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Coordenagao de Ensino Instituto IPB JIPB Instituto Pedagdgico Brasileiro PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA www.institutoipb.com.br J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore TICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA SUMARIO O PAPEL DO EDUCADOR FRENTE A EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS CONSIDERAGOES FINAIS ALFABETIZACAO E LETRAMENTO O LETRAMENTO CRITICO A FORMACAO DO CIDADAO LETRADO. FRENTE AOS DESAFIOS CURRICULARES LINGUA PORTUGUESA Linguagem Oral Linguagem Escrita A Analise Linguistica MATEMATICA, Resoluco de Problemas. Nimeros e Operagdes Numéricas Medidas Geometria. Introdugao a ——Esstatistica ESTUDOS DA SOCIEDADE E DA NATUREZA O Educando e o Lugar de Vivéncia. © Corpo Humano e Suas Necessidades. Cultura e Diversidade Cultural (Os Seres Humanos e 0 Meio Ambiente As Atividades Produtivas As Relacdes Sociais Cidadania e Participagao CONSIDERAGOES FINAIS OS SIGNIFICADOS DA ALFABETIZACAO Aifabetizacao Como Busca de Emprego. Alfabetizacao Como Prazer em Aprender. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 14 16 20 23 25 28 29 30 33 33 35 36 36 36 36 37 38 38 39 39 39 40 40 a1 42 43 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore TICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA Aifabetizacao Como Exercicio da Cidadania ‘Aifabetizaco Como Uso da Norma-padrdo da Lingua ‘Aifabetizacao Como Busca de Mais Convivéncia Social O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS ‘A Avaliagdo na Educacao de Jovens e Adultos Na avaliacdo do que sabem os alunos No acompanhamento do planejamento No registro do(a) professor(a) 0 Registro As Diferentes Formas de Registrar Avaliag’o Como um Instrumento do Professor e do Aluno CONSIDERAGOES FINAIS O PROJETO INTERDISCIPLINAR Uma Nova Visao de Mundo CONSIDERAGOES FINAIS CONCLUSAO REFERENCIAS ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 43 44 44 45 48 49 49 50 51 53 54 55 87 62 64 65 or J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA © PAPEL DO EDUCADOR FRENTE A EDUCACAO DE JOVENS E ADULTOS Com 0 avango da legislaco educacional brasileira voltada para a Educagao de Jovens e Adultos, 0 papel do educador em relacdo @ EJA possui trés dimensdes de ensino, sendo elas a dimensao politica, a dimensao pedagégica e a dimensao ética O professor é um educador que contribui para a educacao do educando e sendo assim tem que estar pautado em socializar seus conhecimentos, visando uma educacao de qualidade para o educando; torna-se educador, no decorrer de sua existéncia, ensinando o conhecimento ao aprendiz; com isso 0 educador ganhou uma parte importante de responsabilidade sobre que é ensinar: Na atuagao pedagogica deve ser acrescentada a dimensao educativa, que Ihe € imputada por forca de sua propria definicdo institucional. O Professor é um educador... e, no querendo sé-lo, torna-se um deseducador. Professor-Instrutor qualquer um pode ser dado que ¢ possivel ensinar relativamente com o que se sabe; mas Professor! Educador nem todos podem ser, uma vez que sé se educa o que se & (ROMAO, 2001, p.61 ) De algum modo todos somos educadores, mas 0 educador é institucionalizado estabelecendo relagdes metédicas, formais e sistematicas com outros educadores sempre procurando orientar e mediar o conhecimento cognitivo: Enquanto o saber sistematizado, com densidade epistemolégica, pode ser adquirido em curés, treinamento e capacitacdes, 0 ser educador vai se construindo com o saber adquirido na teia das relagSes historicamente determinadas, que vao construindo as duvidas, perplexidades, conviccées e compromissos. Por isso, nao ha como fugir de uma analise da insercdo do Professor na sociedade concreta, abordando todas as dimensées de seu papel — atribuido ou conquistado. E nao se trata de qualquer Professor e de qualquer sociedade; trata-se do Educador de jovens e adultos, na sociedade brasileira, neste final de século (ROMAO, 2001, p.64 ) Na Dimensao Politica, devemos reconhecer que 0 empenho na Educacao Basica é dar um enfoque maior em que 0 compromisso do educador é a mobilizagao e organizagao dos projetos da Educacao Basica. Sendo educadores nos gestos, atitudes, palavras de ordens; tornando-se necessario identificar com clareza os aliados e adversarios. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 JipB I tits Pago as oe Em Escolas Publicas, 0 educador tem sido alvo de movimentos reivindicatorios, onde se reflete 0 cargo do educador que estuda as formas e estratégias de aula trocando experiéncias com outros educadores capacitados e, assim, em uma sala de aula tentam mudar 0 mundo pela educacao e resultam em grandes gestos, iniciativas cotidianas, e a persisténcia Atualmente, faz-se necessario a superacao da concepeao autoritaria, em que © educador se coloca como unico detentor do conhecimento e que tem o papel de repassar todas as informagGes, todo o contetido para o educando; o educador autoritario impée um jeito impaciente de ensinar a sua atividade e com isso espera que os educandos absorvam os conhecimentos por ele demonstrados. Essa concepcao autoritaria de ensino implica em uma avaliagéo de classificar os educandos por quantidade de conhecimento obtido no decorrer das aulas. Com a Dimensao ética, a educacdo passou a ser um instrumento de desenvolvimento de diferencas econémicas entre os individuos nas classes sociais dentro da sociedade, onde muitas vezes o papel do professor resume-se a reproduzir as diferencas colocadas socialmente. Essa é uma profissao dificil que exige seguranca, tranquilidade, equilibrio, competéncia, compromisso, e acaba sendo pouco reconhecida. A formacao do educador vem sofrendo falta de reconhecimento social. Um ponto fundamental é a relaco com o educando perseguindo uma qualidade na pratica do alfabetizador e sua experiéncia como leitor e escritor. Educar implica em ser referéncia para os alunos e a formacao inicial nao determina a qualidade do alfabetizador, mas contribui para que essa qualidade melhore paulatinamente nos espagos de formacao continuada A construgao do conhecimento é uma formagao cientifica que surge com um ponto de reflexdo e uma pergunta, base para que seja a pratica do educador pesquisador; as vezes responde-se as perguntas e com isso configura-se um educador critico-reflexivo. A formacao é uma pratica de conhecimento e todo conhecimento nasce com uma pergunta. A pergunta é 0 primeiro passo do conhecimento. As perguntas surgem na acao, em sua grande maioria. Tentar responder as perguntas antes que elas surjam na cabeca do alfabetizador é, no minimo, pouco racional. No entanto, isto que acontece nas formacées que antecedem a acdo. Temos, ent, 0 absurdo de ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 JipB I tits Pago as oe responder a perguntas nao formuladas e depois, quando elas aparecem, nao ter um momento de formacao para respondé-las (BARRETO, 2001, p.81 ) Neste sentido, € fundamental 0 educador participar efetivamente de programas de formacao continuada, onde a maioria das dificuldades enfrentadas ocasionam uma certa angustia e 0 professor nao consegue resolvé-las, sentindo a necessidade de uma assessoria pedagégica como uma das melhores formas de interferir na realidade, e assim é aplicada essa teoria em pratica e com isso a formagao nao tem a finalidade de trabalhar discursos e sim a pratica com os educadores. A forma de estabelecer o conhecimento tedrico observando a pratica. A unica forma segura de identificar a teoria que sustenta a pratica do alfabetizador é a observacao da pratica do proprio alfabetizador. E nesta pratica que se exprime no que o alfabetizador realmente acredita. Esta observacao pode ser feita pela observacio direta ou pelos relatos do proprio alfabetizador (BARRETO, 2001, pp.84-85 ). Os contetidos administrados devem ser o mais claro e assimilaveis possiveis, lembrando-se que ensinar 0 educando nao é transmitir conhecimento, e sim criar as possibilidades para sua producdo ou construgao do conhecimento, pois quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Paulo Freire (1987) propde que seja trabalhada a conscientizagao como forma de resgatar as pessoas da condigao de vida que se encontram, isso implicaria numa transformagao total da teoria e pratica, que é abordado a necessidade da conscientizagao com objetivo de libertar os oprimidos da violenta opressdio a que esto submetidos conduzindo para um viver generosamente auténtico, critico. De acordo com Freire (1987) é usada uma concepeao apontada por “Educacdo Bancaria’, como instrumento de opressao as classes menos favorecidas, que seriam libertas mediante o fundamental papel da educacdo. Na Educagao Bancaria, 0 educando é visto como individuo que nao sabe de nada, alguém que recebe conhecimento dos educadores que julgam saber de tudo, onde o educando € aquele que recebe depésitos na mente e os armazena A narracao de que o educador é 0 sujeito, conduz os educandos a memorizaco mecanica do contetido narrado. Mais ainda, a narragao os transforma em “vasilhas” em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais va “enchendo os recipientes com seus “depésitos, tanto melhor educador sera. Quanto ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 J IPB IPB - Instuto Pedagéaico Brasileiro hd —PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A ETA mais se deixem docilmente “encher" tanto melhores educandos serao (FREIRE, 1987, p.58). A Educacao Bancaria instiga 0 desacordo na medicacao entre educador- educando, onde 0 educador ¢ visto como quem educa, que sabe e pensa, impée a disciplina, opta pelos contetidos e métodos, mostrando-se que é a autoridade na sala de aula, em que os educandos nao sabem nada, sé escutam, sao disciplinados, nao podendo ser ouvidos Para Freire (1987), essa perspectiva de trabalho docente é identificada como processo de alienacdo, nao tendo criatividade nenhuma na sala de aula, uma vez nao criativo nao sabera transformar essa relagao. Esse siléncio que o educador realiza no educando acaba criando a condigao de um sujeito passivo que nao participa do processo educative © educador, que aliena a ignorancia, se mantém em posigées fixas, invaridveis. Ser sempre o que sabe, enquanto os educandos serao sempre os que no sabem. A rigidez desta posigdes nega a educacdo e 0 conhecimento como processos de busca (FREIRE, 1987,p.58) Para superar a Educacdo Bancaria que é a pratica que produz o falso saber tomando 0 educando um sujeito nao critico, e poder conseguir trabalhar a educagao como pratica e tendo liberdade, é sugerido a Educacao Problematizadora, onde a realidade é inserida no contexto educativo, sendo valorizado o didlogo, a reflexao e a criatividade, de modo a construir a libertacao. Em verdade, nao seria possivel a educacao problematizadora que rompe com os esquemas verticais caracteristicos da educagdo bancaria, realizar-se como pratica da liberdade, sem superar a contradicdo entre o educador e os educandos. Como também nao Ihe seria possivel fazé-lo fora do dialogo (FREIRE, 1987, p.68) Assim, a realidade da Educagao problematizadora é inserida no contexto educativo, sendo valorizado o dialog, a reflexao e a criatividade, de modo a construir a libertacao, buscando trabalhar a teoria dialégica, opondo-se & manipulacéo