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Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

(IPEN/CNEN-SP)

ACIDENTE NUCLEAR NO JAPÃO

Dr. Luís Antônio Albiac Terremoto

2011
SUMÁRIO
1 – Fontes de energia usadas para gerar energia elétrica

2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

3 – Uso de energia nuclear para gerar energia elétrica

4 – Tipos de reatores nucleares de potência

5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)

6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi


1 – Fontes de energia usadas para gerar energia elétrica
 Todo o progresso tecnológico ocorrido mundialmente ao longo dos
últimos 120 anos teve como base o uso intensivo de energia elétrica

 Atualmente, cerca de um terço de toda a energia primária do mundo


é utilizada para gerar energia elétrica
1 – Fontes de energia usadas para gerar energia elétrica
 Fontes de energia utilizadas para gerar energia elétrica no mundo:
1 – Fontes de energia usadas para gerar energia elétrica
 Fontes de energia utilizadas para gerar energia elétrica no mundo:

Fonte: Agência Internacional de Energia, 2008


1 – Fontes de energia usadas para gerar energia elétrica

 Fontes de energia utilizadas para gerar energia elétrica no Brasil:

Fonte de energia Energia gerada [TWh] Fração [%]


Total / 2006 421,04 100
Hidroelétrica 349,8 83,08
Biomassa 19,6 4,65
Gás natural 18,2 4,32
Nuclear 13,8 3,28
Derivados de petróleo 12,0 2,85
Carvão mineral 7,4 1,76
Eólica 0,24 0,06

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (EPE), maio/2007


2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

Fissão nuclear induzida por nêutrons

 Reação nuclear que ocorre mediante incidência de nêutrons com qual-


quer energia cinética em nuclídeos físseis, por exemplo:
235
92 U  01 n  140
53 I Y  3 01 n  γ  ν
93
39

Nuclídeo Nêutrons
físsil Nêutron Produtos emitidos Raios-gama
incidente de fissão prontos

 Raios-gama de decaimento
Anti-neutrinos ν β Partículas beta negativas
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

 Obtenção de nuclídeos físseis:


235U (0,72 % do urânio natural)  enriquecimento do urânio natural por
difusão gasosa ou ultracentrifugação

239 Pu (não existe na natureza)  captura radiativa de nêutron pelo 238U:


238 239  ; T1 / 2  23,5 min 239  ; T1 / 2  2,36 d 239
U(n , γ) U      Np     Pu

233 U (não existe na natureza)



 captura radiativa de nêutron pelo 232Th:
232  ;T  22,3 min  ;T  27,0 d
Th (n , γ) 233 Th  
1/ 2
   233
Pa    
1/ 2 233
U

 Os nuclídeos 238U e 232Th são denominados férteis, sendo fissionados


mediante a incidência de nêutrons rápidos
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão
Características importantes da fissão nuclear induzida por nêutrons

 O núcleo fissionado pode se dividir de 53 maneiras diferentes, gerando


106 produtos de fissão diretos com números de massa 66  A  172

 A grande maioria dos produtos de fissão é constituída por núcleos radio-


ativos que geralmente apresentam decaimento beta negativo

 Cada produto de fissão radioativo sofre uma série de decaimentos antes


de se transformar em um núcleo estável. Esta série é denominada cadeia
de decaimento dos produtos de fissão. Cada cadeia possui em média seis
membros. Exemplo:
140 β  ;T1/2  0,86s 140 β  ;T1/2  13,6s 140 β  ;T1/2  63,7s 140 β  ;T1/2  12,75d 140 β  ;T1/2  40,28h
53 I      54 Xe    
  55 Cs    
  56 Ba       57 La     140 58 Ce

 Fissão induzida por nêutrons térmicos é quase sempre assimétrica, con-


forme mostra a curva de produtos de fissão
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

T1/2  Meia-vida

E  Energia cinética máxima da partícula beta

E  Energia do raio-gama

I  Intensidade absoluta de emissão do raio-gama

yt  Rendimento na fissão por nêutrons térmicos

yr  Rendimento na fissão por nêutrons rápidos


2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão
Características importantes da fissão nuclear induzida por nêutrons

