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Traumatologia Médico-Legal

ASFIXIOLOGIA FORENSE

Curso de Medicina Legal

Professor: Lílian Paschoalin


Energias de ordem físico-química
 Impedem a passagem do ar às vias respiratórias

 Alteram a composição bioquímica do sangue

 Levam à asfixia, que altera a função


respiratória, inibindo a hematose
ASFIXIA

Do grego asphyxía que significa


“parada de pulso”

Asfixia (fisiopatologia): Redução do teor de oxigênio (hipóxia) +


aumento do teor de gás carbônico (hipercapnia), no sangue arterial
ASFIXIA

 Conjunto de alterações da respiração, geralmente de


causa súbita e violenta, que conduzem a uma
diminuição ou supressão da oferta ou da utilização de
oxigênio pelos tecidos, podendo produzir sequelas
graves ou levar à morte.
Modalidades de asfixia – 4
 Impedimento da circulação do ar:
 Orifícios: sufocação (travesseiro)

 Tubo: engasgamento (corpo estranho); aspiração (vômito)

 Constricções cervicais:
 Com laço: enforcamento (+ laço, + peso); estrangulamento (+laço, - peso)
 Sem laço: esganadura (- laço, - peso)

 Impedimento das incursões respiratórias:


 Compressão do tórax
Modalidades de asfixia – 4
 Modificação no ambiente:
 Afogamento

 Monóxido de carbono

 Confinamento

 Soterramento
CLASSIFICAÇÃO DAS ASFIXIAS
(Afrânio Peixoto)

 Puras:
 Asfixias por gases irrespiráveis:
 Confinamento, CO

 Obstrução das vias aéreas:


 Sufocação direta e indireta

 Substituição do meio gasoso em meio líquido:


 Afogamento

 Substituição do meio gasoso em meio sólido:


 Soterramento
CLASSIFICAÇÃO DAS ASFIXIAS
 Complexas:
 Constricção passiva do pescoço exercida pelo peso do corpo
(enforcamento)

 Constrição ativa do pescoço exercida pela força muscular do


agente agressor (estrangulamento)

 Mistas:
 Esganadura.
SINAIS GERAIS DE ASFIXIA
 Sinais externos:
 Manchas de hipóstase precoces, abundantes e escuras (no
entanto, róseos no afogamento, e cor de carmim no CO)

 Cianose e congestão da face e do pescoço (por estase


mecânica da cava superior, principalmente na compressão torácica)

 Petéquias e púrpuras (equimoses) de pele e mucosas


(pela queda do sangue pela gravidade para as partes mais baixas do
corpo e pelo peso da coluna de sangue, rompendo capilares;

favorece quando há decúbito ventral)


SINAIS GERAIS DE ASFIXIA
 Sinais externos:
 Fenômenos cadavéricos:
 Putrefação mais precoce; rigidez mais intensa

 Cogumelo de espuma:
 Bola de finas bolhas de espuma que cobre a boca e as narinas (mais
comum nos afogados)

 Projeção da língua e exoftalmia:


 Isso também pode ocorrer durante a putrefação
SINAIS GERAIS DE ASFIXIA
 Sinais internos:
 Petéquias viscerais – Manchas de Tardieu (o Co2
excita centros bulbares, aumenta a PA e rompe capilares)

 Sangue escuro (pobre em O2) e líquido (causa mal


definida)

 Congestão polivisceral
 Fígado, mesentério, rins, etc
IMPEDIMENTO DA CIRCULAÇÃO
DO AR
SUFOCAÇÃO DIRETA

SUFOCAÇÃO INDIRETA

MISTA
SUFOCAÇÃO

 Conceito: Impedimento da ventilação alveolar por


obstrução das vias aéreas e/ou por compressão do
tórax

 Causa jurídica: Admite o homicídio, o acidente e o


suicídio.
SUFOCAÇÃO
 Tipos quanto à forma de impedimento da ventilação:
 Direta: Decorrente da obstrução das vias aéreas:
 Boca e orifícios nasais
 Supraglótica
 Infraglótica

 Indireta: Decorrente da compressão do tórax:


 Grandes multidões em pânico
 Posicional
 Outros meios

 Mista:
 Soterramento
SUFOCAÇÃO DIRETA:
SINAIS CADAVÉRICOS
 Sinais gerais de asfixia

 Por obstrução da boca e dos orifícios nasais:

 Marcas ungueais na face e lesões labiais; uso das mãos ou travesseiros (oclusão

homicida)

 Em RN, pode haver oclusão acidental, na cama

 Por obstrução das vias aéreas supra e infraglóticas:

 Presença de corpos estranhos nas vias aéreas


SUFOCAÇÃO INDIRETA:
SINAIS CADAVÉRICOS
 Sinais gerais de asfixia

 Por grandes multidões em pânico:

