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A BUSCA DO

GRAAL
Empenho De 'íianscendertcia

Eaile de Ulo't'tc
ii
A Busca do Graal
E m p e n h o de T ra n s c e n d e n c ia
A Busca do Graal
Earle de M otte
E m p e n h o de T ra n s c e n d e n c ia
E arle de M otte

T raduzida da versão A ustralian a de 2003

COORDENAÇÃO E SUPERVISÃO
C h arles Vega Parucker, F. R. C. Ia Edição em Língua Portuguesa
G ran d e M estre abril 2005

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A
Indice Prefácio
P re fá c io ................................................................................................................... 5 As grandes lendas da Historia encerram verdades que são
Introdução: Sim b olism o do San to G r a a l................................................... 7 de sum a im portancia para nós na atualidade. A sabedoria
1 O G raal com o objeto m irac u lo so ....................................... 11 secreta das eras sempre foi oculta em mitos e lendas. E como
se seres superiores tivessem derramado conhecimento em forma
2 A pedra que caiu do c é u ........................................................19
simbólica através daqueles que podiam escutar e registrar as
3 Os guardiães do G r a a l ........................................................... 28
grandes historias.
4 O lar do G r a a l........................................................................... 40

5 M istérios e o G r a a l .................................. ............................... 53 Nas palavras de Sir George Trevelyan: “Todo grande mito, todo
grande conto de fada, todo grande drama e todo poema épico, estão
6 O G ra al na a lq u im ia ...............................................................65
relacionados com o símbolo do herói que vive alguma experiencia
7 Sím bolos e arquetipos da busca do G r a a l........................75
iniciática. Ao interpretar seu cenário, devemos compreender que
8 O rei pescador e a térra d e v o lu ta ......................................... 88 sua montagem simboliza toda a nossa personalidade e que os
9 A deusa e o G r a a l................................................................... 103 personagens retratam os vários aspectos dela”.
10 O lado negro do m ito ........................................................... 11 3
Desde o fim da Idade Média, o símbolo do Graal tem ocupado
11 N ovos h o riz o n te s .................................................................. 14 0
lugar especial no imaginário ocidental. A lenda do Graal é um
12 Perspectivas psicológicas e m ísticas................................. 16 0 dos mitos arquetípicos que revelam uma mensagem vital, salutar
A pêndice 1 A organização do m ito do G r a a l....................................... 1 74 e enaltecedora para a nossa época e que continuam a exercer
A péndice 2 Principais obras sobre a busca do G r a a l......................... 2 0 9 fascínio cm todos os que entram na sua esfera de influência.
A péndice 3 M ons P h ilo s o p h o ru m ......................................................... 2 1 1
Nas lendas arturianas, o G raa l e sua Busca foram entre­
B ibliografía .................................................................................................... 2 1 8 m ead os com le n d a s h e ró ic a s dos C a v a le ir o s da T á v o la
Indice re m issivo ...............................................................................................2 22 Redonda. Sir Galahad era o cavaleiro ímpar da Távola Redonda
Biblioteca R o s a c ru z ........................................................................................2 4 1 do Rei Artur. Era o único cavaleiro com o privilégio de sentar­
se na “Cadeira Perigosa” —um a cadeira especial à grande mesa
de Artur, reservada para aquele que tivesse tido êxito na Busca
do Santo Graal.
Por ocasião de uma festa, os cavaleiros têm uma visão do Graal,
que aparece no centro da Távola Redonda, mas logo desaparece.
Os cavaleiros decidem assumir a missão de encontrar o Graal
desap arecid o, q u e , c o n fo rm e Jhes é dito, só p o d eria ser
recuperado pelo cavaleiro mais perfeito moralmente, que se Simbolismo do Santo Graal
sentaria então no tributo de honra —na “Cadeira Perigosa”.
R a lp h M. Lewis, F.R.C. (Ex-Im perator da O rdem Rosacruz)
Diz-se que o G raal era invisível para todos exceto aquele
que fosse perfeitamente puro em pensam ento, palavra e atos; U m a combinação de lenda, rom ance e misticismo, envolve
e sua descoberta traria grande sabedoria, proteção na batalha e o Santo G raal. O uso mais com um da expressão Santo Graal se
/ t
vida constantemente renovada para a pessoa que o possuísse. aplica ao cálice lendário usado pelo Cristo na Ultim a Ceia.
Mas parece haver m aior apoio literário para a interpretação
Em Parzival, de Wolfram von Eschenbach, poeta épico alemão segundo a qual o G raa l era o vaso em que José de Arim atéia
do século doze e “m innesinger” [pertencente à classe dos poetas teria coletado sangue das chagas do Mestre Jesus. Nessas
e músicos líricos dos séculos doze e catorzej, o eremita Trevrizent lendas, o G ra a l às vezes aparece com o um a travessa; na
explica aos C a v a le ir o s do G r a a l q u e este não pode ser realidade, há muitas variações de seu significado. Nas fontes
conquistado por luta e consecução no m undo material, mas mais autênticas, a palavra é referida ao latim cráter , ou taça.
somente mediante amor, compaixão e desprendimento:

“Eu pranteei o teu infrutífero empenho, Foi durante o período de cinqüenta anos de 117 0 a 1220
Pois nunca prevaleceu a história que surgiu grande parte do romance sobre o G raal. Mas só em
De que o Graal pudesse pelo homem ser conquistado. 1861 começaram a aparecer textos sobre o mesmo. A maior parte
E de bom grado teria tua mão contido, desses textos consistia em transcrições, nos séculos treze e
Para que contigo outra fosse a chance, catorze, de um manuscrito do século doze, de Chrétien de
E teu prêmio o mais elevado fosse. ” Troyes. A maioria das histórias sobre o G raal baseava-se em
mitos antigos. Isto resultou na existência de quatro heróis
Sob a simulação de um a busca terrena de um G raal perdido,
diferentes nesses relatos: Parsifal, Gawain, Bors e Galahad (que
por um cavaleiro nobre, encontra-se um significado muito mais
foi provavelm ente u m a invenção posterior). Pensa-se que
profundo e místico qu anto à lenda do G raal, pois aí está um a
G a l a h a d foi i n v e n t a d o p o r W a l t e r M a p , ta lv e z c o m o
p r o f u n d a a le g o ria de in ic ia ç ã o m ística , m e lh o r e m ais
hom enagem ao filho de H enriq ue II.
com pletam ente com preendida por estudantes da Filosofia
Rosacruz e de filosofias correlatas.
C o n sta q u e o G r a a l foi levad o para a In g la te rra por
Robin M . Thompson, F.R .C . Josephes, filho de Joseph, ou por Brons, cunhado de Joseph.
A lenda conta que o G raal foi passado de geração para geração tinham motivos escusos, diz-se então que ficavam sujeitos a
e que se acreditava que ele tinha muitas propriedades místicas. determ inados efeitos sobrenaturais ou cármicos. As questões
U m relato diz que ele tai usado para alim entar um a m ultidão e os testes a que os buscadores do G raal eram submetidos, na
isenta de pecado m ediante a m ultiplicação de alguns pães que opinião de alguns eruditos, têm forte sem elhança com os
alim entaram 500 pessoas. As que não eram puras e olharam antigos ritos iniciatórios, especialmente aqueles que guardavam
para o G raal ficaram mudas. o sigilo que, segundo consta, cercava certo conhecim ento
sagrado.
A referencia a Parsifal, um dos heróis associados à lenda do
G raa l, afirm a que ele vivia fora da corte real e, portanto, Há uma outra hipótese com relação ao simbolismo do Graal.
ignorava a cavalaria. U m dia ele se deparou com vários cavaleiros Trata-se da idéia de que o Graal representava a busca do segredo
e, pela prim eira vez, “vendo o esplendor de suas armaduras, da vida. Também ela lembrava os antigos segredos buscados
pensou que eles fossem anjos”. Subseqüentem ente, continua tanto pelos alquimistas físicos qu anto pelos transcendentais,
a lenda, Parsifal, G a w a in , Bors e G a lah a d se lançaram num a que desejavam conhecer os segredos supremos relativos ao
busca do G raal. Embora conste que muitos cavaleiros do Rei propósito por trás da vida e ao mistério da morte.
A rtu r ten ham partido nessa jornada, foi a G alah ad que foi
c o n c e d id o o p a p e l p rin c ip a l na busca. D i z - s e q u e eles O aspecto m oral da busca do Santo G raal está relacionado
procuraram o G raal no E xtrem o Oriente. A alm a de G alahad com “os prin cípios sacram entais hoje aceitos p o r toda a
foi elevada ao céu por um a grande m ultidão de anjos. Parsifal cristandade e reverenciados com o os meios pelos quais as
faleceu n u m erem itério e Bors voltou para a Inglaterra. alm as que buscavam a vida de fato a encon travam . C o n s e ­
qü entem ente, o G ra a l se tornou o em b lem a da pu reza m oral
O Graal como iniciador ou da fé triunfante, de heroísm o m ilitar ou de benevolente
Houve, com o já foi dito, muitas interpretações do romance caridade”.
do G raal, que é tido principalm ente com o um a alegoria que
expõe certos preceitos morais. H á também a teoria de iniciação. Corações divinos que,
Diz-se que ela é sem elhante a certos testes e interrogatórios a Quais taças de ouro,
que se submetiam os iniciandos das antigas escolas de mistérios. O sangue aquietam
D urante as C ru zad as, cavaleiros e outras pessoas do Ocidente Defé tão audaz.
entraram pela prim eira vez em contato com certos mistérios
das antigas escolas iniciáticas do Oriente. Nas antigas iniciações É claro que um a alegoria da natureza do G raal está cheia
aos mistérios, faziam-se perguntas aos candidatos. Se eles davam de princípios místicos. Basicamente, o G raa l concebia uma
respostas corretas, eram elegíveis para certo reconhecim ento e pessoa pura buscando o poder e a sabedoria que sua natureza
certa aceitação. Se falhavam em responder corretamente ou sagrada podia lhe revelar e outorgar. A queles que não tinham
essas virtudes m orais estavam destinados a serem frustrados e
falharem na sua busca. Por conseguinte, é simples substituir o
G raa l pelo Mestre Interior. Por esta expressão se faz referência
a u m a ilu m in a ç ã o pessoal, a u m d e s p e rta r e sp iritu a l, à
consecução da Consciência Cósmica, ou da Unicidade Mística Capítulo 1
com o A b s o lu to . Q u a lq u e r u m a destas expressões seria
m isticamente adequada com o substituta da palavra G raal. A
O Graal como objeto miraculoso
b u sc a , e n t ã o , é da p e s so a p u r a de c o ra ç ã o , da pessoa
O mito do Graal, que trata da busca de um objeto misterioso
m o r a lm e n t e h o n r a d a , q u e se e m p e n h a em a d q u i r i r o
por um cavaleiro, mostrou-se um dos mais duradouros mitos
conhecim ento m aior do E u e de sua relação cósmica.
de todos os tem po s. S u a força c om o algo q u e persistiu
a d o rm e cid o no in co nscien te h u m a n o e sua interm itente
As aventuras vividas por G a lah a d em sua busca do G raal
emergência ao consciente em vários pontos da História podem
podem também ser interpretadas como o conflito hu m an o com
ser atribuídas a dois grupos de fatores. Primeiro, o fascínio
nossa própria natureza inferior, ao tentarm os transcendê-la.
h u m an o pela busca, pelos desafios da jornada, pelo próprio
Se quiséssemos dramatizar, ou melhor, criar um a alegoria que
objeto e sua relativa inacessibilidade. Segu ndo, com o na
representasse a busca p o r u m in d iv íd u o das q u a lid a d e s
natureza, há o aparente caráter cíclico de eventos na sociedade
espirituais do seu próprio ser, bem com o de um canal no seu
hum ana, pelo qual elementos do mito do G raal em ergem à
próprio Eu que o levasse a u m estado de consciência cósmica,
consciência de sociedades acom etidas por crises intensas
e que representasse tam bém os obstáculos que ele teria de
(excessiva e freqüente violência, opressão, injustiça, guerras e
enfrentar nessa busca, então, certamente o Santo G raa l seria lutas cívicas e, atualmente, iminentes catástrofes ambientais),
um excelente exemplo. que representam as fases “baixas” do ciclo do “progresso”
humano.

O a n tiq ü ís s im o m ito do G r a a l é u m a resposta, um a


contrapartida do lado “negro” dos eventos da História. U m a
tentativa de salvar algo que foi perdido ou que se acredita que
foi perdido no espírito humano, um novo surto na alma humana
para elevar a consciência hum ana a mais um a fase “alta” do
ciclo, u m triunfo de ideais sobre a dura realidade, um a vitória
do eu interior sobre o ego ou a liberação da centelha divina no
âmago da hu m an id ad e quanto à subserviência ao desejo. O
mito se im põe q u a n d o é sentida a necessidade de elevar a
consciência da hu m an id ad e no sentido de que esteja ativa em Qualidades mágicas
criar ou restaurar um paraíso na Terra, a fim de se contrapor à E m vários rom ances do G raa l, este apresentava outras
suposta inevitabilidade do crescente sofrim ento causado por qualidades mágicas: entrava no salão “flutuando”, parecia uma
ignorância e erro. taça ou um a pedra, cegava tem porariam ente as pessoas que
olhavam para ele ou as emudecia, tomava a forma de várias
imagens que apareciam em série ante essas pessoas, fornecia
Buscar um objeto misterioso, um talismã ou um elixir, torna­
um inexaurívcl m enu à la carte a todos os convidados no salão
se im portante nessa m udança de consciência. E o reconhe­
de refeições, m antinha ou estendia as vidas individuais, curava
cim ento de nossa inabilidade para lutar sem ajuda e nossa
feridas e restaurava a fertilidade de terras estéreis.
disposição para assum ir um com prom isso que assegure essa
ajuda. O objeto, então, torna-se a meta buscada pelo indivíduo, Pouco depois que o poema de Chrétien foi escrito e no qual
ou seja, ele im pulsiona e motiva a Jornada devido ao seu valor. não havia sugestão quanto ao Graal ser de procedência cristã, o
Esse valor pode estar no desejo egocêntrico de poder, mas tema do Graal foi cristianizado (mas não oficialmente sancionado
posteriormente ele passa a ser algo não egocêntrico, nobre e pela Igreja) por dois outros escritores, Robert de Boron e Heinrich
inspirador para outrem; ou é percebido como o que é no começo von dem Thürlin. O primeiro, em seu poema, José de Arimatéia,
e no fim da busca —um objeto físico ou um símbolo que fornece chamou o Graal de cálice da Ultima Ceia, o qual foi também usado
o m otivo para m oldar o destino do buscador e, indiretamente, para coletar o sangue do Cristo cm sua crucificação. O segundo,
o destino da hum anidade. em A Coroa, descreveu o Graal como um cofre contendo pão,
acompanhado de um pano manchado de sangue. A sugestão era
A despeito das origens dos primeiros com ponentes do mito óbvia: uma referência à Eucaristia. Muitas pessoas vêem o Graal e
seu conteúdo como uma parte da Eucaristia ou como explicação
do Graal (sejam elas célticas, do Oriente Médio, asiáticas ou
simbólica da mesma. Neste sentido, receber comunhão uma vez
da cristandade m edieval), sua forma tal com o a conhecemos
por semana estabelece contato entre o buscador do Graal (isto é,
se consolidou no século doze e no começo do século treze,
o celebrante) e o próprio Graal e seu conteúdo (ou seja, o efetivo
iniciando-se com a história de Parsifal, ou a Lenda do Graal
compartilhamento do corpo e do sangue do Redentor). Esta é a
\Le Conte du Graal J, de C h rétien de Troyes. Isto foi seguido
idéia mais popular.
de vários outros relatos centrados no tema da busca do G raal.
No poema de C hrétien, o próprio G raal, que parecia ser um a A cristianização do G raal foi apoiada por um outro relato
travessa ou um prato, foi levado ao refeitório num a procissão q u e liga o G r a a l ao C risto, mas não através do Sagrado
solene, durante a visita de Parsifal ao fantástico castelo do Graal. Sacram ento. O rom ance intitulado Grand St. Graal [Grande
O G raal foi então descrito com o mais brilhante do que todas Santo G raal |afirmava que o G raal era um “livro” escrito pelo
as velas do salão e consistindo em pu ro e refinado ouro, próprio Cristo após a Ressurreição; mas um a outra referência
cravejado de pedras preciosas. na in tro d u ç ã o a Lancelot G rail |“0 G ra a l de L a n c e lo t”]
menciona que um a visão apareceu ante um eremita do século viagens, a imensa dificuldade enfrentada por seus protetores
oitavo, durante a qual o Cristo se apresentou a ele e disse: “Aqui para ocultá-lo de seus inimigos e seu poder de transformação
começa o livro do Santo G raal, aqui começa o terror, aqui as para aqueles que o viam ou tocavam, tudo isso foi o que deu
m aravilh as”. Isto faria do G raal um registro ou repositório de ao cálice o teor fortemente evocativo do mito atual.
sabedoria iniciática transmitida à hum anidade por um grande
instrutor na tradição sacerdote-rei, representada por figuras
A taça de Glastonbury
A o longo dos séculos, parece ter crescido um orgulho
como Melquisedec, Hermes Trismegisto, ou Merlin, quer tenha
nacional ou regional pela localização do Graal (como um cálice
o livro sido escrito ou transm itido oralm ente.
ou outro objeto) em certas partes da Europa. A história de
Tradição iniciática G lastonbury associada a José de Arimatéia iguala-se a histórias
U m a inusitada descrição do Graal apareceu no romance do semelhantes na França e na Espanha.
autor anônimo de Perlesvaus, ou a Elevada História do Graal. Nela
Na Inglaterra, o G raa l em forma de cálice foi popularizado
o Graal mudava de forma. Isto, juntamente com as conotações
no século dezenove pelo poeta Alfred Lord Tennyson e, na
templárias e outras referências, sugere um a forte ligação com a
A le m a n h a, pelo com positor Richard Wagner. D e fato, não
tradição inciática das antigas escolas de mistérios. A o invés de a
m uito tempo depois que Tennyson escreveu seu livro Idilios
identidade do Graal ser um objeto único e fixo, ele assume uma
do Rei , soube-se que um a taça, um a taça física feita de madeira
série de formas diferentes ante o observador apavorado, que vê
de oliveira, estava em poder da família Powell, que procurara
imagens de um rei coroado e crucificado, uma criança, um homem
por ela durante séculos em Nanteos, perto de Aberystwyth,
com uma coroa de espinhos e feridas em seu corpo, uma outra
no País de Gales. Ela a adquiriu pouco depois que H enriq ue
manifestação indescritível e, finalmente, um cálice.
VIII rom peu com Roma e, im plem entando sua política de
As transform ações nesse “film e ” são acom panh ad as de dissolução dos mosteiros, saqueou a Abadia de Glastonbury.
agradáveis perfum es e de um a extraordinária luminosidade. D evido à lenda de Boron, de José de Arim atéia, e suas outras
O autor de Perlesvaus parecia estar sugerindo um a iniciação a conexões arturianas, G la sto n b u ry foi tida com o o local de
algum culto de mistério, cristão ou de alguma outra escola de descanso do santo cálice.
sabedoria. As imagens e outras referências na história pareciam
Pouco antes de os m andados de H enriq ue entrarem no
c o n t e r m e n s a g e n s s e c r e ta s de n a t u r e z a m ís t ic a , c o m
mosteiro, conta-se que sete dos guardiães do cálice (monges)
significados mais p rofu n d os, q u e só p o diam ser c o m p re ­
fugiram para seu mosteiro irmão em Strata Florida, não longe
endidas por certos leitores ou ouvintes que olhavam para além
de A b erystw yth . M ais tarde, esse m osteiro caiu vítim a de
do mero entretenim ento proporcionado pela narrativa.
degeneração, mas, antes da intrusão, os sete monges (e seu
Não obstante, o Graal, entendido como um cálice sagrado com precioso objeto) foram abrigados na casa da família nobre de
seu sagrado conteúdo, as histórias de suas origens, suas extensas Nanteos, que não ficava longe da abadia. Richard Wagner, vinte
e sete anos antes de com por sua ópera Parsifal, visitou realmente declarados hereges e a C r u z a d a A lbigense toi desfechada
a família Powell em Nanteos (1855) e declarou que viu a taça de contra eles. Logo depois que o últim o baluarte dos cátaros, a
oliveira. A família Powell mudou-se para a Inglaterra e nunca fo rta le za de M o ntségur, caiu ante os c ru z a d o s e qu e os
mais se ouviu falar da taça. sobreviventes cátaros foram queim ados na fogueira, cerca de
q u a t r o ou c in c o d eles fu g ir a m le v a n d o a lg u m teso u ro
H á outras histórias q u a n to ao q u e aconteceu com a taça
desconhecido que se acredita incluir a taça, que eles esconderam
de G lastonbury. U m a delas relata que, q u a n d o da dissolução nu m a gruta em algum local próxim o dos Pireneus Franceses.
dos mosteiros, a taça estava no tesouro que foi dividido entre
D aí ele foi provavelmente levado para o mosteiro de Montserrat,
dois gru p os de m onges qu e fugiram para o País de Gales.
perto de Barcelona.
U m g ru p o seguiu para Strata Florida. O ou tro para a costa
sul do País de G a les e foi se refugiar com a taça no m osteiro A história espanhola localiza a taça em St. Lawrence, um
de C a ld y Island, onde ela ainda se encontra, na tu ra lm en te legado papal que tirou a taça de Roma e a levou para um
oculta para sem pre! distrito de Huesca no Nordeste da Espanha. Ela foi escondida
num a gruta na área em que o mosteiro de San Juan de la Peña
U m a terceira versão da história da taça de G lasto n b u ry nos foi construído. O receio de im inente ocupação árabe levou os
é contada por H a n k H arrison em seu livro O Caldeirão e o guardiães da taça a m udá-la para os Pireneus Franceses, para
Graal. Segu ndo esta fonte, os depositários do Poço do Cálice, M ontségur ou M ontréal-de-Sos, ou para cada um destes locais
em Glastonbury, colocaram seu genuíno Graal na mesa do ático sucessivamente, e depois levá-la de volta ao mosteiro de San
em C halice Well House, ju ntam ente com os lugares à mesa Juan de la Peña. Ela foi afinal transferida para a catedral de
preparados para o regresso dos doze discípulos de Jesus. Por Valencia. E provável que as duas histórias se refiram ao mesmo
falta de espaço, deixamos de e n u m era r os outros sítios secretos “G ra a l” associado a M adalena.
do G raa l nas Ilhas Britânicas.
Tudo isso pode proporcionar uma leitura fascinante, motivo
França e Espanha pelo q u a l a O rd e m R osacru z, A M O R C , in clu iu em seu
N o c o n tin e n te , a h istó ria de José de A r im a té ia e de programa extracurricular um a pesquisa sobre a Busca do Graal.
G la s t o n b u r y é e q u ip a r a d a à visita de M a d a le n a (M aria Duas viagens de Graal já foram feitas por estudantes rosacruzes,
Madalena) a M arselha, no Su l da França e, na Espanha, há proporcionando aos “peregrinos” um a experiência direta dos
uma lenda do Graal associada a St. Lawrence e à região Huesca. sítios e comentários apropriados relacionados com todos os
Já no quarto século as lendas descrevem a fuga de Madalena aspectos da história e da mitologia do G raa l e das lendas
da Terra Santa, levando algo den om inad o Graal. Segundo a arturianas. Até agora, a “Trilha do G r a a l” levou os estudantes
história, esse G raal foi escondido num a gruta no Sul da França, a sítios na Inglaterra, no País de Gales, na Irlanda e no Norte
aos cuidados dos cátaros, um m ovim ento religioso sediado nos da França. A viagem final vai cobrir o Su l da Inglaterra, da
Pireneus. Em princípios do século treze, os cátaros foram França e da Espanha.
Persiste o debate quanto a se o G raal é um objeto físico, um
talismã terreno, mágico e digno de ser venerado com o tal, ou
um símbolo de algo no espirito hu m an o que induza m udança
aperfeiçoadora nos indivíduos e nas sociedades. Para o coração
de um peregrino, seu significado simbólico talvez seja mais
Capítulo 2
bem com preendido se m anifesto em forma concreta, de um
livro de sabedoria, de um a taça mágica, de uma pedra preciosa, A pedra que caiu do céu
ou de um a relíquia associada a um grande mestre religioso. O período de plen o desabrochar do m ito do G ra a l na
literatura ocorreu nos séculos doze e treze. D u ra n te esse
Há outras pessoas que, em virtude da natureza especulativa
período cerca de um a dúzia de romances sobre esse tema foi
da existência real do objeto Graal, preferem expressar o mistério
e s c r ita p o r t r o v a d o r e s o u p o e ta s da c o rte . A s le n d a s
do G raal em algo menos tangível mas espiritualmente real e
p o p u la riz a ra m as virtudes do cavaleirism o: a coragem, a
em te rm o s m ais sig n ific a tivo s. Para a lg u m a s, d iz Joh n
probidade, a honradez, o respeito pelas m ulheres, o am or
M atthews, o G raa l “absolutamente não tem existência real,
palaciano e a proteção dos fracos. O que tornava esses poemas
servindo antes com o um a idéia lum inosa que se am olda à
diferentes de outras histórias de aventura era o m odo como a
vontade às necessidades do in divíd uo” . .. E, para outras, “ele
busca era ligada a um objeto misterioso denom inado Graal.
é parte de um contínuo processo de transformação, de um
Q u ando o mito do G raal era com binado com a lenda de A rtu r
sonho alquím ico da alm a em sua busca da h u m an a evolução
e seus C avaleiros da T á v o la Redonda, a fusão resultante
ou u n iã o com D e u s ”. Esta idéia p a rece ter su rg id o na
aum entava o poder dos romances para estabelecerem ideais
consciência de ser de várias partes do m undo, ao mesmo tempo
de conduta destinados a elevar a consciência acima das obscuras
ou em diversos períodos da evolução hum ana, e parece ter sido
realidades da vida na Idade Média.
expressa em vários mitos de sociedades particulares.

Geoffrey Ashe dá um a dimensão maior ao G raal como idéia N o capítulo anterior, “O G raal como Objeto M iraculoso”,
poderosa, vendo-o tam bém com o um a relação especial entre o a atenção foi dirigida para sua identidade como objeto físico
Absoluto e a H um anidade. Ele expressa isto m uito calorosa­ ou relíquia e também como símbolo de alguma meta espiritual
mente em seu livro A Avalon do Rei Artur. ou algum estado m ental espiritual. C o m o objeto físico, duas
idéias foram sugeridas: o G raal céltico ou pré-cristão, que era
E le ¡o Graal/ era um penhor visível... da amizade de Deus para
um a travessa ou um recipiente; e o G raal cristão, que estava
com a hum anidade... [m as] amizade pode ser muito exigente epertur­
badora... Um cavaleiro que o consegue pode com isto arruinar sua vida. relacionado com os objetivos e o propósito da Eucaristia. A
Mas o Graal o recompensa com uma inestimável certeza: Deus existe. A fonte dessas idéias decorreu de elem entos mitológicos da
mão de Deus éestendida em meio à crueldade e indiferença do m undo... “Questão da Inglaterra e da Irlanda”, embelezada pelo talento
qualquer que seja o sacrifício, e esse sacrifíáo vale a pena.
imaginativo e criativo dos trovadores da França.
D u ra n te os altos períod os das sagas do G ra a l, um poeta O n o m e da pedra era lapsit exillis , e sua ortogr;’:! a que
da e s c o la a l e m ã de p o e t a s d o G r a a l , W o l f r a m v o n parece ser de duas palavras em Latim causou muita co ifiisão
E schenb ach , fez u m a d ram ática m u d a n ç a no teor do m ito, q u a n to ao seu exato significado. Ela tem sido ch a m a d a de
d a n d o -lh e um caráter m ais u n iv e rsal. C erca de vin te anos “pedra do e x ílio ”, “pedra c a ta lisa d o ra ”, “pedra c a íd a ”, ou
d e p o i s q u e C h r é t i e n d e T r o y e s e R o b e r t de B o r o n “pedra da m o r te ”. T alvez W o lfr a m quisesse q u e ela tivesse
escreveram seus rom ances do G r a a l, W o lfr a m escreveu seu u m sig n ific a d o m ú lt ip lo . C o m o os a trib u to s de o u tras
Parzival. D e c la ro u ter recebido sua in fo rm a ç ã o acerca do fo rm as do G r a a l, essa esm e ra ld a era com o um talism ã no
G ra a l e sua o rig em de u m certo K yot de P roven ce, q u e por se n tid o de q u e tin h a o p o d e r de destruir, de nu trir, de
sua vez a obtivera de um do cu m en to encon trado em Toledo, c au sar crescim en to, de dar e su sten tar a vida. Este ú ltim o
na E s p a n h a , e s c rito em á ra b e . O s u p o s to a u t o r desse p o d e r p e r m i t i u q u e os G u a r d i ã e s ( q u e no p o e m a de
d o c u m e n to era u m astrólogo “p a g ã o ” c h a m a d o Flegetanis. W o lfram foram identificados como templários) tivessem vida
O d o c u m e n to a firm a v a q u e a m e n sa g e m do G ra a l estava m ais longa ou parecessem m ais jovens do q u e sua idade.
escrita nas estrelas e q u e, d u ra n te a g u e rra no céu entre as
forças de D e u s e as hostes de Lúcifer, u m a e sm erald a caíra O Graal e a Pedra Filosofal
da coroa de Lúcifer. P e rm a n e c e n d o à parte desse g ra n d e O G raa l de W o lfra m com o um a pedra era, com o algum as
conflito havia os anjos “n e u tr o s ” q u e, ao verem a preciosa de suas outras idéias, u m a v a rian te conceptual. N a versão
pedra caind o, p e g a ra m -n a e a le v ara m para a Terra, on de a m ais antiga da h istó ria de P arsifal em galês, in titu la d a
deixaram sob a p roteção da fam ília G ra a l. Peredur , o P orta d or do G r a a l na Procissão c o n d u z ia um a
travessa contend o u m a cabeça h u m a n a , com sangue e tudo.
Nessa história, o G r a a l era u m a pedra , não u m a taça ou A versão francesa e ou tras p o p u la r iz a r a m a idéia do G raa l
algum outro objeto. W o lfra m disse qu e ela foi m antida n u m com o um cálice. W o lfra m in tro d u z iu esse conceito do G raa l
castelo c h a m a d o M o n ts a lv á s c h e (M o n te da S a lv a ç ã o ) e com o pedra nos estágios in cipien tes da a lq u im ia europ éia,
protegida pelos C a v a le iro s do G r a a l, “u m a p rog en ie cristã q u e se to rn o u m ais a m p la m e n te co n h e cid a nos séculos
gerada para a vida p u r a ”. A pedra em si era tida com o dotada catorze a dezessete. Era com o se a tradição secreta qu e se
de poderes m a ra v ilh o so s, u m dos qu ais era o de conceder m a n tin h a viva através da literatura do G raa l estivesse prestes
im ortalidade. H á in dicação de q u e a a lq u im ia m e n ta l teve a d a r lu g a r a u m o u tro v e íc u lo — o da a lq u im ia tra n s­
algum papel no pensam ento de W o lfram . N ota-se referência cendental.
à idéia de qu e, q u a n d o o sím b olo da pedra é c o m b in a d o
com o da fênix, transm ite d ra m a tica m en te as verdades sobre N o p e n sa m e n to de W o lfr a m p o dem os v er a afinidade
a vida e a m orte —um tem a iniciático —com a pedra a tu ando dessa pedra com a pedra m isteriosa dos filósofos. D izia-se
com o um catalisador, de m o d o q u e a fên ix possa se e rg u er qu e a Pedra Filosofal transm utava metais inferiores em ouro,
de suas cinzas. ho m en s reles em reis, ou iniciados em adeptos, dependendo
de se estar falando sobre a materia e sua transmutação ou seres para o Outremer — term o m edieval para a Palestina — onde
hum anos e sua transformação. Malcolm G o d w in diz sobre isso cavaleiros cristãos estavam na linha de frente no confronto
ao apreciar fíarzival: “Muitos comentaristas argumentaram que entre o cristianism o e o islamismo. N ão obstante, contatos
a historia de Parsifal veicula um a descrição oculta e secreta, fo ra m feitos n u m n ív e l m a is a lto e n tre os C a v a le ir o s
astrológica e alquímica, de como um individuo é transformado T em p lário s e as o rd en s cavaleirescas do Islã. T o rn o u -se
do corpo grosseiro para fo rm a s cada vez mais e le v a d a s” possível, graças ao respeito pelas virtudes do cavaleirism o em
(G odw in , pág. 170). am bos os lados, um a troca de boa-vontade e a op ortu nid ad e
de m útua aprend izagem . C o n h e c im e n to direto das antigas
N a verdade, W olfram encorajou seus leitores a “lcrem nas escolas de mistérios tais com o elas sobreviveram no Outremer,
e n tre lin h a s ” e con sid erou suas lendas com o d o cu m en tos juntam ente com a ciência árabe, a alquim ia e práticas místicas
iniciáticos. Foi isso q u e m u itos e ru d ito s ten ta ra m fazer, sufi, foi disponibilizado aos cruzados, que foram in flu e n ­
focalizando seu interesse em perguntas com o estas: Por que ciados pelo contato com tudo isso. Era de se esperar qu e os
ele declarou que Chrétien entendeu mal a história do G raal ao templários incorporassem alguns elementos de ritual e prática
depender de um a só fonte, um m anuscrito (que hoje não se in iciática ao seu p ró p rio p ro g ra m a de d e s e n v o lv im e n to
sabe se existe) que lhe fora fornecido por seu patrono, Philip pessoal.
de Flandres? Por que a fonte de W olfram era mais confiável?
Por que ele m u d ou a ênfase das associações com o mistério O u o p ró p r io W o lf r a m era um te m p lá r io , ou estava
cristão para algo que tinha implicações herméticas e semíticas? in tim a m e n te associado aos te m p lá rio s q u e h a v ia m sido
Por que ele introd uziu nomes desconhecidos com o Kyot de expostos ao p en sam en to a lqu ím ico e aos ritos iniciáticos das
Provence e Flegetanis? Por que foi a verdadeira história do escolas de mistérios. E então possível adm itir que ele tenha
Graal encontrada num a biblioteca de Toledo, na Espanha, onde usado os tem plários com o o m odelo manifesto da concepção
as c u ltu r a s ju d a ic a , islâm ic a e cristã flo re sciam e e ra m idealizada dos G u a rd iãe s do G ra a l em sua época. A credita­
enriquecidas pela troca de idéias num a atmosfera de tolerância? se que eles realizavam em suas organizações rituais iniciáticos
Por que W o lfram refletiu idéias alquím icas c rosacruzes em qu e os situavam na lin hagem espiritual das antigas escolas
seus escritos? Por que ele igualou os Cavaleiros Templários de mistérios. Constituíam um a fraternidade que efetivamente
aos G uardiães do G ra a l? E, mais ainda, por que ele expandiu m isturava a piedade com a bravura m ilitar em sua atividade
a história de Parsifal de m odo a in clu irá s aventuras de seu pai externa, e n q u a n to praticava rituais de n atu reza secreta e
na Arábia? iniciática den tro do seu próprio círculo, a fim de auxiliar o
a v a n ç o e s p ir itu a l de seus m e m b ro s . T em sido m e sm o
Cavaleiros Templários e Cavaleiros do Islã a r g u m e n t a d o q u e as d u a s p e s s o a s m e n c i o n a d a s em
O cenário dos romances arturianos e do G raal anteriores com binação com a descoberta da história do G raal —Kyot de
foi principalm ente a Europa. W olfram estendeu esse cenário Provence e Flegetanis — não eram pessoas reais e sim os
respectivos p s e u d ô n im o s dos dois altos oficiais tem p lário s É m u ito in te re s sa n te a m a n e ira c o m o W o lf r a m usa a
H u g o de P a yen s e H u g o de C h a m p a g n e e de um livro idéia da pedra preciosa para d e sen vo lve r u m novo conceito
á r a b e (o Felet{ th an is) de e n s i n a m e n t o s t r a d i c i o n a i s do c a stelo do G r a a l. S e u T e m p lo do G r a a l, situ ad o em
secretos. E m fu n ç ã o do d e c la ra d o in tu ito de W o lf r a m de M o n t s a l v ã s c h e , “e ra v is t o c o m o u m m i c r o c o s m o do
o c u lta r n o m es, lugares e eve n tos em código, esta idéia não u n iv e rs o e n c im a d o p o r um e n o r m e ru b i, r e p re s e n ta n d o o
parece m u ito fa n ta siosa . c oração m a te rn a l do m u n d o e d e n o m in a d o Rosa Sagrada.
T o d o esse im a g i n á r i o foi a b s o r v id o , ou m u it o p r o v a ­
A noção do G r a a l c om o urna pedra e a idéia de t o rn a r os v e lm e n t e c ria d o , pelos r o s a c r u z e s ” ( G o d w in , pág. 160).
te m p lá rio s os G u a r d iã e s do G r a a l a ju d a ra m W o lf r a m a M a is excitan te a in d a é o efeito em sucessivas gerações das
d e sen vo lve r a prin cip al força de sua m en sagem , isto é, um a n o çõ es do T e m p lo do G r a a l e de sua lo c a liz a ç ã o . Em
re n o v a d a perspectiva da F ra te rn id a d e do H o m e m . Su as m u it o s o u t r o s r e la t o s , o la r do G r a a l era u m c a ste lo
sagas do G r a a l c o b rira m q u a tro gerações da lin h a g e m de s o b re n a tu ra l (im a g e m q u e descreve p s ic o lo g ic a m e n te o
Parsifal e o cenário abrange a E urop a e o O riente. Ele tentou c r u z a m e n to do u m b ra l do consciente para o inconsciente).
m ostrar q u e h era n ça s genéticas d essem elh an tes, variações M a s, n o caso de W o l f r a m , t e n h a ele fe ito isso i n t e n ­
c u ltu rais e diferen ças religiosas p o d e m ser a com od a d a s no c io n a lm e n te ou não, o castelo foi e n te n d id o c o m o u m a
nivel individual e no social pelo espirito de tolerancia e amor. fo rtaleza real n u m local específico da Terra. L u gares com o
Percebe-se isso nos p lan os gerais das historias. a f o r t a l e z a c á t a r a de M o n t s é g u r , o u o m o s t e i r o de
M o n ts e rr a t nas m o n ta n h a s recorta d a s dos P ire n e u s , ou
Parsifal e Firefiz u m a c a v e rn a em L a n g u e d o c , to rn a ra m - s e lu g a re s
E m sua ju v e n tu d e , o pai de P arsifal foi à A r á b ia e casou p o p u la re s de e sp ec u la ç ã o e visitação.
com u m a r a i n h a m u ç u lm a n a . E les t iv e r a m u m fi lh o ,
F ire fiz , q u e foi e n tã o o p r o d u t o de u m a m isc ig e n a ç ã o D e sd e a década de 1 9 3 0 , M o n ts é g u r te m sido m u ito
c u ltu ra l. P arsifal nasceu do se g u n d o c a sa m e n to de seu pai escavada e m u ito tem sido escrito sobre ela p o r estudiosos
com u m a m u lh e r de raça e u ro p é ia . Q u a n d o c resce ra m , os e jo rn a lista s. S e u in teresse especial tem sido e n fa tiz a d o
dois se to r n a r a m c a v a le iro s p ro fiss io n a is e a c o n tec e u q u e p elo fato de q u e a fo rta le z a caiu em 12 4 4 ante os c ru z a d o s
se e m p e n h a r a m em fe r o z c o m b a te , p o r q u e suas i d e n ­ albigenses, c u jo o b je tiv o era e lim in a r os hereges cátaros,
t i d a d e s n ã o e r a m c o n h e c i d a s . N a ú l t i m a e t a p a da b e m c o m o p e lo fa to de q u e essa á r e a da F r a n ç a era
escaram uça eles se id e n tific a ra m , d e p u se ra m suas a rm as e c o n h e c id a c o m o fr e q ü e n t a d a p o r gn ósticos, tem p lário s,
se a b ra ç a ra m em a m o r fra te rn o . F ire fiz , p re to e b ra n c o a lq u im ista s e rosacruzes. E m b ora não fossem idênticos em
(observem -se as cores a lq u ím ic a s), recebeu fin a lm e n te um suas idéias e práticas, todos eles p a re c ia m fa z e r parte da
lu g a r na T á v o la R e d o n d a r e s e rv a d a e x c lu s iv a m e n te para G r a n d e T ra d iç ão de sab ed oria esotérica q u e re m o n ta à
cristãos. G r é c ia e ao C re s c e n te F é rtil.
W o lf r a m , e n tã o , m e rece c réd ito p o r ter e n fa tiz a d o a aldeia global, para trazer à consciência a verdadeira busca do
q u a lid a d e do m ito do G r a a l e foi a ele q u e W a g n e r recorreu G ra a l — a busca do desen vo lvim en to espiritual através de
com o po nto de partida da criação de sua trilogia lírica sobre e sto rç o p e sso a l lig a d o à n e c e ssid a d e de t r a n s f o r m a r a
as sagas do G r a a l. A p ró p ria idéia de c h a m a r o G ra a l de h u m a n id a d e com o um todo.
pedra (preciosa), c o n fe re -lh e u m a d im e n sã o m u ltic u ltu ra l

em m itologia. E de se le m b ra r a e sm e ra ld a no O lh o de
H ó ru s , ou a p érola na testa de B ra h m a (que é com o urna
p e q u e n a flor de lótus). A jóia e sua posição na testa, por
exemplo, sugerem o místico Terceiro O lho, a glándula pineal,
o ó r g ã o de p e r c e p ç ã o p s í q u i c a o u c l a r i v i d e n c i a . A
e xperiencia final do G r a a l foi descrita com o e q u iv a le n te à
i l u m i n a ç ã o m ís tic a . E t a m b é m s i g n i f ic a t i v o q u e , em
associação com im a g en s religiosas ou m ísticas do passado,
pode-se 1er sobre as tábuas (de pedra) de M oisés, a T á b u a
de E sm e ra ld a de H erm es, a pedra de K a a b a em M eca (que
tam b ém caiu do céu), a Falha de Lia em Tara e a Pedra
Filosofal dos a lq u im ista s m edievais, cada q u a l com suas
q u alid ad es sagradas ou mágicas.

A pedra de W o lfram , caída do céu, retira o G raa l do “outro


m u n d o ” céltico e o liga ao objeto esp iritu a l de c u ltu ra s
religiosas através do tem p o e do espaço. O m u n d o do G ra a l
na Era do C avaleirism o, de trovadores e m innesanger, era
centrado na E u ro p a e no cristianism o , até q u e W o lfr a m
escreveu seu Parzival e Der Junge Titurel [O Jovem Titurel ].
Foi um a época em qu e cristãos e m u ç u lm a n o s encaravam
O au to r em frente à Pedra D iam ond, em Avebury, Inglaterra.
uns aos outros com o “infiéis”, militantes que com petiam pela
alma da hu m an id ad e. W o lfra m corajosam ente os reuniu em
espírito em meio a u m clima de grande intolerância para com
doutrinas não-cristãs, graças ao seu hábil uso de alegoria.
C o m essa prim eira tentativa de a m p lia r o conceito do G raa l,
ele nos desafia neste m u n d o q u e a tecnologia red u ziu a um a
seu relato de Parzival. A í ele falou em Cavaleiros do Graal que
“foram criados para a vida pura” e que tinham a missão especial
de gu ard ar o G raal. Foram convocados para servir ao Graal
depois de terem passado p o r um teste de m erecim ento .
W o lfram parecia estar sugerindo que a mão de Deus, embora
Capítulo 3
a p lic a n d o o p o d e r do G r a a l, ou a lg u n s o u tro s critérios
Os guardiães do Graal misteriosos, desem penhou algum papel nesse recrutamento.
Isto, por sua vez, poderia im plicar que os Cavaleiros do G raal
Nos romances do G raa l dos séculos doze e treze ele foi constituíssem um a sociedade fechada, secreta, na qual testes,
associado a um a família de pessoas que eram os seus Guardiães, preparação ritualística e ritos iniciáticos participassem no
bem com o a um tem plo ou castelo onde ele foi guardado e processo de seleção.
protegido pelo Rei do G raa l e seus G uardiães.

