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Videobook 6

O ator deve editá-lo para reduzir para 1:15, no máximo.

MADRUGADA É UM LUGAR QUE NÃO EXISTE

Noite. Quem não ama essa palavra? Se você pudesse me ver agora, iria rir do meu dedo
indicador apontado para cima. Néon, paetês, consumação mínima, tudo isso me dá urticária.
Não que eu seja uma eremita incorrigível. Um restaurante, um espetáculo, um cinema, adoro.
Uma vez por semana, civilizadamente. E voltando antes da meia-noite, para que eu não dê o
vexame que tantos amigos meus já testemunharam: depois de uma certa hora, apago onde
estiver, saio do ar. É como se caísse a chave-geral: fico com aquele sorriso de quem está
chapado e não registro mais o que acontece a minha volta. Uma espécie de Cinderela, só que
quem vira abóbora sou eu.

Vida noturna é para profissionais. Eu fiz esforços sobre-humanos na adolescência, quando as


festas começavam, como hoje, muito depois das doze badaladas. Ninguém pode calcular o
meu sofrimento nas noites de sábado. Fingia que achava aquilo tudo normal, mas por dentro
eu não me conformava: minha ideia de diversão era bem diferente. Me sentia uma marciana
vestida de lurex, os bocejos estragando a maquiagem. Quando fui informada de que nos países
civilizados jantava-se entre sete e oito, e que em Londres os pubs fechavam às 11, salivei,
suspirei e entendi: caí aqui por engano.

Minha noite é um fiasco: hora de desacelerar, tomar um vinho em casa, passar os olhos numa
novela e depois ir para a cama cometer loucuras, como dormir. Madrugada? É um lugar que
não existe.

Aqueles que me acham antipática talvez agora me vejam com olhos mais complacentes. Minha
ausência em badalações não se trata de um problema de humor, mas de relógio biológico.
Nunca consegui acertar os ponteiros com a noite. O escuro não é meu aliado. Fiat lux! Agora,
sim, você está me vendo.

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