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Problemas Filosóficos

Camila Barbosa Sabino


Unidade III-

Tema- Teoria do Conhecimento


Área do
Objetivos da aprendizagem Vídeo

- Diferenciar o que é o senso comum e o conhecimento


Objetivos da aprendizagem

científico, demonstrando o conceito de paradigmas ;


- - Abordar e refletir sobre os argumentos do ceticismo
moderno;

- Analisar as possibilidades de construção de um argumento por


meio do fundacionismo;
Área do
Apresentação da Vídeo
Unidade
Nesta unidade iremos abordar como o conhecimento
passou a ser tratado como um problema filosófico.
Como seria para você realizar uma definição sobre o
que é o conhecimento?
Apresentação

1º.Abordaremos as s senso comum e o


dogmatismo;

2º. Adentraremos no universo do ceticismo;


3º.Abordamos o sistema filosófico do fundacionismo
Nesta unidade iremos abordar como o conhecimento
passou a ser tratado como um problema filosófico.
Como seria para você realizar uma definição sobre o que
é o conhecimento?
Poderiamos iniciar a abordagem desde Platão, que criou
o problema epistemológico de se conhecer o mundo em
que se vive. Contudo, na unidade 1, você já foi
introduzido nesse pensamento quando formulamos as
diferenças do conhecimento do mito e do conhecimento
filosófico, buscando realizar uma preparação inicial para
que você chegasse até aqui. Assim, por uma escolha
metodológica, iniciaremos a construção do conceito de
conhecimento a partir da visão dos filósofos modernos.
No primeiro momento, iremos abordar as
diferenças entre o conhecimento gerado pelo
senso comum e o dogmatismo que existe entre o
conhecimento do cotidiano e do próprio
pensamento filosófico. Veremos ainda como a
filosofia da mente atua em teorias da percepção.

No segundo momento, adentraremos no universo


do ceticismo, explorando diversos argumentos
contra os sistemas do conhecimento do senso
comum, do conhecimento filosófico e das
No terceiro momento, abordamos o sistema filosófico
do fundacionismo para demonstrar como eles buscam
justificar seu conhecimento e proteger-se dos ataques
dos céticos.
Por fim, falaremos sobre o papel das epistemologias
para a contemporaneidade, trazendo as rupturas e as
transformações propostas por filósofos do nosso século.
Área do
Conhecimento e Vídeo
percepção
A sociedade divide o conhecimento em 2 formas:
Conhecimento e percepção

Conhecimento do senso
Conhecimento científico
comum
Podemos iniciar nossa exposição com a seguinte reflexão:
O que é o conhecimento? Como considerar um
conhecimento verdadeiro? A temática do conhecimento da
verdade vem sendo como um problema filosófico desde os
primórdios da filosofia ocidental e vimos desde a primeira
unidade, que o conhecimento pode ser utilizado como
sinônimo de sabedoria, sendo a busca incansável da
filosofia. Vivemos em uma sociedade que divide o
conhecimento de duas formas: o conhecimento do senso
comum e o conhecimento científico. É normal vermos uma
valorização do conhecimento científico ignorando o valor
do conhecimento advindo do senso comum, do cotidiano
das pessoas.
Antes de responder a questão: Como considerar um conhecimento
verdadeiro? devemos nos perguntar: o que quer dizer que algo é
verdadeiro? Para responder essa questão iremos distinguir dois
sentidos de verdade: o de veracidade e o de realidade.
: Imagine que alguém diz que a terra é redonda. Podemos perguntar a
você se isso é verdade. A indagação pode possuir dois sentidos. A
primeira é entender se o interlocutor está falando a verdade ou se está
mentindo. A segunda, ou seja a veracidade nos coloca diante de uma
constatação moral, na qual o indivíduo pode estar mentindo ou não.
A segunda é um problema epistemológico, no qual queremos saber
se a afirmativa é verdadeira ou falsa.
Para investigar a situação, podemos perguntar se a
afirmativa é real, se a proposição corresponde à realidade e
se pode ser comprovada, se a fonte de informações possui
credibilidade ou não.
Qual seria a diferença entre verdade e realidade para
determinar a veracidade ?
Para a filosofia, o real diz respeito à existência dos objetos
como uma mesa, uma cadeira. Deles não dizemos se são
verdadeiros ou falsos, pois eles simplesmente são. Dizemos
que algo é verdadeiro se o enunciado corresponder ao objeto
ou ao fato no mundo. Um exemplo é, se dizemos que este
material didático é sobre filosofia, a proposição é verdadeira
se de fato o conteúdo do material for de filosofia
A partir do conceito de verdade é possível
chegarmos à uma certeza? Dizemos que a
certeza nada mais é do que a adesão a um
enunciado, a um pressuposto, que aqui
chamaremos de crença, que buscamos de todas
as maneiras justificar. Assim, podemos
configurar essa tentativa de classificação de dois
modos: o dogmatismo do senso comum e o
dogmatismo filosófico.
Área do
O Dogmatismo Vídeo

