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CURRÍCULOS E PROJETOS

PEDAGÓGICOS
Unidade 2
Currículo: tipos e
concepções
CEO

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Diretora Editorial
ALESSANDRA FERREIRA

Gerente Editorial

LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS

Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA

Autoria

MARLY SAVIOLI

TATIANE KUCKEL
Marly Savioli
AUTORIA

Olá! Meu nome é Marly Savioli e sou mestre em Educação,


pós-graduada em Ética, Valores e Cidadania na Escola, graduada
em Pedagogia, especializada em Administração Escolar e
Supervisão Escolar com uma experiência técnico-profissional na
área educacional de mais de 35 anos.

Como educadora exerci nas escolas diversos papéis,


tais como: professora, orientadora educacional, coordenadora
pedagógica, vice-diretora e diretora.

Por acreditar nas pessoas e na capacidade de mudar


o mundo por meio da educação, atualmente trabalho para a
Fundação Lemann, como formadora de educadores e gestores
Unidade 2

educacionais, orientando e subsidiando seus trabalhos com


caminhos mais eficazes.

Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito


estudo e trabalho. Conte comigo!

Tatiane Kuckel

Olá. Meu nome é Tatiane Kuckel e sou Mestre em Educação


e Novas Tecnologias. Sou formada em Desenho pela Escola de
Música e Belas Artes do Paraná e em Gestão da Informação pela
Universidade Federal do Paraná.

Tenho mais de 15 anos de experiência em processos


e projetos para EAD, arte visuais, sistemas de informação,
monitoramento informacional e games.

Possuo trabalhos publicados nas linhas de Inteligência


Artificial, EaD, Gamificação e Artes visuais. Atualmente, sou
Gerente de Projetos e Inovação na Onilearning.

4 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Esses ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem nos seguintes casos:

ÍCONES
No início do Caso haja a
desenvolvimento necessidade de
de uma nova apresentar um novo
OBJETIVO competência. DEFINIÇÃO conceito.

Quando são
Se as observações
necessárias
escritas tiverem que
observações ou
ser priorizadas.
NOTA complementações. IMPORTANTE

Se existirem
Se algo precisar ser curiosidades e

Unidade 2
melhor explicado ou indagações lúdicas
EXPLICANDO detalhado. sobre o tema em
MELHOR VOCÊ SABIA?
estudo.

Existência de Se for preciso acessar


textos, referências sites para fazer
bibliográficas e links downloads, assistir
para aprofundar seu vídeos, ler textos ou
SAIBA MAIS ACESSE
conhecimento. ouvir podcasts.

Se houver a
necessidade de Quando for preciso
chamar a atenção fazer um resumo
sobre algo a cumulativo das últimas
REFLITA ser refletido ou RESUMINDO abordagens.
discutido.

Quando alguma Quando uma


atividade de competência é
autoaprendizagem concluída e questões
ATIVIDADES for aplicada. TESTANDO são explicadas.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 5


Currículo escolar ...................................................................... 9
SUMÁRIO

Currículo como campo de estudo: as teorias curriculares......................... 11

Teoria Tradicional............................................................................................... 14

Teoria Crítica......................................................................................... 19

Teoria pós-crítica................................................................................................ 24

Diferentes tipos de currículo: diálogos e conflitos............... 29


Currículo formal.................................................................................................. 31

Currículo real....................................................................................................... 33

Currículo oculto................................................................................................... 36

As concepções de currículo em políticas públicas (leis,


diretrizes e orientações curriculares).................................... 40
Unidade 2

Políticas Educacionais no Brasil:...................................................................... 40

Base Nacional Comum Curricular (BNCC):..................................................... 45

Políticas públicas e avaliação............................................................................ 47

Desafios Futuros:................................................................................................ 51

O currículo como produção social e as noções de currículo


oculto ........................................................................................ 55
O Currículo Oculto e sua Relevância na Formação Cognitiva e Social do
Aluno..................................................................................................................... 58

Explorando o Currículo como Produção Social............................................ 61

Cultura, Educação e Currículo:......................................................................... 64

6 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Você sabia que o estudo dos currículos, programas
e projetos pedagógicos desempenha um papel fundamental

APRESENTAÇÃO
na educação? Essa área é essencial para moldar o futuro da
aprendizagem e da formação de estudantes em todo o mundo.
Nos próximos anos, a educação estará cada vez mais em foco, e
profissionais que compreendem os princípios do currículo escolar
e as teorias curriculares estarão em alta demanda.

Nesta unidade letiva, vamos explorar o fascinante campo


do currículo escolar, abordando desde as teorias curriculares
clássicas até as mais contemporâneas. Você mergulhará nas
diferentes concepções de currículo, desde o formal até o
oculto, e entenderá como as políticas públicas influenciam o
desenvolvimento educacional. Além disso, vamos desvendar

Unidade 2
o currículo como uma produção social e discutir as noções de
currículo oculto.

Ao longo deste e-book, você terá a oportunidade de


explorar profundamente o mundo do currículo e sua importância
na educação. Vamos iniciar essa jornada juntos!

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 7


Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2! Nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes
OBJETIVOS

competências profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Explicar a fundamentação teórica do currículo;

2. Reconhecer diferentes tipos de currículos e sua


influência na aprendizagem;

3. Analisar as concepções de currículo em Políticas


Públicas (leis, diretrizes e orientações curriculares);

4. Reconhecer o currículo como produção social no


processo de formação cidadã.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
Unidade 2

8 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Currículo escolar
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender como funciona o campo de estudo do
currículo escolar e suas teorias curriculares. Essa
OBJETIVO compreensão será fundamental para o exercício
de sua profissão na área educacional. Aqueles que
tentaram mergulhar na complexidade do currículo
sem a devida instrução muitas vezes se viram diante
de desafios e dilemas. Mas não se preocupe, estamos
aqui para guiá-lo nessa jornada de conhecimento.
Neste capítulo, exploraremos o vasto universo
do currículo escolar, desde suas origens na teoria
tradicional até as perspectivas críticas e pós-críticas
mais contemporâneas. Compreender essas teorias é

Unidade 2
essencial para qualquer profissional da educação que
deseja impactar positivamente o processo de ensino-
aprendizagem. Estamos prestes a iniciar uma jornada
fascinante pelo mundo do currículo. Motivado para
desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante!

Sabemos que o currículo ultrapassa os limites de ser um


mero documento, que geralmente é “engavetado”. E por que as
pessoas usam o termo “engavetado”?

É comum os profissionais elaborarem documentos de


forma mecânica, pré-moldadas, com modelos já instituídos, ou
até mesmo copiados, apenas para cumprir uma normatização,
uma exigência de instâncias superiores. No caso da escola, essa
exigência viria da Secretaria da Educação, orientada pelo MEC
(Ministério da Educação e Cultura).

O currículo faz parte da vida escolar, e é muito comum


que os profissionais da área da educação apenas o reproduzam
todos os anos e deixem em suas gavetas, caso alguma autoridade
as solicite.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 9


Se pensarmos bem, nenhum documento deveria ter esse
fim. Se ele existe, foi porque estudiosos o criaram e defenderam
sua existência e sua importância.

O currículo, em especial, não pode ser esse tipo de


documento, pois ele deve ser nosso norteador para um Projeto
Político Pedagógico e sua utilização deve ser constante, sempre
com objetivo de guiar as ações pedagógicas, tanto quanto
acompanhamento e supervisão da prática.

Quando os profissionais da área entenderem sua


importância, nunca mais será “engavetado”, e provavelmente
fixarão em um quadro ao alcance da visão de todos, com
constante abertura para observação.
Unidade 2

Essa percepção erronia da função do documento,


provém da falta de informação e até mesmo da influência
histórica.

Muitos profissionais acreditam ainda que é uma


mera relação de conteúdos a serem seguidos no programa
de cada professor.

O currículo escolar atualmente é entendido como mais


um seguimento formador da sociedade, em que seus objetivos
andam lado a lado com a estrutura sociopolítica.
Imagem 2.1 – Influência política no currículo escolar

influencia
Política e Sociedade Currículo escolar

Fonte - Elaborada pela autoria (2020)

Dada a sua influência na formação do indivíduo, o currículo


começou a ser motivo de estudos, e conhecer suas teorias
claramente ajudará na percepção do que o fundamenta e, mais

10 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


que isso, poderemos questionar e aperfeiçoar sua efetividade e
eficiência.

Na unidade 1, tivemos uma breve explanação sobre alguns


períodos históricos e sua influência no currículo, apresentando
mais claramente o currículo tecnicista e o progressista.

Vamos agora entender melhor a história e os contextos


que levaram a evolução dessas concepções de currículos.

Lopes (2006, contracapa):


[...] o currículo se tece em cada escola com
a carga de seus participantes, que trazem
para cada ação pedagógica de sua cultura
e de sua memória de outras escolas e de

Unidade 2
outros cotidianos nos quais vive. É nessa
grande rede cotidiana, formada de múltiplas
redes de subjetividade, que cada um de nós
traçamos nossas histórias de aluno/aluna e de
professor/professora. O grande tapete que é
o currículo de cada escola, também sabemos
todos, nos enreda com os outros, formando
tramas diferentes e mais belas ou menos
belas, de acordo com as relações culturais
que mantemos e do tipo de memória que nós
temos de escola [...].

Currículo como campo de estudo:


as teorias curriculares
Os estudos sobre currículos estão intrinsicamente ligados
à história e ao entendimento de como preparar o cidadão e
trabalhador.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 11


O currículo pode ser organizado de forma
a manipular e formatar as impressões dos
estudantes. Por exemplo: são manipulados para
VOCÊ SABIA? acreditar que uma determinada postura é correta
e não contestável.

