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Central

Sitcom de
Evana Ribeiro

Episódio especial de Natal


“E a parede, como fica?”
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CENA 01 – CASA DE DOMI/SALA – INT – TARDE


Domi está sozinha, cercada por várias sacolas repletas de enfeites
natalinos, trocando os enfeites de sua árvore de natal. Na rádio toca
uma música Natalina qualquer. Neide entra.

NEIDE – De novo bulindo nessa árvore, Domi?

DOMI – Comprei uns enfeites novos que esses aqui tão muito velhinhos.

NEIDE – Pra mim eles tão novinhos. Você só tá trocando uns enfeites
bregas por outros piores.

DOMI – Bregas nada. Eles são fofos.

NEIDE – Então tá, a ultrapassada aqui sou eu. Depois não reclame se a
árvore envergar por causa do peso.

DOMI – Prometo que não exagero.

Domi continua trocando os enfeites da árvore, mas pára ao ver a


parede riscada com a sigla C.A.D.

DOMI – Tia! Tia, cadê o Fred?

NEIDE – Tá no quarto.

DOMI – Chama ele pra mim, por favor?

NEIDE – Tá bom. (grita) Frederico!


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CORTA PARA

CENA 02 – CASA DE DOMI/QUARTO DE FRED – INT – TARDE


Fred está ouvindo música e dançando desengonçadamente. Ouve,
em off, os gritos de Neide.

FRED – Já vai!

Fred sai do quarto dançando.

CORTA PARA

CENA 03 – CASA DE DOMI/SALA – INT – TARDE


Fred entra e encontra Domi parada, entre a árvore de Natal e a
inscrição na parede.

DOMI (indica a parede riscada) – Fred, o que é isso?

FRED – Ô, Domi... Assim, eu acho que é uma parede. Mas como tudo na
vida é relativo...

DOMI – E esse garrancho aqui?

FRED – Ah... tô conhecendo! Essa letra parece muito com a minha.

DOMI – É, esse garrancho aqui é seu!

FRED – Ah, tá. E por que tu me chamou mesmo?

DOMI – Oh, cabeça de cone... Isso não te diz nada?


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Fred olha para cima, pensativo.

FADE PARA

CENA 04 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE


Flashback de cena do primeiro capítulo.

DOMI – Eu não acredito...

FRED – Mas vai ser um sucesso! Como você ainda não acredita?

DOMI – Eu não acredito que você riscou a parede, seu idiota!

FRED (olha para a parede) – Ah, o fim do ano tá chegando mesmo...


Depois a gente pinta.

FADE PARA

CENA 05 – CASA DE DOMI/SALA – INT – TARDE


Continuação da cena 03.

DOMI – Lembrou agora?

FRED – Ah, sim! Lembrei.

DOMI – E aí?

FRED – Vamos deixar pro ano que vem?


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DOMI – O ano que vem é amanhã!

NEIDE – Quem fala muito isso é Inês...

DOMI – E eu quero essa parede branquinha de novo antes da ceia de


Natal.

FRED – Ô, Domi, que chatice! Essa sigla na parede é o espírito da


Central de Atendimento aos Desesperados! É o nosso brasão! É o que
faz a Central ser Central!

DOMI – Não é a sigla que atende os telefonemas. Vai, Fred, pinta essa
parede!

FRED – Mas Domi, tá muito em cima. Onde é que eu vou arrumar um


cara que pinte isso aí? Já tá todo mundo ocupado... E é só uma parede.

NEIDE – Ó, já que é só uma parede, porque é que você mesmo não


pinta?

FRED – Eu?

DOMI – Boa idéia, tia! Você mesmo pinta a parede, Fred.

FRED (irônico) – Olha a minha cara de quem vai. Já tô indo...

DOMI – Nem se eu desse uma coisa que você quer muito? Algo tipo...
uma camisa oficial do seu querido Sport? Não, melhor: um kit oficial de
torcedor, com camisa, bandeira, e tudo mais que tiver pintado de
vemelho e preto e com um leão desenhado.
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Fred olha para Domi, com ar interrogador. Parece não acreditar no


que acaba de ouvir.

CORTA PARA

CENA 06 – ILHA DO RETIRO – INT – TARDE


Imagens de um jogo do Sport Club do Recife. A arquibancada está
lotada de torcedores, e entre eles está Fred, gritando sem parar.