Dogmatismo do senso
Dogmatismo filosófico:
comum:
Conhecimento e percepção

Para a história da filosofia


No caso do senso comum,
foi preciso que
trata-se de não questionar e
pensamentos dogmáticos
não admitir críticas sobre
existissem para que outros
ideias que são tratadas
filósofos lançassem críticas
como tradicionais e que
sobre ideias anteriores tidas
possuem certezas não
como verdadeiras.
testadas.
Dogmatismo do senso comum
O dogmatismo pode ser caracterizado como a não contestação de
pressupostos. No caso do senso comum, trata-se de não
questionar e não admitir críticas sobre ideias que são tratadas
como tradicionais
. Encontramos o dogmatismo do senso comum em ideias do
próprio cotidiano. O dogmatismo pode ser entendido em casos
específicos, como na política, em que o político dogmático nega
o pluralismo e não aceita a possibilidade de diferentes pontos de
vista. Então não é possível existir conhecimento com base no
senso comum?
O posicionamento de que o senso comum deve ser combatido e
que é uma forma de conhecimento ruim vem sendo modificado
por diversos estudiosos. Segundo Marivalde Moacir Francelin
(2004, p. 30) “os conceitos nascem no cotidiano e são
apropriados pelo meio científico e tornam-se científicos ao
romperem com esse cotidiano, com esse senso comum”. Deste
modo, o conjunto de conceitos criados pelo senso comum
alimenta as pesquisas e as investigações do que tratamos como
científico. Precisamos questionar o senso comum, mas não
podemos excluir a sua importância na formação da sociedade.
Dogmatismo filosófico
Você deve estar se perguntando como podemos falar em
dogmatismo dentro da filosofia, uma área do
conhecimento que possui como um fundamento a
dúvida. Contudo, na área da filosofia, como em outras
áreas do conhecimento científico, o dogmatismo também
existe. É preciso que alguns filósofos e filósofas
acreditem em suas teorias e as defendam.
Para a história da filosofia foi preciso que pensamentos
dogmáticos existissem para que outros filósofos
lançassem críticas sobre ideias anteriores tidas como
verdadeiras.
Área do
Método Científico Vídeo
A Filosofia moderna postulou a utilização de
métodos experimentais e científicos para
Conhecimento e percepção

chegar a um conhecimento verdadeiro.

Observação

Formulação de uma hipótese

Generalização

Elaboração de teorias
Como então a ciência opera para chegar ao conhecimento? Por meio
de sistemas, a filosofia moderna colaborou e postulou a utilização de
métodos experimentais e científicos para chegar a um conhecimento
verdadeiro. O método científico pode ser desdobrado em cinco
passos:
● Observação: Observo o objeto de estudo com um olhar rigoroso e
metódico, seguindo procedimentos definidos pelo método que se está
seguindo.
● Formulação de uma hipótese: Elaboro uma ou mais ideias que
devem ser provadas de acordo com a observação realizada.
● Experimentação: Verifico as hipóteses, tentando valida-las.
● Generalização: Por meio dosresultados, observo generalizações e
repetições que aconteceram na etapa da experimentação.
Elaboração de teorias: Quais teorias? São as que
decorrem desse processo. Essas teorias serão novos
conceitos, modelos, paradigmas que vão ser
utilizados para observar determinados objetos ou
resolver problemas.

