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O que a arte é capaz de fazer

você sentir?
Iberê camargo
Artista de rigor e sensibilidade únicos, Iberê Camargo é um
dos grandes nomes da arte brasileira do século XX. Autor de
uma obra extensa, que inclui pinturas, desenhos, guaches e
gravuras, Iberê nasceu em Restinga Seca, cidade do interior do
Rio Grande do Sul, em novembro de 1914.
Em 1927, iniciou seu aprendizado em pintura na Escola de
Artes e Ofícios de Santa Maria. Em 1936, mudou-se para Porto
Alegre, onde conheceu Maria Coussirat Camargo – então
estudante do Instituto de Belas Artes – com quem se casou em
1939. Em 1942, ano de sua primeira exposição, o artista e sua
esposa mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde viveram por 40
anos.
Admirador e amigo de artistas brasileiros
como Goeldi e Guignard, em 1948 viajou para
a Europa (através de um prêmio de viagem ao
estrangeiro, conquistado com sua obra Lapa,
de 1947) em busca de aprimoramento técnico.
Durante sua estada, visitou museus, realizou
cópias dos grandes mestres da pintura e
estudou gravura e pintura com Giorgio De
Chirico, Carlo Alberto Petrucci, Leoni
Augusto Rosa, Antonio Achille e André Lhote.
De volta ao Brasil, em 1950, Iberê conquistou inúmeros
prêmios e participou de diversas exposições
internacionais, como Bienal de São Paulo, Bienal de
Arte Hispano-Americana, em Madri, Bienal de Veneza,
Bienal de Gravuras, em Tóquio, entre outras. Foi no
final dos anos 1950 que, devido a uma hérnia de disco
que o obrigou a pintar no interior de seu ateliê, o
artista desenvolveu um dos temas mais recorrentes em
sua pintura: os Carretéis. São estes brinquedos de sua
infância que o levaram, mais tarde, à abstração, e que
estiveram presentes em sua obra até a fase final.
Ao longo de sua vida, Iberê Camargo exerceu forte
liderança no meio artístico e intelectual. Entre várias
outras atividades, destaca-se sua participação na
organização do Salão Preto e Branco, em 1954, e, no ano
seguinte, do Salão Miniatura, ambos realizados em
protesto às altas taxas de importação de material
artístico.
Na década de 1980, retomou a figuração. Mas, ao longo
de toda a sua produção, nunca se filiou a correntes ou
movimentos. Em 1982, retornou a Porto Alegre, onde
produziu duas de suas séries mais conhecidas: os
Ciclistas e as Idiotas.
Iberê Camargo faleceu em agosto de 1994, aos 79 anos.
Vamos analisar algumas obras deste artista: Analise-as
e faça uma reflexão sobre os sentimentos que estas
obras causam em você, ao mesmo tempo, imagine o
que o artista estava sentindo no momento em que as
reproduziu.
Outono no Parque da Redenção
II, 1988
“Assim, em Outono no Parque da Redenção, de 1988 mostra esses
ciclistas, andarilhos, seres ‘sem norte’ – como os chamava Iberê –
que não são mais do que uma alegoria do seu julgamento acerca
do destino atual da humanidade. Como assinalou Lisette
Lagnado, o nome da série (Parque da Redenção) não é apenas
uma referência ao parque que efetivamente existe em Porto
Alegre, aponta a uma dimensão ética. Nesse parque desolado pelo
outono – o outono da idade? – os homens representam sua
comédia como arquétipos da vida e da morte, das pulsões
primeiras. Pedalam sem descanso, esperando uma redenção que
pareceria que nunca fossem alcançar.Como em um círculo no
qual passado e presente se amalgamam, as paisagens de Iberê,
tanto como tema autônomo ou como suporte de outras
composições, remetem a uma modalidade expressiva na qual
predomina a subjetividade. ‘A nitidez do espírito’, em detrimento
da do olho, na velhice, etapa que obcecava o artista. O homem-
pintor sempre está presente, é ele quem constrói o nexo entre a
natureza e a cultura que define a paisagem contemporânea.”