das classes menos favorecidas pela cultura mediante os meios de comunicagao, no qual devem ser conduzidas ao didlogo Freire (1987) diz que a teoria da acao dialogica escrita pela organizacao e sintese cultural é forte arma de combate a manipulacao se usada pela lideranca revolucionaria. © didlogo é necessario na educacao como pratica da liberdade, ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 JipB I tits Pago as oe estando presente em todos os momentos do processo ensino-aprendizagem, da busca e pedo pelos contetidos, métodos, temas geradores e seus significados até as relacdes homens-mundo © didlogo aparece como o grande incentivador da educagao mais humana e até revolucionaria, 0 educador antes dono da palavra passa a ouvir, e segundo Freire (1987) “no é no silencio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na agao- reflexdo, assim foi chamado de mediatizagao pelo mundo, em relago ao educador- educando E necessario que no didlogo, e na mediaco haja humildade e fé no educando, © didlogo comeca na busca do contetido programatico, ou seja, a listagem de conhecimentos que o aluno tomara contato em determinado ano, série, escola. Para © educador, 0 contetido nao é uma doacdo ou uma imposicao, mas a devolugao organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que esta Ihe entregou de forma desestruturada Para a escolha do contetido programatico é proposto que seja construido a partir de temas geradores, e o contetido para o educando passa a ser investigado e destacado para tomar o trabalho em equipe de forma interdisciplinar. Na alfabetizacao (de adultos), o destaque ¢ feito por meio de palavras geradoras, ja que 0 objetivo é 0 letramento, porém de forma critica e conscientizadora E mostrada a teoria da aco dialégica sendo apoiada pela colaboracao, organizacdo e sintese cultural, tendo como compromisso a libertacdo das pessoas oprimidas que sao vistas em um sentido, onde muitas vezes a vida é proibida de ser vivida. Isto devido as condigdes precarias em que vivem, convivendo com injusticas, misérias e enfermidades, onde é obrigada a manter a condico de opressao. Impée-se, pelo contrario, a dialogicidade entre a lideranca revoluciondria e as massas oprimidas, para que, em todo o processo de busca de sua libertacdo, reconhega na revolugao o caminho da superacao verdadeira da contradicao em que se encontram, como um dos pélos da situagao concreta de opressao. Vale dizer que devem se engajar no processo com a consciéncia cada vez mais critica de seu papel de sujeitos da transformagao (FREIRE, 1987, pp. 123-124), ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 10 JipB I tits Pago as oe Nos dia de hoje, a idade jovem e adulta veio ser reconhecida e é constituida € exigidos saberes, habilidades, socializacées, informagées, conhecimentos, valores, que sao préprios dessas idades, independentemente dos anos de escolarizagao tidos na infancia, saberes que sao construidos no conjunto de relagdes e experiéncias e que so exigidos para lidar com o trabalho, e a sua cultura, tornando- se importante que a educaco oferecida aos alunos jovens e adultos seja dotada de estatuto tedrico-metodolégico proprio. Os educandos e educadores vao se transformando em sujeitos reais da construgao e reconstrugao em relagao da qualidade na aprendizagem, e no saber onde nao ha ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino, cabe ao professor continuar pesquisando para melhor atualizacaio de conhecimentos. A pesquisa se faz importante também, pois nela se cria o estimulo e o respeito capacidade criadora do educando. Nao hd ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatands, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer 0 que ainda nao conheco e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p.29). A escola e os educadores precisam respeitar 0 educando podendo, assim, trabalhar seu conhecimento empirico, sua experiéncia anterior e aconselha-se a discussdo sobre os problemas sociais que as comunidades carentes enfrentam e a desigualdade que as cercam As teorias e as novas descobertas realizadas precisam ser debatidas e aceitas mesmo que parcialmente, porém é importante que se preserve de alguma forma, 0 conhecimento obtido anteriormente e as formas tradicionais de educacao. Qualquer forma de discriminacao seja ela: racial, politica, religiosa, de classe social é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconhega a fora dos condicionamentos a enfrentar, sendo uma ago de reprovacdo, pois a discriminacao nega radicalmente a democracia e fere a dignidade do ser humano. © educador representa muito na vida do educando, onde um gesto mal interpretado pode ser fatal, e o que pode ser considerado um gesto insignificant ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 uw JipB I tits Pago as oe pode valer como forca formadora para o desenvolvimento intelectual e académico do educando As vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. © que pode um gesto aparentemente insignificante valer como forga formadora ou como contribuicao a do educando por si mesmo (FREIRE, 1996, P.42). Portanto, ensinar exige bom senso, observando como os educadores esto agindo ao cobrar os contetides das suas disciplinas, o exercicio ou a educacao do bom senso vai superando o que ha nele de tendéncia natural na avaliacdo que é feita. O educador que pensa certo deixa manifestar aos educandos que a beleza de se estar no mundo ¢ a capacidade de perceber que ao intrometer-se no mundo ele conhecera e transformara o mundo. educador que desacata a curiosidade do seu educando, a sua linguagem, a sua ortografia, que ironiza 0 aluno, que o minimiza entre outras ofensas em defesa da ordem em sala de aula, transgride os principios fundamentais éticos de nossa existéncia e esta transgressdo jamais poder ser vista ou entendida como virtude, mas como abertura com a dignidade Se ha uma pratica exemplar como negacao da experiéncia formadora é a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e, em consequéncia, a do educador. E que o educador que, entregue a procedimentos autoritarios ou paternalista que impedem ou dificultam © exercicio da curiosidade do educando, termina por igualmente tolher sua prdpria curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta eticamente no exercicio da nega¢ao da outra curiosidade (FREIRE, 1996, p.85) Com isso, 0 educando deve ser civilizado e determinado a lutar pelos direitos dos professores, apoiando sua luta por saldrios mais justos e respeito por sua profisséo. O responsdvel da classe deve priorizar 0 empenho da formacao permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente politica e repensar a pratica das greves, inventando uma nova maneira de lutar que seja mais eficaz A maioria dos educadores luta pela dignidade de sua fungao, nao sendo somente importante como pode ser interpretada como uma pratica ética. Quanto as comunidades carentes, a mudanca ¢ dificil, mas é possivel, baseando-se neste saber fundamental, é que a aco politico-pedagogica poderd ser programada com ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 12 JipB I tits Pago as oe esperanga, respeito e conscientizacao, nao impondo a populacao expulsada e sofrida que se revolte, que se mobilize ou se organize para se defender. Mas sim trata de mostrar aos demais grupos populares um desafio para que percebam a violéncia e a profunda injustica que caracterizam sua situacao, desta forma a educacao se faz presente como interferir no mundo. Consiste em uma exclusividade humana, em que 0 ato de educar exige seguranga, competéncia profissional, comprometimento e generosidade. O educador que no leva a sério sua formacao, ndo quer aprofundar e melhorar o seu conhecimento; nao tem forca moral para coordenar as atividades de sua classe. Existem educadores preparados com seu conhecimento atualizado, mais a maioria deles sao autoritarios e arrogantes em relagao ao educando, onde a incapacidade profissional e o despreparo comprometem a autoridade do educador. L..] nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competéncia. O professor nao que nao leve a serio sua formacao, que nao estude, que nao se esforce para estar a altura de sua tarefa nao tem forca moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto nao significa, porém, que a opedo e a pratica democratica do professor ou da professora sejam determinadas por sua competéncia cientifica. Ha professores e professoras cientificamente preparados mas autoritarios a toda prova O que quero dizer é que a incompeténcia profissional desqualifica a autoridade do professor (FREIRE, 1996, pp. 91-92). Seguindo esta linha de raciocinio é importante que o educador tenha autoridade, mas nao seja autoritario: A autoridade coerentemente democratica, fundando-se na certeza da importancia, quer da liberdade dos educandos para a construgao de um clima de real disciplina, jamais minimiza a liberdade. Pelo contrario, aposta nela. Empenha-se em desafid-la sempre e sempre; jamais vé, na rebeldia da liberdade, um sinal de deterioragao da ordem (FREIRE, 1996, p.93). Educar néo é transferir conhecimento e sim criar possibilidades para sua produco ou sua construgao, nao existe educador sem educando em uma sala de aula esperando para ter 0 conhecimento desejado, no entanto o educando é a tnica razo para 0 educador estar ali, 0 educador nao pode deixar escapar nenhum detalhe de seu educando devendo sempre despertar e instigar a curiosidade e capacidade ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 13 JipB I tits Pago as oe critica, exigindo pesquisa para conhecer e 0 que ainda nao conhece comunicar a novidade Para instruir os educandos é necessdrio respeito, criatividade, deixar de ser ingénuo passando a ser um individuo critico no sentido de ser curioso em relagao a aprendizagem dos educandos. Ensinar é dar vida as palavras, onde o educador que nao consegue expressar aquilo que pensa com exemplos praticos de nada serve 0 que ele fala. Saber, quer dizer seguranga no que diz. Segundo Paulo Freire (1996), 0 professor devera ensinar a pensar certo, sendo a pratica educativa a disponibilidade ao risco, a aceitacéo do novo e a utilizaco de um critério para alargar o ensino antigo, estando presente a rejei¢ao a qualquer tipo de descriminagao. Ainda destaca a importancia de propiciar condigdes aos educando, em suas socializacdes com os outros e com o professor, de testar a experiéncia de assumir-se como um ser histérico e social Acredita-se que a educagao é uma forma de transformacao da realidade, que nao é neutra e nem indiferente, mas que tanto pode destruir a ideologia dominante como manté-la. Segundo Paulo Freire (1996), os educadores tém a precisao de criar condi¢ées para a construgao do conhecimento para os educandos como parte de um processo em que o educador e o educando no se reduzam a condigao de objeto um do outro, porque ensinar nao é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua prépria producdo ou a sua construcao. Os educandos e os educadores precisam ser acatados em sua autonomia, portanto a autoavaliacao é um excelente recurso para ser utilizado dentro da pratica pedagégica, necessitando de estimulos que despertem a curiosidade e, em decorréncia disso, a busca para chegar ao conhecimento. © educador ndo deve barrar a curiosidade do educando, pois é de fundamental relevancia @ sua imaginaco, intuicdo, senso investigativo, enfim, sua capacidade de ir além, e instigar a ser um individuo curioso Paulo Freire (1996) protege a conquista de conhecimento e afetividade por parte do educador para que tenha liberdade, autoridade e competéncia no decorrer de sua pratica docente, acreditando que a disciplina verdadeira nao esta na quietude do individuo presente e sim naquele que é um ser critico. