Arede 032

Apresenta
A Rede
Novela de:
Evana Ribeiro
CAPÍTULO 32
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TV DESTINO . A REDE . CAPITULO 32 2
CENA 01 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – TARDE

Continuação da cena final do capítulo anterior. Beth
vai entrando na sala com os filhos. Felícia não se move,
nem diz nada.
TERESA (tel) – Amor, espera só um segundinho aqui

que eu vou falar com uma pessoa... (coloca o
aparelho num canto e vai falar com Beth) Que
milagre, né, cunhadinha?
BETH – Os meninos insistiram em vir te ver.

(pausa) É, desde que você chegou eles esqueceram
que tem mãe.
JÉSSICA – Eita, mãe, que dramalhão!
BETH – Enfim, eu trouxe eles aqui pra fazer uma

visitinha rápida. Enquanto isso eu fico aqui
trocando uma idéia com a famosa Felícia! Meus
filhos falam maravilhas de você, sabia?
Felícia não responde. Joyce e Catarina se entreolham,

preocupadas.
CATARINA – Ela não tá normal.
JOYCE – Eu vou lá dentro buscar alguma coisa pra

ela comer, isso deve ser fome.
Joyce vai para a cozinha. Teresa pega o telefone outra

vez e sai falando, enquanto Jéssica e Júnior ficam
conversando em outro canto da sala com Maria e Olga. Beth
senta ao lado de Felícia e Catarina fica de longe,

observando.
BETH – Acho que dei sorte de te encontrar aqui.

Vida de jornalista é bem agitada, né? Você tem
namorado? Se não tiver, espero que dê a mesma
sorte que eu dei e arrume um super partido,
daqueles pra casar. Um assim tipo o Walter, sabe?
Se bem que eu acho que vai ser meio difícil um
igual, porque Deus fez o meu amor e jogou a fôrma
fora! Mas um parecido eu tenho certeza que você
arruma. É meio difícil manter o equilíbrio tendo
um homem tão maravilhoso do seu lado e um monte
de mosca de padaria em cima dele, mas mulheres
abençoadas, como eu, conseguem tirar essas
dificuldades de letra! Só toma cuidado com os
picaretas que nem o meu cunhado, Danilo. Se ele
não deu em cima de você ainda, vai dar. Mas não
caia na dele não! Aquilo ali não presta nem pra
pano de chão.
Felícia continua ouvindo a tudo, sem esboçar nenhuma

reação. Seu olhar está perdido, como se ela não estivesse
lá. Corta para a entrada da cozinha, de onde Catarina
observa a cena, agora com Joyce, que acaba de sair.
JOYCE (baixinho) – Consegue tirar de letra, é? O

que tá rolando lá pelos corredores é outra
história...
CATARINA – Vamos lá levar esse lanche logo, que

eu não tô gostando nada, nada da cara da Felícia.
Elas voltam para perto de Beth e Felícia.

BETH – Ei, acho que eu já falei demais, não? Fala

um pouquinho de você... Eu sou tão chata assim?
CATARINA – Beth, acontece que a Felícia tá há

horas sem comer... Por isso ela não tá falando
nada.
BETH – Ah, mas assim não pode! Tem que se

alimentar, menina! Senão, como é que você vai à
luta pelo homem da sua vida?
Close em Felícia, aparentemente ainda ausente.
CORTA PARA
CENA 02 – AP. DE CATARINA/VARANDA – INT – TARDE

Teresa está ao telefone, emocionadíssima, falando com
Mick. Na cena, também mostrá-lo em sua casa. Sonoplastia:
Garota do Orkut – Saia Rodada, em volume baixo.
TERESA – A gente precisa se ver!
MICK – Mas você ainda não disse se a Felícia pode

falar comigo...
TERESA – Eu já falei que ela tá dormindo. (pausa)

Que foi, tá mais interessado nela do que em mim?
A gente se fala há tanto tempo e agora tá me
desprezando?
MICK – Não é isso... É que eu dei uma mancada

braba com a Felícia e quero que ela me desculpe.
TERESA – Que mancada?
MICK – É uma história muito comprida...
TERESA – Conta tudo.
MICK – Bom... Pra resumir... Tá bom, eu conto. Eu

beijei a Felícia à força pra minha ex-namorada
ver e o seu irmão acabou vendo também. Como ela
gosta do cara...
TERESA – Como é que é?
MICK – Eu juro que não sabia que você tava aqui!