NARRADOR – Esse maluco aí que vocês estão vendo berrando que nem
uma mocinha histérica no show dos Backstreet Boys é o nosso amigo
Fred. Pelo time ele faz qualquer coisa, inclusive ficar gritando que nem
um idiota.

CORTA PARA

CENA 07 – RUA – EXT – NOITE


Uma mega carreata de torcedores do Sport passa na frente da
casa de Domi. Entre eles, está Fred, em cima de um carro, com a
camisa amarrada na cabeça. Corta para Domi e Lolita, na frente da
casa. Domi acena desapontada com a cabeça, enquanto Lolita, com uma
corneta vermelha e preta na mão, também faz algum barulho.

DOMI – E depois as fãs do Felipe Dylon é que são histéricas! O que você
me diz disso, Lolita?

Lolita responde apitando com a corneta. Domi fica bufando de


raiva.
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CORTA PARA

CENA 08 – CASA DE DOMI/SALA – INT – TARDE


Continuação da cena 05.

FRED – Oferta tentadora, mas ainda tô achando pouco.

DOMI – Alô, som, sabe quanto é que custa esses bagulhos todos que eu
te prometi?

Fred fica calado.

DOMI – Vai ser o presente de Natal mais caro que tu já ganhou na vida.

FRED – E pra isso eu tenho que pintar a parede.

DOMI – Justo.

FRED – De que cor você quer?

Domi sorri, triunfante.

CORTA PARA

CENA 09
Tomada da casa de Lolita.

CORTA PARA
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CENA 10 – CASA DE LOLITA/SALA – INT – NOITE


Lolita está deitada no sofá, vendo televisão e comendo Doritos.
Alfredo entra, eufórico.

ALFREDO – Lolita! Tenho novidades!

LOLITA – E pelo jeito são boas, certo?

ALFREDO – Isso!

Alfredo fica sorrindo triunfante.

LOLITA – E não vai dizer o que é?

ALFREDO – Ah, é, tinha esquecido disso.

LOLITA – O que é?

ALFREDO – O partido aprovou minha candidatura a prefeito!

LOLITA – É o quê?

ALFREDO – Isso mesmo! Até parece que estou vendo... Alfredo Cabral, o
novo prefeito dessa cidade!

LOLITA – Assim... E o que você ia fazer se fosse prefeito?

ALFREDO – Ah, ainda não pensei nisso. Depois das festas eu vejo... Mas
eu tava pensando em outra coisa.
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LOLITA – No que dessa vez?

ALFREDO – Se você tentasse a carreira política também?

LOLITA (surpresa) – Hã?

ALFREDO – É que eu fui guardar seu presente de Natal lá no meio das


suas coisas, como faço todo ano, e acabei achando um caderno cheio de
anotações... Uma plataforma muito boa!

LOLITA – É?

ALFREDO – Eu sei que não devia ficar mexendo nas suas coisas, mas,
como dizem os meninos por aí, achei massa.

LOLITA – Ah, valeu, mas eu só tava rabiscando...

ALFREDO – Mas pensa direitinho na idéia, tá?

LOLITA – Tá bom...

Alfredo sai. Lolita, novamente sozinha, não consegue se


concentrar na televisão.

CORTA PARA

CENA 11 – PRAÇA – EXT – NOITE


Lolita e Domi tomam sorvete sentadas em um banco da praça.
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LOLITA – Que milagre você não estar com o Alpatino hoje! Depois que
começou a namorar, tu ficou toda errada.

DOMI – Errada por quê?

LOLITA – Esquecendo dos amigos.

DOMI – Desculpa. É que sei lá... Eu nunca tive um namorado antes dele.

LOLITA – Pois sim. Mas deixa eu te contar a novidade. Alfredo se


candidatou a prefeito também.

DOMI – Uau... A briga vai ser boa então.

LOLITA – E ele também quer que eu me candidate a vereadora!

DOMI – Ih, lascou. Tu já falou pro Marião se vai apoiar ele?

LOLITA – Não, porque eu ainda tava pensando. Mas agora... Agora eu


me lasquei!

DOMI – Calminha, não estressa. A gente vai dar um jeito... Vou


perguntar pro Alpa o que ele faria, ele tem idéias ótimas.

LOLITA – Certo, certo...

As duas continuam tomando sorvete.