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 14 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore TICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA A autoridade e liberdade do educador deve ser exercida de forma que a liberdade deve ser vivida em sua totalidade com a autoridade em uma relaco logica, centrada em experiéncias estimuladoras de decisao e responsabilidad Noutro momento deste texto me referi ao fato de nao termos ainda resolvido © problema de tensao entre a autoridade e a liberdade. Inclinados a superar tradi¢ao autoritéria, t&o presente entre nos resvalamos para formas licenciosas de comportamento e descobrimos autoritarismo onde sé houve o exercicio da autoridade (FREIRE, 1996, p.104), Na maioria das vezes, o educador tem que saber escutar 0 educando, pois é somente escutando, critica e pacientemente, que se é capaz de falar. O educador como um ser histérico, politico, pensante, critico e emotivo deve procurar mostrar 0 que pensa, indicando diferentes caminhos sem conclusdes acabadas e prontas, para que 0 educando construa assim a sua autonomia. Escutar é obviamente algo que vai mais além das possibilidades auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura a fala do outro, ao gesto do outro, as diferencas do outro. Isto nao quer dizer, evidentemente, que escutar exija de quem realmente escuta sua reduco ao outro que fala (FREIRE, 1996. p.119) Para Freire (1996), ensinar exige querer bem aos educandos, expressando a afetividade. A atividade docente é uma atividade também de carater afetivo, porém de uma formacdo cientifica séria, juntamente com o esclarecimento politico dos educadores. CONSIDERAGOES FINAIS Compreendemos que é importante analisarmos as mesmas e notar 0 quanto elas propdem principios que poderao torar-se norteadores de todo o trabalho com aEJA Vimos, ainda, o fundamental papel que o educador que esta frente a uma sala de Jovens e Adultos precisa desempenhar. Sabemos que a acdo docente no é simples, mas composta de uma certa complexidade, que exige preparo, competéncia técnica e metodolégica. Esse é um grande desafio: que nossos educandos sejam encaminhados por profissionais devidamente preparados. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 15 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA A falta de profissionais com perfil para trabalhar na EJA é um problema sério e que acarreta uma série de dificuldades para que possamos seguir as bases curriculares oferecidas aos mesmos. Ser professor na Educacdo de Jovens e Adultos no é para qualquer professor. Implica em um perfil apropriado. A avaliacéo, metodologias e relacdo professor e aluno precisam ser adequadas a esta modalidade de ensino. O que exige desse profissional lidar com varias realidades e atuar dentro de uma especificidade © JOVEM E O ADULTO NA SOCIEDADE LETRADA: QUESTOES CURRICULARES EM FOCO Em sociedades industrializadas modemas, o uso da leitura e da escrita, assim como das diversas tecnologias, é cada vez mais exigido nas praticas sociais Dessa forma, é importante que as pessoas saibam escrever, que compreendam as noticias dos jornais, que defendam seus direitos de consumidor, dentre outras atividades necessdrias no cotidiano de um cidadao. Jovens e adultos que nao sabem ler e escrever convivem em uma sociedade letrada, porém, sua participagao nela é, muitas vezes, restrita. Varios sao excluidos e se tornam alvo de facil manipulaco, pois seus conhecimentos sao considerados inferiores em relacdo aos apresentados por pessoas escolarizadas. Assim, nessa unidade refletimos sobre o jovem e o adulto na sociedade letrada, iniciando por uma discussao sobre a dicotomia alfabetizacao e letramento, seguindo por definigdes e caracteristicas do letramento critico, por consideragdes sobre o cidadao letrado e por uma reflexao a respeito do educador de jovens e adultos. Para finalizar, incluimos, como leitura complementar, a reportagem “Histérias de jovens adultos", publicada na Revista Nova Escola on-line, em 22/02/2008 A unidade tem como referéncias, diferentes obras e artigos cientificos de pesquisadores como Leda Verdiani Tfouni, Magda Soares, Sylvia Bueno Terzi, Jaqueline Moll, Angela Kleiman e Luiz Paulo da Moita Lopes. www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 16 instituto Pedagégico Brasileiro JIPB atc iatatetmineebre % TioAS PEDNGSCIONS PARA A EDA ALFABETIZAGAO E LETRAMENTO De acordo com Tfouni (1995), nem sempre os termos escrita, alfabetizacdo e letramento tém sido enfocados, pelos estudiosos, como um conjunto, ja que muitos consideram a escrita como um produto cultural e a alfabetizacdo e 0 letramento como processos de aquisi¢ao de um sistema escrito. ‘ Para a autora, a escrita “é o produto cultural por exceléncia’ (Tfouni, 1995, p.10) e pode ser vista como uma das principais causas do surgimento das civilizagdes modernas, associandose ao desenvolvimento cientifico, tecnolégico, cultural, cognitivo e social dos povos. Além disso, ela se relaciona com os jogos de poder e dominagao que esto por tras da utilizagao de um cédigo escrito. Quanto @ alfabetizacao, a autora aponta para duas concepgées existentes. A primeira é vista como um processo de aquisicao individual de habilidades requeridas para a leitura e a escrita, considerada como algo que se chega a um fim, correspondendo a um modelo linear de desenvolvimento, em que se aprende a usar e decodificar simbolos graficos que representam os sons da fala, partindo de um ponto e chegando a outro A segunda concepeao ¢ vista como um processo de representacao de objetos de diferentes naturezas, caracterizando-se pela incompletude, pois passa por variaveis, desde a questo da escolarizacao, até a consideracao de que esse nao é um processo linear, j4 que segue um percurso determinado pelas buscas sociais, nas quais 0s individuos se engajam. Dessa forma, conforme Tfouni (1995, p. 15), a partir de uma viséo sociointeracionista, “a alfabetizacao, enquanto processo individual, ndo se completa nunca, visto que a sociedade esta em continuo proceso de mudanca, e a atualizacdo individual para acompanhar essas mudancas é constante”. Por isso, a autora prefere falar em niveis de alfabetizacao Quanto ao termo letramento, podemos dizer que é um vocabulo novo nas areas da Educagao, da Linguistica e da Linguistica Aplicada, 0 que causa certa polémica quanto a sua definigao. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 wv JipB I tits Pago as oe De acordo com Soares (2004), 0 termo letramento surgiu na década de 80, simultaneamente, no Brasil, na Franca (illettrisme), em Portugal (literacia), nos Estados Unidos e na Inglaterra (literacy). Dessa forma, varias pesquisas surgiram em tomo do tema que se operacionalizou em varios programas de avaliacao do nivel de competéncias de leitura e escrita. Na mesma época, a Organizacao das Nacées Unidas para a Educagao, a Ciéncia e a Cultura (UNESCO) sugeriu que as avaliacdes interacionais sobre dominio de competéncias de leitura e de escrita fossem além do medir apenas a capacidade de saber ler e escrever. Assim, nos paises desenvolvidos: As praticas sociais de leitura e de escrita assumem a natureza de problema relevante no contexto da constatagao de que a populacdio, embora alfabetizada, néo dominava as habilidades de leitura e de escrita necessdrias para uma participacdo efetiva e competente nas praticas sociais e profissionais que envolvem a lingua escrita (SOARES, 2004, p. 6) Na Franca, por exemplo, conforme a autora, o letramento surge para caracterizar jovens e adultos que possuem um dominio precario das competéncias de leitura e de escrita, dificultando sua inser¢éo no mundo social e no mundo do trabalho. Ja, no Brasil, © movimento se deu em outra diregao, mantendo sua especificidade no contexto das discussdes sobre problemas de dominio, de habilidades de uso da leitura e da escrita. Assim, em nosso pais, os conceitos de alfabetizacao letramento acabaram se mesclando e, frequentemente, sendo confundidos. Para Kleiman (1995, p. 19), letramento é definido como “conjunto de praticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbélico e enquanto tecnologia, em contextos especificos, para objetivos especificos’ A partir desse conceito, podemos dizer que as praticas de letramento mudam conforme mudam o contexto em que estdo inseridas e, por conseguinte, podemos dizer também que as orientagdes de letramento sao especificas em cada uma de suas agéncias, quais sejam: escola, familia, igreja, local de trabalho, dentre outras. Kleiman (1995, p.20) afirma que a escola, principal agéncia do letramento, “preocupa-se, ndo com o letramento, pratica social, mas apenas com um tipo de pratica de letramento, a alfabetizacdo [...]’. Segundo a autora, a escola privilegia a aquisicao do cédigo escrito, em detrimento ao desenvolvimento de habilidades para ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 18 JipB I tits Pago as oe usar a leitura e a escrita em diversos contextos socioculturais e possibilitar, ao aluno, © desenvolvimento da competéncia para se inserir nas diversas praticas de letramento, de forma auténoma Assim, segundo Tfouni (1995), 0 letramento pode ser entendido em carater de produto, como: a) Aquisi¢ao da leitura e da escrita como cédigo (alfabetizacao tradicional), b) — Arelacdo entre leitura e escrita e o desenvolvimento da sociedade e dos recursos tecnolégicos. c) Oaprendizado, como produto de atividades mentais do individuo. Tais perspectivas estao centradas apenas nas habilidades de leitura e escrita, entretanto, para esta autora, letramento é algo muito mais amplo e complexo, pois seu processo envolve uma natureza sécio-histérica Magda Soares (1998) também considera o letramento como pratica social de interacao oral, em que a lingua é vista como interaco entre os interlocutores, os quais vao se construindo enquanto individuos ao longo de suas trocas linguisticas. Moita-Lopes (2004) postula que o letramento tem sido considerado apenas como habilidades de decodificagao ou de cogni¢ao, sem considerar o sujeito letrado e as praticas sociais em que ele est envolvido. Logo, para o autor, 0 termo é entendido como praticas discursivas, ou seja, modos de usar a linguagem e fazer sentido, tanto na fala, como na escrita. Para ele, essas praticas discursivas estéo diretamente ligadas a constituicéo da identidade das pessoas, assim, mudar de pratica discursiva significa mudar de identidade. Percebemos, portanto, que Soares e Moita-Lopes vém ao encontro de Tfouni (1995, pp. 2021), ao dizerem que o letramento focaliza os aspectos sécio-historicos da aquisico de um sistema escrito por uma sociedade. Segundo a autora, estudiosos do letramento buscam responder as seguintes questées: - Quais mudancas sociais e discursivas ocorrem em uma sociedade quando ela se torna letrada? - Grupos sociais nao-afabetizados que vivern em uma sociedade letrada podem ser caracterizados do mesmo modo que aqueles que vivem em sociedades “iletradas"? ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 19 JipB I tits Pago as oe - Como estudar e caracterizar grupos nao-alfabetizados cujo conhecimento, modos de produgao e cultura esto perpassados pelos valores de uma sociedade letrada? Dessa forma, a autora demonstra que os estudos do letramento nao se restringem as pessoas que adquiriram a escrita (alfabetizados), mas investigam as consequéncias da auséncia da escrita em individuos ou comunidades perpassados pelos valores das sociedades letradas. Assim, Tfouni considera que ha graus de letramento e argumenta que os termos “‘letrado” e “letrado” ndo podem ser usados como anténimos, pois, em sua concepcao, nas sociedades modernas, 0 “iletramento’, ou “letramento de grau zero” no existe, jd que elas sao perpassadas pela escrita Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e facam parte da vida do aluno. Magda Becker Soares, professora titular da Faculdade de Educacéo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e doutora em educagao, explica que ao olharmos historicamente para as ultimas décadas, poderemos observar que o termo alfabetizacao, sempre entendido de uma forma restrita como aprendizagem do sistema da escrita, foi ampliado. Ja no basta aprender a ler e escrever, é necessario mais que isso para ir além da alfabetizagdo funcional (denominagéo dada as pessoas que foram alfabetizadas, mas ndo sabem fazer uso da leitura e da escrita). O sentido ampliado da alfabetizacao, o letramento, de acordo com Magda, designa praticas de leitura e escrita A entrada da pessoa no mundo da escrita se da pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Além disso, © aluno precisa saber fazer uso e envolver-se nas atividades de leitura e escrita. Ou seja, para entrar nesse universo do letramento, ele precisa apropriar-se do habito de buscar um jomal para ler, de frequentar revistarias, livrarias, e com esse convivio efetivo com a leitura, apropriar-se do sistema de escrita Afinal, a professora defende que, para a adaptacdo adequada ao ato de ler e escrever, “é preciso compreender, inserir-se, avaliar, apreciar a escrita e a leitura”. 0 letramento compreende tanto a apropriacao das técnicas para a alfabetizaco quanto esse aspecto de convivio e habito de utilizacdo da leitura e da escrita. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 20 JipB I tits Pago as oe Uma observacao interessante apontada pela educadora Magda Soares diz respeito possibilidade de uma pessoa ser alfabetizada e nao ser letrada e vice- versa. “No Brasil as pessoas nao leem. Sao individuos que sabem ler e escrever, mas nao praticam essa habilidade e alguns nao sabem sequer preencher um requerimento.” Este é um exemplo de pessoas que sao alfabetizadas e nao sao letradas. Ha aqueles que sabem como deveria ser aplicada a escrita, porém nao sao alfabetizados. Como no filme Central do Brasil — alguns personagens conheciam a carta, mas nao podiam escrevé-la por serem analfabetos. Eles ditavam a carta dentro do género, mesmo sem saber escrever. A personagem principal, a Dora (interpretada pela atriz Fernanda Montenegro), era um instrumento para essas pessoas letradas, mas nao alfabetizadas, usarem a leitura e a escrita. No universo infantil, ha outro bom exemplo: a crianca, sem ser alfabetizada, finge que Ié um livro. Se ela vive em um ambiente literario, vai com o dedo na linha, e faz as entonacdes de narracao da leitura, até com estilo. Ela é apropriada de fungées e do uso da lingua escrita. Essas so pessoas letradas sem ser alfabetizadas, O LETRAMENTO CRITICO Terzi (2003, p. 228) define como letramento critico “a relacdo que individuos e comunidades estabelecem com a lingua escrita Essa relacdo inclui: relagao de uso cultural da escrita; relacéo de conhecimento da escrita; ie relacdo de valorizagao da escrita, e relagéo com a escrita permeada por crencas e valores’, conforme comentamos a seguir Na relacao de uso cultural da escrita, a autora aponta para o fato de que algumas comunidades utilizam-se mais da lingua escrita que outras, devido a fatores, econémicos, politicos, socioculturais e historicos. Assim, Terzi cita como exemplo a diferenca dessa utiizacéio em grandes e pequenos centros. Nas grandes cidades, 0 apoio na lingua escrita é uma questéo de sobrevivéncia, na identificagdo de um 6nibus para se locomover, na identificacao dos nomes das ruas, na procura por um ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 21 J IPB IPB - Instuto Pedagéaico Brasileiro hd —PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A ETA emprego, a partir de ofertas afixadas em cartazes etc., j4 nas cidades pequenas, essa necessidade é bem menor. Porém, a relacdo do sujeito com a escrita nao ocorre apenas pelo seu uso. AS pesquisas mostram que ha uma grande diversidade no conhecimento que cada um traz da escrita. Logo, conforme a autora, os jovens e os adultos nao escolarizados ja trazem um conhecimento da escrita, a partir de sua vivéncia. Para Terzi (2003, p 230): Mesmo aqueles que nunca tiveram oportunidade de ter nas maos um jornal sabem que ele traz noticias. No outro extremo, temos 0 jardineiro analfabeto que diariamente leva, da casa em que trabalha, o jornal para que sua esposa o leia para ele (...) € surpreende ao participar de discussées sobre o conflito no oriente médio, sobre 0 terrorismo nos Estados Unidos ou sobre as eleicdes no Brasil Segundo Terzi (2003), o letramento critico do sujeito também se constitui pela maneira como cada individuo valoriza a escrita, sabendo ou nao utiiza-la. Entre os individuos escolarizados, a autora cita como exemplo pessoas com nivel superior de educacao que nao leem jomais, livros, manuais de instrugao antes de utilizar um aparelho etc., usando a escrita somente nas ocasides em que ela se faz muito necessdria. Entre as pessoas nao escolarizadas, também ha diferenca de valorizacao da escrita: para algumas, ela pode ser importante apenas para a assinatura de um documento, para outras, pode significar maiores oportunidades de emprego, ou realizacao pessoal a partir do acesso a informacao. O letramento critico também abrange a relacdo com a escrita permeada por crengas e valores do individuo ou da comunidade em que ele vive, como por exemplo, uma comunidade em que palavra dada e honra nao se distinguem Conforme a autora, Os membros dessa comunidade, embora tendo conhecimento de que um texto escrito — a escritura — € parte integrante da pratica social de compra e venda de um pedaco de terra, e de que sem ele a transacao nao se oficializa, rejeitam 0 documento por acreditarem que a palavra empenhada por ocasio da realizacdo do negécio vale mais (TERZI, 2003, pp. 232-233). Essas relagdes com a escrita se concretizam simultaneamente, caracterizando 0 letramento das pessoas. Por isso, podemos dizer que ha diversos letramentos. De acordo com a autora, as situagdes de letramento so dinamicas, pois se transformam constantemente, a partir de influéncias de fatores sociais, econémicos e politicos, como ja citamos anteriormente. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 22 JipB I tits Pago as oe A autora apresenta alguns exemplos, dentre eles a implantagdo de um assentamento de sem terras em que a lideranca passou a exigir a leitura de textos sobre agricultura, ecologia e outros, 0 que desencadeou na abertura de cursos de educacao de jovens e adultos. Logo, esses cursos propiciaram a leitura de textos politizantes, 0 que contribuiu para uma transformacdo nas técnicas de plantio e a consequente melhora na produtividade. Dessa forma, temos, segundo Terzi (2003, p. 233), “uma decisao politica influenciando o letramento e este, por sua vez, influenciando as condigées politicas e econémicas” Assim, Terzi (2003) nos mostra que a alfabetizacéo nao se encerra no desenvolvimento de uma habilidade individual que tem um fim em si mesma. Pelo contrario, ela é um componente do letramento critic, que, num mesmo proceso, contribui para a formacéo do cidadao letrado, ou seja, capaz de fazer uso da lingua escrita para a sua participacao na sociedade. A educadora Magda Soares argumenta que a crianca precisa ser alfabetizada convivendo com material escrito de qualidade. “Assim, ela se alfabetiza sendo, ao mesmo tempo, letrada. E possivel alfabetizar letrando por meio da pratica da leitura e escrita.” Para isso, Magda diz ser preciso usar jornal, revista, livro. Sobre as antigas cartilhas que ensinavam o ‘Vové viu a uva’, a educadora afirma que é necessaria a pratica social da leitura que pode ser feita, por exemplo, com o jornal, que é um portador real de texto, que circula informagées, ou com a revista ou, até mesmo, com o livro infantil “Tem que haver uma especificidade, aprendizagem sistematica sequencial, de aprender’. A professora Magda Soares afirma que 0 PNLD (Programa Nacional do Livro Didatico), desenvolvido pelo MEC (Ministério da Educacdo), ¢ excelente porque “avalia © livro didatico segundo critérios sensatos’. Mas ela enfatiza que na alfabetizacéo e letramento hd um problema a ser resolvido. “As cartilhas desapareceram do mercado. Nao se fala mais em cartilha, fala-se em livro de alfabetizacdo. Mas com o desaparecimento das cartilhas, praticamente desapareceu também o conceito de método Nao é possivel ensinar a ler e escrever, ou qualquer coisa em educagao, sem um método. Ha poucos livros de alfabetizacdo que tenham uma organizagao metodolégica para orientar professores e criancas envolvidos neste processo de ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 23 a JipB I tits Pago as ee aprendizagem. “Os professores usam precariamente os livros de que dispdem ou buscam as cartilhas nas prateleiras da biblioteca da escola” A FORMAGAO DO CIDADAO LETRADO Moll (2004a, p. 11) fala em “adultos em processo de alfabetizacao’, referindo-se, no contexto social brasileiro, “a homens e mulheres marcados por experiéncias de infancia na qual nao puderam permanecer na escola pela necessidade de trabalhar’. A autora também se refere a adultos que, por vezes, tentaram voltar @ escola, mas que “a assistematicidade dos programas de alfabetizacdo e de educagao para adultos no Brasil tornou-os reféns de uma légica que, durante décadas, fez dessa tematica um discurso politico rentavel e desconectado de compromissos reais” Dessa maneira, muitos desses cidadéos acabam encontrando formas para driblar as situages que precisam enfrentar em seu dia a dia, como, por exemplo: “Que 6nibus ¢ este? Esqueci meu éculos em casa!” “Podes me dizer o prego deste produto? Nao consigo compreender esta letra!” “Podes escrever este bilhete para mim? Minha letra é muito ruim!” “Podes ler esta carta para mim? Hoje acordei com muita dor de cabegal” Conforme a autora, por encararem o analfabetismo como um problema social, muitas dessas pessoas constroem estratégias sociais e cognitivas para conseguirem decodificar 0 que Ihe é basico, a fim de que os outros néo percebam sua nao escolarizagao. A volta ao ambiente escolar € o primeiro desafio do trabalho com esses cidaddos. Segundo Moll (2004a), muitos adultos retornam para a escola com uma visdo daquela que permaneceu em suas memérias, seja na época da palmatéria, dos castigos no