.
Key words: Exopolysaccharides; Glucans; Production of fungal exopolysaccharides.

Introdução
Polissacarídeos, também chamados glicanas, são plantas (GLAZER; NIKAIDO, 1995) e glicogênio
macromoléculas naturais encontradas em todos os nos animais.
organismos vivos, constituindo um grupo de
Os exopolissacarídeos (EPS) são definidos como
compostos dos mais abundantes e importantes da
polissacarídeos extracelulares, produzidos por alguns
biosfera, como por exemplo celulose e amido nas
fungos e bactérias, os quais são encontrados ligados

1
Profa Associado do Depto de Bioquímica - CCE/ UEL/Londrina, PR. Email: aneli@uel.br
2
Alunos do Curso de Especialização em Bioquímica Aplicada /Depto de Bioquímica –CCE/ UEL/Londrina, PR.
3
Profa Assistente-Doutor do Depto de Física, Química e Biologia – FCT/UNESP/Pres. Prudente, SP.
* Autor para correspondência.

Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004 29


à superfície das células ou são excretados para o meio propriedades físicas e fisiológicas dos
extracelular, na forma de limo (SUTHERLAND, polissacarídeos são determinadas pelas diferenças
1998). Nos fungos, os EPS constituem uma químicas tais como: tipo de ligação glicosídica, grau
importante percentagem da biomassa, participando de ramificação e composição monossacarídica
com mais de 75% dos polissacarídeos constituintes (GUTIÉRREZ; PIETRO; MARTINÉZ, 1996). Por
da parede da hifa (GUTIÉRREZ; PIETRO; exemplo, grandes variações no grau de ramificação
MARTINEZ, 1996). desses polímeros podem afetar a sua solubilidade
(SUTHERLAND, 1998). Outro exemplo, são as
As primeiras observações sobre casos de
propriedades reológicas e atividade antitumor
polimerização com a formação de polissacarídeos,
apresentadas pelas glucanas extracelulares do tipo
foram feitas em caldo de cana e descritas por
β, especialmente glucanas β(1→3), propriedades
Vauquelin, em 1822. Somente 40 anos depois,
estas não verificadas em glucanas do tipo α, β(1→4)
Pasteur descreveu observações semelhantes,
ou β(1→6). Esta atividade está relacionada à
demonstrando que essa polimerização era provocada
organização da estrutura ligada em β(1→3) em tripla
por microrganismos. Entretanto, segundo Lima et al.
hélice e também com a complexidade da ramificação
(1992), não identificaram o tipo de microrganismo.
lateral e seu peso molecular (SCHIMID et al., 2001).
O polissacarídeo mais importante, obtido por A composição do meio e as condições de cultivo
fermentação, foi o dextrana, descrito por Scheibler inferferem diretamente na produção dos EPS
em 1874. Possui a fórmula geral (C 6H 10O 5) n, é microbianos.
produzido pela bactéria Leuconostoc mesenteroides,
Os microrganismos são adaptados ao meio
isolada e nominada pela primeira vez por Van
ambiente natural onde vivem, pois nele existem
Tieghen em 1880. Somente em meados do século
fatores limitantes como fontes de carbono e
XX, Grönwall e outros pesquisadores descreveram
nitrogênio, aeração, agitação, microelementos entre
o uso e processos de fabricação de dextrana (LIMA;
outros, e isso confere a eles um estado de homeostase.
AQUARONE; BORZANI, 1992). Portanto, foi a
Na produção de EPS por fungos, deve ser
partir do dextrana que se iniciou e se desenvolveu o
considerada a cepa fúngica escolhida como também
estudo dos exopolissacarídeos microbianos.
o seu meio ambiente natural para adequar, em
Primeiramente, houve um desenvolvimento mais
laboratório, o meio de cultivo em termos de
acentuado sobre a produção de EPS produzidos por
características nutricionais.
bactérias e posteriormente, por fungos, dentre os
quais o mais estudado tem sido o Aureobasidium Parâmetros que interferem na produção dos
pullulans (SEVIOUR et al., 1992). exopolissacarídeos fúngicos
Os EPS produzidos por fungos podem ser
heteropolissacarídeos ou homopolissacarídeos.
Fontes de carbono
Vários tiveram suas estruturas químicas
caracterizadas. A Tabela 1 mostra a ordem A produção de α e β glucanas por fungos parece
cronológica dos artigos citados por Seviour et al. depender do tipo de fonte de carbono e da
(1992) e de outros revisados neste trabalho, acerca concentração usada. Em geral, se a fonte de carbono
do estudo destas biomoléculas fúngicas, pode ser metabolizada pelo fungo, ela também pode
especificando a composição monomérica e o tipo de promover a produção de EPS, mas nem sempre na
ligação glicosídica constituinte. mesma extensão (SEVIOUR et al., 1992).

Conforme mostra a Tabela 1, a maioria dos Várias são as fontes de carbono estudadas para a
exopolissacarídeos fúngicos é β-glucana. As produção de EPS fúngicos: glucose, sacarose,

30 Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004


Tabela 1 – Homo - e heteroexopolissacarídeos produzidos por fungos filamentosos(*)

Fungo Monossacarídeo(s) Ligação glicosídica Autor(es)