 Valor médio da energia total liberada na fissão de um núcleo de 235U por


nêutron térmico:

Energia cinética dos fragmentos de


167 MeV
fissão
Energia cinética dos nêutrons emitidos 5 MeV
Energia dos raios-gama prontos 7 MeV
Energia do decaimento beta 5 MeV
Energia do decaimento gama 5 MeV
Energia dos anti-neutrinos 11 MeV
ENERGIA TOTAL DA FISSÃO 200 MeV
 Resultados análogos são obtidos para 239Pu e 233U
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão
Emissão de ~ 2,5 nêutrons Reação
(em média) em cadeia

Fissão Fonte de
nuclear energia

Liberação de ~ 200 MeV Energia


(em média) elevada
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

Material absorvedor de nêutrons  controlar a reação em cadeia, através da


regulagem do número de nêutrons em circulação no sistema

Moderador  desacelerar os nêutrons rápidos em nêutrons lentos, através do


espalhamento elástico por núcleos leves

Refrigerante  remover o calor gerado pela reação em cadeia controlada, por


intermédio de convecção forçada
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão
Configuração do sistema

Configuração heterogênea  o moderador e o combustível nuclear são separados


Combustível nuclear  material contendo nuclídeos físseis, em meio ao qual ocor-
rem as fissões nucleares que, nesta configuração, são causadas majoritariamente
por nêutrons térmicos
Calor gerado  resulta predominantemente da frenagem dos fragmentos de fissão
em meio ao combustível nuclear
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão
Reação nuclear de fissão em cadeia auto-sustentada
 Controlada  taxa de ocorrência das fissões é mantida constante  reator nuclear

   1000 MW(t) E 


Fissão de 1 kg de 235U libera 2,3.107 kWh 24  300 MW(e)
horas 30%

Cilindro metálico com 


3,2 cm de diâmetro e  Equivalente ao consumo médio 
   diário de 1.325.804 Brasileiros 
6,6 cm de compriment o
 

 Enquanto isso, para gerar 300 MW(e) ao longo de 24 horas em uma usina termoelétrica...

Combustível fóssil consumido CO2 emitido

2500 toneladas de carvão mineral 7200 toneladas

1955 toneladas de óleo combustível 5760 toneladas

1172 toneladas de gás natural 3216 toneladas


2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão
Reação nuclear de fissão em cadeia auto-sustentada
 Controlada  taxa de ocorrência das fissões é mantida constante  reator nuclear

   1000 MW(t) E 


Fissão de 1 kg de 235U libera 2,3.107 kWh 24  300 MW(e)
horas 30%

Cilindro metálico com 


3,2 cm de diâmetro e  Equivalente ao consumo médio 
   diário de 1.325.804 Brasileiros 
6,6 cm de compriment o
 

 Enquanto isso, para gerar 300 MW(e) naquela usina hidroelétrica...

Média nacional  0,56 km2 de reservatório por MW(e) instalado  168 km2 de área alagada
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

Calor de decaimento dos produtos de fissão radioativos

 Mesmo após o desligamento de um reator nuclear, ainda há liberação


de energia considerável pelo combustível nuclear decorrente do decai-
mento dos produtos de fissão radioativos nele acumulados

 Cerca de dez segundos após o desligamento do reator nuclear, a taxa


de liberação de energia (potência) decorrente do decaimento dos produ-
tos de fissão radioativos perfaz aproximadamente 4% da potência total
do reator antes do desligamento, diminuindo apenas com o decaimento

 Esta energia precisa ser retirada do núcleo (cerne) do reator por inter-
médio da circulação contínua de refrigerante, pois caso contrário a tem-
peratura do combustível nuclear aumentará, causando danos diversos

 Nada pode ser feito para controlar esta taxa de liberação de energia,
tornando portanto essencial a remoção do calor gerado
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

Calor de decaimento dos produtos de fissão radioativos

Equação empírica para a taxa de liberação de energia decorrente do

decaimento dos produtos de fissão radioativos (válida para ts  10 s)