Ela só me contou depois da confusão toda.
TERESA – Então agora tá explicado porque é que

ela tá amuada desde ontem...
MICK – Eu sou um idiota.
TERESA – É. Podia me esperar um pouquinho pra

poder sair fazendo ceninha pra ex? Ia ser muito
mais convincente.
MICK (rindo) – Ela ia te matar...
TERESA – Você ia me deixar morrer na mão da

aparecida?
MICK – Não.
Os dois ficam em silêncio por um instante.

TERESA – Você disse ‘ex’?
MICK – Até ontem, antes da confusão lá, a Elissa

era minha namorada. Só que eu armei esse circo
todo só pra ela terminar comigo, e com raiva.
TERESA – Mas tinha que terminar com raiva? Não

bastava chegar e dizer ‘olha, eu quero acabar’?
MICK – Mas eu queria que ela terminasse com raiva

de mim. Com ódio mesmo, e que não quisesse nunca
mais olhar na minha cara. Eu ia me sentir mais
aliviado de não ter uma mulher chorando por minha
causa e querendo voltar.
TERESA – Agora tá explicado porque eu me

apaixonei por você. Onde eu ia encontrar outro
sujeito que ia ter essas idéias ridiculamente
podres pra acabar um namoro? Se eu fosse você, ia
fazer a mesmíssima coisa.
Eles começam a rir.
MICK – A gente precisa muito se ver, logo.
TERESA – Eu já tinha dito isso antes.
MICK – É só dizer o dia e a hora.
TERESA – No máximo amanhã à tarde.
MICK – E o lugar?
TERESA – Hmm... Paço Alfândega?

MICK – Tá ótimo.
TERESA – Então esteja lá às duas e meia da tarde.

Se aparecer às duas e trinta e um, nunca mais
olho na sua cara nem por avatar!
MICK – O mesmo vale pra você, dona Tetê.
TERESA – Beijos.
MICK – Pra você também.
Eles desligam. A partir daqui, mostrar apenas Teresa,

que se debruça sobre a varanda, sorrindo.
CORTA PARA
CENA 03 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – TARDE

Felícia termina de comer. Beth está perto dela, agora
quieta e de quando em quando olhando para as crianças.
TERESA (grita, off) – Eu sou a mulher mais feliz

desse planeta!
JOYCE (ri) – Isso é uma casa de doido...
BETH – Ainda bem que reconhece! Com a Teresa

presente, qualquer casa vira um verdadeiro
hospício!
FELÍCIA (levanta) – Gente, se me dão licença eu

quero voltar pro quarto e dormir mais um pouco.
CATARINA (a detém delicadamente) – Ah, não vai

não! Não sem antes dizer o que é que tá
acontecendo. O que foi que teve na rua que te
deixou assim, hein?
FELÍCIA – Nada, nada! Eu só tô cansada e quero

dormir mais!
Felícia sai correndo.
JOYCE – É melhor deixar ela quieta, Cacá... Deve

ser excesso de trabalho.
BETH – Isso! Ela deve estar muito estressada,

pobrezinha.
TERESA (voltando) – Minha gente, eu preciso

dividir isso com o mundo... Inclusive com você,
Beth, querida.
BETH – Se é pra dividir com o mundo, eu tô

incluída, é óbvio.
TERESA – Vou encontrar com o Mick!
BETH – Cuidado pra não ser golpe de novo, hein?
TERESA – Não adianta urubuzar! Dessa vez a

história vai ser bem diferente. O Mick sim, é um
cara legal... Diferente daquele que eu nem quero
falar mais o nome pra não ter raiva. (pausa) Mas
cadê a Felícia?
CATARINA – Disse que queria dormir e voltou pro

quarto.
TERESA – Tô precisando ter uma conversinha com

essa moça. Já tô sabendo o que aconteceu com ela
ontem. Foi...
Teresa olha para Beth e pára de falar imediatamente.
TERESA (off) – Lá ia eu e minha boca grande.