Ascensão I, 1973
“A figuração foi progressivamente abandonada a partir do final da década
de 1950. Devido a uma permanência forçada no ateliê por motivos de
saúde, Iberê voltou-se a representação de objetos. Essa etapa de sua obra
deu início ao estudo da forma emblemática dos carretéis, que evocavam
uma lembrança da infância, quando vasculhava as gavetas de sua casa à
procura de tesouros e encontrava esses objetos já sem linha, em sua forma
pura. Para Iberê, eles foram tema e elemento formal simultaneamente.
Nessa fase de amadurecimento e de consolidação de sua obra, as figuras
migraram progressivamente da figuração a abstração, mudando os lugares
nos quais habitavam. A profundidade, representada pela existência de
figuras sobre um fundo, desapareceu em prol da planaridade, na qual os
elementos encontravam-se todos sobre uma mesma superfície.
Da tela sem título, de 1958/1959, para Ascensão I, de 1973, pode-se verificar
essa passagem. No início, os carretéis ainda se encontram representados
em um espaço que sugere a tridimensionalidade, mesmo que sintetizada.
Com a continuidade das pesquisas formais, figuras e fundos constituem
uma única e mesma superfície. Iberê marcou essas obras por novas
relações figura-fundo, pela matéria que constitui corpos, pelas repetições
que constroem o novo – desdobramentos como transgressões.”
Dentro do mato, 1941-1942
[…] Em 1942 Iberê pintou um pequeno quadro, Dentro do mato. E uma turbulenta
representação da paisagem e também a turbulência da matéria em luta para captar
o que é violento na natureza. É um pequeno quadro onde se pode unir uma
combinatória de estilos. Pensa-se em Cézanne, em Van Gogh ou mesmo nos
paisagistas brasileiros do século passado. Mas o centro do quadro é um turbilhão: o
tronco das árvores, seus galhos e folhas, à direita e à esquerda, compõem um
movimento circular: mas nada de natural – uma ventania – açoita este movimento
das árvores. O ritmo das pinceladas, seu movimento ansioso tornam este centro
uma pasta verde, onde as árvores são somente identificadas por pinceladas mais
acentuadas ou por um matiz de verde mais escuro. A tela define-se em três planos:
há o caminho, amarelado, o mato e o fundo feito por meio de uma cor
esbranquiçada, mas que se encontra totalmente ocupada pela densidade do mato.
Este fragmento da natureza é um drama; seu tropo é o da metáfora das forças não-
controláveis da natureza – metáfora dramática por excelência dos românticos, que
apresentaram a turbulência marítima como um dos ideais deste fascínio. Visto, in
loco, o pequeno quadro revela outro elemento: estas árvores que se retorcem, este
mato figural é volumoso. A matéria grossa que o impregna deseja soltar da tela,
solicita que a natureza desapareça aos golpes escultóricos de tinta. Este pequeno
quadro – como muitos outros deste período – encarna a entrada do pintor na
Pintura. O drama romântico da tela – o seu assunto – sofre a carga da pintura. A
percepção de Iberê interioriza o epos que lhe autoriza participar da Pintura. A sua
obra começa a ser uma épica espacial da matéria. É a fonte iberiana. […]”
Mendigos do Parque da Redenção IV, 1987
“Minha contestação é feita de renúncia, de não
participação, de não conivência, de não alinhamento
com o que não considero ético e justo. Sou como
aqueles que, desarmados, se deitam no meio da rua
para impedir a passagem dos carros da morte. Essa
forma de resistência, se praticada por todos, se
constituiria em uma força irresistível. O drama, trago-
o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja,
corresponde à verdade mais profunda que habita no
íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia a
dia com o colorido das orgias e da alienação do povo.
Não faço mortalha colorida.”
Quais sensações essas obras lhe
causaram? Escreva um pequeno texto
sobre quais sensações a arte pode nos
proporcionar e sua importância para a
humanidade.

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