Depois de entender sobre como funcionam os


sistemas que justificam o conhecimento, vocês devem
estar se perguntando como apreendemos, como
sentimos e captamos as coisas do mundo para que
elas sejam analisadas
Área do
Teorias da percepção: Vídeo

Racionalismo Empirismo
O conhecimento e a percepção
Na História da Filosofia temos duas tendências que
concebem de maneira diferente a percepção: o
racionalismo e o empirismo. Os racionalistas
acreditam que o conhecimento do real está
entrelaçado com a metafísica, sendo necessário um
estudo das ideias, que já existiam quando nascemos,
para compreender o funcionamento do universo. Seus
representantes mais célebres foram Platão (IV. a.C)
René Descartes (1596-1650), Baruch Espinoza
(1632- 1677), Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-
1716) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831),
Os empiristas entendiam que para chegar ao
conhecimento verdadeiro ele deveria passar pelo
crivo dos nossos sentidos, que precisam ser
conhecimentos sensoriais. Para eles os seres humanos
não nascem com as ideias formuladas e essas só são
apreendidas no decorrer dos anos com base nas
experiências. Seus representantes mais conhecidos
foram Aristóteles (IV. a.C), Francis Bacon (1561-
1626), John Locke (1632-1704), dentre outros.
Área do
Realismo perceptivo Vídeo
Conhecimento e percepção

A existência dos
objetos que
percebemos e parte de
sua natureza é
independente da
existência de qualquer
perceptor
Além do racionalismo e do empirismo, temos
algumas teorias da percepção. Dentre as teorias
existentes para pensar a percepção podemos falar na
teoria do realismo perceptivo, que caracterizar-se
como um ponto de vista bem específico: ou seja, para
o realismo perceptivo os objetos que percebemos tem
a possibilidade de existir e normalmente existem,
conservando algumas das propriedades que achamos
que apreendemos. Assim sendo, a existência dos
objetos que percebemos e parte de sua natureza é
independente da existência de qualquer perceptor.
Área do
Tipos de realismo Vídeo
perspectivo:
Direto ou Indireto ou
O conhecimento e a percepção

ingênuo- Searle científico - Popper


Dentro do realismo perceptivo podemos falar do realismo
direto ou ingênuo e do realismo indireto. Para o realismo
direto, o conhecimento acontece de modo não mediado, ou
seja, o sujeito observa o objeto e o conhece sem
mediadores. Todas as características que observamos no
objeto realmente existem nele e fazemos essa apreensão
quase que de imediato e sem erros. Por exemplo, os objetos
possuem cor, gosto e cheiro independente da relação que
estabelecemos com ele. Podemos não apreender esse objeto,
e ele mesmo assim possuirá todas essas características.
Por exemplo, um realista ingênuo aceitaria a existência de cores e da
subjetividade humana, tal como ele as apreende, sem criticar ou
questionar a existência dessas entidades..