(para as garotas) Crise de stress! O Mick
trabalha com ela e me contou tudo. Deu tilt, a
bichinha passou mal, enfim. Eu vou lá falar com
ela e dar a boa notícia.
BETH – Nossa, e eu aqui alugando a coitada! É

melhor eu voltar aqui com as crianças um outro
dia.
TERESA – Mas eles não vieram me ver?
BETH – Já viram! Outro dia o Walter traz eles de

novo.
TERESA – Então valeu.
BETH – Tchau pra vocês, foi um prazer vê-las,

meninas! Crianças, se despeçam da tia.
Júnior e Jéssica se despedem das meninas e vão embora

com Beth. Teresa senta no sofá e respira fundo.
TERESA – Ainda bem que ela já foi! (pausa) Não é

stress coisíssima nenhuma. A verdade é que ela tá
arrasada porque Walter, meu irmão, professor de

vocês e marido da diletíssima senhora que acabou
de sair daqui, é a atual paixão da Felícia. E ele
a viu sendo beijada por outro, e agora ela pensa
que não vai ter mais chance nenhuma com o bofe...
Mas eu bem que avisei que era melhor se
interessar pelo Danilo. Solteiro e afinzão! Mas
não, ela vai e se apaixona pelo outro! Sei não,
viu... Vou lá falar com ela.
Teresa levanta e vai para o quarto. Sonoplastia: Pode

ser – Pedro Mariano. [continua na próxima cena]
CORTA PARA
CENA 04 – AP. DE CATARINA/QUARTO – INT – TARDE

Felícia está deitada na cama, ao lado do laptop.
Parece ter chorado. A porta do quarto está aberta e Teresa
entra, sem fazer barulho. Senta junto dela, alisa seus
cabelos.
TERESA – Ele me contou tudo.
FELÍCIA – Ele quem?
TERESA – Mick. A gente se falou por telefone

agora, ele queria te pedir desculpas pela
fuleiragem.
FELÍCIA – Eu não queria sofrer do jeito que eu tô

sofrendo. Conheci o cara um dia desses e já tô
assim...
TERESA – Eu sempre tinha ouvido que ele

despertava altas paixões nas alunas, nas
professoras, mas nunca pensei que fosse tão
devastador assim!
FELÍCIA – E pior é que eu não queria me apaixonar

de novo, pelo menos pelos próximos meses. Ainda
tava meio baleada por conta da história do E...
TERESA (corta) – Não fala esse nome!
FELÍCIA – Eu senti que ele também tava na minha,

isso desde o dia daquela feira lá. Agora, se ele
tava, não tá mais.
TERESA – Mas... Vê só. Não tem motivo pra você

ficar aí nessa consumição toda, né? Tá aí, nova,
lindona. E o casamento do Walter tá mal das
pernas mesmo. Vai que ele tá mesmo apaixonado e
resolve largar a Beth e suas chatices pra apostar
em você!
FELÍCIA – Assim eu não quero.
TERESA – Agora lascou.
FELÍCIA – Eu não quero ser responsável pelo fim

de um casamento!
TERESA – Se a Beth é incompetente pra fazer o

marido feliz, a culpa não é sua! Agora enxuga
essas lágrimas aí e tenta esquecer o que
aconteceu, tá?
FELÍCIA – Vou tentar.
TERESA – Ah, a gente, eu e o Mick... A gente vai

se ver amanhã!
FELÍCIA (sorri melancolicamente) – Bom pra

vocês... Pelo menos uma história vai se resolver
bem aqui.
Felícia levanta da cama e Teresa a abraça.
CORTA PARA
CENA 05 – MARINFORMÁTICA – INT – TARDE

Miranda está encostada num canto da loja, olhando para
a rua, entediada.
MIRANDA – Tá aí um trabalho que eu pedi a Deus!

Ficar o dia todo olhando a rua, sem fazer nada...
Só espero que o salário seja bom.
GUSTAVO (se aproxima) – Teu nome é Miranda, né?
MIRANDA – É. Que tal essa vida de novato?
GUSTAVO – Achei que ia ser pior. Isso aqui tá às

moscas até agora!
Helena entra na loja.
MIRANDA – Estava...
Os dois vão na direção de Helena.