Ppf  0,06  P  [t s0 ,2  (t o  t s )0 ,2 ]

onde to e ts são dados em segundos e a margem de incerteza perfaz


aproximadamente 50%
2 – Obtenção de energia nuclear a partir da fissão

Calor de decaimento dos produtos de fissão radioativos

Razão entre a potência de decaimento (Ppf) e a potência de operação (P)


de um reator nuclear em função do tempo decorrido após o desligamento
3 – Uso de energia nuclear para gerar energia elétrica
 Efetuado pelo funcionamento de reatores nucleares de potência que
equipam usinas nucleoelétricas

A) Usina termoelétrica

B) Usina nucleoelétrica
3 – Uso de energia nuclear para gerar energia elétrica

 Dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) referentes


a agosto de 2010:

- 441 usinas nucleoelétricas funcionando em 30 países

- Capacidade geradora total de 374.692 MW elétricos

- 13 países utilizavam usinas nucleoelétricas para gerar mais do que um


terço da eletricidade que consumiam

- Maior uso de energia nuclear para gerar eletricidade  França (75,2%)

- Maior capacidade nucleoelétrica instalada  EUA (104 usinas; 100.747


MW elétricos; 20,2% da eletricidade gerada)

- 60 usinas nucleoelétricas sendo construídas em 16 países para gerar um


total de 58.600 MW elétricos
4 – Tipos de reatores nucleares de potência
Combustível Enriquecimento Moderador Refrigerante Tipo de reator País de origem

UO2 2% a 4% H2O H2O PWR EUA


H2O
UO2 2% a 4% H2O BWR EUA
(fervente)
U metálico  Grafite CO2 GCR Reino Unido
UO2 2% a 4% Grafite CO2 AGR Reino Unido

EUA
ThC2 + UC2 93% Grafite He HTGR Reino Unido
Alemanha
UO2  D2O D2O PHWR Canadá
H2O
UO2 2% a 4% D2O SGHWR Reino Unido
(fervente)
H2O
UO2 2% a 4% Grafite RBMK URSS
(fervente)
UO2 + PuO2   Na0 líquido FBR Vários
4 – Tipos de reatores nucleares de potência
4 – Tipos de reatores nucleares de potência

 Função dos componentes principais de um reator nuclear de potência:

- Núcleo (cerne) do reator  constituir a fonte de energia do reator nuclear (com-


ponente onde ocorre, de maneira auto-sustentada e controlada, a reação nuclear
de fissão em cadeia)

- Vaso de pressão  conter o refrigerante e proporcionar suporte mecânico ao


núcleo (cerne) do reator

- Blindagem biológica  evitar o escape de radiações ionizantes (raios-gama e


nêutrons) para o meio-ambiente

- Trocadores de calor  permitir a transferência de calor do refrigerante do reator


para o fluido operante no ciclo de potência

- Bombas de refrigeração  fazer com que o refrigerante circule através do núcleo


(cerne) do reator e dos trocadores de calor
4 – Tipos de reatores nucleares de potência

 Distribuição dos reatores nucleares de potência por tipo:

PWR (reator refrigerado a água pressurizada) – 61,00%

BWR (reator refrigerado a água fervente) – 20,86%

PHWR (reator refrigerado a água pesada pressurizada) – 10,43%

RBMK (reator refrigerado a água fervente e moderado a grafite) – 3,40%

AGR (reator avançado refrigerado a gás) – 3,17%

GCR (reator refrigerado a gás) – 0,91%

FBR (reator rápido) – 0,23%

Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), agosto/2010


4 – Tipos de reatores nucleares de potência

Principais diferenças de projeto entre reatores nucleares BWR e PWR

Fonte: Pesquisa FAPESP, No. 182, 28-33, abril/2011


4 – Tipos de reatores nucleares de potência
Evolução tecnológica dos reatores nucleares de potência

Fonte: T. Abram and S. Ion, Energy Policy 36, 4323-4330 (2008)


5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
Esquema representativo das partes componentes de um reator BWR

1 – Núcleo (cerne) do reator


2 – Separadores de vapor
3 – Secadores de vapor
4 – Bomba de refrigeração a jato
5 – Bomba de recirculação
6 – Barras de controle
7 – Separador de umidade e reaquecedor
8 – Pré-aquecedores
9 – Estrutura de sustentação do núcleo (cerne)
10 – Turbina
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)