Exemplo dessa corrente: Searle, John Rogers Searle, nascido em 31


de julho de 1932 (idade 87 anos) é um filósofo analítico e escritor
norte-americano, professor da Universidade de Berkeley, na
Califórnia, Estados Unidos
Este filósofo assume também uma posição realista ingênua em
relação à percepção do mundo físico. Ao tratar da percepção
segundo uma perspectiva intencional (SEARLE, 2002, p. 53-109) o
filósofo procura se afastar da filosofia da percepção
representacionalista e fenomenalista, dizendo que sua versão é
realista ingênua. Além disso, como diz Amo no texto, Problemas
epistemológicos subyacentes a la teoria de la mente de Searle o
filósofo assume um realismo ingênuo, englobando-o num aspecto
mais geral de sua filosofia da mente, ao aceitar a crença comum na
realidade da experiência subjetiva.
Para o realista indireto ou científico a apreensão que o sujeito realiza
do objeto é mediada, pois possuímos um intermediário. Para além
disso, os objetos não possuem características secundárias, como cor,
cheiro ou gosto, pois essas características são relacionais entre o
sujeito e o objeto.
O realista científico é aquele que mantém que pelo menos algumas
das entidades não-observáveis postuladas pela ciência.
Comecemos oferecendo algumas formulações do realismo científico
comumente encontradas na literatura: 1ª formulação: i) Algumas das
entidades teóricas da ciência realmente existem;
ii) A ciência investiga um mundo independente de nossa cognição;
iii) ‘A ciência objetiva pode nos fornecer, em suas teorias, uma
estória literalmente verdadeira de como é o mundo;
IV)e a aceitação de uma teoria científica envolve a crença de que ela
é verdadeira’ (van Fraassen
1980, p. 8).
O realismo científico como tese em filosofia da ciência só se
desenvolveu no século XX. Surgiu em grande parte como uma
reação ao positivismo lógico.
O realismo científico vai defender então, que o universo descrito pela
ciência é real independentemente de como ele possa ser interpretado.
Os realistas científicos são comprometido com a interpretação literal
das afirmações científicas sobre o mundo (Popper, 1980). Segundo
os realistas, afirmações sobre entidades científicas, processos,
propriedades e relações, sendo observáveis ou não, devem ser
interpretados literalmente possuindo valores verdadeiros
Logo, não faz sentido julgar que há algo oculto em uma teoria
científica.
Epistemologicamente, o realismo está comprometido com a ideia de
que as alegações teóricas têm interpretações que são independentes
da nossa capacidade de medi-las, constituindo o conhecimento do
mundo tal como ele realmente é.
Assim, de acordo com os realistas, as teorias científicas não são
apenas instrumentos, mas também são descrições do mundo – ou de
certos aspectos dele (Popper, 1980).
Karl Raimund Popper  nasceu, 28 de Julho de 1902  em Viena e foi um filósofo e professor austro-
britânico
Karl Poopler amplamente considerado como um dos maiores
filósofos da ciência do século 20 afirma que concepção da
filosofia não se resume na análise de enunciados, mas se trata da
elaboração de uma visão de totalidade da realidade capaz de
constituir soluções a problemas teóricos reais do universo do
conhecimento.
Ele unificou sua concepção filosófica ao propor a teoria das
Propensões e a mostrou como uma articulação das suas noções de
objetivismo, realismo e de indeterminismo. Como forma de
mostrar a relevância de sua cosmologia para o estudo da ciência,
ele propôs dois experimentos em física e confrontou a sua
concepção objetivista, realista e indeterminista com a rival teoria
quântica, então subjetivista e antirrealista.
Área do
Idealismo / antirrealismo Vídeo
Conhecimento e percepção

Um dos representantes do
idealismo foi George
Berkeley (1685-1753). Seu
idealismo era metafísico,
pois para ele os objetos
físicos são um conjunto de
ideias reais.
Distinto dessas duas teorias realistas temos o idealismo, que
podemos classificá-lo como um antirrealismo. Um dos representantes
do idealismo foi George Berkeley (1685-1753). Seu idealismo
poderia ser concebido da seguinte forma:, para ele os objetos físicos
são um conjunto de ideias reais. Assim, um objeto não pode existir
sem ser percebido. Em outras palavras, o objeto só é se for
percebido. É possível que os objetos reapareçam depois de um tempo
para a percepção, mas não podem continuar existindo caso não os
percebemos. Um exemplo disso é que se não observamos um objeto
sobre a mesa é porque provavelmente ele não existe. Contudo, os
problemas aparecem quando este objeto é percebido por uma pessoas
e não por outra, tendo sua existência seletiva.
.
Outra ideia antirrealista é a do fenomenalismo,
que pode ser considerado mais flexível que a do
idealismo, pois ele oferece uma explicação do
fato de que eventos perceptivos ocorrem. Para o
fenomenalismo, o fato de que vemos nossos
carros na garagem pela noite é porque quando
abre-se a porta é perceptível que o carro estava
ali o tempo inteiro, à espera de ser visto. Deste
modo, para a fenomenologia, os objetos
aparecem no mundo externo para que sejam
Área do
Ceticismo Vídeo

Qual era o problema cosmológico dessa escola?


