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Políticas e desafios da educação

técnico-Profissional em moçambique

Policies and challenges of professional technical education in Mozambique

Políticas y desafíos de la educación técnica y profesional en Mozambique

Resumo O presente trabalho de pesquisa tenciona discutir os


fundamentos da política da educação técnico-profissional em
Moçambique e seus desafios. Surgem muitas vozes a criticar o
sistema da educação moçambicana e uma delas tem a ver com o
contributo dos formandos que pouco se faz sentir na vida práti-
ca. Assim, busca-se responder à pergunta: Quais são as políticas Augusto Agostinho ChiCAvA
e os desafios do ensino técnico profissional moçambicano? Logo, Universidade Federal de Rio
objetiva-se analisar as políticas e desafios do ensino técnico- Grande Sul (UFRGS)
-profissional em Moçambique. No que concerne à metodologia,
recorreu-se à pesquisa teórica, que teve como fundamento as lei-
turas, interpretações e análise de diferentes literaturas, artigos,
bem como, textos filosóficos que se referem ao tema em discus-
são. Hoje, em Moçambique, cada vez mais aproxima-se a ideia de
fazer que a educação leve os indivíduos, não só à teorização dos
conhecimentos, mas à sua praticidade. É deste modo que as po-
líticas de ensino técnico- profissional (ETP) parecem estar, mas
centralizada na questão da empregabilidade, pois, o governo
está preocupado com a escassez de mão de obra especializada
para satisfazer a demanda dos grandes projetos envolvidos na
exploração de recursos minerais no país e vê o ETP como única
saída. Entretanto, há alguns desafios, como: a insuficiência no
provimento de professores; inadaptação dos currículos às atuais
necessidades do mercado de trabalho; falta de capacidade de
gestão/supervisão; a pouca autonomia e má gestão das institui-
ções; orçamentos insuficientes; altas taxas de repetição, de desis-
tência e insucesso e o elevado custo por aluno do ensino técnico
profissional.
Palavras-chave: Ensino técnico. Ensino técnico profissional.
Trabalho. Moçambique.

Abstract This research aims to discuss the fundamentals of


professional technical education policy in Mozambique and its
challenges. There are many voices criticizing the Mozambican
education system and one of them has to do with the contribu-
tion of the trainees that little is felt in the practical life. Thus, it is
sought to answer the question: What are the policies and challen-
ges of Mozambican vocational technical education? Therefore, it aims
to analyze the policies and challenges of vocational technical education
in Mozambique. With regard to methodology, we used theoretical re-
search based on the readings, interpretations and analysis of different
literatures, articles as well as philosophical texts that refer to the topic
under discussion. Nowadays, in Mozambique, the idea of making edu-
cation lightens individuals, not only to theorization of knowledge, but
also to practicality. It is in this way that vocational technical education
(ETP) policies seem to be more centralized in the question of employa-
bility, because the government is worried about the shortage of skilled
labor to satisfy the demand of large projects involved in the exploita-
tion of mineral resources in the country and sees ETP as the only way
out. However, there are some challenges, such as: insufficient provision
of teachers; maladaptation of curricula to current labor market needs;
lack of management/supervision capacity; poor autonomy and misma-
nagement of institutions; insufficient budgets; high rates of repetition,
withdrawal and failure and the high cost per student of vocational tech-
nical education.
Key words: Technical education. Professional technical education.
Job. Mozambique

Resumen Este trabajo de investigación pretende discutir los fundamen-


tos de la política de educación técnica y profesional en Mozambique y
sus desafíos. Hay muchas voces que critican el sistema educativo mo-
zambiqueño y una de ellas tiene que ver con la contribución de los alu-
mnos que tiene poco sentido en la vida práctica. Por lo tanto, buscamos
responder la pregunta: ¿Cuáles son las políticas y los desafíos de la edu-
cación técnica profesional de Mozambique? Por lo tanto, el objetivo es
analizar las políticas y los desafíos de la educación técnica y profesional
en Mozambique. En cuanto a la metodología, se recurrió a la investiga-
ción teórica, que se basó en las lecturas, interpretaciones y análisis de
diferentes literaturas, artículos, así como textos filosóficos que hacen
referencia al tema en discusión. Hoy, en Mozambique, la idea de hacer
que la educación lleve a las personas no solo a la teorización del conoci-
miento, sino también a su practicidad, se está acercando cada vez más.
Así es como parecen ser las políticas de educación técnico-profesional
(ETP), pero centradas en el tema de la empleabilidad, ya que al gobier-
no le preocupa la escasez de mano de obra calificada para satisfacer la
demanda de grandes proyectos involucrados en la explotación de re-
cursos. minerales en el país y ve ETP como la única salida. Sin embargo,
existen algunos desafíos, tales como: provisión insuficiente de maes-
tros; inadecuación de los planes de estudio a las necesidades actuales
del mercado laboral; falta de capacidad de gestión / supervisión; la po-
bre autonomía y el mal manejo de las instituciones; presupuestos insufi-
cientes; altas tasas de repetición, deserción y fracaso y el alto costo por
estudiante de educación técnica vocacional.
Palavras clave: Educación técnica. Educación técnica profesional. Yo tra-
bajo Mozambique.

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Introdução Moçambique, pelos padres Salesia-
nos, e oferecia formação nas áreas
Segundo Azevedo e Abreu (2007), de- das artes gráficas e da carpintaria.
pois da guerra civil e das eleições de 1994, a Desta escola-oficina saía boa parte
educação foi encarada como uma prioridade do material impresso que circulava,
nacional, com destaque para o ensino ele- ao tempo, em Moçambique” (AZE-
mentar. O sistema educativo nacional mo- VEDO e ABREU, 2007, p. 26)
çambicano era regulado por uma Lei de Ba-
ses, de 1983. Em Agosto de 1995, foi aprovada
pelo Governo uma nova política nacional de Sabe-se que o sistema de educação
educação, reconfirmada pelo “Plano Nacional técnico-profissional Moçambicano é ofereci-
de Desenvolvimento do Sistema Educativo”, do sobretudo por escolas públicas e centros
discutido com os doadores em Setembro de de formação administrados pelos diferentes
1997, em que se definiram as grandes orienta- ministérios. Há pouco tempo, alguns prove-
ções para os anos vindouros, a saber: melho- dores privados entraram no mercado e ofere-
rar o acesso à educação e a qualidade do ensi- ceram programas especializados de formação
no. Já nesse momento, foi atribuído ao Ensino aos seus clientes do setor privado (principal-
Técnico-Profissional um papel muito significa- mente novos investidores estrangeiros), mas
tivo, afirmando-se como prioridade reabrir e estes programas ainda só beneficiam uma mi-
criar escolas de artes e ofícios e elementares noria de alunos no sistema de educação téc-
de agricultura e pecuária, e incentivar outras nico-profissional (BROUWER e BRITO, 2010,
iniciativas neste domínio, por forma a pro- p.10). Pela sua natureza e enfoque, o ensino
mover o autoemprego. Das Escolas de Artes técnico-profissional (ETP) enquadra-se no
e Ofícios (EAO) esperava-se um papel deter- conceito mais amplo de Educação Profissio-
minante na “reativação do tecido produtivo nal, o qual envolve como provedores o gover-
nas zonas rurais e na fixação das populações” no e outros parceiros (PLANO ESTRATÉGICO
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1995^, apud DA EDUCAÇÃO, 2012-2016, p. 90).
AZEVEDO e ABREU, 2007, p. 25). Tais escolas Segundo Macamo (2015), ETP de quali-
tinham caraterísticas bem específicase contri- dade envolve elevados custos. Comparando
buiram significativamente para o bem-estar ao Ensino Secundário Geral (ESG) a algumas
da população, conforme destacam Azevedo e especialidades do Ensino Superior, o custo por
Abreu (2007): aluno do ETP é mais alto. Porém, apesar de ser
alocado, a este tipo de ensino, uma parte con-
As EAO eram escolas-oficinas e ti- siderável do orçamento para o setor de Edu-
nham por finalidade principal dar cação, não é suficiente para garantir as condi-
aos seus alunos, quase sempre ções necessárias à progressão das reformas já
população autóctone, uma prepa- iniciadas. A fim de manter a sustentabilidade
ração profissional prática, a que se financeira do ETP, assegurar a sua qualidade
juntava alguma formação académi- e expansão, o Ministério de Educação de Mo-
ca, bastante elementar, equivalen- çambique tem redefinido os critérios de finan-
te ao primeiro grau, ou seja, a ter- ciamento e aumenta a contribuição do setor
ceira classe da instrução primária. privado por meio do envolvimento das comu-
Os oficiais deles saídos, viam em ge- nidades e das próprias famílias. Assim sendo,
ral melhorada a sua situação econó- este novo século (XXI), inicia-se com o ressur-
mica, diferenciando-se mesmo dos gimento do Ensino Técnico-Profissional, o qual
trabalhadores rurais, socialmente passou pela preparação de uma nova estraté-
mais desfavorecidos. A primeira es- gia do Ensino Técnico-Profissional e pelo início
cola foi criada em 1907, na Ilha de da Reforma da Educação Profissional (REP).