Essa idéia gan hou popularidade com o aparecimento da O mito do G raa l tom ou form a na época das cruzadas,
obra de Robert de Boron, José de Arimatéia, e do relato anônim o q u a n d o duas religiões se viram presas a um a guerra santa na
in titulad o Oueste del Saint Graal. A m b o s apareceram nas Palestina por cerca de 200 anos. Os Templários, ou Cavaleiros
últimas décadas do século doze. Robert de Boron afirmou que, do Templo, que tiveram participação de liderança nas cruzadas,
a p ós a c r u c if i c a ç ã o , José, o rico m e r c a d o r q u e s e r v iu parecem ter claram ente cum prido esse papel como G uardiães
devotadam ente ao Cristo e que coletou seu sangue na taça da do G raal, conform e sugerido ou afirm ado nos relatos de três
Ú ltim a Ceia, prosseguiu com a fundação de um a linhagem de autores de obras sobre o mito do Graal. O autor anôn im o de
Reis do G raal. Eles deveriam m anter os segredos do G raal Perlesvaus e W o lfra m em seu Parzival foram os principais
(nesse caso o cálice) e passá-lo aos seus sucessores. Eles próprios responsáveis pela identificação dos Cavaleiros do G raal com a
eram Reis do G raa l por direito e mérito moral. Nestas e em O rd e m do Tem plo. F un dad a em I I 18 d.C ., essa O rd em
outras histórias do G raal, no contexto da tradição arturiana, começou com um gru po de nove homens que e m pun haram a
os sucessores do Rei do G raa l — isto é, Parsifal e G a lah a d — espada para proteger peregrinos em viagem à Terra Santa.
passaram pelos testes de iniciação da Fraternidade da T ávola Cresceu em tam anho e influência ao longo dos dois séculos
Redonda. E m bora todos os cavaleiros do Rei A rtu r pudessem se g u in te s, a d q u ir in d o fa m a p o r e x c ep cio n a l c oragem e
ser apontados com o cavaleiros em busca do G raal, a literatura habilidade na luta, bem como por elevada conduta moral. Que
coloca esses dois na categoria de Reis do G raal. Eles eram os templários também juntaram grande fortuna graças a legados
Cavaleiros do Graal. de propriedade, êxito m ilitar e atuando com o banqueiros,
negociantes e agentes de seguro na m aior parte da Europa e
N o com eço do século treze, W o lfra m von Eschenbach do M editerrâneo, tam bém faz parte da história. Foi ainda
desenvolveu mais a importância dos G uardiães do G raal em mencionada sua influência na construção de grandes catedrais
da E uropa. Peter Bryce declara: “Os tem plários tinh am o de bens pessoais, disposição para m orrer por um a causa nobre
objetivo de gu ard ar as estradas para a Terra Santa, o que pode e coragem indom ável em face de esmagadoras dificuldades,
ser entendido literalmente, mas tam bém nu m sentido mais estas atitudes não podiam encontrar m elhor expressão do que
profundo. Suas atividades os pu n h am em contato com outras n u m Cavaleiro Templário. Aliás, W olfram chegou a cunhar
civilizações. Eles pareciam ter formado um elo intelectual entre um termo para seus Cavaleiros do G raal; eles eram Tetnpleisen,
o Oriente e o O cidente e ter se tornado G u ardiães de um os hom ens de ferro do Templo. Descreveu tam bém o Rei do
grande acervo de conhecim ento esotérico” (Bryce, pág. 124). G raa l, a q u e m eles serviam , com o aqu ele qu e regia um a
fraternidade invisível. Isto tem conotações herméticas — os
Ora, o autor de Perlesvaus revelou, pelo teor de sua história Cavaleiros do G raa l (Templários) eram a incorporação física
de Parsifal, qu e pertencia a u m a O rd em de soldados-monges. de seu arquétipo no Céu.
Isto por si só não seria suficiente como explicação do anonimato
Q u e ele pretendeu equiparar os templários aos Cavaleiros
do autor, um a vez que a Igreja aprovava Ordens militares para
do Graal está confirmado num de seus últimos poemas, o Jovem
defender a fé. Mas o autor foi além e m encionou a presença de Titurel. A í o castelo do G raal se assemelhava a um a fortaleza
um conclave de “iniciados” no castelo do Graal, que conheciam
tem plária e tinha até um a capela circular, como os templários
o G raal, e o encontro de Parsifal com “mestres” que podiam costum avam construí-las. E ele afirm ou que o castelo era
convocar mais 33 cavaleiros batendo palmas. Os cavaleiros que
guardado por Cavaleiros Templários. Tais sentimentos pelos
surgiam usavam a insígnia tem plária e pareciam “ter certa templários foram tam bém com partilhados por outros autores
idade”. As conotações misteriosas ou mágicas aqui implicadas de obras sobre o Graal. Em Oueste del Saint Graal , o sanctum
não com binariam com a ortodoxia. Todavia, essas referências e ou m odelo do lar do G ra a l parecia um m odelo do Santo
o minucioso conhecim ento do autor sobre o combate direto e Sepulcro, qu e podia ser encontrado em todas as unidades
seus efeitos no corpo h u m an o claram ente apontavam para os templárias, nas quais eram realizados os mais sagrados ritos. E
templários com o os Cavaleiros do G raal. Cavaleiros Templários guardando um magnífico “Tem plo” do
G raal é fato m encionado por A lbrecht von Scharfenberg em
Os mais puros Cavaleiros Die Jungere Titurel (12 7 0 d.C.).
W olfram foi m uito m enos reticente para revelar que tinha
alguma ligação com a O rd em do Templo. Ele era, ou um Alguns podem argum entar que a Fraternidade Templária e
Cavaleiro Teutónico ou um Templário e, provavelmente, seguiu os G uardiães do G raal eram na realidade um a fraternidade
a rota dos cruzados para o Oriente. Em seu poema ele tala não necessariamente protetora de um cálice ou de algum objeto
acerca do G raal sendo guardado por cavaleiros que eram os mágico. Podiam ter estado guardando algo intangível, algum
mais puros, que buscavam aventura com o um teste de seu segredo, algum “tesouro”, algum conhecimento especial como
merecimento e que eram também enviados como governantes fonte de poder, do qual decorria sua força moral e que os
de países. Se pureza implicava ascetismo sacerdotal, sacrifício tornava supercavaleiros naquela época, capazes de transcender
fronteiras nacionais e hum anas. U m a das afirmações tácitas E lem entos com un s em pen sam en to e prática de certas
da lenda de José de Arim atéia é a de que Jesus pode ter passado escolas iniciáticas, devido a sua persistência no tempo e a seu
a lgu m segredo ou alguns segredos para José q u a n d o este valor em elevarem a consciência da hum anidade, chegaram a
cum priu sua pena na prisão e Jesus o visitou. Esse segredo ser r e c o n h e c id o s c o m o r e p r e s e n ta t iv o s do m o v im e n to
devia ser passado para os guardiães do G raal que o sucederiam. d e n o m in a d o “G ra n d e T radição”. Seus ensinam entos eram
Se os G uardiães do G raa l eram concebidos com o um a hoste religiosos ou místicos, em geral não sujeitos ao dogma de
espiritual e se eles estavam se m anifestando em alguma forma nen hu m a fé em particular. A O rdem Rosacruz tem suas raízes
física na Terra n u m a época em qu e a Lenda do G raa l gozava na tradição de mistérios do Egito Antigo. A inspiração e o
de g ran d e p o p u larid a d e , então os tem plários seriam esse teor dessa tradição foram reforçados por adições extraídas
exemplo visível de serviço ao G raal. dos ensinam entos de mistérios de indivíduos e grupos da
G récia Antiga, da C h in a , da ín d ia , da Pérsia e de muitos
Os cavaleiros templários como iniciados outros países; sem esquecerm os as contribuições m odernas
A estreita ligação de todo o mito do Graal com o templarismo da ciência, da filosofia e da psicologia, bem com o sua própria
foi zelosam ente p rom ovid a na prim eira m etade do século pesquisa, qu e confirm a ou esclarece a antiga sabedoria dessa
dezenove. Foram levados a público artigos intrigantes que tradição.
sustentavam a idéia de que certas fontes e certos vasos batismais
eram como vasos do G raal; de que os poemas sobre o Graal Pod em ser v erific a d o s elos h istóricos e n tre a O rd e m
foram escritos para glorificar a Ordem dos Templários; de que Rosacruz, A M O R C , e atividades rosacruzes em fins da Idade
as doutrinas e os símbolos templários foram tirados da Lenda M édia, ou seja, na época das cruzadas, dos tem plários, dos
do Graal; de que o mesmo ideal de união de cavaleirismo e alquim istas, dos cátaros, dos cabalistas e da literatura do
santidade era encontrado na Ordem Templária e nos Guardiães G raal. A área de atividade mais intensa de todos esses grupos
do Graal, e assim por diante (Waite, pág. 562). E mesmo possível foi o S u l da França, e m b o ra os m o v im e n to s estivessem
conjeturar que a O rdem Templária (dentre outras, como os espalhados por toda a E uropa. E razoável supor que alguns
Cavaleiros Teutónicos e os Hospitalários) era o evidente modelo templários eram rosacruzes e vice-versa e o m esmo se poderia
no qual foi baseada a concepção ideal do G uardião do G raal d i z e r de t e m p lá r io s e c á ta ro s, bem c o m o de c á ta ro s e
pelos contadores de histórias do Graal. Isto se torna especial­ rosacruzes. O fato de q ue algu ns tem plários lu taram na
mente significativo se colocarmos os tem plários dentro da c r u z a d a albigense contra cátaros não desfaz as ligações
linhagem espiritual da tradição iniciática secreta das escolas de recíprocas desses dois m ovim entos, e os tem plários achavam
mistérios. Os templários faziam suas reuniões sigilosamente, q u e sua lealdade m aior era para com a autoridade papal de
iniciavam seus candidatos em suas capelas em segredo e que recebiam sua autorização para funcionar. Quanto à ligação
afrontavam tentativas externas da corte da época e da posteridade tem p lária-rosacru z, não m uito tem po depois da supressão
no sentido de descobrirem os segredos de seu “culto”. dos tem plários com o u m a O rd em , alguns tem plários que
sobreviveram ou escaparam da perseguição fo rm aram um a Os legados Rosacruz e Templário
sociedade d e n o m in a d a “E ider Brothers o f the R o se-C roix” Todavia, os três movimentos estavam espiritualmente ligados
“Irmãos M ais Antigos da Rosa-Cruz” (M arkale, pág. 306). nos fatos de que enfatizavam a responsabilidade pessoal pelo
progresso espiritual e in spiravam outros por sua conduta
Os G ra n d e s Mestres T em plários e m em bros adiantados exemplar. E isto é u m tema im portante na Busca do Graal. A
da O rd em eram classificados com o iniciados superiores; eram região do Sul da França, onde o catarismo floresceu antes de
distintos de ou tros servidores da O rd e m , com o obreiros, sua supressão final, e particularm ente o distrito de Toulouse,
artesãos, soldados e subordinados. Os postos mais altos de seus g o zaram por algum tem po de liberdade de pensam ento e
líderes tinham paralelos com os cátaros, cujos líderes eram religião. Seu povo colheu incontáveis benefícios das atividades
perfecti , ou p e rfe ito s d e v id o a p u r e z a m o r a l e rig o rosa de templários, cátaros e rosacruzes. N a Inglaterra, também,
observância de regras. Outros eram credentes, crentes, aos quais houve algum a cooperação pouco antes das cruzadas entre
se permitia algum a isenção de disciplina superior e que ainda templários e rosacruzes; eles construíram o Templo de Londres,
não estavam prontos para serem elevados. Tanto templários que deveria ser usado com o um centro ritualístico com um .
como cátaros derivaram parte de sua crença do contato com o
pensam ento religioso e místico do Oriente Médio, o que teve E m geral, essas sociedades estavam aplicando e propagando,
um papel considerável em sua condenação final com o hereges cada qual a seu modo, sua com preensão sobre a vida e seu
e no controle de sua atividade pública. sig n ific a d o ; elas p ra tic a v a m m o d e lo s in iciáticos para o
a d i a n t a m e n t o m ís tic o de seus n e ó f it o s e seus r itu a is
Havia diferenças entre as sociedades de mentalidade mística. concernentes a isto eram realizados em caráter privado. C o m o
Elas podem ser m elh or constatadas nos principais símbolos o rosacrucianism o é um acervo eclético de aprendizado de
representativos de seu objetivo ou caráter principal. A C r u z sabedoria, seletivamente abrangente e progressivo, deve ter
Vermelha templária sobre um manto branco tinha um significado incluído o m elhor do que os templários pensavam e praticavam
simbólico correlato mas diferente do significado da R osa-Cruz em sua in s t r u ç ã o p r iv a d a e secreta. R efe rê n c ia s a esse
dos rosacruzes. A C r u z Cátara tinha traves iguais, com um a interessante material podem ser encontradas nos arquivos da
rosa em seu eixo. N unca se soube que os rosacruzes, como um O rd em Rosacruz, A M O R C , e as afinidades entre as duas
grupo, tivessem participado em ações militares, embora possam Ordens são consideradas na instrução privativa fornecida aos
ter sido individualmente combatentes. Os cátaros se defendiam estudantes rosacruzes.
quando eram atacados. A fama dos templários era parcialmente
baseada no fato de que eles eram um a m áquina de combate. Quem eram os guardiães do Graal?
Aconteceu também que a lealdade dos templários à autoridade Pergunta-se às vezes: a existência de G uardiães do G raal é
papal induziu alguns deles (talvez a contragosto) a participarem mítica ou eles são figuras históricas? Isto leva ao mesmo debate
na cruzada albigense contra os cátaros. qu anto à natureza do G raal: é ele um objeto ou um símbolo?
H ou ve tentativas de estabelecer um a linhagem ao longo dos cristã levada ao futuro, com o vim os, por José de Arim atéia.
séculos —um a sucessão de G uardiães do G raal —um a família O cálice original, ou G raa l, ou seu equ ivalen te simbólico e
real e não lendária, um a linhagem física sanguínea que se seus protetores na Terra, foram a herança da hu m an id ad e
equiparava à espiritual. E reconhecida um a linha desde a época desde a época em qu e adq uirim os consciência religiosa ou
das cruzadas, passando pela dinastia merovíngia e chegando a mística.
Maria M adalena e a Jesus. U m a aparente referência na obra
de W o lfra m a u m go vernante m erovín gio verídico de um Essa incorporação do perfeito Rei do Graal não é compatível
principado no Sul da França é citada com o indício de apoio. com algumas concepções dos romances do G raa l acerca do
Dada a reputação de W olfram como escritor críptico, é expressa Rei do G raal. Nas histórias ele aparece como o Rei Pescador
a opinião: “Q uanto mais alguém o estuda, mais provavelmente enferm o, cuja ferida incurável fora causada por algum erro
parece que ele está se referindo a um gru p o real de pessoas e moral. Esse erro é explicado como im prudência sexual, ou pela
não a u m a fam ília mítica ou de ficção” (Baigent, pág. 3 17 ). A im p lic a ç ã o de pe c a d o o rig in a l, ou s im p le s m e n te com o
evidência é algo tênue e as conclusões, ou tendem a erguer ilustrativo da Queda e da necessidade de Redenção. Seja como
algum as sobrancelhas, ou excitam outras com as ligações for, tanto o Rei como o Reino tiveram de sofrer indefinidamente
exploradas. Falta c o rro b o ra ç ã o p o r o u tra p esq u isa, mas ou até que algum sucessor substituísse o Velho Rei. Este é um
devemos m anter a m ente aberta a este respeito, ao conside­ problema que enfrentam os qu and o mitos são misturados, o
rarmos um a outra linha de pensam ento qu anto à identidade qu e ocorreu na consciência do h o m e m m edieval q u a n d o
dos Guardiães do Graal. Neste caso, a linhagem não é genética crenças “pagãs” (isto é, célticas) tiveram de chegar a alguma
nem de ficção e, sim, mística. acomodação com o cristianismo. N ão precisamos entrar aqui
no debate a propósito de quanto a história bíblica tenha de
Nesta visão do Rei ou G u a rd iã o do G raa l, tem os de nos fato e q u a n to de mito. O aspecto m ítico da sucessão de
voltar para o m istério cristão. O n o m e de Melquisedec (ou M elquisedec apóia u m m ovim en to linear na origem e no
Melquisedeque ) , m e n c io n ad o em H ebreus 7:3, prefigura o destino do ser h u m a n o — desde a C riação, passando pela
Cristo em sua oferta de pão e v in h o com o sím bolo da carne e Queda, pela experiência na Terra e chegando ao resultado final
do sangue do seu povo. Ele parece assu m ir o caráter de um no Dia do Juízo. O mito do Rei do G raal, porém, representa
Rei do G r a a l e x e rc e n d o ao m e s m o te m p o os cargos de um a visão cíclica céltica dos eventos: o que era observável na
sacerdote e g overnante profano, um h o m e m qu e é “sem pai, natureza e no universo correspondia a eventos na vida das
sem mãe, sem gen ealog ia... e p e rm a n e c e sacerdote para pessoas — n a s c im e n to , c re s c im e n to e d e c lín io , m orte e
s e m p re ”. Jesus C r is to é c h a m a d o de “u m sac e rd ote na regeneração.
sucessão de M elquisedec p o r direito de sacrifício”. A q u i não
há linha sanguínea física e sim um a im plicação de q u e o Rei Q u a n d o a história de Melquisedec, com suas implicações,
do G raal só podia ser um sucessor de M elquisedec —linhagem entrou na consciência do povo medieval, foi representada, não
no ro m a n c e do G ra a l e sim em pedra. Urna das in úm eras
m ensagens q u e a C a te d ra l de C h a rtres tem tran sm itido à
posteridade é a estátua de M elquisedec. Ela está situada ao
lado das figuras históricas q u e fla n q u e ia m os portais da
catedral. Lá está ele, segurando um a taça em que há urna
pedra polida, o q u e en cerra u m d u p lo conceito. Os dois
símbolos, o cálice e a pedra preciosa, m encion ad os sepa­
ra d a m e n te nos rom a n ces, ali estão reu n id os, com o para
e s t a b e le c e r p e r m a n e n t e m e n t e o m ito n u m m e io m a is
duradouro ainda do que a tradição oral ou escrita. Para sempre
estão as duas verdades representadas —o cálice com o fonte e
m a n t e n e d o r da vid a e a p ed ra p reciosa c o m o a lu z da
sabedoria cósmica.

E assim encontram os na estátua de Melquisedec um ponto


de meditação sobre a natureza do lugar da hu m an id ad e no
universo. O G u a rd iã o do G raal aqui é o hom em perfeito, o
sacerdote-rei, o Cristo-Rei, u m misto de A rtu r e Merlin, um
H erm es Trismegisto, aquele que alcançou sua posição por
pertencer a dois m undos, com um pé no C éu e outro na Terra,
ou vivendo esta vida n u m instante de tempo, com o se os dois
m undos fossem um só. Este é seguramente o conceito dos
G uardiães do G raa l no im aginário da mitologia do G raal, ou
seja, prom over a idéia do H om em Celestial. Todo ser hu m an o
tem de ser elevado m ediante provações e iniciação ao status do
s a c e rd o te-rei, da u n iã o do e sp iritu a l e do te m p o ra l, da
representação da divindade no universo manifesto em toda a
sua gloria. A linhagem dessa elite pode ser traço m arcante do U m pôster rosacruz do século dezenove, m ostrando
L eonardo à direita, com o “O G u ard iã o do G ra a l”
nivel ideal ou arquetípico, mas ninguém é excluído de alcançar
esse ideal, visto que ele requer em prim eiro lugar vontade e
esforço individuais e, depois, iniciação aos mais altos graus do
cavaleirismo do Graal.
consideram que é Jerusalém. U m historiador vê essa cidade
visionária e terrena com o o m odelo do Reino do G raal que,
para os cruzados, era um Paraíso na Terra Santa. Essa imagem
foi reforçada pelo fato de que sob o dom o da igreja havia um
Capítulo 4 peq ueno pilar de m árm ore no qual estava colocado um vaso
contendo um a pedra. Assim, a peregrinação à Terra Santa era
O lar do Graal u m a busca do castelo do G raal (Sinclair, 17).
O tema do G raa l levanta questões não somente sobre qual
é a sua natureza e q u e m cuida dele, mas tam bém sobre onde O monte da salvação
ele está. C o nsegu ir conhecer sua localização oculta e alcançar G r a n d e interesse e in citam en to foram provocados por
com peten cia ou m e re c im e n to para ter acesso a ele é um escritores sobre a literatura do G raal a respeito da localização
im portante desafio na porfía cavaleiresca. e do caráter do lar do G raal tal com o introduzido na obra
Parzival , de W o lfr a m . S u a p o p u la riz a ç ã o foi não m enos
Segu ndo alguns dos romances, o lar do G ra a l era num auxiliada pelas óperas sobre o G raal de Richard Wagner. Disse
castelo situado num a m ontanha difícil de escalar, ou num a ilha ele que o castelo do Graal se encontrava no cume de um monte
no m ar ocidental, ou n u m lago difícil de encontrar, ou em cham ado Montsalvâsche, Montsalvat, ou o Monte da Salvação.
alguma gruta, algum poço, ou algum templo, ou ainda em Falou também na estrutura e no significado do castelo do Graal
outros locais que encobriram o G raa l aos olhos dos indignos. e em como os Cavaleiros Templários eram seus guardiães. Há
Dentre esses outros locais contam-se um vale aprazível, um um local no Sul da França que despertou interesse extraor­
paraíso, um a habitação retirada, u m a capela, um a fortaleza dinário e que alguns acreditam que é o atual Montsalvâsche, a
feudal e, finalm ente, o C éu. E m muitas histórias o castelo, a fortaleza cátara de Montségur , embora ela não se pareça em
fortaleza ou o templo, está situado n u m a Terra D evoluta e o tam anh o e esplendor com o edifício de W olfram . Conhecida
reino e lar existe ou parece existir n u m outro m un do, nu m localmente como “Pog”, ela está situada nos Pireneus Franceses,
reino de fadas. O mito nos diz que aqueles que são dignos vão que por sua vez form am parte de um a área da França em que
encontrar o castelo do G raa l e o próprio G raal, “q u e r elevem um a grande mistura das culturas cristã, judaica e islâmica
sua alma a Deus, q u e r abram sua alm a para que D eus possa ocorreu na época das cruzadas.
entrar nela”. A queles que são indignos nunca vão encontrá-
lo; a busca não é para eles. Consta ainda que o buscador tem Os cátaros como guardiães do Graal
de ser chamado, ou escolhido, e só encontra o G raal pela graça Foi essa região que foi arrasada pela cruzada albigense contra
de Deus, enquanto outros dizem que o G raal não está mais na os cátaros e M ontségur era um de seus baluartes. Os cátaros,
Terra, tendo desaparecido com G alah ad no C éu. Isso ocorreu c u jo s líd e re s e r a m c h a m a d o s de perfecti , os p e rfe ito s ,
durante a última viagem de G a lah a d a Sarras, que alguns esforçavam-se para alcançar a mais alta forma de vida espiritual.
Neste particular eles se assem elhavam aos Reis do G raal. Seu de escavação p rosseg u iram p o r algu m tem po, mas nada
modo de viver era exem plar no fato de que deles era exigido esp an toso foi a n u n c ia d o . Por essa época foram tam bém
qu e p erm anecessem puros de corpo e m ente. E lem entos publicados livros por Otto Rahn, indicando o “fato” de que
cátaros entraram nos eventos descritos pelos romances do Graal, M ontségur era realm ente o castelo do G raal de W olfram em
eventos esses qu e se com param rigorosamente com os ritos Montsalvâsche. Em sua obra, Cruzada Contra o Graal (1933),
consolamentum e mamsola. M u lh e re s tam bém podiam ser ele tentou provar “que o G raal era um a relíquia ou um objeto
perfecti e E s c la rm o n d e de Foix foi u m a de suas líderes de culto dos albigenscs (Albi era um a cidade nessa região
espirituais. Até a história de W olfram sobre a esmeralda que cátara) e que inform ação de caráter cátaro estava oculta por
teria sido trazida para a Terra por anjos era um a crença catara. trás dos textos dos poemas do Graal, para evitar detecção” (Jung
A doutrina m aniqueísta sobre a luta entre as forças da L u z e as v. F., 15). N o últim o capítulo é m encionado que os romances
forças das Trevas, na qual a hu m an id ad e deveria participar ao do G raa l poderiam ter sido escritos para justificar a Ordem
lado da luz no dram a cósmico, foi também expressa em termos Templária. Parece agora qu e os Reis do G raal, os templários e
cátaros. E o G raa l dos trovadores sempre aparecia n u m facho os cátaros, estavam sendo postos no mesmo cadinho alquímico.
de luz transportado, não por um sacerdote e sim por uma
Virgem do G raal. Se M ontségur era o lar do G raal, então o S eja c om o for, as pesquisas de O tto R ah n a traíram o
G raa l estava ou ainda está oculto na área da fortaleza. Do in teresse n a z ista pela área. E sp e c u la -se q u e, d u ra n te a
contrário, assim nos é dito, deve ter sido retirado clandes­ ocupação nazista da França, as escavações alemãs que foram
tin a m e n te pelos q u a tro cátaros q u e fu giram antes q u e a feitas em M ontségur tinham o intuito de desenterrar o tesouro
fortaleza caísse e escondido n u m a caverna em algum local dos cátaro ou o p róp rio G raal. Mas nada foi encon trado que
Pireneus. ajudasse a sustentar a doutrina por trás da Fraternidade de
Reis do G raal de Himmler. Montségur conseguiu ocultar seus
G r a n d e in te re s s e foi d e m o n s t r a d o p e lo m is té rio de segredos. C u m p riu os critérios de quase inacessibilidade do
M ontségur no século vinte, desde 1931 até fins da década de castelo do G ra a l. A fortaleza fora construída n u m a terra
40 e intermitentemente depois disso. Esse interesse foi causado escarpada e deserta, em poleirada nu m a enorm e massa cônica
por um artigo da imprensa que afirm ava acreditar-se que o de pedra calcária, com acessos íngremes em todos os lados;
Santo G raal estava escondido em suas ruínas. U m a autoridade um bom lugar para m anter o G raal seguro. Se havia um Graal
francesa sobre este assunto (M. A rnau d) declarou que o G raal ali, de onde viera ele? Se era o cálice cristão original, seria de se
e outros tesouros tinham sido ocultos em algum lugar das presumir que fosse o Graal que Madalena levou para Marselha
galerias subterrâneas da fortaleza, seguros por trás de um a e que subseqüentemente passou ao longo dos séculos para os
parede de concreto maciço. U m antiquário inglês visitou o local G uardiães de Montségur. Seu destino depois que foi retirado
e logo depois declarou acreditar que algo espantoso poderia se clandestinamente daí é desconhecido. U m a história faz de seu
seguir às escavações que estavam sendo efetuadas. Os trabalhos destin o final a lg u m a g ru ta em S a b a rth e z , não longe de
Montségur. U m a outra declara que eíe foi levado através da coincidência que Bron (nome semelhante ao de Bran), parente
fr o n t e i r a e s p a n h o la p a ra os P ir e n e u s da C a t a l u n h a e de José de A rim a té ia , era tam b ém o G u a r d iã o do G raal
d e p o sita d o em se g u ran ç a no m o ste iro de Montserrat. A designado com o “Rei B ro n ”. U m a recente excursão rosacruz
cordilheira de Montserrat, algumas milhas a leste de Barcelona, do G raal explorou relevantes sítios arturianos e do G raal na
é m uito escarpada e recortada, de difícil acesso. D uas coisas área da G ales do Norte. Os visitantes notaram suas fortes
fizeram de M ontserrat u m sítio tão im pressionante quanto ligações arturianas. D entre elas estavam o distrito cham ado
Montségur. O folclore local fala n u m a conexão de Jesus ali. O em hom enagem a G w alc h m a i (G aw ain) de ruínas de Dinas
aspecto recortado das m ontanh as era atribuído a terremotos E m rys (o castelo de M erlin abandonado por Vortigern), Lago
que abalaram a região do M editerrâneo durante a época da Llydaw (lar da D a m a do Lago), o Passo das Flechas (local
Crucificação. A lé m disso, o nom e alternativo medieval dado próximo à última batalha de Artur). Todas essas denominações
ao mosteiro de M ontserrat era Montsalvat. O mosteiro seria indicam fortemente a contribuição céltica para o mito do Graal
qualificado com o templo, um local santificado para um objeto e explicam sua insistência em considerar Castell Dinas Bran
sagrado. M ontségur era apenas um a fortaleza. com o o lar do Graal.

Localizações do Graal na Inglaterra M as, se descem os desses lu gares elevad os e rem otos,
H á base para a lo c a liz a çã o dos castelos do G r a a l em podem os ouvir relatos de outros santuários para o G raal em
montanhas de outras partes da Europa. Gales tem dois locais, solo um tanto mais baixo, porém , não m enos misterioso em
um na costa sudoeste e outro no norte. U m morro íngreme se sua capacidade para m anter o G raa l oculto a olhos hum anos
ergue atrás do município de Llangollen e sustenta algumas ruínas indignos. Por exemplo, os escoceses reivindicam m anutenção
de um castelo que outrora existiu ali, denom inado Castell Dinas se não guarda do lar do Graal. Este, dizem eles, está na Rosslyn
Bran. Perto corre o rio Dee. Segundo a lenda, esse castelo era o Chapei, em Edim burgo, escondido em algum lugar em sua
lar do rei galês Bran, que era também considerado o Rei Pescador. pedra branca esculpida. Durante muitos anos perdurou a lenda
Esse nome tem origem no deus celta Bran, que possuía um de que a taça do G raa l estava enterrada embaixo da “coluna
Caldeirão de Abundância capaz de alimentar 500 pessoas, exceto do ap ren d iz” da capela. Essa coluna parece ser semelhante a
as covardes. Bran era também o rei galês do mar; e mar e pescaria duas colunas mencionadas em ritual da Franco-Maçonaria.
estão ligados. Nas águas do rio Dee, poderíamos imaginar o Rei U m descendente da família que possuía o local m andou fazer
Pescador pescando. Ademais, o Peredur Galês e o Parsifal de algumas escavações na capela, nas quais foi usado equipamento
Chrétien, o m esm o herói nas duas versões do mito, foi criado de prospecção antes de escavar. Assim esperava-se localizar e
nas matas montanhosas de Snowdonia na Gales do Norte. O possivelmente recuperar a taça.
castelo galês do G raal em Llangollen fica no lado leste dessa
cordilheira. A lém disso, Bran, como o Rei Pescador, tinha feridas Entretanto, as prospecções não revelaram a presença da taça
qu e não se c u ra va m . E, fin a lm e n te , parece m ais do q u e nas colunas nem nas paredes. C o m certeza, na escavação que
se seguiu foi encontrada uma taça, mas ela foi identificada como pantanosa, tam bém conhecida como Ynis Witrin , a Ilha de
um recipiente usado por um pedreiro do século dezessete, para Vidro. Ela só era acessível no verão e a pé. Glastonbury é o lar
conter seu lanche! (Sinclair, 86-7). Isso, porém, não arrefeceu da mística Tor, com suas estranhas peregrinações em volta de
o entusiasm o dos verdadeiros crentes, qu e con tin u aram a sua e le v a ç ã o c ô n ic a e m e n ç ã o de seus m u it o s tú n e is
assegurar que o G raal ainda estava ali. E eles podem estar subterrâneos. O Poço do Cálice, próximo à sua base, tem águas
certos, se o símbolo do G raa l é alterado para significar um a curativas. Algum as histórias sugerem que o cálice sagrado, seja
m ensagem secreta codificada no sim bolism o dessa capela o Graal ou não, está escondido em suas profundezas. U m broto
singular. da vara de José de Arimatéia, que se tornou a árvore de espinhos
de W earyall Hill, ainda cresce (isto é, um enxerto de árvores
Mais para o sul, na Inglaterra, o trabalho de clérigos cristãos, sucessivas) no terreno da catedral. Portanto, tudo isso, além
da lenda arturiana e da história de José de Arim atéia, tornou da menção de linhas “ley” passando por G lastonbury e da fama
Glastonbury m ais p o p u la r c o m o o L a r do G r a a l. Ela é do mosteiro que uma vez lá existiu como um importante centro
reconhecida com o a mística Avalon e o local de repouso do espiritual, da época de A rtu r até H e n riq u e VIII, fez com que
G raal, não importa onde este tenha estado ou por onde tenha ela se tornasse um local sagrado com associações ao Graal.
viajado antes. N a lenda arturiana, Avalon é a ilha sobrenatural G la sto n b u ry não tem um castelo ou tem plo do G raal. Mas
no oeste em que a espada de A rtu r foi forjada e para a qual todo o distrito deve ser visto com o um complexo natural que,
Artur, após ter recebido seu ferim ento fatal em C a m la n n , foi por topografia, conexão geom ântica e atividade h u m an a,
levado por três rainhas, para ser curado. Na língua céltica, t o r n o u - s e u m s u p o s to p o n t o de e n t r a d a p a ra o r e in o
Avalon sugere um a terra de maçãs. U m relato de G erald de Sobrenatural do G raal. Os viajantes atuais, ao dirigirem pelo
Gales ( 1 1 7 0 d.C.) confirm ou a descoberta de um a C r u z com distrito de “A v a lo n ”, podem ter o sentimento de estarem sendo
o nome de Artur, n u m a sepultura que se supunha conter os absorvidos de u m m u n d o material para um m undo etéreo. A
restos de A rtu r e G uinevere, no cemitério de Glastonbury. U m pessoa tem de explicar esse estado de espírito em termos de
outro relato de um contem porâneo referiu-se ao enterro de um “quadro m e n ta l” condicionado pela literatura romântica
A rtu r na ilha de Avalon. Isso contrasta com a lenda de que ou encontrar explicação em termos metafísicos ou místicos.
A rtu r absolutamente não foi enterrado e sim m antido num a
gruta, aguardando o retorno para a Inglaterra q u a n d o ela A hipótese oriental
precisasse dele. Mas, a despeito das dúvidas quanto à exumação E muito intrigante a descrição do castelo ou templo do Graal
do corpo de A rtu r em G lastonbury, o sítio na Abadia atrai feita por um poeta alemão, Albrecht von Scharfenberg, em Die
milhares de peregrinos todos os anos! Jungere Titurel (12 7 0 d.C.). Ele situa o Lar do G raal num a
m ontanha de pedra ônix e descreve em detalhe sua aparência
Em outras épocas, a planície de G la sto n b u ry foi inundada e sua construção. Seria de esperar que o autor desse romance
no inverno e se tornou um a trem eluzente e nebulosa área tivesse sido rico em imaginação ao descrever o maravilhoso
palácio a d e q u a d o para abrigar a qu ele notável objeto. N o apóia a teoria, além de outros registros históricos, de que o
entanto, sua im aginação deve ter cum prido apenas u m a parte mito do G raal pode ser de proveniência oriental. Mas isso é
p e q u e n a n isso . O u ele d e m o n s t r o u u m a lto g r a u de apenas u m lado da história.
clarividência, ou obtivera um a descrição do tem plo a partir de
um te m p lo re a l em a lg u m o u t r o lu g a r. H á ta m b é m a Templos estelares megalíticos
possibilidade de que esse tem plo tenha sido constelado em sua Precisam os v o lta r ao E xtrem o Oeste da E u rop a, para
m ente subconsciente, em ressonância com um a concepção e n c o n tra r u m protótipo a n te rio r do tem p lo do G raa l. O
m ental sem elhante dos construtores originais de um templo conceito místico do templo do Graal pode remontar ao período
real que tenha existido na Pérsia de princípios do século sete, dos construtores megalíticos (600 0 -20 0 0 a.C.). Foi a época dos
d e n o m in a d o “T ro n o de A r c h e s ”. Esse tem p lo era “u m a construtores de Stonehenge, Avebury, N ewgrange e outras
estrutura em form a de m andala, representando o paraíso ou obras, descritas variadam ente como túm ulos, observatórios e
um m u n d o espiritual transcendente, cujo protótipo” pode ser templos estelares transitórios. Nesses e em outros monumentos
visto “no santuário pársi do Fogo Sagrado, em S h iz ” (Jung v. de pedra, os símbolos básicos da Terra (o quadrado) e do céu
F., 107). A região onde Sh iz está situada tem um a atmosfera (o círculo) estavam combinados para representar a união, em
in co m u m . Parece focalizar a lu z mais bela da Terra, que tempos apropriados, do deus do céu e da deusa da terra. As
a m eniza a dureza da paisagem e dá a impressão de fazer as pessoas se envolviam com esses monumentos numínosos e seus
m ontanhas levitarem. O calor, a qualidade da luz e a secura, ritos sagrados. Os locais escolhidos para a construção dessas
parecem am ortecer os sentidos e dar lugar a um outro tipo de estruturas não eram fortuitos. Esses povos neolíticos antigos
percepção, um a percepção mística. Nesse local foi construído eram suficientemente desenvolvidos em geometria, matemática,
o Trono de Arches. Prova arqueológica e relatórios de fontes astronomia e geomancia sagradas, para poderem encontrar
contemporâneas m ostraram um a impressionante semelhança locais na superfície da Terra em que as energias terrestres
da estrutura real com a visualização de Albrecht. “T inha um a estivessem fortemente focalizadas. Seu objetivo era atrair as
cú p u la coberta de o u ro e cravejada de pedras azuis para energias de corpos celestes. N ewgrange nos fornece o mais
representar o firm am ento. Ali havia estrelas, Sol e Lua, mapas dramático exemplo desse triplo contato sagrado entre céu, terra
astronômicos e astrológicos esboçados com jóias, balaustradas e seres humanos. N o alvorecer do solstício de inverno, um feixe
cobertas com ou ro , escadarias e ricas tapeçarias tam b ém de luz atravessa a clarabóia de um a longa passagem para o
d o u r a d a s ” (M a tth e w s, 1.23). A lb re c h t tinh a descrito seu imenso templo da colina ou estelar. Lentamente ele ilumina de
tem plo nu m a m ontanha de ônix que era conservada polida no modo m uito suave a passagem longa e escura como breu e se
c u m e e tin h a u m lago ao seu lado. O te m p lo real fora m ove até a câmara central com teto em modilhão. U m a vez
construído nu m a cratera cuja boca se transform ara nu m lago. nessa câmara, seu brilho é intensificado pelo reflexo de cristais
O teo r m in e r a l das águ as tin h a to rn a d o as praias s u fi­ de qu artzo nas paredes. O objeto ritualístico central é uma
cientemente escuras para terem a aparência do ônix. Tudo isto pedra entalhada na forma de um a fonte ou u m a grande taça,
contend o ob viam ente algo sagrado qu e figurava no ritual Upanishad). D e m aneira análoga, Teresa de Ávila nos exorta a
associado a esse evento anual. Será que precisamos dizer o centrarmos nossa vida usando a imagem do castelo (O Castelo
q u e e r a ? P o d e r ia te r sid o o p r o t o - G r a a l ! E m caso de Interior). A alma tem de viajar desde os ambientes mais externos
emergência, a câmara central podia acom odar 30 pessoas — do castelo, e n fre n ta n d o toda sorte de dem ônios, antes de
com o o gru po rosacruz da últim a excursão do G raal verificou alcan çar o sétimo, qu e é o âm ago. A viagem é por vezes
qu and o m editou em total escuridão e se deixou perder no angustiante, cheia de m om entos desesperadores, mas o final é
prodígio desse m om en to místico. Foi depois de um a tal visita compensador. A sétima câmara é onde a gema é encontrada,
q u e a g e n te pô de re a lm e n te e n t e n d e r a p r o f u n d e z a de onde a alma h u m an a se funde na A lm a D ivina ou Universal.
pensam ento e sentim ento que regeu a construção de templos
magníficos de algum tipo. E de se com partilhar com John Essas descrições do Castelo do G raal e do Reino do G raal
M atthew s seus pensam entos sobre o Tem plo do G raal. “Em nos revelam, através de nossa imaginação e de um a m udança
sua mais com plexa e com pleta fo rm a ”, diz ele, “o tem plo era de consciência, com o o “O u tro M u n d o ” invisível (o m un do
um espelho cósmico que se tornava um iniciador ao divino que achamos tão difícil perceber) e o m un do visível, tangível,
mistério da Criação, o mais perfeito objeto da Busca (quer dizer, que entendem os com o realidade, podem de algum m odo se
da busca mística da alma) ... ele se conform a ao arquétipo fu n d ir n u m só na Busca, e isto até de repente e in espe­
tradicional” (11.73). radamente. Esse m om ento de percepção “interior” acontece
na m e d it a ç ã o , e m s o n h o s , ou q u a n d o c o n t e m p la m o s
Que é o castelo do Graal? c on cen trad am en te algu m a superfície branca ou um poço
Podemos agora perguntar: como é que o Cavaleiro do Graal sereno, bem como nos mom entos em ocionalm ente edificantes
se encaixa em tudo isso? Sabem os que o herói do rom ance do que às vezes vivenciamos. Esta é um a verdade que foi infusa
G raal tenta encontrar o Reino do G raal cujo castelo ou templo nos romances do G raal. Estamos todos na fronteira de dois
é onde se encontra o Graal. Todas as suas aventuras na viagem mundos, quando partimos para a busca. Alguns a cruzam mais
são a projeção de um a jornada espiritual interior. O “L a r” pode cedo do que os outros, do inferior para o superior, e depois
ser um a m ansão da alm a onde o G raal da transform ação deve voltam para c o n ta ra história. Outros ficam na fronteira e não
ser encontrado. Se nos colocamos no lugar do C avaleiro do conseguem cruzá-la. Assim nos é ensinado pelos exemplos de
G raal, cada um de nós pode se ver com o o tem plo (nós, como G a la h a d , Parsifal, Bors, G a w a in , L a n c e lo t e dos dem ais
deveríam os ser) e o G raa l com o um a jóia nesse templo. “N o cavaleiros. Cada um dos Cavaleiros da T ávola Redonda era
centro do castelo de B rahm a, nosso próprio corpo, há uma um templo de algum tipo e, oculto em cada qual, havia o Graal.
p equena pedra... e dentro pode ser encontrado um pequeno G alah ad e Parsifal tiveram êxito, um ascendendo ao Céu e, o
espaço. Deveríamos descobrir quem mora ali e querer conhecê- outro, tornando-se Rei do G raal. Bors, tendo visto o G raal,
lo... pois todo o universo está nele e ele mora no nosso coração” voltou para contar a história. G a w a in e Lancelot, a despeito de
(c ita ç ã o de M a t th e w s , (2) 84 , e x tr a íd a de Chandhogya suas grandes virtudes, não conseguiram fazer os sacrifícios
necessários. E n q u a n to os rom ances do G ra a l po dem nos
informar acerca do caminho para o Lar do Graal, é bem possível
que possam tam bém nos inspirar a aceitar o desafio de trilhar
a m esma senda de aventura, incerteza, desespero, esperança,
excitação e m aravilham ento, para alcançar o Reino do Graal. Capítulo 5
Mistérios e o Graal
IPSÕE D u r a n t e v á r i o s s é c u lo s a n t e s q u e a p a r e c e s s e m os
,EIT p rim e iro s relatos escritos da le n d a do G r a a l, a E u ro p a
v iv e u u m a t e n e b r o s a era de t u m u l t o e d e s e s p e ro . As
con d iç õe s de vida em toda a E u ro p a e ra m pobres e a vida
e s p iritu a l do p o vo estava em nível baixo. A E u ro p a estava
dividida em um n ú m e ro in d e te rm in a d o de feudos e estados
f e u d a i s c o n c o r r e n t e s . N ã o h a v i a e n t i d a d e s p o líti c a s
n a c io n a is. Por e x e m p lo , o m e sm o s e n h o r p o d e ria m a n te r
terras na F rança e no S a n to I m p é rio R o m a n o . R einos e
p rin c ip a d o s m e n o re s estavam c o n s ta n te m e n te em g u erra,
de m o d o q u e fro n te ira s te rrito ria is e ra m re stab elecid as a
um te r r ív e l c u sto em v id a e s o fr im e n to h u m a n o s .
V i o lê n c ia , in s e g u r a n ç a , m is é r ia e i n t o le r â n c ia , c a r a c ­
t e r iz a v a m o estado da sociedade.

A única autoridade centralizada, cobrindo um a extensa área


n u m sen tid o e sp iritu a l, era a Igreja de R om a. M as sua
capacidade para m oderar excessos civis e políticos era limitada
devido a diversos fatores. Ao lançar as cruzadas contra o Islã,
a Igreja R om ana viu nisto um a oportunidade de dirigir as
energias de grupos políticos beligerantes da Europa contra um
D e s e n h o de C a m d e n fe ito em 1 6 0 7 , da c ru z de c h u m b o
inimigo comum.
encontrada n um tú m u lo q ue se su p un h a con ter os restos m ortais
de A rtu r e G u in evere, no cem itério de G lastonbury. A inscrição
A p ó s a m orte de M a o m é em 6 3 2 , o Islã se e xp a n d iu
trad u zid a d iz: “A q u i está sepultado o fam oso Rei A rtu r na Ilha de
A valon ”. rapidamente, N o Oriente, a Terra Santa foi conquistada no
século sete e m u ç u lm a n o s tran spu seram postos avançados A p a rtir dos séculos 11 e 13, as c ru z a d a s, salvo p o r seus
do envelhecido Im pério B izan tin o. Para o O cidente, o Islã se e x c esso s, f i z e r a m m u it o p a r a c o n s e g u ir a lg u m a s o li ­
A
propagou rapidam ente através da Africa do N orte e, por volta d a r ie d a d e p a n - e u r o p é ia , r e d u z i r c o n flito s in te stin o s e
do século oito, tin h a conq uistad o g rand e parte da Espanha. a u m e n t a r o fe r v o r religioso. U m a re n o v a ç ã o do esp írito
D a í os exércitos islâmicos se a rrem essaram contra a França h u m a n o e u m n o v o p e r ío d o de in te n s a a ti v i d a d e em
através dos Pireneus. In icialm en te repelidos pelos francos e p e n s a m e n t o r e lig io s o e v id a p o lític a c o m e ç a r a m a se
mais tarde p o r C a rlo s M agno, os m u ç u lm a n o s acabaram m anifestar, c om o e vid e n c ia d o na arte e na a rq u ite tu ra , em
recon q u ista n d o grand e parte da E spanha. N o século nove, lit e r a t u r a e e r u d i ç ã o , b em c o m o em m o v im e n to s q u e
as Ilhas Baleares, S a rd e n h a , C órsega e Sicilia, caíram no c o n s titu ía m um desafio para a d o u t rin a religiosa.
d o m ín io dos m u ç u lm a n o s, que in va d iram repetidam ente a
Itália, sa q u e a n d o R om a e sitiando o Papa em sua própria A o n ív e l m ís tic o , c e n tr o s de p e n s a m e n t o g n ó s tic o ,
fortaleza. h e r m é t ic o e c a b a lís t ic o p o n t i l h a r a m a p a is a g e m . Em
g ra n d e parte, o c o n ta to com o Islã —d e c o rre n te do ím peto
da e x p a n s ã o árabe r u m o à E u ro p a — foi útil em p ro v o c a r
Por volta do século on ze, a E uropa cristã, em bora ainda
tais d e s e n v o lv im e n to s . D u r a n te as c ru z a d a s , c avaleiros
dividida, to rn o u -se su ficien tem en te forte para iniciar um a
c r is tã o s e s t a v a m na lin h a de fr e n t e do c o n f lit o e n tre
contra-ofensiva. Reis de L eón, C astela, A ragão e N avarro,
c ris tia n is m o e is la m is m o . T odavia, fo ra m feitos contatos
auxiliados por cavaleiros franceses, recap turaram quase a
tam b ém n u m nível mais alto entre os cavaleiros tem plários
m e ta d e da E s p a n h a m u ç u lm a n a . C a v a le ir o s fra n c e se s
e as o r d e n s de c a v a le ir o s do Islã. C o n h e c i m e n t o em
f u n d a r a m o re in o de P o rtu g a l. O s m u ç u lm a n o s fo ra m
p rim e ir a m ã o das antigas escolas de m istérios tais com o
expulsos da Córsega. E um aven tu reiro no rm a n d o , Roger de
so b rev iv ia m na Palestina, bem com o de ciência e a lq u im ia
H auteville, conquistou a Sicilia em torno de 1091. A prim eira
árab es e práticas m ísticas sufi, t o rn o u -s e d isp o n ív e l aos
c ru z a d a para recu perar a Terra Santa com eçou em 1096.
c r u z a d o s , q u e fo ra m in flu e n c ia d o s p o r esses contatos. O
re su lta d o m ais im p o rta n te do c o n ta to dos c r u z a d o s com
Os cruzados os árab e s na P a le s tin a e com e stad os m u ç u lm a n o s na
Nessas guerras de um a fé contra outra, esperava-se que o E u r o p a O c id e n t a l foi a a b e r tu r a de u m c a n a l de c o ­
rein o esp iritu a l de D e u s na Terra fosse mais fo rtalecid o m u n ic a ç ã o e n tre as d u as c u ltu ra s religiosas op on e n te s.
alistando as forças com binadas do poder tem poral em suas A m b a s e ra m in fle x ív e is em m a té ria de d o u trin a . M as, ao
fileiras. O símbolo unificador era a Cidade Santa de Jerusalém n íve l m ístico , d e s fa z ia -s e a se p ara ç ão das três religiões
—na realidade, santa para três religiões competidoras. Mas o m on o te ísta s —islam ism o , ju d a ísm o e cristia n ism o —ten do
objetivo era assegurar que Jerusalém fosse m antida dentro da todas u m a fo nte c o m u m , e elas estava m se a p ro x im a n d o
congregação cristã. u m a s das o u tra s n o v a m e n te .
Uma rica mistura de culturas m u ç u lm a n a , na E spanha, pode ser claram ente observada
D u ra n te a Idade M é d ia , a E sp a n h a era um po nto de n u m a igreja tem plária de Segóvia, não longe de Toledo, que
e n c o n tr o das três religiõ es e das três visões do m u n d o . exibe um quadro de um m uçulm ano em atitude de prece.
Cristãos, m u ç u lm a n o s e ju deus conseguiam conviver sob
governantes tolerantes e floresceu um a erudição de caráter Essa m u d an ç a de cenário na E urop a constituiu um sério
cosm opolita. Esta atitude se propagou gradativam ente para d e s a f ío p a ra a Ig re ja , q u e n o fin a l do m ilê n i o h a v ia
outras partes da E uropa. Troyes, na França, foi um desses f o r t a l e c i d o su a p o s iç ã o c o m o a r e c o n h e c i d a sede da
centros, onde C h rétie n de Troyes escreveu seus rom ances c r is t a n d a d e . E n t ã o , n o v o s d e s a fio s , n o v a s “h e r e s ia s ”,
s o b r e L a n c e l o t e P a r s i f a l , d a n d o ê n f a s e a id e a i s de estavam ca u sa n d o m uita discórdia: havia cátaros com sua
cavaleirism o, a m o r palaciano e iniciativa individual. Troyes d o u trin a m a n iq u e ís ta , te m p lá rio s qu e estavam s u ­
foi tam b ém u m centro de p e n sam en to cabalístico, um lugar p o sta m en te p ra tic an d o ritos pagãos, o ím p e to fe m in in o do
on d e os “m o n g es b r a n c o s ” ou cistercienses fo ra m e sta ­ gnosticism o associado ao culto de M ad alen a, os alquim istas
b e le c id o s e c u jo líd e r, S ã o B e r n a r d o , p o s s i b ili ta r a ao e suas práticas m isteriosas e o cristianism o ou o m isticism o
m o v im e n to te m p lá rio estabelecer-se sob a a u torid a d e da do G raa l que se difundia pelos trovadores e poetas nas cortes
Igreja. de toda a E urop a.

L ang uedoc e Provença, no Su l da França, eram regiões E m reação defensiva a esses m ovim entos, a Igreja tomou
onde m ovim en tos de “nova e ra ” pareciam estar substituindo várias providências, dentre as quais a de elevar e estim ular o
Rom a com o um centro de influência espiritual. Essa era a status de Maria como alvo de adoração c, ocasionalmente,
terra dos cátaros, rosacruzes, cabalistas, do culto à V irgem elim in ar alquimistas individuais — alegando que eles eram
N egra, dos gnósticos e do m isticism o e u ro p eu e sufi. Os feiticeiros. E ntretanto, os poetas do G raa l não eram nem
trovadores, que saíram dessa região, difu ndiram algumas das o fic ia lm e n te p e rd o a d o s n em c o n d e n a d o s , d evid o à sua
idéias “hereges” da m esm a p o r toda a E uropa. N a Espanha, habilidade em se manterem no fio da navalha entre a ortodoxia
T o le d o e c id a d es p r ó x im a s t in h a m b ib lio te c a s i m p r e s ­ e a heresia. Isto pode ser constatado no grupo de literatura do
sionantes, on d e m u itos textos clássicos sufis e hebraicos G raal denom inado Ciclo Vulgata, obra de monges cistercienses
podiam ser encontrados. Segu ndo W olfram von Eschenbach, que trabalhavam tanto temas cátaros quanto ortodoxos no teor
qu e escreveu a versão herm ética de Parzival , a fonte de sua dos romances.
obra era um do cu m en to e ncon trado em Toledo, em escrita
“pagã”. Em m uitos dos prédios públicos de Toledo e das Já ch a m a m o s atenção para o escrito a n ô n im o Perlesvaus e
igrejas e catedrais pode-se ver evidência de um a bem sucedida o P arziv al de W o lf r a m . A m b a s estas ob ra s c o n t in h a m
m i s t u r a de e s t ilo s c r is t ã o s e m u ç u l m a n o s e m a r te e e l e m e n t o s c r is t ã o s e t a m b é m h e t e r o d o x o s e p a g ã o s .
a r q u ite tu r a . A to le râ n c ia de am bas as c u ltu ra s, cristã e R e fe rê n c ia s célticas e o rie n ta is , aspectos de a stro lo g ia ,
gnosticism o, h erm etism o e dram as iniciáticos secretos, estão sim plesm ente parte de uma coletânea geral de mitologia local.
habilm ente entretecidos nas narrativas. N o entanto eles se tornaram mais importantes porque tinham
um duplo intuito em suas formas reconstituídas e foram lidos
Novo espírito em religião e filosofía e relidos por toda a Europa.
A essência desse n o vo espírito em religião e filosofia está
bem expressa no c o m e n tá rio de M a lc o lm G o d w in sobre a A filosofia subjacente aos contos heróicos dos cavaleiros
história de Parsifal. “Parsifal”, diz ele, “encarna a busca pelo do G ra a l era um a declaração a favor de um a alternativa para
h o m e m m e d ie v a l de a lg u m c o n h e c im e n to su p e rio r q u e a vida especificada nos ensinam ento s da Igreja. Esse estilo
desse a lg u m a im p o rtâ n c ia e a lg u m sentido à vida, o q u e a de vida alternativo advogava responsabilidade pessoal na
Igreja era in ca p a z de o fe r e c e r ” ( G o d w in , pág. 176). Essa direção da vida individual, m ediante a aplicação de esforço e
essência pode ser descrita com o um a espécie de cristianism o z e lo , bem c o m o o uso do liv re -a rb ítrio . Para r e a liz a r o
do G r a a l, fo c a liz a d o em m istérios esotéricos, ao contrário propósito d ivino da h u m an id ad e , o in d iv íd u o deveria ser o
d o e n s i n a m e n t o da Ig re ja , em q u e a fo r m a e x o té r ic a fator de seu próprio destino e não apenas o receptor passivo
im p o rta va mais. A s duas m aiores am eaças de d e n tro da da g r a ç a de D e u s , a se r r e c e b i d a c o m o u m d o m ou
Igreja toram resolvidas em fa v o r dela q u a n d o , em 12 4 4 e conq uistad a pela fé e a prece. C o m o disse um escritor: “Os
1 3 0 8 , re sp e c tiva m e n te , os cataros e os tem p lário s foram Cavaleiros da T ávola Redonda se lançaram em busca do Santo
a n iq u ila d o s c o m o g r u p o s p ú b lico s e o r g a n iz a d o s — em Graal... eles assumiram um a missão; não ficaram em C am clot
am bos os casos isso foi feito pela força das arm as e pela o ra n d o para que o G ra a l viesse a eles” (Knight, pág. 163).
a u t o r i d a d e p a p a l. N o e n t a n t o , su a s id é ia s c p r á tic a s C la r a m e n te , os a utores de obras sobre o G r a a l estavam
persistiram em outras formas e outros lugares, sigilosamente, apresentando um a visão diferente de “salvação” e de com o
c o m o q u e p o r a lg u m a n e c e s s id a d e ou i n e v it a b ili d a d e ela deveria ser alcançada.
histórica.
Galahad, o herói-cavaleiro
O qu e é descrito com o tradição iniciática nos m oldes das A história de Parsifal orienta o ou vinte ou leitor para um a
antigas escolas de mistérios sobreviveu na E urop a em várias compreensão da vida, de certas verdades místicas relacionadas
form as, c o m o havia so b revivid o essa trad ição no passado, com nascim ento, m orte e regeneração. A ssim com o o Cristo
em t e m p o s de i n t o l e r â n c i a e p e r s e g u iç ã o . O p a r e c e r era um m odelo para todos os cristãos, Parsifal representava o
apresentado neste capítulo é o de alguns escritores no cam po m e lh o r e x e m p lo de h o m e m m e d ie v al. C o m m a io r cris-
de estudos esotéricos: o de q u e o m ito do G r a a l era um a tianização do mito, Parsifal foi substituído por G alah ad, para
projeção em literatura dessa tradição secreta. T ivesse o mito to rn a r o herói um a figura mais parecida com o Cristo. Em
do G r a a l sido re co n stitu íd o a p a rtir de folclore mais antigo q u a lq u e r dessas versões, porém , seu efeito nas pessoas da
ou de m itos tribais, os m itos do G r a a l teriam se to rn a d o época deve ter sido considerável. As histórias tin h am um
secreto p o d e r de tra n sfo rm a ç ã o . P od er-se-ia im a g in a r o Jorn ad a In terior para o inconsciente, as m ensagens dele
tr o v a d o r e o m innesinger fa z e n d o o pa p el do “ m e s tr e ” recebidas, os trabalhos da im aginação, o refin am en to dos
in iciador c o n d u z in d o o “n e ó fito ” (o leitor ou ouvinte) pelas sentim entos do iniciando, a exploração do m u n d o interior e
alegrias e as provas da jornada. O iniciando é espiritualmente as reações a ele, e a expansão de sua consciência no espaço.
dirigido. E le po de se se n tir ao final da jo rn a d a “nascido O grau mais antigo de “g u erreiro” ou “so ldado” é substituído
pela segu nd a v e z ” e se c o n s c ie n tiz a r de q u e está na posse pelo de “ca va leiro”; trata-se do C a v a le iro do G raa l, qu e põe
de certos segredos. justiça no m u n d o pelo uso da espada judiciosa. O n d e um
grau costum ava ser “persa” ou “egípcio”, temos um Parsifal
M u ito s escritores q u e fiz e ra m pesquisa sobre o m ito do sem nom e recebendo seu nome em algum m om en to de sua
G ra a l chegaram a essas conclusões. Foi G . A. H ein rich (em vida, n u m lam pejo intuitivo; ele passa a ter um a identidade
Parzivale Wolfram von Eschenbach) q u e m prim eiro observou através da “conversão pelo so frim en to ”. O leão encon trado
q u e a q u ilo q u e Parsifal v iv e n c io u foi m enos um a série de p o r G a w a in , alter ego de Parsifal, sim boliza a aquisição de
a v e n tu ra s do q u e urna serie de iniciações. Jessie W eston controle consciente sobre seus preconceitos inconscientes.
e x p lo ro u a idéia do m ito c om o urna nova e n cen ação de O mais alto grau era a C o ro a ou Realeza do G raal.
antigos ritos agrários. E foi W H. N itze q u e m a firm o u qu e
os le it o r e s m a is a d i a n t a d o s dos r o m a n c e s “ p o d e r ia m À guisa de c om en tário final é interessante considerarm os
id en tific a r um h ip ertexto p o r palavras ou gestos secretos as in ten ções (até o n d e p o d e m o s in te rp re tá -la s) e idéias
q u e só podem ser aprend idos por iniciação” (H arrison, pág. a p re s e n ta d a s nos ro m a n c e s do G r a a l de dois dos mais
9 3). im portantes autores, quais sejam, C h rétien de Troyes {Lenda
do G raal , c. 118 0 ) e W o lfra m von Eschenbach (Parzival c.
M a is r e c e n t e m e n t e , T r e v o r R a v e n s c r o f t a p o n to u os 1 2 1 0 ) . A m b o s eram , fig u ra d a m e n te fa la n d o, m estres de
sím b olos q u e a p a recem na historia de Parsifal com o urna in s t r u ç ã o m e d ia n te d r a m a ro m â n tic o . A m b o s e stav a m
c h a v e r e v e l a d o r a d o m é t o d o d a s e s c o la s i n i c i á t i c a s co m u n ic an d o alguns “segredos” dos mistérios relacionados
trad icion ais, ou seja, da passagem do in ic ia n d o por sete c o m o p r o p ó s i t o e o d e s t i n o da h u m a n i d a d e , a c o r ­
g rau s de progresso r u m o à ilu m in a ç ã o . D e ve-se no ta r qu e, respondência da vida com os ciclos da natureza e a mensagem
q u a n d o se faz esta c o m p a ra çã o , os sím bolos na Busca do de retorno ao hom em prim ordial. N o poem a de C h rétien, a
G r a a l não são idênticos e sim sem e lh a n te s aos das antigas jornad a da alm a ru m o ao G raa l foi representada com o uma
escolas de m istérios. R epresentam mais a m p la m e n te as busca individual. O indivíduo luta pela inteireza (para u sa ra
e xperiências do in ic ia n d o à m edid a qu e ele passa do estado linguagem da psicologia profunda), isto é, pelo G raal. A luta
de to la in o c ê n c ia p a ra o da p le n itu d e de c o m p r e e n s ã o era necessária para sanar as cisões na psique do indivíduo, a
m ística. A lg u n s graus são representados por aves - o corvo , fim de alcançar auto-realização ou cura espiritual. O mesmo
o pavão, o pelican o, a fênix e a águia — a fim de in d ic a r a se dava com o herói de W o lfra m — as cisões podiam ser
id en tific a d a s c o m o as q u e o c orrem entre a n a tu re za e a misticamente desenvolvido, proveniente de todas as terras e
“su p e rn a tu rez a ”, entre a Terra e o C éu , entre a ilusão e a cu ltu ra s, criado na trad ição iniciática e rep resen ta n d o a
realidade. O G raa l era o ponto de conciliação ou conjugação vanguarda do progressivo desenvolvimento da humanidade na
desses opostos. senda mística.

