Você está na página 1de 2

" santo A vida inteira desejo "

(Santo Agostinho)
Revista Pergunte e Responderemos, Edies "Lumem Christi" Ano XLV

Maro/2004 - n 501

Num de seus sermes, S. Agostinho toca numa fibra muito delicada do corao humano: o desejo inato de algo muito maior e melhor do que os bens visveis que cercam o homem, passageiros e fugazes como so. A criatura humana foi feita para o Infinito e traz em si o selo do Infinito. - Eis as palavras do Santo Doutor: "O que nos foi prometido? Seremos semelhantes a ele porque ns o veremos como . A lngua o disse e pde. O corao imagine o restante. J que no podeis ver agora, prenda-vos o desejo. A vida inteira do bom cristo desejo santo. Aquilo que desejas, ainda no o vs. Mas, desejando, adquires a capacidade de ser saciado ao chegar a viso. Se queres, por exemplo, encher um recipiente e sabes ser muito o que tens a derramar, alargas o bojo seja da bolsa, seja do odre, ou de uma coisa qualquer. Sabes a quantidade que ali pors e vs ser apertado o bojo. Se o alargares, ele ficar com maior capacidade. Deste mesmo modo Deus, com o adiar, amplia o desejo. Por desejar, alarga-se o esprito. Alargando-se, tornase capaz. Desejemos, pois, irmos, pois seremos saciados. esta a nova vida: exercitamo-nos pelo desejo. O santo desejo nos exercita, na medida em que cortamos nosso desejo de amor do mundo. J falamos algumas vezes do vazio que deve ser preenchido. Vais ficar repleto de bem, esvazia-te do mal. Imagina que Deus te quer encher de mel. Se ests cheio de vinagre, onde pr o mel? preciso jogar fora o contedo do jarro e limp-lo, ainda que com esforo, esfregando-o para servir a outro fim. Digamos mel, digamos ouro, digamos vinho, digamos tudo quanto dissermos e quanto quisermos dizer, h uma realidade indivisvel: chama-se Deus. Dizendo Deus, o que dissemos? Essa nica slaba toda a nossa expectativa. Tudo o que conseguimos dizer, fica sempre aqum

da realidade. Dilatemo-nos para ele, e ele, quando vier, encher-nos-; seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ." (Tratado sobre a I Jo 4, 6) Este texto se resume em trs proposies: 1) Em todo ser humano existe um anseio ora mais, ora menos explcito de algo que responda s suas aspiraes mais espontneas. Tudo o que se v pouco demais para a capacidade do corao humano. 2) Quanto mais intenso for o desejo, tanto mais ser saciado. Em linguagem popular dirse-: quem apresentar a capacidade de um dedal, t-la- preenchida, como preenchida ser a capacidade de um corpo, a de um jarro, a de um balde, a de um tonel... 3) Para que tal anseio se dilate, o Senhor Deus nem sempre o atende na hora marcada pela criatura, mas protela a sua resposta ou adia a sua vida, a fim de encontrar a criatura ainda mais desejosa. Ora, a quaresma precisamente o tempo oportuno para que se dilate mais e mais o anseio do corao em demanda no de mel nem de ouro, mas de Deus, do Infinito e Absoluto... "A vida inteira do bom cristo santo desejo." Pe. Estvo Bettencourt, OSB Diretor da Escola Mater Ecclesiae

Você também pode gostar