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Visando a concretização deste estudo, escola única inicial de cultura geral,
foram utilizados os procedimentos meto- humanista, formativa, que equilibre
dológicos da pesquisa teórica e qualitativa, de modo justo o desenvolvimento
fundamentando-se em leituras, interpreta- da capacidade de trabalhar manu-
ções e análise de diferentes manuais e textos almente (tecnicamente, industrial-
científicos. Também foi usado o método her- mente) e o desenvolvimento das
menêutico, por meio de recursos didáticos, capacidades de trabalho intelectu-
fazendo uma análise aprofundada de dife- al. (GRAMSCI, 2004, p.33).
rentes abordagens que discorrem a respeito
da questão da educação moçambicana, em Entretanto, a educação pode ser enten-
diversos âmbitos. Valeu-se ainda da pesquisa dida como processo de formação da perso-
bibliográfica, mediante consultas a estudos já nalidade do homem para a vida e trabalho na
publicados, com o intuito de também proce- sociedade, na medida que se torna um supor-
der a uma abordagem sobre atual cenário da te na efetivação do homem na intervenção e
educação moçambicana. A pesquisa foi o re- transformação do mundo, isto é:
sultado do trabalho desenvolvido, pelo autor,
durante o curso de mestrado. a escola unitária (...) deveria assu-
mir a tarefa de inserir os jovens na
ConCepção relaCIonal entre atividade social, depois de tê-los
eduCação e trabalho elevados a um certo grau de ma-
turidade e capacidade para criação
Em contexto do mundo capitalista mar- intelectual e prática e a uma certa
cado pela revolução tecnológica acelerada, autonomia na orientação e na inicia-
em que a força do trabalho é uma mercado- tiva (GRAMSCI, 2004, p. 36).
ria, cujo preço depende cada vez mais de ha-
bilidades adquiridas nos bancos escolares, os Assim sendo, há uma necessidade de
trabalhadores encaram a educação como a distinguir educação técnica e tecnicista. Isto é,
senha necessária para ingresso e permanên- educação técnica refere-se aos processos de
cia no emprego. A escola continua a ser vista manipulação do mundo material; e a educação
como a porta de entrada para o mundo do tecnicista por sua vez enfatiza a predominân-
trabalho e condição para a sobrevivência. cia da mecanicidade dos mesmos. Entretanto,
A educação e trabalho fazem parte da educação como a prática técnica é trabalho por
mesma dimensão e podemos inferir como seus procedimentos burocráticos e também
uma dimensão humana, ou seja, essas duas por sua dinâmica. Errôneo pensar educação
categorias dizem respeito somente ao ser do distinto do trabalho, pois, a educação aumen-
homem. Segundo Karl Marx (1964), trabalho ta a produtividade e produz o conhecimento
manual (prática) e trabalho intelectual (teo- técnico exigido pelo acelerado crescimento
ria) deveriam associar-se, ou seja, combinação econômico no mundo de trabalho.
entre o trabalho produtivo e a educação (po- Portanto, na concepção da educação
litécnica), considerando que a primeira finali- prática, a escola procura valorizar as ações
dade da vida é a manutenção e a reprodução didáticas e a mesma tem maior probabilidade
de si mesma. Desse modo, Gramsci (2004) in- de proporcionar ao educando apropriados
troduz o conceito da escola unitária, que pro- métodos para o aprendizado e, aos professo-
cura salvaguardar a relação entre o trabalho res, a possibilidade do desenvolvimento das
manual e trabalho intelectual, ou seja: competências necessárias para implementar
as ações requeridas. Na mesma ordem de
A crise terá uma solução que, racio- ideia, Gramsci (2004) salienta que devemos
nalmente, deveria seguir esta linha: conceber o trabalho como um princípio edu-