Tales de Mileto. primeiro filósofo, primeiro a deixar de
Ceticismo

lado o pensamento mítico para formular um


pensamento baseado na razão (Logos). Acreditava que
tudo se originava da água: quando denso se
transformaria em terra, quando aquecida se tornaria
vapor e após resfriar retornaria ao estado líquido,
garantindo a continuidade do ciclo.
Área do
Cetiscismo Vídeo

Ceticismo filosófico
Ceticismo

Escola Método
O ceticismo filosófico pode ser considerado tanto como uma escola
quanto como um método do pensamento. Como escola, surgiu com
alguns filósofos gregos como Pirro de Élis (século III a. C.)
representante do ceticismo pirrônico ou pirronismo e Carnéades de
Cirene (século II a. C.) que representava o ceticismo acadêmico.
Contudo, essa seção não possui como objetivo deter-se no estudo das
escolas céticas da antiguidade.
Neste espaço será abordado o ceticismo como método de
investigação. As pessoas que adotam essa postura para a vida são
conhecidas como humanos incrédulos e descrentes, sempre
apresentando uma dúvida sobre qualquer questão do conhecimento
ou de coisas gerais do dia a dia. Porém, existem distinções entrea
concepção dessas pessoas.
A primeira das distinções pode ser feita por meio dos argumentos:
● Céticos que utilizam um argumento local
● Céticos que utilizam um argumento geral

Os céticos locais, como o próprio nome já diz, são aqueles que


mantém uma posição incrédula acerca de determinadas áreas do
conhecimento e da vida, como por exemplo, questões que envolvem
a religião, a ética e o próprio futuro. Para eles, não podemos afirmar
possuir um conhecimento concreto dessas áreas de pesquisa. Para o
cético local é um mistério saber a previsão do tempo para amanhã
ou para a semana que vem, pois não ele não consegue desenvolver
um pensamento dedutivo para o futuro
Área do
Ceticismo Vídeo

Para o autor, esses


céticos ao examinar
questões epistemológicas
costumam ter
Filosofia Grega

posicionamentos
expansionistas e
transformam-se em
céticos globais.

Jonathan Peter Dancy, nasceu em 8/05/1946, é um


filósofo britânico, professor na Universidade de
Reading e na Universidade do Texas
Segundo o filósofo Jonathan Dancy (1993, p. 22), esses céticos ao
examinar questões epistemológicas costumam ter posicionamentos
expansionistas e transformam-se em céticos globais. Um exemplo disso é
que, ao duvidar da previsão do tempo para a próxima semana, duvida-se
do trabalho desenvolvido por meteorologistas, descredibilizando essa área
da ciência. Consequentemente, como acreditar no trabalho desenvolvido
por outras áreas da ciência? Como saber se os dados coletados acerca de
um passado distante são corretos? Essas questões não possuem fim,
tornando-os céticos globais, que passam a discutir a possibilidade do
conhecimento em si.
Outro exemplo utilizado para explicar os céticos locais é que eles
acabam expandindo o ceticismo quando a questão é aplicada às
ideias metafísicas ou a objetos que não são visíveis aos olhos. Você
pode entender que alguns céticos locais podem ter argumentos para
criticar a religião, a existência de Deus e dizer que o conhecimento
científico da ciência pode ser mais preciso que a crença na fé.
Essa questão é insustentável para o cético global, pois ele, basta um
resquício da dúvida para não acreditar em mais nada.
Compreendendo as distinções entre os céticos locais e os céticos
globais, podemos aprofundar no estudo e investigar alguns exemplos
clássicos sobre o ceticismo.

