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TERÇA-FEIRA,11 DENOVEMBRO DE2008


O ESTADO DE S. PAULO ANOXXI,NÚMERO 7.520

Namiradanotícia
Saiu na imprensa, virou livro. Esse filão do mercado edito-
rial, que bebe na fonte da mídia impressa e perpetua gran-
são e a queda de seu clã. O livro acompanha os Blochs desde sua
origem, na Ucrânia, há 200 anos, até a forçosa imigração para o
mas acho que a transparência é o primeiro passo para acabar com
ela”, diz ele, em entrevista ao Estado. Outro título em lançamento
des reportagens, está mais forte do que nunca, com lança- Rio, em 1922, conseqüência do pesado período entre-guerras. “De- é O Olho da Rua – Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida
mentos de fôlego neste fim de ano. Aconteceu na Manchete, cidi que não faria a biografia de um magnata da imprensa, mas Real, que reúne as melhores reportagens de Eliane Brum, em 20
livro organizado por José Esmeraldo Gonçalves e J. A. Bar- retrataria o espírito de uma família de imigrantes”, conta o autor. anos de profissão (11 deles no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e
ros, com artigos de 16 jornalistas que participaram da re- Em Deu no New York Times, portentoso volume que traz o quase 9 na Revista Época). “Quando o entrevistado pára de falar,
vista, se vale da memória seletiva desses veteranos repórte- explicativo subtítulo de ‘O Brasil segundo a ótica de um re- ele não pára de dizer – e é essa a melhor escuta do nosso trabalho”,
res para a criação de um perfil curioso da publicação, cuja pórter do jornal mais influente do mundo’, o polêmico Larry ensina a tarimbada repórter. Nesta edição do Caderno 2, conheça
história, em muitos momentos, se confundiu com a do pró- Rohter analisa o País de maneira franca e corajosa, falando de um pouco mais sobre cada um desses grandes livros, feitos com a
prio País. A família que comandou esse império jornalístico corrupção endêmica, racismo camuflado, mas também das expe- adrenalina de quem vive “na mira da notícia”. ●
também é tema de outro livro, Os Irmãos Karamabloch, em que riências boas que teve em solo brasileiro. “É difícil extirpar a cor-
ArnaldoBloch,sobrinho-netodopatriarca Adolpho,narraaascen- rupção; é uma falha humana e existe em todas as partes do mundo, † Mais informações abaixo e nas páginas 4 e 5

FOTOS DIVULGAÇÃO

CAPAS – Com ênfase em imagens e números extras que vendiam rapidamente, a revista, que circulou até julho de 2000, registrou tiragem recorde com a cobertura da visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980

O que aconteceu no Brasil virou Manchete


Revista criada em 1952 por Adolpho Bloch, como mera conseqüência industrial, tem seu perfil e histórias contados em livro