W olfram não estava menos interessado no indivíduo do que Era esse aspecto místico que constituía o “mistério” que
Chrétien, mas ampliou seu horizonte. Isto estava mais de acordo W agner tentou apresentar nas óperas do G raal, com sucesso.
com essa orientação esotérica mais enfática. Ele queria salvar a A percepção visual da busca pelo indivíduo no “centro” delas,
espécie h u m an a e via o indivíduo com o partícipe em algum m agnificam ente dram atizada, com toda a força do recurso
propósito cósmico. E, casualmente, isto estava em harm onia musical, era alusiva à história bíblica da queda e da redenção
com o e n s in a m e n to da Igreja qu e desen corajava a busca da hum anidade. Em termos da essência de q u a lq u er religião,
individual e direta. Mas, para W olfram , o sistema fechado de a história de Parsifal representa a hum anidade num a senda de
um a té não bastava. A Busca do G raal era para a hu m an id ad e retorno à sua própria divindade. Psicologicamente, demonstra
com o um todo, com eçando com um a conciliação das três para nós todo o “processo do cam inho interior de reintegração,
religiões an ta g ôn icas — c on cilia çã o essa q u e tran scen dia da im plantação do novo self no v elh o ” (W ilm shurst, pág. 6).
diferenças doutrinárias ao nível místico. Em essência, esse era Em termos místicos, “tanto o verdadeiro herói quanto o místico
o jeito do a lq u im is ta , do cabalista e das antigas escolas têm de m orrer para seus egos, para a idéia de q u em eles são, a
iniciáticas. fim de renascerem como algo mais ou algo m a io r” (G odw in,
pág. 228).

A q u i é preciso tam bém esclarecer um equívoco. A idéia de


W o lfram de qu e os G uardiães do G raa l eram “criados para a O tema deste capítulo, Mistérios e o G raal, pode ser visto
vida p u ra ” e sua tendência para enfatizar a importância do c o m o u m a aplicação do p o d e r sim b ó lic o do G r a a l para
fator ancestral (isto é, da linhagem familiar) foi mal interpretada transform ar indivíduos e a hu m an id ad e como um todo. Seu
p o r a lg u n s . A m a is n e f a n d a d is t o r ç ã o o c o r r e u a p ós a m aior mistério está em que ele tem essa influência tão grande
apresentação da m ensagem de W o lfram por Richard Wagner, na nossa psique. D irigim o-nos para fora e para dentro a fim
em sua trilogia lírica baseada nas sagas do G raal. Q u a n d o de com preender o segredo do Graal; se conseguimos conhecê-
A d olp h H itler assumiu o poder, distorceu o tema da liderança lo, esse c o n h e c im e n to é in c o m p a rá v e l. Pode ser m enos
espiritual para adaptá-lo às suas próprias teorias de supe­ misterioso quando, com esforço, chegamos a saber que estamos
rioridade racial. C o m o sabemos, a conseqüência foi desastrosa. participando no mistério e, com isso, a desfrutar o máximo
A com preensão correta do esoterismo de W olfram identifica contentam ento em estarmos cônscios de nossa contribuição
os G u a r d i ã e s do G r a a l c o m o o g r u p o m ais a d ia n ta d o , para um a vasta energia que m olda o universo. Esse conhe-
cim ento não pode deixar de dar ao individuo o poder de atrair
to d a a h u m a n i d a d e a b u s c a r o r d e m e s i g n i f ic a d o na
com plexidade da vida neste m undo.

Capítulo 6
O Graal na alquimia

O capítulo anterior, Mistérios e o G raal , explorou o tema do


m ito do G r a a l c o m o urna parte didática da trad ição de
misterios. E m geral, os poetas do G raal escreveram suas obras
para entretenim ento; o fruto de sua genialidade estava aberto
a todos, mas sua real m ensagem era velada em mistério. Não
obstante, ela era menos misteriosa para aqueles que tinham
d is c e rn im e n to . Os d iv u lg a d o re s dos m isté rio s e ra m os
trovadores, qu e levaram os contos a muitas cortes.

O período de máxima produção em literatura do Graal (c.


1170-1210) teve o seu último bruxuleio com a historia Die Jungere
Titurel (1270), por Albrecht von Scharfenberg. E somente três
obras fundamentais importantes entraram no panorama histórico
após o século treze. Foram os poemas de Thom as M alory (Moríe
d ’A rthur, 1485) e Alfred Tennyson {Idilios do Rei , 1856-74), e a
terceira consistiu nas óperas místicas de Richard W agn er
compostas no final do século dezenove.

Wolfram von Eschenbach como alquimista do Graal


Embora o alto período da literatura do G raal tenha passado,
não foi perdido o contato entre o misticismo do G raal, que
c a ra c te riz a v a a lite ra tu ra , e a q u ilo q u e c o n stitu ía mais
profundam ente sua fonte e seu plano de base, a tradição secreta
X ilo g ravu ra de 1583: O U n iverso E m ergindo do G ra al dos mistérios. O movimento do Graal simplesmente cedeu lugar
(D e um M S no Museu M etropolitano de Arte)
ao m ovim ento alquimista. A ponte entre as duas formas de
expressão mística ou espiritual ocorreu com a obra do gênio simbolizam o Graal, tais como apareceram em diferentes relatos
hermético, W olfram von Eschenbach, que, em seu Parzival , dos romances e na oficina do alquimista, estavam associados
reconstituiu o mito do G raa l com um a bem sucedida mistura ao processo iniciático: travessa, taça ou cálice, cofre ou pedra,
de alqu im ia e misticismo europeus e orientais. eram análogos ao cadinho, ao matraz ou alambique. O conteúdo
em ambos os casos era um a substância (ou substâncias) em
A alquim ia, tal como popularm ente entendida, dedicava-se
transformação, a que eram acrescentados o fogo da experiência
à transm utação quím ica de metais em material de m e lh o r
e a jóia da sabedoria, as partes necessárias do programa de
qualidade — sendo o ouro o metal “mais pu ro”. Para alguns
elevação de consciência do iniciando. McLean observa que cada
m embros do m ovim en to alquím ico, porém , o interesse pela
forma da busca dos cavaleiros do G raal podia ser vista como
busca de ouro mediante processos químicos era provavelmente
cum prindo um papel importante na elevação da humanidade:
u m su b te r fú g io q u e o c u lta v a o tra b a lh o do a lq u im is t a
a travessa proporcionava nutrição espiritual, o cálice oferecia
transcendental. Este se interessava pela mudança espiritual em
redenção ou graça e a pedra trazia ilu m in a ç ã o ; e “esses
seu próprio interior e na hum anidade em geral, o que pode
processos alquím icos que ocorriam nos vasos eram tingidos
ser descrito com o um a forma primária de psicologia prática e
com o esoterismo do G r a a l” (pág. 64).
filosofia mística; tratava-se de uma visão do m undo e uma forma
de ação q u e ob jetivavam m u d a r a n atu reza h u m a n a (ou
transm utá-la), sem recurso a orientação de nenhum a doutrina
Catedrais transmitem a tradição secreta
A superposição do simbolismo do G raal com a alquim ia e
ou mediação religiosa. Outros vêem esse aspecto da alquim ia
com elementos de astrologia, da cabala e da mitologia antiga,
com o um a tentativa de aplicar na matéria os princípios que
form ou um a mistura confortável com o cristianismo ortodoxo
atuavam para efetivar mudança espiritual na humanidade. Em
nas famosas Catedrais Góticas de Notre Dam e. Sua arte de
outras palavras, não se tratava de um pretexto para alguma
esculturas, sua arquitetura e seus vitrais deixaram um registro
outra coisa e sim de um a tentativa de aplicar a lei hermética de
duradouro da tentativa dos povos medievais de unificarem sua
correspondências, “assim com o no alto, é em baixo”.
experiência global. N o tem a do G ra a l, p o d em os c h a m a r
Explorando a natureza da alquim ia tal como se manifestava atenção para as relevantes imagens da Catedral de Chartres. A
nos séculos quinze a dezessete, não se pode deixar de reconhecer estátua de Melquisedec, colocada entre numerosas estátuas nos
a afinidade entre o objetivo dessa arte/ciência e os valores portais, mostra-o segurando a taça do G raa l Cristão com a
transform ativos da Busca do G raal. A oficina do alquim ista pedra hermética de W olfram dentro dela. Ambos estes símbolos
era o lugar onde as coisas deveriam acontecer, assim com o a do G raal eram combinados e ligados ao tema do sacerdote-rei,
floresta e o “outro m u n d o ” eram o campo de experiência do um governante cujos domínios espiritual e temporal eram um
cavaleiro do G raal. Tanto a alqu im ia q u anto a mitologia do só. U m a janela mostra a “justa no C é u ” entre um cavaleiro
G raal tinham suas metáforas para a psique total, sua dinâmica cristão e um sarraceno, representando Parsifal e Firefiz, seu
e sua orientação para saúde psíquica ótima. Os vasos que m eio-irm ão sarraceno. A lança de um está quebrada no meio e
a outra está segura em impacto direto, de m odo que entre os entendida literalmente e sim como a reconstrução imaginária
dois cavaleiros está form ado um triângulo que lembra um a lei de verdades herméticas por parte de W oltram .
simbolizada por esta figura geométrica. A escaramuça parece
estar ocorrendo em algum lugar entre a terra e o céu. Na história, A pedra filosofal da alquimia era a prima materia da criação,
os dois irmãos, reconhecendo-se mais tarde, abraçam-se. O possuidora de poderes sobre-hum anos ou divinos. Tinha a
símbolo com o u m todo mostra a conciliação de contradições conotação de ser preciosa ou inestimável porque era difícil de
nu m nível espiritual mais elevado. Há tam bém , nu m “portal encontrar. A história de que a pedra do Graal apareceu primeiro
de iniciação”, um a estátua da Arca da Aliança (segundo alguns, na coroa (ou na testa) de Lucifer ligou o Graal a jóias semelhantes
outra forma do G raal) trazida num carro de boi de Jerusalém no misticismo oriental, como o olho de esmeralda de Hórus, o
para Chartres. Estas referências específicas ao mito do G raal Schw arm a dos iranianos e o padma-m ani dos budistas. Essas
fo rm a m p a rte de u m v e r d a d e ir o m u s e u de m e n sa g e n s jóias eram u su a lm e n te colocadas no centro místico, com
alquím icas nessa e em outras catedrais de Notre D am e. freqüência na testa do deus, sugerindo fortemente o significado
disso como um objeto físico representativo do discernimento
O Graal como a pedra filosofal espiritual interiordoTerceiro Olho. Identificado místicamente
Q u a n d o consideramos o poema de W olfram , Parzival, cm como a glândula pineal, ele é considerado a ponte entre os planos
qu e o G raa l é descrito com o uma pedra , não temos dúvida de psíquico e material. Trata-se da pedra que facilita a consciência
que ele estava falando da pedra fdosofal. Isto, juntam ente com mística. Nessa pedra, a centelha da divindade podia dissipar as
outras referências à pedra com o um a esmeralda, às virtudes trevas do erro e da ignorância na humanidade; pois esta, como
cavaleirescas dem onstradas por Firefiz (o resultado de um a um microcosmo ou o reflexo de Deus, traz em seu próprio
m istura de culturas e religiões), ao caráter de T revrizen t interior a centelha divina aprisionada na matéria ou no seu corpo
(mentor e confessor de Parsifal, o qual era um eremita e não físico. Um a vez que seus poderes fossem compreendidos e
um sacerdote), à sua insistência em que a história do Graal devid am ente aplicados, a g lân du la pineal poderia levar a
p r o v i n h a do O r i e n t e , r e f e r ê n c i a s essas c o n t id a s n u m humanidade para além dos limites norm alm ente percebidos da
docum ento encontrado em Toledo, entre outras alusões, indica realidade cotidiana. A humanidade em geral perdeu o poder de
q u e W o lf r a m era u m m estre h e r m é tic o na c o rre n te do usar o Terceiro Olho, o que torna a recuperação desse poder, se
p e n s a m e n to ro sa c ru z . N ã o fora p o r c o in cid ê n c ia q u e a buscada, muito mais difícil. Alquim icam ente, trata-se da pedra
s a b e d o ria de H e rm e s T ris m e g is to , n u m a c o le tâ n e a de da sabedoria, da luz, da compreensão; ela abre as “portas da
d o c u m e n to s descrita c o m o o Corpus H erm eticum , tinh a percepção”. C o m o tal, a busca da pedra de sabedoria deveria ser
alcançado a E uropa a partir de fontes arábicas, durante o entendida como uma outra busca do Graal, transformando as
período das cruzadas. Faz-se portanto a hipótese de que a pessoas e lhes conferindo um inusitado poder. Os poetas do
verdadeira versão da história de origem islâm ico-judaica e G raal “iniciaram e revelaram ” pelo uso do meio literário; o
transmitida pelo misterioso Kyot de Provence não devia ser alquimista e o rosacruz usaram três outras técnicas: alegoria
de metais e sua transm utação, a representação pictórica dos é feito Rei mediante o processo regenerativo. O segredo por
eventos ocorridos na “oficina” do alquimista e, finalmente, em trás de tudo isso é que os processos corretos foram realizados
escrita narrativa, a substituição da busca dos cavaleiros pela para ativar as qu a lid a d es m iraculosas da pedra, o agente
busca dos místicos. transformador.

Por analogia, estamos testem unhando neste experimento o


Metáforas em alquimia
Rei do G raal, o Rei E nferm o do G raal (o ser perfeito entrando
A lg u n s exem p los, de n tre m u itos, ilu stra rã o os pontos
na m atéria), a condição inferior e infeliz de seu povo (os
abordados acima. O primeiro exemplo é o tratado escrito por
servos), Parsifal como o Filho (que, no mito do G raal, está
James Lacinus, Uma Forma e um Método de Aperfeiçoar Metais
relacionado com o Rei Enfermo), o sofrimento do Rei do Graal
Inferiores (c. século dez), o q u a l, n u m a série de figuras,
ao agonizar com sua ferida incurável (ele espera pelo amálgama
representava todo o processo de morte e regeneração. U m
de que Parsifal faz parte), as provações e o distúrbio vividos
segundo exemplo pode ser encontrado no Livro de Lambspring ,
por Parsifal em sua busca do Graal (o componente de mercúrio
obra de um alquimista do século dezesseis. Ela aborda o tema
que se mistura ao ouro degenerado no m un do sobrenatural
da Busca e mostra o processo de transformação psicológica em
da sepultura) e sua final consecução do estado de realeza do
vários quadros dramáticos acompanhados de breves poemas
G raal num Reino do G raal mais feliz (o Rei, o filho e os servos
explicando cada um deles. C o m o seria extenso demais elaborar
usando coroas). Psicologicamente falando, se consideramos o
aqui a interpretação desses quadros, será dado apenas um
Eu ou o self com o o G raa l no com eço de nossa busca da
sumário da mensagem do trabalho de Lacinus. N o primeiro
totalidade, tanto o mito quanto a alegoria alquímica descrevem
quadro, um Rei Coroado (a forma idealizada ou arquetípica,
a condição da psique h u m an a e n q u a n to impura ou dese­
simbolizando também a pureza do Ouro, a natureza superior,
quilibrada devido ao domínio do ego em nossa vida. O self tem
ou a pessoa aperfeiçoada) está rodeado de seu filho (Mercúrio)
de readquirir sua realeza através do processo alquím ico ou da
e cinco servos (os diversos metais impuros, ou pessoas em vários
busca pela terra de aventura do inconsciente.
níveis de consciência). E m quadros subseqüentes, vemos o Rei,
esse ser divino, entrando na matéria; trata-se de uma queda ou O monte dos filósofos
degeneração. Isto é mostrado como o assassinato do pai pelo A g ra v u ra do século dezesseis c on h e cid a com o Mons
filho, incitado peíos servos, e pela entrada de ambos num caixão. Philosophorum , com seus cabeçalhos e suas observações, que
Em termos alquímicos, tem-se um amálgama de ouro e mercúrio se encontra na coleção dos Símbolos Secretos dos Rosacruzes dos
em preparação, e o estágio “negro” é alcançado. U m a sepultura Séculos Dezesseis e Dezessete, fornece-nos um terceiro exemplo
é cavada, significando que a fornalha está preparada a fim de (veja o Apêndice 3). Trata-se de um único quadro completo
produzir o calor necessário para efetivar a devida m udança da busca alquím ica e do G raal. Su a interpretação, atribuída a
química. Os corpos são deixados à sua deterioração e apodrecem W a lt e r S t e i n e p a r a fr a s e a d a p o r R a v e n s c r o ft, alé m de
no caixão. N o quadro final, o Pai é ressuscitado e o Filho do Rei en tre m e a d a com acréscim os do p róp rio autor, está aqu i
resumida (veja a página 2 13). O Monte dos Filósofos retrata urna equanim idade. Agora ele está no topo da montanha, tendo
paisagem m ontanhosa natural completa, com vida animal e merecido seu privilégio de ascender o Monsalvat e estar apto a
humana, o Sol, a Lúa e os resultados da atividade humana. As três alcançar o cum e a d q u irin d o autoconh ecim ento mediante
pessoas na parte inferior do quadro são três cavaleiros, Parsifal, compaixão. Acim a do topo da montanha aparecem os símbolos
Gawain e Firefiz, na versão de Wolfram para o romance do Graal. do Sol e da Lua, que foram libertados de seu estado infeliz na
Eles estão prontos para fazer a viagem iniciática ao mais alto nível lata de lixo; e eles aparecem assim somente no nível apropriado
de consciência. O homem nu na gruta é Trevrizent, o sábio eremita de consciência do buscador. Agora, em sua orientação no céu,
que Parsifal encontra antes de sua visita final ao castelo do Graal; eles constituem o signo do Graal, simbolizado pela pomba voando
ele representa a verdade nua e o arquétipo do homem sábio em do Sol para a Lua crescente. Isto lembra a pomba do Parzival de
sua dimensão espiritual. Deve-se notar também que Trevrizent é Wolfram, que trouxe o anfitrião para o G raal na Terra na sexta-
o construto de W olfram para o Três Vezes G rande Hermes (Tre feira da Paixão, a fim de renovar o poder do Graal. Os símbolos
= três, zent, equivalente a scientia = conhecimento, ciência; três de realeza no ápice indicam a chegada do iniciando ante o Graal,
aspectos do conhecimento). O caminho ziguezagueia sua subida a chegada ao seu âmago, o axts mundi , onde todo o universo
para o topo, o caminho do Graal, a viagem para o Casamento está centrado na consciência mística, em que o self e o Eu Maior
Alquímico. Nesse caminho o iniciado ou o cavaleiro do Graal são um só.
encontra vários animais e eventos importantes; eles representam
símbolos das tentações e dos julgamentos vividos pelo buscador e A viagem de Christian Rosenkreutz
os processos de m u d an ç a qu e ocorrem no seu caráter. Os Finalmente, encontramos a alquimia revertendo-se para o meio
pensamentos fugazes do buscador são representados pela lebre; literário dos rom ances do G raa l. D ois casos m erecem ser
entusiasmo e força de vontade pela galinha num ninho com ovos; registrados. O primeiro é o Romance da Rosa, escrito por Lorris e
prazer e aversão de sentimento, instintos, impulsos e desejos De M eung no século catorze. Esta obra pode ser interpretada,
desenfreados, pelo leão e o dragão; o logro da alma ou self é diz Serge Hutin, “como uma exaltação da Grande Obra Mística e
mostrado pelo Sol e a Lua na lata de lixo; as mudanças alquímicas da descoberta da pedra filosofal, por meio das quais a alma humana
que ocorrem com a alma e o espírito sob a influência do fogo são alcança, após muitas tribulações, a perfeita serenidade de iniciação...
representadas pela cozinha com a chaminé fumegante. Isso está A rosa simboliza a graça divina e a pedra” (55). No segundo caso,
perto do cume da montanha, mais perto do firmamento, onde o a busca cavaleiresca é substituída por um drama alquímico em
peso e o volume do m undo de formas diminuem e a vista é pan­ prosa, sendo seu personagem principal o próprio alquimista. A
óptica. Tendo passado pelo teste do fogo, o iniciando ou cavaleiro obra, intitulada O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz,
tem condição de ser menos Tolo, menos dependente de restrições abre com Christian em seu estúdio ou laboratório, numa choupana
sociais para guiar sua conduta e agir mais autenticamente. Ele é na encosta erma de uma colina. Faz uma noite tempestuosa e
guiado pela intuição, pode discernir entre o qu e é m oralm ente furiosa e ele sente que está ante um grande perigo. Súbito ele é
real e irreal, sem pre agindo com com paixão, tolerância e visitado por um anjo enorme, que se manifesta nu m a esfera de
luz ofuscante. Ele fica aturdido e apavorado. É a sua visita do
G raal e ele reage com o o fizeram os Cavaleiros da T ávola
Redonda quando da primeira visita do Graal em seu meio. Vem
e n tã o o ato de a m o r ou graça, pois, nesse m o m e n to de
ilum inação, ele recebe um convite para com parecer a um Capítulo 7
Casam ento Real e o anjo desaparece. A partir desse instante,
Símbolos e arquétipos da busca do Graal
tendo passado por seu primeiro teste em decorrência de estudo
e prática diligentes da verdadeira alquimia, tendo se tornado
A história de Parsifal tem motivos simbólicos ou temas
hum ilde em conseqüência dessa experiência e instigado pela
dom inantes que, em termos psicológicos, podem nos ensinar
esperança, ele com eça sua desconcertante viagem para as
muito. C o m o é o caso de muitos mitos, podemos usá-la como
N up cias (a ilu m in a ç ã o final), nas qu ais é o participante
meio para com preensão da nossa natureza individual e da
inconsciente. Essa viagem alegórica, então, é o equivalente
natureza da hum anidade como espécie, dado que essa história
rosacruz e alquím ico do Cavaleiro do Graal na Busca do Graal.
encerra um a parte considerável das aspirações da humanidade
Ela é cheia de significado simbólico e rico imaginário e constitui
e vivencia e lança luzes sobre o mistério da própria vida. Antes
um a apresentação magistral da tradição iniciática.
de prosseguirm os com u m a análise psicológica, pode ser
proveitoso resum irm os aqui essa história.
C o m o p a rte dessa tra d iç ã o , os r o s a c r u z e s m o d e rn o s
p ersegu em u m a busca mística sim bólica ou cavaleiresca. Parsifal o galês
Trabalham a sós, a si mesmos, analisando a si mesmos, buscando D epo is de suas trágicas experiências n u m m u n d o em
a verdade nos recursos interiores de sua mente, reagindo aos conflito, em que perde os homens de sua família, a mãe de
impulsos de seu coração, enquanto procuram fazer o amálgama Parsifal se retira para um lar na floresta, levando o filho com
de sua experiência exterior no m u n d o com a sabedoria do ela. Lá ele é criado num ambiente natural, isolado da sociedade.
conhecimento intuitivo adquirido por reflexão e meditação. É Q u a n d o chega à juventude, torna-se hábil no uso da lança,
um processo paciente e exigente, mas excitante e cheio de aprende com sua mãe os valores cristãos básicos, demonstra
aven tu ra. A m edida qu e eles a d q u ire m g radativam ente a sensibilidade para o contraste entre a necessidade e a beleza (o
compreensão que provém da auto-iniciação, alcançam níveis m a ta r u m p a s sa rin h o e a perda do seu canto), mas sua
mais altos de consciência. Então, sem intuito deliberado e inexperiência no m un do social lhe dá depois o carater de um
inconscientemente, tornam-se objeto de observação de outrem, Tolo im pudente e ingênuo.
no ponto em que a transformação ocorreu. E atraem essa atenção
simplesmente por serem como são, o metal dourado refinado, U m dia ele encontra alguns dos cavaleiros de A rtu r na
as pessoas que beberam da taça, c\i)a.pedra irradia um esplendor floresta. C o nfund e-o s com anjos, já que eles usam armaduras
de luz para ilum inar o cam inho daquelas que vêm atrás. brilhantes, esplêndidas insígnias, e são exuberantes em poder
e m asculinidade. Tendo os cavaleiros se identificado e trocado circunstâncias que interferem nisso. Seu destino é decidido
com ele algumas palavras, ele sente de repente o anseio de se noutra parte - ele deve se tornar o Cavaleiro do Graal e parece
torn ar um daqueles cavaleiros. Em casa, expressa sua decisão q u e a lg u m p o d e r desco n h e c id o o está atra in d o, incons­
de ir embora, a despeito dos protestos de sua mãe. Ela o veste cientemente, para o Castelo do Graal.
com a roupa mais pobre, na esperança de que o ridículo social
qu e se seguisse o fizesse voltar. E ntão ele a deixa e segue No cam inho de volta ele chega a um rio, onde encontra um
cavalgando, qu and o, olh ando para trás, vê que ela desmaia. pescador n u m bote, e este o convida a ficar no seu castelo,
Na realidade ela m orre de desgosto. orientando-o para encontrar o cam inho cruzando o rio acima.
Q uando ele o cruza, vê-se no “M u nd o Sobrenatural” do Graal.
N o c a m in h o ele encontra a “dam a da ten d a ”; força sua N o Castelo do Graal ele é regalado com um banquete oferecido
atenção sobre ela, rou b an d o seu anel, e ainda a insulta antes pelo Rei Pescador (o h om em do bote), que sofre um a ferida
de partir. N ã o sabe qu e tudo isso faria ela sofrer represália persistente na virilha. E ele tam bém assiste a um a estranha
do seu m arido, q u e interpreta m al todo o incidente. Mais procissão, na qual um a Virgem do Graal carrega um magnífico
tarde, Parsifal chega à corte de A r t u r e in solentem en te pede objeto denominado Graal, o qual ofusca todo m undo e também
para ser a r m a d o c a va le iro . U m C a v a le ir o de A r m a d u r a supre cada qual com o alim ento que mais deseja. A com pan ha
V erm elh a acabara de in sultar o Rei, pegar um a taça dourada a Virgem do G raal um jovem carregando uma lança que pinga
da mesa e derram ar u m pouco de vinh o no vestido da Rainha, sangue de sua ponta, e as gotas caem na sua mão. Parsifal
e aguardava algum a reação em atitude de desafio, do lado de deveria fazer um a pergunta como “A quem o Graal serve?” ou
fora. Parsifal se precipita im ediatam en te para fora da corte a “O que é que te incomoda, T io ? ”, mas ele não faz isso. N ão
fim de e n fre n ta r o cavaleiro e o abate v erg on h osa m en te com sabe então, mas o fato de fazer essa pergunta lhe daria o poder
sua lança. Depois, vestindo a armadura do Cavaleiro Vermelho de curar a ferida do Rei, restaurar a fertilidade de sua terra
sobre sua roupa modesta, ele passa a agir com o um cavaleiro estéril e a felicidade do seu povo. Ele falha nessa tarefa porque
errante. compreendera mal a instrução de G o u rn e m a n z sobre quando
fazer perguntas; em outras palavras, ele não está preparado
Mais tarde encontra G o u rn em a n z , um cavaleiro experiente para o teste.
que lhe ensina a conduta cavaleiresca e o código de combate
do ca va leiro e, p o u c o depois, ele en c o n tra B lan c h e fle u r, N a m anhã seguinte ele se vê sozinho no castelo e, quando
apaixona-se e casa-se com ela. Esses eventos de sua vida e sua sai, o castelo desaparece com pletam ente. O choq ue desse
reflexão sobre eles reduzem sua ingenuidade, aum entam sua evento em seu sentimento o entristece tanto que ele perde a
consciência dos sentimentos dos outros e despertam nele um crença em Deus. E então condenado a vaguear dando rédea
senso de responsabilidade. Ele decide voltar para casa a fim de solta ao seu cavalo por mais cinco anos, até encontrar um
c o n f o r t a r sua m ã e , sem s a b e r da m o r te d e la . M a s há eremita que o ajuda a conhecer m elhor a si mesmo. O eremita
o inicia q u anto à natureza do G raal e o leva ao Castelo do A lg u m a com preensão da dinâm ica do inconsciente é o
Graal. Esta é a iniciação final antes que ele tenha permissão prim eiro passo para a “cu ra ” ou para alcançar a integração.
para e n tra r no C astelo do G raa l. Os m esm os eventos são U m a característica prin cipal do inconsciente coletivo (as
encenados no castelo, tais com o haviam ocorrido em sua experiências que os indivíduos levam em si mesmos como parte
primeira visita. Dessa vez ele faz a pergunta, o Rei é curado e o de sua herança enq uanto elementos da espécie hum ana) é sua
Reino se recupera. O velho Rei m orre pouco depois e Parsifal função criadora de mitos. Em sociedades mais antigas, essa
se torna o Rei do G raal. função era sua form a de pensam ento científico, que tentava
explicar os fatos do m u n d o e sua ordem subjacente. Nessas
Conceitos de Jung quanto à natureza humana sociedades mais antigas, a re-encenação do mito, individual e
Para fins de análise psicológica, precisam os c on sid era r coletivamente, proporcionava o elemento terapêutico necessário
b revem en te os conceitos de C a rl Jun g sobre a personalidade para estabilizar a vida social, dando aos indivíduos identificação
h u m a n a . J u n g usava o term o psique com o significado de com seu grupo e um lugar significativo em seu ambiente natural.
p e r s o n a li d a d e t o ta l, q u e a b r a n g e o q u e é g e r a lm e n t e E m nossos dias, o inconsciente sofreu análise suficiente, na
c h a m a d o de a mente. Ele descreveu esta c om o com posta de tentativa de esclarecer certos mistérios da nossa natureza, a
dois setores, se g u n d o sua e stru tu ra ou seu c o m p o rta m e n to fim de aumentar nossa compreensão do que os antigos tentavam
no nível conscien te ou in conscien te. O in co nscien te é um fazer de outros modos.
depósito de instintos e im p u lso s p rim itiv o s, bem com o das
experiências coletivas da h u m an id ad e que foram reprimidas, Jung nos diz que imagens primordiais que a hum anidade
e s q u e c id a s o u ig n o r a d a s p e lo se to r c o n s c ie n te . N o ss o herdou de seus ancestrais, atuando ao nível psíquico, fazem -
c o m p o rta m e n to reflete essa divisão, q u a n d o adm itim os que nos reagir de certas maneiras a determinadas situações da vida.
nossos atos são racionais ou irracionais, mas a n sia m o s por E le c h a m o u esses p a d rõ es de c o m p o r t a m e n t o ou essas
t ra z e r a lg u m a ra c io n a lid a d e para o nosso c o m p o rta m e n to . predisposições de agirmos dessas m aneiras de arquétipos. Os
A r e s p o s ta e stá e m n o s s a h a b i l i d a d e p a r a l i b e r a r as objetos dos arquétipos (como imagens de cobras, o mar, a Lua,
experiências in conscien tes, q u e são fr e q ü e n te m e n te um a árvores, etc.) faziam parte da linguagem do inconsciente e
fonte de atos im previsíveis, inexplicáveis ou anti-sociais, da revelavam a natureza desses arquétipos. N o mito do Graal
m e n te in c o n s c ie n te p ara a c o n s c ie n te , e para lid a r encontramos várias dessas imagens, como, por exemplo, espada,
a p r o p r i a d a m e n t e c o m elas. O g r a u a q u e isso é fe ito lança, pedra, rio, floresta. O contexto em que elas apareciam
determ ina o estado de saúde psíquica ou m ental de q u a lq u e r ou a m a n e ira com o eram c o m b in a d a s tra n sm itiam um a
i n d iv íd u o . O fra c a sso e m e n t r a r em h a r m o n i a com o m ensagem em forma simbólica. E m seu caráter positivo e
inconsciente deixa o in d ivíd u o em estado de distúrbio. Pode negativo, tais símbolos revelam a natureza dos arquétipos em
ser a d m itid o en tã o q u e todas as pessoas estão em a lg u m ação. O objetivo de c o m b in á -lo s, se q u e re m o s ser auto-
p o n to da escala en tre d esin teg ração e integridade. curativos, é “integrar o conteúdo inconsciente na experiência
cotidiana, trazer os sentim entos e as intuições irracionais para para isso, na história, foi seu encontro com os cinco cavaleiros
a luz da consciencia racional e assim estender as fronteiras da de A rtu r no lar florestal. Isso poderia ser descrito com o a
m e n te r a c i o n a l” ( C h e tw y n d , x i). O s a r q u e tip o s m ais p rim eira experiência do G ra a l de P arsifal — os cavaleiros
im portantes, dentre m uitos outros, são a som bra, o animus/ resplen dentes co n fu n d id o s com anjos - qu e acendeu seu
anim a e o self. Estes, além de outros com o o Velho Sábio, o Rei entusiasm o. Trata-se de um cham ado interior, mas, sendo ele
e o Tolo, aparecem no M ito do G raal. tão jovem e solitário sob o controle do ego sem m ediador, seus
encontros posteriores no m undo hum ano o caracterizam como
O mito do Graal como um processo psicológico o Tolo, mas um tolo inocente, não um palhaço.
M itos com o o do G raa l expressam a tentativa da psique de
eq u ilib rar e h a rm o n iza r as energias dos dois setores da m ente, Poucos de nós não somos com o Parsifal em nossos anos de
o consciente e o inconsciente, e assim to m a r toda a pessoa juventude. N ão reconhecemos nossa própria tolice e ignorância
saudável. A o nível da sociedade, a consecução de harm onia e somos com freqüência desatenciosos para com as pessoas de
psíquica na m aioria de seus m em bros deve se refletir m uito nossas relações. Sua viagem do G raa l, da q u al ele não tinha
positivam ente no estado da sociedade em geral. Neste capítulo, consciência nesse estágio, tinha de capacitá-lo a fazer duas
vam os dar mais atenção ao lado individual; no seguinte, vam os im portantes descobertas sobre a sua natureza, descobertas essas
nos concentrar no aspecto coletivo. a serem feitas por seu próprio esforço. Ele tinha de descobrir a
n a tu re za de sua m a scu lin id ad e nas figuras patern as que
A história de Parsifal com eça na floresta das m ontanhas de encontrasse e redescobrir dentro de si mesmo o eterno fem inino,
Sn ow d on ia, no País de G ales. A floresta é a prim eira im agem a anim a , descrita com o o arquétipo da alm a.
com que nos deparam os e é um sím bolo im portante. Ela nutre
e protege todos os q u e nela vivem . Ela se ergue da terra, nela A luta de Parsifal com o Cavaleiro Vermelho é um confronto
floresce e suas árvores acabam voltan do para a M ãe Terra. com sua própria som bra, um arquétipo que representa o lado
D epois, novas árvores dão prosseguim ento à vida da floresta. m ais o b s c u ro de su a n a t u r e z a , su as e m o ç õ e s c ru a s e
A m ãe de Parsifal a escolheu para ser o lar do m enino. Juntos, indisciplinadas. A violenta repressão do elem ento de sombra
a m ãe e o filho sim bolizam a m aternidade e a natureza ao nível n e le m esm o fo i u m a re aç ã o e x a g e ra d a e p re ju d ic o u o
hu m an o. N a floresta, a criança está próxim a à M ãe Terra e, desenvolvim ento de sua personalidade consciente. Reprimimos
por algum tem po, está com pletam ente sob sua influência. O ou renegam os a som bra porque ela interfere na nossa im agem
m odelo de m asculinidade do pai, o deus solar, é dissim ulado da persona. A inevitável conseqüência dessa repressão aum enta
pela abóbada celeste; ou seja, a influência da m ente consciente o potencial para conflito na psique, na m edida em que o
está quase ausente. A ssim , o h o rizo n te de Parsifal é lim itado elem ento de som bra tenta se recuperar dessa repressão. O fato
num a existência um tanto solitária. O rom pim ento com isso de que ele veste a arm adura do C avaleiro Verm elho indica que
tinha de v ir em algum m em en to de sua ju ven tu d e e o gatilho a sombra ainda está nele. A única saída para reduzir o conflito,
para red u zir essa energia de m aneira inócua, depende do grau identidade social e facilita a interação social. A pessoa se sente
a que o controle do ego tem êxito em lidar com ela. C ada decisão m enos insignificante e ganha algum a respeitabilidade. Mas a
tem suas conseqüências. E xpressar em ações (por exem plo, persona tem ta m b é m u m la d o n e g a tiv o . O e x a g e ro na
m atar p o rq u e se odeia) e p rojetar (deixando suas próprias id e n tific a ç ã o com ela sig n ific a q u e a pessoa p o de v iv e r
tendências à avidez condicionarem sua percepção da sociedade su perficialm ente, cu ltivan d o um falso ego e reprim ind o deli­
co m o c o rru p ta ) re la x a m a e n e rg ia , m as não reso lvem o beradam ente o qu e é valioso no inconsciente, no ^//'interior.
problem a. A reação social a isso traria novos problem as para a E m g ra n d e p a rte , q u a n d o P a rs ifa l v is ita o c a s te lo de
p siq u e. P or o u tro lado, a su b lim ação (o e n c o n tra r m eios G o u rn e m a n z , seu trein am en to para se to rn a r um cavaleiro
socialm ente aceitáveis ou toleráveis de “baixar a ten são”, ou fortalece sua persona sem a inflar. Seus instintos até então
reestruturar cognitivam ente situações de estresse) é um a form a desenfreados vão sendo dom ados à m edida que seu m entor
de ajuste, de m itig ar a pressão da som bra. lhe ensina o decoro social, o valor da consideração para com os
outros e a necessidade de acom panh ar com ações suas próprias
Curando cisões psíquicas
intuições. Esta seqüência in iciatória lhe dá um a perspectiva
Há outras cisões na psique que tendem a nos m anter m enos
d iferen te de sua cond uta a n te rio r na corte de A rtu r, de seu
saudáveis. U m desequilíbrio m uito im portante é o da condição
m odo de lid ar com o C avaleiro Verm elho, do duro rom pim ento
desigual causada entre os arquétipos anima e animus. Trata-se
com sua mãe e do tratam ento rude dispensado à dam a da tenda.
dos princípios fem in ino e m asculino que afetam a qualidade da
E le com preen de então q u e essa m an eira de lid ar com tais
natureza hu m an a. D e fato a Busca do G raal é vista por alguns
situações está in terferin d o na direção q u e está dan d o à sua
escritores, essencialm ente, com o a tentativa de curar essa cisão
vida. E m cerim ôn ias de iniciação, os iniciandos são sem pre
entre o ego m asculino e o inconsciente fem inino, na psique.
guiados por u m m estre ou pela figura de um pai, que são
N ossa próxim a im agem na história de Parsifal é a da persona exem plos ou m entores q u e os gu iam pelos vários estágios da
ou m áscara. A q u i, a arm ad u ra do C avaleiro V erm elh o cum pre jorn ad a esp iritu al, ou apon tam o c am in h o para a integração.
um segundo papel em relação ao de representar a som bra de E m m uitos m itos eles aparecem com o o a rq u é tip o do Velho
Parsifal. Pois sim boliza tam bém seu status novo e adotado. Ele Sábio. N o M ito do G raal, G o u rn e m a n z é o m odelo para decoro
veste essa a rm a d u ra sobre sua roup a m odesta, o q u e indica social e cond uta nobre, o Rei do G ra a l apresenta u m a form a
q u e ain d a não é u m cavaleiro, m as apenas alg u ém q u e está m ascu lin a perfeita, ou o Rei F erido u m papel efem in ad o ou
fazen d o esse pap el; pois, por baixo disso, n e n h u m a m ud an ça d eg en erad o ; e o erem ita, na fase fin al da busca, dá a esse
ocorreu . M u itas pessoas usam u m a m áscara com o proteção arq u étip o um a d im en são espiritual. G e ra lm e n te, essas figuras
con tra a d u rez a da realid ad e tal com o a vêem . Esta é u m a fase sim b o lizam o significado oculto p o r trás do caos aparente da
n ecessária e te m p o rá ria no c rescim en to das pessoas com o vid a; representam as experiências coletivas da h u m an id ad e
a n im a is so ciais, o u seja, n o p ro cesso de so c ia liz a ç ã o p o r q u a n d o ela en fren ta situações repetitivas q u e restringem seu
e x p e r iê n c ia o u in s t r u ç ã o . U s a r u m a m á s c a ra dá c e rta desenvolvim ento.
O reino do Graal como o inconsciente do G raal. A m bas as senhoras representam o aspecto muito
E nessa condição m odificada que ele consegue encon trar o positivo da anim a , do m ediador inconsciente do verdadeiro
am or e se casa com B lanchefleur. Isto seria o m om ento do Self. A D am a traz o G raal, que é espírito e deve realizar o milagre
sagrado m atrim onio, qu an d o seus com ponentes macho/fêmea da transform ação.
estaria m em p e rfe ita h a rm o n ia . T od avia, o u tro s even tos
parecem estar gu iand o sua vida. E le tem de aban don ar sua M as isso ainda não pode acontecer. EJe falha em fazer a
esposa para ver sua m ãe, mas a viagem de volta é interrom pida pergunta; sua com preensão da vida ainda é lim itada demais.
q u and o ele chega a um rio, onde encontra o estranho Pescador A té o seu treinam ento social o detém ; ele fora avisado para não
e é en cam inh ad o ao C astelo do G raal. O rio é um im portante fazer perguntas dem ais na com panhia de gente fina, mas acaba
sím bolo universal. Nessa história ele representa um a fronteira não fazendo pergunta nen hu m a. Seu im pulso in terior de agir
a ser cruzada para um outro território, um m undo m isterioso, autenticam ente, nessa ocasião, oscila na m edida em que ele
o m un do que vem a nós sem o perceberm os, os reinos de hesita. O privilégio de testem unh ar o G raal na Procissão do
sonhos e visões, um m undo mágico. D o outro lado da fronteira G raal poderia ser m isticam ente descrito com o um a vivência
está o Reino do G raal. M as ele é o nosso m undo, o m undo do antecipada da ilum inação ou, psicologicam ente, com o o self
inconsciente. Por isto é tão difícil de achar; ora o vem os, ora ad q u irin d o prim azia sobre outras energias da psique. O fato
não! Q u a n d o o exp erien ciam os, isto é, q u a n d o podem os de que nada mais aconteceu e tudo desapareceu é um m odo
acessar o inconsciente, ele abre o cam inho para os m istérios do de descrever o súbito retorno do inconsciente sem o processo
nosso ser. Q u a lq u er pessoa que entre no reino do G raal, nesse de harm onia psíquica ter se com pletado.
m undo sobrenatural, nesse m undo invisível, pode sentir alegria
ou angústia. M as pode tam bém vo ltar dele algo m odificada. A noite negra
P arsifal tem de passar pelo teste a lq u ím ic o de ca lo r c
D en tro do castelo do G raal, cinco sím bolos se com binaram “n e g ritu d e ”, ou pela m ística “N oite N egra da A lm a ”, a fim
para in dicar o progresso da tran sform ação de Parsifal. Ele de a lc a n ç a r a p u rific a ç ã o . E le e n fre n ta um p e río d o de
recebe u m a esp ad a de p re se n te , in d ic a n d o um sin a l de decepção, desespero e perda de fé; e é con d en ad o a vaguear
crescente discrim inação no ju lgam en to e da força que deve pelo deserto p o r m ais cinco anos. O fazerm os pergu ntas em
p revalecer contra os dragões do lado obscuro de sua natureza. m om entos de m udança ou pontos críticos da nossa vida pode
A lança sanguinolenta sim boliza as feridas da psique dividida; ser o segredo para com p reen d erm os a n atu reza do G raa l. Se
vence a resistência da “velh a” personalidade. Q uando ele chega querem os procurar o nosso próprio G raal, isto é, se querem os
ao banquete, a Rainha o cobre com o manto dela. Trata-se a í de d e ix a r o n o sso p r ó p r io s e lf t r a n s lu z ir , d e v e m o s e s ta r
um processo de suavização, em que ele recupera algo que preparados para fazer perguntas com o estas: “A quem o G raal
conhecera e perdera na infância, e dá-se um a m oderação de s e rv e ? ”, “Q ual é o sen tid o da v id a ? ”, “Para onde estou me
sua natureza m asculina. Isto é seguido da chegada da D am a d irig in d o ?” ... “Será qu e estou pron to para em p reen d er a
jo rn a d a ? ”, “Q ue devo sacrificar, e será q u e estou pron to para
s a c r ific á - lo ? ” , “Q u e o b stá c u lo s e stão m e a fa s ta n d o da
B u sc a ?”. Q uestões com o estas m arcam o nivel de prep aro de
urna dada in iciação ou o estado de prep aro da psique para
aju star sua din ám ica. U rna das “a v en tu ra s” posteriores de
P arsifal ilu stra o tipo de m ud an ça qu e ocorre, ch am an d o
atenção para a in teração de arq u étip o s, neste caso entre a
an im a negativa e a som bra. U m a m u lh e r pede a Parsifal que
m ate um C a v a le iro N egro qu e está deitado em seu tú m u lo .
N orm alm ente, seria urna fácil tarefa agradar à anim a fem inina
e acab ar com a vid a do ca va leiro . M as suas exp erien cias
in ic ia tó ria s a n te rio re s tive ra m o efe ito de m o d ific a r sua
resposta a esses a rq u étip o s rivais. O “v elh o sábio” in te rvé m ;
ele assum e o fe m in in o e ven ce: P arsifal prefere co n vid ar o
C a v a le iro N egro a sair e fa z e r am izad e com ele. E o Ego,
agora suficientem ente discrim in ad o re sensível aos arquétipos,
re fle tin d o as q u a lid a d e s do se lf in te rio r. P a rsifal está se
a p ro xim a n d o da paz interior.

A pós anos de peram bulação no estado de “noite negra” ou


de caos psíquico, Parsifal encontra o velh o erem ita. A través
dele aprende qu e o esforço é o m eio de encon trar o G raal, mas
isso não seria suficiente sem as experiências resultantes de sua
ten a cid a d e de p ro p ó sito p ara e fe tu a r m u d an ç as em sua
n atureza. Ele não só tem de usar de discrim inação em seu
julgam ento (a espada), de p erfu rar com precisão (com a lança)
para trespassar o d o m ín io do ego e de se abrir para o poder do
am or e da com paixão (a D am a do G raa l), mas tem às vezes de
soltar as rédeas do seu cavalo e deixar o an im al (sua natureza
intuitiva) levá-lo aonde quiser. É preciso a pessoa ceder a um
poder su perior a ela, a um poder que alguns diriam qu e é o
G raa l, ou o Se/^Maior.
aspecto du plo da m esm a pessoa —o que o Rei deveria ter sido
e o que ele não era no m om ento da visita do herói ao castelo do
G raal. E um a situação sem elhante à descrita na série de quadros
do Rei C oroad o, no trab alh o alq u ím ico de Jam es Lacinus
Capítulo 8 (m encionado no C a p ítu lo 6).