Sclerotium glucanicum Glucose β(1→3) e β(1→6) Johnson et al.
Plectonia occidentalis Glucose β(1→3) e β(1→6) Davis et al.
Helotium sp Glucose β(1→3) e β(1→6) Davis et al.
Claviceps fusiformis Glucose β(1→3) com ramificações Buck et al.
glucose, galactose,
Alternaria solani desconhecida Goatley
glucosamina
Schizophyllum commune Glucose β(1→3) e β(1→6) Kikumoto et al.
Monilia fructicola Glucose β(1→3) e β(1→4) Feather & Malek
Stereum strigoso-zonatum Manose, galactose desconhecida Bender
β(1→4) e β(1→2) com
Monilinia fructigena (a) Manose,galactose Archer et al.
possíveis α ligações
Monilinia fructigena (b) Glucose β(1→3) e β(1→6) Santamaria et al.
Galactosamina,
Aspergillus nidulans α-ligações Leal & Rupérez
acetato, galactose
Botrytis cinerea (a) Glucose β(1→3) , β(1→6) e β(1→4) Leal et al.
Aureobasidium pullulans glucose, malato β(1→3) e β(1→6) Leal-Serrano et al.
Botrytis cinerea (b) Glucose β(1→3) e β(1→6) Dubourdieu et al.
Aspergillus flavus Manose e galactose β(1→2) Kardosová & Rosík
Acremonium diospyri Glucose β(1→3) , β(1→6) e β(1→4) Seviour & Hensgen
Penicillium erythromellis glucose, malonato β(1→6) e ? Rupérez et al.
Pestalotia sp. 815 Glucose β(1→3) e β(1→6) Misaki et al.
manose,arabinose,
Ulocladium atrum β(1→3) e β(1→6) Martínez et al.
glicerol
Paecilomyces lilacinus glucose, galactose desconhecida Sarkar et al.
Phanerochaete chrysosporium (a) glucose, arabinose β(1→3) e β(1→6) Bes et al.
Phanerochaete chrysosporium (b) Glucose β(1→3) e β(1→6) Buchala & Leisola
Epicoccum purpurascens Glucose β-ligações Michel et al.
Phytophthora parasitica Glucose β(1→3) e β(1→6) Bruneteau et al.
Stasinopolous &
Acremonium persicinum Glucose β-ligações
Seviour
Glomerella cingulata Glucose β(1→3) e β(1→6) Gomaa et al.
Laetisaria arvalis Glucose β(1→3) e β(1→6) Aouadi et al.
Aureobasidium pullulans p56 Glucose α(1→6) Schuster et al.
Aureobasidium pullulans ATCC
Glucose α(1→6) Gibbs & Seviour
9348
glucose, manose,
Pleurotus ostreatus Gutiérrez et al.
galactose
manose, galactose,
Fusarium solani desconhecida Polycarpo et al.
glucose, pentose
Aureobasidium pullulans
Glucose β(1→3) , β(1→6) e α(1→4) Yurlova & Hoog
aubasidani
Aureobasidium pullulans ATCC
Glucose α(1→6) Gibbs & Seviour
9348
Sclerotium rolfsii ATCC 201126 Glucose β(1→3) , β(1→6) Fariña et al.
Aureobasidium pullulans NRRLY-
Glucose α(1→6) Barnett et al.
6220
Schizophyllum commune Glucose β(1→3) , β(1→6) Maziero et al.

(*)Dados apresentados em ordem cronológica, atualizados a partir de Seviour et al.(1992).

Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004 31


maltose, lactose, frutose, galactose, xilose, celobiose, pesquisadores observaram que o microrganismo
sorbitol, xilitol, manitol, arabinose, inositol e consumiu níveis similares desta fonte de carbono nos
diferentes tipos de farinha tais como mandioca, milho, 7 primeiros dias de cultivo e o consumo de glucose
batata, etc (SELBMANN; CROGNALE; pelo fungo não ultrapassou 2,4 g/L, em frascos
PETRUCCIOLI, 2002; IZELI et al., 2003). Por meio agitados, independentemente das maiores
da revisão da literatura, foi observado que a glucose e concentrações estudadas.
sacarose têm sido as fontes de carbono mais utilizadas
Segundo Bae et al. (2000), existe uma
para a produção de EPS fúngicos (SEVIOUR et al.,
proporcionalidade entre a produção de
1992; SCHUSTER; WENZIG; MERSMANN, 1993;
exopolissacarídeo e o crescimento micelial pelo
FARIÑA et al., 1998; BAE et al., 2000, PIGATTO,
fungo Paecilomyces japonica. Experimentos
2002; DEKKER; BARBOSA, 2001).
realizados com este microrganismo utilizando-se 10,
A concentração de glucose utilizada nos meios 20, 30, 40 e 50 g/L de maltose, demonstraram que o
de cultivo para produção de EPS tem variado de 1,6 maior crescimento micelial foi obtido em 30 g/L de
g/L para a produção de glucana pelo Phanerochaete maltose concomitantemente com a a maior produção
chrysosporium ATCC24725 (LEISOLA et al., 1982) de EPS. Bae et al. (2001), também avaliaram a
até 39 g/L para a produção de EPS por outros produção de EPS pelo Paecilomyces japonica, em
Basidiomicetos (MAZIERO; CAVAZZONI; reator, e verificaram que a maior produção foi em
BONONI, 1999). Entretanto para a sacarose, têm maltose quando comparado com cultivos em
sido observadas variações desde 30 g/L, para a sacarose, tendo sido obtidos 30 g/L e 25 g/L,
produção de exo-biopolímeros pelo Paecilomyces respectivamente. Porém, em frascos agitados, a
japonica (BAE et al., 2000) até 150 g/L para a de produção de EPS pelo referido microrganismo foi
escleroglucana pelo Sclerotium rolfsii ATCC201126 aproximadamente 6 g/L para estas duas fontes de
(FARIÑA et al., 1998). carbono. Entretanto, pelo fato da sacarose ter um
custo mais acessível do que a maltose e ter conduzido
Existe um tempo de cultivo e uma concentração
a uma boa produção de EPS, em reator, ela foi a fonte
ótima de fonte de carbono para a produção de EPS
selecionada pelos referidos pesquisadores.
para cada microrganismo. Isso foi demonstrado por
Maziero, Cavazzoni e Bononi (1999), quando
compararam a produção de EPS pelo Agaricus sp.
Fontes orgânicas e inorgânicas de nitrogênio
(CCB280) com a de Oudemansiella canarii
(CCB179), após 7 dias de cultivo, em meio contendo Um outro fator nutricional importante para a
39 g/L de glucose. produção efetiva do EPS é a fonte de nitrogênio. As
fontes orgânicas mais utilizadas são: peptona,
Da mesma forma, a importância da concentração
glutamato, L-asparagina, extrato de levedura,
de uma mesma fonte de carbono foi demonstrada
succinato de amônio entre outras. Entre as
por Fariña et al. (1998), quando estudaram o
inorgânicas, podem ser citadas: sulfato de amônio,
Sclerotium rolfsii ATCC201126, que produziu
nitrato de sódio, nitrato de potássio, nitrato de
aproximadamente quatro vezes mais escleroglucana
amônio, etc (SEVIOUR et al., 1992; KRCMAR et
quando cultivado em 150 g/L de sacarose do que em
al., 1999; BAE et al., 2000).
20 g/L da mesma fonte. Leisola et al. (1982),
cultivaram o Phanerochaete chrysosporium Tem sido descrito que polissacarídeos são
ATCC24725 em glucose, variando a sua produzidos somente sob condições de nitrogênio
concentração de 2,4 g/L até 6,0 g/L, em frascos limitantes e que altos níveis de nitrogênio no meio
contendo o mesmo meio de cultivo. Esses de cultivo reprimem a formação de EPS. Este efeito
tem sido observado em vários fungos produtores de

