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O mundo emancipado: A descolonizagao na Africa @ na Asia Osztvos DE APRENDIZAGEM = Propordonar un entendimento elementar dos principals fotores que desencadeoram 0 descolonzoséo na Asia e no Africa, a Compreencer es ofcukiadkes, os ertreves @ 0 comolexdode inerente Gos diversos movirentos de contestagéo & colonizagao. mt Avolar o okance efetivo do conquista do liberdade por parte des paves vitimades pelo colonialsmo. Rotero DE ESTUDOS wt SECAO | - 0 processo de descolonizas6o e suas motwaxbes mt SEGAO 2 - A dindmico, os limites @ os dificukdades do descolonizacio NU) a a 2 Za = UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL "i versidade Aberte do Bra! UNDRDE 2 PARA INICIO De CONVERSA Nesta segunda unidade do curso de Historia Contemporénea II, trataremos de promover uma breve discusséo sobre outros acontecimentos importantes que também tiveram lugar e/ou ganharam forca apés 0 término da Segunda Guerra Mundial em 1945. Em especial, os acontecimentos dos quais nos ocuparemos a seguir dizem respeito ao processo de descolonizacao da Africa e da Asia, processo este que ganhou uma intensidade significativa a partir do final da segunda grande conflagragéo mundial. Como procuraremos demonstrar logo adiante, a busca pela emancipagéo por parte das antigas areas coloniais se constituiu em um dos movimentos mais importantes do periodo contemporaneo, E justamente nesse momento que vemos surgit, por exemplo, 0 chamado “Terceiro Mundo", um novo e incémodo integrante no ja abalado cendrio da politica internacional. Assim, se a Guerra Fria havia dado origem a uma nova configuracéo de forcas encabegada pelos EUA, a luta contra © colonialism golpeou de modo ainda mais violento as pretensées hegeménicas do Ocidente. Nas secées seguintes, tentaremos sistematizar algumas poucas informacées a respeito de como se deu todo esse proceso e, também, do seu significado histérico. SECAO 1 ; O PROCESSO DE DESCOLONIZACRO € SUAS MOTIVACGOES De acordo com o historiador francés René Rémond, se desejassemos condensar a histéria politica do mundo contemporaneo em alguns poucos marcos significativos, estes seriam a Revolucdo Francesa de 1789, olevante russo de 1917 ¢, por fim, a conquista da liberdade por parte dos povos vitimados pelo impeto colonialista. Ainda que Rémond tenha afirmado isso em meados da década de 1970, dificilmente algum historiador ou analista dos nossos dias ousaria discordar do arrazoado por ele feito, No méximo, esse historiador ou analista poderia incluir dois ou mais momentos de alcance semelhante que teriam se passado desde entao, tal como a queda do Muro de Berlim em 1989, ou entao a subsequente derrocada da antiga URSS em 1991. Mesmo nesse caso, 0 processo de descolonizagao no teria sua importancia ofuscada ou reduzida. Como bem observou Rémond: ‘A evolugio das relagées interacionais desde o fim da Segunda Guerra Muncial foi largamente comandada pela emancipagodos povos colonizados epelaconstiuiglode tum terceira mundo, que decid permenecer neuro no enfrentamento das dois blocos. Um dos fendmenos mais importantes da histria contemporénea é, precisamente, a entrada, no paleo das rlagées internacionais, na condigdo dos paises que se tomam atores da dplomacia, dos que, por tanto tempo, nele $6 figuraram como objeto, Universo poco deixa de reduzinse ao concerto das grandes poténcias, asaber, quatro cu cinco grandes Estados Europeus, mais os Estados Unidos e 0 Japa. O nimero dos Estados multiplicou-se: & um aspecto © uma decorréncia da descolonizacéo. A ONU conta hoje [1974] 135 Estados, a0 passo que a SDN [Sociedade das Napées] nunca reuniu mais de cinguenta. (REMOND, 1993, p. 185), Imagem 10s eolonizads se evolam Paradoxes, scondigtes para que ito visse a acontees fram roporionads pels pripris colonizadores. Dsponvel em: hrp2 bp blogspot com !TkAWvREGIVIS|BSXKS_ yl "AAAAAAAABrk RPyR-/ P80 dsoolniz2%aCBY4ATMCHOA3O PE * Histéria Contemporénea LUNIDADE & Universidade Aberte do Bra: 48 UNDRDE 2 A histéria da descolonizagéo, no entanto, nao & apenas a histéria da emergéncia de novas nagées no horizonte das relagGes internacionais. Para falar a verdade, ela é a histéria da luta encarnigada que opés colonizadores ¢ colonizados, isto é, a histéria de um grande levante contra 0s séculos de abuso e exploracdo sistematica a que foram submetidos nao s6 muitos povos, mas também continentes inteiros. Assim, o movimento e a agitacéo que ganhavam intensidade a partir dos anos 1950 colocavam outras questées igualmente relevantes em debate: Naquele momento, estava no auge 0 confonto entre daminadares e dominados, ou sea entre coldnias e metropoles. Povos e regides da Terra que tinham soffido, no passado, a ocupagdo direta por paises estrangeiros, comecavam