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cativo, ou seja, o estudo é também trabalho quando da realização do Seminário Nacional
e muito cansativo (GRAMSCI, 2004). E tendo do Ensino Técnico, e, segundo Pinto (2012),
em conta que o trabalho humaniza o homem. era um cenário de uma rede escolar reduzida.
No contexto moçambicano, a relação Havia insuficiente aparelhamento das institui-
da educação e mundo de trabalho é marca- ções em material oficinal e instrumentaliza-
da por um certo desnivelamento, ou seja, ção de laboratórios, além de falta de pessoal
“nota-se um desfasamento entre as mudan- docente e de técnicos habilitados, decorren-
ças que ocorrem no mundo do trabalho e a tes da saída dos portugueses.
o perfil do trabalhador ingresso nas Institui- Esses cenários do Ensino Técnico tam-
ções da educação moçambicana” (GONÇAL- bém verificaram-se depois da independência,
VES, 2015, p. 8). E, segundo o mesmo autor, como procura ilustrar Pinto:
um dos problemas desse desnivelamento
entre educação e mundo de trabalho, no sis- Mesmo depois da independência,
tema educacional moçambicano, é a falta de verifica-se dispersão da responsa-
escolas técnicas vocacionais e profissionais bilidade, da direção e administração
de educação terciária, o que se traduz no das áreas de formação e educação,
pouco número de trabalhadores com uma assim como desarticulação e fraca
qualificação profissional que esteja em con- interligação entre várias estruturas
sonância com as mudanças no mundo do tra- educacionais. Os princípios e os
balho exigidas pelos empregadores. objectivos gerais eram diversos,
não existia um perfil profissional, as
polítICas naCIonaIs do ensIno ações realizadas não obedeciam a
téCnICo-profIssIonal em moçambIque um plano único de formação de força
de trabalho qualificada, não existia
A missão das EP é qualificar profis- normas e princípios de equivalência,
sionalmente adolescentes e jovens continuidade de estudos, diplomas e
moçambicanos como núcleo de regulamentação diversa (SNE, 1985
uma estratégia de desenvolvimen- apud PINTO, 2012, p. 5).
to sócio-económico nacional que
requer e repousa, em boa parte, Um dos objetivos e prioridades do Go-
na existência de uma mão-de-obra verno Moçambicano (o programa quinquenal
competente e apta a evoluir nos para o período 1995-1999) é a redução dos ní-
mais variados contextos profis- veis de pobreza absoluta e melhoria de vida
sionais e laborais. (Artigo noo1 do de sua população Educação, concretamente
Regulamento das Escolas Profissio- educação técnica, era a saída para se alcançar
nais de Moçambique de 2003). este objetivo. Com a aprovação da Política
Nacional de Educação (PNE), em 1995, surge a
O ETP em Moçambique foi criado ainda necessidade de traduzir as intenções políticas
no tempo colonial, ou seja, a lei colonial no para um quadro de ações e transformações
2025, de 19 de julho de 1947, já vinha a reger o por meio de um Plano Estratégico. E é a partir
ensino técnico-profissional. E em 1948, criou-se disso que surgiu o primeiro Plano Estratégico
a Direção Geral do Ensino Técnico Profissional de Educação 1999-2003 (PEE I), o qual tinha
(decreto lei no 37.028, de 25/08//48), que tinha como lema “Combater a Exclusão, Renovar a
como função conduzir o ensino agrícola, indus- Escola”. Caracterizou-se como sendo um pla-
trial e comercial (PINTO, 2012). no centrado em prioridades, com opções limi-
Entretanto, nessa ordem de ideia, no tadas, que se apoiou nos três pilares definidos
ano de 1975, surge, em Moçambique, o pri- pela Política Nacional de Educação, quais se-
meiro debate sobre o Ensino técnico, isto jam: aumento do acesso e equidade; melhoria

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da qualidade e relevância do ensino; reforço nais, relevantes, que preparem os indivíduos
da capacidade institucional do Ministério da para o mundo de mercado e para a vida, que
Educação. O Plano Estratégico de Educação contribua para o Desenvolvimento dos Recur-
(PEE) propõe três principais objetivos para sos Humanos de Moçambique e com um sis-
o sistema educativo: aumentar o acesso às tema de Avaliação e Certificação. E segundo
oportunidades educativas para todos os mo- Pinto (2010), os objetivos estratégicos vão ao
çambicanos e em todos os níveis do sistema; encontro aos do Plano Estratégico da Educa-
manter e melhorar a qualidade da educação, ção 2012-2016 (PEE III).
e por último desenvolver um quadro institu- Neste caso, realiza-se o segundo semi-
cional e financeiro que possa, no futuro, sus- nário Nacional do Ensino Técnico-Profissional,
tentar as escolas e os alunos (PLANO ESTRA- isto entre os dias 24 a 28 de maio de 2004, o
TÉGICO DE EDUCAÇÃO 1999-2003, 1998). mesmo tinha como objetivo de avançar na
Ainda no mesmo ano de 2005, surge implementação da Estratégia do ETP (2002-
outra mudança. Houve extinção dos Ministé- 2011). E que se pretendia lançar um debate
rios da Educação e da Cultura e foi criado o estratégico sobre a reforma do Ensino Técni-
Ministério da Educação e Cultura, mantendo co-Profissional e conhecer possíveis opções
na sua gênese a estrutura Direção Nacional de para essa mesma reforma. Daqui resultou a
Educação Técnico-Profissional e Vocacional discussão de uma nova visão mais abrangente
(DINET). Por sua vez, a DINET teve a res- do ETP e Formação Profissional, de uma busca
ponsabilidade de elaborar o segundo Plano de consenso sobre a reforma do sistema de
Estratégico da Educação 2005/2009 (PEE II), ETP entre as entidades envolvidas (PINTO,
que tinha como objetivo redução da pobreza 2010). Posteriormente, iremos discutir sobre
absoluta; assegurar a justiça e a equidade do esta reforma do ETP.
gênero e a luta contra a propagação do HIV/ De acordo com a Política Nacional de
SIDA e a mitigação do seu impacto. Educação e Estratégias de Implementação,
Como parte integrante do PEE I e do promulgada pelo Conselho de Ministros da
Plano de Ação para a Redução da Pobreza República de Moçambique (Resolução nº
Absoluta (2001-2005), a estratégia do Ensino 8/95, de 22 de agosto de 1995), o Ensino Técni-
Técnico-Profissional em Moçambique (2002- co tem a responsabilidade de formar os ope-
2011), “Mais técnicos, novas profissões, me- rários e técnicos necessários devidamente
lhor qualidade”, identifica as opções e ações qualificados, para responder às necessidades
prioritárias a serem implementadas visando de mão de obra qualificada para os diferentes
ajustar o ETP aos desafios do desenvolvimento setores econômicos e sociais do país.
econômico de Moçambique. Nessa ordem de ideia e perante a Resolu-
Assim, esse documento destaca que o ção nº 8/95, de 22 de agosto de 1995, esse ensi-
ETP tem como missão garantir aos cidadãos no encontra-se subdividido em três níveis: En-
o acesso a uma formação científico-técnica al- sino Técnico Elementar (ETE), Ensino Técnico
tamente qualificada, para responder às neces- Básico (ETB) e o Ensino Técnico Médio (ETM).
sidades do desenvolvimento econômico e so- O ETE faz-se após a conclusão do 1º Grau do En-
cial. Diz também que esse ensino técnico tem sino Primário Geral ou para adultos, inclui disci-
como visão a transformação num subsistema plinas de formação geral e técnica, conferindo
mais flexível, articulado, inovador, dinâmico, um nível escolar correspondente ao Ensino Pri-
autônomo e sustentável, reconhecido, valori- mário Geral ou para adultos.
zado, comparticipado por todos os parceiros Ao contrário do antigos Planos (PEE I e
sociais, com capacidade de adaptação e com PEE II), o Plano Estratégico da Educação 2012-
respostas às mudanças, acessível a todos, 2016 subdivide-se em dois níveis: o nível básico
com oferta de programas de formação flexí- e nível médio, cada um com duração de três
veis, que promovam competências profissio- anos. Assim está expresso no PEE (2012-2016):

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O Ensino Técnico-Profissional estru- Ensino Técnico-Profissional. Este ní-
tura-se neste momento em dois ní- vel de educação não é gratuito, ha-
veis: o nível básico e o nível médio, vendo cobrança de propinas. O En-
ambos com a duração de três anos, sino Técnico-Profissional está numa
e é organizado por ramos: comer- fase de reforma, com enfoque na
cial, industrial e agrícola. O critério introdução de um sistema educa-
mínimo de ingresso é a conclusão tivo modular, seja ao nível básico,
da 7ª classe para o nível básico, e, seja ao nível médio, que vai resultar
para o nível médio, a conclusão da em diferentes tipos de certificados
10a classe do Ensino Secundário Ge- (PLANO ESTRATÉGICO DA EDUCA-
ral ou do 3o ano do nível básico do ÇÃO, 2012-2016, p. 14).