Ubiratan Brasil vel marca de 400 mil exempla- gado no grupo Bloch, o jornalis-
res. “A Manchete, portanto, foi ta e escritor Carlos Heitor
Tornou-se uma tradição: às uma conseqüência industrial, Cony exerceu diversas fun-
quartas-feiras, bancas do Rio e não causa pensada ou planeja- ções, nas diversas revistas da
São Paulo eram religiosamente da”, observam José Esmeraldo editora e também na TV Man-
abarrotadas pela nova edição da Gonçalves e Roberto Muggiati, chete, que entrou no ar em
revistaManchete,amaisbemedi- no texto histórico da revista. 1983. Algumas, porém, apesar
tada em sua época. O público sa- O primeiro número chegou de divertidas, contrariam as re-
bia o que ia encontrar: ao longo às bancas no dia 23 de abril. Ins- gras do bom jornalismo. No li-
daspáginas, matérias ditasmais pirada na francesa Paris Ma- vro, ele revela que era o verda-
sérias, como a eterna ameaça à tch, cuja marca principal eram
floresta amazônica, conviviam as grandes fotos, Manchete re-
tranqüilamente com assuntos cebeu esse nome por sugestão SELEÇÃO DE TEXTOS
maisamenos,comoocasamento de um primo de Adolpho, o es- INCLUI ARTIGOS
dealgumaprincesa.Entre1952e critor e dramaturgo Pedro Blo-
2000, a revista criada por Adol- ch. Na primeira edição, trazia DE 16 JORNALISTAS
pho Bloch tornou-se, em seu au- crônica de Carlos Drummond DA PUBLICAÇÃO
ge,referênciaporcriaromaisou- de Andrade (“O jornal está
sado projeto gráfico da impren- cheio de assuntos; aliás, o mal
sa nacional. E por trazer, em co- dos jornais é justamente esse: deiroautordasprevisõesdo“vi-
resvibrantes,oquenenhumaou- assunto demais”) e uma curio- dente indiano” Allan Richard
tra publicação editara. sa polêmica envolvendo Pietro Way que a Manchete publicava
É essa fase dourada (e tam- Maria Bardi, diretor do Masp, anualmente. Cony conta que,
bém a mais pedregosa) o assun- que considerava um quadro nos tempos da ditadura, Way
to deAconteceu na Manchete (De- pintado pelo poeta Menotti Del era fruto da imaginação dos re-
siderata, 448 págs. R$ 60), livro Picchia como o melhor que já datores da Manchete para facili-
organizado por José Esmeraldo vira entre os brasileiros, supe- tar o fechamento da edição da
Gonçalves e J. A. Barros e com rior a Portinari e Di Cavalcanti. virada do ano. Em uma delas,
artigos de 16 jornalistas que par- ele previu o desmoronamento
ticiparam da revista. O título de uma das pilastras da Ponte
brinca com o famoso slogan da ERA UMA REFERÊNCIA Rio-Niterói. Por conta disso, o
revista (“Aconteceu, virou man- COM SEU OUSADO Ministério dos Transportes in-
chete”). Como se trata de uma terditouapontepordoisdiasen-
seleção de textos, o livro não po- PROJETO GRÁFICO E quanto equipes de manutenção
deserclassificadocomoumabio- CORES VIBRANTES inspecionavam todos os pilotis.
grafia tradicional, em que todos Outras artimanhas, porém,
os fatos relevantes são narrados erambem-vindas.Comoumafo-
cronologicamente.Masamemó- Até a dissolução do grupo tonovela sobre a vida de Pelé,
ria seletiva dos repórteres per- Bloch, em 2000, a Manchete ga- publicada em setembro de 1959.
mitiu a criação de um perfil pito- nhou fama pela espaçosa cober- No elenco, os personagens
resco da revista, cuja história, tura fotográfica, especialmente reais: além do próprio jogador,
emmuitosmomentos,seconfun- do carnaval, quando sua edição o pai Dondinho, a mãe Celeste,
diu com a do próprio País. especialseesgotavarapidamen- amigoscomoCoutinho.Noscré-
Bloch era descendente de te. Ou por seus números extras, ditos, Benedito Ruy Barbosa
uma família de judeus-ucrania- que também vendiam em pou- surge como autor da história.
nosquechegouaoBrasilem1922 cashoras graças ao forte apelo – Problemas no gerenciamen-
sem nenhum tostão no bolso. foi o caso da cobertura da pri- to comercial culminaram com
Mas Joseph, o patriarca, logo se meira visita do papa João Paulo o colapso do grupo Bloch que
envolveu com o ramo de artes II ao Brasil, em 1980, garantin- resistiu até a Justiça lacrar o
gráficas e construiu um império, do tiragem recorde da revista. LEMBRANÇAS – Mãe Menininha, Cony e Jorge Amado; Mick Jagger em foto de Fred Mendes; capa do livro prédio ondefuncionavam as re-
como é bem relatado por Arnal- Adolpho Blochcostumava di- dações, na Rua do Russel, no
doBloch,sobrinho-netodeAdol- zer que o primeiro número não o jornalismo” para a redação. domêsàsuatipografiarecebera enviou o fotógrafo Walter Fir- Rio. A última edição, de núme-
pho, em Os Irmãos Karamabloch. agradara. “Só comecei a enten- Amigos próximos também ajudaparaoPCB,queasolidarie- mo à Capital Federal, onde ne- ro 2.519, circulou em 26 de julho
Quando assumiu o controle der um pouco de jornalismo participavam da construção da dade política justificava!” nhum momento deixou de ser de 2000 e trouxe o ator Reynal-
da gráfica, Adolpho não escon- quando Getúlio Vargas se suici- revista. Bloch dedicava especial A fidelidade, para Adolpho, registrado. Quando o ex-presi- do Gianecchini na capa. O nú-
dia seu desconforto com a ocio- dou, em 1954”, afirmava ele que, devoção a alguns, como Jusceli- era essencial. Sua amizade com dentejáestava instaladoemCo- mero seguintechegoua ser pre-
sidade das máquinas no fim de comotempo,alimentousupersti- noKubitschek,IvoPitanguy,Os- Kubitschek, por exemplo, ren- pacabana, foi montada uma exi- parado pela redação mas, com
semana. Assim, para que elas çõescuriosas.Como odesusten- car Niemeyer. Em seu texto pa- deuummomentoemotivo.Proi- bição de fotos por um projetor. a agonia da empresa, não pas-
trabalhassem, ele decidiu, em tar que foto com mulher de cha- ra o livro, aliás, o arquiteto reve- bido pelo regime militar de co- E,à medida que descobria cons- sou de uma edição virtual, figu-
1952, criar uma revista, interes- péu na capa não estimulava ven- la que Bloch contribuía para o nhecer Brasília, Juscelino Ku- truções que não vira concluída, rando apenas nos computado-
sado no sucesso da então cam- das. Ou de acreditar piamente Partido Comunista Brasileiro: bitschek foi obrigado a ficar no JK chorava copiosamente. resdosjornalistas. Esãoasima-
peãde vendas,OCruzeiro,edita- naopiniãodosdonosdebancade “Ah, velho Adolpho, como lem- Rio de Janeiro, depois de voltar Aconteceu na Manchete traz gens dessa derrocada de um
da por Assis Chateaubriand, jornais que, aliás, eram muitas bro com satisfação o tempo em doexílio.Bloch,no entanto,con- ainda outras revelações sabo- grande império que ilustram os
queconseguianaépocaainvejá- vezes convidados a dar “aula de que o nosso amigo Marcos ia to- tornou a situação. Dias antes, rosas. Em seus 33 anos empre- últimos capítulos do livro. ●

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