amanifestar, por meiosdiversos, a suainsalisfagdo. A Asia, por exemplo, fora bergo de cvlizagSes rmagnificas que marcaram conquistas fundamentais da Humanidade, no tocante 0 dominio sobre a natureza © 0 avanco técrico, tals como @ domestcaéo de animais, a agricultura para a obtencdo de alimentos, a cerémica para a fabricagdo do utensitios, ametalurgia, papel, apélvora, bem como insituigdes que tarnaram possivel a vida social (cidades, organizagées politics que levaram & consttuigéo de Estados, a moeda, a escrta).AAsiaostentava, de fat, uma vivénciahistrica do 5 mil anos. No entanto, a partir do século XVI, com as primeiras navegagdes européias que atingiram o Indico eo oceano Pacific, oisolamente dessasvelnas civiizagdes comegava a ser interrompido. Foi, porém, a partir do século XVllle, sabretudo, com a superoridade téenica ostertada pelos paises da revolugéo industrial © capitalista (principalmente 2 Inglaterra © a Franca, logo seguidas pela Holanda) que os povos altamente vilzados da Asia, dotados de padrées éticos bom divorsos dos valores fundados na preeminéncia dos bens materias, valores esses que se introduziam incorporados & ocupagéo ocidental, viram-se ameagados pela perda de sua idontidade cultural, Tratava-se de mais ainda, ou soja, a perda das rquezas, de autonomia, como uma tentata de ser-thes arrancado 0 passado pelas raizes. Quanto & Africa, a espoliacdo de que foi vitima tvera inicio no século XVI com 108 desembarques no itoral ocdental atlantic, inicialmante em busca do ouro e, logo a seguir, como fonte supridora de escravos negros,o inusitado trabathador, transformado em mercadoria altamente lucratva, que ita enriquecer os comerciantas © ser a mao-ce-obra das noves colénias da América. Os invasores mudaram os velhos e sbldos padres das sociedades tribes, impondo o rcismo ¢ oulras formas de corrupeio em decorréncia do trfico de homens, mulheres jovens mal saidos da infanca ‘Ao longo do século XIX, aprofundou-se a ocupagéo do continent africana: seus povos e seus teritrio foram partihados entre as poténcas da Europa, jéentao ‘monopolizadoras do novo saber centifice © teenalégico da Revolugao Industrial o das técricas de organizagéo econdmica do capitaismo, AEuropa entrava, a partir dos anos 70 do século XIX, numa nava era de expansdo e conquista do mundo. [A essa nova era 08 prbprios contompordneos danominaram ce imperialism (UINHARES, 2008, p38). ee Cn te at ees Adominagao segue até a década de 50, quando tém inicio os processos de independéncia (a data da lbertacéo de cada pais esta entre parénteses) Histéria ‘Contemporanea Imagem 11 ~Fnire 1880 ¢ 1914, spotéciaseurpeisarguitetaram uma verdadeira parti do continent African. ‘Nomapa em questi, podess visulizar vst das possesses amb as datas de independénca ds principais ages africana Disponvel em: hip/washngtoncandid ies wordpress. com2011/02parlhade-< alia jpg A commacio covonat wa Asia e Oceama (s#cuL0s 19.20) Ne Aa. perso fo etre de forme en mats regs como fa Ibdndea ema Inochia Ere oe ‘oda sa chouara so irae Imagem 12— A distbuigo dos dominios a Asia colonia Disponvel em: hip bp blogspot eom!_ieTaDDy3VTAKHGHLADPVAAAAAAAAAFEIKALQvgXWZAER 1600 ‘imperiaismo,mapa_ asia MSC3MBSria pena jpg FG} LUNIDADE 2 Universidade Aberte do Bra: UNDRDE 2 Foi justamente esse tipo de dominacao que passou a ser fortemente contestado apés o término da Segunda Guerra Mundial. Alids, muitas das motivagdes que estiveram presentes durante a Segunda Guerra Mundial também influenciaram diretamente os movimentos em busca de libertagao que tiveram lugar na Asia e na Africa. Segundo o que correntemente se afirma, muitos povos africanos e asiaticos foram contagiados pelas ondas nacionalistas que varreram a Europa durante os séculos XIX e XX, apontadas inclusive como uma das causas que deflagraram as duas grandes guerras mundiais. Por essa e por outras razdes, 0 processo de descolonizagao € frequentemente encarado como uma consequéncia direta da prépria colonizacao. f 0 que afirma, por exemplo, 0 historiador René Rémond: Fi, com efito, a0 contato da Europa que os povos da Asia eda Aca se descobrram diferentes: a tomada de conscincia de tudo o que os dferenciava das dominadares est na origem de um retoro ao seu pasado, a sua cultura, 8s suas tradicdes. [.] © esperar do sentimento patio, a transformacdo de ume reacSo, a principio esponténea, num movimento autenicamente nacionasta operaram-se em contato coma Europa. € o segundo camino pelo qualacolonizacdo susctoua descolonizacéo: jfindo hd apenas reapoinstntva, porém fliapo,impreenacto,infuénca, Expresséo de comunidades restas, na escala do clé au da tribe, fundadas no pertencimento comum a mesma ena, opartcuarsmo ainda néo era umnacionalismo. Foi a Europa quem trouxe a iia nacional. Foi em contato com europeus que elites caltas, minrias itelectuals descobriram 0 proprio pertencimento a uma realdade também nacional Essa histéria do sentimento patriicoe da iia naconalista na Asia, na Afica e na ‘América Lana é prolongamento dahistéria que reracamas em relagdo & Europa no séeulo XIX Atingindo seus objetvos com a guerra de 1814 a 1918, a desmembracdo dos impéros e a afimagéo do prncpio das nacionaidades, 0 movimento remonta outros contnentes, propaga-se para fora da Europa, Toda as luis naconeis dos limos decénias consttuem orenascimento do movimento das nacionaldads outora diigido contra o Império Otomano, a dominagéo dos Habsburgos ou a russifcaréo das nacionalidades alégenas.