CORTA PARA
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CENA 12
Tomada aérea da casa de Domi. Efeito de transição noite/dia.

CORTA PARA

CENA 13 – CASA DE DOMI/QUARTO DE FRED – INT – DIA


Fred ainda está dormindo. Domi entra usando um chapéu feito de
jornal e um pincel.

DOMI – Olha a hora! Olha a hora do trabalho!

FRED (sonolento) – Eu já vou, mamãe...

DOMI (joga o chapéu de jornal em cima dele) – Levanta daí, preguiçoso!

FRED – Ei, que é isso? Isso é jeito de entrar no quarto dos outros?

DOMI – Já passou da hora do senhor começar o servicinho lá na sala.

FRED – E o meu presente?

DOMI – Vou comprar.

FRED – Exijo pagamento adiantado.

DOMI – Vai te lascar, Fred! Olha, tô indo agora comprar suas coisinhas.
Pense no sacrifício que a sua irmã está fazendo! Ir se meter em loja de
artigo esportivo... Haja paciência!
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Domi sai, deixando o chapéu e o pincel. Fred os pega e sai do


quarto.

CORTA PARA

CENA 14 – LOJA DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO – INT – DIA


Fred está dando voltas entre as latas de tinta. Marinho se
aproxima dele.

MARINHO – Opa! Tá perdido?

FRED – Mais ou menos. Tô procurando uma tinta... Só que eu não sei


qual é a cor certa.

MARINHO – É pra pintar o quê?

FRED – A parede da sala lá de casa. E eu tenho que fazer isso hoje,


senão a Domi vai me esquartejar e servir na ceia.

MARINHO – Se quiser ajuda... Qual é a cor que você tá procurando?

FRED – Branco.

MARINHO – Mas qual branco?

FRED – Branco, cara! Eu só conheço um branco.

MARINHO – Mas olha aqui: branco gelo, branco neve, branco opaco...

FRED – Tem branco encardido?


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MARINHO – Branco encardido?

FRED – É o que mais parece com a parede lá da sala.

MARINHO – Vamos procurar algo lá nos beges.

Marinho passa na frente e Fred o segue. Travelling acompanhando


a caminhada dos dois.

FRED – Você tá ocupado, né?

MARINHO – Nada, só vim aqui falar com o gerente da loja porque o


velho tá querendo dar uma festa de pré-reveillón pra anunciar a
candidatura dele a prefeito e pra isso a gente precisa de patrocínio,
certo?

FRED – Marião pra prefeito?

MARINHO – E Marinho pra vereador!

FRED – Tu de vereador?

MARINHO – É.

Fred olha para cima, pensativo.

FRED – Isso deve ser legal...

MARINHO – O quê?
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FRED – Nada, pensei alto.

MARINHO – Então vamos continuar procurando a tinta, tá?

FRED – Tá.

Os dois continuam andando.

CORTA PARA

CENA 15
Tomada da área comercial da cidade. Surge o letreiro com os
dizeres: ‘enquanto isso, em uma loja qualquer de artigos esportivos...’

CORTA PARA

CENA 16 – LOJA DE ARTIGOS ESPORTIVOS – INT – DIA


A loja está cheia. A maioria das pessoas está usando camisas de
times de futebol. Domi caminha entre as pessoas, um pouco perdida.

DOMI – Meu Deus... Nunca pensei que essas coisas de time de futebol
fossem tão procuradas. Pelo menos não no Natal!

VENDEDOR – Posso ajudar, moça?

DOMI – Sim, muito! Eu tô procurando a camisa oficial do Sport... E tudo


mais que tiver aí do Sport.
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VENDEDOR – A gente tem algumas coisas aqui. Espere só um


pouquinho.

O vendedor se afasta e Domi fica olhando as vitrines, repletas de


camisetas, bolas, e outros artigos n cores e emblemas de times de
futebol.

CORTA PARA

CENA 17
Tomada da casa de Juliana. Surge o letreiro com os dizeres: “não
muito longe dali...”

CORTA PARA

CENA 18 – CASA DE JULIANA/SALA – INT – TARDE


Juliana está sozinha em casa, com a televisão ligada em um
programa de fofocas, e lendo um dicionário de nomes para bebês. De
repente, ela larga o livro, levanta e começa a andar de um lado para o
outro. Depois pega o telefone e disca alguns números.