O rei pescador e a térra devoluta Significado da realeza


Vamos tratar prim eiro do significado do sím bolo do Rei. Na
Vam os agora exam in ar os dois sím bolos, o Rei Pescador e a consciencia hu m an a ou, se usam os os term os da psicologia
Terra Devoluta. N este caso, dois sím bolos se com bin am e p ro fu n d a , na p siq u e h u m an a , a Realeza é buscada pelos
form am um m ito d en tro do M ito do G raal, quase transfor­ diversos arquétipos. M as é o êxito do arquétipo do self em
m a n d o o p ro p ó sito da B u sca, da p ro c u ra de u m o b jeto alcan çar essa posição preem inente na psique que habilita o
m iraculoso e sagrado para a da cura de um rei e da restauração in divid uo a atingir o estado de plenitude. O Ego, o centro ou
da fertilidade de suas terras. M as eles aum entam a consistencia diretor da nossa m ente consciente, inadequada ou desm ere­
do M ito do G raa l, to rn an d o -o urna m etáfora do crescim ento cidam ente, ocupa a posição de Realeza sobre a psique, até que
do ^//'individual, um a descrição da condição hum ana em geral o self, a força que luta pela unidade de toda a psique, alcança a
e de com o a hu m an id ad e se relaciona com o am biente. m ajestade. Q u a n d o isto acontece, a psique é libertada da
desarm onia e dem onstra extrem a saúde. O Ego, antes forte
N a lcnda, o Rei do G raa l m antém sua posição por direito mas agora enfraq uecido devido à desarm onia psíquica (o Rei
de sucessão m oral. Ele tem de ser o hom em perfeito. Mas sofreu E nferm o), é substituído pelo S elf (o herói do G raal que se
um ferim ento qu e nunca sara e que o torna tam bém um Rei torna o novo Rei do G raal). C o m o as idéias encontradas entre
do G raal E nferm o. Ele opta p o r pescar a m aior parte do tem po os rosacruzes e os alquim istas do período da Renascença, os
e é por isto cham ado de o Rei Pescador. Su a térra está deserta, símbolos do Rei Coroado, do Sol e do O uro metálico, são usados
as águas secaram , a vida vegetal e an im al desapareceu e seu em linguagem alegórica para tran sm itir m ensagens da busca
povo é infeliz. O Rei só pode recu perar a saúde e a térra o seu iniciática e m ística da consecução. N a alq u im ia, a busca da
estado original de fertilidade pela visita do herói do G raal. pedra filosofal era um a busca do G raal. A verdadeira busca
por trás da tentativa de tran sm u tar m etais físicos em ouro era
Podem os lem brar que o G u ard ião do G raal, o Rei do G raal, um a busca de perfeição espiritual. O sím bolo do Rei podia ser
era às vezes representado, nos rom ances do G raal, por duas trocado por O uro, realeza entre os hom ens e realeza entre os
figuras paternas, o Rei do G raal (“a mais bela pessoa da T erra”) m etais. Se o Rei do G ra a l havia se torn ado “im p u ro ” por
e o Rei E nferm o (o rei com a ferida in cu rável), este levado ao algum a falha, seu estado era mais concretam ente expresso pela
b anquete num divã. A q u i, as duas pessoas representam um im pu reza do O u ro qu an d o m isturado com m etais inferiores.
T anto o Rei q u a n to o O u ro tin h am de ser su b m etid os a Assim , o sím bolo se tornou bastante com plexo na época em
processos de m odificação alquím ica. O Rei do G raal e Parsifal que o M ito do G raal tom ou form a, devido a estes elem entos
devem ser vistos com o um a só pessoa, ilu stran do a natureza contributivos: o Rei, em seu estado perfeito ou doentio; o papel
cíclica da jornada iniciática. da pesca no sen tid o de recuperar, salvar ou red im ir; e as
profundezas aquosas do inconsciente, onde todo o dram a devia
Os símbolos do peixe e do pescador o c o rre r e o n d e a e x p e riê n c ia e a sa b ed o ria d e v ia m ser
A g ora, à sim bologia do Rei E n ferm o e da T erra D evolu ta encontradas. Este plano de fundo é m ais sugestivo q u anto ao
é acrescentado um o u tro com p o n en te: o do Rei Pescador. O ato do Rei Pescador pescar do que o fato de ser um m ero
Rei assum e o caráter de um Pescador, status em qu e P arsifal passatem po.
o en co n tra no rio. Essa in terp o lação parece ter en trad o no
M ito do G ra a l a p a rtir de um sím b olo m ais gen érico na Na história de Parsifal, o Rei do G raal é a figura paterna
consciência h u m an a , o riu n d o de várias fontes. A encarnação cuja responsabilidade consiste em gu iar o reino de todo o seu
de V ish n u com o um peixe d o u rad o lem bra seu papel com o ser pela correta senda espiritual. Ele é “no entanto um guia
p r e s e rv a d o r e p ro te to r, co m o o G u a r d iã o do G r a a l. O curador, que havia m uito perdera seu senso de direção e agora
b u d ism o tib etan o vê o peixe d o u rad o com o retirado da água é im potente para m odificar a velha o rd em ”. Em sua condição
em fu n ç ã o de suas e x p e riê n c ia s ab aixo da su p e rfíc ie da de ferido ele m esm o assim tem de m anter unido o reino inteiro
m esm a, para a lu z da libertação. O peixe passa a ser um (num sentido societário) e m an ter a saúde do corpo (num
sím bolo dos prim eiros cristãos, o signo representativo de Jesús sentido individual) ao seu cuidado. Ele fizera isso bem no
com o salvador. Pedro, o Pescador, era a pedra sobre a q u al a passado, mas agora o está fazendo mal. A vida no topo (a cabeça)
fu tu ra s o b re v iv e n c ia do e n s in a m e n to do C ris to estava está enferm a e, portanto, o resto (o corpo, a terra e seu povo)
assegurada, g a ra n tin d o assim a sucessão para a redenção da está fora de harm onia com ela.
h u m an id ad e , e o p róp rio Jesus declarou q u e desejava que
seus d iscípu los fossem “pescadores de h o m e n s”. N o lado O mito da queda do ser humano
céltico, o Rei do G raa l, Bran, era associado ao m ar e, portanto, C o m o o Rei e a T erra chegaram a esse estado é explicado
à pesca. Finalm ente e m esm o mais tarde no período dos poetas de vários m odos, ou pela n a tu reza cíclica dos eventos ou por
do G ra a l, en con tram o s um o u tro exem p lo de a lq u im ia , tal sim p les a c id e n te , co m o um fe rim e n to em b a ta lh a ou a
com o representado num dos q u adros do Livro de Lambsprtng degeneração m oral do ser h u m a n o (o Rei E n ferm o com o
por dois peixes (alm a e e sp írito ) na água (o corp o). H á H om em D ecadente). O rom ance do G ra a l, de Robert de
alg u m a s em b arcações de pesca na su p erfície da água. O B oron (c. 12 0 0), indica qu e o Rei é velh o dem ais. Se o reino
pensam ento de trazer a alm a e o espírito de seu confin am ento so fria p o rq u e ele era in a d e q u a d o para a tu a r com o um
no m u n d o da experiência sugere o papel de libertação do g o vern an te com peten te, então, o b viam en te, devia ocorrer
Pescador. um a substituição. Em algu ns rom ances, o “p u ro ” G u a rd iã o
do G ra a l fizera algo errado, deliberada ou im pensadam ente, A m etáfora é am plam ente explicada em termos da condição
a d q u irin d o com isto u m a fe rid a in c u rá v e l. N o m u n d o geral da h u m an id ad e com a perda da graça natural. O poema
encantado, a ferida não sararia senão num a condição específica. de W o lfra m , Parzival, ao a b o rd ar esse tem a, parece estar
D o ponto de vista m ístico, R avenscroft explica a ferida do Rei sugerindo que a h u m an id ad e separou D eus de Sua C riação,
com o sím bolo de “p erversão que rom peu a abençoada união ao in terferir nas leis da n atureza e privá-la do seu espírito. Se
de coração e cérebro (sic) e o privou de toda resolução m o ra l”. isso era um erro da hum anidade, então, a hum anidade deveria
“Fácil é a descida ao Inferno”, escreveu o poeta rom ano Virgílio, corrigi-lo. O Rei do G raal precisava do ingrediente essencial,
mas retroceder um passo é infinitam ente mais difícil. A m fortas pelo qual pescava nas águas. Foi lá qu e ele encontrou Parsifal
(o Rei do G raa l), de W o lfram , alcançara esse ponto baixo; a e a recuperação teve início. A princípio, Parsifal falhou; ele
lança san guinolenta usada para estropiar o Rei sim bolizava o fora im pelido somente por intuiçÕes em vários estágios da busca,
terrível poder dos instintos desenfreados estorvando os poderes mas precisava desenvolver a com paixão. Isso aconteceu na sua
do G raal. segunda visita ao castelo do G raa l, qu an d o ele fez a pergunta
certa: “O q u e é qu e te aflige, T io ”? A ssim Parsifal se tornou o
A conexão entre o Rei e a Terra D evoluta está lindam ente “peixe dourado ” que salvou o Rei e a Terra.
apresentada na Elucidação, um a continuação da história de
C h rétien sobre Parsifal. O Rei A m angons, um dos sucessores Nossa condição de feridos
na linhagem do Rei do G raal, governou um dia um verdadeiro M erece consideração neste ponto um com en tário de um
paraíso d e n o m in a d o L ogres. E le era ricam en te cultivado, escritor católico sobre esse aspecto da história de Parsifal.
prolifero em aves e vida an im al, e provia todas as necessidades R eferindo-se à sua m ensagem para o in d ivíd u o no tocante a
que tornavam a vida agradável para seu povo. O segredo estava crescim en to e renovação pessoal, bem com o a um a palavra
em qu e esse paraíso era m antido aguado pelas V irgens dos de cautela contra o ch o q u e de an om ia, observa ele: “O Rei
Puis ou Poços. T ratando-se do Reino do G raa l, poderíam os Pescador é aqu ilo para que todo m undo se encam inha; m orte,
su p o r q u e os p ró p rio s Poços fo ssem a lim e n ta d o s p e lo vazio e condição de feridos q u an d o chegam os aos cinq üen ta,
abundante G raal e que as V irgens tivessem a tarefa sagrada de se não seguim os o cam in h o de Parsifal. E le é um sinal de
m an ter a terra fértil e tam bém de refrescar os viajantes por ad vertên cia, um ch am ad o ao despertar, para pessoas que
toda a terra. U m dia, então, o Rei A m an g on s violentou um a ainda são su ficien tem en te jovens para m u d a r” (Rohr, pág.
das V irgens e roubou seu vaso. E stabeleceu assim um m au 153). O problem a do Rei Pescador é o nosso problem a, se
exem plo para seus seguidores, que trataram outras V irgens do reconhecem os as contrad ições existentes na nossa própria
m esm o m odo. Isso foi um a violação do caráter sagrado da n atu reza e falh am os em tran scen dê-las. M as o m ito nos diz
própria terra. Ela perdeu sua fertilidade, os anim ais ficaram qu e tem os tam bém o p o d er de alcan çar essa m eta esp iritu al,
estéreis, as árvores se desfolharam e não deram m ais frutos e a com um pouco de ajud a do esp írito do G ra a l, um a vez que
terra ficou finalm en te desabitada. ten ham os iniciado a jornad a.
Podem os entender o conceito do Rei Ferido com o um a lição foi a razão para o fracasso de Parsifal em fazer a Pergunta no
psicológica de crescim ento, desen volvim en to e consecução, banquete do G raal. C om o ele, tam bém nós passamos a m aior
com a Ferida (desarm onia psíquica) atuando com o um a chaga parte da nossa vida desesperados, tentando encontrar novamente
su pu ran te e tam bém com o um catalisador intensificando o o C astelo do G raal. N ão obstante, isso é parte necessária do
crescim ento para a m asculinidade sadia. O Rei Pescador Ferido processo psicológico —“a parte ferida de nós mesmos pode ser
sim boliza a ferida, diz R obert Johnson, de todo hom em na deixada para trás q u a n d o cu m p riu sua fu nção no desen ­
civilização ocidental. Aplica-se tam bém ao elem ento m asculino volvim ento do hom em m aduro” (R. Johnson, pág. 49).
presente nas m ulheres. Suas m anifestações devem ser vistas
nos persistentes sentim entos de solidão, ansiedade, alienação Jean Bolen interpreta esse símbolo com posto Rei/Terra como
e inferioridade, qu e sentim os du ran te toda a vida. A Ferida foi um a receita para cura da psique ferida ou perturbada em cada
sentida na época dos rom ances do G raal e é sentida ainda mais um de nós considerado com o m em bro da espécie hum ana.
hoje em dia. A s sem entes desse problem a no m un do ocidental Ele afirm a que estamos todos feridos com o participantes “num a
m oderno foram lançadas no com eço do segundo m ilênio, tendo sociedade m aterialista com petitiva em que o cinism o para com
a Idade M édia constituído o período de transição, qu an d o os valores espirituais existe... e o ego é im pedido de experienciar
prim ordios da ciência e da tecnologia m odernas que dela se o self” (pág. 42). Nosso equívoco, que causa e m antém a ferida
d esen vo lveram foram in tro d u z id o s nu m m u n d o de pros­ incurável, consiste em usarm os o pensam ento científico com o
peridade m aterial em qu e o m aterialism o se torn ou um ídolo. u m p r in c íp io r a c io n a l e n o s c o rta rm o s do G r a a l, da
O ferim ento ocorreu q u an d o a m ania do racionalism o, do espiritualidade, do sentir intuitivo. O jovem Tolo e ingênuo da
pensam ento frio e direto, em bora ele fosse em si m esm o um a lenda é talvez “o elem ento jovem, ingênuo, inocente, no interior
virtude, su prim iu a função de sentir do ser h u m an o; a função da p siq u e”, julgado tolo som ente pelo elem ento racional, que
de sen tir q u e tinha a capacidade de d eterm in ar m elh o r os pode restaurar a ligação entre o ego e o Self. Bolen conclui: “O
valores, d esen volver um a relação m ais afetiva com a natureza pan oram a interno, q u e foi um a terra devoluta ou um deserto
em geral e a natureza hu m an a e de contribu ir para a felicidade seco, pode florescer ou voltar a ser verde, na m edida em que o
hum ana. sentim ento em ocional e espiritual, os elem entos irracionais em
contato com a camada simbólica do inconsciente, sejam trazidos
A resposta para o problem a da cura da ferida, tal com o à p erson alidad e” (pág. 43).
su gerid a p elo M ito , deve ser e n c o n tra d a “no lu g a r m ais
inesperado, nas asneiras de um tolo ingênuo... im aginativo, O nexo entre o rei e a terra devoluta
extravagante, im a tu ro ... (m as)... qu e tem o poder de aliviar a Em m itos da vegetação ou agrários —e os sím bolos do Rei
agonia do Rei P escador” (R. Joh n so n , passim ). Em nossa e da Terra D evolu ta em nexo entre si torn am a história do
ju ventud e nos é oferecida um a visão do significado da vida, G r a a l u m d esses m ito s - a sa ú d e do Rei c o rre s p o n d e
mas falham os em conscientizá-la e avaliá-la corretam ente. Esta exatam en te à q u a lid a d e de vida nesse cam po. Se usam os o
sím b olo para la n ç a r lu z na nossa co m p reen são da n a tu re za a história do Rei C ad w a lla d er dos bretões no século dezessete,
h u m a n a , p o dem os v e r q u e dois p rin cíp io s têm de tra b a lh a r que reinou pacificam ente desde sua ascensão e, depois de doze
em h a rm o n ia a q u i: sen d o o Rei o p rin c ip io m a sc u lin o e a anos, ficou doente. E stando ele incapacitado de atu ar com o
T erra, a q u e a D eu sa da T erra é asso ciad a, o p rin c ip io governante efetivo, a dissensão irrom peu entre os bretões e o
fe m in in o . O p rin c ip io m a sc u lin o d o m in a n te , o Rei, estava re su lta n te c o n flito civil tra n sfo rm o u o rein o n u m a terra
e n fe rm o ; a terra se to rn o u um deserto em resposta so lid ária devoluta. M ais um a vez o padrão é representado no reino de
e os d o is p rin c ip io s fic a ra m em d e s a rm o n ia . N o n iv e l A rtu r com o um evento histórico real, sem o brilho adicional
in d iv id u a l, em a lg u m lu g a r e m o m en to , o self fa lh a ra em da lenda. O ciclo com eçou com guerra e desordem na terra,
re s p o n d e r ao c h a m a m e n to in tu itiv o do S e lf M a io r, ao evo lu iu para um q u arto de século de paz e justiça num reino
c h a m a m e n to do G ra a l. A li, nesse p la n o de tu n d o d e s­ unificado, e term inou com o colapso do reinado de A rtu r e o
c o n h e cid o , o G ra a l estava m a n te n d o o Rei viv o q u a n d o ele retorno ao barbarism o.
estava p e rd e n d o a esp eran ça e não o to rn o u m elh or. M as
n ão p o d ia a b a n d o n á -lo . C o n tin u a v a e sp e ra n d o q u e ele Por outro lado, a Terra D evolu ta é representada com o um
refletisse, não na sua con d ição d ecad en te, m as nas virtu d e s fen ôm en o social e natural estendido por alguns séculos, mais
do G ra a l, no esp írito de d ivin d a d e em seu in terior. Essa do q u e p o r u m a c o n d iç ã o da te rra a n tes ou d ep o is do
p a rte d e le q u e a fin a l d e s p e rto u a p a re c e u na fo rm a do surgim ento de um a específica figura régia histórica. Neste caso,
P arsifal p len a m e n te a m ad u recid o . as im agens do Rei Pescador Ferido e da Terra D evoluta se
torn am um a representação alegórica das tensões religiosas e
A im agem da Terra Devoluta aparece no m ito para ilustrar políticas qu e prevaleceram na Inglaterra da Era do O bscu­
períodos da história em qu e reinos ou civilizações sofreram rantism o, com eçando na época da últim a legião rom ana (410
um declínio ou um a queda, ou ainda um súbito colapso. Na d.C .) e du ran do até o período dos rom ances do G raa l (séculos
explicação m ítica, com o o sím bolo m ítico liga causativam ente 12 e 13). O conflito religioso foi entre o cristianism o céltico e o
a terra e os governantes, é o governante quem leva a culpa. Por rom ano, o prim eiro procurando resistir ao dom ínio doutrinário
co n seg u in te, o m ito incita a idéia de revivescim en to por do segundo. A disputa teve início m ais ou m enos na época da
renovação. U m novo rei com um novo zelo, sem m ácula, em h e re sia p e la g ia n a ( 4 1 6 d .C .) , d e s c rita co m o d e safio s à
perfeito controle e im pelido por um a nova vontade, iria então autoridade da Igreja de Rom a sobre questões de livre-arbítrio
restaurar no reino sua grand eza e sua prosperidade originais. e pecado original e questões da natureza da sucessão apostólica,
Vemos isto tam bém na literatura com o o anseio rom ântico pela qu e tiveram de ser resolvidas. O conceito do Rei Pescador
Idade de O u ro perdida. Ferido na lenda representou a Igreja C éltica, em processo de
en fraq uecim en to e m ais tarde in cu ravelm en te ferida, qu and o
Mas o nexo Rei/Terra D evolu ta pode não ser apenas um sua longa resistência a Rom a foi afinal resolvida no Sín odo de
m ito; pode ser parte da m em ória hum ana. Por exem plo, temos W h itb y (664 d.C .).
Nesse contexto, a Terra D evoluta foi causada por três fatores: fizeram . Apenas deixaram o problema para a posteridade. Roma
o conflito religioso céltico-rom ano, a am eaça de desordem civil se impôs novam ente, em bora não o tenha feito em caráter oficial
acarretada por incursões saxônicas em territórios britânicos, e e sim a tra vés do tra b a lh o dos clérig os cistercien ses que
eventos naturais com o a epidem ia de peste bubônica que varreu in trod u ziram o ciclo Vulgata dos rom ances do G raal. N isto, a
a Europa em meados do século seis. Nessa época, os reis Kentish conexão do G raa l com o sangue e o corpo do C risto, a criação
(saxônios) estavam tentando estabelecer o dom ínio agostiniano de um novo herói do G raal, G alah ad , e a idéia do G raal sendo
so b re a fé da I n g la te r r a e h a v ia c o n fu s ã o e a n s ie d a d e afastado para sem pre dos olhos do povo, n eu tra liza ra m a
consideráveis, entre os ingleses, ante o ru m o r de que o G raal efetividade da corrente céltica. A n atureza dessa tensão veio
era o “verd ad eiro corpo do C risto ”. “Era o G ra a l algo céltico até nós no século vinte e um na form a de um a deusa pagã
ou ro m a n o ?” era a questão oculta por trás da pergunta de versus um patriarcado cristão, com o m odos de pensam ento
P a rsifal no C a ste lo do G ra a l: “A q u e m se rve o G r a a l? ”. qu e expressavam a espiritualidade ocidental.
D evem o s p re su m ir q u e os rom an ces do G ra a l eram não
so m e n te u m a ch a v e p a ra a e x istê n c ia de u m a tra d iç ã o N u m q u a d ro m ais a m p lo , G o d w in a rg u m en ta m u ito
m isteriosa, mas tam bém , ou alternativam ente, um a afirm ação convincentem ente que a Idade de O uro exaltada pela literatura
política indireta de teor subversivo qu e levantava a questão de (um a Idade em que não havia Terra D evoluta nem povo infeliz
um conjunto de ensinam entos religiosos contra um outro. Será e em que seus governantes não eram tiranos) pode ter sido
que o G raal servia a um Rei Pescador C éltico que representava um a realidade histórica em períodos m uito anteriores à era
a cristandade céltica (ferida no conflito religioso), ou a um a cristã. Esse paraíso não é o qu e a m aioria de nós é levada a
autoridade externa à Inglaterra e centralizada em R om a? M ike acreditar, ou seja, que esse estado beatífico só existe com o uma
Ashley, que debate ao longo desses pontos, conclui: “H avia utopia criada na m ente das pessoas pelo desespero na condição
considerável enferm id ad e na terra e o Rei Pescador estava h u m an a e a esperança pelo que deveria existir se apenas as
doente. N ão é de ad m irar que houvesse anseio da parte da pessoas fossem diferentes.
Ig re ja C é ltic a de c u ra r o Rei e a ju d a r a te r r a ” (A shley,
Introdução, pág. 8). Indícios arqueológicos apontam para a existência de paraísos
agrários neolíticos na T urquia, nos Bálcãs e no Su l da Rússia,
A história do G ra a l refletiu o dilem a dos poucos séculos o n de sociedades viviam lado a lado e a vio lên cia parecia
que precederam sua em ergência no século doze. D entre seus desconhecida (pela inexistência de arm as de guerra), em bora
vários tem as, um que foi enfatizado foi a questão: ‘Era a Igreja eficazes ferram entas e objetos dom ésticos, pequenos altares e
de R om a o v e rd a d e iro re fú g io da Ig re ja do C ris to , ou vasos sacros tenham sido encontrados em vários sítios. G odw in
perm anecia ele firm em ente com os britânicos?” (Ashley, Ibid). sugere a preem inência de um a D eusa da Terra em suas crenças,
O herói, Parsifal, e a cura do Rei Pescador, estariam então com base em estatuetas e outros artefatos descobertos; um
apon tan do para a resolução do problem a. N a realidade não o espírito vivificad or que perm eava a vida com unitária e que
apoiava valores de igualdade e cooperação, é qu e essa fase reviven d o o sím bolo. A lg u m as pessoas poderiam d izer que
agrária m uito provavelm ente resultou no m odo com o a historia os eventos são de q u a lq u e r m an eira predeterm in ad os, de
se d e s e n v o lv e u e n tre m u ita s das p o ste rio re s so cied ad es m odo q u e estam os viven d o algum grand e ciclo de eventos e
civilizadas. T alvez essas sociedades tenham sido superadas por qu e há bem pouco que possam os fazer a esse respeito. O utros
tribos caçad oras e o p ovo afetad o p o r esse ch o q u e ten h a contrapõem a asserção de que somos dotados de livre-arbítrio,
sonhado desesperadam ente com o seu anterior estado de alegria de qu e podem os fa zer escolhas e m u d ar a m aré. Será possível
e paz, qu e se torn ou então a substância da lenda. Ele conclui qu e ten ha chegado o tem po em q u e não haja escolha e só
q u e os m itos do G ra a l ecoam u m a catástrofe com o essa, reste u m ru m o a seguir? E certam en te não há de ser um
recordando o evento no inconsciente coletivo. Podem os ver ru m o q u e n o s a b s o lv a in d iv id u a lm e n t e de q u a lq u e r
isso nos m itos célticos e cristãos, em qu e o paraíso deveria ser responsabilidade. Se a nossa negligência, o nosso desperdício
recuperado por um herói do G ra a l ou um personagem crístico e os n o sso s p e n s a m e n to s d e s tru tiv o s n os tro u x e ra m o
(G o d w in , pág. 24). p rob lem a de extinção n u m m u n d o sobrecarregado, então o
processo precisa ser de algu m m odo revertid o. A ssim sendo,
Um mito para a humanidade moderna com o pessoas esperançosas, podem os nos voltar para o G raal,
In depend entem ente das fontes, cuja descoberta foi um a para o seu poder miraculoso. N esse m ito do G ra a l do Rei
e x p e riê n c ia e x c ita n te , o m ito se to rn o u p a rte do nosso E n ferm o e da T erra D evolu ta nos é dito qu e o G raa l sustenta
inconsciente, afloran do espontaneam ente de tem pos a tem pos a vida na expectativa da chegada do herói do G raal, isto é, na
à consciência, q u an d o circunstâncias naturais e históricas no expectativa de m ud an ça no espírito hu m an o. M ude-se isso e
m u n d o da H istória dispararam algum fator. Podem os ainda se trará de volta o esp írito da terra. A voz do G ra a l propaga a
ver algum a verdade revelada no m ito do Rei E nferm o e da m e n sa g e m de a m o r à T erra e a suas c ria tu ra s. Se essa
Terra D evoluta, qu and o ele é aplicado à nossa própria situação m ensagem fo r tra d u z id a em ação, a saúde da T erra será
nestes dias e nesta era. C o m freq ü ên cia pergu ntam os, ao restau rad a.
contem plarm os nossa sobrevivência com o um a espécie, se nossa
própria catástrofe já não está aqu i ou quase aqui, o que suscita Vista neste contexto, a busca do G raal por Parsifal representa
intensos debates sobre sistem as de valores qu an to a propósito o papel da hum anidade e de seus líderes, guiados por um novo
e destino hu m an os, ao interpretarm os avisos da situação do conju nto de ideais revivificados pelas experiências do passado.
planeta. C o m o espécie, somos um povo m aravilhoso. Temos de cuidar
da nossa pescaria e co n tin u ar a pescar e curar nossas feridas,
N ós, com o a espécie h u m a n a , pod em os ser a q u e le Rei em lugar de nos afligirm os por elas. U m dia, então, em resposta
E n ferm o , e a T erra D e v o lu ta o nosso lar. E nos to rn a m o s as ao cham am ento in tu itivo do G raa l, o Tolo/Herói vai aparecer
co isas a ssim ! Q u e r se ja m o s u m p e q u e n o g ru p o , u m a na m argem do rio e, depois, antes que seja tarde dem ais, curar
o rg a n iz a ç ã o , u m país, ou a raça h u m a n a , p o dem os estar nossa ferida e restau rar a terra.
Capítulo 9
A deusa e o Graal

Alguns escritores modernos ligam a Busca do Graal à Busca


da Deusa em seu aspecto de arquétipo ativo na psique humana
ou de poder numênico ativo no cosmos e requerendo reação
humana. Embora coincidam com o movimento feminista, nem
todos esses escritores são mulheres. Essa tendência parece
refletir maior consciência do princípio feminino em atividade
nos assuntos humanos.

Ao examinarmos esse princípio feminino como tema no Mito


do Graal, é prudente indicarmos neste ponto que, neste
contexto, o antagonismo ou a complementaridade masculino-
feminino diz respeito a um significado metafórico aplicável a
energias psíquicas no homem ou na mulher e não a
especificidade de gênero em papéis biológicos ou sociais. O
fato de que o estado psicológico de desarmonia tenha se
O p elicano era um sím bolo alq uím ico de revivificação, às vezes
refletido ou projetado em posturas e atitudes específicas em
visto regu rgitand o seu alim ento para alim en tar seus filhotes e
outras vezes escam ando seu peito para proporcionar, em sacrificio,
gênero na nossa sociedade é um legado lamentável do passado.
o a lim e n to (san g u e ) da vid a . O sím b o lo é a p ro p ria d o p ara Um dos grandes desafios que nos confrontam hoje em dia está
descrever o G ra a l com o D eusa através da q u al e pela q u al o herói em trabalharmos para mudança de atitude no ambiente social
conclui sua busca. (i.e., modificação de papel e aprimoramento), bem como em
conseguirmos equilíbrio das energias do animus e da anima.

Supressão do feminino
Durante séculos, a maioria das sociedades viveu sob a
dominancia de um Deus macho e de uma organização
d o m in a n te p a tria rc a l. E ssas so cied a d e s q u e ñ z e ra m as na fogueira por bruxaria. Por um curto período, a luz do G raal
m ulheres serem inferiores aos hom ens não podiam elevar o difundida pelos trovadores e suas patrocinadoras femininas, como
princípio fem inino - das polaridades macho/fêmea na natureza E leanor de Aquitaine, M arie de C ham pagne, M arie de France e
- a um estado igual, eq u ilib rad o ou com plem en tar em relação E sc la rm o n d e de F oix, b rilh o u in te n sa m e n te nas lend as
ao p rin cípio m asculin o. A D eusa da m itologia ou religião reelaboradas de A rtu r e seus Cavaleiros da T ávola Redonda. Se
cum pria um papel subserviente a um D eus Su p rem o num as lendas de algum m odo representaram um a pequena mudança
outro m undo transcendente ou coexistente da realidade. Assim , na consciência do hom em , ela foi insignificante. A í estava um a
a vida social nessas sociedades foi organizada em torno dessa te n ta tiv a de re c o n q u ista r algo q u e o u tro ra c o n stitu íra a
crença, com o m acho tendo um papel dom inante. Seria um dignidade atribuída às m ulheres na E uropa megalítica e céltica.
tru ism o d iz e r q u e as p rin c ip a is relig iõ es do m u n d o , em Nessas sociedades, a Deusa da Terra e o D eus do Sol eram vistos
algum as declarações autoritárias e em suas práticas, refletem com o participantes divinos iguais nos processos de criação e
esse pensam ento. N a E uropa cristã de fins do período m edieval, destruição. As cruzes célticas que se vêem nas Ilhas Britânicas e
q u an d o apareceu um grande n ú m ero de rom ances do G raal, na Irlanda em esculturas e artefatos em pedra, ou em sítios
foram feitas in eq uivocam ente declarações no sentido de que a m egalíticos com o as pedras C allan ish , representam sim bo­
m u lh er era a tentadora, principalm ente um a geradora de filhos, licamente uma fusão harmoniosa de símbolos cristãos e “pagãos”.
inadequ ad a para alcançar a ilu m inação, de vez em q u and o Esses símbolos m ostram o anel da Deusa rodeando o coração
“im pu ra”, ou de caráter instável ou im perfeito. G od w in explica da C ru z . Pareceria que um deus solar e um a deusa terrena
qu e a ânsia pelo essencialm ente fe m in in o d en tro do m ito —e estivessem desfrutando um a harm onia na criação. Nas cruzes
ele estava com en tan do especificam ente o M ito do G raa l — célticas, às vezes os círculos no encontro das traves são duplicados
tornou-se tanto m ais exagerada e urgente q u anto mais a Igreja, ou triplicados, sugerindo um a vibrante em anação do coração da
com sua fixação contra a m u lh e r potente, tentou reprim i-la, cruz, com o ondas irradiando-se para fora pelo efeito de uma
com o nos antigos esforços para reprim ir o culto à Virgem M aria. pedra atirada em água parada. Este sím bolo, propriam ente,
antecede o cristianismo. As pedras de Avebury, em W iltshire,
O misticismo do Graal reflete atribuição essa enorm e façanha de engenharia dos construtores megalíticos,
de poder às mulheres m ostram pedras maciças representando os princípios masculino
As atitudes estão m u d an d o m ais depressa em algum as e fem inino da criação. As longas avenidas estão colocadas em
sociedades e algum as instituições religiosas dessas sociedades. pares m acho e fêm ea, igualm ente em parelhados; suas formas
Em outros casos, a reação está endurecen do contra q u a lq u e r tornam isso óbvio.
m udança no status das m ulheres. N ão é objetivo deste contexto
debater os acertos ou erros dos valores expressos e das atitudes O status das mulheres em tempos antigos
assum idas. Em tem pos m edievais, porém, as m ulheres viviam A hom enagem ao princípio fem in in o veio à tona também
um a época m uito dura, desde inferioridade de status à queim a m ais ou m enos na época do C risto, no M editerrâneo O riental.
N ota-se com o os gnósticos deram grande ênfase à sabedoria aq u ilo que o torna um a história sobre as m ulheres da terra, a
fem in ina de Sophia , um a espécie de V irgem do G raal. Em seu antiga deusa exercendo poder sobre hom ens e eventos através
ritual de m istério em Elêusis, era usado um vaso ritualístico. O de personagens e tem as. N o castelo do G raal, a V irgem do
trabalho artístico pictórico ali descoberto m ostra o que parece G raal e não um sacerdote tinha lugar de destaque na Procissão
ser a form a de um a V irg em do G ra a l segurando um vaso ou do G raal. M esm o nas posteriores versões cristãs, a Portadora
krater. A í se tem um a figura de m u lh e r e não de hom em , do G raal era um a m ulher, que era a “mais pu ra”. Parsifal rompe
d esem pen hand o algum papel im portante no rito de Elêusis. com a influência de sua m ãe, mas não m uito tem po depois ele
A explicação esotérica para a sabedoria fem in in a, a sabedoria q u er vo ltar para ela. A C riatu ra A squerosa (um a fêm ea) o
de Sophia, não era da sabedoria obtida por observação sensoria castig a a p o n to de to rn á -lo d e s p re z ív e lm e n te c u lp a d o .
e intelecção e sim por intuição na com preensão de si m esm o e, B lan ch efleu r apresenta um m odelo de ressonância entre seu
p o rtan to, no co n h ecim en to sobre a n a tu re za h u m an a e o projetado objeto de am or e a coisa real, um casam ento de am or
destino h u m an o —um conh ecim en to qu e provém do coração verdadeiro que se pretendia d u rad ou ro. Por últim o, a floresta
(B olen, pág. 2 5 4-5 ). é o local de sua criação e de sua aven tu ra; é considerada com o
o in co n scien te na in te rp re ta ç ã o dos sím b olos do m ito e,
A arqueologia p ro d u ziu prova, na E uropa pré-histórica e p s ic o lo g ic a m e n te , o fe m in in o é p o r v e z e s ig u a la d o ao
na A sia O cidental, de sociedades em que foram vividos longos inconsciente.
períodos de paz. “A força de ligação que uniu mais estreitamente
esses povos... foi a D eusa... Seu nom e aparece em cada aspecto Relatos da Procissão do G raa l geralm ente ligam o G raal à
da vida cotidiana... N essas com unidades antigas... o m un do lança sanguinolenta. Segu ind o o exem plo de Jessie W eston,
era visto com o fem in in o e fem in in o era visto com o o m undo... alguns escritores com freqüência apontam o vaso e a lança
M as, com o a visão protetora, procriadora e afetiva do m undo com o símbolos sexuais. A imagem pagã da lança sendo prim eiro
deve ter sido dom in an te, o elem en to m asculino, longe de ser im ersa nu m caldeirão m ágico foi m ais tarde substituída por
inferior, deve ter sido encarado com o potencialm ente essencial um cálice e um a lança que perfu rou o lado do C risto. O fato
à saúde de toda a com u n id ad e” (G od w in , pág. 220). H avia de ela ser carregada antes do G raa l, gotejando sangue de sua
ig u ald ad e e resp o n sa b ilid a d e c o m p a rtilh a d a , c o n fian ça e p o n ta, m ostrava qu e ali h avia a lg u m v a lo r sim b ólico ou
cuidado m útuo. ritualístico. M as deve ser levado além de um a interpretação do
ato de sofrer e do sacrifício do Salvador. O G raal era o sím bolo
O papel da mulher no mito do Graal do ventre da D eusa e seu conteúdo era o sangue da vida. A
O ra, o M ito do G ra a l pode ser visto com o um a tentativa de lança era o elem ento m asculino. Q u ando m ergulhada nesse
recuperar esse estado de eq u ilíb rio m acho-fêm ea. C o m o um a conteúdo, passava a levar o com ponente curativo. M aria, então,
categoria de m ito, ele parece estar entre a noção de que é “um to rn a -s e m ais do q u e u m a m ãe de c o ra ç ã o p a rtid o na
dos últim os grandes m itos de d esen volvim en to m ascu lin o” e crucificação, dando m ais profu n d eza ao m istério cristão. Os
dois objetos, a L ança e o G raa l, foram necessários no processo in iciáticas para h o m en s, a p o n ta n d o o in ício da jorn ad a,
de cura, os dois elem entos básicos (m asculino e fem inino) clareando o cam inho e facilitando a bem sucedida conclusão
“u n in d o-se para restau rar a desértica e estéril terra do G raal da Busca pelo herói.
em sua antiga riq u eza e fertilid ad e” (M arkale, pág. 174). O
cristianism o do G ra a l e a d o u trin a cristã ortodoxa pareceriam E elas falam tam bém a nós, lem brando-n os o tem a mais
alcançar aqu i um a estreita consangüinidade (sem intenção de am plo do hom em e seu erro. O episódio Lady in the Tent [“A
trocadilho!). D am a da T enda”], na prim eira aventura de Parsifal, m ostra
insensibilidade para com os direitos de outrem , seu ato de
T am bém já se a rg u m en to u qu e a próp ria Busca fosse um a roub ar (o anel), a extorsão de beijos e, m ais tarde, o insulto
expedição n u m o u tro m u n d o , um reto rn o ao ven tre “para sofrido pela D am a. Isto indica m etaforicam ente a profanação
recriar um estado p arad isíaco qu e precedeu o n a scim e n to ” do T em plo de Jerusalém (sendo a tenda a casa de D eus que
(Ibid. pág. 17 4 ). O pap el da V irg em M aria pode ser visto abriga o inocente) e tam bém o pecado de A dão. O resto da
com o o d esen vo lvim en to dessa idéia. A Busca poderia ser um h istó ria é o sucesso fin a l de P arsifal (ou do h o m em ) na
re to rn o a D eu s após a sep aração in icial D ele e o lo u v o r a reconstrução do Tem plo e na restauração do estado prim ordial
M aria pode ser ju stificad o com base em q u e ela é um tem plo do hom em . O erro do hom em é descrito, m as um a m u lh er é a
e u m vaso para o D iv in o e com o “a q u ela q u e e sp elh a a vítim a. Parsifal tem de avaliar o incidente e toda a sua conduta
g ra n d eza de D e u s”. posterior em com paração com sua experiência de am or por
B lanchefleur, o castigo da C riatu ra A squerosa, seu tratam ento
Busca masculina ou feminina? gentil pela R ainha do G ra a l e sua p rim eira iniciação pela
Estas observações parecem favorecer a noção de qu e “o V irgem do G raal aos segredos do G raal.
G raal é um sím bolo fem in ino e de que a Busca que o cavaleiro
em preende é u m a procu ra da fem in ilid ad e” (Ibid). Isto pode Esse papel iniciático de m ulheres pode ser visto em outras
nos ten tar — um a vez qu e a questão dos papéis dos gêneros lendas arturianas, sendo os personagens principais G uinevere,
tem hoje u m com pon ente em ocional altam ente carregado —a V ivian e M organ. Elas conferem soberania aos personagens
perguntar: “Por q u e não um cavaleiro fem in in o na b u sca?” A m asculinos, provocam -nos ou os encantam , fazendo por vezes
resposta é para ser e n c o n tra d a em alg u m as das op in iões exigências excessivas à boa vontade deles e cuidando de suas
expressas nos parágrafos anteriores. D iz-se que os hom ens feridas. M ostram os aspectos positivo e negativo da anima na
precisam da Busca e as m ulh eres não. Por isto elas aparecem psique dos heróis. Se a Busca do G raa l é um a história de
com o V irgens do G raa l, M ensageiras do G raa l, personagens separação da nossa verdadeira n atureza e de retorno a ela,
envolvidas em vários encontros de cavaleiros, que apresentam argum enta-se qu e as m ulheres podem não achar necessário
tarefas difíceis para cavaleiros realizarem , qu e aconselham e ou conveniente fazer essa separação “p o rq u e seu ventre e seu
advertem o herói, e assim por diante. Elas atuam com o guias corpo têm ligações m ais íntim as com os ciclos naturais da vida
do q u e os d os h o m e n s ”. C o n tra isto , é ta m b é m a r g u ­ E m seu ím peto dirigid o para um d u rad o u ro patriarcado,
m entad o qu e as m u lh ere s sentem realm en te u m a separação elas p arad oxalm en te assum em um a sobrecarga de m ascu­
n e c e ssá ria , nos p rocessos de n a s c im e n to , vid a , m o rte e linidade. O anim us , ou elem en to espírito em predom inância,
r e s s u r r e iç ã o , d a d o q u e e la s “ lu ta m p o r r e a liz a ç ã o e causou um a d im in u ição ou um d eslocam ento da anim a ou
con secu ção em n íveis in te rio re s... M as, para os h o m en s, elem en to alm a. N este caso pareceria q u e a jorn ad a do herói
sep aração e iso la m e n to são sim p le sm en te o estad o n a tu ra l para fora se to rn a ria , an alo g am en te, a busca do herói na
do herói... Os h om en s lu tam , não p o r com plem en tação in te­ m u lh er. N a nossa próp ria época, essa busca com eçou para
rio r e sim p o r p erfe iç ã o e x te rio r”. A jo rn a d a para fora do algum as m u lh eres que se torn aram alienad as da “esp iritu al,
herói não é para a m u lh e r, u m a vez q u e ela já in te g ro u a psicológica e n u tritiva fu nção G ra a l de sua fe m in ilid a d e ...
m atéria com o esp írito e sabe disso. C o m o d iz H e le n L u ke: elas p erd eram o seu p róp rio G ra a l e têm de p artir em busca
E la “in te g ro u a vida do e sp írito com a vida in stin tiv a da d ele e x a ta m e n te co m o fa z e m os h o m e n s, a fim de e n ­
carn e, v iv en d o no m u n d o em todos os níveis do a m o r q u e é con trarem a h a rm o n ia e sp iritu a l” (H ansen d, em Introdução
o c a m in h o de re to rn o co n scien te à u n id a d e de todos os a Evola, ix).
o p o sto s” (M a tth e w s, pág. 9 4 ).

N o que diz respeito ao m acho, m esm o quando ele persegue


Q u a n d o fo ca liza m o s os aspectos p ositivos e cósm icos da
a divina fem inilidade, com o deve, tem de viver seu próprio
fe m in ilid a d e e ch e g a m o s a a c re d ita r q u e o c o n c e ito da
papel no processo criativo. Tem de separar, arrem eter para a
D e u s a - G r a a l n o s p r o p o r c io n a a m a is c o n f o r t a d o r a
fren te, a p ren d er a sabedoria de ten tativa e erro “lá fo ra ”,
exp lan ação do m istério, m esm o assim ele co n tin u a a ser um
p r o c u ra r c u r a r a fe rid a de seu pai (isto é, sua p ró p ria
m istério. N ão devem os esq u ecer qu e, u n iversalm en te, m itos
m asculinidade ferida) e alcançar o G raal. Para um hom em , a
têm tam bém apresentado im agens de m u lh eres com o A M ãe
m asculinidade sadia e não um “m achism o” não m ediado deve
T errível e a F êm ea D e v o ra d o ra q u e com e todas as crian ças
ser a meta. Ele deve descobrir por experiência o lado fem inino
exceto a d ela m esm a. A í está o lado n eg ativo , o b scu ro, da
do seu ser.
fe m in ilid a d e , q u e h o je vê o ad vo g ad o das m u lh ere s re p e tir
ru id o sa m e n te q u e “existe so m en te um a verd ad e, u m m odo
de sentir, u m m odo de c o m p re e n d e r”, o m odo da m u lh er, e A lg un s diriam que a integração do fem in ino é o processo
q u e “to d o s os h o m e n s são c o r r u p to s , d o m in a d o re s e m ais im portante na psique, que ajuda a form ar um a ponte
m ilita rista s e tod as as m u lh e re s são m ã e s -te rra e n a tu ­ entre o ego e o self. Isto não significa que os hom ens têm de ser
ra lm e n te c e n tfa d a s na c ria ç ã o ” (R ohr, pág. 6 8 ). Isto in clu i encarados “m eram ente como consortes de um a todo-poderosa
esposas possessivas e m ulh eres extrem am ente assertivas, que Deusa... (mas com o)... G uerreiros e Caçadores por n a tu re za ...
p e rd e ra m o p a p el a fe tiv o , o r ie n ta d o r e c iv iliz a d o r nas (qu e p re c isa m )... fa z e r algo q u e ben eficie a M ãe T erra”
relações hu m an as. (K en n eth Johnson, pág. 18).
Capítulo 10
O lado negro do mito

F izem os referen cia a n te rio rm e n te a O tto R ah n e suas


tentativas de encontrar os segredos do G raal no Su l da França,
no com eço dos anos trinta. Foi a época em que H itler e seu
Partido Socialista N acional estavam apertando o cerco ao sistema
político da Alem anha, o que levou subseqüentemente à Segunda
G ran de G uerra e ao colapso do Terceiro Reich em 1945. Desde
o térm ino dessa fase baixa da historia hum ana têm aparecido
relatórios colhidos de contem porâneos de Hitler, revelando seu
interesse, bem com o dos m em bros do seu quadro de oficiais SS,
pelo assunto do G raal e das lendas da T ávola Redonda. Além
do interesse de H itler pelo ocultism o, eles m ostram com o o
com portam ento nazista era condicionado até certo ponto pelas
pervertidas percepções desse grupo dirigente quanto ao G raal,
à lança gotejando sangue e às noções da guarda do G raal.

A lança do destino
A q u ilo que veio a ser cham ado de Lança do Destino figurou
com o um poderoso sím bolo na própria filosofia de H itler,
A D eusa K erid w en e fe tiv a m e n te m a te ria liz a d o na fo rm a de u m a re líq u ia
conservada no M useu de H apsburg. N o aspecto lendário, ela
é conhecida com o a lança de Longinus, o compassivo centurião
rom ano que enfiou sua lança no lado do Cristo, entre a quarta
e a qu in ta vértebras, a fim de pôr fim ao seu sofrim ento. Esse
ato resultou em que ele foi curado de sua cegueira parcial, e com pensação pelo ferim ento e o curaria, isto é, restauraria a
estabeleceu as propriedades mágicas (curativas) da lança. Antes prim azia da Igreja Céltica. E A shley conclui: ‘A Busca do Santo
dessa cristianização, a lança que aparecia na Procissão do G raal tornou-se um a busca para resgatar a Igreja Céltica e
C a stelo do G ra a l tin h a associações m ágicas derivadas do provar sua preem inencia sobre a Igreja R om ana... C om sua
contexto céltico. T inha origem divina e nunca falhava em acertar busca de perfeição e redenção final, os cavaleiros do Rei A rtu r
seu alvo em com bate, tendo às vezes de ser im ersa num fluido estabeleceriam a prim azia da Igreja Céltica... (c u ja )... busca
m ágico para m an ter sua n atureza venenosa ou curativa. E se torn ou m uito rapidam ente a busca de cada indivíduo para
re p re se n ta d a tam b ém co m o um sím b o lo fá lic o q u a n d o encon trar em seu coração um a com preensão da verdadeira
associada à criatividade e, além disso, sim boliza discernim ento religião e seguir esse cam in h o ” (Ashley, Introdução).
intuitivo ou a aplicação da vontade divina. N o saião de banquete
E ntão, a lança usada nesse contexto tem o atributo de
do C a s te lo do G r a a l, fo i c a rre g a d a p o r u m jo v e m q u e
vingança, de conseguir com pensação pelo ferim ento infligido.
cam inhava ju n to da V irgem que levava o G raal. N um a versão
Seu uso desse m odo restauraria o G raal ao seu guardião de
do m ito do G ra a l, o herói, G a la h a d , cura a ferida do Rei
direito. Su a ferida sararia, a terra se recuperaria e seu povo
Pescador aplican do-lhe a ponta da lança.
seria redim ido. D esde que a lança trabalhasse para o G raal,
determ in aria o destino daqueles qu e a em punhassem . Ela
M ike A sh ley relaciona a lança a um d iferen te contexto
outorgava poder e servia a D eus. Fosse a lança separada do
histórico e sim bólico. Se foi a lança qu e causou a ferida na
G raa l e serviria a propósitos diabólicos e, em m ãos erradas,
história de Parsifal, então ela foi sim bolicam ente o instrum ento
acabaria em catástrofe.
do cristianism o rom ano para ferir o cristianism o céltico na G rã-
B retan ha da época do obscurantism o. O ferim ento do Rei A associação do G raal com o o cálice da Ú ltim a C eia e que
Pescador qu e representava o cristianism o céltico, pela Igreja contin ha o sangue do C risto com a lança que foi im ersa nesse
Rom ana, foi um a m etáfora do conflito céltico-rom ano e de sua m esm o sangue, no coração ou no cálice, foi um a poderosa
resolução insatisfatória. A pergunta de Parsifal, “A quem serve c o m b in a ç ã o s im b ó lic a . A m b o s o b je to s e sta v a m se n d o
o G r a a l? ” — diz A sh ley — tinha de estar relacionada com a relacionados com a divina substância redentora, form ando a
identificação da natureza dessa cisão. Nesse caso, a lança não essência da vida e o processo criativo. O caráter sagrado e o
tinh a m ais o caráter de um in stru m e n to m isericordioso e poder p u nitivo da lança é um dos altos tem as da apresentação
curador, tendo recebido esses poderes p o r seu contato com o operística w agneriana de Parsifal, na q u al a sublim e vontade
coração do C risto, e sim o de algo cru elm en te punitivo e que de D eus é dem onstrada pela m aneira com o a lança é usada;
foi retom ado na lenda do Rei Ferido. O cristianism o céltico ela é finalm en te usada em com binação com o cálice, para a
recebera o ferim ento incurável, que tinha de ser vingado (a cura do Rei Pescador. A condição de A m fortas com o o Rei
história galesa de Peredur continha conotações de um tem a de E nferm o do G raal e a infelicidade do Reino do G raal, tais como
vingança). P resum ivelm ente, a requerida vingança faria justa reveladas no dram a m usical, são causadas pelo lapso m oral do
Chttpil

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A»r«*rwB»lv« As ruínas da C atedral de G lastonbury (Foto do Autor)


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M apa do autor m ostrando as localizações e os


movimentos do G raal aqui reportados.
Procissão do G raal c o Rei Pescador
M onum ento cátaro no sopé de M ontségur
(foto cortesia d e B ob K o gel)
Partida cm Busca do Santo Graal
C astelo de M ontségur em ruinas (foto cortesia d e fío b K ogel)

Castell D inas Bran. U m a m ontanha com ruínas de um castelo m edieval,


perto de Llangollen. A lenda galesa o considera como o Castelo do Graal.
Gástelo de N euschw anstein (1869-1886), C astelo do Graal D inas Bran fica a poucos quilôm etros da C ordilheira Snowdon, onde
construido por L udw ig II da Bavária {Foto do A utor ) Parsifal (Percdur) foi criado. (Foto d o Autor)
MISTERIOS DO MITRAISMO
Os Sete Graus de Iniciação
Iluminação; Consciência Cósmica ‘Região das Estrelas Fixas”

Equivalentes Místicos, Possível Equivalente Grau Equivalente Português


Alquímicos ou Psicológicos Arturiano e de Busca do Graal

Ouro, Coroa, Sol, Pai, Rei do Graal, Artur PATER Pai


Pai; Individuação

Prata, Rainha, ADeusa. Virgem do Graal, Mensageira do Graal; HELIODROMUS Corcel do Sol
Princípio feminino. Rainha Guincvcre; Rainha do Graal

Disciplina Coletiva; Fraternidade da Távola Redonda; PERSES Persa


Consciência Cósmica Homem Sábio; Mago; Sacerdote

Controle do Ego sobre Leões, dragões c outras criaturas LEO Leão


paixões, preconceitos latentes; ferozes; Cavaleiro Vermelho
sombra conciliadora

Místico cm busca Cavaleiro em Ordem Espiritual, MILES


usando espada para agir por justiça Guerreiro

Amor a vários níveis. Noivo, Noiva NYMPHUS Noivo


Harmonia animus/anima.
Fusão de alma e espírito.

Jornada interior para o inconsciente Corvo ou outros pássaros CORAX Corvo

(À exceção do primeiro e do sétimo estágios, os graus podem não estar necessariamente na ordem descrita acima.)
N ew grange, C ounty M eath. Foto reproduzida por gentil permissão
Lago Comper, na floresta de Broceliande, onde, segundo o folclore local, Lancelot
do N ational M onum ents and H istorie Properties Service, Ireland.
foi criado por Viviane, a deusa fada, sob suas águas serenas, no Mundo Sobrenatural
Céltico. (Foto do Autor)

C atedral de Chartres. O Portal Sul. No interior de N ewgrange. Foto reproduzida por gentil perm issão do
{Foto d o A utor) N ational M onum ents and Historie Properties Service, Ireland.
O C astelo W ewelsburg
Foto reproduzida por gentil
perm issão de Kreis Paderborm.