Quadro 1: Alunos matriculados nas escolas profissionais de Moçambique – 2006

Escola Alunos matriculados – ciclos de formação


Nome Provincia Início 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07
Moamba 2002 178 1
127 74 107
Magude Maputo 2004 _ 27 40 70
S. Francisco 2005 _ _ 90 257
Inhamissa 2002 196 91 118 66
Messano Gaza 2004 _ 40 45 15
Mangunze 2004 _ 36 22 11
Domingos Sa- 2003 120 120 83 109
vio
Cambine 2005 - _ 51 84
Massinga Inhamban 2005 _ _ 120 136
Homoine 2005 _ _ 18 36
Panda 2005 _ _ 11 19
Chimoio Manica 2006 _ _ _ 93
Ilha de Moçam- Nampula 2005 _ _ 63 143
bique
Songo Tete 2003 46 46 48 47
D. Bosco 2002 179 179 141 110
N’Cauma Niassa 2005 _ _ 63 49
Subtotais 719 719 987 1352
Totais 3618

Fonte: (AZEVEDO e ABREU, 2007, p. 30)

1 Nesta coluna os dados surgem acumulados, uma vez que houve escolas que seguiram o novo modelo curricular e
pedagógico sem que se tivesse ainda verificados a sua institucionalização.

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Salienta-se que o ensino técnico é ca- A Educação Profissional inclui o
racterizado e diferenciado dos outros subsis- ETP, sob tutela do MINED e lidera-
temas do ensino pela sua função social de: do pela DINET, e abrange os níveis
básico (após a 7a classe) e médio
a) Assegurar a formação integral dos (após a 10a classe). Os provedores
jovens e trabalhadores preparando- deste tipo de ensino são públicos
-os para o exercício de uma profissão e privados. A Educação Profissional
numa especialidade, mas sempre inclui também a Formação Profis-
dentro das exigências qualitativas sional de curta duração, em primei-
e quantitativas da planificação e do ro lugar sob tutela do Ministério de
desenvolvimento da economia e da Trabalho e liderada pelo INEFP. Os
sociedade; b) Pela ênfase na forma- seus provedores são públicos e pri-
ção profissional que consiste em dar vados. (PLANO ESTRATEGICO DA
aos jovens e trabalhadores uma es- EDUCAÇÃO, 2012-2016, p. 90).
pecialidade e desenvolvendo neles
capacidades e hábitos profissionais; Por sua vez, oEnsino Técnico Médio faz-
c) Associar o conhecimento técnico -se após a conclusão do 2º nível dos subsiste-
às experiências práticas e à busca de mas de Educação Geral, de Educação de Adul-
soluções técnicas e tecnológicas; d) tos ou de Educação Técnico-Profissional, com
Vincular as escolas técnicas e institu- duração de dois a quatro anos, concedendo
tos com os sectores produtivos; e) um nível escolar equivalente ao 3º nível do
Pelo carácter terminal da formação subsistema de educação Geral e oportunizan-
(a formação geral e básica confina- do o ingresso no Subsistema de Educação Su-
-se às exigências da educação técni- perior ou no nível Superior do Subsistema de
co-profissional, sem perderem a sua Formação de Professores (AFRIMAP; 2012).
estrutura e solidez científicas; os gra- Com a guerra de década 80, entre o Go-
duados de cada nível incorporam-se verno de Moçambique e a Renamo,1 que de-
prioritariamente nos serviços e na sestabilizou o país fez que a economia ficasse
produção; o prosseguimento dos es- estagnada e houve também muita saída dos
tudos sem abandonar o exercício da técnicos qualificados para outros países, dei-
profissão) (AFRIMAP, 2012, p. 117). xando o Ensino Técnico com grandes proble-
mas. Na mesma discussão, Macamo (2015) diz
O ingresso no Ensino Técnico Básico o seguinte:
(ETB) tem como requisito a conclusão do A introdução de novas qualifi-
Ensino Primário Geral ou para adultos ou do cações, do ensino baseado em
Ensino Elementar Técnico-Profissional, com a competências no ensino técnico-
duração de dois a quatro anos, conferindo um -profissional, a forte ligação deste
nível escolar correspondente ao 2º nível do subsistema com o sector produtivo,
Subsistema de Educação Geral e permitindo o desenho e implementação de um
o ingresso ao 3º nível de qualquer dos sub- sistema de garantia de qualidade
sistemas do Sistema Nacional de Educação e para as novas qualificações, são
Médio (ETM) com as especializações do co- ações importantes resgatadas para
mércio, indústria e agricultura, saúde e pesca. tornar o ensino mais credível. O
Esse subsistema tem como população alvo: sucesso na implementação de um
os jovens em idade escolar e pré-laboral. Na novo sistema de educação baseado
mesma ordem de ideia, o Plano Estratégico da em competências pode confirmar
Educação 2012/2016 vem salientar o seguinte: a assunção de que, no mercado de

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Resistência Nacional de Moçambique

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trabalho, são igualmente importan- Na tentativa de dar resposta aos desa-
tes os conhecimentos, as habilida- fios da competitividade de Moçambique, to-
des e a atitude dos profissionais, ou mando também em consideração o processo
seja, os vários saberes (saber, saber de integração regional na Comunidade para
fazer, e saber ser e estar). o Desenvolvimento da África Austral (SADC),
o governo, por meio do Ministério da Educa-
Por outro lado, o desenho curricular ção, iniciou, em 2006, a Reforma da Educação
baseado em competências permite, Profissional (REP). O objetivo dessa reforma
também, que os estudantes obte- é de instruir cidadãos profissionalmente com-
nham retorno imediato sobre o que petentes, de modo a desenvolver uma econo-
estão efetivamente a aprender e mia competitiva.
percebam, com mais clareza, a im- Como havia já referido, que em 2006 o
portância destas competências para Ministério da Educação iniciou a REP, com o
a sua vida pessoal e profissional. O lema: “Educação para o trabalho, Competên-
ensino baseado em competências, cia para a Produção, Desenvolvimento para o
por ser normalmente mais dispen- País”, em que sua implementação está em um
dioso do que o ensino baseado em período compreendido de quinze anos (2006
objetivos de aprendizagem, trouxe – 2020). Portanto, a REP é um plano que se
um desafio adicional para as escolas, comporta em três fases, nomeadamente:
que é o desafio da sustentabilidade. a) A fase piloto, isto compreendido no
Esta sustentabilidade pode ser período entre 2006 a 2011;
alavancada pela oferta de serviços b) A fase de expansão, que foi até o final
ao mercado, o que tem um triplo do ano de 2016;
papel: por um lado, forçar a escola c) A fase de consolidação, que vai até
a transformar-se num centro 2020.
produtivo, condição necessária para Não obstante, que o PIREP,2 sendo uma
um provedor de ensino baseado estratégia de Reforma da Educação da ETP,
em competência; por outro, gerar assenta em quatro grandes componentes:
receitas para a escola e, ainda,
permitir testar a relevância das I. Reforma do Sistema e Desenvol-
competências através da oferta de vimento Institucional (incluindo o
serviços ao mercado, que assentam estabelecimento de um Conselho
nessas mesmas competências (MA- Nacional para a Formação (CNF) e
CAMO, 2015, p. 28). sistemas sustentáveis para o finan-
ciamento e gestão da ETP; o CNF
Contudo, há que ter em conta que a edu- criará um quadro para assegurar o
cação profissional ancorada em competências envolvimento de ONGs, instituições
e de qualidade implica uma série de mudanças do sector público e privado, bem
e de investimentos radicais em relação à situa- como dos empregadores e sindica-
ção atual deste subsistema de educação. Essa tos, na reforma);
reforma requer grandes investimentos, tendo II. Desenvolvimento de um siste-
em conta que a situação orçamental do país é ma da ETP baseado em padrões de
de dependência externa, pelo menos em 50% competência, incluindo a avaliação
do seu orçamento total. Esse fator alia-se ao e certificação;
fato de o Governo não disponibilizar de meios
para investir num tipo de educação adequada
2
O Programa Integrado de Reforma da Educação
Profissional (PIREP) constitui a fase piloto e tem como
para o seu povo. Ficando a critério dos investi- lema: “Educação para o trabalho, competências para
dores externos o poder de imposição. a produção, desenvolvimento para o país”.