GUSTAVO – Boa tarde...
MIRANDA (corta, um pouco eufórica) – Professora

Helena!
HELENA – Já foi minha aluna?
MIRANDA – Não, mas uma amiga minha é. Em que

podemos ajudá-la?
HELENA – Eu quero uma câmera digital deste modelo

aqui.
Helena entrega um papelzinho para Miranda, que o lê

rapidamente e vai para dentro com ele, deixando Gustavo
sozinho com Helena. O rapaz fica um pouco intimidado.
Helena ri.
HELENA – É seu primeiro dia, não é?
GUSTAVO – É sim.
HELENA – Percebi. Mas não fica travado não, eu

não mordo.
Miranda volta com a câmera.
MIRANDA – É essa aqui.
Helena pega a caixa da câmera e acompanha Gustavo até

o caixa.
CORTA PARA
CENA 06
Tomada da Vila do Ipsep. Sonoplastia: Bob – Otto.
CORTA PARA
CENA 07 – CASA DE Mª EDUARDA/TERRAÇO – INT – TARDE

Maria Eduarda está fazendo as unhas de Jacqueline,
enquanto esta fica olhando o movimento. Frederico passa na
frente da casa e faz sinal para que a menina vá até ele.
JACQUELINE – Mãe, dá só uma paradinha aí, por

favor.
Mª EDUARDA – Agora não, menina, eu já comecei a

pintar!
JACQUELINE – Vai, é rapidinho! Prometo que não

demoro.
Mª EDUARDA – Vai logo! Agora borra esse esmalte e

eu não pinto mais nada.
Jaqueline corre para fora da casa. Frederico dá um

beijo no rosto dela.
FREDERICO – Tenho novidades pra você. Seu

presentinho vai estar na sua mão ainda hoje à
noite.
JACQUELINE – A filmadora?
FREDERICO – Sim senhorita. Agora me diga... O que

vai fazer com ela mesmo?
JACQUELINE (sorrindo) – Um filme amador... Coisa

pequena, mas acho que vai ficar legal.
FREDERICO – Então me espere hoje à noite naquele

bar onde eu fico sempre, tá bom? Vou chegar lá às
oito horas.
JACQUELINE – Tá certo. Não vou atrasar.
Eles se despedem e ela volta para a sala. Maria

Eduarda já está olhando para Jacqueline, com ar grave.
Mª EDUARDA – Posso saber o que a senhorita tanto

conversava com esse homem, dona Jacqueline?
JACQUELINE – Não posso mais conversar com os

vizinhos?
Mª EDUARDA – Esse Frederico não tem boa fama, não

quero filha minha andando com ele.
JACQUELINE – Ô, mãe, até parece que só por dizer

oi pro cara eu vou virar uma menina de má fama!
Mª EDUARDA – Já disse, não quero nem você nem sua

irmã falando com esse tal de Frederico. Nem pra
acenar um tchauzinho que seja. Dizem que quando a
filha dele morava por esses lados, até dela ele
quis abusar.
JACQUELINE (ri) – E a senhora acredita nesses

boatos?
Mª EDUARDA – Não me questiona, Jacqueline! E

deixa eu terminar de fazer tuas unhas de uma vez,
vai.
Jacqueline respira fundo, um pouco aborrecida, e senta

de novo de frente para a mãe, que recomeça a pintar as
unhas. Jacqueline volta a olhar para a rua. Sonoplastia:
Jacqueline – Kostars.
CORTA PARA
CENA 08
Tomada da UFPE à tarde.
CORTA PARA
CENA 09 – UFPE/CAC/2º ANDAR – INT – TARDE

Geysa conversa com Bruno, o mesmo BRUNO que já
apareceu com ela em outros capítulos. Ele tem uma câmera
digital na mão, que logo passa para as mãos dela.
BRUNO – Olha, toma muito cuidado com essa câmera,

tá?
GEYSA – Tá, não precisa recomendar! Eu

descarrego, dou um fim nessas fotos e te devolvo
ela inteirinha.
BRUNO – E depois eu vou deletar aquele blog,

antes que dê mais confusão.
GEYSA – Não, deixa ele lá! De lembrancinha. Foi

até divertido...
BRUNO – Tá, tá... O que importa é a gente se

livrar dessas fotos do professor pra evitar mais
confusão.
GEYSA – Tá ok. Agora vou lá pra sala, ver o fim

da aula.
Geysa entra na sala.
CORTA PARA
CENA 10 – UFPE/CAC/SALA DE AULA – INT – TARDE