A direita: A Lança do Destino, im agem


reproduzida de T he S p e a r o f D estiny , de
Trevor Ravenscroft, Sam ual Weiser, 1982.
Permissão para reprodução concedida
por Sam ual Weiser Inc.
Silbury H ill
Maciça colina fcita pelo homcm, construida por povos neolíticos na cele­
bração da Deusa. Urna vista aérea revela a forma de um a Deusa de cócoras
(grávida) na colina central e no charco circundante. (Foto do Autor)
•K s a sn rsrn¿Zss£ Zs£íS> «J E*&* -♦ •?
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Stonehenge, vista do oeste, m ostrando a Os Cavaleiros da Távola Redonda, vivendo a experiencia da


pedra altar. (F oto do A utor) Visão do Graal. M anuscript Illustration c 1470
Rei, acarretando a perda da lança para Klingsor, o mágico. Ela um fio de m etal enfiado nele. O lado da parte m ais baixa da
foi usada im propriam ente e foi afinal capturada pelo “Tolo” base estava ornad o com cruzes d o u ra d a s” (R avenscroft, pág.
Parsifal, que a levou de volta ao castelo do G raal e a usou, 8 ). S e g u n d o u m a in te rp re ta ç ã o , o p re g o s im b o liz a v a o
juntam ente com o conteúdo do G raal, para curar o Rei. U m a in d ivíd u o lim itad o aos eventos da história ou seu papel no
explicação mística disso interpreta a taça e a lança com o a união processo histórico. Su a liberdade dependia do uso q u e era feito
da com preensão (a taça) e da vontade ou sabedoria (a lança), a da lança e do m otivo q u e o precedia, p resu m ivelm en te um
única que é capaz de ilu m iná-la (a taça) perfeitam ente. N um m otivo qu e provinha de algum a energia arquetípica. A própria
dado m om ento do dram a, Parsifal arremessa a sagrada lança no lança tinha sua mágica; existia com o um objeto concreto e havia
^ /
solo, antes de com eçar sua m editação; isto é entendido com o su postam ente d em on strad o sua efetividade no passado. E por
indicação do m om ento em que ele se torna centrado no seu vezes descrita com o a espada de S ão M au rício, q u e g u ard ava a
/
próprio ser e no universo. Ele está no ponto em que céu e terra árvore da vida no E den, ou a lança qu e Paulo arrem essou irado
estão ligados pela lança (Achad, pág. 10). O papel de K ling sor é con tra D a vi. D u ra n te o cerco de A n tió q u ia , na época das
m uito importante relativamente à encenação histórica do aspecto cru zad as, a súbita descoberta da L an ça Sagrada le van to u o
simbólico do dram a m usical, o qual abordarem os m ais adiante m oral, deu força aos C ru z a d o s e tra n sfo rm o u em vitó ria o q u e
neste capítulo. K lingsor tam bém queria ad q u irir o G raal, mas estava para ser um a derrota. E la passou a ser p ro p ried ad e dos
achou que a espada por si só era suficiente para seus propósitos im peradores alem ães no passado e to rn o u -se parte do tesou ro
m alévolos. Ele representa o lado negro da natureza h u m an a, as de H ap sb u rg até o século vinte. S ó a lenda liga essa lança com
“emoções e paixões desenfreadas”, e a vontade hu m an a de agir a de L on g in u s ou a lança san g u in olen ta da L en d a do G ra a l. O
contra a vontade divina. fato é qu e, no m ito de H itler, L an ça, G ra a l e a história de
Parsifal, estavam tão in extricavelm en te ligados com o o prego à
O Simbolismo da lança reintcrpretado lâm in a. A o ver pela p rim eira vez o talism ã de po d er em V ien a,
O ra, ao q u e consta, a fixação de H itler pela óp era Parsifal H itle r sen tiu com o se em alg u m p eríod o a n te rio r da h istória
de W agner era obsessiva. O G raa l e a L ança, o Rei Pescador e ele p ró p rio tivesse segu rad o a lança.
o herói Parsifal, trazidos à vida ante platéias do século vinte,
eram “sopa no m e l” para ele. T alvez ele não pudesse ou não U m a vez in stalad o com o D ita d o r e p ouco depois de sua
quisesse exam inar o papel de K lingsor! H itler contem plou pela a n e x a ç ã o da Á u s tria ( 1 9 3 8 ) , ele sa q u e o u os te so u ro s dos
prim eira vez a lança na H a p sb u rg T reasu re H ou se de V ien a, H apsburgs e to m o u posse da lança, q u e foi colocada no salão
em 1909. R epousando em seu estrado de velu d o verm elh o , ela de S a n ta C a ta rin a , em N u rem b erg u e. A ssim , ele se to rn o u o
era “um a ponta de lança solitária, escurecida pelo tem po... um a últim o de um a longa lista de personagens qu e u m dia possuíram
longa ponta afilada apoiada nu m a base am pla com falanges de a lança e foram a u xiliad o s p o r sua “m ág ica” na c o n q u ista de
m etal representando as asas de um a pom ba. N a fenda central seus in im igos em tem pos de crise. A ssim ela era a lan ça do
da lâm ina, um prego com cabeça estava preso por um aro com d estin o e o destino do m u n d o estava em seu poder. A ssim foi...
por um tem po breve! Q u an d o o Terceiro Reich desm oronou, Essa visão tendenciosa nunca foi m encionada por nen hu m
a lança caiu nas m ãos das forças am ericanas de ocupação e o autor de obra sobre o G raal. V árias explicações são dadas para
G en eral E isenh ow er m andou que ela fosse colocada de volta o estado do Rei: sim plesm ente senilidade, punição por D eus,
n o m useu de H apsburg. reação de um m arido encium ado p o r causa de honra violada,
o pegar em arm as por um a causa vil, encantam ento no m undo
A fraternidade do Graal im aginário, ou inépcia para cu m p rir suas responsabilidades
A reconstrução do m ito do G raa l por H itler, em torno da régias devido à inevitabilidade de decadência e à necessidade
Lança Sagrada, foi apenas parte da história. N os anos que de renovação. O gosto de H itler pelas óperas de W agner leva a
precederam a ascensão de H itler ao poder, seu contato com o sugerir que aí esteve a centelha que ateou o fogo. A própria
m ito do G ra a l e outras literaturas heróicas, bem com o seu m ensagem mística de W agner é explicada m elhor por um a
interesse pelas óperas de W agner, m oldaram seu ideal de um m onografia escrita por W M . W ilm sh u rst. O personagem
C a v a le iro do G ra a l p e rte n c e n d o a u m a F ra te rn id a d e de T itu rel de Parsifal, que só é ouvido com o voz nos bastidores e
C avaleiros de sangue pu ro e nobre, na aventurosa busca da mais adiante com o o Rei do G raal m orto, deve ser reconhecido
L a n ça S a g ra d a . E le re in te rp re to u a con cep ção cristã do com o o Eu superior do hom em . Trata-se de “A dão antes da
sim bolism o do G raa l, para adequ á-la à sua teoria da raça, à lei Q ueda para condições físicas (considerando-se a Q ueda com o
darw iniana da sobrevivência do mais apto na sociedade hum ana um processo contínuo com um à hum anidade e não um evento
e à sua própria visão “profética” do m ito do G raal com o sendo isolado qu e tenha ocorrido a um único ser), ao passo que
aplicável a eventos de sua próp ria época. A L ança, então, Am fortas é A dão depois disso” (pág. 14). Am fortas falhou como
torn ou -se o ponto de partida de seu ím peto para o poder e, o Rei do G raal porque “perm itiu que um dos objetos sagrados —
lendário C avaleiro do G raa l, a justificativa para a form ação de a lança sagrada —fosse separado do cálice e o em pregou para
um a elite (a F raternidade do G raal). Essa elite, selecionada fins e desejos pessoais” (pág. 10). Em outras palavras, em sua
por n atureza e criação, teria todas as qualidades de lealdade, posição com o Rei do G raal, pessoa que é um vaso para graça e
coragem e disciplina, para im plem entar seu plano de dom ínio sabedoria divinas, ele usou sua divina força vital (a lança) para
e conquista. H á m esm o um a fotografia de H itler onde ele é propósitos egoísticos em lugar de seguir a Vontade D ivina. D aí
visto usando um m anto prateado dos C avaleiros do G raal. seu sofrim ento perpétuo e a injunção de que ele tinha de “nascer
C onhecem os algum as palavras atribuídas a ele qu an d o estava n o vam en te”. Parsifal é o terceiro com ponente nessa carac­
discutindo a ópera Parsifal, que explicam sua percepção do terização tripartite. E o recém -nascido ou regenerado aspirante
significado do dram a. Ele se referiu ao hom em forte alud ind o a Rei do G raa l que aparece no final do dram a.
a “sangue pu ro, nobre, na proteção e g lorificação de cuja
pureza a F raternidade dos Iniciados se unira... O Rei (quer A fraternidade da távola redonda de Himmler
dizer, o Rei Pescador) está sofrendo a doença incurável de N a nova ordem de H itler, a fusão do tem a do G raal com a
sangue corrom p id o” (Sklar, pág. 146). tra d iç ã o da T á v o la R ed on d a fico u a cargo de H e in ric h
H im m ler, q u e m ate ria liz o u o son h o de H itle r in tro d u z in d o por heróis do G raa l qu e acabam encontrando o G raal ou
um a F ratern id ad e N egra de C a va le iro s da T ávo la R edonda fracassam nisto. Sua experiência em conciliar esses opostos,
no século vinte, com todas as noções (exceto a cristã, a céltica vistos com o personagens na floresta, ou com o energias no
e a orien tal) associadas aos lend ários C a va leiro s do G raa l. A inconsciente, vai fazer parte do processo de alcançar o G raal.
reputação abjeta desse g ru p o in tern o e de sua G estap o é bem T odos os ro m a n c e s do G r a a l, ou seja, as h istó rias que
conh ecida. A S S foi o rg an izad a com o um a O rd em secreta contribuíram para m oldar o m ito do G raal na Idade Média,
d en tro do P artid o N azista, ten do no seu nível m ais alto um não fizeram referência n en hu m a à busca de um G raal Negro.
círcu lo in tern o de doze, com o na M esa de A rtu r segundo O elem ento “som bra” num in divíd uo e na liderança coletiva
algum as lendas. E le ten tou im ita r a corte de A rtu r no castelo da A le m a n h a n a zista assu m iu o co n tro le e tra d u z iu .em
de W ew elsbu rg , na V estefália, in stalan d o a T á v o la R edonda pensam ento e ação o próprio oposto de um m ito que tentava
num de seus côm odos, com lugares especiais designados para extrair o m elh or da natureza hum ana.
seus “c avaleiro s” e rodeada de decoração aprop riad a. Ela era
to ta lm e n te in acessível p ara q u a lq u e r pessoa exceto seus Interpretando o mito
“g u a rd iã es”, a elite de H im m ler, qu e se reu n ia secretam ente H á u m c a rá te r p a r t ic u la r d o m ito q u e p re c isa se r
e m editava sobre o seu suposto nobre propósito. A H istória c o n sid era d o aq u i. C o n fo rm e o estad o de consciên cia de
m ostrou qu e esse p eríod o de te rro r e g u erra d u ro u ainda q u a lq u e r in divíd uo ou sociedade em q u a lq u er m om ento, o
m enos do qu e o breve períod o de paz e g o vern o justo de cerne de energia de q u a lq u er m ito no inconsciente pode ser
A rtu r, certam en te m enos do q u e o p lan ejad o Reich de m il expresso em form as violentas e destrutivas. Isto ocorre quando
anos. a forma arcaica, prim itiva, do mito, assume um caráter obsessivo
na psique do in divíd uo ou do grupo. Sofrem os com o vítim as
O Graal negro ou ou vim os falar em “explosões de m ald ad e” da parte de
Por qu e tudo isso aconteceu? O nde estava o G ra a l? C om o indivíduos em vários m om entos de nossa vida; no nível coletivo,
podem os en ten d er as forças por trás da m ensagem do m ito do em que esperam os m elh or controle, ouvim os falar em atos
G raal? O fenôm eno inteiro, dizem alguns que filosofam sobre desum anos, violência, agressão, banho de sangue, acusação
o assunto, enq u ad ra-se na d outrina dualística de opostos no injusta, dirigidos contra nações ou grupos étnicos. Supom os
m undo. Se existe um G ra a l puro (branco), com o sím bolo de que o m ito do G raal evoluiu de sua natureza arcaica, suavizada
pureza m oral, então pode tam bém existir um G raal negro, pela influência e re-interpretação cristã, e presum ivelm ente se
representando os poderes dem oníacos do universo. Para aquilo integrou à psique da sociedade m oderna; presum im os tam bém
que representam o Rei do G raal e seus C avaleiros, pode existir que nós evoluím os a um nível de consciência mais alto do que
tam bém um a n ti-R e i-d o -G ra a l e seus C a v a le iro s N egros o dos nossos ancestrais experientes; e que com bater a oposição
propensos a destruir o Reino do G raal. Mas, nas sagas do G raal, com fogo e espada é coisa do passado. W h itm o n t descreveu
esses opostos, na falta de m elh o r descrição, são enfrentados nossa m udança ascensional de consciência como tendo passado
p o r três estágios na H istória. E le afirm a que, na tentativa do Na medida em que o G raal participa em tudo isso, a resposta
hom em de en con trar sentido em sua existência e suas relações m ais definida pode ser encontrada na obra de John M atthew s,
com seus sem elhantes e com o num inoso, ele perm itiu que A Tradição do Graal (9 1,10 0 ): “O G raa l é o G raal e não pode
sua consciência se deslocasse da identificação m itológica para ser nada m ais —m as há qu em faça m au uso do seu poder, que
o ritual sim bólico, da m atança real para a missa eucarística (em é neutro com o o poder dos anjos neutros que, segundo W olfram
qu e o ritual de transubstanciação é visto com o m ais do que von E schenbach, foram os prim eiros a trazer o G raal para a
sim bólico), e contin ua se m oven do para a in teriorização do Terra... O G raal poderia estar aos cuidados de q u alq u er pessoa,
ritual e do m ito na form a de significado psicológico para o de nós m esm os, m as precisam os ap ren d er a usá-lo de m odo
m odo com o vivem os e funcionam os. M ísticos e m ovim entos sábio e ele exige um nível de serviço da m ais alta espécie...
m ísticos (e os rosacruzes pertencem a esta categoria) poderiam Tem os de superar os aspectos negativos da Busca no nosso
ver isto com o aplicável à hu m an id ad e em geral. N ão haveria próprio interior, tanto quanto fora, e assim ver os aspectos duais
estágios levando do arcaico para o psicológico na com unidade da busca unidos num só”.
m ística; sim plesm ente estágios de progresso a cam inho de uma
consciência superior. N ão existe G raal N egro, nem Fraternidade das Trevas. N ão
existe um G raal que projete um a som bra, ou perm ita um a
Explicando a aberração de Hitler som bra, tra z e n d o trevas com ela. E le é tão in tensam ente
Se a ceitam o s os três estágios de W h itm o n t com o u m a brilhante que aqueles que têm perm issão para chegar perto
avaliação razoável do desen volvim en to da hum an id ad e com o do seu centro ficam para sem pre banhados em luz. Ele é a
espécie, podem os en co n tra r u m a explicação psicológica para unidade para além de toda dualidade.
o fe n ô m e n o de H itler. Isto é exp licad o com o regressão, q u e
pode o c o rrer em in d ivíd u o s e gru p os em épocas de transição
rá p id a, q u a n d o a estab ilid a d e social e a c o n tin u id a d e de
v a lo re s tra d ic io n a is são d e s a fia d a s, q u a n d o o c o rre u m
colapso da lei e da o rd em e q u a n d o in d iv íd u o s ou g ru p o s
não con seg u em se a ju s ta r às novas ten d ên cias. R epressão,
m ais p rop riam en te do qu e sublim ação da “som b ra” ao longo
d os sé c u lo s , p o d e fa z ê - la ir r o m p e r em fo rm a s m u ito
d e stru tivas. E n ão devem o s fe c h a r os o lh o s, tam b ém , para
o q u e a con teceu em v á ria s partes do m u n d o desde H itler.
A o n ível in d iv id u a l, H itle r é d escrito com o p ro d u to de um
d o m ín io co m b in a d o de p o d er e a rq u é tip o s d em o n íaco s no
ego.
antigos construtores de tem plos soubessem intuitivam ente, se
não por reflexão, que relações harm ônicas entre criaturas vivas
dependiam de certas harm onias estabelecidas com a Terra e
com forças físicas. As estruturas sagradas e os ritos realizados
nelas e ao seu redor eram um m eio de colocar o espírito de
Capítulo 11
busca do povo em sintonia com forças naturais sublim inares e
Novos horizontes com o cosmos. O tem plo se tornou o ponto de entrada para o
que foi descrito m ais tarde com o o M u n d o Sob ren atural dos
O Proto-Graal em templos estelares megalíticos C eltas e, nos rom ances do G raal, com o o castelo do G raal.
E m bora seja certo q u e o m ito do G raal era um conju nto de
tem as de fontes célticas, cristas e orientais, é tam bém possível Os mais antigos modelos do templo do Graal
rem on tar algum a contribuição a um a fonte ainda mais antiga. N ão seria necessário um grande esforço de im aginação para
M ais de 3.500 anos antes que os apóstolos do Cristo celebrassem v isu alizar o tipo de ritual ali realizad o e conclu ir que aqueles
a prim eira missa cristã usando o cálice, vin h o e pão, com o grandes m onu m en tos foram os prim eiros m odelos do castelo
objetos centrais no m istério cristão, povos pré-históricos da ou tem plo do G raal. Todo o tú m u lo de N ew grange sugere um
E uropa usavam realm ente um protótipo do G raal e realizavam uso acim a do m ero sepultam ento. Sua form a com o um a parte
c e rim ô n ia s sa g ra d a s u s a n d o u m a b acia de p e d ra e seu p renh e da superfície da M ãe T erra, sugerindo fertilidade,
conteúdo. Em N ew grange e noutros sítios do com plexo Boyne criatividade e vida, com um a longa passagem de acesso para e
na Irla n d a , no S u d o e ste da In g la te rra e na B ritâ n ia , os do in terior do ventre, m ostra preocupação com o m istério da
cham ad os “tú m u lo s de passagem ”, círculos de p ed ra, ou vida e da m orte. O desenho gravado em espiral na enorm e
“tem plos estelares”, dão prova disso. Essas enorm es estruturas pedra de entrada, que é repetido num a das altas pedras laterais
de pedra foram construídas por com unidades tribais em locais da parede da passagem para a câm ara central, sim boliza os
sagrados em q u e energias da Terra e das estrelas eram fortes, três graus da jornada iniciatória da alm a, os ritos de passagem
em que m atem ática avançada, geom etria sagrada e astronom ia de cada neófito para os m istérios desse culto em particular. O
eram usadas para situ ar e o rien tar seus tem plos. O projeto ritu a l q u e e fe tiv a v a a tra n s fo rm a ç ã o e sp iritu a l de cada
a rq u ite tô n ic o dessas c o lin a s e desses c írc u lo s, seu p o si­ candidato deve ter sido reforçado pela estru tu ra local, pelos
cionam ento geom ântico e m atem ático, os objetos usados em objetos e sím bolos q u e faziam parte de sua experiência e
suas cerim ônias, as m ensagens simbólicas deixadas em pedra e instrução. A câm ara central com seu teto de placas rochosas
o u tro s re m a n e s c e n te s su g erem u m a cren ça (ou c o n h e ­ sustentado por m odilhão, ergue-se a um a altura de seis metros
cim ento?) em qu e “o céu e a terra estavam ligados em certos (o coração do castelo do G raa l), com três nichos nos lados e
locais marcados por sistemas de água subterrânea que atuavam em torno da câm ara circular. A orientação astronôm ica da
de m odo esp iral” (H arrison, pág. 19). E concebível que esses passagem, para perm itir que um feixe de luz do Sol no solstício
de in vern o entrasse na câm ara central; os objetos ritualísticos, energias terrestre e so lar e, no o u tro caso, a ilu m in a d o ra
inclusive a bacia de pedra ou p ro to -G raal, e os m isteriosos experiência do G ra a l e a elevação do cavaleiro buscador à
sím bolos nas paredes da câm ara central, devem ter sido todos realeza do G raal.
com ponentes de um a cerim ônia de iniciação que encenava um
m ito de criação envolvendo um deus solar e um a deusa terrena, A busca do Cavaleiro como jornada xamanista
no q u al o iniciando era o participante principal. Acredita-se que a cultura religiosa que inspirou a construção
desses m o n u m e n to s teve d ire ç ã o x a m a n ista . O s ritu a is
N ewgrange, K n o w th e D ow th, localizados a curta distância destinados a um a casta xam anista espelhariam as experiências
um do o u tro , teria m sido parte de u m g ran d e com plexo do xam ã. E neste sentido que podem ser feitas com parações
iniciático, todos com as condições físicas e espirituais que com a busca do C avaleiro, que se aproxim aria da seqüência de
contribu iriam para a instrução e a experiência qu e atendiam sep aração e re to rn o do so n h o do xam ã, de d esafiad ores
às necessidades de u m cu lto p ú b lico q u e fazia parte dos encontros na jornada e do alcan çar um estado de transe ou
mistérios menores e de um grupo privado m enor. A participação êxtase. O in d ivíd u o se torna um xam ã ao “ser ch am ad o”;
com o m em bro nos m esm os seria determ inada pelo m ereci­ Parsifal foi cham ado pelo G raa l pela prim eira vez quando
m ento ou pela aptidão espiritual para receber a exposição aos e n c o n tro u u m g ru p o de c a v a le iro s de A r t u r com suas
m istérios m ais elevados da vida. Poderíam os com parar estes arm aduras brilhantes e cavalos ajaezados, suas arm as e seus
ú ltim o s com os c a v a le iro s do G ra a l da le n d a m e d ie v al. galhardetes e outros arreios, e os confun diu com anjos. Esse
P ereg rin açõ es às g ran d es co lin a s e e n tre elas em épocas encontro com a m asculinidade em todo o seu esplendor o
específicas do ano, relacionadas com os m ovim entos do Sol, excitou profundam ente e suscitou o estím ulo para ele se afastar
talvez um a reunião no grande círculo em outeiro (m ais ou de sua m ãe e partir em busca da corte de A rtur. O fato de que
m enos do tam an h o de um cam po de futebol), a chegada final ele tinha em potencial o dom xam anista ou m ágico e o poder
ao tú m u lo de N e w g ra n g e , a e n tra d a na lon g a passagem de conquistar, derivados da ancestral ligação de todo xam ã, é
fracam ente ilu m in ad a por archotes, a aterradora escuridão e o revelado a nós m ais adiante na história e tam bém em seus
silêncio q u and o os archotes eram apagados, a súbita exposição prim eiros êxitos contra outros cavaleiros.
a “correntes terrestres” concentradas na área, a in un dação da
câmara por um feixe de luz do Sol durante o solstício de meados H á tam bém o estranho episódio em que Parsifal é paralisado
do in verno e a revelação final do G raa l e seu conteúdo, teriam por algum as m anchas de sangue na neve, deixadas por um
seu eq u ivalen te na busca do cavaleiro no deserto, em suas cisne ferido. Ele tem dificuldade para sair desse estado com o
experiências com o desconhecido e sua recepção no castelo do de transe, até que G a w a in descobre o m eio de fazê-lo voltar à
G raal. O ponto culm inante ou a iniciação final, num caso, seria consciência norm al. Mais um a vez, o eremita Trevrizent cumpre
a experiência e a revelação qu e se seguiriam à entrada da luz um papel que não é diferente do papel de um m estre xam ã no
solar na escura câm ara interna, o ponto focal do encontro das desenvolvim ento de Parsifal como o herói curador; ele comunica
certas verdades espirituais e certos poderes miraculosos a Parsifal, A hipótese de Jessie Weston
depois que ele tinha com pletado sua passagem pela “noite negra” H á um a perspectiva do m ito do G raa l que o torna um
e “atizado o u m brar da iniciação final aos mistérios superiores. registro literário de um ritual agrário m uito antigo, um ritual
Trevrizent estava tam bém relacionado com o Rei do G raal, como baseado na persistência de crenças antigas na Europa medieval.
P a rs ifa l. E tu d o isso su g e re q u e P a rs ifa l e sta v a se n d o A disponibilidade de evidência histórica e m itológica m ais
gradativam ente introduzido num a casta exclusiva de G uarda próxim a da nossa época dá m aior credibilidade a este parecer
do G raal. E bem conhecido que o xam ã passa por um a crise do qu e a reconstrução acim a proposta dos rituais do hom em
m ental qu e o afasta da vida tribal por algum tem po; isso pré-histórico. A s opiniões variam q u an to a se o m ito precedeu
aconteceu com Parsifal quando ele foi apartado da com unidade o ritual ou vice-versa, m as a hipótese lançada aqui é de que o
do R eino do G ra a l, após seu fracasso em corresp on d er às m ito do G ra a l resultou de um ritual verdadeiro; ou seja, os
expectativas em sua prim eira visita. O período de crise e sua rom ances do G raa l não foram criações im aginárias dos poetas
sobrevivencia depois da experiência constituem em si mesmos do G raa l e sim um registro literário de rituais praticados pelos
um a prova da esperada “iniciação” xam anista, da aprovação no sucessores dos antigos cultos orientais de m istério.
teste, visto que ele recebe seu poder devido à experiência da
crise. É o com eço de urna súbita “compreensão de hierofante'\ V ários autores propuseram esse parecer em term os gerais,
que o coloca acima de sua tribo nas questões do espírito. E nesse m as foi Jessie W eston q u em ousou torn á-lo n u clear para o
estado que Parsifal consegue usar seu poder com o curador e e n te n d im e n to dos diversos elem en to s do m ito do G ra a l,
assum e seu status de Rei do G raal. apresentando m uita evidência e m uito argum ento para apoiá-
la. Seus critérios foram entusiasticam ente aceitos por alguns
Urna era de ouro eruditos e, por outros, com m uito ceticism o, talvez porque
A o se 1er os sím bolos situados ñas colinas e ao seu redor e eles depreciavam outras interpretações. Os argum entos dessa
notar a orientação solar do tem plo estelar, pode-se levan tar a evidência m erecem perfeitam en te ser colocados aqu i. Ela
hipótese de qu e a principal força de q u a lq u e r cerim ônia de afirm a que os antigos cultos agrários tin h am evoluído a um
alvorecer in vern al estava em im pressionar o iniciando com a ponto em que o m istério tinha u m du plo intuito, para servir a
m aneira com o o D eus So lar encontraria a M ãe Terra em am or dois tipos de participantes na religião de m istério. Q u ando o
e, juntos, eles encenariam novam ente o ciclo da criação. Talvez intuito era exotérico, a cerim ônia era aberta a toda a com unidade
a sociedade qu e lançou esses rituais que se focalizavam na e restringia sua revelação à dos “m istérios m enores”. Q uando
intim idade de céu, terra e vida hu m an a, estivesse na posse de esotérico, era um a revelação para uns poucos qu e podiam
certos segredos da vida nos quais os princípios de m acho e a p reen d er os “m istérios m aio res”. Esses m istérios m aiores
fêm ea estivessem equ ilib rad os na psique hu m an a e con tri­ tinham o valor doutrinário ou de sabedoria e culm inavam num a
buíssem para a h arm onia social. Se assim fosse, então a Era de experiência noética. Isso era m ais do qu e a com preensão e a
O uro seria um fato histórico m ais do que um sonho nostálgico. satisfação adquiridas nos m istérios m enores m ais populares,
que com un icavam um conh ecim en to básico sobre a ligação aos sete graus da iniciação, designados por símbolos hum anos
entre hum anidade, natureza e o sobrenatural, e eram motivados e anim ais para representarem respectivam ente os papéis ou
pela tentativa de in flu en ciar eventos pela m agia. atributos de cada um . C ad a grau indica o nível particular de
progresso do iniciado m itraico para a “região das estrelas” ou
Por en con trar dificuldade para aceitar as explicações dadas o mais alto nível de consciência. Na ordem de progressão, eram
para as origens e a im portancia do m ito do G raa l, bem com o o corvo, o m ágico, o guerreiro, o leão, o persa, o sol e o pai. O
para a coerência interior dos símbolos, das pessoas e dos eventos m itraísm o, antes que o cristianism o se tornasse a religião oficial
da Busca, Jessie indicou os rituais de propalados cultos agrários do Im pério R om ano decadente, foi abraçado pelos m ilitares
antigos da Babilonia, da Frigia, da G récia, da Europa e da Idade rom anos e assim d ifu ndido até os m ais distantes lim ites da
M édia, e m esm o de sociedades tribais contem porâneas, com o ocup ação rom an a da E urop a, à m edida qu e as legiões se
a base original do m ito. A té o m istério cristão é reconhecido deslocavam de um a fronteira para outra.
com o in co rp oran d o elem entos transpostos desses cultos de
m istério pré-cristãos. Em sua form a evoluída, os cultos usavam O m itraísm o não foi elim inado pela religião do Estado, mas
seu ritual para com un icar um a com preensão dos propósitos e continuou a sobreviver em sigilo até fins da Idade Média. M anly
processos da C riação e da reconstituição da V id a nu m a escala H all acredita que as referências cátaras a sete transm igrações
cósm ica. C o m o diria W eston: necessárias para “alcançar a L uz ” provavelm ente se referiam a
quase-m itraicos sete graus de iniciação para se alcançar o status
“Esses cultos eram considerados, não apenas os maispoderosos de Perfectus. M as Ravenscroft vê um paralelo exato, exceto pelas
fatores para assegurar a prosperidade da terra e do povo, mas m udanças no sim bolism o durante a Idade M édia, nos graus de
também como o veiculo mais apropriado para comunicar o mais progresso do iniciado m itraico e nas experiências do cavaleiro
elevado ensinamento religioso... Enquanto o objetivo material era em busca do G raal. Podem -se notar facilm ente as similaridades
o único buscado pelas massas, o não-material era buscado em nos nom es dos graus; por exem plo, guerreiro passa a cavaleiro,
acréscimo pela elite.” (xxxii —xxxiv) o mágico torna-se m entor ou erem ita, o G raal substitui o Sol, o
Rei do G raal é um a figura paterna, o pelicano, a águia, o cisne e
Misterios mitraicos o pavão substituem o corvo; leões e outros anim ais representam
A lig a ç ã o e n tre esses a n tig o s c u lto s de m isté rio e os outras experiências psíquicas desafiadoras. N um caso, o local
praticantes da tradição secreta na E uropa e na Idade M édia, da transform ação mística era o interior do tem plo; no outro, o
qu e encon trou expressão na literatura do G raa l, foi com posta m undo da natureza, a sociedade ou o outro m undo.
dos gru pos dos séculos doze e treze cujas doutrinas e cujo
ritual indicavam origem m aniq ueísta, gnóstica ou m itraica. Ritos cátaros
C onhecem os m uita coisa sobre a doutrina e o ritual m itraicos. Fora essa interpretação, há algum a evidência do uso de
As descrições da natureza do ritual m itraico sem pre se referem in stru ção e status gradu ados entre os cátaros. O p rim eiro
estágio do progresso espiritual era a introdução à Tradição. Isto seita gnóstica, tem os entre os cátaros Perfecti aqueles que eram
se destinava a prep arar e a ju d ar os Credentes ou C rentes, dos em inentem en te adequados para servir ao G raa l com o seus
quais se exigia um a disciplina m enos rigorosa. Eles viviam a fé G u a rd iã e s . Q u a n d o nos le m b ra m o s tam b ém de q u e os
o m elhor que podiam antecipando seu adiantam ento, ou com o trovadores, os bardos da E uropa, tinh am origem no Su l da
sim ples e contentes devotos. Os Perfecti eram aqueles que França, e q u e m u lh eres com o E sclarm on de de Foix eram
extirpavam o desejo sensual de sua vida, que eram vegetarianos, tam bém cátaras Perfecti, tem os um a m istura qu e liga o G raal,
qu e perm aneciam celibatários e cuja alm a alcançara o elevado o C astelo do G raa l e os G uardiães do G ra a l —a m atéria nobre
grau de “p u rez a ”. A q u i som os lem brados da tendência dos e transcendente dos rom ances do G raa l —a pessoas reais que
autores de obras sobre o G ra a l de descreverem sua V irg em do prom oviam um a tradição que de m uitos m odos se desenrolava
G ra a l com o “p u ra ” e d 2 designação por W olfram E schenbach em contra-corrente com a ortodoxia religiosa e que acabavam
de seus C avaleiros do G raa l com o os m ais puros. Os cátaros sofrendo as conseqüências de sua “heresia”.
Perfecti p a rtic ip a v a m no rito de consolam entum , q u e os
preparava para os sacrifícios que tinham de fazer e os consolava Iniciados templários
das provas qu e tin h am de en fren tar ao aceitarem seu novo O terceiro m ovim ento reconhecidam ente enquadrado nessa
status. U m dos m ais com oven tes exem plos q u e a história tradição secreta era o dos tem plários. E fato que eles tinham
oferece de coragem espiritual é a decisão tom ada por alguns suas cerim ônias secretas a que som ente certos tem plários eram
C r e d e n te s e C a v a le ir o s de c o m p a r tilh a r e m o rito de a d m itid o s. U m esfo rço in fru tífe ro foi feito p o r p arte da
consolamentum na noite an terio r ao dia em qu e os cátaros In q u isição , para descob rir o qu e elas eram em form a ou
defensores de M ontségur resolveram se render às forças que conteúdo. Por conseguinte, o que os tem plários praticavam
os sitiavam . A o agirem assim , eles conheciam m uito bem as em particular continua a ser um m istério. M uita onda é feita
conseqüências desse com prom isso e, no dia seguinte, lançaram - em torn o do objeto ou ídolo secreto cham ado Baphomet. A
se deliberadam ente nas fogueiras punitivas que os aguardavam . especulação qu an to ao que ele era vai do sudário de Jesus a
Em algum ponto os cátaros com partilhavam tam bém um a um a cabeça hu m an a ou algo dem oníaco ou m onstruoso. E
refeição sacram ental associada ao rito manisola. O m om ento possível qu e os iniciados tem plários, devido ao seu contato
para isso estava ligado à orientação do Sol em M ontségur. A ín tim o com ordens de cavaleiros do Islã e os sobreviventes de
lu z do Sol atravessando um a jan ela em certa época do ano ensinam ento de m istério e de alq u im ia m ental no O riente
podia se assem elhar ao G ra a l entran do no C astelo do G raal M édio, ten ham desenvolvido ritos que fossem um a m istura
do rom ance e n u trin d o espiritualm ente todos os C avaleiros da das tradições de m istério ocidentais e orientais.
T ávola Redonda.
O que era com um a esses três m ovim entos —mitraico, cátaro
A crescentando esse conhecim ento ao que a lenda nos diz e tem plário —era tam bém sua prática de que objetos sagrados
sobre o fato de o G ra a l de M ad alen a estar sob os cuidados da fossem revelados aos seus iniciandos em algum ponto crucial
de seus ritos iniciatórios. Fraternidades esotéricas m odernas Podem os adm itir isso, a despeito de alguns relatos sobre alguns
baseadas em lojas têm perpetuado essa prática em confor­ m em bros da O rdem que teriam agido abaixo de seus altos ideais
m idade com sua reivindicação de descendência da G ran d e de cavaleirism o.
Tradição. N a época em qu e foram escritos os rom ances do
A tudo isso podemos acrescentara referência feita num capítulo
G raa l, os sobreviventes do culto m itraico teriam m antido o
anterior ao rom ance de Perlesvaus, no qual o G raal é descrito em
costum e de revelarem aos seus neófitos adiantados um a estátua
manifestações mutáveis. Embora quatro das formas do Graal (uma
ou um relevo de um a figura com cabeça de leão, com um a
criança, um hom em ferido e sofrendo, um rei coroado e um cálice)
S e rp e n te en roscad a, em alg u m p o n to avan çad o do ritu a l
pudessem ter se referido ao mistério cristão e ao cálice como o
destinado a p rom over u m a tran sform ação interior. A exibição
G raal, a quinta era um a manifestação indescritível (terrível?). Por
física, acom panhada de efeitos sonoros e lum inosos, assustaria
que não podia ela ter sido descrita? Poderia o autor anônim o, que
e ao m esm o tem po in stru iria o candidato à m edida qu e sua
presumimos que teria associações templárias, estar apresentando
m en sagem fosse a p re e n d id a . P resu m e -se q u e os cátaros
alguma informação somente para quem a pudesse compreender?
tam bém tinham um G raal ou algum tesouro de valor espiritual,
Estariam aqueles que a com preendiam em contato com iniciados
ou algum conh ecim en to especial q u e os perfecti possuíam .
de algum culto de mistério heterodoxo ameaçado, ou seriam eles
Poderia ter sido sim plesm ente a consciência adquirida por um
próprios de fato iniciados?
candidato à iniciação, depois qu e ele tivesse sido devidam ente
preparado, de que o E spírito Santo dentro dele não estava mais Esses objetos do G raal eram venerados e revelados somente
preso aos grilhões da carne. N o caso dos tem plários, já foi aos mais altos iniciados desses movimentos. Eruditos discordam
expresso o parecer de que Baphomet pode ter sido um a cabeça q u a n to à m ed id a em q u e os rom an ces do G ra a l de fato
hu m an a, que tinh a grande va lo r espiritual na tradição céltica. registraram as práticas de cultos de m istério secretos ou foram
Podem os lem b rar aq u i a história galesa de Parsifal, o Peredur, tão -so m en te u m a extravasão literária da disposição então
que inclui um a visita ao C astelo do G raal, em que este aparece corrente de dissensão qu anto à doutrina da Igreja. A evidência
com o a cabeça de um ser h u m an o decapitado. A cabeça do acim a apresentada sugere fortem en te que os rom ances do
deu s-herói céltico B ran m anteve-se por um bom tem po na G raa l eram um registro críptico de rituais secretos.
m ente de seus guerreiros, até qu e foi enterrada em L ondres,
voltada para o contin en te a fim de proteger a Inglaterra de Mistérios “menores” e “maiores”
futuras invasões. Q u a lq u e r qu e fosse o objeto ou a idéia nos Essa perspectiva da religião de m istério e da sobrevivência
m istérios por trás dos rom ances do G ra a l, sua revelação a de suas aspirações e seus rituais entre grupos místicos na época
iniciandos era calculada para inspirar e assustar e tam bém para da florescência dos rom ances do G raal encontra concordância
recom pensar. O o b je to ou sím b o lo d evia além disso ter com a c o m p re e n sã o ro s a c ru z desse asp ecto da G ra n d e
tran sm itido im enso poder pessoal — com o se evidencia no T ra d iç ã o , q u e tem e x istid o p a ra le la m e n te — e às vezes
caráter exem p lar dos tem plários com o C avaleiros da C ru z . in teriorm en te —na corrente religiosa principal, ortodoxa, ou
de Estado. Su p on d o qu e a introdução aos m istérios menores nos ritos de mistério, nenhum a revelação do ato iniciatório final
p rep a ra va neófitos para ascensão aos maiores , d ever-se-ia foi feita ao público e somente em form a codificada no imaginário
esperar qu e eles adq u irissem algu m con h ecim en to de sua dos rom an ces do G ra a l, tem os de su p o r q u e havia um a
própria n atureza e de seu lu gar e sua função na sociedade, revelação da gnose ou das verdades secretas sobre o que a
bem com o de suas obrigações para com ela. Seu caráter deveria tradição da escola de m istério desejava com unicar. O m elhor
refletir algum a m oralidade e algum a ética básicas, além de um a q u e p o dem os d iz e r q u a n to ao p ro p ó sito da in iciação ao
c o m p reen sã o da vid a e de seus processos. E les d everiam m istério foi expresso p o r Ravenscroft: “Seu propósito era criar
tam bém a d q u irir um a sede de perseguir objetivos dignos na um a dissociação tem p o rá ria de p ercep ção-con sciência de
vida, baseados no autoconhecim ento. Pode-se d izer que todas natu reza física, a fim de se en trar em cam pos superiores de
as experiências de um cavaleiro com o Parsifal, qu e ocorreram consciência e tem po, através dos quais a plen itu de do m undo
fora do Reino do G raal, tinham essa natureza. O im pacto desses espiritual fosse m anifesta” (pág. 30).
encontros no m u n d o terreno em sua transform ação pessoal
foi tratado com algum detalhe no capítulo sobre “Sím bolos e V o lta n d o ao a s s u n to da tese de W e s to n , te m o s sua
A rq u étip o s da Busca do G ra a l”. apresentação de um a lista de paralelos entre o teor dos romances
do G raa l e as práticas específicas encontradas nas diversas
O ra, os m istérios maiores deveriam in clu ir as fases em que religiões de m istério. H á a refeição sacram ental com um no
Parsifal vivenciou suas experiências passadas e recebeu a bênção banquete; em que vasos específicos cum prem um a função; em
do erem ita T revrizen t, seguida de sua segunda adm issão ao algu ns m istérios, os celebrantes beberam ou com eram do
castelo do G raa l e da iniciação final, na q u al ele se torn ou o conteúdo dos vasos e, no banquete do G raal, o vaso se torna o
cu rad or e assum iu o lu g ar da figura paterna, do Rei do G raal. objeto m ais im portante, qu e proporciona m isteriosam ente o
N esse estágio, a elevação do cavaleiro é análoga às revelações alim ento da vida; os testes e as tribulações do candidato nos
recebidas por iniciados aos m istérios avançados. Tais revelações m istérios mais antigos eram a encenação pessoal da m orte e do
estariam relacionadas com um conh ecim en to m ais p rofun do re v iv e sc im e n to do d eu s, ao passo q u e , no ritu a l do Rei
dos m istérios do nascim ento, da m orte e da ressurreição, bem Pescador, o Rei, representando o deus, era curado pelo herói
com o da ín tim a relação da hu m an id ad e com a natu reza e o (devendo se n otar aqu i que o rei e o herói eram dois aspectos
cosm os. É esse sig n ific a d o q u e tem de ser e x tra íd o das da m esm a personalidade), sendo o G raa l e a Lança, com o
experiências de Parsifal no castelo sobrenatural do G raa l, do sím bolos de fertilidade, transform ados num conceito espiritual
ritual no salão do ban qu ete, das estranhas circunstâncias do m ais elevado, tornando-se elem entos de significado sim bólico
R ei P e sc a d o r e da T e rra D e v o lu ta , dos sím b o lo s e das na com preensão da E ucaristia; e, finalm ente, há o nexo Rei do
m ensagen s tra n sm itid o s d u ra n te o b an q u ete, q u a n d o ele Graal/Terra D evoluta. Tudo isso tem paralelos nos m istérios
testem unh ou a Procissão do G raa l, e de seu prim eiro fracasso Attis/Adonis, Frigio, e em outros m istérios orientais (14 7 -8 ).
e do êxito posterior n aq u ele teatro de iniciação. U m a vez que, A lém disso, encontram os apoio para a tese de Jessie W eston,
ao p ostu lar a presença de um a ligação entre o fato de a V irgem na persistência de um a figura fem inina em toda a perseguição
do G raal carregar um vaso com a capacidade ilim itada de nutrir de G w ion e de figuras femininas na busca de Parsifal (a influência
o povo m ag icam en te e a im p o rtâ n cia dada à D eu sa M ãe moderadora do princípio feminino), na devoração final de G w ion
segurando um vaso nu m a posição sob os seus seios, sugerindo por K e rid w en , na form a de um grão de trigo pela galinha
a idéia de seu caráter de aleitam ento eterno para m anter a vida K eridw en, e no segundo renascim ento de G w io n do ventre de
nascida. M ichael D am es encontra até um fio de conexão entre K eridw en (o renascim ento espiritual de Parsifal a partir da C ura
o m istério de S ilb u ry H ill e o Rei Pescador da L enda do G raal. da ferida do Rei do G raal e da Terra D evoluta), as similaridades
Se olham os do leste o p lan o básico desse m o n u m en to (que é o são evidentes, em bora as m etáforas pareçam diferentes. G w ion
de um a m u lh e r grávida de cócoras), diz-n os ele: “o elem ento estava fu gin do da D eusa M ãe e foi fin alm en te capturado,
m asculin o aparece entre o peito e o joelh o, na form a fálica do enquanto a jornada de Parsifal foi induzida por um im pulso
fosso de passadiço interno. N este contexto ... toda deusa mãe interior, mas ambos os mitos apresentavam o tem a de separação
tinh a um consorte m acho (no final das contas parte do seu e retorno. O utras sem elhanças de detalhes podem ser notadas.
próprio corpo) cuja energia, cujo ferim ento sexual e cuja m orte A aventura de G w ion começa com três gotas de um fluido mágico
anu al cum p riam um papel vital no processo de nascim ento. que caem “acidentalm ente” na mão do herói. Isto não é diferente
Esse padrão se reflete no Rei Pescador ferido da lenda M edieval das gotas de sangue que caem na m ão do jovem portador da
do G r a a l... (pág. 80). lança na Procissão do G raal. G w ion prova do fluido mágico,
enquanto Parsifal entra em transe quando vê as gotas de sangue
O caldeirão céltico e o outro mundo
do cisne na neve.
H á pesquisa que explora com m uito detalhe as contribuições
célticas para a com posição do m ito do G raa l, sem se dispor a
A descida para Annwn
co n firm ar a hipótese de W eston “do ritu al para o rom ance”.
A fonte céltica alim enta ainda m ais a história do G raal. Se
Todavia, respeitando o ritual da tradição da escola de m istério
exam inam os a literatura barda, encon tram os a história da
tal com o em ergiu no O cidente e não no O riente, não é preciso
descida de A rtu r a A n n w n , para salvar um am igo e capturar
p rocu rar além do m ito do caldeirão de K erid w en e de sua base
um caldeirão mágico. Isso teria fornecido algo da estrutura
ritualística nos m istérios druídicos.
para a posterior busca do G raal. Pode-se tam bém transpor a
O m ito de K e rid w e n é um a representação alegórica de um jornada de Parsifal para os três níveis bardos de progresso. A
dram a ritualístico usado para im pressionar o neófito com o busca de Parsifal é parecida com a jornad a da alm a em três
ciclo do nascim ento, a necessidade, a m orte e o renascim ento círculos de existência (A b red, G w y n v y d d e C e u g a n t), na
do novo homem. N o tem a da fuga do in ician d o do ven tre m itologia céltica. A b red é o círculo da experiência crua, da
(G w io n , de seu reinado e, Parsifal, da in flu ên cia de sua m ãe), ig n o râ n c ia e da c o n d u ta im p r ó p r ia . Isto c o rre s p o n d e
nas m ud an ças de fo rm a de G w io n e da D eu sa (os vários a p ro x im a d a m e n te a P a rsifa l co m o u m T olo e to d as as
estágios do iniciando e as m udanças de caráter da sacerdotisa), experiências que culm inaram em sua visita ao castelo do G raal:
G w yn vyd d , onde ele goza de algum a liberdade em relação a para encon trar um a relação perdida com um Ser Suprem o.
A bred e de um m om en to passageiro de felicidade; o fracasso Esse sentim ento de perda é geralm ente explicado em term os
no teste da pergunta provoca urna pausa ou urna aparente de d elinqü ência ou indignidade m oral.
reg ressão , q u a n d o ele e n tra n u m p e río d o de d esesp ero;
N essa perspectiva, o m ito do G ra a l é um q u ad ro dessa
finalm ente, sua ascensão a G w yn vyd d , onde ele perm anece
sep aração da h u m a n id a d e de sua con d ição id eal, de sua
com o Rei do G ra a l, no c írc u lo céltico de fe licid ad e. Foi
consciência do seu estado decaído e de sua tentativa de retornar
necessária um a versão cristã posterior do m ito do G raa l para
ao paraíso. C aitlin M atthew s, em seu belo ensaio sobre Sophia,
in clu ir o círculo de C eu gant, onde G alah ad foi o herói. Ele foi
sugere qu e o G raa l é um a taça de sabedoria e com paixão,
absorvid o no céu, no Todo que, para o bardo, era C eugant,
representando a Sophia gnóstica e a shekinah cabalística, ambas
onde D eus m ora.
personificadas e presentes na hum anidade, aliviando o remorso
N otam os aqui que, enq u an to os m itos antigos em form a de pela queda e alim entando o sonho do retorno ao estado original
rituais eram celebrados com o um a cerim ôn ia ou cerim ônias da h u m a n id a d e . O m o d o c o m o a h u m a n id a d e está se
em locais escolhidos, onde o participante passava vicariam ente com portando agora revela que estamos em exílio. “Estam os” —
pelos processos dos eventos da vida do deus de seu respectivo diz ela, C aitlin —“num estado de esquecim ento. P erdem os...
culto, isso tinha de ser encenado de m aneira diferente no m eio nosso estado de união com o d iv in o ... A Terra D evoluta é o
literário. Todos os eventos eram “exteriorizados” na jornada do nosso estado de exílio: o local que não é p a ra íso ... O G raal é
herói. A m agia do m ito do G raal era apresentada oralm ente ao aquele pedaço de paraíso que perm anece entre nós, oculto e
ou vinte pelo trovad o r ou oferecida em escrito pelo poeta do transcendente, a taça da soberania, da sabedoria; um gole dessa
G raa l, m as os in stru m en tos de transferência da m ensagem taça é um a recordação do paraíso, um a união da alm a com Deus.
inciatória eram a im aginação do receptor e sua capacidade de O Rei Ferido é o próprio C avaleiro do G raal em potencial, um
e n trar em em patia. O neófito (a pessoa qu e ouvia a história) sím bolo da soberania p e rd id a .. . ” (pág. 124). Sophia, a sagrada
estava fora da cena, m as era capaz de in terio riza r a seqüência sabedoria de D eus, acom panha o buscador do G raal, em bora
de eventos e era tran sform ado pelo d esen rolar do dram a. ele possa não ter consciência dela; não obstante, ela aplica um a
poderosa energia com o um elem ento m otivador.
Exílio e retorno
A questão de um a Era de O uro ser um construto im aginário E ric h F ro m m , p s ic ó lo g o , s u s te n ta u m p e n s a m e n to
ou um a realidade am pliou tam bém o cam po de discussão sobre sem elhante em bora não num contexto cósmico, quando explica
o enigm a do m ito do G raa l. Essa E ra de O u ro foi descrita por seu conceito da “fuga da liberdade” do indivíduo. Os indivíduos
alguns eruditos com o projeção de um m u n d o ideal por povos fogem do controle p o r parte dos pais ou de grupos sociais
angustiados, o que pode ou não ter efetivam ente existido. Pode- p rim ários em seus p rim eiros anos; isto gera um senso de
se tam bém descrevê-la com o um a visão de um paraíso perdido isolam en to e separação; então eles passam o resto da vida
em an ando do coração h u m an o e do esforço da h u m an id ad e tentando fugir dessa liberdade, procurando identidade pessoal
na sociedade e no m undo ao seu redor. L ouis-Claude de Saint- g r u p o ”, nunca vamos começar. N ão importa se cometemos
M artin, místico do século dezoito, usa uma imagem sucinta erros ao longo do caminho... Ao que acrescentamos: enquanto
para descrever a h u m an a condição: “estamos num estado de em preendem os a jornada individualm ente, sabemos que não
viuvez e procuram os casar n o v a m e n t e ’. estamos sós; todos os outros cavaleiros da Távola Redonda
adentraram a floresta, em vários pontos de entrada, na jornada
Muitos mitos antigos falam na hu m an id ad e afastando-se
para o lar, mas n e n hu m recuou ante o teste.
da harm onia com D eus; a religião e o rito tentam guiar o
cam inho para um a restauração dessa harm onia. Esse era na
verdade o lam ento do Rei Ferido e seus servos e súditos que
compareceram ao banquete do castelo do Graal; daí seu imenso
pranto q u a n d o Parsifal falhou em fazer a pergunta em sua
prim eira visita. O estado de encantam ento do Rei do G raal,
seu povo infeliz e a terra deserta, constituem essa condição de
exílio. O Rei do G raa l curado pelo Parsifal com pletam ente
a m a d u r e c id o e o d e s e n c a n t a m e n t o da T erra D e v o lu t a
constituem o retorno ao Paraíso.

