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Revista Semestral Bhistéria:—~ Pardialmente subsidiada pela ISSN 0870-6182 Fundaglo para a Cidncia ¢ Teenologia Directora: Miriam Halpern Pereira Redacgio: Carlos Mauricio, Histéria da Cultura, CEHCPASCTE; Jorge Manuel Flores, Histéria da Expansito Por- uguesa, Universidade de Ayeito; José Vicente Sendo, Histéria Bconémica, CEHCP/ISCTE; Magda Pinheiro, His: ‘dria Contenpordneo, CEHCP/SCTE; Maria Carlos Radich, Hisiéria da Ciéncia e da Téenica, CEHCP/SCTE; Maria de Fétima S&, Hisniria Social Contempordnea, CEACPASCTE; Maria Femanda Rollo, Histéria Coneimpord- nea, FCSH/UNL; Maria Joio Var, Hisiéria Contempordnea, CEHCPASCTE; Miriam Halpem Pereira, Histdria Conempordnea, CEHCPASCTE; Raul Itura, Ancropalogia Social, ISCTE; Sacuntala. de Miranda, Histdria Contem= ordnea, FCSH/UNL. Secretaria da redaccio: Maria Joao Vaz Consultores: A. H. Oliveira Marques, Histéria Medieval e Contempordnea, FCSH/UNL; Afonso Marques dos Santos, Histira do Brasil. Univ. Federal do Rio de Janeiro; Alberto Gil Novales, Histiria de Espanha, Univ. Complutense de Maid ‘Anténio Borges Coelho, Histéria Moderna, FLJUL; Carlos Medeiros. Geografia Humicna, FLJUL: H. Baquero Moreno, Histéria Medieval, FLIUP; Isidoro Moreno, Antropolosia Social, ac. Geografia ¢ Histéria/Univ. Sevilha; J Esteves Pereira, Hiséria Moderna, FCSH/UNL: Sill Dias, Historia da Expansao Colonial, FCSH/UNL; Joaquin del Moral Ruiz, Historia de Espana, Univ, Aut6ooma de Madrid; Joel Seno, Histéria Contempordned, PCSH/AUNL; Jord: Nadal, Historia de Espanha, Univ. Barcelona; José-A ugusto Frnga, Hisndvia da Arte, PCSH/UNL; José Jobson Amuda, Histria do Brasil, Univ. Estadval de Sio Paulo; José Maria Brando de Brito. Econcmia, ISEG/UTL:; Luts Filipe Thomar, Histiriada Expansio, FCSW/UNL: (M. Braga da Chuz, Sociologia Polis, ICS/UL; Maria Beatriz Nizza da Silva, Hiswria do Brauil, Univ. Estadual de S30 Paulo e Univ, Pomtuculense; Nuria Sales, Hisiéria de Espanha; Pedro Amaro, Histéria da Ciéncia e da Tecnologia, AIUTL; Pieme Vilar, Histdria de Espanha, Univ. de Pais, Rafael Moreira, Histria da Arte, FCSH/UNL; Ramén Villares, Historia de Espanha, Univ. Saniago dé Conipestels; Rober Rowland, Histdria Moderna, ISCTE; Sanjay Subvabraanym, Histria da tir eda Asia, Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales/Paris; Viior Matias Ferreira, Sociologia Urbana, ISCTE. Endereco da Redacgao: Revista «Ler Histériay — ISCTE, Av. Forgas Armadas, 1649-026 Lisboa Propriedade do Titulo: Ler Hist6ria, Associagao de Actividades Cientificas Editor: Ler Historia — Associagio de Actividades Cicntificas ISCTE Av, Forgas Armadas, 1649-026 Lisboa — Portugal Capa: Marta Figueiredo Grayuras de Joaquim Candido Guillobel (1787-1859), «Usos ¢ costumes do Rio de Janeiro». Composigao: Paula Ferreira Impressdo: Grafica 2000 — Cruz Quebrada Distribuicdo: Sodilivros, Lda. — Trav. Estévao Pinto, 6 A — Lisboa Tiragem: 1000 ex. Prego da capa: 2500$00 + 5% IVA = 2625800 Depésita legal: $7039/95 © Todos os direitos reservados tle acordo com a legislagio em vigor. Angela Domingues, Quando os indios eram vassalos. Coloniza- ¢ao e relagées de poder no Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII, Lisboa, Comissio Nacional para as Comemoracées dos Descobrimentos Portugueses, 2000 Por razoes varias a Amaz6nia pas- sou a atrair nos tiltimos anos um niime- ro cada vez maior de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, sobretudo antropélogos, ecologistas, linguistas. Mas os historiadores deixaram esse es- pago geogrdfico aos pesquisadores lo- cais, depois de um restrito interesse pelos conflitos entre colonos e jesuftas na €poca do padre Antonio Vieira. A escassa produgio historiografica se de- veu em parte a inexisténcia de uma es- trutura universitaria sOlida na regiao que fomentasse a pesquisa para dissertages de Mestrado ¢ teses de Doutoramento, utilizando a documentagio dos arquivos paraenses. O estudo de Angela Domingues veio arrancar a AmazOnia a esse esque- cimento da historiografia, sabendo tirar partido da documentag3o conservada em Lisboa sobre a politica pombalina p6s-pombalina para a regio. A especi- ficidade desta, que levou desde