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III. Melhoria da qualidade, por via gião Austral, os graduados da edu-
da formação de professores, do for- cação profissional moçambicanos
necimento de materiais de ensino de Mavago têm de competir, em
adequados, equipamento e infra- pé de igualdade, pelos postos de
estruturas físicas, o estabelecimen- trabalho não só com os graduados
to de serviços de orientação dos da Cidade de Maputo mas também
alunos e reforço da capacidade de com os graduados do Botswana,
gestão das instituições da ETP (as- África do Sul, China ou de qualquer
sim como a capacidade de planear outro país do mundo. Só assim po-
e gerir o impacto do HIV/SIDA nos deremos desenvolver o país de for-
professores e alunos); ma sustentável e quebrar, de uma
IV. Criação de um fundo para o vez por todas, o ciclo da pobreza
desenvolvimento de capacidades através da criação de emprego, in-
(FUNDEC) para estimular a emer- cremento da atividade produtiva
gência de programas de formação e inovação, bem como da criação
inovadores e de alta qualidade. da riqueza para o bem-estar dos
(PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCA- moçambicanos (BROUWER e BRI-
ÇÃO E CULTURA, 2006/11, p. 41). TO, 2010, p.12).

Assim sendo, “tendo a REP sido um pro- Por sua vez, Pinto (2010) vem salientar
cesso de consulta e parceria com os represen- que a filosofia do PIREP aponta para a trans-
tantes do sector produtivo, das organizações formação da provisão do (ETP) num sistema
sindicais, da sociedade civil e parceiros inter- orientado pela procura, construído num qua-
nacionais várias questões se podem colocar e dro de formação modular com cursos ancora-
têm sido colocados” (PINTO, 2012, p. 10). dos em padrões de competência e firme num
Para a execução da REP foram criadas Sistema Nacional de Padrões, o qual deverá
as seguintes estruturas: CIREP – Comissão ser reconhecido pelos empregadores e pela
Interministerial da Reforma da Educação Pro- sociedade civil. Para isso, destaca-se entre
fissional, com funções de orientação política seus objetivos o estabelecimento de um sis-
e presidida pelo primeiro-ministro; COREP – tema de educação profissional integrado,
Comissão Executiva da Reforma da Educação coerente, flexível e orientado para a procura
Profissional, multissetorial, de competências do mercado de trabalho, e que contará com
executivas e deliberativa; UI – Unidade de o envolvimento de todos os parceiros sociais.
Implementação, principal órgão de execução A fim de garantir qualidade na reforma,
das políticas, e – Grupo de Aconselhamento, o setor produtivo deve assumir a liderança na
que tem competências consultivas de apoio definição e aprovação de unidades de com-
técnico e interação ao nível da UI e que inte- petências, das qualificações e programas,
gra os parceiros da cooperação e as agências oferecer experiências no local de trabalho e
doadoras (PINTO, 2012, p.137). estágios para os estudantes, apoiar na ava-
Nesta mesma senda, a REP é uma tenta- liação externa dos estudantes e desenvolver
tiva de dar resposta aos desafios da compe- parcerias com os provedores de formação, ou
titividade de Moçambique, tomando também por outra:
em consideração o processo de integração re-
gional na SADC. Ainda na mesma perspectiva, Nas parcerias com o setor produti-
Brouwer e Brito (2010) salientam o seguinte: vo a reforma propõe que as novas
qualificações estejam de acordo
Num mundo cada vez mais global e com os requisitos da indústria, se-
com o país melhor integrado na Re- jam baseadas em padrões de ocupa-

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ção da indústria que definem com- Mas de acordo com o Plano Estratégico
petências e em unidades contendo a Educação, 2012-2016, os objetivos do Ensino
elementos de competência, desen- Técnico-Profissional trazem consigo novas
volvidas em módulos de aprendiza- ideias, que são:
gem (módulos vocacionais, eletivos
e de competências genéricas) que a) Uma resposta diversificada à
compõem uma qualificação que demanda dos sectores económi-
permita flexibilidade na lecionação, cos prioritários e emergentes; b) A
dê crédito à aprendizagem anterior expansão do subsistema ETP, en-
do estudante, permita a acumula- tendida como resposta crucial do
ção de crédito de módulos conclu- Governo á redução da pobreza e ao
ídos que sejam avaliados de acordo aumento de oportunidade de traba-
com as unidades nacionais de com- lho, no sector formal e informal da
petência, que possua medidas de economia (PLANO ESTRATÉGICO A
garantia de qualidade para validar EDUCAÇÃO, 2012-2016, p. 12)
as unidades de competência e o seu
grau de alcance, se ajuste ao novo avanços do ensIno téCnICo-
Quadro Nacional de Qualificações profIssIonal em moçambIque
Profissionais e que desenvolva uma
forte parceria entre o setor produti- Apesar de alguns recuos em determi-
vo e a educação (PIREP, 2008, apud nados aspectos, podemos considerar que o
PINTO, 2012, p. 139). ETP tem evoluído bastante nestes últimos
anos. Desde 2012, houve progresso, conside-
objetIvos do ensIno téCnICo- rando o aspecto da taxa de aproveitamento
profIssIonal emmoçambIque dos institutos médios. Também houve evolu-
ção no que diz respeito à implementação das
De acordo com a Política Nacional de ações prioritárias que vêm emanando nos
Educação e Estratégias de Implementação, planos estratégicos, expansão da formação
promulgada pelo Conselho de Ministros da Re- ancorada em competências, a formação e
pública de Moçambique (Resolução nº 8/95 de capacitação dos professores, equipamento
22 de agosto de 1995), os seguintes objetivos das novas instituições, e por último a recen-
são previsto para o Ensino Técnico-Profissional: te aprovação do pacote legislativo da Edu-
cação Profissional pelo Conselho de Minis-
Assegurar a formação integral e tros, como ilustram os quadros 2 e 3. Há de
técnica dos jovens em idade esco- salientar-se, também, a falta do pessoal téc-
lar, de modo a prepará-los para o nico em todos os níveis do subsistema para
exercício de uma profissão; b) De- melhor responder aos desafios da Reforma
senvolver nos jovens as qualidades da Educação Profissional (DESEMPENHO DO
básicas de personalidade, em par- SECTOR DA EDUCAÇÃO, 2013).
ticular, educando-os a assumir uma De acordo com o Plano de Educação, o
atitude correta perante o trabalho; número de alunos do Ensino Técnico-Profis-
c) Desenvolver capacidades de sional cresceu numa média de 25%, isto entre
análise e síntese, de investigação e os anos de 2012 e 2014. Esse progresso foi no-
inovação, de organização e direção tório devido à política de transformação das
científica do trabalho; d) Desenvol- escolas básicas em escolas de nível médio e
ver conhecimentos sobre a saúde e profissionais, além da implantação de seis no-
nutrição e a proteção do ambiente vas escolas, conforme registros constantes
(MOÇAMBIQUE, 1995, p. 182). nos quadros 4 e 5, que estão adiante no texto.