CORTA PARA

CENA 19 – CASA DE JUDITH/SALA – INT – TARDE


Judith fala ao telefone com Juliana.

JUDITH – Como é? Tem certeza disso?

JULIANA – Tenho! Tá na hora, eu tenho que ir pro hospital.


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JUDITH – Ce tá sozinha?

JULIANA – Tô, né, mãe?

JUDITH – Calma, não se mexa. Já, já seu pai chega aí...

JULIANA (grita) – Eu tenho que me mexer!

JUDITH – Tá, tá bom...

Judith desliga o telefone e também fica andando pela sala,


nervosa.

JUDITH – Ah, Jesus... Se Maria passou por tudo isso quando foi lhe
parir, tem é que ser considerada santa mesmo!

Judith sai da casa correndo.

CORTA PARA

CENA 20
Fecha no relógio digital, que mostra o seguinte horário: 17:00.

CORTA PARA

CENA 21 – CASA DE DOMI/SALA – INT – TARDE


Fred está pintando a parede, com muita preguiça. A campainha
toca.

NEIDE (vinda da cozinha) – Deixa que eu abro...


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Neide abre a porta e dá de cara com Judith.

NEIDE – Você, aqui?

JUDITH – É.

NEIDE – Quer o quê?

JUDITH – Um carro!

NEIDE – Hã? Bebeu?

JUDITH – É sério! Meu neto vai nascer agora, preciso muito de um


carro!

NEIDE – É? Peraí, um minutinho. (grita) Frederico!

Corta para Fred, ainda pintando a parede (mais sujando tudo do


que pintando)

FRED (grita) – O que foi?

NEIDE (off) – Cadê a chave do carro? Preciso dar uma saída!

FRED (espantado, deixa o pincel cair no chão) – O carro? Meu


corcelzinho?
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NEIDE (entra e vai procurando a chave) – Vou levar a filha da dona


Judith lá no hospital. Enquanto isso, vai olhando o bolo que eu deixei no
forno, tá?

Antes que Fred possa responder qualquer coisa, Neide encontra a


chave do carro e sai correndo. Fred fica com cara de bobo.

FRED – Agora sim, eu tô lascado.

CORTA PARA

CENA 22 – CARRO – INT – DIA


Judith e Neide estão dentro do carro. Neide liga o carro, que anda
um pouco e estanca.

JUDITH – Tem certeza que você sabe dirigir?

NEIDE – Ah, eu já dirigi uns carangos quando era mocinha. E já vi


minha filha jogando aquele videogame dos carrinhos, eu acho... Não é
tão difícil assim... Difícil é lembrar que pedal faz o que aqui!

JUDITH – Ai, meu Deus!

NEIDE – Calma, a gente vai sair daqui direitinho.

Judith faz o sinal da cruz e Neide liga o carro de novo, saindo bem
devagar.

NEIDE – Eu tenho certeza que Priscila já jogou um jogo de carrinho no


videogame...
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Corta rápido, mostrando o pensamento de Neide (a imagem deve


ficar meio embaçada). Mostra a sala da casa dela, modestamente
decorada. Priscila, aqui uma menina de aproximadamente oito anos,
joga videogame sentada no chão, enquanto Neide está perto dela,
assistindo ao jogo.
Fecha na televisão, mostrando a seqüência de jogos (com seus
respectivos temas):
a) Antartic Adventures
b) Super Mario World
c) Yoshi’s Cookie
d) Um jogo qualquer que se passe no espaço

Volta a mostrar Neide no presente, atrapalhada com o carro.

NEIDE – Ela não jogava...

CORTA PARA

CENA 23
Tomada da casa de Domi. Efeito de transição tarde/noite.

CORTA PARA

CENA 24 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE


Fred continua pintando a parede. Neide entra, se encosta à porta e
suspira, aliviada.

NEIDE – Graças a Deus!


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FRED (larga o trabalho e corre para cima da tia) – Meu carro! Tá inteiro,
né? Nenhum amassadinho, né?

NEIDE – Nossa... Você se importa mais com o amassado de um carro do


que com os parentes!

FRED – Amassou ou não amassou?

NEIDE – Não, mas chegou perto.

FRED – O quê?

NEIDE – Mas não ia ser culpa minha! Tinha um doido numa moto, dando
cavalo de pau, quase que batia atrás.

FRED – Sei... Não foi a senhora mesma que tava dando cavalo de pau e
ia batendo na moto inocente.