gréo de milho, do absolutismo do professor, dos cadernos cheios de cOpias etc. Dessa forma, varios esperam esse tipo de instituicéo. Um exemplo, mostrado pela autora, se da em salas de aula em que os professores valorizavam a ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 24 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro hd —PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A ETA palavra dos alunos, escutando-os e estes, por sua vez, perguntam quando terminara a conversa para poderem copiar e “encher o caderno” Logo, 0 educador precisard levar em conta essas memérias trazidas por esses alunos, mas, aos pouces, “desconstruir” essa concepgao de escola neles arraigada. Contudo, a autora alerta para o fato de que ressignificar essa bagagem nao significa diminuir as exigéncias da produgdo escrita e da leitura, ou seja, nao significa mudar “de uma escola na qual s6 se copiava para uma escola na qual sé se conversa’ (MOLL, 2004a, p. 14). Nesse contexto de formacao do cidadao letrado, Ribeiro (1997, pp. 47-48) sintetiza os objetivos gerais da EJA, dizendo que, a partir dela, os educandos devem ser capazes de: + Dominar instrumentos basicos da cultura letrada, que Ihes permitam melhor compreender e atuar no mundo em que vive. + Ter acesso a outros graus ou modalidades de ensino basico e profissionalizante, assim como a outras oportunidades de desenvolvimento cultural + Incorporar-se ao mundo do trabalho com melhores condigées de desempenho e participacao na distribuicao da riqueza produzida + Valorizar a democracia, desenvolvendo atitudes participativas, conhecer direitos e deveres da cidadania + Desempenhar de modo consciente e responsdvel seu papel no cuidado e na educacao das criangas, no ambito da familia e da comunidade. + Conhecer e valorizar a diversidade cultural brasileira, respeitar diferencas de género, geragao, raca e credo, fomentando atitudes de ndo-discriminaco. + Aumentar a auto-estima, fortalecer a confianca na sua capacidade de aprendizagem, valorizar a educagao como meio de desenvolvimento pessoal e social + Reconhecer e valorizar os conhecimentos cientificos e histéricos, assim como a producao literaria e artistica como patriménios culturais da humanidade. + Exercitar sua autonomia pessoal com responsabilidade, aperfeigoando a convivéncia em diferentes espacos sociais. Um dos graves problemas que enfrentamos é que ha pessoas que se preocupam com alfabetizacao sem se preocupar com o contexto social em que os alunos esto inseridos. “De que adianta alfabetizar se os alunos nao tém dinheiro www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 25 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA para comprar um livro ou uma revista?” A escola, além de alfabetizar, precisa dar as, condigées necessarias para o letramento A educadora Magda Soares faz uma critica ao Programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educacao que prevé a alfabetizagao de 20 milhdes de brasileiros em quatro anos. Para ela, o programa ird, na melhor das circunstancias, minimamente alfabetizar as pessoas num sentido restrito. “Onde elas aprendem o cédigo, a mecanica, mas depois nao saberao usar’ Um ponto importante para letrar, diz Magda, é saber que ha distincao entre alfabetizacao e letramento, entre aprender 0 cédigo e ter a habilidade de usd-lo. Ao mesmo tempo em que ¢ fundamental entender que eles so indissociaveis e tém as suas especificidades, sem hierarquias ou cronologia: pode-se letrar antes de alfabetizar ou o contrario, Para ela, essa compreensao € o grande problema das salas de aula e explica © fracasso do sistema de alfabetizaco na progressao continuada. “As criancas chegam ao segundo ciclo sem saber ler e escrever. Nés perdemos a especificidade do processo’, diz. A educadora argumenta que o educando precisa ser alfabetizado convivendo com material escrito de qualidade. Para os professores que trabalham com alfabetizacdo, Magda recomenda: Alfabetize letrando sem descuidar da especificidade do processo de alfabetizacao, especificidade é ensinar e o aluno aprender. O aluno precisa entender a tecnologia da alfabetizacdo. Ha convencées que precisam ser ensinadas e aprendidas, trata-se de um sistema de convencées com bastante complexidade. O estudante (além de decodificar letras e palavras) precisa aprender toda uma tecnologia muito complicada: como segurar o lapis, escrever de cima pra baixo e da esquerda para a direita; escrever numa linha horizontal, sem subir ou descer. Séo convencées que precisam ser ensinadas pelo professor e aprendidas pelos alunos. A EDUCAGAO DE JOVENS E ADULTOS FRENTE AOS DESAFIOS CURRICULARES Existem muitas preocupagdes com relacdo a formacaio docente na esfera da EJA, pois muitos professores que nela atuam nao foram preparados especificamente para o trabalho com esse publico de alunado. Normalmente, encontramos www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 26 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA professores recrutados no préprio corpo docente do ensino regular que, por vezes, recebem treinamentos e cursos rapidos para atenderem as demandas da EJA. & | vf 2 , Isso nos mostra certo descaso com relacao my Sra. ual | a este segmento educacional, o que, de acordo com Moll (2004b), pode estar, aos poucos, comecando a ser revertido pela acao local dos municipios e seus parceiros: O papel fundamental que 0 poder local pode desempenhar nesse proceso, avancando em relacdes que permitam a ampliacdo da esfera publica, sem levar ao descomprometimento governamental, pode estar relacionado 4 leitura do universo dos sujeitos da educacao de jovens e adultos, para além de sua designacdo como dados estatisticos anénimos (MOLL, 2004b, p. 22). Diversas pesquisas demonstram que, para se desenvolver um ensino adequado a esse publico é necessério que haja um trabalho de formacdo continuada, porém, € na formacdo inicial, nos cursos de graduacdo, que esse ensino se consolida, Esse profissional que atua na EJA, além de muito bem preparado, precisa atentar-se para questdes curriculares que vao determinar os conhecimentos, os contetidos, objetivos e metas que serdo necessarios ser perseguidos na organizagao do trabalho pedagégico nesta Modalidade de Ensino. De acordo com as recomendagées internacionais (Conferéncia Internacional de Educacao de Adultos — Confintea), a educaco de jovens e adultos deve ter como principios: + Sua insergao num modelo educacional inovador e de qualidade, orientado para a formacao de cidadaos democraticos, sujeitos de sua aco, valendo-se de educadores que tenham formacao permanente como respaldo da qualidade de sua atuagao, + Curriculo variado, que respeite a diversidade de etnias, de manifestagdes regionais e da cultura popular, cujo conhecimento seja concebido como uma construgao social fundada na interacdo entre a teoria e a pratica e 0 processo de ensino e aprendizagem como uma relagao de ampliagao de saberes. www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 7 J IPB IPB - Instuto Pedagéaico Brasileiro hd —PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A ETA + A educacéo de jovens e adultos deve abordar contetides basicos, disponibilizando os bens socioculturais acumulados pela humanidade. + As modernas tecnologias de comunicacao existentes devem ser colocadas disposigao da melhoria da atuacao dos educadores. + A articulacdo da educagao de jovens e adultos a formacdo profissional, no atual estagio de desenvolvimento da globalizagéo da economia, marcada por paradigma de organizaco do trabalho, nao pode ser vista de forma instrumental, mas exige um modelo educacional voltado para a formacao do cidado e do ser humano em todas as suas dimensdes + O respeito aos conhecimentos construidos pelos jovens e adultos em sua vida cotidiana, Para atingir esses principios é importante esclarecer que os alunos constroem conhecimentos na interacao com o contexto social, mesmo sem ter passado pelo processo de escolarizacdio. Valorizar esses conhecimentos e relaciona-los com novos contetidos € imprescindivel para uma aprendizagem significativa, possibilitando ao professor o planejamento de situagdes de aprendizagem para amplié-los e/ou transformé-los. Quanto maior a profundidade e qualidade das relacdes, maior a significatividade da aprendizagem, Os novos conteidos devem ser significativos, cientificamente bem construidos, ter funcionalidade, considerando-se as capacidades dos alunos, suas possibilidades cognitivas e afetivas. Tais conteidos devem ser ressignificados, resgatando-se sua importancia no processo de ensino e aprendizagem, entendendo- se como saberes culturais: conceitos, explicagées, habilidades, linguagens, fatos, valores, crencas, sentimentos, atitudes, interesses, condutas, raciocinios etc., para © desenvolvimento do educando e sua formacao integral. Ressignificar os contetidos pressupée entender o que o educando deve saber, o que deve saber fazer e como deve ser. As experiéncias realizadas por Paulo Freire na década de 60 indicam uma valorizacao dos conhecimentos construidos fora da escola pelos jovens e adultos e a consideracao destes como pontos de partida para novos conhecimentos. Nessas experiéncias havia uma preocupacéio com o repertério linguistico dos alunos, afirmando que «a leitura do mundo precede a leitura da palavra» www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 28 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA Estes conhecimentos sao pontos de partida para a produgao de novos conhecimentos. Sendo assim, quando se dirigem a uma escola, os jovens e adultos no se encontram «vazios», como muitas vezes a escola acredita Em relagao aos contetidos e propostas curriculares, deve-se ressaltar as otientagdes dos Pardmetros Curriculares Nacionais (PCN) para 1* a 4# séries. Em 1997, 0 MEC disponibilizou a proposta curricular para 0 1° segmento da educacao de jovens e adultos. Essas medidas iréo proporcionar elementos que propiciam a elaboracéo e implementagdo de propostas curriculares adequadas as especificidades dos alunos dessa modalidade de ensino A proposta curricular do 1° segmento pressupde 0 trabalho com trés areas Lingua Portuguesa, Matematica e Estudos da Sociedade e da Natureza. necessdrio, porém, também considerar todas as areas do conhecimento e os temas transversais, de acordo com os PCN de 1# a 4* série. As orientagdes curriculares elaboradas pelo MEC para o Primeiro seguimento da EJA referem-se a alfabetizacdo e pés-alfabetizacdo de jovens e adultos, cujo contetido corresponde as quatro primeiras séries do 1° grau. Elas nao constituem propriamente um curriculo, muito menos um programa pronto para ser executado. Trata-se de um subsidio para a formulagao de curriculos e planos de ensino, que devem ser desenvolvidos pelos educadores de acordo com as necessidades e objetivos especificos de seus programas. A legislacao educacional brasileira é bastante aberta quanto a carga horaria, & duragdo e aos componentes curriculares desses cursos. Considerando positiva essa flexibilidade, optou-se por uma proposta curricular que avanca no detalhamento de contetidos e objetivos educativos, mas que permite uma variedade grande de combinagées, énfases, supressées, complementos e formas de concretizacao. Como qualquer proposta curricular, esta nao surge do nada; sua