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Nessa mesma senda, é de referir que no Escolas Profissionais. Foram ainda
campo contratação, formação e capacitação capacitados professores em exercí-
de professores houve melhorias, ou seja: cio na Alemanha (24), e realizou-se
a capacitação pedagógica dos pro-
Em 2013 houve progressos na im- fessores dos ramos agrários, indus-
plementação da estratégia de trial e comercial, bem como a capa-
recrutamento, formação e capa- citação na área tecnológica. Ainda,
citação dos professores para o receberam capacitação em CBT em
ETP. Foram recrutados 152 novos 2013 o que cumulativamente eleva
docentes (...). Iniciou a formação o número de professores que rece-
de professores do Certificado B em beram formação no uso das novas
parceria com a Itália e, no âmbito metodologias de ensino para mais
da parceria com Portugal, foram de 1.000 (DESEMPENHO DO SEC-
formados 19 professores para as TOR DA EDUCAÇÃO, 2013, p. 42).

Quadro 2: Alunos no Ensino Técnico Profissional, público e privado, 2011-2013

Nível e tipo de ensino 2011 2012 2012/ 2013 2013/


%M M HM %M M %M 33%
M 2011 2012
29%
HM HM
Profissional Diurno 5.693 1.6386 35% 5.251 14.967 35% -9% 4.726 14.119 45% -6%

0%
Noturno 1.731 5.626 31% 1.181 4.152 28% -26% 959 3.320 -20%
Básico Público
27%
Diurno 102 213 48% 148 389 38% 83% 155 344 -12%
Noturno 6 49 12% 5 50 10% 2% 33% -100%
Privado
Outros Diurno 22 90 24% 48 177 27% 97% 39 144 35% -19%

Públicos 30%
Total 7.554 22.364 34% 6.633 19.735 34% -12% 5.879 17.927 55% -9%
Diurno 1.803 6.258 29% 2.015 6.406 31% 2% 2.801 8.047 26%
Noturno 1.384 4.092 34% 1.390 4.274 33% 4% 1.450 4.759 47% 11%
Médio Público
Diurno 1.449 2.830 51% 1.093 2.120 52% -25% 1.793 3.247 38% 53%
Noturno 362 733 49% 343 698 49% -5% 398 850 22%
Privado
Total 4.998 13.913 36% 4.841 13.49836% 36% -3% 6442 16.903 25%

Fonte: (Relatório de Desempenho do Sector da Educação, 2013, p. 41).

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Quadro 3: Progresso do Ensino Técnico-Profissional

Programa Ensino Técnico-Profissional


Objetivo Geral Melhorar o acesso, a relevância e a qualidade do ETP para o desenvolvimento do pais
Indicador de % de graduados absorvidos no mercado de trabalho de Base (2011) Meta
Impacto acordo com a sua formação (2016)
Graduados do novo sistema de qualificação 27% 60%
Graduados de sistema antigo

Objetivos Estratégicos Indicador de Resultado Base 2011 Valor observado Meta 2013 Avaliação
2013
2012
Aumentar o Número de jovem e Escola 7.662 7871 9.496 2.675 Atingida
acesso e a retenção adultos no sistema profissionais
no ETP, prestando Escolas 22.364 19735 17.927 23.410 Atingida
particular atenção Básicas
às disparidades
Instituto 13.913 13498 16.903 13384 Atingida
geográficas e de
Médios
gênero
Cursos não 1.000 1954 3250 2.600 Atingida
Formais de (previsão
Curta duração 2011)
Garantir que os Taxa de aproveita- Escola 75,7% 75% 68,8% 79% Não
graduados do mento por profissionais atingida
ETP tenham uma cada nível e sistema Escolas 63,3% 53% 53,0% 67,0% Não
Formação de de ensino Básicas atingida
qualidade e
Instituições 73,2% 72% 76,3% 77% Não
relevante para
de nível Atingida
o mercado formal
médio com
e informal
progresso
Melhorar a gestão Número de escolas que
Coordenação do Implementam instrumentos de
Sistema, gestão de qualidade
Envolvendo o 5 14 19 19 Atingida
Sector produtivo
de forma
particular

Fonte: (Relatório de Desempenho do Sector da Educação, 2013, p. 66).

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os desafIos do ensIno téCnICo (saber e geral, e a ligação entre os empre-
fazer) em moçambIque gadores e as IEP. Unificar o sistema
de educação para emprego com o
sistema de ensino técnico assim
O Ensino Técnico-Profissional pre- como a educação não-formal (que
para os alunos para a transição da abrange a maioria dos profissionais
escola para o mundo de trabalho, moçambicanos), através da imple-
através do desenvolvimento de mentação do QNQP e seus sistemas
conhecimentos e de competências associados. E por ultimo descen-
para um desempenho adequado tralização da gestão do sistema de
nas várias profissões. O desenvolvi- educação para que ele seja mais efi-
mento vertente é crucial para uma ciente e responda às necessidades
economia em crescimento, que so- locais, reforçando as funções e atri-
licita competências cada vez mais buições de IEP no que diz respeito
complexas e especializadas. Isto im- à gestão de todo o processo de en-
plica a criação de um de qualidade, sino/aprendizagem, contactos com
que responda com graduados com- os empregadores para estágios,
petentes e suficientes às diversas mobilização de fundos (BROUWER,
necessidades do sector produtivo” BRITO, 2010, p. 285).
(PLANO ESTRATÉGICO DA EDUCA-
ÇÃO, 2012-2016, p. 90). Outro fator que torna a ETP menos efi-
ciente é o fato de os seus graduados terem
reduzido a possibilidade de empregabilidade,
O problema central do ETP está no fato por isso muitos deles recorrem ao autoempre-
de não possuir um subsistema que reúna as go, o que é agravado pelas fraca qualificação
condições necessárias para satisfazer, quali- dos instrutores, pois os melhores instrutores
tativa e quantitativamente, as necessidades acabam por abandonar o ensino em troca de
atuais e futuras do mercado de trabalho for- emprego melhor remunerado.
mal e informal (PINTO, 2010). No que se refere aos custos por aluno,
Segundo Brouwer e Brito (2010), o Ensino a ETP possui um custo relativamente alto, 2,5
Técnico tem enormes desafios, por exemplo: vezes superior ao custo por aluno numa ins-
tituição do ensino secundário geral. Porém,
criação um órgão regulador forte um dos fatores fundamentais para o sucesso
para o sistema da educação profis- deste subsistema de ensino é a qualificação e
sional o mais rápido possível por competência técnica do professor, o que ele-
forma a implementar o Quadro va os custos por aluno.
Nacional de Qualificações Profis- Podemos dizer que um dos grandes de-
sionais (QNQP) e os mecanismos safios de momento é encontrar uma forma
de garantia de qualidade que vão que garanta, por um lado, a integridade do sis-
trazer a credibilidade desejada pelo tema; por outro, criando a flexibilidade neces-
sistema conjugado com envolvi- sária mediante o estabelecimento de um siste-
mento formal dos empregadores ma de financiamento e seriedade adequado.
na estrutura de governação dos ins- Tomando em conta que o ensino primário, em
tituto do ensino profissional (IEP), nível das autarquias, deve ser assumido como
como já acontece nos instituto su- responsabilidade dos Conselhos Municipais,
perior profissional (ISP). Melhorar esta oportunidade pode ajudar a alavancar a
a articulação com o ensino superior reconfiguração que se pretende no sistema
(MACAMO, 2015).