Aula de Helena, que está explicando um assunto
qualquer. Geysa, já em seu lugar, perto da porta, guarda a
câmera digital. Helena olha para ela e vai se aproximando,
séria.
HELENA – E se eu fosse você, começaria a estudar,

porque as provas estão chegando.
GEYSA – Ah, tá... Quando eu souber que raio de

assunto vai cair na prova, eu estudo. Porque
vamos combinar, que aulinha ruim...
Alguns alunos cochicham, outros riem. Helena encara

Geysa, com ódio.
GEYSA – Pelo menos até agora só te vi correr

atrás de homem, humilhar esses pobres animais
dessa turma... Tudo, menos dar aula!
HELENA (baixinho) – Toma cuidado na tua língua,

menina... Você tá acabando com a minha paciência.
GEYSA (baixinho) – Vai fazer o quê? Me reprovar

de novo? Que perseguição...
HELENA (para toda a classe) – Bem, por hoje é só.

Vejo vocês na próxima terça e comecem a estudar
de hoje. Não vou facilitar a vida de vocês. Muito
pelo contrário...
Helena dá um sorriso sarcástico para os alunos. Eles,

com exceção de Geysa, a olham assustados. Sonoplastia: No
substitute for arrogance – The Joe Perry Project.
CORTA PARA
CENA 11
Tomada externa da Universidade. Transição tarde-noite.
CORTA PARA
CENA 12 – UFPE/CAC/1º ANDAR – INT – NOITE

Geysa está descendo a escada. Uma garota vem do
leitorado de inglês, com um envelope pardo na mão, e a
aborda.
GAROTA – Você é aluna da professora Helena, né?
GEYSA – Infelizmente... O que deseja?
GAROTA – É que eu queria entregar isso aqui pra

ela. Você sabe dizer se ela tá aí na sala dela?
GEYSA – Acho que tá. Quer que eu entregue? Eu

tava justamente indo lá na sala dela...
GAROTA – Ah, eu ia agradecer muito. Tô atrasada

pro estágio.
GEYSA – Então pode deixar comigo. Eu vou lá,

entrego...
GAROTA (entrega o envelope para Geysa) – Muito

obrigada mesmo, viu?
GEYSA – Disponha!
A garota sai correndo. Geysa lê o nome da moça no

envelope e sorri.
GEYSA – Eu é que agradeço, colega!
Geysa entra na sala de Helena.
CORTA PARA
CENA 13 – UFPE/CAC/NELFE – INT – NOITE

Sonoplastia: Reflections – After Forever.
Geysa entra. Aparentemente, não há ninguém no recinto.
Ela olha tudo com cuidado, deixa o envelope sobre a mesa,
ao lado da câmera digital de Helena. Também larga sobre ela
sua bolsa e a câmera de seu colega. Dá mais uma olhada em
torno e descobre o computador ligado. Ela sorri.
GEYSA – Bingo! A prova com certeza já tá pronta e

tá naquele computador. (pausa, tira um pen drive
do bolso da calça) E como uma garota prevenida
vale por duas...
Geysa vai até o computador ligado, coloca o pen drive

nele e começa a procurar pelo arquivo da prova, sempre
atenta a qualquer movimento estranho. Quase não contém a
gargalhada ao encontrar a prova. Logo depois, tira o pen
drive e o guarda novamente em seu bolso, com ar vitorioso.
GEYSA – Meus coleguinhas vão adorar a surpresa da

tia Geysa...
Ouvem-se passos. Geysa se apressa para recolher suas

coisas e sai correndo, batendo a porta. Nesse instante,
Helena chega e estranha o barulho.
HELENA – Deve ter sido o pessoal da limpeza.

(percebe o envelope sobre a mesa, ao lado da
câmera, o pega, abre, examina rapidamente o
conteúdo) Leio com calma depois. Agora preciso é
de um banho e cama!
Helena guarda suas coisas, apaga a luz e sai da sala.
CORTA PARA
CENA 14 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MICK – INT – NOITE

Mick está escolhendo uma roupa. Michelle entra.
MICHELLE – Vai sair, é?
MICK – Hoje não. Isso aqui é pra amanhã. (pega

uma camisa e mostra para a irmã) Fico bom com
essa?
MICHELLE – Depende. Qual é a ocasião?