Quando se trata do conceito de manipulação, observamos


que o sentimento não é de credibilidade, pois, de acordo com
o Dicionário Aurélio, manipular, é palavra de origem do latim
manipulare, e significa dar formato a algo, produzir, forjar,
maquinar, fazer funcionar; pôr em movimento; acionar, controlar,
dominar.
Imagem 2.2 – Educação como instrumento de formatação do pensamento
Unidade 2

Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)

12 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Apesar de atualmente muitos profissionais da educação
já entenderem que foram moldados em uma escola tradicional
e as posturas ali apresentadas não cabem mais à realidade atual,
vários de nossos comportamentos podem ser gerados por prévias
manipulações. Isso significa que ficamos tão condicionados a certos
comportamentos e paradigmas que mesmo inconscientemente
reproduzimos aquilo que nos foi incutido.

Isso não descarta a vida escolar, que, mesmo após a idade


adulta e mais consciente, agimos e acreditamos em determinadas
propostas, como resquícios da manipulação ocorrida em
determinados períodos históricos.

Quer entender melhor como pode funcionar a


manipulação, mesmo que de forma subliminar?

Unidade 2
Recomendamos a leitura de: “Maquiavel Pedagogo
SAIBA MAIS ou o ministério da reforma psicológica”, de Pascal
Bernardin.

Entendendo que nossos futuros profissionais precisam


desmistificar esses conceitos arraigados, questionando-os e
aprendendo a suprimir o que não vale a pena, devemos nos
aprofundar nas teorias de currículo, conhecendo-as e entendendo-
as. Por isso, vamos agora nesse caminho.

O currículo está intimamente ligado à proposta


social e política. A visão do cidadão que se quer
forjar precisa estar incorporada a esse currículo.
IMPORTANTE

Silva (2007, p.15, 16) afirma que: “Um currículo busca


precisamentemodificaraspessoasque‘seguir’aquelecurrículo”.Ainda
reforça: “Além de uma questão de conhecimento, o currículo é uma
questão que se concentram também as teorias do currículo”.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 13


As formas de entender o que é currículo, e como esse
entendimento é significativo na vida escolar, serão influenciadas por:

• Ênfase da natureza da aprendizagem;

• Do conhecimento;

• Da cultura;

• Da sociedade;

• Da natureza humana.

Teoria Tradicional
A palavra “tradicional” se relaciona a repetição de
determinados hábitos, costumes, culturas em geral.
Unidade 2

É tradicional no Brasil termos em junho as “festas juninas”.


Essas festas celebram São João, São Pedro e São Antônio e são
realizadas mesmo antes da era Cristã. É isso que chamamos de
tradição: repetir hábitos e costumes arraigados a nossa cultura.

Na educação, essa teoria refere-se aos preceitos escolares


que vamos discorrer agora.

O currículo tradicional se concentra no intelecto, no


conhecimento, considerando o ser humano como imutável.

O ensino é organizado de maneira rígida, mecanizada,


descontextualizada, valorizando o conteúdo e o conhecimento
centrado no professor.

14 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Imagem 2.3 – Ensino é centralizado no professor. Conhecimento é via de mão única

Unidade 2
Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)

Defendia-se que o ensino era um processo de


condicionamento, e a aprendizagem consistia em modificar o
desempenho.

Todos os estudantes eram iguais e com capacidade de


assimilação igual a um adulto.

A avaliação tinha por objetivo quantificar o aprendizado


do estudante, sem gerar nenhuma reflexão quanto ao trabalho
do professor. Podemos dizer que até hoje muitos professores
pensam dessa forma, não é mesmo?

A teoria tradicional se identifica como: “neutras, científicas,


desinteressadas” (Silva, 2007, p. 16).

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 15


Podemos afirmar que essa forma de se identificar é uma
contradição, já que se efetiva de forma influenciadora.

A alegação de ser neutra e desinteressada é incompatível


com a história que ela apresenta.

Vamos relembrar um pouco sobre a visão histórica que a


concebia. Estamos falando de uma educação voltada para a elite,
em que a exclusão é evidente e reforçada pelo sistema escolar.
Imagem 2.4 – Estratificação Social
Unidade 2

Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)

Constata-se que esse sistema “funciona como mecanismo


de exclusão natural dos dominados, que não tendo a sua cultura
reconhecida acabam conformando-se com o fracasso escolar”
(Moita, 2004, p. 5).

16 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


A teoria tradicional reforça a divisão de classes,
apresentando as disciplinas de forma compartimentada, e os
valores exteriorizados reforçam ideias da classe dominante.

Se o ensino é preparado na linguagem de uma classe


dominante, os poucos estudantes de classes menos favorecidas
não aprendem como os demais, reforçando mais ainda as
diferenças sociais e a manutenção das classes.

As verdades apresentadas na escola são inquestionáveis


reforçando a ideia de imobilidade social, e preparando os
estudantes para trabalhos repetitivos e inquestionáveis também.

Os estudos de Bobbit (início do sec. XX) apontam para uma


educação empresarial, comercial ou industrial:

Unidade 2
O que implementa o currículo tem assim duas
funções importantes a desempenhar – por um
lado, determinar quais os desejos do mercado
de consumo, em termos de produto acabado
e, por outro lado, determinar a forma mais
eficiente de elaborar o produto acabado –
funções estas intimamente relacionadas com
a noção de controle de padrões [...]. (Bobbit,
2004, p. 21)

Podemos notar que o currículo tradicional é fechado e


aponta para um ensino não reflexivo. Silva (2010, p. 24) relata que:
[...] na perspectiva de Bobbit, a questão do
currículo se transforma numa questão de
organização. O currículo é simplesmente
uma mecânica. [...] Numa perspectiva que
considera que as finalidades da educação
estão dadas pelas exigências profissionais
da vida adulta, o currículo se resume a uma
questão de desenvolvimento, a uma questão

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 17


técnica. Tal como na indústria, é fundamental,
na educação, de acordo com Bobbit, que se
estabeleçam padrões. O estabelecimento
de padrões é tão importante na educação
quanto numa usina de aços. [...] a educação é
um processo de moldagem.

É deduzível, assim, que a educação e seu currículo


tradicional é uma forma de manter a dominação das classes, é
uma estratégia de manutenção do poder e, dessa forma, não
será um currículo neutro e muito menos desinteressado como se
autodenomina.

Importante abrir um espaço de reflexão para que


ponderemos sobre a influência que sofremos até hoje desse tipo
Unidade 2

de currículo, que vivenciamos fortemente na época do militarismo


no Brasil e que, até hoje, rege muitas escolas.

Muito comum, professores ainda entenderem o currículo


como um simples documento e que sua disciplina pode ser
desenvolvida de forma descomprometida das demais e sua
autoridade será sempre inquestionável, reforçando, assim, o
sistema social em que predomina a divisão de classes e a
impossibilidade de diálogo ou ascensão social.

Qual a postura de seus professores na educação


básica? A maioria deles trabalhava de forma
interdisciplinar e propiciando uma postura crítica
REFLITA do conhecimento? Ou simplesmente passavam o
conhecimento científico de forma estática? Como
esses professores foram influenciados em sua vida
escolar por seus professores? Existem resquícios de
uma escola tradicional em sua forma de lecionar?

18 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Como tudo evoluiu, vamos agora entender como o
currículo evoluiu a partir dessa concepção tradicional.

Teoria Crítica
Em negação à ordem preestabelecida pela sociedade
tradicional, onde existe uma verdadeira manutenção das classes
poderosas, políticas e socialmente, surge a teoria crítica, que busca
uma sociedade mais justa.

Influenciada por alemães marxistas, a partir dos anos


1920, que desenvolveram pesquisas geradas pelo capitalismo
contemporâneo, o ocidente recebe essas reflexões nos anos 1940
aos 1970 do século passado.

Unidade 2
Max Horkheimer, um filósofo marxista, foi um dos pais
fundadores da Escola de Frankfurt, a qual incorporava toda a
moderna Teoria Crítica da Sociedade e que, em grande escala, se
caracterizada como neomarxista.

Horkheimer, junto com Jürgen Habermas, Theodor W.


Adorno, Herbert Marcuse e Erich Fromm, para citar apenas alguns,
criaram a Escola de Frankfurt e seu Instituto para Pesquisa Social,
uma instituição que moldou o pensamento cultural do Ocidente
como um todo e da Alemanha em particular.

Marx Horkheimer, em 1937, usa o termo “Teoria Crítica”


em um de seus artigos, fugindo da força que a ideias marxistas se
encerravam no materialismo histórico usada por ortodoxos, e que
era rejeitada por muitos na sociedade.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 19


Imagem 2.5 – Intelectuais que fundaram a Escola de Frankfurt

Herbert Marcuse Walter Benjamin Erich Fromm


Unidade 2

Theodor W. Adorno Jürgen Habermas Max Horkheimer Friedrich Pollock

Fonte: Baseada em Todo Estudo (s.d, on-line)

Explorando o marxismo filosófico, cultural, político e


psicológico, Horkheimer tenta mostrar que o marxismo poderia
não ser extremista e economista.

Diz Horkheimer, no ensaio “Filosofia e Teoria Crítica”,


também em 1937:
Os sistemas das disciplinas contêm os
conhecimentos de tal forma que, sob
circunstâncias dadas, são aplicáveis ao maior
número possível de ocasiões. A gênese social
dos problemas, as situações reais nas quais a
ciência é empregada e os fins perseguidos em
sua aplicação, são por ela mesma consideradas
exteriores. A teoria crítica da sociedade, ao
contrário, tem como objeto os homens como
produtores de todas as suas formas históricas
de vida. As situações efetivas, nas quais a ciência

20 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


se baseia, não são para ela uma coisa dada, cujo
único problema estaria na mera constatação e
previsão segundo as leis da probabilidade. O
que é dado não depende apenas da natureza,
mas também do poder do homem sobre ele. Os
objetos e a espécie de percepção, a formulação
de questões e o sentido da resposta dão provas
da atividade humana e do grau de seu poder.
(Horkheimer, 1972, p. 188)

Há de se mencionar que, no Brasil, ainda existe um número


grande de pesquisadores que dialogam com a Teoria Crítica em
suas investigações científicas.

Diante desse histórico, o que tudo isso influenciou a escola

Unidade 2
e o seu currículo?