Características típicas de um reator BWR

- Combustível nuclear

Tipo  Dióxido de urânio (UO2) com grau de enriquecimento em 235U que


perfaz entre 2% e 4%

Formato  Pastilhas cilíndricas com 10,6 mm de diâmetro e 12 mm de


comprimento, acondicionadas dentro de um revestimento metálico

Revestimento metálico  Tubo de Zircaloy-2 com 12,3 mm de diâmetro e


3,75 m de comprimento, pressurizado com gás He e lacrado por soldagem
para constituir uma vareta combustível

Disposição  Arranjo quadrado com 14 cm de lado, contendo um total de


8 x 8 varetas, mantidas fixas no interior de uma caixa de Zircaloy-4 de mo-
do a constituir um elemento combustível
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)

Pastilhas de UO2
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)

- Barras de controle e segurança

Formato  Cruciforme
Material  Carbeto de boro (B4C), revestido com aço inoxidável
Inserção no núcleo (cerne)  Efetuada de baixo para cima, em meio
aos espaços existentes entre os elementos combustíveis

- Núcleo (cerne) do reator

Configuração  Elementos combustíveis posicionados lado a lado


dentro do vaso de pressão
Dimensões  4,70 m de diâmetro e 3,75 m de altura (parte ativa)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)

Elementos combustíveis no núcleo (cerne) de um reator BWR


5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)

Elementos combustíveis no núcleo (cerne) de um reator BWR


5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)

- Vaso de pressão

Material  Aço carbono revestido internamente por uma camada de


aço inoxidável
Dimensões  6,05 m de diâmetro interno, 21,6 m de altura e 152 mm
de espessura total de parede

- Água no sistema de refrigeração primário

Pressão  72,5 atm


Temperatura de entrada (líquida)  269 0C
Temperatura de saída (vapor)  286 0C
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
- Eficiência térmica geral

Aproximadamente igual a 33%

- Sistema de refrigeração secundário

Resfria e condensa o vapor de água após este haver passado pela


turbina, utilizando a água do mar ou de um rio

- Utilização de reatores BWR em todo o mundo

Segundo tipo de reator nuclear mais utilizado em todo o mundo, com


tecnologia desenvolvida desde 1957
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
5 – Reator nuclear refrigerado a água fervente (BWR)
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Panorama geral das usinas nucleoelétricas no Japão em 2010
- 54 usinas nucleoelétricas operacionais (30 BWR e 24 PWR)
- Capacidade geradora total de 38.633 MW elétricos
- Responsáveis por 29% da energia elétrica gerada no País

 Central Nuclear Fukushima Daiichi


- Constituída por seis usinas BWR inauguradas entre 1970 e 1979
- Capacidade geradora total de 4.696 MW elétricos
- Usina 1  460 MW elétricos
- Usinas 2, 3, 4 e 5  784 MW elétricos cada
- Usina 6  1.100 MW elétricos
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Central Nuclear Fukushima Daiichi
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Central Nuclear Fukushima Daiichi
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Central Nuclear Fukushima Daiichi
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Central Nuclear Fukushima Daiichi

- Localização dos elementos combustíveis nas usinas em 11/03/2011

Usina 1 2 3 4 5 6

Cerne 400 548 548  548 764

Piscina
292 587 514 1331 946 876
(Gastos)
Piscina
100 28 52 204 48 64
(Usáveis)

* Alguns poucos elementos combustíveis usados na usina 3 contêm óxido misto (MOX),
em que 235U é substituído por 239Pu como principal nuclídeo físsil
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Terremoto ocorrido no Japão em 11/03/2011

- Magnitude 9 na escala Richter (M = 9)

- Estimativa da energia total liberada


log E = 11,4 + 1,5.M  log E = 24,9  E ≈ 7,94.1024 erg ≈ 7,94.1017 J
equivalente à explosão de aproximadamente 193 milhões de toneladas de
trinitrotolueno (TNT)