€ assim que a desclonzacéo se inscrevecrctamente ra Histria Européia. € a universaizardo de um fendmeno cjos princlios foram cenunciados pela Europa e cujas prmeiras conseqUéncis foram desenvolidas por cla. (REMOND, 1983, p. 187-189). Como aponta ainda o préprio Rémond, a difusao de tais prineipios se deu através de uma minoria que havia sido instrufda segundo os preceitos europeus, tanto dentro do ambito colonial como fora dele, em instituigdes e universidades europeias. Segundo sua observacao, [..] 0 nacionalismo colonial pede emprestadas Europa suas ideologias, em cujas diferentes ‘losofias polticas © naconalismo dos colonizados vai buscar seus fundamentos e vis6es do futuro, Os colonizadas conheceram tas flosofias policas através do ensino, seja 0 ensino dispensado nos tertrios caloiais, soja 0 ensino ministrado a uma minora que fol instrui-se nas universidades briténicas ou francesas da Europa, assim coma através da imprensa e dos contatos manttdos com os partidos politicos ocidentals. O fato 6 que, tendo tide conhacimento delas, os colonizados pediram aos europeus, em nome dos principios destes uitimos, © beneficio dos ‘mesmos direitos. Foi precisamente o contraste entre os princjios enunclados pelas poldncias colonials @o modo como elas praticam a administragdo colonial que gerou 1a explosdes revolucionérias. (REMOND, 1993, p, 170-171), Contudo, além de ter despertado e exacerbado os sentimentos patridticos e nacionalistas, as duas guerras mundiais do século XX marcaram também o final da hegemonia europeia sobre o resto do mundo. Afinal, tendo sido o principal paleo dos conflitos tanto na Primeira como na Segunda Guerra Mundial, a Europa estava em rufnas em 1945. Assim, nao obstante as gigantescas perdas humanas e materiais, as antigas poténcias europeias ostentavam ao fim da guerra uma divida igualmente assustadora, principalmente em relagéo aos Estados Unidos, de longe 0 maior beneficiado em relagéo ao contflito. Nesse contexto, 0 enfraquecimento, ou melhor, 0 eclipse do dom{nio da Europa sobre o resto do mundo acelerou e também encorajou os movimentos de descolonizagao da Africa e da Asia, dando entao origem ao chamado “Terceiro Mundo", um novo grupo de nagées que passou a demandar liberdade e autonomia diante da ordem bipolar instaurada no pés-querra. A expressdo "Terceiro Mundo", segundo a professora Maria Yedda Linhares, constituiria uma tentativa de abarcar toda aquela [J] parte da humanidade que se siuaria numa espécie de imbo da Mistéria, nem no Primeiro Mundo (o do capitalismo e da democracia, da iqueza e da abundancia) nem no Segundo Mundo (0 do comunismo e da ausénia de liberdade), ‘Aos dois primeiros mundos outorgave-se, ainda nos pardmetios da propaganda intermacional, 0 privilégio de serem desenvolvdos, jé que detentores do controle tecnoldgica(sobretudo atdmico), cabendo ao Terceiro Mundo, sab este titulo, um novo adjetvo, ode subdesenvotvido. © subdesenvohimento nascia, assim, ja carregado da ideologia do capitaismo ao qual caberia a tarefa de elaborar poltcas de ajuda e de assisténcia a essa outra parte do planeta, o mundo a parte, isto 6, a América Latina, a Alfica, 0 sudeste da Asia eos arquipélagos do Pacifico. Aluta pela descolonizapao no tracuz somente 0 desejo de ibertagao ante os impérios dominadores. Ela é também, na maioria dos casos, parte da construgdo de uma nova Histéria da humanidade em ‘melo a um poder internacional em fase de redefnigéo (captalsmo versus sacialsmo} « aos milhSes de condenados da Terra. (LINHARES, 2005, p. 47, gifs da autora), * Histéria Contemporénea LUNIDADE & Universidade Aberte do Bra: UNDRDE 2 Noentanto, ainfluénciada guerra sobreo processodedescolonizagao fez muito mais do que fragilizar estruturalmente 0 predominio europeu sobre as possessées coloniais, Da mesma forma, ela fez muito mais do que permitir aos colonos 0 contato e o desenvolvimento das aspiraces patridticas e nacionalistas. Na verdade, muitas metrépoles precisaram contar coma participacao efetiva dos povos africanos e asidticos durante as duas querras mundiais do século