principal fonte sdo praticas educativas que se pretende generalizar, aperfeigoar ou transformar. LINGUA PORTUGUESA. A area de Lingua Portuguesa abrange o desenvolvimento da linguagem oral ea introdugao e desenvolvimento da leitura e escrita. Com relaco linguagem oral, ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 29 JipB I tits Pago as oe © ambiente escolar deve propiciar situagdes comunicativas que possibilitem aos educandos a ampliagao de seus recursos linguisticos. Em outras palavras, os educandos devem aprender a planejar e adequar seu discurso a diferentes situagdes formais e informais. Com relacéo a linguagem escrita, além da compreensao e dominio dos seus mecanismos e recursos basicos, como o sistema de representacdo alfabética, a ortografia e a pontuacao, é essencial que os educandos compreendam suas diferentes fungdes sociais e conhecam as diferentes caracteristicas que os textos podem ter, de acordo com essas funcées. Todos sabem quéo distintas sdo as linguagens que se usam numa carta de amor, bula de remédio, jornal e enciclopédia Por isso, além dos tépicos que normalmente compéem os curriculos de Lingua Portuguesa, esta proposta curricular traz indicagdes de como trabalhar com textos escritos de modo a possibilitar que os educandos conhecam e experienciem suas diferentes modalidades. A aprendizagem da escrita exige ainda o desenvolvimento da capacidade de andlise linguistica e o aprendizado de palavras que servem para descrever a linguagem. Esses aspectos compéem os blocos de contetido da area. Linguagem Oral Os mods de falar das pessoas analfabetas ou pouco escolarizadas sao a expressdio mais forte de toda a bagagem cultural que possuem, de suas experiéncias de vida. Podemos encontrar adultos pouco escolarizados que tém um excepcional dominio da expresso oral: contadores de historias, poetas, repentistas, lideres populares Entretanto, deparamos também com aqueles que tém seu discurso marcado por experiéncias de privacao, humilhacdo e isolamento, que se expressam de forma fragmentada e tém dificuldade de se fazer entender. Para a sala de aula, o professor deve planejar estratégias para que os alunos experimentem e ampliem suas formas de expresso, promover momentos em que ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 30 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore TICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA os educandos se expressem em pequenos grupos, em grupos maiores, em conversas com o professor. E necessario criar oportunidades de ouvir e falar, reelaborar argumentos a partir de novas informagées, construir conceitos, incorporar novas palavras e significados, compreender e avaliar 0 que ouvimos. Nessas ocasiées, o professor deve chamar a atencdo dos alunos para os diferentes modos de falar e os efeitos que podem provocar sobre os que recebem a mensagem. No que diz respeito a linguagem oral, portanto, o papel do professor é mais desinibir, perguntar, comentar e sugerir do que propriamente corrigir. Linguagem Escrita Numa sociedade letrada, mesmo os jovens e adultos que nunca passaram pela escola tm conhecimentos sobre a escrita. Muitos conhecem algumas letras e sabem assinar seu nome. Todos jd se defrontaram com a necessidade de identificar placas escritas, preencher formularios, lidar com receitas médicas ou encontrar 0 prego de mercadorias. Na escola, 0 professor deve criar situagdes em que os educandos exponham e reconhecam aquilo que j4 sabem sobre a escrita. Baseado no que os alunos ja sabem é que 0 professor podera decidir que novas informagGes fornecer, para quais aspectos chamar a atencdo, de modo que o aluno va elaborando seus conhecimentos até chegar a um dominio auténomo desse sistema de representacao. Nosso sistema de escrita é alfabético e, no processo de aprendizagem, os alunos devem estabelecer as relagdes existentes entre os sons da fala e as letras Entretanto, a escrita nao é uma mera transcrigao da fala. Nao escrevemos do mesmo jeito que falamos, pois a comunicacao escrita tém outras exigéncias e utiliza- se de outros recursos. Quando escrevemos, nosso leitor ndo esta presente, por isso temos de assegurar que a mensagem seja eficiente e para tanto € preciso usar recursos préprios de organizacao do discurso. A escrita é utilizada, muitas vezes, para registrar mensagens que devem perdurar no tempo ou atravessar grandes distancias, por isso ela nao pode ser tao flexivel quanto a fala, obedecendo a normas mais rigidas de organizagao ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 31 J IPB IPB - Instuto Pedagéaico Brasileiro hd —PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A ETA Para dominar 0 mecanismo de funcionamento da escrita é necessdrio conhecer as letras, pois so os signos que nosso sistema de representacao utiliza Também é necessario compreender a relaco entre as letras e os sons da fala. Para cada fonema, temos uma representaco grafica (é por isso que nosso sistema de representacao escrita ¢ chamado de alfabético). E a partir do estabelecimento desta relacdo fonografica e da compreensdo de suas regularidades e irregularidades que se chega ao dominio do sistema alfabético. Essas irregularidades dizem respeito as peculiaridades da ortografia da Lingua Portuguesa: um mesmo som pode ser representado por mais de uma letra e uma mesma letra pode representar sons diferentes dependendo da posicao em que se encontra na palavra. Uma mesma palavra pode ser pronunciada de muitas formas, mas deve ter uma unica grafia. Por exemplo, no Brasil, a prontincia da palavra “muito” pode ser muintu, muinto, muntcho, munto ou outras, mas sempre ela ¢ escrita da mesma forma. Nao podemos escrever do jeito que falamos, pois isso tornaria 0 registro escrito extremamente instavel e seria muito dificil conseguirmos nos entender. Além da ortografia, ha outros recursos e normas que caracterizam a escrita, como o sentido da esquerda para a direita, a segmentacdo das palavras, a pontuaco, os diferentes alfabetos (maitisculo e minusculo, de imprensa e cursivo etc.). Utilizamos todos esses recursos e mecanismos da escrita para produzir textos. Existem varios tipos de texto, nos quais esses recursos se combinam de forma caracteristica Para que os alunos leiam e escrevam com autonomia, precisam familiarizar- se com a diversidade de textos existente na sociedade. Precisam reconhecer as varias fungdes que a escrita pode ter (informar, entreter, convencer, definir, seduzir), 08 diferentes suportes materiais onde pode aparecer (jornais, livros, cartazes etc.), as diferentes apresentagdes visuais que pode adquirir e suas caracteristicas estruturais (organizacao sintatica e vocabulario). O objetivo central em Lingua Portuguesa é formar bons leitores e produtores de textos, que saibam apreciar suas qualidades, encontrar e compreender informacdes escritas, expressar-se de forma clara e adequada a intencao comunicativa Portanto, atividades que envolvam leitura e produgao de textos sao essenciais para alcancar esse objetivo. Para aprender a escrever é preciso escrever, € 0 mesmo ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 32 JipB I tits Pago as oe vale para a leitura. Na interaco com este objeto de conhecimento — o texto — com a ajuda do professor, o aluno podera realizar essas aprendizagens. O trabalho com a linguagem escrita deve estruturar-se, desde o inicio, em tomo de textos. Para as turmas iniciantes, podem ser selecionados textos mais curtos e simples, como listas, folhetos, cartazes, bilhetes, receitas, poesias, anedotas, manchetes de jomal, cartas, pequenas historias e crénicas. Quanto maior o dominio do sistema de representaco, maiores as possibilidades de ler e escrever textos mais longos e complexos. O professor de jovens e adultos deve ter um cuidado especial com a busca e selecdo de textos para trabalhar com os alunos, j4 que ele nao conta com a abundancia de materiais didaticos ja elaborados disponiveis para a educacdo infantil Além dos textos literarios, outros podem ser usados em sala de aula: receitas culinarias, textos jomalisticos, artigos de divulgacéo cientifica, textos de enciclopédias, cartas, cartazes, folhetos informativos ou textos elaborados pelos préprios alunos. O professor deve dispor de uma boa coletanea de textos, organizar pequenas bibliotecas na sala de aula ou levar seus alunos a bibliotecas Escrever textos significa saber usar a escrita para expressar conhecimentos, opinides, necessidades, desejos e a imaginacdo. Nessa aprendizagem, entra em jogo a disponibilidade da pessoa de se expor e criar. Para expressar-se por escrito, © educando tera que langar mao de um sistema de convengées ja estabelecido, mas, deverd utiliza-lo para expressar suas préprias ideias ou sentimentos, apropriando-se ctiativamente dos modelos disponiveis. Os textos que os educandos encontram dentro e fora da escola sao os modelos a partir dos quais eles aprendem a escrever. Para isso, sera essencial a ajuda do professor, orientando-os na andlise dos sons da fala e dos sinais escritos, chamando-Ihes a atencao para as regularidades e itregularidades. No processo de aprendizagem, entretanto, os modelos nao séo simplesmente copiados, sem um trabalho de reelaboracao do educando. O professor deve procurar compreender esse processo de elaboragao da escrita dos alunos para poder prestar-Ihes uma ajuda adequada Para isso, é preciso criar situagdes em que os alunos possam colocar em jogo aquilo que sabem, expor suas elaboracées sobre a linguagem escrita, discutir sua producao com outros colegas, sentir a necessidade de melhord-la. O professor nao pode simplesmente rejeitar os erros dos alunos, pois é baseando-se neles que se ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 33, JipB I tits Pago as oe pode saber que tipo de ajuda oferecer. E a analise de seus proprios erros que possibilita aos novos escritores avancar para produgées escritas cada vez mais adequadas. Na sala de aula, a producao de um texto deve ser compreendida como um processo que passa por varias reescritas, até que o produto seja satisfatorio. Uma boa forma de organizar o trabalho com a escrita é articula-lo com o da leitura, dentro de uma mesma modalidade textual. A medida que lem e analisam modelos variados de cartas, por exemplo, os educandos podem ser encorajados a escrever suas proprias cartas, inicialmente ainda com bastante ajuda do professor, paulatinamente com maior autonomia, fazendo e refazendo, relendo e comparando e, finalmente, enviando suas cartas, experimentando o poder e o prazer da escrita em situagées reais de comunicagao. A Anilise Linguistica A alfabetizacao implica, desde suas etapas iniciais, um intenso trabalho de andlise da linguagem por parte do aprendiz. Nesse processo, ele acabara aprendendo e servindo-se de palavras e conceitos que servem para descrever a linguagem, tais como letra, palavra, silaba, frase, singular, plural, maiuscula, minuscula etc. Mais adiante, ele podera ainda aprender outros conceitos mais complexos, como as classificagdes morfolégicas (substantivo, adjetivo etc.) e sintaticas (sujeito, predicado etc.). E necessaria uma proposta curricular que sugere atividades de andlise linguistica que estejam voltadas para a reflexdo sobre a producao do texto, ajudando os alunos a melhorarem cada vez mais a forma de