32 Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004


β-glucanas. Entretanto, acredita-se que este tipo de diretamente vinculadas ao metabolismo de cada
regulação depende da fonte de nitrogênio utilizada. microrganismo.
Os sais de amônio são, freqüentemente, mais
eficientes do que a maioria dos outros sais
Aeração
inorgânicos e, particularmente, do que as fontes de
nitrogênio orgânicas (SEVIOUR et al., 1992). As taxas de aeração para a produção de EPS
variam significativamente. A produção de β-glucana
Relatos da literatura mostram que as concentrações
pelo Phanerochaete chrysosporium ATCC24725
de sulfato de amônio têm variado de 0,6 g/L para a
(BUCHALA; LEISOLA, 1987) foi a mesma (140
produção de pululana pelo Aureobasidium pullulans
mg/L), independentemente da taxa de aeração
ATTC9348 (GIBBS; SEVIOUR, 1996) até 5,0 g/L
estudada, que variou de 0,05 a 0,4 litro por minuto
para a produção de EPS por certos Basidiomicetos
(vvm). Por outro lado, Roukas e Liakopoulou-
(MAZIERO; CAVAZZONI; BONONI, 1999). As
Kyriakides (1999) verificaram que a produção de
concentrações de nitrato de sódio estudadas tem
pululana pelo Aureobasidium pullulans P56 foi maior
variado de 0,08g/L para a produção de epiglucana
(23 g/L) na taxa de aeração de 1 vvm, quando
pelas cepas de Epicoccum nigrum (SCHMID et al.,
comparado com os cultivos sem fornecimento de ar
2001) até 2,25 g/L na produção de escleroglucana pelo
(12 g/L) e com aeração de 0,5 vvm (14 g/L).
Sclerotium rolfsii ATCC201126 (FARIÑA et al.,
1998). Wang e McNeil (1995) estudaram a produção de
escleroglucana pelo Sclerotium glucanicum
Cepas de Aureobasidium pullulans aubasidani
NRRL3006 em reator. Variaram o fluxo de ar de 100
produziram aubasidana utilizando-se preferencial-
dm3/min durante 96h e em seguida, decresceram-no
mente nitrato de sódio, enquanto cepas de
para 20 dm3/min. Estes dois estágios promoveram
Aureobasidium pullulans pullulans produziram
um ligeiro aumento na produção de escleroglucana.
pululana utilizando sulfato de amônio. Portanto,
cepas de Aureobasidium pullulans podem ter Gibbs e Seviour (1996) também estudaram a
preferências diferentes por fontes de nitrogênio, produção de pululana pelo Aureobasidium pullulans
levando à produção de diferentes exopolissacarídeos ATTC 9348 em fermentador e demonstraram que
(YURLOVA; HOOG, 1997). existe uma influência negativa de altos níveis de
oxigênio dissolvido sobre a produção de EPS neste
A fonte de nitrogênio influenciou diretamente a
microrganismo.
produção de EPS pelo Sclerotium rolfsii ATCC201126
que produziu aproximadamente 2 g/L de escleroglucana Portanto, para a produção de EPS deve-se estudar
em sais de amônio e 5 g/L em sais de nitrato em um as condições de aeração mais apropriadas para cada
mesmo tipo de meio de cultivo. Portanto, acredita-se microrganismo. Para alguns fungos, a aeração pode
que este microrganismo sofreu uma adaptação durante não afetar a produção, enquanto que para outros, pode
o processo evolutivo (FARIÑA et al., 1998). aumentar ou mesmo diminuí-la.
O crescimento micelial e a produção de EPS pelo
Paecilomyces japonica estão diretamente Agitação
relacionados. Bae et al. (2000) verificaram que a
maior produção de EPS para este microrganismo foi A função da agitação no meio de cultivo é melhorar
obtida em fonte orgânica de nitrogênio e, mais a distribuição de oxigênio e outros nutrientes para as
especificamente, em 6 g/L de extrato de levedura. células fúngicas. A maioria dos estudos sobre a
influência da taxa de agitação sobre a produção de EPS,
Portanto, pelos resultados descritos na literatura, por fungos, tem sido feita com cepas de Aureobasidium
acredita-se que existem preferências específicas pullulans, um produtor de pululana.
quanto à fonte de nitrogênio, as quais estão

Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004 33


Gibbs e Seviour (1996) estudaram uma grande Entre vários sais inorgânicos, o CuCl2. 2H2O foi
variedade de taxas de agitação para a produção de o que promoveu menor produção de micélio pelo
pululana pelo Aureobasidium pullulans ATTC 9348, Paecilomyces japonica, apesar do ZnCl2 também não
em fermentador. Os autores constataram que a ter favorecido o seu crescimento (BAE et al., 2000).
produção do referido EPS em velocidades de agitação
A otimização do meio de cultivo para o
menores como 125 e 250 rpm, sem controle do nível
crescimento micelial de Paecilomyces japonica se
da pressão de oxigênio para as células, foi satisfatória
deu com 0,5 g/L de K2HPO4, 0,2 g/L de KH2PO4,
devido aos baixos níveis de oxigênio que atingiram
0,2 g/L de MnSO4 . 5H2O e 0,2 g/L de MgSO4 . 7H2O
as células, nestas condições de agitação. Também
(BAE et al., 2000).
verificaram que a produção poderia melhorar
significativamente em altas velocidades de agitação Mais estudos deverão ser realizados para se inferir
como 1000 rpm, desde que fosse diminuída a pressão quais os efeitos dos sais inorgânicos sobre o cultivo
de oxigênio para as células, ou seja, que houvesse de diferentes fungos produtores de EPS. Por
um controle da pressão. Estas conclusões parecem exemplo, pesquisar a composição em sais minerais
demonstrar que, independentemente da taxa de necessária para promover um aumento da atividade
agitação, a produção de EPS é afetada pelo nível da das enzimas envolvidas no metabolismo da produção
pressão de oxigênio no fermentador. dos exopolissacarídeos fúngicos.