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Outro desafio é que Ensino Técnico deve suas famílias, da escola e da comunidade em
promover a coesão entre a instituição educa- geral (PINTO, 2012).
tiva (escolar ou comunidade escolar) e o meio Em razão disso, pode-se concluir que o
envolvente (comunidade geral) onde esta se setor de educação, sobretudo a este nível,
encontra inserida. Para que isso ocorra, é im- possui grandes desafios, desde a construção
prescindível a articulação de esforços para de- e reabilitação de infraestruturas até a forma-
finir o sentido da ação educativa e satisfazer ção do corpo docente.
os anseios e as necessidades dos alunos, das

Quadro 4: Número de escolas no Ensino Técnico-Profissional

Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009


ETE 11 16 16 13 23 36
ETB 25 25 25 27 27 28
ETM 7 7 8 8 12 19
Fonte: (AfriMap, 2012, p. 125)

Quadro 5: Número de Escolas no Ensino dos sintomas verificados na educação técnica


Técnico-Profissional em moçambicana (PINTO, 2010).
Nessa mesma linha de raciocínio, pode-
Ano 2015 mos encontrar algumas causas do problema,
ETE 16
como: o limitado acesso dos cidadãos ao ETP
(absorveu em 2001 apenas 1% da população
ETB 29
em idade escolar, o nível médio só existe em
ETM 38 sete províncias e a taxa de participação da
Fonte: Autor (2018)
menina era apenas de 20%), a baixa eficiên-
cia (taxa média de aprovação de 50% e taxa
As ilações que se pode tirar a partir dos média de repetência de 30%); a baixa eficácia
quadros 4 e 5 são: a) até 2007 o crescimen- (apenas 20% das escolas reúnem boas condi-
to das escolas do ensino técnico profissional ções) (MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO, 2006).
tende a se manter e a reduzir devido à degra- Outro problema que podemos conside-
dação de algumas escolas que não chegam a rar central do ETP é a questão da insuficiência
ser reabilitadas. Pese embora, o fato de com a no provimento de professores; inadaptação
reforma iniciada em 2006 ter permitido a ma- dos currículos às atuais necessidades do mer-
nutenção e aparelhagem de algumas escolas, cado de trabalho, pela fraca capacidade práti-
assim como a construção de novas salas, o ca e qualificações dos alunos, a pouca afluên-
número das salas de aulas ainda se encontra cia no português e o conhecimento de línguas
longe dos anseios do Ministério da Educação estrangeiras, falta de capacidade de gestão/
de tornar este um nível competitivo interna- supervisão, a pouca autonomia e má gestão
cionalmente. das instituições, orçamentos insuficientes,
Fraca qualidade e disponibilidade de recur- altas taxas de repetição, de desistência e in-
sos humanos, desmotivação e carência de mate- sucesso e o elevado custo por aluno do ETP;
riais didáticos, de infraestruturas, limitado aces- a alta proporção de ingresso de professores
so às oportunidades educativas, baixa qualidade sem formação pedagógica; a distância entre
de ensino e o alto custo da expansão do acesso o local do trabalho e a sua origem de prove-
e da melhoria da qualidade são também alguns niência. E mais em diante iremos analisarmos
alguns destes desafios com mais pormenores.

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Entretanto, existe um desajustamento Ainda nessa mesma discussão, Pinto
entre a procura e a oferta de profissionais (2010) diz que vários cenários ou projetos es-
em termos de níveis, como em termos de tão a ser estudados, por exemplo aproveitar
competências e conhecimento. Registra-se as instituições de ETP do nível médio, pelo
falta de professores com a formação ade- menos uma em cada região principal do país,
quada para atuação nos domínios das disci- para a formação inicial de professores ou acei-
plinas técnicas e profissionais, insuficiência tar proposta da Comunidade Salesiana em
que compromete também a possibilidade de Moçambique que se propõe a construir um
realizar outras ofertas de qualificação profis- campus de formação de professores. Isto é:
sional, como cursos de curta duração. E isto
tem levado muitos professores a assegurar Como no Ensino Técnico é impor-
simultaneamente disciplinas da formação tante que o corpo docente seja
técnica e geral. Ou seja, sendo, o sistema de constituído, na sua maioria, por téc-
educação técnico-profissional, que é respon- nicos com formação e experiência
sável pela moldagem do perfil de habilidades profissional, procura-se desenvol-
exigidas no mercado de emprego, foi lento ver mecanismos que favoreçam o
na resposta às demandas de mudança de recrutamento de docentes a partir
mercado no setor formal. As pesquisas sobre das empresas, como medida de
o emprego e estudos de mercado de traba- emergência para combater a falta
lho nas empresas do setor formal mostram de formação de professores para o
que há uma ligação inadequada entre a ca- ETP. Prevê-se organizar cursos de
pacidade humana disponível e as crescentes formação inicial com o objectivo de
necessidades do mercado de emprego, que conferir conhecimentos nos domí-
requer trabalhadores mais qualificados (DI- nios psicopedagógicos e metodolo-
NET/COREP, 2008). gias de ensino (PINTO, 2010, p. 11).
Outro desafio é o recrutamento de
professores sem a formação pedagógica, ou Entretanto, deve haver maior investi-
seja, “a prática tem sido de recrutamento mento por parte das direções provinciais na
de professores jovens, recém-saídos do en- oferta de estruturas e possibilidade no com-
sino técnico, sem a formação e experiência ponente de formação pedagógica.
pedagógica, tendo as direções províncias ar- De acordo com o quadro 6, ainda te-
gumentado que procuram selecionar os que mos grande déficit de pessoal docente com
se revelaram como os melhores estudantes a formação Psicopedagógica. Destaca-se que
no ensino técnico” (CASTRO e MACHADO, é importante incluir essa formação na matriz
2011, p. 38). E segundo Pinto (2010), dentro curricular dos cursos técnicos, isto tendo em
do quadro do pessoal docente, em 2000 conta que os alunos que neles se formam têm
somente 13,8% dos docentes tinham forma- sido recrutados para dar aulas não somente
ção superior e 65,55% possuíam formação nas EP, como também nas escolas de forma-
psicopedagógica. Isso tendo em conta que, ção geral do país.
atualmente para o ETP, não existe qualquer Nessa mesma senda, podemos inferir
sistema de capacitação para os professores que a formação de professores, a par da in-
e gestores, pois desapareceram os Institutos vestigação e desenvolvimento curricular,
Pedagógicos para a sua formação especiali- deve ser um dos pontos centrais do governo,
zada, nos princípios da década de 90. Desde pois sem eles não é possível transformar a
então, a formação de professores para o ETP escola e muito menos ter a educação como
permanece estagnada. a alavanca da transformação que se precisa
para construção de sociedades sustentáveis,
como a moçambicana. (MACAMO, 2015).

