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recensoes Criticas Teoria Literario MIGUEL TAMEN HERMENEUTICA E MAL-ESTAR Col. Estudos Gerais Série Universitaria Lisboa, Imprensa Nacional-Gasa da Moeda / 1987 Nao é facil ler este livro, sem divida um dos mais inteligentes livros que em Por- tugal se escreveram em torno de questécs wedricas € nomeadamente em torno da critica ¢ da teoria literdrias. Nao basta a empatia, as. afinidades tépicas que apazi- guam o desconforto que certas questdes irredutivelmente nos colocam, Este livro jo € a pocio calmante do compéndio, anxiolitico que a linguagem pedagdégica religiosamente subministra em ccrtas horas em que a ninguém apetece nadar com ou contta a corrente, mas antes um conjunto de perguntas feitas a ito do mal- vestar que se sente, quer do lado da gr maitica da hermenéutica (ou da atticulagto pergunta-tesposta), quer da articulagao sentide-todo ou das coisas que se dizem sobre lirratura, © fo que petcorre « a mentagio de Miguel Tamen postula uma fone ligagao entre a possibilidade de jogar jogos hermenéuticos, renunciando a tarefa inutil duma_concepsiio herdica da com- preensio, aliandose Aquilo que chama «, como componente obsessiva do pro- cess de interpretagio. E da egramftica profunda» dessas ati tudes que 0 A. sc ocupa, uma «gramitica» de oscilagées entre estados de diivida in- tegtal ¢ de certeza absoluta, Uma 4 ties do desconforto, Estes dois sintomas concernem & eritica literdria ¢ a teotia da literatura ¢ tém a forma de algumas me- tiforas que ase caracterizam por realizar a acgio algo nebul actividades ¢ acti definigo do seu ambito» (p. 25). O ter- ceiro sintoma € descrito como a colisio de uma «linguagem impossivel». (Wittgens- tein) com 0 principio da comunicabilidade do sentido. Enfim, 0 quarto sintoma cor- responde & vontade de uma ciéncia do individual como horizonte de uma teoria (impossivel), Quando se analisam os varios sintomas deste mal-estar; quando se deu conta que a fortaleza (da hermenéutica) nao é inex- pugnivel, mister ¢ escolher a fragilidade Serum Jager ¢ prtehlo. Miged Tamen sabe, Cane RSM pelologlets, disci nar na area da hermenéutica as suas mai graves perturbagdes © aquilo que a torna- tia invidvel, isto é, impraticivel, Dai que tenuncie_ao_projecto_parandico_de uma hermenfutica total € oie a mais Fragil das_menos Lnigis s_lingoagene_ pare fazer _teotia: a Tinguagem privada, que renuncie aquilo Gee meal ‘© acto medical supoe: a restitutio ad integrunt, Talvez Ihe baste a pretensio da cura psicanalitica que con- corre para a aparigio dum Quid repug- nandothe nomedlo. Para um «solipsista metodoldgicos, em tiltima anilise, toda a justificagao se faz em tetmos da experién- cia de que cada um tem um conhecimento privade, O problema seté. sempre deste tipo: como trabalhar sem rede, sem cair? Nadar, pode ser uma questio de prazer, nade-se contra ou a favor da corrente. O movimento da associagio livre, num primeiro tempo, apenas manifesta a metd- fora do icebergue, material para um tra- balho hermenéutico. A cura padera con- ceber-se como uma certa atte que favorece a emergéncia © o desenvolvimento desta dinimica de auto-reorganizacio presente naquele que se encontrava preso 20s fios duma compulsio fechada sobre si. Como quer que seja, a cura inscreve-se dentro da polaridade realidade/novacio, sem que tulgee dena doh polos nee ean, nao é obedecer_a_uma_estrutura constitutiva do corpo todo € o seu espago de historicwagio, movador, mesmo se ins- fiito no implicito de determinagdes glo ais. Miguel ‘Tlamen procede como se a her- menéutica fosse um conjunto de sintomas lidos ¢ tratados a partir de uma Ideia da bboa hetmenéutica. Perdida ou impossivel Acabard por se, entregar a seducio. duma plenitude imagindria, o charme discreto, no do todo (o ideal cientista do sentido total) mas da parte, o inexprimivel da , lugar de siléncio ou continente negro em que se converteu © texto? Nem haverd maneira de eliminar 0s falsos acordos ou malentendidos (ho- mologias)? Expresso _do_cambate_desi- gual_do hoa Sea José Augusto Mourao 14

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