 Traumatismos múltiplos superficiais e profundos

 Posicional:

 Posição que compromete a respiração por fadiga muscular

 Outros meios:

 Traumatismo contuso sobre o tórax e abdome e de suas vísceras, em

acidentes de veículos, por exemplo


ASFIXIAS POR MODIFICAÇÕES DO
MEIO AMBIENTE
 CONFINAMENTO

 AFOGAMENTO

 SOTERRAMENTO

 MONÓXIDO DE CARBONO
CONFINAMENTO
 Conceito: permanência em ambientes que não permitem a renovação
do ar

 Causa jurídica:
 Acidental (maioria)
 Homicídio (infantil?, por ex)
 Suicídio

 Redução gradativa do O2 e elevação gradativa do CO2

 Intenso sofrimento: lesões por tentativa de fuga e por aerofilia


AFOGAMENTO

 Conceito: Penetração de um meio líquido ou


semilíquido nas vias respiratórias

 Causa jurídica: Geralmente acidente (maioria) mas


admite suicídio (pessoas que se jogam na água com
uma pedra no pescoço, por exemplo) e o homicídio
(raro, preciso que o agressor tenha pelo menos 2 x a
força da vítima)
AFOGAMENTO
 Diagnóstico:
 Talvez represente um dos diagnósticos mais difíceis
em Medicina Legal, pela ausência de sinais
patognomônicos ou específicos

 É feito pelo somatório dos achados necroscópicos


AFOGAMENTO
 Fisiopatologia:
 Fase de apnéia voluntária: cai na água, para de inspirar e aí, o O2 inspirado
vai sendo consumido

 Fase de dispnéia involuntária: queda do O2, aumenta CO2 e isso estimula


o centro respiratório no bulbo. A inspiração se dará, mesmo contra a vontade da
vítima. Então, ocorrem inspirações profundas e involuntárias

 Fase de exaustão ou hipóxia cerebral: a hipóxia cerebral leva o indivíduo


à convulsão, inconsciência, parada respiratória e circulatória e morte
AFOGAMENTO:
SINAIS CADAVÉRICOS
 Externos:
 Temperatura baixa da pele (pois, na água, o equilíbrio térmico é
mais rápido)

 Pele anserina (Sinal de Bernt) – “pele de galinha”, pela


contração dos músculos eretores dos pelos, pela rigidez cadavérica

 Retração do mamilo, do saco escrotal e do pênis (mesmo


significado da pele anserina)
AFOGAMENTO:
SINAIS CADAVÉRICOS
 Externos:
 Livores de hipostase:
 Precoces, pela fluidez do sangue

 De coloração vermelha

 Na cabeça (cabeça de negro) e face anterior do tórax

 Rigidez cadavérica: mais precoce, pela asfixia


AFOGAMENTO:
SINAIS CADAVÉRICOS
 Externos:
 Maceração da epiderme (sobretudo nas mãos – mãos de
lavadeira – e nos pés, pela maior espessura da epiderme; no início, a
epiderme é grossa, enrugada e esbranquiçada e, posteriormente, destaca-
se, como dedos de luva)

 Cogumelo de espuma (os gases da putrefação põem para fora


a espuma dos brônquios e da traquéia)
AFOGAMENTO:
SINAIS CADAVÉRICOS
 Externos:
 Erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as unhas

 Hemorragia petequial de pele e mucosas

 Mancha verde da putrefação atípica

 Lesões pela fauna aquática (pálpebras e lábios, sobretudo)

 Lesões cutâneas inespecíficas (lesões por atrito ou arrastamento,


como escoriações e feridas)
AFOGAMENTO:
SINAIS CADAVÉRICOS
 Externos:
 Pela posição do cadáver submerso, com a cabeça mais
baixa que o tronco (pelo ar dos pulmões e alças
intestinais), e pelos membros largados, é comum
encontrar lesões:
 Na região frontal
 Faces anteriores dos joelhos
 Dorso das mãos
 Regiões pedais dorsais
AFOGAMENTO
SINAIS CADAVÉRICOS INTERNOS:
 VIAS AÉREAS: Presença de líquidos e corpos estranhos

 PULMÃO:

 Enfisema aquoso

 Hemorragia petequial (manchas de Tardieu)

 Equimoses subpleurais (manchas de Pautaulf)

 TUBO DIGESTIVO: Presença de líquido (Sinal de Wydler)

 CRÂNIO: Hemorragia temporal e etmoidal (Sinal de Niles e de Vargas-

Alvarado).
Importante no diagnóstico de afogamento
 Diagnóstico de certeza da morte por afogamento (somatório dos
achados de necrópsia, exame do local bem feito, exames complementares
– alcoolemia, anátomopatológico e toxicológico – uso do bom senso)