- Quarto maior registrado no mundo e aquele com magnitude mais


elevada
a atingir o Japão até hoje
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- A Central Nuclear Fukushima Daiichi está localizada a aproximadamente


160 km do epicentro do forte terremoto ocorrido em 11/03/2011

- No dia em que ocorreu o terremoto, as usinas 1, 2 e 3 estavam em pleno


funcionamento, enquanto as usinas 4, 5 e 6 estavam desligadas para ma-
nutenção
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- Ao serem atingidas pelas primeiras ondas sísmicas, as usinas 1, 2 e 3


desligaram imediata e automaticamente, conforme estabelecem normas
de segurança em caso de emergência

- Todas as usinas da central nuclear resistiram aos violentos abalos sem


sofrer grandes danos estruturais, conforme especificação de projeto

- Falta de energia elétrica atingiu toda a região, inclusive a central nuclear

- Sem energia elétrica, não foi possível acionar as bombas de refrigeração


do circuito destinado a remover o calor decorrente do decaimento dos pro -
dutos de fissão radioativos acumulados no combustível nuclear
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- Estimativa da potência decorrente do decaimento dos produtos de fissão


radioativos, cerca de 10 segundos após o desligamento das usinas 1, 2 e
3

* Usina 1 (inaugurada em 17/11/1970 – 2ª usinaPpf mais


 4% antiga do Japão):
460 MW elétricos  1394 MW térmicos  
  33 %
 56 MW térmicos

* Usina 2 (inaugurada em 24/12/1973): Ppf  4 %


784 MW elétricos  2376 MW térmicos 
  33 %
 95 MW térmicos

* Usina 3 (inaugurada em % 26/10/1974): Ppf  4 %


784 MW elétricos  
 33
 2376 MW térmicos   95 MW térmicos
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- Tsunami com altura em torno de 14 metros atingiu a central nuclear,


cujo
projeto previa uma altura máxima de 5,7 metros
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente
- A devastação causada pela tsunami tornou completamente inoperantes
os geradores a óleo diesel que forneceriam energia elétrica para acionar o
bombeamento de água nos circuitos de refrigeração de emergência
- Os geradores a óleo diesel foram afetados tanto por danos diretos quanto
por falta de combustível, que foi carregado pela enxurrada
- As baterias utilizadas para substituir os geradores esgotaram-se depois
de algumas horas em funcionamento
- A refrigeração insuficiente no núcleo (cerne) do reator fez a temperatura
do combustível nuclear aumentar até atingir valores bem acima dos usuais
- Na superfície externa do revestimento das varetas combustíveis, feito de
Zircaloy-2, a temperatura, que em condições usuais de funcionamento da
usina perfaz 330 C em média, superou 1000 C em diversos pontos
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente
- O revestimento das varetas combustíveis, feito de Zircaloy-2, excedeu a
temperatura de 1204 C, aumentando muito a velocidade da reação quími-
ca entre zircônio e vapor de água
Zr + 2 H2O  ZrO2 + 2 H2
que além de acelerar a corrosão do revestimento em si, facilitando o vaza-
mento de produtos de fissão radioativos, produz hidrogênio, acarretando o
risco adicional de explosão química
- Durante manobra para liberação controlada de vapor de água visando di-
minuir a pressão demasiadamente elevada no núcleo (cerne) do reator pa-
ra evitar a ruptura do vaso de pressão (o que liberaria grande quantidade
de produtos de fissão radioativos para o meio ambiente), acumulou-se hidro-
gênio na contenção, o qual atingiu proporção em volume entre 4% e 75%
ao misturar-se com o ar
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- Fração volumétrica de H2 na contenção da


usina em função da fração de Zr que reagiu
quimicamente no núcleo (cerne) do reator:

a) BWR, Mark I e Mark II, 8.500 m3

b) BWR, Mark III, 42.500 m3

c) PWR, Ice condenser, 35.400 m3

c) PWR, Subatmospheric, 52.400 m3

d) PWR, Dry, 56.600 m3

e) PWR, Dry, 99.100 m3


6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- Na contenção, hidrogênio reagiu quimicamente com o oxigênio do ar


