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-= Tormentas
Prefacio de MALHE1RO DÍAS
I9l3
FEB 7 19B8 '
Frau Dr. Tiedemann,
Fraulein Grete Tiedemann,
Herrn Dr. Tiedemann
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— Coitadinho !
Eu repetí compassivamente :
— Coitadinho !
Um domingo que Helia saira muito cedo
a visitar a mamá, enxerguei atravez das
persianas rotas do quarto alugado urna
silhueta fina que se passaritava. Rendi
gracas á harmonía preesiabelecida que man-
dara urna ternura ao melancólico trovador. E
momentos decorridos ti ve de acrescentar com
santo Agostinho : El quid eral quod me delec-
tabat nisi amare el amarit Atravez das per-
sianas rotas do quarto alugado reconhe-
cera a Surflamme na silhueta branca que se
passaritava.
Mas o braco quente de Helia enroscava-me
no inconsciente e eu inteiro adormecía
como um lobinho entre as tetas duma ovelha.
Num día nostálgico, de céo a pingar lama,
veio Ninette a rogo meu. Achei-a luxuriante
como urna magnolia no tempo dos ninhos.
— Helia? — inquiriu.
— Foi ver o avó a Ghalons.
Tirou o regalo, tirou o chapeo, tirou as
luvas, já nada ridicula, já nada desastrada.
Dei-lhe a 1er o meu bem d'alma :
« Heliasinha, quando teus dedos rasgarem
este envelope, estarei muito longe da Mon-
A INVERSÁO SENTIMENTAL 7«5
— Beberá
? Iumes promptos em champagne?
— Moinará
— ?
com o empregado de Félix Potin?
S. Goncalinho casai-me,
Casai-me que bem podéis,
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13
1 8o JARDIM DAS TORMENTAS
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iga JARDIM DAS TORMENTAS
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— Tire lá a pata.
— Olha que pode vir gente...
O Zé esbandulhou bem o cofre, depois
dizendo ao pai que aparasse no chapeo,
varreu com a máo larga.
Um punhado de modedas tilintou, mas
numa secura que os fez praguejar :
— Estamos quilhados; nao tem para man-
dar cantar um cegó.
O Zé Cleto embrulhou o dinheiro e, apon-
tando a caixa das almas com o ventre á
mostra, exclamou :
— Aquilo o padre esvasiou-a ha pouco
tempo. Ladráo !
O velho teve tambem um soIuqo de colera,
expoliado, defraudado em suas esperancas :
— Ladráo ! ! —
* *
— E' nervosa...
— Tem-me um asco...
— Entam, meteu-se-lhe em cabeca que és
tu que me desvias para o mau caminho...
— Pois serei. Vá, navegue para a África,
porque espera?
— Por resposta.
Um grande silencio passou entre eles.
Estridentemente Norberto sacudía na pedra
a lama das enxadas. Ela tornou :
— Se me quizesse bem, nao partía.
— Mas é mesmo a razáo porque parto. Tu
lá irás ter.
— Dizem-me que se cai lá como tordos...
— Historias da caróchinha; para onde
contó ir é tam saudavel como aqui.
— Mas entam deixa-me?
— Tu és tola. Todos os meses recebes
dinheiro, depois, quando tudo correr bem,
irás lá ter.
— Olhe que eu nao vou jura-lo, mas pal-
pita-me que ando grávida.
Isaque envolveu-a num longo olhar de ter-
nura em que ia o agradecimento pelas vo-
luptuosidades sentidas juntos, nao enga-
ñadas. E disse, emergindo ao cabo dum
pensamento :
— Esta noite nao vas ao seráo, vou lá a casa.
O REMORSO u5y
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so
A REVOLUQAO
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París 1910-1912.
ÍNDICE
Prefacio i
A Catedral de Cordera 9
Voluptuoso milagre 2$
A inversáo sentimental 41
S. Goncalo Si
* O sátiro 95
O triunfar da rida 125
— O solar de Montalvo 137
• A' hora de yésperas 163
r A pele do bombo 305
- Tu nao furtarás 223
» O remorso 253
A rerolucio 293