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Modernismo

Português
Pessoa – um poeta múltiplo
Profª. Daniella Oliveira
Pseudônimo X Heterônimo
Pseudônimo  nome fictício
adotado por quem não quer
revelar sua verdadeira
identidade.
Heterônimo  autor fictício que
tem personalidade. O criador do
heterônimo é o seu ortônimo.
Multiplicando-se em Entre mais de 70 nomes,
vários, o poeta mergulha Pessoa desenvolveu
numa apreensão mais completamente 3:
complexa da realidade,
ALBERTO CAEIRO
pois se permite investigar
diferentes pontos de vista RICARDO REIS
sobre o mundo, em lugar ÁLVARO DE CAMPOS
de apenas um.
Alberto Caeiro: o mestre do ouvir
O guardador de rebanhos – IX

Sou um guardador de rebanhos. Por isso quando num dia de calor


O rebanho é os meus pensamentos
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos E me deito ao comprido na erva,
E com as mãos e os pés E fecho os olhos quentes,
E com o nariz e a boca.
Sinto todo o meu corpo deitado na
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
realidade,
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
 
Sei a verdade e sou feliz.
 
Alberto Caeiro
•  Princípio de vida – simplicidade e valorização
do contato (físico) com a natureza.
• Supervaloriza a sensação; entende que o
conhecimento do mundo é dado pelos órgãos dos
sentidos, não por pensamentos já constituídos.
• Deseja abolir o pensar, substituindo-o pelo ver e
pelo ouvir.
• Prefere o verso livre e branco.
• Usa linguagem simples (condizente com a
expressão de um homem do campo).
Ricardo Reis: o clássico
Não só quem nos odeia ou nos inveja Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer
Não só quem nos odeia ou nos inveja nada
Nos limita e oprime; quem nos ama É livre; quem não tem, e não deseja,
Não menos nos limita.
Homem, é igual aos deuses.
Que os deuses me concedam que,
despido  
De afetos, tenha a fria liberdade
 
Ricardo Reis
•  Cultua o paganismo greco-latino (os deuses da
mitologia).
• Valoriza a forma (pensamento claro = escrita
cuidadosa).
• Valorização do presente (carpe diem).
• Errado: olhar para o passado, vendo o que não vê.
• Errado: apegar-se ao futuro, vendo o que não se
pode ver.
• Correto: apegar-se à interminável hora, o presente.
Álvaro de Campos: o engenheiro
Todas as cartas de amor são
ridículas
Todas as cartas de amor são
Ridículas. Mas, afinal, A verdade é que hoje
Não seriam cartas de amor se Só as criaturas que nunca As minhas memórias
não fossem escreveram Dessas cartas de amor
Ridículas. Cartas de amor É que são
Também escrevi em meu É que são Ridículas.
tempo cartas de amor, Ridículas.
(Todas as palavras
Como as outras, Quem me dera no tempo
em que escrevia
esdrúxulas,
Ridículas. Como os sentimentos
As cartas de amor, se há amor, Sem dar por isso
Cartas de amor esdrúxulos,
Têm de ser
Ridículas. Ridículas. São naturalmente
Ridículas).
Álvaro de Campos
•  Exaltação ao Futurismo.
• Sensação de inadaptação diante do mundo.
• Sensacionismo (“Sentir tudo de todas as maneiras”).
• Melancolia.
• Agressividade.
• Pessimismo.
• Frustração.
• Quase obsessão do poeta pela construção de longos
versos livres e brancos (Campos considerava a
métrica e a rima “gaiolas”).
Poema em linha reta (Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas
de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos
dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas
financeiras, pedido emprestado sem
pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu,
me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das
pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto
tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu
enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes
- na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma
infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma
cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse
que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta
terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido
traído,
Como posso eu falar com os meus superiores
sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
O vencedor (Los Hermanos)
Olha lá quem vem do lado oposto
e vem sem gosto de viver Olha você e diz que não
Olha lá que os bravos são escravos vive a esconder o coração
sãos e salvos de sofrer Não faz isso, amigo
Olha lá quem acha que perder Já se sabe que você
é ser menor na vida só procura abrigo,
Olha lá quem sempre quer vitória mas não deixa ninguém ver
e perde a glória de chorar Por que será ?
Eu que já não quero mais ser um Eu que já não sou assim
vencedor, muito de ganhar,
levo a vida devagar pra não faltar amor junto as mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
só pra viver em paz.

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