MICK – Vou encontrar uma garota. Ou melhor, a

garota.
MICHELLE – Mal acabou com uma e já tá correndo

atrás de outra?
MICK – Já te falei da Tetê, né?
MICHELLE – Aquela garota da Internet de novo?
MICK – Só que agora ela tá aqui, bem pertinho da

gente!
MICHELLE – Cuidado, menino...
MICK – Pode ficar tranqüila que se for treta eu

sei muito bem me defender.
MICHELLE – Mesmo assim eu me preocupo. Se você

soubesse o tanto de ocorrência que eu vejo por
aí...
MICK – Aí vai você ficar paranóica, igual a

mamãe.
MICHELLE – Paranóica não! Eu sou cautelosa.
MICK – Eu também sou, né? (risos)
MICHELLE – Desculpa ficar bancando a chata, é que

eu tenho medo que aconteçam com vocês as coisas
que eu acompanho lá na delegacia. Enfim... É
melhor você dar uma pausa aí na escolha da roupa
porque a mãe tá te chamando pro jantar.
MICK – Sim, já tô indo...
MICHELLE – Vou descendo na frente, então.
Michelle dá um beijo no rosto do irmão e sai. Ele

larga uma camisa na cama e sai logo depois. Sonoplastia:
Vesti azul – Wilson Simonal.
CORTA PARA
CENA 15 – CASA DE EMÍLIO/SALA DE JANTAR – INT – NOITE

A família toda está reunida para a refeição. Mick é o
último a chegar e ocupa seu lugar à mesa.
MICK – E como foi o primeiro dia de trabalho, Mi?
MIRANDA – Uma pasmaceira...
AMÉLIA – Bem que eu suspeitava que aquela lojinha

mixuruca devia viver às moscas.
MICK – Ô, mãe, maldade...
MIRANDA – Só não foi pior porque apareceu uma

celebridade por lá. (risos)
MINERVA – Quem? Lenine? Roger de Renor?
MIRANDA – Não, Helena Mendonça.
MINERVA – Fiquei na mesma...

AMÉLIA – Acho que sei quem é. Não é uma bem

bonita, meio emproada, que aparece de vez em
quando no jornal? Que dá aula lá na Federal?
MIRANDA – Ela mesma. Foi lá comprar uma câmera

digital e eu a atendi! (pausa) Ah, tô sabendo,
viu, seu Mickey?
MICK – Sabendo do que, criatura?
MIRANDA – Do pé na bunda que o senhor deu na

minha amiga. Com tanto jeito pra dispensar a
Elissinha, vai logo se agarrar com outra?
MICK – Foi o jeito mais fácil que encontrei. E

mais cedo ou mais cedo eu ia acabar fazendo isso
mesmo. Com a Felícia ontem, com a Teresa
amanhã...
EMÍLIO – E essa Teresa, quem é?
MICK – Aquela Teresa, pai.
AMÉLIA – Mas você já não tinha parado de falar

com essa garota?
MICK – Parei, agora ela tá aqui no Recife e

estamos nos falando de novo. Vamos até nos
encontrar amanhã.
AMÉLIA (grita) – É o quê?
MICK – A Michelle já me deu todas as

recomendações, não precisa repetir, mãe...
AMÉLIA – Mesmo não gostando muito da Elissa, eu

até tava gostando desse namoro. Pelo menos você
parava de ficar aí falando com essa menina
invisível.
EMÍLIO – Ela não é invisível, Amélia!
AMÉLIA – Eu nunca vi, então pra mim é invisível!
MICK – Pois amanhã mesmo eu trago ela aqui pra

conhecer a senhora, tá, mãe?
AMÉLIA – Quero ver...
Eles continuam o jantar. Sobe Vesti azul.
CORTA PARA
CENA 16
Tomada da Vila do Ipsep à noite.
CORTA PARA
CENA 17 – RUA – EXT – NOITE
Jacqueline está indo para o bar, ao encontro de
Frederico.
JACQUELINE (falando sozinha) – Agora que eu vou

ter o equipamento, só preciso de uma outra garota
pra me ajudar a preparar a surpresinha pra minha
irmãzinha... Mal posso esperar pra ver a cara
dela depois de ver o filminho do Rodrigo botando
chifre nela... Ai coitada!
Jacqueline começa a rir. Frederico chega por trás dela

e a agarra. Jacqueline grita de susto e ele começa a rir.
JACQUELINE – Não teve graça!
FREDERICO – Então quer dizer que é pra isso que

você quer a filmadora.
JACQUELINE – Pra isso o quê?
FREDERICO – Não se faz de tonta, menina. Eu ouvi

você aí falando sozinha. (pausa) Que safada,
hein?
Jaqueline fica parada, sem reação. Ele a puxa contra

si.
FREDERICO – Vamos nos dar bem, moça.
Frederico beija Jacqueline, que corresponde.