Microelementos Adição de anti - espumantes


Microelementos são sais inorgânicos utilizados A produção de polissacarídeos por fungos
em pequenas quantidades pelas células fúngicas, os cultivados em tanques agitados ou fermentadores
quais compreendem metais e não metais essenciais à aerados, leva à formação de grandes quantidades de
composição de enzimas, vitaminas, proteinas, espuma estável, que é comumente controlada com
nucleotídeos, etc. São substâncias consideradas produtos químicos. Recentemente, tem sido
estabilizadoras destas macromoléculas. Os demonstrado que alguns destes produtos químicos
microelementos mais utilizados para a produção de EPS anti-espumantes, como polipropileno glicol 2025,
por fungos são: K2HPO4, KCl, MgSO4, FeSO4, NaCl, inibiram severamente a produção de β-glucana para
Na 2HPO 4, KH 2PO 4, MnSO 4, entre outros. os fungos Acremonium persicinum C38 e Epicoccum
Normalmente, o fosfato e sulfato são requeridos em purpurascens E41, além de alterarem a morfologia
maiores concentrações pelos microrganismos em dos mesmos. A produção de polissacarídeo pelo
comparação com os outros sais inorgânicos. Fosfato é Aureobasidium pullulans ATCC3092 não foi afetada.
um constituinte dos fosfolipídeos e ácidos nucléicos e
O mecanismo de inibição não é conhecido, porém
é também um regulador de certas enzimas do
estes produtos químicos podem afetar a via
metabolismo primário e secundário. Sulfato é necessário
biossintética direta ou indiretamente, afetando a taxa
para a biossíntese de aminoácidos sulfurados e
de transferência de massa do oxigênio ou a
metabólitos secundários, como por exemplo os
morfologia do fungo. Entretanto, estas observações
antibióticos (GRESHAM, R.L.; HERBER, W.K., apud
mostram que cuidados devem ser tomados na escolha
RHODES; STANBURY, 1997, p.51-74).
dos agentes antiespumantes para a produção de
Entre vários sais inorgânicos o fosfato de potássio glucanas (SEVIOUR et al., 1992).
levou à maior produção de micélio pelo
Por outro lado, quando outros produtos químicos
Paecilomyces japonica, apesar dos sais MnSO4 .
foram testados, como vários óleos vegetais e seus
5H2O, MgSO4 . 7H2O, e KH2PO4 também terem sido
constituintes em ácidos graxos, houve um expressivo
favoráveis ao seu crescimento (BAE et al., 2000).

34 Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004


aumento na produção de EPS pelo Acremonium Recuperação e quantificação de
persicinum C38. Por exemplo, o óleo de oliva e o exopolissacarídeos fúngicos
óleo de girassol favoreceram a produção de EPS que
Os exopolissacarídeos fúngicos são recuperados
foi de aproximadamente 30 g/L, quase o dobro da
do meio de cultivo de forma semelhante aos de
produção do controle. Ainda se desconhece como
bactéria, ou seja, através de centrifugação, filtração,
estes óleos agem, entretanto a falta de correlação
agentes precipitantes de EPS, diálise e liofilização.
entre os níveis de estimulação e o grau de insaturação
sugere que eles não agem modificando a função e a As centrifugações são utilizadas para separar as
estrutura da membrana celular, como sugerido em células, sedimentando-as do EPS solúvel presente
outros sistemas (SEVIOUR et al., 1992). no meio extracelular. Também são utilizadas para
auxiliar na precipitação posterior dos EPS presentes
Bevaloid 5397, um óleo mineral, inibiu a
no sobrenadante, após tratamento com agentes
produção de EPS pelo Acremonium persicinum C38
precipitantes. O etanol é o agente precipitante mais
porém, nenhum dos anti-espumantes à base de
comum, embora isopropanol ou cetonas podem
silicone, incluindo-se “Dow Corning AF”, Anti-
também ser utilizados. A relação volume de etanol :
espumante 1520 e o Gensil 32 (Bevaloid), afetaram
volume de sobrenadante do meio de cultivo mais
a produção de EPS. Entretanto, na presença destes
utilizada tem sido 2:1 (WANG; McNEIL, 1995;
mesmos anti-espumantes, o A . persicinum C38
BARNETT et al., 1999; ROUKAS;
cresceu na forma micelial formando grandes massas
LIAKOPOULOU-KYRIAKIDES, 1999; SCHMID
esféricas (STASINOPOULOS; SERVIOUR; AUER,
et al., 2001). Porém um, três ou até mesmo quatro
1989).
vezes o volume de etanol também têm sido
empregado com sucesso por alguns pesquisadores
(BUCHALA; LEISOLA, 1987; KRCMAR et al,
Fatores de crescimento
1999; BAE et al., 2001)
Os fatores de crescimento são fontes acessórias,
Os EPS fúngicos têm sido quantificados através
principalmente de carbono, nitrogênio e
de pesagem após liofilização (BAE et al., 2001), ou
microelementos, que servem para incrementar o
pela quantificação de seus açúcares redutores após
cultivo de microrganismos. Os fatores de crescimento
digestão enzimática (WEST, 2000), ou ainda
escolhidos dependem da fisiologia e do meio de
determinados pelo método do fenol-ácido sulfúrico
cultivo das cepas fúngicas produtoras de EPS. São
(YURLOVA; HOOG,1997, BARBOSA et al., 2003).
fatores de crescimento as vitaminas, aminoácidos,
ácidos graxos e microelementos, entre outros. Por A importância de um bom método para a
exemplo, a adição de óleo de girassol e óleo de oliva recuperação e quantificação dos EPS fúngicos do
e seus constituintes em ácidos graxos, diminuiram a meio de cultivo, reside no fato de possibilitar a
produção de escleroglucana pelo Sclerotium rolfsii comparação da produção de EPS por uma ou outra
ATCC201126 (FARIÑA et al., 1998). Porém a adição cepa fúngica.
dos mesmos aumentou a produção de EPS pelo
Acremonium persicinum C38 (SEVIOUR et al.,
1992). Portanto, os fatores de crescimento devem Caracterização dos exopolissacarídeos
ser avaliados para cada microrganismo em estudo. fúngicos
Antes que a caracterização química seja iniciada,
é necessária a purificação do EPS, geralmente a parte
mais laboriosa.

Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004 35


Procedimentos de purificação devem ser necessidade da derivatização pré-coluna permitindo
efetuados até que a composição da macromolécula a análise de uma menor quantidade de material. Neste
em estudo se mantenha constante por, pelo menos, caso, a detecção de carboidratos se faz por índice de
dois diferentes métodos (PAZUR, 1994). Sabendo- refração e mais recentemente por amperometria
se que o comportamento dos polissacarídeos nas integrada (PAD-HPAEC) (RICE; CORRADI DA
cromatografias de filtração em gel ou em troca iônica SILVA, 1996; BARBOSA et al., 2003).
fornece informações acerca da pureza da preparação
Métodos espectroscópicos como ressonância
polissacarídica e que a simetria no pico de eluição é
magnética nuclear e infravermelho acoplado ao
sinal de homogeneidade (DANISHEFSKY;
transformador Fourier são utilizados para identificar
WHISTLER; BETTELHEIM, 1970; BOYER, 1993)
a configuração anomérica das ligações glicosídicas
esses métodos cromatográficos são, geralmente, os
do EPS. Para essas análises, os espectros do material
primeiros utilizados nos procedimentos de
em estudo são comparados aos espectros de padrões,
purificação.
normalmente, encontrados na literatura de
Para analisar a estrutura de um polissacarídeo é ressonância magnética nuclear (GORIN, 1980; BES
necessário, primeiro, determinar os tipos de resíduos et al., 1987; BRUNETEAU et al., 1988;
monossacarídicos que constituem o composto GUTIÉRREZ; PIETRO; MARTÍNEZ, 1996;
biológico. SANTOS et al., 2000; SCHMID et al., 2001;
BARBOSA et al. 2003) e infra-vermelho
Com o advento de métodos cromatográficos, a
(GUTIÉRREZ; PIETRO; MARTÍNEZ, 1996;
determinação da composição monossacarídica é
YURLOVA; HOOG, 1997; KRCMAR et al., 1999;
relativamente simples. Para isso, é imprescindível
SANTOS et al., 2000; SCHMID et al., 2001; SILVA
que o polissacarídeo seja, antes, hidrolisado em suas
et al., 2003).
unidades constituintes.
A análise de metilação, uma das mais comuns na
A cromatografia em papel, uma técnica simples
caracterização de polissacarídeos, é usada para
e de baixo custo, é utilizada para identificar
estabelecer a posição da ligação e o tipo de anel dos
qualitativamente os monossacarídeos, obtidos por
açúcares constituintes (MONTREUIL et al., 1994).
hidrólise, do EPS (YURLOVA; HOOG, 1997). A
Ela envolve a permetilação de todas as hidroxilas
cromatografia em camada delgada utilizada para o
livres dos açúcares, seguida da liberação de
mesmo fim (POLYCARPO et al., 1997) apresenta
monossacarídeos por hidrólise ou metanólise e
melhor resolução e rapidez, quando comparada à
análise quantitativa dos derivados metilados
cromatografia em papel.
(BUCHALA; LEISOLA, 1987; BES et al., 1987;
Métodos mais sensíveis e rápidos são GUTIÉRREZ; PIETRO; MARTÍNEZ, 1996;
cromatografia em fase gasosa (GLC) e cromatografia YURLOVA; HOOG, 1997; KRCMAR et al., 1999;
líquida de alta resolução (HPLC). O primeiro método SCHMID et al., 2001; BARBOSA et al., 2003).
estabelece que derivados voláteis de carboidrato Padrões de fragmentação característicos de açúcares
sejam preparados (CHAPLIN, 1994) e então individuais são obtidos pela combinação c.f.g.-e.m
identificados, usando-se detector de ionização de (cromatografia em fase gasosa e espectrometria de
chama, comparando-se seus tempos de retenção massa).
àqueles de padrões, já previamente conhecidos
A oxidação do polissacarídeo pelo periodato e a
(BUCHALA; LEISOLA, 1987; BES et al., 1987;
determinação quantitativa do periodato consumido
GUTIÉRREZ; PIETRO; MARTÍNEZ., 1996;
bem como a formação do ácido fórmico fornecem
YURLOVA; HOOG, 1997; SANTOS et al., 2000;
informações sobre a natureza e a proporção das
SCHMID et al., 2001). Para o HPLC, não há

36 Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004


ligações glicosídicas que participam do EPS muito sua solubilidade. Quando o escleroglucana é
(SANTOS et al., 2000; BARBOSA et al., 2003). mais ramificado, sua solução é pseudoplástica e sua
A determinação da massa molar, usualmente, é viscosidade parece não ser afetada, na faixa de 20-
realizada pela aplicação do EPS em uma coluna 90°C. A oxidação química da cadeia lateral com
contendo géis permeáveis. O volume de eluição, periodato, seguida por redução com borohidreto,
comparado àquele de padrões de massa molar aumenta a atividade newtoniana do escleroglucana,
conhecida, permite determinar o peso molecular possivelmente devido ao aumento da solubilidade
aproximado do EPS (YURLOVA; HOOG, 1997). deste EPS. O comportamento pseudoplástico do
escleroglucana não é afetado por vários sais, o que
Esse conjunto de análises, realizado com todo
proporciona uma vantagem sobre polissacarídeos
critério científico, permite caracterizar a estrutura
polianiônicos, tais como xantana para produtos
química do EPS.
agrícolas (SUTHERLAND, 1998).
Pululana, uma α-glucana, solúvel em água,
Algumas propriedades reológicas dos meios produzida pelo Aureobasidium pullulans forma
de cultivo com exopolissacarídeos fúngicos soluções viscosas estáveis na presença da maioria
A viscosidade das soluções de EPS fúngicos varia dos cátions, mas não forma géis. Esterificações
de acordo com alguns fatores físico-químicos como: podem ser usadas para variar suas propriedades
pH, temperatura, concentração do EPS, massa físicas, tornando-a menos susceptível ao ataque
molecular, solubilidade, além das características enzimático (SUTHERLAND, 1998). A maior
morfológicas dos fungos produtores (CUNHA, 2002). viscosidade de uma solução de pululana produzida
pelo Aureobasidium pullulans P56 foi obtida em pH
A velocidade cinética do EPS varia com a
8.0 a 20 °C, quando o EPS foi produzido com taxa
viscosidade do meio de cultivo, sendo maior em
de aeração de 1L/min (ROUKAS; LIAKOPOULOU
meios de cultivo com baixa viscosidade e maior
- KYRIAKIDES, 1999).
solubilidade, e menor em meios de cultivo com alta
viscosidade e baixa solubilidade. São eles menos A viscosidade da solução de pululana produzida
velozes em meios mais viscosos (maior atrito) e mais por Aureobasidium pullulans ATCC9348 foi avaliada
velozes em meios menos viscosos (menor atrito). A sob diferentes condições de cultivo em fermentador
maior viscosidade do meio de cultivo promove ao e observou-se que os valores foram constantes. Este
EPS um caráter mais pseudoplástico e menos resultado sugeriu que a massa molecular de pululana
newtoniano, enquanto a menor viscosidade do meio e seu grau de polimerização não são afetados pelo
de cultivo confere a ele um caráter mais solúvel e meio físico. Entretanto, segundo Lounes et al. (1995)
newtoniano (CUNHA, 2002). e Audet et al. (1996), os valores de viscosidade
Uma grande importância do estudo da viscosidade variaram com as condições da fermentação para o
do meio de cultivo está na produção de EPS fúngicos Aureobasidium pullulans quando secretou outros
em escala industrial, com menor custo de produção, polissacarídeos concomitantemente com o pululana
em fermentador, em termos de gasto energético. (BOUVENG et al., 1963; LEAL-SERRANO et al.,
Microrganismos que produzem mais EPS em um 1980; PROMMA et al. apud GIBBS; SERVIOUR,
meio de cultivo mais newtoniano é o ideal para maior 1998).
lucratividade (CUNHA, 2002). As características morfológicas de Paecilomyces
Grandes variações podem ser encontradas no grau japonica exerceram uma influência significativa
de ramificação de alguns dos polímeros de sobre a reologia do caldo contendo EPS. A forma de
escleroglucana, uma β-glucana, o que pode afetar micélio esférico promoveu menor viscosidade do que

Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004 37


a forma de micélio filamentoso. O índice de emulsificantes, porém outra possibilidade de
comportamento de fluxo n para o micélio esférico aplicação destes biopolímeros é na saúde humana.
foi perto da unidade (BAE et al., 2001). O Várias pesquisas sobre polissacarídeos fúngicos têm
crescimento do micélio esférico de Paecilomyces se concentrado em aplicá-los como agentes
japonica foi obtido sob condições de baixa agitação antitumorais (MAZIERO et al., 1999). Os
e alta aeração e foi necessário para melhorar a polissacarídeos que apresentam esta atividade são
produção de EPS (SINHA et al., 2001). todos glucanas intimamente relacionados à estrutura
do escleroglucana (YANG; LIAU, 1998). Alguns
Segundo Wang e McNeil (1995) a viscosidade
polissacarídeos ricos em L-fucose também podem
do caldo e a transferência de oxigênio para os
apresentar aplicação na área médica, evitando a
microrganismos são variáveis inversamente
colonização do pulmão por células tumorais (efeito
proporcionais. Esse fato ocorre porque estes
anticancerígeno), no controle da formação de
pesquisadores observaram elevada viscosidade do
leucócitos (efeito antiinflamatório), no tratamento de
caldo fermentado, contendo escleroglucana de
artrite reumatóide, na síntese de antígenos para a
Sclerotium glucanicum NRRL 3006, com baixas
produção de anticorpos (imunização) e em
taxas de transferência de oxigênio.
cosméticos como agentes de hidratação da pele
(VANHOOREN; VANDAMME, 1999).
Aplicações dos exopolissacarídeos fúngicos O pululana, uma α-glucana produzida pelo fungo
Vários exopolissacarídeos produzidos por Aureobasidium pullulans, é resistente ao óleo e daí
microrganismos ainda não foram adequadamente sua aplicação em poços de petróleo. Este EPS forma
explorados e somente poucos têm sido produzidos filmes solúveis em água com baixa permeabilidade
em larga escala. Muitos polissacarídeos produzidos ao oxigênio, reveste alimentos retendo o sabor e
por bactérias e fungos possuem propriedades aparência. Soluções deste EPS podem também ser
semelhantes às do agar. Outros possuem usadas para formar coberturas, sem odor e sabor,
propriedades reológicas que são valiosas para sobre matérias alimentícias. Estas aplicações têm
emprego industrial. Entre os polissacarídeos aparentemente sido desenvolvidas no Japão, mas o
microbianos com usos comerciais podem ser citados uso do polímero em outros países parece ser limitado.
xantana, dextrana , alginato, curdlana e gelana, Pululana é também um bom adesivo e pode ser usado
produzidos por bactérias e o escleroglucana e na preparação de algumas fibras, como um
pululana, produzidos por fungos. (GLAZER; componente de sistemas aquosos bifásicos. Este EPS
NIKAIDO, 1995). também tem sido usado para preparar padrões de
massa molecular de baixa dispersão para calibrar
Os polissacarídeos extracelulares produzidos por
HPLC. Uma nova particularidade do uso de pululana
fungos ligninolíticos desempenham papel importante
é como pré-biótico para promover seletivamente o
no processo de degradação de xenobióticos, uma vez
crescimento de Bifidobacterium spp no intestino
que imobilizam as enzimas extracelulares. O gel
humano, seguindo sua incorporação sobre alimentos
formado por estes biopolímeros impede a
de dieta especializada (SUTHERLAND, 1998).
desidratação da hifa e permite adesão entre as células
ou a adesão destas às superfícies, além de selecionar D-glucanas tipo β(1→3) como escleroglucana
moléculas do meio (MAZIERO; CAVAZZONI; (Sclerotium glucanicum), esquizofilana
BONONI, 1999). (Schizophyllum commune), cinereana (Botrytis
cinerea) e pestalotana (Pestalotia sp), exibem
Os EPS microbianos são mais conhecidos por
atividade contra tumores. Esta atividade antitumor
suas propriedades espessantes, geleificantes e
parece estar relacionada à estrutura química da cadeia