escrever. MATEMATICA Saber Matematica torna-se cada vez mais necessdrio no mundo atual, em que se generalizam tecnologias e meios de informagao baseados em dados quantitativos e espaciais em diferentes representagdes. Também a complexidade do mundo do ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 34 JipB I tits Pago as ee J) _ trabalho exige da escola, cada vez mais, a formacao de pessoas que saibam fazer perguntas, que assimilem rapidamente informagdes e resolvam problemas utilizando processos de pensamento cada vez mais elaborados No ensino fundamental, a atividade matematica deve estar orientada para integrar de forma equilibrada seu papel formativo (0 desenvolvimento de capacidades intelectuais fundamentais para a estruturagao do pensamento e do raciocinio légico) e 0 seu papel funcional (as aplicacdes na vida pratica e na resolucdo de problemas de diversos campos de atividade). O simples dominio da contagem e de técnicas de calculo nao contempla todas essas fungées, intimamente relacionadas as exigéncias econémicas e sociais do mundo moderno. Como acontece com outras aprendizagens, o ponto de partida para a aquisigao dos contetidos matematicos deve ser os conhecimentos prévios dos educandos. Na educaco de jovens e adultos, mais do que em outras modalidades de ensino, esses conhecimentos costumam ser bastante diversificados e muitas vezes sao encarados, equivocadamente, como obstaculos a aprendizagem. Ao planejar a intervengao didatica, o professor deve estar consciente dessa diversidade e procurar transforma-la em elemento de estimulo, explicacéo, andlise e compreensao. Muitos jovens e adultos, pouco ou nada escolarizados, dominam nogées matematicas que foram aprendidas de maneira informal ou intuitiva, como, por exemplo, procedimentos de contagem e calculo, estratégias de aproximacao e estimativa. Alguns chegam a manejar, com propriedade, instrumentos técnicos de alta precisdo. Embora tenham um conhecimento bastante amplo de certas nocées, poucos sao os que dominam as representagées simbdlicas convencionais, cuja base é a escrita numérica. Esses alunos, ao entrarem na escola, demonstram grande interesse em aprender os processos formais. Porém, ¢ fato que eles nao costumam abandonar rapidamente os informais, substituindo-os pelos convencionais. ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 35, JipB I tits Pago as Resolugao de Problemas Para que a aprendizagem da Matematica seja significativa, ou seja, para que os educandos possam estabelecer conexdes entre os diversos contetidos e entre os procedimentos informais e os escolares, para que possam utilizar esses conhecimentos na interpretacao da realidade em que vivem, sugere-se que os contetidos matematicos sejam abordados por meio da resolugao de problemas. Uma situago-problema pode ser entendida como uma atividade cuja solucéo nao pode ser obtida pela simples evocacdio da meméria, mas que exige a elaboracao e execucdo de um plano. Nao se pode confundir essa ideia com os problemas que so tradicionalmente trabalhados nas salas de aula ou que aparecem nos livros didaticos, nos quais a situagao ¢ apresentada por um texto padronizado que, por sua vez, evoca uma resposta também padronizada, como neste exemplo: Jodo tinha 35 reais, gastou 22 reais, com quanto ele ficou? 35 - 22 = 13 Explorar os conteidos mediante questionamentos leva os alunos a estabelecerem conjecturas e buscarem justificativas, o que pode ajuda-los a se dar conta do sentido das ideias matematicas, além de favorecer a capacidade de expressdio. A resoluco de problemas matematicos na sala de aula envolve varias atividades e mobiliza diferentes capacidades dos alunos + compreender o problema; + elaborar um plano de solugao; + executar o plano; + verificar ou comprovar a solucao; + justificar a solucao; + comunicar a resposta Ler, escrever, falar e escutar, comparar, opor, levantar hipoteses e prever consequéncias sao procedimentos que acompanham a resolugao de problemas. Esse tipo de atividade cria o ambiente propicio para que os alunos aperfeicoem esses procedimentos e desenvolvam atitudes como a seguranca em suas capacidades, 0 interesse pela defesa de seus argumentos, a perseveranca e 0 esforco na busca de solugdes. A comunicacdo e a interacdo com os colegas favorecem nao apenas a clareza do préprio pensamento, mas as atitudes de cooperacao e respeito pelas ideias do outro. www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 36 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA Nameros e Operagées Numéricas Esse bloco de contetidos engloba 0 estudo dos nimeros naturais, de suas fungdes e representagdes, das caracteristicas do sistema decimal de numeracao, dos numeros racionais na forma decimal e fracionaria; do significado da adicao, subtragao, multiplicagéo e diviséo, dos fatos fundamentais, dos diferentes procedimentos de estimativa, calculo mental e calculo escrito. Este bloco de contetidos retine conhecimentos de grande utilidade pratica, que também podem ser articulados com o estudo do espago, das formas, dos numeros e das operagées. Os contetidos deste bloco envolvem a nocao de medida e de proporcionalidade, de unidade de medida e das relagées entre suas diferentes representagées. Tais nodes sao desenvolvidas a partir do estudo e utilizagao de diferentes sistemas de medida: tempo, massa, capacidade, comprimento, superficie e valor (sistema monetario) Geometria O eixo “Geometria” trata da construgao das nogdes espaciais por meio da percepcao dos préprios movimentos e da representacao grafica do espaco. As figuras bidimensionais e tridimensionais so exploradas a partir da observacao das formas dos objetos e também de representacdes que possibilitam a identificacao de semelhancas e diferengas, além de algumas propriedades dessas figuras. Introdugao a Estatistica Aqui, reunem-se contetidos relacionados a procedimentos de coleta, organizacdo, apresentacdo e interpretacao de dados, leitura e construcdo de tabelas www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 37 3 JipB I tits Pago as ee e graficos. Esses contetidos, que néo costumam aparecer nos curriculos de Matematica das séries iniciais, justificam-se pela sua grande utilidade pratica, como potentes recursos para descrever e interpretar 0 mundo a nossa volta Basta abrir um jornal ou um livro didatico de Geografia ou Ciéncias para constatar como é frequente 0 uso dessas formas de apresentagao e organizacao de dados e, portanto, como é importante para os jovens e adultos poder compreendé- las. ESTUDOS DA SOCIEDADE E DA NATUREZA O processo de iniciagéo dos jovens e adultos trabalhadores no mundo da leitura e da escrita deve contribuir para o aprimoramento de sua formacao como cidadaos, como sujeitos de sua propria historia e da historia de seu tempo. Coerente com este objetivo, a area de Estudos da Sociedade e da Natureza busca desenvolver valores, conhecimentos e habilidades que ajudem os educandos a compreender criticamente a realidade em que vivem e nela inserir-se de forma mais consciente e participativa. A complexidade da vida moderna e o exercicio da cidadania plena impéem o dominio de certos conhecimentos sobre o mundo a que jovens e adultos devem ter acesso desde a primeira etapa do ensino fundamental. Esses conhecimentos deverao favorecer uma maior integragao dos educandos em seu ambiente social e natural, possibilitando a melhoria de sua qualidade de vida Os caminhos para atingir esses objetivos sao varios, assim como varios so os fenémenos sociais e naturais que podem ser estudados. Nessa proposta, tratamos de organizar blocos de contetides de modo a auxiliar os educadores na selecdo, organizagao e integracao de temas a serem abordados. A ordem em que esses blocos tematicos séo apresentados nao é necessariamente a que deve ser seguida no desenvolvimento da atividade didatica, uma vez que eles nao estdo hierarquizados por grau de importancia ou de complexidade. Cabera aos educadores, na elaboracdo de seu plano de ensino, ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 38 JipB I tits Pago as ‘nett Pedogigcs Bre - PRATICGAS PEDAGOGICAS PARAA EAS selecionar, recombinar e sequenciar contetidos e objetivos de acordo com as caracteristicas de seu projeto pedagdgico. O Educando e o Lugar de Vivéncia ‘S40 contetidos que podem ter uma aplicacdo imediata, especialmente no desenvolvimento de atitudes favoraveis ao convivio no centro educative, na comunidade e no ambiente natural. Esses contetidos podem constituir pontos de partida para abordagens mais gerais sobre a sociedade e a natureza, assim como para o desenvolvimento de algumas ferramentas cognitivas basicas como as nogdes de espaco e tempo, a capacidade de observar, comparar, classificar, relacionar, elaborar hipéteses etc. Igualmente, ¢ valido abordar os contetidos desse bloco como pontos de chegada; por exemplo, depois de tematizar a organizacao politica do Estado brasileiro, refletir sobre a organizacao politica da escola ou sobre a politica do bairro. © Corpo Humano e Suas Necessidades Neste eixo, articulam-se contetidos relativos ao conhecimento dos educandos sobre 0 préprio corpo, seu esquema e aspecto extemo, formas de relacionamento com o meio exterior, mecanismos de preservacdo do individuo e da espécie Destacam-se aspectos relativos a nutricao, reprodugdio e preservacao da satide, visando fomentar atitudes positivas com relagao a manutengao da qualidade de vida individual e coletiva Propée-se, ainda, que se abordem as necessidades das diferentes fases do desenvolvimento, especialmente da infancia, no sentido de promover uma educagao voltada a paternidade e maternidade responsaveis. O conceito de cultura é um dos principais elementos explicativos da condi¢o humana, da condicao de um ser que & capaz de pensar, acumular conhecimentos e transmiti-los as novas geragdes. Por esse motivo, esse conceito deverd emergir constantemente no trato dos contetidos desta area. Para desenvolver o sentido critico dos alunos em relagao aos conhecimentos, ¢ fundamental que eles reconhecam que, enquanto produtos ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 39 JipB I tits Pago as ‘nett Pedogigcs Bre - PRATICGAS PEDAGOGICAS PARAA EAS culturais, os conhecimentos sao dindmicos, transformam e diferenciam-se no tempo e de um grupo social para outro. Cultura e Diversidade Cultural Nessa perspectiva, julgou-se pertinente ordenar um conjunto de contetidos e objetivos orientados especificamente para um enfoque pluralista de aspectos da cultura brasileira. Os temas reunidos neste bloco, Cultura e diversidade cultural, também so fundamentais para o aprendizado de atitudes de nao discriminagao e tolerdncia, respeito a pluralidade cultural e étnica, as diferencas de credo, género e geracdo. Essas atitudes sao essenciais para o convivio democratic numa sociedade diversificada como a brasileira. Os Seres Humanos e 0 Meio Ambiente Neste eixo, articulam-se contetidos que extrapolam as vivéncias imediatas dos educandos e do lugar a introdugao da linguagem cartografica (estudo de mapas) e sistemas conceituais das ciéncias naturais e sociais. Destacam-se aspectos relevantes sobre as relacdes que se estabelecem entre os seres vivos, em particular 0s seres humanos e o ambiente fisico. Questées relativas 4 degradacao ambiental sdo relacionadas a