2 H 2 + O 2  2 H 2O
de maneira explosiva e liberando a elevada energia de 286 kJ/mol

- Explosões de hidrogênio destruíram parcialmente a contenção da usina


1
em 12/03/2011 e a contenção da usina 3 em 14/03/2011
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- Explosão de hidrogênio ocorrida na usina 2 em 15/03/2011 danificou a


câmara de supressão localizada na base do reator
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- A temperatura do revestimento das varetas combustíveis, em decorrência


da refrigeração insuficiente no núcleo (cerne) do reator, continuou aumen-
tando até atingir 1800 C, ponto de fusão do Zircaloy-2, que após derretido
apresenta a propriedade de dissolver localmente o combustível nuclear só-
lido constituído por dióxido de urânio (UO2) em até 40%

- Degradação do núcleo (cerne) do reator agravou-se consideravelmente,


mesmo a temperaturas bastante inferiores ao ponto de fusão tanto do UO 2
(2730 C) quanto do B4C das barras de controle (2375 C)

- A presença de produtos de fissão radioativos voláteis (137Cs, 134Cs, 131I)


detectada no meio ambiente constitui mais uma evidência da degradação
severa do núcleo (cerne) do reator das três usinas afetadas pelo acidente

- Estima-se que 55% do núcleo (cerne) da usina 1, 35% do núcleo (cerne)


da usina 2 e 30% do núcleo (cerne) da usina 3 tenham sofrido danos
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

- Antecedente histórico  Acidente de Three Mile Island, ocorrido em 1979


nos EUA, no qual houve degradação severa do núcleo (cerne) de um reator
PWR causada por perda de refrigeração
1 – Bocal de entrada 2B

2 – Bocal de entrada 1A

3 – Cavidade

4 – Fragmentos do cerne soltos

5 – Crosta

6 – Material que derreteu durante o acidente

7 – Fragmentos acumulados no pleno inferior

8 – Região possivelmente depletada em urânio

9 – Tubo-guia de instrumentação desgastado

10 – Buraco na placa defletora

11 – Superfícies internas revestidas com o material que derreteu

12 – Danos na placa de suporte superior


6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente
- Nenhuma das três usinas afetadas pelo acidente sofreu ruptura do vaso
de pressão e da estrutura de concreto que o envolve e, portanto, a imensa
maioria dos produtos de fissão radioativos permanece confinada dentro do
vaso de pressão do reator de cada usina
- Em decorrência de danos na câmara de supressão da usina 2 e no pleno
inferior do vaso de pressão da usina 1, um grande volume de água com al-
ta concentração de produtos de fissão radioativos e solúveis (137Cs, 134Cs,
131I) vazou nestas usinas para o piso e para o edifício da turbina