a ocu- pagiio inicial & sua separaciio do Estado do Brasil, e também & sua margina- lizagao historiogréfica, exigia mais do que em qualquer outra a visdo geo- politica ¢ a anélise dos projectos de ocupagao, povoamento e colonizagao na segunda metade do séc. XVIII. Comega por analisar a complexa questao da liberdade indigena, desde a ineficécia das sucessivas leis A busca de alternativas para a mao-de-obra indige- na através da introdugao de africanos a partir sobretudo de 1755. Passa em se- guida & politica do Directério publica- do em 1758 e 4 sua execugio, sem se deter nos conflitos iniciais com os jesufstas, Dominando uma vasta bibliogra- fia, recorrendo a varios acervos docu- mentais, a autora centra-se no binémio. Coroa/nagdes indigenas, deixando tal- vez excessivamente de lado a presenga dos colonos brancos na regido © suas principais actividades e necessidades. E certo que se tratava de ocupar um espa- go € que para isso fndios ¢ soldados, bem como alguns degredados, eram mais importantes do que os brancos da cidade do Paré, ou os fazendeiros com suas plantag6es, ou os mereadores com seu comércio com 0 Mato Grosso. Tal- vez, num trabalho futuro, a historiado- ra venha a substituir o binémio actual por um trindémio, o que € perfeitamente possivel com a documentacdo que ela tao bem conhece, e com outra que ela pouco utilizou, como a documentagao inquisitorial. Particularmente feliz € 0 cap. VI, intitulado «A construgio de imagens». Se a Coroa se propunha transformar povos «harbaros» em «civilizados» & preciso examinar o que na segunda 197 metade do séc. XVIII a elite politica e administrativa entendia por barbérie civilizagfio. Francisco Xavier de Men- donga Furtado, irmao de Sebastiao José de Caryalho e Melo, deixa isso bem cla- ro numa frase lapidar: era necessério «fazer compreender a estes barbaros que a real intengao de S. Majestade € s6 governd-los pelas suas reais leis como a quaisquer outros vassalos». Barbarie portanto é a auséncia de leis ¢ 0 objec- tivo da Coroa era inserir os indios na malha legislativa, como todos os demais vassalos. Tratava-se de uma integragao tu- telada, dada a «falta de reflexdo» pré- pria dos fndios, e que implicava igual- mente uma mudanga radical na atitude dos brancos da Amazénia, laicos ou eclesidsticos. Ao concubinato com as indias devia substituir-se o casamento a miscigenacao legalizada n&o era mais «coisa feia e vergonhosa» como dizfa- mos jesuitas, mas um objectivo a alean- car dentro da lei. Para Sebastiao José de Carvalho e Melo, 0 idealizador da politica a ser se- guida no Norte amaz6nico, a hist6ria demonstrava a passagem da barbarie a civilizagao, tanto mais facil de ser efec- tuada quanto ela se realizasse em liber- dade. Escrevia ele ao irmao: «Todos nés fomos barbaros como hoje sio os ‘Tapuias, s6 com a diferenga de nao co- mermos gente (...). Porém, porque no tempo em que nos invadiram e domina- ram os romanos, em vez de nos faze- rem servos de pena ou servos adscriticos, nos deixaram em pléna li- 198 berdade, unindo-se e aliando-se con- nosco, todos nés fomos civilizados». A autora foi sensfvel & distancia entre 0 discurso filos6fico que norteia a politica indigenista pombalina, ou seja, ‘a.crenga na necessidade da passagem da barbatie & civilizagao e na possibilida- de de acelerar esse processo gragas & integragdo e A miscigenagdo, e o discur- so daqueles que no terreno contactavam diariamente com as nagdes indigenas, ¢ que viam a dificuldade de as fazer acei- tar a ideia que os brancos faziam de tra- balho, riqueza ou progresso. A politica pombalina para a Amazé6nia, se pode ser considerada um_ fracasso na miscigenagiio formal (0 concubinato com indias prevaleceu so- bre 0 casamento), na substituigao da Ifn- gua geral pela Ifngua portuguesa e na educacdo dos indios no que se refere & adopcio dos valores dos brancos, ela foi sem diivida um sucesso no que se refe- re ao fortalecimento do aparelho de Es- tado numa regidio até entio dominada pelas ordens regulares e a uma maior urbanizagao do sertao ¢ das areas mais distantes do litoral. Maria Beatriz Nizza da Silva Univ. de S. Paulo e Univ. Portucalense

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