atividade produtiva e contextualizadas nos espacos urbanos e rurais. Como suporte a estruturagéo das noces de tempo e espaco, inclui-se nesse bloco, em carater introdutério, 0 estudo da Terra como corpo celeste em movimento, ao qual esto associados fenémenos como 0 dia e a noite, as estacdes e as marés. As Atividades Produtivas e As Relagées Sociais Enfatizam-se relagdes que os seres humanos estabelecem entre si para a producao de sua existéncia, além da nova qualidade que o trabalho humano adquire mediante 0 desenvolvimento tecnolégico. Sao introduzidas entao periodizages www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 40 JipB I tits Pago as ‘nett Pedogigcs Bre - PRATICGAS PEDAGOGICAS PARAA EAS histéricas relativas a Histéria do Brasil, ampliando-se as possiveis conexées entre as, atividades produtivas e outras dimensées da cultura. Cidadania e Participagao Aqui, 0 foco é a dimensdo politica da vida humana, visando-se aprimorar a consciéncia cidada dos educandos. Ai estéo implicados a adesdo a valores democraticos e o conhecimento da organiza¢ao social e politica do pais, dos direitos politicos, sociais e trabalhistas que a posigao de cidadaos Ihes confere, dos espacos e formas de organizagdo e participacao na sociedade. CONSIDERAGOES FINAIS Ao término dessa unidade, vocé deve ter percebido que a escolarizacao passou a ser uma, entre outras, pré-condigdes para sobreviver na légica da sociedade capitalista. O povo é obrigado a trabalhar para sobreviver e tem de lutar pelos instrumentos que o conduza até o trabalho A escola & um desses instrumentos. Entretanto, deparamos com a contradicao: 0 mesmo trabalho que exige do individuo um certo nivel de escolaridade, muitas vezes é responsavel pela evasdo escolar, pois 0 educando jovem ou adulto, encontra dificuldades de conciliar os estudos com as atividades profissionais da qual, na maioria dos casos, provem sua subsisténcia Nos tltimos anos, 0 Ministério da Educacdo preocupado com o analfabetismo, investiu uma quantia significativa na educagao de jovens e adultos e langou campanhas para estimular a populacao evasiva a voltar para a escola Porém, conseguir a permanéncia dos inscritos até a conclusdo, pelo menos do ensino fundamental é um grande desafio para o professor. A evasdo se da por diversos motivos: dificuldades financeiras, doencas, mudangas de bairro, cansaco devido ao trabalho e desinteresse pelo curso, o que na maioria das vezes demonstra © despreparo do professor que nao oferece recursos atrativos capazes de prender 0 aluno na sala de aula. E evidente que a qualidade da educagao de jovens e adultos ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006 aL J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA nao depende da boa vontade de voluntarios dentro da unidade escolar, ou de instituigdes solidarias. E necessaria a formaco de politicas que priorizem de fato a qualidade desta modalidade de ensino. Que garantam a contratacao de profissionais qualificados, formados especificamente para este fim. O grande especialista, inovador na educacao de jovens e adultos, Paulo Freire, ha décadas jd condenava a utilizagao de métodos infantilizados na alfabetizaco dos educandos. A qualidade do educador e dos métodos utilizados na educagao de jovens e adultos influencia muito na permanéncia ou nao do aluno em sala de aula. Abordar temas pertinentes a realidade do aluno, fazer conexées entre as disciplinas e suas relacdes culturais, econémicas e sociais, é primordial para prender a atengao do aluno, pois tora o aprendizado mais atraente, despertando o seu interesse, fazendo com que descubra na educacao um verdadeiro significado, um poder transformador da sociedade e de sua propria vida. ALFABETIZAGAO DE JOVENS E ADULTOS: O PROCESSO DE AVALIAGAO Aprender exige tempo, paciéncia e participacdo em situagdes reais de interlocugao, vocé concorda comigo? O aluno aprende a ler e a escrever interagindo com pessoas e com “objetos” escritos. Desse modo, quanto maior for sua familiaridade com a lingua escrita (jornais, livros, poemas etc.) e sua reflexdo sobre os modos e usos da linguagem escrita, maior sera a probabilidade de que rapidamente compreenda o funcionamento deste complexo sistema de representagao que é a escrita Nessa unidade, buscamos, primeiramente, compreender os significados da alfabetizagao para aqueles que a buscam na fase jovem ou adulta de suas vidas. Em seguida, refletimos sobre o ensino e a aprendizagem na EJA. Apés, apresentamos a importancia da avaliacao nesta modalidade de ensino. OS SIGNIFICADOS DA ALFABETIZAGAO www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 42 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA Para iniciar o trabalho com essa unidade, gostaria de fazer a vocé algumas perguntas: Quais fatores levam jovens e adultos a iniciarem ou reiniciarem seus estudos? Muitos sao os fatores que contribuem com essa busca pela escolarizacao, entre elas, tomar um 6nibus, escrever cartas, ler a Biblia etc. é 0 desejo de muitos jovens e adultos nao escolarizados. Normalmente, o analfabetismo ¢ visto por eles como uma mancha, que os impede de progredir social ou economicamente e, por isso, sentem-se culpados Garcia (2005) realizou uma pesquisa em que mostra os diferentes significados da alfabetizacao para jovens e adultos. A partir de relatos de alunos, a pesquisadora categorizou esses significados em * Alfabetizacéo como busca de emprego. + Alfabetizacao como valorizacao da imagem social + Alfabetizaco como prazer em aprender. + Alfabetizacdo como exercicio da cidadania + Alfabetizaco como uso da norma-padrao da lingua. Alfabetizagao Como Busca de Emprego Na realidade social em que vivemos no Brasil, com os altos indices de desemprego, é necessdrio que as oportunidades de emprego se definam em fungao da escolarizagao, como observamos no relato de um dos sujeitos da pesquisa de Garcia: [...] pra trabalhar na Comlurb, para colher lixo na rua tem que ter o 2°. grau ou sendo a 4°. série, 5°. série... E qualquer servicinho que vai fazer hoje tem que ter a 5%. série, né!? [...] Eu nao consegui trabalhar em prédio porque eu nao sei assim anotar recado, essas coisas de portaria, né? Ai tem que encarar esse servico [...] E muito dificil hoje em dia, pra viver sem estudo ta dificil. (PAULO, 46 anos, gari) (GARCIA, 2005, p. 5). Para atender a essas expectativas, conforme Soares (2002, p. 73, apud GARCIA, 2005, p.6), A escola precisa estar comprometida com a luta contra as desigualdades para assim garantir a aquisicaio dos conhecimentos e habilidades que possam instrumentalizar as classes populares para que elas participem no processo www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 43 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA de transformacao social, ou seja, uma escola transformadora, que dé aos alunos condiges de reivindicacao social. Alfabetizagéo Como Valorizagao da Imagem Soci De acordo com Garcia (2005), alguns dos alunos entrevistados demonstram © que os motiva a estudar ¢ 0 desejo de serem reconhecidos pelos outros: Trabalhei de 1985 até o ano 2000 no grupo Gerdau, sai aposentado. Descansei um pouco, achei que era tempo de voltar ao colégio para tentar cumprir um sonho que sempre, quando iniciei, eu iniciei com esse sonho... Forcar, ver se consigo chegar a eletro- técnico [...] Se a senhora me der um esquadro, eu esquadreio um prédio desse, mas nao posso assinar um projeto. Eu sei com qual material comeca e como termina. Mas como vou assumir se nao tenho a base para assinar um papel? Nao posso. (...(DALTO, 51 anos, aposentado) (GARCIA, 2005, p. 6) Alfabetizagao Como Prazer em Aprender Segundo a autora, outros alunos querem mostrar para si mesmos que so capazes de aprender, como observamos no seguinte relato: Eu hoje estou aposentadb [...] mas é muito importante a gente aprender cada vez mais. Enquanto estou vivo, vou aprendendo cada vez mais porque abre espago para novos relacionamentos [...] Cada vez eu me aprofundo mais. O meu grupo ai € 0 terceiro. Eles acham que eu sou muito sabido, mas nao sou. Eu procuro me aprofundar e vou embora. Enquanto estiver vivo vou, entendeu? [...] Eu ja com essa idade... os mais jovens entdo, esses adolescentes ento tém que se aprofundar [...]. (ANTONIO, 70 anos, aposentado) (GARCIA, 2005, pp. 6-7). Anténio sente prazer em aprender, enfatizando o quanto ¢ importante para ele aprender e que os demais alunos sempre se referem a ele como aquele que sabe mais. Assim, a autora aponta para o fato de o saber comportar também uma dimensao de identidade. Para Garcia (2005), Anténio esta se construindo enquanto sujeito nesse proceso de aprendizagem. Alfabetizagao Como Exercicio da Cidadania Para a pesquisadora, muitos voltam a estudar para ter uma participagao social mais ativa, pois nao quer depender dos outros para as situagdes do dia a dia’ www institutoipb.com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +56 (31) 2555-5006 J IPB IPB - Instituto Pedagésico Brasileiro tu Pea Snore PRATICAS PEDAGOGICAS PARA A EJA Eu quero falar que estou muito satisfeito com o estudo. Eu quero continuar porque é muita dificuldade a gente ler o nome de uma rua, uma vista de um 6nibus, entendeu? Porque por muitas das vezes eu passei dificuldade de chegar numa loja, comprar assim um radio, umas coisas assim, uma roupa, que pedia pra assinar 0 nome, coisa e tal que eu ndo sabia e agora gracas a Deus que hoje em dia eu sei fazer esse tipo de coisa, sei ler, sei escrever, ndo é tanto, um pouco [...] (SIMAO, 32 anos, lancheiro) (GARCIA, 2005, p. 7) Alfabetizagao Como Uso da Norma-padraoda Lingua Conforme Garcia (2005), muitas pessoas sentem-se inibidas pelo fato de utilizarem uma variedade linguistica diferente, como observamos no relato da aluna Neida:Vocé vai numa festa cheia de gente falando bem e vocé fica la, sentado. Ai perguntam: -"Por que vocé nao fala"? — Ah, eu nao quero falar ndo. -"Ah, mas por que nao quer falar ndo"? Mas sé vocé sabe por que vocé esta com vergonha de falar, né? Entéo vocé estudando, nao, vocé vai aprendendo, vai desenvolvendo, vai falando um monte de coisa. (NEIDA, 34 anos, doméstica) (GARCIA, 2005, p. 8). Dessa forma, ¢ preciso levar em conta a diversidade linguistica com que os alunos chegam a escola e colocd-los em contato com outras variedades, inclusive a padrao, mostrando-Ihes que, dependendo da situacao comunicativa, eles poderdo se dispor de uma ou de outra variedade. Assim, nao podemos aceitar 0 preconceito linguistico, que, segundo Britto (2003, p. 39, apud GARCIA, 2005, p.9), nao tem sido combatido: “Quando se ridiculariza em publico uma pessoa por seu jeito de falar, o agente do preconceito é avaliado positivamente, como se fosse culto, inteligente, enquanto o agredido & avaliado negativamente, como se fosse ignorante, estupido” Alfabetizagao Como Busca de Mais Convivéncia Social Como nos mostra a pesquisa de Garcia, hd aqueles que retomaram aos estudos para preencher o tempo, suprindo um vazio, o que pode ser observado nos seguintes relatos: L..] Porque eu ja sei ler, escrever, eu ja sei tudo, entao como eu fico muito em casa, assim, a noite, entéo eu achei melhor, em vez de ver novela, né! Entéo agora, ww institutoip com.br | atendimento@insttutoipb.com.br | +55 (31) 2555-5006

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