XX. Os ingleses, por exemplo, contaram com cerca de 80.000 homens fornecidos pela india ao longo da Primeira Guerra Mundial. Nao ¢ dificil imaginar 0 efeito que essa participagao pode ter desempenhado junto aqueles povos que permaneciam sob 0 jugo das ages colonialistas. Conforme observou Maria Yedda Linhares, [12s difcudades miltares por que estavam passando as até entio poderosas metrépoles foram muito importantes para enfraquecer a imagem das poténcias colonizadoras junto a seus colonizados. Comecava @ fcar seriamente abalado 0 mito da superiordade do homem branco. A entrada do Japdo na guerra (dezemro de 1941) em decorréncia do ataque a Pearl Harbor, base dos Estados Unidos no Pacifico, ia comprovar, mais uma vez, que os outros povos da Terra, que néo estavam includes, segundo a ideologia dominante do colonizador europeu, entre 08 dominadores eleitos, seriam capazes de ententar os invenciveis da véspera. As Vittas japonesas no continente asstico e no Pacifico, sobre holandeses,ingleses, franceses e americanos, foram contundentes. Assim, @ expanséo do confito europeu ‘0 Norte da Attica, a0 contnente asitico © ao Pacifico passara a envoter, deta u indretamente, outros povos e outras reidesjulgadas,alé ert, inaingve's. A duerra se tomara mundial; no seu bojo, emergiam e se multplicavam as aspiragies de independéncia dos povos dominados. As dlculdadesteriveis por que passavam os povos imperilisaspareciam demanstar que o homem branco era vunerdvel, Assim, a desagregacdo dos impérios coloriais construdos de longa data insere-se neste context intemacional,e se prolongar nos anos do pés-guerra. A tomada de consciéncia dos povos colonizados se dé no momento em que eles so chamados a partipar na guerra em defesa de suas respectvas metrdpoles, obiendo, como recompensa, garantas de autonamia ou de independéncia, nem sempre respeitadas. (LINHARES, 2005, p. 45, gifos da autora. O mesmo argumento aparece também na cléssica obra de Geoffrey Barraclough, Introdugdo @ Histéria Contemporénea (apud MARQUES; BERUTTI; FARIA, 2003, p. 46): ‘Aguerra mundial também ajudou a disseminar as dias ocidentais. Apropaganda dos ‘objetivos por que se fazia a guerra ndo pci fcar confinada & Europa. Os Quatorze Pontos de Wilson, a declaracdo de Lioyd George, em 1918, de que o principio de autodeterminagdo era to aplcavel as colénias quanto aos terntéies ocupades da Europa, as denincias do imperialismo por Lénin e os exemplos dos revolucionarios. russos, a0 declararem que os povos subjugados do impéro czarista eram lives para ‘escalher a separagdo, tudo isso cru uma fermentagdo mundial, As tropas alstadas. para combater na Europa pelos franceses, oriundas da Indochina, e pelos ingleses, da Inda, regressaram a seus paises de origem com novas nogdes de democtacia, governo auténomo € independéncia nacional, e uma fime decisdo de ndo mais aceitarem a antiga stuacSo de infrioridade [..] Somando-se a isso tudo, tinhamos ainda o contexto de disputas caracteristicas da Guerra Fria e 0 avanco quase que irreprimivel do sistema capitalista pelo mundo. A partir dos anos 1950-1960, por exemplo, © processo de internacionalizacéo do capital ganha forca através da instalacéo de empresas multinacionais, demonstrando o interesse das nacées capitalistas na constituicéo de novos tipos de relacionamento, exploracéo e dominacéo em relacao aos paises do Terceiro Mundo, Nesse sentido, existiria até mesmo uma certa presséo do sistema em favor da descolonizacao, muito embora isso estivesse longe de significar a concessdo de uma autonomia plena as antigas areas de exploracdo colonial. No contexto do pés-guerra, portanto, a ordem bipolar controlada por norte-americanos ¢ soviéticos tinha outros planos para as areas coloniais, Para esses dois palses, que ndo praticavam o colonialism cldssicoe preferiam outras formas de contoe,interessava a descolonizacéo generalizada e répida, para manter fem segundo plano as poténcias intermedirias (Franca. Inglaterra, Alemanina) e para terem acesso direto aos imensos recursos naturals e humanos que os signatarios da Conferéncia de Beri de 1885 controlavam nas colbnias afticanas, (MARTINEZ, 1992, p29 Contudo, é preciso ter claro que a descolonizagao nao obedeceu a um tinico e mesmo fluxo, isto é, ela se deu de um modo bastante complexo e descontinuo, respeitando as diferencas e especificidades de cada regiao ou continente. Assim, foi na Asia que ocorreram os primeiros movimentos objetivando romper os lacos coloniais. Segundo René Rémond (1993, p. 173-174), isso poderia ser explicado a partir de trés aspectos caracteristicos da Asia. Em primeiro lugar, o autor levanta alguns dados bastante peculiares ao continente: Continente civiizado desde eras muito remotas, @ Asia tem uma longa historia que runca esqueceu