.
Área do
Exemplos Vídeo

Cérebros Argumento Argumento Argumento


na Cuba dos do erro da
sonhos justificação
Ceticismo
O cérebro na cuba: Esse argumento é uma proposta do
experimento mental do filósofo Hilary Putnam (1926-2016), que
pode ser encontrado na obra “Introdução à epistemologia
contemporânea” de Jonathan Dancy. O intuito do filósofo é
mostrar-nos a relação entre a mente e o mundo externo. O
argumento é o seguinte:
Como sabemos que não somos cérebros, boiando em líquido
dentro de uma cuba de laboratórios conectados com um
computador que nos promove experiências que temos a cada
instante?
Pense que nossas histórias, nossas memórias e sentimentos,
tudo pode ter sido implantado de acordo com a vontade de
algum técnico científico. Não sabemos porque isso acontece ou
o que realmente somos, se a experiência científica tiver êxito.
Nada em nossas vidas e experiências revelaria o que
somos e quem são nossos companheiros de vida. Você
não saberia se está lendo está assistindo essa aula ou se
os dados dos computadores indicam isso por meio da
transferência de informações para a cuba. Todas as
hipóteses do conhecimento que achamos possuir
podem muito bem ser de experiências criadas pelo
técnico de laboratório.
Esse argumento é bastante explorado pelos céticos
globais, que colocam em dúvida a própria existência do
mundo em que vivemos. Se não possuímos essa certeza,
Argumento do sonho: Sobre a dúvida de estar consciente ou não do que estamos fazendo
ou se existimos, René Descartes na obra “Meditações sobre a metafísica” nos provoca com o argumento
do sonho
“Quantas vezes me ocorreu de sonhar, à noite, que eu
estava neste lugar, que eu estava vestido, que eu estava
perto do fogo, ainda que eu estivesse inteiramente nu
em um leito? Parece-me bem agora que não é com
olhos adormecidos que eu observo este papel, que esta
cabeça que eu movo não está dormente, e que é com
desígnio e propósito deliberado que eu estendo esta
mão, e que a sinto.
(DESCARTES, René. Meditações sobre a metafísica. 1941,
p. 161-162)
“O que me ocorre no sonho não me parece
absolutamente tão claro nem tão distinto quanto a isso.
Mas, pensando nisso cuidadosamente, eu me relembro
de ter sido enganado, quando dormia, por semelhantes
ilusões. E, detendo-me neste pensamento, eu vejo
manifestamente que não há quaisquer indícios
conclusivos, nem marcas suficientes certas pelas quais
eu possa distinguir nitidamente a vigília do sonho, que
fico inteiramente pasmo; e minha estupefação é tanta
que sou quase capaz de me persuadir que durmo.

(DESCARTES, René. Meditações sobre a metafísica. 1941,


“Argumento do erro: Esse argumento gira em torno dos
equívocos que cometemos todos os dias. Quem nunca
se questionou se acertaria depois de ter errado na
primeira vez? Quantas vezes você já abordou alguém
achando que conhecia a pessoa e no fim era apenas um
engano?
Os céticos utilizam dessas situações para argumentar
que, se você não tem a certeza de que está sendo
equivocado, ou de que não está passível de erro,
dificilmente conseguirá definir decisões com certeza.
“Argumento da justificação com base na experiência
Tomamos como pressuposto que podemos confiar nos nossos
sentidos e na experiência que eles nos proporcionam. Ao
olharmos a natureza e as partes do mundo em movimento, a
visão desses objetos do mundo nos proporciona uma espécie de
conhecimento. Vimos que existe, inclusive, uma área na filosofia
de filósofos que dedicaram-se a defender esse tipo de
conhecimento, chamado empirismo. Por meio da observação e
por indução, conseguimos dizer como deixamos a cama todos os
dias pela manhã e podemos prever como ela vai estar nos
próximos dias. Porém, a experiência não pode ser um guia exato,
pois não sabemos se o objeto irá se modificar com o tempo ou
se alguém irá realizar uma interferência, frustrando a expectativa
que criamos por meio da experiência.
Essa forma de ceticismo é limitada por estar relacionada apenas
Área do
Fundacionismo Vídeo