38 Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004


principal da glucana na forma de tríplice hélice, à EPS em fungos. Sais de amônio e nitrato destacam-
frequência e complexidade das cadeias laterais e à se entre as fontes de nitrogênio inorgânicas, enquanto
sua massa molecular (SCHMID et al., 2001). o extrato de levedura entre as fontes orgânicas.
O EPS e o micélio de Paecilomyces japonica A aeração pode ou não afetar a produção de EPS
apresentam atividades fisiológicas semelhantes, que de acordo com o fungo em estudo.
incluem atividades imuno-estimuladora, antitumor
A adição de microelementos e de fatores de
e hipoglicêmica. Ambos podem ser utilizados como
crescimento devem ser avaliadas de acordo com o
suplemento da dieta para aumentar a histamina, uma
fungo em estudo. Entretanto, fosfato e sulfato devem
substância naturalmente produzida pelo organismo,
ser utilizados em maiores concentrações que os
para curar tosse e problemas de circulação do sangue,
demais microelementos.
ou ainda como um tônico para promover a
longevidade e melhorar a qualidade de vida (BAE et A adição de antiespumantes pode ou não inibir a
al., 2001). síntese de EPS, dependendo do fungo em estudo,
afetando ou não a forma do micélio.
Ensaios de atividade contra tumor das D-glucanas
β(1→3) de Phytophthora parasitica foram positivos O etanol na proporção de 2 volumes tem sido o
(BRUNETEAU et al., 1988). solvente mais utilizado para a precipitação de EPS
fúngicos. Geralmente a quantificação tem sido
O EPS ramificado, uma β-D-glucana (1→3;1→6)
através de pesagem após a liofilização.
ou escleroglucana de Sclerotium rolfsii ATCC
201126 tem sido investigada devido ao seu potencial A caracterização de EPS fúngicos é desenvolvida
na recuperação de óleos, bem como pela sua por uma seqüência de técnicas, desde as mais simples
capacidade de promover estímulo imunológico. como hidrólise ácida e cromatografias em papel ou
Apresenta atividades antimicrobiana e antineoplásica em camada delgada, até as mais sofisticadas como
significantemente mais elevadas do que outras β- espectroscopia de infra-vermelho e ressonância
glucanas (FARIÑA et al., 1998). magnética nuclear (RNM), que dependem de
aparelhos específicos.
A participação da D-glucana β(1→3) de Phlebia
radiata Fr.79 (ATCC64658) na degradação de A viscosidade no meio de cultivo durante o
xenobióticos ainda não está totalmente esclarecida, processo de produção de EPS é importante para
embora já se conhece que as enzimas que participam diminuir os gastos de produção do mesmo, em escala
da degradação de lignina também estão envolvidas industrial.
na degradação de xenobióticos (KRCMAR et al., Considerando-se a biodiversidade do planeta e a
1999) e que D-glucanas podem atuar como suporte importância destas macromoléculas como produtos
neste processo. naturais bem como suas aplicações nas mais
diferentes áreas, pesquisas sobre o isolamento de
novas cepas fúngicas e da otimização da produção
Conclusões devem ser intensificadas, uma vez que a produção
Diferentes fontes de carbono têm sido estudadas, independe de variações sazonais e ou climáticas e,
entretanto a glucose e a sacarose são as mais portanto, novos exopolissacarídeos poderão ser
utilizadas para a produção de EPS fúngicos. descobertos.
Fontes de nitrogênio orgânicas e inorgânicas têm
sido estudadas para a produção de EPS fúngicos.
Níveis elevados de nitrogênio reprimem a síntese de

Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004 39


Referências GIBBS, P. A.; SEVIOUR, R. J. Does the agitation rate
and/or oxygen saturation influence exopolysaccharide
BAE, J. T. et al. Optimization of submerged culture production by Aureobasidium pullulans in batch culture?
conditions for exo-biopolymer production by Applied Microbiology and Biotechnology, Bingley, v.46,
Paecilomyces japonica. Journal of Microbiology and. p.503-510, 1996.
Biotechnology, Kangnam-Ku, v.10, p.482-487, 2000.
GIBBS, P. A.; SEVIOUR, R. J. The production of
BAE, J. T. et al. Effect of carbon source on the mycelial exopolysaccharides by Aureobasidium pullulans in
growth and exo-biopolymer production by submerged fermenters with low-shear configurations. Applied
culture of Paecilomyces japonica. Journal of Bioscience Microbiology and Biotechnology, Bingley, v.49, p.168-
and Bioengineering, Suita, v.91, p.522-524, 2001. 174, 1998.
BARBOSA, A.M. et al. Structural characterization of GLAZER, A. N.; NIKAIDO, H. Microbial
Botryosphaeran: β (1→3; 1→6)-β-D-glucan produced by Polysaccharides and Polyesters. In:______. Microbial
the ascomyceteous fungus, Botryosphaeria sp. Biotechnology: fundamentals of applied microbiology.
Carbohydrate Research, Kidlington, v.338 p.1691-1698, New York : W. H. Freeman, 1995. p.265-272.
2003.
GORIN, P.A.J. Advances in Carbohydrate Chemistry and
BARNETT, C. et al. Pullulan production by Biochemistry. New York: Academic, 1980. v.38, p.13-
Aureobasidium pullulans growing on hydrolysed potato 97.
starch waste. Carbohydrate Polymers, Sannon, v.38,
p.203-209, 1999. GREASHAM, Randolph L.; HERBER, Wayne K. Design
and optimization of growth media. In: RHODES, P. M.;
BES, B. et al. Synthesis, structure and enzymatic STANBURY, P. F. Applied Microbial Physiology. Oxford:
degradation of an extracellular glucan produced in Oxford University, 1997. p.60.
nitrogen-starved cultures of the white rot fungus
Phanerochaete chrysosporium. Biotechnolology and GUTIÉRREZ, A.; PIETRO, A.; MARTÍNEZ, A. T.
Applied Biochemistry, London, v.9, p.310-318, 1987. Structural characterization of extracellular
polysaccharides produced by fungi from the genus
BOYER, R. F. Modern Experimental Biochemistry. 2nd. Pleurotus. Carbohydrate Research, Kidlington, v.281,
California: Benjamin/Cummings 1993. p.59-114. p.143-154, 1996.
BRUNETEAU, M. et al. Antitumor active β -D-glucans IZELI, N.L. et al. Produção e caracterização química
from Phytophthora parasitica. Carbohydrate Research, parcial dos exopolissacarídeos produzidos pelo fungo
Kindlington, v.175, p.137-143, 1988. Botryosphaeria sp. em diferentes fontes de carbono. In:
BUCHALA, A. J.; LEISOLA, M. Structure of the β -D- FÓRUM DE CIÊNCIAS DA FCT, 4., Presidente
glucan secreted by Phanerochaete chrysosporium in Prudente, 2003. Anais... Presidente Prudente, 2003. v.1,
continuous culture. Carbohydrate Rsearch, Kindlington, p.35-39.
v.165, p.146-149, 1987. KRCMAR, P. et al. Structure of extracellular
CHAPLIN, M.F. Monosaccharides. In: CHAPLIN, M.F.; polysaccharide produced by lignin-degrading fungus
KENNEDY, J.F. (Eds.) Carbohydrate Analysis. Oxford: Phlebia radiata in liquid culture. International Journal
A Practical Approach. IRL, 1994. p.1-40. of Biological Macromolecules, Amsterdam, v.24, p.61-
64, 1999.
CUNHA, P.D.T. Produção de exopolissacarídeos fúngicos
e suas aplicações. 2002. 36 p. Monografia. Universidade LEISOLA, M. et al. Polysaccharide synthesis by
Estadual de Londrina, Londrina. Phanerochaete chrysosporium during degradation of kraft
lignin. European Journal of Applied Microbiolology and
DANISHEFSKY, I., WHISTLER, R.L; BETTELHEIM, Biotechnology, Berlin, v.15, p.180-184, 1982.
F.A.. In: PIGMAN, W. The Carbohydrates. 2nd. New
York: Academic Press, 1970. v.2. p.375-412. LIMA, U. A.; AQUARONE, E.; BORZANI, W.
Biotecnologia-Tecnologia das Fermentações. São Paulo:
DEKKER, R.F.H.; BARBOSA, A.M. The effects of aeration Edgard Blucher, 1992. v.1, p.101-106.
and veratryl alcohol on the production of two laccases by
the ascomycete Botryosphaeria sp. Enzyme and Microbial MAZIERO, R.; CAVAZZONI, V.; BONONI, V. L. R.
Technology, New York, v.28, p.81-88, 2001. Screening of Basidiomycetes for the production of
exopolysaccharide and biomass in submerged culture.
FARIÑA, J. I. et al. High scleroglucan production by Revista de. Microbiologia, São Paulo, v.30, p.77-84, 1999.
Sclerotium rolfsii: Influence of medium composition.
Biotechnology Letters, Dordrecht, v.20, n.9, p.825-831, 1998.