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Quadro 6: Perfil docente face à formação psicopedagógica no ano de 2011

Docentes com formação Docentes em formação


Escola Psicopedagógica Psicopedagógica Total
EP. Moamba Sd Sd Sd
EP. S. Francisco Assis 24 7 31
EP. D. Bosco 8 22 30
EP. Inhamissa Sd Sd Sd
EP. Songo Sd Sd Sd
EP. Inharrime Sd Sd Sd
EP. Ilha de Moçambique 9 5 14

EP. Massinga 14 20 34
EP. Montepuez 13 18 31
EP. Mangunde 5 8 13
EP. Mariri 3 8 11
EP. Chimoio 20 26 46
EP. Ocua 14 2 16
EP. Caia 7 4 11
Fonte:(CASTRO e MACHADO, 2011: p. 38) Sd = Sem dados.

ConsIderações fInaIs muito relevante na promoção social do traba-


lho. Os cursos profissionais tendem a corres-
Podemos inferir que a educação tem ponder à opção capaz de minimizar as críticas
sido, para as sociedades, um meio pelo qual vindas do Ensino Geral, no campo da empre-
se transmitem e se conservam os aspectos gabilidade.
culturais de um povo de geração em geração, As aplicações desses conhecimentos na
e também de transmissão de conhecimento vida prática do estudante do Ensino Técnico
científico. Nesse sentido, a educação é um Profissional só serão possíveis se existirem
eterno processo de aperfeiçoamento, amadu- melhores condições de trabalho, nomeada-
recimento, refinamento das culturas humanas mente: o foco prático do ensino e a sua co-
e da ciência. A realidade moçambicana, hoje, nexão ao mundo do trabalho; melhoramento
chama-nos a refletir sobre a necessidade de (aparelhagem) de infraestruturas e a existên-
uma educação que possa responder às nos- cia de um quadro de pessoal docente qualifi-
sas inquietações, pensando sobre a questão cado, pois, muitos dos professores que lecio-
de como a escola pode contribuir para a for- nam neste subsistema ensino desconhecem
mação de seus membros em nossa sociedade os princípios psicopedagógicos que estão
contemporânea. O rumo da educação mo- subjacentes à organização e ao funcionamen-
çambicana aos nossos dias tende a caminhar to da estrutura curricular por módulos para o
num paradigma centralizado no saber fazer, desenvolvimento de competências nos cur-
ou seja, ensino técnico profissional. sos profissionais.
Entretanto, o Ensino Técnico em Mo- Entretanto, deve-se evitar excesso na
çambique desempenha um papel preponde- especialização do Ensino Técnico-Profissional,
rante, isto quer em termos socioeconômicos, isto sob risco de estamos a formar, como diz
quer em termos históricos e sendo também Azevedo (2007) “automáticos programados”

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e não jovens cidadãos construtores do seu tivo e nos desafios. É fundamental para a so-
futuro, uma realidade em aberto ao longo brevivência de toda a comunidade.
da vida. Apesar das mesmas escolas do Ensi- Ainda na mesma senda, é preciso não
no Técnico possuírem um percurso próprio colocar de lado reafirmação da participação
e uma relativa autonomia que lhes permite do setor produtivo como condição essencial
construírem uma cultura própria. para a implementação da Reforma da
Assim sendo, persistência de Ensino Téc- Educação Profissional, de modo a qualificar
nico-Profissional parece uma medida política mão de obra alinhada com as necessidades do
(empregabilidade) do que responder ao insu- mercado de trabalho, e por outro, identificar
cesso escolar ou à crise da nossa educação. os níveis, canais e procedimentos de concreti-
Pois, atualmente, o governo moçambicano zação das parcerias entre a Educação Profis-
está preocupado com a escassez de mão de sional e o Setor Empresarial.
obra especializada para satisfazer a demanda É preciso fortificar áreas de oferta de
dos grandes projetos envolvidos na explora- formação, pois vai facilitar e facultar uma
ção de recursos minerais, sobretudo gás natu- especialização terminal e obtenção de um
ral e carvão mineral na região Norte do país, primeiro emprego, mas isso não implica,
portanto, a persistência na formação Técnico- como havíamos referido, afunilar demasiado
-Profissional é uma das saídas para colmatar os domínios de formação que se oferece aos
esse déficit. adolescentes. E para melhor viabilizar esse
Nesse novo contexto do Ensino Técni- projeto ou ideia de especificações terminais,
co Profissional, é preciso com muita urgên- deve-se criar uma organização curricular.
cia revitalizar esse mesmo ensino, mas isso Como diz Brouwer e Brito (2010), é necessário
passa necessariamente pela capacitação dos que o Ensino Técnico-Profissional recupere o
diretores, introdução de cursos com organi- prestígio e a credibilidade, de forma que a so-
zação modular, criação de novo modelo de ciedade veja, nesta formação, uma alternativa
administração, de organização e Gestão do viável ao Ensino Geral. A introdução de novas
Ensino Técnico-Profissional. Também pelo qualificações, do ensino ancorado em compe-
melhoramento do sistema de orçamento e tências no Ensino Técnico-Profissional, a forte
revisão curricular dos cursos do Ensino Médio ligação desse subsistema com o setor produ-
dos vários ramos, novos Institutos Médios e tivo e o desenho e implementação de um sis-
cursos de nível médio introduzidos em esco- tema de garantia de qualidade para as novas
las de nível Básico, reativação e ampliação da qualificações, são ações importantes para se
rede de Escolas Elementares, reabilitações de resgatar essa credibilidade.
infraestruturas e reequipamentos de algumas Por último, temos de advogar a impor-
Escolas Técnicas e várias parcerias entre Esco- tância de estágios profissionais, e os mesmos
las, Institutos Técnicos e empresas. devem ser devidamente acompanhados pela
Podemos inferir que as escolas técni- escola, ou seja, as escolas devem criar con-
cas, sendo parte integrante da comunidade e dições de parcerias com outras instituições,
no meio onde estão inseridas, a comunidade a fim de garantir aos alunos a realização de
deve intervir na vida escolar, isto apoiando na estágios, possibilitar que os alunos realizem
organização e na procura de soluções para as encomendas de trabalho e para a criação de
mais diversas dificuldades, no trabalho educa- pequenas unidades de produção autônomas
e geridas pelos alunos.

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Augusto Agostinho Chicava

Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS). E-mail: augus-
tochicava@yahoo.com.br

Submetido em: 30-5-2018

Aceito em: 11-6-2019

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