O m ito da busca do G r a a l persiste entre nós. Está se


to rn a n d o mais p ro e m in e n te hoje em dia na consciência
hu m an a, porque sua m ensagem está tentando abrir cam inho
através do censor egóico do inconsciente, como o fez em várias
épocas no passado. A integração do m ito na vida do ego
consciente nos cham a a redirecionarm os nossas metas num a
nova busca e nos leva, da angustiada esperança de que o paraíso
nos seria dado de algum m odo pela intervenção de alguma
fo rç a m is t e r i o s a , p a ra a e s p e r a n ç a de e f e t i v a r m o s ou
re aliza rm o s esse estado beatífico pelo esforço coletivo da
hum anidade. C o m o haverem os de recuperar nossa felicidade
perdida? “P rim e iro q u e tu d o ’' — diz C a itlin M a tth ew s —
“a ssu m in d o um senso de responsabilidade para com nós
mesmos; isto não e egocentrismo e sim bom senso. Som ente
aqueles que dão início à jornada merecem c onq uistaro Graal;
se esperam os q u e alg u m a outra pessoa “se una ao nosso C ru z C éltica, em foto do autor.
que vivem os nossa vida diária, seu potencial não é plenam ente
“efetivado”; isto é, o self perm anece “aprisionado” durante um
longo período do crescim ento e desenvolvim ento hum ano em
interação com o ambiente. Mas a consciencia desse poder dentro
da nossa psique deve nos fazer inquirir quanto à nossa relutância
Capítulo 12
em usá-lo constantem ente. O self é ao m esm o tem po o agente e
Perspectivas Psicológicas e Místicas a meta do processo de individuação. E o ativador e a recompensa
final. O self é o com panheiro do G raal, o m otivador oculto e
N este capítulo final sobre o G raal e a Busca do G raal, temos negligenciado, o curador potencial da psique im atura “ferida” e
de sintetizar, ou pelo m enos coordenar, as várias perspectivas tam b ém o ilu m in a d o r ou re in te g ra d o r fin a l. Em term os
apresentadas nesse provocante m ito. Já foi m encionado que, espirituais, o self tem de ser “redim ido” das trevas desse aspecto
na m edida em que a consciencia da hum anidade tem evoluído da natureza hum ana, ou das trevas do inconsciente; portanto, o
para um nível m ais alto, tem os tendido “a m em o riza r ritual e ego racional tem de ser “crucificado” ou “sacrificado” para
m ito na form a de significado psicológico da m aneira com o redim ir o self. A linguagem pode ser um tanto rigorosa aqui; é a
v iv e m o s e fu n c io n a m o s ” (W h itm o n t, pág. 16 6 ). T em os linguagem dos místicos. O psicólogo não vê o ego com o sendo
p ro c u ra d o e n co n trar, nos cam pos de psicologia a n alítica, sacrificado. Antes, vê sua qualidade sendo acentuada ou sua
hum anista e transpessoal, um a estrutura significativa para urna natureza m odificada, no processo de transform ação que acaba
com preensão m elhor do m ito e sua aplicação com o um recurso tornando o ego sensível em todos os m om entos aos im pulsos
didático árido de inspiração em nossa vida. N osso exam e da harm onizadores do self. O m ito nos diz que isso requer vontade,
lenda e da literatura secundária do G ra a l nos fez abordar a esforço e experiência ou so frim en to q u e põe à prova. Os
e s tru tu ra e a d in á m ic a da p siq u e , a m en te co n scien te e hierofantes dos antigos m istérios conheciam os segredos da
inconsciente, o inconsciente pessoal e coletivo, os principais transform ação e usavam seu conhecim ento e suas habilidades
a rq u é tip o s e im a g e n s do in c o n s c ie n te e o p ro c e sso de para fa cilita r ou acelerar o progresso de um iniciado. Os
in d ivid u ação , ou integração, ou au to -rea liza ção , a fim de trovadores do G raal da Idade M édia conheciam esses segredos;
apreenderm os a m ensagem do m ito. eles dissim ulavam suas verdades espirituais heterodoxas em
canções e em fábulas, para evitar perseguição. Os alquim istas
Arquetipo do self m entais os conheciam ; eles revelavam sua técnica de alquim ia
Para se c o m p re e n d e r o segredo da B usca do G ra a l, é espiritual aos seus iniciados som ente através das m etáforas da
fu nd am en tal a im portancia dada na explicação psicológica ao transm utação de metais, bem como em representações pictóricas
a rq u é tip o do self. Este a rq u é tip o rep resen ta o esforço da simbólicas e em verso. Em suas várias formas, a G rande Tradição
hum anidade pela unidade e tem o papel sustentador de reu n ir tem continuado até o presente, com reduzido sigilo devido ao
todos os arquétipos e sistem as da psique. Todavia, a m edida m ovim ento firm e ru m o à tolerância.
A jornada do ego ocorre quando um indivíduo pára de tentar fazer o mundo
Reiterando, então, a busca de Parsifal pode ser vista como a satisfazer suas necessidades e carências e começa a procurar
jornada do ego, induzido inicialmente pelo s e lf passando por meios de realizar algum necessário e importante serviço para
todas as suas aventuras, forçado a entrar em coloquio com todos outrem” (pág. 3). Aqueles que tiverem quase completado a
os elementos do inconsciente, domando e coordenando suas Busca saberão o que fazer e como agir. Mas há muitos que
energias arquetípicas do inconsciente, auxiliado pelos podem aceitar o conselho de Sinetar como racional e sensato,
arquétipos do s e lf e com freqüência através do seu mediador, a mas serem incapazes de agir. O castelo do Graal desaparece ante
anima. Conciliando os opostos em sua psique, mediante eles, que têm de se submeter aos demais testes da experiência, e
reconhecimento e aceitação de seu lugar em sua vida e entrando o ego racional, consciente, tem de suspender seu censor do
em acordo com os mesmos, ele tem uma verdadeira experiência inconsciente e dar inicio ao processo de transformação.
do seu s e lf real; como expresso na metáfora da lenda, ele entra
no Castelo do Graal pela segunda vez e sabe o que fazer. Como O psicólogo vê seus pacientes humanos como mentalmente
o centro de gravidade se desloca para o verdadeiro centro do (psiquicamente) saudáveis ou doentios, emocionalmente
seu ser, ele se torna o curador de feridas, o restaurador de perturbados ou equilibrados, temperamentalmente enfermos
fertilidade e felicidade para o Reino e seu Rei. Ele integrou os ou estáveis, dependentes ou autónomos, impulsivos ou
elementos inconscientes de sua psique em sua vida consciente. hesitantes, violentos ou pacíficos, impetuosos ou gentis,
Quando consideramos o sub-mito do Rei Pescador Ferido e orientados para o ego ou para o self, e muitas outras designações
da Terra Devoluta, somos expostos à natureza da psique coletiva para descrever o estado de uma pessoa ou suas respostas
e ao lugar do indivíduo nela. A conclusão feliz do mito (a cura comportamentais. O estado final de integração ou inteireza é
do Rei e da Terra) reforça nossa obrigação de cuidar da térra e delimitado como um grau de saúde mental que é alcançado
do nosso ambiente. A lei de causa e efeito se aplica tanto ao muitas vezes por meio de uma luta interior de um indivíduo
nivel individual quanto ao coletivo e este é ao mesmo tempo a para resolver as cisões ou os opostos dentro de sua psique. Em
soma e o produto de seus componentes individuais. termos mitológicos, pode-se comparar isso ao fim da busca, à
visão final do Graal ou à recepção final nele.
Mas todas as coisas começam no indivíduo. Se a sociedade
é lenta demais para acelerar o movimento de elevar seu nivel Efetivação do self
de consciencia, para evitar a ameaça à sobrevivencia da nossa Abraham Maslow, psicólogo humanista, trabalhou num
espécie, e para compreender seu lugar no cosmos, aqueles que conceito semelhante ao do processo de individuação de Carl
conhecem as respostas, que são os profetas, que são os Jung. Baseou seu progresso do desenvolvimento humano na
individuados ou integrados, têm de mostrar o caminho. Esta é satisfação de necessidades, o ponto final sendo a efetivação do
a maior obrigação do herói, do verdadeiro místico. Como disse s e lf No seu modelo, os seres humanos sobem uma pirâmide
Marsha Sinetar: “o começo da real saúde da personalidade de necessidades, desde o momento de seu nascimento e por
toda a sua vida. Eles são m otivados prim eiro por necessidades Podem os com parar isso a se ter um a prim eira visão do G raa l,
de segurança e sobrevivencia, as necessidades psicológicas, e qu and o ele acha conveniente apresentar-se a nós com o o fez
depois p o r necessidades e interesses intelectuais e criativos. A de m odo súbito na T ávola Redonda. Podem os tender a igualar
necessidade final, depois qu e todas as dem ais ten ham sido o ponto de self-c fetivação de M aslow ao m om en to em qu e
sa tisfeita s, a in d a q u e n ã o n e c e ssa ria m e n te n u m p a d rã o Parsifal resolve seu próprio problem a de identidade, resolve o
h ie rá rq u ic o ríg id o , é a de a lc a n ç a r a u to -re a liz a ç ã o e se problem a do Rei do G raa l e do seu reino e alcança o status de
conscientizar de todo o potencial pessoal, ou da necessidade C avaleiro do G raal. M a s ...
de efetivar o self. U san d o o m étodo científico, reu n in d o e
reg istran d o dados de estudan tes u n iv e rsitá rio s e ou tros e Nos anos posteriores, outras observações feitas por Maslow,
fazend o hipóteses, M aslo w finalm ente descreveu seus self- de pessoas qu e eram ainda “superiores” àquelas que haviam
efetivadores com o dotados de certas características distintivas. alcançado o topo da h ierarq u ia de necessidades e interesses,
A lg um as delas abrangem : ver as coisas com o elas realm ente pressionaram a validade de sua hipótese. H avia mais dimensões
sã o ; n ã o se r p e r tu r b a d o p o r in c e r te z a s ; c o m p o rta r-s e na natureza hum ana. N otava-se que algum as pessoas iam além
esp ontan eam ente e não dem on strar ansiedade ou culpa e, da a u to -re a liz a ç ã o e atu avam n u m nível tran scen d en te e
portanto, estar livre de sintom as neuróticos; ter um bom senso transpessoal. Elas gozavam de “saúde extrem a”, não som ente
de hum or, ser criativo e fazer bom uso de seus talentos e suas qu anto a conforto psíquico ou consciência, e ultrapassavam os
habilidades; estar geralm ente preocupado com o bem -estar da lim ites do ego e as lim itações de tem po e espaço. E ram pessoas
hu m an id ad e; com preen der e viver as experiências básicas da qu e transcendiam o se lf
vida; ser m enos in flu en ciado pelo am biente social; e m an ter
valores de beleza, bondade e verdade. Isso levantou problem as de classificação, qu e só poderia ser
feita nos relatórios de tais pessoas “superiores”, um a vez que
O ra, os term os “in d iv id u a d o ” e “e fe tiv a d o ” p assariam elas pu dessem ser id en tificadas. A lé m disso, a verificação
n atu ralm en te um a idéia de finalid ade, de n en h u m desen­ objetiva só poderia ser conseguida se os pesquisadores tivessem
volvim en to posterior. E isto foi criticado com base filosófica a m esm a experiência que fosse relatada. Essa classe am pla assim
em que “tudo está em tran sform ação” e nada perm anece o id e n tific a d a in c lu ía m ísticos, m e d ita d o re s, e xp o en tes da
m esm o. M aslo w não postulou um “tip o ” acabado e sim um a psicologia budista, iogues, pessoas q u e tivessem vivenciado
configuração geral de traços de atitude e caráter que se m ostram níveis elevados de consciência e cujas experiências fossem
predom inantes entre aqueles que ultrapassaram o nível de descritas em term os com o ilum inação, aniquilação, libertação,
necessidades e interesses criativos. M aslo w observou tam bém consciência cósm ica, ou un ião com D eus. Os psicólogos em
q u e esses ¿vr/f-efetivadores tin h a m o q u e ele ch a m o u de geral têm evitado essa área que só estudiosos de experiências
experiências de “pico”, m om entos de felicidade e consecução m ísticas e relig io sas têm ten ta d o d escrever, com g ra n d e
— um a espécie de vislu m b re m o m en tâ n eo de ilu m in ação. dificuldade. O cam po m ais recente, de psicologia transpessoal,
aceitou o desafio e m odelos estão sendo elaborados. Seja com o pelo indivíduo não vê diferenciação entre o que ele observa e o
for que o estado de ilu m in ação ou seus estados associados se objeto de sua observação, quando a realidade é vivenciada como
a p re se n te m , q u e r com o u m fe n ô m e n o te m p o rá rio (p o r não-d ual ou U na.
exem plo, “ver o G ra a l”) q u e r com o um a transform ação m ais
perm anente (estado búdico ou de consciencia crística, de “ser Três cavaleiros que alcançarai
o G ra a l” ou de “beber seu co n teú d o”), o significado do se lf é N um a das histórias do Graa. “s cavaleiros qu e
visto num contexto m ais am plo. N ão é m eram ente o centro da tiveram experiências do G raal acim a da experiência dos dem ais
consciência in divid ual e sim parte do S elfM aio r , análogo ao cavaleiros da T ávo la R edonda, que foram G alah ad , Parsifal e
que os m ísticos têm variad am en te cham ado de Su per-alm a, Bors. Eles levaram o G raa l na barca de Salom ão para Sarras,
de M ente U niversal, de B rahm an, de Tao, ou de C onsciencia que se presum e ser Jerusalém . Estava com eles A m id e, a irm ã
Cósm ica. M aslow descreveu depois esse estado do S e r com o de Parsifal, qu e os acom panhou du ran te parte da viagem . Ela
aq u ilo qu e ultrapassava o ám bito de experiencia de sua pessoa era a im agem hu m an a do G raal, qu e deu sua vida doando seu
se lf efeúvada. Trata-se do estado alcançado quando o indivíduo próprio sangue para salvar outra pessoa. Todo o dram a de am or
se torna “transpessoal, tran s-hum ano, centrado no cosmos, em altruístico e com paixão, de criação, sacrifício, alim entação e
lugar de em necessidades e interesses hum anos, ultrapassando renovação, está encenado aí. Esse é o G raa l tal com o a m aioria
a condição h u m an a, a identidade, a auto-realização e outras de nós pode com preen dê-lo. A o chegar a Sarras, G alah ad
coisas qu e tais”. seguiu o G ra a l para o céu, elevan d o-se acim a do pico da
ilu m in ação neste m undo. Parsifal, então rebaixado devido à
Essa visão à o se lf está em concordancia com aq u ilo qu e os ênfase cristã nu m personagem heróico m ais ascético com o
rosacruzes, tendo estudado os relatórios de m ísticos e filósofos, G alah ad , ficou para trás com o Rei do G raa l, d esfrutan do o
bem com o as verdades contidas na m itologia, vêm ensinand o estado beatífico neste m undo. Bors voltou para a corte de A rtu r
há séculos. O rosacru z encara o self com o m anifestação do a fim de contar a história. Ele era a dádiva do G ra a l para a
C ósm ico em toda a sua glória, um reflexo da M ente C ósm ica. hu m an id ad e em aflição, para os lancelots e os gaw ains que
O p o n to de ab sorção do q u e era in ic ia lm e n te visto p elo fracassaram na busca por fraqueza hum ana, mas cuja esperança
indivíduo com o separado do qu e fazia parte de um a realidade nunca m orre. Podem os colocar esses três cavaleiros, de m odo
Su prem a é descrito com o a suprem a experiência m ística. É a lim ita d o , em três categ orias da escala do Ser, d e n tro da
parte desconhecida, ilim itada, do “espectro de consciência” perspectiva da psicologia h u m an ista e transpessoal. G alah ad
de K en W ilber, na q u al “a fronteira Self/N ão-Self se rom pe ultrapassou os lim ites do ego e foi absorvido no C ósm ico,
nas faixas transpessoais e se desvanece no nível da M en te” (pág. desvanecendo-se no nível da M ente. Parsifal perm aneceu num
75). N o contexto do m ito do G raal, ela poderia ser assem elhada nível de consciência excelso, próxim o à absorção total. Bors
ao beber do conteúdo do G raa l pelo C avaleiro do G raal, ou ao voltou mais um a vez para aqueles que não tiveram m aior visão
se torn ar o G raa l, q u an d o o nível de consciência alcançado do G raa l, subindo e descendo o “espectro de consciência”, em
constante exem plo e inspiração para aqueles qu e precisavam cavaleiros-místicos, eles iniciam a jornada com o Tolos ingênuos,
de reforço da confiança em qu e a persistência na busca do mas alcançam por fim o status de G uardiães do G raa l, a m ais
prático e do sagrado poderia, se eles fossem unidos, levar à a lta O rd e m do C a v a le iris m o , a fase de ilu m in a ç ã o , de
vida realizada daqueles qu e um dia veriam o G raal. consciência cósm ica, e renascem para urna nova vida.

A abordagem mística ocidental U m d ia , q u a n d o A r t u r e seus c a v a le iro s e sta v a m se


A alegoria do C avaleiro na busca m ística é característica da ban qu etean do em sua T ávo la R edonda, ocorreu um evento
abordagem m ística ocidental da transcendencia. A busca deve espantoso que in diretam ente anu nciou o declínio e a queda
ser ativa, m otivad a pelo im p u lso de integração, autocons- da Fraternidade da T ávo la R edonda, a m orte do Rei e o retorno
cientização ou reintegração na D ivindade. D eve ser fortalecida ao barbarism o, que findou o paraíso tem porário criado pela
pela vontade, sustentada pela persistência, su avizad a pelo regência de A rtu r. Paradoxalm ente, esse evento foi a visita do
coração, extraindo suas experiências da interação com a natureza G raal. Ele flutuou para dentro do salão num esplendor de luz,
e com a sociedade hu m an a, focalizad a na crença em algo posicionou-se no centro da M esa, passou a alim en tar todos os
superior ao buscador, bem com o nu m sonho nostálgico de se presentes e depois foi em bora flutu and o. G a w a in pulou de
em p en h ar em alcançar um a nobreza espiritual que é direito sua cadeira e assum iu o com prom isso de procu rar o G raal.
de nascença desse buscador. A con tem p lação e a reflexão O utros seguiram seu exem plo e se entregaram a suas buscas
estáticas não cum prem um papel im portante, mas apenas com o individuais. O arquétipo espiritual da Fraternidade da T ávola
pontos de repouso e revitalização na difícil jornad a. É urna R edonda havia se m anifestado no plano m u n d an o e seguira
jornada cheia de desapontam entos e reveses, contrastando com seu ru m o, o preço pago pelo erro hu m an o. M as o ciclo foi
sen tim en tos de esperança e m om en to s de triu n fo . M as o reiniciado, com o se o novo ovo estivesse sendo chocado no
sucesso é assegurado ao corajoso, ao paciente, ao perseverante. colapso da Fraternidade. H om enageada com o o g ru p o dos
U m processo de firm e purificação ocorre ju n tam en te com a m elhores cavaleiros do reino, a Fraternidade recebeu nutrição
luta; e, se necessário, um auxilio está disponível... auxílio do espiritual do G raal, de m odo que a nova busca pudesse começar;
G ra a l, q u e a fin a l está o c u lto d e n tro de nós m esm os. Os um a F raternidade qu e estava sendo recom pensada por ter
estudantes de hoje na senda m ística estão fazendo a jornad a te n ta d o fa z e r co m q u e as m a is n o b re s a s p ira ç õ e s do
do herói do G raal. Seguem um a senda de iniciação qu e foi cavaleirism o realizassem o céu na terra. A p artir do m om en to
trilh a d a p o r adeptos das an tigas escolas de m istério . A o da b reve visita do G ra a l, a sorte de cada c a va le iro ficou
p e rse g u ire m essa Jo rn a d a , re so lu to s em sua d e c isão de encarregada de im p eli-lo para o próxim o nível de iniciação.
c o m p le ta r a busca, os e stu d a n te s de m istic ism o p o d em
condensar “m uitas experiências da vida nu m a só e assim ilar a A busca do G raa l devia ser um a jornad a in divid ual em que
com preensão de que essas experiências levam a um período a iniciativa, a vontade pessoal e o desejo ardente levassem à
mais curto de tem p o” (A shcroft - N ow icki, pág. 198). C o m o iniciação final com o cavaleiros do G raal. M as dentro de cada
cavaleiro havia a m em ória da Fraternidade da T ávola Redonda. Poço do C álice? Ele está situado nu m jardim em terraço ao
C ada um deles deixou a M esa com o pensam ento firm em ente lado de C h alice H ill. A credita-se qu e suas águas m edicinais e
im presso em sua consciência de qu e estava em busca, não radioativas têm p rop riedades curativas e consta qu e a cor
som ente de si m esm o, m as de sua O rdem de cavaleirism o, cujo averm elhada da água foi causada pelo sangue do C risto que
objetivo era servir à h u m an id ad e, àqueles cujo tem po ainda nela foi m isturado. Essa m istura de G raal, sangue de C risto e
não tinha chegado, àqueles qu e ainda não tinh am ouvido o águas c u ra tiva s é u m sím b o lo co m p o sto p o d ero sa m en te
cham ado ou visto a lu z distante, do G raal. Todo cavaleiro- evocativo.
m ístico de hoje sabe em seu coração que, q u an d o a busca
term inar, ele perm anecerá com o um farol para aqueles que O v isita n te p e rc o rre o ja rd im em três n íve is, p o r um
ou virem a lenda. Eles voltarão com o Bors, que se tornou o cam inho estreito, com o que subindo para um sanctum interior
avatar, aqu ele que “esteve lá ”, desejando com p artilh ar sua de um tem plo a céu aberto. A direita do cam inho ascendente,
sabedoria com aqueles qu e ainda estão em penhados na busca um canal de água do Poço escoa do jard im a vazão de 95.000
e com aqueles que estão por com eçar. E dessa m aneira que litros por dia. N o nível m ais alto, o Poço é qu ad rad o e tem a
eles servem ao G raal, assim com o o G raa l um dia os serviu, e p rofun did ade de dois m etros e m eio. A boca do Poço está
eles devem re fle tir seu esp írito e n tre seus c o m p a n h e iro s adaptada um a tampa que em geral é m antida aberta. O desenho
hum anos. Desse g ru p o há de surgir a visão e o poder para que consta nessa tam pa é significativo. As tiras de m etal de sua
criar a próxim a T ávola Redonda, que corresponda em todas as superfície circular form am um sím bolo vesica piseis, com um a
suas partes à celestial acim a dela. c o lu n a ou á rv o re p a ssa n d o p e lo m eio dos dois c írc u lo s
parcialm en te sobrepostos. D iz-se qu e esse sím bolo era usado
O poço do cálice de Glastonbury para o posicionam ento geom ântico da área sagrada ao redor
N um a tarde serena e ensolarada de abril, quando um a ligeira da catedral. A suposta presença do G raa l no Poço, a tradição
n e b lin a a in d a estava no ar, a lg u n s m em b ro s da O rd em de sua água curativa e a adição m ais recente do padrão vesica
R osacruz visitaram o jard im do Poço do C álice e ali fizeram piseis na tam pa, lem bram o aspecto do G raa l qu e o caracteriza
um a m editação conjunta. Foi um m om ento sublim e para todos com o um a taça de sabedoria, com o um a Sophia gnóstica, com o
eles. D iz a lenda que o G raal, na form a do cálice que foi levado a contraparte fem in ina da D ivindade.
para lá por José de A rim atéia, estava nas profun dezas do Poço.
Em m om entos com o esse, não im porta realm ente se o G raa l O sím bolo da tam pa pode ser lido a vários níveis de co m ­
está ali, não está ali, ou poderia estar ali, ou nunca esteve ali. A preensão. Os dois círculos representam os planos espiritual e
m ística qu e se desen vo lveu ao redor de toda G la sto n b u ry m un dano, que se sobrepõem para descrever o m om en to em
através de sua atm osfera e de suas lendas condiciona a m ente que sentim os a C entelha D ivina em nós, em que sentim os que,
da pessoa a aceitar a idéia de qu e o G raa l está na vila, no local e m b o ra se p ara d o s, a in d a estam o s lig a d o s ao e s p iritu a l.
da mística A valon. E que m elh or lugar poderia haver do qu e o R epresenta ainda a constituição do ser h u m an o com o um
com posto de corpo (a parte m aterial) e alm a (a parte im aterial, círculos cessa qu an d o eles se m ovem para um centro com um .
espiritual). O ponto de sobreposição pode tam bém sugerir o É esse m ovim en to e a verdade que ele representa qu e estão
m om ento m ístico em qu e a pessoa recebe um lam pejo de contidos no m istério da Busca do G ra a l. U m a vez q u e a
ilum inação e vivencia a m em oria de urna época em que os dois sobreposição ocorra, com o aconteceu q u an d o Parsifal olhou
círculos co in cid iam ; esse pode ser o m o m en to em q u e o para cavaleiros de A rtu r na floresta e pensou que eles fossem
individuo tem um vislum bre do G raal. A experiencia pode ser anjos, o C avaleiro do G raal de hoje precisa pegar a lança deles,
noética e extática, o m om en to em qu e ocorre o renascim ento. dar rédea solta ao cavalo e galop ar pelo vale!

O utras interpretações desse sím bolo são intrigantes. A form a


da sobreposição poderia ser a de um peixe, o sinal dos cristãos
antigos que vivenciaram a consciência crística. A lg u n s vêem
nela a form a de um tem plo que é o centro cardíaco do contato
da hum anidade com a D ivindade. Ela é vista com o um símbolo
do G raal e de tudo o que isto im plica. Lem bra tam bém o órgão
g e ra d o r fe m in in o e, a trá s d e le , o v e n tre , com to d as as
im plicações da criação e da m an u ten çã o da vida. M u itos
visitantes tiveram experiências “apoteóticas” no Poço ou durante
sua estada em G lastonbury. C aso contrário, o próprio sím bolo,
visualizado com o o G ra a l pessoal de alguém , poderia u m dia e
num m om ento inesperado, onde q u e r que a pessoa estivesse,
levá-la à experiência que é m elhor descrita por Jean Bolen com o
“e x p e riê n c ia s de vesica p ise is”. E las o c o rre m em nossa
consciência nos m om entos, no tem po e fora do tem po, “em
que o m undo visível e o m undo invisível entram em interseção;
em que valores eternos e m undanos se sobrepõem ; em qu e o
arquetípico e o m u n d o tangível se encon tram ; em qu e C é u e
Terra, o m ais alto e a m ais baixa, reúnem -se num m om ento
lim ia r” (pág. 119 ).

A lgun s podem pen sar qu e isso é o fim da busca do G raal.


Na verdade, é apenas o com eço! A pessoa se torna o G raal ou
é absorvida nele, no m om ento em qu e a sobreposição dos dois
mas aprendemos m uito mais de Parsifal, harm onizando-nos com
suas experiencias, pois ele é m uito parecido conosco e com a
hum anidade em geral, que tem de sofrer e desfrutar o processo
da vida a fim de efetivar o processo da alquim ia espiritual que leva
Apêndice 1 ao G raal. Am bos os heróis têm o seu atrativo individual, mas eles
são figuras iguais na narrativa, cujo objetivo é nos exortar a
A organização do mito do Graal buscarmos nossa verdadeira natureza e nosso verdadeiro propósito
relativamente a este planeta e ao cosmos. Para centrarmos nosso
A q u i vai ser feita urna tentativa, por desalentadora que ela p en sam en to nesse personagem e no objeto do G raa l, será
possa ser, de esboçar a estru tu ra e o sentido evolutivos do necessário fazermos apenas referências breves e relevantes a outros
C avaleiro em busca do G raal, partindo de urna conjetura sobre elementos que dão colorido aos bastidores da tradição do G raal,
os elem entos originais qu e form am os bastidores do M ito, tais com o a experiência de G aw ain, Lancelot, Artur, G uinevere e
prosseguindo através do prim eiro relato escrito que será usado toda a Fraternidade da T ávola Redonda.
com o esqueleto do rom ance e acrescentando as outras partes
do “corpo” para com pletar sua forma tal como nos foi transmitida T ítu lo s adequados deverão se d em on strar valiosos para
hoje em dia. Essa sinopse vai in clu ir aspectos m itológicos, fix a rm o s a s e q ü ê n c ia dos e v e n to s e as a lte rn â n c ia s do
psicológicos, místicos, religiosos e didáticos m encionados nesta pensam ento. Estas não vão necessariam ente seguir um a ordem
obra, bem com o as contribuições relevantes de autores prim ários cronológica de aparecim ento dos vários rom ances do G raal,
e exposições ou críticas secundárias. O conteúdo escolhido é visto que muitas datas são com freqüência aproxim ações dentro
de um períod o de m ais ou m enos cin q ü en ta anos. A ntes,
altam ente seletivo e está colocado em form a de nota. Fazer
em bora a ordem provável de aparecim en to seja levada em
diferente exigiria demoradas análises do teor interno de qualquer
consideração, a ênfase será de com por o m ito com o um conto
obra citada e isto foge ao âm bito deste livro.
unificad o e observar variações de interesse a p artir das qu atro
ou cinco obras p rin cipais q u e fo ram escolhidas para essa
A Busca do G raal por Parsifal é o m odelo m ais com pleto do
reconstrução. As principais obras prim árias relacionadas com
M ito e é a qu e podem os usar para fins didáticos. O u seja, é
o G raal estão relacionadas no A p ên dice 2.
um a apresentação ím p ar da busca do se lf pelo individuo, m ais
do que a busca de G alah ad . Parsifal com eça nu m ponto baixo A. Os precursores do Graal e da busca do Graal
e alcança grandes alturas, en q u an to G alah ad já está a m eio 1. Podem ser descritos com o os precursores elem entos de
cam inho e vem os bem pouco de sua luta. Ele é a nossa visão ritu al e m ito em antigas religiões de m istério do O rien te
terrena do qu e terá de ser o estado espiritual da hum an id ad e. P róxim o e tam bém os ritos M egalíticos associados à D eusa da
Parece que aprendem os de G a lah a d por nos ser m ostrado o Terra, bem com o a tradição de m istério céltica qu e se seguiu
padrão do que deve se to rn a r um cavaleiro cristão ascético, aos últim os.
2. A taça ou um a pedra com o o objeto sagrado ou m ágico B. A organização do mito do Graal
nos rom ances do G raal tem sua contraparte em antigas culturas 1. C hrétien de Troyes escreveu Le Conte du G raal (c. 1 18 0 ­
re lig io s a s ( h in d ú , b u d is ta , h e b ra ic a , e g íp c ia e ritu a is 8 4 ), r e iv in d ic a n d o q u e su a fo n te fo ra u m m a n u s c rito
xamânicos). disponibilizado por seu benfeitor, Philip, C onde de Flandres. A
palavra G raal foi usada, mas não claram ente descrita para indicar
3. C onceitos do T em plo do G raa l provavelm ente desen­ sua form a. C h rétien declarou que se tratava de ou ro pu ro
v o lv id o s de e s tru tu ra s M e g a lític a s, sua o rie n ta ç ã o , sua refinado, que estava incrustado com pedras preciosas e que
localização e seu objetivo, conform e povos antigos tentaram brilhava m ais do qu e todas as velas do salão. O G raal era
contatar e en trar em com un hão com forças sobrenaturais ou a carregado por um a V irgem do G raal precedida de um jovem
divindade; e tam bém locais de culto do O rien te M édio (as carregando a lança que gotejava sangue de sua ponta, num a
pirámides, o Tem plo de Salom ão, o tabernáculo e m esm o grutas procissão que entrou e saiu do salão do banquete. Imediatamente
naturais). antes disso, Parsifal recebeu um a espada “que estava destinado
a ter”. O Rei Pescador Ferido estava presente. Parsifal falhou
4. M ais próxim o à Idade do C avaleirism o, a “questão da em fazer perguntas quanto a por que a lança sangrava ou a quem
Inglaterra e da Irlan d a”, a tradição oral entre os druidas, as era servido pelo Graal. O poema ficou inacabado e foi completado
lendas da busca e da iniciação, freqü entem ente com tem as de m ais tarde, com variações, por continuadores.
vingança, de caldeirões m ágicos ou cornetas de abundancia,
espadas m ágicas, lanças e outros talism ãs, e visitas do “outro 2. O rom ance de Robert de Boron Jo sé de Arim atéia (c. 1190)
m u n d o ”, form aram os bastidores de recursos para o m ito do e o posterior C iclo Vulgata de rom ances recorrem a fontes
G raal que em ergiu nos séculos doze e treze. apócrifas (o E vangelho de N icodem us e outras referências
bíblicas) para “estabelecer” a origem e a natureza cristãs do Graal,
5. P ered u r, a v e r s ã o g a le s a de P a r s ifa l , t o r n o u - s e mas variações adicionais da historia foram introduzidas por D e
conhecida antes ou m ais ou m enos na época do relato escrito Boron. O G raal passou a ser o cálice da Ú ltim a Ceia, bem com o
de C h ré tie n , m as n ã o foi p osta em fo rm a escrita sen ão o recipiente do sangue do Cristo, confiado a José de A rim atéia,
q u an d o de seu aparecim en to no M abinogion do século treze. que o levou para a Inglaterra. U rna segunda mesa quadrada foi
N e n h u m G ra a l foi m e n c io n a d o em Peredur , m as o ritu a l feita tam bém para celebrar os Sacram entos à m aneira da Ú ltim a
encenado in cluía a exibição de um a cabeça decapitada nu m a Ceia e usando o cálice original. O G raal era assim “Santo” e não
travessa. sim plesm ente mágico, provendo não apenas as necessidades do
corpo mas tam bém o alim ento espiritual.
6. A C rón ica de H elin an d u s (12 0 4) indica que a palavra
“gradale”, significando um vaso, era conhecida antes da época 3. Parte da Vulgata contém um segm ento referido com o o
dos poetas do G raal. Petit Saint G raal [Pequeno Santo G raal], ou Santo G raal M enor.
N ela o nom e do Rei Pescador era B ron, um parente de José Ú ltim a C eia, foi designada pelo E spírito Santo com o o lugar à
que pegou um peixe e com ele alim entou as pessoas que estavam mesa de José destinado a fazer discrim inação entre os indignos
n u m a re fe iç ã o m ístic a à m esa de José. É m ais do q u e e os puros de coração.
coincidência que a palavra Bron se assem elhe a Bran, um deus
céltico do m ar transform ado em herói galês e cujo castelo, M ais tarde ela se tornou o lugar na T ávola Redonda de A rtu r
C astell D inas B ran, é reivindicado com o C astelo G alês do para o cavaleiro destinado a ser o herói do G raa l. N a época de
G raal. José, M oys sentou-se nela e foi engolido. Parsifal tentou sentar­
se nela, na versão denom inada D íd ot Parsifal (D idot era o
4. Robert de B oron declarou que sua fonte era um grande proprietário do m anuscrito). A cadeira im ediatam ente se partiu
liv ro e sc rito p o r g ra n d e s c lé rig o s. N as três o b ra s m ais e foi feita um a profecia de que Parsifal e a Fraternidade da
im p o rta n tes sobre P a rsifa l, as de C h ré tie n , D e B o ro n e T ávola Redonda iriam sofrer por isso. Nesse sentido, o Parsifal
W olfram , todas buscam autoridade em algum “livro” ainda não céltico foi “deslocado de assento” quanto ao seu status de herói
conhecido. O “livro” original pode ou não ter existido, ou pode do G raal, m udança qu e foi confirm ada em Queste del Saint
ter sido um a história que tom ou form a na tradição oral céltica G raal, qu an d o G a lah ad , im buído do E spírito Santo, sentou-
ou noutra e que era consideravelm ente conhecida. se nessa cadeira sem conseqüências drásticas e foi reconhecido
com o seu legítim o ocupante.
5. Procedência O riental da H istória do G raal. W olfram von
E sc h e n b a ch , do ciclo a le m ã o de a u to res sobre o G ra a l, 7. G la sto n b u ry com o L ar do G raa l. A lg u m tem po depois
reivindicou um a origem oriental para a história do G raa l em da cristianização do G raal por D e B oron e pelos escribas da
seu Parzival (c. 12 10 ) e o G raa l é descrito com o a pedra que Vulgata, G lastonbury, que já fora um sítio religioso “pagão” e
caiu da coroa de Lúcifer. O poder da pedra era renovado a um centro de cristianism o céltico, e depois inclusive o local de
cada Sexta-Feira Santa, quando um a pomba vinda do céu trazia um a A badia, tornou-se o la r do G raal. O rom ance in titulad o
o anfitrião para ela. M as ela era um triste evento para o Rei do Perlesvaus, ou A lta H istória do G ra a l, foi tra d u z id o pelos
G raa l, já qu e m an tin h a sua ferida ativa e o deixava vivo. O m onges de G lastonbury. E le afirm a q u e o G ra a l estava em
poem a segue geralm ente a história de C h rétien, com pequenas poder de José e m enciona a lança de L onginus, o centurião
variações, e acrescenta a ela a vida de seus predecessores e de rom an o qu e p erfu rou o corpo do C risto. Essa obra é m ais
seu filho. Su a im p o rtân cia, porém , está em seu conteúd o alegórica do qu e a m aioria delas e é altam ente sim bólica. A
intelectual herm ético. teoria do “T em plo das E strelas” de K a th le e n M alw ood (1935)
liga o Zodíaco de G lasto n b u ry aos em bates dos cavaleiros com
6. A C adeira Perigosa. N os rom ances escritos ou atribuídos criaturas m edonhas em trechos de Perlesvaus. O Z odíaco de
a Robert de B oron, a C ad eira Perigosa, um a cadeira qu e devia G la sto n b u ry é a descoberta de M alw ood da coincidência de
ficar vaga com o lem brete da qu e Judas ocupou d u ran te a asp ectos to p o g rá fic o s e feito s p e lo h o m e m ao re d o r de
G lasto n b u ry com o Z odíaco celeste. Se o au tor do rom ance vida p u ra ” e provin h am de m uitas terras. Os G uard iães do
tinha algum a dim ensão astrológica a acrescentar à busca do G r a a l de W o lfr a m fo ra m d e s e n v o lv id o s n a Id a d e do
cavaleiro, isto, ju n tam en te com suas referências indiretas aos C avaleirism o e os G uardiães do G raal originais de José foram
cavaleiros do G raal com o tem plários, teria estreita afinidade representados no Parzival com o C avaleiros T em plários. O lar
com algum as das idéias de W olfram . A m bos eram inclinados do G raa l não era G la sto n b u ry e sim um a fortaleza ou um
para a alq u im ia e buscavam correspondências entre a terra e o tem plo nu m a m on tan h a dos Pireneus.
céu, vendo “a m ensagem do G raa l nas estrelas”.
M isticam énte, esse g ru p o deve ser visto no contexto m ais
8. A obra, Grand Saint G raal (c. 12 12 ), fala da chegada de am plo da fam ília h u m an a e de sua evo lução e não com o
José a G la sto n b u ry e de seu sep ultam ento ali. A fundação de evidência de um tem a racista ou da prom oção de um “povo
um a O rdem de C avaleiros do G raal é associada às experiências escolhido”. Parsifal, bem com o G alah ad , seria parte de um a
de José, de seus parentes e discípulos, antes e depois que eles consangüinidade espiritual por nascim ento, assim com o somos
pisassem na Inglaterra. A ssim o conceito de C avaleirism o do todos nós. O qu e os distingue de nós é a suposição de que
G raal ou G u a rd a do G raal foi acrescentado à lenda. Faz-se existem na massa geral da hum anidade alguns que realizaram
m enção tam bém de o G raal ter sido escondido n u m castelo. essa divina conexão m ais cedo e optaram por fazê-la m u d ar o
G lastonb ury não tinha n en hu m castelo propriam ente, em bora padrão de sua vida. Em outras palavras, eles estão na presença
fosse um centro político e com ercial na época céltica e rom ana. etern a do G ra a l. Q u a lq u e r um dos dois h eróis apresenta
Mas o castelo com o um local seguro para o G raal é m encionado im agens do “n ovo h o m e m ” qu e vem para re sta u ra r o ser
em m ais de um a história. hu m an o ao seu estado original. A tentativa de acrescentar mais
a isso do que o alegórico, com o é bem sabido, dem onstrou-se
9. C avaleiros do G raa l — W o lfram von E schenbach, em desastrosa no nosso tem po.
Parzival, desenvolve ainda m ais a idéia do C avaleirism o. A
qu alificação para essa posição incluía a linhagem . Parsifal era W olfram in trod uziu tem as herm éticos e alquím icos em sua
ele p ró p rio um in d ivíd u o e tam b ém u m p rod u to de seus obra; por exem plo, os contrastes de lu z e trevas, bem e m al, a
ancestrais, T itu rel e G ah m u ret. H avia histórias associadas a potencialidade de q u a lq u e r desses valores estar presente no
eles, com o no caso do filh o de P arsifal, L oh en g rin . Todos ato hum ano, a escolha de lu z em m om entos de incerteza m oral,
tinh am um a responsabilidade e um privilégio hereditários. e a evolução de seres hu m an os através do esforço pessoal, da
E ram todos G u ard iães do G raal. dúvida e do sofrim ento.

Segundo W olfram , supercavaleiros do G ra a l guardavam R ichard W agner adota o tem a m ístico em suas óperas. Faz
tam bém o castelo do G raal e serviam em missões especiais. com que seja o Rei do G ra a l A m fortas, o filho de T itu rel, que
Eles eram especialm ente selecionados, eram “criados para a é o perfeito servo do G raa l no céu. T itu rel é o se lf superior e,
A m fortas, o hom em decaído. T iturel perm anece nos bastidores d) Parsifal está num estado de inocencia, harm onizado com
da ópera; Parsifal, como urna voz. Parsifal é a força renovadora natureza e o fem inino. M as, na infancia e na adolescencia,
que cresce proporcionalm ente aos aspectos terrenos agonizantes e é egocéntrico, socialm ente inepto, em bora sensível ao
em T iturel (o self em A m fortas), os quais term inam em Parsifal ifrim ento de anim ais inferiores e aos seus próprios im pulsos
alcançando o estado original de T iturel (o self liberado de sua teriores. Q u a n d o é visto com o um “T o lo ”, com ete atos
responsabilidade). refletidos, m as não é m otivado por m aldade.

C. Primeiro estágio da historia de Parsifal 2. separação da m ãe.


1. in fan cia e adolescencia. a) S u a p rim e ira visão dos c a va le iro s de A r tu r na floresta
a) Parsifal é criado por sua mãe, que se retirou para a floresta d ra m á tic a ; ele os c o n fu n d e com a n jo s. E sse é o seu
a fim de fugir do m un do do conflito h u m an o que causou a 'im eiro co n ta to in tu itiv o com o G ra a l, em b o ra não ten ha
m orte de seus parentes. O m enin o é criado nu m am biente m sciência disso. S u a asp iração ain d a é lim ita d a ; ele q u e r
diferente do de outras crianças da realeza ou nobreza. : t o r n a r u m d o s c a v a le ir o s de A r t u r . T o d a v ia , essa
>mpanhia é seleta e são esses cavaleiros qu e vão m ais tarde
b) Floresta e M ãe são sím bolos com binados. A q u i estão js c a r o G r a a l.
representados aspectos da D eusa M ãe, os princípios criativos,
afetivo s e n u trie n te s da n a tu re z a . A m b a s re p rese n ta m o b) N a ópera de W agner, Parsifal, esse encontro é visto com o
arquétipo da “m ãe”, um a na escala m acrocósm ica e, a outra, prim eiro despertar de sua união com a D ivindade, a prim eira
na m icrocósm ica. A m ãe de Parsifal, H erzeleid e (Pesar do m brança de estar separado de algo que ele fora. Pode tam bém
C oração), m ostra os aspectos positivos do arquétipo, tais com o r descrito com o seu prim eiro um bral iniciático a ser cruzado,
d escritos acim a. N o asp ecto n e g a tiv o , ela é in se n síve l à de ser “cham ado ao G ra a l” e de estar preparado. O segundo
necessidade m asculina de consecução dessa parte da natureza tágio iniciático inclui suas experiências posteriores até o
dele e é super-protetora. Em seu pesar, é um a fraca m ediadora icontro com o erem ita e, o terceiro, a consecução do status
para o se lf i C avaleiro do G raal.

c) A floresta é tam bém identificada com o inconsciente, 3. E xperiências com o “T olo” : episódio da dam a da tenda.
como realm ente acontece com o com ponente fem inino de nossa a) Em Le Conte du G raal, de C hrétien, e na m aioria das
própria psique, qu e é p o r sua vez ig ualado à alm a no ser :rsões da lenda, Parsifal dem onstra com portam ento rude e
hu m an o. T anto a floresta q u a n to o aspecto fe m in in o são responsável, no que podem os hoje descrever em term os legais
misteriosos e o conteúdo enigm ático desse segm ento da psique imo assalto e roubo, acrescidos de insulto contra a delicada
tem de ser so n d a d o , c o m p re e n d id o , e re c e b e r a d e vid a ocência de um a dam a adormecida. N o Peredur galês, ele chega
consideração nas operações da m ente consciente. ser recebido gentilm ente pela D am a, dela recebendo um beijo
e seu anel, e fica efetivam ente im pressionado com essa bondade. d) A rm ad u ra V erm elha e insígnias nem sem pre são vistas
Ela está na realidade outorgando soberania ou um reconhe­ com o um sím bolo negativo. G alah ad , que aparece em Queste
cim ento disso, em respeito por seu status posterior. del Saint G raal, usava arm ad ura verm elha com o sinal externo
do sangue do Salvador, o sangue de am or e vida.
b) O P avilhão ou a D am a da Tenda ( cham ado “Jesh ute”
por W olfram ) é sim bolicam ente interpretado por alguns com o 5. O Código dos cavaleiros: introdução no cavaleirismo.
um a reencenação de um evento bíblico da violação do Tem plo a) G ourn em anz, um cavaleiro experiente, torna-se o m entor
de Salom ão em 70 d.C . E preciso ver a busca de Parsifal com o de Parsifal e o in stru i qu an to às virtudes cavaleirescas. Ele é o
representativa da hu m an id ad e em geral. O lu gar sagrado (o com ponente de disciplina social do arquétipo do “sábio”. As
Pavilhão com o o Tem plo) foi profanado pela ignorância e a regras do g ru p o recebem p re e m in ê n c ia sobre em p en h os
teimosia do ser hum ano; assim, a jornada de volta à integridade, im pulsivos, instintivos.
a reparação de in júrias com etidas e o retorno à D ivin dad e
tornaram -se m uito m ais difíceis. b) Essa é a prim eira iniciação de Parsifal à fraternidade; são-
lhe dem onstradas habilidades tribais de sobrevivência dentro
4. Experiências do “Tolo”: o embate contra o Cavaleiro do g ru p o e seu dom ínio das m esm as garante sua aceitação no
Vermelho. g ru p o.
a) O C a v a le iro V erm elh o era a “so m b ra” de P arsifal, qu e
foi m ais rep rim id a do q u e acom odada. O co m p ortam en to c) O m é to d o in c lu i tre in a m e n to p o r in s tru ç ã o o ra l e
do C a v a le iro V erm elh o não era d iferen te do de P arsifal nesse d e m o n stra ç ã o de h a b ilid a d e s, a ju d a na in te rp re ta ç ã o de
estágio. experiências passadas e oportunidades de introspecção, além
de constante encorajam ento. A iniciação ocorre no âm ago de
b) O uso destro da lança m ostra singularidade de propósito. su a n a tu re z a : a titu d e s de c o n sid e ra ç ã o e c o m p a ix ã o se
M as ele agiu pressurosam ente, desconsiderando as regras do d e sen vo lve m , ju n ta m e n te com o c o n tro le de im p u lso s e
cavaleirism o (já que não as conhecia) e, m ais tarde, descobriu arroubos instintivos.
que o C avaleiro V erm elho era um parente (segundo W olfram ,
o tio de Parsifal, Ither). d) O nível seguinte a ser alcançado —o desenvolvim ento de
valores superiores ao cavaleirism o - é a autoconscientização.
c) Apersona ou m áscara social de P arsifal é d esen vo lvid a; A pessoa tem de se colocar acima do ajuste social e de submissão
a som bra é repelida. Isto é sim b olizado por Parsifal colocando total à conform idade com o gru po. N u m nível m ais alto, ela
a arm ad u ra do C a v a le iro V erm elh o sobre sua ro u p a velha. tenta viver autenticam ente; p o r um lado, ao não ser escrava de
E le não se to rn ara u m cavaleiro; apenas u m sim u lacro de seus desejos e, por outro, ao estar preparada para ultrapassar
cavaleiro. as regras ou convenções do gru po. Persiste a questão de até
que ponto os instintos têm de ser controlados e até que ponto c) Em Parsifal, de W agner, as experiências do herói (por
a pessoa pode divergir do grupo. E la pode racion alizar seu exem plo, p rofun do pesar por ter m atado o cisne, sua angústia
com p o rtam en to de m odo a in c lu ir irrestrita lib erd ad e no ao ouvir os gritos do Rei e sua rejeição por G ournem anz) abrem
prim eiro caso ou, no segundo, extrem a divergência a ponto de ca m in h o para o d esen vo lvim en to de um am or m aio r e o
is o la m e n to so cial. O d eb ate va i c o n tin u a r, d a d o q u e a colocam em bom lu g ar no A to seguinte, q u and o ele tem de
racionalidade e a exortação m oral até então falharam em trazer superar a m agia de K lin g sor e as seduções de um a K u n d ry
a resposta total. Para o m ístico que alcançou esse nível superior disfarçada, e capturar a lança sagrada de K lingsor.
de c o n s c iê n c ia , as so lu ç õ e s d e v e m ser e n c o n tra d a s na
experiência, na reflexão e na sensibilidade às intuiçÕes oriundas 7. O rio, ou expansão de água
do m u n d o in terior do individuo. O Rio é um sím bolo forte; é um a fronteira entre o m undo
físico e os m undos espirituais ou invisíveis, e não é facilm ente
6. Vivenciando amor cruzado. N u m a lend a bretã de L ancelot, ele é raptado na
a) Depois que Parsifal lhe prestou um serviço, Blanchefleur infância pela D am a do Lago, levado para dentro da água do
(“F lo r B ranca” de C h rétien ), ou C o n d w ira m u r (“T orrente de Lago, fora do alcance de seus pais, e ali passa sua infância e
A m o r” de W olfram ), é cortejada por ele e os dois se casam. Ele sua ju ventud e, antes de em ergir para o m u n d o físico. O lago
passa pela fase de a ver com o seu ideal projetado e com o urna pode ser visto aqui com o as p rofun dezas da mente. Q u ando
pessoa real. Seu am or existe em dois níveis, espiritual e terreno, P arsifal en con trou pela p rim eira vez o Rei do G ra a l, este
e ele leva três dias para se torn ar íntim o. N a psique de Parsifal, apareceu com o um Pescador, pescando em suas águas para
nesse m om ento seu anim us e sua anim a coexistem em perfeita encon trar um agente curativo para sua ferida.
harm onia. M as, ao contrário de outras lendas, o ponto final
não é “felicidade para sem pre”. H á o problem a do G raal. Peixes na água são um a fonte de alim entação e representam
sim bolicam ente a fonte de sabedoria no inconsciente. A ssim
b) Parsifal faz dois relutantes afastam entos daqueles que com o o alim ento nutre um corpo qu e precisa de sustento, a
são m uito íntim os dele —de seu am igo G o u rn e m a n z e de sua sabedoria cura e refina o ego ignorante.
esposa, Blanchefleur. A m ais alta virtude pode incluir separação
tem porária, ou sacrifício tem porário da felicidade pessoal e do A n atureza dessa fronteira é tam bém descrita nu m sím bolo
am or conjugal, a fim de corrigir erros passados, de se subm eter correlato, a vesica piseis. T rata-se do ponto de encontro e ponto
à sua p ró p ria con sciên cia. O m o tivo d ecla rad o p ara esse de sobreposição de dois círculos, de dois m undos, o visível e o
afastam ento foi a volta para sua m ãe, sem ele saber qu e ela já in v is ív e l. O p o n to de re u n iã o s im b o liz a n o sso c o n ta to
morrera. O “G raal do C oração” está atuando m uito fortem ente m om en tân eo ou nossa parcial im ersão n u m novo nível de
nesse nível, pois a com paixão e o am or em seu m ais refinado consciência, descrito com o um a experiência de “p ico” por
grau têm de ser universais e não restritos. M aslow e experiência lim in a r por B olen. Essa experiência dá
m a io r p ro fu n d e z a à n o ssa c o m p re e n sã o da re a lid a d e e 1. O castelo e o reino do Graal.
tra n sfo rm a nossa a titu d e p ara com o m u n d o h u m a n o e a) E o “O u tro M u n d o ” céltico, u m m u n d o de e n c a n ­
natural. tam ento, um outro m un do no qu al os m ortais podem en trar e
sair e conhecer seus habitantes. E um a outra dim ensão de
O P escador F erid o p escan d o nas águas é exp licad o em experiência hum ana.
term os relig io sos com o a ten ta tiva do h o m em de re to rn a r
do seu a tu a l estad o decaíd o para seu estad o o rig in a l no b) O O u tro M u n d o faz sentido para nós, se o encaram os
paraíso. com o o m iste rio so in c o n s c ie n te da nossa p siq u e . Se o
im aginam os com o um território inexplorado, a viagem para
ele e para fora dele expande ou eleva nosso nível de consciência.
Parsifal foi “d esviad o” de sua viagem ao lar, para sua m ãe,
devido ao ch a m a m en to o cu lto do G ra a l. H avia trab alh o a
c) O C astelo do G raa l é descrito em Der Junge Titurel (c.
fazer, ou tras experiências e tribulações a en fren tar. E le foi
12 15 ), de W olfram , com o coberto de um carb ún cu lo róseo;
“c o n v id a d o ” m as na re alid a d e estava sen do esp erad o no
em Sone ofN ansai (c. 12 5 0), de um poeta de B rabant, com o
castelo do G ra a l; ele, isto é, sua m ente consciente, racion al,
um castelo num a ilha fora da costa da N oruega; em DieJungere
n ão q u e ria ir lá, m as, ao a lc a n ç a r a fro n te ira e n tre seu
Titurel (c. 12 7 0), de A lb rech t von Scharfenberg, com o um
consciente e seu in co n scien te, ele se viu sensível a certas
T em plo-Palácio na Pérsia; e, em Queste del Saint G raal, o local
energias arq u etíp icas do inconsciente.
é o Castelo de Corbenic (para nós im possível de localizar). Esta
p a la v ra foi e tim o ló g ic a m e n te in te rp re ta d a com o “c h ifre
D. Segundo estágio: o segundo nível de iniciação. sagrado” ou “corvo sagrado”, com um a sugestão de ligação
E o p rim eiro contato do herói com o “O u tro M u n d o ”, com B ran, o Rei G alês do G raa l, e tam bém com o “sangue
invisível, céltico. O prim eiro contato místico com um a realidade sagrado”, em que a influência cristã a relaciona com o sagrado
d ife re n te é u m a m u d a n ç a p ro fu n d a n a c o n s c iê n c ia . A corpo do Cristo.
experiência é súbita e pega o iniciando desprevenido. M as a
preparação (as experiências e as m udanças de sentim ento de d) Podem os tam bém conceber m ísticam en te a visita ao
Parsifal) era parte necessária do processo. Em termos teológicos, castelo do G ra a l com o um a visita ao centro do nosso próprio
tra ta -s e da g ra ça c ristã de D e u s o u to rg a d a p o r e strita ser, o ponto de encontro de céu e terra na consciência hum ana.
obediência à Su a vontade e, às vezes, m esm o sem essa pré- A mais arrebatadora expressão simbólica dessa idéia é a de um a
condição, com o nos pode parecer. Para a m ente céltica, essa m ontanh a alta, coberta de neve e envolta em nuvens, com o
graça vem depois de em p en h o e entrega pessoais, m anten do castelo do G ra a l em seu cum e, p ro jetan d o -se para o céu.
os m otivos certos e en fren tan d o certos testes - de onde q u er M ontségur, nos P iren eu s franceses, se e n q u a d ra ria nessa
que a graça provenh a, é m erecida e então concedida. im agem no in verno e é bastante im pressionante em outras
épocas. D a í o interesse de estudiosos e arqueólogos “nórdicos” o de suas orig en s a p a re n te m e n te h u m ild e s. O p rin c ip io
ou “polares” pela área de A riège, na prim eira m etade deste fem inino assum e seu pap el m ed iad o r para o se lf N as lendas
século. em qu e A rtu r é m ais fo calizad o, G u in e ve re cum pre o papel
de Sob eran ia, co n ferin d o leg itim id ad e a A rtu r com o Rei.
e) A entrada de Parsifal no castelo do G raal. E n q u an to o C om o um a ra in h a céltica, ela tem tam bém o direito de ter
G raa l, alegóricam ente falan do, visitou Parsifal na form a de mais de um am an te. Pelos padrões cristãos, porém , ela foi
“anjos” cavaleirescos em sua juventude e o lançou em sua busca, ju lg a d a c o m o u m a a d ú lte r a e L a n c e lo t u m c a v a le ir o
a adm issão ao castelo do G raa l o pôs em sua presença e o fez desonrado. Por causa disso, am bos passaram o resto da vida
ser n u trid o p o r ele. T rata-se a q u i do p rim e iro to q u e de em penitência.
ilum inação e ele ficou aturdido. Isto é geralm en te explicado
com o despreparo, ou falta de m erecim ento, ou ignorancia, ou g) O Rei do G raal.
com preensão errônea das regras de polidez do cavaleirism o. I) O nexo Rei Ferido/Terra D evoluta tem origem antiga; a
Pode ser com preen dido m e lh o r em term os da experiencia im agem apresenta a crença em que a saúde e a vitalidade do
m ística que, q u a n d o ocorre pela p rim eira vez, im põe um rei estão diretam ente relacionadas com a fertilidade da terra e
silencio aterrad or na pessoa qu e está passando por ela. Isso o bem -estar de seus súditos. A substituição do rei se fazia
tam bém fazia parte do processo iniciático aos M istérios; o necessária qu an d o ele ou a terra falhavam em corresponder às
candidato era exposto a certos eventos e m ovim entos no ritual expectativas e isto era geralm ente cíclico, com freqüência ligado
e via ou recebia certos objetos sagrados, todos tran sm itindo a m udança sazonal ou a certo n ú m ero de anos. Em alguns
algu m sig n ificad o p ro fu n d o . E sp erava-se do c a n d id ato à casos, um rei era um deus na Terra ou seu representante, e
in icia ção q u e reag isse de alg u m m odo, re sp o n d e n d o ou esta idéia parece ter sido tra z id a até o p resen te, q u a n d o
fazend o perguntas. O s hierofantes dos M istérios decidiam estudiosos do M ito do G ra a l co n sid eram o R ei Pescador,
qu and o um candidato estava pronto. Foi p o r isso que Parsifal sim bolicam ente, com o o próprio D eus e Parsifal com o a figura
não e n c o n tro u o castelo do G ra a l, nem ele estava p a rti­ do C risto. Os rom ances do G raa l, no entanto, não expressam
cu larm en te p rocu ran do pelo m esm o; estava a cam in h o do ou sugerem isso, pois em todos os casos o Rei é extrem am ente
en con tro com sua m ãe. Foi o Pescador qu em pensou qu e v e lh o e im p o te n te ou F e rid o (com u m a in s in u a ç ã o de
Parsifal era o cavaleiro destinado a usar o poder do G raa l para im potência sexual devida ao fato de ele estar ferido nas coxas
suspender o encantam ento do Rei e da Terra. E le o era, m as ou n ag en itália).
ainda não era o m om ento.
I I ) 0 Rei é m ais bem representado em term os religiosos
f) A R ainha do G raal. —N o “O u tro M u n d o ”, é outorgada com o o hom em outrora perfeito, original, em A d ão antes da
soberania a Parsifal. Sem o saber, ele é declarado o fu tu ro Rei Q ueda, e que hoje é o hom em ferido, im perfeito, sofredor,
do G raal. A R ainha põe seu m anto nos om bros dele, elevando- degenerado ou decaído.
III) Em José de A rim atéia (c. 1200), de D e B oron, e Diü VII) Em Queste del Saint G raal (c. 12 15 -30 ), Pelles e seu pai
K róne (c. 1 2 3 0 ) , de H e in r ic h v o n d e m T ü r li n , e le é recebem o título de Rei do G raal. A Ferida em sua coxa foi causada
sim plesm ente um hom em velho carente de renovação. N o pela quebra de tabus relacionados com a barca de Salom ão e a
ú ltim o rom ance, G a w a in é o herói e não Parsifal. Espada de D avi. Isso foi m ais urna tentativa cisterciense de
estabelecer um paralelo entre a m itologia do G raal e as imagens
IV) Em O Conto (c. 118 0 ), de C h rétien , há dois reis, um bíblicas. O Rei é curado por G alahad, mas isto não encerra a
velho e fraco e o ou tro perfeito, m ostrando dois aspectos do busca deste últim o, ao contrário do que aconteceu nos romances
ser único, o hom em ideal e o hom em degenerado. E destino mais antigos. E m Queste, G alah ad foi m arcado para ser o herói
ou m issão de P arsifal a lc an ç ar o estado de h o m em ideal do G raal desde o começo, quando se sentou na Cadeira Perigosa.
curando o im perfeito. Nos momentos finais de sua busca, quando ele seguiu para Sarras
(Jerusalém), estava na barca de Salom ão, com o Graal. Em Sarras,
o G raal foi levado para o céu e o próprio G alah ad passou para
V) A cobiça e a lu xúria dão a razão para a ferida do Rei
um estágio de iniciação m ais elevado, no qu al foi unido a Deus.
do G raal e o fato de a térra estar devoluta, com o consta em
Elucidação (c. 13 15 ). Os poços com o fontes de água para urna VIII) Em Perlesvaus (c. 1 1 9 0 -1 2 1 2 ), o autor anônim o sugere
térra fértil e abundante secaram qu and o o A m angons do G raal que a condição do Rei Pescador é um a fraqueza de vontade. O
e seus seguidores violaram as Virgens dos Poços, que cuidavam Rei do G ra a l m orre antes q u e P arsifal com plete a Busca,
desses poços e refrescavam os viajantes que passavam por ali. desfazendo assim a inconsistencia de o Rei Velho ser curado,
O lapso m oral do Rei é visto tam bém com o um a cisão com a caso em que Parsifal não teria necessidade de deslocá-lo e sim
natureza. de substituí-lo.