Os estudiosos passaram a defender a ideia de que os


estudantes tinham mais capacidade para aprender, entender,
questionar, se posicionar diante do conhecimento. Diferente do
currículo tradicional, o currículo referente à Teoria Crítica propõe
conhecimento para ser apropriado de forma que seja útil na vida
do estudante. Não é mais uma questão de decoração. Na Teoria
Tradicional a aprendizagem dependia de repetição; agora, na Teoria
Crítica, a aprendizagem precisa estar contextualizada com a realidade
do estudante, e transformá-lo em um pesquisador das informações,
podendo aceitá-la ou mesmo questioná-la e transformá-la.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 21


Imagem 2.6 – Relação dialética entre professor e estudantes
Unidade 2

Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)

Essa forma de ensinar despertará no estudante uma


postura social mais significativa e que busca de condições
melhores de vida, deixando de ser uma pessoa manipulável e sem
esperança de mobilidade social.

Em verdade, a teoria crítica é fundamental na reconstrução


da educação, que persegue um interesse educativo racional e
de formas democráticas da vida social (Carr, 1985-1993; Carr;
Kemmis, 1988).

Nesse caso, a Teoria Curricular Crítica explora a reflexão


sobre as práticas políticas e culturais, trazendo a percepção do
currículo como instrumento de conflito entre identidade e poder:
“será sempre polêmico aplicar ao mundo da escolaridade um
conjunto de pressupostos prévios que não reflitam a natureza
dessa mesma escolaridade e não ponderem a função social,
política e cultural da educação” (Pacheco, 1996, p. 42).

22 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Imagem 2.7 – Explicação do professor não compreensível pelo aluno

Unidade 2
Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)

Como podemos observar na figura, se o professor


negligenciar as características do aluno, de sua origem, sua
cultura, seus conhecimentos prévios, correrá o risco de que falem
linguagens diferentes dentro da sala de aula e o professor pode
não atingir seu objetivo pedagógico.

Na Teoria Crítica, defende-se que é mais fácil aprender


quando o ensino se traduz em verdades, em significativos
encaminhamentos.

Antes, a formação cidadã era para aceitar a estrutura


imposta. Na Teoria Crítica, a formação é de um cidadão pensante,
crítico e capaz de modificar sua realidade.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 23


Teoria pós-crítica
Diante da complexidade em que vivemos atualmente,
onde as verdades são relativas e as certezas são questionáveis,
as diferenças se acentuam e devem ser relevantes nas ideias de
currículos escolares.

As ambiguidades encontradas em sala de aula nos levam


a sentir saudades de um tempo em que o currículo era construído
pensando na igualdade, e não na singularidade dos sujeitos.

Essa realidade social contemporânea nos leva a


compreender que hoje é impossível prever um cidadão
único que possa transformar a sociedade.
Unidade 2

Esse cenário de incertezas nos direciona a pensar em


um currículo que atenda toda peculiaridade e fluidez atual, que
incorpore a tecnologia que se transforma rapidamente. Qual é a
verdade que deve ser ensinada?

Se a verdade é questionada, o conhecimento automaticamente


também é, assim como o Projeto Político Pedagógico.

A teoria pós-crítica defende a formação da identidade e


da singularidade, não existindo verdade absoluta. As ideias e os
conhecimentos podem e devem ser analisados, e não estudados
como verdades.

Refletindo sobre essas informações, podemos afirmar que


a teoria pós-crítica, em oposição à teoria crítica, não acredita em
uma sociedade de igualdades e estabilidade social. Porém defende
a aceitação da sociedade composta por diferenças.

24 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Segundo Pacheco (2013, on-line, apud Priestley, 2011, p.
221-237):
Com os pressupostos da abordagem realista,
o pensamento curricular segue parâmetros
consensualmente definidos em torno de
registos universais, perspectivando-se
em formas de análise crítica de práticas
curriculares centradas no conhecimento do
quotidiano.

Moreira (2003, p.10) sintetiza características comuns


acerca do ideário pós-moderno:

Unidade 2
• O abandono das grandes narrativas;

• A descrença em uma consciência unitária, homogênea,


centrada;

• A rejeição da ideia de utopia;

• A preocupação com a linguagem e com a subjetividade;

• A visão de que todo discurso está saturado de poder;

• A celebração da diferença.

Considerando todos esses aspectos, podemos dizer que o


currículo escolar deve se ajustar a realidade social, étnica, cultural,
gênero, e todo e qualquer elemento que venha trazer posições
diferenciadas de entender a vida.

O currículo, nesse caso, não admite nenhum conhecimento


como único, precisando ser adaptado às realidades que atende.

Novamente reafirmamos a importância da BNCC (Base


Nacional Comum Curricular) ser discutida e customizada para
o Projeto Político Pedagógico da unidade escolar, sendo este

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 25


fundamento da prática pedagógica, atendendo as necessidades,
de acordo com a realidade de seu público-alvo.
Imagem 2.8 – Exemplo de diferentes públicos

Etnia: indígena Etnia: Etnia: cigano


Unidade 2

Classe social: baixa afrodescendente Classe social: média


Sexo: heterossexual Classe social: baixa Sexo: homossexual
Ritos: pajelança Sexo: heterossexual Ritos: candomblé
Alimentação: caça, Ritos: cristianismo Alimentação: variada
pesca e agricultura Alimentação: cereais e
pouca proteína

Fonte: Elaborado pela autoria com imagens do Pixabay (2020)

26 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Ao longo deste capítulo, mergulhamos profundamente
no campo do currículo escolar, explorando suas
dimensões teóricas e práticas. Como Wilfred Carr e
RESUMINDO Stephen Kemmis destacaram, “A teoria curricular é
essencial para a compreensão do que acontece na
prática educacional”. Agora, ao término deste capítulo,
é hora de resumir o que você aprendeu.
Conforme ressaltado por Luís Eduardo Gauterio
Fonseca e Fernanda de Campos Pinto, o currículo
não é apenas o que está escrito nos documentos,
mas também o que está implícito, o currículo
oculto. É essa dimensão oculta que muitas vezes
molda as percepções e experiências dos alunos.
Assim, você deve ter aprendido que o currículo
escolar é uma construção complexa, envolvendo

Unidade 2
também valores, crenças e poder.
Exploramos três principais teorias curriculares
ao longo deste capítulo. A Teoria Tradicional,
exemplificada por Tyler, enfatiza a padronização e
a transmissão de conhecimento. No entanto, como
destacou Antônio Flávio B. Moreira, a educação vai
além da mera transmissão, ela envolve a formação
integral dos indivíduos.
A Teoria Crítica, inspirada em pensadores
como Paulo Freire e Henry Giroux, questiona
as estruturas de poder na educação e busca a
transformação social. É uma abordagem que nos
lembra da importância de questionar o status quo
e promover a justiça social na educação.
Por fim, a Teoria pós-crítica nos conduz a uma
compreensão mais flexível e adaptativa do
currículo, reconhecendo a diversidade de vozes
e perspectivas na sala de aula. Como Vera Maria
Candau e Antônio Flávio B. Moreira observaram,
a educação multicultural é fundamental para uma
sociedade plural.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 27


Neste ponto, você deve ter aprendido que o currículo
escolar é um reflexo das concepções educacionais
e das relações de poder em nossa sociedade. Cada
teoria curricular oferece uma lente diferente para
examinar essa complexa realidade.
À medida que avançamos para os próximos
capítulos, exploraremos diferentes tipos de
currículo e as políticas públicas que os moldam.
Prepare-se para uma jornada de aprendizado
contínuo e reflexão crítica, pois a compreensão
do currículo escolar é essencial para uma prática
educacional eficaz e transformadora.
Unidade 2

28 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Diferentes tipos de currículo:
diálogos e conflitos
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender como funcionam os diferentes tipos de
currículo: o currículo formal, o currículo real e o
OBJETIVO currículo oculto. Compreender esses aspectos é
fundamental para o exercício da sua profissão
no campo educacional. As pessoas que tentaram
navegar por esses caminhos sem a devida
instrução muitas vezes enfrentaram desafios
ao entender a complexidade do currículo em
contextos educacionais.
Então, está motivado para desenvolver essa
competência? Vamos explorar juntos os diálogos e

Unidade 2
conflitos que envolvem esses três tipos de currículo,
preparando-o para uma compreensão mais profunda
da educação e da prática pedagógica. Avante!

Nessa trilha em que estamos caminhando chamada


currículo, nos deparamos com a sociedade que é multicultural.

Relaciono o caminho com uma trilha, pois esse


tipo de caminho geralmente é incerto, tortuoso,
meio inesperado. Se fosse um trilho, seria reto e
IMPORTANTE inflexível.

O povo brasileiro é originado a partir da miscigenação de


diferentes etnias. Os índios, afrodescendentes, europeus, asiáticos
trouxeram junto a sua imigração seus hábitos e costumes,
gerando, assim, uma sociedade diversa e que só enriquece nossa
sociedade.

Abaixo relacionamos algumas questões que trazem


influências de outras culturas:

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 29


• Junto com a imigração, surgem diferentes concepções
de religião, sociedade, vestimentas e alimentação etc.;

• Em todas as culturas temos ainda pessoas com


deficiências variadas, que diferem entre a deficiência
física e/ou mental;

• A orientação sexual de cada indivíduo também tem


sido reconhecida como um ponto a ser considerado e
refletido.

Para além de todas essas características ainda encontramos


estudantes provenientes de lares diferentes e que trazem consigo,
além de toda uma cultura, algumas vivências que podem ou não
ajudar na escola.
Unidade 2

A violência está presente na sociedade e cotidianamente


em algumas famílias, provindas de uso de drogas lícitas ou ilícitas,
problemas psicológicos etc.

Como vimos nos últimos parágrafos, muitas


são as particularidades silenciadas em nome de uma
homogeneização imposta pela liberdade capitalista.
“Verdade, conhecimento, poder, identidade marcam as
discussões curricular” (Moreira; Candau, 2008, p. 25).