Sonoplastia: The end – Nico.
CORTA PARA
CENA 18
Tomada de vários pontos do Recife. Transição noite-
dia.
CORTA PARA
CENA 19 – CASA DE FREDERICO/QUARTO – INT – DIA

Frederico ainda está dormindo. Jacqueline levanta,
enrolada em um lençol, e começa a procurar suas roupas.
Frederico acorda.
FREDERICO – Vai pra onde?
JACQUELINE – Pra casa! Inventar uma bela desculpa

pra explicar porque não dormi lá.
FREDERICO – E quando volta?
JACQUELINE – Tô sempre por aí... Agora tenho que

cuidar das minhas coisas.
Jacqueline começa a se vestir.
CORTA PARA
CENA 20
Tomada da casa de Helena. Sonoplastia: No substitute
for arrogance.
CORTA PARA
CENA 21 – CASA DE HELENA/SALA – INT – DIA

Helena entra, vinda de seu quarto, com a câmera
digital na mão. Mexe em alguns controles e de repente seu
rosto, tranqüilo, ganha uma feição séria. Corta para
mostrar o visor da câmera, apresentando fotos de Walter com
Felícia.
HELENA – Como foi que isso foi parar aqui?

(pausa, ela revê as fotos) Seja como for… Que
gracinha de casal! Acho que vai me ser muito
útil...
Close em Helena, que sorri.
CORTA PARA
CENA 22 – AP. DE CATARINA/QUARTO – INT – DIA

Teresa está diante do espelho, escolhendo uma roupa.
Felícia entra no quarto e fica olhando. Sonoplastia: Garota
do Orkut – Saia Rodada.
FELÍCIA – Mas já? O encontro não é só à tarde?
TERESA – Pra evitar contratempos, tô escolhendo

logo roupa, vou me arrumar com uma hora e meia de
antecedência, chegar lá no lugar marcado meia
hora antes... Tem que ser tudo perfeitinho!
CORTA PARA
CENA 23 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MICK – INT – DIA

Mick também está procurando uma roupa para o encontro,
com a ajuda de Miranda. Ela tem duas camisas na mão – uma
vermelha, outra verde. Continua a música da cena anterior.
MIRANDA – Diz aí qual é a cor preferida dela.
MICK – Verde.
Miranda larga as duas camisas.
MICK – Que foi?
MIRANDA (revirando uma gaveta) – Nada não.

(pausa) Cê tem cueca verde?
MICK – Pra quê?
MIRANDA – Pra você usar, ora essa.
MICK – Não tenho não.
MIRANDA – Tá. Segunda cor preferida...
MICK – Mas pra quer escolher logo a cor da cueca,

Miranda? Quem garante que esse encontro vai
terminar num motel?
MIRANDA – Eu garanto. Ou tu acha que depois de

sei lá quantos anos de rolo vocês vão se
agüentar?
MICK – Tá, tá certa... Mas pra quê ficar

escolhendo a cor?
MIRANDA – Tem razão, o importante é ela não estar

furada. (continua mexendo na gaveta até tirar uma
cueca) Olha, essa aqui tá com cara de nova!
MICK (arranca a peça da mão dela) – Pára de mexer

nas minhas cuecas!
MIRANDA – Sim, senhor... A Tetê pode!
MICK – Eu tô aqui pensando... Será que ela

engordou, ou emagreceu, ou cortou o cabelo, ou
tingiu, ou...
MIRANDA (corta, o imitando) - ... Ou colocou

silicone no peito, ou colocou silicone na bunda,
ou colocou silicone na boca e ficou igual a Liv
Tyler...
MICK – Tu tá me deixando agoniado. Vai trabalhar.
MIRANDA – Nada, meu trampo é só de tarde. Vou

continuar te deixando nervosinho pro encontro que
é mais divertido mesmo...
CORTA PARA
CENA 24
Montagem alternando os preparativos de Mick e Teresa
para o encontro. Sonoplastia: You are the light – Jens
Lekman.
CORTA PARA
CENA 25
Tomada do Paço Alfândega à tarde. Sonoplastia: música
continua.
CORTA PARA
CENA 26 – PAÇO ALFÂNDEGA – INT – TARDE