IX ) E m alguns com entários sobre A rtu r e a F raternidade


VI) E m P arzival, W o lfra m ch a m a o Rei do G ra a l de da T ávola Redonda, a história de A rtu r é m oldada no m ito Rei
A m fo rta s (o e n fe r m o ) , q u e su c u m b iu às te n ta ç õ e s de do Graal/Terra D evoluta, mais um a vez a fim de cham ar atenção
K lin g so r, o M ágico (p ra z ere s m a te ria is). E le p e rm itiu q u e para as verdades acerca da natureza h u m an a. A rtu r trouxe paz
a lan ça fosse sep arad a do cálice e foi ferid o p o r K lin g so r, e felicidade para a G rã-B retan h a m anten do os bárbaros fora
q u e u so u a m esm a la n ç a . E ra na re a lid a d e u m a la n ça dela e justiça dentro do seu reino. C o n tu d o , não pôde m ais
cu ra d o ra , m as foi u sad a p u n itiv a m e n te q u a n d o foi p erd id a m an ter sua fraternidade de cavaleiros u n id a devido à tibieza
para K lin g so r. U rna te n ta tiv a de u sá -la d e s tru tiv a m e n te h u m an a nele próprio e naqueles que o cercavam . Por fim ele
con tra P arsifal fa lh o u , pois este co n seg u iu se e le v a r acim a falh ou em lid erar a Busca do G raal. C o m a volta da desordem
de sua n a tu re z a d esejosa. P a rsifal pegou a lan ça no a r e, civil e da desunião, a infelicidade volto u à Terra D evolu ta e o
estan d o ela em m ãos co rretas, logo foi u sada para c u ra r o povo passou a esperar um “antigo e fu tu ro rei” renovado ou
Rei F erido. re-curado.
2. A procissão do Graal no salão do banquete. c) O caso m ais forte em q u e os rom ances do G ra a l são
A Procissão do G raal é o evento central usado no argum ento um registro de um ritu al de m istério qu e rem onta a cultos de
de que a literatura do G ra a l era um registro do ritual de um m istério orientais foi exposto por Jessie W eston. Su a tese tem
culto de mistério então existente e que “sobrevivia em condições sido no en tan to co n trovertid a, com base em ser in ad eq u ad a
de rigoroso sigilo”. para explicar todo o fen ôm en o do aparecim ento da literatura
do G ra a l nos séculos doze e treze. Isto é lam en tável, dado
a) U m a V irgem e não um sacerdote era a Portadora do q u e ela a rg u m e n ta c o n v in c e n te m e n te e com su fic ie n te
G raal. U m jovem levava a lança que gotejava sangue, sugerindo evidência histórica para estab elecer ao m enos um a provável
que o ritual era de um culto de fertilidade. O m istério cristão é ligação en tre a litera tu ra e os g ru p os secretos de culto, os
sugerido como um avanço desse culto, levando o aspecto mágico q u a is, em v irtu d e de sua n ecessid a d e de m a n te r sigilo,
dos m istérios agrários a um nivel espiritual m ais alto. A taça e d ificu lta m m ais a pesquisa. E ela ofereceu seus insights sem
o conteúdo do sangue red en tor do C risto apontam para a p re te n s ã o de te r re c e b id o seu c o n h e c im e n to de fo n tes
n a tu re z a m ajestosa e de sacrifício do processo c ria tiv o e “su p erio res” e im possíveis de verificar.
rem issório. A q u i se pode tam bém n otar um elem ento cátaro.
3. O segredo do Graal.
A liderança cátara não fazia distinção entre hom ens e m ulheres.
a) Seja o G raal um a bandeja, um a taça, um a pedra, um livro,
O ritu a l da P ro c issã o do G r a a l estava re g istra n d o esse
ou um a representação sim bólica de um a idéia ou verdade, ele
recon hecim ento da im po rtancia do p rin cípio fem in in o no
ainda é, com o era então, um m istério a ser apreendido de m odo
desenvolvim ento hum ano, que com pensava a ênfase patriarcal
especial. Em Elucidação (c. 1315), há palavras de cautela contra
do cristianism o ortodoxo. U m a insinuação de tradição secreta
a revelação do segredo; e tam bém a am eaça de terríveis conse­
que aparece na literatura do G raal é tam bém feita em Perlesvaus.
qüências. Q u ando m encionado por aqueles qu e conheciam o
A i o G raa l é descrito em cinco im agens m anifestas, o que
segredo, isto tinha de ser feito com escrupulosa exatidão e
poderia ser interpretado com o indicação de aspectos do C risto
p ro fe rid o so m e n te p o r u m a p essoa san ta . A q u e le s q u e
desde o nascim ento até a crucificação, ou outros estágios de
escutassem isso trem eriam ante esse conhecim ento. A q u i temos
iniciação num outro culto, sem q u alq u er referência ao m istério
novam ente um lem brete de injunções sem elhantes usadas pelas
cristão.
escolas de m istérios ou fraternidades secretas. O sigilo era
im posto aos iniciados para assegurar que seu conhecim ento
b) A s s e q ü ê n c ia s e os m o v im e n to s a r r a n ja d o s e os
sagrado não seria profanado.
ob jeto s e x ib id o s p re te n d e m ser re ve la ç õ e s p a ra o h e ró i
in ic ia d o , de q u e m se e s p e ra q u e fa ç a u m a ou v á ria s b) C onjeturas sobre os segredos do G raal estão relacionadas
p e rg u n ta s e s p e c ífic a s , o q u e in d ic a r ia o n ív e l de seu abaixo:
a d ia n ta m e n to no m isté rio e tam b ém sua a c eita ç ão n u m I) O G raal com o sím bolo trata do significado e do processo
statu s d e n tro do c u lto . da vida e da C riação. A m ulher, com o a form a hu m an a da
D eusa, é atribuído aqui um papel preem inente. A com binação de Parsifal, pudesse se erguer da “neg ritud e” alqu ím ica em
da V irg em do G ra a l carregando um a taça sim boliza, desde o sua form a purificada. O segredo do G raa l é seu poder para
com eço, o caráter tran sform ador do G raa l de m ãos dadas com fazer a fênix se erguer das cinzas após ter sido consum ida por
as forças criativas da natu reza e no hom em físico e sublim ado. in tenso calor. Pode ser o sangue de sacrifício do salvador,
A s m u lh e re s c o n h e c e m o seg red o , elas o v iv e m , são as representado no sím bolo do pelicano qu e rasga seu peito para
instrutoras do m istério e guias para os hom ens qu e procuram alim en tar seu filhote; a vida nasce de sacrifício e é m antida por
conhecer o segredo. sacrifício. T rata-se da pedra filosofal, qu e W o lfram estava
in sin uand o, a q u al era o agente de transm utação de m etais
I I ) 0 uso de um vaso e seu con teú d o c o n cretizo u esse im p e rfe ito s em o u ro e q u e tra n s m itia a m e n sa g e m da
con ceito na m ito lo g ia. C a ld e irõ e s m ágicos célticos eram transform ação ou redenção hu m an a.
provedores de alim ento e podiam cu rar ou envenenar, com o
podiam regenerar a vida. O vaso era um a fonte inexaurível que IV) Se a experiência de Parsifal, até a visita ao castelo do G raal,
dava vida e a sustentava com seu conteúdo m ágico. N utrição representava as vicissitudes e os sucessos da vida com o sua
espiritual e transform ação in terior através do sangue do C risto exposição aos “m istérios m enores”, então o testem unho da taça
tornaram -se a ênfase no período dos rom ances do G raal. O do G raal na Procissão do G raal, cham a atenção para o G raal
G raal é aqui a com preensão do m istério cristão e, talvez, de com o um a retorta alquím ica, o m eio de regeneração espiritual,
outros m istérios antigos. ou a prim eira exposição de Parsifal aos “mistérios m aiores”. O
segredo do G raal é tam bém o segredo da Busca do G raal:
III) O segredo poderia ser visto em Parzival, de W olfram , “m en or” e “m aior”, com binados, traçam o progresso da alm a
com o um a pedra de sabedoria, revelação e transform ação. individual pela experiência adquirida ao viver a vida significativa.

E m bora esta idéia seja oriental e herm ética, o sim bolism o 4. A lança e o p o rta d o r da lança.
cristão é tam bém acrescentado: um a pom ba trouxe o anfitrião a) N o contexto céltico, a lança é o arpão ígneo e destrutivo
para baixo, do céu, e restaurou os poderes da pedra, o que de L ugh, qu e sem pre acha o seu alvo, ou o arpão da vitória. E
revela novam ente o desejo de W olfram de conciliar diferenças com parada com relâm pago, lem brando o poder m ortífero do
religiosas. Esse ato anu al do anfitrião restaurando o poder da raio acom panhado de trovão ou, em term os m ísticos, lam pejos
pedra poderia ser interpretado com o o constante esforço da de insight cósm ico. E m Queste del Saint G raal, ela causou o
D ivin dad e para m an ter sua presença na C riação, com o um G olp e D oloroso qu e pôs a terra de Logres (Inglaterra) sob
com panheiro do hom em em seu estado ferido. O Rei Ferido feitiço, de m odo qu e ela se torn ou um a terra devoluta. U m a
estava sendo m antido vivo p o r esse ato, contra a sua vontade, outra história fala de seu uso com o um exterm inador; ela foi a
tão longo estava sendo seu período de sofrim ento. O velhos//' causa da m orte de M ordred. Por in flu ên cia cristã, torn ou -se a
tinha de m orrer, não obstante, para qu e o novo self, na form a arm a de cura (na versão V ulgata), cuja ponta fora m ergulhada
no sangue curativo do Salvador. H á um raro paralelo céltico dessa arm a, com o um teste do seu direito de conservá-la e usar
das g o tas do flu id o m á g ic o do c a ld e irã o de K e rid w e n o seu poder para o bem.
(desencadeando um a seqüência de eventos que resultou no
renascim ento de G w io n com o Taliesin) com as gotas de sangue b) O ato de receber ou g an h ar a espada sim boliza que o
que caíram da ponta da lança levada pela portadora na Procissão iniciando em penhado na busca m ística adq uire a habilidade
do G raal. A s gotas de flu id o m ágico do caldeirão e o sangue de discrim inar em julgam ento, de m isturar ou não em oções ao
do corpo do C risto contavam a m esm a historia de cura e tom ar decisões difíceis. M as esse é apenas um poder a ser usado
transform ação. na reabilitação da psique perturbada ou ferida.

b) W olfram interpõe tam bém o incidente do C isne Ferido c) Em Queste, G alah ad foi o único cavaleiro que conseguiu
(embora tenha sido usada um a flecha sem elhante a um a lança) retirar a espada da pedra, representando isto a pureza in terior
e as gotas de sangue na superficie branca da neve. P arzival que m erecia esse privilégio; fato bem parecido com a espada
entra em transe ao ver isso, em profu n d a m editação, na q u al de A rtur, que determ in ou seu direito com o Rei da Inglaterra
vê um am or espiritual no rosto e ñas lágrim as de C ondw iram ur. e, tam bém , a espada que ele recebeu da D am a do Lago, a qual
deu poder a esse direito e estabeleceu sua condição de soberano.
c) Ao assumir o tema da lança, W agner faz Parsifal, no um bral
de sua elevação no Reino do G raal, ajoelhar-se ante a lança que 6. A p erg u n ta
jogara ao solo e com eçar a orar ou meditar. Este ato representa a) E um a característica dos m istérios qu e a pessoa deva
simbolicam ente o contato feito entre Parsifal, a Terra e o cosmos, responder ou fazer perguntas capazes de levá-la à com preensão
o centro, o axis mundi, no tem plo do seu coração, com m udanças do m istério. N o caso de Parsifal, a pergunta tinha de ser feita
conseqüentes em sua natureza, depois das quais ele vê o m undo no m om ento certo (isto é, qu an d o ele viu o Rei E nferm o no
de m odo diferente e se torna um C urador. W ilm shurst, em sua divã, qu an d o viu a lança sanguinolenta, ou q u an d o viu pela
m onografía sobre Parsifal, identifica a lança com a vontade de prim eira vez o objeto m iraculoso denom inado G raal) e com os
D eus, ou a força vital que, juntam ente com o G raal, sustentava m otivos certos. Desse m odo o in iciand o é testado. Tem de ser
o Rei e o Reino do G raal. A colocação da lança de volta ao seu um ato espontâneo, não aprendido socialm ente e decorrente
lugar por Parsifal é o tem a im portante dessa ópera. A separação das im pulsões do E u Interior.
entre a vontade divina e o cálice de am or pela m al aplicada
vontade do hom em o m antém distante do Criador. b) O a u to -e x a m e p o r in tro sp e c ç ã o e re fle x ã o é p a rte
necessária à elevação do nível da consciência da pessoa.
5. A espada
a) Em algum as versões, a espada é entregue ao herói no c) N a lenda, o efeito de fazer a pergunta é tam bém m acro-
castelo do G raal; em outras, espera-se que ele reúna duas partes cósmico. A pergunta feita por um único indivíduo teria curado
o Rei e restaurado a térra devoluta. E levanta outra questão da m an ter um a prom essa. A í está um verdadeiro sacrifício. A
responsabilidade do in divid uo ao in flu en ciar o desen rolar dos beleza desse ato foi correspondida e recom pensada q u an d o a
e v e n to s , ou o e sta d o do p la n e ta , ou o e sta d o g e ra l da “fe ra ” foi tran sfo rm ad a p o r um beijo n u m a bela m ulher.
hum anidade.
c) N o poem a de W o lfram , K u n d ry é um a sedutora agindo
d) O m om en to crítico em que grandes decisões devem ser p ara K lin g s o r e é a p re se n ta d a nos aspectos n eg ativos e
tom adas nem sem pre é o m om ento escolhido por nós m esm os positivos do fem in in o . E la tenta desviar o hom em de sua
ou por outrem . A tentativa de acelerar o processo de m udança verd ad e ira n a tu re z a , testa n d o -o para v e r se ele consegue
no R eino do O u tro M u n d o ou na consciencia de Parsifal foi s u p e ra r seus d e sejo s físic o s. W a g n e r m o stra K u n d r y e
um tanto prem atura. O u talvez tenha sido um teste, visto que G o u rn e m a n z tam b ém e le va d o s a u m n ív e l su p e rio r de
nem sem pre é possível conhecer antecipadam ente o nível de con sciên cia, em d eco rrên cia do triu n fo de P arsifal sobre
com preensão da pessoa. O fracasso ou a falh a em fa zer a K lin g so r e da volta da lança para o C astelo do G ra a l, dando
prim eira pergunta, “O q u e é qu e te incom oda, T io ? ” ou “Por força à idéia de q u e a v itó ria de todo in d ivíd u o sobre a sua
qu e a lança sa n g ra ? ” seria in d icação de q u e ela n ão era n a tu re za in fe rio r tem seu efeito na h u m an id ad e com o um
suficientem ente com passiva. E a falha em fazer a pergunta, “A todo.
quem serve o G r a a l? ” revelava qu e ela era psiqu icam en te
incapaz, naquele estado de inocência, de enfren tar as pergunta Em W o lfram e em W agner, a d o u trin a z o ro a strian a do
relativas ao seu próprio destino. constante e am argo conflito entre as forças da L u z e as Forças
das T revas, entre o B em e o M al, é apresentada em contraste
m ais forte aq u i do q u e em ou tros rom ances do G ra a l. A
7. A criatura asquerosa ou Kundry (em Wolfram). exortação no sentido de que todo ser h u m an o tem de cu m p rir
a) E la é um a M ensageira do G raa l, um a outra form a da
y sua parte nessa luta universal do lado do bem recebe aí grande
D eusa. E a portadora da verdade , que rom pe com a hipocrisia
foco e in tensidad e. K u n d ry foi in d u zid a a se rv ir a K lin g so r e
e com a ética da conveniên cia social. C o n ven ce P arsifal a
a suas forças das trevas qu e agiam contra o R eino do G ra a l,
ab an d on ar sua vida palaciana e retom ar a busca pessoal, e o
sendo as “fo rç a s” aq u i su geridas os p ra z e re s da carn e, a
faz m ediante pu nição pública. A verdade pode parecer feia e
sedução a eles associada, a jactan cia e a m alícia. Os dados
causar vergonh a, m as sua beleza in erente é velada.
parecem estar contra o R eino do G raa l, até qu e Parsifal m uda
essa ten dência resistin do a essas seduções e cap tu ran d o a
b) Essa figura de contos de fada pode ser encontrada em la n ça sagrada q u e K lin g s o r a rre m e ssa ra co n tra ele. Isso
outras lendas. Por exem plo, G a w a in tem um a experiência m arcou o fim de K lingsor com o um a força m alévola, a salvação
sem elhante, que ilustra sua virtude de lealdade e am or a A rtur. de K u n d ry, a cura da ferid a do Rei feita com a lança e a
E le beija u m a criatu ra feia para salvar A rtu r do em baraço de aceitação de P arsifal com o o n ovo Rei do G ra a l.
8. G a w a in e as “c o n tin u a ç õ e s” . b) N a alq u im ia, isso é descrito com o a fase nigredo , um
a) Le Conte du G raal [“O C o n to do G ra a l”], de C h rétien , estad o de “n e g ritu d e ”, com a fin a lid a d e de q u e o vaso
ficou inacabado depois do com parecim ento de Parsifal à corte herm éticam ente selado, o tem po e o calor, possam p ro d u zir a
de A rtu r e seu encontro com a C riatu ra A squerosa. O restante “p ed ra” capaz de separar a m atéria pu ra da im pu ra e dar
do poema- trata das aventuras de G a w a in . A introdução de origem ao ouro do filósofo. Parsifal estava passando por esse
G aw ain com o um segundo herói tem sido explicada de vários processo de angústia interior, ru m o à sua ilu m inação final.
m odos, isto é, qu e ele é um du plo de Parsifal qu e age segundo
as regras do cavaleirism o, em contraste com Parsifal, qu e luta c) A “N oite N eg ra” é tam bém sugerida em W o lfram e
para alcançar um nivel mais alto de consciencia; ou esse G aw ain W agner, para explicar a condição do Rei do G raa l e de seu
era originalm ente o herói do G ra a l na lenda ainda não escrita, in fortunad o reino. E la tem fortes conotações bíblicas: alude à
m ais arcaico do que Parsifal e que foi substituido por este; ou separação do hom em de sua natureza verdadeira (isto é, divina)
ele foi encaixado na lenda principal sim plesm ente por um e à m aneira com o o retorno pode ser efetuado. A historia de
interesse adicional de C h rétien ou de algum outro poeta, visto Parsifal trata do “com o”.
que seus aparecim entos na historia não com binam e parece
que as duas historias foram m ontadas com um único título. E. Terceiro estágio: A transição para a transcendencia.
1. O en co n tro com o erem ita T revrizen t.
b) Q uatro C ontinuadores tentaram com pletar a historia que
a) Tendo transcorrido tem po suficiente para a necessária
C h rétien deixara inacabada, um tratan do das aventuras de
incubação, a reconstituição final de elem entos desordenados
G a w a in e os outros das aven tu ras finais de Parsifal e sua
das experiências de Parsifal ocorre com a ajuda do erem ita
consecução do status de C avaleiro do G raal. Esses trabalhos
T revrizent. E um período de cura in terior provid enciado por
são citados com o as Q u atro C ontinu ações, ou pelos nom es de
com paixão e com preensão de um a outra fonte, urna figura
seus a u to res ou supostos au to res: as versões do P seu d o-
m asculina, o “velh o sábio” com dim ensão espiritual.
W auchier, de W auch ier de D en an (c. 1200), de M anessier e
de G erb ert de M o n treu il (c. 12 0 0-3 0 ).
b) Trevrizent é um eremita que se havia afastado de seu serviço
9. A “n o ite negra da a lm a ” . como cavaleiro e de sua vida palaciana para seguir a vida espiritual.

a) D epois do seu fracasso no castelo do G raal e seu retorno E o hierofante dos mistérios, que passou pelo círculo completo de
ao m u n d o norm al, Parsifal entra num período de desespero e experiência e esteve “no outro lado”. Pode então conduzir a
perda de fe, contrastando com a m om entânea bem -aventurança iniciação final de Parsifal para admissão ao Reino do G raal. N ão é
de suas experiências no “ou tro m u n d o ”. E le m erg ulh ara na um sacerdote, m as cum pre funções sacerdotais relativas à
“N oite N egra”, ao perder o senso de propósito e vaguear pelo conversão de Parsifal. E forte aqui a influência do Cristianism o
deserto por m ais cinco anos, apenas agindo com o cavaleiro e do G raal, com o nas lendas desse período, quando o místico que
por vezes seguindo suas intuições. vive isolado é contrastado com a vida com unal de monges e
erem itérios se to rn a m locais de rep ou so, refú g io e a c o n ­ de m old ar seu destino redefin in do seus ideais e valores, pelo
selham ento a viajantes em seus m om entos de passagem pela m enos para nossa sobrevivência com o espécie neste planeta.
vida.
f) E m Queste del Saint G raal, temos a versão com pletam ente
c) Para Parsifal, sua estada com o erem ita m arca um a fase cristianizada da Busca do G raal. A elevação fin al de G alah ad
de hu m ildad e, contrição, prom essa e transição pelo um bral não ocorre no C astelo do G raal da lenda céltica e sim em Sarras
para um nível de consciência m ais elevado. (que se acredita ser Jerusalém com o a Cidade Santa e, portanto,
um Reino do G raal na Terra). E ali, com o ele contem plara “os
2. A segunda visita ao castelo do Graal. m istérios do G ra a l”, sua alm a foi liberada do corpo e levada
a) E a fase da confiança renovada, do m om en to em qu e o por anjos ao C éu . O G ra a l e a L ança tam bém foram elevados
selo herm ético foi rem ovido, de ilum inação, de transcendência, ao C éu “para sem pre”. N ão obstante, esta declaração incisiva
da com pletação da jornada para um a m isteriosa unicidade com não im pediu que m uitos buscadores se em penhassem na busca
a D ivindade. do objeto real ou im aginário cham ado G raal, até os nossos dias!

b) Parsifal passou por todos os testes e se torn ou o curador, G alah ad retornou à fonte divina. E, en q u an to Parsifal teve
um salvador, devido aos poderes que a d q u iriu e qu e fluíram de passar por várias provas e vários níveis de adiantam ento
do G raal. Ele representa a hu m an id ad e de volta a um estado para alcançar seu “outro m u n d o ”, G alahad, na Queste, pareceu
anterior de bem -aventurança. santificado no m om ento em qu e entrou no salão da T ávola
R edonda; e, ao que parecia, já num alto nível de consciência.
c) A T erra D evolu ta se torn a fértil e abundante e seu povo N o ethos cisterciense, ele foi visto com o um a pessoa asceta,
m ais um a vez entra nu m a era de ouro, porq ue a fenda entre a sem elhante ao Cristo, para suplantar Parsifal com o o m ais bem
n atureza h u m an a e a N atu reza foi consertada. sucedido cavaleiro do G ra a l. D escrito às vezes com o um
fantoche, m uitas pessoas acharam m ais fácil sentir em patia por
d) Se Parsifal e o Rei Ferido são vistos com o dois aspectos Parsifal com o um m odelo m ais realístico do fluxo e refluxo da
do ser único, então o prim eiro era o m odelo exteriorizado do energia h u m an a na busca do ideal. A diferença entre os dois
segundo, sofredor e interior, enquanto o segundo caracterizava cavaleiros é percebida no fato de qu e G alah ad e não Parsifal
a im pulsão da vida na tentativa de renovação. foi capaz de sentar na C ad eira Perigosa sem n en h u m percalço
e fo i re c o n h e c id o c o m o o m a is p u ro c a v a le iro . Isso é
e) Psicologicam ente, a iniciação final de Parsifal representa confirm ad o qu and o, nos derradeiros estágios da história, o
a psique h u m an a n u m estado de harm onia, de inteireza, de episódio do Rei do G ra a l parece in ferior em com paração com
integração, de auto-conscientização. E isso se aplica tam bém a jornad a final na barca de Salom ão, com G a lah a d com o o
num sentido coletivo: a espécie h u m an a em cooperação terá escolhido G uardião do G raal, incum bido de levá-lo para Sarras
e acabando p o r ascender ao C éu . Parsifal e Bors apenas o h) O grande propósito de W agner era místico. Ele sugeriu que,
acom panham . por trás de todos os romances literários que desenvolviam vários
aspectos do tema do G raal, a mensagem mais importante era a de
g) Os três atos do d ram a m u sical de W agn er, P arsifal, que existia nu m a parte da hum anidade um a hierarquia de
cob rem os e ve n to s, as se q ü ê n c ia s e as m o d ific a ç õ e s de G u ard iães do G raa l — de pessoas de consciência espiritual
personagens qu e se seguem , com o fim de se adequ arem ao altam ente desenvolvida —dedicada a transform ar a humanidade.
seu m eio de apresentação, m as não alteram a essência do m ito Sugeriu também que havia um m odo esotérico de entrar nesse
e lhe conferem m esm o sua forte dim ensão m ística. processo de transformação e que era necessário disciplina daqueles
que seguissem o cam inho dos dedicados que levava ao G raal, a
A to I. C en a de floresta e castelo do G raal. G o u rn em a n z um a reintegração na Divindade. Com binando todos os elementos
descreve o sofrim ento do Rei do G raal. Parsifal m ata um cisne do teatro, ele revivesceu a tradição de entretenim ento e instrução
e é pu n id o por isto. K u n d ry relata a história da fam ília de do trovador de sua época. Assim justificou sua inclusão naquela
Parsifal. O cálice é destam pado. G o u rn e m a n z rejeita Parsifal com panhia, naquela hierarquia de almas que descem das alturas
por seu fracasso em agir com o se esperava dele. Isto é descrito de M ontsalvat para ajudar aos que se encontram abaixo.
com o o prim eiro despertar de Parsifal, de sua consciência para
a m em ória de sua origem divina. Em conclusão, podemos dizer que o m ito do G raal, que é um
conjunto complexo da Busca do Herói, do Rei Ferido do G raal e
A to II. A torre de K lin g sor, o ja rd im , o p ró p rio K lin g so r e de um objeto mágico ou sagrado, surgiu na consciência hum ana
K u nd ry, tudo isto retrata a ten tativa de sedução de P arsifal. com o um a tentativa de com preender, controlar e entrar em
Este é bem su ced ido em resistir a todas as tentações qu e lhe harm onia com as forças existentes dentro de sua própria psique e
são dirigidas; capta a lança sagrada q u e é arrem essada contra nas pessoas presentes no seu ambiente. A verdade apresentada é
ele por K lin g so r cheio de ódio, em lu g a r de ser p erfu rad o que, qu an d o há desarm onia entre a natu reza h u m an a e a
por ela, e todo o m u n d o de K lin g so r d esm oron a. A cena N atureza, quando a N atureza é tratada com o um a “coisa” e não
p reten d e m o stra r os v á rio s processos de a lq u im ia tra n s ­ p erson alizada e tratada devid am ente, é preciso restau rar o
cendental. equilíbrio, tanto em prol da N atureza como da hum anidade. O
contrário tam bém se aplica. Tendemos a tratar pessoas ou outros
A to III. A q u i, G o u rn e m a n z é visto fazen d o o papel do seres vivos com o coisas a serem exploradas, em lugar de os
erem ita e sua atitude m udou. K undry, tam bém , agora é um a encararm os com o extensões de nós m esm os e partícipes na
penitente. A m bos estão transform ados q u an d o Parsifal volta variedade e na beleza de um universo misterioso.
para curar o rei ferido e redim ir a Fraternidade do Santo G raal.
Ele alcançou m aestria na busca mística e pode usar o poder do O m ito pode não ser histórico, m as a n a tu reza recorrente
G raal para ajud ar o resto da hu m an id ad e. de m itos específicos em diferen tes cu ltu ras aponta para um a
verdade diversa daquela que é fornecida pelos fatos da H istória
e com fre q ü ê n c ia até m ais fo rte em e fe ito , d a d o q u e é
apreendida a níveis m ais profundos do nosso discernim ento.
U m a m ensagem im portante qu e este m ito com partilha com
o u tro s está em su a a p re s e n ta ç ã o do tem a de d e c lín io , Apêndice 2
envelhecim ento e m orte, da necessidade de renovação do velho
Principais obras sobre o mito do Graal
e ineficaz, do espírito en fraq uecido pelo “novo homem”, por
um novo espírito, e na inevitabilidade de m udança no processo T ítu lo e c o m e n tá rio s A u to r
D a ta s p ro váveis
da vida. In divid ualm ente, a ferida e a condição in feliz do rei e ou reais de
seu súdito podem ser explicadas com o a desarm onia e a dor ap arecim en to

crônicas sentidas na psique devido à sua incapacidade para O C o n to do G ra a l


1 1 8 0 ou 1 1 8 4
conciliar as cisões em sua dinâm ica global. N o nível coletivo, o (essencialmente céltico) C h rétie n de Troyes

m ito traz um a m ensagem de cautela e esperança. Tem os de


c. 1 2 0 0 + O R om an ce da H istó ria do G ra a l
nos elevar acim a de nossas lim itações e cu id ar m elh o r de nós ou José de A rim atéia
m esm os com o um a espécie ju n tam en te com outras form as de (cristão, influência cisterciense) R obert de B oron

vida, e de m odo geral proteger este planeta do m au uso ou do


A P rim eira C o n tin u a ç ã o de “O C o n to ”
esgotam ento de seus recursos. (aven tu ras de G a w a in ) O P seudo-W auchier

A S eg u n d a C o n tin u a ç ã o
E m term os religiosos, o nexo da Busca e do Rei Ferido é (m ais de Parsifal) W a u ch ie r de D e n a n
um a apresentação dram ática em poesia, prosa, ou m úsica, do
A Terceira C o n tin u a çã o
tem a da redenção do hom em do estado da queda, perm itind o
(conclusão da visita ao castelo do G raal) M anessier
que a vontade divina guie suas ações (representadas pela lança)
e vivenciando o am or divino (sim bolizado pelo G raal). N o lado A Q u arta C o n tin u a ç ã o
(alternativa a M anessier) G e rb ert de M o n treu il
m ístico, toda a busca do G ra a l pode ser encarada com o um a
alegoria sobre toda a extensão da consciência experim entada c .l 1 9 1 - 1 2 1 2 P erlesvaus ou A A lta H istória do G ra a l
pelo indivíduo, do nível m ais baixo ao m ais alto. O nível m ais (alegórica, sim bólica, astrológica) A n ôn im o

alto, o nível do G raa l, é natu ralm en te o estado de consciência P arzival (referências cristãs, m as W o lfra m von
1210
vivido com o U n o, a experiência da realidade total para além herm éticas, orientais, universais) Eschenbach
deste m undo ilusório. O indivíduo prova do conteúdo do G raal
c. 1 2 1 2 O G ra n d e S a n to G ra a l
q u an d o há harm onia em seu próprio in terior e h arm on ia em (outros títu los: O L iv ro do S an to G ra a l,
sua relação com a n atu reza e o cosm os, e então ele cru za o O S an to G ra a l, A P rim eira L in h a P rovavelm ente um
de R om an ces da T á v o la R ed on d a) clérigo de C lu n y
um bral da experiência tran spessoal e tran scen dente.
Datas prováveis Título e comentarios Autor
ou reais de
aparecimento

12 15 D e r Junge T itu rel


[O Jovem T iturel] W olfram Eschenbach

12 15-1230 O C ic lo V u lg a ta (in clu i:


Apêndice 3
A H isto ria do S a n to G ra a l
Lancelot (com introdução de G alahad)
W a lter M ap
A montanha dos filósofos
(controverso)
A B usca d o S a n to G ra a l ou en tão Uma interpretação da jornada do iniciado
(historia de G a la h a d ) clérigo cisterciense

c .1225 V ulgata M e rlin , H u th M erlin Sum ário do Artigo Publicado em Rosicrucian D igestN -3,1995.
Profecias de M erlin A n ó n im o Por Art Kompolt F.R.C.
12 30 D iu K rón e H einrich von
d em T ü rlin Perspectiva histórica
c .12 5 0 Soné de N ansai (às vezes escrito Nausai) U m p oeta de As idéias filosóficas e esotéricas expressas em “A M ontan ha
B rab an t dos F ilósofos” p rovêm das tradições esotéricas O cid entais
H erm éticas e A lq u ím icas. Os sím bolos constantes na gravura
c .12 7 0 D ie Jungere T iturel A lb re c h t von
S ch a rfe n b e rg
apresen tad a a segu ir usam um c ritério sem elh an te ao de
c. 13 0 0
arquétipos estudados e explicados pelo psicólogo C ari G . Jung.
O Parsifal D idot (D idot era dono de M S) A n ón im o

c. 1 3 1 5 A E lu cidação (p rólogo da historia Paul D iel tam bém descreve a universalidade da linguagem
do G ra a l) A n ón im o sim b ó lic a e e x p lic a q u e sua sig n ific a ç ã o p s ic o ló g ic a é
1 3 2 5 -1 4 0 0 Peredur (historia m uito m ais recente, encontrada abu ndantem ente na Biblia. D iz ele: “Os sím bolos
in clu id a no “M a b in o g ia n ” destas datas. criados pela im aginação supraconsciente de n en h u m m odo
O Parsifal G alés) A n ó n im o podem existir fora da vida psíquica in terio r”. Isto significa que
14 85 A M o rte de A r tu r (baseada
a decifração da linguagem sim bólica só pode ser realizada por
p rin cip alm en te n o ciclo Vulgata; um m étodo introspectivo.
com binação geral de rom an ces da
T á v o la R ed on d a com m ito do G ra a l) T h o m a s M a lo ry
U m dos objetivos da gravura de “A M ontanha dos Filósofos”
18 5 6 -1 8 5 9 Idilios do Rei A lfre d L ord é o seu uso com o urna m andala. U rna m andala, naturalm ente,
& 1 8 6 8 -7 4 Tennyson é um desenho usado com o guia para contem plação e exercícios
esp iritu ais. E m sua obra, “A M an d a la A lq u ím ic a ”, A d am
1850 A ópera “L o h e n g rin ” R ichard W a g n e r
M clean apresenta u m a vista geral de q u a re n ta gravações
1882 A ópera “P arsifal” R ichard W a g n e r com entadas na Tradição Esotérica O cidental.
Interpretação descritiva da gravura
U m a descrição dos símbolos que com põem ‘A M ontanha dos
Filósofos” nos proporciona um mapa para iniciação ao G raal.
Vamos exam inar essa gravura m ais detalhadam ente e tentar
interpretar alguns dos muitos símbolos que constam na ilustração.

Com eçam os pela parte inferior da gravura, onde vem os que


a m ontanha está cercada de um a m uralha de tijolo ou pedra
apresentando um a entrada arqueada. Essa entrada é guardada
por um velho nu sentado no tronco de um a árvore m orta. Ele
está sentado dentro de um a gruta e olhando para a pessoa à
direita da gravura. Sim bolicamente, a m uralha redonda de tijolos
oferece um a forte barreira de proteção. Essa m uralha redonda
pode tam bém ser interpretada com o parte de um a fornalha
alquím ica, ou do frasco alegórico do filósofo. A entrada arqueada
é o Portal de Iniciação. O velho barbudo representa o guardião
do um bral, o guardião dos segredos, o terror do um bral, o terror
da m orte e do carm a, ou seja, o porteiro.

Fora da m uralha, três pessoas se aproxim am do Portal de


Iniciação. U m a das pessoas, à esquerda, está vendada e tateia à
procura da entrada - isto significa que essa pessoa está buscando
no exterior e não dentro do seu Eu Interior. Junto dessa pessoa
vendada, um a outra, possivelm ente um a m ulher, está ajoelhada
com o joelho direito devido a um a bolsa pesada. Parece estar
usando um a grande plum a no chapéu que cobre seus olhos.
Está o lh a n d o para baixo na direção das rochas, d an d o a
im pressão de qu e está interessada em objetivos m undanos,
materialistas. E óbvio que as duas pessoas da esquerda não vão
encontrar o cam inho para o Portal de Iniciação.

N o lado direito da ilustração, um a terceira pessoa indica


ativam ente, com os braços abertos, seu desejo de avan çar para
a entrada do Portal de Iniciação. N o m eio e na frente da gravura, galinha chocando nu m n in h o de ovos, representando o fervor,
um coelho se joga de sua toca na direção dessa terceira pessoa. a fo rç a de v o n ta d e e a te n a c id a d e n e c e s s á rio s p a ra o
O coelho se assusta facilm ente e, para a pessoa não iniciada, desen volvim en to da im aginação, de m odo qu e pensam entos
representa pensam entos fugazes. E necessário qu e o iniciando se torn em objetos externos - u m passo im portante à m edida
tenha qu ietu de na busca. que o iniciando sobe a m ontanh a.

O coelho e a galinha chocando são sím bolos que descrevem


O ano 1604 aparece em grandes núm eros ao lado do coelho.
o processo-alquím ico de transform ação interior. O coelho age
S e g u n d o o m a n ife s to Confessio F ratern itatis , o le n d á rio
com suas energias rápidas e dinâm icas, ao passo q ue a galinha
C h ristian R osenkreutz nasceu em 1378 e faleceu em 1484, aos
retrata o processo de m editação cuidadosam ente lento, às vezes
106 anos. C onsta qu e sua sep ultura foi aberta em 16 0 4 — 120
conhecido com o im aginação ativa. A m bas essas energias, bem
anos após sua m orte —e que seu corpo estava perfeitam ente
com o esses processos, precisam ser ativados pelo iniciando a
conservado. Esta data nos indica um episódio im portante na
fim de passar no segundo teste.
história da tradição rosacru z - a redescoberta do corpo do
antigo co n h ecim en to esotérico dos irm ãos ro sacru zes e a Se bem sucedido, o iniciando pode seguir pela escuridão
reabertura das atividades rosacruzes na E uropa. in terna da g ru ta e para o alto à esquerda, onde u m a passagem
em erge para a luz nu m cum e rochoso guardado por um dragão
O velh o está sentado no portal e guarda a entrada de um a expelindo fogo. O dragão sim boliza as energias prim ordiais
gru ta qu e leva para dentro da “M o n tan h a dos Filósofos”. A não resolvidas do inconsciente, ju n tam en te com os instintos,
gruta sim boliza um local de trevas, m as tam bém de iniciação e im p u lsos e desejos d esen fread os q u e o in ic ia n d o tem de
integração. Representa tam bém a A lq u im ia em ação no interior en fren tar e conq uistar pela força de vontade.
da Terra.
Q u an d o o iniciando consegue passar bem pelo processo e
ganha o controle de suas energias psíquicas, terá então passado
Para passar pelo portal, a pessoa tem de satisfazer ao porteiro
pelo teste in terior e poderá se colocar no centro da m ontanh a,
- o g u ard ião do u m b ral - e seguir a passagem para den tro da
onde terá de en fren tar m ais u m teste.
m ontanh a desconhecida. Isto constitui o p rim eiro teste do
iniciando. N o centro da m ontanh a, o iniciando se defronta com um
terceiro g u a rd iã o - um leão d o u ra d o e altivo b lo q u eia o
A senda para o Graal cam inho. O leão é um a m anifestação de aversões, prazeres e
A senda p a ra o G ra a l é vista em e sp iral p e lo la d o da sentim entos hu m an os. Este sím bolo é um reflexo do egoísm o
*
m ontanha. A esquerda do guardião e acim a da m uralha, perto e do pérfido orgu lh o espiritual. E m uito im portante qu e o
da arcada, vem os um ou tro coelho, q u e parece sem elhante ao iniciando reconheça esse pérfido orgu lho espiritual e seja forte
que está fora da m uralha. N o outro lado da arcada, vem os um a ao se proteger dele.
Passando por esse teste, o iniciando pode en trar por um N o lado direito da cidadela, bem acim a da fornalha, há um a
segundo portal (visto no centro da m ontanh a), qu e leva a um a árvore sem folhas e com três estrelas de seis pontas. A árvore
cidadela interna. A í ele encontra um corvo preto e um a águia está in clin ad a para a fum aça q u e se eleva da fo rn alh a de
branca. Estas são as “aves da a lm a ”, q u e podem a ju d a r o destilação. A s três estrelas que adornam a árvore representam
iniciando a viven ciar várias m anifestações do inconsciente. O os principais elem entos alquím icos: sal, enxofre e m ercúrio.
corvo preto é um estágio da alqu im ia conhecido com o nigredo ,
q u e re tra ta as p e rtu rb a d o ra s e ob scuras ex p e riê n c ia s do N o alto rochoso da cidadela há um a casa expelindo fum aça
inconsciente. A águia branca significa as excelsas alturas do de sua cham iné. E a casa do espírito santo, onde a alm a do
espírito, análogas à elevação de vapores du ran te a destilação. iniciando pode encon trar abrigo e consciência do espiritual. E
o tem plo onde sutis m udanças alquím icas ocorrem qu and o o
À esquerda da torre da cidadela, vem os o Sol e a L u a —as esp írito , a alm a e o corpo são colocados em h a rm o n ia e
duas polaridades — num tonel de m adeira, sim b olizand o a equilíbrio.
purificação das características solares e lunares do iniciando.
A purificação e a lavagem do acú m u lo de escórias na nossa N o pico rochoso da m ontanh a há u m orbe encim ado de
alm a são feitas com água. um a c ru z que é o signo do V IT R ÍO L O - um anagram a que é
in te rp re ta d o a ssim : “V is ita o in te r io r da T erra e, p ela
À direita da torre da cidadela vem os um frasco den tro de purificação, ali descobre a pedra o cu lta”.
um a fornalha. O frasco representa o filósofo. A purificação
in terior ocorre p o r ação do fogo, nu m processo qu e se efetua O iniciando que em preendeu a jornad a in terior e alcançou
pela destilação num a fornalha acesa. C om pletados os processos o orbe ganha um a coroa qu e representa consecução espiritual
de p u rificação , o in icia n d o pode c ru z a r a en trad a para a e ilu m in a ç ã o cósm ica. A coroa p a ira acim a do cum e da
cidadela e se posicionar em seu pátio interno. m ontanha.