Um currículo que considere todas essas condições


perpassa pelas mãos dos educadores, que também carregam
características pessoais. “Por bem ou por mal a cultura é agora um
dos elementos mais dinâmicos e mais imprevisíveis da mudança
histórica no novo milênio” (Hall, 1997, p. 97).

30 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Como um educador pode ensinar sobre a diversidade sem
impor sua própria visão de mundo? Como incluir as diferenças em
sua prática? Como considerar toda a diversidade existente sem
desconsiderar posturas e entendimentos? O diálogo se faz essencial
para que haja uma postura neutra e de respeito às diferenças.

Os conflitos culturais, a violência, a intolerância estará


sempre presente de formas diferentes, e caberá ao educador se
reinventar a cada dia para tratar esses assuntos sem impor sua
própria forma de ver o mundo.

Para isso, a formação de professores é de extrema


relevância. OS aspectos citados acima devem ser trabalhados e
incentivados pela equipe técnico-pedagógica.

Unidade 2
Defendendo um currículo que trate de tantos aspectos,
conhecemos atualmente três tipos de currículos. São eles:

• Currículo formal;

• Currículo real;

• Currículo oculto.

Veremos na sequência, de forma mais aprofundada, seus


conceitos e características.

Currículo formal
O currículo formal é aquele estabelecido pela escola e
está orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacional, Estadual e
Municipal.

Nesse currículo, serão estabelecidos os conteúdos e


objetivos a serem desenvolvidos pelos professores em sala de aula.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 31


Imagem 2.9 – Construção do currículo formal no espaço escolar

Diretrizes estaduais Projeto político


BNCC
e municipais pedagógico

Fonte: Elaborada pela autoria (2020)

A avaliação escolar reflete exatamente o currículo que foi


definido.

Dentro do currículo formal, são definidos os conteúdos


a serem ensinados e os objetivos a serem alcançados pelos
professores em sala de aula. Essa estrutura curricular serve como
um guia para os educadores, fornecendo diretrizes sobre o que
deve ser ensinado e qual a sequência adequada.
Unidade 2

Em outras palavras, o currículo formal é a versão oficial do


que os alunos devem aprender em uma determinada instituição
de ensino. Ele é cuidadosamente planejado e segue as diretrizes
estabelecidas pelas autoridades educacionais. Além disso, a
avaliação escolar, que inclui provas e exames, reflete exatamente
o que foi definido no currículo formal.

Portanto, o currículo formal desempenha um papel


crucial na padronização do ensino, garantindo que todos os
alunos tenham acesso aos mesmos conhecimentos e habilidades,
independentemente do professor ou da escola que frequentam.
No entanto, é importante notar que ele representa apenas uma
parte do que os estudantes realmente aprendem, uma vez que
outros fatores, como o currículo real e o currículo oculto, também
desempenham um papel significativo na formação dos alunos.

32 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Se você deseja saber mais sobre o tema do
currículo na educação, especialmente os conceitos
de currículo formal, aqui estão algumas sugestões
SAIBA MAIS de leitura e recursos adicionais:

• Portal do Professor (MEC): o Ministério da


Educação (MEC) disponibiliza diversos materiais
relacionados ao currículo escolar, incluindo
orientações e diretrizes curriculares nacionais.

• Revista e-Curriculum: essa revista acadêmica


publica artigos relacionados ao campo de
estudo do currículo, abordando diversas
perspectivas teóricas e práticas.

Currículo real

Unidade 2
A partir de um Projeto Político Pedagógico, cabe aos
professores o desenvolverem em sala de aula.

Cada professor trará sua forma de ensinar, sua forma de


ver o mundo e, assim, o currículo formal sofre interferências da
dinamicidade cotidiana, da experiência do professor, da reação
dos estudantes diante de um determinado conteúdo.

Dessa forma, o currículo real é aquele que efetivamente


acontece na sala de aula e como o estudante o recebe.

O “currículo real” é um conceito importante no campo


da educação que se refere à implementação prática do currículo
em sala de aula. Ele difere do “currículo formal”, que é o currículo
estabelecido pelas diretrizes curriculares e planos de ensino, pois
o currículo real leva em consideração a dinâmica da sala de aula,
a interação entre professores e alunos, as experiências individuais
dos estudantes e as abordagens de ensino dos educadores.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 33


O entendimento do “currículo real” é essencial para
educadores, gestores escolares e formuladores de
políticas educacionais. Ele destaca a importância
IMPORTANTE de reconhecer que o processo de ensino e
aprendizado vai além do currículo formalmente
estabelecido. Compreender como o currículo se
desdobra na prática ajuda a adaptar as estratégias
de ensino, avaliação e suporte aos alunos de forma
mais eficaz. Além disso, o currículo real reconhece
a diversidade de salas de aula e a necessidade
de flexibilidade para atender às necessidades
individuais dos alunos.

Aqui estão algumas características e aspectos relevantes


do currículo real:
Unidade 2

1. Implementação prática – o currículo real representa


o que realmente acontece na sala de aula. Ele é
moldado pela maneira como os professores planejam
e ministram suas aulas, como os alunos respondem ao
conteúdo e como a dinâmica da sala de aula influencia
a entrega do currículo.

2. Variação – o currículo real pode variar de uma sala de


aula para outra, mesmo que o currículo formal seja o
mesmo. Isso ocorre porque cada professor tem sua
abordagem única de ensino e adapta o currículo às
necessidades e características de seus alunos.

3. Influência do professor – os educadores desempenham


um papel fundamental na determinação do currículo
real. Sua experiência, estilo de ensino, preferências
e métodos pedagógicos moldam a forma como o
conteúdo é apresentado e explorado em sala de aula.

34 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


4. Resposta dos alunos – as reações dos alunos ao
currículo, suas perguntas, dúvidas e seus níveis
de interesse também influenciam o currículo real.
Professores muitas vezes adaptam suas aulas com
base no feedback dos alunos.

5. Contexto cultural – o contexto cultural da sala de aula


desempenha um papel importante no currículo real.
Os alunos trazem suas próprias experiências culturais
para a sala de aula, o que pode afetar a forma como
eles percebem e se envolvem com o currículo.

6. Flexibilidade – o currículo real é mais flexível do que


o currículo formal, pois permite que os professores
façam ajustes conforme necessário para atender às

Unidade 2
necessidades de aprendizado de seus alunos.

7. Avaliação – a avaliação dos alunos também faz parte do


currículo real. Os métodos de avaliação, como testes,
trabalhos e projetos, são uma parte integrante do
processo de implementação do currículo.
Imagem 2.10 – Currículo real

BNCC + Diretrizes
Regionais + PPP

Didática

Situações de
Professor Aluno
sala de aula

Fonte: Elaborada pela autoria (2020)

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 35


É importante que os educadores estejam cientes do
currículo real e sejam reflexivos em sua prática para garantir que
ele atenda aos objetivos de aprendizado estabelecidos no currículo
formal. Além disso, a comunicação aberta entre professores,
alunos e pais é fundamental para garantir que o currículo real seja
eficaz e beneficie o processo educacional.

Currículo oculto
A aprendizagem não ocorre apenas formalmente.
Aprendemos conversando, brincando, trabalhando, participando
interações interpessoais, ou mesmo sofrendo algum tipo de
prejuízo ou susto.

O “currículo oculto” é um componente muitas


Unidade 2

vezes negligenciado, mas de extrema importância


no contexto educacional. Ele se refere às lições
IMPORTANTE não intencionais ou não planejadas que os
alunos aprendem por meio de interações sociais,
cultura escolar e ambiente educacional como um
todo. Compreender o currículo oculto ajuda a
reconhecer que a educação vai além do conteúdo
programático e inclui aspectos como valores,
normas, atitudes e comportamentos que os alunos
absorvem durante sua jornada escolar.

Muitas vezes, dentro de uma sala de aula, o professor abre


espaço para que as pessoas se expressem, inclusive ele mesmo.
Durante esses momentos, cada indivíduo contribui com sua
perspectiva e, de forma informal, isso é incorporado ao processo.
São as culturas e visões de mundo que se refletem nas conversas,
nos gestos e nas interpretações. Não é à toa que dizem que
nossas ações nos contam como somos. O exemplo do professor,
do amigo, da família nos ensina cotidianamente.

36 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


O currículo oculto geralmente é trabalhado de forma não
planejada, porém muitos professores usam desse artifício para
reforçar conteúdos e reflexões intencionalmente.

Dessa forma, o currículo oculto não está descrito, porém


ocorre de forma natural ou intencional em sala de aula.

“O currículo está oculto por que ele não é prescrito, não


aparece no planejamento, embora se constitua como importante
fator de aprendizagem” (Libânio, 2001, p. 99-100).

Refletir sobre o currículo oculto nos lembra que a


educação não se limita apenas ao que está nos livros
didáticos. É uma experiência ampla que molda o
REFLITA conhecimento, a identidade, os valores e visão de

Unidade 2
mundo dos alunos. Como educadores e tomadores
de decisão na educação, é fundamental considerar
como podemos influenciar positivamente o
currículo oculto, promovendo uma cultura escolar
inclusiva, respeitosa e que valorize a diversidade.
Além disso, a reflexão sobre o currículo oculto
nos desafia a criar ambientes educacionais que
incentivem o pensamento crítico, a empatia e
a cidadania ativa entre os alunos, preparando-
os para se tornarem membros conscientes e
responsáveis da sociedade.

Imagem 2.11 – Currículo oculto

Escrito Ensinado

Oculto

Fonte: Elaborada pela autoria (2020)

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 37


No entanto, vale ressaltar que o currículo oculto não é
apenas uma via de transmissão de valores e normas sociais, ele
também pode ser um espaço de reprodução de desigualdades.
Por exemplo, se o ambiente escolar não promover a igualdade de
gênero ou a valorização da diversidade étnica, o currículo oculto
pode inadvertidamente reforçar estereótipos e preconceitos
existentes na sociedade.