NEIDE – Como eu ia fazer isso se nem sei dirigir?

FRED – Não sabe dirigir?

NEIDE – Não!

FRED – E como a senhora me conduz o carro sem saber dirigir?

NEIDE – Tem jeito pra tudo nessa vida. E no final o babado lá da Juliana
era alarme falso. O bebê não nasceu.

FRED – Ah, tá...


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NEIDE – E o bolo?

FRED – Que bolo?

NEIDE – O bolo que eu...

Neide para de falar e começa a ‘cheirar o ar’. Depois olha para


Fred, furiosa.

NEIDE – Você queimou meu bolo de frutas!

Neide entra correndo na cozinha.

CORTA PARA

CENA 25 – CASA DE DOMI/COZINHA – INT – NOITE


Toda a cozinha está coberta por uma névoa de fumaça. Neide
entra e começa a tossir.

NEIDE – Ai, Jesus! Domi vai ter um treco quando vir o que aconteceu
com a cozinha... E o meu bolo!

Neide coloca um par de luvas e abre cuidadosamente o forno, que


libera mais uma boa quantidade de fumaça. Neide tem um acesso de
tosse, e tira do forno o bolo, agora transformado em carvão.

NEIDE – Ai, agora estamos sem bolo! E tudo por causa de quem? De
quem? Sua, Fred!
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FRED (entra, usando no rosto uma máscara improvisada de jornal) –


Ora essa, tudo é culpa do Fred! A parede foi riscada? Foi o Fred. O bolo
virou carvão? Foi o Fred. Só falta dizer que Papai Noel veste vermelho
em vez de azul por minha culpa!

NEIDE – Eita, bichinho exagerado... Me ajuda aqui a limpar tudo antes


que a sua irmã chegue e...

FRED – E nos transforme em prato principal da ceia...

Os dois começam a organizar a cozinha.

CORTA PARA

CENA 26 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE


Domi entra, carregando apenas uma sacola contendo o presente
de Fred. Ela percebe a fumaça saindo da cozinha e a parede cuja pintura
ainda não foi concluída.

DOMI – O que é isso? Fred! Tia Neide!

Neide sai correndo, toda desarrumada.

NEIDE – Filha, eu explico. Isso tudo foi uma missão da Central...

CORTA PARA

CENA 27
Fecha no relógio digital, que indica o horário: ’20:00’.
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CORTA PARA

CENA 28 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE


Domi, Fred e Neide terminam de arrumar a casa.

DOMI – Só aqui mesmo... Só aqui!

FRED – Bom, pelo menos a cozinha não explodiu e dá tempo de fazer


outro bolo.

DOMI – Ah, é? Vai comprar o material todinho de novo e depois volta


pra acabar de pintar a parede... Que tá um horror.

FRED – Minha irmã! Tudo é motivo pra reclamar agora?

NEIDE – É melhor todo mundo parar de brigar aqui. Olhem o espírito


natalino...

DOMI – É verdade.

FRED – Ah, Domi... Eu preciso de um favorzinho teu. Coisa


pequenininha.

DOMI – O que é?

FRED – Conta pro Alpatino que tia Neide saiu com o carro. Como tu é a
namorada dele, sabe como acalmar...

DOMI – Tá bom...
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CORTA PARA

CENA 29
Tomada da casa de Domi. Efeito de transição noite-dia-noite.

CORTA PARA

CENA 30 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE


Todos já estão reunidos para a ceia de Natal. Fred e Priscila estão
juntos, frente a parede recém-pintada.

FRED – Essa aqui fui eu que pintei. Que tal? Tenho ou não talento pra
coisa?

PRISCILA – Tá na média. Mas qualquer um faz isso, não é mesmo?

Neide se aproxima deles.

NEIDE – Filhota, vem aqui rapidinho por favor.

Neide vai para outro canto da sala com a filha, onde tem um
presente.

NEIDE – Te trouxe aqui pra dar o seu presente de Natal. Eu não sabia
direito o que dar, mas comprei hoje nas pressas. Espero que goste...

PRISCILA – Ah, mamãe... Obrigada!

Priscila abraça a mãe e depois abre o seu presente. Fica surpresa


ao perceber que se trata de um videogame.
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PRISCILA – Caramba... Será que eu ainda sei jogar?

