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Educação estética: o desenvolvimento da sensibilidade para a

emancipação do indivíduo

Resumo
Este artigo estuda a importância da arte e da experiência estética na formação
humana, defende a educação estética como um dos caminhos para se pensar cidadãos
mais sensíveis, criativos, críticos, éticos e humanos.

Introdução: Indagações iniciais

O aporte teórico trazemos pensadores como Adorno, Benjamin, Marcuse


(frankfurtianos), Vygotsky, e Duarte Jr, pesquisadores que defendem uma formação
para a sensibilidade, emancipação e autonomia dos indivíduos.
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1 - Concepção de arte na primeira fase da modernidade

Tanto a definição como a função da arte, são circunstanciais, depende de


questões culturais, históricas, sociais, econômicas, políticas, geográficas.

O conceito de arte para Adorno está totalmente ligado à emancipação,


Emancipar o indivíduo. A finalidade da arte, para Adorno, é ao mesmo tempo individual
e social, finalidade que não depende de algo exterior a ela, pois, a arte é completa em si
mesma.
Herbert Marcuse a arte possui um impulso revolucionário, transforma.
Walter Benjamin, deve estar envolvida por uma espécie de aura algo que a torna
especial, sublime, singular, original.

Tanto para Adorno como para Benjamin, a arte está associada à experiência. O
cenário capitalista e da indústria da cultura trouxe uma nova barbárie: a pobreza da
experiência, a desvalorização do passado como memória coletiva, dos mitos como
simbologia e acesso à subjetividade. O conhecimento que acontece pela técnica, pela
transmissão de informações, aliado aos interesses econômicos e mercadológicos, de
fora para dentro, não vivenciado.
Para os frankturtianos, mesmo não possuindo o poder de modificar diretamente a
sociedade, a arte possui uma capacidade transformadora da consciência dos que a
modificam.
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2 - A arte na segunda fase da modernidade – mercantilização da cultura e


desmistificação do mundo

A realidade contemporânea é abarrotada de estímulos estéticos. A


hiperestetização contemporânea estabelece, com frequência, uma experiência estética
epidérmica, superficial, fluida. Não há espaços para o vazio, para a reflexão.

Na busca de desmistificar o mundo, a vida se materializou por completo, numa


vida apressada e superficial, nela, a forma mais básica de comunicação, a linguagem – é
reduzida à comunicação rasa, à transmissão de informação, esvaziou-se de simbolismos
e subjetividades. O que acaba por empobrecer os sentidos.

Porém, sem que pareçamos tão negativos e distópicos, há sempre um alento, A


pesquisadora Meira (citada por Amorim & Castanho) nos convida a nos colocarmos
como mineradores a procura de pedras preciosas, pois “há estéticas que transcendem o
vivido e tocam no sagrado que nos constitui", é preciso revolver as superficialidades
encontrando assim os diamantes, que enobrecem e sublimam nossa existência.
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3 - A arte é o social em nós, a experiência estética e os mecanismos psicológicos


da arte

No mesmo impulso dos filósofos frankfurtianos, o psicólogo Vygotsky, alega


que, sendo a arte individual e ao mesmo tempo social, implica sempre uma
transformação, transformar o indivíduo para que se transforme a sociedade. Se
emancipar o indivíduo pela arte é aproximá-lo do universal, o artista deve ser
considerado um ser social.

A experiência estética não é uma apreensão formal, racional, cartesiana, ela é


ainda, interpretação e percepção sensível, emocional, nos leva espaços dentro de nós
mesmos que não acessaríamos de outra forma.

Vygotsky fala que ao fazer ou fruir a arte, ativam-se processos mentais que
ajudam na expansão de funções psicológicas como imaginação, percepção, atenção,
memória, e emoções. Resultam em novos e mais complexos modos de funcionamentos
psíquicos e de humanização dos sentidos. Desta forma, entende-se que estas habilidades
podem ser aprendidas, desenvolvidas.
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4 - Experiência estética: a transcendência do real, a Obra Aberta e dinâmica do processo


de fruição

A experiência estética pode superar sentidos existentes para se construir novos


sentidos, por transcender, ir além da realidade, possibilitando novas visões de mundo.

Duarte Jr. explica que transcendência, na linguagem filosófica é a não-aderência


espaço-tempooral, ao aqui e agora, mas sua consciência do antes e do depois. Numa
experiencia estética, a consciência atinge o subjetivo, transcende o habitual, as regras e
convenções.

A apreciação/fruição de uma obra é circunstancial, única, nunca definitiva e


insuperável, o que é denominado por Umberto Eco de Obra Aberta. A obra é
polissêmica, não são, nem deve, nem é possível ser percebida por um único ângulo e
interpretada por um só ponto de vista.