Além disso, o esse currículo pode variar de uma escola


para outra, dependendo da cultura escolar, do corpo docente e
das interações sociais específicas de cada ambiente educacional.
Portanto, é fundamental que educadores e gestores escolares
estejam atentos a como o currículo oculto se manifesta em sua
escola e busquem promover um ambiente que seja inclusivo,
Unidade 2

respeitoso e enriquecedor para todos os alunos.

O currículo oculto desempenha um papel crucial na


formação dos alunos, influenciando também quem se tornam
como indivíduos. Reconhecer e refletir sobre esse tipo de currículo
é essencial para garantir uma educação de qualidade que promova
valores democráticos, respeito à diversidade e cidadania ativa.

Ao término deste capítulo, esperamos que você


tenha aprofundado seu conhecimento sobre os
diferentes tipos de currículo: o formal, o real e o
RESUMINDO oculto. Como afirmou Carr et al. (1988), “o currículo
é mais do que apenas o que está escrito; é também
o que é praticado e o que está implícito”. Nesse
contexto, podemos perceber a complexidade do
processo educacional e como diferentes fatores
interagem para moldar a experiência do aluno.

38 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Ao explorar o currículo formal, compreendemos
que ele é estabelecido pelas diretrizes educacionais
e define os conteúdos a serem ensinados. No
entanto, como destacado por Libâneo (2001),
o currículo real se desdobra nas salas de aula,
influenciado pela dinâmica cotidiana, pelas
experiências dos professores e pelas reações
dos estudantes. Isso nos mostra que a prática
pedagógica é única e variável.
Por fim, o currículo oculto, como mencionado por
Libâneo (2001), não é prescrito, mas desempenha
um papel importante na aprendizagem,
transmitindo valores, normas e até mesmo
preconceitos. É crucial reconhecer a sua existência
e promover um ambiente educacional que valorize

Unidade 2
a diversidade e os princípios democráticos.
Em resumo, você deve ter aprendido que o
currículo escolar é um campo vasto e multifacetado,
onde o planejamento formal se encontra com
a realidade da sala de aula e com os elementos
não explícitos que moldam a educação. Entender
essas dimensões é fundamental para educadores,
gestores e todos aqueles envolvidos na construção
de uma educação de qualidade, que respeite a
diversidade e promova o desenvolvimento integral
dos alunos. Avante na sua jornada de aprendizado!

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 39


As concepções de currículo
em políticas públicas (leis,
diretrizes e orientações
curriculares)
Ao término deste capítulo, você estará apto a
compreender em profundidade as complexas
interações entre as políticas públicas e a avaliação
OBJETIVO no contexto educacional. Essa competência é
essencial para todos os profissionais da área
da educação, uma vez que as políticas públicas
desempenham um papel crucial na definição das
diretrizes curriculares, na alocação de recursos e no
direcionamento das práticas pedagógicas.
Unidade 2

Aqueles que tentaram compreender essas


dinâmicas sem a orientação adequada muitas
vezes enfrentaram desafios consideráveis ao
tentar implementar mudanças efetivas nas
escolas e nos sistemas de ensino. Portanto, estar
preparado para navegar nesse cenário complexo é
fundamental para o sucesso na área da educação.
Você está motivado para adquirir essa
competência e desbravar o universo das políticas
públicas e da avaliação educacional? Se sim, vamos
juntos embarcar nessa jornada de aprendizado e
descoberta. Avante!

Políticas Educacionais no Brasil:


Políticas Educacionais no Brasil desempenham um papel
fundamental na orientação e regulação do sistema educacional do
país. Ao longo das décadas, o Brasil tem implementado diversas
políticas públicas voltadas para a melhoria da educação em todas
as suas esferas, desde a educação básica até o ensino superior.

40 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Uma das marcas mais importantes nesse cenário é a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9394/96. Essa lei
estabeleceu as bases legais para a educação no Brasil, definindo
questões como a estrutura curricular, a organização das instituições
de ensino, a formação de professores e a gestão escolar. Ela
também introduziu a ideia de uma educação inclusiva, que busca
garantir o acesso de todos os estudantes, incluindo aqueles com
necessidades especiais, a uma educação de qualidade.

Além disso, o Brasil adotou os Parâmetros Curriculares


Nacionais (PCNs), que são documentos que orientam as escolas na
definição de suas grades curriculares. Os PCNs foram elaborados
para serem um guia para o trabalho docente, fornecendo diretrizes
sobre o que deve ser ensinado em cada etapa da educação básica.

Unidade 2
No entanto, eles também geram debates e discordâncias, o que
ressalta a importância do diálogo dentro das escolas para sua
implementação eficaz.

Como esses PCNs foram elaborados por um grupo de


estudiosos, sempre vão gerar discordâncias dependerão de muito
diálogo dentro das escolas. Mas isso não o faz menos importante.

As políticas públicas educacionais também lidam com


questões relacionadas à equidade educacional. O Brasil possui
uma grande diversidade de escolas, incluindo escolas públicas
e particulares, que variam em termos de estrutura, recursos e
qualidade de ensino. Isso cria desafios significativos na busca por
uma educação equitativa, onde todos os estudantes tenham acesso
às mesmas oportunidades de aprendizado, independentemente
de sua origem socioeconômica ou geográfica.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 41


A reflexão sobre as políticas educacionais no Brasil
nos leva a uma profunda análise da complexidade
desse cenário. É inegável que o país avançou em
REFLITA muitos aspectos, estabelecendo leis e diretrizes
que visam à melhoria da educação. No entanto,
também é evidente que existem desafios
significativos a serem enfrentados.

Há de se reconhecer que no itinerário de nossas reflexões,


cabe-nos considerar que existem uma imensidão de escolas em
nosso território brasileiro. Somos 208.494.900 habitantes no Brasil
(2018). Segundo divulgação do MEC, em 2018, o país contava com
184,1 mil escolas — e a maior parte (112,9 mil, o que equivale a
dois terços) é de responsabilidade Municipal.
Unidade 2

Podemos dividi-las da seguinte forma:

• Colégios particulares - 21,7%;

• Instituições de ensino com Ensino Fundamental - 116


mil escolas;

• Instituições de ensino com Ensino Médio - 28,5 mil


escolas.

Outro aspecto referente a esse assunto diz respeito às


diferenças da escola particular e pública. De forma geral, as
primeiras oferecem uma estrutura diferenciadas aos professores
e alunos, além de uma diversidade de materiais e recursos, como
laboratórios para estudos de diferentes áreas, lousas interativas e
material em 3D.

Já nas escolas públicas tanto a infraestrutura quanto a


disponibilidade de recursos são mais escassas. Encontramos
escolas de sapê, barro, lata, tijolos, a céu aberto. Consideremos
também que muitos lugares não têm nem saneamento básico,
quanto mais acesso à internet.

42 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Imagem 2.12 – Diferentes escolas brasileiras

Unidade 2
Fonte: Freepik

A formação dos professores que atendem os diferentes


núcleos escolares também difere. Existem regiões que, na falta de
alguém graduado, as aulas são atribuídas as pessoas que apenas
aceitam o encargo de instruir.

Segundo Débora Brito, repórter da agência Brasil, em maio


de 2018, quatro em cada 10 professores que estão em sala de aula
hoje no nosso país não têm a formação adequada para lecionar.

Qual estudante (da escola pública ou privada) terá mais


possibilidade de aprender e competir no mercado contemporâneo?
O que podemos esperar do nosso sistema educacional enquanto
preparatório para a formação do cidadão?

Dentro dessa realidade ainda as políticas públicas


brasileiras sempre foram influenciadas pelas ideias curriculares
estrangeiras, e hoje, entendendo as nossas peculiaridades, os
principais autores do currículo brasileiro reconhecem as influências
e ressaltam a importância de sua adequação à nossa realidade. Por
outro lado, sustentam que devemos ser mais críticos em relação a

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 43


esse discurso e precisamos desenvolver análises mais adequadas
ao contexto brasileiro (Santos; Moreira, 1996).

O Banco Mundial, outro influenciador de nossa educação,


também oferece subsídios para o desenvolvimento educacional,
dando prevalência à lógica financeira sobre a social.

Um dos aspectos enfatizados pelo Banco Mundial é o


monitoramento dos resultados escolares, pretendendo a melhoria
na qualidade do ensino. As “avaliações externas”, propostas pelo
MEC, vêm atender essa preocupação.

Os últimos governos também sofrem influência das


ideologias neoliberais e políticas adaptadas à nossa realidade.

A globalização instaurada a partir nos anos 1990, também


Unidade 2

afeta a construção curricular.

Diante de todos os estudos que realizamos até agora, e


somadas as diferentes possibilidades locais e a formação de
professores, podemos garantir que todas as escolas proporcionam
as mesmas condições de aprendizado para todos os estudantes?

Pensando em todos os aspectos pontuados, é importante


entender que o currículo de hoje influenciará na postura do cidadão
que moverá nosso país daqui a 15 anos aproximadamente.
Imagem 2.13 – Evolução da força de trabalho

Fonte: Elaborada pela autoria (2020)

Observando a figura anterior, podemos lembrar que


mesmo as atividades profissionais estão mudando rapidamente

44 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


em função da informatização. Cabe-nos pensar em uma escola
que contemple todos os fatores que evoluem.

Apesar de ser muitas vezes contestada, não há dúvidas


sobre a necessidade de uma política educacional que atenda
às necessidades atuais, mas também preveja o que estará
acontecendo no futuro. Qualificar a educação no Brasil é
fundamental para um futuro mais equilibrado.

Partindo do setor político a legislação educacional, cabe a


ele também instrumentalizá-lo e fiscalizá-lo.

Tentando evitar que determinados ensinamentos fossem


esquecidos, ou mesmo subjugados em determinados espaços, o
MEC definiu a Base Nacional Comum, pensando em garantir aos

Unidade 2
alunos do Ensino Básico de todo o país as mesmas possibilidades
de aprendizagem, mesmo que customizados para sua realidade.
Isso garante que diante de um Exame Nacional, ou uma seleção
qualquer, as pessoas possuam as mesmas condições de
competitividade.