NEIDE – Bem, aí tem um monte de jogos de carrinhos. Você joga e me


ensina depois, tá?

Priscila fica olhando para a mãe, sem entender nada.


Em outro canto, Lolita e Hericlépiton conversam. Lolita olha o
tempo todo para Alfredo, que está conversando com Fred e bebendo.

LOLITA – Tu me dá uma luz?

HERICLÉPITON – Tá me achando com cara de Celpe?

LOLITA – Eita, chato... Só me diz o que você faria se fosse eu.

HERICLÉPITON – Se eu fosse tu, pra começo de conversa, não me metia


com esses negócios de política não. Ainda mais com o Alfredo e o Marião
lá brigados.

LOLITA – Mas eu tenho umas idéias maneiras. E não quero chatear


ninguém...

HERICLÉPITON – Só existe uma solução nesse caso. (t) Ouça o espírito.

Hericlépiton deixa Lolita sozinha.

LOLITA – É isso que eu ganho por querer a opinião de um espírito de


porco que nem esse meu primo!
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Perto da parede, Alfredo e Fred continuam conversando.

FRED – Sabe o que é, Alfredo, eu achei muito interessante esse negócio


de ser vereador. Resolvi sair candidato também.

ALFREDO – Legal! Lolita também vai. Nós três juntos vamos ser uma
coligação muito forte... Já pensou? Eu na Prefeitura e vocês na Câmara
Municipal?

Lolita se aproxima deles com um copo de refrigerante na mão e o


vira de uma vez só.

ALFREDO – Lô! Pensou na proposta?

LOLITA – Pensei.

ALFREDO – E aí?

LOLITA – Vou me candidatar. Mas vou ser uma candidata independente.


Não vou fazer campanha pra prefeito nenhum.

ALFREDO – Como assim?

LOLITA – É isso. Por enquanto vou fazer só a minha campanha.

ALFREDO – Sei... Mas vai votar em mim, né?

LOLITA – Pode contar com isso.

No sofá, Alpatino e Domi namoram.


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DOMI – Amor, tenho uma coisa pra te falar.

ALPATINO – (beijo) Fala, minha vida.

DOMI – Eu pensei em como te dizer isso, mas vai de qualquer jeito


mesmo. (t) Tia Neide usou o carro, mas ela não sabe dirigir. Pronto,
falei.

ALPATINO – Como é que é?

Quando Alpatino está quase se levantando para ir falar com Neide,


o telefone toca.

DOMI – Central de Atendimento... Feliz Natal, dona Judith! (t) Como? É?


Um minutinho, a gente chega aí já. (desliga) Parou tudo! O neto de
dona Judith vai nascer.

FRED – De novo?

DOMI – Eles precisam do carro pra levar a Juliana pro hospital. Quem
vai...

ALPATINO – Eu vou, eu dirijo, eu faço, ninguém encosta no meu Corcel.

Todos saem alvoroçados da casa e vão entrando no Corcel.

DOMI (off) – Ei! A gente vai levar uma grávida no hospital, não vai
passear não!
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Priscila, Alfredo, Hericlépiton, Lolita e Neide saem do carro, que sai


cantando pneu.

CORTA PARA

CENA 31 – RUA – EXT – NOITE


Na frente da casa de Juliana, Juliana, Judith, Flávio e Hélio
esperam. O Corcel estaciona na frente e Domi sai, e Juliana entra com
Judith. Flávio e Hélio ficam parados.

DOMI – O que foi? Entrem aí!

HÉLIO – É melhor não.

FLÁVIO – Elas tão deixando a gente nervoso... Ai, eu tô com medo.

DOMI – Mas deixe de sua frescura, rapaz! Você é o pai! Você acha que
José fugiu da raia quando Maria tava pra botar Jesus no mundo?

HÉLIO – Não, mas o que tem Jesus, Maria e José a ver com isso?

DOMI – É que é véspera de Natal e eu quis fazer uma analogia maneira


sobre isso. Posso?

FLÁVIO – À vontade.

DOMI – Agora entrem aí...

JULIANA (grita, em off) – Vamos logo que não vai dar tempo!
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DOMI – Tá vendo vocês? Bem, fiquem aí, seus frouxos.

Domi entra no carro.

CORTA PARA

CENA 32 – CARRO – INT – NOITE


Alpatino segue dirigindo, muito concentrado, enquanto Domi e
Judith tentam distrair Juliana, que está com muitas dores.