- A degradação do núcleo (cerne) dos reatores das três usinas afetadas é


um fator que contribui para reduzir a eficácia dos procedimentos emergen-
ciais de refrigeração, que consistem em usar energia elétrica externa para
injetar água dentro do vaso de pressão a uma taxa em torno de 7 m3/hora
- Nas três usinas acumulou-se, notadamente nos respectivos edifícios das
turbinas, um total de quase 70 mil toneladas de água contaminada
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente
- A usina 4, inaugurada em 24/02/1978 e cujas características de projeto
são idênticas às das usinas 2 e 3, embora desligada para manutenção no
dia em que ocorreu o terremoto, sofreu pane de refrigeração na piscina do
combustível usado, onde se armazena tanto os elementos combustíveis
gastos quanto os elementos combustíveis que ainda poderão ser usados
no reator
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente
- A pane de refrigeração na piscina do combustível usado da usina 4 cau-
sou aumento de temperatura da água contida na instalação
- Parte considerável da água contida na piscina do combustível usado da
usina 4 evaporou
- Em diversos pontos do revestimento das varetas combustíveis dos ele-
mentos armazenados com maior tempo de uso no reator e menor tempo
decorrido desde a retirada do núcleo (cerne) do reator, a temperatura ex-
cedeu 1204 C, aumentando a velocidade da reação química entre zircô-
nio e vapor de água, conforme descrito anteriormente
- O hidrogênio gerado na reação química entre zircônio e vapor de água
acumulou-se na contenção até atingir proporção em volume entre 4% e
75% ao misturar-se com o ar e reagir quimicamente de maneira explosi-
va com o oxigênio, conforme descrito anteriormente
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente
- Explosão de hidrogênio destruiu parcialmente a contenção da usina 4
em 15/03/2011
- A evaporação da água da piscina do combustível usado expôs a parte
superior dos elementos combustíveis armazenados diretamente ao ar
- A convecção natural no ar foi insuficiente para evitar sobreaquecimento
dos elementos combustíveis armazenados com maior tempo de uso no
reator e menor tempo decorrido desde a retirada do núcleo (cerne) do
reator
- Em diversos pontos do revestimento das varetas combustíveis dos ele-
mentos armazenados com maior tempo de uso no reator e menor tempo
decorrido desde a retirada do núcleo (cerne) do reator, a temperatura ex-
cedeu 1000 C em contato direto com o ar
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente
- O zircônio componente do revestimento das varetas combustíveis nestes
pontos queimou ao ar, reagindo mais rápido com o nitrogênio do que com
o oxigênio, fornecendo uma mistura de nitreto, óxido e óxido nitreto
7 Zr + 3 N2 + 2 O2  2 ZrN + ZrO2 + 2 Zr2ON2
- Especula-se que um incêndio deste tipo tenha ocorrido durante cerca de
duas horas em 15/03/2011 na piscina do combustível usado da usina 4
- Caso tenha efetivamente ocorrido, o incêndio na piscina do combustível
usado da usina 4 contribuiu significativamente para liberar produtos de fis-
são radioativos nas áreas próximas da central nuclear
- Por envolver combustão de material pirofórico (no caso, o zircônio), este
tipo de incêndio é classificado como Classe D, requerendo uso de pó seco
especial para ser extinto
- Um incêndio deste tipo é absolutamente inédito em usinas nucleares
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Sequência provável de eventos do acidente

Reações químicas que podem ocorrer entre zircônio, vapor de água e ar


em temperaturas maiores que 1000 C:

Zr + 2 H2O  ZrO2 + 2 H2  Risco de explosão (!)

7 Zr + 3 N2 + 2 O2  2 ZrN + ZrO2 + 2 Zr2ON2  Risco de incêndio (?)


6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Raio de exclusão

- A população residente num raio de 10 km em torno da central nuclear foi


evacuada assim que surgiram os primeiros problemas de refrigeração nas
usinas 1, 2 e 3

- Após a explosão de hidrogênio na usina 1, ampliou-se o raio de exclusão


para 20 km em torno da central nuclear e incentivou-se a saída voluntária
da população residente entre 20 km e 30 km da central nuclear

- Cerca de dois meses após o início do acidente, o limite externo da região


na qual incentivou-se a saída voluntária foi estendido para 40 km em torno
da central nuclear

- Cidadãos dos EUA e Reino Unido foram instruídos pelas respectivas em-
baixadas a observarem um raio de exclusão de 80 km em torno da central
nuclear

- A cidade de Tóquio está situada a 240 km da central nuclear


6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Raio de exclusão
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Deposição acumulada de 137Cs e 134Cs (Bq/m2) em 29/04/2011
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Fotos das usinas danificadas
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Fotos das usinas danificadas
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Fotos das usinas danificadas
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Fotos das usinas danificadas
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Fotos das usinas danificadas
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Classificação provisória do acidente segundo a INES
6 – Acidente na Central Nuclear Fukushima Daiichi
 Classificação provisória do acidente segundo a INES

- INES  Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos

- Estabelecida na atual versão em 2008 pela AIEA

- Gradação com níveis entre 0 a 7 em ordem crescente de agravamento

- Usinas 1, 2 e 3  Nível 7 – Acidente Grave

- Usina 4  Nível 3 – Incidente Sério

- Liberação de radioatividade para o meio ambiente estimada em cerca de


15% da registrada no acidente de Chernobyl, ocorrido em 1986 na Ucrânia
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[28] Natural disasters lead to nuclear emergency at Japan’s Fukushima Daiichi, Nuclear News
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