Questionados sobre a importância de se contar com a


percepção da sociedade e o os representantes do chamado “Chão
de escola”, a BNCC abriu espaço para o diálogo em várias esferas.

Base Nacional Comum Curricular


(BNCC):
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento
que desempenha um papel fundamental no contexto educacional
brasileiro. Seu conceito e seus objetivos visam estabelecer
diretrizes claras para o que os estudantes devem aprender em
cada etapa da educação básica, desde a Educação Infantil até o
Ensino Médio.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 45


O principal objetivo da BNCC é garantir que todos os
estudantes do país tenham acesso a uma educação de qualidade,
independentemente da localização geográfica, origem social
ou do tipo de instituição de ensino. Ela busca estabelecer um
conjunto comum de conhecimentos, competências e habilidades
que todos os estudantes devem adquirir ao longo de sua trajetória
educacional.
Imagem 2.14 – BNCC e trajetória educacional
Unidade 2

Fonte: Freepik

A BNCC desempenha um papel crucial na promoção


da equidade na educação, pois estabelece um padrão mínimo
de aprendizado que todas as escolas devem seguir. Isso ajuda
a reduzir as desigualdades educacionais que existem no país,
garantindo que todos os estudantes tenham acesso a uma
educação de qualidade.

Além disso, a BNCC promove o diálogo com a sociedade


e com os profissionais da educação. Ela foi elaborada com a

46 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


participação de especialistas, professores, gestores educacionais
e outros atores envolvidos na área da educação. Isso garante
que a BNCC seja construída de forma colaborativa e leve em
consideração diferentes perspectivas e experiências.

A abordagem mais abrangente da BNCC também inclui


a flexibilidade necessária para que as escolas e os professores
possam adaptar os currículos de acordo com as necessidades
locais e as características de seus estudantes. Isso permite uma
implementação mais efetiva das diretrizes curriculares, levando
em conta a diversidade cultural e regional do país.

Em resumo, a BNCC é um instrumento fundamental para


a promoção da qualidade e equidade na educação brasileira. Ela

Unidade 2
estabelece um conjunto comum de conhecimentos e competências,
promove o diálogo com a sociedade e os profissionais da educação
e oferece flexibilidade para a adaptação curricular, tudo com o
objetivo de garantir uma educação de qualidade para todos os
estudantes do Brasil.

Políticas públicas e avaliação


As políticas públicas também influenciaram notadamente
as avaliações, que influenciaram consequentemente os currículos.

Em primeira instância precisamos refletir sobre a


importância da avaliação e o que ela objetiva no sistema escolar.

A avaliação vem trazer informações sobre os alunos, sua


aprendizagem, suas dificuldades específicas, e, a partir da análise
dessas avaliações, o planejamento poderá ser norteado.

Como avaliar é um outro aspecto de extrema profundidade,


mas não pretendemos esgotar esse assunto aqui, e sim questionar
a influência das Políticas Públicas na avaliação e no currículo.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 47


Vamos entender melhor? A partir do momento em que
são implementadas nas escolas públicas o SAEB (Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Básica), SINAES (Sistema Nacional de
Avaliação do Ensino Superior), os resultados acabam gerando um
ranking entre as escolas. Para atingir melhores resultados, muitas
unidades escolares transformam seus currículos em réplicas
dessas avaliações, preparando os estudantes para realizá-las
com maestria. Infelizmente, muitas vezes são trabalhados de
forma inadequada e não atingem o seu maior objetivo, que é a
aprendizagem.

O foco do ensino em rankings forjados por avaliações


externas tira o foco da aprendizagem. Se a escola não souber
conduzir e dialogar com essas informações, o currículo será
Unidade 2

transformado para atender somente essas exigências, e, como já


sabemos, a educação trata de questões muito mais amplas.
Imagem 2.15 – Página do Site do Qedu

Anos iniciais teve evolução consistente


desde a criação do Ideb
6
País
5
Meta do país
4

Fonte: Qedu (s.d, on-line)

No Brasil, existem algumas ferramentas e plataformas que


reúnem os principais dados públicos do Ensino Básico, permitindo
o acesso a informações relevantes sobre a educação no país.
Dentre as principais, destacam-se:

1. INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais Anísio Teixeira): o INEP é uma autarquia
federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) que
coleta, analisa e disponibiliza dados educacionais,

48 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


incluindo informações sobre o Ensino Básico. O portal
do INEP oferece acesso a uma variedade de indicadores
e estatísticas educacionais, como o Censo Escolar, o
IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e
o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).

2. Portal QEdu: o QEdu é uma plataforma que reúne


informações sobre escolas, professores e alunos da
Educação Básica no Brasil. Ele disponibiliza dados sobre
o desempenho das escolas em avaliações, como o IDEB
e o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica),
permitindo que pais, alunos e gestores educacionais
acessem informações relevantes sobre a qualidade da
educação em diferentes regiões do país.

Unidade 2
3. Plataforma Geoeduc: a Geoeduc é uma plataforma
de georreferenciamento que permite visualizar
dados educacionais em mapas interativos. Ela reúne
informações sobre escolas, alunos e desempenho
escolar, facilitando a análise geoespacial da educação
no Brasil.

4. Dados Abertos do Governo: o governo brasileiro


disponibiliza diversos conjuntos de dados educacionais
em formato aberto, que podem ser acessados por meio
de portais de dados abertos. Esses conjuntos incluem
informações sobre escolas, matrículas, desempenho
escolar e muito mais. Esses dados são valiosos para
pesquisadores, desenvolvedores e interessados em
análises educacionais.

Essas ferramentas e plataformas desempenham


um papel fundamental na promoção da transparência e no
acesso à informação educacional. Elas permitem que gestores,
pesquisadores, educadores e a sociedade em geral acompanhem

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 49


e avaliem a qualidade da educação no Brasil, identificando desafios
e oportunidades de melhoria no sistema educacional. Além disso,
contribuem para a formulação e o monitoramento de políticas
públicas educacionais mais eficazes.

Além disso, essas ferramentas e plataformas têm um


papel crucial no fortalecimento do diálogo entre os diversos atores
envolvidos na educação, incluindo gestores públicos, professores,
estudantes, pais e a sociedade em geral. A disponibilidade de
dados e informações acessíveis promove a transparência nas
ações do governo e das instituições educacionais, permitindo
que a sociedade acompanhe de perto o andamento das políticas
educacionais.

O Portal QEdu, por exemplo, oferece informações


Unidade 2

detalhadas sobre o desempenho das escolas em avaliações


nacionais e estaduais. Isso não apenas auxilia os pais na escolha
de escolas para seus filhos, mas também possibilita que gestores
escolares identifiquem áreas que necessitam de melhorias e
compartilhem boas práticas educacionais.

A plataforma Geoeduc, por sua vez, fornece uma


abordagem geoespacial única para a análise de dados educacionais.
Isso permite identificar padrões espaciais e geográficos de
desempenho escolar, o que pode ser valioso para a alocação de
recursos e tomada de decisões baseadas em evidências.

No contexto das políticas públicas educacionais, a


disponibilidade de dados abertos do governo e outras informações
facilita o planejamento, o monitoramento e a avaliação de
iniciativas educacionais. Isso ajuda os formuladores de políticas
a entender melhor os desafios educacionais e a adaptar suas
abordagens de acordo com as necessidades locais e regionais.

50 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Em resumo, as ferramentas e plataformas que reúnem
dados públicos do Ensino Básico desempenham um papel
fundamental na promoção da transparência, na melhoria da
qualidade da educação e no fortalecimento do diálogo entre
os diferentes atores envolvidos. Elas contribuem para uma
gestão mais eficaz e informada da educação no Brasil, visando
sempre aprimorar o sistema educacional e garantir melhores
oportunidades de aprendizado para todos os estudantes.

Desafios Futuros:
Os desafios futuros no contexto das políticas públicas e
da avaliação educacional no Brasil são complexos e requerem um
compromisso contínuo com a melhoria da qualidade da educação.

Unidade 2
Alguns dos principais desafios que enfrentamos incluem:

1. Desigualdades Regionais – o Brasil é um país vasto e


diverso, e as desigualdades regionais continuam a ser
um grande obstáculo para a equidade na educação.
Garantir que todas as regiões tenham acesso a recursos
adequados e à qualidade educacional é essencial.

2. Qualidade do Ensino – a qualidade do ensino é um


ponto crítico. É necessário investir na formação de
professores, na atualização de métodos pedagógicos
e no desenvolvimento de currículos alinhados com as
necessidades atuais e futuras.

3. Avaliação Justa – as avaliações educacionais devem


ser justas e precisas, evitando vieses culturais e
socioeconômicos. Além disso, é importante garantir
que os resultados das avaliações sejam usados para
promover melhorias reais nas escolas, em vez de
simplesmente responsabilizar os educadores.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 51


4. Participação da Sociedade – o envolvimento da
sociedade civil e dos profissionais da educação é
fundamental para o desenvolvimento e a implementação
de políticas educacionais eficazes. É preciso promover o
diálogo e a participação ativa de todos os interessados.

5. Tecnologia e Inovação – o uso da tecnologia e a


inovação pedagógica são desafios e oportunidades. É
importante incorporar esses elementos de forma eficaz
na educação, garantindo que todos os estudantes
tenham acesso às ferramentas necessárias.

6. Formação de Professores – a formação inicial e


contínua de professores é fundamental. É preciso
investir em programas de desenvolvimento profissional
Unidade 2

que os preparem para lidar com os desafios da sala de


aula moderna.

7. Gestão Eficiente – a gestão escolar eficiente e


transparente é essencial para o sucesso educacional.
Isso inclui a alocação adequada de recursos, o
monitoramento de resultados e a tomada de decisões
informadas.

8. Inclusão e Diversidade – garantir que todos os


estudantes, independentemente de suas origens,
habilidades ou necessidades especiais, tenham acesso
a uma educação inclusiva e de qualidade é um desafio
crítico.

9. Avaliação de Impacto – avaliar o impacto real das políticas


públicas educacionais é essencial. Devemos ser capazes
de medir como essas políticas afetam os resultados de
aprendizado e fazer ajustes com base nas evidências.