JUDITH – Ju, vamos cantar aquela música que eu...

JULIANA – Que música, mãe? Que música?

Judith se prepara para cantar.

FRED – Não, por favor! Desse jeito quem vai entrar em trabalho de
parto sou eu.

JUDITH – Mas eu nem comecei!

JULIANA – Mãe, não vai dar tempo!

ALPATINO – Pra que hospital a gente vai?

DOMI – Eita, é mesmo. Pra que hospital a gente vai?

JUDITH – Vai pro...

JULIANA (grita) – Vai nascer agora!


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ALPATINO (freia o carro bruscamente) – Agora? Agora não!

FRED – Com uma freada dessas, tu ainda quer que o pirralho fique aí
dentro? Fala sério, cunhado!

JUDITH – Meu Deus! Agora é sério!

JULIANA - Abre a porta do carro, abre a porta!

FRED – Tá pensando em sair assim?

DOMI – Não, seu mané, é pra Ju se acomodar direito!

Domi e Judith saem do carro e ajudam Juliana a ficar deitada no


banco de trás.

FRED – O que a gente faz? Chama a ambulância?

DOMI – Isso, chama a ambulância!

FRED – Mas vai demorar tanto...

DOMI – Chama logo a droga da ambulância!

Fred pega o celular e liga.

CORTA PARA
31

CENA 33
Tomada da casa de Domi. Surge o letreiro com os dizeres
“enquanto isso, na sala da justiça casa de Dominique...”

CORTA PARA

CENA 34 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE


Lolita e Priscila jogam videogame sob o olhar atento de Neide.

NEIDE – Não tô entendendo nada... Como é que acelera? Como é que


freia?

PRISCILA – Mamãe... No próximo Natal, compre um carro de verdade e


a gente explica, tá?

As meninas continuam assistindo e Neide, desanimada, vai andar


pela sala. Encontra Alfredo sentado em um sofá, bebendo uma cerveja,
pensativo.

NEIDE – Oi!

ALFREDO – Oi!

NEIDE – Tá tão quietinho...

ALFREDO – É que tô pensando aqui no meu slogan de campanha pra


prefeito.

NEIDE – Quer ajuda?


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Alfredo dá a lata de cerveja para Neide, que bebe um pouco.

NEIDE – Se você ganhar, posso ser primeira dama?

Alfredo e Neide começam a se agarrar no sofá.

CORTA PARA

CENA 35 – RUA – EXT – NOITE


O Corcel está parado no meio da rua, com as portas abertas.
Judith e Domi estão ajudando no parto. Alpatino anda de um lado para o
outro, impaciente, e Fred cobre o rosto com as mãos.

FRED – Eu não posso olhar, não posso olhar...

ALPATINO – Deixa de ser mole, rapaz! Nunca viu documentário do


Discovery Channel não?

FRED – Não, que eu sou pobre.

ALPATINO – Eu também sou, ora. Mas sempre se pode pedir arrego na


casa dos amigos, né?

FRED – A única coisa que eu vi na TV a cabo foi a final do Brasileirão


Série B no bar lá perto da igreja. E o dono do bar não deixa a gente
mudar o canal.

De repente ouve-se o choro do bebê, que acaba de nascer.

DOMI – Aleluia!
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JUDITH – Meu netinho, tão fofo! Ele é lindo, Ju!

JULIANA (fraca, devido ao esforço) – Dá aqui... Deixa eu ver.

Domi mostra o bebê a Juliana. Fred vem correndo para perto


delas.

FRED – Eu também quero ver, também quero ver...

Fred desmaia ao ver o bebê, que ainda não está limpo.

ALPATINO (indo reanimá-lo) – Eita que mais frouxo que esse tá pra
nascer!

A ambulância chega. Juliana, o bebê e Fred são colocados na


ambulância. Judith vai com eles.

DOMI – Noite louca essa... O bebê nascendo na véspera do Natal.

ALPATINO – Devem ter nascido outras tantas agora. Mas nenhuma


dentro de um carro. Muito menos em um Corcel bege que foi comprado,
roubado pelo ex-dono por falta de pagamento, comprada de volta...
Enfim.

DOMI – Vamos dar uma passadinha lá na casa da dona Judith pra


avisar?

ALPATINO – Vamos lá...