A teoria fundacionista é uma teoria muito tradicional na


epistemologia e que se ocupa em fazer uma descrição
Fundacionismo

da justificação. Esta corrente afirma que existem


crenças fundacionais e que estas são justificadas em si
mesmas e a partir delas todas as outras crenças devem
ser justificadas.
A teoria fundacionista é uma teoria muito tradicional na
epistemologia e que se ocupa em fazer uma descrição da
justificação. Esta corrente afirma que existem crenças
fundacionais e que estas são justificadas em si mesmas e a partir
delas todas as outras crenças devem ser justificadas.
A questão central do fundacionismo gira em torno de quais
fatores determinantes são necessários para confiar que uma
crença encontra-se epistemicamente justificada? Podemos ainda
fazer uma outra pergunta: o que é uma justificação epistêmica?
Definimos como justificação epistêmica quando se valida uma
crença recorrendo a(s) outra(s) crença(s). Podemos definir uma
justificação também como sendo uma autorização da qual o
sujeito dispõe explicitamente.
Na contemporaneidade o pesquisador Edmund Gettier
publicou seu famoso artigo "É o conhecimento crença
verdadeira justificada?" (1963) modificando os rumos tomados
pela epistemologia ao ter, como ponto inicial da
argumentação, a análise da afirmação sobre a verdade
justificada do conhecimento, aquele que é considerado como
o saber acerca dos fatos. Gettier percebeu que havia uma falha
na definição tradicional de conhecimento como crença
verdadeira justificada: possuir uma crença verdadeira
justificada pode não ser conhecimento; para ele, é possível
não possuir qualquer conhecimento, mesmo que se tenha
uma crença verdadeira justificada.
Área do
Epistemologias Vídeo
contemporâneas
Epistemologias Contemporâneas

Karl Popper Thomas Kuhn Paul Feyerabend


No século XX a teoria do conhecimento vestiu uma nova
roupagem em relação ao conhecimento científico. No fim do
século XIX tivemos uma série de modificações culturais,
econômicas e sociais, que certamente transformaram a
maneira de agir da ciência. Para a epistemologia não seria
diferente. E um dos expoentes dessa evolução foi o filósofo da
ciência Karl Popper (1902-1994) que em sua obra “Lógica da
pesquisa científica” (2013) questiona a imparcialidade da
ciência e diz que o olhar do cientista está contaminado.
Para ele, existe um problema no método científico, pois não há
uma observação pura, pois esta já encontra-se orientada por uma
teoria prévia, não sendo possível tornar a verificação confiável.
Popper diz que a única maneira de tornar uma experiência
verdadeira é provar que ela não é falsa. Dito de outro modo, o
cientista não deve buscar provar a sua verdade e sim criar
critérios de falseá-la. Se o objeto resistir ao falseamento, então
ele será verdadeiro.
.
Outro filósofo que se preocupou com os problemas do
conhecimento científico foi Thomas Kuhn (1922-1996) na obra “A
estrutura das revoluções científicas” demonstra que a ciência é
feita de paradigmas. Em sua definição o filósofo diz: “Considero
“paradigmas” as realizações científicas universalmente
reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma
ciência”. (KUHN, 2001, p. 13). Em outras palavras, podemos dizer
que um paradigma é um conjunto de saberes que definem a
realização de uma pesquisa científica por uma comunidade. O
paradigma determina quais os parâmetros metodológicos que
devem ser considerados, uma vez que dados e teorias, sempre
que aplicados a uma investigação, irão sustentar a existência do
O filósofo Feyerabend (1924-1994) publicou um livro com um
título “Contra o método” que foi perturbador para a comunidade
científica. Sua teoria principal é a de que os métodos engessados
da comunidade científica não conseguem adaptar-se às
demandas da sociedade. Para ele, a criatividade do pensamento
científico não pode encontrar barreiras em metodologias, pois
isso impediria o próprio avanço da ciência.
O papel desses filósofos também foi o de repensar quais as
consequências do método científico e como foi o impacto para os
povos fora do eurocentro. Não podemos universalizar o
conhecimento, muito menos criar um método científico que
consiga englobar todas as formas de organizações de
pensamento.
Área do
Bibliografia Vídeo

DESCARTES, R. “Œuvres et Lettres”. Textes presentés par André Bidoux. Paris: Bibliothèque de
la Pléiade, 1941.

DANCY, Jonathan. “Introducción a la epistemología contemporánea”. Tecnos, Madrid, 1993.

GONDIM, Elnora. “Justificação epistêmica fundacionismo e coerentismo”. Ideas y Valores, vol.


LXVI, núm. 163, 2017.

FEYERABEND, Paul. Contra o método. Rio de Janeiro, F. Alves, 1977. p. 46.

FRANCELIN, Marivalde Moacir. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e


paradoxos. Ci. Inf., v.33, n. 3, 2004, p.26-34.

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