52 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


10. Recursos Financeiros – a alocação de recursos
financeiros adequados para a educação é fundamental.
Isso inclui investimentos em infraestrutura escolar,
materiais didáticos, tecnologia e remuneração
adequada para os profissionais da educação.

Enfrentar esses desafios exigirá uma abordagem


colaborativa e de longo prazo, envolvendo governo, profissionais
da educação, pais, estudantes e a sociedade como um todo. A
busca constante pela melhoria da educação é fundamental para o
desenvolvimento do país.

À medida que o mundo evolui, é fundamental que as políticas


educacionais acompanhem essas mudanças e se adaptem para

Unidade 2
atender às necessidades dos estudantes e da sociedade como um todo.
A educação é uma das chaves para o progresso e o desenvolvimento
de qualquer nação, e investir nela é investir no futuro.

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Iniciamos nossa jornada compreendendo a
importância das políticas educacionais no Brasil.
Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB), a educação brasileira
deu passos significativos na definição de suas
diretrizes pedagógicas. No entanto, também
observamos as disparidades entre escolas públicas
e privadas, destacando a necessidade de equidade
no acesso à educação.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 53


Você deve ter aprendido que a educação no Brasil
é influenciada por políticas públicas que moldam
o currículo, como a BNCC, e que a avaliação
desempenha um papel fundamental na busca pela
qualidade educacional.
Analisamos a relação intrincada entre as políticas
públicas e a avaliação educacional. As avaliações
externas, propostas pelo Ministério da Educação,
desempenham um papel crucial na busca pela
melhoria da qualidade do ensino. Também
reconhecemos a importância da avaliação
formativa para o aprendizado contínuo dos
estudantes e professores.
Além disso, enfrentamos desafios significativos,
mas também temos a oportunidade de moldar o
Unidade 2

futuro da educação no país. Continue sua jornada


de aprendizado e descoberta, pois a educação é a
chave para um futuro melhor.

54 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


O currículo como produção
social e as noções de currículo
oculto
Ao término deste capítulo, você será capaz de
compreender a complexa interação entre o
currículo como produção social e as noções de
OBJETIVO currículo oculto, bem como a sua importância na
educação. Essa competência é fundamental para
profissionais da área da educação, pois permite
uma análise aprofundada das influências sociais,
culturais e ocultas que moldam o processo
educacional. Aqueles que tentaram explorar esses
conceitos sem a orientação adequada muitas

Unidade 2
vezes enfrentaram desafios na compreensão da
dinâmica curricular. Portanto, estar preparado
para desbravar esse campo é essencial para o
sucesso na área da educação. Você está motivado
para adquirir essa competência e aprofundar
seu conhecimento sobre o currículo como
produção social e as noções de currículo oculto?
Se sim, vamos juntos embarcar nessa jornada de
aprendizado e descoberta. Avante!

Vamos considerar que a escola é uma simulação da


sociedade e que nela aprendemos a dividir espaços, materiais,
respeito, obedecer a regras entre outras coisas que envolvem
nossa vida social.

É por meio da escola que muitas pessoas tecem seus


primeiros contatos sociais, e conviver socialmente talvez seja a lição
mais importante que temos nesse espaço. Essas aprendizagens,
que são apreendidas no domínio do não dito, mas da ação,
constituem-se nos conteúdos do currículo oculto ou escondido,
como afirma Perrenoud (1995).

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 55


Fonseca e Pinto (2017, on-line) descrevem que:
A escola é um lugar privilegiado no qual um
conjunto de atividades é desenvolvido de
forma metódica, continuada e sistemática,
correspondendo à formação inicial do
indivíduo, dando a ele condições de se
posicionar frente ao mundo que o cerca. A este
conjunto de conhecimentos que emergem da
escola chamamos currículo.

Valorizando essa verdade, a escola não é mais simples


reprodutora de conhecimentos e, como dito anteriormente, deve
abordar em seu currículo temas transversais como sexualidade,
respeito, convivências, meio ambiente etc.
Unidade 2

O currículo oculto pode ser entendido como aquela


aprendizagem informal, que não foi planejada, porém algumas
correntes defendem que existem aprendizagens que podem
ser planejadas, para serem apropriadas de forma imperceptível
pelo aluno.

Notando que um estudante sofre de bullying, o professor


poderá pensar em trabalhar conteúdos que façam os alunos
pensarem sobre o assunto, sem mesmo tocar no caso específico
desse aluno.

Assim, há elementos que podem ser incluídos no currículo


e que devem ser abordados em sala de aula por meio de um
currículo implícito, de modo a atender às necessidades específicas
tanto da escola quanto da sociedade.

É exatamente dessa forma que o currículo produz pessoas


aptas a viverem em sociedade e exercerem seus direitos.

Esperamos que nenhuma escola ou professor negligencie


isso em seu trabalho.

56 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Imagem 2.16 – Expandir reflexões morais por meio de um conteúdo histórico

CURRÍCULO REAL
Quem eram os escravos?
Quem os escravizava?
Por quê?
Quando foram libertos?
Condições de vida de um escravo.

CURRÍCULO OCULTO
O que era mais importante para os
donos de escravos?
A humanidade das pessoas
era considerada nesse tipo de
dominação?

Fonte: Elaborado pela autoria (2023)

Unidade 2
Quer conhecer mais sobre isso? Leia o artigo
“Currículo e políticas públicas: reflexões pertinentes
aos processos contemporâneos de formação e
SAIBA MAIS prática docente no contexto da interdisciplinaridade”.
Ele explora a interdisciplinaridade na prática docente,
abordando a influência que os professores sofrem das
políticas públicas educacionais e a trajetória curricular
que molda suas abordagens. Disponível em:

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 57


O Currículo Oculto e sua
Relevância na Formação
Cognitiva e Social do Aluno
O currículo oculto é uma dimensão crucial do ambiente
escolar que não é explicitamente definida nos planos de estudo,
mas desempenha um papel significativo na educação dos alunos.
Ele se refere às mensagens, aos valores, às normas e atitudes que
são transmitidos de forma não intencional durante a experiência
educacional. Esses elementos podem ser observados nas interações
entre alunos e professores, nas dinâmicas de poder dentro da
escola e nas normas culturais que permeiam o ambiente escolar.
Unidade 2

A relevância do currículo oculto na formação cognitiva e


social dos alunos é notável. Ele molda a percepção dos alunos sobre
a sociedade, a cultura, a moral e a ética. Por meio das interações
diárias na escola, os alunos absorvem implicitamente valores e
atitudes que influenciam seu desenvolvimento cognitivo e social.
Imagem 2.17 – O currículo oculto e sua relevância na formação cognitiva e social do aluno

Fonte: Elaborado pela autoria a partir de IA (2023)

58 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


A teoria crítica de ensino, como discutida por Carr e
Kemmis, destaca a importância de analisar as estruturas de poder
e as influências sociais na educação. Nesse contexto, o currículo
oculto desempenha um papel significativo, uma vez que revela
as dinâmicas de poder não declaradas na escola. A análise crítica
do currículo oculto ajuda a identificar desigualdades e injustiças
presentes no ambiente escolar.

Para aplicar essa compreensão na prática educacional, é


essencial que os educadores estejam cientes do currículo oculto e
trabalhem para torná-lo mais inclusivo e equitativo. Isso envolve
promover um ambiente escolar onde todas as mensagens implícitas
sejam examinadas à luz dos princípios da justiça social e da igualdade.
A reflexão contínua sobre o currículo oculto pode levar a mudanças

Unidade 2
positivas na cultura escolar e na formação dos alunos.

O currículo oculto desempenha um papel significativo


na formação cognitiva e social dos alunos, influenciando suas
percepções, seus valores e suas atitudes de maneira não
intencional. A compreensão desse conceito é fundamental para
uma educação mais consciente e equitativa, alinhada com os
princípios da teoria crítica de ensino.

O currículo oculto é uma parte fundamental da experiência


educacional, mas muitas vezes é negligenciado ou subestimado.
Ele consiste em mensagens não intencionais, normas sociais não
declaradas e valores que são transmitidos aos alunos enquanto
eles frequentam a escola. Essas influências podem ser tão
poderosas quanto o currículo formalmente prescrito e podem
moldar profundamente a cognição e a socialização dos alunos.

De acordo com Fonseca e Pinto (2017), o currículo


oculto desempenha um papel essencial na formação cognitiva
dos alunos, uma vez que eles são expostos a valores culturais,
preconceitos, normas sociais e expectativas que podem afetar

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 59


sua maneira de pensar e processar informações. Por exemplo,
atitudes discriminatórias ou estereótipos presentes no ambiente
escolar podem influenciar negativamente a forma como os alunos
percebem a si mesmos e aos outros.

Além disso, o currículo oculto tem implicações significativas


na formação social dos alunos. As interações cotidianas na
escola, como aquelas entre colegas e entre alunos e professores,
contribuem para a construção das relações sociais e para o
desenvolvimento das habilidades interpessoais dos alunos.
Portanto, as normas sociais não declaradas e as dinâmicas de
poder presentes no currículo oculto desempenham um papel
importante na socialização dos alunos.

Nesse contexto, a perspectiva de Hall (1997) sobre a


Unidade 2

centralidade da cultura na sociedade moderna se torna relevante.


O currículo oculto reflete e transmite elementos da cultura,
influenciando a visão de mundo dos alunos. É importante reconhecer
que a cultura não é estática, ela está em constante evolução, e o
currículo oculto pode refletir essas mudanças culturais.

A conscientização sobre o currículo oculto é fundamental


para educadores, administradores escolares e formuladores de
políticas. É preciso reconhecer que a formação cognitiva e social dos
alunos não é apenas moldada pelo que é ensinado explicitamente,
mas também pelo ambiente escolar e pelas mensagens implícitas
que ele transmite.

Portanto, para garantir uma educação equitativa e


inclusiva, é crucial que as escolas promovam a conscientização
sobre o currículo oculto, analisem criticamente suas influências e
trabalhem para criar ambientes escolares que sejam acolhedores,
justos e que promovam o desenvolvimento integral dos alunos.