de todo. Conservou o culto da tradigo, o respelto aos costumes, 0 cuto dos antepassados. Foi ofoco de civilizagdes requintadas, de varios milnios de Idade, Por isso mesmo, suas populagées no tém, em relagdo & Europa, complexo de inferordade: julgam-se até mais cvilzadas do que os Europeus, que consideram "parbares’, Na superioridade politica, miltare técnica da Eurapa, nao véemmaisdo que * Histéria Contemporénea LUNIDADE 2 Universidade Aberte do Bra: UNDRDE 2 © thunfo momenténeo da fora brtae ndotém por ela nenhuma consideragdo.Acima da fora materia, sua cviizago coloca vadcionalmente a sabedora,ainteigénca, a poldez dos costumes, a cortesia das relagées socials. Censuram a avidez de que 0s europeus do prov, a cunidez que lhes inspira as relagSes comerciais, a sua sede de rquezas mateais. Ereagem concentrando-se antes nos prptes valores do que duvidando dos principio de sua cilizarao. ses datos cuts ¢ristrcos eso presentes ainda hoje no comportamento da india, té mesmo no a China comurista em elacdo & Europa e aos Estados Unidos. ‘Como segundo elemento de explicagdo, passamos do dominio cultural ao politica: @ Asia cantém corunts polices organizados. Os europeus encontraram nea, como na Afica, uma poera de trbos,sendovastesimpéros ordenados, poliados, alguns grandes conjuntos ~ Japdo, China, India, Malasia — unicados pela cultura, pela regio, pelo xntism, pelo budsm, que extavasou do seu dominio orgnaio © encontrou no Ceiléo, no Sido, na Brmania, na Camboj, um terrena de eleigdo Enfim, a Asia enrou em relacdo com 0 Ocidnte mals cedo do que a Aca. Aprendou 4 conhecé-lo, Dispbe, no principio do século XX, de uma longa experéncia que 2 fariiazou com a Europa e sua ciilzaéo, que lhe ensinou também a ate de Ccomportar-se com os europeus. [Em ceros casos, a Asia feche-se infuéncia europa, em outos vai a escola do Ocidente. Mas oresutado final é sempre o mesmo: 0s dois caminhas convergem para provocar, nos primeiros anos do século XX até mais cedo no caso do Japa =, oque se denomina, com jusieza, odespertar da Asia Imagem 13 Mohandas ‘Karamchand Gand, ‘mais enhecid como “Matatma Gandhi Foi ele grand ier daconouista <éuindependénea por parte d india, leansada em 194, Suas ies sua propria imager sacobara fomando em ‘simbolos da ua contra ‘optesso eo caloralismo, ‘cafentamento que cle profesavae pratcava, portm, no envolviz 0 uso da forgo da violencia, Disponiel em: tp ayangroupothospial com’ ‘gotindex ml No caso da Africa, as coisas se passaram de um modo inteiramente diverso. Em primeiro lugar, os europeus praticamente néoencontraram Estados politicos fortemente organizados nas sociedades africanas - com excecao de algumas regides da Africa do Norte. Em segundo lugar, a Africa se constitula numa mirfade de povos e culturas distintas, muitas vezes hostis umas em relagdo as outras, Além disso, as sociedades africanas puderam contar com 0 listéria Contempordnea exemplo e com a influéncia dos movimentos que jé vinham ocorrendo muito antes na Asia. Sem diivida, isso tudo ajudou a retardar a conscientizagao ea organizacdo do levante por parte dos africanos, ao contrario do que ocorrera na Asia. Assim, e como observou René Rémond, nao foi por acaso que a Asia sediou, em Bandung, na Indonésia, a primeira conferéncia de cipula : buscando aproximar os paises vitimados pelo colonialism. ‘Disponvel en tp wwrarndindins comyhotaL3201-33 hin! Vocé sae o que fia Conferéncia de Bandung? Em 1955, reuniu-se em Bandung, na Indonésia, uma conferéncia convocada pelo grupo de Colombo, congregando os cinco paises recém-independentes - india, Pa- quistdo, Ceildo, Birmania e Indonésia ~e, pela primeia vez, 0s chefes de Fstado de 29 patses da Asia e da Aftica (18 a 24 de abril), que se apresentavam como um terceiro ‘mundo, Pronunciavam-se pela neutralidade e pelo sacialismo, mas declarando-se con- tra 0 Ocidente, ou seja, contra os Estados Unidos, ¢ contra a Unio Sovistica. Compro- ‘metiam-se a ajudar a libertacéo dos poves subjugados, Era o Espirito de Bandung, que perdurou por mais de uma década, até ser diluido ante as dificuldades e desilusoes enfrentadas pelos novos paises liberlados da dominacéo colonial direta. No enlanto, Bandung traduziu um momento de esperanca na organizagao mundial e no futuro da democracia. (LINHARES, 2005, p. 57-58, grifos da autora). LUNIDADE 2 Aberto do Brasil UNDRDE 2 Entretanto, embora tivesse disseminado um clima de otimismo e de empolgacao durante algum tempo, os objetivos eas metasaventadas durante a conferéncia nao puderam se realizar plenamente. Na préxima secdo, vocé verd que a busca pela emancipagao precisou enfrentar sérios entraves nao s6 antes, mas também depois da “libertacdo” do jugo colonial. SECAO 2 A DINAMICA, OS UMITES € AS DIFICULDADES: DA DESCOLONIZACAO. Como foi