A música da cena anterior vai abaixando no começo
desta cena.
Teresa está sentada em um banquinho, tomando sorvete
de casquinha. Olha constantemente para os lados, nervosa.
Corta para outro ponto do shopping. Mick vem andando
ligeiro, também olhando para os lados. Pára ao ver Teresa
de longe, terminando seu sorvete. Ele apressa ainda mais os
passos, até que ela consegue distingui-lo entre os outros

rapazes e se levanta, dando alguns passos ligeiros em sua
direção. Param frente a frente, muito próximos, sorriem.
TERESA – Mickey, né?
MICK – Teresa!
TERESA – É, você não mentiu mesmo sobre sua

altura! (ri)
MICK – Caramba... Tô tão feliz de te ver que nem

sei como é que eu...
TERESA – Eu sei!
Teresa dá um puxão em Mick pela camisa e os dois se

beijam intensamente. Sobe You are the light – Jens Lekman.
FIM DO CAPITULO 32

Arede 032

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CENA 01 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – TARDE

TERESA (tel) – Amor, espera só um segundinho aqui

BETH – Os meninos insistiram em vir te ver.

JÉSSICA – Eita, mãe, que dramalhão!

BETH – Enfim, eu trouxe eles aqui pra fazer uma

Felícia não responde. Joyce e Catarina se entreolham,

CATARINA – Ela não tá normal.

JOYCE – Eu vou lá dentro buscar alguma coisa pra

Joyce vai para a cozinha. Teresa pega o telefone outra

senta ao lado de Felícia e Catarina fica de longe,

BETH – Acho que dei sorte de te encontrar aqui.

Felícia continua ouvindo a tudo, sem esboçar nenhuma

JOYCE (baixinho) – Consegue tirar de letra, é? O

CATARINA – Vamos lá levar esse lanche logo, que

Elas voltam para perto de Beth e Felícia.

BETH – Ei, acho que eu já falei demais, não? Fala

CATARINA – Beth, acontece que a Felícia tá há

BETH – Ah, mas assim não pode! Tem que se

Close em Felícia, aparentemente ainda ausente.

CENA 02 – AP. DE CATARINA/VARANDA – INT – TARDE

TERESA – A gente precisa se ver!

MICK – Mas você ainda não disse se a Felícia pode

TERESA – Eu já falei que ela tá dormindo. (pausa)

MICK – Não é isso... É que eu dei uma mancada

TERESA – Que mancada?

MICK – É uma história muito comprida...

TERESA – Conta tudo.

MICK – Bom... Pra resumir... Tá bom, eu conto. Eu

TERESA – Como é que é?

MICK – Eu juro que não sabia que você tava aqui!

TERESA – Então agora tá explicado porque é que

MICK – Eu sou um idiota.

TERESA – É. Podia me esperar um pouquinho pra

MICK (rindo) – Ela ia te matar...

TERESA – Você ia me deixar morrer na mão da

Os dois ficam em silêncio por um instante.

TERESA – Você disse ‘ex’?

MICK – Até ontem, antes da confusão lá, a Elissa

TERESA – Mas tinha que terminar com raiva? Não

MICK – Mas eu queria que ela terminasse com raiva

TERESA – Agora tá explicado porque eu me

Eles começam a rir.

MICK – A gente precisa muito se ver, logo.

TERESA – Eu já tinha dito isso antes.

MICK – É só dizer o dia e a hora.

TERESA – No máximo amanhã à tarde.

TERESA – Hmm... Paço Alfândega?

TERESA – Então esteja lá às duas e meia da tarde.

MICK – O mesmo vale pra você, dona Tetê.

MICK – Pra você também.

Eles desligam. A partir daqui, mostrar apenas Teresa,

CENA 03 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – TARDE

TERESA (grita, off) – Eu sou a mulher mais feliz

JOYCE (ri) – Isso é uma casa de doido...

BETH – Ainda bem que reconhece! Com a Teresa

FELÍCIA (levanta) – Gente, se me dão licença eu

CATARINA (a detém delicadamente) – Ah, não vai

FELÍCIA – Nada, nada! Eu só tô cansada e quero

Felícia sai correndo.

JOYCE – É melhor deixar ela quieta, Cacá... Deve

BETH – Isso! Ela deve estar muito estressada,