 Saber se um cadáver encontrado na água teve morte natural ou


violenta

 Pode ter sido jogado na água para simular afogamento


SOTERRAMENTO
 Conceito: Asfixia mecânica em que a massa gasosa é

substituída por substâncias pulverulentas, terra, areia, etc

 Causa jurídica: acidental (maioria) – em situações de

desabamento ou de desmoronamento

 Associação de mecanismos causadores de morte


SOTERRAMENTO
 Mecanismos de morte: desabamentos e desmoronamentos:

 Compressão torácica

 Sufocação direta

 Confinamento

 Ação contundente

 Soterramento propriamente dito


SOTERRAMENTO
 SINAIS CADAVÉRICOS:

 Externos:
 Sinais gerais de asfixia

 Cadáver recoberto por terra ou restos de escombros

 Escoriações e equimoses numerosas

 Traumatismos múltiplos superficiais e profundos (a morte pode ter ocorrido

por TCE, rotura de vísceras – desabamentos, desmoronamentos)


SOTERRAMENTO

 SINAIS CADAVÉRICOS:
 INTERNOS:

 Terra, barro e poeira dentro das vias aéreas – alto

valor diagnóstico de morte por soterramento


CONSTRICÇÕES CERVICAIS
 ESGANADURA

 ENFORCAMENTO

 ESTRANGULAMENTO
ESGANADURA

 Conceito: Impedimento da ventilação alveolar por


obstrução por compressão do pescoço pelas mãos do
agressor.

 Causa jurídica: Admite o homicídio.


ENFORCAMENTO
 Conceito: constrição do pescoço por um laço ativado
pelo peso do corpo da vítima

 Causa jurídica:
 Suicídio (maioria)
 Homicídio (excepcional)
 Acidente (raro)
ENFORCAMENTO
MECANISMO DA MORTE
 Obstrução das vias aéreas (mecanismo asfíxico)

 Obstrução dos vasos (mecanismo vascular)

 Compressão de estruturas nervosas (mecanismo

nervoso)
ENFORCAMENTO
SINAIS CADAVÉRICOS EXTERNOS:
 Sinais gerais de asfixia

 Cabeça fletida para diante, com mento tocando no tórax

 Face branca ou arroxeada (depende do grau de obstrução vascular)

 Protrusão dos olhos e da língua

 Presença do sulco cervical (características)

 Manchas de hipostase na metade inferior do corpo, mais intensas

nas extremidades dos membros


ENFORCAMENTO
SINAIS CADAVÉRICOS INTERNOS:
 Pescoço (partes moles): sufusões hemorrágicas

 Lesões do aparelho laríngeo: fratura do osso hióide, das

cartilagens cricóide e tireóide

 Lesões vasculares: Sinal de Amussat (secção transversal da íntima da

carótida comum); Sinal de Friedberg (sufusão hemorrágica da porção externa da

carótida comum)
ENFORCAMENTO
SINAIS CADAVÉRICOS INTERNOS:
 Roturas musculares – esternocleidomastóideo, omo-

hióideo...

 Lesões da coluna vertebral:

 Fraturas das vértebras cervicais

 Roturas dos ligamentos intervertebrais


ESTRANGULAMENTO
 Conceito: constrição do pescoço um laço ativado por
uma força que não seja a do peso do corpo da vítima

 Causa jurídica:
 Homicídio (maioria)
 Acidente (excepcional – Isadora Duncan)
 Suicídio (pouco frequente)
ESTRANGULAMENTO
MECANISMO DA MORTE:

 Obstrução das vias aéreas

 Obstrução dos vasos

 Compressão de estruturas nervosas


ESTRANGULAMENTO
SINAIS CADAVÉRICOS EXTERNOS:

 Sinais gerais de asfixia

 Protrusão dos olhos e da língua

 Presença do sulco cervical (características)


ESTRANGULAMENTO
SINAIS CADAVÉRICOS INTERNOS:
 Sufusões hemorrágicas de partes moles do

pescoço – raras

 Lesões carotídeas – raríssimas

 Lesões de cartilagens e osso hióide - excepcionais


CARACTERÍSTICAS DIFERENCIAIS DO SULCO
(BONNET)

CARACTERÍSTICA ENFORCAMENTO ESTRANGULAMENTO

Sentido Oblíquo ascendente Horizontal

Profundidade Variável Uniforme

Continuidade Interrompido ao nível do nó Contínuo

Número de laços Em geral, único Freqüentemente múltiplo

Posição em relação a
Acima abaixo
cartilagem tireóide
Presença de
Quase sempre Excepcionalmente
apergaminhamento

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