exposto até aqui, 0 processo de descolonizacao nao se manifestou do mesmo modo e ao mesmo tempo na Asia e na Africa, No continente africano, por exemplo, a situagéo organizacional peculiar em que se encontravam e a diversidade cultural dos povos acabaram tornando a dominagao europeia muito mais facil. Isso nao quer dizer que 0s africanos nao tenham oferecido alguma resisténcia & colonizagao, mas sim que a sua forga de alcance foi drasticamente reduzida em fungao da estrutura social e da fragmentacao étnica e cultural dos povos da Africa, Nesse caso, poderfamos até mesmo fazer uma comparagéo com © que ocorreu durante 0 processo de conquista europeia da América no século XVI, Como sabemos, espanhdis e portugueses foram hdbeis em utilizar em beneficio proprio as animosidades internas existentes entre os diferentes grupos indigenas que habitavam as Américas. Além disso, séculos mais tarde as colénias europeias na América também reivindicariam sua liberdade junto as metrépoles, assim como 0 fizeram os povos da Asia e da Africa ac longo do século XX. Assemelhangas entre tais acontecimentos, porém, acabam exatamente af. Afinal de contas, 0 processo de descolonizacao do século XX tem caracteristicas préprias que provavelmente o tornam ainda mais importante. Vocé saberia dizer quais sao essas caracteristicas? No trecho incluido logo a seguir, Leticia Bicalho Canédo pode ajudé-lo a diferenciar melhor as duas descolonizacées. Vejamos entdo o que a autora nos diz: © primeira momento de expansdo transocednica da histéra ocidental ecorreu no século XVI, com o descobrimento dos caminhos martimos para o controle do comércio oiental. Fo! desta primeira expanséo européia que surg a colonizacao da América © a formagdo dos impérios mercanilisas, Arevoltados colonos ingleses da América do Norte, dos colonos espanhéiseportugueses a América Central e Mergional assinalou 0 iniio da primeira “descoloizagao", do desaparacimento dos impérios mercanilistas europeus, entre 0s anos que vo de 1775 2 1825. Mas existem diferencas entre os movimentos de emancipagio do fnal do século XVIII @ 08 do século XX. Uma dessas diferengas situa-se na identiade dos insurgentes. (0s movimentos emericanos foram reakizados por populagSes de origem européia, de aca brance, vindas da metropoe, Jé 0s mavmentos do século XIX foram gerados por populagées autéclones al fixadas ha minias, diferentes dos europeus tanto na género de vida, nas crencas ¢institugBes como na cor da pele. (CANEDO, 1990, . 7-8) * Histéria Contemporénea Imager 15 Apesar ds difcldadeso pases atfcanos demonstaran fre resistencia dant as Tuas plaindependencia Na Arla 4), ssi como ‘em Angolae Mogambiue, vera gar violentos -onlios ene evltosos colonizadores,Disponivel emp ww historias 20 oryIMAGFmages! dsscolonzacion08%420 jpg, Contudo, se a questdo das identidades desempenhou um papel fundamental nos processos de descolonizacao do século XX, ela nao fez isso sem enfrentar grandes problemas e dificuldades. O caso mais grave parece ter sido mais uma vez o da Africa, pois 14 os efeitos da ocupacéo europeia foram muito mais devastadores do que em qualquer outra regio. Os povos aticanos mal conheciam a sociedade estruturada em classes eadinamica de superagdo de umas por outras, a que os eurepaus eslavam habituados. As distingdes individuais ou de grupos, geralmente pequenos, na chefia politica, no poder regio, ra posse de riquezas etc. podiam gerarlutas intestnas, mas nfo transformagées profundas ou revoluciondrias na sociedade. Ae‘etiva ocupagao da Aftca por cversos paises europeus criou, em muitos lugares, ppequenas camadas sociais de elementos nativos com instrugso basica e desenvottura para os trabalhes subalternos de produg4o, comércio, adminstragdo etc. Eram funcionérios mal remunerados, treinados para servir aos negécios, aos confortos domésticos, e para assimilar a0 maximo a religido e a ideologia do colonizador, mas rhunea @ dominio das téenicas e dos conhecimentos mais agiantados. [.] Nenhuma tecnologia importante fol evada para a Africa, a no ser as tecnicas mais primérias da agricultura de exportagao (borracha, café, cacau), da mineragao, do comércio e da burocracia. Em algumas de suas colénias, os ingleses davam preferéncia ao trabalho de imigrantes hindus, por serem mais déceis, no identficados com o povolacal e que por isso mesmo recebiam saldros mais alls do que os prépros natvos, Portanto, 0 contatos coma cvilzagao branca nao foram de molde aelevar os padrbes de vida material, no aumentaram a capacidade tecnolégica © no enriqueceram LUNIDADE 2 do Brasil UNDRDE 2 © patiiménio cultural dos atficanos enquanto perdurou a relagéo de dominagao € submissdo, Além disso, @ preciso considerar que a colorizagéo foi feta com um niimero de colonos @ drigentes infritamente