40 Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004


MONTREUIL, J. et al. Glycoproteins. In: ______. SEVIOUR, R. J. et al. A. Production of pullulan and other
Carbohydrate Analysis: a Practical. Oxford: Approach, exopolysaccharides by filamentous fungi. Critical
1994. p.181-229. Reviews in Biotechnology, Boca Raton, v.12, p.279-298,
1992.
PAZUR, J.H. Carbohydrate Analysis: a Practical
Approach. IRL. Oxford: Oxford-University Press, 1994. SILVA, I.R. et al. Alguns aspectos físico-químicos das
p.73-124. glucanas produzidas pelo fungo Botryosphaeria sp. em
diferentes fontes de carbono. FÓRUM DE CIÊNCIAS
PIGATTO, M. M. Produção de exopolissacarídeo pelo
DA FCT, 4., Presidente Prudente, 2003. Anais...
fungo ligninolítico Botryosphaeria sp. 2002. 53p.
Presidente Prudente, 2003. v.1, p.30-34.
Monografia - Universidade Estadual de Londrina,
Londrina. SINHA, J. et al. Changes in morphology of Paecilomyces
japonica and their effect on broth rheology during
POLYCARPO, C. R. et al. Partial characterization of
production of exo-biopolymers. Applied Microbiology
polysaccharides from Fusarium solani. Revista de
and Biotechnology, Berlin, v.56, p.88-92, 2001.
Microbiologia, São Paulo, v.28, p.268-270, 1997.
STASINOPOULOS, S. J.; SEVIOUR, R. J. and AUER,
RICE, K.G.; CORRADI DA SILVA, M.L. Preparative
D. F. Inhibition of fungal exopolysaccharide production
purification of complex oligosaccharides, Journal of
by chemical antifoams. Letters in Applied Microbiology,
Chromatography A, Amsterdan, v.720, p.235-249, 1996.
Oxford, v.8, p.91-93, 1989.
ROUKAS, T. and LIAKOPOULOU-KYRIAKIDES, M.
SUTHERLAND, I. W. Novel and established applications
Production of pullulan from beet molasses by
of microbial polysaccharides. Trends in Biotechnology,
Aureobasidium pullulans in a stirred tank fermentor.
Limerick, v.16, p.41-46, 1998.
Journal of Food and Engeneering, Kidlington, v.40, p.89-
94, 1999. VANHOOREN, P. T; VANDAMME, E. J. L-Fucose:
occurrence, physiological role, chemical, enzymatic and
SANTOS, A. et al. (1→6)-β -D-Glucan as cell wall
microbial synthesis. Journal of Chemical Technology and
receptor for Pichia membranifaciens Killer toxin. Applied
Biotechnology, London, v.74, p.479-497, 1999.
and Environmental Microbiology, Berlin, v.66, p.1809-
1813, 2000. WANG, Y.; MCNEIL, B. Production of the fungal
exopolysaccharide scleroglucan by cultivation of
SCHMID, F. et al. Structure of epiglucan, a highly side-
Sclerotium glucanicum in an airlift reactor with an
chain/branched (1→3; 1→6)-β-glucan from the micro
external loop. Journal Chemical Technology and
fungus Epicoccum nigrum Ehrenb. ex Scglecht.
Biotechnology, London, v.63, p.215-222, 1995.
Carbohydrate Research, Kidling, v.331, p.163-171, 2001.
WEST, T. P. Exopolysaccharide production by entrapped
SCHUSTER, R.; WENZIG, E.; MERSMANN, A.
cells of the fungus Aureobasidium pullulans ATCC
Production of the fungal exopolysaccharide pullulan by
201253. Journal of Basic Microbiology, v.40, p.397-401,
batch-wise and continuous fermentation. Applied and
2000.
Microbiology and Biotechnology, Berlin, v.39, p.155-158,
1993. YANG, F-C.; LIAU, C-B. The influence of environmental
conditions on polysaccharide formation by Ganoderma
SELBMANN, L.; CROGNALE, S; PETRUCCIOLI, M.
lucidum in submerged cultures. Process Biochemistry,
Exopolysaccharide production from Sclerotium
kidlington, v.33, p.547-553, 1998.
glucanicum NRRL 3006 and Botryosphaeria rhodina
DABAC-P82 on raw and hydrolysed starchy materials. YURLOVA, N. A.; HOOG, G. S. A new variety of
Letters in Applied Microbiology, Oxford, v.34, p.51-55, Aureobasidium pullulans characterized by
2002. exopolysaccharide structure, nutritional physiology and
molecular features. Antonie van Leeuwenhoek, Dordrecht,
v.72, p.141-147, 1997.

Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 25, n. 1, p. 29-42, jan./jun. 2004 41

Você também pode gostar