N o topo da cidadela (à esquerda), o iniciando encontra um A cim a da m ontanh a, vêem -se o Sol e a L ua libertos de sua
velho segurando um a árvore com suas raízes suspensas acim a escravidão tridim ensional. O Sol e a L u a C rescente, correta­
do tonel de m adeira contendo o Sol e a Lua. O velho está m ente orientados no céu, são os sinais do G raa l e sim bolizam
plantando uma árvore no tonel onde o Sol e a Lua - as polaridades a Ilum inação Cósm ica.
- foram purificados. As raízes da árvore parecem estar extraindo
energias do Sol e da Lua e assim prod uzin do um a árvore viva
com um a estrela de sete pontas e um frasco de frutas. A estrela
de sete pontas significa a essência das forças planetárias e o frasco
é o vaso em que essas forças podem ser manifestas.
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Artur, Rei, 38, 167, 175, 191, 199; de, 150
Avalon e, 46; locais arturianos Bron, Rei do Graal, 45, 178
no País de Gales, 45; lendas Bruxaria, 105
arturianas, 109; descida a Bryce, R, sobre os Templários, 30
A A nnw n, 155; fracasso em Bubônica, peste, 98
m anter a T ávola Redonda Búdico, estado, 166; atitudes do
Indice Remissivo unida, 193; Cavaleiros de, 75, buscador, 185;
81, 183; Dama do Lago e, 199; Budismo tibetano, 90
A Amor maior, 187 espada de, 198 Budista, imagem do Graal, 176;
Aberystwyth, 15 Amor palaciano, 56 Ashcroft-Nowicki, D., 168 psicologia, 165
Abred, 155 Ancestrais, 180 Ashley, M., 98, 114 Busca, como retorno a Deus, 108;
Achad, Frater, 132, 218 Anima, 81,85; ver também “Prin­ Atitudes sociais, 103 do Santo Graal, 178, 206, 209,
Adão, e Queda do Homem, 135, cipio Feminino” Attis / Adonis, Mistérios, 153 210
191 Animus/Anima, 80; em harmonia, Autenticamente, Vivendo, 185
Adúltera, Guinevere como, 191 103, 186 Auto-conscientização, 204 c
Albi, 43 Aniquilação, 165 Auto-realização, 160, 164, 166; Cabalistas, 33,56
Albigense, Cruzada, 17,33, 34, 41 Anjos, 20, 75 além da, 165 Cadeira Perigosa, 178, 193, 205
Albrecht von Scharfenberg, 31,47, Annwn, descida de Artur para, 155 Avalon, 46, 170 Cadwallader, Rei, 97
65, 189 Antióquia, 133 Avebury, Pedras de, 105 Caldeirão: de abundância, 44,176;
Alegoria, 71 Aprendiz, coluna do, 45 Aves, Símbolos de grau, 60 mágico, 155, 196
Alquimia, e árabes, 55 Arabes e alquimia, 55 Axis Mundi, 198 “Caldeirão e o Graal, O”, 16
Graal e símbolos na, 67; processos Aragão, 54 Callanish, pedras, 105
em, 88; continua a tradição de Arca da Aliança, 68 B Camelot, 59
mistério, 66; símbolo do rei Ariège, 190 Babilônia, Rituais da, 146 Camlann, 46
coroado em, 88; Graal na, Cap. Arimatéia, José de, ver “José” 7,13, Baigent, M., et. Al., 36 Carlos Magno, 54
6; fase nigredo, 203, 216; natu­ 15, 16, 28, 32, 37, 45, 46, 47, Bálcãs, 99 Casamento Aiquímico, 73
reza e prática da, 66; trans­ 170, 177, 192, 209 Baleares, Ilhas, 54 Castela, 54
cendental, 21,206; transmutação Armadura, vermelha, significado Baphomet, 149 Castell Dinas Bran, 44, 178
em, 21, 197; símbolo do Casa­ simbólico da, 185 Barcelona, 44; Bardo(s), 155 “Castelo Interior” de Santa Teresa,
mento em, 72, 73; /Wolfram e, Arnaud, M., 42 Bem e Mal, 181 51
181 Arqueologia, 106 Blanchefleur (Flor Branca), 107, Castelo Interior, jornada da alma
Alquimia, processo térmico na, 216 Arquétipos, energias arquetípicas: 109, 186 no, 51
Alquimistas como feiticeiros, 57 animus,anima, 82,86; interação Bolen, J., 95; experiência liminar Cátaros: 56, 147; e Graal, 149; e
Amangons, 92, 192 de, 86; linguagem do incons­ de, 187 maniqueísmo, 57; e sete trans-
Ambiente, cuidando do, 162 ciente, 79; da Busca do Graal, Bors, Bohors, Sir, 7, 51, 167, 206 migrações, 147; aniquilamento
Amfortas, 92, 115, 1*35, 181; como 152; persona, 82; repressão da Boyne, complexo, Irlanda, 140 de, 58; celibato de alguns, 148;
Homem decaído, 182 sombra, 82; o self como inte­ Brabant, 210 Credentes, 34,148; cruz dos, 105;
Amide, irmã de Parsifal, 167 grador, 160; sábio, 72 Brahma, Castelo de, 50 fortaleza de Montségur, 25;
Amor, vivenciando, 186, 187, 198; Arquitetura na Espanha, 56 Brahman, 166 influência na literatura do Graal,
níveis de, 186; altruístico, 167 Arte e Arquitetura, 55, 56 Bran, deus galês, cabeça decapitada 194; no Sul da França, 35;
Perfecti, 148; Templários, Rosa­ Cisne Ferido: ver “Cisne” 198 Cristianismo do Graal, caráter Deus, dominancia como macho,
cruzes e, 35; ritos, 42; hábitos Cisterciense, Ordem, 143, 157; e esotérico do, 58 103; vontade de, 198
vegetarianos, 148; status igual Ciclo Vulgata, 57, 99 Cristianismo ortodoxo, 194 Deus solar, 105
atribuído a mulheres entre os, 194 Coluna do aprendiz, 45 Cristianismo Ortodoxo &Graal, 194 Deusa: ver também “Deusa da
Catástrofe, fins da Era de Ouro, Compaixão, Desenvolvendo a, 167,185 Cristianismo romano, 97 Terra”, “Princípio Feminino”,
100, 115 Conciliação de opostos, 137 Cristo: aparece ao eremita, 14; “Mulheres”; e Graal, 195; e
Catedrais, 67 Condwiramur, 186, 198; ver tam­ sangue de, 198; consciencia arqueologia, 106; como tema no
Catedral de Chartres, 67 bém “Blanchefleur” crística, 166; ver também, “Jesus” Mito do Graal, Cap. 9; aspectos
Causa e Efeito, Lei de, 162 Conflito religioso celto-romano, Crucificação e Maria, 107 cósmicos da, 110; nas pedras de
Cavaleirismo, 23, 56, 169, 180-184 97, 114 Cruzada(s), contra o Graal, 43; Avebury, 105; aspectos negativos
Cavaleiro, busca do, 143 Consangüinidade, Teoria da, he­ contra o Islã, 54; Albigense, 17, e positivos, 201; subserviência ao
Cavaleiro feminino? 108 rança de família e, 181; racial 33, 41; beneficios das, 35; in­ deus macho, 104; ventre da, 107;
Cavaleiro sarraceno, 67 de Hitler, 133; interpretação fluencia do islamismo ñas, 55; o mundo como feminino, 106
Cavaleiro Vermelho, 81, 83, 184; espiritual, 181 lança descoberta durante, 133 Deusa da Terra, 99, 105, 142, 175
como a “sombra” de Parsifal, 81, Consciencia: Crística, 166; elevan­ Cruz vermelha, dos templários, 34 Deusa Mãe: ver “Deusa da Terra”
184; Galahad como, 185 do o nível da, 185; mudança na, Cura: 162; herói como curador, 143; Didot Parsifal, 179, 210
Cavaleiros, que alcançaram o Graal, 186 ; mística, 69, 74; moderna, nossas feridas, 101; harmonia Die Jungere Titurel, 65, 189, 210
167; código de cavaleirismo, 185; 100; caminho da, 63; uso da psíquica e, 80; ponto de vista do Dindraine, História de: ver “Amide”
femininos, 108; Ordem de Cava­ intuição na, 186 psicólogo, 163; cisões na psique Discriminação em julgamento, 199
leiros do Graal, 180; Ordem da Consecução, lutando por, 110 e, 82 Diü Krône, 192, 210
Távola Redonda, 59, 74 Consolamentum, 42, 148 Dowth Tumulus, 142
Cavaleiros Negros, 136 Continuações de Le Conte del D Dragão, Símbolo, 72
Céltico (s): contexto do Mito do Graal, 202; Gawain em, 202 Dama da Tenda, assalto à, 109,183; Druidas, mistérios druídicos, 176
Graal, 45, 154; cruzes célticas, Corbenic, Castelo do Graal, 189 outorgando soberania, 184; Dualismo, 136
105; tradição de mistério, 175; Cornetas de Abundancia, 176 insulto à, 109
mitos, ver “Keridwen”; rainha, Coroa: Diü Króne, 192; de Lúcifer, Dama do Lago, 187, 199 E
191; tradição da cabeça humana, 178 Dames, M., 154 Egito, contraparte egípcia do Graal,
149; visão de eventos, 101, 107 Corpus Hermeticum , 68 Darwin, lei da sobrevivência, 134 176; grau iniciático no, 61
Centro do Ser, 189 Córsega, 54 Debate sobre a natureza do Graal, 18 Ego, 71,95; como discriminador, 86;
Ceugant, 155 Corvo, simbólico, 147 “De Boron: ver “Robert de Boron” além do, 165; controle, 82; morte
Chandhogya Upanishad, 50-51 Cósmicos, Mente e Self, 166 Dee, Rio, 44 do, 63; direção pelo, 63; excessiva
Chetwynd, 80 Cozinha, 72 Degeneração moral, 91 identificação com o, 83; sacrifício
Chrétien de Troyes, 7, 12, 20, 177, Credentes, 34, 148 De Hauteville, Roger, 54 ou intensificação do, 161
209; seu Le Conte del Graal, 177, Criatura Asquerosa: ver “Kundry”; De Meung, Lorris and, 73 Eisenhower, General, 134
202 e Gawain, 200 Demonstração de virtudes cavalei- Eleanor d’Aquitaine, 105
Cidade Santa, ver “Jerusalém” 205 Cristão(ã): peixe e símbolo cristão, rescas, 185 Elêusis, vaso ritualístico em, 106
Círculo da Felicidade, 156 90; Europa, 53; Muçulmanos, Der Junge Titurel, 189 Elevada História do Graal, 14
Círculos, Sobreposição de dois, Judeus e, 55; no mistério, 106, Desejo sensual, evitado por cátaros, 148 Elite, sob Hitler, 134
187 194; simbolismo, 196; consi­ Desenho em espiral, 141 Elucidação, A, 92, 192, 195
Cisne, e Parsifal, 187, 198, 206 deração de eventos, 37 Destino e o Indivíduo, 59 Em transformação, tudo está, 164
Encantamento, 158 Flechas, Passo das, 45 Glastonbury, Abadia em, 46, 179; 176; no “Outro Mundo”, 189; em
Era de Ouro: ver “Paraíso” Floresta como símbolo, 79, 182-3 túmulo de Artur em, 46; como lar Mons Philosophorum, 71; em
Eremita: ver também “Trevrizent”, Força Vital, 198 do Graal, 179, 181; como sítio grutas naturais, 176; em Sone o f
68, 203 Forças Americanas de Ocupação, 134 pagão, 179; “Ilha de Vidro”, 47; é Nansai, 189; o Castelo Interior,
Esclarmonde de Foix, 105 Forças de Luz e Trevas, 201 a mística Avalon, 170; visita 189; ponto de encontro entre o
Escola de Misterio, tradição da: Franco-Maçons, 45 rosacruz a, 170; espinhos, 47; Tor, Céu e a Terra, 189; Montségur
em alquimia, 62; ligação de Francos, 54 47; Wearyall Hill, 47; Zodíaco, como, 42; Montsalvasche, Mon-
Perlesvaus com, 14; druídica, Fraternidade das Trevas, 139 179 tsalvat, 41; Montserrat, 25; de
154; no Oriente, 149; na França, Fraternidade do Graal, 134, 206 Gnose, secreta, 153 Himmler, 43; fora da costa da
25,41; ligação com antigos, 146, Fraternidade invisível, 31 Godwin, M., 22, 58, 63, 99, 104 Noruega, 189; como experiência
153, 168; teor do misterio, 152 Fraternidade Negra, 136 Golpe Doloroso, 197 de “pico”, 164; visita de Parsifal
Esforço e zelo, 59 Frigia, rituais da, 153 Gotas de sangue ou fluido, 155 ao, 150, 204; protótipo do, 49;
Espada, 84, 198; como instru­ Fromm, E., 157 Gournemanz, 76, 83, 76, 201, 206 fortaleza nos Pireneus, 181;
mento discriminador, 84; ou­ Fronteira entre o consciente e o Graal, Busca: a viagem de semelhança com fortaleza tem-
torgada por mérito e direito, inconsciente, 187 Rosenkreutz, 73; um retorno a plária, 181; semelhança com
199; retirada da pedra por Fuga da Liberdade, de Erich Fromm, Deus, 108; aspectos individuais Santo Sepulcro, 31; imagens
Galahad e Artur, 199; mágica, 157 e coletivos, 169; jornada da rosacruzes no, 25; Rosslyn Chapei,
176; de Davi, 193; d e São Função sentimento, 94 alma, 61; como a descida de 45; estado de transcendência, 166;
Maurício, 133 Artur a Annwn, 155; a busca símbolo do processo da vida, 195;
Espanha: muçulmanos na, 54; G exterior do herói masculino, encimado por Rosa Sagrada, 25;
como ponto de encontro de Gahmuret, 157 110; mito do retorno, 165; “Trono de Arches”, 48;
culturas, 56; tolerancia na, 56 Galahad, 5, 7, 51, 99, 167, 174, 179, buscadores são escolhidos, 40; Graal, contraparte egípcia do, 176
“Espectro de Consciencia”, 166­ 193, 199, 205; um herói cristão, precursores da, 175; busca da Graal, contraparte hindu do, 176
167 99,156,193; e o Cristo, 59; e Sarras pedra filosofal, 68,89; sete graus Graal, cristandade do, 57, 98
Eucaristia, 153 40, 193; e espada, 199; como um de progresso, 60; organização Graal, e Cátaros, 16; e Tábua de
Europa: crenças medievais, 145; fantoche, 205; comparado com do, Apêndice 1; início da, 168 Esmeralda, 26; e Eucaristia, 13,
rituais na, 145; erudição na, 56 Parsifal, 59, 174, 205; encontra o Graal, Castelo ou Templo, 40, 107, 19; e Hórus, 26; e Falha de Lia,
Evola, J., 111 Graal, 167; em Queste, 197, 205; 148,162,204; outra dimensão da 26; e Maria Madalena, 57; e
Evolução do Homem, 181 sobe ao céu, 40,193,205; senta-se experiência humana, 187; um pedra filosofal, 21; e glândula
Exilio, Estado de, 157 na Cadeira Perigosa, 179, 193; protótipo de mandala, 48; como pineal, 26; respondendo ao
Experiencia no Outro Mundo, 188 unido a Deus, 193 de Corbenic, 189; como espelho chamado do, 143; como um
Gales, Dinas Bran em, 44; Gerald cósmico, 50; como símbolo do livro, 14; como um cofre con­
F * de, 46; visita rosacruz a, 45 mundo sobrenatural, 84, 188; tendo pão, 13; como uma taça
Fêmea devoradora, 110 Galinha, como símbolo, 72 como o inconsciente, 79, 188; ou um cálice, 14, 14, 21, 132,
Fénix, como símbolo, 20, 197 Gawain (Gwalchmai), 45, 51, 72, descrito em fízrzival, 41,68; difícil 140, 157, 176, 194, 196; como
Ferida, na coxa, 191; como desar­ 167, 169, 175, 200 acesso ao, 43; Dinas Bran, 178; uma taça de sabedoria, 157;
monia psíquica, 94 Gênero, especificidade de, 103 desenvolvimento em templos como uma taça na Capela
Ferimento sexual, 154 Gerald de Gales, 46 estelares, 49; em D er Ju n g e Rosslyn, 45; contendo subs­
Figura feminina, 155 Gerbert de Montreuil, 202, 209 Titurel, 26, 189; em Die Jungere tância divina redentora, 115;
Firefiz, 24, 67, 72 Gestapo, 136 Titurel, 31,65; no Oriente Médio, como símbolo feminino, 108;
como símbolo de fertilidade, Catedral de Chartres, 38; no Vulgata, 57; como nostalgia da Artur como exemplo de, 193;
153; dá alimento espiritual, processo criativo, 115; lar do, Era de Ouro, 96; astrologia na, como figura paterna, 88,91; como
177; como uma cabeça numa ver “Castelo do Graal”; lança e 57; conteúdo cavaleiresco da, 6; pescador, 88,90,187; como Deus,
travessa, 21,176; como curador, o, 108; locais do Graal, 15, 16, conteúdo hermético da, 178; em 191; como homem original,
107, 204; como cornetas de 40, 42; qualidades mágicas do, alquimia, 68, 70, 73; caráter perfeito, 191; como cavaleiro do
abundancia, 176; como busca 13; no mistério, Cap. 6; natu­ iniciatório da, 161 ; e elo com a Graal em potencial, 157; como
da feminilidade, 108; como o reza misteriosa e mística do, 14; tradição mística, 55; influência símbolo de soberania perdida,
Self Maior, 86; como uma jóia, experiencias de “pico” e o, 164; oriental na, 56, 178; elementos 157; como duas pessoas, 192;
26; como idéia luminosa, 18; poder do, 64; primeira expe­ pagãos na, 57; poetas da, 57; morte do, 193; fracasso do, 89,
como mensagem em arqui­ riencia de Parsifal, 80; pré- filosofia subjacente da, 59 93, 95; na história de Queda e
tetura ou escultura, 67; como cristão, 19; proto-Graal, 140; Graal, locais sagrados do, 140 Redenção, 157,191,208; quebra
memória do Paraíso, 156; como segredos, 109, 195; vendo o, Graal, Mensageira do, 200; ver de tabus, 193;Bran,Bron,44,90,
objeto miraculoso, Cap. 1,199; 180; levado ao Céu, 205; poder também, “Virgem do Graal”, 178; causas de sua ferida, 37;
como mito, 11, 154, 156; como transform ador do, 15; mu­ “Kundry” concepções dos escritores do
ponto de conciliação, 62; como dança espiritual, 101; visita do, Graal, Mito: um eco do Paraíso Graal sobre o, 41; Golpe Dolo­
objeto físico, 14, 15, 18, 19; à Távola Redonda, 74; visita do, Perdido, 99; como mito femi­ roso, 197; explicações para sua
como reliquia, 19; como res­ à cabana de Rosenkreutz, 73 nino, 105; como parte do incons­ condição, 91,193; pescando para
taurador da térra devoluta, 107; Graal, experiência, 141 ciente, 95,100; um mito agrário, encontrar cura, 187; curando a
como objeto sagrado ou má­ Graal, Família, Guardiães, Cava­ 95, 145; base do, 174; origens ferida do, 187; na alquimia, 89,
gico, 176; mudando de forma, leiros: uma sociedade secreta, célticas do, 20; contrário ao “lado 90; em Parsifal, de Wagner, 135;
14; como espirito, 85; como 29; um anfitrião espiritual, 73; negro”, 11; mensagem crucial mantido vivo pelo Graal, 178;
pedra, 20, 67, 195; como re­ como cátaros, 43; como elite, do, 207; caráter cíclico do, 11; nexo Rei/Terra Devoluta, 95,153,
gistro de sabedoria, 14; como 134; como hierarquia de almas, “lado negro” do, 132; aspecto 191; lições desse mito, 161;
símbolo, 19, 67, 107; como 207; como “santo”, 177; como didático, 65; tema da separação linhagem em Parzival, 180;
experiencia de vesicapiscis, 171; Templários, 29, 41, 180; como do, 155; poder de transformação mistura de crenças célticas e
na corte do Rei Artur, 202; em governante temporal, espi­ do, 60; papel da mulher no, 105 cristãs, 37; registro de ritual
Glastonbury, 170; e banquete, ritual, 67; Fraternidade do Graal, Mitologia, 193. agrário, 145; referência em
152,194; torna-se “santo”, 177; Graal, 134, 206; em José de Graal, mudança de forma do, 68 Silbury Hill, 154; responsa­
chamamento do, 188; Frater­ Arimatéia, de De Boron, 28; em Graal Negro? 136, 137 bilidade do, 91; comentário de
nidade do, 134, 206; adverte Queste, 28; em Perlesvaus, 29; Graal, Operas, 63 Rohr, 93; dirigente de uma
contra revelação de segredos, em P arzival , 29; como casta Graal, Portadora, ver “Virgem do fraternidade invisível, 31; sofre de
196; Cristianismo e o, 57, 58; xamanista, 143; figuras míticas, Graal” sangue corrompido, 134; sofre
Cristianização do, 13, 179; históricas, 38; Ordem fundada Graal, Procissão, 85, 107,194 encantamento, 135; símbolo da
origem cristã do, 177; descrição por José, 180 Graal, Rainha do, 109,190 condição humana, 99; símbolo
no Le Conte del Graal, 12, 177; Graal, fontes do Mito do, 19, 49, Graal, Rei do, Rei Pescador, Rei de exílio ou soberania perdida,
descrição na obra de Malory, 65; •145, 175, 177 Enfermo ou Ferido ou Mutilado, 157; símbolo de cisão com a
nível de experiência do Graal, Graal, forma pré-histórica do, 140 37,44; Cap. 8; 115,134,157,177, natureza, 192; de vontade fraca,
165; descrição do, 175; beber o Graal, Literatura:ver também au­ 178,191,192,193,196,199,204, 193; curado por Galahad, 114;
conteúdo do, 166; visão final tores individuais no Apêndice 206, 208; e fertilidade da terra, curado em nós também, 95;
do, 163; dá alimento, 177; na 2; e Igreja Céltica, 115; e Ciclo 191; e Terra Devoluta, Cap. 8; ópera de Wagner e, 181.
Graal, Reino do, 144,198,201 ;como Harrison, H., 16, 60, 140 Inconsciente: energias arque- Jesus, e Galahad, comparados, 59;
o inconsciente, 84; descrição de Heinrich von dem Türlin, 13, 192 típicas do, 188; coletivo, 79, e “pescadores de homens”, 90; e
territorio, 84; Glastonbury, 46; Helinandus, Crônica de, 176 100, 160; cruzando o umbral Maria Madalena, 36; e Parsifal,
Outro Mundo, 188; na Pérsia, 48; Henrique VTII e Glastonbury, 15,47 do, 25; igualado ao elemento comparados, 59; conexão com
presença de Deus na Criação, Heresia(s), 57; pelagiana, 97 feminino, 107; a pesca como Montserrat, 44; na tradição do
144; caráter de transformação, 50; Hermes Trismegisto, 38, 68, 72 parte do, 91; elementos irracio­ rei-sacerdote, 13; perfurado pela
varios locais, 40; sabedoria e Hermetismo, 58 nais do, 95; mito do Graal e o, lança, 113
revelação no, 196 Hermetismo na obra de Wolfram, 56 100; profundezas do, 91 Johnson, K., 111
Graal Secreto: um mistério, 194; Herzeleid (“Pesar do Coração”), 182 Individualismo, 162 Johnson, R., 94
con-jeturas quanto à natureza Hierofantes dos Mistérios, 161,190 Indivíduo: e sociedade, 162, 201; Jornada iniciatória, natureza
do, 196; dado por Jesus a José, Himmler, Heinrich, 43 iniciativa do, 59; busca indivi­ cíclica da, 89
32; segredos da transformação, Hider, Adol£ 113, e formação de elite, dual, 61; responsabilidade, 180 Jornada/viagem: de Rosenkreutz,
161; passado para sucessores de 134; e literatura heroica, 134; e Inglaterra, questão da, e da Irlanda, 73; do ego, 162; do herói, 156,
José, 32; contemplado por ocultismo, 113; e Lança do 19, 176 168; da alma, 141
Galahad, 205; o significado da Destino, 113; como ditador, 133; Iniciação: descrição de, 190; graus José de Arimatéia, 47,177; e Bron,
criação e da vida, 195 explica a ferida do Rei Pescador, de, 60; ao cavaleirismo, 185; aos o Rei do Graal, 45; chegada a
Graal, Tradição, e Ordem Rosa­ 134; sua aberração, 138; sua mistérios superiores, 144, 197; Glastonbury, 179; na obra de
cruz, 17, na poesia do Graal e fixação por Parsifal, 132; gosto movimentos e objetos na, 194; De Boron, 13, 28, 177, 209; e
nos Mistérios, 58,65; Matthew, pelas óperas de Wagner, 135; e o despertar de Parsifal para, 183; segredos de Jesus, 32
J.,eo, 139 cavaleirismo do Graal, 134; teoria final de Parsifal, 202; segundo Josephes, 7
Graça de Deus, 40, 59, 188 racial e Guardiães, 62, 136 nível de, 188; como união a Judas, e Cadeira Perigosa, 178
Graça natural, perda da, 93 Homem Celestial, 38 Deus, 132 Jung, E., e von Franz M.L., 43,
Gradale, 176 Homem Degenerado, 91, 191 Iniciando, teste do, 200 219
Grande Santo Graal, 13, 209 Homem perfeito, 88-9 Instrução oral, 185 Junge Titurel, Der, 210
“Grande Tradição”, 150 Homem, Velho e Sábio, arquétipo Integração, 158, 160, 163, 204 “Justa no Céu”, 67
Grau de Guerreiro, 61, 147 do, 80, 83, 185 Introdução no cavaleirismo, 185
Graus de Iniciação: ver “Iniciação” Homens, busca dos, não diferente Introspecção, 185, 199 K
Grécia, Rituais da, 146 da busca das mulheres, 111 Intuição, valor da, 185 Keridwen, Caldeirão de, 154,198
Grutas, 176 Hórus, Olho de, 26, 69 Huesca, e Intuito esotérico, 145 Klingsor, assistido por Kundry,
Guardiães, 62 St. Lawrence, 16 Intuito exotérico, 145 201; “lado negro”, 132; von­
Guerra no Céu, 20 Humanidade, papel da, 101 Inverno, cerimônia do alvorecer tade humana vs. vontade di­
Guinevere, 46, 109, 175, 191 Hutin, Serge, 73 do, 144 vina, 132; magia de, 187; mau
Gwalchmai: ver “Gawain”Gwion, 45, logues, 165 uso da lança, 132, 192; papel
Gwynvydd, 155 I Islã, progresso na Europa, 53; em Parsifal, 201, 206
Identidade, além da, 166 judaísmo, cristianismo e, 56; Knight, G., 59
H Idilios do Rei, 65 Ordens Cavaleirescas, 23 Knowth, 142
Hall, M., 147 Ilha de Vidro, 47 Krater, em Elêusis, 106
Hansend, 111 Kundry, criatura asquerosa, 187,
Iluminação, 60, 164, 165, 167,203 J ,
Hapsburg, Museu, 113, 133 Imagens, primordiais, 79 Jerusalém: e cruzadas, 54; é Sarras, 200, 201, 206, 206
Harmonia, Estado de, 204 Império Bizantino, 54 193, 205 Kyot de Provence, 20, 22
L Lealdade, de Gawain, 200 Mágico, como mentor e eremita, Montségur, 25,41,43 ,4 4 ,14 8,189
Lago, como símbolo da mente, 187 Leão, Grau Iniciático do, 61, 147; .147 Mordred, 197
Lança: e Graal, no processo de figura com cabeça de, 150 Malory, Thomas, 65, 210 Morgan, 109
cura, 108; e Graal como sím­ Lebre, símblo de, 72, Manessier, continuação de, 202, Morte d’Arthur, 65
bolos de fertilidade, 153, como Le Conte du Graal, ver “Chrétien” 209 Mosteiro de Montserrat, 17, 25, 44
axis mundi, 198; como vontade Legiões romanas, deslocamento Maniqueísmo, 42, 57, 146 Mosteiros, e Henrique VIII, 15
divina, 114,132; como curadora, das, 147 Manisola, rito, 42, 148 Moys, e Cadeira Perigosa, 179
192; como discernimento intui­ Lei Hermética de Correspon­ Maomé, 53 • Muçulmanos, conquistas na Euro­
tivo, 114; como símbolo fálico, dencias, 66 Maria, e Mistério Cristão, 107; pa, 53
114; o portador da, 197; san­ Le Morte d’A rthur, 210 como vaso divino, 108 Mulheres: advogado das, 110; gera­
guinolenta, 107, 199; captada Le Román de l ’histoire du Graal, ver Marie de Champagne, 105 doras de filhos, 104; como guias
por Parsifal, 205; céltica, de Robert de Boron Marie de France, 105 de iniciação, 108-9; como tenta­
Lugh, 197; propriedades cura­ Liderança na Busca, 194 Markale, J., 34, 108 doras, 104; outorgam soberania,
tivas, 108, 114; descrição da, Linhagem, 180 Marselha, 16, 43 184; consecução em níveis in­
115; imersa em sangue, 115; Livre-arbítrio, 59, 97, 101 Masculinidade, 76, 80, 94 teriores, 110; Guinevere, 109;
mergulhada no Graal ou no Livro(s): Corpus Hermeticum, Masculinos, atributos/princípio, impuras, 105; papel iniciatório
Caldeirão, 107, 198; e poder 68; Graal como um, 13, 195; 82, 94, 96, 104, 105, 154; ver das, 109; em tempos antigos,
diabólico, 115; e poder divino, de Lambspring, 70, 90; lista de também, “figura paterna” 104; em épocas célticas e pré-
135; para controle do ego, 186; textos do Graal, ver Apéndice 2 Maslow, A: experiências de “pico”, célticas, 105; integram a vida ao
uso de Galahad para curar, 114; Llangollen, 44 164, 187; pirâmide de neces­ espírito, 110; Morgan, 109;
do Destino, 113; de Lugh, 197; Llydaw, Lago, 45 sidades, 163; noção de pessoas ciclos naturais das, 109; pre­
na Procissão do Graal, 155; Logres, Terra de, 92, 197 superiores, 165; auto-efeti- cisam da Buscar 108; não sepa­
propriedades mágicas da, 114, Lohengrin, 180, 210 vação, 160 radas da verdadeira natureza,
133, 176; elemento masculino, Londres, 150 Matthews, C., 48, 50, 157, 158 109; papel das, na história do
107; mau uso da, 192, 197; de Longinus, 113, 133, 179 Melquisedec, estátua de, 38 Graal, 109; inferioridade de
Longinus, 113, 133; Parsifal Lorris e De Meung, 73 Mente Universal, 166 status, 104; testando o herói,
usa-a para curar, 192; separada Lúcifer, 20, 69, 178 Mesa, quadrada, 177 201; com sobrecarga de mascu­
do cálice, 135; valor simbólico, Lugh, Lança de, 197 Mistérios frigios, 153 linidade, 111; conhecem o
107; levada para o céu, 205; Luke, H., 110 Misticismo, atividade na Idade segredo, 195; busca das, 111
usada por Klingsor, 132; usada Luz e trevas, 181 Média, 56; abordagem mística Mundo invisível, 84, 172
por Parsifal, 115; usada em no Ocidente, 168; experiência Mundos, visível e invisível, 187
meditação, 198; jovem como M em, 148,165,175,190; experiên­
portador, 194 “Machismo”, 111 cia interpretada em Parsifal, 21; N
Lancelot, 51, 56, 175, 187, 191 Macho/fêmea, equilíbrio, 103,106 visão do progresso, 138 Natureza humana, aspectos da,
Lancelot, Graal de, 13 Macrocósmico, efeito no indivíduo, Mito e ritual agrários, 145 161; ponto de vista dos psicó­
Lambspring, Livro de, 70, 90 199 Mitraico, culto, 146; grau(s), 147 logos, 163
Lança Sanguinolenta, ver “Lança” Madalena, Graal de, 148 Mons Philosophorum, 71; Apêndice 3 Navarro, 54
Languedoc, 25, 56 Mãe, arquétipo da, 182 Montréal-de-Sos, 17 Nazista, 43, 113
“Lapsit exillis”, 21 Mãe Terrível, 110 Montsalvãsche, Montalvat, 25, 41, Necessidades: ver “Pirâmide de
Lata de lixo, 72 Magia, 146 43 Necessidades”
Neolíticos, povos, 49 Newgrange, 29; igreja em Segóvia, 57; 204; e o cisne, 143; como Tolo, Pessoa real e ideal projetado, 186
49, 140; cerimônias, 140; fundadores da, 29; romances do 75, 80, 155; como Rei; Parsifal “Pessoas superiores”, 165
descrição de túm ulo, 140; Graal e, 43; Grandes Mestres galês, 210 “Petit Saint Graal”, 177
protótipo do Templo do Graal, da, 34; guardava o Castelo do Parzival, 22, 26, 41, 56, 66, 68, 93, Philip, Conde de Flandres, 177
49; símbolos em, 49 Graal, 31; guardava segredo 178, 181, 192, 196, 209 “Pico”, experiência de, 164, 187
Nicodemus, Evangelho de, 177 especial, 32; guardiã de conhe­ “Passo das Flechas” na Gales do Pineal, glândula, 26, 69
Nigredo ou fase de “negritude”, ou cimento esotérico, 30; em D ie Norte, 45 Pirâmide de necessidades, 163
“Noite Negra”, 85, 144, 197, Jungere Titurel, 31; interesse Pecado original, 97 Poço do Cálice: descrição do, 170; em
202, 203, 216 por, no século dezenove, 41; Pedra, o G raal como, 20, 38; Glastonbury, 16, 47, 170; tampa
Nitze, H.W, 60 Cruz Vermelha como símbolo filosofal, 68, 69; bacia pré- do, 171; rosacruzes no, 170
Noética, experiência, 145 da, 34; ritual influenciado pelo histórica, 140 Poços, Virgens dos, 192
“Noite Negra”: ver “nigredo” Islã, 23, 55, 149; ligação rosa- Pedra Filosofal, 20, 68, 69, 197 Poderes demoníacos, 136
“Nórdicos”, 190 cruz com, 50; realização de Pedras Callanish, 105 “Pog” o, Montségur, 41 .
Notre Dame, Catedrais: ver “Catedrais” ritos sagrados, 31; fonte de Peixe, como símbolo, 90, 93, 172 “Polares”, 190
Nurembergue, salão de Santa poder da, 31; símbolo na Cape­ Pelicano, símbolo, 197 Pomba, 73, 132
Catarina em, 133 la Rosslyn, 45; “Templeisen” Pelles, Rei do Graal, 193 “Portas da Percepção”, 69
em Parzival, 31; tesouro, 31; Peredur,21,44,114,150,176,183,210 Portugal, 54
O sugestão da, em Perlesvaus, 29 “Perfecti” entre os cátaros, 34, 41, Powell, família, 15
Obrigações do homem, 152 Organização patriarcal, 103-104 148, 149 Pré-cristãos, cultos, 146
Obscurantismo, Época de, A In­ Orientação solar: em Montségur, Pergunta (s), falha de Parsifal em Precursores do Graal, 175
glaterra em, 97 144; em Newgrange, 141 fazer, 77, 85,95,199; propósito Prima materia, 69
Olho de Hórus, 26, 69 “Outremer”, 23 da nos mistérios, 194, 199; Primeira Continuação, 209
Onix, pedra, 47 “Outro Mundo”, o, 51, 154, 188, temos de fazer, 85, 199; auto- Princípio feminino, 82, 96, 103,
Operas: ver “Wagner” 189, 190, 200 exame por introspecção, 199 194; reconhecido pelos cátaros,
Opostos, doutrina dos, 110, 136, Perlesvaus ou A Elevada História do 194; e desarmonia com o prin­
162, 163; unidade dos, 110 P Graal, 14,57,151,179,193,194; cípio masculino, 96; e o incons­
Ordem secreta, a SS como, 136 Padma-mani, budista, 69 José de Arimatéia em, 180,209; ciente, 182; como mediador,
Ordem Templária: atividades e Pai, figura do, 83, 91, 147, 152 provável ligação do autor com 191; aspectos do, 201; no episó­
reputação, 30; e mistérios Palestina, 55 o Templo, 30; Graal mudando dio do Cavaleiro Negro92; no
antigos, 23, 145; e Baphomet, Paraíso ou Era de Ouro, conceitos de forma em, 14; sugestão de gnosticismo, 57; no segredo do
149-150; e cátaros, e rosacruzes, de, 92, 99, 144, 156; a literatura tradição secreta em, 149, 194 Graal, 63
33; e cruzadas, 29; supostas do Graal exaltava, 91,98; Logres, Persa, grau mitraico, 61, 147 Procissão, 194; no cristianismo do
práticas pagãs, 57; objetivo da, como outrora um, 92; na Terra, Persona, 81, 184 Graal, 194; tradição iniciática,
30; aniquilação como Ordem, 95, 99; utopia, 100 Perspectivas psicológicas e mís­ 58, 60, 63, 65, 67; tradição na
58; como Guardiães do Graal, Pársi, Santuário em Shiz, 48 ticas, Cap. 12 Europa, 146
22, 29, 31; como Cavaleiros da Parsifal, 115, 180, 182, 186, 198, Pesca, como símbolo, 90 Profecias, de Merlin, 210
Cruz, 150; lutou contra cátaros, 221; atinge o Graal, 165; e Pescador, Pedro o, 90; Rei do Graal Projeção, 50
33; na cruzada albigense, 34; Firefiz, 24, 67, 72; e a Dama da Bran como, 90; papel do, 90 Proto-Graal, 50
em Parzival, de Wolfram, 20, Tenda, 76; e a lança, 192; e auto- “Pescadores de Homens”, 90 Provença, 56
180; construtores de catedrais, realização, 164; e Rei Ferido, Pessoa ideal, 192 Pseudo-Wauchier, 202, 209
Psique, 78, 81, 84, 95, 160, 162 Ritos, em Newgrange, 140; de Salvação, visão da, 59 floresta, 182; peixe dourado, 90;
Psíquico(a): caos em Parsifal, 86; passagem, 141 Sangue, de Cristo: 28, sangue Rei do Graal, 88; Graal como vaso
saúde, 78; harmonia ao nivel Robert de Boron, 11, 15, 28, 91, curativo e fluido mágico, 155; alquímico, 66-7; mulher como
social, 80 177, 192 na água do Poço do Cálice, 171; portadora do Graal, 194; peixe, 90,
Puis, 91 Rohr, R., 93 na neve, 143, 198; na lança de 172, 187; no Livro de
Roma, Igreja de, 97; e hereges, 56; Longinus, 133 Lambspring, 90; nas pedras de
Q e cristianismo céltico, 97, 114, Sangue, de Dindraine, 198 Callanish, 105; na Busca do Graal,
Quarta Continuação, 209 179; como autoridade central, San Juan de la Peña, 17 60; cume da montanha, 189; do
53; atitude para com o Graal, Santa Catarina, Nurembergue, 133 sangue, 167; de graus e da busca
R 56; ensinamento exotérico, 58; “Santo Graal Menor”, 177 dos cavaleiros, 148; da lança e de
Raça, teoria de Hitler, 134 lança Cruzadas, 53; conceito de Sardenha, 54 poder negativo, 92; do grau mi-
Rahn, Otto, e Montségur, 43, 113; salvação, 59 Sarras, 40, 167, 193, 205 traico, 147; de Mons
e nazistas, 43; Cruzada contra o Romance da Rosa, 73 Saúde, 163, 165 Philosophorum, 71; de Parsifal
Graal , 43 Romances do Graal, duplo intuito “Saúde extrema”, 165 no Castelo do Graal, 205; mãe, 182
Ravenscroft, T., 60,71,92,133,147, dos, 59, 145 Schwarma, 69 Sinclair, A., 41, 46
153 Rosa, como símbolo, 73 Segóvia, igreja templária, 57 Sinetar, M., 163
Realeza, 71, 89 Rosa-Cruz, Irmãos mais Antigos da, Segredo(s): gnose, 153; do Graal, Snowdonia, Gales, 44, 80
Realidade, como Una, 166 33; Rosenkreutz, Christian, 73; 109, 160, 195, 195, 197; Soberania, 109, 157, 184, 190
Redenção, 63, 197 Rosacruzes: atividades, 33; e Segunda Continuação, 209 Socialização, 82
Redentor: ver “Parsifal” símbolo do Rei, 89; e legados Segunda Grande Guerra, 113 Sociedade e o indivíduo, 162
Reflexão, 199 templários, 35; arquivos, 35; Self: e ego, 89, 95, 161; como Sociedade humana, eventos da,
Regressão, 138 cátaros e, 33; como místicos, 33; arquétipo, 89, 160, 162; como caráter cíclico, 11 definição de,
Rei Ferido: ver “Rei do Graal” viagens do Graal dos, 17; idéias Graal, 71, 161; como Parsifal e 160; funções do, 161; maior ou
Reintegração, 63, 168 na obra de Wolfram, 22; ima­ Titurel, 182; 162; visão rosacruz superior, 135,165; velho e novo,
Rei Pescador: ver “Rei do Graal”; ginário, 25; a Ordem na Grande do, 166 196
fraqueza de vontade do, 193 Tradição, 33, 151; símbolos Self Maior, 166 Sociedades Antigas, Princípio
Relação, 94 secretos da, 71; templo em Senda mística ocidental, 168 feminino nas, 104
Religião, atitude, 56, 57; efeito na Londres, 35; ensinamentos da, Sentimento, função do, 168 Sol, símbolo, 61
arte, na erudição, etc., 55 17; tradição, 33; visão do self, Separação: Deus, da Criação, 93; na Soldado, Grau Iniciático, 49
Renovação, 93; em Kundry, 200; 166; visita ao Poço do Cálice, 170 personalidade, 84; o homem de Solstício, cerimônia de Templo no,
na Rainha do Graal, 109, 190; Rosslyn, Capela, 45 Deus, 109 141, 142,
na Virgem do Graal, 106; na Rússia, Sul da, 99 Separação, tema da, 106, 155 “Sombra”, a, 80, 81, 82, 184
Dama da Tenda, 76; em Sete graus de progresso, 60, 147 Sone de Nansai, 189
Sophia, 106; nas Virgens dos S Sexta-Feira Santa, 178 Sophia, 106, 157; e vesica pisas, 171
Poços, 192 Sabarthez, 43 Shekinah, 157 St. Lawrence, 16
Repressão, 81, 138 Sabedoria, Sophia como, 106 Shiz, santuário pársi, 48 Stonehenge, 49
Responsabilidade, 200, Sacramentos, 177 Sicilia, 54 Sublimação, 82
Responsabilidade pessoal, 59 Saint-Martin, Louis-Claude de, Silbury Hill, 154 Sucessão apostólica, 97
Retorno, mito do, 155 158 Símbolo(s): cálice e lança, 192; Sufi, práticas místicas, 55
Rio, como símbolo, 84, 187 Salomão, barca de, 167, 193, 205 arpão céltico de Lugh, 197; Super-alma, 166
22,23 ,2 5 ,26 ,2 8 ,2 9,3 1,3 6 ,4 1,
T Tolerância na Espanha, 56
Valores superiores, 185 43,56,60,62,65,67,69,72,73,
Tabernáculo, 176 Tolo, Parsifal como um, 75, 81,95,
Verdade, transmitida por Kundry, 9 2,139,148,178,180,181,184,
Taça, o Graal como: na ilha Caldy, 16; 101
201
186, 189, 192, 196, 197, 198,
Taliesin, 198 Tor, Glastonbury, 47
Vesica piseis, 171, 187 201,203; e a condição humana,
Talismãs, 176 Toulouse, 35
Viena, Museu Hapsburgem, 133 99; e a pedra filosofal, 196;
Tao, 166 Tradição Iniciática, 14, 58, 63; e
Vingança, tema, 114, 176 Virgem como escritor críptico, 36;
Távola Redonda: e Hitler, 135; templários, 29; e trovadores, 56;
Maria, 104 como mestre hermético, 68;
arquétipo da, 169; colapso da, cerimônias em Newgrange,
Virgem Negra, culto à, 56 contato com escolas de mis­
169; Fraternidade da, 170, 175, 144; graus na, 147; jornada de
Virgens dos Poços, 92, 192 tério, 22,23; Die Jungere Titurel,
193; de Himmler, 135; inte­ Rosenkreutz, 72; vista em ro­
Virgílio, 92 210; orientação esotérica, 62;
resse nazista na, 113, 136; a mances do Graal, 13; Mestres
Vishnu, 90 Kyot como fonte de sua historia
próxima, 170; profecia da Ca­ da, 61
Vivian, 109 do Graal, 20,22; fator de linha­
deira Perigosa, 179; começo da Tradição oral, 176
Vortigern, 45 gem na guarda do Graal, 23,
busca do Graal, 168 Transcendência, 203; pessoas em
Vulgata, Ciclo, 57,99,177,197,210 180; na Fraternidade do Ho­
Távola Redonda no plano mun­ nível transcendente, 165; alqui­
mem, 24; e Parzival, 20, 26,41,
dano, 169 mia transcendental, 21; nível
W 57, 68, 209; referido por
Templo estelar, orientação solar do, transcendental, 165; transição
Wagner, mensagem mística de, Matthews, 139; revela ligações
144 para, 203
206, 207 templárias, 21, 22, 29, 41; mu­
Templos estelares, 140 Transcendendo: opostos, 162; o
Wagner, Richard, 15,26,41,62,65, dança no teor do Mito, 19; fonte
Tenda, Dama da, 109 self, 165
134,181,183,198,201,203,206 de romance, 56; natureza uni­
Tennyson, Alfred, Lord, 15, 65, Transe, 198
Wauchier de Denan, 202 versal de suas idéias, 19; usou
210 Transformação, 67, 147, 161, 163,
Wearyhall Hill, 47 pseudônimos para pessoas
Teoria Racial de Hitler, 62 164
Weston, J., 60, 107, 146, 153, 195 reais, 24; usou a palavra
Terceira Continuação , 209 Transmutação: ver “Alquim ia”,
Westphalia, Lar de Wewelsburg, “Templeisen”, 31
Terceiro Olho, 26, 69 “Transformação”
Terceiro Reich, 113, 134, 136 Transmutando metais inferiores, 136
Terra Devoluta: ver também, “Rei 70 Wewelsburg, castelo de, 136 X Y Z
Whitmont, E.C., 160 Xamãs: e suas experiências, 143, e
do Graal”; aplicável hoje em Transpessoal, 165; psicologia, 165
dia, 100; como exílio, 157; Wilber, K., 166 “dom”, 143
Trevrizent, 68
como fato histórico, 92; expli­ Wilmshurst, W, 63, 135, 198 Ynis Witrin, 47
“Trono de Arches”, 48
Wolfram von Eschenbach, 20, 21, Zoroastro, doutrina de, 201
cações para a, 92, 95; e o Rei do Trovadores, 19,42, 56, 57, 65, 156,
Graal, 88, 92, 95, 153; restau­ 161
rando a, 162; símbolo de sepa­ Troyes, 12
ração de Deus, 93 Túmulo, de passagem, 141, 142
Terra, energias da, 49 Teutónico, T ü rlin , H ein rich von dem,
cavaleiro, 30; cuidando da, 162 13
Titurel, 135, 180; como self supe­
rior, 181 U
Toledo, 20,22, 56, 68; ligação com Última Ceia, 28, 177
Parzival, 56 Umbral, cruzando o, 183
A Biblioteca Rosacruz é formada por livros
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podem ser adquiridos na Seção de Suprimentos

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C r ia ç ã o M e n t a l - C u r s o em .3 módulos —Zaneli Ramos, F.R.C.
D iv in a F i l o s o f i a G r e g a , A - Stella Telles Vital fírazil, F.R.C.
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E d u c a ç ã o , uma a lq u im ia s u t i l -D a n iel Fierre
E n e r g ía s C ó s m ic a e T e l ú r i c a - Pedro Raúl Morales, F.R.C.
E n v e n e n a m e n to M e n t a l - H . Spencer Letvis, F.R.C., Ph.D.
E r a d e A q u a r iu s , A - Ary Médici Arduíno e Rosângela A. G. Alves Arduíno
E s p ír ito d o E sp aço , O - Zaneli Ramos, F.R.C.
E so te ris m o d a H is t ó r i a , O -S erg e Hutin
E s p iritu a lid a d e O r i e n t e - O c i d e n t e - Philippe Laurent
E v id ê n c ia s - m o r t e . r e f.n c a r n a ç â o . c a rm a - Pedro Raúl Morales, F.R.C.
F e m in in o A t i v o , F e m in in o S o i a r - Valérie Dupont
F r a g m e n to s d a S a b e d o r ia O r i e n t a l - e m 3 v o lu m e s - Upanishads
G r a n d e P irâ m id e , S a b e d o r ia R e g is tr a d a em P e d ra , A -Salvatore Tasca
G r a n d e s In ic ia d a s, A s -H élèneBernard
H abi t a n t e d e D o is P ia n f.ta s , Um -P h yloso Tibetano
H f.ra n ç a E s p ir itu a l d o E g it o A n t i g o , A -Christian Larré
H erm es T r is m f.g is to - Ensinamentos Flerméticos
H istória da A morc na J urisdição de L íngua P o r tu g u e sa , A
Homf.m - A l t a e Ô m e g a d a C r ia ç ã o , O - E m 4 v o lu m e s - Relatórios do Departamento de
Pesquisas da Universidade Rose-Croix —San fose, Califórnia. U.S.A.
H o m em -D eu s, O -Jean-Baptiste Willermoz
Id e a i. E t i c o d o s R o s a c r u z e s , O - Serge Toussaint, F.R.C.
I n i c ia ç ã o à A s t r o n < >mia - c m 2 v o lii m e s - Euclides Bordignon G randk L o ja D a J u r is d iç ã o df . L ín g u a P o r t u g u e s a
I n t r o d u ç ã o A P a r a p s i c o l o g í a - C urso - Pedro R a ú l Morales, F.R.C.
I n t r o d u ç ã o A S im b o lo o ia R i : i .\ ç ã o d e C D s

J a c o b B o e h m e - O P r ín c ip e d o s F i l ó s o f o s D iv in o s
L e g a d o d o S a b e r , O - M a x Guilmot, F.R.C. A scen são C e le s tia l - Locução: Tônio Ijtn a
L e m l r ia , o C o n t i n e n t e P e r d i d o d o P a c í f i c o - W. 5 . C ervé Á u r e o A i.v o re c e r —Textos: Antonio Roberto Soares—Experimento, Harmonização Cósmica:
L in g u a g e m M í s t i c a , A —Eduardo Teixeira Zaneli Ram os—Ijocução: Tônio Luna
Luz q u e vem d o L e s t e - c m 4 v o lu m e s —Mensagens Especiais Rosacruzes C a n to c h ã o - Coral Gregoriano da Catedral Metropolitana de Curitiba, Direção Maestro
Luz—V id a —A m o r — Mensagens de h i. Spencer Letvis, F.R.C., Ph.D. Gerardo Gorosito
M a g ia d o s S o n h o s , A -A d ilso n Rodrigues, F.R.C. C o n s c i ê n c i a C ó s m ic a - Ralph M. Lewis - Locução: Tônio Ijin a
M a n s õ e s d a A lm a - H. Spencer Letvis, F.R.C., Ph.D. D e s e n v o l v i m e n t o C o m p o r ta .m f.n t a l - V o lu m e s I a 4 - Textos Antonio Roberto Soares -
M i l A n o s P a s s a d o s - / / . Spencer Lewis, F.R.C., Ph.D. Locução Alia Haddad
M i n i s t é r i o d o I I o m e m -e s p ír jto , O - Louis-Claudede Saint-Martin D eus T o d o P o d e ro so - Textos: João Polovanic\ - Locução: L uiz Carlos Beni / Ozório
M INu t o s d e M e d i t a ç ã o e P a z - Paulo de Lacerda, Ph. D. Oliveira Netto / Clóvis Sueti / Marisa Thomas Vaz
M i s t é r i o s d a M o r t e f. d a R e e n c a r n a ç ã o , O s - Philippe Deschamps Em P a z P r o f u n d a —Textos: João Polovanicl{ —Momentos de Harmonização, Exercícios:
M is t ic is m o —Evelyn Underhill Zaneli Ramos —locução: Oliveira Netto
M o m e n t o s d f. R e f l e x ã o - Charles Vega Panuker, F.R.C. E n lf.v o E s p iritu a l —Volumes 1 d —Maestro: Paulo S. G. T. Pereira —Coordenação Geral:
Novo H om em , ü —Louis-Claude de Saint-Martin Antonio Thomazini
O n t o l o g i a d o s R o s a c r u z e s , A -S e rg e Toussaint, F.R.C. E t e r n a C a n ç ã o d a V id a , A - Regentes: em 'Ave Maris Stella”: Bruno Spadoni, nas demais
O rdem R o sa c r u z , A M O R C em P f.rc; u n t a s e R e sp o st a s , A canções: Padre José Penalva.
P a r a um a V id a M e l h o r — C u r s o em 3 v o lu m e s — Ordem Rosacruz da Criança Eu T e C o m p re e n d o - Textos: Antonio Roberto Soares—Locução: Tônio Luna
P r in c íp io s R o s a c r u z e s P a r a o L\k k o s N e g ó c io s - H. Spencer l^ewis, F R .C . Ph.D. H i s t ó r i a d o S e c r e t o E t e r n o —Texto e Música: Suprema Grande Loja, A M O R C —Ijocução
P r o c e s s o I n i c iã t i g o n o E g i t o A n t i g o , O -M a x Guilmot Tônio Luna
Q u a d r o N a t u r a i . - Louis-Claude de Saint-Martin I l l u m i n a t i - Produção e execução: Plínio de Oliveira
R f.t <>rno d a A i .m a , O J e r u s a lé m - Plínio Oliveira
R itm o s B á s ic o s - Pedro Raúl Morales, F.R.C. L e g a d o d o S a b er, O - Textos: Max Guilmot -Adaptção: Euclides Bordignon —Locução e
R o m a n c e d a R a in h a M í s t i c a , O - Raul Braun montagem: Oliveira Netto
R o s a + C r u z , H i s t ó r i a e M i s t é r i o s - C/iristian Rebisse M o m e n to s d e R e fle x ã o - Textos: Charles Vega Parucker —Locução: Tônio Luna
S e r n o S e r - T e o r e m a f. C r k d o d a V id a H u m a n a - Z a n e li Ramos, F.R.C. M u n d o C r ia n ç a - Produção e execução: Plínio de Oliveira
S< >nhos M e n s a g e ir o s d aA i„m a-/ ?o/^ ?v tílais P r e c i s o df. t i - Texto: Euclides Bordignon - Locução: Paulo Roberto de Oliveira e Nelson
S u rsu m C o r d a —Xavier Cuvelier-Roy Martins
T e m p lo d o C o r a ç ã o , O —Ijouis-Claude de Saint-Martin P ro fe ta , O - V o lu m e s 1 c 2 —Autor: Gibran K halil Gibran —Tradução: Mansour Challita
T r i u x j i a d o s R o s a c ru z e s , A - Locução: Tônio Luna e Maria Angela Molteni
U m a A v e n t u r a E n t r e o s R o s a c r u z e s - Franz Hartmann, F.R.C. R e f l e x õ e s e R e la x a m e n t o - V o lu m e s 1 e 2 —Texto: Tônio Luna —Locução: Tônio Luna
U niverso d o s N ümf .ros , O Senhor —Textos: Jam il Snege - Locução: Tônio Luna e Maria Angela Molteni
V n >a E t e r n a , A - Baseado nos escritos de John Fis/çe S in fo n ia M ís tic a R o s a c ru z P a r a o T e r c e ir o iM iií;m o - Produção e execução: Plínio de Oliveira
V id a M í s t i c a d f. Je su s, A - H . Spencer Lewis, F.R.C., Ph.D. S< >ns V o c á li c o s - Gravados no interior da Câmara do Rei, da Pirâmide de Qttéops
V id a S e m p it e r n a - M / n V Corelli V ô o s d a A lm a - Produção e exeatção: Plínio de Oliveira
V o c ê M u d o u ? —Charles Vega Parucker, F.R.C. V ó s C o n f io , A —V o lu m e s I a 5 —Textos: do Livro A Vós Confio —Locução: Tônio Luna
V ó s C o n f i o , A - Revisado por Sri Ramatherio
Z a n o n i - Edtvard BulwerLytton
Propósito da Ordem Rosacruz
A Ordem Rosacruz, AMORC é uma organização interna­
cional, de caráter cultural, fraternal, não-sectário e não-
dogmático, de homens e mulheres dedicados ao estudo e
aplicação prática das leis naturais que regem o universo e a
vida.

Seu objetivo é promover a evolução da humanidade através


do desenvolvimento das potencialidades de cada individuo
e propiciar urna vida harmoniosa com saúde, felicidade e
paz.

A Ordem Rosacruz oferece um sistema eficaz e comprovado


de instrução e orientação para o autoconhecimento e
compreensão dos processos que determinam a mais alta
realização humana. Essa profunda e prática sabedoria,
cuidadosamente preservada e desenvolvida pelas Escolas
de Mistérios esotéricos, está à disposição de toda pessoa
sincera, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.

Para mais informações, os interessados podem solicitar o


informativo gratuito “O Dominio da Vida”, escrevendo ou
telefonando para:

O rd em R osacru z, A M O R C
G ra n d e L oja da Ju risd ição de L ín g ua Portuguesa
Rúa N icarag u a, 2 6 2 0 —B acacheri —8 2 5 1 5 -2 6 0
C u ritib a —P R —B rasil
C aixa Postal 4 4 5 0 - 8 2 5 0 1 - 9 7 0
Fone: (0xx41) 3 5 1 -3 0 0 0
Fax: (0xx41) 3 5 1 -3 0 6 5 e 3 5 1 -3 0 2 0
Site: w w w .am orc.org.br
Missão Rosacruz

A Ordem Rosacruz, AMORC é uma *


Organização Internacional de caráter
místico-filosófico, que tem por MISSÃO -
despertar o potencial interior do ser
humano, auxiliando-o em
seu desenvolvimento, em espírito de
fraternidade, respeitando a liberdade
individual, dentro da Tradição e
da Cultura Rosacruz.
Quem de nós não gostaria de conhecer mais sobre os mistérios que envolvem o Graal
e obter respostas para perguntas como: teria sido o Cálice Sagrado o mesmo Vaso
usado por José de Arimatéia para colher o sangue do Mestre Jesus? e ainda, será o Graal
uma lenda, um mito, símbolo da via iniciática ou tudo isto está envolto num mistério
difícil de decifrar?
No livro A Busca do Graal —Empenho de Transcendência - o autor Earle de Motte nos
fornece algumas pistas para que possamos tentar sua compreensão. Uma leitura que,
além de fascinante e envolvente, é bastante esclarecedora, com perspectivas psicológicas
e místicas que facilitam a compreensão dos segredos da auto-realização.

Outros importantes assuntos tratados nesta obra incluem:

Fontes megaliticas, célticas, orientais e cristãs do Mito do Graal


O movimento do Graal como parte da Tradição Iniciática e dos Mistérios
Associações tempLírias, cátaras e rosacruzes, com o Graal
Interpretações da metáfora Rei Pescador I Terra Devoluta
A "Lança do D estino”
O “Graal Negro ”
A Deusa e o Graal
O Desenvolvimento do Mito, de Chrétien de Troyes a Richard Wagner

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