pequeno em relagdo as populagées locals; no howve a integragdo das ragas e fo! pouca @ miscigenacéo. (MARTINEZ, 1992, p. 11-12). O corolario desse tipo singular de colonizacao de contato minimo foi a institucionalizacao da politica de segregacao racial através do regime do apartheid, Estabelecido na Africa do Sul em 1948, o apartheid erigiu a separacao social entre negros e brancos a condicao de lei, diferenciando © racismo ali implantado de qualquer outra forma de preconceito praticada no continente. Foi apenas em 1994 que o regime do apartheid foi oficialmente revogado, o que naturalmente nao significou o fim de todos as mazelas que ele deixou. ES BEEN RESERVED FOR THE ; OF WHITE PERSONS. Provincial Secretary Imagem 16—"Para.o uso de pesos branes. Placa deadvertencia evidenia a da realidad enfrentada eos ndo-branoas na Aca do Sul Dispotve em: hp vapedia mobithumbi417501puixed 470430" ‘AparthedSignEnglishAfkaanspa"Yomatps Com base em tudo isso, é possivel formular uma ideia das enormes fraturas socioculturais sofridas pelos povos africans ndo sé durante a colonizagao, mas também ao longo de todo o intenso e extenso processo de exploracdo a que foram submetidos. Na maioria dos casos, as alteragdes promovidas pela ocupacdo europeia demonstraram ser completamente irreversiveis, eisso em praticamentetodosossetoresimagindveis: dageogratia * Histéria Contemporénea A demogratia, do Ambito psicolégico ao linguistico. Quer um exemplo? Basta observar o mapa do continente africano com um pouco mais de atencao para poder constatar o alcance das praticas colonialistas e imperialistas: [ua] na cartograia da Africa ficaram etemizadas as deformagées introduzidas pela : cocupagio colonial, As linhas demarcatérias dos limites entre um pais e outros néo respeitam o principio da ocupagao efetva dos africans primitives, o drt histrico. Os invasores colonials tragaram as fonteras de suas possess6es segundo os lites de forga ou de interesses que eles tinham para defendé-las ou explordas. Tettios pertencentes historicamente a determinadas populagSes foram cortados em pedacos @ ddominados por diferentes nagées européias, Populagdesidentifcadas pela mesma etia, mesma relgie, mesmo oma etc. foram divididas em colonias separadas, as vezes antagonicas. Essas deformagées tomararr- se ireversveis, Os afficanos compreenderam esse fato quando defiiram as estratégias da independéncia eda consolida¢ao dos novos paises. Tiveram de esignar-se a aceitar como seus 0s espagos demarcados pelos invasores brancos. De outro mado, seriam sactificados miles de Vidas humanas em disputas frontercas que enfraqueceriam 2 todos. Por isso adotaram o principio da ‘intangiblldade das fronteras herdadas do colonialsma’ (MARTINEZ, 1992, p. 20) Como se pode ver, além de ter enfrentado inimeras adversidades, © processo de descolonizagéo néo significou um rompimento total ¢ absoluto em relagao a dominagao das antigas metrépoles europeias, Assim, os lacos de dependéncia nao puderam ser inteiramente cortados, Na maioria dos casos, 0 que ocorreu foi apenas uma troca ou substituigao de um tipo de submissao por outro. Ainda que o poder tivesse trocado de maos, muitas vezes a estrutura politico-administrativa continuou a mesma dos tempos de dominio colonial europeu. Na Unido Indiana, por exemplo, criada logo apés o fim da ocupagao britanica em 1947, [uc] @ governo passou para as mos do Pardo do Congresso, representante da alla burguesia hindu, Os hindus europeizados conservaram a tiga maquina administatva, ‘a mesma burocraca, os trunas, a poicia do regime brtnico. A politica econdmica © social também nao ficou muito dferente daquela desenvolvda pelo ingleses:a grande propriedade permaneceu © os poderasos investmentos estrangeias continuaram gozar de protegdo; os prinipes foram poupados, recebendo importantes postos na administragao e na diplomaca, Sé ndo fram poupadas os sindicatos e as associagdes ccamponesas, cus membros encheram as prises, (CANEDO, 1990, p. 47-48) Ey Dano Universidade Aberte do Brasil 800 MORTOS EM ANCOLA 50 NAS GHACINAS DE 15 E 16 DE MARCO —REVELA UM JORNALISTA BELGA QUE DESCREVE AS HORRIVEIS BARBARI- DADES COMETIDAS PELOS TERRORISTAS Imagem 17 Em 1961, 0 jomal porugués 0 Séeulo waia noticias dos cnlios ene angolapose portuguese. Note se ouso da playa “terri, refrindo-se muito provavlmene os alfcans evolisos Disponivel em: gp wwweseasto pt AU7W/seancscoslvvNatisiamassacesAngolal961jpe E as dificuldades nao pararam por ai. Em paises em que o modelo socialista saiu vencedor das guerras de independéncia, tal como ocorreu em Angola, em Mocambique, na Etiépia e no Vietnd, os obstaculos interpostos foram ainda maiores. Foi mais otic para estes paises do que para vircs outros a tarefa de consolidar a independéncia, organizar o