60 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Em resumo, o currículo oculto desempenha um papel
fundamental na formação cognitiva e social dos alunos,
influenciando suas percepções, atitudes e relações interpessoais.
Compreender e abordar o currículo oculto é essencial para
promover uma educação de qualidade que prepare os alunos
para uma participação significativa na sociedade contemporânea.

Explorando o Currículo como


Produção Social
O currículo não é simplesmente um conjunto de disciplinas
ou conteúdo a serem ensinados; ele é, em grande medida, uma
produção social que reflete as normas, os valores e ideologias de
uma sociedade. De acordo com Carr e Kemmis (1988), a teoria

Unidade 2
crítica da educação enfatiza que o currículo carrega consigo uma
carga ideológica que pode influenciar a maneira como os alunos
percebem o mundo.

A ideia de que o currículo é uma produção social é


especialmente relevante quando consideramos como ele é
moldado por diferentes atores e contextos. Libâneo, Oliveira e
Toschi (2003) argumentam que a organização e gestão escolar
desempenham um papel significativo na definição do currículo.
As decisões sobre quais conteúdos ensinar, como avaliar o
desempenho dos alunos e como abordar questões culturais são
influenciadas por uma variedade de atores, incluindo professores,
diretores, pais e órgãos governamentais.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 61


Imagem 2.18 – O currículo como produção social
Unidade 2

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de IA (2023)

Além disso, o currículo como produção social não é


estático, está sujeito a mudanças ao longo do tempo. As mudanças
na sociedade, os avanços tecnológicos e movimentos sociais
podem influenciar a evolução do currículo. Como observado por
Hall (1997), a cultura desempenha um papel central na sociedade,
e o currículo reflete as mudanças culturais.

A compreensão do currículo como produção social também


nos leva a considerar como diferentes grupos sociais podem ser
representados ou negligenciados no currículo. Moreira e Candau
(2008) discutem a importância do multiculturalismo nas práticas
pedagógicas e argumentam que o currículo deve ser sensível às
diferenças culturais e étnicas dos alunos.

62 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


Portanto, ao explorar o currículo como produção social,
estamos reconhecendo que ele não é um artefato isolado, mas
uma manifestação da sociedade em que estamos inseridos. Isso
nos leva a considerar questões importantes, como equidade na
educação, inclusão de diferentes perspectivas e a necessidade de
uma abordagem crítica ao currículo.

Nas seções subsequentes deste capítulo, examinaremos


especificamente o currículo oculto e suas implicações na formação
cognitiva e social dos alunos, bem como a relação entre cultura,
educação e currículo. Esses tópicos nos ajudarão a aprofundar
nossa compreensão do currículo como uma produção social
complexa e dinâmica.

Unidade 2
O currículo oculto é um conceito essencial quando
discutimos a educação, pois se refere às influências não intencionais
e não explícitas que moldam a experiência educacional dos
alunos. De acordo com Pacheco (2013), o currículo oculto engloba
valores, normas, atitudes e comportamentos que são transmitidos
indiretamente por meio da cultura escolar, das interações entre os
membros da comunidade escolar e do ambiente escolar em si.

A relevância do currículo oculto na formação cognitiva e


social dos alunos é significativa, pois, muitas vezes, desempenha
um papel crucial na socialização dos estudantes. Por meio das
interações diárias na escola, os alunos absorvem valores culturais,
normas sociais e atitudes que podem influenciar profundamente
sua visão de mundo e seu comportamento.

O trabalho de Fonseca e Pinto (2017) destaca que o currículo


oculto não se limita ao conteúdo acadêmico, mas também se
estende às relações interpessoais na escola. Por exemplo, atitudes
de respeito, cooperação e tolerância podem ser transmitidas de
forma não explícita, mas poderosa, por meio das interações entre
alunos e professores.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 63


É importante notar que o currículo oculto pode tanto
reforçar quanto desafiar as desigualdades sociais. Santos e
Moreira (1996) apontam que as práticas e valores escolares podem
refletir as hierarquias sociais existentes, perpetuando assimetrias
de poder. No entanto, também é possível utilizar o currículo oculto
de forma consciente para promover a igualdade e a inclusão.

A compreensão do currículo oculto e sua relevância


na formação dos alunos é fundamental para educadores e
gestores escolares. Isso porque, ao reconhecer as influências não
intencionais que ocorrem na escola, é possível tomar medidas
para garantir que essas influências sejam positivas e construtivas.

Cultura, Educação e Currículo:


Unidade 2

A cultura desempenha um papel fundamental na formação


do currículo, influenciando os valores, crenças e perspectivas que
são transmitidos aos alunos. Como mencionado por Moreira
(2003), o currículo não é apenas um conjunto de conteúdos
acadêmicos, mas também um espaço onde diferentes culturas se
encontram e interagem.

A cultura é dinâmica e está em constante evolução, e isso


se reflete no currículo escolar. À medida que a sociedade muda,
o currículo deve acompanhar essas mudanças para permanecer
relevante e eficaz. Isso significa que a cultura desempenha um
papel ativo na construção do currículo, moldando o que é ensinado
e como é ensinado.

Além disso, a cultura também está intrinsecamente


ligada à identidade dos alunos. Como destacado por Libâneo,
Oliveira e Toschi (2003), a educação deve levar em consideração
a diversidade cultural dos alunos e garantir que seus valores e
identidades sejam respeitados e valorizados.

64 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


A compreensão da relação entre cultura, educação e currículo
é essencial para educadores, uma vez que isso influencia diretamente
a forma como eles projetam e entregam o ensino. Promover uma
educação culturalmente sensível e inclusiva é fundamental para criar
um ambiente de aprendizado enriquecedor e equitativo.

À medida que exploramos os desafios futuros no campo


do currículo, torna-se evidente que o cenário educacional está em
constante transformação. Neste segmento, discutiremos alguns
dos desafios que se apresentam e como as políticas públicas
desempenham um papel crucial na moldagem desse cenário.

1. Adaptação às Mudanças Tecnológicas: o avanço


tecnológico é uma realidade inevitável. A educação
enfrenta o desafio de se adaptar a essas mudanças,

Unidade 2
incorporando tecnologias de forma eficaz no currículo
e garantindo que todos os alunos tenham acesso
igualitário a recursos tecnológicos.

2. Diversidade Cultural e Inclusão: a sociedade é cada


vez mais diversa, e a escola deve ser um espaço inclusivo
que valorize e respeite essa diversidade. O desafio
está em desenvolver currículos que reconheçam e
incorporem diferentes perspectivas culturais, étnicas e
sociais.

3. Formação de Professores: a formação de professores


desempenha um papel crucial na qualidade da
educação. É essencial investir na formação de docentes
para que estejam preparados para enfrentar os desafios
contemporâneos, incluindo o uso de tecnologia e o
atendimento à diversidade.

4. Avaliação Educacional: as políticas públicas


têm buscado aprimorar os sistemas de avaliação
educacional. O desafio é desenvolver avaliações que

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 65


forneçam dados úteis para a melhoria do ensino, em
vez de simplesmente impor pressão sobre escolas e
professores.

5. Equidade Educacional: garantir que todos os alunos


tenham acesso a uma educação de qualidade continua
sendo um desafio. Políticas públicas devem ser
direcionadas para reduzir as disparidades educacionais
e socioeconômicas.

6. Sustentabilidade: a educação deve considerar


questões de sustentabilidade ambiental e preparar
os alunos para enfrentar os desafios relacionados às
mudanças climáticas e à preservação do meio ambiente.

7. Envolvimento da Comunidade: o envolvimento da


Unidade 2

comunidade na educação é fundamental. Políticas


públicas devem promover parcerias entre escolas,
famílias e comunidades para criar um ambiente de
aprendizado enriquecedor.

8. Currículo Flexível: o currículo deve ser flexível o


suficiente para se adaptar às necessidades e aos
interesses dos alunos. Isso requer uma abordagem
mais personalizada da educação.

À medida que enfrentamos esses desafios futuros, é


essencial que as políticas públicas sejam orientadas para promover
uma educação de qualidade, inclusiva e adaptada às demandas
da sociedade contemporânea. A colaboração entre educadores,
pesquisadores, formuladores de políticas e a comunidade em
geral desempenha um papel vital na superação desses desafios e
na construção de um sistema educacional mais eficaz e equitativo.
Afinal, a educação é um pilar fundamental para o desenvolvimento
de qualquer nação.

66 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


No decorrer deste capítulo, exploramos
profundamente a natureza do currículo como uma
produção social, revelando como ele vai além do
RESUMINDO conteúdo formal ensinado nas escolas.
Iniciamos nossa jornada discutindo o “currículo
oculto”, aquele conjunto de valores, normas e
ideias que são implicitamente transmitidos aos
alunos por meio da cultura escolar. Destacamos sua
importância na formação cognitiva e social do aluno,
influenciando seu desenvolvimento pessoal e social.
Em seguida, adentramos na ideia de que o currículo
é uma construção social, moldada por diversos
atores e influências. Analisamos como ele reflete
as normas culturais e as políticas educacionais,
e como pode ser adaptado para atender às

Unidade 2
necessidades locais.
Por fim, examinamos a interconexão entre
cultura, educação e currículo, destacando como
a cultura desempenha um papel fundamental na
criação e interpretação do currículo. Vimos como
a educação é um espaço onde diferentes culturas
se encontram e como o currículo pode promover a
diversidade e a compreensão intercultural.
Esperamos que você tenha adquirido um
entendimento mais profundo do currículo como
uma construção social complexa e das implicações
do currículo oculto na formação dos alunos. Continue
sua jornada de aprendizado, pois há muito mais a
explorar no campo da educação e do currículo.

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 67


CARR, W.; KEMMIS, S. Teoria Crítica de la Enseñanza. Barcelona:
Ediciones Martínez Roca, 1988.
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68 CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS


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Unidade 2

CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS 69

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