Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Noite. Quem não ama essa palavra? Se você pudesse me ver agora, iria rir do meu dedo
indicador apontado para cima. Néon, paetês, consumação mínima, tudo isso me dá urticária.
Não que eu seja uma eremita incorrigível. Um restaurante, um espetáculo, um cinema, adoro.
Uma vez por semana, civilizadamente. E voltando antes da meia-noite, para que eu não dê o
vexame que tantos amigos meus já testemunharam: depois de uma certa hora, apago onde
estiver, saio do ar. É como se caísse a chave-geral: fico com aquele sorriso de quem está
chapado e não registro mais o que acontece a minha volta. Uma espécie de Cinderela, só que
quem vira abóbora sou eu.
Minha noite é um fiasco: hora de desacelerar, tomar um vinho em casa, passar os olhos numa
novela e depois ir para a cama cometer loucuras, como dormir. Madrugada? É um lugar que
não existe.
Aqueles que me acham antipática talvez agora me vejam com olhos mais complacentes. Minha
ausência em badalações não se trata de um problema de humor, mas de relógio biológico.
Nunca consegui acertar os ponteiros com a noite. O escuro não é meu aliado. Fiat lux! Agora,
sim, você está me vendo.