governo e restabelecer a ordem interna. Além de eles sofferem as deficiéncas estruturas legadas pela colonizagSo © agravadas por muitos ‘anos de guerra, os colonialstas contrwuaram financiando a guerra conta os gavemos Socialistas através de facgdes rivals e tropas mercendrias. O govemo de Angola teve de ser protegido por tropas cubanas durante varios anes, mas fol obrigado a fazer ‘concessées aos adversaries através de um acordo de paz ‘A partir das crises que afetaram o bloco socialista do Leste europeu e a propria Unido Sovidtica, as cifculdades eumentaram muito para os paises afrcanos que tinttam sociaistas no contrale do aparelno estatal Contra os governos dos paises socialstas alficanos, além das perdas materiais representadas por fata de ajuda econdmica © de abertura de mercados comerciais, aumentaram muito a propaganda ideclogica, as pressdes econdémicas e diplomticas e até as ameacas miltares do mundo capitalsa, (MARTINEZ, 1992, p. 83). Ainda que o autor esteja se referindo ao caso especifico da Africa, © mesmo também é valido para muitos pafses asidticos em situagao semelhante. As atrocidades da famosa Guerra do Vietna constituem UNDRDE 2 exemplos contundentes disso, pois demonstram um verdadeiro ataque aos direitos de todos os povos a independéncia e A paz. (MARQUES; BERUTTI; FARIA, 2003, p. 58) Imagem 18 Em um dos mats famosos registro dos hrrores da Guerra do Viet. pequena Phan Ths Kim Phi (@o ext) age em desespero aps er 65% de seu corpo qveimado pel exploso de Napain. A fot fo irada por iyah Cong Ut fort da spn Assosiated Press. Dispoive em: hpi. p blogspot. comy_eIRSxxXexYQ! “TS712KaHDIAAAAAAAAAzk9esIRVFQ)s| 600/Carot Vitenamia jp Diante de todas essas dificuldades € limitagdes, é inevitavel que nos perguntemos sobre 0 que de fato significou 0 processo de descolonizagao ocorrido no século XX. Houve mesmo conquista de liberdade efetiva por parte dos povos da Asia e da Africa? A proclamagao de independéncia das antigas colénias europeias teria sido um movimento esponténeo dos povos oprimidos? Ou responderiam as novas necessidades da situacdo politica internacional, comandada pelos interesses dos mesmos paises colonizadores? Ao final desta unidade, gostariamos que vocé pensasse um pouco sobre todas essas questées, uma vez que esto diretamente relacionadas com a concepgao de histéria que pretendemos adotar para conduzir nossas vidas. Para a professora Maria Yeda Linhares, por exemplo, tal reflexao deveria comecar pelo préprio termo ou conceito que utilizamos. * Histéria Contemporénea LUNIDADE 2 Universidade Aberte do Bra: UNDRDE 2 Afinal,descolonizacdo por qué? No seu nascedouro, a palavra descolonizacao ja vem carregada de ideologia, ‘parecendo definir um destino histérico dos povos colonizados: depois de ter colo- nizado, o europeu descoloniza, estando, pois, implicita a vontade do pafs coloni- zador de abrir mao de pretensos direitos adquiridas em determinado momento. A .generalizagao do termo implica, de certa forma, uma interpretacéo eurocéntrica da Histéria, ou seja, a nogao de que s6 a Europa possui uma Histéria ou & capaz de elaboré-la, Os outros nao tém Histéria: nem passado a ser contado nem futuro ‘ser elaborado. (LINHARES, 2005, p. 41, grifos da autora). INTESE Nesta unidade, procuramos apresentar a vocé algumas questies de fundo relativas a0 processo de descolonizacao da Africa e da Asia, Assim, ao invés de produzir um relato detalhado dos princpais movimentos de bertagdo ocorrdos nesses dois continentes, optamos por empreender uma reflexdo de carster mais genérico, contrada, sobretudo, nas motivacées e nos lites do proceso de descolonizagdo. A desoeito disso, porém, vocé deve estar ciente de que os aspecios abordados ‘aqui ndo pretendem encerrar a questo, mas antes demanstrar sua complexidade e profundidade ‘Adela da unidade foi justamente chamar sua atengo para elementos que nem sempre so levados fem conta num exame apressado ou advindo do senso comum, Se 20 menos em parte tal objetivo fo alcangado, voce deve estar querenda conhecer ainda mais a fundo este importante movimento da contemporaneidade. SAIBA MAIS b a Livros LINHARES, Maria Yedda. A luta contra a motrépolo: Asia e Africa. Sao Paulo: Brasilense, 1983, SANTIAGO, Theo (01g). Descolonizagao. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977, SARAIVA, José Flavio Sombra. A formagao da Africa contemporénea, Campinas: Alva, 1903, YAZBEK, Mustafé. Argélia: a guerra a independéncia, So Paulo: Brasiiense, 1983. Filmes ‘ABatalha de Argel Qtlia/Argé! Diregio:Gillo Pontecono uma clissca produgdo do cinema que busca retratar, em forma de dacumentério, 08 anos cuciais da revolta eda uta dos argelines pela ivertagdo do dominio colonial francés. 1965)

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