Já dissemos que, pela arte é possível novos olhares sobre si próprio e sobre o
mundo, trazendo para o momento presente sentimentos e sensações vividos ou não
nunca experienciados no diadia * , estas sensações, dores e experiências o ensinam
sobre si (Amorim & Castanho, 2008, p. 1175).

Duarte Jr. diz que, na experiência estética aspectos do intelecto e do emocional


se equilibram, se mesclam, diferente do que acontece numa percepção cotidiana, em que
a razão busca sobrepor a emoção na percepção da realidade.
Acontece numa conexão entre razão e pela sensibilidade, apreendendo o mundo,
de uma forma que não é totalmente calculado, definido, mas vivido, experimentado,
significado. Este processo de percepções intensas e profundas sobre a realidade e da
existência – uma racionalidade-estética.
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5 - Educação Estética: educando a sensibilidade para se educar o humano

Afirma Duarte Jr. (2007, p. 75) que, no processo de percebermos e


apreendermos o mundo nós relacionamos sentimentos e símbolos. Um perfume * . A
arte é carregada de elementos simbólicos, como já abordamos anteriormente, ela não é
uma linguagem que comunica conceitos, ela indica sentidos, significações e emoções, é
a própria expressão dos sentimentos.

Porém, a educação tem se tornado um produto da racionalidade científica, o


conhecimento é compartimentado em disciplinas, conteúdos, métodos, técnicas, umitas
vezes desconectados, descontextualizados. Esvaziada de simbolismos, uma educação
semiformativa, conceito adorniano, nela a “objetividade é destituída de subjetividade, e
a subjetividade desassociada da objetividade”. A educação valoriza as relações
materiais, vazias de significados, comprometendo as possibilidades de vivências
sensíveis (Souza, 2014, p. 130)

Neste comtexto educacional, frequentemente a arte é considerada como lazer,


descontração, inferiorizada em relação às demais disciplinas. As escolas não propiciam
a vivência estética. É imprescindível que se faça um movimento de transformação de
consciência sobre arte na educação.

É fundamental que as escolas ofereçam condições em que os alunos vivenciem o


conhecimento, ampliando as perspectivas do saber, o senso crítico e a autonomia de
pensamento, a ressignificação do passado como memória sensível e coletiva, a vivência
do presente, de forma crítica e engajada, promovendo ainda possibilidades criativas e
reflexivas para o futuro.

Com o objetivo de que o aluno se aproxime do universo sensível e constitua um


elo com sua própria subjetividade, reconhecendo-se como autor da sua própria história,
de seu papel na construção do mundo. Acreditamos que estes sejam os maiores desafios
da educação em nossa era.

A educação pela arte é fundamental, visto que, as matérias factuais e lógicas


educam basicamente o pensamento e o raciocínio; a arte, por sua vez, educa
primordialmente o sentimento, a sensibilidade (Duarte Jr., 2007, p. 106).

Como um exemplo prático a arte-educadora brasileira Ana Mae Barbosa criou


uma metodologia para o ensino da arte embasada numa abordagem triangular: conhecer
(contextualizar), fruir (apreciar) e produzir (praticar) arte. A Proposta Triangular
empreende o desenvolvimento de um currículo artístico de ressignificação do ensino da
arte nas escolas, é um exemplo de metodologia, aplicada com sensibilidade e coerência,
possibilita que se empreenda a arte numa essência mais sensível e formadora.
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6 - Considerações finais
A arte é um estímulo para se acessar o mundo interior, ao mesmo tempo, ampliar
as percepções do mundo exterior.

negando as possibilidades de ampliação sensível que as artes e a cultura como


um todo possibilitam, a educação perde possibilidades formadoras. Nesta era altemente
tecnológica e globalizada, com tantas preocupações ambientais, questões sociais, de
saúde e econômicas, a escola tem o papel de promover a curiosidade, o senso crítico,
vivência e a construção de conhecimento, produção de ideias, crenças, valores e
consciência.

Defendemos uma nova e ampla percepção conceitual da arte na educação, para


proporcionar experiências estéticas sensíveis e significativas. Que se produzam mais
pesquisas e estudos junto a educadores e instituições que buscam uma educação mais
global, humana e sensível.

Enfim, que a educação seja compreendida como vivência, significação e


ressignificação de experiências e saberes. para que não se traduza na mera adaptação do
ser humano ao pensamento dominante, mas que ser entendida segundo os preceitos
adornianos de uma educação para a emancipação, contra a alienação, que se assuma
“enquanto tensão, negação, dialética, constelação, construção da cultura”.
2m

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