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Alpatino e Domi entram no carro e fazem a volta.

CORTA PARA

CENA 36
Tomada do Hospital Infantil pela manhã.

CORTA PARA

CENA 37 – HOSPITAL INFANTIL/MATERNIDADE/QTO DE JULIANA – INT


– DIA
Juliana termina de amamentar o bebê. A volta dela, estão Domi,
Fred, Hélio, Judith e Flávio, fazendo uma grande algazarra, falando ao
mesmo tempo.

JULIANA – Vocês querem parar? Se não eu vou chamar a enfermeira pra


botar vocês todos pra fora.

FLÁVIO – Mas meu bem, a gente tem que decidir o nome da criança!
Não dá pra ficar chamando ele de bebê e filhote o tempo todo, né?

JULIANA – É, não dá. Mas eu preciso pensar!

HÉLIO – Mas Julizinha, minha filha, a gente já não tinha combinado que
o nome dele ia ser Genival?

FRED – Sangue de Adão... Não tem um nome pior pra traumatizar o


pirralho? Se não tiver, eu arranjo um. Alpatino...

Domi dá um tapa na cabeça de Fred.


35

DOMI – Vamos resolver a questão de uma forma democrática. Quem


quer que o nome do bebê seja Genival, por favor levante a mão.

Apenas Hélio levanta a mão. Juliana move um pouco os dedos,


indecisa. Hélio segura o braço do bebê e o ergue delicadamente.

HÉLIO – Aí. Dois votos.

DOMI – Não vale influenciar voto. Ainda mais do menino que não tem
dentes e não pode se defender. Perdeu, seu Hélio. Alguma sugestão?

JULIANA – Por que vocês não vão pensar um pouco no assunto lá fora?
Tô cansada. Amor, liga a televisão pra mim, por favor!

Flávio liga a TV. Judith abre a porta para sair, mas antes todos
ouvem o locutor de um programa religioso.

LOCUTOR (off) – E o nome dele seria Emanuel, que significa ‘Deus


Conosco’. E por isso hoje comemoramos o Natal…

DOMI – Opa! Tá aí a solução! Ele pode ser Emanuel, que tal?

HÉLIO – Emanuel? Não gostei.

JULIANA – Eu tive um professor de química com esse nome.

FRED – Eu também. A sala fez abaixo assinado pra tirar o cara do


colégio, mas o professor de física pegou o papel.
36

JUDITH – Pois eu gostei!

DOMI – O nome tem tudo a ver com o dia!

HÉLIO – Pois então os que apóiam Emanuel levantem a mão.

Todos, menos Hélio, levantam a mão. Juliana ergue um pouco o


bracinho do bebê, como se ele também votasse.

DOMI – Sessão encerrada, o menino agora se chama Emanuel.

Todos comemoram.

FRED – Agora, será que dava pra gente voltar pra casa e comer a ceia
de ontem?

DOMI – Sim, vamos! Tô com uma fome...

CORTA PARA

CENA 38
Tomada da casa de Domi.

CORTA PARA

CENA 39 – CASA DE DOMI/COZINHA – INT – DIA


Domi e Fred estão comendo e conversando.

FRED – Acabei de ter uma idéia genial pro próximo Natal.


37

DOMI – Lá vem...

FRED – Veja só como é bom. Podemos aproveitar o que aconteceu hoje


para fazer nosso próprio presépio moderninho! Que tal?

DOMI – Tu é um mané, Fred.

FRED – Eu achei a idéia maneira, pôxa. Mas mudando de assunto, nessa


bagunça toda nem te falei a novidade. (t) Teu irmão aqui vai se
candidatar a vereador.

Domi fica alguns instantes sem reação.

DOMI – Como? Eu ouvi direito?

FRED – Perfeitamente. Vou sair candidato e vou ganhar!

DOMI – Ai, ai... Eu devia ter escrito pra Papai Noel esse ano, pedindo
um pouco de juízo pra colocar nessa tua cabeça de cone oco. Mas tudo
bem, fica pro próximo ano. Feliz Natal!

FRED – Feliz Natal pra você também, irmãzinha.

Eles erguem os copos de refrigerante e brindam.

********** FIM DO EPISÓDIO **********

Feliz Natal a todos os leitores de Central!!! [olha, até rimou! \o/]

Voltamos dia 14 de Fevereiro, com a segunda temporada. Não percam! ;*

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